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Perrin, Chris
Introdução à educação cristã clássica / Chris Perrin; Tradução de Elmer
Pires. -- São Paulo: Editora Trinitas, 2018.
Tradução de: Classical Education vs. Modern Education: A Vision from C.S. Lewis.
ISBN 978-85-85034-02-3
1a edição 2018
ISBN: 978-85-85034-02-3
Para ficar claro, as palavras gramática, lógica e retórica possuem uma gama
de significados. São termos que podem fazer referência a matérias
independentes, mas também a uma arte ou método (“ferramentas”) mediante
os quais todas as disciplinas serão aprendidas. Por fim, são termos que podem
ser utilizados para descrever as três fases do desenvolvimento pelas quais as
crianças avançam.
Latim e Grego
As escolas clássicas também são conhecidas pelo ensino de línguas clássicas,
geralmente o latim, mas às vezes o latim e o grego. O latim tem sido ensinado
em escolas clássicas há séculos, mesmo após ter deixado de ser uma língua
falada pelo povo. Há uma boa razão para aprendê-lo, pois o estudo do latim
nos recompensa ricamente de várias maneiras.
O latim é matéria fundamental nas escolas clássicas e no ensino
domiciliar. É uma das “disciplinas paradigmáticas” da Escola de Gramática,
por meio da qual os alunos aprendem os rudimentos e a estrutura da
linguagem — a língua latina, a língua portuguesa9 e, por meio delas, a
estrutura de toda a linguagem. O latim é a língua materna para mais de 50%
de todas as palavras em português, de modo que o estudo do latim melhora o
vocabulário da língua portuguesa. Muitas vezes, apenas uma palavra em
latim é responsável por várias palavras em português. Há inúmeros exemplos
de palavras e radicais em latim dos quais se derivam muitas outras palavras
em português e em inglês. Há casos em que uma palavra em latim ajuda a
formar dez palavras em português ou inglês — um investimento bastante
recompensador.
O latim também ajuda os alunos a entenderem a gramática. Conforme
aprendem a gramática do latim, eles também estão aprendendo ou reforçando
seu conhecimento da gramática do português. Nossa própria maneira de
rotular e analisar a gramática portuguesa evoluiu a partir do estudo da
gramática latina — todas aquelas palavras “gramaticais” como verbo,
substantivo, adjetivo, advérbio, são todas palavras latinas desenvolvidas a
fim de se entender a gramática latina! A gramática da língua latina é lógica,
direta e altamente regular [uniforme], tornando-a uma língua cuja gramática é
ideal de aprender, gramática esta que pode ser aplicada em muitas outras
línguas, inclusive, claro, no português.
Demonstrou-se repetidamente que o estudo do latim acelera e habilita o
domínio do português. A pontuação na prova do SAT10 e GRE (Graduate
Record Exam) aumenta. Na verdade, os alunos que atingem as pontuações
mais altas na seção verbal do GRE não são estudantes formais do inglês, mas
discípulos das línguas clássicas. Qualquer um que queira ver os dados
estatísticos que demonstram o valor do estudo do latim é encorajado a visitar
o site do Comitê Nacional pelo Estudo do Latim e do Grego
(www.promotelatin.org).
Estudar uma língua estrangeira desde cedo (damos início ao curso formal
no 3º ano) sempre foi a maneira clássica, e tem se mostrado pela experiência
como algo sábio a se fazer, pois os alunos adquirem o idioma rapidamente
enquanto mais novos. Nossos alunos aprendem dez novas palavras em latim
por semana — com uma facilidade muito maior que a de seus pais. Os alunos
dessa idade estão ansiosos por aprender idiomas, e muitos deles declaram ser
o latim sua matéria favorita.
Finalmente, devemos mencionar que o latim também é a língua-mãe das
chamadas “línguas românicas”: do espanhol, português, francês, italiano e
romeno. Elas são chamadas de “línguas românicas” porque descendem
diretamente da língua dos romanos — que era o latim. Se 50% das palavras
em inglês vêm do latim, até 90% das palavras nestas línguas descendem da
língua latina. Porta em latim é igual à palavra porta em português; em
espanhol, puerta também significa porta. Amicus em latim significa amigo;
mesma é a palavra tanto em espanhol quanto em português, em italiano
amico, em francês ami, em romeno amic. Quando um aluno aprende a língua
latina, ele também está fazendo um trabalho avançado nestas línguas geradas
pelo latim.
Se o latim é responsável por 50% do vocabulário do inglês, o grego é
responsável por 30% adicionais. O grego também é a base para boa parte do
vocabulário médico e científico. O grego tem também a vantagem de ser o
idioma do Novo Testamento, tornando-o disciplina muito valiosa para
escolas cristãs. Aqueles que estudam latim e grego alcançarão a máxima
compreensão do vocabulário e da gramática do português, e também verão
que latim e grego reforçam-se mutuamente, uma vez que ambas são línguas
com inflexões (os substantivos e verbos variam em seus sufixos) e uma
estrutura muito similar.
Aqueles que estudaram vários idiomas sabem que depois de aprender um
idioma, aprender o segundo e o terceiro fica muito mais rápido e fácil.
Pilotos, por exemplo, depois de aprenderem o como certo tipo de avião voa,
estarão bem preparados para aprender a pilotar outros aviões. Músicos que
aprenderam um instrumento podem aprender um segundo ou terceiro com
uma facilidade muito maior do que aqueles que começam pela primeira vez.
Alunos, portanto, que estudam latim e/ou grego estarão aptos a aprender
línguas adicionais (especialmente línguas românicas) com esforço muito
menor.
Integração do Estudo
Mencionei que os educadores clássicos não enxergam as matérias como
autônomas e isoladas. Conhecimento é mais como uma rede do que uma
cômoda cheia de gavetas; não há matérias que não estejam relacionadas umas
às outras. Literatura, história e teologia, por exemplo, estão bem entrelaçadas.
Qualquer coisa do passado (em qualquer matéria) pode ser história; qualquer
coisa comprometida com escrita criativa ou de excelência pode ser literatura;
e qualquer matéria considerada em relação a Deus e ao ensino bíblico pode
ser teologia. Até o século 19, os educadores entenderam e ensinaram o
conhecimento enquanto rede, e não como departamentos separados. Os
educadores clássicos, portanto, enquanto ensinam aulas de “história” ou
“literatura”, mantêm os limites leves e fluidos, enfatizando a inter-relação de
todo o conhecimento.
O ensino do latim é um exemplo adequado de como os educadores
clássicos integram o conhecimento. Com efeito, o latim não é uma matéria
simples e autônoma. Pelo contrário. O latim é encontrado praticamente em
todos os lugares. Encontra-se em toda a escrita inglesa (uma vez que 50% das
palavras em inglês vêm do latim),11 portanto os professores estão
constantemente mostrando aos alunos as palavras latinas que se encontram
por todos os lados, expandindo assim a sua compreensão e vocabulário do
inglês. O latim é encontrado na ciência. Lembro-me do dia em que minha
filha chegou em casa com uma planilha científica descrevendo animais
“carnívoros”, “herbívoros” e “onívoros” e com grande deleite me mostrou
que uma palavra vinha de caro, carnis (carne), uma de herba, herbae (grama,
planta) e a última de omnis, omne (tudo). Antes que a professora lhe
dissesse, ela já sabia quais tipos de animais eram “territoriais”, “arbóreos” e
“aquáticos” (da terra, das árvores e da água). O latim encontra-se na
literatura. Boa parte da melhor literatura até 1950 (e alguma coisa depois
disso) frequentemente contém alusões ao latim ou citações em latim. O latim
certamente é encontrado na história, uma vez que o Império Romano
dominou a Europa por pelo menos mil anos. As inscrições em latim abundam
não só em Roma, mas também em Washington, D.C., e em documentos
históricos americanos. O latim se faz presente na lógica. Todas as falácias da
lógica informal têm nomes em latim, como argumentum ad hominen
(argumento ao homem — caluniando a pessoa em vez de abordar seu
argumento) e argumentum ad baculum (argumento da força — que apela a
forçar ou persuadir alguém a adotar seu argumento). Como na lógica, o latim
também se faz presente na retórica. Todas as palavras do discurso possuem
nomes latinos (e gregos), como aliteração e assonância; as regras básicas
(cânones) da retórica têm nomes latinos, bem como suas subcategorias.
Talvez você possa imaginar as oportunidades de integração para outras
disciplinas como história, bíblia, teologia, literatura e ciência. Elas são
abundantes.
Resultados Demonstrados
Todo pai quer saber como alunos educados pelo método clássico se
classificam em exames padronizados, na faculdade e no local de trabalho. A
bem da verdade, eles se saem tão bem que devemos ter cuidado com a forma
como os enxergamos e a nós mesmos — pois somos tentados à arrogância.
Na nossa opinião, eles não vão bem porque nós ou eles são muito espertos e
inteligentes. Eles vão bem porque os métodos comprovados de educação
clássica os capacitam para tanto. Alunos de escolas clássicas pelos EUA
geralmente se classificam entre os 10% aos 15% melhores em exames
nacionais, como o Stanford Achievement Test e o Scholastic Aptitude Test
(ambos os testes são abreviados por SAT). Escolas clássicas consagradas
frequentemente ocupam uma proporção significativa de National Merit
Scholars (determinados pelas pontuações do PSAT)20 e de estudantes com
pontuações de SAT extremamente competitivas (nos 5% das maiores
notas).21 Aqueles que recém se formaram por via da educação clássica não
têm problemas em entrar nas boas faculdades e muitos deles se qualificam
para faculdades e universidades altamente seletivas, sendo que um bom
número deles recebe bolsas de mérito ou outras bolsas de estudo. Faculdades
em todo o país mostram interesse por esses alunos e já se familiarizaram com
a abordagem clássica e seu currículo, que vem sendo recuperado nos Estados
Unidos. Atualmente, graduados da educação clássica estão cursando
faculdades como Johns Hopkins University, Grove City College, Hillsdale
College, Wheaton College, William e Mary, Wake Forest, e também
inúmeras universidades estaduais, como a Universidade da Virgínia, Idaho,
etc.
As escolas clássicas estão crescendo em ritmo robusto; não é incomum
que novas escolas clássicas cresçam de 25 a 30 alunos por ano até chegarem
a um programa completo, do Jardim da Infância ao 3o ano do ensino médio,
num período de 8 a 10 anos, com aproximadamente 200 alunos. Hoje,
existem cerca de 150 escolas na Associação de Escolas Clássicas e Cristãs,
com uma taxa de 10 a 20 novas escolas por ano. A educação domiciliar
clássica está crescendo num ritmo ainda mais rápido, e há mais estudantes
recebendo educação clássica em seus lares do que nas escolas tradicionais.22
Algumas Objeções
Agora, alguns que ouvem falar da educação clássica, e mesmo alguns que a
experimentam, terão objeções. Para muitos, isso soa antiquado e enfadonho, e
traz à mente imagens de diretores rabugentos dando bronca em alunos
ressentidos. Nosso discurso sobre ordem e paz às vezes é recebido como
“rigoroso, frio e tacanho”. Alguns com um balanço de cabeça e uma
piscadela sussurram palavras como “decoreba” e imaginam que colocaram
toda a pedagogia clássica em seu devido lugar. A educação clássica, para
essas pessoas, só pode ser imaginada como triste, rígida, repetitiva, seca,
antiquada e culturalmente irrelevante.
Uma vez que as escolas clássicas elevaram o padrão acadêmico e
esperam das crianças desempenho muito mais elevado do que o padrão visto
nos últimos 50 anos, alguns nos acusam de excessiva dureza e uma ênfase
indevida na parte acadêmica. Visto que os alunos clássicos geralmente
representam os melhores 15% da nação em exameses padronizados, alguns
nos acusam de elitismo e suspeitam que apenas os alunos mais talentosos se
adaptem em escolas clássicas, ou que estes sejam os únicos alunos que
realmente recebemos. Daí vem a acusação relacionada à arrogância e ao
orgulho, pois o que mais poderia nos forçar a anunciar que nossos alunos
regularmente se saem melhor que seus colegas de outras escolas?
Há objeções aos currículos clássicos em geral. Latim no 3o ano? Lógica
por três anos a partir do 7o ano? Para alguns que nunca estudaram uma única
língua estrangeira ou mal podem lembrar de uma frase após três anos de
espanhol no ensino médio (a maioria de nós), o estudo do latim no terceiro
ano parece absurdo. Por que estudar um idioma “morto”, que não é apenas
irrelevante, mas também difícil? E para muitos, a lógica é um curso de nível
universitário que parece seco e obscuro.
Por fim, as escolas clássicas muitas vezes não oferecem muito em relação
a programas atléticos e atividades extracurriculares. Isto ocorre, em parte,
porque geralmente são escolas jovens que ainda estão se desenvolvendo com
tempo e dinheiro escassos. Também é devido às prioridades que regem as
escolas clássicas, que dão primazia à parte acadêmica sobre outras áreas. O
principal compromisso com a parte acadêmica é criticado por alguns como
sendo parcial, desequilibrado e enfadonho.