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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR DESEMBARGADOR PRESIDENTE DO EGRÉGIO TRIBUNAL

DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

XXXX, brasileira, divorciada, aposentada, portadora da cédula de identidade


RG n° XXXXXX, inscrita no CPF/MF sob o n° XXXXXX, residente e domiciliada na Rua, n° X, XX, CEPX ,
Sã o Paulo - SP, por intermédio do Defensor Pú blico que esta subscreve, dispensado de apresentar
instrumento de procuraçã o por força do inciso XI do art. 128 da Lei Complementar 80/94, vem,
tempestivamente, à presença de V. Exa., com fulcro nos artigos 522 e ss. do Có digo de Processo Civil,
interpor o presente recurso de AGRAVO DE INSTRUMENTO com Pedido de Concessão de Efeito
Ativo, pelos motivos expostos nas razõ es em anexo.

Instrui o presente có pia integral dos autos judiciais referidos, cumprindo o


quanto determinado pelo art. 525, I, do Có digo de Processo Civil.

Esclarece que deixa de apresentar có pias dos instrumentos de mandato deste


subscritor e do procurador do Estado, por serem os patronos destas partes integrantes de ó rgã os
jurídicos dispensados de apresentar procuraçã o por força de lei.

Requer, ainda, seja atribuído ao presente recurso efeito ativo, na aná lise do
presente pelo Desembargador Relator.

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Requer, por fim, que as intimações pessoais do Defensor Público subscritor
sejam efetuadas na sede da Defensoria Pú blica, na Avenida Liberdade, nº 32 - 10º andar – Centro,
aguardando o processamento do presente, independentemente de preparo, por se tratar de
beneficiá rio da justiça gratuita, e, ao final, seja conhecido e provido.

Termos em que, pede deferimento.

Sã o Paulo, 14 de abril de 2014.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX

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Minuta de Agravo de Instrumento

Agravante: XXXX
Agravado: ESTADO DE SÃO PAULO
Origem: Autos nº XXXX
5ª Vara da Fazenda Pública da Comarca da Capital – SP

EGRÉ GIO TRIBUNAL,


COLENDA CÂ MARA,
ÍNCLITOS JULGADORES.

I – Síntese do feito e da decisão recorrida

O Sr., filho da agravante, atuava na Legiã o Estrangeira Francesa, servindo a


marinha daquela legiã o. Segundo as autoridades daquela naçã o, seu falecimento teria se dado em
decorrência de cometimento de suicídio, ocorrido nas dependências da prisã o francesa.

Ocorre que a agravante, juntamente com sua família, têm motivos concretos
para nã o acreditar na versã o oficial explicitada: pairam suspeitas contundentes de que teria sido
assassinado, especialmente diante dos relatos daquele de que viria sofrendo maus tratos e de que, a
despeito das dificuldades, nunca tiraria a pró pria vida.

Apó s 100 dias do falecimento de Josefá , o suposto corpo chegou ao Brasil


lacrado, impossibilitando o seu reconhecimento. Ressalta-se, ainda, que nã o foi realizada perícia pelo
Instituo Médico Legal.

Em decorrência dos fatos, a agravante ingressou com a presente açã o judicial,


buscando a exumaçã o do cadá ver e o exame de DNA, além da perícia do cadá ver para aná lise da causa
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mortis – tudo pautado no direito humano à verdade e à informaçã o, bem como na reflexa violaçã o do
direito à integridade dos familiares.

É evidente o risco de perecimento do direito em decorrência do tempo,


materializado especificamente na deterioraçã o dos restos mortais e na inviabilizaçã o da identificaçã o
pelos familiares do corpo, bem como a detecçã o em perícia de elementos há beis para a constataçã o da
causa mortis e até, no limite, prejuízo à colheita segura de material para exame de DNA. Portanto,
pleiteou-se a antecipaçã o dos efeitos da tutela em face do Estado de Sã o Paulo.

Ao analisar tal pedido, apó s esclarecimentos anteriormente solicitados, o MM.


Juízo a quo concedeu parcialmente a tutela pretendida pela agravante, determinando que “Efetuada a
exumação, diante dos argumentos alinhados na inicial e documentos que a instruem, defiro o pedido
para que o Estado realize exame de DNA e perícia nos restos mortais, para que se verifique se há sinais de
lesão, pelo Instituto de Criminalística do Estado de São Paulo – IMESC” (fls. 84). Entendeu, todavia,
desnecessá ria decisã o judicial que a autorize a exumaçã o, na medida em que o pedido poderia ser
formalizado diretamente pelos parentes pró ximos de Josefá .

À s fls. 89/91, a agravante se manifestou no sentido de que seria impossível


que ela providenciasse a exumaçã o do corpo de seu filho, eis que, em contato com o Cemitério
Memorial Jardim Santo André, foi informada de que só poderia ocorrer a exumaçã o apó s pelo menos
três anos da data do ó bito, conforme art. 1º do anexo da Portaria 01/2011 do Centro de Vigilâ ncia
Sanitá ria, item 13.1.

Desta forma, efetivou-se emenda à inicial para inclusã o no polo passivo do


Cemitério Memorial Jardim Santo André, onde se encontram os restos mortais de Josefá, bem como, a
título de tutela antecipada, a autorizaçã o judicial para exumaçã o do cadá ver de Josefá , ainda que nã o
transcorrido o prazo de três anos de seu falecimento.

Diante disso, o MM. Juízo à s fls. 113 indeferiu a inclusã o do Cemitério


Memorial Jardim Santo André no polo passivo, “porque estranho à relação jurídica ora debatida”. Do
mesmo modo, indeferiu o pedido de autorizaçã o judicial para exumaçã o do cadá ver em razã o do item
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13.1 do anexo I da Portaria 01/2011 do Centro de Vigilâ ncia Sanitá ria – prazo mínimo de 3 anos para a
realizaçã o da exumaçã o, em virtude de questõ es sanitá rias e de saú de pú blica.

A referida decisã o, com todas as vênias, nã o deve prevalecer, afrontando a


legislaçã o processual vigente e, notadamente, dispositivos constitucionais e internacionais acerca dos
direitos vindicados.

II – Da tempestividade do recurso

A Defensoria Pú blica somente foi intimada da decisã o agravada, pessoalmente


(como lhe garante o art. 128, I da LC 80/94), com a vinda dos autos no dia 27/03/2014 à DPE.

Sendo assim, e considerando a prerrogativa dos membros da Defensoria


Pú blica, contida no mesmo dispositivo mencionado, de contagem em dobro de todos os prazos
processuais, resta evidente a tempestividade do recurso manejado.

III – Das razões do pedido de reforma da decisão

Como se demonstrará a seguir, para além da contrariedade à legislaçã o


processual vigente, a decisã o que indeferiu a inclusã o no polo passivo do Cemitério, bem como nã o
concedeu a ordem judicial autorizadora da exumaçã o viola frontalmente direitos humanos de maior
grandeza da autora.

Ora, a demanda em questã o tem por lastro o direito fundamental à verdade,


largamente reconhecido nos sistemas internacionais (global e interamericano) de proteçã o aos
Direitos Humanos e incorporado à ordem constitucional pelo §2º do artigo 5º da Lei Maior.

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Nas palavras do Professor André de Carvalho Ramos (destaques
acrescentados):

“O direito à verdade consiste na exigência de toda informação de interesse


público, bem como exigir o esclarecimento de situações inverídicas
relacionadas a violações de direitos humanos. Tem natureza individual e
coletiva, pois interessa a toda comunidade o esclarecimento das situações de
desrespeito aos direitos humanos. Tem dupla finalidade: o conhecimento e
também o reconhecimento das situações, combatendo a mentira e a negação de
eventos, o que concretiza o direito à memória”.1

Na espécie, resta evidente que a forma como houve o envio do cadá ver ao
Brasil, lacrado, sem possibilidade de abertura para reconhecimento pela família, bem como as
circunstâ ncias obscuras da morte do filho da autora, trazem suspeita razoá vel sobre a justificativa
oficial oferecida pelo Estado estrangeiro.

Ainda, é certo que as cartas revelam relatos de maus tratos e ameaças sofridas,
levantando questionamentos que perpassam a possibilidade de açõ es da mais alta gravidade, como
execuçã o sumá ria, tortura ou mesmo desaparecimento forçado – este ú ltimo potencializado pela falta
de reconhecimento o cadá ver e de realizaçã o de exame de DNA apto a constatar que o corpo enviado
efetivamente pertence a Josefá .

Importa notar que a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos


Humanos aponta que este tipo de indefiniçã o, para além da violaçã o do direito à verdade – o que, por
si só , já seria de gravidade suficiente – também traz prejuízo direto ao direito à integridade psíquica
dos familiares afetados por tais circunstâ ncias.

Em meio a um sem-nú mero de decisõ es na matéria, imperiosa a citaçã o


daquela proferida em caso envolvendo o Estado brasileiro, notadamente o Caso Gomes Lund e
Outros (Guerrilha do Araguaia) vs. Brasil (destaques acrescentados):

1
RAMOS, André de Carvalho. Curso de Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 2014, p. 623.
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“235. A Corte considerou em numerosos casos que os familiares das vítimas
de violações dos direitos humanos podem ser, ao mesmo tempo, vítimas.
A esse respeito, este Tribunal considerou que se pode presumir um dano à
integridade psíquica e moral dos familiares diretos de vítimas de certas
violações de direitos humanos, aplicando uma presunção juris tantum a
respeito de mães e pais, filhas e filhos, esposos e esposas, companheiros e
companheiras permanentes (doravante “familiares diretos”), sempre que
corresponda à s circunstâ ncias particulares do caso. No caso desses
familiares diretos, cabe ao Estado descaracterizar essa presunção. [...].

239. No presente caso, a violação do direito à integridade pessoal dos


mencionados familiares das vítimas verificou-se em virtude do impacto
provocado neles e no seio familiar, em funçã o do desaparecimento forçado de
seus entes queridos, da falta de esclarecimento das circunstâncias de sua
morte, do desconhecimento de seu paradeiro final e da impossibilidade de
dar a seus restos o devido sepultamento. [...].

240. A esse respeito, a Corte lembra que, conforme sua jurisprudência, a


privação do acesso à verdade dos fatos sobre o destino de um desaparecido
constitui uma forma de tratamento cruel e desumano para os familiares
próximos. [...]

241. Adicionalmente, a Corte considera que a violação do direito à


integridade dos familiares das vítimas se deve também à falta de
investigações efetivas para o esclarecimento dos fatos, à falta de
iniciativas para sancionar os responsá veis, à falta de informação a respeito
dos fatos e, em geral, a respeito da impunidade em que permanece o caso, que
neles provocou sentimentos de frustraçã o, impotência e angú stia. [...]”.

Ocorre que a manutençã o do estado de indefiniçã o e falta de informaçã o (leia-


se: violaçã o a Direitos Humanos) vem se dando em virtude de dois fatores igualmente relevantes: (i) a
omissã o do Estado de Sã o Paulo em realizar os exames médicos pertinentes (já determinados em
antecipaçã o de tutela); e, em especial para a finalidade do presente recurso, (ii) o impedimento por
parte do Cemitério da realização da exumação, necessária para o cumprimento da ordem de
tutela antecipada.

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Nesse ponto, resta claro que a inclusã o do Cemitério no polo passivo é medida
de rigor, afastando-se a conclusã o da r. decisã o atacada de que este nã o faria parte da relaçã o jurídica
em discussã o.

Ora, o direito vindicado mediante exercício da açã o (CRFB, art. 5º, XXXV) é o
direito à verdade. Este vem sendo obstado por açã o nã o apenas do Estado de Sã o Paulo, como também
– e principalmente – do Cemitério, que inviabiliza a exumaçã o e, portanto, os exames médicos aptos a
atestar a verdade dos fatos e interromper a violaçã o de direitos da família do de cujus.

Ou seja: por evidente que, juntamente com a Fazenda Pú blica do Estado de Sã o


Paulo, o Cemitério também se contrapõ e à pretensã o da autora, gerando a lide em comento ao
qualificar o conflito de interesses pela resistência oposta ao direito – tudo a configurar a hipó tese da
clá ssica concepçã o de Carnelutti.

Evidenciada a lide, bem como a necessidade de uma decisã o com


substitutividade à vontade das partes, dotada de definitividade e tomada mediante provocaçã o, torna-
se clara a imperatividade da integração do Cemitério à relação processual instaurada, eis que
se situa no cerne da discussão fático-jurídica subjacente.

Assim, o Cemitério Memorial Jardim Santo André possui legitimidade para


figurar no polo passivo da açã o, eis que integra a relaçã o jurídica debatida.

Nesse sentido, a título de exemplo, o seguinte acó rdã o do E. TJMG,


solucionando questã o referente à aplicaçã o de multa em açã o que impunha obrigaçã o de fazer
(exumaçã o) ao cemitério:

EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - EXUMAÇÃO DE CADÁVER - MULTA


DIÁRIA - DESCUMPRIMENTO OBRIGAÇÃ O DE FAZER - SÚ MULA 410 STJ -
INTIMAÇÃ O PESSOAL - PERÍCIA – DESNECESSIDADE

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O cumprimento substancial do comando judicial afasta a aplicaçã o de
astreintes, quando a pretensã o da parte, em favor da qual foi cominada, é
objetivamente satisfeita. 
A realizaçã o de perícia para certificar o cumprimento de determinaçã o judicial
só se mostra pertinente quando há nos autos indícios de que tenha ocorrido
algum equívoco na execuçã o da medida. 
De conformidade com a Sú mula 410 do STJ, a cobrança de multa pelo
descumprimento de obrigaçã o de fazer ou nã o fazer deve ser precedida de
intimaçã o pessoal do devedor. 
AGRAVO DE INSTRUMENTO CV Nº 1.0145.10.015515-2/003 - COMARCA DE
JUIZ DE FORA - AGRAVANTE (S): ESPOLIO DE ACY MONTEIRO DE REZENDE -
AGRAVADO (A)(S): IRMANDADE SANTA CASA MISERICÓ RDIA JUIZ FORA E
OUTRO (A)(S), CEMITÉRIO PARQUE DA SAUDADE. REL. DESA. EVANGELINA
CASTILHO DUARTE.

É dizer: no caso, a autorizaçã o de exumaçã o é condiçã o necessá ria para a


efetividade da tutela pleiteada (já concedida de forma antecipada), ou seja, a realizaçã o dos exames no
corpo. Isto torna parte também essencial o Cemitério que impõ e entraves indevidos à consecuçã o do
ato.

Merece, pois, reforma a decisã o atacada neste ponto, admitindo-se a inclusã o


do Cemitério no polo passivo da relaçã o processual.

Todavia, nã o apenas aí é necessá rio o reparo.

Também no aspecto material subjacente, ou seja, do pedido formulado em face


da parte em questã o (Cemitério), merece a questã o soluçã o jurídica diversa da adotada na origem – o
que se dá por motivos complementares.

Em primeiro lugar, houve a invocaçã o de norma infraconstitucional de


terceiro escalã o para se negar a efetividade de um direito fundamental de envergadura internacional e
materialmente constitucional (CRFB art. 5º, §2º).

Com isto, nã o se pode pactuar.


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Ora, como se sabe, a Proteçã o Judicial é a garantia ú ltima, no â mbito
doméstico, aos Direitos Humanos. Nã o por outra razã o, a sistemá tica atual, pautada pela supremacia
das normas enunciativas de direitos fundamentais, permite a fulminaçã o de atos normativos que as
contrariem, mediante exercício do controle de constitucionalidade e do controle de
convencionalidade, este ú ltimo exortado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos em seus
ú ltimos informes anuais, e o primeiro largamente exercido, na forma difusa, por nossos Juízes e
Tribunais.

Assim, nã o se pode simplesmente alegar o direito infraconstitucional como


impossibilidade de efetivaçã o de direitos fundamentais, como na espécie. Aquele deve ser confrontado
com as normas enunciativas de direitos humanos e ceder à sua prevalência, eis que vigente na
atualidade o postulado da máxima efetividade dos direitos humanos, que deve ser combinado com
o princípio pro homine na aná lise da ordem jurídica.

Para dizer o ó bvio: o “item 13.1, do anexo I, da Portaria 01/2011 do Centro


de Vigilância Sanitária” não tem o condão de revogar a Convenção Americana de Direitos
Humanos ou mesmo a Constituição Federal, nã o podendo prevalecer sobre tais diplomas.

Com efeito, já se salientou que a jurisprudência da Corte Interamericana de


Direitos Humanos reconhece na hipó tese dos autos a violaçã o do direito à integridade pessoal dos
familiares das vítimas, previsto expressamente no artigo 5º da Convençã o Americana de Direitos
Humanos.

Mais ainda, é certo que o mesmo Tribunal Interamericano assenta em sua


jurisprudência o direito à verdade, extraindo-o também da garantia de acesso à informaçã o
assegurada pela Convençã o Americana de Direitos Humanos em seu artigo 13. Nesse sentido,
novamente cita-se excerto da Sentença proferida no Caso Gomes Lund e Outros (Guerrilha do Araguaia)
vs. Brasil (destaques acrescentados):

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“200. Adicionalmente, este Tribunal também determinou que toda pessoa,
inclusive os familiares das vítimas de graves violações de direitos
humanos, tem o direito de conhecer a verdade. Por conseguinte, os
familiares das vítimas e a sociedade devem ser informados de todo o
ocorrido com relação a essas violações. De igual maneira, o direito a
conhecer a verdade também foi reconhecido em diversos instrumentos das
Naçõ es Unidas e pela Assembleia Geral da Organizaçã o dos Estados
Americanos”.

Note-se que se está diante de obrigaçõ es internacionais assumidas com a


ratificaçã o e incorporaçã o definitiva de tratados de direitos humanos, sendo certo que sua violaçã o –
seja por ato do executivo, legislativo ou judiciá rio – poderá levar à responsabilizaçã o do Estado
brasileiro no plano internacional, o que é de todo inconveniente à sua consolidaçã o como um Estado
Democrá tico de Direito respeitador dos Direitos Humanos, para o que diuturnamente as instituiçõ es
que compõ em o sistema de Justiça (como a Defensoria Pú blica, Ministério Pú blico e Judiciá rio) lutam.

Rememore-se que as normas internacionais de direitos humanos, como se


destinam ao universalismo propalado em sua definiçã o (v. Declaraçã o Universal dos Direitos
Humanos de 1948 e Declaraçã o e Programa de Açã o de Viena de 1993) encontram seu intérprete
má ximo nos ó rgã os internacionais destinados a seu monitoramento e controle. É dizer: no plano
interamericano, há vinculação dos Estados não apenas ao texto da Convenção, mas também – e
especialmente – à interpretação que lhe é conferida pela Corte Interamericana de Direitos
Humanos.

Daí o porquê da citaçã o do Caso Gomes Lund e outros (Guerrilha do Araguaia)


vs. Brasil: se já nã o é possível deixar de observar a jurisprudência em geral da Corte acerca dos
diversos direitos consagrados na Convençã o, é de todo injustificá vel que se ignore interpretaçã o dada
em caso envolvendo o próprio Estado brasileiro aos dispositivos do Pacto de Sã o José da Costa
Rica, sendo absolutamente inescusável a violação reiterada dos direitos ali esmiuçados, na
forma como determinado pelo Tribunal Interamericano.

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Nã o bastasse isto, é cediço que os direitos à integridade pessoal e à
informaçã o também possuem previsã o na Constituiçã o Federal, em seu artigo 5º, aquele como
consectá rio do direito à vida (caput), expressamente anotado quanto ao preso (inciso XLIX), e este
diretamente previsto no inciso XIV:

XIV - é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da


fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Portanto, além da Convençã o Americana e da sua jurisprudência autorizada, é


também incidente na hipó tese, diretamente, a Constituiçã o, fazendo prevalecer sua força normativa,
bem como a supremacia de que sã o dotadas suas normas.

Assim, evidencia-se, ab initio, que a restriçã o imposta por normativa


infraconstitucional, na espécie, é de todo incompatível com o ordenamento jurídico-constitucional,
restando claro que a limitação temporal trienal à exumação obsta de maneira desproporcional e
desarrazoada a obtenção do direito à verdade, necessária para fazer cessar a violação à
integridade pessoal dos familiares de Josefá, em especial a autora, sua mã e.

Ou seja, mesmo que seja admitida como norma geral, a limitaçã o deverá ceder
aos interesses e direitos em jogo na hipó tese concreta, fazendo prevalecer aqueles consagrados pela
normativa internacional e constitucional em comento, privilegiada de forma indiscutível pela ordem
jurídica.

Para além disso, a leitura da pró pria normativa específica em questã o,


invocada na origem, revela a abertura da regulamentaçã o sanitá ria à s hipó teses de requisiçã o judicial,
bem como de interesse pú blico – ambas incidentes na espécie. De se observar, nesse sentido, seu item
13.4:

“Fora dos prazos estabelecidos no item 13.1, a exumação de corpos pode ser
autorizada, previamente, pela autoridade sanitária estadual nos casos de

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interesse público comprovado, bem como nos de pedido de autoridade judicial
para instruir inquéritos”

A previsã o, entretanto, nã o era sequer necessá ria: a inafastabilidade da


jurisdiçã o tem assento constitucional (art. 5º, XXXV). Nesse ponto, aliá s, é descabido falar em “pedido”
da autoridade judicial: haverá verdadeira ordem, a qual deverá ser obedecida.

A conjugaçã o das hipó teses é gritante: trata-se de caso em que buscado o


direito à verdade, o qual, por definiçã o (ver supra), representa interesse pú blico. Mais ainda, a
realizaçã o dos exames tem conexã o intrínseca à suspeita de ocorrência de graves violaçõ es de Direitos
Humanos, cuja constataçã o, ainda que indiciá ria, encarta dever de investigaçã o por parte do Estado,
seja diante do cará ter cogente e erga omnes das obrigaçõ es internacionais referentes à proteçã o dos
Direitos Humanos, seja em face da normativa específica de regência no tocante aos crimes cometidos
em seu detrimento (v. Estatuto de Roma, L. 9455/97, entre outros).

Por fim, há ainda elemento de ordem prá tica a ser considerado: o efeito
deletério do transcurso temporal em relaçã o aos vestígios de eventuais violaçõ es graves a direitos
humanos, bem como no tocante aos pró prios elementos identificadores da causa mortis e do material
genético do cadá ver enviado ao Brasil.

Ou seja, nã o fosse a clareza da diretriz normativa, apontando para a


inexigibilidade do lapso temporal na hipó tese concreta, também impõ e a mesma soluçã o a
consideraçã o sobre os aspectos fá ticos trazidos aos autos – eis que, com a demora, corre-se o risco de
uma tutela jurisdicional absolutamente ineficiente e ineficaz, diante do perecimento dos vestígios.

Assim, por qualquer â ngulo que se observe a questã o, com todas as vênias,
deve ser reformada a decisã o de origem, nã o apenas para determinar a inclusã o do Cemitério no polo
passivo, como também – e especialmente – para ordenar a exumaçã o do cadá ver, em prestígio aos
direitos vindicados na açã o subjacente.

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Nã o é demais relembrar que, com relaçã o aos direitos humanos, é dever do
Estado garantir e respeitar esses direitos (Convençã o Americana de Direitos Humanos, artigo 1.1),
inclusive mediante adequaçã o da normativa interna e adequaçã o de outras medidas necessá rias para
torna-los efetivos (artigo 2).

A agravante, até o presente momento, se encontra despida de informaçõ es


dotadas de veracidade e precisã o acerca do destino de seu filho. A ú nica esperança que a sua família
detém é a realizaçã o da exumaçã o do corpo e a posterior realizaçã o da perícia para obtençã o de
informaçõ es plausíveis. Ora, foi exatamente por esse motivo que a agravante recorreu ao Poder
Judiciá rio para que tenha consagrado o seu direito fundamental à verdade, de modo a eivá-lo de
eficácia.

Quanto ao anexo da Portaria 01/2011 do Centro de Vigilâ ncia Sanitá ria que
estabelece o prazo mínimo de três anos, contados da data do ó bito, para a feitura da exumaçã o, tem-se
que a observâ ncia de tal disposiçã o neste caso excepcional configuraria uma arbitrariedade.

Portanto, deve ser dado provimento ao presente agravo, para determinar a


inclusão do Cemitério Memorial Jardim Santo André no polo passivo, bem como para autorizar a
exumação imediata dos restos mortais de Josefá, sem necessidade de observâ ncia do lapso trienal.

IV – Da presença dos requisitos autorizadores da concessão de antecipação dos efeitos da tutela


recursal.

O artigo 527, III, do Có digo de Processo Civil determina que “o relator poderá
atribuir efeito suspensivo ao recurso (art. 558), ou deferir, em antecipaçã o de tutela, total ou
parcialmente, a pretensã o recursal, comunicando ao juiz sua decisã o”.

Os argumentos acima aduzidos vislumbram a existência dos dois requisitos


autorizadores da medida de urgência, a saber: verossimilhança do alegado e perigo da demora.
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O requisito da verossimilhança resta amplamente explicitado, por meio de
todos os fatos e argumentos jurídicos aqui aduzidos, evidenciando a necessidade de privilegiar o
direito à verdade, à informaçã o e à integridade pessoal da autora.

Anote-se, inclusive, que já se concedeu em antecipaçã o de tutela a ordem de


realizaçã o de exame de DNA e perícia nos restos mortais de Josefá , uma vez efetuada a exumaçã o. Esta,
portanto, é conditio sine qua non para a salvaguarda dos direitos vindicados e garantia da efetividade
da ordem antecipató ria já expedida – lastreada, também, na verossimilhança e risco de perecimento
do direito.

O perigo na demora, por sua vez, também está presente, nos termos já
expostos supra e, por via reflexa, já reconhecidos quando da concessã o da tutela antecipada no tocante
à realizaçã o dos exames – eis que têm o mesmo fundamento.

Observa-se dos argumentos exaustivamente expostos acima que a decisã o


agravada poderá acarretar sério prejuízo processual à agravante, razã o pela qual requer seja
concedida a antecipaçã o dos efeitos da tutela recursal ao presente agravo para inserir no pó lo passivo
da demanda o Cemitério Jardim Santo André, e ainda, autorizar a exumaçã o do corpo de seu filho
imediatamente.

V - DO PEDIDO

Pelo exposto, requer:

a) seja o recurso conhecido e, ante a demonstraçã o dos requisitos


ensejadores da antecipaçã o de tutela pleiteada, seja concedida em antecipação dos efeitos da tutela

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recursal ao presente agravo a inclusão no polo passivo o Cemitério Jardim Santo André, bem
como a autorização da exumação imediata do corpo de;

b) a intimaçã o do agravado para o eventual oferecimento de resposta ao


agravo, e
c) seja, ao final, dado integral provimento ao recurso, confirmando a
tutela antecipada recursal; e

d) sejam observadas as prerrogativas legais da Defensoria Pú blica, em


especial a intimaçã o pessoal mediante remessa dos autos e a contagem em dobro de todos os prazos
processuais, na forma estatuída pelo art. 128, I da LC 80/94.

Termos em que, pede deferimento.

Sã o Paulo, 14 de abril de 2014.

Defensor(a) Pú blico(a)
Unidade de XXXXXXXXXXX

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