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Aula 07 | Profº Márcio

Damasceno (Somente
em PDF)
TJ-RN (Analista Judiciário) Discursiva
Sem Correção - 2023 (Pós-Edital)

Autor:
Carlos Roberto, Marcio
Damasceno

20 de Abril de 2023

11497088402 - GETULIO BATISTA


Carlos Roberto, Marcio Damasceno
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Terceira rodada de temas .......................................................................................................................... 1

Tema 14 – Contrabando e descaminho ..................................................................................................... 2

Abordagem teórica .................................................................................................................................. 2

Proposta de solução ................................................................................................................................. 4

Tema 15 - Desobediência, desacato e resistência .......................................................................................5

Abordagem teórica ...................................................................................................................................5

Proposta de solução ................................................................................................................................. 8

Tema 16 – imputabilidade ........................................................................................................................ 9

Abordagem teórica ................................................................................................................................. 10

Proposta de solução ................................................................................................................................ 12

Tema 17 - Ação Penal .............................................................................................................................. 13

Abordagem teórica ................................................................................................................................. 13

Proposta de solução ................................................................................................................................ 16

Tema 18 – Conexão e Continência ........................................................................................................... 18

Abordagem teórica ................................................................................................................................. 18

Proposta de solução ................................................................................................................................20

Prática.....................................................................................................................................................22

TERCEIRA RODADA DE TEMAS


Pessoal, proporemos nesta aula temas de Direito Penal, Processual Penal e do Consumidor.

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Tema 14 – Contrabando e descaminho


Redija uma questão discursiva sobre os crimes de descaminho e contrabando. No seu texto, aborde
necessariamente os seguintes tópicos:
a) Qual a diferença entre os referidos crimes?
b) É a eles aplicável o princípio da insignificância?
c) Qual o momento da consumação desses crimes?

Abordagem teórica
1. Contrabando e descaminho

A questão suscita a discussão sobre os crimes de descaminho e contrabando, previstos, respectivamente,


nos arts. 334 e 334-A do Código Penal. Acompanhe:

Descaminho
Art. 334. Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída
ou pelo consumo de mercadoria
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos.
Contrabando
Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.
O crime de descaminho é a fraude para iludir, total ou parcialmente, o pagamento de impostos de
importação e exportação. Observe que a importação, exportação ou consumo da referida mercadoria não
é ilícita: o que se pune é a fraude ao sistema tributário. Já no crime de contrabando, o objeto é mercadoria
proibida e esse é o grande traço diferenciador entre tais crimes.
No caso do contrabando, a mercadoria é ilícita, ou seja, a sua importação ou exportação, por si só, é vedada.
No caso do descaminho, a importação, exportação ou o consumo não são ilícitos. O que se pune, no
descaminho, é a burla ao sistema tributário.
De acordo com a jurisprudência dos tribunais superiores, em regra1, é inaplicável o princípio da
insignificância ao crime de contrabando, uma vez que o bem juridicamente tutelado vai além do mero

1
Vale ressaltar, no entanto, que o STJ possui alguns precedentes admitindo, de forma excepcional, a aplicação deste
princípio para o caso de contrabando de pequena quantidade de medicamento para uso próprio: “A importação de
pequena quantidade de medicamento destinada a uso próprio denota a mínima ofensividade da conduta do agente, a
ausência de periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a
inexpressividade da lesão jurídica provocada, tudo a autorizar a excepcional aplicação do princípio da insignificância”.
STJ. 5ª Turma. EDcl no AgRg no REsp 1708371/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 24/04/2018.

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valor pecuniário do imposto elidido, alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a
comercialização de produtos proibidos em território nacional. Trata-se, assim, de um delito pluriofensivo2.
Em relação ao descaminho, a jurisprudência entende que, em se tratando de prejuízo inferior ao patamar
estabelecido pela Fazenda Nacional como irrelevante para fins de execução fiscal, tem-se hipótese de
aplicação do princípio da insignificância , de forma a afastar a tipicidade do fato, ou seja, o fato seria atípico
(por ausência de lesividade social apta a justificar a tutela penal, já que por esse valor a Fazenda sequer
promove a execução fiscal, de modo que não faz sentido aplicar o Direito Penal se não se aplica nem o
Direito Administrativo ao caso). Atualmente, esse valor é de R$ 20.000,00, consoante entendimento
jurisprudencial majoritário3.
No que tange à consumação, o descaminho se consuma com o ato de iludir o pagamento de imposto
devido pela entrada ou saída de mercadoria do país, ou seja, com a liberação na alfândega, sem o
pagamento dos impostos devidos. Segundo Masson, (2018, p. 864), trata-se de crime formal, de
consumação antecipada ou de resultado cortado, seu aperfeiçoamento ocorre com a manobra fraudulenta
e independe da obtenção do resultado naturalístico, consistente no sucesso atinente ao não pagamento do
tributo4.
O contrabando se consuma quando a mercadoria ilícita ultrapassa a barreira alfandegária, sendo
liberada pelas autoridades. Se o crime é praticado por via clandestina, exige-se, somente, que o agente
ultrapasse a fronteira do país. Também é crime formal, consumado independentemente da efetiva lesão
à saúde pública, à moralidade administrativa ou à segurança pública 5.
Agora é com você! Mãos à obra.

2
STJ. 5ª Turma. AgRg no REsp 1744739/RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 02/10/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp
1717048/RS, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/09/2018. STF. 1ª Turma. HC 133958 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em
06/09/2016.
3
“Incide o princípio da insignificância aos crimes tributários federais e de descaminho quando o débito tributário verificado
não ultrapassar o limite de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a teor do disposto no art. 20 da Lei n. 10.522/2002, com as
atualizações efetivadas pelas Portarias n. 75 e 130, ambas do Ministério da Fazenda". STJ. 3ª Seção. REsp 1.709.029/MG,
Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 28/02/2018 (recurso repetitivo).
"Aplica-se o princípio da insignificância ao crime de descaminho quando o montante do tributo não recolhido for inferior
ao limite de R$ 20.000,00 — valor estipulado pelo art. 20, Lei 10.522/2002, atualizado pelas portarias 75 e 130/2012, do
Ministério da Fazenda". STF. 2ª Turma. HC 155347/PR, Rel. Min. Dias Tóffoli, julgado em 17/4/2018 (Info 898).
4
MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal - v. 3: parte especial (arts. 213 a 359-H): esquematizado. 7. ed. São. Paulo:
Método, 2017.
5
STJ - REsp 1362311-SC. Ministra Maria Thereza de Assis Moura, 6ª Turma, j. 15.10.2013.

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Proposta de solução

Inicialmente, destaque-se que o crime de descaminho consiste em iludir, no todo ou em


parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de
mercadoria. O contrabando, por sua vez, é representado pela conduta de importar ou exportar
mercadoria proibida. Nesse diapasão, observe-se que, no caso do contrabando, a mercadoria
é ilícita, ou seja, a sua importação ou exportação, por si só, é vedada. No caso do descaminho,
a importação, exportação ou o consumo não são ilícitos; o que se pune é a burla ao sistema
tributário. [Tópico 1]

Além disso, de acordo com a jurisprudência dos tribunais superiores, em regra, é


inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando, uma vez que o bem
juridicamente tutelado vai além do mero valor pecuniário do imposto elidido, alcançando
também o interesse estatal de impedir a entrada e a comercialização de produtos proibidos em
território nacional. Em relação ao descaminho, a jurisprudência entende que, em se tratando
de prejuízo inferior ao patamar estabelecido pela Fazenda Nacional como irrelevante para
fins de execução fiscal, tem-se hipótese de aplicação do princípio da insignificância.
Atualmente, esse valor é de R$ 20.000,00, consoante entendimento
jurisprudencial majoritário. [Tópico 2]

Finalmente, no que tange à consumação, o descaminho se consuma com o ato de iludir


o pagamento de imposto devido pela entrada ou saída de mercadoria do país, ou seja, com a
liberação na alfândega, sem o pagamento dos impostos devidos. Por seu turno, o contrabando

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se consuma quando a mercadoria ilícita ultrapassa a barreira alfandegária, sendo liberada


pelas autoridades. Se o crime é praticado por via clandestina, exige-se, somente, que o agente
ultrapasse a fronteira do país. [Tópico 3]

Tema 15 - Desobediência, desacato e resistência


Acerca dos crimes de desobediência, desacato e resistência, responda aos seguintes questionamentos:
a) Diferencie os referidos crimes.
b) O desacato deixou de ser crime no ordenamento jurídico brasileiro por força do Pacto de San Jose da
Costa Rica? Justifique.
c) Há crime de desobediência nas situações em que alguém descumpre ordem de funcionário público em
razão de considerá-la idônea a provocar sua autoincriminação?

Abordagem teórica
Resistência

Art. 329 - Opor-se à execução de ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para
executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio:
Pena - detenção, de dois meses a dois anos.
A conduta punida é a resistência comissiva (ação), ou seja, aquela na qual o agente pratica uma conduta,
qual seja, o emprego de violência ou ameaça ao funcionário que irá executar o ato legal. O ato deve ser legal,
isto é, deve estar fundamentado na lei ou em decisão judicial.
Além disso, caso o crime seja praticado mediante violência, o agente responde não só pelo crime de
resistência, mas responde de maneira autônoma pela violência:

Art. 329 (...) § 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à violência.

Desobediência
Está tipificado no art. 330 do CP:

Art. 330 - Desobedecer a ordem legal de funcionário público:


Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.

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Aqui o agente deixa de fazer algo que lhe fora determinado ou faz algo cuja abstenção lhe fora imposta
mediante ordem de funcionário público competente. Trata-se, portanto, de crime omissivo ou comissivo, a
depender da conduta do agente. Diferencia-se do delito de resistência pois, neste, há emprego de violência
ou ameaça.

Desacato
Nos termos do art. 331 do CP:

Art. 331 - Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela:


Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
O conceito de “desacatar” pode ser definido como a falta de respeito, a humilhação, com gestos ou palavras,
vias de fato, entre outros. É essencial para a configuração do delito que o funcionário público esteja no
exercício da função, ou, estando fora, que a ofensa seja empregada em razão dela. Deve, pois, haver o
chamado nexo funcional. A crítica ou a censura sem excessos, por sua vez, não constituem desacato, ainda
que veementes.
Quanto à descriminalização, o STJ, apreciando um caso envolvendo o art. 331 do Código Penal, decidiu que:

Desacatar funcionário público no exercício da função ou em razão dela continua a ser crime, conforme
previsto no art. 331 do Código Penal.
STJ. 3ª Seção. HC 379.269-MS, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, Rel. para acórdão Min. Antônio
Saldanha Palheiro, julgado em 24/5/2017 (Info 607).
Em suma, os argumentos apresentados pelo STJ foram que: o desacato não inibe a liberdade de expressão,
pois não impede o cidadão de se manifestar, desde que o faça com civilidade e educação; a exclusão desse
crime não traria benefício concreto para o julgamento dos casos de ofensas dirigidas a agentes públicos,
pois estas passariam a ser tratadas pelos tribunais como injúria (art. 140 do CP), tipo penal para o qual,
inclusive, a lei já prevê um acréscimo de 1/3 da pena quando a vítima é servidor público (art. 141, II); e por
fim, que alguns julgados no âmbito da Corte da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (que é
contrária à criminalização do desacato) admite que eventuais abusos na liberdade de expressão sejam
punidos.
É esse também o entendimento do STF sobre o tema:

A norma do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato, foi recepcionada pela Constituição de
1988.
STF. Plenário. ADPF 496, Rel. Roberto Barroso, julgado em 22/06/2020 (Info 992).

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Em suma6:

A norma do art. 331 do Código Penal, que tipifica o crime de desacato, foi recepcionada pela Constituição de
1988.
De acordo com a jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos e do Supremo Tribunal
Federal, a liberdade de expressão não é um direito absoluto e, em casos de grave abuso, é legítima a
utilização do direito penal para a proteção de outros interesses e direitos relevantes.
A diversidade de regime jurídico – inclusive penal – existente entre agentes públicos e particulares é uma via
de mão dupla: as consequências previstas para as condutas típicas são diversas não somente quando os
agentes públicos são autores dos delitos, mas, de igual modo, quando deles são vítimas.
A criminalização do desacato não configura tratamento privilegiado ao agente estatal, mas proteção da
função pública por ele exercida.
Vale ressaltar, no entanto, que, considerando que os agentes públicos em geral estão mais expostos ao
escrutínio e à crítica dos cidadãos, deles se exige maior tolerância à reprovação e à insatisfação, limitando-
se o crime de desacato a casos graves e evidentes de menosprezo à função pública.
STF. Plenário. ADPF 496, Rel. Roberto Barroso, julgado em 22/06/2020 (Info 992).
Em relação ao terceiro aspecto, não há crime de desobediência, por ausência de dolo, nas situações em que
alguém descumpre ordem de funcionário público em razão de considerá-la idônea a provocar sua
autoincriminação ou a de qualquer modo o prejudicar7.
Segundo Masson (2018, p. 828), quem se comporta dessa maneira não tem a intenção de desobedecer ao
representante do Estado; ao contrário, o sujeito busca preservar algum bem jurídico do seu interesse. Trata-
se de manifestação do "nemo tenetur se detegere", isto é, ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo.
Para o Supremo Tribunal Federal, esse princípio constitui-se em desdobramento lógico do direito ao
silêncio, previsto no art., inc. LXIII, da Constituição Federal como direito fundamental do ser humano. Por
força desse princípio, a doutrina e a jurisprudência entendem que o Estado não pode constranger a pessoa
a produzir provas contra si próprio.
É o que se verifica, exemplificativamente, quando o motorista de um veículo automotor não se submete ao
teste de alcoolemia, bem como quando uma pessoa indiciada em inquérito policial se recusa a participar da
reprodução simulada dos fatos (CPP, art. 7°).

Jurisprudência associada

Diante do princípio nemo tenetur se detegere, que informa o nosso direito de punir, é fora de dúvida que o
dispositivo do inciso IV do art. 174 do Código de Processo Penal há de ser interpretado no sentido de não

6 CAVALCANTE, Márcio André Lopes. Desacato continua sendo crime. Buscador Dizer o Direito, Manaus. Disponível em:
<https://www.buscadordizerodireito.com.br/jurisprudencia/detalhes/e698959e9b93e4de823526327ffed84a>. Acesso em:
31/07/2022.
7
MASSON, Cleber Rogério. Direito Penal - v. 3: parte especial (arts. 213 a 359-H): esquematizado. 7. ed. São. Paulo: Método,
2017.

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poder ser o indiciado compelido a fornecer padrões gráficos do próprio punho, para os exames periciais,
cabendo apenas ser intimado para fazê-lo a seu alvedrio. É que a comparação gráfica configura ato de
caráter essencialmente probatório, não se podendo, em face do privilégio de que desfruta o indiciado contra
a auto-incriminação, obrigar o suposto autor do delito a fornecer prova capaz de levar à caracterização de
sua culpa. Assim, pode a autoridade não só fazer requisição a arquivos ou estabelecimentos públicos, onde
se encontrem documentos da pessoa a qual é atribuída a letra, ou proceder a exame no próprio lugar onde
se encontrar o documento em questão, ou ainda, é certo, proceder à colheita de material, para o que intimará
a pessoa, a quem se atribui ou pode ser atribuído o escrito, a escrever o que lhe for ditado, não lhe cabendo,
entretanto, ordenar que o faça, sob pena de desobediência, como deixa transparecer, a um apressado
exame, o CPP, no inciso IV do art. 174. Habeas corpus concedido.
HC 77135, Relator (a): Min. ILMAR GALVÃO, Primeira Turma, julgado em 08/09/1998, DJ 06-11-1998 PP-
00003 EMENT VOL-01930-01 PP-00170
Agora é com você! Mãos à obra.

Proposta de solução

Inicialmente, esclareça-se que o crime de resistência consiste na oposição à execução de


ato legal, mediante violência ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem
lhe esteja prestando auxílio. Ademais, nos termos do Código penal (CP), caso o crime
seja praticado mediante violência, o agente responde não só pelo crime de resistência, mas
responde de maneira autônoma pela violência. Por sua vez, o crime de desobediência
configura-se pela conduta de desobedecer a ordem legal de funcionário público. Diferencia-
se do crime de resistência, pois, na desobediência, não há emprego de violência ou ameaça.

Por outro lado, o crime de desacato materializa-se em desacatar funcionário público


no exercício da função ou em razão dela. Nesse contexto, desacatar significa menosprezar a
função pública exercida por determinada pessoa, por meio de ofensas com a finalidade de
humilhar a dignidade e o prestígio da atividade administrativa. Insta frisar que, não obstante
a Comissão Interamericana de Direitos Humanos ser contrária à criminalização do

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desacato, esse não é o posicionamento adotado pela jurisprudência dos tribunais superiores.
Segundo o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, o crime de
desacato foi recepcionado pela Constituição de 1988 e, entre os motivos para isso, tem-se
a compreensão de que o referido crime não prejudica a liberdade de expressão, pois não impede
o cidadão de se manifestar, desde que o faça com civilidade e de forma respeitosa.

Por fim, em relação ao terceiro aspecto, não há crime de desobediência, por ausência de
dolo, nas situações em que alguém descumpre ordem de funcionário público em razão de
considerá-la idônea a provocar sua autoincriminação. Trata-se de corolário do "nemo
tenetur se detegere", desdobramento do direito ao silêncio, e que traz a ideia de que ninguém é
obrigado a constituir prova contra si mesmo. De acordo com isso, por exemplo, a recusa de
condutor a fazer o teste de alcoolemia encontra-se albergada pelo princípio da não
autoincriminação, afastando o crime de desobediência.

Tema 16 – imputabilidade
Autoral -Prof. Renan Araújo
José encontra Paulo na festa de formatura de uma amiga em comum. Todavia, José é inimigo de longa data
de Paulo e, estando já completamente embriagado, por ter exagerado no consumo de álcool, resolve
colocar na bebida de Paulo uma determinada substância tóxica, a fim de ceifar a vida deste. Paulo, sem
saber do ocorrido, ingere a bebida e começa a passar mal, ficando descontrolado, absolutamente fora de si.
Durante o socorro prestado pelos paramédicos, Paulo profere xingamentos graves contra os referidos
servidores públicos.
Posteriormente, José e Paulo são processados criminalmente. O primeiro por tentativa de homicídio e o
segundo por desacato. No decorrer do processo, fica comprovado que José era portador de doença mental
e, no momento do fato, era parcialmente incapaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se

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de acordo com este entendimento. Fica comprovado, também, que Paulo não tinha discernimento algum
quando desacatou os funcionários, em razão da ingestão da substância colocada por José.
Neste caso, exclusivamente sob o prisma da imputabilidade penal, responda:
a) Quais os critérios para a aferição da inimputabilidade penal? Quais foram adotados pelo CP?
b) José é inimputável? Qual a consequência jurídica para o agente?
c) Paulo é inimputável? Quais as consequências penais cabíveis?
Resposta em até 30 linhas.

Abordagem teórica
A imputabilidade penal pode ser conceituada como a capacidade mental de entender o caráter ilícito da
conduta e de comportar-se conforme o direito.
Existem três critérios acerca da imputabilidade:
 Biológico: basta a existência de uma doença mental ou determinada idade para que o agente seja
inimputável. É adotado no Brasil com relação aos menores de 18 anos. Trata-se de critério meramente
biológico: se o agente tem menos de 18 anos, é inimputável.
 Psicológico: só se pode aferir a imputabilidade (ou não), na análise do caso concreto.
 Biopsicológico: deve haver uma doença mental (critério biológico, legal, objetivo), mas o juiz deve
analisar no caso concreto se o agente era ou não capaz de entender o caráter ilícito da conduta e de se
comportar conforme o direito (critério psicológico).
Segundo Cléber Masson 8, o CP, em seu art. 26, caput, acolheu como regra o sistema biopsicológico.
Excepcionalmente, foi adotado o sistema biológico no que se refere aos menores de 18 anos.
As causas de inimputabilidade estão previstas nos arts. 26 a 28 do CP:

Inimputáveis
Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou
retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato
ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de
11.7.1984)
Redução de pena
Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de
saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de

8
MASSON, Cleber. Direito Penal: parte geral (arts. 1º a 120) - vol. 1 / Cleber Masson. – 12. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de
Janeiro: Forense; São Paulo: MÉTODO, 2018, p. 493.

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entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Menores de dezoito anos
Art. 27 - Os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas
estabelecidas na legislação especial. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Emoção e paixão
Art. 28 - Não excluem a imputabilidade penal: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
I - a emoção ou a paixão; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Embriaguez
II - a embriaguez, voluntária ou culposa, pelo álcool ou substância de efeitos análogos. (Redação dada
pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 1º - É isento de pena o agente que, por embriaguez completa, proveniente de caso fortuito ou força maior,
era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§ 2º - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, por embriaguez, proveniente de caso
fortuito ou força maior, não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. (Redação dada pela Lei
nº 7.209, de 11.7.1984)

Podemos dividir as hipóteses de inimputabilidade em três segmentos:


1. Menoridade penal - Esse é um critério meramente biológico e taxativo: Se o agente é menor de 18
anos, responde perante o ECA, não se aplicando a ele o CP, nos termos do art. 27 do CP.
2. Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado - No caso dos doentes
mentais, deve-se analisar se o agente era inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito da conduta
ou se era parcialmente incapaz disso. No primeiro caso, será inimputável, ou seja, isento de pena. No
segundo caso, será semi-imputável, e será aplicada pena, porém, reduzida de um a dois terços.
3. Embriaguez - Segundo o CP, a embriaguez não é uma hipótese de inimputabilidade, salvo se esta
for completa, decorrer de caso fortuito ou força maior (acidental) e retirar totalmente a capacidade de
discernimento do agente. A embriaguez, se culposa ou voluntária, não exclui a culpabilidade.
Importante destacar que o CP exige que, em razão da embriaguez decorrente de caso fortuito ou força
maior, o agente esteja inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se
conforme esse entendimento.
Enfim, ficamos por aqui. Vamos à proposta de solução.

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Proposta de solução

Inicialmente, esclareça-se sobre a existência de três critérios para a aferição da


imputabilidade do agente. O primeiro deles é o critério biológico. Por este, basta a existência
de uma doença mental ou determinada idade para que o agente seja considerado inimputável.
O segundo critério é o psicológico, por meio do qual só se pode aferir a imputabilidade na
análise do caso concreto. Diferentemente do critério biológico, que é rígido, o critério
psicológico é flexível, pois concede ao juiz o poder de avaliar, caso a caso, a imputabilidade do
==d72d8==

agente.

Ainda, como terceiro critério, há que se mencionar o critério biopsicológico, o qual


consiste numa mescla das características dos dois primeiros. A inimputabilidade decorrente
da adoção deste critério deve provir da conjugação de dois fatores: deve haver uma situação
prévia que gere a presunção de inimputabilidade (critério biológico, legal, objetivo), mas o juiz
deve analisar no caso concreto se o agente era ou não capaz de entender o caráter ilícito da
conduta ou de se comportar conforme o direito (critério psicológico). Segundo entendimento
doutrinário, o critério adotado pelo Código Penal (CP) brasileiro, como regra, é o
biopsicológico. Excepcionalmente, foi adotado o sistema biológico no que se refere aos menores
de 18 anos. [Tópico 1]

No caso em tela, José é considerado semi-imputável, e não inimputável. Isso, porque


ficou comprovado que era portador de doença mental e, no momento do fato, era parcialmente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de acordo com este
entendimento. A embriaguez completa, neste caso, não tem relevância, eis que se trata de
embriaguez voluntária. No caso, a consequência jurídica é a condenação, porém com redução

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de pena, de um a dois terços, ou a substituição da pena por medida de segurança. A decisão


pela aplicação da pena reduzida ou da medida de segurança fica a cargo do juiz, considerando
o que é mais adequado à finalidade da sanção penal. [Tópico 2]

Finalmente, Paulo, por sua vez, é considerado inimputável, porque, no momento do


fato, não possuía qualquer discernimento, em razão de embriaguez acidental (decorrente de
caso fortuito ou força maior). Como essa embriagues é completa, fica, pois, excluída a
culpabilidade e o agente é isento de pena. [Tópico 3]

Tema 17 - Ação Penal


Sobre o tema " ação penal pública " e "ação penal privada subsidiária da pública", responda aos seguintes
questionamentos:
a) Cite os princípios regentes da ação penal pública incondicionada e explique ao menos dois deles.
b) Determine quais seriam os prazos para o oferecimento de denúncia pelo MP (inclusive qual a data de
início da contagem). Elucide a possibilidade da propositura de ação penal privada pelo ofendido,
explicando a chamada decadência imprópria.
c) Caso o Ministério Público decida pelo arquivamento dos autos do inquérito policial, será possível ao
ofendido o oferecimento de queixa? Justifique.

Abordagem teórica
1. Ação penal

A ação penal é o direito do Estado-acusação ou do ofendido de ingressar em juízo, solicitando a prestação


jurisdicional, representada pela aplicação das normas de direito penal ao caso concreto9.
Considerando a natureza do crime praticado, a ação penal classifica-se em duas grandes espécies:
1. Ação penal pública10

9
NUCCI, Guilherme de Souza. Manual de Processo Penal e Execução Penal. 5. ed. São Paulo: RT, 2008. p. 183.
10
Parte da doutrina menciona ainda a ação penal pública subsidiária da pública, que ocorre, por exemplo, nos casos de incidente
de deslocamento de competência da Justiça Estadual para a Justiça Federal (art. 109, V-A, c/c art. 109, § 5º) da CF 88.

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• incondicionada: nessa espécie o MP pode atuar independentemente de manifestação da vítima ou


de seu representante legal. Essa modalidade constitui a regra no processo penal brasileiro;
• condicionada: nessa espécie a atuação do MP está condicionada à representação do ofendido ou
requisição do Ministro da Justiça. O crime somente será de ação penal pública condicionada quando
a lei expressamente indicar.
2. Ação penal privada
• Exclusivamente privada: o desencadeamento da ação penal dependerá da manifestação do
ofendido ou do seu representante legal (se o ofendido for menor de 18 anos ou incapaz), pelo seu
cônjuge, ascendente, descendente ou irmão, no caso de morte ou de declaração judicial de ausência;
é intentada mediante queixa-crime.
• Personalíssima: diferencia-se da anterior pela impossibilidade de apresentação da queixa por outro
que não seja a própria pessoa do ofendido. Dessa forma, falecendo o ofendido, nada mais poderá
ser feito.
• Subsidiária da pública: é cabível nos casos em que o MP permanece inerte nos crimes de ação
pública. O processo criminal será iniciado por meio de uma queixa-crime subsidiária.
Depois de recordarmos o assunto de maneira bem geral, falemos de maneira específica sobre alguns pontos
indispensáveis à resolução da questão.
A doutrina elenca os seguintes princípios regentes da ação penal pública incondicionada:
1. Obrigatoriedade – havendo indícios de autoria e prova da materialidade do delito, o membro do MP
deve oferecer a denúncia, não podendo deixar de fazê-lo, pois não pode dispor da ação penal.
Atualmente essa regra está excepcionada pela previsão de transação penal nos juizados especiais (Lei
9.099/95), que é hipótese na qual o titular da ação penal e o infrator transacionam, de forma a evitar
o ajuizamento da demanda, bem como em razão do acordo de não persecução penal (previsto no art.
28-A do CPP, incluído pela Lei 13.964/19).
2. Indisponibilidade – uma vez ajuizada a ação penal pública, não pode o titular dela desistir ou transigir,
nos termos do art. 42 do CPP: "Art. 42. O Ministério Público não poderá desistir da ação penal".
3. Oficialidade – a ação penal pública será ajuizada por um órgão oficial, no caso, o MP. Entretanto,
pode ocorrer de, transcorrido o prazo legal para que o MP ofereça a denúncia, este não o faça nem
requeira o arquivamento do IP, ou seja, fique inerte. Nesse caso, a lei prevê que o ofendido poderá
promover ação penal privada subsidiária da pública. Assim, podemos concluir que a ação penal
pública é exclusiva do MP, durante o prazo legal. Findo esse prazo, a lei estabelece um outro de seis
meses no qual tanto o MP quanto o ofendido pode ajuizar a ação penal, numa verdadeira hipótese de
legitimação concorrente. Findo este prazo de seis meses, no qual o ofendido pode ajuizar a ação penal
privada subsidiária da pública, a legitimidade volta a ser do MP, exclusivamente, desde que ainda não
esteja extinta a punibilidade.

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4. Divisibilidade – havendo mais de um infrator (autor do crime), pode o MP ajuizar a demanda


somente em face de um ou alguns deles, reservando para os outros, o ajuizamento em momento
posterior, de forma a conseguir mais tempo para reunir elementos de prova. Não há nenhum óbice
quanto a isso e essa prática não configura preclusão para o MP, podendo aditar a denúncia
posteriormente, a fim de incluir os demais autores do crime ou, ainda, promover outra ação penal em
face dos outros autores do crime.
5. Intranscendência ou pessoalidade: a ação só pode ser proposta contra quem se imputa a prática do
delito. Sendo a responsabilidade criminal essencialmente subjetiva, a demanda não pode prejudicar
terceiros que não tenham concorrido de alguma forma para o cometimento da infração (art. 29, CP).
O falecimento do autor do fato não impede que os herdeiros, dentro das forças da herança, estejam
obrigados a indenizar a vítima pelos danos causados.
Uma vez recebido o inquérito da autoridade policial, qual o prazo de que dispõe o MP para, se assim
entender, oferecer a denúncia?
O art. 46 do Código de Processo Penal (CPP) nos responde, confira:

Art. 46. O prazo para oferecimento da denúncia, estando o réu preso, será de 5 dias, contado da data
em que o órgão do Ministério Público receber os autos do inquérito policial, e de 15 dias, se o réu estiver
solto ou afiançado. No último caso, se houver devolução do inquérito à autoridade policial (art. 16), contar-
se-á o prazo da data em que o órgão do Ministério Público receber novamente os autos
E se, passado esse prazo, o MP nada fizer? Aí entra em campo a ação penal privada subsidiária da pública,
prevista na Constituição Federal:

Art. 5º (...)
LIX - será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;
Nesse sentido, confira também o que prevê o CPP:

Art. 29. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo
legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e oferecer denúncia substitutiva, intervir
em todos os termos do processo, fornecer elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de
negligência do querelante, retomar a ação como parte principal.

Sobre essa ação, façamos as seguintes observações:


▪ Para que essa ação seja cabível, a inércia do MP deve ser total, absoluta. Dessa forma, não se
configurará inércia se o MP tiver solicitado o arquivamento dos autos, requisitado diligências ou
adotado quaisquer outras providências.
▪ O ofendido tem o prazo de 6 meses para oferecimento da ação penal privada subsidiária da pública.
Esse prazo é contado a partir da data em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia pelo
MP (art. 38, CPP).

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Art. 38. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal, decairá no direito de
queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de seis meses, contado do dia em que vier
a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o
oferecimento da denúncia.
▪ Esgotados os seis meses acima mencionados, não mais poderá o ofendido ingressar com a ação penal
privada subsidiária da pública, ocorrendo a decadência do direito em relação à ação privada. Tal fato,
contudo, não prejudica o direito do MP, permitindo que a denúncia seja oferecida em qualquer tempo
antes da extinção da punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa. Disso resulta a chamada
decadência imprópria, visto que só há a perda do direito por parte do ofendido.
▪ A ação penal não deixa de ser pública. O que houve foi a simples admissão do manejo da ação privada
em virtude de uma circunstância temporal.
Agora é com você! Mãos à obra.

Proposta de solução

Inicialmente, esclareça-se que são princípios que disciplinam a ação penal pública
incondicionada: a obrigatoriedade, a indisponibilidade, a oficialidade, a divisibilidade e a
intranscendência. A obrigatoriedade significa que, se houver indícios de autoria e prova da
materialidade do delito, o membro do Ministério Público (MP) deve oferecer a
denúncia, não podendo deixar de fazê-lo, pois não pode dispor da ação penal. Atualmente
essa regra está excepcionada pela previsão de transação penal nos juizados especiais, bem como
em razão do acordo de não persecução penal. Por sua vez, o da divisibilidade consubstancia-
se no fato de que, uma vez presente mais de um infrator, pode o MP ajuizar a demanda
somente em face de um ou alguns deles, reservando para os outros o ajuizamento em momento
posterior, de forma a conseguir mais tempo para reunir elementos de prova.

Como regra (salvo exceções em leis específicas), o MP tem cinco dias para ajuizar
a ação penal, caso o acusado esteja preso, e quinze dias, se estiver em liberdade. Tais prazos

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são contados, no caso, a partir do dia em que o inquérito policial for recebido pelo “parquet”.
Caso não seja oferecida a denúncia nem praticado qualquer ato no prazo legal, restará
caracterizada a sua inércia. Configurada tal situação, surgirá para o ofendido ou para seu
representante legal a possibilidade de ingresso da ação penal privada subsidiária da pública.

O prazo para que o ofendido tome essa providência não é indefinido. De acordo com o
que consta no Código de Processo Penal, tal prazo é de seis meses, a ser contado, no caso
em análise, a partir do dia em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia pelo
MP. Escoado esse tempo, não mais será possível o ingresso da ação penal privada
subsidiária da pública, ocorrendo a decadência do direito em relação a essa ação. Tal fato,
contudo, não prejudica o direito do MP, permitindo que a denúncia seja oferecida em
qualquer tempo antes da extinção da punibilidade pela prescrição ou por qualquer outra causa.
Disso resulta a chamada decadência imprópria, visto que só há a perda do direito por parte
do ofendido.

Por fim, para que a ação penal privada subsidiária da pública seja cabível, a inércia do
MP deve ser total, absoluta. Assim sendo, não há inércia se o MP tiver solicitado o
arquivamento dos autos, o que implicará a impossibilidade de oferecimento da queixa-crime
subsidiária por parte do ofendido ou para seu representante legal.

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Tema 18 – Conexão e Continência


Redija um texto dissertativo sobre conexão e continência no processo penal. Aborde, necessariamente, os seguintes
tópicos:
a) Conceitue e diferencie os referidos institutos.
b) Modalidades de conexão e de continência no processo penal.
c) Efeitos da conexão e da continência e duas exceções à regra quanto aos seus efeitos.

Abordagem teórica
1. Conexão e continência

Nos termos do art. 70 do CPP, a competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar
a infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução. Trata-se
da teoria do resultado, regra para a determinação da competência nos crimes plurilocais.
A conexão e a continência são fenômenos que importam na modificação da competência previamente
estabelecida e estão previstas no art. 76 e 77 do CPP, respectivamente:

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:


I - se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas
reunidas, ou por várias pessoas em concurso, embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas,
umas contra as outras;
II - se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas;
III - quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares influir na prova de
outra infração.
Art. 77. A competência será determinada pela continência quando:
I - duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração;
II - no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1o, 53, segunda parte, e 54 do Código
Penal.
A conexão é o liame, o vínculo entre duas ou mais infrações penais, que, em regra, enseja a união entre os
processos para facilitar a produção da prova e para evitar decisões contraditórias 11. Segundo LIMA12, a
conexão pode ser compreendida como: “o nexo, a dependência recíproca que dois ou mais fatos delituosos

11
ALVES, Leonardo Barreto Moreira. Sinopses para Concursos: Processo Penal – Parte Geral. 9. ed. rev., ampl. e atual. Salvador:
JusPODIVM, 2019. v. 7, pg. 271.
12
LIMA, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único I Renato Brasileiro de Lima- 5. ed. rev., ampl. e atual.-
Salvador: Ed. JusPodivm, 2017.

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guardam entre si, recomendando a reunião de todos eles em um mesmo processo penal, perante o mesmo
órgão jurisdicional, a fim de que este tenha uma perfeita visão do quadro probatório”.
O art. 76 do CPP traz as modalidades de conexão, começando pela conexão intersubjetiva, que, por sua
vez, pode ocorrer em três hipóteses:
a) por simultaneidade, quando duas ou mais infrações houverem sido praticadas, ao mesmo tempo, por
várias pessoas reunidas (exemplo: crime de dano praticado por torcedores em estádio);
b) por concurso, se duas ou mais infrações houverem sido praticadas por várias pessoas em concurso,
embora diverso o tempo e o lugar (exemplo: roubos de carga praticados por integrantes de uma mesma
associação criminosa);
c) por reciprocidade, na hipótese de duas ou mais infrações terem sido praticadas por várias pessoas,
umas contra as outras (exemplo: delitos de lesão corporal culposa de trânsito decorrentes de racha,
afastado desde já o exemplo da rixa, que é crime único).
Há também a conexão objetiva ou teleológica, quando duas ou mais infrações houverem sido praticadas
para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas.
Exemplo: crime de lavagem em relação ao crime antecedente de corrupção.
Finalmente, há a conexão instrumental ou probatória, quando a prova de uma infração ou de qualquer de
suas circunstâncias elementares influir na prova de outra infração. Exemplo: conexão entre furto e
receptação, pois para se condenar o receptador é preciso provar que a coisa adquirida era produto de crime.
A continência, por sua vez, ocorre quando um fato criminoso engloba outro fato dessa natureza. Segundo
o mesmo autor, configura-se a continência quando uma demanda, em face de seus elementos (partes,
pedido e causa de pedir), está contida em outra13.
Assim, enquanto na conexão há pluralidade de infrações, praticadas por pluralidade de agentes ou mesmo
por um agente único, na continência há pluralidade de agentes e um único crime ou concurso formal de
delitos.
Conforme asseverado, continência ocorre quando há pluralidade de agentes e unidade de infração ou
unidade de agente e concurso formal de delitos.
A primeira hipótese trazida pela lei é a de continência por cumulação subjetiva, configurada quando duas
ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração. A segunda hipótese é a continência por cumulação
objetiva, configurada quando do concurso formal de delitos, casos em que as várias ações são consideradas,
pelo Direito Penal, como um delito só, por ficção legal.

13
LIMA, Renato Brasileiro de Manual de processo penal: volume único I Renato Brasileiro de Lima- 5. ed. rev., ampl. e atual.-
Salvador: Ed. JusPodivm, 2017, p. 566.

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Como efeitos da conexão e da continência, diz-se que elas implicam a reunião dos processos que tenham
por objetos os crimes conexos ou que guardam relação de continência a fim de possibilitar o processo
e julgamento uno (simultaneus processus).
O art. 79 do CPP apresenta situações nas quais a conexão e a continência não importarão unidade de
processo e julgamento, excepcionando-se, assim, a regra prevista no art. 78 do CPP, o qual define o foro
prevalente.
Anota-se, contudo, que a lei excepciona algumas situações, casos em que não haverá unidade de processo
e julgamento. De fato, nos casos de concurso entre a jurisdição militar e a jurisdição comum (art. 79, I,
CPP) ou entre esta e a Justiça da Infância e Juventude (art. 79, II, CPP), impõe-se a separação dos
processos, cabendo a cada justiça julgar separadamente o feito de sua competência. Poderão também ser
separados os processos se em relação a algum corréu sobrevier doença mental superveniente ao processo
(art. 79, § 1°, CPP). Havendo corréu, o processo será desmembrado, prosseguindo-se em relação ao acusado
são.
Mais: a unidade do processo não importará a do julgamento se houver corréu foragido que não possa ser
julgado à revelia. É o caso do art. 366 do CPP: se um processo criminal for instaurado contra vários acusados
e se um deles for citado por edital, não comparecer e não constituir de defensor, deverá o processo ficar
suspenso tão somente em relação a essa pessoa.
Outra exceção legal à reunião, porém de forma facultativa, dá-se quando pelo excessivo número de
acusados e para não lhes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo relevante, o juiz reputar
conveniente a separação.
Depois dessa breve revisão, vamos à questão!

Proposta de solução

A conexão é o liame, o vínculo entre duas ou mais infrações penais. Ela, em regra,
enseja a união entre os processos para facilitar a produção da prova e para evitar decisões
contraditórias. Já a continência configura-se quando uma demanda, em virtude dos seus
elementos constituintes (partes, pedido e causa de pedir), estiver contida em outra. Assim,
enquanto na conexão há pluralidade de infrações, praticadas por pluralidade de agentes ou
mesmo por um agente único, na continência há pluralidade de agentes e um único crime ou
concurso formal de delitos. [Tópico 1]

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O Código de Processo Penal (CPP) traz as modalidades de conexão, começando


pela conexão intersubjetiva, que, por sua vez, pode ocorrer em três hipóteses: por
simultaneidade, quando duas ou mais infrações houverem sido praticadas ao mesmo tempo,
por várias pessoas reunidas; por concurso, se duas ou mais infrações houverem sido praticadas
por várias pessoas em concurso, embora diversos o tempo e o lugar; por reciprocidade,
na hipótese de duas ou mais infrações terem sido praticadas por várias pessoas, umas
contra as outras. Há também a conexão objetiva, quando duas ou mais infrações houverem
sido praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir impunidade ou vantagem
em relação a qualquer delas. E, ainda, há a conexão instrumental, quando a prova de uma
infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares, influir na prova de outra infração.
[Tópico 2-a]

No que se refere à continência, a primeira hipótese trazida pelo CPP é a de


concurso de agentes (continência por cumulação subjetiva), enquanto a segunda é a do
concurso formal de delitos (continência por cumulação objetiva), casos em que as várias ações
são consideradas, pelo Direito Penal, como um delito só, por ficção legal. [Tópico 2-b]

Como efeitos da conexão e da continência, diz-se que elas implicam a reunião dos
processos que tenham por objetos os crimes conexos ou que guardam relação de continência a
fim de possibilitar o processo e o julgamento uno (“simultaneus processus”).

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Por fim, anote-se, contudo, que o próprio CPP excepciona algumas situações, casos
em que não haverá unidade de processo e julgamento. De fato, nos casos de concurso entre a
jurisdição militar e a jurisdição comum, ou entre esta e o juízo de menores (Infância e
Juventude), impõe-se a separação dos processos, cabendo a cada justiça julgar
separadamente o feito de sua competência. [Tópico 3]

PRÁTICA
Caro aluno, agora é com você! Treine bastante com os temas expostos, lembrando-se sempre de aplicar o
conhecimento acumulado nas aulas anteriores, tanto sob o ponto de vista da estrutura quanto dos aspectos
gramaticais.

Lembrem-se de nos encaminhar seu texto, se assim desejarem, por meio da área do aluno, de forma
manuscrita digitalizada, conforme explicado na aula 00 do curso.

Para a sua redação, é importante especificar o número do texto escolhido no campo apropriado. Você pode
nos encaminhar um arquivo único (em PDF) ou colar as imagens digitalizadas dentro de um documento em
Word.

As questões discursivas serão devolvidas exclusivamente ao aluno, por meio da área destinada ao curso no
site do Estratégia Concursos.

Desejamos um excelente trabalho a todos vocês!

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