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Introdução

Quando eu engravidei da minha primeira filha eu tinha muitas teorias. Eu tinha


sonhos para a maternidade, eu tinha sonhos para aquela pequena criança. Quando
eu engravidei eu queria saber tudo de tudo. Eu lia, perguntava pra uma e outra mãe,
observava muitas famílias por onde andava. Mas posso afirmar com toda a certeza que
em momento algum eu estava preparada para o que viria a seguir. E sigo me sentindo
assim, por mais que já esteja no quinto filho, 7 anos depois, eu ainda tenho muitas
teorias, muitos sonhos para a maternidade e muitos sonhos para minhas crianças
pequenas. Hoje, mais do que nunca eu quero saber tudo de tudo, ainda pergunto
demais para outras mães e ainda observo muitas famílias. O que mudou?

O que mudou foi a minha forma de pensar qual é o meu lugar na educação deles,
e como articular informação e ação. O que mudou foi eu saber que minhas teorias,
por melhores e mais úteis que sejam, não são suficientes, nem minhas perguntas,
nem meu poder de observação, tudo isso não tem poder em si mesmo, mas precisa
ser bombeado para a ação. Porém, como eu já esperava, não adiantaria eu só “sair
fazendo”, porque as urgências da vida atrapalhariam meus nobres planos para mim e
para meus filhos.

Então, passei anos a fio buscando ser diligente e esse continua sendo meu alvo, porque
é somente meu trabalho, minha diligência, meu capricho nas coisas que faço. Não
tenho controle sobre os resultados, sobre as circunstâncias, mas tenho controle sobre
como agirei no dia, no aqui e agora.

A mãe de primeira viagem que eu era, com muitas certezas no bolso e pouca ideia
dos “comos”, deu lugar a uma outra mãe, com poucas certezas nos bolsos e muita
convicção dos “comos”. Reservo as certezas somente para os assuntos cruciais,
sem “bater o martelo” pra qualquer coisa secundária, inventando regras onde elas

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não existem e passei a ter convicção de como fazer isso ou aquilo, seja pela prática
contínua com um filho atrás do outro, seja pela experiência adquirida no convívio com
tantas outras mães.

Ainda assim nunca se está completamente preparada para essa jornada tão
magnífica que é a maternidade e a educação de filhos, mas é possível estar menos
perdida, mais centrada e com objetivos mais claros na medida em que buscamos
profissionalizar o cuidado com quem mais amamos.

Não haverá nenhum momento na história em que você se sentirá pronta para esse
trabalho em sua completude, mas você precisa estar pronta para dar um primeiro
passo. Você precisa estar aberta para aprender e iniciar, isso é essencial. Não vamos
falar em metas e em dobrá-las quando atingirmos, vamos falar em ser melhor hoje, só
hoje, em estudar um pouco mais nesses dias da Maratona. Vamos pensar num pouco de
trabalho de cada vez, tijolinho por tijolinho.

“À medida que as mães se tornarem mais educadas e eficientes, irão, sem dúvida, sentir
mais fortemente que a educação de seus filhos durante os seis primeiros anos de vida é
uma obrigação difícil de ser confiada a quaisquer mãos além das suas. E irão abraçá-la
como sua profissão - isto é, com a diligência, a regularidade e a pontualidade que os
homens conferem ao seu trabalho profissional.” Charlotte Mason

Para quem é o trabalho?

Nasci numa família simples, estudei anos em colégios “de bairro”, e quando chegou
a hora de prestar o vestibular, sequer me inscrevi para o curso que eu desejava fazer.
Estava atenta às propagandas e convivia com jovens que cursavam os melhores
cursinhos da cidade. Na minha cabeça eu não tinha a menor capacidade de entrar num
curso que tivesse a nota de corte maior que X.

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Quando chegou a minha vez, fiz a inscrição para o curso de Letras, que eu julgava ser
um dos poucos que passaria, mas pelo menos seria para uma Universidade Federal (eu
me consolava), mesmo porque meus pais não poderiam pagar mais 4 ou 5 anos de
estudos.

Foi um ano bem difícil. Passei por uma cirurgia grande, na qual perdi um ovário, faltei a
mais de 1 mês de aula e estava com a cabeça meio confusa com tantos acontecimentos.
Mas segui, era meu sonho entrar para uma universidade. Quando o resultado positivo
saiu fiquei eufórica, sim eu tinha passado, eu tinha conseguido! Eu, que vinha lá dos
colégios “de bairro”, agora estaria dentro da Federal. Depois que entrei e vi que não era
nada de extraordinário passar naquela prova, bastava que eu estudasse e me dedicasse
de verdade, fui lá e fiz minha inscrição para o curso que eu desejei desde o começo.

Muitas mulheres agem dessa mesma forma na maternidade. Olham para algumas mães
que sabem cozinhar, costurar, bordar, pintar, e que talvez façam educação domiciliar e
pensam que não tem a menor capacidade para essa tal maternidade. Que esse trabalho
não é pra elas e que nem vale a pena “fazer a prova”, porque elas não passariam.

Em primeiro lugar, esse trabalho é para todas as mães, as que trabalham fora, as que
trabalham meio período, as que estão em home office, as que matriculam na escola,
as que fazem after schooling, as que escolheram educação domiciliar. O trabalho é
para todas!

E se a vida fosse como a minha história também pouco importa o resultado final, no
meu caso estudar serviu para eu saber mais sobre as disciplinas do ensino médio e
principalmente saber mais sobre quem eu era e quais eram as minhas habilidades. Do
mesmo modo, uma mãe que estuda e se dedica na maternidade só tem a ganhar,
primeiro aprendendo sobre os mais diversos assuntos que lhe servirão para a vida e,
em segundo lugar, aprendo mais sobre si mesma, suas habilidades e capacidade.

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Essa maratona é pra você sim, mães perfeitas não existem (por mais que a gente
gostaria de tê-las pra ter uma desculpa pra não fazer o que se deve). Mães-maravilha
só funcionam na foto e com muito filtro. Esse conteúdo é para mães comuns, como
eu e você, que não temos todas as habilidades do mundo, mas que temos força
pra dar um primeiro passo, que temos disposição pra estudar e quem sabe, ser um
pouquinho melhor a cada dia.

Esse conteúdo é para mães que, como eu, todos os dias colocam a cabeça no
travesseiro pensando em como podem melhorar. É para mães que trabalham fora
e gostariam de ter mais tempo com seus filhos, que gostariam de ter mais controle
sobre o que aprendem ou que gostariam de melhorar a educação dando um toque
materno. É também para mães que não trabalham fora, que decidiram se entregar de
vez pra maternidade mas não sabem por onde e nem como começar. É para mães que
podem até não ter uma ferramenta, mas têm muita vontade de dar o melhor (de si)
aos seus filhos.

Ler para aprender

Sem a nossa dedicação aos estudos dificilmente sairemos do senso comum,


dificilmente teremos argumentos ou porquês para agir da forma como agiremos. Sem
fundamentos, nossa construção ruirá na primeira chuva, na primeira crítica, diante do
primeiro desafio.

Para fundamentar nosso pensamento (e ação) sobre a educação dos nossos filhos será
necessário abandonar a cultura “fast-food”, e imergir na cultura DIY “do it yourself” -
faça você mesmo. Gostaria de dizer que existe outra saída, mas não há. Se você quer
oferecer o melhor aos seus filhos em termos de educação, você precisará sentar o
bumbum na cadeira e estudar até tarde.

Estudar mais, além de esclarecer diversos pontos-chave na educação dos nossos

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filhos, é capaz de dissipar nossas inseguranças. Quando não sabemos alguma coisa
ficamos inseguras, questionamos nossa capacidade e não temos confiança de seguir
adiante, porém quando dominamos o assunto, quando sabemos onde queremos
chegar e o que é necessário para isso; quando sabemos diferenciar teorias e avaliar
métodos, percebemos que as coisas não são abstratas como parecem, que estão ao
nosso alcance e que aos poucos somos até capazes de fazer.

Mas ler sobre o que? De que livros você está falando? Acredito que uma mãe precise ler
um pouco de vários assuntos, precisamos entender um pouco sobre

• teologia e antropologia para compreendermos “do que é feito uma criança”;


• aspectos práticos de como “funcionam”, como crescem, o que traz benefícios e
malefícios à sua saúde (sono, alimentação, higiene e ordem);
• educação, sobre como ocorre o desenvolvimento da mente da criança, como ela
aprende melhor, como ela pode ser melhor ensinada e treinada para se desenvolver
bem (tipos de métodos e objetivos de cada um);
• linguagem, raciocínio lógico, memória e etc. Temas mais pontuais que nos façam
relembrar conceitos que já vimos uma vez, mas que já nos esquecemos.
• literatura e história, clássicos, clubes do livro, enfim, precisamos trabalhar para nossa
auto educação.

Pode parecer muita coisa e é. E tudo isso faz parte de ser mãe, tudo isso faz parte de
um agir intencional, que quer levar o filho do ponto A ao ponto B em alguns anos. Vai
custar, mas ao mesmo tempo não é impossível como pode parecer em uma primeira
olhada.

Gostaria de deixar aqui algumas indicações de livros que podem ajudar as mães nessa
tarefa. Quando eu estava grávida tinha uns 3 livros em casa. Um sobre sono, um sobre
ser mãe de primeira viagem e um sobre gravidez. Dois deles eu ganhei de presente!
Fui comprando um ou outro sobre alimentação e criação de filhos mais tarde. 3 anos

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depois, quando despertei para o estudo de algo para além do aspecto físico, tinha 2
livros: um era Educação no lar e outro, que saiu em seguida foi Educar na Curiosidade.
Foi assim que comecei a estudar, com um passo de cada vez. Um grupo de mães que
se reuniam para conversar sobre o livro aqui, algum curso de educação ali e aos poucos
fui enchendo a minha estante de livros.

• teologia e antropologia: Série “Questões cruciais” , R.C. Spoul e curso do pr. Filipe Niel
“A vida no evangelho”, “Somos todos teólogos”, R. C. Sproul, “Catecismo Nova Cidade”,
W. A. Criswell
• sono, alimentação, higiene e ordem: “Soluções para noites sem choro”, Elizabeth
Pantley; “Encantadora de bebês”, Tracy Hogg; “Crianças francesas comem de tudo”,
Karen Le Billon;
• educação (como as crianças aprendem/tipos de métodos): “A Mente bem treinada”,
Susan Bauer (método clássico); “Educação no lar”, Charlote Mason (método Charlotte
Mason; “A Criança Montessori” (método montessoriano); “Educação por Princípios”,
Paul Jehle (método educação por princípios); “A pedagogia Waldorf”, Rudolf Lanz
(método Waldorf); “A falácia socioconstrutivista”, Katia Simone Benedetti (por que não
escolher o método construtivista); “Aprendendo inteligência”, Pierluigi Piazzi
• linguagem e raciocínio lógico: “Nova gramática do português contemporâneo”, Celso
Cunha;

“Isso pode parecer intimidador a princípio, se fosse considerado um hobby, seria


esmagador. Mas a tarefa é a educação de nossos filhos - não um hobby, mas uma
vocação. A palavra vocação vem do verbo latim voco, que significa ‘eu chamo’. A
vocação de uma pessoa representa o seu chamado; a vocação de um pai é aprender a
fim de ensinar.” Douglas Wilson

E para além da leitura sobre os temas de educação, as mães podem estudar para si
mesmas, lendo os clássicos da literatura, se aprofundando em temas do seu interesse,
se informando, fazendo cursos dos mais variados sobre educação ou sobre o que lhes

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agrade. Estudar e ler devem ser atividades a fazer pelo resto da vida.

Essa postura de leitor faz de você um exemplo para o seu filhos, isso comunica a
ele que não se deve ler apenas por trabalho, mas que se deve ler por prazer, pois
“a verdadeira educação começa com deslumbramento e termina em sabedoria”
Kevin Clark. Isto é, mesmo que tenhamos terminado o nosso tempo de estudos
formais (escola, faculdade, pós, ainda precisamos continuar curiosos e interessados,
deslumbrados pelos temas mais diversos, nos debruçando sobre eles alcançaremos
sabedoria, poderemos aplicar esses ensino ‘as nossas vidas e a dos nossos filhos.

Para tornar-se proficiente em leitura é necessário que a criança tenha contato com
alguém que ame ler. Segundo uma pesquisa nos EUA, em 2007, há 1 coisa em comum a
todos os leitores proficientes: eles moravam em um lar com mais de 100 livros. E não é
nenhum número místico ou mágico, apenas a constatação de que se alguém sacrificou
tempo e dinheiro, escolheu comprar livros ao invés de qualquer outra coisa, então
é porque essa pessoa deve gostar muito de livros! E quando amamos alguma coisa,
desejamos compartilhar com outras pessoas.

Algumas sugestões de leitura para as mães:


• Hamlet e Macbeth, William Shakespeare
• O Peregrino, John Bunyan
• Orgulho e preconceito, Jane Austin
• A sociedade do anel, J. R. R. Tolkien
• As duas torres, J. R. R. Tolkien
• As crônicas de Nárnia, C. S. Lewis
• Mulherzinhas, Louisa May Alcott
• O Hobbit, J.R.R Tolkien
• O Retorno do Rei, J. R. R. Tolkien
• O sol é para todos, Harper Lee
• O Jardim secreto, Frances Hodgson Burnett

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• Dom Casmurro, Machado de Assis


• Madame Bovary, Gustave Flaubert
• Os Miseráveis, Victor Hugo
• Volta ao mundo em 80 dias, Jules Verne
• O Morro dos ventos uivantes, Emily Bronte
• Moby Dick, Herman Melville
• Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis
• Vidas Secas, Graciliano Ramos

Ler para os filhos (Leitura em Voz Alta)

Importância

“A mais importante atividade para construir o conhecimento requerido para o eventual


sucesso na leitura é ler em voz alta para as crianças.” Relatório da Comissão de Leitura
(1985)

O senso comum nos fala que a leitura é algo importante, porém a leitura e a literatura,
de modo geral, tem um lugar ruim em nossas memórias, lembramos logo das aulas de
literatura da escola, as quais não tem a intenção de promover o contato dos alunos com
a Grande Literatura, mas sim fazê-los ouvir sobre os principais livros, seus escritores, as
ideias que defendiam, as regras literárias do período e assim por diante. Resumindo, a
disciplina de Literatura e o contato com ela, se torna, para as crianças e adolescentes,
mais um dos “monstros” a serem vencidos caso pretendam concluir o Ensino Médio.
Precisamos antes de mais nada mudar essa mentalidade pois, para trazer uma prática
para o nosso dia a dia, para tirar as ideias do papel, antes de tudo precisare-mos tê-las
no papel! Precisaremos estar convencidos sobre aquilo, sobre o que é, como e porque
fazer. Dedicarei os próximos minutos a falar sobre a importância da leitura e porque ela
é o melhor uso que pais podem fazer do tempo e energia que tem.

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Afetiva

A leitura em voz alta é uma atividade na qual duas pessoas embarcam juntas na mesma
jornada. Os pais devem fazer isso por seus filhos porque seus anos ao lado deles irão
passar depressa e o mais importante que podem cultivar com seus filhos é uma união
sólida e verdadeira. Essa união será cultivada quando alimentarmos memórias afetivas
e felizes e criamos laços duradouros, isso se dará sem dúvida através da leitura em voz
alta. Se há alguma atividade da qual você NUNCA se arrependerá de ter feito com seus
filhos, essa atividade é a leitura.

As histórias lidas são capazes de unir uma família, de trazer temas importantes para
conversas ao redor da mesa, são emoções compartilhadas, piadas internas podem
surgir e o vínculo só crescerá a partir dessa atividade. Ainda que a vida seja dura e a
família esteja passando por algum momento delicado, a leitura poderá oferecer esse
lugar de descanso a todos. Um lugar que dá aos pais um outro tom de voz e a todos
um novo olhar sobre a vida.

Talvez com o passar dos anos as crianças se esqueçam dos títulos lidos ou de detalhes
da obra, talvez já não saibam mais se foi esse ou aquele personagem que fez alguma
coisa, porém, de uma coisas eles jamais esquecerão: papai e mamãe leram pra ele!

Ler em voz alta é algo precioso porque nos faz compartilhar emoções (com nossos
filhos). É como fotografar um momento muito especial, como quando estamos diante
de um pôr-do-sol único e desejamos mostrar a alguém como ele é belo. Não dizemos
simplesmente: “olha, tem um pôr-do-sol belíssimo aqui, você deveria vir ver”, ao invés
disso você corre para pegar seu celular e fazer uma foto dele, pra mostrar todas as
nuances de cores que está vendo, você quer capturar exatamente o que vê ali e assim
acontece quando lemos para alguém. Eles sentam em nosso colo ou ao nosso redor
e fazemos a entonação exata daquilo que queremos transmitir, não é uma questão de

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informar, mas de desfrutar.

A leitura em voz alta também proporciona oportunidades de experimentar diversas


emoções que não seriam vivenciadas à parte dela. Ser oprimido, lutar e vencer como
um herói, ser rico ou ser pobre, ser órfão, ser uma princesa ou um rei, ser um cavaleiro,
tomar decisões difíceis, ser corajoso ou generoso… as histórias trazem novas realidade
às crianças e as fazem “viver outras vidas” o que é extremamente enriquecedor e um
grande argumento a quem se preocupa com a famosa “bolha”. Podemos ajudar nossos
filhos a ter muito mais empatia através da leitura em voz alta.

“O homem que se contenta em ser apenas ele mesmo e, portanto, ser menos, vive numa
prisão. Meus próprios olhos não são suficientes para mim, verei por meio dos olhos de
outros.” C. S. Lewis, Um Experimento na Crítica Literária.

Intelectual

Aqui está uma pequena lista de habilidades trabalhadas no momento de leitura


em voz alta:
• Crescimento do vocabulário;
• Melhora da dicção;
• Aumento do tempo de concentração (gradual);
• Exposição a um repertório de palavras diferentes das do cotidiano;
• Sintaxe mais elaborada (devido à exposição de estruturas frasais diferentes);
• Melhora a prosódia, já que a criança deseja imitar o leitor;
• Criação e expansão do imaginário;
• Compreensão e armazenamento de palavras e experiências distintas (as crianças
compreendem mais do que conseguem expressar em palavras);

Quando falamos em alfabetização pelo método fônico (e falaremos mais sobre isso
amanhã e quarta), estamos falando num método que toma como ponto de partida a

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língua em sua forma falada, a alfabetização pelo método fônico leva em conta os sons
da fala. Logo, uma criança que é exposta diariamente a uma boa amostragem de língua
falada, terá não só interesse em aprender a ler, como também conseguirá compreender
bem melhor aquilo que se está querendo ensinar a ela, isto é, os sons das palavras.
Ler em voz alta para as crianças é a atividade mais importante para o desenvolvimento
de suas habilidades leitoras, essas habilidades irão auxiliar crianças, adolescentes e
adultos tanto a expressar uma ideia de forma que seja compreensível a outro, quanto
compreender de forma completa aquilo que alguém quer comunicar.

A leitura em voz alta se torna uma vantagem na vida dos nossos filhos, porque além
de terem contato com palavras novas que não são utilizadas em nosso dia a dia, ainda
podemos utilizar esse momento para o ensino de algumas palavras desconhecidas
do texto, especialmente as mais recorrentes. A pessoa que está lendo a história pode
“traduzir” as palavras durante a própria leitura, fazendo pequenas pausas para explicar
aquelas que sejam importantes para a compreensão do texto, ou pode ainda promover
algumas atividades de pesquisa após o momento da leitura para que todos descubram
juntos o sentido a que o texto se refere.

Com o passar do tempo é possível perceber como cada livro possui um vocabulário
próprio, não apenas com relação aos seres, lugares e objetos que aparecem com
frequência, mas também quanto aos adjetivos e termos mais usados pelo autor. E a
cada nova palavra aprendida, um novo mundo se descortina permitindo compreender
não apenas o contexto daquela história, mas diversas outras realidades diferentes.
A leitura em voz alta também permite o aprimoramento da sintaxe, isto é, aprender
a construir as frases da forma correta. Um problema de sintaxe muito comum, por
exemplo, é a questão da concordância nominal, vemos não só crianças, mas muitos
adultos com sério problemas nessa área.

Nesse ponto a pedagogia moderna poderá argumentar dizendo ser cedo demais para
que uma criança compreenda e domine a língua dessa forma, que talvez fosse melhor

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fazer tudo “no nível delas”, eu discordo. Defenderei que elas têm o direito de apropriar-
se da linguagem em seu mais alto nível, ainda que optem por não utilizar este padrão
em seu dia a dia, elas serão capazes tanto de compreender os livros já escritos na
língua portuguesa, quanto de produzir textos de alta qualidade quando for necessário.
Toda experiência humana influencia e interfere no desenvolvimento cognitivo. Por isso,
como o padrão culto da linguagem possui uma organização lógica, enquanto a criança
aprende a falar corretamente ela também aprende a pensar corretamente, estruturando
uma argumentação coerente.

Para além disso, há o próprio conteúdo que se aprende quando se lê, seja sobre algo
metalinguístico (sobre a própria língua), seja sobre algo na natureza, na formação
do caráter e etc. A leitura tem esse poder de ensinar de forma leve, coisas profundas
e de forma discreta passar conteúdos que servirão muito para a vida e para o
desenvolvimento da linguagem da criança.

Faça isso em casa

“Se você quer que uma criança conheça a verdade, conte-lhe a verdade. Se você quer
que uma criança ame a verdade, conte-lhe uma história.” Andrew Peterson

Somos cativados por histórias, isso é inegável. A indústria que mais cresce é a do
entretenimento, o que muda? A forma pobre e bruta como as histórias têm sido
oferecidas pelos meios digitais. Precisamos oferecer aos nossos filhos nossa presença
atenta e nossa voz lendo-lhes histórias. Precisamos oferecer um conteúdo selecionado
por nós, com vistas à sua formação pessoal. Ou seja, precisamos ler para os nossos
filhos. E aqui é que entra todo o “problema”. As mães estão crentes de que isso não
cabe em suas agendas abarrotadas. Que isso não é possível a elas porque seus filhos
são muito agitados, desinteressados, ou porque elas não têm uma rotina pra poder
encaixar a leitura.

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Calma! Eu posso provar que é possível. Não só pela minha própria experiência, mas pela
experiência de centenas de outras mães que não só leem, mas que já colhem frutos
disso. O que acontece é que existem muitos mitos que rondam as cabeças maternas
e fazem com que a leitura em voz alta caia cada dia mais em desuso nas famílias.
Principalmente após o momento em que o primeiro filho está alfabetizado, aí então
parece que toda a importância da leitura se vai. E é justamente aí que ela se torna ainda
mais importante, seja na criação de vínculo, seja no desenvolvimento intelectual da
criança.

Tijolinho por tijolinho

Eu sempre uso essa expressão pra falar sobre educação de filhos e hoje usarei para
destacar que a leitura não faz diferença apenas quando você faz meia hora ou duas
horas de leitura para o seu filho. Você não faz ideia do impacto que 10 minutos, dia sim,
dia não, podem fazer pela vida do seu filho. Ao final de um ano, isso significará 35 horas
de leitura para o seu filho. Pense em quantas palavras e o melhor, quantas boas ideias
ele pode ouvir nesse tempo. Pense que você terá tido 35 horas de prazer e alegria com
seu filho, fazendo apenas 10 minutos de leitura, dia sim, dia não. Caso você consiga
fazer um pouco mais, digamos 10 minutos por dia, então no final de 1 ano você terá
lido 60 horas com seu filho. Não despreze o pouco tempo, você pode fazer muito pela
educação do seu filho através dessas leituras.

“Permaneça sentado”

Outro erro comum é achar que se a criança não está parada feito uma estátua ela
não está prestando atenção, ou não está aprendendo nada do que está sendo lido.
Muito pelo contrário, várias crianças (principalmente meninos) se concentram melhor
enquanto estão com o corpo em movimento. Claro que contar uma história enquanto a
turma brinca de esconde-esconde não daria certo, porém podemos oferecer algo para
ocupar as mãos e assim deixar os ouvidos atentos ao que estamos lendo para eles.

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Aqui estão algumas ideias de como ocupar as mãos dos pequenos para que eles se
concentrem melhor nas hitórias:
• Lego;
• Massinha;
• Desenho;
• Aquarela;
• Alinhavo;
• Blocos de madeira;

Só vale de Shakespeare pra cima

Muitas mães acham que os livros “leves” não contam, que só se pode considerar a
leitura em voz alta se for do nível de Shakespeare para cima. Brincadeiras à parte,
livros leves (não abobalhados, mas de conteúdo mais leve) servem e muito, tanto para
a questão afetiva, quanto para o cultivo de amor pela leitura. Eles são ótimos como
porta de entrada. Talvez logo no início seu filho (ou você mesma) não se interesse pelas
poesias do Olavo Bilac, ou pelos contos de fada do Andrew Lang, porém, com o passar
do tempo e do hábito de ler livros ilustrados e mais simples, isso vá se desenvolvendo
e tornando então factível a leitura de uma literatura mais robusta. Além disso, a leitura
precisa ser também prazerosa nesse início de “jornada” queremos que nossos filhos se
interessem e apreciem esse tempo e não que fujam desse momento.

Momento mágico

Outra objeção à leitura em voz alta é que ela não é possível de ser feita porque “a
casa é agitada e cheia de problemas, diferente da casa de Fulana, em que os filhos são
limpos, cheirosos, muito educados e passam todo o tempo com cara de inteligentes.”
Isso é um engano. Na casa de todo mundo a vida é cheia de surpresas e contratempos,
bem na hora da leitura em voz alta chega uma visita chata, o menor derruba o iogurte
no chão, os irmãos se chutam por debaixo da mesa, quebra a tampa da máquina de

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lavar… enfim, na vida real essas coisas acontecem todos os dias, por isso não é possível
esperarmos o dia perfeito para começar a leitura em voz alta. Precisamos fazê-la no dia
e circunstância em que estamos, caso contrário ela jamais será feita.

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