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#1 - Casamento nuncupativo. Homologação

Data de publicação: 12/02/2016

Tribunal: TJRN

Relator: Amaury Moura Sobrinho


Chamada

(…) “Na lição de Sílvio de Salvo Venosa(…) esta última modalidade de casamento permite que até
mesmo a presença da autoridade celebrante seja suprimida, quando não for possível obtê-la, nem a de seu
substituto. Nesse caso, os próprios contraentes conduzem o ato de matrimônio manifestando seu desejo
perante seis testemunhas, que com eles não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, em
segundo grau (art. 1.540). Essas testemunhas devem comparecer dentro de 10 dias perante a autoridade
judicial mais próxima, pedindo que lhes sejam tomadas declarações por termo (art. 1.541; antigo ,art.
200). Essas testemunhas não devem ter parentesco, a fim de cercar de maiores garantias o ato, ao
contrário da regra geral para o matrimônio. Se não comparecerem, podem ser intimadas a requerimento
de qualquer interessado.” (...).

Ementa na Íntegra

Civil e processual civil. Apelação cível. Casamento nuncupativo. Sentença homologatória de termo de
celebração de casamento em iminente risco de vida. Comprovação da existência de vontade inequívoca
do moribundo em convolar núpcias. Inteligência dos artigos 1.540 e 1.541 do código civil. Recurso
conhecido e desprovido. Manutenção da sentença. (TJRN, AC Nº 33398, Relator: Amaury Moura
Sobrinho, 3ª Câmara Cível, J.27/10/2009).

Jurisprudência na Íntegra

Processo:

Julgamento:
27/10/2009
Órgao Julgador:
3ª Câmara Cível
Classe:
Apelação Cível

Apelação Cível nº
Origem: Vara Única da Comarca de Jardim do Seridó/RN.
Apelante: Ministério Público
Apelada: E. D. dos S.
Promotor: Dr. Glauco Coutinho Nóbrega.
Apelado: M. A. M. de A.
Relator: Desembargador Amaury Moura Sobrinho .
EMENTA : CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. CASAMENTO NUNCUPATIVO.
SENTENÇA HOMOLOGATÓRIA DE TERMO DE CELEBRAÇÃO DE CASAMENTO EM
IMINENTE RISCO DE VIDA. COMPROVAÇÃO DA EXISTÊNCIA DE VONTADE INEQUÍVOCA
DO MORIBUNDO EM CONVOLAR NÚPCIAS. INTELIGÊNCIA DOS ARTIGOS 1.540 E 1.541 DO
CÓDIGO CIVIL. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA.

ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos em que são partes as acima identificadas.
Acordam os Desembargadores que integram a 3ª Câmara Cível deste Egrégio Tribunal de Justiça, em
Turma, à unanimidade de votos, em dissonância com o parecer da 20ª Procuradoria de Justiça, em
conhecer e negar provimento à apelação cível, no sentido de manter a sentença recorrida em todos os
seus termos, consoante o voto do Relator, que fica fazendo parte integrante deste.

RELATÓRIO
Trata-se de Apelação Cível interposta pelo Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, contra
sentença proferia pelo Juízo de Direito da Comarca de Jardim do Seridó/RN que, nos autos da Ação de
Habilitação para casamento nuncupativo movida por E. D. dos S., homologou a habilitação para
casamento formulada pelos requerentes, a Sra. E. D. dos S. e o Sr. M. A. M. de A.
À inicial, encontra-se inserto o Termo de Celebração de Casamento em iminente risco de vida, celebrado
no dia 02 do mês de março de 2009, às 16:00hs, no Hospital Padre João Maria, sediado na Comarca de
Currais Novos-RN, onde consta que estando o primeiro nubente, o Sr. M. A. M. de A., em iminente risco
de vida e, estando internado naquela unidade de saúde, bem como diante das testemunhas presentes,
restou iniciados os trabalhos, sendo, por fim, realizado o casamento nuncupativo do Sr. M. A. M. de A. e
da Sra. E. D. dos S., consoante as disposições constantes dos artigos 1.540 e 1.541 do Código Civil.
Restou acostado as certidões de nascimento dos contraentes, bem como o edital de proclamas, sendo o
referido procedimento remetido ao órgão ministerial, que exarou parecer às fls.07/08, o qual requereu
diligências, no sentido de esclarecer a qualificação completa das testemunhas, o nome do Hospital onde
se encontrava internado o requerente e, em seguinda, solicitou audiência para os fins do art. 1.541 do
Código Civil e, bem assim, informações ao Hospital, no qual o requerente se encontrava internado,
acerca da sua sanidade mental.
Despacho da MM. Juíza a quo , designando a data 17 de março de 2009, para a realização da audiência
prevista no artigo 1.541 do Código Civil.
Em audiência, cujo termo encontra-se anexado à fl. 10, restou consignado que a requerente, a Sra. E. D.
dos S., apresentou certidão de casamento realizado na Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, na
Cidade de Jardim do Seridó, no dia 14 de novembro de 1999, ocasião em que a referida afirmou que o
casal não havia casado no civil, por se tratar de processo caro, e que não tinham dinheiro para tal e, bem
ainda que o Sr. M. A. M. de A. trabalhava como ASG do Banco Nordeste e que o referido faleceu na
Cidade de Jardim do Seridó, vítima de cirrose hepática e pancreatite, em seguida, foram ouvidas as
testemunhas, sendo tudo gravado em audiovideo.
Às fls. 12/13, consta termo de audiência, na qual foram ouvidas as testemunhas remanescentes, bem
como ouvido o representante do órgão ministerial, o qual opinou pela não concessão da habilitação de
casamento, haja vista que algumas testemunhas afirmaram que o falecido respondeu a pergunta se era de
livre e espontânea vontade que recebia a requerente como esposa, com gestos involuntários, que se
repetiam por todo tempo, mas que tais gestos não podem ser considerados como afirmação.
Na audiência supracitada, a MM. Juíza singular, sob o fundamento de que embora algumas testemunhas
tenham afirmado que o de cujus não tinha possibilidade de expressar oralmente a sua vontade, os
depoimentos, em sua maioria, demonstraram que a vontade de o moribundo convolar núpcias foi
devidamente caracterizada por gestos de seus membros. Além disso, asseverou que, ficou evidenciado
nos depoimentos de algumas testemunhas que, o Sr. M. A. M. de A. tinha expressado, poucos dias antes,
a vontade de se casar civilmente com a Sra. E. D. dos S., pelo que se providenciou toda a cerimônia
extrajudicial e, bem ainda, que a Certidão de Casamento juntada como último termo, demonstra que os
nubentes conviviam anteriormente em relação de matrimônio, da qual advieram filhos e, via de
consequência, homologou a habilitação para casamento formulada pelos requerentes, face a observância
as exigências legais e inexistência de impedimento.
Irresignado, recorre o Ministério Público do Estado do Rio Grande do Norte, aduzindo em suas razões
recursais, que o casamento foi realizado sem a observância das formalidades legais pois, não houve
manifestação inequívoca da vontade de casar do falecido, nem tampouco as testemunhas forma invocadas
pelo enfermo, vez que no caso concreto foram pela apelada e, ainda, que, o enfermo embora estivesse em
perigo de vida, não estava em seu juízo, estando, portanto, incapaz de manifestar a sua vontade.
Defendeu, também, que, embora os requerentes fossem casados de forma eclesiástica e que desejavam o
casamento civil, o certo é que, não houve a vontade inequívoca do falecido, e que as testemunhas
informaram que o referido quando da celebração do casamento não mais falava e, por conseguinte, os
movimentos não podem ser considerados manifestação de vontade, sendo destituídos de vontade própria,
por não haver consciência, haja vista não estar o falecido em seu juízo normal.
Pediu, por fim, o provimento da apelação, a fim de ser reformada a sentença, com fulcro no artigo 1.541,
I e II, do Código Civil.
Remetido os autos a Procuradoria Geral de Justiça, esta mediante parecer preliminar da 20ª Procuradoria
de Justiça, postulou por diligência, no sentido de intimar a apelada, para, querendo, no prazo legal,
apresentar as suas contrarrazões, sob pena de violação aos princípios constitucionais do contraditório e da
ampla defesa.
Certidão inserta à fl. 33, da Secretaria Judiciária desta Corte de Justiça, a qual atesta que a parte apelada
foi devidamente intimada, sem contudo, apresentar suas contrarrazões.
A 20ª Procuradoria de Justiça, em parecer conclusivo, opinou pelo conhecimento e provimento do
recurso apelatório, a fim de que seja reformada a sentença de primeiro grau, tornando sem efeito o termo
de celebração de casamento em iminente risco de vida entre M. A. M. de A. e E. D. dos S. (fls. 35/40).
É o relatório.

VOTO
Preenchidos os requisitos de admissibilidade, conheço da presente apelação cível.
Trata o presente apelo do inconformismo do Representante do Órgão Ministerial com a decisão da MM.
Juíza a quo , que homologou a habilitação para casamento nuncupativo formulada pelos requerentes, a
Sra. E. D. dos S. e o Sr. M. A. M. de A., sob o argumento de inobservância das exigências legais para a
realização de tal procedimento.
O apelante se insurge contra a sentença, asseverando que a MM. Juíza a quo não considerou que o
casamento foi realizado sem a observância das formalidades legais, haja vista que não houve
manifestação inequívoca da vontade de casar do falecido, nem tampouco as testemunhas foram
convocadas pelo enfermo, vez que, no caso concreto, foram pela apelada e, ainda, que, o enfermo embora
estivesse em perigo de vida, não estava em seu juízo, estando, portanto, incapaz de manifestar a sua
vontade.
No entanto, ao meu ver, entendo que não merece reforma a sentença hostilizada, eis que escorreita.
Prefacialmente, vale destacar que, o casamento nuncupativo é uma modalidade excepcional de realização
de casamento tendo em vista o estado de iminente risco de vida de um dos nubentes.
Nesse contexto, cabe assinalar que, nosso ordenamento jurídico estabeleceu a realização do casamento
nuncupativo diante de situação de urgência como a determinada no artigo 1.540 da atual codificação
privada e, como regra geral de convalidação do casamento nuncupativo, o procedimento especial
disposto no artigo 1.541 do Código Civil e no artigo 76 da Lei nº 6.015/73, a ser observado dentro dos
dez dias subseqüentes à data da celebração.
A doutrina pátria é unânime quando se trata de casamento em "iminente risco de vida ", também
denominado, por analogia ao testamento, de casamento "in articulo mortis" ou "in extremis" , de que tal
modalidade albergada em nosso atual Código Civil, constitui-se uma exceção, haja vista a dispensa de
importantes formalidades, como o processo de habilitação, a publicação dos proclamas e a própria
presença da autoridade celebrante.
O Código Civil, em seu artigo 1.540, estabeleceu a possibilidade do casamento celebrado em caso de
iminente risco de vida de um dos nubentes, bem como dos seus procedimentos no artigo 1.541, nos
seguintes termos. Senão Vejamos:
"Art. 1.540. Quando algum dos contraentes estiver em iminente risco de vida, não obtendo a presença da
autoridade à qual incumba presidir o ato, nem a de seu substituto, poderá o casamento ser celebrado na
presença de seis testemunhas, que com os nubentes não tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral,
até segundo grau."
"Art. 1.541. Realizado o casamento, devem as testemunhas comparecer perante a autoridade judicial mais
próxima, dentro em dez dias, pedindo que lhes tome por termo a declaração de:
I - que foram convocadas por parte do enfermo;
II - que este parecia em perigo de vida, mas em seu juízo;
III - que, em sua presença, declararam os contraentes, livre e espontaneamente, receber-se por marido e
mulher.
§ 1 o Autuado o pedido e tomadas as declarações, o juiz procederá às diligências necessárias para
verificar se os contraentes podiam ter-se habilitado, na forma ordinária, ouvidos os interessados que o
requererem, dentro em quinze dias. § 2 o Verificada a idoneidade dos cônjuges para o casamento, assim o
decidirá a autoridade competente, com recurso voluntário às partes. § 3 o Se da decisão não se tiver
recorrido, ou se ela passar em julgado, apesar dos recursos interpostos, o juiz mandará registrá-la no livro
do Registro dos Casamentos. § 4 o O assento assim lavrado retrotrairá os efeitos do casamento, quanto ao
estado dos cônjuges, à data da celebração. § 5 o Serão dispensadas as formalidades deste e do artigo
antecedente, se o enfermo convalescer e puder ratificar o casamento na presença da autoridade
competente e do oficial do registro."
Em que pese ser criticado por grande parte da doutrina, o casamento nuncupativo, na verdade, trata-se de
um remédio excepcional àqueles casos de extrema urgência, em que um dos nubentes, face ao seu estado
demasiadamente grave, não possui tempo suficiente para se submeter às formalidades preliminares
ordinariamente exigidas, nem tampouco para aguardar o comparecimento da autoridade celebrante.
Na lição de Sílvio de Salvo Venosa, em sua obra Direito Civil ? Atualizada de acordo com o Código
Civil de 2002. Editora Atlas. 6ª edição. São Paulo: Atlas, 2006 ? Volume 6, o referido doutrinador acerca
do casamento nuncupativo, assim pondera, in verbis :
"Esta última modalidade de casamento permite que até mesmo a presença da autoridade celebrante seja
suprimida, quando não for possível obtê-la, nem a de seu substituto. Nesse caso, os próprios contraentes
conduzem o ato de matrimônio manifestando seu desejo perante seis testemunhas, que com eles não
tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, em segundo grau (art. 1.540). Essas testemunhas
devem comparecer dentro de 10 dias perante a autoridade judicial mais próxima, pedindo que lhes sejam
tomadas declarações por termo (art. 1.541; antigo ,art. 200). Essas testemunhas não devem ter parentesco,
a fim de cercar de maiores garantias o ato, ao contrário da regra geral para o matrimônio. Se não
comparecerem, podem ser intimadas a requerimento de qualquer interessado. (...)."
Com efeito, a celebração dar-se-á pessoalmente pelos contraentes, na presença de seis testemunhas, que
com eles não tenham parentesco em linha reta, ou na colateral, em segundo grau. Esta restrição se
justifica pelas próprias características do casamento nuncupativo, tendo o nosso legislador procurado
evitar fraudes, devendo os nubentes se manifestarem, de algum modo, perante estas testemunhas, sua
livre e espontânea vontade em contrair matrimônio
Além disso, insta salientar que, o outro nubente, ante a precariedade de seu estado de saúde, deverá
participar do ato pessoalmente, para que o celebrante e as testemunhas possam atestar não só a existência
do risco de vida, mas também o seu estado de lucidez e consciência, além da vontade livre e espontânea
de se casar com aquela determinada pessoa.
Noutro bordo, importa registrar, também, que, após a realização do casamento nos termos antedito,
deverão as formalidades posteriores elencadas no artigo 1.541 do Código Civil serem atendidas, dentro
do prazo de dez dias, para que o casamento nuncupativo tenha eficácia. In casu , observo que todas as
formalidades foram devidamente atendidas, vez que, o casamento nuncupativo realizado entre os
nubentes foi celebrado pelos próprios contraentes, diante de suas testemunhas, e que tal procedimento
encontra-se de acordo com o determinado na lei, haja vista que esta é a principal característica desta
modalidade de casamento, ou seja, a possibilidade de se realizar sem a presença da autoridade celebrante
competente ou do seu substituto, podendo o ato de matrimônio ser conduzido pelos próprios contraentes,
desde que, manifestem seu desejo de contrair núpcias perante seis testemunhas, que com eles não
tenham parentesco em linha reta, ou, na colateral, em segundo grau.
Destarte, conforme se vê do termo de celebração do casamento carreado aos autos às fls. 02/03, de fato, o
casamento foi realizado apenas estando presentes os contraente e as suas seis testemunhas. De modo que,
dentro do permitido pela legislação.
É cediço, também, que não se faz necessários nestes casos a publicação dos proclamas pois, na hipótese
em apreço, embora conste à fl. 06 os mencionados proclamas, com efeito, não houve publicação,
entretanto, entendo que a mencionada publicação não se faz necessária, visto que esta é uma formalidade
que se exige na regra e não na excepcionalidade do casamento nuncupativo.
Noutro pórtico, cumpre consignar, que, não obstante tenha o apelante asseverado que não houve
manifestação inequívoca da vontade de casar do falecido, nem tampouco as testemunhas foram invocadas
pelo enfermo, vez que, foram pela apelada e, ainda, que, o enfermo embora estivesse em perigo de vida,
não estava em seu juízo, ao meu ver, tais argumentos não procedem.
Isto porque, analisando os documentos acostados aos autos, não há comprovação de que as testemunhas
foram convocadas pela apelada e não pelo enfermo. Ora, se o enfermo se encontrava impossibilitado de
se locomover, vez que estava em iminente risco de vida, estando internado em unidade hospitalar, não
vejo óbice algum que a apelada, na condição de interessada, tenha tomado as providência para que a
convocação do enfermo em relação as testemunhas tenha sido levada a efeito.
Por outro lado, tenho que, de igual modo, não restou demonstrada a ausência de manifestação inequívoca
da vontade de casar do falecido, como sustentou o recorrente, não só porque deve-se considerar o
assentimento mediante gestos, quando a parte não possa expressar a sua vontade de forma oral, mais
também, porque, no caso em tela, as partes além de já conviverem em união estável por vários anos,
inclusive, com filhos oriundos desta união, haviam contraído casamento religioso perante a Paróquia de
Nossa Senhora da Conceição, na data de 14 de novembro de 1999, conforme se extrai da Certidão de
Casamento anexada aos autos à fl. 11, fatos estes, que, por si sós, conduzem a conclusão inexorável da
existência da vontade livre e espontânea do falecido em se casar com a apelada.
Nesse passo, impende ressaltar que a união estável caracteriza-se pela convivência entre homem e
mulher, alicerçada na vontade dos conviventes, de caráter notório e estável, visando a constituição de
família e, bem ainda, que a Carta Magna de 1988 reconhece de forma expressa a união estável, que
adquiriu pela primeira vez sede constitucional, segundo o que está disposto no artigo 226, § 3º, in verbis:
"Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união estável entre o homem e a mulher como
entidade familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em casamento ." (negritei).
Já no concernente ao argumento do recorrente de que o falecido quando da realização do casamento
nuncupativo não se encontrava em seu juízo perfeito, também, neste particular, entendo que não assiste
razão ao apelante, pois não há qualquer evidencia nos autos que comprove, de forma inconteste, que o
moribundo não apresentava lucidez na ocasião, mas apenas que o mesmo só se comunicava por gestos.
Todavia, o fato do falecido se encontrar sem condições de falar, não significa dizer que o mesmo não
apresentava lucidez e consciência capaz de discernir a importância do ato.
É de se notar, ainda, que, não obstante o recorrente tenha afirmado que a MM. Juíza a quo deixou de
observar as formalidades legais, especialmente, a existência da prova inequívoca no tocante a vontade
livre e espontânea do falecido, é inegável que o referido olvidou-se de trazer ao cotejo dos autos provas
cabais do afirmado que pudessem configurar o vício de inexistência de vontade alegado, visto que,
indubitavelmente, não há que se falar em qualquer vício no procedimento em tela capaz de ensejar a
anulação da homologação realizada.
Ademais, não se pode exigir um rigorismo da norma, sob pena de inviabilizar o provimento jurisdicional
pretendido, mormente porque a vontade do legislador foi harmonizar situações preexistentes devendo a
sua compreensão ser ajustada à legislação vigente e, bem ainda, que é lição comezinha que, na aplicação
da lei o juiz deverá atender os fins sociais a que ela se dirige.
Nesses termos, colaciono jurisprudência deste egrégio Tribunal de Justiça, senão vejamos:
"EMENTA: DIREITO CIVIL. FAMÍLIA. CASAMENTO NUNCUPATIVO. PREENCHIMENTO DOS
REQUISITOS LEGAIS. REFORMA DA SENTENÇA.
- O casamento nuncupativo é uma forma especial de celebração de casamento em que, ante a urgência do
caso e por falta de tempo, não se cumprem todas as formalidades estabelecidas nos arts. 192 e seguintes
do antigo Código Civil.
- Inteligência do art. 199, II, parágrafo único do Código Civil.
- Conhecimento e provimento do apelo."
(Apelação Cível nº 2009003339-8. Órgão Julgador: 2ª Câmara Cível. Relator P/ o Acórdão: Des. Osvaldo
Cruz. Data de Julgamento: 18/04/2005.).
Desse modo, vislumbro que a homologação do casamento nuncupativo realizado entre os nubentes, pela
MM. Juíza monocrática, observou todas as formalidades exigidas pela legislação que rege a matéria e,
bem ainda, que, não restam dúvidas acerca de que o companheiro da recorrida, com pleno discernimento
do que estava fazendo, encontrando-se em estado terminal, manifestou seu desejo de casar-se com aquela
perante seis testemunhas, estando, desta forma, totalmente preenchidos os requisitos necessários ao
perfazimento do ato.
Face o exposto, em dissonância com o parecer da 20ª Procuradoria de Justiça, nego provimento ao
presente recurso, mantendo-se a sentença atacada incólume em todos os seus termos.
É como voto.
Natal, 27 de outubro de 2009.
DESEMBARGADOR AMAURY MOURA SOBRINHO
Presidente/Relator
DOUTORA BRANCA MEDEIROS MARIZ
7ª Procuradora de Justiça

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