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É atribuiçã o expressa da Defensoria Pú blica da Uniã o postular perante os Sistemas Internacionais
de Direitos Humanos, vide art. 4º, VI da Lei Complementar nº. 80/94: Art. 4º Sã o funçõ es
institucionais da Defensoria Pú blica, dentre outras: VI – representar aos sistemas internacionais de
proteçã o dos direitos humanos, postulando perante seus ó rgã os; (Redaçã o dada pela Lei
Complementar nº 132, de 2009).
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Regulamento da CIDH – Artigo 37(1.) Com a abertura do caso, a Comissã o fixará o prazo de quatro
meses para os peticioná rios apresentarem suas observaçõ es adicionais quanto ao mérito. As partes
pertinentes dessas observaçõ es serã o transmitidas ao Estado em questã o, para que este apresente
suas observaçõ es no prazo de quatro meses.
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I – BREVE SÍNTESE DOS FATOS
Desacato
Art. 331 - Desacatar funcioná rio pú blico no exercício da funçã o ou
em razã o dela:
Pena - detençã o, de seis meses a dois anos, ou multa.
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DECRETO-LEI Nº 2.848, DE 7 DE DEZEMBRO DE 1940. Disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del2848compilado.htm
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tipo penal do art. 331 com a mencionada convençã o, isso por si só ,
nã o tem o condã o de revogar a norma do art. 331, do CP. Diante de
tais razõ es, permanece em vigor a norma penal aludida”.(fl. 38)
5
CIDH. Relatório Anual 1994. Capítulo V: Relatório sobre a Compatibilidade entre as Leis de Desacato
e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Título III. OEA/Ser. L/V/II.88. doc. 9 rev.
<Disponível em: http://www.cidh.oas.org/annualrep/94span/cap.V.htm#CAPITULO%20V>, Acesso em:
2 ago. 2020.
6
CIDH. Declaração de Princípios Sobre Liberdade de Expressão, Relatório Anual da CIDH, 2000,
Volume III, Relatório da Relatoria para a Liberdade de Expressão, Capítulo II (OEA/Ser.L/V/II.111
Doc.20 rev. 16 abril 2001). Disponível em:
https://www.cidh.oas.org/basicos/portugues/s.Convencao.Libertade.de.Expressao.htm>
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Caso Palamara Iribarne Vs. Chile8 e Mémoli Vs. Argentina9 -, demonstram que
a permanência do crime de desacato nos países da região é
significativamente perniciosa às sociedades democráticas, colocando em
risco toda a construção internacional protetiva à liberdade de expressão.
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Corte I.D.H., Caso Kimel Vs. Argentina. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 2 de maio de 2008.
Série C, N° 177.
8
Corte I.D.H., Caso Palamara Iribarne Vs. Chile. Sentença de 22 de novembro de 2005. Série C, N° 135.
9
Corte I.D.H., Caso Mémoli Vs. Chile. Sentença de 22 de agosto de 2013. Série C No. 265.
10
CIDH. Relatório Anual 1994. Capítulo V: Relatório sobre a Compatibilidade entre as Leis de Desacato
e a Convenção Americana sobre Direitos Humanos. Título III. OEA/Ser. L/V/II.88. doc. 9 rev.
<Disponível em: http://www.cidh.oas.org/annualrep/94span/cap.V.htm#CAPITULO%20V>, Acesso em:
2 ago. 2020.
“5. (...) A CIDH concluiu que tais leis não são compatíveis com
a Convenção porque se prestavam ao abuso como um meio
para silenciar ideias e opiniões impopulares, reprimindo,
desse modo, o debate que é crítico para o efetivo
funcionamento das instituições democráticas. A CIDH
declarou, igualmente, que as leis de desacato proporcionam
um maior nível de proteção aos funcionários públicos do que
aos cidadãos privados, em direta contravenção com o
princípio fundamental de um sistema democrático, que
sujeita o governo a controle popular para impedir e controlar
o abuso de seus poderes coercitivos. (...) Inclusive aquelas
leis que contemplam o direito de provar a veracidade das
declarações efetuadas, restringem indevidamente a livre
expressão porque não contemplam o fato de que muitas
críticas se baseiam em opiniões, e, portanto, não podem ser
provadas. As leis sobre desacato não podem ser justificadas
dizendo que seu propósito é defender a “ordem pública” (...),
11
http://www.oas.org/es/cidh/expresion/showarticle.asp?artID=533&lID=4
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já que isso contraria o princípio de que uma democracia, que
funciona adequadamente, constitui a maior garantia da
ordem pública. Existem outros meios menos restritivos, além
das leis de desacato, mediante os quais o governo pode
defender sua reputação frente a ataques infundados, como a
réplica através dos meios de comunicação ou impetrando
ações cíveis por difamação ou injúria. Por todas estas razões,
a CIDH concluiu que as leis de desacato são incompatíveis
com a Convenção, e instou os Estados que as derrogassem.”
12
Ver em “Relatório Anual da CIDH, 2000”, Volume III, Relatório da Relatoria para a Liberdade de
Expressão, Capítulo II (OEA/Ser.L/V/II.111 Doc.20 rev. 16 abril 2001).
13
https://www.oas.org/es/cidh/prensa/comunicados/2018/238OPport.pdf
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b) Jurisprudência da Corte IDH
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Corte I.D.H., Caso Mémoli Vs. Chile. Sentença de 22 de agosto de 2013. Série C No. 265.
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No sentido de apoiar e estimular o ambiente de
redemocratização dos países da região, o Sistema Interamericano passou a
se dedicar profundamente e intensamente à criação de referências,
normativas e precedentes que abordassem as principais problemáticas com
relação à efetivação do direito à liberdade de expressão e informação,
visando garanti-los em todas as suas formas e manifestações. Assim,
historicamente, a Corte Interamericana de Direitos Humanos passou a
estabelecer interpretações cada vez mais avançadas e valorativas ao artigo
13 da Convenção Americana de Direitos Humanos.
15
Corte I.D.H., Caso Palamara Iribarne Vs. Chile. Sentença de 22 de novembro de 2005. Série C, N° 135.
16
Corte I.D.H., Caso Palamara Iribarne Vs. Chile. Sentença de 22 de novembro de 2005. Série C, N°
135, , § 82
17
Corte I.D.H., Caso Herrera Ulloa Vs. Costa Rica. Sentença de 2 de julho de 2004. Série C, N°
107, § 128
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Nesse sentido, o artigo 13.2 da Convenção Americana - na
esteira do que já havia sido anteriormente previsto pelo artigo 19 do Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos - estabelece o teste das três
partes, isto é, qualquer restrição ao direito à liberdade de expressão deve
cumprir com três condições básicas: (1) a restrição deve ter sido definida de
forma precisa e clara por meio de uma lei formal e material, (2) a restrição
deve se orientar à proteção de objetivos legítimos previstos na Convenção, e
(3) a restrição deve ser necessária e proporcional em uma sociedade
democrática.
18
Corte I.D.H., Caso Kimel Vs. Argentina. Mérito, Reparações e Custas. Sentença de 2 de maio
de 2008. Série C, N° 177.
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Caso Kimel Vs. Argentina. Sentença de 2 de maio de 2008. Série C, N° 177, § 54;
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da Comissão Interamericana acerca da incompatibilidade do desacato com a
Convenção Americana, já que isso porque o artigo 13.2 é taxativo ao
determinar que qualquer restrição à liberdade de expressão deve ser
necessária e proporcional. Dessa forma, os padrões internacionais apontam
que as sanções penais são desproporcionais e excessivas, restringindo
sobremaneira o debate aberto sobre temáticas de interesse público.
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Caso Kimel Vs. Argentina. Sentença de 2 de maio de 2008. Série C, N° 177, § 39;
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suposta venda irregular de jazigos públicos no cemitério da cidade por parte
de uma sociedade mutuária, a Corte Interamericana, em um julgamento não-
unânime, apesar de não afastar a condenção por injúria, manteve o seu
posicionamento quanto à necessidade de se proteger amplamente as
manifestações de interesse público, afirmando que expressões sobre
funcionários públicos no exercício das suas funções estão cobertas pelo
princípio da máxima proteção, não sendo passíveis de sanções penais 21.
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Caso Kimel Vs. Argentina. Sentença de 2 de maio de 2008. Série C, N° 177, § 78
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liberdade de expressão, a decisão no âmbito do caso Mémoli obteve ampla
repercussão regional. Entretanto, faz-se essencial reforçar que a própria
Corte destacou que este caso, somente obteve um entendimento distinto do
caso envolvendo Eduardo Kkimel, pois considerou-se que as críticas
proferidas por Carlos e Pablo Mémoli não foram direcionadas aà
funcionários ou figuras públicas.
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CIDH. Alegações perante a Corte Interamericana de Direitos Humanos no Caso Herrera
Ulloa Vs. Costa Rica.Transcritos em: Corte I.D.H., Caso Herrera Ulloa Vs. Costa Rica. Sentença
de 2 de julho de 2004. Série C, N° 107, § 101
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É este o sentido do art. 78 do Có digo Penal brasileiro: Art. 78 - Durante o prazo da suspensã o, o
condenado ficará sujeito à observaçã o e ao cumprimento das condiçõ es estabelecidas pelo
juiz. (Redaçã o dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 1º - No primeiro ano do prazo, deverá o
condenado prestar serviços à comunidade (art. 46) ou submeter-se à limitaçã o de fim de semana
(art. 48). (Redaçã o dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) § 2° Se o condenado houver reparado o
dano, salvo impossibilidade de fazê-lo, e se as circunstâ ncias do art. 59 deste Có digo lhe forem
inteiramente favorá veis, o juiz poderá substituir a exigência do pará grafo anterior pelas seguintes
condiçõ es, aplicadas cumulativamente: (Redaçã o dada pela Lei nº 9.268, de 1º.4.1996) a) proibiçã o
de freqü entar determinados lugares; (Redaçã o dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) b) proibiçã o
de ausentar-se da comarca onde reside, sem autorizaçã o do juiz; (Redaçã o dada pela Lei nº 7.209,
de 11.7.1984) c) comparecimento pessoal e obrigató rio a juízo, mensalmente, para informar e
justificar suas atividades. (Redaçã o dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984).
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Art. 33, c, do Có digo Penal brasileiro. (Decreto-Lei nº 2.848/1940 disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm).
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liberdade, é inegá vel que há um risco concreto de que isso venha a acontecer,
podendo ser ele submetido ao cumprimento da pena inclusive em regime fechado.
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A reincidência no direito penal brasileiro tem diversas consequências, tais como o agravamento
da pena (art. 61, I, do Có digo Penal), impedir a concessã o da suspensã o condicional da pena em
caso de crime doloso (art. 77, I, do Có digo Penal), impede a substituiçã o da pena privativa de
liberdade por multa (art. 60,§2º e 44,§2º, do Có digo Penal), aumentar o prazo para obtençã o de
livramento condicional (art. 83, II), entre outras. (Decreto-Lei nº 2.848/1940 disponível em
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/del2848compilado.htm).
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DO CONTEXTO DO CASO E O ATUAL CENÁRIO DA LIBERDADE DE
EXPRESSÃO
(...)
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Grupo de Pesquisa sobre Liberdade de expressão no Brasil. Núcleo de Estudos
Constitucionais da PUC-Rio. Fábio Carvalho Leite (coord.). Desacato no JECRim e Tribunal de
Justiça do Rio de Janeiro. Disponível em: https://www.plebpuc.science/desacato-no-jecrim-
e-no-tjrj. Acesso em 2 de ago. 2020.
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militares e agentes penitenciários, os percentuais aumentam para 98.7%
(TJRJ) e 79.1% (JECrim).
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ARTIGO 19. Projetos de Lei sobre Protestos, 2017. Disponível em:
<https://projetosdelei.protestos.org/>
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Vale relembrar que, fruto de uma audiência temática
realizada na Comissão sobre o tema, a Relatoria para Liberdade de
Expressão da Comissão Interamericana de Direitos Humanos, em conjunto
com a Relatoria das Nações Unidades, se manifestou-se em uma Nota
Técnica33 endereçada ao Congresso Nacional brasileiro acerca do PLS
236/2012, no sentido de não somente apoiar a descriminalização do
desacato, bem como,mas também defenderndo a revogação de todos os crimes
contra a honra (calúnia, injúria e difamação). Na nota técnica, a Relatoria,
inclusive, demonstrou o quanto outros países da região já avançaram na
revogação deste tipo penal e, assim, consequentemente, na efetivação do
controle de convencionalidade em seus países.
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Corte I.D.H., Caso Mémoli Vs. Chile. Sentença de 22 de agosto de 2013. Série C No. 265, §
146.
35
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7210.htm
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Vale lembrar, ainda, que o dano moral experimentado pela vítima
decorre nã o só da condenaçã o por crime cuja tipificaçã o atenta contra os direitos
humanos, mas do fato de a Repú blica Federativa do Brasil nã o ter cumprido a sua
obrigaçã o de retirar de sua legislaçã o penal o crime de desacato, em clara violaçã o
à obrigaçã o de respeitar e garantir os direitos humanos, estabelecida nos artigo 1º
e 2º da Convençã o Americana sobre Direitos Humanos. Assim, a reparaçã o por
danos morais também assume o cará ter de responsabilizar o Estado pelo
descumprimento do dever de agir com boa fé em relaçã o à s obrigaçõ es
internacionais assumidas quando da ratificaçã o da Convençã o Americana sobre
Direitos Humanos, nos termos do que estabelece o artigo 26 da Convençã o de
Viena sobre o Direito dos Tratados, também ratificada pelo Brasil.36
IV – DOS PEDIDOS
3.
4. 4. Seja proferida recomendaçã o à Repú blica Federativa do Brasil para que:
a. f. Retire de sua legislaçã o o artigo 299 do Có digo Penal Militar, que
prevê o crime de desacato militar, com pena de detençã o, de seis
meses a dois anos, devendo ser revistas todas as condenaçõ es
realizadas pelo Poder Judiciá rio brasileiro a esse título, bem como
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recomendada a retirada do nome de todo e qualquer registro de
natureza criminal em relaçã o a pessoas condenadas pelo crime de
desacato.
Retire de sua legislação o artigo 299 do Código Penal Militar, que prevê o crime de desacato
militar, com pena de detenção, de seis meses a dois anos, devendo ser revistas todas as
condenações realizadas pelo Poder Judiciário brasileiro a esse título, bem como recomendada
a retirada do nome de todo e qualquer registro de natureza criminal em relação a pessoas
condenadas pelo crime de desacato.
Sã o Paulo, xxxxxx