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ALEXANDER LYFORD-PIKE

TERNURA
E FIRMEZA
Com os filhos

POR QUE E COMO EXERCER A AUTORIDADE


COMO CONCILIAR TERNURA E FIRMEZA NA EDUCAÇÃO
O QUE DEVE E O QUE NÃO DEVE SER FEITO
FILHOS LIVRES E RESPONSÁVEIS
ALEXANDER LYFORD-PIKE

TERNURA
E FIRMEZA
Com os filhos
Alexander Lyford-Pike é médico pela Faculdade de
Medicina da Universidade da República Oriental do Uruguai
(1978). Em 1981 obteve uma pós-graduação em Psiquiatria na
Escola de Graduados da Universidade da República. Mais
adiante, em 1985, realizou cursos de especialização em
psiquiatria biológica na Universidade de Navarra, Espanha, e de
psicoterapia no Royal Edinburgh Hospital, Escócia. Nos anos
1988, 1989, 1992, 1993 esteve na Western Psychiatric Institute
and Clinic da Universidade de Pittsburgh, EUA., onde
aprofundou seus estudos em psiquiatria.

É Diretor e fundador do Instituto de Psiquiatria e


Psicologia de Montevidéu (I.P.M.), instituição na qual trabalham
mais de 20 profissionais entre psiquiatras, psicólogos,
psicopedagogos, psicomotricistas, neurologistas e neuro-
psicólogos, todos dedicando seu tempo a área de saúde
mental. Seu propósito, desde esta perspectiva multidisciplinar,
é atender com uma visão antropológica integradora, os
aspectos biológicos, psicológicos, familiares e sociais do
indivíduo, sem descuidar sua dimensão ético moral.

Como Presidente da Sociedade de Psiquiatria Biológica do


Uruguai, imprime em sua condução uma frutífera atividade
científica e de pesquisa no país, com especial ênfase, desde
1992, no programa de formação médica contínua para seus
associados, o que inclui a participação em congressos
internacionais e tele-vídeo-conferências com universidades dos
Estados Unidos.

Trabalha também como Membro Correspondente da


American Psychiatric Association e Membro Honorário da
Associação Argentina de Transtornos da Ansiedade, se ocupa
em promover grupos de estudo e seminários sobre educação e
família em Montevidéu, Buenos Aires, Assunção, Santiago do
Chile e Bogotá. Simultaneamente a estas atividades, suas
publicações se difundiram em revistas nacionais e
internacionais com mais de 20 trabalhos científicos em seu
tema, a psiquiatria.
ÍNDICE
PRÓLOGO

INTRODUÇÃO

1. NÃO HÁ EDUCAÇÃO SEM AUTORIDADE

2. O QUE É A EDUCAÇÃO COM PERSONALIDADE (EP)

3. UM CAMINHO EM TRÊS ETAPAS

4. O QUE NÃO DEVE SER FEITO


4.1 Respostas Inseguras
4.2 Respostas hostis ou agressivas

5. COMUNICAÇÃO EFETIVA
5.1 Linguagem assertiva adequada
5.2 Mensagens sem palavras
5.3 Manejo das discussões
5.4 Reconhecimento das boas condutas

6. RESPALDAR AS PALAVRAS COM ATOS


6.1 Ações disciplinárias
6.2 Quando seus filhos o põem a prova
6.3 Reforçá-los positivamente

7. ESTABELECER AS REGRAS DO JOGO

8. SITUAÇÕES ATÍPICAS

Á
9. FILHOS RESPONSÁVEIS
PRÓLOGO

Há que agradecer que um psiquiatra escreva com a clareza e


simplicidade de Alexander Lyford-Pike, e que escreva com um amor
apaixonado e sereno ao mesmo tempo pela família e sua missão
educadora.

Estas páginas são uma antologia de sua experiência


profissional, e o título já anuncia seu conteúdo: Ternura e firmeza;
uma difícil harmonia para pais com critérios rígidos ou com uma fácil
disposição para o carinho brando. Essa harmonia apenas se
consegue com uma firmeza terna ou com uma ternura firme, isto, é,
quando os pais não se guiam pelo amor espontâneo mas optam por
um amor inteligente por seus filhos, por cada filho. Não se trata de
um equilíbrio quantitativo. A ternura e a firmeza não são recursos
nem receitas. São os componentes de um amor verdadeiro, que
busca o bem dos filhos e não a comodidade própria.

Filhos com personalidade! Filhos que conquistem sua


liberdade porque aprenderam a ser responsáveis! Estas metas não
são sonhos mas metas possíveis para pais que efetivamente
exercem seu papel de pais e que concebem que a autoridade bem
entendida é o melhor serviço que podem prestar a seus filhos.

Ternura e firmeza também se podem traduzir como


compreensão e exigência, como confiança e respeito, como
liberdade e obediência, como intimidade e abertura. Saber
harmonizar estes binômios constitui a arte de educar. A firmeza
deve ser estimulante e motivadora. A ternura por sua parte é a
causa e o fundamento da firmeza. Apenas se exige aos que se quer.

Alexander Lyford-Pike aprofunda nestas chaves, que não


passariam de palavras se não viessem respaldadas com fatos. A
coerência e o exemplo dos pais serão sempre imprescindíveis.
Este livro é uma ajuda necessária para as famílias e para todo
educador que queira enfrentar seu trabalho com sentido comum.

Diego Ibáñez Langlois.


INTRODUÇÃO

Não é fácil educar aos filhos. Depois de muitos anos de


trabalho no manejo de problemas de conduta, nos parece útil
resumir e explicar aos pais os resultados destas experiências, para
ajudá-los na difícil tarefa formativa.

Neste tempo nos convencemos de que os filhos crescem


seguros de si próprios e com boa personalidade quando os pais
conseguiram transmitir-lhes essa segurança e confiança que lhes
vai permitir, entre outras coisas, assumir a responsabilidade por
seus atos.

Todos coincidiremos facilmente nesta conclusão, que é simples


de expressar, mas difícil de colocar em prática.

Vocês encontrarão nas páginas seguintes modos práticos de


tentar. A experiência nos demonstrou que na enorme maioria dos
casos se obtêm bons resultados na formação dos filhos aplicando
essa atitude de forma coerente, através de um sistema que
chamamos Educação com personalidade (EP).

O nome designado para essa atitude educativa coerente não é


arbitrário, já que EP indica desenvolver a firmeza da personalidade,
tanto nos pais como nos filhos. Pois a firmeza dos pais se transmite
aos filhos e os ajuda a conseguir uma personalidade bem formada.

A base da EP é a firmeza combinada equilibradamente com a


ternura. É essencial que ambos elementos estejam integrados em
um justo ponto de equilíbrio para que a aplicação da EP tenha suas
maiores possibilidades de êxito. Um excesso de firmeza pode
desembocar em um autoritarismo contraproducente. Se, pelo
contrário, a ternura impede ou dilui o exercício da firmeza, a
tentativa educativa corre sério risco de fracassar. Equilibrar o grau
justo de ambos elementos essenciais na medida adequada, sem
exceder-se na firmeza nem sufocá-la no carinho, é a tarefa mais
difícil que enfrentam os pais.

Além dos resultados de nosso trabalho direto com muitos


casos, nos ajudou para a confecção deste livro o estudo a fundo das
conclusões de outros autores como: Lee Canter, Assertive Discipline
for Children; Gael Lindenfield, Confident Children; Fernando
Corominas, Educar Hoje; e Fred Gosman, Basta de niños
malcriados!

A utilidade de seus trabalhos facilitou nossa tarefa para


produzir este volume, como ocorreu também com as sugestões
recebidas de muitas pessoas, as quais devemos expressar-lhes
nosso reconhecimento.

Também agradecemos especialmente ao Dr. Daniel Flores,


com quem compartilhamos, passo a passo, estes dez últimos anos
de trabalho profissional. Ao Dr. Guilherme Castro e à psicóloga
Ileana Caputto, nosso agradecimento pelas contribuições de
psiquiatria infantil e psicologia.

Para terminar, este livro não haveria sido publicado sem o


tenaz esforço do jornalista José Maria Orlando, de Paula Barbé de
Gari e de Ivan Pittaluga, que tiveram a árdua tarefa de estar atrás de
nós - entre paciente e paciente, e viagens de avião -, para
conseguir que um princípio de idéias e pensamentos pudesse ser
transformado em letra impressa.
Este livro é deliberadamente breve, para facilitar
tanto a leitura como a aplicação das técnicas
educativas que sugerimos. Se você preferir, antes
de começar a lê-lo pode tomar um atalho para
adquirir uma rápida idéia do conteúdo, olhando
primeiro as ilustrações que mostram exemplos do
tema principal de cada capítulo, as quais lhe
informarão
dos pontos básicos que irá encontrando
desenvolvidos no texto.
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NÃO HÁ EDUCAÇÃO SEM AUTORIDADE

Em nossa sociedade, como em grande parte do mundo,


existe atualmente uma crise de autoridade da família. Esta crise
tem três graves efeitos:
Por um lado, deteriora ao papel da instituição familiar como núcleo básico da
organização social. Por outro, prejudica a formação de crianças e jovens para uma
vida adulta proveitosa. Esta fraqueza formativa, por sua vez, impossibilita aos jovens
de hoje para educar à geração seguinte, isto é, seus próprios filhos, acentuando um
progressivo deterioro em cadeia para a decadência da sociedade.

Para evitar esta catástrofe é necessário o exercício correto do princípio de


autoridade. Quando os pais não conseguem marcar limites claros a seus filhos,
deixam de cumprir sua obrigação de transmitir-lhes uma imagem positiva com perfis
bem definidos.

Este incumprimento priva aos filhos da orientação que buscam e necessitam


de seus pais e educadores: pontos de referência e modelos de conduta e
aprendizagem.

A autoridade paterna cumpre sua função educativa quando é exercida com


carinho, estímulo e paciência. A ausência destes requisitos essenciais a converte em
um autoritarismo cujas consequências são tão perniciosas como a equivocada
permissividade que invadiu tantas sociedades modernas.

Correntes de pensamento de diferentes tipos ajudaram a debilitar a autoridade


dos pais. As idéias liberais e materialistas, representadas em grande parte por Jean
Jaques Rousseau, impulsionaram o conceito de que o homem é bom por natureza,
entretanto o processo de socialização o perverte.

Incidiram também a aplicação parcial de aspectos da psicologia,


especialmente a insistência em que reprimir às crianças é causa de traumas
posteriores. Este conceito ambientou uma tolerância quase total na conduta das
crianças, contrariando a realidade de que sua formação exige precisamente o
oposto.
Desde a mais tenra infância devemos aprender a
colocar
limites aos filhos. Quando a família não o
consegue, é muito
provável que tampouco o corrija a sociedade.
Para algumas correntes em psicologia, corrigir aos
filhos é
reprimi-los, isto é, criar-lhes traumas. Este conceito –
que
vai contra o sentido comum – ambientou uma
permissividade quase total em nossa sociedade
contemporânea, que desorienta aos pais e colabora a
que a imaturidade humana se prolongue eternamente.
Até as primeiras décadas do século XX os filhos seguiam
padrões de conduta herdados de seus pais, os quais, por sua vez,
os haviam recebido das gerações prévias. Estas normas cobriam
desde temas de comportamento, como o vestuário, a atitude na
mesa ou a idade de fumar, até a crucial formação moral.

Sua aplicação não foi inalterável mas adaptada gradualmente


às mudanças da realidade social de uma geração a outra. Este
processo educativo foi varrido por idéias e convulsões sociais que
conduziram à atual situação crítica em muitas famílias.

As crianças necessitam e buscam normas, critérios e modelos


claros em seus pais. As falhas das famílias neste campo geram
potencialmente transtornos graves de conduta em crianças e jovens,
que podem chegar, em alguns casos, a atitudes anti-sociais.

O exercício da autoridade de forma afirmativa e responsável


ajuda decisivamente na educação dos filhos por seus pais dentro
núcleo familiar.

A autoridade assertiva ou afirmativa significa a permanente


colocação em prática dos direitos e obrigações mútuas entre pais e
filhos, de maneira equilibrada e flexível.
A missão principal da vida é levar adiante à família.
Devem recordar, especialmente os homens, que seus
filhos
são o principal negócio a atender. É impossível ser
feliz, se
se fracassa em levar adiante a família.

Se os pais cumprem sua obrigação de formar a seus filhos,


estes percebem clara e proveitosamente os limites de seus direitos
e os alcances de suas obrigações nas diferentes etapas de sua
formação e crescimento.

Este equilíbrio se consegue exclusivamente através do


exercício paterno da autoridade. A ausência dela o converte em um
barco à deriva. O autoritarismo impõe um contraproducente excesso
repressivo. Mas a autoridade assertiva, ou seja, exercer a
autoridade paterna na forma que mais ajudará ao filho na formação
de sua personalidade, não apenas não se opõe à liberdade que
proclamam os partidários da permissividade, mas a alenta e
fortalece ao dar-lhe a base sólida de uma personalidade
desenvolvida no bom caminho.

O conceito latino de auctoritas significa sustentar para crescer.


Em seu sentido próprio e rigoroso, a autoridade se exerce
finalmente em função da liberdade. A autoridade favorece que a
liberdade individual não tolha as liberdades coletivas nem as de
outros indivíduos. Exercida em forma autêntica, é sempre um
serviço à liberdade.

Não é um conceito abstrato e isolado. Não é abstrato porque


se exerce no que agir quotidiano. Não é isolado porque apenas
pode ser exercida em função da liberdade individual e coletiva.
A ausência de autoridade paterna converte a criança
em um
barco à deriva, já que não se lhe transmite um modelo
a
imitar, nem se lhe ensina que as condutas
inadequadas
devem ser modificadas, melhoradas.
A tarefa de educar é talvez a principal missão que pode ter
uma pessoa. Não basta trazer uma criança ao mundo: Há que
educá-los e os primeiros responsáveis deles, ante Deus e ante a
sociedade, são os pais. Essa responsabilidade é indelegável ante
ninguém, nem nos colégios, nem no Estado. Por isso, são o apoio e
a esperança dos filhos enquanto lhes vão ensinando a sustentar-se
por si próprios, da mesma forma que a vara ou “tutor” que se coloca
junto a uma árvore recém plantada para assegurar que cresça
direito.

Quando se planta uma pequena árvore, tende a crescer para


cima, buscando a luz e integrando-se a seu ambiente. Mas nesse
processo de crescimento necessitará durante certo tempo estar
atado a essa vara para que o desenvolvimento em altura seja reto
enquanto afirma cada vez mais suas raízes na terra, alcançando
sua máxima potencialidade.
Mediante uma educação que conjuga a ternura com a
firmeza, se consegue a ordem e harmonia da
personalidade,
estimulando as tendências de integração social ao
mesmo tempo
que desmotivando as condutas anti-sociais.
Se isto acontece em um nível de vida elementar como a
vegetativa, onde não existe a necessidade de locomoção e
discernimento para nutrir-se, crescer e reproduzir-se, a importância
dessa vara ou “tutor” é muito maior na pessoa, que integra em si
própria tanto a vida vegetativa como a vida animal e intelectual.

No caso do ser humano, essa vara de respaldo que guia seu


crescimento reto exige características de adaptabilidade,
flexibilidade e firmeza.

Ser vara ou “tutor” equivale ao exercício da autoridade no caso


dos pais, sustentando para evitar desvios ou para corrigi-los se
aparecem. Esta função de autoridade significa sustentar para
crescer. Ensinar a crescer é conseguir que os filhos aprendam a
aproveitar as experiências dos pais de maneira favorável e operativa
em sua própria vida, em um clima de liberdade e responsabilidade.
“Arvore que cresce torta, nunca se endireita”.

O exercício da autoridade por parte dos pais,


é como ”tutor” que ajuda a árvore recém plantada:
assegura
que cresça direito.
A operatividade significa para os filhos alcançar uma
capacidade de escolha justa e equilibrada dentro das possibilidades
que enfrentarão ao ir crescendo em suas próprias vidas. Saber
optar, escolhendo o bem para suas vidas, é saber ser livres.

Na interação que se estabelece com os filhos, os pais


cumprem permanentemente uma ação formativa. Dado que esse
processo é contínuo, se corre o perigo de que a autoridade se
desgaste. Este perigo é mais notório nas mães, que são aquelas
que geralmente passam mais tempo com os filhos. A forma de evitar
esse desgaste é o bom exercício da autoridade.

Uma forma prática de exercê-la é através da denominada EP.


A EP deve estar presente sempre no processo de formação e
educação de um filho. É um erro esperar que as crianças se tornem
ingovernáveis ou que tenham fracassado os meios de comunicação
com eles tentados por outras vias. A autoridade está na própria
natureza do processo educativo.
É um erro esperar a que as crianças tenham se
tornado
ingovernáveis..., para corrigi-los. Há que atuar já em
sua primeira infância.

Esta realidade é deixada de lado, às vezes, como


consequência de um grave erro antropológico de partida, ao
desconhecer a desordem inata que todos temos conosco, que nos
conduz frequentemente a não fazer o que queremos fazer e a fazer
aquilo que não queremos fazer.

A desordem que existe na natureza humana facilita com que a


inteligência se obscureça e a vontade se enfraqueça, impedindo que
a consciência psicológica consiga seu fim proposto.

Se nasce com este germe de decomposição de tipo anti-social.


Isto se percebe especialmente nas crianças menores, quando
mostram explosões de crueldade em seus jogos e intercâmbios com
seus pares (como o caso de outra criança com algum defeito físico)
ou com seus próprios pais.
Esse germe de decomposição anti-social, se
percebe
especialmente nas crianças menores, quando
mostram
explosões de crueldade em seus jogos e intercâmbios
com
companheiros (como o caso de outra criança com
algum defeito
físico) ou com seus próprios pais.

Estas situações se exemplificam com dois casos reais:

Logo após enfurecer-se com sua mãe, porque não o


deixava sair para brincar na rua porque estava
chovendo, uma criança de nove anos pegou uma pedra,
e lançou-a de fora de casa contra a janela da cozinha,
onde estava sua mãe. A pedrada estilhaçou um dos
vidros, e um dos fragmentos cortou sua mãe. Ao
perceber o que havia ocorrido, correu de volta para casa,
chorando muito e pedindo perdão quase em desespero,
enquanto repetia para sua mãe: “Te amo, te amo!”.

Uma noite, bem tarde, um médico recebeu um


telefonema desesperado de um pai, pois seu filho
ameaçava à mãe com uma faca. O ambiente que o
médico encontrou era desolador: quadros, tapetes e até
móveis quebrados. Ao menos, não havia sinais de
sangue. O filho estava trancado em seu quarto,
soluçando e pedindo perdão. Apesar de que minutos
antes havia encurralado sua mãe com a faca ao
pescoço, não deixava de repetir gritando: “Mamãe, te
amo, te amo!”.
Este último caso pode ser o de um garoto drogado ou com um
distúrbio grave de personalidade. Ambos exemplos refletem, talvez
em grau extremo, a presença nas pessoas do germe do amor e do
ódio, do bom e do mau, de construir e de destruir.

É, por exemplo, uma constante dentro das famílias com filhos


drogados a falta de limites por parte dos pais na formação inicial da
criança. E quando a família não consegue impor limites, é muito
difícil que a sociedade possa fazê-lo mais tarde.

A educação é, em grande medida, um meio para estabelecer a


ordem entre as potências encontradas que existem na
personalidade de uma criança. E será o exercício de uma educação
firme por parte dos pais (assim como também dos educadores) o
que canalizará dentro da pessoa seus instintos anti-sociais, levando-
os a ser pessoas úteis e que se integrem à sociedade
harmonicamente e de uma maneira positiva. Este exercício
adequado da autoridade é facilitado com a aplicação da EP.
Em todas as pessoas encontramos a presença do
germe
do amor e do ódio; do bom e do mau; de construir e de
destruir.
Desconhecer esta desordem inata é um grave erro
antropológico.
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O QUE É A EDUCAÇÃO COM PERSONALIDADE

O exercício da EP por parte dos pais significa:


Fazer valer eficazmente os direitos próprios e, ao
mesmo tempo, respeitar os direitos dos filhos.

Conseguir que os filhos percebam e entendam a


mensagem de seus pais, incluindo seus desejos,
interesses e estados emocionais no processo de
comunicação.

Tomar decisões sobre o que corresponde fazer com


respeito aos filhos e levá-las a cabo sem mudanças de
posição que signifiquem uma claudicação.

Isto implica a responsabilidade de produzir a mensagem que


mais ajude à educação de um filho em uma situação determinada,
transmiti-lo na forma adequada, ou seja, com eficácia, tomar
decisões para assegurar seu cumprimento e assumir as
consequências desse cumprimento.

A formulação vaga da posição paterna ou o voltar atrás no


cumprimento de uma decisão são negativas no processo educativo.
Se a indicação não é clara, compreensível e direta, o filho se sentirá
menos induzido a cumpri-la. Se o pai ou a mãe anunciam uma
decisão, mas a seguir voltam atrás, a criança absorverá a
mensagem ineficaz de que tem margem para manipular o
cumprimento, tanto nesse momento como em casos futuros.

Todas as pessoas se dividem em três grupos de acordo com a


resposta que dão ante uma situação que envolva alguma forma de
conflito:
Inseguros Agressivos

Não conseguem fazer valer Impõem seus direitos sem ter


eficazmente seus direitos, em conta os direitos
necessidades e afetos. dos demais.
Valem mais os direitos
dos demais.

Atitude SUBMISSA Atitude DOMINANTE

Entre os dois extremos está a adequada resposta dos pais.


COM PERSONALIDADE

Conseguem fazer valer eficazmente seus direitos, tendo também


em conta os direitos dos demais. Dizem o que pensam. Sabem
dizer que não (ASSERTIVO)

ATITUDE FLEXÍVEL
E FIRME AO MESMO TEMPO

Esta divisão não é categórica mas dinâmica e mutável. Muitas


pessoas se verão refletidas em mais de um desses grupos segundo
sejam as situações em que pais e filhos interatuam.

Mas a percepção esquemática destes três níveis de resposta


ajudará aos pais a atuar assertivamente na educação dos filhos
mediante o exercício adequado da autoridade. Uma atitude de
submissão insegura ou de domínio agressivo constituem igualmente
uma mensagem ineficaz em matéria de autoridade educativa. Uma
atitude assertiva, com firmeza equilibrada e com a flexibilidade que
cada situação requer, constitui a adequada mensagem eficaz.
Ninguém nasce sabendo como se educa. É mais fácil
capacitar para curar enfermidades, ensinar
matemática ou
apagar incêndios, que para educar filhos.
Freqüentemente,
as modalidades de uma geração não servem à
seguinte.
Hoje, é claramente mais difícil que antes.
O conceito de assertividade se aplica em forma permanente na
relação diária dos pais com os filhos. O diálogo e a compreensão de
seus sentimentos estimulam a melhora em seu comportamento e
sua integração social, isto é, a atitude em sua relação com os
demais, dentro e fora do núcleo familiar. Os pais devem ter em
conta que sua função de principais responsáveis pela educação dos
filhos implica, em definitiva, a atitude educativa-assertiva.

Os pais devem ser os principais educadores dos


filhos.
Se estão ausentes ou não sabem exercer esse
direito
indelegável, outros, com doutrinas, crenças e valores
diferentes, ocuparão seu lugar.

Por exemplo:

Há visitas em casa a noite e sua filha de quatro anos, já


sendo tarde, ainda está acordada. Como costuma
acontecer, está cansada e irritável, mas se nega a ir
para cama. Você entende que sua filha não queira
perder o entretenimento da visita, mas também
compreende que pelo bem dela e o seu próprio a
criança deve ir dormir. Como consegue que vá para a
cama?

Seus dois filhos se incomodam continuamente entre si.


Discutem, se enfrentam mutuamente e chegam a
brigar. Você já experimentou separá-los, ter conversas
com eles em reuniões familiares, entender a razão das
brigas, mas os conflitos continuam. O tema chegou a
tornar-se insuportável. Que se pode fazer?
A mãe tem um trabalho full time e necessita que seu
filho adolescente colabore com algumas tarefas da
casa. Ele se nega e insiste que odeia fazer o que lhe
mandam.

A mãe percebe que os companheiros de seu filho não


têm em suas casas responsabilidades desse tipo, mas
ela termina o dia muito cansada para fazer tudo
sozinha. Falou com seu filho até a exaustão, entretanto,
ele segue negando-se a fazer o que sua mãe lhe pede.
Como conseguir que colabore?

Ante situações deste tipo, os pais devem desenvolver


condutas específicas para assegurar que seus filhos os escutem.
Existem formas para manejar mais positivamente as situações
conflitivas e fazer entender aos filhos que os pais representam a
autoridade. Isto significa que os filhos devem respeito aos pais
porque há entre ambos um vínculo hierárquico e de amor
simultâneo.

Para ajudá-los a compreender, se lhes podem transmitir


mensagens do seguinte estilo:

“Te amo muito como para deixar que se comporte assim. Seu
problema de comportamento deve terminar e estou disposto a fazer
o necessário para que se dê conta de que falo sério”.
Ante as condutas impróprias dos filhos esta é a
mensagem
que os pais devem transmitir. Assim lhes ficará claro
que não é
uma contradição amá-los muito e exigir-lhes.
Há que ter em conta que também se demonstra a autoridade
quando se é capaz de estimular e reforçar positivamente as
mudanças problemáticas que vão manifestando e quando se tem a
integridade de reconhecer os próprios erros.

Uma dificuldade inegável é que é mais fácil capacitar um


homem para curar enfermos, ensinar matemática ou apagar um
incêndio do que para ser um bom pai. Além disso, não se trata
apenas de “ser pai” como se fosse um generalizado título
profissional mas de ser pai de João ou Paula, de Ricardo ou de
Maria, isto é, de crianças que possuem características individuais
próprias e que, por esse motivo, requerem em cada caso um trato
paterno individualizado.

Como forma de enfrentar estas dificuldades cremos ser de


grande utilidade três capacidades chaves no exercício da
autoridade:

- falar claro.
- Respaldar as palavras com fatos.
- Estabelecer as regras do jogo.
Para a difícil e apaixonante tarefa de ser pais, há
muita
experiência recolhida, tanto acadêmica como prática,
que ajuda
e orienta. Educar é ir adiante, e para isso, há que fazer
o
esforço de assistir a cursos e conferências, além de
estudar.
Estes três planos de comunicação constituem a base da EP a
ser aplicada de acordo com o modo que se vá desenvolvendo a
formação de cada criança. Educar é assegurar-se que o filho cresça
retamente. A retidão supõe a existência de uma disciplina na
pessoa. Nos anos formativos de cada pessoa, esta disciplina deve
ser estabelecida pelos pais, em maior ou menor grau conforme
sejam maiores ou menores os desvios que se produzam no reto
crescimento.

O ser humano é ao nascer o animal mais incompleto, mais


inacabado, mais frágil e indefeso. Diferente de um bezerro, que
pode se separar da vaca um dia após haver nascido e só tem a
necessidade de alimentar-se bem, para o homem é nefasto isolá-lo
de seus progenitores, seja no dia seguinte ao seu nascimento,
passado um mês ou um ano, aos seis ou aos doze anos.

Esta insuficiência, este inacabamento do ser humano, lhe


impõe dependência dos demais para desenvolver-se, crescer e
cultivar-se retamente. Necessitará durante a primeira parte de sua
vida o apoio afetivo e a orientação disciplinada do núcleo social
básico, que é sua família, para poder funcionar com plenitude tanto
nessa esfera como no entorno mais amplo de toda a sociedade.

O alcance deste objetivo lhe permitirá alcançar sua condição


de sujeito social, radicalmente orientado aos demais, aberto aos
demais e interconectado com os demais, mas sem perder sua
individualidade que o faz único e irrepetível.

A aplicação da EP, ou seja, o nível necessário de disciplina


dentro da educação assertiva do filho no entorno familiar, reconhece
a natureza própria da pessoa: sua ordem e desordem, sua
individualidade e sociabilidade.

O exercício adequado da autoridade, sem exceder-se nem


omitir-se, requer um equilíbrio difícil de ser conseguido. Em algumas
ocasiões, pode sentir-se incapaz de exercer a autoridade no nível
exato demandado pela situação que enfrenta seu filho, por
obstáculos centrados no excesso de força ou de submissão, ou em
não saber mudar para perceber e atender melhor os direitos de seus
filhos.

Quando um pai assume seu papel ou enfrenta uma situação


conflitiva com um filho, pode responder de forma muito direta ou
muito forte. Muitos sentem que fracassaram se têm que impor suas
decisões pela força para conseguir que seus filhos lhes dêem
ouvidos.

Outros foram instruídos por educadores que lhes asseguram


que para conseguir uma boa saúde mental nos filhos devem evitar
todo tipo de atitudes “inflexíveis” ou “autoritárias” e encontrar
sempre alternativamente uma aproximação psicológica sem que
importe a gravidade das condutas.

A busca da aproximação psicológica como, por exemplo, falar


com eles sobre os motivos de sua má conduta, é correta, mas
incompleta, é só um lado da moeda, se não vai acompanhada de
uma mensagem clara e precisa do que os pais esperam das
crianças e quais são os meios para consegui-lo.
Outro obstáculo que costumam encontrar, para manejar-se
adequadamente em situações problemáticas, é que freqüentemente
repetem sobre seus filhos modelos de disciplina que foram
ensinados a eles, mas que podem não ser eficazes para uma
geração posterior. É comum observar que as crianças de hoje se
comportam de maneiras diferentes de como o faziam seus pais
quando tinham a mesma idade. Isto induz aos pais a manifestar sua
preocupação dizendo ou pensando que “eu nunca haveria atuado
como faz meu filho” ou “meu filho diz coisas que eu jamais pensei”.

Isto é real; entretanto, acomodar-se nesta atitude equivale a


declarar-se derrotado em um esforço recém começado. É verdade
que educar hoje em dia é mais difícil que antes porque, entre outras
razões, o núcleo familiar está mais ameaçado, intimidado e
estorcido.

Mas por sua vez, como contrapartida, os canais de


comunicação estão mais abertos. Apenas é necessário saber usá-
los para que a água corra mais clara e cristalina.

Os impedimentos costumam conduzir um pai à conclusão


frustrante de que nada pode fazer para melhorar o comportamento
inadequado de seus filhos. O que lhe faz falta é dispor das
ferramentas necessárias e da confiança em si próprio para manejar
cada situação com firmeza e flexibilidade, isto é, assertivamente.
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UM CAMINHO EM TRÊS ETAPAS

A EP é um caminho em três etapas. Os pais que o transmitem


no trato quotidiano com seus filhos verificarão que é um sistema útil
para corrigir problemas de conduta de crianças menores. Este livro
explica de forma ordenada e com exemplos da vida real o que os
pais devem fazer, assim como o que devem evitar, para conseguir
que os filhos os escutem, aceitem sua mensagem e a cumpram.

A EP se consegue mediante a aplicação de três normas


básicas e progressivas de ação. A primeira, é a adequada
comunicação com seus filhos. A segunda, é não ficar em palavras,
mas respaldá-las com fatos cada vez que for necessário. E a última,
é fixar clara e firmemente as regras do jogo, para que cada filho,
difícil de corrigir e orientar, saiba sempre a que ater-se e qual será a
consequência se persiste em sua má conduta.

Cada um destes temas requer técnicas simples e outras ações


cuja aplicação aumentará a utilidade de um plano de EP para
solucionar as condutas inadequadas das crianças, consolidando a
formação de sua personalidade.

Nos capítulos seguintes explicaremos de forma detalhada o


que um pai necessita fazer em cada um dos três campos de ação,
que são complementários e podem ser resumidos da seguinte
maneira:

1) Falar claro: Significa a forma mais conveniente de


expressar-se para assegurar que seus filhos o escutem. A
comunicação assertiva requer dos pais falar de forma
adequada, utilizar algumas simples técnicas não verbais
para reforçar as palavras, saber como manejar as
discussões e a frequente atitude argumentativa das crianças
e reconhecer as boas condutas.

2) Respaldar as palavras com fatos: para todas as


crianças, os fatos são mais eloqüentes que as palavras;
porque as demonstram claramente e sem possibilidade
alguma de dúvida que você não se limita a falar mas que
também executa as ações corretivas quando é necessário.
Estas ações devem ser planificadas previamente pelos pais,
para estarem prontos a responder com fatos; falando
assertivamente a seus filhos, se estes não escutam nem
obedecem.

3) Estabelecer as regras do jogo: Cobre a resposta


sistematizada dos pais à conduta inadequada dos filhos
quando a comunicação assertiva e o respaldo de palavras
com fatos não foram suficientes. O estabelecimento
antecipado das regras do jogo informa aos filhos,
claramente e de antemão, que tal conduta imprópria
específica provocará inevitavelmente tal resposta específica
dos pais.
Frente às diversas atitudes e problemas que
estabelecem
seus filhos, você tem a sua disposição técnicas
simples
que o podem orientar adequadamente, fazendo mais
eficaz a tarefa de sua educação.
Antes de entrar na explicação detalhada de como colocar em
prática estes três aspectos básicos da EP, é importante advertir
sobre seus alcances e suas limitações.

O plano que aqui se detalha foi desenhado para todos aqueles


pais que querem e necessitam desenvolver melhores condutas em
seus filhos. Se trata de influir mais positivamente em seu
comportamento antes de que seja tarde.

Os três princípios em que se baseia o plano da EP – falar


claro, respaldar as palavras com fatos e estabelecer regras de jogo
– constituem um programa de ação integrado e global que, para seu
maior êxito, convém executar em três etapas que devem ser
seguidas nessa mesma ordem. Esta aplicação ordenada aumentará
seu efeito didático.
Pelas características da sociedade atual, os filhos
estão
expostos a influências externas à família que lhes
apresentam
modelos e padrões de conduta diferentes dos que têm
seus
pais. Isto torna mais dificultosa a tarefa educativa dos
pais,
mas também estabelece obstáculos aos próprios filhos
para
poder crescer. Hoje em dia, por exemplo, é mais difícil
amadurecer como adolescente, que há 20 anos.

As ações descritas podem ser utilizadas de forma isolada em


alguma intervenção paterna por uma situação específica. Ocorrem
casos em que os pais se manejam bem dentro de um destes três
princípios que, por modalidade ou características próprias e de seus
filhos, utilizam com mais frequência.

Por exemplo, uma mãe de quatro filhos estava com a menor,


uma menina de três anos, que se negava a comer o que havia
pedido em um restaurante fast-food. Em determinado momento a
mãe passou um braço sobre os ombros da menina e falando-lhe
suavemente, começou a dar-lhe a comida que a menina recusava
até esse momento aceitar. Incentivada pela atitude materna,
começou a comer sem reclamar. Esta mesma mãe, entretanto,
freqüentemente se equivoca ao gritar com seus filhos quando estes
a tiram do sério.
Esta ação foi adequada e de acordo com um plano de EP. Mas
comete um erro quando não segue o mesmo caminho no trato
contínuo com os filhos, isto é, quando não aplica de forma ordenada
e contínua as etapas da EP.

Conseguir mudanças de condutas e hábitos não é um


processo fácil nem repentino. Inclui múltiplos fatores que por sua
vez se combinam de diferentes maneiras. O objetivo deste material
não é impor aos pais normas rígidas e infalíveis mas apresentar-
lhes pontos de referência e apoio na difícil tarefa de educar aos
filhos. Os pais devem ter em conta, ao utilizar as técnicas sugeridas,
que sua própria capacidade de persuasão é a arma mais efetiva
para alcançar o nível necessário de comunicação com seus filhos.

O plano de EP foi escrito para pais com filhos menores que


não registrem alterações graves de conduta até seu ingresso à
adolescência. A partir do período adolescente, ainda que o plano
continue sendo muito importante, a autoridade dos pais será o
resultado do prestígio que tenham sabido conquistar ante seus
filhos.
Conseguir mudanças de condutas e hábitos não é um
processo fácil nem repentino. Os pais devem ter em
conta
que sua própria capacidade de persuasão e afeto é a
arma
mais efetiva para obtê-los. Algumas atitudes paternas
revelam que se declararam vencidos muito cedo.

Nos casos de crianças com problemas graves de conduta, a


EP também pode ajudar, mas jamais deve substituir a atenção
profissional ou de grupos especializados de orientação e apoio. As
condutas graves são as que não se conseguem modificar com a
aplicação do sentido comum e das sugestões contidas neste livro ou
em outros manuais práticos para o assessoramento tanto dos pais
como dos demais educadores de crianças.
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O QUE NÃO DEVE SER FEITO

Antes que comece a controlar-se melhor para conduzir a


conduta inadequada de seus filhos, é conveniente avaliar a forma
que você responde habitualmente quando estes não o escutam ou o
tiram do sério, levando-o a uma sensação de frustração e
impotência.

A maioria dos pais não se dão conta de quão ineficazes são,


as vezes, suas reações ante um comportamento indesejável de
seus filhos. Com frequência não percebem que sua maneira de
responder estimula aos filhos a manter e até acentuar uma conduta
inconveniente.

Tais respostas ineficazes dos pais se agrupam em duas


categorias:

Inseguras

Hostis ou agressivas

Se você é como a maioria dos pais, com segurança


reconhecerá algumas das respostas que apresentamos nos
exemplos deste capítulo.

4.1 RESPOSTAS INSEGURAS

As respostas inseguras fracassam porque os pais não


estabelecem claramente a seus filhos o que esperam deles e, se o
fazem, não estão preparados ou dispostos a respaldar suas
palavras com fatos.
Uma resposta é insegura quando não transmite à criança de
forma precisa, facilmente compreensível e firme o que se espera
que faça.

Quando os pais agem desta maneira, estão abrindo a porta


para que os filhos ignorem suas palavras e até se aproveitem deles,
porque lhes comunicam, mesmo sem dar-se conta, que não estão
falando a sério ou que carecem da fortaleza requerida para corrigi-
los.

Os exemplos seguintes, de respostas paternas tipicamente


não assertivas frente à conduta indesejada dos filhos, mostram a
razão pela qual este tipo de respostas não funciona.

Afirmação ineficaz

Mãe: “Te pedi que arrumasse seu quarto, mas ainda não o
fez”.

A criança continua sem cumprir o pedido de sua mãe, ante o


qual esta repete frustrada: “Não liga para o que eu falo”.
A simples comprovação de uma conduta inadequada
da criança, leva
com frequência a que os pais, desconcertados,
pretendam averiguar
os motivos do comportamento impróprio. Isto só
debilita sua posição,
posto que o pequeno não sabe ou não quer manifestar
por que
atua desse modo. Se se persevera nesta atitude, em
vez de educar
se passa a negociar de igual para igual, o que é
inadmissível

Este tipo de respostas, além de evidenciar que muitos pais


sentem que é útil fazer ver ao filho que não está se portando
adequadamente, supõem também que as crianças não são
conscientes de que estão atuando mal e que, se o soubessem,
parariam com sua conduta inconveniente.

Na realidade, a maioria dos filhos são plenamente conscientes


de que estão fazendo algo inadequado. Dizer-lhes somente o que
estão fazendo mal constitui uma mensagem incompleta, porque não
transmite de forma clara e definida o que você realmente quer que
façam e quando devem fazê-lo.

O pedido materno para que a criança ordene seu quarto


seguido apenas por queixas porque não lhe dá importância, dilui a
instrução e lhe tira força, deixando margem para que o filho a
ignore.

A resposta indefinida da mãe converte em ineficaz a


comprovação insegura da desobediência do filho.
Perguntas (frequentemente seguem a exemplos
como o anterior)

Depois de limitar-se a uma constatação passiva da conduta


inadequada da criança, muitas vezes os pais, cansados ou
desconcertados, agravam o caráter frágil de sua atuação:

“Por que se comporta mal comigo?” ou “Por que não liga para
o que eu falo?”.

O pedido paterno não funciona porque raramente o filho pode


ou quer explicar-lhe o motivo de seu comportamento impróprio, ou a
razão pela qual não dá importância.

Ante perguntas deste tipo, muitas crianças limitar-se-ão a


balançar os ombros, indicando que não sabem por que se
comportam mal ou não dão importância.

A maioria dos pais pensam que se podem determinar a causa


da conduta improcedente de seus filhos, recebendo deles uma
explicação, estarão induzindo-lhes a reconhecer seus erros e deixar
de cometê-los.
A maioria dos pais pensam, equivocadamente, que se
podem determinar a causa da conduta improcedente
de
seus filhos, recebendo deles uma explicação
“coerente”, os estarão
induzindo a reconhecer seus erros e a deixar de
cometê-los.
A imaturidade psicológica dos filhos os impossibilita
para isso.
Apesar de que este princípio tem uma base razoável, na
prática as coisas são mais complicadas. As crianças pequenas
geralmente não sabem ou não podem explicar por que se estão
portanto de determinada maneira. As respostas inseguras de seus
pais em forma de pergunta, certamente não os ajudarão a
compreender ou perceber o motivo de seu erro.

Outro exemplo deste tipo:

Criança (ao sair de casa para a de um amigo vizinho, sem


terminar os deveres do colégio): “Até logo, mamãe”.

Mãe (exasperada): “Quantas vezes tenho que dizer-lhe que


termine seus deveres?”.
As indicações em forma de pergunta, não apenas não
transmitem claramente o que se espera dos filhos,
mas
que também manifestam falta de convicção, fraqueza
ou insegurança por parte de quem as faz.

A pergunta da mãe é insegura porque apenas transmite o


desgosto materno sem expressar autoridade ou orientação.
Obviamente ela não espera que seu filho lhe responda “necessito
que me diga nove vezes”, mas está apenas expressando fraqueza
através de sua frustração. A reação assertiva da mãe deve ser:
proibi-lo de sair até que termine os deveres.
Uma situação semelhante se dá neste diálogo:

Criança (depois de quebrar uma janela com uma bolada):


“Papai, o vidro quebrou”.

Pai (irritado): “Você sabe quanto custa um vidro novo?”.

É claro que o pai não espera que seu filho lhe informe o preço
do conserto da janela, mas sua reação insegura através da pergunta
não chega a transmitir-lhe a verdadeira mensagem: que um
descuido irresponsável em seu comportamento está causando um
prejuízo econômico à família.

As perguntas inseguras refletem o fato de que as crianças


sabem como tirar os pais do sério quando estes se mostram
incapazes de atuar com firmeza.

Súplica
A súplica à criança, pedindo-lhe que seja
compreensiva e se
apiede do adulto, transmite uma imagem paterna de
fragilidade e debilidade, que induz à desobediência e à
desvalorização. Se perde assim prestígio, autoridade e
não
se lhes apresenta um modelo atraente para ser
imitado.
“Venha deitar-se”.
Mãe: “Venha deitar-se”.

Filho: “Não tenho sono”.

Mãe: “É tarde e eu estou cansada. Por favor, vá se deitar”.

Filho: “Mas não estou cansado”.

Mãe: “Mas eu sim. Por favor vá dormir”.

Quando os pais suplicam, estão pedindo a seus filhos que lhes


tenham compaixão. Isto não costuma ser razão suficiente para que
deixe de comportar-se de forma imprópria, porque não
compreendem a magnitude do cansaço de um adulto, que é
diferente do deles. Pior ainda, a súplica para que seja compreensivo
e se apiede do adulto, lhe transmite uma imagem paterna de
fragilidade e fraqueza que induz à desobediência.

Ignorar a desobediência

Igualmente inseguro é dar ao filho uma ordem específica para


que se comporte corretamente e depois fazer-se de desentendido
se não obedece. Quando um pai dá uma ordem e o filho não a
cumpre, é indispensável tomar medidas para que seja obedecida. O
contrário é como dizer-lhe: “tenho que dar-lhe esta ordem, mas se
não me dá importância, não se preocupe porque não lhe acontecerá
nada”.

Por exemplo:

Mãe: “Cecília, deixou todo molhado o piso do banheiro. Venha


secá-lo”.

Cecília: (recostada em um sofá, lendo uma revista): “Sim,


mamãe, já vou”.
Mãe (vários minutos depois): “Cecília, te disse que deixasse
essa revista e fosse secar o banheiro!”.

Cecília: “Já vou, já vou, deixe-me terminar de ler!”.

Passa mais tempo e Cecília no sofá lendo. A mãe a vê da


cozinha, mas, vencida, continua com seu trabalho como se não
tivesse percebido que Cecília não a obedeceu.

Quando você tenta disciplinar seus filhos e depois faz a vista


grossa, está lhes ensinando a não o escutar nem lhe dar
importância. Se der ordem, assegure-se de que seja cumprida. Do
contrário, enfraquece sua autoridade e reduz a utilidade de sua
função educativa.

Alguns pais se sentem incapazes de colocar ordem na conduta


de seus filhos ou foram derrotados em tentativas prévias de fazê-lo,
motivo pelo qual optam por ignorar o que devem corrigir.
Dar uma ordem sem verificar que seja cumprida, é
como dizer
à criança; “tenho que dar-lhe essa ordem..., mas se
não obedecer,
não se preocupe porque não lhe acontecerá nada”.
Proceder assim é minar a educação em suas bases.

Por exemplo:

Uma senhora visita a uma amiga cujo filho de doze anos ligou
o aparelho de som em seu quarto com um volume ensurdecedor.
Amiga: “Como aguenta esse ruído?”.

Mãe: “O que posso fazer? Pedi a Augusto até me cansar que


ouça a música num volume baixo e nunca me dá importância. É
como se falasse com a parede e ele me venceu pelo cansaço”.

Os exemplos dados, que constituem apenas algumas das


muitas situações similares que se apresentam na relação quotidiana
entre pais e filhos, mostram respostas paternas inseguras que vão
desde frases indiretas e pouco claras até passar por alto o
comportamento inconveniente. Estas atitudes dos pais refletem
ignorância de como expressar uma ordem precisa, debilidade em
assegurar seu cumprimento e, finalmente, dar-se por vencidos. As
três linhas mencionadas de atitude paterna prejudicam aos filhos.
4.2 RESPOSTAS HOSTIS OU AGRESSIVAS

A hostilidade ou a agressão constituem o segundo tipo de


respostas estéreis. Representam uma mistura equivocada de
autoritarismo e exasperação dos pais para conseguir que seus filhos
se comportem de forma adequada.
As formas verbais que diminuem aos filhos,
transmitem
uma hostilidade ou agressão por parte dos pais, que
representam uma mistura equivocada de autoritarismo
e
exasperação. Atitudes como estas podem levar
inicialmente à submissão e depois à rebeldia.

É uma forma improdutiva e até perigosa de atuar porque não


consegue que um filho entenda as razões pelas quais deve portar-
se bem em seu próprio benefício e ignora, além disso, as
necessidades e sentimentos das crianças. A resposta hostil ou
agressiva afasta ao filho porque o faz sentir-se recusado por seu
pai.
Quanto mais gritar com seu filho, mais transmitirá sua
perda de
controle e debilidade, fazendo com que sua
mensagem careça de
autoridade. As crianças, com uma capacidade intuitiva
extraordinária, captam o descontrole; isto os convida
a colocar-se em uma luta de poderes que obstaculiza
o normal processo educativo.
Seguem alguns exemplos de respostas hostis em que os pais
costumam cair com frequência.

Formas de inferiorizá-los:

“Você me deixa louca”.

“Você me deixa doente”.

“Você é um desastre”.

“Você é um sem-vergonha irresponsável”.


Quando na comunicação os pais transmitem seus
estados interiores, estão sepultando sua própria
imagem,
o que incentiva à rebeldia e à desobediência.

Ameaças sem conteúdo:

“Você vai ver só”.

“Você me pagará por todas de uma só vez”.

Estas ameaças muitas vezes acontecem depois de frases


paternas como: “se continuar comportando-se mal vou...” ou “se
brigar novamente com seu irmão vou...”. Estas frases implicam
ignorar a falta original, atitude incorreta agravada pela ameaça
pouco realista de uma forma indefinida e imprecisa de castigo.

As ameaças podem assumir formas diversas, mas observamos


que a maioria das crianças aprendem a uma idade precoce que
frases como: “se voltar a fazer isso, vou...” não costumam ser
levadas a sério pelos pais que as formulam, os quais, na realidade,
terminam por não cumprir o castigo prometido. As crianças
aprendem a não dar importância a mensagens deste tipo e
continuam portando-se como acham melhor.

As respostas hostis e agressivas costumam gerar sentimentos


negativos entre você e seus filhos, portanto é importante evitá-las.
Quanto mais gritar com seu filho, mais ineficaz será. Os gritos lhe
informam claramente que você perdeu o controle de si próprio e da
situação e que ele, em troca, ganhou terreno.
Ante ameaças sem conteúdo, a maioria das crianças
aprendem a uma idade precoce que não devem levá-
las
a sério, já que são a arma dos pais fracos, sem
recursos e como que tomados por surpresa. Uma idéia
primordial é que nada do que fazem as crianças deve
surpreender-nos. Educar é ir adiante.
Castigos excessivos

Muitas vezes, os pais se excedem ao castigar seus filhos.


Quando se dão conta de que o castigo é excessivamente severo,
muitas vezes têm que voltar atrás, o que também dá a criança uma
mensagem de fraqueza e inconsistência paterna.

O castigo consiste sempre em tirar da criança algo que lhe doa


perder ou impor-lhe fazer algo que o contraria. O castigo pensado
de antemão e com tranquilidade pelos pais e proporcional à conduta
imprópria que se busca corrigir, é geralmente útil. Mas muitas vezes
é um desabafo em um momento de raiva ou frustração, em vez de
uma medida corretiva bem planificada.
Por exemplo:

João, de doze anos, tinha ordem de voltar para sua casa às 8


da noite, mas chegou da casa de seu amigo às 11, quando seus
pais já se preparavam para ir dormir. Seu pai, enfurecido, gritou-lhe
que era “um vagabundo inútil” e que, exceto para ir ao colégio, não
sairia de casa durante um mês.

Na mesma semana, a mãe suspendeu o castigo e comentou


com uma amiga: “Não o agüentava mais dentro de casa, todo o
tempo incomodando e dizendo que estava aborrecido e eu não
sabia o que fazer! Seu pai também não suportava mais”.
O castigo deve ter um começo e um final. Quando é
excessivo, é frequente que os pais voltem atrás,
passando
assim a mensagem de que não é preciso levá-los a
sério
por sua própria incoerência.

O resultado claro e bem definido deste castigo excessivo,


imposto em um momento de raiva paterno, de forma desordenada e
impulsiva, foi que João chegou à conclusão de que os castigos que
lhe impunham seus pais não eram a sério e que não tinha por que
preocupar-se no futuro.
Castigos físicos

Os puxões de cabelo, beliscões, empurrões ou golpes são


quase sempre resultado de uma explosão paterna impensada, com
efeito negativo sobre a educação da criança.

Estes percebem claramente que os gritos fortes, os castigos


extremamente severos que depois não são cumpridos em sua
totalidade e os castigos físicos, indicam que um pai não pode
conseguir o comportamento adequado do filho ou que não é capaz
de manter-se firme na demarcação de limites.

Costuma ocorrer que um pai que foi incorreto, submisso e


permissivo com seus filhos exploda um dia e descarregue sua
frustração com qualquer uma das muitas formas de agressão física.
O que tem um efeito ainda pior, já que desconcerta ao filho pela
oscilação de sua atitude entre extremos igualmente inconvenientes.
Normalmente, a agressão física pode ser uma
explosão
paterna não meditada, com um efeito negativo sobre a
educação da criança, que o faz sentir-se recusada.
Este
distanciamento obstaculiza uma boa comunicação,
baseada no afeto, que dá fundamento às chamadas
“surras bem dadas”.
É importante esclarecer que uma surra bem dada, que foi pré-
avisada como eventual castigo a uma falta de comportamento e que
não responde à explosão descontrolada de um pai mas a um
calculado esforço corretivo, costuma ser altamente eficaz.
É importante esclarecer que uma surra bem dada, que foi pré-
avisada como eventual castigo a uma falta de comportamento e que
não responde à explosão descontrolada de um pai mas a um
calculado esforço corretivo, costuma ser altamente eficaz.

Mas como regra geral, não convém chegar à agressão física.


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COMUNICAÇÃO EFETIVA

As reações e respostas inseguras em que costumam cair os


pais, descritas no capítulo anterior, criam uma barreira prejudicial
entre eles e seus filhos, dificultando o mútuo entendimento familiar e
reduzindo as probabilidades de que seus esforços educativos os
ajudem realmente na formação de uma boa personalidade.

Explicaremos agora a forma efetiva de comunicar-se com seus


filhos através da EP. Este sistema, que também desenvolveram
muitos outros profissionais e que se utiliza em diferentes países, é a
aplicação constante e coerente de uma mistura de sentido comum,
carinho, calma e firmeza para conseguir que os filhos percebam e
entendam sua mensagem e estejam mais dispostos a dar-lhe
importância.

Muitas das indicações que encontrará nas páginas seguintes


incluem, com certeza, atitudes paternas que você já utilizou de
forma natural, ainda que provavelmente as aplique sem a ordem
sistematizada que as tornam mais produtivas.

Para que a EP tenha êxito é necessário aplicar suas técnicas


de forma permanente, sem interrupções, claudicações ou
debilidade. Se a primeira etapa do sistema, ou seja, a comunicação
assertiva, basta para melhorar aceitavelmente a conduta das
crianças, não é necessário recorrer às outras etapas mais severas.

Mas se a primeira etapa da EP não é suficiente e um ou mais


filhos persistem em condutas más, deverá recorrer ordenadamente
às ações que correspondem à segunda etapa; e a seguir, se ainda é
necessário, às da terceira.
Para comunicar-se de uma maneira efetiva com seus filhos
neste primeiro passo da EP, isto é, fazer-lhes entender o que você
quer deles para que o cumpram, necessitará aplicar quatro técnicas
chave para assegurar-se que a mensagem seja clara e penetre.

Estas quatro técnicas de comunicação são:

Linguagem assertiva adequada

Mensagens sem palavras

Manejo das discussões

Reconhecimento de boas condutas

5.1 LINGUAGEM ASSERTIVA ADEQUADA

A experiência de muitos profissionais ao longo dos anos


mostrou que quando os pais estão dispostos que seus filhos com
má conduta se comportem como é desejável, se dirigem a eles com
frases assertivas diretas. Esta atitude é útil e correta e se reflete em
mensagens claras dos pais como, por exemplo:
“Quero que arrume seu quarto AGORA MESMO!”.

“Tem EXATAMENTE CINCO MINUTOS para arrumar o


banheiro antes de vir à mesa”.

“Deixe de incomodar seu irmão AGORA!”.

Tais mensagens diretas e assertivas não deixam dúvida na


mente de seus filhos sobre o que você quer exatamente que façam
e quando.

Quando falar com seus filhos seja concreto. Evite frases vagas
e imprecisas como “seja bonzinho” ou “comporte-se como uma
criança de sua idade”, que reflitam apenas a expressão de um
desejo, mas não transmitem a instrução precisa de uma mensagem
clara, calma e firme.
Falar direta e assertivamente não deixa dúvidas na
mente
de seus filhos sobre o que você quer exatamente que
façam. Isto não os intimida, mas lhes dá segurança,
porque para eles nada é melhor do que ver em seus
pais
pessoas com personalidade.
Os casos que se seguem exemplificam esta forma de atuar:
Os casos que se seguem exemplificam esta forma de atuar:

Pai (com calma e firmeza diz ao filho que lhe argumenta que
tem vontade de continuar brincando): “Entendo-lhe que queira
continuar brincando, mas já é hora de comer e quero que guarde
esses brinquedos em seu lugar IMEDIATAMENTE”.

Mãe (da sala para sua filha, que está em seu quarto falando ao
telefone): “Andréia, já terminou os deveres?”.

Andréa (de seu quarto): “Não, mamãe, estou falando no


telefone com Paula”.

Mãe (caminha até o quarto de sua filha, se senta a seu lado na


cama e lhe diz de maneira calma e firme): “Andréa, quero que
desligue JÁ e termine seus deveres AGORA MESMO”.

Faltam quinze minutos para servir o jantar. A mãe entra no


quarto de seu filho de sete anos, onde há brinquedos esparramados
pelo chão.

Mãe: Pedro, o jantar está quase pronto. Arrume seu quarto A


SEGUIR E EM DEZ MINUTOS venha sentar-se à mesa”.

5.2 MENSAGENS SEM PALAVRAS

Para transmitir à criança sua mensagem assertiva, clara e


inequívoca, é necessário complementar o uso das palavras com a
forma adequada de expressá-las.

Se quando você ordena a seu filho que arrume seu quarto,


“AGORA MESMO!”, o faz gritando e com raiva, lhe mostrará um
descontrole autoritário que torna negativo o resultado de sua
mensagem.
Para que sua instrução tenha o necessário bom efeito, é tão
importante o que diz a seu filho como a forma que diz.

Para conseguir esse melhor resultado e que as palavras


adequadas tenham maior força de comunicação observe os pontos
seguintes:

Não peça algo nem dê uma ordem gritando.

Fale sempre em tom firme, mas calmo.

Transmita sua tranqüilidade ao dar uma ordem ou


instrução, isto comunicará à criança que você
controla a situação.

Sempre fale a seus filhos olhando-os nos olhos.

O contato visual é fundamental para a comunicação humana.

Olhar às crianças nos olhos, enquanto falamos com elas,


aumenta a eficácia de qualquer mensagem, ao refletir, o olhar, o
carinho e a firmeza que há por trás do que um pai está lhes dizendo.
Um ponto importante: Muitas vezes, a criança, desviará olhar
paterno, baixando a cabeça ou virando-a. Nesse caso, levante
suavemente a cabeça de seu filho ou faça-a girar até que vossos
olhos se encontrem.

A incidência do olhar em toda forma de inter-relação humana


está representada naquela frase tão comum: “os olhos são o
espelho da alma”, como se percebe nesta história:

Uma atriz filmava em uma ocasião um curto publicitário. O


câmera lhe dizia que a postura, os movimentos, as palavras e o
sorriso estavam bem, mas que os olhos não acompanhavam.
Apesar de repetirem as filmagens várias vezes, não se pode
melhorar a produção. O motivo era que a atriz havia se separado de
seu marido no dia anterior e, apesar de que todos os elementos
externos de sua atuação eram impecáveis, não conseguia transmitir
a mensagem com seus olhos, que apenas refletiam o impacto de
seu problema familiar.
Olhar às crianças nos olhos enquanto lhes fala
aumenta a
eficácia de qualquer mensagem, ao refletir o carinho e
a
firmeza que há por trás do que um pai está dizendo

Utilize gestos não intimidatórios, por exemplo, com


suas mãos, para dar maior ênfase e força a suas
palavras.

Estes gestos geralmente comunicam à criança que você está


falando a sério. Mas tenha sempre presente a enorme diferença
que existe entre o gesto útil que enfatiza e o gesto contraproducente
que intimida.
Pegar a criança pelo braço com violência para sacudi-lo ou
beliscá-lo ou, inclusive, colocar seu dedo indicador estendido frente
a sua cara enquanto lhe dá uma instrução, debilita a mensagem que
você quer transmitir e que quer que seja entendida por seu filho. Se
este o obedece por submissão atemorizada, sua mensagem
fracassou.

A criança deve obedecê-lo porque entende que assim deve


fazê-lo, não porque está assustada ou simplesmente para safar-se
de uma situação de isolada repreensão paterna. Se a reação da
criança é pensar “melhor fazer o que me dizem até que passe o
tormento”, a mensagem paterna foi mal expressada. A forma
paterna de expressar a mensagem é induzi-lo à conclusão de que
“papai evidentemente fala sério, e deve ter razões para isto e, ainda
que não me agrade, melhor fazer o que me manda”.

Este importante resultado favorável se consegue


estabelecendo um contato físico que lhe transmita a calma, o
carinho e a firmeza do pai ou da mãe, jamais uma irritação
agressiva que apenas o atemoriza ou o induz a uma rebeldia ainda
maior.

Por exemplo, se você coloca sua mão sobre o ombro da


criança enquanto lhe fala, olhando-a nos olhos, fortalecerá sua
mensagem porque estará transmitindo sua firme sinceridade em
ajudá-lo e não de agredi-lo ou descarregar a própria frustração
paterna.

EM MUITOS CASOS, A MÃO DE UM PAI SOBRE O OMBRO


DA CRIANÇA TERÁ MAIS PESO E SIGNIFICADO QUE AS
PALAVRAS.
Em muitos casos, a mão de um pai sobre o ombro da
criança
terá mais peso e significado que as palavras. A calma,
o carinho,
e a firmeza que lhe transmite o contato físico, o
predispõe
a compreender e a aceitar as mensagens paternas.
5.3 MANEJO DAS DISCUSSÕES

Há cinco técnicas ou formas básicas para manejar as


situações que se apresentam quando os filhos, em vez de obedecer
uma ordem paterna, respondem com diferentes tipos de argumentos
e tentam estabelecer um discussão. São técnicas dirigidas a evitar
que os pais caiam em uma estéril discussão argumentativa com
seus filhos, quando estes não apresentam razões válidas mas
apenas tentam estabelecer desculpas para ignorar ou obscurecer a
ordem paterna.

Estas técnicas são conhecidas por “disco riscado”, “nevoeiro”,


“interrogação negativa”, “extinção” e “tempo afastado”.

TÉCNICA DO DISCO RISCADO

De modo frequente ocorre que quando você quer dizer


simplesmente a seu filho o que deve fazer, o resultado é uma
discussão.

Por exemplo:

Mãe: “Ricardo, por favor, pode recolher seus brinquedos?


Estão jogados por todo o quarto”.

Ricardo: “Por que sempre eu tenho que juntá-los? Alberto


nunca os junta”.

Mãe: “Você sempre deixa as coisas jogadas; ele, não”.

Ricardo (irritando-se): “Sempre implica comigo!”.

Mãe: (incomodada): “Isso não é verdade”.

Ricardo: “Está sendo injusta”.

Mãe: “Está errado, não sou injusta”.


Neste caso, a mãe terminou perguntando-se se era justa ou
não e dando-se por vencida em vez de estabelecer com firmeza o
que queria, isto é, que Ricardo recolhesse os brinquedos.

Nunca uma criança poderá vencer-lhe em uma discussão.


Para ajudá-la a evitar que seus filhos a levem a discussões inúteis
e, pelo contrário, manter-se em seu objetivo, encontramos um meio
útil que chamamos “técnica do disco riscado”.

O nome reflete o fato de que quando você usa essa técnica,


soa como um disco riscado que continua repetindo sempre o
mesmo, uma e outra vez, até que consegue a penetração e
aceitação de sua mensagem.

Quando aprender a falar como um disco riscado será capaz


tanto de expressar o que quer como de conseguir que a mensagem
penetre. Ao mesmo tempo, aprenderá a ignorar os esforços de seu
filho para desviá-lo do tema e envolvê-lo em uma discussão que
você não poderá ganhar.
Voltando ao exemplo de Ricardo:

Mãe: “Ricardo, por favor, pode recolher seus brinquedos?


(argumento do que você quer). Estão jogados por todo o quarto”.

Ricardo: “Por que eu sempre tenho que juntá-los? Alberto


nunca os junta”.

Mãe (com voz tranqüila): “Esse não é o tema. Eu quero que


você recolha os brinquedos”. (repetição, disco riscado).

Ricardo: (acalmando-se): “Está bem, já lhe escutei, já os


recolho”.
“O disco riscado”

Em geral, os adultos ignoramos que é impossível


ganhar
uma discussão de uma criança. Para ajudá-lo a evitar
que seus filhos
o levem a discussões inúteis, e pelo contrário, manter-
se
em seu objetivo, a técnica do disco riscado é um meio
muito útil.
Os seguintes, são uma série de diretrizes para o
uso do “disco riscado” quando seus filhos
discutem:

- Determinar claramente o que quer que seu filho faça. Por


exemplo: “Eu quero que recolha os brinquedos”.

- Continue repetindo o que você quer quando seu filho


argumenta. Não responda a nenhum de seus argumentos.

- Se depois de usar o “disco riscado” numa medida razoável


seu filho ainda não faz o que você quer, deve estar disposto a apoiar
suas palavras com ações.

O exemplo que segue mostra como aplicar esses parâmetros e


integrar os gestos à técnica do “disco riscado”:

Pai (olhando-o nos olhos e com uma mão sobre seu ombro):
“Raul, pare de incomodar seu irmão” (estabeleceu especificamente
o que quer).

Raul: “Não é culpa minha, ele que começou”.

Pai (com firmeza): “Esse não é o ponto. Você vai deixar de


incomodar seu irmão (disco riscado).

Raul: “Por que sempre você só chama minha atenção?”.

Pai (calmamente): “Raul, você vai deixar de incomodar seu


irmão (disco riscado). Se não deixar de incomodá-lo, ficará de
castigo até a hora de deitar-se”.

Raul: “Por que implica comigo?”.

Pai (calmamente): “Raul, se voltar a incomodar seu irmão


estará de castigo até a hora de deitar-se” (disco riscado).
TÉCNICA DO “NEVOEIRO”

Busca conseguir que os filhos não os tirem do sério, fazendo-


se de surdos a suas atitudes e argumentos provocativos, cuja
finalidade é fazer com que os pais percam o domínio de si próprios
e da situação. Usemos seu nome metaforicamente pelo fato de
isolar-se das intenções manipulativas da criança, como acontece
quando uma pessoa ou um barco penetra em um “nevoeiro” e fica
isolado do que o rodeia.

Por exemplo:

Ricardo: “Você é malvada!”.

Mãe: (calmamente): “Pode ser que para você pareça que sou
malvada” (nevoeiro).

Ricardo: “Sempre zomba de mim”.

Mãe: “Pode ser que você acredite que sempre zombo de você”
(nevoeiro).
Essa técnica, combinada com a do “disco riscado”, favorece, por
um lado, não reagir à crítica do filho e a evitar ser desviado do
objetivo. Por outro, conseguir que responda à ordem.

Por exemplo:

Mãe: “Recolha seus brinquedos”.

Ricardo: “Você é malvada. Sempre eu tenho que juntá-los”.

Mãe (com calma): “Pode ser que você acredite que sou má
(nevoeiro), mas recolha seus brinquedos (disco riscado).

Ricardo: “Sempre me perseguindo”.

Mãe (com calma): “Pode ser que você acredite que eu fico lhe
peseguindo (nevoeiro), mas recolha seus brinquedos” (disco
riscado).

É muito provável que esta mensagem penetre e Ricardo


obedeça.
Quando se associa a técnica do “nevoeiro” à do “disco
riscado”,
os filhos ficam sem argumentos e não se distraem da
mensagem
que se lhes quer transmitir. Por outra parte, ajuda aos
pais a
manter a serenidade e a calma, tão necessárias para
formar
filhos com personalidade.
TÉCNICA DE INTERROGAÇÃO NEGATIVA

Uma resposta hostil de um filho esconde, às vezes com


agressividade, a verdadeira razão de seu descontentamento. A
técnica de interrogação negativa o vai conduzindo gradualmente até
chegar ao motivo real da resposta agressiva inicial.

Por exemplo:

É o aniversário de Maria. Sua mãe está lhe organizando a


festa, entretanto, Maria mostra uma atitude de crítica negativa.

O diálogo se desenvolve da seguinte forma:

Maria: “O bolo está maravilhoso”.

Mãe: “O que tem o bolo de maravilhoso?” (interrogação


negativa).

Maria: “Que ficou feio”.

Mãe: “E o que tem para estar feio?”(interrogação negativa).

Maria: “É que meus colegas vão rir” (se chega ao ponto que
verdadeiramente afeta à criança).

Mãe: “Por que acha que vão rir?”.

Maria: “Sempre zombam de mim e brigam comigo, não querem


brincar comigo”.

Mãe: “E apenas zombam de você?”.

Maria: “Sim”.

Mãe: “Mas às vezes também devem zombar de outras


meninas, não?”.
Maria: “Sim, às vezes sim”.

Mãe: “E não acha que parece que o fazem para irritá-la e


divertir-se um pouco a suas custas?”.

Maria: “Sim, eu me irrito e deixo de brincar com elas”.

Mãe: “E que poderia fazer para não irritar-se e continuar


brincando?”.

Maria: “Não dar-lhes importância”.

Mãe: “Muito bem, Maria, essa é precisamente a forma que


evitará que riam de você”.

Lembre-se que quando seus filhos lhe fazem críticas


agressivas estão buscando tirá-la do sério. Dê respostas que
neutralizem a agressão e esta irá desaparecendo, especialmente se
conseguiu levar a criança à verdadeira razão de sua hostilidade e
apresentar-lhe uma solução.
TÉCNICA DE EXTINÇÃO

É útil para suprimir ou extinguir uma determinada conduta


indesejada em seu filho. A manutenção dessa conduta dependerá
em grande parte dos resultados que gera. Quando estes aumentam,
também aumenta a probabilidade de que a conduta indesejada volte
a produzir-se. O que reforça essa conduta são as consequências,
que são conhecidas como “reforçadores”.

Estes reforçadores podem ser positivos ou negativos. Os


positivos incorporam ou agregam algo ao ambiente da criança que
emitiu a conduta, entanto os negativos tiram algo do ambiente da
criança, produto da conduta.

Quando uma conduta deixa de ser reforçada, isto é, quando se


eliminam os reforçadores, diminui sua frequência até desaparecer,
extinguindo-se.

Uma criança pode estar mantendo uma conduta inapropriada


porque a reforçamos positiva ou negativamente.
Técnica da extinção

Há um princípio psicológico que estabelece que todo


estímulo
que não é respondido, se extingue. Quando não se
responde
ante uma reclamação inadequada dos filhos, haverá
inicialmente
um explosão de choro para captar a atenção e forjar
uma
resposta favorável. Logo, esta irá se extinguindo
pouco a
pouco. É imprescindível ter fortaleza para não ceder.
Por exemplo:

Em um caso de conduta inapropriada, que é reforçada


positivamente, cada vez que o filho de cinco anos começa a chorar
e sua mãe lhe dá uma guloseima para consolá-lo, o estará
reforçando positivamente e a conduta de chorar a cada momento
(quando isto ocorre sem razões justificadas) continuará.

Em um caso de conduta inapropriada, que é reforçada


negativamente, se obrigamos uma criança que tem medo da
escuridão a dormir com todas as luzes apagadas, o medo à
escuridão se manterá.

No primeiro caso, o hábito de chorar injustificadamente deve


ser desmotivado, ou seja, deve evitar-se reforça-lo com alguma
forma inapropriada de consolo como uma guloseima ou os braços
da mãe, que incentivará a criança a querer o consolo repetindo seu
choro. Ante a não-resposta haverá inicialmente um aumento do
choro para captar mais a atenção, para a seguir ir-se extinguindo
pouco a pouco.

No segundo caso, há que buscar um método que realmente


ajude a criança a perder seu medo à escuridão, como deixar aceso
um abajur de luz fraca durante algum tempo e ir observando sua
reação gradual até perceber que perdeu o medo.

TÉCNICA DO TEMPO AFASTADO

Consiste em cortar o comportamento indesejado de uma


criança separando-a do entorno ou da situação inconveniente onde
se produz sua má conduta.

Por exemplo, uma criança pequena atira pedacinhos de pão


durante a refeição familiar e seus irmãos riem dele. A mãe ordena à
criança que deixe de fazê-lo, mas o pequeno, incentivado pelas
risadas de seus irmãos que comemoram seu proceder impróprio,
continua lançando pedacinhos de pão a torto e a direito.

O mais eficaz será tirá-lo da mesa e levá-lo a comer sozinho,


em seu quarto. Dessa maneira deixará de ser o centro de atenção.
Ao separá-lo do ambiente ou das circunstâncias que incentivavam
seu comportamento inadequado, este tende a desaparecer.

Se bem que a aplicação desta técnica não é sempre simples.


Há que mostrar-se firme e não deixar-se levar a discussões ou a
seguir seus pseudo-raciocínios, demonstrando-lhe, desta maneira,
que quem dita as regras do jogo é você. Conseguirá marcar os
limites e manter uma ordem respeitosa no lar.

As cinco técnicas propostas podem não ser as únicas, mas


freqüentemente são as mais úteis à hora de aplicar a autoridade.

Do mesmo modo, podem combinar-se para o manejo de uma


mesma situação. O exemplo que segue combina as táticas de “disco
riscado”, “nevoeiro” e “interrogação negativa”.

Este exemplo incorpora o chamado “compromisso viável”.


Se trata do acordo a que se chega com a criança, cuja
responsabilidade é incentivada ao mostrar-lhe que não se ganha
necessariamente em todas as decisões e que muitas vezes há
espaço para um acordo conveniente. Os compromissos não
necessariamente devem satisfazer todas as necessidades e
desejos.

Técnica “tempo afastado”

Uma criança atira pedaços de pão durante a refeição


familiar e seus
irmãos o festejam. A mãe lhe ordena que deixe de
fazê-lo, mas
incentivado por seus irmãos, continua com sua
“proeza”. O mais eficaz
será tirá-lo da mesa e levá-lo para comer sozinho em
outro lugar, onde ninguém incentive suas más
condutas, e deixe de ser, por sua vez,
o motivo do caos familiar.

As técnicas descritas para o manejo adequado das discussões


podem ser ensinadas às crianças para que elas as utilizem na
interação com seus irmãos, colegas de jogos e outras pessoas.

Exemplo:

Pai: “A semana passada você chegou tarde quatro vezes para


o jantar”.

Filho: “Não foi culpa minha. Não podia voltar a tempo”.


Pai: “Estou seguro de que tem essa sensação porque senão
haveria vindo jantar a tempo. Mas não me importa de quem seja a
culpa. A única coisa que quero é que esteja aqui à hora de
jantar”(nevoeiro e disco riscado).

Filho: “Tá bom”.

Pai: “Você me disse isso a última vez que falamos. Não


acredito quando o diz dessa maneira, como se estivesse tratando de
encerrar o assunto e nada mais”.

Filho: “Não, de verdade, não voltará a acontecer”.

Pai: “Vamos esclarecer as coisas. Explique-me por que tem a


sensação de não poder chegar em casa à hora de jantar”
(compromisso viável).

Filho: “Não vai entendê-lo”.


Pai: “Talvez não, mas tentarei” (asserção negativa).

Filho: “O que acontece é que me dá vergonha de voltar para


casa antes que os outros amigos”.

Pai: “O que lhe envergonha de voltar para casa antes que os


outros?” (interrogação negativa).

Filho: “Que me chame para voltar cedo para casa me faz sentir
criança”.

Pai: “Que há no fato de que lhe chame, mais que lhe faça
sentir criança?” (interrogação negativa).

Filho: “Para os outros, seus pais não os fazem voltar para casa
às oito e meia”.

Pai: “É que não jantam?”.


Filho: “Ah, não sei”.

Pai: “Jantarão mais tarde que nós, ou seus pais não se


importam se seus filhos jantam ou não. Que acha que pode ser?”.

Filho: “Que jantam mais tarde”.

Pai: “Bom, amanhã, se você for o último a voltar para casa,


observe o que dizem os outros quando se vão” (compromisso
viável).

Filho: “Para quê?”.

Pai: “Quero saber a que hora vão jantar os outros”


(compromisso viável).

Filho: “Talvez fiquem até mais tarde”.

Pai: “Não crê que terão fome se já é tarde?”.

Filho: “Imagino que sim”.


Pai: “E não crê que quando sentem fome preferirão ir para
casa jantar?”.

Filho: “Suponho que sim”.

Pai: “Crê que ficarão ali somente porque você também fica?”.

Filho: “Você acha que eles também ficam com vergonha?”.

Pai: “Não. Creio que lhe perguntarão se você está com fome e
por que não vai para casa jantar”.

Filho: “Verdade?”.

Pai: “Sim. Você não sente fome antes de jantar?”.

Filho: “Claro”.

Pai: “E Acha que sentir fome é uma razão para ter vergonha?”.

Filho: “Não”.

Pai: “Então, que acha de lhes dizer que tem fome e vai para
casa comer, em vez de esperar que eu lhe chame? Assim
continuarão achando-o muito criança?” (compromisso viável).

Filho: “Não”.

Pai: “Acredita que amanhã a noite terá que ser outra vez o
último em chegar a sua casa?”.

Filho: “Não”.

5.4 RECONHECIMENTO DAS BOAS CONDUTAS

A assertividade que você demonstrou ao comunicar clara e


firmemente a um filho o que quer que ele faça, deve ser
complementada com o reconhecimento da boa conduta. É de
grande importância que quando seu filho o escute e o obedeça,
você responda assertivamente com alguma forma de
reconhecimento que o incentivará a perseverar em um bom
comportamento.

A medida do equilíbrio com que você deve tratar a seu filho é


impor as medidas corretivas ou disciplinarias que sejam necessárias
e a seguir, quando ele corrige e melhora sua conduta, fazer-lhe
perceber sua satisfação pelo resultado. (Não deve descuidar-se o
elogio às boas condutas espontâneas).

Para encontrar este equilíbrio lhe sugerimos formular-se a si


próprio esse tipo de perguntas:

- Como ajo quando meu filho, habitualmente respondão e


argumentativo, agora me obedece sem objetar cada coisa que lhe
peço?
- Como ajo quando agora vem do colégio com boas notas,
depois de um período em que o habitual era que chegasse com
qualificações baixas?

- Como ajo quando vejo às crianças brincando de forma


tranqüila e sem brigar, quando antes o comum era que seus jogos
terminassem com gritos ou socos?

Elogio o que espontaneamente fazem bem ou me calo porque


devo dar por compreendida sua boa conduta?

Frequentemente, os pais não percebem a importância do


elogio e outras formas de incentivo quando os filhos se comportam
adequadamente. É importante ter presente que o bom estado
emocional das crianças requer que tenham confiança em si
próprios, e para isso ajuda muito o reconhecimento que recebem de
seus pais.

Respostas paternas usuais como: “Quem bom!” ou “Que lindo!”


são assertivas, mas às vezes são ditas como de passagem, com
pouco ênfase e escassa penetração, o qual as torna insuficientes.
Quando seus filhos se comportam de modo adequado, você tem
que estar atento para reforçá-los mediante o reconhecimento.

O reforçador demonstrará à criança que você aprova e aprecia


seu melhor comportamento. Não aceite o melhoramento da conduta
da criança como algo natural e compreendido e que, portanto, não
requer um reconhecimento especial. Ao contrário, a demonstração
de que você se alegra e aprecia o comportamento adequado
(reforçador) comunicará à criança tanto o carinho como o sentido de
justiça de um pai.

SEU FILHO NECESSITA DE SUA ATENÇÃO. SE NÃO A


OBTÉM PORTANDO-SE DE FORMA DESEJÁVEL E POSITIVA, A
BUSCARÁ PORTANDO-SE DE FORMA INDESEJÁVEL E
NEGATIVA. O ELOGIO, NA PROPORÇÃO E MOMENTO
ADEQUADOS, DEMONSTRA À CRIANÇA A ATENÇÃO E A
PREOCUPAÇÃO PATERNAS E A AJUDA A MANTER-SE NO
BOM CAMINHO.

O elogio

Os pais assertivos estão sempre atentos ao enorme impacto


que podem ter seus elogios. Os utilizam não apenas para ajudar a
fortalecer a auto-estima das crianças mas também para ensinar-lhes
condutas apropriadas.

O elogio não deve ser impensado, mas medido, de acordo com


o nível que se queira dar a esse reforçador. Não elogie
excessivamente um êxito pequeno, mas tampouco seja modesto
quando a criança deu um passo importante em melhorar sua
conduta.

Se um filho melhorou um pouco suas notas no colégio,


entretanto ainda não chegou ao nível requerido, não lhe diga: “Que
maravilhoso, estão muito bem!” mas: “Melhorou bastante, mas ainda
lhe falta um pouco. Um pouco mais de esforço e já conseguirá
passar de ano”.

O elogio ou esforço é o reforçador positivo mais útil com que


contamos. Esta utilidade se registra quando você lhe diz a um filho
(sempre que as mereça) coisas como:

“Que bom que preparou sozinho todas suas coisas!”.

“Cumprimento-lhe pelo capricho com que fez seus deveres”.


“Obrigado pelo muito que me ajudou hoje em casa”.

Quando elogiar a seus filhos, lhe convém ter em conta os


seguintes parâmetros:

Muitas vezes os pais não percebem a importância do


elogio e do incentivo quando os filhos se comportam
adequadamente. É importante ter em conta que o
bom estado emocional das crianças requer que
tenham
confiança em si próprios. Para conseguir isto, o
reconhecimento
dos pais ocupa um papel preponderante.

- Diga-lhes especificamente o que é que estão fazendo ou que


fizeram que lhe agrada.

- Quando estiver elogiando, assegure-se de caminhar para


eles ou de estar muito próximo, olhando-os nos olhos e, se for
adequado, bater suavemente em seu ombro ou em sua cabeça para
aumentar o impacto de sua mensagem.

- Quando elogiar a seus filhos evite o sarcasmo e toda outra


forma de comentário negativo. A forma mais rápida de
desentusiasmá-los é diluir os comentários positivos com outros
como:
“Como limpou bem seu quarto hoje! Já era hora...”.

“Hoje se comportou tão bem, inacreditável”.

Este tipo de comentários são, na realidade, uma forma


encoberta de hostilidade e fazem com que as crianças reajam com
sentimentos de frustração para com seus pais.

O elogio é umas das ferramentas mais importantes que você


pode usar para fazer saber a seus filhos que você está feliz com
eles e que reconhece seu comportamento adequado.

O elogio pode ser reforçado, como explicamos a seguir.

- Primeiro: elogie seu filho por comportar-se bem. Por exemplo:

Mãe: “Me ajudou muito em casa hoje. Vamos contar ao papai


quando chegar do trabalho, ficará muito contente”.

- Segundo: elogie seu filho diante de outro adulto: Por


exemplo:

Mãe (falando ao pai na presença da criança): “Maria me


simplificou muito o trabalho da casa. Não imagina como me
ajudou!”.

- Terceiro: o outro adulto agrada a criança, reforçando o elogio.


Por exemplo:

Pai (a Maria): “Me alegra muito o que me conta mamãe. É


realmente uma filha muito especial”.

Junto com os elogios verbais vão as ações não verbais: uma


carícia, um abraço, podem significar tanto ou mais que o: “Que
bom!”.
Um sorriso, um gesto, um toque no ombro, comunicam seu
apoio e o reconhecimento de uma conduta apropriada de seu filho.

Dissemos neste capítulo que, quando seus filhos se


comportam inapropriadamente, é necessário que você lhes
comunique uma mensagem firme, clara e assertiva de que você
quer que essa conduta se modifique. Sua mensagem deve estar
equilibrada por elogios frequentes quando seus filhos fazem o mais
apropriado.

Por exemplo:

Pai (olhando ao filho nos olhos): “Pedro, não é hora de olhar


televisão. Quero que se apronte para o colégio agora mesmo!”
(mensagem assertiva).

Pedro: “Apenas quero ver alguns minutos mais, já está


terminando”.

Pai (calmamente): “Entendo-lhe, mas quero que esteja pronto


para o colégio agora mesmo” (disco riscado).

Pedro: “Mas, papai, por favor...”.


Pai (serenamente): “Quero que esteja pronto para o colégio
agora mesmo” (disco riscado).

Pedro: “Está bem, já lhe escutei, vou agora mesmo”.


Quando seus filhos fazem o que você se propôs, reconheça
que estão atuando de forma conveniente e elogie-os:
“Cumprimento-lhe pelo seu bom comportamento hoje” ou, “quanto
me alegra que tenha chegado pontual à hora de jantar!”.

Reforce positivamente o elogio sempre que possa:

Pai: “Parabéns pelo ditado. Temos que mostrar para mamãe”.


(Dirigindo-se à mãe): “Olhe que bem feito o ditado que José fez”.

Mãe (ao filho): “Estou orgulhosa, eu sei como é difícil não errar
nenhuma palavra em um ditado”.
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RESPALDAR AS PALAVRAS COM ATOS

Quando a comunicação assertiva descrita no capítulo 5 não


dá o resultado que se busca e as crianças continuam comportando-
se inadequadamente, apesar dos esforços dos pais por fazer-lhes
entender o que querem que façam e como devem fazê-lo, chegou o
momento de respaldar as palavras com atos.

Ao chegar a este passo, posterior à comunicação assertiva, é


necessário que os pais:

- Estejam seguros de que o que exigem a seus filhos é o


melhor para eles. Antes de tomar medidas de caráter disciplinário
com as crianças, assegure-se que sua mensagem original, que foi
desobedecida, era correta. Por exemplo, se você ordenou a seu
filho que fizesse “os deveres de imediato”, deve estar seguro de que
era impostergável ou conveniente que os realizasse nesse
momento. Se realmente não era necessário exigir-lhe que os fizesse
logo e podia realizá-los igualmente meia hora depois, permitindo-
lhe, por exemplo, que terminasse de ver um programa de televisão,
não agrave seu erro castigando-o por não haver obedecido uma
ordem que inicialmente não esteve bem fundamentada.

- Se você antecipa que sua ordem verbal inicial, mediante a


comunicação assertiva, pode chegar a ser ignorada por seu filho,
programe com antecedência as medidas que tomará nesse caso
para respaldar com atos suas palavras que foram ignoradas. As
medidas que você impor à criança terão sobre ela consequências
positivas se lhe fazem compreender seu erro, ou negativas se sua
mensagem não penetra e continua sem entender a razão das ações
paternas.
POR ESTE MOTIVO, NÃO IMPROVISE. SE ANTEVÊ QUE
SUA INSTRUÇÃO ORAL ASSERTIVA PODE CHEGAR A SER
DESOBEDECIDA, PROGRAME ANTECIPADAMENTE COMO A
RESPALDARÁ COM ATOS, ESTABELECENDO AS MEDIDAS
CORRETIVAS QUE APLICARÁ E QUE DEVEM SER
PROPORCIONAIS À FALTA PARA QUE TENHAM MAIORES
POSSIBILIDADES DE UTILIDADE EFETIVA PARA A CRIANÇA.

Para cumprir este objetivo há três táticas que se deve ter em


conta, complementárias entre si, para assegurar os melhores
resultados:

Usar ações disciplinárias.

Agir assertivamente quando seus filhos o colocam


a prova.

Reforçá-los positivamente, através de diferentes


formas de incentivo ou recompensa, quando se
comportam de maneira adequada.
É muito importante que os pais tenham tempo para
conversar sobre os filhos e determinar com
antecedência como
vão respaldar suas palavras com ações que
assegurem o
bom comportamento. Quanto mais se preparem, terão
mais
segurança, confiança e firmeza.

6.1 AÇÕES DISCIPLINÁRIAS

Quando você completou a comunicação assertiva sobre o que


quer que façam, tem que preparar-se para o passo seguinte no caso
de que não obedeçam suas instruções e decidir o que fará se não o
escutam e não lhe dão importância.

Determine com antecedência como vai respaldar suas


palavras com ações para assegurar-se que seus filhos sigam o
comportamento adequado.
Por exemplo:

Mandá-los-ia a seu quarto por um determinado período de


tempo?

Tirar-lhes-ia o privilégio de jogar futebol ou brincar com suas


bonecas?

Deixá-los-ia sem sair o fim de semana?

A chave é adiantar-se, sem esperar que seus filhos ignorem


sua mensagem e reiterem sua conduta improcedente, para decidir
então como vai atuar.

Se educar é dirigir, dirige melhor quem vai adiante, não atrás,


dos acontecimentos.

Quanto mais preparados estejam de antemão os pais, para


respaldar suas palavras com atos, mais ajudarão seus filhos a que
terminem com suas condutas inadequadas.

As medidas disciplinarias devem consistir em algo que não


lhes agrade, mas que não os prejudique nem física nem
psicologicamente.

Os seguintes parâmetros o ajudarão a determinar rapidamente


as medidas que pode usar se seus filhos não o escutam.

Isolamento

Separá-lo de você e de outras pessoas e colocá-lo em uma


situação pouco estimulante ou aborrecedora, tal como estar sentado
ou parado em um lugar pouco atraente da casa, ficar em seu
dormitório ou sentar-se em um pátio.

Se tem que impor uma medida disciplinaria simultaneamente a


mais de um filho, é preferível que a cumpram separadamente em
lugares diferentes.

Quando a penitência incluir um determinado período de tempo,


marque-o com um relógio à vista da criança, para que este saiba
quando termina o castigo que você lhe impôs.

É importante assegurar-se que o castigo seja algo que lhe


desagrade. Se você percebe que seu filho não se importa de ficar
dentro de seu quarto, mude o castigo por outra que lhe importe: não
ver televisão, não usar o telefone, retirar-lhe um brinquedo.

Retirada de privilégios

Significa a retirara temporária de atividades prazeirosas


habituais que podiam realizar até então: comer fora de hora, brincar
na rua, ver televisão, falar ao telefone.

Condicionar condutas agradáveis

Assegure-se de que cumpram com o que você deseja antes


que eles sejam autorizados a fazer o que querem.

Por exemplo:

“Não poderá sair para brincar com seus amigos enquanto não
tiver ordenado todo seu quarto”.
Retirada de privilégios

Significa a retirada temporária de atividades


prazeirosas
habituais que podiam realizar até então. É uma forma
prática de que aprendam a ser responsáveis por seus
atos,
ao mesmo tempo que captam a bondade ou maldade
dos mesmos.
Colocar de castigo

É restringi-los a um lugar da casa, permanecendo dentro desta


ou em seu quarto durante um determinado período de tempo.

Ação física

Significa dirigir fisicamente seus pequenos para que façam o


que você considera mais conveniente. Como pegá-lo pelo braço –
suavemente, mas com firmeza – e conduzi-lo ao lugar onde deixou
jogado um brinquedo para que o recolha.

A ação física deve ser firme, mas suave, evitando cair no ato
agressivo do golpe, da zombaria ou qualquer forma de violência.
Deve existir uma proporção lógica entre a conduta inapropriada
e a medida disciplinária.

É conveniente apresentar as medidas disciplinárias como uma


escolha das crianças, dando-lhes a opção de encerrar sua má
conduta ou enfrentar o castigo que essa conduta inapropriada
requer. Isto forma parte da atitude paterna de apoiar as palavras
com atos.

Conduta problema Consequência lógica

Habitualmente, sua filha de doze Tirar-lhe o aparelho de som do


anos coloca música com volume quarto durante três dias.
excessivo no aparelho de som
de seu quarto.

Sua filha de nove anos quebra Pegar dinheiro de suas


de propósito um brinquedo de economias para trocar a peça.
seu irmão. Retirar-lhe seu próprio
brinquedo semelhante e dar ao
irmão.

Seu filho de seis anos Fazer-lhe secar o piso.


deliberadamente esparrama
água no piso quando toma
banho.

Podem escolher portar-se bem ou pagar o preço de sua


conduta improcedente.

Por exemplo:
Pai: “Alberto, não posso permitir que incomode seu irmão na
mesa. Se voltar a fazê-lo outra vez, irá para seu quarto. A escolha é
sua”.

Alberto: “Está bem” (mas começa gradualmente a incomodar


de novo seu irmão).

Pai: “Alberto, você voltou a incomodar a seu irmão, isto


significa que escolheu ir par seu quarto sem a sobremesa”.

Quando você faz com que seus filhos escolham um conduta


disciplinada ou não, está obrigando-os assertivamente a assumir a
responsabilidade de sua própria decisão. No exemplo precedente, a
criança escolhe continuar incomodando seu irmão após a
advertência da ação disciplinária. Portanto, é a criança quem
escolheu a opção de ir para seu quarto.

Quando você dá a seus filhos possibilidade de escolha, está


dando-lhes a oportunidade de aprender as consequências naturais
de suas ações e os ajuda a aprender que são responsáveis por
suas condutas e pelas consequências das mesmas.

A medida disciplinária deve ser executada o mais breve


possível, pois se demora dilui seu efeito corretivo. Quando seus
filhos não o escutam, deve comunicar-lhes imediatamente a conduta
disciplinária e fazer com que se cumpra.

Por exemplo:

Mãe: “Pedro, não é hora de jogar futebol, é hora de arrumar


seus brinquedos”.
Pedro: “Mamãe, deixe-me jogar”.

Mãe: “Pedro, já sabe a regra: não há futebol se antes não


arrumar seus brinquedos”.

Sob à conveniência de que a ação disciplinária seja cumprida


o mais breve possível, há casos em que é preferível adiá-la para
poder aplicá-la sobre algo que seu filho planeja fazer mais tarde, ou
no dia seguinte.

Por exemplo:

Maria (volta a chegar tarde sem ter avisado a seus pais): “Olá,
papai”.

Pai (se senta com a filha): “Maria, disse-lhe que não me


agrada que saia sem avisar-nos aonde vai. Disse-lhe que se
tornasse a fazer, você estaria escolhendo ficar de castigo”.

Maria: “Mas, papai, perdoe-me”.

Pai: “Nada de poréns. Sua mãe e eu temos que saber aonde


vai. Lamento que não tenha me escutado. Você escolheu ficar de
castigo, portanto amanhã não irá à festa de aniversário de sua
amiga.”
A ação física que acompanha as palavras com atos,
dever ser firme e suave, evitando cair na ação
agressiva do golpe, da zombaria ou qualquer forma de
violência. Os pais têm o direito e o dever de atuar
desta maneira, transmitindo uma personalidade firme
que
será ponto de apoio para o crescimento dos filhos.
Utilize a medida disciplinária cada vez que seu filho escolher
comportar-se inadequadamente.

A constância é essencial para demonstrar às crianças que


você respalda as palavras com atos em todos os casos em que se
faz necessário.

Nenhuma medida funcionará a menos que seus filhos saibam


com clareza e certeza que ante cada conduta imprópria produzir-se-
á sempre uma consequência.

Por exemplo:

Pai (ao filho que incomoda continuamente quando a família


está conversando): “José, está irritando todos nós. Como já avisei,
com sua má conduta você mesmo escolheu ficar em seu quarto até
que se acalme”.

A criança vai a seu quarto, regressa após alguns minutos e


continua incomodando.

Pai: “José, não posso permitir que incomode desta forma


enquanto estamos falando. Cada vez que não puder controlar-se,
estará escolhendo ir para o seu quarto. Por favor, vá e fique em seu
quarto quinze minutos”.

Considere a medida disciplinária como um acordo pré-


estabelecido em bons termos.

Por essa tendência interior desintegradora e anti-social que


temos todos, as crianças passam por etapas de más condutas
como: a mentira, o insulto, a falta de respeito, etc. Estas podem
estar dirigidas com especial agressividade contra os pais, por serem
eles seus principais educadores.

Para que este comportamento se modifique é essencial que os


pais se mantenham sempre calmos. Perder a compostura é reduzir
a eficácia de toda a ação educativa paterna.

Por exemplo:

Filho (irritado): “Não quero escutá-lo!”.

Pai (de maneira calma e firme): “Disse-lhe que não posso


permitir que fale assim comigo. Escolheu ficar em seu quarto até
que resolva falar-me de boa maneira. Vá para seu quarto agora
mesmo!”.

Nunca suspenda uma medida disciplinária

Se a medida não funciona, mude-a por outra, mas nunca deixe


sem efeito a ação disciplinária. Se o faz, seu filho nunca acreditará
que você fala a sério.

Algumas das medidas que recomendamos nem sempre são


eficazes com todas as crianças, por mais coerentemente que sejam
aplicadas.

Se você usou uma medida disciplinária de maneira adequada,


mas percebe que o comportamento de seu filho não melhora,
experimente outra.
Por exemplo:

Pai: “Manuel, quero que brinque sem fazer barulho, porque


não nos deixa ouvir música”.

Manuel: “Está bem, papai” (depois de alguns minutos começa


a disparar sua barulhenta metralhadora de plástico).

Pai: “Manuel, essa pistola faz muito barulho. Por favor dê-me
isso”.

Manuel: “Está bem papai, toma a pistola” (começa a brincar


com um instrumento musical que novamente distrai toda a família).

Pai: “Manuel, esse instrumento faz muito barulho. Disse-lhe


que queremos escutar música e que tem que brincar em silêncio.
Dê-me isso agora mesmo”.

Apesar de que os pais fossem conseqüentes e lhe tiraram os


brinquedos ruidosos, Manuel continuou impedindo-lhes de escutar
música.

Será então necessário para os pais recorrer a uma medida


disciplinária diferente como, por exemplo:

Pai: “Manuel, pode escolher: ou brinca em silêncio se quiser


ficar aqui conosco ou vá brincar em seu quarto”.

Perdoar e esquecer

Uma vez que seu filho recebeu a medida disciplinária que ele
mesmo escolheu, o assunto fica encerrado.

Não acumule rancor ou ressentimento recordando-lhe, em


ocasiões posteriores, seu mau comportamento anterior.
Cada situação é nova. Em vez de recordar-lhe sua má conduta
anterior, manifeste sua confiança na capacidade da criança para
melhorá-la de agora em diante.

Por exemplo:

Pai (entrando no quarto de seu filho): “Já passou a meia hora e


acabou-se o castigo. Não me agrada trancar-lhe em seu quarto,
mas tenho a obrigação de ajudar-lhe a aprender como deve
comportar-se”.

Filho: “Já sei, mas me agrada fazer o que eu tenho vontade”.

Pai: “Entendo-lhe, mas estou seguro que vai aprender. Não se


esqueça que eu sempre vou estar aqui para ajudá-lo”.

6.2 QUANDO SEUS FILHOS O PÕEM A PROVA

Quando estiver educando seus filhos com medidas


disciplinárias por sua conduta inapropriada, seja prudente e
vigilante, porque de modo frequente o colocarão a prova para ver se
realmente fala a sério.
Muitas vezes, põem a prova a decisão disciplinária dos pais
chorando, sendo desafiantes ou tateando até onde podem chegar.

Êxito do filho com o choro

Pai (observando como seu filho, que levou ao parque, bate


pela segunda vez em outra criança): “Rafael, lhe disse que se
voltasse a bater-lhe iria para casa, portanto, venha já!”.

Filho (começa a chorar de imediato): “Papai, perdoe-me, não


voltarei a fazer, mas deixe-me ficar”.

Pai (preocupado pelo choro cada vez mais intenso de seu


filho): “Rafael, acalme-se e pare de chorar, não é para tanto”.

Filho (continua chorando): “Mas quero ficar aqui”.

Pai: “Está bem, mas deixa de chorar, não posso agüentá-lo”.


Com frequência as crianças põem a prova a decisão
disciplinária dos pais, sendo desafiantes ou
verificando até onde podem chegar. Isto é normal, e
lidar tranquilamente com esses momentos, levará a
que os
filhos sejam no dia de amanhã pessoas livres e
responsáveis.
Êxito do filho com o desafio:

Filha (irritada): “Nem pense que vou lavar louça essa noite”.

Mãe: “Cecília, disse-lhe que se não me ajudasse, ficaria em


seu quarto por meia hora, portanto vá já e fique lá”.

Filha (furiosa): “Não vou!”.

Mãe: “Pois digo que irá!”.

A mãe leva a sua filha ao quarto, de onde a menina sai cinco


minutos mais tarde.

Filha: “Não vou ficar em meu quarto, não aguento!”.

Mãe (tensa): “Como não? Disse-lhe que ficasse em seu quarto.


Estou farta de suas encenações!”.

Filha (gritando): “Você começou tudo, sempre implica comigo!”.

Mãe (em gesto de derrota): “Deixe-me sozinha, não aguento


mais. Nunca liga para o que eu digo”.

Os pais que cedem quando são postos a prova por seus filhos,
estão ensinando-lhes a seguinte lição inassertiva:

SE VOCÊ SE IRRITAR OU PROTESTAR O SUFICIENTE,


CONSEGUIRÁ O QUE QUER.

Aprendem, portanto, a utilizar variadas formas de sondagem


para conseguir o que querem, seja chorando ou repetindo
incansavelmente a conduta indesejada, discutindo com raciocínios
de aparência lógica, brigando ou desafiando porque estão seguros
que, como já ocorreu no passado, os pais finalmente vão ceder.
Para manter-se firme quando o põem a prova e cumprir melhor
sua função de ajuda educativa, você necessita responder
assertivamente.

Nos dois exemplos anteriores, os pais foram postos a prova


por seus filhos e fracassaram nessa prova. Para que o manejo
paterno de ambas situações fosse assertivo, e conseqüentemente
útil em sua formação, o desenvolvimento de cada caso deveria ter
sido o seguinte:

Pai (observando como seu filho, que levou ao parque, bate


pela segunda vez em outra criança): “Rafael, disse-lhe que se
voltasse a bater-lhe iria para casa, portanto, venha já!”.

Filho (começa a chorar de imediato): “Papai, perdoe-me, não


voltarei a fazer, mas deixe-me ficar”.

Pai (calmamente): “Rafael, entendo que queira ficar, mas


voltou a brigar, portanto irá para casa” (disco riscado).
Filho (continua chorando): “Mas quero ficar aqui”.

Pai (pega-o firmemente por um braço e começa a levá-lo):


“Rafael, entendo que lhe afete, mas voltou a fazer o que não devia,
portanto irá para casa” (disco riscado).

Filho (com choro histérico, se joga na grama): “Não, não vou!”.

Pai: (suspende fortemente ao filho): “Rafael, vamos para casa,


ainda que eu tenha que arrastá-lo!”.
Ceder ante as pressões, caprichos ou mal-humores
dos filhos
é transmitir-lhes a mensagem de que não se pode
com eles,
fazendo-lhes o fraco serviço de deixá-los à deriva de
seus
impulsos temperamentais, sem fazer-lhes ver que uma
sólida
personalidade se constrói lutando por adquirir virtudes.
Manter a calma sem perder a compostura ante os
caprichos dos filhos multiplica a eficácia da educação
ao
mesmo tempo que lhes transmite um exemplo
atraente de personalidade
que lhes servirá para toda a vida.
No outro caso:

Filha (irritada): “Nem pense que vou lavar a louça esta noite!”.

Mãe (calmamente): “Cecília, disse-lhe que se não me


ajudasse, iria para o seu quarto por meia hora, portanto vá já e fique
lá”.

Filha (furiosa e desafiante): Não vou!”.

Mãe (calmamente): “Pois digo que irá!”.


A mãe leva a sua filha ao quarto, de onde a menina sai cinco
minutos depois.

Filha: “Não vou ficar em meu quarto, não agüento”.

Mãe (levando-a com firmeza novamente a seu quarto): “Se


voltar a sair ficará uma hora, o dobro do tempo”.

Filha (irritada, volta a sair de seu quarto quase em seguida):


“Não vou ficar!”.

Mãe (olhando-a nos olhos e marcando bem cada palavra):


“Cecília, vai ficar em seu quarto uma hora. Se voltar a sair antes de
uma hora, ficará duas horas. Sou eu quem manda, não você”.

O comportamento paterno não-assertivo nos primeiros


exemplos e assertivo nos dois segundos determinam a diferença
entre o fracasso e o êxito em seu exercício da autoridade, que é
essencial para a formação dos filhos.

Quando seus filhos o põem a prova, faça-os saber que você


está resolvido a manter-se firme. “Vá para seu quarto”, “não se
mova daí” ou “não me importa quando chore” são formas assertivas
de dar uma ordem.

Frente aos argumentos ou encenações que utilizam para


colocá-lo a prova, mantenha-se calmo, fale de forma enfática e
decidida, marcando bem suas palavras. Se continuam discutindo,
utilize o “disco riscado” e as demais técnicas que explicamos no
capítulo 5.

“Existe outro tipo de prova com a qual as crianças tentarão


manipulá-lo quando você marca limites. Diferente dos exemplos
anteriores, esta prova difere em que tem menos carga emocional,
apesar de que é, em muitos sentidos, a mais difícil de ser manejada
por parte dos pais.
Esta prova que as crianças submetem aos pais é conhecida
como:

Não me importo, para mim tanto faz...”

As crianças utilizam esta manipulação da seguinte maneira:


você lhe diz como deve comportar-se e qual será o castigo se não o
fizer, ante o qual, em vez de irritar-se, chorar ou argumentar, seu
filho lhe responde: “Não me importo, para mim tanto faz...”

Uma resposta assim é difícil de manejar, já que você


provavelmente está acostumado a que a reação de seus filhos seja
de medo, desconcerto ou protesto quando lhes impõe uma
penitência.

Esta resposta de indiferença pode deixá-lo desconcertado e


você perguntará a si próprio: “Que vou fazer? Nada funciona com
esta criança”.

Mas não é assim. Os que utilizam o “não me importo...” estão


manipulando, porque perceberam que este tipo de resposta
habitualmente deixa perplexos aos pais.

As crianças do “não me importo...” não requerem uma resposta


tipo “disco riscado” mas necessitam que você atue de acordo ao
exemplo seguinte:
Mãe: “Beatriz, tem que fazer os deveres. Não pode falar pelo
telefone nem ver televisão até que os tenha terminado”.

Filha: “E daí? E o que eu tenho com isso?

Mãe: “A escolha é sua. Se não se importa, então hoje não


haverá nem televisão nem telefone”.

Filha: “Mas esta noite passa o programa que mais me


agrada...!”.

Mãe: “Mas você disse que não se importa. De todas maneiras


a escolha é sua escolha. Se quer ver o programa, primeiro termina
os deveres”.

Filha: “Bom, está bem, já os faço”.

Mãe: “Me alegra sua escolha, meu amor”.


As crianças que utilizam o “não me importo”, estão
manipulando, porque em sua astúcia infantil
perceberam
que os pais se descontrolam facilmente, e este tipo de
resposta habitualmente os deixa perplexos. As
pessoas que
mais se importam com os castigos, prêmios ou
retirada de
privilégios, são as crianças.
São poucas as crianças às quais realmente não lhes importe que os
deixem sem televisão, telefone, videogames ou seus brinquedos
preferidos.
São poucas as crianças às quais realmente não lhes importe
que os deixem sem televisão, telefone, videogames ou seus
brinquedos preferidos.

Se para você realmente lhe importa o tema, a ele também


importará.

Se você está disposto a usar todos os meios apropriados e


necessários para influir positivamente em seus filhos a fim de que
eliminem seu comportamento prejudicial, eles perceberão sua
determinação e começarão a preocupar-se pelas consequências
que enfrentarão se escolhem atuar inapropriadamente.

As vezes recorrerá ao “não me importo...” ante a ameaça de


um castigo impraticável. Previna esta situação evitando anunciar-lhe
um castigo que não poderá impor-lhe, pois do contrário você fica
confuso e sua autoridade se enfraquece.

Por exemplo, uma mãe exasperada porque seu filho demora


para entrar no carro quando foi buscá-lo no clube e continuava
falando com seus amigos, gritou-lhe: “Alberto, se não se apressar e
entrar de uma vez irá andando para casa”.

Quando lhe disse desafiantemente “tubo bem, não me


importo...”, a mãe ficou sem argumento porque não podia cumprir
sua advertência de enviá-lo a pé para casa, era muito longe. Isto é
um claro exemplo do que não deve ser feito.

NUNCA ANUNCIE UM CASTIGO OU PENITÊNCIA QUE NÃO


PODERÁ SER CUMPRIDO.

Não repita muitas vezes o mesmo castigo, pois cada vez


surtirá menos efeito. Quando um castigo se repete e continua sem
produzir o efeito corretivo buscado, é preferível impor outro mais
severo.
O sentido comum ditará aos pais quantas vezes convém
repetir o mesmo castigo ou uma das técnicas corretivas aqui
descritas. Desta maneira, os pais têm que se ajudar bastante,
atuando em equipe, intervindo um e a seguir o outro, evitando o
desgaste e controlando a eficácia das medidas. Este trabalho em
equipe estimula aos pais para que arrumem o tempo necessário
para conversar entre eles sobre os temas educacionais que estão
utilizando.

6.3 REFORÇÁ-LOS POSITIVAMENTE

É importantíssimo planejar o que fará quando seus filhos não o


escutam e também planificar como agirá quando lhe dão
importância e reagem favoravelmente.

No capítulo anterior destacamos a importância do elogio para


incentivar o bom comportamento de seus filhos.

Mas com alguns, especialmente os menores, apenas o elogio


pode não ser suficiente para motivá-los a uma rápida e contínua
melhora de seu comportamento.

Com estes é recomendável mudar o elogio por motivações


mais tangíveis, como privilégios ou prêmios especiais. Vejam os
exemplos seguintes como referência:

- Privilégios especiais: “João, esteve tão bem brincando com


tranqüilidade e sem incomodar, que pode ficar acordado por mais
uma hora”.
- Prêmios especiais: “Rosana, ajudou-me tanto com a mesa e a
cozinha, que convido-lhe a tomar um sorvete”.

Muitos pais se negam a premiar seus filhos de outra forma que


não seja com o elogio por medo de que se habituem ao esquema de
comportar-se bem apenas quando recebem alguma recompensa
palpável.

Por exemplo:

“Não arrumarei o quarto até que prometa ler-me a história”.

“ O que me dará se lavar os pratos?”.

Este risco não existe se quando recorre aos prêmios você


mantém presente que é precisamente você quem exerce a
autoridade e toma as decisões.

Se quer deixar que seus filhos escolham os prêmios que


receberão pelos comportamentos convenientes, estabeleça as
coisas entre as quais podem escolher.

Se tentam estorqui-lo com respeito aos prêmios, com ameaças


e mau comportamento, não o tolere.

Não aceite jamais condições nem ameaças.

Você é quem toma as decisões.

A concessão de um prêmio adequado e bem escolhido pelos


pais, sem submeter-se à pressão extorsiva da criança mas
outorgado pela autoridade decisória paterna, constitui uma resposta
com reforçadores positivos.

Sua resposta deve consistir em algo que as crianças desejem.

Pergunte-se o que seu filho gostaria de ganhar como prêmio.


Como resposta que o motive a continuar com seu bom
comportamento, o prêmio deve ser algo que necessite ou deseje.
Alguns se esforçarão muito por receber seu prêmio que – além de
objetos – pode ser: compartilhar atividades com você como ir ao
futebol ou ao cinema, ou assistir um vídeo ou ficar acordados até
mais tarde.

Quando utilizar prêmios, reforce o bom comportamento de


seus filhos outorgando-os de imediato.

Pode haver casos em que o prêmio seja concedido algum


tempo depois como: “te levarei ao futebol comigo no domingo”, mas
o anúncio, ou seja, a concessão do prêmio, deve ser feito logo em
seguida do bom comportamento.

O prêmio imediato aumenta o impacto da ação positiva do


pai...

Elogio

Filho (termina seus deveres rapidamente e sem necessidade


de que o tenham ordenado): “Mamãe, já terminei os deveres”.

Mãe: “Muito bem, Augusto, parabéns. Me dá uma grande


alegria”.
Privilégio especial

Filho (sem ter sido mandado, veste o pijama, arruma a roupa


que tirou, lava as mãos e escova os dentes): “Papai, já estou pronto
para ir deitar”.

Pai: “Jorge, está muito bem que tenha feito tudo sem que
tivesse que lembrá-lo. O que acha de eu lhe contar uma história?”.

Para a maioria das crianças, o “tempo especial” dedicado a


algo que lhes produza prazer como: brincar ou que leiam uma
história, é o melhor privilégio que se lhes pode outorgar. Utilize este
recurso como reforçador sempre que puder.

Prêmio especial

Mãe (depois de um jantar tranquilo, durante o qual seus filhos


não discutiram): “Se portaram tão bem que podem pedir sua
sobremesa favorita esta noite”.

Reiteramos a importância de que o elogio, o privilégio ou o


prêmio devem seguir sempre que possível de forma imediata ao
bom comportamento.

Muitos pais elogiam seus filhos de noite por sua boa conduta
na manhã ou lhes permitem uma saída extra porque se portaram
bem durante a semana.

Os pais cometem muitas vezes o erro de oferecer prêmios a


longo prazo. Não é produtivo, por exemplo, oferecer a uma criança
de sete anos um bicicleta nova para o próximo verão ou prometer-
lhe um brinquedo determinado para o Natal quando ainda faltam
vários meses.

Você deve reforçar positiva e constantemente a seus filhos


quando têm um comportamento apropriado. Elogiá-los, privilegiá-los
ou premiá-los apenas uma a duas vezes não produzirá os bons
resultados que se buscam.

Para obter estes resultados, deverá elogiá-los, privilegiá-los ou


premiá-los sucessivamente durante vários dias ou ainda mais
tempo, dependendo de cada um e de seu comportamento.

Por exemplo:

- Os pais elogiaram sua filha de quatro anos cada vez


que se vestiu sozinha durante toda uma semana.

- Os pais elogiaram seu filho de oito anos cada vez


que brincou amigavelmente com sua irmãzinha menor e
o premiaram cada dia durante oito dias permitindo- lhe
escolher sua sobremesa favorita.

- Os pais elogiaram seu filho de doze anos todas as


noites durante duas semanas por fazer os deveres bem
e por iniciativa própria, premiando-o ao final desse
período com uma pequena soma de dinheiro para ir aos
jogos do parque de diversões.

Quanto mais positivo você for com seus filhos, menos terá que
marcar os limites.
Para que os prêmios sejam formativos devem ser
escolhidos
pelos pais. Se reforça ao bom comportamento dos
filhos outorgando-os de imediato, ao mesmo tempo
que se lhes faz
ver as consequências boas dos atos que realizam
bem.

Neste capítulo dissemos que quando você fala assertivamente,


não sendo suficiente, deverá decidir rapidamente como respaldar
suas palavras com atos. E quando seus filhos começam a portar-se
devidamente, esteja alerta para reforçá-los positivamente mediante
elogios, privilégios ou prêmios.
Por exemplo:

Pai (olhando à criança aos olhos): “Tomás, já lhe disse duas


vezes que não permito que seja grosseiro com seus amigos. Ou os
trata bem, como se trata aos amigos, ou irão para suas casas”.

Filho (incomodado): “Não quero que vão embora, eu não estou


fazendo nada!”.

(A criança se distancia irritada e dez minutos depois começa a


chamar seus amigos com nomes debochantes).
Pai: “Tomás, está incomodando seus amigos. Escolheu que
fossem para suas casas. Estou seguro que amanhã brincará melhor
com eles.

(No dia seguinte o pai observa Tomás brincando


amigavelmente com as outras crianças que vieram em sua casa).

Pai: “Tomás, é assim como devem brincar os amigos, sem


deboches nem brigas. Que tal se comprarmos um sorvete para cada
um?”.

Como resumo da necessidade de respaldar as palavras com


atos, tenha em conta estes pontos:

- São os pais que devem determinar limites equilibrados, mas


firmes, quando se trata de disciplinar aos filhos e quando
corresponde elogiá-los ou premiá-los.

- Planeje sempre a forma em que respaldará suas palavras


com atos em caso de ser necessário. Quando disser a seus filhos o
que você espera deles, pergunte-se em seguida: O que farei se não
me escutam nem me dão importância? Do contrário, sua reação à
desobediência corre o risco de ser tão imediata e irreflexiva quanto
inconveniente.

- Decida uma medida disciplinária eficaz.


- Ponha sobre a criança a responsabilidade de enfrentar as
consequências de suas ações: se faz tal coisa, será disciplinado
com tal medida.

- Seja consequente. Cada vez que a criança se comporta em


forma inapropriada, leve adiante a consequência programada por
você, sem voltar atrás, sempre que esteja seguro de que está
fazendo o correto.

- Perdoe e esqueça: logo que a criança se disciplinou, o


assunto está encerrado.

- Para as crianças é muito importante o contato corporal.


Utilize-o. Tanto se aplica a uma repreensão (por exemplo, quando o
“encaminha” suave, mas firmemente, pelos ombros) como quando
os reforça positivamente (por exemplo: abrace, acaricie, bata
palmas).

- Programe o reforço positivo. Quando a criança o escuta e


cumpre, recorra ao elogio, ao privilégio ou ao prêmio proporcional
ao bom comportamento de seu filho.
Há que aprender a virar a página e não ser
reiterativos: Uma
vez que seu filho cumpriu o castigo segundo o
estabelecido, o assunto está encerrado. Assim se
transmite a
ordem de que na vida se deve começar e recomeçar
sempre, sem desanimar até atingir o que queremos.

DOIS OBSTÁCULOS A ENFRENTAR

Quando ambos os pais trabalham, muitas vezes falta tempo


para poder refletir sobre as condutas dos filhos. Frequentemente o
cansaço dos pais interfere negativamente.
É comum que as mãe reclamem uma atitude mais ativa por
parte de seus maridos, aos quais, por sua vez, chegam às vezes em
casa fatigados por uma jornada complicada e ansiando um tempo
de descanso, ou com vontade de ver o noticiário da televisão sem
que os incomodem.

Nestes casos, é importante evitar o confronto entre os


cônjuges, que prejudica sua função de educadores. Se requer, ao
contrário, compreensão carinhosa e paciente da mulher,
proporcionando a seu marido um momento de relaxamento e
tranqüilidade para a seguir animá-lo a colaborar no manejo dos
problemas com os filhos.

Para tudo referente à educação das crianças, a mulher tem


uma capacidade maior de tolerância à pressão dos problemas e
uma intuição superior porque está temperamentalmente preparada
para isso. Seu principal estímulo para ação é o afeto, enquanto que,
em geral, os homens tendem mais ao exercício do raciocínio.

Ao homem é mais difícil, por isso necessita de certo período


preparatório desde que chega em casa; porque sabe que os
problemas dos filhos, que compartilhará com sua mulher, exigem um
enfoque radicalmente diferente do que utilizou durante o dia no
centro cirúrgico onde operava, ou no escritório, ou na fábrica.
Estas situações não ocorrem sempre, mas a experiência nos
mostrou que se apresentam na maioria das famílias.

Outro obstáculo a superar é que freqüentemente os pais, que


vêem pouco a seus filhos, pensam erroneamente que, se durante o
tempo que estão com eles se dedicam a corrigi-los, as crianças
terminarão perdendo-lhes o carinho. E não é assim. Eles
necessitam ser corrigidos em suas condutas inapropriadas e
estimulados nos hábitos bons, especialmente por aqueles que mais
os querem e que são seus principais educadores.
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ESTABELECER AS REGRAS DO JOGO

Reunir-se com seus filhos para estabelecer as regras


complementa o desenvolvimento de um plano sistemático da EP e o
manejo de situações desbordantes que encaramos neste capítulo.
Este é um passo de máxima importância, porque lança aos filhos
para o futuro, para como terá que ser no dia de amanhã sua
conduta de adultos, porque é uma maneira prática de ensinar-lhes
desde o início que apenas eles e ninguém além deles serão os
responsáveis pelas consequências de seus atos.

Hoje em dia, por uma “sociologização” do homem, se tende a


responsabilizar às estruturas sociais de nossos males, deixando a
responsabilidade individual totalmente em segundo plano.

Ao estabelecer junto com eles as regras de jogo para suas


condutas, tanto dentro de casa como fora dela, se lhes está
estabelecendo o germe da responsabilidade própria, intransferível,
de seus atos. Se lhes transmite a idéia de que nosso atos são um
prolongamento do eu que todos temos dentro; que são “meus”, que
são manifestação de minha personalidade e que para tê-la devo
ater-me às consequências de meus atos. Por outra parte, ao
estabelecer as regras de jogo e suas consequências, se lhes está
ensinando o exercício do livre-arbítrio e a descobrir a voz da
consciência.

Ao chegar o momento de colocar seu plano em ação, o


primeiro passo é reunir-se com seus filhos e colocar claramente
sobre a mesa o que você quer e as consequências se não
cumprem. Deverá ser uma conversa séria na qual o pai e a mãe
reafirmarão sua autoridade com relação ao comportamento
indesejado.
Exija a seu filho uma mudança de conduta e transmita-lhe a
seguinte mensagem: “De nenhuma maneira permitirei que brigue
com seu irmão (especifique sempre a conduta que quer melhorar
para que a criança saiba com precisão o que se espera dela). Te
amo muito para tolerar que faça coisas indesejáveis e que
prejudicarão a você e a toda família”.

Parâmetros para uma reunião sobre estabelecimento das


regras de jogo:

- Para aumentar a probabilidade de que seu filho o escute,


reúna-se com ele quando ambos estão tranquilos. Não tente falar
com a criança depois de uma grande briga ou quando um de vocês
esteja tenso.

- A reunião deve ser exclusivamente de um ou ambos pais


com a criança cuja conduta requer melhoramento. Ninguém mais,
seja outro irmão ou um avô ou uma empregada, estará presente.

- Se apenas um de seus filhos se comporta mal, não permita


que um irmão intervenha ou se intrometa na conversa.

- Estabeleça claramente que é escolha de seu filho o que


acontecerá: “João, se não faz de imediato os deveres, ficará em
casa o resto do dia e sem ver televisão. Se isso não funciona, ficará
em seu quarto todo o dia”.
- Explique-lhe como fará o acompanhamento de suas instruções,
ainda que você não esteja presente: “Tua mãe ou eu telefonaremos
todos os dias às duas para assegurar-nos que chegou do colégio.
Quando os dois voltarmos do trabalho, veremos todos os dias se já
fez os deveres. Se não está em casa quando ligamos ou se não fez
os deveres, ficará sem ver televisão o resto do dia”.

- Coloque seu plano escrito de EP onde todo o vejam. Após


terminar de discuti-lo com seu filho, e estabelecidas as regras do
jogo, coloque uma cópia em um lugar visível da casa, por exemplo,
na porta do refrigerador ou do quarto da criança. Isto agregará um
importante impacto visual a suas afirmações verbais e lhe servirá de
recordação de que realmente você fala a sério. Também ajudará aos
pais a perseverar no plano.
Em cada folha de papel que você coloque em um lugar visível
escreva o nome da criança, os comportamentos que você exigiu e o
que acontecerá se não cumpre: “João fará seus deveres antes de
comer. Se escolhe não faze-lo, não poderá ir brincar com Paulo”.

- Se está usando uma hierarquia disciplinária, inclua na lista as


consequências por hierarquia, por exemplo:

“Sofia obedecerá imediatamente. Se escolhe não obedecer:”

“A primeira vez escreverei seu nome na lousa como


advertência”.

“A segunda vez irá para seu quarto por dez minutos”.

“A terceira vez irá para seu quarto por dez minutos, sem olhar
tevê nem brincar com seus irmãos pelo resto do dia”.

“A quarta vez irá para seu quarto por meia hora e se deitará
imediatamente depois de jantar”.

A lousa ou folha onde contenha estas anotações será colocada


junto com a que registra as regras do jogo em seu plano
disciplinário.

- Se você tem problemas com dois ou mais filhos, pode reuni-


los todos ao mesmo tempo, apesar de que sempre é melhor fazê-lo
por separado, como sinal de respeito à individualidade deles.

- Assegure-se que não haja distrações quando reunir-se com


um filho.

Desligue a televisão ou o rádio, desconecte o telefone ou evite


atendê-lo e peça às demais pessoas da casa que não entrem no
quarto onde se faz a reunião.

- É importante que os pais atuem juntos, quando ambos estão


disponíveis. Primeiro devem colocar-se de acordo sobre o que
exigir-lhe-ão. A seguir, apresentem o plano ao filho juntos, olhando-o
ambos aos olhos ao falar-lhe.

Por exemplo:

Mãe: “João, estou muito preocupada com o seu


comportamento. Não posso admitir que ande vagabundeando pela
vizinhança e metendo-se em confusões ao sair do colégio. Quero
que venha diretamente do colégio para casa sem andar por aí e que
em seguida faça seus deveres”.
É conveniente apresentar as medidas disciplinárias
como uma
escolha das crianças, dando-lhes a opção de terminar
sua conduta
imprópria ou enfrentar o castigo que essa conduta
implica.

Pai: “Estou de acordo com sua mãe. Se meteu em muitas


confusões depois do colégio. Virá direto para casa e fará os
deveres”.

Nunca expresse uma opinião contrária à de seu cônjuge diante


do filho nestas situações, porque enfraquecerá fatalmente sua
mensagem. Os pais devem acordar de antemão o conteúdo e a
forma do estabelecimento que farão à criança.

Nada funcionará se você, como pai, não está disposto a


respaldar suas palavras com atos cada vez que o comportamento
de seus filhos o requeira.
Reiteramos que se se é fiel a este princípio essencial, a
mensagem que transmitirá sempre a seu filho é: “Te amo demais
para permitir que se comporte de modo inconveniente sem que eu
faça algo para ajudá-lo”.

Os pontos analisados neste capítulo servem para quando você


vê que fracassou no que tentou para melhorar as condutas
impróprias de seus filhos.

Ante esta situação estabeleça primeiro um plano sistemático


de EP, a seguir sente-se com seus filhos e estabeleça as regras do
jogo.

Finalmente, e de grande importância, é fazer o


acompanhamento da conduta, como no exemplo a seguir:

Filho (irritado): “Estou cheio de ficar recebendo ordens!”.

Pai (com calma coloca uma marca vermelha no papel de


disciplina que está pregado na porta da geladeira): “Disse-lhe que
não deve responder. Esta é a segunda vez que o faz. Você vá para
seu quarto imediatamente”.

Filho (choramingando): “Mas acabo de estar em meu quarto! O


que acontece é que vocês não me querem e não lhes agrada estar
comigo...”.

Pai (com calma): “João, foi escolha sua. Lhe dissemos quando
conversamos com você a noite que não podemos tolerar respostas
de mal tom. Portanto, vá para seu quarto imediatamente”.

(João se comporta impecavelmente o resto do dia).

Pai: “Estou muito contente pela forma como está se


comportando. Ganhou outro xis. Quando chegar a cinco, poderá ir
dormir na casa de seu amigo Luis, como você queria”.
- Tente criar um equilíbrio. Estabeleça limites firmes e a seguir
reforce-os com apoio positivo.
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--------------------------------SITUAÇÕES ATÍPICAS

A aplicação da EP nem sempre terá êxito já que, apesar de


ser muito útil e eficiente, existem situações na quais resultará
insuficiente. Estas são cada vez mais frequentes e você não deve
sentir-se culpada ou infeliz se ocorrem em algum de seus filhos.

A experiência demonstrou a eficácia da EP aplicada com


ordem, firmeza, e coerência, de acordo com a forma descrita nos
capítulos precedentes. Mas será ineficaz nas circunstâncias em que
a criança sofra de alguma patologia.

É importante enfrentar esses casos com a maior rapidez


possível, porque, em geral, costumam alterar toda a dinâmica
familiar e, por imitação, filhos menores saudáveis tenderão a
reproduzir as condutas distorcidas de um irmão com problemas
patológicos.

Nestas ocasiões verificar-se-á se as condutas patológicas das


crianças são generalizadas em todos os ambientes onde atuam ou
se apresentam exclusivamente dentro de casa ou em forma mais ou
menos acentuada nesse e outros entornos.

O assessoramento sobre a dinâmica familiar é, nessas


situações, de capital importância, sendo, também, imprescindível
determinar se existem patologias – crônicas ou transitórias – em
algum dos pais.
Déficit atencional.
Transtorno atencional com hiperquinésia

A primeira causa patológica na qual a EP não funciona é o


chamado (Transtorno Atencional com Hiperquinésia”, antes
conhecido como Disfunção Cerebral Mínima.

As crianças que sofrem Transtorno Atencional são dispersas,


com dificuldades para manter uma atenção sustentada no que
fazem como: acompanhar a aula no colégio ou concentrar-se nos
deveres ou outra função em sua casa.

Geralmente, os pais deverão repetir-lhe uma ordem várias


vezes e terão a impressão de que não os escuta nem lhes presta
atenção.

Se trata de crianças que agem de forma precipitada e


interrompendo a outras pessoas, a maioria das vezes, sem esperar
sua vez nos jogos, em suas tarefas ou em uma conversação.
Déficit atencional com hiperatividade
Hipercinésia significa movimento excessivo ou hiperatividade.
Se manifesta em que a criança apresenta dificuldades para
permanecer sentado ou ser perseverante. Por exemplo, se levanta
constantemente de sua carteira em classe; não termina uma tarefa,
mas começa outra diferente, que provavelmente também deixará
inacabada; freqüentemente perde coisas como: utensílios escolares,
brinquedos, peças de vestir, etc.

Uma criança hipercinética também mostra com frequência


tendência a praticar atividades físicas perigosas, sem medir os
possíveis riscos.

Ainda que muitos deles foram avaliados, mostrando um ótimo


nível de inteligência, o mais provável é que tenham baixas
qualificações no colégio, com rendimento inadequado em classe,
más condutas e motivando queixas de seus mestres.

O Transtorno Atencional com Hipercinésia aparece em muitas


crianças associado a transtornos de conduta: dirão mentiras,
cometerão atos de roubo, se mostrarão briguentos e com poucos
amigos, assim como desafiantes e respondões frente às figuras de
autoridade.

Os que apresentam esta patologia deverão ser levados a


consulta com um especialista.

Depressão

Uma segunda situação atípica em que a criança


provavelmente não responderá à EP, e pela qual é necessário
consultar a um profissional, está conformada pelos episódios de
depressão.
Depressão
É difícil de diagnosticar porque a criança não sabe dizer que
está triste. Se manifesta, em geral, em decaimento ou movimento
excessivo; agressividade; mal dormir ou dificuldades para ser
despertados na manhã, quando este problema não existia
anteriormente; inapetência ou grande voracidade; choro frequente
com dificuldade para explicar o motivo de sua tristeza.

Os que sofrem de depressão também mostram uma


diminuição de seu rendimento escolar e deixam de brincar ou o
fazem com menor frequência que o habitual.

Se você observa algum desses sintomas, mesmo que seja


apenas um deles, não hesite em consultar um especialista a fim de
ser orientado.

Os tratamentos modernos costumam combinar psicoterapia e


medicação com assessoramento familiar. Diferente dos adultos, as
respostas são rápidas e as altas em curto prazo.

Ansiedade

Em terceiro lugar, deve levar-se em conta a ansiedade como


situação atípica nas crianças. Principalmente porque é uma causa
de sofrimento, mas também porque tampouco responderão à EP.

Existem dois tipos de transtornos de ansiedade: Angústia de


Separação e Transtorno por Ansiedade Excessiva.

Sob a angústia de Separação uma criança se nega a separar-


se de uma figura protetora (seus pais ou avós, um irmão maior, uma
empregada) e se recusa a ir ao colégio ou cumprir outras
obrigações que impliquem separação física.

Pode apresentar dores de cabeça e estômago. Geralmente


tem pesadelos intensos ou medo de ir deitar-se a noite.
A outra forma de ansiedade se denomina Transtorno por
Ansiedade Excessiva. Se trata de crianças inseguras e
extremamente preocupadas por seu próprio desempenho no
colégio, nos esportes e em sua vida social. Perguntam
constantemente para reafirmar-se a si próprios e os observamos
ansiosos em conseguir aceitação entre as pessoas com as quais
convivem.

Ambas patologias melhoram rapidamente com a atenção de


um psicoterapeuta infantil bem treinado e assessoramento familiar.

Em resumo, as três “situações atípicas” mais importantes e


conhecidas são:

1) O TRANSTORNO ATENCIONAL COM HIPERCINÉSIA, em


que a criança apresenta um déficit de atenção com excessivo
movimento e condutas que podem chegar a ser bruscas.

2) A DEPRESSÃO, em que a criança apresenta um retração


geral em seu estado de ânimo ou variações anímicas que não eram
habituais previamente.

3) A ANSIEDADE (em suas duas formas):


A ansiedade de separação, em que a criança não quer separar-
se de uma figura protetora, e para isso recorre a choros, súplicas
intensas e apresenta dores, tendo também pesadelos noturnos e
temor a deitar-se.

O transtorno por ansiedade excessiva, em que a criança se


manifesta insegura de si própria, fundamentalmente em seu
desempenho acadêmico, esportivo e social.
Ansiedade de separação.
Transtorno por ansiedade excessiva.

Qualquer destas três situações atípicas são entidades clínicas


que requerem necessariamente uma consulta profissional, já que se
trata de dificuldades de comportamento nas quais a EP, apesar de
dever ser aplicada, é insuficiente.
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FILHOS RESPONSÁVEIS

Há duas palavras chaves para os pais quando educam seus


filhos: compreensão e firmeza.

A compreensão exige, além do vínculo natural de carinho, o


acompanhamento coerente e constante dos problemas que enfrenta
uma criança e que costumam traduzir-se em mal comportamento. A
reação espasmódica e irreflexiva de um pai ante uma conduta
inadequada de um filho é no melhor dos casos, ineficaz, e pode
chegar a ser prejudicial.

É necessário, em troca, compreender que a desobediência, a


irritação e a rebeldia formam parte de uma personalidade infantil em
formação. Sua correção é responsabilidade dos pais, junto com os
educadores nos centros de ensino, exceto nos casos de
perturbações de nível patológico que requerem assistência
profissional especializada.

Os pais devem procurar entender por que um filho se porta mal


e ajudá-lo a corrigir sua conduta, através de passos coerentes e
consecutivos que incluem a persuasão, a advertência, vias não
violentas de castigo e formas de premiar que incentivem a criança a
perseverar no bom caminho.

O complemento fundamental deste acompanhamento


compreensivo e constante é a firmeza em sua aplicação. Sem este
ingrediente básico desaparecerá a utilidade do plano da EP que
explicamos.

Firmeza significa exercer a autoridade paterna sem interrupção


nem claudicações. Um pai que cede por pena ou desalento ao ver
que seu filho não atua ou reage da forma requerida, sob uma
medida corretiva, fracassará em sua responsabilidade educativa.
Quando uma medida não surte o efeito buscado, se recorre à
seguinte, de acordo com os passos que detalhamos. Do contrário, a
vacilação ou o desânimo paterno é transmitido ao filho, induzindo-o
ao desconcerto ou a aprofundar suas condutas impróprias.

Da combinação permanente e ordenada de compreensão


carinhosa e firmeza corretiva por parte dos pais, dependerá que o
plano de EP se converta em um instrumento útil para criar filhos
responsáveis e com uma personalidade sadia.

A EP bem aplicada transmite aos filhos a mensagem de que os


pais se preocupam por seu bem estar atual e futuro e que tudo o
que fazem, mesmo o que não agrada às crianças, é para o seu
bem.

Isto ajuda os filhos pequenos a desenvolver o controle de suas


emoções e a aplicar cada vez mais o raciocínio em seus atos. A
criança orientada neste caminho se dirige a uma adolescência
equilibrada e a uma vida adulta madura.

A infância bem orientada pelos pais é o primeiro grande passo


na busca da felicidade ao longo da vida.

A felicidade está determinada por um bom manejo das


necessidades e pela abundância de carinho, sabendo discriminar o
imprescindível do supérfluo.
O êxito desta busca depende de que cada pessoa seja orientada
desde seus primeiros anos ao máximo aproveitamento de suas boas
qualidades e a renunciar a desordem que se dá por uma vontade
que também tende ao egoísmo e uma inteligência que também
tende a ser superficial. Na aprendizagem de como ser bom e obter
êxito, desempenha um papel decisivo o crescimento reto sob a
orientação da vara ou “tutor” paterno que descrevemos no começo
deste livro.

Nessa tarefa difícil, mas essencial de encaminhar à criança a


uma vida de retidão, a EP ajuda aos pais. Mas é apenas um
instrumento que lhes é oferecido. Sua utilidade depende, como com
todo instrumento, de que o utilize correta e adequadamente. A
responsabilidade principal recai nos próprios pais. Seu esforço
responsável por educar seus filhos com carinho, constância e
firmeza dia após dia é o que produzirá filhos maduros e os ajudará a
ser felizes.
TERNURA
E FIRMEZA
COM OS FILHOS
ALEXANDER LYFORD-PIKE

“Seu filho passa horas em frente à televisão, você observa-o, balança


a cabeça, vai e se coloca entre ele e a TV. Já tentou de várias formas:
irritado, compreensivo, brincando e mais uma vez volta a dizer-lhe –
A que horas irá fazer a tarefa? – então seu filho lhe diz que saia de
frente, que fará, que daqui a pouco vai, que hoje não lhe deram
nenhuma tarefa, que faça silêncio porque o programa está muito
interessante ou que o deixe em paz.”

Com caricaturas educativas e cenas quotidianas extraídas da


realidade familiar e escritas em forma de diálogos entre pai
ou mãe com os filhos, Lyford-Pike, exemplifica e a seguir
reflete sobre as atitudes tanto dos filhos com os pais como
dos pais para com os filhos.

Como ser terno e firme sem ser autoritário nem tampouco


consentidor, em que momento dizer sim ou dizer não, até
onde tolerar as más condutas. O pai ou mãe de família
encontrará técnicas, conselhos e um guia que lhes ajudará
no ofício diário de ser pais, na tarefa diária de formar aos
filhos.

Falar claro, respaldar as palavras com atos e estabelecer as


regras do jogo são os três princípios que fundamentam o
sistema proposto pelo autor: Educação com Personalidade
(EP). Das mãos da ternura e da firmeza dos pais às mãos dos
filhos.

Foi escrito com a experiência diária da convivência com os


filhos, com as crianças, seja como pai seja como profissional
e especialista, mas dirigido aos pais de família.

Alexander Lyford- Pike, destacado médico psiquiatra, é


Diretor e fundador do Instituto de Psiquiatria e Psicologia de
Montevidéu; Presidente da Sociedade de Psiquiatria
Biológica do Uruguai; Membro Corresponsal da American
Psychiatric Association e Membro Honorário da Associação
Argentina de Transtornos da Ansiedade, além de ser um
grande motivador e promotor de grupos de estudo e trabalho
sobre educação e família.

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