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(Westcott 02)
Mary Balogh
Sinopse
Humphrey Wescott, Conde de Riverdale, morreu,
deixando para trás uma fortuna e um segredo
escandaloso que alterará para sempre a vida da sua
família ― enviando uma filha numa viagem de auto-
descoberta.
Com o casamento dos seus pais declarado
bígamo, Camille Westcott é agora ilegítima e sem
título. Procurando evitar as armadilhas da sua antiga
vida, ela sai de Londres para ensinar no orfanato em
Bath onde morava sua meia-irmã, recentemente
descoberta. Mas logo que se instala, ela tem de
pousar para um retrato encomendado por sua avó e
suportar um artista que mexe com todos os seus
nervos.
Professor de arte no orfanato que já fora a sua
casa, Joel Cunningham foi contratado para pintar o
retrato da nova e altiva professora. Mas à medida
que Camille pousa para Joel, o seu desprezo mútuo
logo se transforma em desejo. E é apenas o vínculo
entre eles que lhes permitirá enfrentar a dura
tempestade que vem a seguir.
Capítulo Um
Depois de vários meses a esconder-se, chafurdar
na miséria e negação, raiva e vergonha, e qualquer
outra emoção negativa que alguém quisesse
chamar, Camille Westcott finalmente assumiu o
controle da sua vida numa manhã ensolarada e
ventosa de julho. Com a idade de vinte e dois anos.
Ela não precisou assumir nada antes da grande
catástrofe, alguns meses antes, porque ela era uma
lady ― Lady Camille Westcott para ser exata, filha
mais velha do Conde e da Condesa de Riverdale ― e
as ladys não tinham ou precisavamde controle sobre
suas próprias vidas. Em vez disso, outras pessoas o
tinham: pais, criadas, enfermeiras, instrutores,
ajudantes, maridos, sociedade em geral ―
especialmente a sociedade em geral, com as suas
inúmeras regras e expectativas, a maioria delas não
escritas, mas, no entanto, reais e a ter em atenção.
Mas ela agora precisava se afirmar. Ela não era
mais uma dama. Ela agora era apenas a Srta.
Westcott, e nem tinha certeza do nome. Um
bastardo tinha direito ao nome do seu pai? A vida
surgiu à frente dela como um estranho assustador.
Ela não tinha ideia do que esperar. Não havia mais
regras, nem mais expectativas. Não havia mais
sociedade, nem mais lugar ao qual pertencesse. Se
ela não assumisse o controle e fizesse alguma coisa,
quem faria?
Era uma questão retórica, é claro. Ela não tinha
perguntado em voz alta no ouvido de ninguém, mas
ninguém teria uma resposta satisfatória para lhe
dar, mesmo que a tivesse. Então ela estava fazendo
algo sobre isso sozinha. Era isso ou se encolher num
canto escuro em algum lugar para o resto dos seus
dias. Ela não era mais uma dama, mas era, por
Deus, uma pessoa. Ela estava viva ― ela estava
respirando. Ela era alguém.
Camille e Abigail, sua irmã mais nova, moravam
com sua avó materna numa das imponentes casas
do prestigiado Royal Crescent em Bath. Estava no
topo de uma colina, acima da cidade,
esplendidamente visível a quilômetros de distância,
com sua extensa curva interior, de grandes casas
georgianas todas juntas como numa só, num parque
aberto, inclinado diante dele. Mas a visão funcionava
em ambos os sentidos. De qualquer janela virada
para a frente, os habitantes do Crescent podiam
contemplar a cidade e através do rio até aos
edifícios além para o campo e para as colinas à
distância. Era certamente uma das mais lindas
vistas de toda a Inglaterra, e Camille ficou
encantada com ela quando era criança, sempre que
sua mãe a trouxera juntamente com o seu irmão e
irmã em visitas prolongadas a seus avós. No
entanto, perdeu algo do seu encanto agora que ela
era forçada a viver ali no que parecia muito como o
exílio e a desgraça, embora nem ela nem Abigail
fizessem nada para merecer qualquer desses
destinos.
Ela esperou, naquela manhã ensolarada, até que
sua avó e sua irmã saíssem, como costumavam
fazer, para a Pump Room, perto da Bath Abbey para
se juntar ao passeio do mundo da moda. Não que o
mundo da moda fosse tão impressionante como já
havia sido no apogeu de Bath. Agora, um grande
número de habitantes,eram idosos que gostavam da
tranquilidade da vida ali, com arredores imponentes.
Mesmo os visitantes tendiam a ser pessoas mais
velhas que vinham para tomar as águas e imaginar,
com razão ou não, que sua saúde seria melhor por
suportar uma provação tão desagradável. Alguns
mergulhavam até ao pescoço, embora agora fosse
considerado um pouco extremo e antiquado.
Abigail gostava de ir ao Pump Room, pois aos
dezoitos anos ansiava por passeios e companhia e,
aparentemente, sua beleza jovem e requintada era
muito admirada, embora não recebesse muitos
convites para festas privadas ou até
entretenimentosmais públicos. Ela não era, afinal,
bastante respeitável, apesar do fato de que a Avó
assim o ser. Camille sempre se recusou firmemente
a acompanhá-las em qualquer lugar que pudessem
conhecer outras pessoas num ambiente social. Nas
raras ocasiões em que ela saiu, geralmente com
Abby, ela fê-lo com discrição, um véu sobre o seu
chapéu e puxado para o rosto, mais do que qualquer
outra coisa, ela temia ser reconhecida.
Não hoje, no entanto. E, ela prometeu a si
mesma, nunca mais. Ela terminou com a vida
antiga, e se alguém a reconhecesse e escolhesse a
ignorar, então ela faria o mesmo.
Era hora de uma nova vida e novos conhecidos. E
se houvesse alguns solavancos para ultrapassar, na
mudança de um mundo para outro, bem, então, ela
iria lidar com eles.
Depois que a Avó e Abby saíram, ela vestiu um
dos mais severos e conservadores dos seus vestidos
de caminhada, e vestiu um chapéu a combinar. Ela
colocou sapatos confortáveis, já que o tipo de
chinelos delicados que ela sempre usava, nos dias
em que ela viajava para todos os lugares de
carruagem, eram inúteis, agora,exceto para usar
dentro de casa. Finalmente, pegando suas luvas e a
bolsa, saiu para a rua de paralelepípedos sem
esperar que um servo abrisse e segurasse a porta
para ela e desconfiasse do seu estado solitário,
talvez até tentando detê-la ou enviar um lacaio
atrás dela. Ela ficou de fora durante alguns
instantes, assaltada por um terror repentino
próximo a pânico e se perguntando se, talvez,
depois de tudo, ela devesse voltar para dentro para
se esconder na escuridão e na segurança.
Em toda a sua vida, ela raramente havia
ultrapassado os limites de casa ou de um parque
muralhado, não acompanhada por um membro da
família ou um servo, muitas vezes por ambos. Mas
esses dias acabaram, embora a Avó, sem dúvida,
argumentasse a ideia. Camille ergueu os ombros,
ergueu o queixo e saiu na direção de Bath Abbey.
O seu verdadeiro destino, no entanto, era uma
casa em Northumberland Place, perto do Guildhall e
do mercado e da Ponte Pulteney, que atravessava o
rio Avon com elegância grandiosa. Era um edifício
indistinguível de muitos dos outros edifícios
georgianos com os quais a cidade abundava, sólido
e agradável aos olhos e de três andares, sem contar
o porão e o sótão, exceto que este era na verdade
três casas que tinham sido unidas numa só para
acomodar uma instituição.
Um orfanato, para ser precisa.
Foi onde Anna Snow, mais recentemente Lady
Anastasia Westcott, agora duquesa de Netherby,
passou sua infância.
Foi onde ela tinha ensinado durante vários anos
depois que cresceu. Foi a partir dalí que ela tinha
sido convocada para Londres por uma carta de
advogado. E foi em Londres que seus caminhos e
suas histórias haviam convergido, Camille e
Anastasia, aquela que se elevaria a alturas além das
suas fantasias mais loucas, a outra a ser
mergulhada nas profundidades mais fundas do que
dos seus piores pesadelos.
Anastasia, também uma filha do Conde de
Riverdale, tinha sido enviada ao orfanato ― por ele
― numa idade muito jovem, após a morte da sua
mãe. Ela cresceu lá, apoiada financeiramente, mas
muito ignorante de quem ela era. Ela nem sabia o
seu nome verdadeiro. Ela era Anna Snow, Snow era
o nome de solteira da mãe, embora também não
tivesse percebido isso. Camille, por outro lado,
nascida três anos depois de Anastasia, cresceu
numa vida de privilégio, riqueza e direito com Harry
e Abigail, seus irmãos mais novos.
Nenhum deles sabia da existência de Anastasia.
Bem, Mama sabia, mas sempre assumiu que o filho
de Papa, sustentado secretamente num orfanato em
Bath, era o filho dele com uma amante. Foi só
depois da sua morte, há vários meses que a verdade
surgiu.
E que verdade catastrófica que foi!
Alice Snow, mãe de Anastasia, era a esposa
legítima de Papa. Eles se casaram secretamente em
Bath, embora ela o tivesse deixado um ano ou mais
depois, quando a sua saúde piorou e retornou à casa
dos seus pais perto de Bristol, levando a filha deles
com ela. Ela tinha morrido, algum tempo depois de
tuberculose, mas só quatro meses depois que Papa
casou com Mama num casamento bígamo e ilegal. E
porque o casamento era nulo e sem efeito, todos os
aspetos desse casamento eram ilegítimos. Harry
perdeu o título que recentemente herdara, Mama
perdeu todo o estatussocial e voltou de novo para o
nome de solteira ― agora se chamava de Miss
Kingsley e morava com seu irmão, o clérigo tio
Michael, num vicariato em Dorsetshire. Camille e
Abigail não eram mais Lady Camille e Lady Abigail.
Tudo o que tinha sido deles havia sido retirado. O
primo Alexander Westcott ― ele era na verdade um
segundo primo ― herdara o título e as propriedades,
apesar do fato de ele ter genuinamente recusado
ambos, e Anastasia havia herdado todo o resto.
Todo o resto era a grande fortuna que Papa havia
acumulado depois do seu casamentobígamo com
Mama. Todo o resto também incluía Hinsford Manor,
a casa de campo em Hampshire onde eles sempre
viveram quando não estavam em Londres, e
Westcott House, a sua residência em Londres.
Camille, Harry, Abigail e a mãe deles não ficaram
com nada.
Como golpe final, Camille perdeu o seu noivo. O
visconde Uxbury a convocou no próprio dia em que
ouviram a notícia. Mas, em vez de oferecer a
simpatia e o apoio esperados, e em vez de levá-la
para o altar, com umalicença especial acenando na
mão, ele tinha sugerido que ela enviasse uma
notificação para os jornais anunciando o fim do seu
noivado para que não sofresse a vergonha adicional
de ser descartada. Sim, um golpe esmagador,
apesar de Camille nunca ter falado disso.
Justamente quando parecia que não poderia descer
mais baixo ou ter uma dor maior para suportar,
poderia haver e havia, mas a dor pelo menos era
algo que ela poderia manter para si mesma.
Então era ali que ela e Abigail estavam vivendo
em Bath sob a caridade da sua avó, enquanto Mama
definhava em Dorsetshire e Harry estava em
Portugal ou Espanha como um oficial subalterno com
o 95º Regimento de Infantaria, também conhecido
como As Espingardas, contra as forças de Napoleão
Bonaparte. Ele não poderia ter comprado a comissão
por conta própria, é claro. Avery, o duque de
Netherby, primo e tutor de Harry, comprou para ele.
Harry, na sua defesa, se recusou a permitir que
Avery o estabelecesse num regimento de cavalaria
mais prestigiado e, portanto, mais caro e deixou
claro que não permitiria que Avery comprasse
qualquer promoção para ele.
Que tipo de ironia seria ela acabar no lugar onde
Anastasia cresceu, Camille se perguntou, não pela
primeira vez, quando ela descia a colina. O orfanato
tinha agido como um ímã desde que ela veio para
ali, atraindo-a muito contra a sua vontade. Ela
passou porele algumas vezes com Abigail e
finalmente ― por causa dos protestos de Abby ―
entrou para se apresentar à responsável, Senhorita
Ford, que lhe deu uma visita à instituição enquanto
Abby permaneceu lá fora sem um acompanhante.
Tinha sido uma provação e um alívio, vendo
realmente o lugar, percorrendo o chão que
Anastasia deve ter percorrido mil vezes ou mais.
Não era o tipo de horror de uma instituição, que às
vezes se ouvia falar.
O prédio era espaçoso e limpo. Os adultos que
odirigiam pareciam bem vestidos e alegres. As
crianças que viu estavam decentemente vestidas e
bem-comportadas e pareciam estar bem
alimentadas. A maioria deles, explicou a Srta. Ford,
foi adequadamente e até mesmo generosamente
apoiada por um pai ou membro da família, embora a
maioria desses adultos escolheu permanecer
anônimo. Os outros eram apoiados por benfeitores
locais.
Um desses benfeitores, Camille tinha ficado
espantada ao saber, embora de nenhuma criança
específica, era a sua própria avó. Por algum motivo,
ela recentemente tinha visitadoe concordou em
equipar a sala de aula com uma grande estante e
livros para preenchê-la. Porque ela sentiu a
necessidade de fazê-lo, Camille não sabia, tal como
não compreendia a sua própria ##
constranger/forçar/obrigar/necessitar<<compulsão
para ver o prédio e realmente entrar. A Avó
certamente não se sentiria mais disposta em relação
a Anastasia do que ela. Aliás menos, na verdade.
Anastasia era pelo menos a meia-irmã de Camille,
mas ela não era nada para a Avó, além de ser a
evidência visível de um casamento que privara a sua
própria filha da identidade que aparentemente tinha
sido dela por mais de vinte anos. Meu Deus, Mama
tinha sido Viola Westcott, Condessa de Riverdale,
durante todos esses anos, embora na verdade o
único desses nomes para os quais tinha tido
qualquer reivindicação legal era Viola.
Hoje Camille voltava ao orfanato sozinha. Anna
Snow tinha sido substituída por outra professora,
mas a Senhorita Ford havia mencionado, de
passagem durante a anterior visita, que a Senhorita
Nunce talvez não permanecesse muito mais tempo
por lá. Camille havia insinuado com uma
impulsividade que a deixara intrigada e alarmada,
que ela podia estar interessada em preencher o
cargo, se a professora se demitisse. Talvez a
Senhorita Ford se estivesse esquecido ou não a
tivesse levado a sério. Ou talvez tenha julgado
Camille inadequada ao cargo. No entanto, ela não
havia informado Camille quando a Senhorita Nunce
realmente saiu.
Foi por acaso que a Avó viu o aviso para um novo
professor no jornal de ontem e o tinha lido em voz
alta para suas netas.
O que diabos, Camille se perguntou, enquanto se
aproximava do fundo da colina e virava em direção
de Northumberland Place, ela sabia sobre ensinar?
Especificamente, o que ela sabia sobre ensinar a
um grupo supostamente grande de crianças, de
todas as idades e habilidades e de ambos os sexos?
Ela franziu a testa, e um jovem casal se
aproximando dela ao longo do pavimento saiu
inteligentemente fora do seu caminho como se uma
presença terrível estivesse se debruçando sobre
eles. Camille nem se apercebeu.
Por que diabos ela deveria implorar para poder
ensinar órfãos no lugar onde Anastasia cresceu e
ensinou? Ela ainda antipatizava, ressentia e, sim,
até odiava a ex ― Anna Snow.
Não importava que ela soubesse que estava a ser
injusta.
Afinal, não era culpa de Anastasia que Papa se
comportasse tão desprezivelmente, e ela sofreu as
consequências por vinte e cinco anos antes de
descobrir a verdade sobre si mesma.
Também não importava que Anastasia tivesse
tentado abraçar os seus irmãos recém-descobertos
como família e que tivesse oferecido mais de uma
vez para partilhar tudo o que havia herdado com
eles e permitir que suas duas meias irmãs
continuassem a viver com a sua mãe em Hinsford
Manor, que agora pertencia a ela. Aliás, a sua
generosidade simplesmente tornou mais difícil
gostar dela. Como ousou lhes oferecer uma porção
do que sempre foi deles por direito, como se ela
estivesse fazendo um grande e gracioso favor? O
que de certa forma, ela estava.
Era uma hostilidade puramente irracional, é
claro, mas as cruas emoções não eram razoáveis. E
as emoções de Camille ainda eram tão cruas quanto
feridas abertas que nem sequer começaram a curar.
Então, porque exatamente ela estava indo ali?
Ela parou no passeio fora das portas principais do
orfanato durante alguns minutos, debatendo a
questão como se ela ainda não tivesse feito isso
ontem e ao longo deuma noite de sono agitado e
longos períodos de vigília. Foi só porque sentiu a
necessidade de fazer algofazer algo com a vida
dela? Mas não haviacom a vida dela? Mas não havia
outras coisas mais adequadas que ela poderia
foutras coisas mais adequadas que ela poderia fazer
em vezazer em vez disso? E se ela devedisso? E se
ela deveria ensinar, não haveria posições maisia
posições mais respeitáveisrespeitáveisrespeitáveis
aaa quequeque elaelaela pudessepudessepudesse
aspirar?aspirar?aspirar? HaviaHaviaHavia
escolasescolasescolas dedede meninas gentis em
Bmeninas gentis em Bath, e sempre havia gente á
procura dete á procura de governantas bem-
criadascriadas parapara asas suassuas filhas.filhas.
MasMas aa suasua necessidade de ir anecessidade
de ir ali hoje não tinha realmente nada a ver
comnada a ver com qualquer desejo de ensinar, não
é? Issoe ensinar, não é? Isso era … Bem, o queBem,
o que era?
A necessidade de calçar os sapatos deA
necessidade de calçar os sapatos de Anna Snow
paraAnna Snow para descobrir como eles eram? Que
pensamento absolutamentedescobrir como eles
eram? Que pensamento absolutamentedescobrir
como eles eram? Que pensamento absolutamente
horrível. Mas se ela ficasse mais tempo ahorrível.
Mas se ela ficasse mais tempo ali, ela perderia ai,
ela perderia a coragem e se encontraria
voltandopara tráscoragem e se encontraria
voltandopara trás, subindo a colina,subindo a colina,
perdida, derrotada,, abjeta e qualquer outra coisa
horrível queabjeta e qualquer outra coisa horrível
que pudesseudesse pensar.pensar. AlémAlém
disso,disso, ficarficar alii eraera
desconfortáveldesconfortável.
Embora fosse julho e o sol estivessejulho e o sol
estivesse a brilhar, ainda era, ainda era manhã e ela
estava à sombra do prédio. A ruamanhã e ela estava
à sombra do prédio. A rua tambémtambém estava
agindo como um tipo de funilndo como um tipo de
funil para um vento forte.
Ela deu um passo à frente,Ela deu um passo à
frente, levantou a pesada aldravatou a pesada
aldrava da porta, hesitou por apenas um momento,
e depoisporta, hesitou por apenas um momento, e
depois a deixouporta, hesitou por apenas um
momento, e depois cair. Talvez lhe recusassemcair.
Talvez lhe recusassem o emprego. Que grande
alívioemprego. Que grande alívio seria.
Joel Cunningham estava se sentindo no topo do
mundoJoel Cunningham estava se sentindo no topo
do mundoJoel Cunningham estava se sentindo no
topo do mundo quando ele saiu da cama naquela
manhã. O sol de julhoquando ele saiu da cama
naquela manhã. O sol de julhoquando ele saiu da
cama naquela manhã. O sol de julho entrou nos
seus aposentosem seus aposentos assim que ele
afastou as cortinasassim que ele afastou as cortinas
de cada janela para deixá-lo entrar, enchendo-os de
luz e calor. Mas não foi apenas o perfeito dia de
verão que levantou o seu humor. Esta manhã, ele
estava tomando tempo para apreciar a sua casa. Os
seus aposentos ― plural.
Ele tinha trabalhado arduamente nos doze anos
desde que ele deixou o orfanato aos 15 anos e se
instalou num pequeno quarto no último andar de
uma casa na Grove Street, a oeste do rio Avon.
Tinha trabalhado num talho enquanto frequentava a
escola de arte. O anônimo benfeitor que pagou a
sua permanência no orfanato ao longo da sua
infância pagou também as taxas escolares e cobriu o
custo dos suprimentos escolares básicos, embora,
para o resto, ele estivesse sozinho. Ele persistiu na
sua pintura, quer na escola e no emprego enquanto
trabalhava,sempre que podia.
Muitas vezes, depois de pagar seu aluguel, ele
teve que fazer a escolha entre comer e comprar
suprimentos extras, e comer nem sempre ganhou.
Mas esses dias estavam distantes. Ele estava
sentado no exterior do Pump Room, no quintal da
abadia numa tarde, alguns anos atrás, esboçando
um vagabundo empoleirado sozinho num banco
próximo e partilhando uma crosta de pão com os
pombos. Esboçar pessoas que ele via perto dele nas
ruas era algo que Joel adorava fazer e algo para o
qual, um dos seus professores de arte lhe dissera,
tinha um talento genuíno. Ele não tinha se
apercebido do cavalheiro sentado a seu lado até que
o homem falou. O resultado da conversa que se
seguiu foi uma encomenda para pintar um retrato
da esposa do homem. Joel estava com medo de
falhar, mas ele ficou satisfeito com a forma que a
pintura ficou. Ele não tentou fazer a dama parecer
mais nova ou mais bonita do que era, mas tanto o
marido quanto a esposa, ficaram genuinamente
encantados com o que eles chamavam de realismo
do retrato. Eles mostraram-no a alguns amigos e o
recomendaram a outros.
O resultado foi mais dessas encomendas e, em
seguida, ainda mais, até que ele foi bastante vezes
inundado por
##exigências/solicitar/requerer/desejar<<
demandas pelos seus serviços e desejou que
houvesse mais horas no dia. Ele conseguiu deixar o
seu emprego, há dois anos atrás, e aumentar os
seus honorários. Recentemente, ele os tinha
aumentado de novo, mas ninguém ainda se
queixara de que ele estava cobrando demais.
Chegara a hora de começar a procurar um estúdio
para trabalhar. Mas no mês passado, a família que
ocupava o resto do último andar da casa em que ele
tinha seu quarto tinha comunicado a sua saída, e
Joel perguntou ao senhorio se ele podia alugar todo
o andar, que estava completamente mobilado. Ele
teria o luxo de um estúdio considerável para
trabalhar, bem como uma sala de estar, um quarto
de dormir, uma cozinha que funcionava também
como sala de jantar e um banheiro.
Pareciaum verdadeiro palácio para ele.
A família se mudou na manhã anterior, na noite
passada, comemorou sua mudança de sorte,
convidando cinco amigos, todos do sexo masculino,
a partilhar as tortas de carne que comprou no talho,
um bolo da padaria ao lado, e algumas garrafas de
vinho. Tinha sido umas agradáveis boas-vindas.
― Você vai desistir do orfanato, suponho ―
Marvin Silver, o funcionário do banco que morava no
segundo andar, tinha dito depois de brindar o
sucesso contínuo de Joel.
― De ensinar lá, você quer dizer? ― perguntou
Joel.
― Você não é pago, não é? ― Marvin havia dito
― E parece que você precisa de todo o seu tempo
para cumprir com aquilo que você é pago, muito
bem, pelo que eu ouvi.
Joel ofereceu o seu tempo, duas tardes por
semana, na escola do orfanatoensinando arte para
aqueles que queriam fazer um pouco mais do que
era ensinado nas aulas de arte dadas pelo professor
regular. Na verdade, ensinar não era a palavra
correta para o que ele fazia com essas crianças. Ele
pensou no seu papel ser mais na natureza de
inspirá-los a descobrir e expressar a sua visão e
talento artístico individual. Ele costumava ansiar por
aquelas tardes. No entanto, elas não tinham sido tão
divertidas ultimamente, embora isso não tivesse
nada a ver com as crianças ou com sua vida cada
vez mais ocupada além das paredes do orfanato.
― Eu sempre vou ter tempo para ir lá ― ele
assegurou a Marvin, e um dos outros companheiros
deu-lhe uma palmada com muita alegria, nas
costas.
― E o que dizer da Sra. Tull? ― Perguntou ele,
erguendo as sobrancelhas ― Você está pensando
trazê-la para aqui para cozinhar e limpar para você,
entre outras coisas, Joel?
Como a Sra. Cunningham, talvez? Você
provavelmente pode permitir-se ter uma esposa.
Edwina Tull era uma bonita e amável viúva, cerca
de oito anos mais velha que Joel. Parecia ter sido
deixada bem de vida pelo seu falecido marido,
embora, nos três anos que Joel a conhecia, ele
suspeitava que ela entretinha outros amigos do sexo
masculino, além dele próprio, e que aceitou
presentes ― presentes monetários ― deles, como
fez com ele.
O fato de ele não ser, muito possivelmente, o seu
único amigo do sexo masculino não o incomodou
particularmente. Na verdade, ele ficou bastante feliz
por nunca ter havido qualquer sugestão de
compromisso entre eles. Ela era respeitável,
carinhosa e discreta, e lhe deu companhia feminina
regular e uma conversa animada, bem como bom
sexo. Ele estava satisfeito com isso. Seu coração,
infelizmente, há muito tempo estava noutro lugar, e
ele ainda não o tinha recuperado, embora o objeto
da sua devoção tivesse se casado recentemente com
outra pessoa.
― Estou bastante feliz em desfrutar do meu lar
expandido, sozinho, durante um tempo ainda ―
disse ele ― Além disso, acredito que a Sra. Tull está
bastante feliz com a independência dela.
Seus amigos acabaram com a comida e o vinho e
ficaram até depois da meia-noite. Tinha se sentido
muito bem em poder receber na sua própria casa e,
realmente, ter cadeiras suficientes para que todos
se sentassem.
Agora ele caminhavapelas divisões em que vivia
e trabalhava, com o sol da manhã e se divertia
novamente ao perceber que todo esse espaço era
seu. Ele havia percorrido um longo caminho em doze
anos. Ele ficou de pé diante do cavalete no estúdio e
olhou para o retrato que ele conseguiu deixar
apoiado. Além de alguns pequenos acabamentos,
estava pronto para ser entregue. Ele ficou
particularmente satisfeito com isso porque lhe tinha
dado problemas. A Sra.
Dance era uma dama apagada que
provavelmente nunca tinha sido bonita. Ela era
branda e amável e, no início, perguntou a si mesmo
como diabo ele iria pintá-la de tal forma que ela e
seu marido ficassem satisfeitos. Ele lutou com a
pergunta por várias semanas, enquanto ele a
esboçava e conversava com ela, e descobriu que sua
amabilidade era calorosa e genuína e que tinha sido
duramente conquistada: ela tinha perdido três dos
seus sete filhos na infância e outro, pouco antes de
terminar a escola. Uma vez que Joel apagou a
palavra preconceituosa “branda” como uma
característica, ele começoua vê-la como uma pessoa
genuinamente amável e teve grande prazer em
pintar o seu retrato. Ele esperava que tivesse
capturado o que ele viu como a essência do seu
bem, suficiente para que os outros também vissem.
Mas, embora seus dedos coçassem para pegar no
pincel, para fazer esses toques finais, ele teve que
resistir. Ele tinha combinado com a Srta. Ford, em ir
à escola do orfanato no início do dia de hoje, já que
ele tinha um encontro, com outro cliente, esta tarde,
o qual não conseguiu mudar para um horário
diferente. Mas mesmo o pensamento de ir cedo à
escola não conseguiu estragaro seu humor, pois ele,
hoje, teria a sala de aula para si epara o seu
pequeno grupo e,se fosse afortunado, durante o
resto do verão.
Enquanto a Srta. Nunce tinha ensinado na escola
do orfanato, Joel e o seu grupo tiveram que se
espremer num terço da sala de aula, estritamente
calculado ― ela realmente tinha medido com uma
longa fita emprestada de Roger, o porteiro, e
marcou com giz. Eles tinham se aglomerado com
seus cavaletes e todas as outras parafernálias
necessárias de uma aula de arte, enquanto ela
conduzia as suas lições nos outros dois terços. Seu
raciocínio tinha sido que ele tinha um terço do
número total de alunos, enquanto ela tinha dois
terços. O equipamento artístico não influenciou sua
visão.
Mas na semana passada, a Srta. Nunce demitiu-
se, antes que ela fosse expulsa á força.
Joel não estava lá no momento, mas não
lamentou sua partida. Não fora apenas a mulher se
intrometer no seu terço da sala, pisando
cuidadosamente a linha de giz para não a
esborratar, dar seu veredicto sobre as pinturas em
andamento e, invariavelmente, externar uma
opinião depreciativa. Ela era uma mulher opinativa,
sem alegria, que desprezava claramente todas as
crianças e os órfãos em particular. Parecia ter como
sua missão pessoal prepará-los para serem humildes
e servis e conhecerem o seu lugar ― esse lugar
sendo o nível inferior da escada social, ou talvez um
pouco baixo do degrau inferior. Às vezes ele
pensava que ela até se ressentia mesmo,tendo que
ensinar-lhes a ler, escrever e calcular. Ela tinha feito
todo o possível para reprimir sonhos e aspirações,
talentos e imaginação, o que, na opinião dela, era
inapropriado para a sua condição de órfãos.
Ela saiu depois que Mary Perkins foi correndo
para encontrar a senhorita Ford para lhe dizer que
Miss Nunce estava batendo em Jimmy Dale. Quando
a Srta. Ford chegou à cena, Jimmy estava parado na
esquina, de costas para a sala, se contorcendo de
dor de um traseiro dolorido. A Srta.
Nunce, ao que parece, o descobriu lendo um dos
novos livros ― infelizmente para ele, um dos
volumes maiores e mais pesados ― e realmente riu
sobre algo dentro das suas páginas.
Ela o pegou, instruiu-o a ficar de pé e se
debruçar sobre sua mesa, e sovou-o uma dúzia de
vezes com ele antes de enviá-lo para a esquina para
contemplar os seus pecados. Ela ainda estava
segurando o livro e arengando a classe sobre os
males do uso trivial do tempo e da leveza do espírito
vazio quando Miss Ford apareceu. Ao vê-la, a
senhorita Nunce virou o olhar triunfante sobre a
matrona.
― E isso ― ela declarou ― é o que acontece em
permitir livros na sala de aula.
Os livros, juntamente com uma grande estante
para exibi-los, foram doados há pouco por uma Sra.
Kingsley, uma rica e proeminente cidadã de Bath.
Miss Nunce tinha sido bastante enfática na sua
oposição, naquela ocasião. Livros, ela tinha avisado,
simplesmente dariam ideias aos órfãos.
A senhorita Ford havia atravessado a sala até
Jimmy, virou-o pelos ombros e perguntou porque
ele estava lendo na aula. Ele tinhaexplicado que seu
exercício aritmético estava terminado e que ele não
queria ficar ocioso. Com certeza, todas as suas
somas foram concluídas e todas estavam corretas.
Ela o enviou de volta ao assento depois de retirar o
xale e dobrá-lo várias vezes até um quadrado para
ele se sentar. Ela pediu aos monitores do dia que se
encarregassem da sala e convidou a senhorita
Nunce a sair, muito para o desapontamento das
crianças. Joel ficaria desapontado também se ele
estivesse lá. Mas então, o incidente não teria
acontecido se ele estivesse lá. Nenhuma criança no
orfanato era agredida. Era uma das regras imutáveis
de Miss Ford.
Menos de quinze minutos depois ― as crianças e
alguns dos funcionários de outras partes do prédio
ouviram a voz levantada da professora alternando
com silêncios que provavelmente indicavam que a
Srta. Ford estava falando ― Miss Nunce afastou-se
do prédio com Roger, alguns passos atrás dela, para
fechar a porta, para que ela não mudasse de ideia.
Joel se alegrou, não só porque achou difícil
trabalhar com ela, mas porque ele cuidava das
crianças ― todas elas.
Ele também ficou muito aliviado, porque Miss
Nunce tinha sucedido a Anna Snow, que tinha saído
alguns meses atrás, e que tinha sido tudo o que ela
não era. Anna tinha trazido a luz do sol para a sala
de aula.
Era Anna quem ele amava, embora tentasse
obstinadamente usar o tempo passado sempre que
ele considerava os seus sentimentos por ela. Ela era
uma mulher casada agora. Ela era a duquesa de
Netherby.
FIM