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CAPÍTULO I
Dos Crimes Contra a Ordem Tributária
Sabedor de que os desvios perpetrados na seara tributária não são adequadamente sancionados por intermédio de
medidas de caráter meramente administrativo, o legislador optou por fazer uso do Direito Penal, como mais drástica forma de
intervenção do Estado na esfera dos direitos dos cidadãos, com o objetivo de resguardar a ordem tributária.
Quando nos referimos aos crimes contra a ordem tributária, devemos nos ater não apenas àqueles previstos nos
arts.1º ao 3º da Lei 8.137/90, mas também a outros tipos penais previstos no CP, como o crime de apropriação indébita
previdenciária (art.168-A), excesso de exação (art.316, §1º), facilitação de contrabando ou descaminho (art.318) e sonegação
de contribuição previdenciária (art.337-A).
A respeito de qual seria o bem jurídico tutelado pelos crimes contra a ordem tributária, há duas correntes:
1ª corrente à corrente patrimonialista (DOMINANTE): é o patrimônio dinâmico da Fazenda Pública, também referido como o
erário público e a arrecadação tributária;
2ª corrente à corrente funcionalista: o bem jurídico tutelado guarda relação com as diversas funções que o tributo deverá
exercer em uma determinada sociedade, como, por exemplo, o custeio e financiamento das atividades institucionais do Estado
e das prestações sociais.
Por conta da abstração e generalidade da postura funcional, é dominante a adoção da corrente patrimonialista.
Secundariamente, os crimes contra a ordem tributária também tutelam a Administração Pública, a fé pública, a
garantia dos meios necessários para que o Estado possa atender às prestações sociais, o trabalho e a livre concorrência.
Não há dúvida quanto à POSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA aos crimes contra a ordem
tributária. Neste ponto, difícil se apresenta a tarefa de estipular um MONTANTE ($$) para se aferir se deve ou não incidir tal
princípio.
Inicialmente, a própria União forneceu um patamar, ao determinar a extinção de todo e qualquer crédito fiscal cujo
valor fosse inferior a R$100,00 – cem reais (art.18, §1º, Lei 10.522/02).
Posteriormente, passou a ser adotado como patamar para fins de incidência do princípio da insignificância o quantum
previsto no art.20 da Lei 10.522/02, qual seja: R$10.000,00 – dez mil reais. Obs: este montante passou a ser utilizado não só
para os crimes contra a ordem tributária propriamente ditos, mas também ao delito de descaminho (que tem natureza
eminentemente tributária). CUIDADO! Esse patamar de 10 mil reais não tem o condão de afastar a tipicidade material dos
crimes relativos a tributos que não sejam da competência da União. Para a aplicação desse patamar a crimes contra tributos de
competência dos Estados, DF e Municípios, seria necessária a existência de lei do ente federativo competente.
ATENÇÃO! Em relação ao crime de CONTRABANDO, os Tribunais Superiores NÃO ADMITEM a aplicação do princípio da
insignificância, ainda que o valor do tributo seja inferior a 10 mil reais.
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DE OLHO NA JURIS! Contrabando: não se aplica o princípio da insignificância
Em REGRA, é inaplicável o princípio da insignificância ao crime de contrabando, uma vez que o bem juridicamente tutelado
vai além do mero valor pecuniário do imposto elidido, alcançando também o interesse estatal de impedir a entrada e a
comercialização de produtos proibidos em território nacional. Trata-se, assim, de um delito pluriofensivo. STJ. 5ª Turma. AgRg
no REsp 1744739/RS, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 02/10/2018. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1717048/RS, Rel. Min.
Nefi Cordeiro, julgado em 11/09/2018. STF. 1ª Turma. HC 133958 AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 06/09/2016.
Vale ressaltar, no entanto, que o STJ possui alguns precedentes admitindo, de forma EXCEPCIONAL, a aplicação deste princípio
para o caso de CONTRABANDO DE PEQUENA QUANTIDADE DE MEDICAMENTO PARA USO PRÓPRIO: A importação de pequena
quantidade de medicamento destinada a uso próprio denota a mínima ofensividade da conduta do agente, a ausência de
periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica
provocada, tudo a autorizar a excepcional aplicação do princípio da insignificância. STJ. 5ª Turma. EDcl no AgRg no REsp
1708371/PR, Rel. Min. Joel Ilan Paciornik, julgado em 24/04/2018.
Na visão dos Tribunais Superiores, o montante estabelecido para fins de arquivamento das execuções fiscais deve ser
utilizado como parâmetro para fins de aplicação do princípio da insignificância, porquanto é inadmissível que uma conduta seja
irrelevante no âmbito administrativo e não o seja para o Direito Penal, que só deve atuar quando extremamente necessário.
Assim sendo, em razão da Portaria n.74 do Ministro da Fazenda (de março de 2012), que elevou o montante que enseja
o arquivamento da execução fiscal para R$20.000,00 – vinte mil reais, este é o novo patamar utilizado pelos Tribunais
Superiores para fins de incidência do princípio da insignificância.
SE LIGA! O valor a ser considerado para fins de aplicação do princípio da insignificância é aquele fixado no momento da
consumação do crime, vale dizer, da constituição do crédito tributário, e não aquele posteriormente alcançado com a inclusão
de juros e multa por ocasião da inscrição desse crédito na dívida ativa.
Por fim, a reiterada omissão no pagamento do tributo devido não autoriza a aplicação do princípio da insignificância,
mesmo que o valor do tributo suprimido não ultrapasse o montante de 20 mil reais.
O inadimplemento da obrigação tributária, isoladamente considerado, não é crime. Portanto, se o contribuinte declara
todas as hipóteses de incidência ao fisco, de acordo com a periodicidade exigida em lei, cumpre todas as obrigações acessórias e
tem escrita contábil regular, mas deixa de efetuar o pagamento do tributo, NÃO HÁ CRIME, MAS MERO INADIMPLEMENTO.
A diferença entre a mera inadimplência e a sonegação fiscal é exatamente o EMPREGO DA FRAUDE.
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6. Sonegação fiscal (evasão fiscal) e elisão fiscal
7. Tributo
A expressão “tributo” funciona como elemento normativo dos crimes dos arts.1º e 2º da Lei 8.137/90.
Com base no art.3º do CTN, podemos definir tributo como: toda OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA, constituída por LEI, que não
corresponda à sanção de ato ilícito, consistente no dever de uma pessoa (física ou jurídica, privada ou pública, chamada de
sujeito passivo da obrigação) PAGAR a outra (pública ou, excepcionalmente, privada delegada por lei daquela, chamado sujeito
ativo da obrigação) uma quantia em dinheiro, em face da ocorrência de determinado fato, descrito hipoteticamente em lei e
constitucionalmente autorizado.
O lucro obtido pela prática de um ilícito penal (“lucro ilícito”) – exemplo, lucro obtido com o tráfico de drogas -,
também deve ser tributado. Não se pode admitir que o Estado tribute apenas lucros auferidos de atividades lícitas, sem tributar
aqueles advindos de atividades ilícitas, sob pena de “premiar criminosos”.
O brocardo pecunia non olet significa que o “dinheiro não tem cheiro”, ou seja, que, independentemente do quão “mal
cheiroso” é o dinheiro (a origem deste dinheiro), uma vez auferido patrimônio, incidirá o tributo.
9. Competência criminal
Os “crimes contra a ordem tributária” são espécie do gênero “crimes contra a ordem econômico-financeira”.
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CF, Art. 109. Aos JUÍZES FEDERAIS compete processar e julgar:
VI - os crimes contra a organização do trabalho e, NOS CASOS DETERMINADOS POR LEI*, contra o sistema financeiro e a
ORDEM ECONÔMICO-FINANCEIRA;
* O simples fato de se tratar de crime contra o sistema financeiro ou contra a ordem econômico-financeira não atrai a
competência da Justiça Federal, devendo antes se verificar se assim o dispõe a lei. Caso a lei assim não disponha, a
competência será da Justiça Estadual, salvo se houver lesão a bens, serviços ou interesses da União, suas entidades
autárquicas ou empresas públicas (art.109, IV, da CF).
A Lei 8.137/90 silencia sobre o assunto. Portanto, os crimes nela previstos são de competência da Justiça Estadual,
salvo se incidir na hipótese do inc.IV do art.109 da CF, quando será de competência da Justiça Federal.
Assim:
• Quanto aos crimes previstos nos arts.1º ao 3º da Lei 8.137/90, a competência será da Justiça Federal se houver
supressão ou redução de TRIBUTOS FEDERAIS (ex: IR, II, IE);
• Tratando-se de tributos de natureza estadual ou municipal, a competência será da Justiça Estadual.
Havendo conexão e/ou continência envolvendo crimes de competência da Justiça Federal e Estadual, prevalecerá a
competência da Justiça Federal (Súmula 122 do STJ).
CPP, Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo LUGAR EM QUE SE CONSUMAR A INFRAÇÃO, ou, no caso de
tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de execução.
Tratando-se de crime contra a ordem tributária, a competência será determinada com base no LOCAL DO EFETIVO
PREJUÍZO SOFRIDO PLEO FISCO.
Partindo-se da premissa de que, para os Tribunais Superiores, os CRIMES MATERIAIS contra a ordem tributária se
consumam com a decisão final do procedimento administrativo de lançamento, conclui-se que a competência territorial será
determinada com base no local em que ocorrer A CONSTITUIÇÃO DEFINITIVA DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO, sendo irrelevante a
mudança de domicílio fiscal do contribuinte (STJ).
A Administração Fazendária tem o poder-dever de fiscalizar os atos dos sujeitos passivos das obrigações tributárias,
mas assim deve agir nos limites impostos pela CF/88 e pela Convenção Americana dos Direitos Humanos (CADH).
CTN, Art. 195. Para os efeitos da legislação tributária, NÃO TEM APLICAÇÃO quaisquer disposições legais excludentes ou
limitativas do direito de examinar mercadorias, livros, arquivos, documentos, papéis e efeitos comerciais ou fiscais, dos
comerciantes industriais ou produtores, ou da obrigação destes de exibi-los.
CTN, Art. 200. As autoridades administrativas federais poderão REQUISITAR AUXÍLIO DA FORÇA PÚBLICA federal, estadual ou
municipal, e reciprocamente, quando vítimas de embaraço ou desacato no exercício de suas funções, ou quando necessário à
efetivação dê medida prevista na legislação tributária, ainda que não se configure fato definido em lei como crime ou
contravenção.
É de se questionar se a autoridade administrativa, com auxílio de força pública (art.200), poderia invadir o
estabelecimento comercial do contribuinte para ter acesso aos documentos citados no art.195, sem o consentimento deste,
ou se haveria necessidade de prévia autorização judicial.
A CF/88 garante, como regra, a inviolabilidade do domicílio, excepcionando as hipóteses em que este pode ser
legalmente devassado, em seu art.5º, inc.XI. Por “casa”, deve-se extrair tal conceito do art.150, §4º, do CP.
Sem que ocorra qualquer das situações excepcionais taxativamente previstas na CF, nenhum agente público, ainda que
vinculado à administração tributária, poderá, contra a vontade de quem de direito, ingressar, durante o dia, sem mandado
judicial, em espaço privado não aberto ao público, sob pena de a prova resultante de tal diligência ser considerada ilícita.
De se ver, então, que o poder fiscalizador da administração tributária perdeu, em favor do reforço da garantia
constitucional do domicílio, a prerrogativa de auto-executoriedade. O ingresso dos agentes fiscais em dependência domiciliar do
contribuinte (ex, escritório de contabilidade) também está condicionado à existência de prévia autorização judicial.
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10.2. Quebra do sigilo de dados bancários e financeiros
LC 105/2001, Art. 1o As instituições financeiras conservarão sigilo em suas operações ativas e passivas e serviços prestados.
Conforme doutrina, esse dever de sigilo estende-se a todos os funcionários da instituição financeira cientes das
informações dos clientes e de terceiros no exercício de sua atividade, os quais podem vir a responder penal e disciplinarmente.
Uma vez determinada a quebra do sigilo bancário para fins de instrução processual penal, os destinatários das
informações (juiz, promotor e advogados) também passam a ter o dever de zelar pela proteção desse sigilo.
LC 105/2001, Art.5º, §1o Consideram-se operações financeiras, para os efeitos deste artigo:
I – depósitos à vista e a prazo, inclusive em conta de poupança;
II – pagamentos efetuados em moeda corrente ou em cheques;
III – emissão de ordens de crédito ou documentos assemelhados;
IV – resgates em contas de depósitos à vista ou a prazo, inclusive de poupança;
V – contratos de mútuo;
VI – descontos de duplicatas, notas promissórias e outros títulos de crédito;
VII – aquisições e vendas de títulos de renda fixa ou variável;
VIII – aplicações em fundos de investimentos;
IX – aquisições de moeda estrangeira;
X – conversões de moeda estrangeira em moeda nacional;
XI – transferências de moeda e outros valores para o exterior;
XII – operações com ouro, ativo financeiro;
XIII - operações com cartão de crédito;
XIV - operações de arrendamento mercantil; e
XV – quaisquer outras operações de natureza semelhante que venham a ser autorizadas pelo Banco Central do Brasil, Comissão
de Valores Mobiliários ou outro órgão competente.
Simples dados cadastrais não estão abrangidos pela proteção oferecida pelo sigilo financeiro, porquanto não
constituem informações atinentes à intimidade dos clientes das operações financeiras. Nesse sentido, art.15 da Lei das
Organizações Criminosas, art.17-B da Lei de Lavagem de Dinheiro e art.13-A do CPP.
Especificamente quanto ao fornecimento de informações bancárias e financeiras diretamente à administração
tributária, vejamos a redação dos arts.5º e 6º da LC 105/2001.
LC 105/2001, Art. 5o O Poder Executivo disciplinará, inclusive quanto à periodicidade e aos limites de valor, os critérios segundo
os quais as instituições financeiras informarão à administração tributária da União, as operações financeiras efetuadas pelos
usuários de seus serviços.
LC 105/2001, Art. 6o As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
somente poderão examinar documentos, livros e registros de instituições financeiras, inclusive os referentes a contas de
depósitos e aplicações financeiras, quando houver processo administrativo instaurado ou procedimento fiscal em curso e tais
exames sejam considerados indispensáveis pela autoridade administrativa competente.
A constitucionalidade desses dispositivos sempre foi alvo de intensa controvérsia, justamente por possibilitarem à
administração tributária ter acesso aos dados bancários e financeiros sem prévia autorização judicial.
Sempre prevaleceu o entendimento de que a transferência de informações sigilosas de entidade bancária ao órgão de
fiscalização tributária federal sem prévia autorização judicial NÃO CONFIGURA QUEBRA DE SIGILO OU DA PRIVACIDADE, mas
sim hipótese de TRANSFERÊNCIA DE DADOS SIGILOSOS de um órgão, que tem o dever de sigilo, para o outro, o qual deverá
manter essa mesma obrigação, sob pena de responsabilização.
Pondo um fim à controvérsia, o Plenário do Supremo concluiu, em julgamento de 4 ADIs, no mesmo sentido desse
entendimento prevalente.
DE OLHO NA JURIS! É possível que o Fisco requisite das instituições financeiras informações bancárias sobre os contribuintes
sem intervenção do Poder Judiciário
As autoridades e os agentes fiscais tributários da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios podem requisitar
diretamente das instituições financeiras informações sobre as movimentações bancárias dos contribuintes. Esta possibilidade
encontra-se prevista no art. 6º da LC 105/2001, que foi considerada CONSTITUCIONAL pelo STF. Isso porque esta previsão não
se caracteriza como "quebra" de sigilo bancário, ocorrendo apenas a “TRANSFERÊNCIA DE SIGILO” dos bancos ao Fisco. Vale
ressaltar que os Estados-Membros e os Municípios somente podem obter as informações previstas no art. 6º da LC 105/2001,
uma vez regulamentada a matéria de forma análoga ao Decreto Federal nº 3.724/2001, observados os seguintes parâmetros:
a) pertinência temática entre a obtenção das informações bancárias e o tributo objeto de cobrança no procedimento
administrativo instaurado;
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b) prévia notificação do contribuinte quanto à instauração do processo e a todos os demais atos, garantido o mais amplo
acesso do contribuinte aos autos, permitindo-lhe tirar cópias, não apenas de documentos, mas também de decisões;
c) sujeição do pedido de acesso a um superior hierárquico;
d) existência de sistemas eletrônicos de segurança que fossem certificados e com o registro de acesso; e, finalmente,
e) estabelecimento de mecanismos efetivos de apuração e correção de desvios.
A Receita Federal, atualmente, já pode requisitar tais informações bancárias porque possui esse regulamento. Trata-se
justamente do Decreto 3.724/2001 acima mencionada, que regulamenta o art. 6º da LC 105/2001. O art. 5º da LC 105/2001, que
permite obrigar as instituições financeiras a informarem periodicamente à Receita Federal as operações financeiras realizadas
acima de determinado valor, também é considerado CONSTITUCIONAL. STF. Plenário. ADI 2390/DF, ADI 2386/DF, ADI 2397/DF e
ADI 2859/DF, Rel. Min. Dias Toffoli, julgados em 24/2/2016 (Info 815). STF. Plenário. RE 601314/SP, Rel. Min. Edson Fachin,
julgado em 24/2/2016 (repercussão geral) (Info 815).
Firmada a premissa de que é lícito o fornecimento de informações sobre movimentações financeiras diretamente ao
fisco, sem autorização judicial, também há de se considerar lícito o compartilhamento promovido pela Receita Federal desses
dados bancários por ela obtidos com a Polícia e com o Ministério Público, quando do esgotamento da via administrativa e
constituição definitiva do crédito tributário, se acaso verificada a prática, em tese, de infração penal, independentemente de
prévia autorização judicial.
É possível o compartilhamento, sem autorização judicial, dos relatórios de inteligência financeira da UIF e do procedimento
fiscalizatório da Receita Federal com a Polícia e o Ministério Público
1. É constitucional o compartilhamento dos relatórios de inteligência financeira da UIF* e da íntegra do procedimento
fiscalizatório da Receita Federal do Brasil (RFB), que define o lançamento do tributo, com os órgãos de persecução penal para
fins criminais, sem a obrigatoriedade de prévia autorização judicial, devendo ser resguardado o sigilo das informações em
procedimentos formalmente instaurados e sujeitos a posterior controle jurisdicional.
2. O compartilhamento pela UIF* e pela RFB, referente ao item anterior, deve ser feito unicamente por meio de comunicações
formais, com garantia de sigilo, certificação do destinatário e estabelecimento de instrumentos efetivos de apuração e correção
de eventuais desvios. STF. Plenário. RE 1055941/SP, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 4/12/2019 (repercussão geral – Tema 990)
(Info 962).
* UIF = Unidade de Inteligência Financeira, antigo COAF
Por fim, não se pode confundir sigilo financeiro com sigilo fiscal. Este último funciona como um dever de segredo e
confidencialidade da situação tributária dos contribuintes, pessoas físicas ou jurídicas. Enquanto o sigilo financeiro deve ser
preservado pelas instituições financeiras, pelas empresas de factoring, pelo Banco Central do Brasil e pela Comissão de Valores
Mobiliários, o sigilo fiscal tem como destinatários a Fazenda Pública (União, Estados, DF e Municípios) e seus agentes.
11. Classificação dos crimes contra a ordem tributária previstos na Lei 8.137/90
Seção I
Dos crimes praticados por particulares
Levando em conta o “sujeito ativo”, os crimes contra a ordem tributária previstos na Lei 8.137/90 podem ser
classificados como:
a) crimes praticados por particulares (arts.1º e 2º da Lei 8.137/90), os quais podem ser subdivididos em:
a.1. art.1º da Lei 8.137/90: crimes MATERIAIS contra a ordem tributária à necessidade de haver resultado naturalístico
consistente na supressão ou redução do tributo. Parte da doutrina denomina tais crimes de crimes de sonegação fiscal em
sentido próprio.
a.2. art.2º da Lei 8.137/90: crimes FORMAIS contra a ordem tributária à não exige resultado naturalístico. Aqui, a supressão ou
redução do tributo funciona como elemento subjetivo do tipo. Exceção: o crime de apropriação indébita tributária (art.2º,
inc.II) é crime formal, mas o STF passou a tratá-lo como crime material.
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12. Supressão ou redução de tributo, contribuição social e qualquer acessório
Lei 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária SUPRIMIR ou REDUZIR tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas:
• Suprimir: consiste em DEIXAR DE PAGAR, total ou parcialmente, o montante devido. Ocorre após o surgimento da
obrigação tributária ou da ocorrência do fato gerador. Cria-se, ficticiamente, a ideia de que o contribuinte não deve o
tributo porque o registro da operação foi falso, quer por ter sido inserido registro de operação inexistente, geradora de
falso crédito, quer porque foi omitido o registro da operação como se ela não tivesse sido realizada.
• Reduzir: PAGAR UM VALOR MENOR do que aquele efetivamente devido.
• Tributo: estudamos o seu conceito no item 7 desta apostila. Para fins de tipificação dos crimes contra a ordem
tributária, a tipicidade dever ser dupla, ou seja, tanto no âmbito tributário quanto no âmbito penal.
• Contribuição social: teoricamente, não haveria necessidade de o legislador prever “contribuição social”, já que esta é
espécie de tributo. Porém, como corrente minoritária da doutrina entende que contribuição social não é espécie de
tributo, a fim de evitar controvérsias, entendeu por bem o legislador prever de forma expressa.
• Qualquer acessório: a obrigação tributária acessória decorre de lei e tem por objeto prestações, positivas ou negativas,
no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Podem corresponder a obrigações de fazer, não fazer ou
tolerar. Essas obrigações acessórias têm como objetivo precípuo conferir à fiscalização tributária meios para investigar
e controlar o recolhimento de tributos.
• Mediante as seguintes condutas: os incisos I a V e o parágrafo único do art.1º da Lei 8.137/90 elencam diversas
“condutas-meio” para a consecução do resultado supressão ou redução de tributo. Se exaurida a sua potencialidade
lesiva, a “conduta-meio” será absorvida pelo “crime-fim” com base no princípio da consunção. Logo, ainda que
diversas condutas elencadas nos incisos do art.1º consistam, autonomamente, em verdadeiras espécies de falsidade
material e ideológica e estelionato, serão absorvidas pelo crime-fim quando praticadas para fins de supressão ou
redução de tributo.
Para Renato Brasileiro, quando a redução ou supressão no pagamento do tributo decorrer de ERRO do agente quanto à
INTERPRETAÇÃO DA LEI TRIBUTÁRIA, é caso de ERRO DE TIPO, pois há uma falsa representação sobre elemento constitutivo do
tipo. Nesse caso, como não se admite a punição de crimes contra a ordem tributária a título culposo, a conduta será atípica.
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12.4. Sujeitos do crime
12.4.1. Sujeito ativo
Trata-se de CRIME PRÓPRIO, pois o sujeito ativo do crime será o SUJEITO PASSIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA.
O sujeito passivo da obrigação tributária pode ser o CONTRIBUINTE (contribuinte de fato), quando tiver relação direta
e pessoal com o fato gerador, ou RESPONSÁVEL (contribuinte de direito), quando não tiver relação direta e pessoal com o fato
gerador e sua obrigação decorrer de lei.
O sujeito passivo do crime contra a ordem tributário é o SUJEITO ATIVO DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA, leia-se, a pessoa
jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento (União, Estados, DF, Municípios ou autarquias
criadas por estas pessoas jurídicas).
Em se tratando de contribuição social, o sujeito passivo será o INSS.
Súmula vinculante 24-STF: Não se tipifica CRIME MATERIAL contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º, incisos I a IV, da Lei
nº 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO.
Para o STF, o lançamento definitivo do tributo é condição objetiva de punibilidade. E é a partir do lançamento
definitivo do tributo, também, que se começa a contar o prazo prescricional.
Se está pendente recurso administrativo que discute o débito tributário perante as autoridades fazendárias, ainda não
há crime, porquanto tributo é elemento normativo do tipo. Em consequência, não há falar-se em início do lapso prescricional.
A Súmula Vinculante 24 representa a consolidação de uma interpretação judicial que já era adotada há anos pelos
Tribunais Superiores, daí porque ela pode ser aplicada inclusive aos crimes cometidos antes da sua vigência*.
Sem embargo da redação da súmula vinculante n. 24, para Renato Brasileiro, a consumação do crime do art.1º da Lei
8.137/90 ocorre no exato momento em que se dá a supressão ou redução do tributo, contribuição social ou acessório, o que
ocorre no momento da expiração do prazo para o seu recolhimento, se que este tenha se efetivado. Ora, se a decisão final do
procedimento administrativo de lançamento funciona como condição objetiva de punibilidade nos crimes materiais contra a
ordem tributária, e não como elementar de tais delitos, a ela não se pode conferir o poder de determinar o marco consumativo
do crime.
Como se trata de crime plurissubsistente, em tese, é possível a tentativa. Porém, neste caso, o agente responderá pelo
art.2º, inciso I, da Lei 8.137/90, que se distingue do crime do art.1º pelo fato de ter natureza formal, dispensando a produção do
resultado supressão ou redução do tributo para o reconhecimento da forma consumada do crime.
Como o crime do art.1º da Lei 8.137/90 é de conduta múltipla, conclui-se que a prática de mais de uma conduta
descrita em seus incisos não afasta a caracterização de crime único, desde que haja supressão ou redução de um único tributo
em uma mesma competência.
Logicamente, se tais condutas forem reiteradas ao longo dos anos, restará caracterizado o concurso de crimes.
Há controvérsias quanto à hipótese em que o agente, mediante a prática de uma única conduta, causa a supressão de
dois ou mais tributos, de titularidades de entes diversos – ex: omissão da prestação de serviços, dando ensejo à redução do
quantum devido a título de IR, COFINS, CSLL, etc.
1ª corrente: serão tantos crimes quantas forem as pessoas jurídicas de direito público lesionadas pelo crime.
2ª corrente: se a conduta der ensejo à supressão/redução de mais de um tributo, seja da mesma pessoa jurídica ou não, haverá
crime único. Primeiro, porque o bem jurídico tutelado é a ordem tributária (e não cada tributo isoladamente). Segundo, porque,
com a carga tributária a que está sujeito o contribuinte brasileiro, dificilmente seria possível que o agente suprimisse ou
reduzisse um único tributo, o que nos levaria à conclusão de que toda e qualquer conduta voltada à sonegação teria o condão
de caracterizar mais de um crime. A jurisprudência dos Tribunais parece caminhar neste sentido.
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12.7. Classificação doutrinária
a) Crime próprio ou especial: exige qualidade especial do agente (sujeito passivo da obrigação tributária).
CUIDADO! É possível a coautoria ou participação com outros agentes que não gozem da qualidade especial.
b) Crime material: o resultado naturalístico – supressão ou redução do tributo – é indispensável à consumação do crime.
c) Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado: se as várias condutas forem praticadas em um mesmo contexto,
haverá crime único.
d) Crime unissubjetivo: pode ser praticada por uma única possível, mas é possível também o concurso de agentes.
e) Crime plurissubsistente: a conduta pode ser desdobrada em vários atos.
13. Supressão ou redução de tributo por meio da omissão de informação ou prestação de declaração falsa às autoridades
fazendárias
Lei 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária SUPRIMIR ou REDUZIR tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas:
I - OMITIR informação, ou PRESTAR declaração falsa às autoridades fazendárias;
CTN, Art. 147. O lançamento é efetuado com base na declaração do sujeito passivo ou de terceiro, quando um ou outro, na
forma da legislação tributária, presta à autoridade administrativa informações sobre matéria de fato, indispensáveis à sua
efetivação.
Portanto, até que seja provado em sentido contrário, o Fisco aceita a palavra do sujeito passivo em sua declaração,
ressalvadas as hipóteses de revisão de lançamento.
Sabedor de que essas informações são fundamentais para a arrecadação tributária, o contribuinte deixa, então, de
fornecê-las integralmente ou fornece declarações não verdadeiras, causando a supressão ou redução do tributo, incorrendo,
assim, no crime do art.1º, inc.I, da Lei 8.137/90.
A conduta deste inciso I consiste em espécie de FALSIDADE IDEOLÓGICA, a qual pode ser praticada mediante conduta
comissiva ou omissiva (inserindo informação falsa ou omitindo informação verdadeira). Vejamos a análise do tipo:
• “omitir informação” (conduta omissiva) à deixar de inserir ou não fornecer informação que deveria ser prestada às
autoridades fazendárias. Trata-se de crime omissivo impróprio, pois é indispensável a produção do resultado
“supressão” ou “redução” do tributo.
• “prestar declaração falsa” (conduta comissiva) à o agente presta informações falsas ou diversas daquelas que
deveriam ser fornecidas.
• “autoridades fazendárias” à autoridades legalmente investidas nas funções de receber do sujeito passivo da
obrigação tributária as informações e declarações fiscais necessárias, como, por exemplo, auditores fiscais, delegados
da Receita Federal, etc.
Trata-se de tipo misto alternativo. Assim, se as duas condutas (omitir e prestar declaração falsa) forem praticadas em um
mesmo contexto fático, responderá o agente por crime único.
DE OLHO NA JURIS! Incompatibilidade entre os rendimentos declarados e os valores movimentados caracteriza omissão de
receita
Se há uma incompatibilidade entre os rendimentos informados pelo contribuinte na declaração de ajuste anual e os valores
movimentados no ano calendário em sua conta bancária isso caracteriza a presunção relativa de omissão de receita,
configurando o crime previsto no art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90. Por se tratar de uma presunção relativa, o réu pode fazer prova
em sentido contrário. O dolo desse tipo penal manifesta-se na conduta dirigida à omissão de receita e à redução do IRPF,
concretizada na apresentação de declaração de imposto de renda sem informar a realização da respectiva movimentação
financeira. STJ. 6ª Turma. REsp 1326034-PE, Rel. Min. Og Fernandes, julgado em 2/10/2012.
Lei 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária SUPRIMIR ou REDUZIR tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas:
II - FRAUDAR a fiscalização tributária, INSERINDO elementos inexatos, ou OMITINDO operação de qualquer natureza, em
documento ou livro exigido pela lei fiscal;
Este tipo penal também prevê uma conduta comissiva e outra omissiva. Vejamos.
@dicas.exconcurseira 10
• “Inserir elementos inexatos” (conduta comissiva) à ex: lançamento de notas fiscais no livro de registro de saída de
mercadoria com valores inferiores aos valores constantes das notas fiscais ou o lançamento de várias notas ao mesmo
tempo, sendo que o valor lançado é inferior à soma deles.
• “Omitir operação de qualquer natureza” (conduta omissiva) à trata-se de crime omissivo impróprio, pois o agente
que deve prestar as informações é garantidor, na medida em que possui a obrigação legal de fazê-lo (art.13, §2º, “a”,
CP). Ex: omissão do registro de entrada de mercadorias e consequente omissão do registro de saída de mercadorias.
• “Fiscalização tributária” à o corpo administrativo responsável pela verificação da regularidade das operações do
sujeito passivo, abrangendo tanto o órgão arrecadador, quanto seus agentes
• “Documento ou livro exigido pela lei fiscal” à estamos diante de uma norma penal em branco, a ser preenchida pela
lei tributária, que deve indicar quais são os documentos e livros que podem ser exigidos do contribuinte/responsável.
ATENÇÃO! A diferença entre a conduta do inciso I e a do inciso II diz respeito ao OBJETO. Enquanto no inciso I a omissão ou
falsificação recai sobre as declarações prestadas, no inciso II o objeto do crime são os documentos mantidos em poder da
própria empresa, ou seja, sua escrituração fiscal.
O crime do inc.II do art.1º da Lei 8.137/90 somente exige o elemento subjetivo doloso para a sua configuração,
consistente na efetiva vontade de FRAUDAR O FISCO.
15. Supressão ou redução de tributo por meio de falsificação de documentos relativos à operação tributável
Lei 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária SUPRIMIR ou REDUZIR tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas:
III – FALSIFICAR ou ALTERAR nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à OPERAÇÃO
TRIBUTÁVEL;
• “falsificar” (ou contrafação) à traduz a ideia de fabricar um documento relativo à operação tributável até então
inexistente.
• “alterar” à modificar um documento verdadeiro relativo à operação tributável.
16. Supressão ou redução de tributo por meio do fornecimento ou distribuição de documento falso ou inexato
Lei 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária SUPRIMIR ou REDUZIR tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas:
IV - ELABORAR, DISTRIBUIR, FORNECER, EMITIR ou UTILIZAR documento que SAIBA (DOLO DIRETO) ou DEVA SABER (DOLO
INDIRETO) FALSO ou INEXATO;
Este dispositivo visa coibir o comércio ilegal de documentos, popularmente conhecido como venda de notas frias.
Este inciso traz modalidades de falsidade material e ideológica. Vejamos.
@dicas.exconcurseira 11
17. Supressão ou redução de tributo por meio da negativa de fornecimento de nota fiscal
Lei 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária SUPRIMIR ou REDUZIR tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas:
V - NEGAR ou DEIXAR DE FORNECER, quando OBRIGATÓRIA, NOTA FISCAL ou documento equivalente, relativa a VENDA DE
MERCADORIA ou PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, efetivamente realizada, ou FORNECÊ-LA EM DESACORDO COM A LEGISLAÇÃO.
Aqui, vemos uma prática recorrente em estabelecimentos comerciais que se recusam a fornecer ao cliente a nota ou o
cupom fiscal relacionado à mercadoria ou serviço adquirido.
São 3 as condutas incriminadas. Vejamos.
• negar: o fornecedor de bens ou serviços se recusa a fornecer a nota fiscal pedida pelo cliente/comprador;
• deixar de fornecer: quando o fornecedor deixa de emitir a nota fiscal. Aqui, pouco importa a conduta, que pode ter
dispensado a nota fiscal.
• fornecimento em desacordo com a legislação: de natureza evidentemente subsidiária, a última hipótese constante no
inc.V diz respeito à situação em que a nota fiscal é emitida, porém contrariando os requisitos das normas legais.
Lembre-se que essas 3 condutas devem ser praticadas para suprimir ou reduzir o pagamento de tributo (caput).
DE OLHO NA JURIS! Pagamento da multa tributária não extingue a punibilidade do crime previsto no art. 1º, V, da Lei 8.137/90
O pagamento da penalidade pecuniária imposta ao contribuinte que deixa de atender às exigências da autoridade tributária
estadual quanto à exibição de livros e documentos fiscais não se adequa a nenhuma das hipóteses de extinção de punibilidade
previstas no § 2º do art. 9º da Lei nº 10.684/2003. STJ. 6ª Turma. REsp 1630109-RJ, Rel. Min. Maria Thereza de Assis Moura,
julgado em 14/2/2017 (Info 598).
Súmula vinculante 24-STF: Não se tipifica CRIME MATERIAL contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º, incisos I a IV, da Lei
nº 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO.
Esta súmula restringe a sua aplicação aos incisos I ao IV do art.1º da Lei 8.137/90, do que se poderia concluir que a
conduta no inc.V e do parágrafo único do art.1º não teriam o lançamento definitivo do tributo como condição objetiva de
punibilidade para a deflagração da persecução penal.
Há quem entenda que a exclusão do inc.V e do parágrafo único é perfeitamente válida. Primeiro, porque a conduta do
inc.V é formal. Segundo, porque se houve o emprego de fraude através da utilização de programas de processamento de dados
com informações contábeis diversas daquelas fornecidas à Fazenda Pública, a impossibilidade de apreensão dos documentos
material e ideologicamente falsos acabaria inviabilizando a persecução penal. Há precedentes do STJ neste sentido.
Para Renato Brasileiro, a SV 24 também deveria ser aplicada ao inc.V e parágrafo único do art.1º. Isso porque o crime
contra a ordem tributária não está previsto nos incisos do art.1º, mas, sim, em seu caput, que prevê em seus incisos apenas
condutas que visem obter o mesmo resultado (supressão ou redução do tributo). Consequentemente, há de se conferir ao inc.V
e caput do art.1º o mesmo tratamento dirigido às demais condutas.
18. Supressão ou redução de tributo por meio da falta de atendimento da exigência da autoridade fazendária
Lei 8.137/90, Art. 1° Constitui crime contra a ordem tributária SUPRIMIR ou REDUZIR tributo, ou contribuição social e qualquer
acessório, mediante as seguintes condutas:
Parágrafo único. A FALTA DE ATENDIMENTO DA EXIGÊNCIA DA AUTORIDADE, no prazo de 10 DIAS*, que poderá ser convertido
em horas em razão da maior ou menor complexidade da matéria ou da dificuldade quanto ao atendimento da exigência,
caracteriza a infração prevista no inciso V.
Aqui, temos uma espécie de conduta equiparada ao inc.V, que guarda semelhança com o crime de desobediência
previsto no art.330 do CP.
O crime do art.1º, parágrafo único, visa proteger a ação fiscal voltada para tomar conhecimento da ocorrência do fato
gerador da obrigação tributária principal.
Para a tipificação desde delito, são indispensáveis a notificação regular escrita, dirigida a quem deva efetivamente
cumpri-la, o prazo, cujo início será contado a partir do recebimento da notificação, e também a indicação dos documentos,
livros e papéis que se pretende vistoriar.
* Trata-se de crime a prazo, que se consuma após o decurso de determinado lapso temporal.
@dicas.exconcurseira 12
Há certa controvérsia quanto à natureza material ou formal do crime do parágrafo único. Vejamos as duas correntes.
1ª corrente: cuida-se de crime de natureza formal à sua consumação ocorre com a simples falta de atendimento da exigência
feita pela autoridade fiscal, independentemente da supressão ou redução de tributo. Há precedentes da 6ª Turma do STJ neste
sentido.
2ª corrente (Renato Brasileiro): cuida-se de crime de natureza material à o parágrafo único nada mais é do que uma das
formas de se praticar o crime do art.1º, o qual tem sua consumação atrelada à produção de um resultado, qual seja a supressão
ou redução do tributo. Logo, a ele deve ser atribuída a mesma natureza de crime material.
Quando o contribuinte deixa de atender às exigências da autoridade tributária quanto à obrigação de exibir livros e
documentos fiscais, a ele é imputada uma multa. O pagamento desta multa, no entanto, não se adequa a nenhuma das
hipóteses de extinção da punibilidade previstas no art.9º, §2º, da Lei 10.684/2003.
Lei 10.684/03, Art. 9o É SUSPENSA A PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO, referente aos crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei
no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e nos arts. 168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código
Penal, durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no REGIME DE
PARCELAMENTO.
§1o A PRESCRIÇÃO CRIMINAL NÃO CORRE DURANTE O PERÍODO DE SUSPENSÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA.
§2o EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar
o PAGAMENTO INTEGRAL dos débitos oriundos de TRIBUTOS e contribuições sociais, inclusive ACESSÓRIOS.
De acordo com o art.3º do CTN, os tributos – por serem prestações pecuniárias compulsórias, não sancionatórias,
instituídas por lei – não se confundem com as multas.
A penalidade pecuniária imposta ao contribuinte que deixa de atender à requisição da autoridade fiscal constitui
obrigação tributária principal, mas não configura tributo (art.3º do CTN).
Portanto, o pagamento da penalidade pecuniária imposta ao contribuinte que deixa de atender às exigências da
autoridade tributária quanto à exibição de livros e documentos fiscais não se adequa a qualquer das hipóteses previstas no
art.9º, §2º, da Lei 10.684/03.
Lei 8.137/90, Art. 2° Constitui crime da mesma natureza: à “mesma natureza” = natureza tributária
Diversamente dos crimes tributários previstos no art.1º, que têm natureza material, é dizer, consumam-se apenas com
a produção do resultado naturalístico supressão ou redução do tributo, os delitos do art.2º da Lei 8.137/90 – salvo seu inc.II –
têm natureza FORMAL, ou seja, consumam-se independentemente da produção de qualquer resultado.
A decisão do procedimento administrativo de lançamento funciona como condição objetiva de punibilidade apenas nos
crimes materiais contra a ordem tributária. Como os crimes do art.2º da Lei 8.137/90 são de natureza formal, é dispensável a
conclusão do procedimento administrativo de lançamento para dar início à persecução penal.
CUIDADO! O STJ tem precedentes isolados no sentido de que, para a persecução penal do art.2º, inc.I, da Lei 8.137/90, é
necessário aguardar o encerramento do procedimento administrativo de lançamento.
19.2. Infração de menor potencial ofensivo e competência dos Juizados Especiais Criminais (Federais ou Estaduais)
@dicas.exconcurseira 13
19.3. Sujeitos do crime
O sujeito ativo é, em regra, o contribuinte/responsável tributário (à semelhança do que ocorre o art.1º), daí por que se
pode dizer que também se trata de crime próprio/especial. Nos casos dos incs.III, IV e V, do art.2º, o crime pode ser praticado
por qualquer pessoa (crime comum), sendo que – especificamente em relação ao inc.IV – o sujeito ativo deve encontrar-se na
situação de beneficiário de incentivo fiscal, intermediário ou representante de qualquer delas.
Sujeito passivo é a pessoa jurídica titular do tributo e, secundariamente, a sociedade.
À exceção do crime de apropriação indébita tributária (art.2º, inc.II, da Lei 8.137/90), que é considerado pela
jurisprudência como espécie de crime material, todos os demais crimes do art.2º são formais, consumando-se com a simples
prática do verbo núcleo do tipo, independentemente da produção do resultado (supressão ou redução do tributo).
Comparando o art.2º, inc.I, com o art.1º, inc.I, percebe-se que aquele funciona como verdadeiro soldado reserva, que
restará caracterizado quando, a despeito do emprego da fraude pelo agente, não ocorrer o resultado supressão ou redução do
tributo. Uma vez alcançado este resultado (supressão/redução de tributo), o art.1º, inc.I, absorverá o crime do art.2º, inc.I.
DE OLHO NA JURIS! Termo inicial do prazo prescricional do crime previsto no art. 2º, I, da Lei 8.137/90
O termo inicial do prazo prescricional da pretensão punitiva do crime previsto no art. 2º, I, da Lei nº 8.137/90 é a data em que a
fraude é praticada, e não a data em que ela é descoberta. Isso porque o referido tipo tem natureza de crime formal,
instantâneo, sendo suficiente a conduta instrumental, haja vista não ser necessária a efetiva supressão ou redução do tributo
para a sua consumação, bastando o emprego da fraude. Assim, o fato de a fraude ter sido empregada em momento
determinado, ainda que irradie efeitos até ser descoberta, não revela conduta permanente, mas sim crime instantâneo de
efeitos permanentes — os quais perduraram até a descoberta do engodo. STJ. 5ª Turma. RHC 36024-ES, Rel. Min. Reynaldo
Soares da Fonseca, julgado em 25/8/2015 (Info 568).
O sujeito ativo é exclusivamente o sujeito passivo da obrigação tributária, sobre quem recai a obrigação tributária
acessória de fazer, não fazer ou de tolerar. Cuida-se de crime especial.
O sujeito passivo é a pessoa jurídica de direito público titular da competência de instituir e cobrar o tributo.
A única diferença ente os dois dispositivos legais (art.1º, inc.I, x art.2º, inc.I) é que o art.2º, inc.I, é um pouco mais amplo, já
que o legislador usou a expressão “empregar outra fraude”, fazendo uso da interpretação analógica.
A fraude deve ser idônea a enganar a Administração Fazendária.
Vejamos outros elementos do tipo:
• rendas: valores recebidos que integram o patrimônio do beneficiário;
• bens: tudo o que seja útil para satisfação de uma necessidade humana, sendo passível de apreciação econômica;
• fatos: acontecimentos que possuem relevância tributário e aptos a criar, modificar ou extinguir direitos e/ou
obrigações.
@dicas.exconcurseira 14
20.4. Tipo subjetivo
O art.2º, inc.I, demanda não apenas a presença do dolo genérico, mas também do dolo específico “para eximir-se, total
ou parcialmente, de pagamento de tributo”.
Por se tratar de crime formal, sua consumação se dá com o simples emprego da fraude, objetivando a supressão ou
redução do tributo, independentemente deste resultado vir ou não a acontecer. CUIDADO! Se este resultado ocorrer, estará
tipificado o crime do art.1º, inc.I, da Lei 8.137/90.
O crime do art.2º, inc.I, se consuma com a simples realização das condutas incriminadas, independentemente do
resultado.
Em relação à conduta omissiva do art.2º, inc.I, não se admite a tentativa. Quando às demais condutas, conquanto seja
de difícil ocorrência, é possível o fracionamento da conduta, transformando-os em crimes plurissubsistentes, os quais admitem
a tentativa.
a) crime próprio;
b) crime formal;
c) crime de ação múltipla;
d) crime unissubjetivo;
e) crime plurissubsistente.
DE OLHO NA JURIS! A ausência de contumácia no não recolhimento do ICMS em operações próprias conduz ao reconhecimento
da atipicidade da conduta
No caso dos autos, a conduta típica imputada ao réu restringe-se ao não recolhimento do ICMS relativo a 1 (um) mês. Portanto,
nos termos do atual entendimento do STF, deve-se concluir que, embora a conduta do réu se se subsuma formalmente ao art.
2º, II, da Lei nº 8.137/90, diante da ausência de contumácia, não há tipicidade na conduta, o que gera, por conseguinte, à
absolvição do réu. STJ. 6ª Turma. AgRg no REsp 1867109-SC, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 25/08/2020 (Info 679).
O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente da
mercadoria ou serviço, incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei 8.137/90
A conduta de não recolher ICMS em operações próprias ou em substituição tributária enquadra-se formalmente no tipo previsto
no art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 (apropriação indébita tributária), desde que comprovado o dolo. O não repasse do ICMS
recolhido pelo sujeito passivo da obrigação tributária, em qualquer hipótese, enquadra-se (formalmente) no tipo previsto art.
2º, II, da Lei nº 8.137/90, desde que comprovado o dolo. Em outras palavras, o tipo do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90 não fica
restrito apenas às hipóteses em que há substituição tributária. O que se criminaliza é o fato de o sujeito passivo se apropriar do
dinheiro relativo ao imposto, devidamente recebido de terceiro, quer porque descontou do substituído tributário, quer porque
cobrou do consumidor, não repassando aos cofres públicos. STJ. 3ª Seção. HC 399109-SC, Rel. Min. Rogerio Schietti Cruz, julgado
em 22/08/2018 (Info 633).
@dicas.exconcurseira 15
O contribuinte que, de forma contumaz e com dolo de apropriação, deixa de recolher o ICMS cobrado do adquirente da
mercadoria ou serviço, incide no tipo penal do art. 2º, II, da Lei nº 8.137/90. O valor do ICMS cobrado do consumidor não
integra o patrimônio do comerciante, o qual é mero depositário desse ingresso de caixa que, depois de devidamente
compensado, deve ser recolhido aos cofres públicos. Vale ressaltar, contudo, que, para caracterizar o delito, é preciso
comprovar a existência de intenção de praticar o ilícito (dolo). STF. Plenário. RHC 163334/SC, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 18/12/2019 (Info 964).
O erário público.
Para parte da doutrina, a criminalização da apropriação indébita tributária é hipótese de prisão civil por dívida, a
qual, segundo a CF/88, só é permitida nos casos do devedor de alimentos e do depositário infiel (art.5º, LXVII, CF) – lembrando
que esta última hipótese foi declarada inconvencional (revogada pela Convenção Americana de Direitos Humanos; vide SV 25).
Portanto, não se poderia criar nova hipótese de prisão civil por lei infraconstitucional. Essa tese ganha ainda mais reforço se
considerarmos que o crime do art.2º, inc.II, da Lei 8.137/90, não tem a fraude como uma de suas elementares.
A jurisprudência resiste em declarar a inconstitucionalidade do art.2º, inc.II, pois, para ela, o tipo penal não é deixar de
recolher tributo que devia ser cobrado, mas sim deixar de recolher tributo efetivamente cobrado ou descontado. DE OLHO NA
JURIS! Em recente julgado (ARE 999.425 RG/SC, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. 02/03/2017, DJe 50 15/03/2017), o Plenário
do STF reconheceu a existência de repercussão geral da matéria para reafirmar sua jurisprudência no sentido de que os
crimes previstos na Lei 8.137/90 NÃO VIOLAM o disposto no art.5º, LXVII, da CF.
• “deixar de recolher” à deixar de repassar ao Fisco (conduta omissiva) o tributo efetivamente cobrado ou descontado.
Trata-se de crime omissivo próprio, porquanto sua consumação ocorre no exato momento em que o agente deixa de
recolher os valores cobrados ou descontados aos cofres públicos.
• “no prazo legal” à trata-se de lei penal em branco homogênea, que será complementada pela legislação tributária.
• “tributo descontado” à se dá mediante a retenção na fonte. Ex: no IR, a fonte pagadora do rendimento (ex, o
empregador) tem a obrigação de reter parcela desse rendimento e fazer repasse à União.
• “tributo cobrado” à cuida-se de uma obrigação tributária acessória imposta ao contribuinte de tributos indiretos. Ex:
o ICMS é imposto que o consumidor paga e que está “dentro” do valor da própria mercadoria.
Trata-se de crime próprio, que só pode ser praticado pelo sujeito passivo da obrigação tributária responsável pelo
desconto ou pela cobrança dos tributos – e aí poderá ser o contribuinte ou o responsável tributário.
A depender da espécie de tributo, o sujeito passivo pode ser a União, os Estados, o DF ou os Municípios, ou até
mesmo autarquias (ex: em se tratando de contribuições sociais, o sujeito passivo é o INSS).
Para a doutrina, sempre prevaleceu o entendimento de que se trata de crime formal/de consumação antecipada e
estaria consumado no momento da realização “deixar de recolher”, o que se daria com o vencimento do prazo legal.
Recentemente, porém, o STF alterou entendimento até então pacífico para concluir que o crime de apropriação
indébita PREVIDENCIÁRIA é espécie de crime material e, portanto, a persecução penal desse delito está condicionada à decisão
final do procedimento administrativo de lançamento.
Para Renato Brasileiro, sob pena de violação ao princípio da isonomia (semelhança entre os dois crimes, conforme
vimos na tabela do item 21), este mesmo entendimento deve ser aplicado também ao crime de apropriação indébita
TRIBUTÁRIA.
Por fim, em tese, não se admite a tentativa do crime do art.2º, inc.II, a Lei 8.137/90, já que se trata de crime omissivo
próprio.
@dicas.exconcurseira 16
21.7. Prévio esgotamento da instância administrativa
Se o crime do art.2º, inc.II, da Lei 8.137/90, fosse considerado formal, não haveria necessidade de se aguardar a decisão
final do procedimento administrativo de lançamento para que tivesse início a persecução penal. Mas, como vimos no item
anterior (decisão do STF) e conforme entendimento de Renato Brasileiro, tal crime deve ser considerado material, devendo,
portanto, aguardar o esgotamento da instância administrativa.
a) crime próprio;
b) crime formal à doutrina; crime material à STF;
c) crime de ação única (prevê apenas uma modalidade de conduta);
d) crime unissubjetivo (cometido por uma só pessoa);
e) crime unissubsistente (a conduta é composta por um único ato).
O incentivo fiscal funciona como espécie de subsídio concedido pelo Estado por meio da renúncia de parte da receita
tributária auferida pelo pagamento de tributos, para que o beneficiário utilize esse dinheiro em atividades cujo
desenvolvimento é do interesse do Estado.
Este crime visa punir eventuais desvios de destinação dos recursos oriundos de incentivos que tenham por objeto
impostos ou contribuições.
É o dolo. Mas, como o inc.III fala “para si ou para o contribuinte beneficiário”, deve estar presente, também, o ânimo
de apropriação.
O sujeito ativo não é o contribuinte nem o funcionário público, mas uma espécie de lobista ou intermediador que
agencia negociando a concessão de incentivos fiscais, estipulando extorsivamente uma espécie de comissão pelo serviço
prestado, que é calculada sobre a base de percentuais que incidem sobre a parcela dedutível ou deduzida de imposto ou
contribuição como incentivo fiscal. Trata-se de crime comum.
Especificamente quanto aos verbos exigir e receber, o sujeito ativo do delito pode ser tanto o funcionário público
quanto um terceiro intermediador. CUIDADO! Se o sujeito ativo for funcionário público, prevalece o crime do art.3º, inc.II, da
Lei 8.137/90 sobre o art.2º, inc.III, da mesma lei.
O sujeito passivo é o ente político outorgante do incentivo fiscal, o beneficiário do incentivo e a sociedade em geral.
Quanto ao verbo “exigir”, trata-se de crime formal, que não admite tentativa (salvo se a exigência se der por escrito).
Quanto aos demais verbos “pagar” e “receber”, trata-se de crime material, que admite tentativa.
@dicas.exconcurseira 17
22.5. Classificação doutrinária
a) crime comum;
b) crime de mera conduta;
c) crime de ação múltipla ou de conteúdo variado;
d) crime unissubjetivo;
e) crime unissubsistente (verbo exigir) ou plurissubsistente (verbos pagar e receber).
Este crime visa coibir o desvio de finalidade no que diz respeito à aplicação dos incentivos fiscais concedidos.
Em regra, os incentivos fiscais são concedidos a pessoas jurídicas. Ocorre que os entes fictícios não estão sujeitos à
responsabilidade penal. Logo, o sujeito ativo desse delito é a pessoa física responsável pela empresa que recebeu o incentivo
fiscal ou parcelas de imposto liberadas por órgão ou entidade em desenvolvimento. Cuida-se, pois, de crime próprio.
Sujeito passivo é a sociedade, que deixou de se beneficiar com as medidas objetivadas pelos incentivos fiscais; e,
indiretamente, a entidade outorgante do incentivo fiscal.
• “incentivo fiscal” à todo favor fiscal outorgado ao contribuinte como contrapartida de fomento de atividade
pretendida pelo poder público.
• “órgão ou entidade de desenvolvimento” à é aquele responsável pela liberação dos incentivos fiscais e/ou das
parcelas de imposto, que pode ser tanto o ente público ou o ente criado pelo Poder Público para se responsabilizar pelo
estabelecimento das políticas públicas.
• “deixar de aplicar” à crime omissivo próprio, que se consuma no momento em que expirar o prazo para a aplicação
do incentivo fiscal. Não admite tentativa, porque os crimes omissivos próprios são unissubsistentes.
• “aplicar em desacordo com o estatuído” à crime plurissubsistente, que admite tentativa.
a) crime próprio;
b) crime de mera conduta;
c) crime de ação múltipla/conteúdo variado;
d) crime unissubjetivo;
e) crime unissubsistente, quando a conduta for omissiva; ou plurissubsistente, quando a conduta for comissiva.
Cuida-se de uma espécie de contabilidade paralela, usualmente conhecida como “caixa dois”.
Trata-se de soldado reserva em relação ao crime do art.1º da Lei 8.137/90, de maneira que tal crime só restará
tipificado se não houver a supressão ou redução do tributo.
@dicas.exconcurseira 18
24.1. Sujeitos do delito
Sujeito ativo é aquele que utiliza ou divulga o programa de processamento de dados capaz de permitir ao sujeito
passivo da obrigação tributária possuir informação contábil diversa daquela fornecida pela Fazenda Pública.
Em relação ao verbo divulgar, o crime pode ser praticado por qualquer pessoa (crime comum); quanto ao verbo
utilizar, o sujeito ativo será o contribuinte ou responsável tributário (crime próprio).
Sujeito passivo é a pessoa jurídica destinatária do tributo não recolhido.
É o dolo. E prevalece que o tipo penal não exige um especial fim de agir (dolo específico).
Lei 8.137/90
Seção II
Dos crimes praticados por funcionários públicos
Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de
1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I - CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
EM GERAL):
Neste art.3º, temos tipos especiais em relação àqueles previstos no CP, com duas diferenças principais:
i) para fins de tipificação dos crimes do art.3º, o funcionário público deve ser responsável pela gestão e arrecadação de
tributos;
ii) os crimes do art.3º são praticados em detrimento da Administração Fazendária, espécie do gênero Administração Pública.
A qualidade de funcionário público da administração fazendária é verdadeira ELEMENTAR dos crimes do art.3º.
Consequentemente, desde que o extraneus tenha consciência da presença dessa elementar, poderá responder normalmente
por tal delito, conforme art.30 do CP.
CP, Art. 30 - Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal, SALVO quando elementares do crime.
@dicas.exconcurseira 19
26. Crime tributário de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento
Lei 8.137/90, Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):
I - EXTRAVIAR livro oficial, processo fiscal ou qualquer documento, de que tenha a GUARDA EM RAZÃO DA FUNÇÃO; SONEGÁ-
LO, ou INUTILIZÁ-LO, total ou parcialmente, acarretando PAGAMENTO INDEVIDO ou INEXATO de TRIBUTO ou CONTRIBUIÇÃO
SOCIAL;
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos, e multa.
Cuida-se de tipo especial de extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento (art.314 do CP), com duas
diferenças: aqui o funcionário público compõe a Administração Fazendária e da conduta deve acarretar o pagamento indevido
ou inexato de tributo ou contribuição social.
O sujeito ativo é o funcionário fazendário encarregado do livro ou documento em epígrafe. No caso de o funcionário
não ser o encarregado do documento fiscal, restará tipificado o delito do art.337 do CP (subtração ou inutilização de livro ou
documento).
O sujeito passivo é a Administração Fazendária. Secundariamente, o particular prejudicado pelo extravio do
documento.
Tipo objetivo:
• Extraviar à desviar do destino, fazer desaparecer;
• Sonegar à omitir-se na apresentação do livro ou documento exigido/solicitado;
• Inutilizar à tornar uma coisa imprestável ao fim que se destina.
Elementos normativos:
• Livro fiscal à criado por lei para registro de anotações pertinentes à Administração Fazendária;
• Processo fiscal à procedimento administrativo fiscal de determinação e exigência de créditos tributários;
• Documento.
É o dolo. Apesar da controvérsia, prevalece o entendimento de que há necessidade de um especial fim de agir (dolo
específico), consistente na intenção de acarretar o pagamento indevido ou inexato de tributo ou contribuição social.
Trata-se de crime material, pois exige a ocorrência do resultado “acarretando pagamento indevido ou inexato de
tributo ou contribuição social”.
Por se tratar de crime plurissubsistente, admite-se a tentativa.
a) Crime próprio;
b) Crime material;
c) Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado;
d) Crime unissubjetivo;
e) Crime plurissubsistente.
@dicas.exconcurseira 20
27. Concussão e corrupção fazendárias
Lei 8.137/90, Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):
II - EXIGIR, SOLICITAR ou RECEBER, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que FORA da função ou ANTES de
iniciar seu exercício, MAS EM RAZÃO DELA, VANTAGEM INDEVIDA; ou ACEITAR PROMESSA DE TAL VANTAGEM, para DEIXAR
DE LANÇAR ou COBRAR tributo ou contribuição social, ou COBRÁ-LOS PARCIALMENTE.
Pena - reclusão, de 3 a 8 anos, e multa.
Trata-se de tipo especial em relação aos crimes de concussão e corrupção passiva (arts.316 e 317 do CP),
diferenciando-se destes tipos em razão do especial fim de agir “para deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social,
ou cobrá-los parcialmente”.
Tutela a obediência ao dever de probidade, a fim de evitar abusos no exercício da função pública, com graves danos à
moralidade administrativa.
Secundariamente, a proteção do interesse patrimonial dos cidadãos e também a liberdade individual daquele que
sofreu coação (pelo menos quanto ao verbo “exigir”/crime de extorsão).
Tipo objetivo:
• Exigir à ordenar, impor, intimidar;
• Solicitar à pedir, manifestar o desejo de receber alguma vantagem indevida;
• Receber à entrar na posse de um bem, aceitando a entrega efetuada por outrem;
• Aceitar promessa à anuir com o recebimento de vantagem indevida.
Diversamente do CP – que prevê, em tipos diferentes, os crimes de corrupção ativa e passiva (exceção à regra da teoria
monista, adotada pelo CP) -, a Lei 8.137/90 cuidou apenas da CORRUPÇÃO PASSIVA.
Daí surge o questionamento: em qual crime se enquadra a conduta do agente que oferece vantagem indevida para que o
funcionário do fisco deixe de lançar/cobrar o tributo? Para a doutrina, se o funcionário fazendário receber ou aceitar essa
oferta, formando-se um verdadeiro acordo de vontade entre eles, o ideal é tipificar a conduta de ambos no art.3º, inc.II, da
Lei 8.137/90. Mas, se o funcionário rejeitar a proposta/não receber, o particular responderá pelo crime de corrupção ativa do
art.333 do CP.
Elemento normativo:
• Função pública; ATENÇÃO! O crime se consuma ainda que a solicitação ou recebimento de vantagem indevida, ou a
aceitação da promessa de tal vantagem, esteja relacionada com atos que formalmente NÃO SE INSEREM nas
atribuições do funcionário público, mas que, em razão da função pública, materialmente implicam alguma forma de
facilitação da prática da conduta almejada.
• Vantagem indevida à prevalece o entendimento de que tal vantagem pode ser de qualquer natureza.
É o dolo, devendo estar presente também o dolo específico/especial fim de agir, manifestado na expressão “para
deixar de lançar ou cobrar tributo ou contribuição social, ou cobrá-los parcialmente”.
Em relação ao verbo exigir, o crime se consuma com a mera exigência (crime formal); e, em regra, não se admite a
tentativa (salvo, por exemplo, quando essa exigência se dê por meio de mais de um ato).
@dicas.exconcurseira 21
Quanto aos verbos solicitar, receber e aceitar promessa, o crime se consuma com a simples prática da conduta, ou seja,
não há necessidade de que o agente efetivamente deixe de lançar/cobrar tributo/contribuição social ou que cobre-os
parcialmente.
No verbo solicitar, para a consumação do crime, não há necessidade de que o terceiro adira à vontade do funcionário.
Nos casos de recebimento ou aceitação de promessa, em que a iniciativa parte do corruptor, a consumação do delito ocorre no
ato do recebimento e no exato momento em que o agente manifesta o desejo de aceitar a promessa. Nesses casos, não admite
tentativa.
a) Crime próprio;
b) Crime formal à existe um resultado, mas este não precisa ocorrer para que se considere consumado o crime;
c) Crime de ação múltipla ou de conteúdo variado;
d) Crime unissubjetivo ou plurrisubjetivo: verbos exigir ou solicitar à o crime pode ser praticado por uma pessoa (ou
mais de uma); verbos receber e solicitar à crime plurissubjetivo/de concurso necessário;
e) Crime plurissubsistente.
Lei 8.137/90, Art. 3° Constitui crime funcional contra a ordem tributária, além dos previstos no Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal (Título XI, Capítulo I):
III - PATROCINAR, direta ou indiretamente, INTERESSE PRIVADO (JUSTO OU INJUSTO, LÍCITO OU ILÍCITO) PERANTE A
ADMINISTRAÇÃO FAZENDÁRIA, VALENDO-SE DA QUALIDADE DE FUNCIONÁRIO PÚBLICO.
Pena - reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Trata-se de forma especial e agravada do crime de advocacia administrativa do art.321 do CP. Aqui, o elemento
especializante é o “perante a Administração Fazendária”.
DE OLHO NA JURIS! Não pratica o crime do art. 3º, III, da Lei 8.137/90 o auditor fiscal que corrige minuta de impugnação
administrativa que posteriormente é ajuizada na Administração Tributária
É atípica a conduta de agente público que procede à prévia correção quanto aos aspectos gramatical, estilístico e técnico das
impugnações administrativas, não configurando o crime de advocacia administrativa perante a Administração Fazendária. STJ.
6ª Turma. REsp 1770444-DF, Rel. Min. Antonio Saldanha Palheiro, julgado em 08/11/2018 (Info 639).
Tutela-se a Administração Pública Fazendária contra a interferência maléfica do patrocínio infiel, que representa um
grave atentado à imparcialidade da atuação funcional dos agentes públicos.
• Patrocinar à amparar, advogar, defender, pleitear interesse privado de outrem. O patrocínio pode ser direto
(praticado pelo próprio funcionário público) ou indireto (quando o agente se vale de terceira pessoa, a qual age sob o
manto do seu prestígio).
É o dolo, não se exigindo que que a atuação do funcionário fazendário seja motivada pelo interesse em obter qualquer
vantagem do extraneus.
O sujeito ativo é o funcionário público fazendário que esteja apto a patrocinar interesse privado perante a
administração fazendária (crime próprio).
O crime se consuma com o simples patrocínio privado e alheio, independentemente da efetiva obtenção de benefício
pelo particular (crime formal/de consumação antecipada).
Apesar das controvérsias, para Renato Brasileiro, admite-se a tentativa, salvo na conduta omissiva (pois, neste caso, o
crime é unissubsistente).
@dicas.exconcurseira 22
28.6. Classificação doutrinária
a) Crime próprio;
b) Crime de mera conduta;
c) Crime unissubjetivo;
d) Crime plurissubsistente.
Lei 8.137/90
CAPÍTULO II
Dos crimes contra a Economia e as Relações de Consumo
CF, Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos
existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
I - soberania nacional;
II - propriedade privada;
III - função social da propriedade;
IV - livre concorrência;
V - defesa do consumidor;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços
e de seus processos de elaboração e prestação;
VII - redução das desigualdades regionais e sociais;
VIII - busca do pleno emprego;
IX - tratamento favorecido para as empresas de pequeno porte constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sua sede e
administração no País.
CF, Art.173, §4º A LEI REPRIMIRÁ O ABUSO DO PODER ECONÔMICO que vise à dominação dos mercados, à eliminação da
concorrência e ao aumento arbitrário dos lucros.
Segundo Renato Brasileiro, para fins de tutela penal, deve-se “ordem econômica” deve abranger a intervenção estatal
na economia, a organização, o desenvolvimento e a conservação dos bens econômicos, bem como sua produção, circulação,
distribuição e consumo. Essa concepção acaba abrangendo as ordens tributária, financeira, monetária e as relações de consumo.
@dicas.exconcurseira 23
A existência de poder econômico, isoladamente considerada, não é crime. O que se busca é evitar o exercício abusivo
desse poder, visando reprimir condutas que possam pôr em risco o livre mercado, a livre concorrência, dentre outros.
Trata-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa. Geralmente, o sujeito ativo é o empresário.
Apesar da controvérsia, para Renato Brasileiro, trata-se de crime unissubjetivo/de concurso eventual, pois, por mais
que a tipificação do crime demande um ajuste ou acordo de empresas, é perfeitamente possível que um dos empresários
envolvidos nas tratativas não tenha a pretensão de produzir o resultado “domínio do mercado” ou “eliminação da concorrência.
Nesse caso, por mais que o outro empresário logre êxito na produção desses resultados, não se pode admitir a
responsabilização daquele que agiu sem dolo, nem mesmo a título de participação, porquanto não se admite participação
culposa em crime doloso.
O sujeito passivo é a coletividade (crime vago). Mediatamente, também são sujeitos passivos os empresários
concorrentes prejudicados e, em alguns casos, os próprios consumidores.
• Abusar à fazer uso desmedido de algo, ultrapassar os limites. Esse abuso recai sobre o poder econômico, e dele deve
resultar:
a) domínio do mercado (domínio de segmentos delimitados);
b) eliminação, total ou parcial, da concorrência.
Cuida-se de crime material, que só se consuma quando o resultado “dominação do mercado ou eliminação da
concorrência” for alcançado.
Como se trata de crime plurissubsistente, admite-se a tentativa.
@dicas.exconcurseira 24
31.2. Sujeitos do crime
São os mesmos sujeitos do crime do art.4º, inc.I, da Lei 8.137/90 (vide tópico 30.2).
• Acordo, convênio, ajuste e aliança à expressões sinônimas, que significam um acordo de vontades dirigido a um
mesmo objetivo;
• Ofertante à aquele que oferece bens ou serviços no mercado.
Esse acordo de vontades entre ofertantes tem como especial fim de agir a consecução dos seguintes resultados:
a) fixação artificial de preços ou quantidades vendidas ou produzidas: incrimina-se o chamado concerto de preços,
geralmente praticado com a finalidade de aumentar ou reduzir os preços. Essa uniformidade dos preços acaba
prejudicando a livre concorrência, porquanto afeta o poder de decisão individual de cada agente econômico de fixar
seus próprios preços. Deve ser comprovado esse acordo + o objetivo de suprimir a concorrência.
b) controle regionalizado do mercado por empresa ou grupo de empresas: o objetivo dos acordantes é impedir o
surgimento de novos concorrentes. “Controle regionalizado” é aquele que se dá em determinada base territorial.
c) controle, em detrimento da concorrência, de rede de distribuição ou de fornecedores.
O art.4º, inc.II, da Lei 8.137/90 é crime formal, que se consuma com a formalização do acordo, independentemente de
se alcançar algum dos fins visados.
Em tese, cabe a tentativa, quando as condutas puderem ser fracionadas.
CF, Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a
todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:
V - defesa do consumidor;
A criminalização de condutas que atentam contra os interesses e direitos do consumidor pode ser justificada pelo
ínfimo prejuízo causado a cada uma das vítimas, individualmente consideradas. Isso porque, levando-se em consideração o valor
normalmente irrisório do dano individual e da diversidade de interesses dos consumidores, com a pulverização das vítimas, é
tarefa do Direito Penal atuar no sentido de não deixar impunes condutas imensamente danosas e socialmente condenáveis,
quando consideradas de modo global.
A criação desses crimes contra as relações de consumo trouxe consigo a especialização do Direito Penal para uma
nova área, o Direito Penal do Consumidor, que deve ser compreendido como um ramo do Direito Penal Econômico.
Em regra, o sujeito ativo dos crimes contra as relações de consumido do art.7º da Lei 8.137/90 é o fornecedor de
produtos ou serviços (crime próprio).
Por outro lado, o sujeito passivo é a coletividade de consumidores, ou seja, o conjunto de pessoas que participa das
relações de consumo, englobando não apenas pessoas físicas e jurídicas determináveis, mas também a coletividade de pessoas,
ainda que indetermináveis, que tenham intervindo nas relações de consumo (art.2º, p.u., CDC).
@dicas.exconcurseira 25
32.2. Tipificação dos crimes contra os interesses econômicos dos consumidores
Cada um dos nove incisos do art.7º traz um tipo penal autônomo. Vejamos cada um deles!
Tipo objetivo:
• Favorecer à conceder benefícios ou regalias a alguém;
• Preferir à consiste em privilegiar alguém.
Obs: ambos os verbos devem ser praticados sem justa causa. Para Renato Brasileiro, a aplicação dessa justificante deve
ficar restrita aos casos em que a conduta do fornecedor tenha idoneidade para atingir os interesses econômicos dos
outros consumidores.
Elementos normativos:
• Comprador à adquirente de produto/serviço, em razão de contrato de compra e venda tácito ou expresso;
• Freguês à pessoa que adquire mercadorias em um estabelecimento comercial com certa habitualidade.
Obs: recomenda-se que as expressões comprador e freguês sejam enquadradas no conceito de consumidor.
• Sistema de entrega a consumo por intermédio de distribuidores ou revendedores à de acordo com a doutrina, o
texto legal se refere à tradicional prática comercial de diferenciação das operações realizadas no atacado e no varejo.
Obs: o crime do art.7º, inc.I, da Lei 8.137/90 visa à preservação dos interesses econômicos dos consumidores através
da igualdade de tratamento entre consumidores no mercado varejista.
ATENÇÃO! O art.7º, inc.I, da Lei 8.137/90 revogou tacitamente o art.2º, II, da Lei 1.521/51, conforme art.2º, §1º, da LINDB.
É o dolo. Eventual erro quanto à presença de justa causa deve ser tratado como erro de tipo.
A consumação do delito não demanda a produção de nenhum resultado lesivo, nem tampouco a demonstração de
perigo concreto. Trata-se, pois, de crime de perigo abstrato. Por consequência, pelo menos para fins de consumação do delito,
basta que seja demonstrado que o fornecedor favoreceu ou preferiu certo consumidor em detrimento de outros,
independentemente de eventual prejuízo econômico decorrente da conduta discriminatória.
O verbo preferir traz consigo a ideia de crime unissubsistente/prática de um único ato. Por isso, não admite a tentativa.
Quando ao verbo favorecer, embora possa ser fracionado em vários atos, quem tenta favorecer já manifestou, anteriormente,
preferência por determinado consumidor, o que já leva à consumação do crime pelo verbo “preferir”.
a) Crime próprio;
b) Crime de mera conduta;
c) Crime de perigo abstrato;
d) Crime instantâneo;
e) Crime unissubjetivo.
@dicas.exconcurseira 26
34. Mercadoria com especificações
Este tipo visa coibir práticas que possam levar o consumidor a erro.
Tipo objetivo:
• Vender à comercializar, negociar, alienar onerosamente;
• Expor à venda à pôr à vista, mostrar, oferecer, exibir para a venda.
O objeto material dessas condutas é à mercadoria, que tem a embalagem, tipo, especificação, peso ou composição que
esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva classificação oficial*.
* Norma penal em branco que exige dupla complementação à “prescrições legais” + “classificação oficial”.
ATENÇÃO! O art.7º, inc.II, da Lei 8.137/90 revogou tacitamente o crime contra a economia popular previsto no art.2º, III, da Lei
1.521/51.
CUIDADO! O art.276 do CP – em razão da especificidade da natureza dos produtos que elenca (produtos alimentícios,
terapêuticos ou medicinais) – é norma especial em relação ao art.7º, inc.III, da Lei 8.137/90.
a) Crime próprio;
b) Crime de mera conduta;
c) Crime de perigo abstrato;
d) Crime unissubjetivo;
e) Crime plurissubsistente (verbo vender) ou plurissubsistente (verbo expor à venda).
Este tipo penal visa coibir a prática relativamente comum de fraudar a composição de produtos por meio da mistura
de mercadorias.
@dicas.exconcurseira 27
35.1. Bem jurídico tutelado à Vide comentários do tópico 32.
Tipo objetivo:
• Misturar à mesclar, embaralhar, juntar coisas diferentes. Esta conduta deve recair sobre gêneros e mercadorias de
espécies diferentes ou gêneros e mercadorias de qualidades desiguais.
Exemplo: quando o fornecedor vende carne bovina de primeira qualidade, misturando-a com carne bovina de segunda
qualidade, logicamente pelo preço daquela, sem que o consumidor tenha ciência dessa mistura.
Obs: o art.7º, inc.III, da Lei 8.137/90 revogou tacitamente o crime contra a economia popular do art.2º, inc.V, da Lei 1.521/51.
Por fim, para Renato Brasileiro, este crime revogou tacitamente o crime do art.175, inc.II, do CP.
Segundo o autor, houve a revogação, pois, primeiro, o crime do art.7º, inc.III, da Lei 8.137/90 é mais abrangente que o
do CP e também porque ele comina pena significativamente maior do que o do art.175 do CP.
É o dolo (ou a culpa* – art.7º, p.u.) + dolo específico, consistente nas condutas que visam as seguintes finalidades:
i) para vendê-los ou expô-los à venda como puros; ou
ii) para vendê-los ou expô-los à venda por preço estabelecido para os de mais alto custo.
* ATENÇÃO! Sem embargo de o legislador ter previsto a possibilidade de punição a título culposo, para Renato Brasileiro, isto é
impossível, pois é no mínimo contraditório – para não dizer absurdo – o fato de o legislador autorizar a punição de determinada
conduta na modalidade culposa se tal crime exige a presença de um dolo específico/especial fim de agir. Para o autor, o crime
deve ser punido apenas a título doloso.
Consuma-se o delito com a mistura fraudulenta, pouco importando se houve efetivo prejuízo a consumidores
determinados. Logicamente, é necessário aferir a idoneidade da conduta do agente para atentar contra o bem jurídico
tutelado, assim como o especial fim de agir de obtenção de vantagem ilícita decorrente da cobrança de preço mais elevado
para mercadoria que resulta da mistura de espécies diversas.
Como se trata de crime plurissubsistente, é perfeitamente possível a configuração da tentativa.
a) Crime próprio;
b) Crime de mera conduta;
c) Crime de perigo abstrato;
d) Crime unissubjetivo;
e) Crime plurissubsistente.
@dicas.exconcurseira 28
36.1. Bem jurídico tutelado à Vide comentários do tópico 32.
Nas alíneas a a d, o legislador elenca, taxativamente, quais são os meios através dos quais pode se dá a defraudação
Vejamos.
a) ALTERAÇÃO, sem modificação essencial ou de qualidade, DE ELEMENTOS tais como (ROL EXEMPLIFICATIVO) denominação,
sinal externo, marca, embalagem, especificação técnica, descrição, volume, peso, pintura ou acabamento de bem ou serviço
à aqui, o conteúdo não àquilo que é ofertado pelo fornecedor.
b) DIVISÃO EM PARTES de bem ou serviço, habitualmente oferecido à venda EM CONJUNTO; à exemplo: suponha-se que
determinado bem seja comercializado por meio de uma oferta 2 por 1, na qual o consumidor paga somente o valor de uma
unidade, mas recebe a outra gratuitamente. Nessa hipótese, se restar comprovado que o fornecedor separou os produtos para
vendê-los separadamente, deverá responder pelo crime do art.7º, IV, “b”, da Lei 8.137/90.
c) JUNÇÃO de bens ou serviços, comumente oferecidos à venda EM SEPARADO; à temos, aqui, situação inversa da descrita na
alínea “b”. Exemplo: a imposição ao consumidor, no momento da abertura de uma conta corrente, da contratação de uma
cartão de crédito – o que certamente vai aumentar o preço final do serviço que lhe é prestado.
d) AVISO DE INCLUSÃO DE INSUMO NÃO EMPREGADO na produção do bem ou na prestação dos serviços; à aqui, o
consumidor paga um preço mais elevado por acreditar que o bem ou serviço teria sido produzido com determinado insumo,
quando, na verdade, está recebendo coisa diversa.
É o dolo.
O crime se consumará quando o produto/serviço for ofertado no mercado de consumo com o preço fraudado, por meio
de uma das condutas acima descritas, sendo desnecessária a verificação da obtenção de vantagem econômica pelo fornecedor,
nem de prejuízo pelo consumidor. Isso porque estamos diante de um crime de perigo abstrato.
Em tese, admite-se a tentativa.
a) Crime próprio;
b) Crime de mera conduta;
c) Crime de perigo abstrato.
• Elevar à aumentar. A conduta incide sobre o valor cobrando nas vendas a prazo de bens ou serviços, mediante a
exigência de
a) comissão à além dos juros atinentes ao financiamento, o fornecedor cobra uma comissão (porcentagem do valor da
transação);
@dicas.exconcurseira 29
b) taxa de juros ilegais à aqui, o fornecedor cobra uma taxa de juros que não encontra amparo legal.
DE OLHO! Não existe um entendimento acerca dos limites das taxas de juros tampouco das comissões, que podem
variar de acordo com a média dos valores praticados no mercado. Por tais motivos, grande parte da doutrina entende
que as expressões comissões ou taxas de juros ilegais utilizadas pelo legislador no inc.V do art.7º da Lei 8.137/90 são
incompatíveis com o mandado de taxatividade decorrente do princípio da legalidade.
É o dolo. Eventual erro quanto à legalidade na cobrança de comissões e juros caracteriza erro de tipo. Se inevitável ou
não o erro, a conduta será atípica, pois não se admite sua punição a título doloso.
A consumação se dá no momento em que ocorre a elevação do valor cobrado nas vendas a prazo.
Por se tratar de crime plurissubsistente, admite-se a tentativa.
a) Crime próprio;
b) Crime de mera conduta;
c) Crime de perigo abstrato.
Por se tratar de crime de perigo abstrato, estará consumado no exato momento em que o fornecedor se recusa a
vender os bens/insumos ou que os retém, independentemente da demonstração da ocorrência de qualquer resultado
naturalístico.
Em tese, por se tratar de crime plurissubsistente, admite-se a tentativa (apesar de ser difícil, na prática, provar que o
agente deu início à execução do crime).
@dicas.exconcurseira 30
38.6. Classificação doutrinária
a) Crime próprio;
b) Crime de perigo abstrato;
c) Crime de mera conduta;
d) Crime unissubjetivo;
e) Crime instantâneo.
Para fins de tipificação desse crime, essa fraude deve ser praticada por via de indicação ou afirmação falsa (mentirosa) ou
enganosa (ilusória, propositadamente dúbia) sobre a natureza (espécie, essência) ou a qualidade (atributo, característica) de
bem ou serviço. Esta afirmação falsa ou enganosa pode ser praticada por qualquer meio, até mesmo através da veiculação ou
divulgação publicitária.
SE LIGA!
É o dolo.
Por se tratar de crime material, consuma-se no momento em que o consumidor for efetivamente enganado pelas
indicações falsas do fornecedor, o que pode ser comprovado, a depender do caso concreto, pela contratação do bem/serviço.
Por se tratar de crime plurissubsistente, admite-se a tentativa.
a) Crime próprio;
b) Crime material;
c) Crime de dano à o consumidor tem seus interesses econômicos lesados em virtude de ter sido induzido a erro;
d) Crime unissubjetivo;
e) Crime plurissubsistente.
@dicas.exconcurseira 31
40. Provocação de alta fraudulenta de preços
Tipo objetivo:
• Destruir à fazer desaparecer, extingnuir;
• Inutilizar à tornar algo imprestável à finalidade a que se destina;
• Danificar à estragar, prejudicar, deteriorar.
Obs: o art.7º, inc. VII, da Lei 8.137/90 revogou tacitamente o crime do art.3º, inc.I, da Lei 1.521/52.
É o dolo + dolo específico/especial fim de agir, consistente na finalidade de provocar a alta de preço.
a) Crime próprio;
b) Crime de perigo abstrato;
c) Crime unissubjetivo;
d) Crime plurissubsistente.
Tipo objetivo:
• Vender à alienar mediante contraprestação. A consumação independe da tradição da matéria-prima ou mercadoria.
• Ter em depósito à manter em armazém. Caracteriza-se pela mobilidade e transitoriedade, no sentido de ser possível
um rápido deslocamento da matéria-prima/mercadoria de um lugar para o outro;
• Expor à venda à exibir, mostrar, apresentar algo com finalidade de comercializá-lo;
• Entregar à dar, trasladar, passar de uma pessoa.
Essas condutas devem recair sobre os seguintes objetos materiais:
• Matéria-prima;
• Mercadoria.
E para a consumação deste crime, estes bens jurídicos devem estar em condições impróprias ao consumo (norma penal em
branco) – para tal definição, usamos, por analogia, o art.18, §6º, do CDC.
@dicas.exconcurseira 32
DE OLHO NA JURIS! Necessidade de perícia para demonstrar a configuração do delito
O art. 7º, IX, da Lei nº 8.137/90 prevê o seguinte delito:
Art. 7º Constitui crime contra as relações de consumo: IX — vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de
qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em condições impróprias ao consumo;
Pena — detenção, de 2 a 5 anos, ou multa.
Para caracterizar o delito previsto no art. 7º, IX, da Lei 8.137/1990 (crime contra relação de consumo), é imprescindível a
realização de PERÍCIA a fim de atestar se as mercadorias apreendidas estão em condições impróprias para o consumo, não
sendo suficiente, para a comprovação da materialidade delitiva, auto de infração informando a inexistência de registro do
Serviço de Inspeção Estadual (SIE). STJ. 5ª Turma. AgRg no Resp 1111736-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
17/12/2013 (Info 533). STJ. 5ª Turma. RHC 49752-SC, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 14/4/2015 (Info 560).
Trata-se de crime de perigo abstrato. Logo, se consuma com a mera realização das condutas descritas no tipo penal,
independentemente de haver efetivo prejuízo aos consumidores ou qualquer outro tipo de resultado lesivo ou perigo concreto.
Verbos ter, vender ou entregar à crime plurissubsistente à admite tentativa;
Verbos exposição à venda à crime unissubsistente à não admite tentativa.
No verbos vender e entregar, se houve, anteriormente, exposição à venda, restará consumado o delito na sua
modalidade “expor à venda”.
a) Crime próprio;
b) Crime de mera conduta;
c) Crime de perigo abstrato;
d) Crime unissubjetivo;
e) Crime plurissubsistente (verbos vender, ter em depósito e entregar) e unissubsistente (verbo expor à venda).
Lei 8.137/90
CAPÍTULO III
Das Multas
Art. 8° Nos crimes definidos nos arts. 1° a 3° (CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA PRATICADOS POR PARTICULARES OU
FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS) desta lei, a pena de multa será fixada entre 10 e 360 dias-multa, conforme seja necessário e
suficiente para reprovação e prevenção do crime.
Parágrafo único. O dia-multa será fixado pelo juiz em valor não inferior a 14 nem superior a 200 Bônus do Tesouro Nacional
BTN.
de 10 a 360 dias-multa
@dicas.exconcurseira 33
Art. 9° A pena de detenção ou reclusão poderá ser CONVERTIDA EM MULTA de valor equivalente a:
I - 200.000 até 5.000.000 de BTN, nos crimes definidos no art. 4° (CRIMES CONTRA A ORDEM ECONÔMICA);
II - 5.000 até 200.000 BTN, nos crimes definidos nos arts. 5° e 6° (ARTIGOS REVOGADOS);
III - 50.000 até 1.000.000 BTN, nos crimes definidos no art. 7° (CRIMES CONTRA A RELAÇÃO DE CONSUMO).
CRIMES CONTRA A
RECLUSÃO à 200.000 a 5.000.000 de BTN
ORDEM ECONÔMICA
POSSIBILIDADE DA CONVERSÃO
DA PPL EM MULTA
CRIMES CONTRA A
DETENÇÃO à 50.000 a 1.000.000 de BTN
RELAÇÃO DE CONSUMO
Art. 10. Caso o juiz, considerado o ganho ilícito e a situação econômica do réu, verifique a insuficiência ou excessiva
onerosidade das penas pecuniárias previstas nesta lei, poderá DIMINUÍ-LAS até a DÉCIMA PARTE ou ELEVÁ-LAS AO DÉCUPLO.
O “BTN” foi extinto pela Lei 8.177/91. Então, como devemos calcular a multa? A doutrina aponta 3 possíveis soluções:
1ª solução: aplicação regular do BTN, porém com a devida atualização monetária à como o BTN foi extinto, toma-se seu valor
histórico e passa-se a corrigi-lo pela UFIR e/ou demais critérios de oficiais de correção.
2ª solução: aplicação do Código Penal, calculando-se o valor do dia-multa em salários mínimos, já que o parágrafo único do
art.8º e o art.9º teriam sido tacitamente revogados a partir do momento em que o BTN foi extinto. Assim já se posicionou o STJ.
3ª solução: a pena de multa não deve ser aplicada aos crimes dos arts.1º ao 3º da Lei 8.137/90, já que não há critério legal
para tanto.
DE OLHO NA JURIS! Quanto à legitimidade para a execução dessa pena de multa, em sede da ADI 3.150, o STF reconheceu que,
por ter natureza de sanção penal, o Ministério Público é o principal legitimado para executar a cobrança das multas
pecuniárias fixadas em sentenças penais condenatórias perante o Juízo das Execuções Penais, limitando-se a atribuição da
Fazenda Pública a executá-las apenas nos casos de inércia ministerial.
Lei 8.137/90
CAPÍTULO IV
Das Disposições Gerais
Art. 11. Quem, de qualquer modo, inclusive por meio de pessoa jurídica*, concorre para os crimes definidos nesta lei, incide nas
penas a estes cominadas, na medida de sua culpabilidade. à = art.29 do Código Penal
Parágrafo único. Quando a venda ao consumidor for efetuada por sistema de entrega ao consumo ou por intermédio de outro
em que o preço ao consumidor é estabelecido ou sugerido pelo fabricante ou concedente, o ato por este praticado não
alcança o distribuidor ou revendedor.
* A “pessoa jurídica” não pode funcionar como obstáculo para a persecução penal das pessoas físicas que a integram, caso
venham a praticar um crime contra a ordem tributária valendo-se do manto protetor da pessoa jurídica.
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44. (Im)possibilidade de responsabilização penal da pessoa jurídica pela prática de crimes contra a ordem tributária
CF, Art.173, §5º A lei, sem prejuízo da responsabilidade INDIVIDUAL dos DIRIGENTES da pessoa jurídica, estabelecerá a
responsabilidade desta (PESSOA JURÍDICA), sujeitando-a às punições compatíveis com sua natureza, nos atos praticados contra
a ordem econômica e financeira e contra a economia popular.
A Lei 8.137/90 nada dispôs acerca da possibilidade da responsabilização penal da pessoa jurídica. Desta forma, em
relação aos crimes contra a ordem tributária, prevalece o dogma da irresponsabilidade penal da pessoa jurídica. CUIDADO!
É claro que isso não impede a responsabilização extrapenal da pessoa jurídica.
45. Princípio da culpabilidade e responsabilidade subjetiva nos crimes societários (ou de gabinete)
É extremamente complicado, no campo probatório, apontar o verdadeiro autor dos crimes contra a ordem tributária.
Isso porque, em regra, o agente que sonega tributos costuma fazer uso de expedientes sofisticados, como a criação de pessoas
jurídicas, interposição de pessoas físicas, etc.
Daí a importância de estudarmos a teoria do domínio do fato, a qual amplia o conceito de autor, definindo-o como
aquele que tem o controle final do fato, mesmo que não realize o núcleo do tipo penal. Assim, pode ser considerado autor:
a) o autor propriamente dito: aquele que pratica o núcleo do tipo penal;
b) o autor intelectual: aquele que planeja mentalmente o crime;
c) o autor mediato: aquele que se vale de uma pessoa sem culpabilidade ou desprovida de dolo ou culpa como instrumento
para a prática do crime;
d) os coautores: quando o núcleo do tipo é realizado por dois ou mais agentes.
1. contador: até prova em sentido contrário, o contador, como empregado ou prestador de serviços, elabora as declarações de
acordo com as orientações e com base na documentação fornecidas pelo administrador da pessoa jurídica, competindo a este o
poder de decidir se haverá ou não supressão de tributo/prática do crime. Logo, se o contador não tinha consciência nem
vontade de concorrer para o crime, não poderá ser responsabilizado.
2. advogado: suponha-se que um advogado seja consultado para fins de planejamento tributário de uma empresa e emita um
parecer aconselhando ou recomendando determinada conduta que, posteriormente, se apure como crime contra a ordem
tributária. Nesse caso, é possível que o profissional da advocacia seja responsabilizado criminalmente como coautor ou
partícipe? Na visão da doutrina, apenas se ficar demonstrado o dolo e a fraude, como ocorre, por exemplo, em esquemas de
blindagem patrimonial desenvolvidos por advogados com o fim de ludibriar o fisco quanto à aquisição de rendas e proventos.
Na hipótese de infrações penais cometidas por mais de um agente, há necessidade de a peça acusatória descrever o
quanto possível a conduta delituosa de cada um dos agentes.
Especificamente quando aos chamados crimes societários (ou de gabinete) - assim entendidos aqueles praticados por
sócios, mandatários, administradores ou responsáveis por uma pessoa jurídica – a jurisprudência mais recente tem se
posicionado no sentido da impossibilidade de oferecimento de denúncia genérica. A denúncia deve estabelecer o vínculo do
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administrador ao ato ilícito que lhe está sendo imputado, sob pena de restar configurada a repudiada responsabilidade criminal
objetiva e de a denúncia ser considerada inepta.
DE OLHO NA JURIS! Não se pode invocar a teoria do domínio do fato, pura e simplesmente, sem nenhuma outra prova
O diretor-geral da empresa de telefonia Vivo foi denunciado pelo fato de que na filial que funciona no Estado de Pernambuco
teriam sido inseridos elementos inexatos em livros fiscais. Diante disso, o Ministério Público denunciou o referido diretor pela
prática de crime contra a ordem tributária (art. 1º, II, da Lei nº 8.137/90). A denúncia aponta que, na condição de diretor da
empresa, o acusado teria domínio do fato, o poder de determinar, de decidir, e de fazer com que seus empregados
contratados executassem o ato, sendo responsável pelo delito. O STF determinou o trancamento da ação penal afirmando que
não se pode invocar a teoria do domínio do fato, pura e simplesmente, sem nenhuma outra prova, citando de forma genérica o
diretor estatutário da empresa para lhe imputar um crime fiscal que teria sido supostamente praticado na filial de um Estado-
membro onde ele nem trabalha de forma fixa. Em matéria de crimes societários, a denúncia deve apresentar, suficiente e
adequadamente, a conduta atribuível a cada um dos agentes, de modo a possibilitar a identificação do papel desempenhado
pelos denunciados na estrutura jurídico-administrativa da empresa. Não se pode fazer uma acusação baseada apenas no
cargo ocupado pelo réu na empresa. STF. 2ª Turma. HC 136250/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado em 23/5/2017 (Info
866).
Lei 8.137/90, Art. 12. São circunstâncias que podem agravar (CAUSA DE AUMENTO DE PENA) de 1/3 ATÉ A METADE as penas
previstas nos arts. 1°, 2° (CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA PRATICADOS POR PARTICULARES) e 4° (CRIMES CONTRA A
ORDEM ECONÔMICA) a 7° (CRIMES CONTRA AS RELAÇÕES DE CONSUMO):
I - ocasionar GRAVE DANO À COLETIVIDADE;
II - ser o crime cometido por SERVIDOR PÚBLICO NO EXERCÍCIO DE SUAS FUNÇÕES;
III - ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de BENS ESSENCIAIS À VIDA OU À SAÚDE.
Apesar de o dispositivo legal dizer “agravar”, trata-se, na verdade, de CAUSA DE AUMENTO DE PENA.
Tais causas de aumento de pena não se aplicam aos crimes contra a ordem tributária praticados por funcionários
públicos.
Para os Tribunais Superiores, deve ser comprovado a efetiva gravidade do dano causado à sociedade.
Para Renato Brasileiro, nos crimes contra a ordem tributária, o grave dano à coletividade deve ser calculado em termos
da quantia que se deixou de pagar a título de tributo e este valor deve ser superior a 1 milhão de reais, que é o valor
considerado para classificar o contribuinte como “grande devedor”.
DE OLHO NA JURIS! Para a incidência do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 em caso de sonegação fiscal de tributos federais, é
necessário que o valor da dívida seja igual ou superior a R$ 1 milhão; se a sonegação fiscal for de tributos estaduais ou
municipais, deve-se analisar o que define a Fazenda local
O art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 prevê que a pena do crime de sonegação fiscal (art. 1º, I, da Lei nº 8.137/90) deverá ser
aumentada no caso de o delito “ocasionar grave dano à coletividade”. A jurisprudência entende que se configura a referida
causa de aumento quando o agente deixa de recolher aos cofres públicos uma vultosa quantia. Em outras palavras, se o valor
sonegado foi alto, incide a causa de aumento do art. 12, I. Nesse cálculo deve-se incluir também os juros e multa.
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Para os fins da majorante do art. 12, I, da Lei nº 8.137/90 (grave dano à coletividade), o dano tributário deve ser valorado
considerando seu valor atual e integral, incluindo os acréscimos legais de juros e multa. A Portaria nº 320, editada pela
Procuradoria Geral da Fazenda Nacional, prevê que os contribuintes que estão devendo acima de R$ 1 milhão são
considerados “grandes devedores” e devem receber tratamento prioritário na atuação dos Procuradores. O STJ utiliza, então,
essa Portaria como parâmetro para analisar a incidência ou não da causa de aumento do art. 12, I. A majorante do grave dano
à coletividade, trazida pelo art. 12, I, da Lei nº 8.137/90, deve se restringir a situações especiais de relevante dano. Desse modo,
é possível, para os tributos federais, utilizar, analogamente, o critério previsto no art. 14 da Portaria 320/PGFN, por meio do
qual se definiu administrativamente os créditos prioritários como sendo aqueles de valor igual ou superior a R$ 1.000.000,00
(um milhão de reais).
E se a sonegação fiscal envolver tributos estaduais ou municipais, como deverá ser o parâmetro nesses casos? Em se tratando
de tributos estaduais ou municipais, o critério deve ser, por equivalência, aquele definido como prioritário ou de destacados
créditos (grandes devedores) para a fazenda local. Dito de outro modo, em caso de tributos estaduais ou municipais, não se de
deve utilizar a Portaria 320/PGFN, mas sim os eventuais atos normativos estaduais e municipais que definam o que sejam
“grandes devedores” para o Fisco local. STJ. 3ª Seção. REsp 1849120-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 11/03/2020 (Info
668).
O STF comunga do mesmo entendimento e utiliza como parâmetro esses atos infralegais que definem “grandes devedores”?
Não. Existe julgado do STF no qual foi afastado esse critério: “Quanto à Portaria 320/2008 da Procuradoria-Geral da Fazenda
Nacional, anoto que essa norma infralegal apenas dispõe sobre o Projeto Grandes Devedores no âmbito da PGFN, conceituando,
para os seus fins, os “grandes devedores”, com o objetivo de estabelecer, na Secretaria da Receita Federal do Brasil, método de
cobrança prioritário a esses sujeitos passivos de vultosas obrigações tributárias, sem limitar ou definir, no entanto, o grave dano
à coletividade, ao contrário do que afirma o impetrante.” (STF. 2ª Turma. HC 129284/PE, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, julgado
em 17/10/2017. Info 882).
É possível a elevação da pena-base dos crimes contra a ordem tributária com fundamento nas consequências do delito quando
o valor sonegado é de grande monta
Nos delitos contra a ordem tributária e contra a Administração Pública é possível o agravamento da pena-base com fundamento
no prejuízo sofrido pelos cofres públicos, quando o valor do prejuízo representa montante elevado, dada a maior
reprovabilidade da conduta. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 1249284/SC, Rel. Min. Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em
05/06/2018.
O conceito de “servidor público”, aqui, deve ser o de “funcionário público” descrito no art.327 do CP. E não basta ser
funcionário público, deve também ter praticado o crime no exercício das funções (vínculo funcional).
48.3. Crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comercio de bens essenciais à vida ou à saúde
A Lei 8.137/90 não elenca quais seriam os bens essenciais à vida ou à saúde. A doutrina, então, sugere que seja
utilizado o disposto no art.10 da Lei 7.783/89, que elenca os serviços ou atividades essenciais para fins do exercício do direito de
greve.
DE OLHO NA JURIS! Venda de medicamentos vencidos e causa de aumento prevista no art. 12, III, da Lei 8.137/90
Quando o produto vendido for medicamento vencido, será possível aplicar a causa de aumento prevista no art. 12, III, da Lei
nº 8.137/90 na dosimetria da pena do crime previsto no art. 7º, IX, da mesma Lei.
Art. 7º Constitui crime contra as relações de consumo:
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IX — vender, ter em depósito para vender ou expor à venda ou, de qualquer forma, entregar matéria-prima ou mercadoria, em
condições impróprias ao consumo;
Art. 12. São circunstâncias que podem agravar de 1/3 (um terço) até a metade as penas previstas nos arts. 1º, 2º e 4º a 7º:
III — ser o crime praticado em relação à prestação de serviços ou ao comércio de bens essenciais à vida ou à saúde.
STJ. 6ª Turma. REsp 1207442-SC, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 1º/12/2015 (Info 574).
49. Extinção da punibilidade em virtude do pagamento ou do parcelamento do débito tributário: noções introdutórias
Lei 8.137/90, Art. 14. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos nos arts. 1° a 3° quando o agente promover o pagamento
de tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, antes do recebimento da denúncia.
Para o Estado, em se tratando de crime tributário, é sempre mais vantajoso receber o montante pecuniário relativo ao
tributo com a ameaça do processo penal, ainda que a ordem tributária tenha sido, em tese, maculada pelo ato de sonegar.
Ao longo dos anos, inúmeras foram as mudanças legislativas no tocante às consequências decorrentes do pagamento e
do parcelamento do débito tributário.
Para Renato Brasileiro, atualmente, apenas o PAGAMENTO INTEGRAL ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA tem o
condão de acarretar a extinção da punibilidade (art.83, §6º, Lei 9.430/96).
Lei 9.430/96, Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts.
1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida a
decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
§6o As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, aplicam-se aos processos
administrativos e aos inquéritos e processos em curso, DESDE QUE NÃO RECEBIDA A DENÚNCIA PELO JUIZ.
Lei 9.249/1995, Art. 34. EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei
nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o PAGAMENTO DO TRIBUTO ou contribuição social, inclusive
acessórios, ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
Igualmente, haverá extinção da punibilidade se houver concessão de PARCELAMENTO COM ULTERIOR QUITAÇÃO
TOTAL DAS PARCELAS, mas desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado ANTES DO RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA (Lei 9.430/96, art.83, §§2º, 3º e 4º).
Lei 9.430/96, Art. 83, §2o É SUSPENSA a pretensão punitiva do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o período
em que a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no PARCELAMENTO,
desde que o pedido de parcelamento tenha sido formalizado ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA criminal.
§3o A PRESCRIÇÃO CRIMINAL NÃO CORRE durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
§4o EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o
agente efetuar o PAGAMENTO INTEGRAL dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de
concessão de PARCELAMENTO.
Visto o cenário atual, é importante entendermos os dispositivos que já trataram deste assunto ao longo dos anos.
49.1. Revogado art.2º da Lei 4.729/65 (lei que tipificava os crimes de sonegação fiscal)
Lei 4.729/65, Art 2º EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes previstos nesta Lei quando o agente promover o RECOLHIMENTO
DO TRIBUTO devido, ANTES DE TER INÍCIO, na ESFERA ADMINISTRATIVA, a AÇÃO FISCAL própria.
Parágrafo único. Não será punida com as penas cominadas nos arts. 1º e 6º a sonegação fiscal anterior à vigência desta Lei.
Assim, a punibilidade era extinta pelo pagamento do tributo devido antes do início do procedimento fiscal de
lançamento tributário.
Lei 8.137/90, Art. 14. Extingue-se a punibilidade dos crimes definidos nos arts. 1° a 3° (CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA)
quando o agente promover o pagamento de tributo ou contribuição social, inclusive acessórios, ANTES DO RECEBIMENTO DA
DENÚNCIA.
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Percebe-se que a Lei 8.137/90 foi novatio legis in mellius, pois estendeu o lapso temporal para pagamento do tributo
que passou a ser antes do recebimento da denúncia. Por ser norma mais benéfica, ela foi também aplicada aos crimes de
sonegação fiscal cometidos sob a vigência da revogada Lei 4.729/65.
A vida útil do art.14 da Lei 8.137/90 foi curta e no dia 31/12/1991 ele foi revogado.
Lei 9.249/95, Art. 34. EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes definidos na Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e na Lei
nº 4.729, de 14 de julho de 1965, quando o agente promover o PAGAMENTO DO TRIBUTO ou contribuição social, inclusive
acessórios, ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA.
Quatro ano depois de revogo o art.14 da Lei 8.137/90, o art.34 da Lei 9.249/95 passou a prever a mesma causa
extintiva da punibilidade.
Por se tratar de novatio legis in mellius, o dispositivo produziu efeitos aos crimes praticados após a sua vigência (óbvio),
mas também retroagiu para ser válido também aos crimes praticados no hiato temporal entre a revogação do art.14 da Lei
8.137/90 e a vigência da Lei 9.249/95.
Apesar deste art.34 fazer referência apenas aos crimes definidos na Lei 8.137/90 e na Lei 4.729/1965 (crimes de
sonegação fiscal), prevaleceu a orientação de que ele também deveria ser aplicado aos crimes contra a PREVIDÊNCIA SOCIAL e
aos crimes tributários previstos no Código Penal.
Como o art.34 da Lei 9.249/95 faz menção apenas ao pagamento, sempre houve discussão acerca dos efeitos
decorrentes do parcelamento do débito tributário. Prevaleceu o entendimento de que, como a Lei 9.249/95 fala em
“pagamento”, mas não diz se este pagamento deve ser à vista ou não, e considerando que o parcelamento é uma forma de
pagamento, ainda que fracionado, há de se conferir a ele o mesmo efeito decorrente do pagamento integral imediato, desde
que o acordo acerca do parcelamento seja feito antes do recebimento da denúncia.
49.4. Parcelamentos especiais e Programas de Recuperação Fiscal (Refis): Lei 9.964/00, 10.684/03 e 11.941/09
Lei 9.964/00, Art. 15. É SUSPENSA A PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO, referente aos crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei
no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e no art. 95 da Lei no 8.212, de 24 de julho de 1991, durante o período em que a pessoa
jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no Refis, desde que a inclusão no referido Programa tenha
ocorrido ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA CRIMINAL.
§1o A PRESCRIÇÃO CRIMINAL NÃO CORRE durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
§ o O disposto neste artigo aplica-se, também:
I – a programas de recuperação fiscal instituídos pelos Estados, pelo Distrito Federal e pelos Municípios, que adotem, no que
couber, normas estabelecidas nesta Lei;
II – aos PARCELAMENTOS referidos nos arts. 12 e 13.
§3o EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar
o PAGAMENTO INTEGRAL dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto
de concessão de PARCELAMENTO ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA CRIMINAL.
Lei 10.684/03, Art. 9o É SUSPENSA A PRETENSÃO PUNITIVA DO ESTADO, referente aos crimes previstos nos arts. 1o e 2o da Lei
no 8.137, de 27 de dezembro de 1990 (CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA PRATICADOS POR PARTICULAR), e nos arts.
168A e 337A do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal (APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA e
SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA), durante o período em que a pessoa jurídica relacionada com o agente dos
aludidos crimes estiver incluída no REGIME DE PARCELAMENTO.
§1o A PRESCRIÇÃO CRIMINAL NÃO CORRE durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
§2o EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes referidos neste artigo quando a pessoa jurídica relacionada com o agente efetuar
o PAGAMENTO INTEGRAL dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios.
Observe que a redação do art.9º da Lei 10.684/03 é mais benéfica, pois não diz que o pagamento integral deve ser feito
antes do recebimento da denúncia criminal. Daí, doutrina e os Tribunais passaram a entender que o parcelamento teria o
condão de acarretar a suspensão da pretensão punitiva, ainda que formalizado após o recebimento da denúncia. CUIDADO!
Daí não se pode concluir que o parcelamento e subsequente pagamento pudessem ser formalizados após o trânsito em
julgado da sentença condenatória. Afinal de contas, o caput do art.9º fala em “pretensão punitiva” e não à “pretensão
executória”. Assim, o pagamento deve ser feito até a data da condenação.
Conclusões:
• O parcelamento isoladamente considerado não acarretava a extinção da punibilidade (apenas suspendia a pretensão
punitiva);
• O parcelamento feito antes da condenação apenas suspende a pretensão punitiva do Estado;
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• Apenas com o pagamento integral é que fica extinta a punibilidade;
• Independentemente de anterior inclusão em regime de parcelamento, se foi feito o pagamento integral, fica extinta a
punibilidade;
• O pagamento pode ser feito antes ou depois do recebimento da denúncia, mas desde que antes da condenação;
DE OLHO NA JURIS! Extinção da punibilidade pelo pagamento integral de débito mesmo após o trânsito em julgado
O pagamento integral do débito tributário, a qualquer tempo, até mesmo após o trânsito em julgado da condenação, é causa de
extinção da punibilidade do agente, nos termos do art. 9º, § 2º, da Lei nº 10.684/2003. STJ. 5ª Turma.HC 362478-SP, Rel. Min.
Jorge Mussi, julgado em 14/9/2017 (Info 611). STF. 2ª Turma. RHC 128245, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 23/08/2016.
• Os débitos tributários podem se referir a dívidas que o agente tem perante a União, Estados ou Municípios;
• O art.9º fala dos crimes contra a ordem tributária praticados por particulares (arts.1º e 2º da Lei 8.137/90), apropriação
indébita previdenciária e sonegação de contribuição previdenciária. Mas há precedentes do STJ aplicando este
regramento também ao crime de descaminho;
• O pagamento integral é causa extintiva da punibilidade de natureza objetiva e, portanto, se este a todos os coautores e
partícipes, ainda que estes não tenham sido os responsáveis pelo pagamento.
DE OLHO NA JURIS! O prazo da prescrição da pretensão punitiva fica suspenso durante o parcelamento do débito tributário
O que acontece se o réu de um crime contra a ordem tributária aderir ao parcelamento da dívida? Haverá a suspensão do
processo penal. Nos crimes contra a ordem tributária, quando o agente ingressa no regime de parcelamento dos débitos
tributários, fica suspensa a pretensão punitiva penal do Estado (o processo criminal fica suspenso). Durante o parcelamento o
que ocorre com o prazo prescricional? Também fica suspenso. O prazo prescricional não corre enquanto estiverem sendo
cumpridas as condições do parcelamento do débito fiscal. É o que prevê o art. 9º, § 1º da Lei nº 10.684/2003. Se, ao final, o réu
pagar integralmente os débitos, haverá a extinção da punibilidade. STF. 2ª Turma. ARE 1037087 AgR/SP, Rel. Min. Dias Toffoli,
julgado em 14/8/2018 (Info 911).
Lei 11.941/09, Art. 68. É SUSPENSA A PRETENSÃO PUNITIVA do Estado, referente aos crimes previstos nos arts. 1o e 2º da Lei nº
8.137, de 27 de dezembro de 1990 (CRIMES CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA PRATICADOS POR PARTICULAR), e nos arts. 168-
A e 337-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 – Código Penal (APROPRIAÇÃO INDÉBITA PREVIDENCIÁRIA e
SONEGAÇÃO DE CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA), limitada a suspensão aos débitos que tiverem sido objeto de concessão de
PARCELAMENTO, enquanto não forem rescindidos os parcelamentos de que tratam os arts. 1o a 3o desta Lei, observado o
disposto no art. 69 desta Lei.
Parágrafo único. A PRESCRIÇÃO CRIMINAL NÃO CORRE durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
Lei 11.941/09, Art. 69. EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes referidos no art. 68 quando a pessoa jurídica relacionada com o
agente efetuar o PAGAMENTO INTEGRAL dos débitos oriundos de tributos e contribuições sociais, inclusive acessórios, que
tiverem sido objeto de concessão de parcelamento.
Parágrafo único. Na hipótese de pagamento efetuado pela pessoa física prevista no §15 do art. 1o desta Lei, a extinção da
punibilidade ocorrerá com o pagamento integral dos valores correspondentes à ação penal.
Lei 9.430/96, Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts.
1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida
a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
§1o Na hipótese de concessão de PARCELAMENTO do crédito tributário, a representação fiscal para fins penais somente será
encaminhada ao Ministério Público APÓS A EXCLUSÃO da pessoa física ou jurídica do parcelamento.
§2o É SUSPENSA A PRETENSÃO PUNITIVA do Estado referente aos crimes previstos no caput, durante o período em que a pessoa
física ou a pessoa jurídica relacionada com o agente dos aludidos crimes estiver incluída no PARCELAMENTO, desde que o pedido
de parcelamento tenha sido formalizado ANTES DO RECEBIMENTO DA DENÚNCIA CRIMINAL.
§3o A PRESCRIÇÃO CRIMINAL NÃO CORRE durante o período de suspensão da pretensão punitiva.
§4o EXTINGUE-SE A PUNIBILIDADE dos crimes referidos no caput quando a pessoa física ou a pessoa jurídica relacionada com o
agente efetuar o PAGAMENTO INTEGRAL dos débitos oriundos de tributos, inclusive acessórios, que tiverem sido objeto de
concessão de parcelamento.
§5o O disposto nos §§ 1o a 4o NÃO SE APLICA nas hipóteses de VEDAÇÃO LEGAL DE PARCELAMENTO.
§6o As disposições contidas no caput do art. 34 da Lei no 9.249, de 26 de dezembro de 1995, aplicam-se aos processos
administrativos e aos inquéritos e processos em curso, DESDE QUE NÃO RECEBIDA A DENÚNCIA PELO JUIZ.
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Conclusões:
• O pedido de parcelamento deve ser feito antes do recebimento da denúncia (novatio legis in pejus em relação às leis
10.648/03 e 11.941/09);
• Antes de proceder ao juízo de admissibilidade da denúncia, o juiz deve intimar o acusado para que proceda ao
parcelamento e/ou pagamento do débito tributário, de modo a obter a extinção da punibilidade.
• O pagamento integral a que se refere o §4º deve ser feito antes do juízo positivo de admissibilidade da peça
acusatória. Assim, estão revogados tacitamente o art.9º, §2º, da Lei 10.684/03, e o art.69 da Lei 11.941/09, que
autorizavam que o pagamento fosse feito a qualquer momento, desde que antes do trânsito em julgado.
50. Lei de repatriação de valores e nova causa de extinção da punibilidade em relação a crimes tributário
Lei 13.254/2016, Art. 1º É instituído o Regime Especial de Regularização Cambial e Tributária (RERCT), para declaração
voluntária de recursos, bens ou direitos de origem lícita, não declarados ou declarados com omissão ou incorreção em relação a
dados essenciais, remetidos ou mantidos no exterior, ou repatriados por residentes ou domiciliados no País, conforme a
legislação cambial ou tributária, nos termos e condições desta Lei.
Lei 13.254/2016, Art. 5º A adesão ao programa dar-se-á mediante ENTREGA DA DECLARAÇÃO dos recursos, bens e direitos
sujeitos à regularização prevista no caput do art. 4º e PAGAMENTO INTEGRAL do imposto previsto no art. 6º e da MULTA
prevista no art. 8º desta Lei.
§1º O cumprimento das condições previstas no caput ANTES DE DECISÃO CRIMINAL EXTINGUIRÁ, em relação a recursos, bens e
direitos a serem regularizados nos termos desta Lei, A PUNIBILIDADE dos crimes a seguir previstos, praticados até a data de
adesão ao RERCT: (Redação dada pela Lei nº 13.428, de 2017)
I - no art. 1º e nos incisos I , II e V do art. 2º da Lei nº 8.137, de 27 de dezembro de 1990 ; à crimes tributários da Lei 8.137/90
II - na Lei nº 4.729, de 14 de julho de 1965; à crimes de sonegação fiscal
III - no art. 337-A do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) ; à sonegação de contribuição
previdenciária
IV - nos seguintes arts. do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal) , quando exaurida sua potencialidade
lesiva com a prática dos crimes previstos nos incisos I a III:
a) 297 ; à falsificação de documento público
b) 298 ; à falsificação de documento particular
c) 299 ; à falsidade ideológica
d) 304 ; à uso de documento falso
V - (VETADO);
VI - no caput e no parágrafo único do art. 22 da Lei nº 7.492, de 16 de junho de 1986 ; à evasão de divisas
VII - no art. 1º da Lei nº 9.613, de 3 de março de 1998 , quando o objeto do crime for bem, direito ou valor proveniente, direta
ou indiretamente, dos crimes previstos nos incisos I a VI; à lavagem de capitais
VIII - (VETADO).
§2º A extinção da punibilidade a que se refere o §1º :
I - (VETADO);
II - somente ocorrerá se o cumprimento das condições se der ANTES DO TRÂNSITO EM JULGADO DA DECISÃO CRIMINAL
CONDENATÓRIA;
III - produzirá, em relação à administração pública, a extinção de todas as obrigações de natureza cambial ou financeira,
principais ou acessórias, inclusive as meramente formais, que pudessem ser exigíveis em relação aos bens e direitos declarados,
ressalvadas as previstas nesta Lei.
§3º (VETADO).
§4º (VETADO).
§5º Na hipótese dos incisos V e VI do § 1º, a extinção da punibilidade será restrita aos casos em que os recursos utilizados na
operação de câmbio não autorizada, as divisas ou moedas saídas do País sem autorização legal ou os depósitos mantidos no
exterior e não declarados à repartição federal competente possuírem origem lícita ou forem provenientes, direta ou
indiretamente, de quaisquer dos crimes previstos nos incisos I, II, III, VII ou VIII do §1º.
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VI - a conversão de depósito em renda;
VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§1º e 4º;
VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164;
IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser
objeto de ação anulatória;
X - a decisão judicial passada em julgado.
XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei.
Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior verificação da
irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos 144 e 149.
Para parte da doutrina, todas as formas de extinção do crédito tributário, que implicam extinção da obrigação
tributária correspondente, também têm o condão de extinguir a punibilidade dos crimes contra a ordem tributária.
O tema não é pacífico. Mas há precedentes de ambas as Turmas Criminais do STJ no sentido de que a constituição
regular e definitiva do crédito tributário é suficiente à tipificação das condutas previstas no art.1º, inc.I a IV, da Lei 8.137/90, de
forma que o eventual reconhecimento da prescrição tributária não afeta a persecução criminal, diante da independência das
esferas administrativo-tributária e penal.
DE OLHO NA JURIS! A extinção do crédito tributário pela prescrição não influencia na ação penal por crime contra a ordem
tributária
O reconhecimento de prescrição tributária em execução fiscal não é capaz de justificar o trancamento de ação penal referente
aos crimes contra a ordem tributária previstos nos incisos I a IV do art. 1º da Lei nº 8.137/90. A constituição regular e definitiva
do crédito tributário é suficiente para tipificar as condutas previstas no art. 1º, I a IV, da Lei nº 8.137/90, não influenciando em
nada, para fins penais, o fato de ter sido reconhecida a prescrição tributária. STJ. 5ª Turma. AgRg no AREsp 202.617/DF, Rel.
Min. Campos Marques (Des. Conv. do TJ/PR), julgado em 11/04/2013. STJ. 6ª Turma. RHC 67771-MG, Rel. Min. Nefi Cordeiro,
julgado em 10/3/2016 (Info 579).
Lei 8.137/90, Art. 15. Os crimes previstos nesta lei são de AÇÃO PENAL PÚBLICA, aplicando-se-lhes o disposto no art. 100 do
Decreto-Lei n° 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal.
Súmula 609-STF
Súmula 609-STF: É pública incondicionada a ação penal por crime de sonegação fiscal.
53. Decisão final do procedimento administrativo de lançamento e não modificação da natureza incondicionada da ação
penal pública dos crimes contra a ordem tributária
Lei 9.430/96, Art. 83. A representação fiscal para fins penais relativa aos crimes contra a ordem tributária previstos nos arts.
1o e 2o da Lei no 8.137, de 27 de dezembro de 1990, e aos crimes contra a Previdência Social, previstos nos arts. 168-A e 337-A
do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), será encaminhada ao Ministério Público depois de proferida
a decisão final, na esfera administrativa, sobre a exigência fiscal do crédito tributário correspondente.
DE OLHO NA JURIS! Não ofende a presunção de inocência a exigência do Fisco de comprovação da origem de valores (art. 42
da Lei 9.430/96)
A Lei nº 9.430/96 trata sobre procedimentos de fiscalização tributária realizados pela Receita Federal. Em alguns dispositivos, a
Lei define omissão de receita, ou seja, situações em que a fiscalização considera que o contribuinte não declarou corretamente
as receitas ou rendimentos obtidos. Veja o que diz o art. 42:
“Art. 42. Caracterizam-se também omissão de receita ou de rendimento os valores creditados em conta de depósito ou de
investimento mantida junto a instituição financeira, em relação aos quais o titular, pessoa física ou jurídica, regularmente
intimado, não comprove, mediante documentação hábil e idônea, a origem dos recursos utilizados nessas operações.”
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Em outras palavras, se é depositada uma determinada quantia na conta bancária do indivíduo e este não consegue provar a
origem desses recursos, a Receita Federal irá presumir que são rendimentos e, consequentemente, irá lavrar auto de infração e
cobrar o valor do imposto de renda sobre tais quantias. Se o contribuinte não se defender administrativamente ou se a sua
defesa não for acatada, haverá a constituição definitiva desse crédito tributário. A partir daí, a RFB comunica o fato ao MPF que,
então, irá formular denúncia (ação penal) contra o contribuinte alegando que ele praticou o delito do art. 1º, I, da Lei nº
8.137/90.
Caso o contribuinte/réu seja condenado por esse fato, haverá violação ao princípio da presunção de inocência? NÃO. Não
ofende o princípio constitucional da presunção de inocência a exigência de comprovação da origem de valores estabelecida
no art. 42 da Lei nº 9.430/96. Para o STF, o contribuinte, ao não comprovar a origem dos recursos depositados em sua conta
bancária, cria, contra si, uma presunção relativa de que houve omissão de rendimentos, ensejando a condenação criminal. Não
há ofensa ao princípio da presunção de inocência porque se trata de um procedimento legalmente estabelecido e disciplinado,
sendo certo que ao contribuinte é garantido o contraditório e a ampla defesa. STF. 2ª Turma. HC 121125/PR, rel. Min. Gilmar
Mendes, julgado em 10/6/2014 (Info 750).
54. Natureza jurídica da decisão final do procedimento administrativo de lançamento nos crimes contra a ordem tributária
Como vimos no tópico anterior, a decisão final do procedimento administrativo de lançamento não é condição de
procedibilidade da ação penal. Surgem, então, ao menos 3 correntes sobre a sua natureza jurídica:
1ª corrente (minoritária): questão prejudicial heterogênea não relativa ao estado civil das pessoas;
2ª corrente: elementar dos crimes materiais contra a ordem tributária;
3ª corrente: condição objetiva de punibilidade (majoritária), nos crimes materiais contra a ordem tributária.
Súmula vinculante 24-STF: Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no artigo 1º, incisos I a IV, da Lei nº
8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo.
Ao falar em “não se tipifica”, parece que a súmula quer dizer que o lançamento é elementar dos crimes materiais
contra a ordem tributária. Mas não é este o entendimento que prevalece no STF, o qual, antes mesmo da edição dessa SV, já
entendia que o lançamento é condição objetiva da punibilidade.
De qualquer forma, enquanto durar o procedimento administrativo-fiscal, a prescrição da ação penal fica suspensa.
A exigência de conclusão do procedimento administrativo de lançamento diz respeito ao crédito tributário, e não a
cada um dos acusados.
Para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito tributário, sendo desnecessária a juntada
integral do Procedimento Administrativo Fiscal (PAF).
DE OLHO NA JURIS! Para fazer a prova da constituição definitiva do crédito tributário não se exige a juntada integral do PAF
Para o início da ação penal, basta a prova da constituição definitiva do crédito tributário (Súmula Vinculante 24), sendo
desnecessária a juntada integral do Procedimento Administrativo Fiscal correspondente. STJ. 5ª Turma. RHC 94288-RJ, Rel. Min.
Reynaldo Soares da Fonseca, julgado em 22/05/2018 (Info 627).
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Mitigação da SV 24
Excepcionalmente, a jurisprudência admite a mitigação da SV 24-STF em duas situações:
• nos casos de embaraço à fiscalização tributária; ou
• diante de indícios da prática de outros delitos, de natureza não fiscal.
Os crimes contra a ordem tributária pressupõem a prévia constituição definitiva do crédito na via administrativa para fins de
tipificação da conduta. A jurisprudência desta Corte deu origem à Súmula Vinculante 24 (...) Não obstante a jurisprudência
pacífica quanto ao termo inicial dos crimes contra a ordem tributária, o Supremo Tribunal Federal tem decidido que a regra
contida na Súmula Vinculante 24 pode ser mitigada de acordo com as peculiaridades do caso concreto, sendo possível dar início
à persecução penal antes de encerrado o procedimento administrativo, nos casos de embaraço à fiscalização tributária ou
diante de indícios da prática de outros delitos, de natureza não fiscal. STF. 1ª Turma. ARE 936653 AgR, Rel. Min Roberto Barroso,
julgado em 24/05/2016.
A jurisprudência desta Corte Superior é firme no sentido de que se admite a mitigação da Súmula Vinculante n. 24/STF nos casos
em que houver embaraço à fiscalização tributária ou diante de indícios da prática de outras infrações de natureza não tributária.
Precedentes. STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 551422/PI, Rel. Min. Nefi Cordeiro, julgado em 09/06/2020.
55. Prejudicialidade facultativa em virtude de ação no âmbito cível discutindo a existência do crédito tributário
Discute-se se o ajuizamento de uma ação cível questionando a exigibilidade do crédito tributário teria o condão de
acarretar a suspensão do processo penal. Sobre o assunto, duas correntes:
1ª corrente: questão prejudicial heterogênea não relativa ao estado civil das pessoas (art.93 CPP) à há precedentes no STJ
nesse sentido;
2ª corrente: independência das esferas cível e criminal à não há necessidade de sobrestamento do processo penal, pois as
instâncias são independentes. A competência para efetivar o lançamento é da autoridade administrativa e existe presunção de
legalidade deste ato. Esgotada a esfera administrativa, implementa-se a condição objetiva de punibilidade para a deflagração da
ação penal, pouco importando que o crédito tributário definitivamente constituído tenha tido sua exigibilidade suspensa por
conta de depósito judicial, ou que eventual medida liminar tenha impedido sua inscrição em dívida ativa. Há inúmeros
precedentes do STF e do STJ neste sentido.
Independentemente da corrente adotada, sobrevindo decisão judicial definitiva no juízo cível extinguindo o crédito
tributário, seus efeitos hão de se irradiar no âmbito criminal, pelo menos em relação aos crimes materiais contra a ordem
tributária, que pela ausência de uma elementar desses crimes, que pela ausência de condição objetiva de punibilidade.
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56. Investigação preliminar
Lei 8.137/90, Art. 16. Qualquer pessoa poderá provocar a iniciativa do Ministério Público nos crimes descritos nesta lei,
fornecendo-lhe por escrito informações sobre o fato e a autoria, bem como indicando o tempo, o lugar e os elementos de
convicção.
Parágrafo único. Nos crimes previstos nesta Lei, cometidos em quadrilha ou co-autoria, o co-autor ou partícipe que através de
confissão espontânea (COLABORAÇÃO PREMIADA) revelar à autoridade policial ou judicial toda a trama delituosa terá a sua
pena reduzida de um a 2/3.
Lei 8.137/90, Art. 22. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.
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