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[Ano]

Nova lei dos crimes de

Abuso de
AUTORIDADE
Abordamos os temas
mais importantes da
nova lei, destacando
os pontos que
podem ser cobrados
a partir do XXXII
Exame da OAB

Fique por dentro das mudanças promovidas


pela Lei nº 13.869/2019!

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Preparamos mais um resumo especial, indispensável
à sua preparação para o exame da OAB.

NOVA LEI DOS CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE

A Lei nº 13.869/2019, que revogou a Lei nº 4.898/65, passou a disciplinar


os crimes de abuso de autoridade.
A nova lei entrou em vigor no dia 03 de janeiro de 2020, podendo ser
cobrada a partir do XXXII Exame da OAB.
Destacamos abaixo os seus pontos mais importantes.

I - Considerações gerais

I.1. Sujeito ativo

Art. 2º É sujeito ativo do crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou
não, da administração direta, indireta ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de Território, compreendendo, mas não se
limitando a:

I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;

II - membros do Poder Legislativo;

III - membros do Poder Executivo;

IV - membros do Poder Judiciário;

V - membros do Ministério Público;

VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.


Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce,
ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação,
contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego
ou função em órgão ou entidade abrangidos pelo caput deste artigo.

Aplica-se a lei aos agentes públicos em sentido amplo, ou seja, aos


servidores dos três Poderes, incluindo a Administração Pública Direta, Indireta
e Fundacional, mesmo que em exercício transitório ou sem remuneração, sob
qualquer forma de investidura ou vínculo.
Aplica-se não só ao agente no exercício de suas funções, mas também ao
agente que atua a pretexto de exercê-la, isto é, ao agente que diz que está
no exercício de sua função, mas não está.

Exemplificando: Auditor fiscal do trabalho que alega estar no


exercício de sua função para entrar no estádio de futebol, mas,
na verdade, entra apenas para assistir ao jogo de futebol.

I.2. O particular pode ser punido pelo crime de abuso de autoridade?

É importante lembrar que os crimes de abuso de autoridade, apesar de


serem crimes próprios (exigem que o sujeito ativo seja agente público),
admitem a coautoria e a participação, tendo em vista que a qualidade de
“agente público”, por ser elementar do tipo, comunica-se aos demais agentes
(art. 30 do CP).
Assim, se o particular praticar conduta que caracterize crime de abuso de
autoridade em coautoria com o agente público, ele também será punido pelo
crime de abuso de autoridade, da mesma forma que o agente público que o
praticou.
I.3. Dolo Específico

Todos os tipos penais previstos na lei de abuso de autoridade exigem dolo


específico do agente, isto é, além da prática da conduta descrita no tipo penal,
o agente deverá praticar o crime com a finalidade específica de prejudicar
outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro , ou, ainda, por mero capricho
ou satisfação pessoal.
Existem, portanto, duas finalidades específicas previstas na lei:
a) prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro,
b) por mero capricho ou satisfação pessoal.
Desse modo, se o agente praticar a conduta do tipo penal, mas não tiver
nenhuma das intenções acima mencionadas, não haverá a caracterização do
crime.
Além disso, o § 2º do art. 1º da Lei nº 13.869/2019 é expresso no sentido de
que a divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas
não configura abuso de autoridade.

ATENÇÃO: a divergência na interpretação de lei ou na avaliação de


fatos e provas não configura abuso de autoridade.

I.4 Ação Penal

Os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são crimes de ação penal


incondicionada.
No entanto, será admitida ação privada subsidiária da pública se a ação
penal pública não for intentada no prazo do art. 46 do CPP (5 dias para réu
preso e 15 dias se o réu estiver solto ou afiançado).
Desse modo, se o MP receber os autos do inquérito policial e ficar inerte
no prazo do art. 46 do CPP (5 dias ou 15 dias), a própria vítima, ou o seu
representante, poderá oferecer a queixa no prazo decadencial de 6 meses,
contado da data em que se esgotar o prazo para oferecimento da denúncia.
Lembre-se que não será considerada inércia o fato de o Promotor de
Justiça determinar a realização de diligência, ultrapassando o prazo legal para
oferecimento da denúncia, de modo que, nesse caso, não será possível o
ajuizamento da ação privada subsidiária da pública.

I.5. Competência

A primeira regra para fixar a competência é verificar se existe competência


por prerrogativa de função, ou seja, aquela fixada em razão do cargo que
determinada pessoa ocupa, conforme regras definidas pela própria
Constituição Federal, abaixo sintetizadas:

COMPETÊNCIA DO COMPETÊNCIA DO COMPETÊNCIA DO


STF STJ TJ/TRF/TRE

PODER EXECUTIVO: Presidente da PODER EXECUTIVO: Governa- PODER EXECUTIVO: Prefeitos (TRF
República, Vice-Presidente da dores do Estado e do Distrito se o crime for de competência da
República e Advogado-Geral de Federal Justiça Federal e TJ se o crime for
União. de competência da Justiça
Estadual).

PODER JUDICIÁRIO: Ministros do PODER JUDICIÁRIO: Membros PODER JUDICIÁRIO: Juízes de


STF, Membros dos Tribunais Superiores dos TJs, TRFs, TRTs, TREs. Direito, Juízes Federais, Juízes do
(STJ, TST, TSE e STM). Trabalho e Juízes Militares.

PODER LEGISLATIVO: Membros do PODER LEGISLATIVO: NÃO HÁ PODER LEGISLATIVO: Deputados


Congresso Nacional (Câmara dos Estaduais e Vereadores, desde que
Deputados e do Senado Federal); haja previsão na respectiva
Constituição Estadual (TRF se o
crime for de competência da
Justiça Federal e TJ se o crime for
de competência da Justiça
Estadual).

Outros: PGR, Comandante das Outros: Ministros de Estado, Outros: Membros do Ministério
Forças Armadas, Membros do Membros do Ministério Público da Público Estadual (TJ) e do
Tribunal de Contas da União, Chefes União que atuam em segunda Ministério Público da União (TRF)
de Missão Diplomática de caráter Instância e Membros dos Tribunais que atuam em primeira instância.
permanente e Presidente do Banco de Contas dos Estados e Distrito
Central. Federal.
Caso não haja competência por prerrogativa de função, a competência
será da primeira instância da Justiça Federal, se o autor for agente público
federal no exercício de sua função (Súmula n. 147 do STJ), ou da primeira
instância da Justiça Estadual, nas demais hipóteses.

ATENÇÃO: Em relação aos militares, compartilhamos o


posicionamento dos professores Rogério Greco e Rogério
Sanches no sentido de que eventual crime de abuso de
autoridade cometido por militar deverá, com base no inciso II do art. 9º da
Lei n. 13.491/2017, ser julgado na Justiça Militar, devendo a Súmula 172 do STJ
ser revista.

1.6. Efeitos da Condenação

Art. 4º São efeitos da condenação:

I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a
requerimento do ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos
causados pela infração, considerando os prejuízos por ele sofridos;

II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1


(um) a 5 (cinco) anos;

III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.

Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados
à ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos,
devendo ser declarados motivadamente na sentença.

De acordo com o art. 4º da Lei nº 13.869/2019, portanto, existem efeitos


automáticos e não automáticos da condenação, sendo que, neste último caso,
os efeitos devem ser declarados motivadamente na sentença e só podem ser
aplicados aos reincidentes em crime de abuso de autoridade.
Efeitos automáticos Efeitos não automáticos

I - tornar certa a obrigação de indenizar II - inabilitação para o exercício de


o dano causado pelo crime cargo, mandato ou função pública,
pelo período de 1 (um) a 5 (cinco)
anos;

III - perda do cargo, do mandato ou


da função pública.

Esses efeitos devem ser motivados na


sentença e são aplicados apenas ao
reincidentes em crime de abuso de
autoridade.

I.7. Detenção

Todos os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 são puníveis com detenção.


NÃO HÁ CRIME PREVISTO COM RECLUSÃO!

I.8. Penas Restritivas de Direito

Art. 5º As penas restritivas de direitos substitutivas das privativas de liberdade previstas nesta
Lei são:

I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;

II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo prazo de 1 (um) a 6


(seis) meses, com a perda dos vencimentos e das vantagens;

Parágrafo único. As penas restritivas de direitos podem ser aplicadas autônoma ou


cumulativamente.

O art. 5º da Lei nº 13.869/2019, portanto, prevê apenas dois tipos de penas


restritivas de direito para os crimes de abuso de autoridade:
I - prestação de serviços à comunidade ou a entidades públicas;
II - suspensão do exercício do cargo, da função ou do mandato, pelo
prazo de 1 (um) a 6 (seis) meses, com a perda dos vencimentos e
das vantagens.
Para que haja a substituição da pena privativa de liberdade por pena
restritiva de direito, são exigidos, com base no art. 44 do CP, os seguintes
requisitos:
 Quantidade de pena: O crime deve ser cometido sem violência
ou grave ameaça à pessoa e a pena imposta deve ser inferior a 4
anos.

 Reincidência: O réu não pode ser reincidente em relação ao


mesmo tipo penal (reincidência específica). Tratando-se de
reincidência de crime doloso não específica, o juiz poderá aplicar
a substituição desde que, em face de condenação anterior, a
medida seja socialmente recomendável e a reincidência não se
tenha operado em virtude da prática do mesmo crime (§ 3º do
art. 44 do CP)

 Circunstâncias favoráveis: A culpabilidade, os antecedentes, a


conduta social e a personalidade do condenado, bem como os
motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja
suficiente.

I.9. Crimes de menor potencial ofensivo

Os crimes previstos na Lei nº 13.869/2019 possuem dois tipos de pena:

a) Delitos menos graves: Detenção de 6 meses a 2 anos + multa


b) Delitos de média gravidade: Detenção de 1 a 4 anos + multa

Os crimes menos graves são de menor potencial ofensivo, admitindo-se a


aplicação das regras de Lei n. 9.099/95 (possível transação penal e suspensão
condicional do processo, observados os requisitos dos artigos 72, 76 e 89 da
Lei n. 9.099/95), enquanto os crimes de média gravidade com pena mínima
igual ou inferior a 1 ano admitem a transação penal, desde que observado os
requisitos do art. 89 da Lei n. 9.099/95.
I.10. Sanções Administrativas e Civis

Além de eventuais sanções penais, a prática do crime de abuso de


autoridade pode acarretar sanções na espera civil e administrativa.
Como regra geral, a responsabilidade civil e/ou administrativa é
independente da responsabilidade penal. No entanto, haverá duas situações
que a decisão no processo penal vinculará a decisão na instância civil e/ou
administrativa.

1) Quando o juízo criminal decidir sobre a existência ou a autoria


do fato (art. 7º da Lei nº 13.869/2019);
2) Quando a sentença penal reconhecer que o ato foi praticado em
estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito
cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito
(art. 8º da Lei nº 13.869/2019).

Destaca-se ainda que, em relação às notícias de crimes previstos na Lei nº


13.869/2019 que descreverem falta funcional, o juiz deverá informar à
autoridade competente com vistas à apuração do fato na esfera administrativa
(parágrafo único do art. 8º da Lei nº 13.869/2019).
II - Crimes em espécie

Com o objetivo de facilitar o estudo dos crimes previstos na Lei nº


13.869/2019, é possível classificá-los, para fins meramente didáticos, em dois
grandes grupos.
O primeiro grupo está relacionado aos crimes praticados pelos agentes
públicos durante a fase de investigação ou instrução de procedimentos
investigatórios (inquérito civis, inquéritos policiais e procedimentos de
investigação penal) ou de processos judiciais.
Já o segundo grupo está relacionado aos crimes praticados por agentes
públicos contra as pessoas privadas de sua liberdade (presos).
Vamos lá!

II.1. Crimes praticados durante a fase de investigação ou instrução de


procedimentos investigatórios ou de processos judiciais

Art. 10. Decretar a condução coercitiva de testemunha ou investigado manifestamente


descabida ou sem prévia intimação de comparecimento ao juízo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: É possível a condução coercitiva de testemunha ou


da vítima regularmente intimadas que não compareceram nem
justificaram sua ausência (arts. 218 e 201 do CPP), bem como a
condução de investigado ou réu para identificação, qualificação ou atos
diversos do interrogatório. O que não é permitida é a condução coercitiva de
investigado ou réu para interrogatório, já que sua presença não é obrigatória
para o ato, conforme decidido pelo STF no julgamento das ADPs 395 e 444.
Art. 15. Constranger a depor, sob ameaça de prisão, pessoa que, em razão de função,
ministério, ofício ou profissão, deva guardar segredo ou resguardar sigilo:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: Várias pessoas são desobrigadas a depor, como


quem exerce ministério religioso sobre confissão que deva
guardar sigilo, médicos sobre fatos relacionados à profissão,
psicólogo sobre as consultas de seus clientes, mas é a situação do advogado
que nos interessa mais.
O art. 7º, XIX, do EAOAB estabelece que é direito do advogado “recusar-se a
depor como testemunha em processo no qual funcionou ou deva funcionar,
ou sobre fato relacionado com pessoa de quem seja ou foi advogado, mesmo
quando autorizado ou solicitado pelo constituinte, bem como sobre fato que
constitua sigilo profissional”;
O art. 38 do CEDOAB, por sua vez, estabelece que o advogado não é
obrigado a depor, em processo ou procedimento judicial, administrativo ou
arbitral, sobre fatos a cujo respeito deva guardar sigilo profissional.
A regra do sigilo profissional para o advogado, entretanto, não é absoluta, já
que o art. 37 do CEDOAB dispõe que “o sigilo profissional cederá em face de
circunstâncias excepcionais que configurem justa causa, como nos casos de
grave ameaça ao direito à vida e à honra ou que envolvam defesa própria”.
Desse modo, se o juiz constranger, sob ameaça de prisão, o advogado a
depor sobre fato acobertado pelo sigilo profissional, ele estará praticando o
crime de abuso de autoridade previsto no 15 da Lei nº 13.869/2019.
Importante destacar, por fim, que o sigilo profissional do advogado está
relacionado apenas ao exercício de sua profissão como advogado, podendo
ser obrigado a depor como testemunha sobre fatos estranhos à profissão.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem prossegue com o interrogatório:

I - de pessoa que tenha decidido exercer o direito ao silêncio

Comentário: O preso tem o direito de permanecer calado,


conforme art. 5º, LXIII, da CF/88. Sendo assim, a autoridade que
não respeitar o direito ao silêncio do preso praticará crime de
abuso de autoridade.
II - de pessoa que tenha optado por ser assistida por advogado ou defensor público, sem a
presença de seu patrono.

Comentário: Toda pessoa tem direito de ser assistida por


advogado, não podendo ser interrogada sem a presença do seu
patrono, caso assim deseje (art. 7º, XXI, do EAOAB). Desse
modo, a autoridade que não respeitar esse direito, também praticará abuso
de autoridade.

Art. 22. Invadir ou adentrar, clandestina ou astuciosamente, ou à revelia da vontade do


ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele permanecer nas mesmas condições,
sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: Trata-se de crime que objetiva punir com


severidade aquele descumprir o disposto no art. 5º, XI, da CF/88:
“a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo
penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito
ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial”.

§ 1º Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo, quem:

I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel


ou suas dependências;

III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou
antes das 5h (cinco horas).

Comentário: De acordo com o art. 245 do CPP, “as buscas


domiciliares serão executadas de dia, salvo se o morador
consentir que se realizem à noite (...)”. Interessante o
posicionamento de Rogério Sanches e Rogério Grego sob o crime sob análise:
“Enquanto houver iluminação solar, desde que após 5h e antes das 21h,
admite-se a medida excepcional. O crime ocorre se cumprido o mandado
antes da 5h ou depois da 21h, mesmo que perdurar a luz do sol1”.

1
CUNHA, Rogério Sanches; GRECO, Rogério. Op. Cit. Pág.202.
§ 2º Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou quando houver fundados
indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de flagrante delito ou
de desastre.

Art. 23. Inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o


estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de
responsabilizar criminalmente alguém ou agravar-lhe a responsabilidade:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: A título de exemplo, citamos o caso de policial que


dispara e coloca arma clandestina junto ao corpo da vítima, para
simular troca de tiro.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o intuito de:

I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de


diligência;

II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar


o curso da investigação, da diligência ou do processo.

Art. 24. Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou empregado de


instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já tenha
ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à


violência.

Comentário: A autoridade policial possui o dever de comparecer


rapidamente no local do crime, para preservá-lo até que haja a
perícia (art. 6, I, do CPP).
No crime sob análise, como tentativa de alterar o momento ou circunstância
da morte, a autoridade policial constrange, com violência ou grave ameaça
funcionário de hospital a admitir a entrada para tratamento de pessoa que já
está morta.
Trata-se de modalidade mais específica que o art. 23, exigindo-se ainda
violência ou grave ameaça.
Art. 25. Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação ou fiscalização, por
meio manifestamente ilícito:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: Podemos citar como exemplo, a autoridade que


realiza interceptação clandestina de conversa sigilosa de
advogado com o seu cliente, para tentar incriminá-lo.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em desfavor do investigado
ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.

Art. 27. Requisitar instauração ou instaurar procedimento investigatório de infração penal ou


administrativa, em desfavor de alguém, à falta de qualquer indício da prática de crime, de
ilícito funcional ou de infração administrativa:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial
ofensivo).

Comentário: Para que o crime do “caput” seja configurado, a


requisição ou instauração deve ocorrer à falta de qualquer
indício da prática de crime, ilícito funcional ou infração
administrativa. Havendo o mínimo indício, inclusive quando se tratar de
matéria jornalística, não há crime.

Parágrafo único. Não há crime quando se tratar de sindicância ou investigação preliminar


sumária, devidamente justificada.

Art. 28. Divulgar gravação ou trecho de gravação sem relação com a prova que se pretenda
produzir, expondo a intimidade ou a vida privada ou ferindo a honra ou a imagem do
investigado ou acusado:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: Trata-se de tipo que objetiva preservar a


intimidade, honra e imagem do investigado. Importante
relembrar que, para a caracterização de qualquer crime da nova
lei de abuso de autoridade, deverá ser demonstrado o dolo específico de
prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero
capricho ou satisfação pessoal.
Art. 29. Prestar informação falsa sobre procedimento judicial, policial, fiscal ou administrativo
com o fim de prejudicar interesse de investigado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial
ofensivo).

Comentário: Trata-se de crime que ocorre quando a autoridade,


instada a se manifestar, presta informação falsa para prejudicar
o investigado, como no caso de informações exigidas ao juiz em
caso de habeas corpus.

Art. 30. Dar início ou proceder à persecução penal, civil ou administrativa sem justa causa
fundamentada ou contra quem sabe inocente:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: Trata-se de dispositivo inicialmente vetado pelo


Presidente da República e muito criticado, já que a palavra “justa
causa” tem conceito aberto.

De qualquer forma, pode-se entender que o tipo se refere à investigação


penal iniciada ou que prosseguiu de forma arbitrária, sem a presença de
qualquer elemento que a justificasse.

Difere do crime de denunciação caluniosa previsto no art. 339 do CP, porque


não se exige que a imputação se refira à prática de crime.

Art. 31. Estender injustificadamente a investigação, procrastinando-a em prejuízo do


investigado ou fiscalizado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial
ofensivo).

Comentário: O procedimento de investigação deve respeitar os


prazos previstos em lei, mas o crime sob análise apenas será
configurado se não houver qualquer justificativa para a dilatação
da investigação, além do que deve estar presente o dolo específico de
prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero
capricho ou satisfação pessoal.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, inexistindo prazo para execução ou
conclusão de procedimento, o estende de forma imotivada, procrastinando-o em prejuízo do
investigado ou do fiscalizado.

Comentário: Ainda que não haja prazo previsto em lei para


conclusão do procedimento de investigação, haverá o crime do
parágrafo único se a autoridade o prolongar de forma
desarrazoada e injustificada, prejudicando o investigado.

Art. 32. Negar ao interessado, seu defensor ou advogado acesso aos autos de investigação
preliminar, ao termo circunstanciado, ao inquérito ou a qualquer outro procedimento
investigatório de infração penal, civil ou administrativa, assim como impedir a obtenção de
cópias, ressalvado o acesso a peças relativas a diligências em curso, ou que indiquem a
realização de diligências futuras, cujo sigilo seja imprescindível:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial
ofensivo).

Comentário: De acordo com o EAOAB, o advogado tem direito


a “examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir
investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de
investigações de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que
conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar apontamentos, em
meio físico ou digital” (art. 7, XIV, do EAOAB).
O advogado também tem direito de ter acesso aos autos sujeitos a sigilo,
mas, neste caso, deverá apresentar procuração.
Além disso, a autoridade competente poderá delimitar o acesso do advogado
aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda
não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da
eficiência, da eficácia ou da finalidade das diligências (§§ 10 e 11 do art. 7º do
EAOAB e Súmula 14 do STF).
Desse modo, negar o acesso ao advogado aos autos nos casos acima citados
pode caracterizar crime de abuso de autoridade.
Art. 33. Exigir informação ou cumprimento de obrigação, inclusive o dever de fazer ou de
não fazer, sem expresso amparo legal:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial
ofensivo).

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou função pública ou
invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter
vantagem ou privilégio indevido.

Comentário: A título de exemplo, cita-se o caso do agente


público que apresenta sua carteira funcional com o intuito de
furar fila ou entrar gratuitamente em determinado eventual, sem
qualquer vinculação com sua atuação profissional.

Art. 36. Decretar, em processo judicial, a indisponibilidade de ativos financeiros em quantia


que extrapole exacerbadamente o valor estimado para a satisfação da dívida da parte e, ante
a demonstração, pela parte, da excessividade da medida, deixar de corrigi-la:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: O tipo penal exige duas ações por parte do sujeito


ativo. Primeiro o magistrado deve decretar a indisponibilidade
de ativos financeiros em valor muito superior ao montante da
dívida (art. 854 do CPC).
Em seguida, mesmo após a manifestação do executado e diante da
excessividade da medida, o juiz deve se recusar a corrigi-la, o que vai gerar a
conversão da indisponibilidade em penhora.
Mesmo com medo de sermos repetitivos, não podemos esquecer que todos
os tipos penais previstos na nova Lei de Abuso de Autoridade devem ter o
dolo específico de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro,
ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.
Art. 37. Demorar demasiada e injustificadamente no exame de processo de que tenha
requerido vista em órgão colegiado, com o intuito de procrastinar seu andamento ou retardar
o julgamento:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Comentário: O crime pode ser praticado por qualquer agente


público que atua em órgão colegiado e pede vista do processo,
demorando de forma desarrazoada e injustificadamente, para
procrastinar seu andamento ou retardar o julgamento.
A grande crítica que se faz ao dispositivo é o fato de utilizar a expressão
“demasiada”, que pode dar margem a diversas interpretações e,
consequentemente, gerar arbitrariedade.

Art. 38. Antecipar o responsável pelas investigações, por meio de comunicação, inclusive rede
social, atribuição de culpa, antes de concluídas as apurações e formalizada a acusação:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Comentário: A título de exemplo, cita-se o caso de delegado de


polícia que publica em rede social comentário atribuindo culpa ao
investigado, mesmo antes do Ministério Público oferecer a denúncia.

II.2. Crimes contra pessoas privadas de sua liberdade (presos).

Art. 9º Decretar medida de privação da liberdade em manifesta desconformidade com as


hipóteses legais:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentário: Existem quatro hipóteses legais de privação de


liberdade: a) prisão em flagrante, b) prisão temporária, c) prisão
preventiva e d) prisão após o trânsito em julgado.
Desse modo, a autoridade que determinar qualquer umas dessas espécies de
prisão, sem observar os requisitos legais, poderá praticar o crime de abuso de
autoridade.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judiciária que, dentro de prazo
razoável, deixar de:

I - relaxar a prisão manifestamente ilegal;

Comentário: O juiz, ao receber o auto de prisão em flagrante, deve


decidir, de forma motivada, se vai relaxar a prisão ilegal ou se vai
converter a prisão em flagrante em prisão preventiva, caso
presentes os requisitos do art. 312 do CP. Se o juiz não relaxar a prisão em
flagrante manifestamente ilegal em prazo razoável, poderá praticar crime de
abuso de autoridade. Deveria, no entanto, o legislador ter fixado o que entende
por “prazo razoável”.

II - substituir a prisão preventiva por medida cautelar diversa ou de conceder liberdade


provisória, quando manifestamente cabível;

III - deferir liminar ou ordem de habeas corpus, quando manifestamente cabível.

Comentário: São hipóteses de habeas corpus manifestamente


cabível as previstas no art. 648 do CCP:

I - quando não houver justa causa;


II - quando alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
III - quando quem ordenar a coação não tiver competência para fazê-lo;
IV - quando houver cessado o motivo que autorizou a coação;
V - quando não for alguém admitido a prestar fiança, nos casos em que a lei
a autoriza;
VI - quando o processo for manifestamente nulo;
VII - quando extinta a punibilidade.

Art. 12. Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à autoridade judiciária


no prazo legal:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial
ofensivo).

Comentário: Apenas haverá o crime se a comunicação não for


feita no prazo de 24h e injustificadamente. Desse modo, se a
autoridade policial deixar de comunicar no prazo legal por motivo
justificável, não haverá crime.
Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem:

I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à


autoridade judiciária que a decretou;

Comentário: a prisão temporária ou preventiva deve ser


comunicada o mais rápido possível ao juiz que a decretou, para
que seja computada devidamente na pena privativa de liberdade,
conforme art. 42 do CP.
A comunicação pode ser feita por telefone, ofício, mensagem instantânea, não
podendo extrapolar o prazo de 24h.

II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se


encontra à sua família ou à pessoa por ela indicada;

Comentário: A nota de culpa é o esclarecimento por escrito ao


preso sobre o motivo da prisão, indicando o nome do condutor e
das testemunhas.

III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa,
assinada pela autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das
testemunhas;

IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão


preventiva, de medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e
excepcionalíssimo, de executar o alvará de soltura imediatamente após recebido ou de
promover a soltura do preso quando esgotado o prazo judicial ou legal

Art. 13. Constranger o preso ou o detento, mediante violência, grave ameaça ou redução de
sua capacidade de resistência, a:

I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;

Comentário: o preso ou detento tem o direito de não mostrar o


rosto ou parte do corpo que queira esconder, de modo que a
autoridade que, mediante violência ou grave ameaça, obrigar o
preso a exibir parte de seu corpo comete o crime sob análise.
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;

Comentário: Citamos os exemplos dados por Rogério Sanches e


Rogério Greco:

a) situação vexatória: “jovem, preso em flagrante delito no dia do seu 18


aniversário, foi obrigado a cantar com os policiais a cantiga de parabéns”,
b) constrangimento não autorizado em lei: “no dia da audiência em juízo,
autoridade policial determina que delator e delatado, ambos presos, sejam
transportados juntos até o prédio do fórum, contrariando o art. 5, inc. III, da Lei
12.850/2013”2.

III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à
violência.

Art. 16. Deixar de identificar-se ou identificar-se falsamente ao preso por ocasião de sua
captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial
ofensivo).

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem, como responsável por interrogatório em
sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso ou
atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função.

Comentários: De acordo com o art. 5º, LXIV, da CF/88, “o preso


tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por
seu interrogatório policial”.
Conforme esclarecedoras palavras de Rogério Greco e Rogério Sanches, “o que
a lei incriminadora em comento proíbe é a falta da identificação ou não
identificação, o que acaba de retirar do preso a condição de tomar
conhecimento de quem efetivamente o capturou ou, ainda, quem o interrogou
em sede de procedimento investigatório”3.

2
CUNHA, Rogério Sanches; GRECO, Rogério. Op. Cit. Pág.133.
3
CUNHA, Rogério Sanches; GRECO, Rogério. Op. Cit. Pág.153.
Art. 18. Submeter o preso a interrogatório policial durante o período de repouso noturno,
salvo se capturado em flagrante delito ou se ele, devidamente assistido, consentir em prestar
declarações:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial ofensivo).

Comentários: Para fins da lei de abuso de autoridade, considera-


se repouso noturno o período entre 21 horas e 5 horas (art. 22, § 1º,
III, da Lei nº 13.869/2019). Não haverá crime se o preso concordar
em depor no horário noturno ou se ele for capturado em flagrante delito.

Art. 19. Impedir ou retardar, injustificadamente, o envio de pleito de preso à autoridade


judiciária competente para a apreciação da legalidade de sua prisão ou das circunstâncias
de sua custódia:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena o magistrado que, ciente do impedimento ou da


demora, deixa de tomar as providências tendentes a saná-lo ou, não sendo competente para
decidir sobre a prisão, deixa de enviar o pedido à autoridade judiciária que o seja.

Art. 20. Impedir, sem justa causa, a entrevista pessoal e reservada do preso com seu
advogado:

Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa (crime de menor potencial ofensivo).

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem impede o preso, o réu solto ou o investigado
de entrevistar-se pessoal e reservadamente com seu advogado ou defensor, por prazo
razoável, antes de audiência judicial, e de sentar-se ao seu lado e com ele comunicar-se
durante a audiência, salvo no curso de interrogatório ou no caso de audiência realizada por
videoconferência.

Comentários: É direito do preso comunicar-se pessoal e


reservadamente com o seu advogado (art. 8º.2, “d”, do Pacto de
São José da Costa Rica, art. 41 da Lei de Execução Penal, art. 7º, III,
do EAOAB e art. 124, III, do ECA). Impedir esse direito, sem justa causa, é crime
de abuso de autoridade, previsto no caput do art. 20.
Consideramos justa causa situações necessárias para garantir a segurança do
preso ou do advogado.

Já o parágrafo único protege o direito do preso, réu solto ou investigado de se


comunicarem com o advogado antes da audiência, e de se sentaram ao seu
lado e com ele se comunicarem durante o ato, salvo no curso do interrogatório
ou em audiência realizada por videoconferência. No caso do parágrafo único,
não vemos possibilidade de se alegar justa causa.
Art. 21. Manter presos de ambos os sexos na mesma cela ou espaço de confinamento:

Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.

Comentários: o art. 82, § 2º, da Lei de Execução Penal garante que


as mulheres e aos maiores de 60 anos sejam recolhidos a
estabelecimento próprio e adequado à sua condição pessoal.
A Lei n. 13.869/19 passou a vedar expressamente, em qualquer circunstância, que
homens e mulheres compartilhem a mesma cela ou espaço de confinamento,
tendo em vista o risco a que essas mulheres estariam sujeitas.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou
adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o
disposto na Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Comentário: Considera-se crime de abuso de autoridade manter


na mesma cela criança e/ou adolescente na presença de pessoas
maiores de idade ou em ambiente inadequado, lembrando que o
art. 123 do ECA dispõe que internação deve “ocorrer em entidade exclusiva para
adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa
separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração”.
II - Alteração em outras leis

III.1 – Alteração na Lei nº 7.960/1989 (prisão temporária)

O art. 2º da Lei nº 7.960/89 passa a vigorar com a seguinte redação:

Art.2º

(...)

§ 4º-A O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da prisão


temporária estabelecido no caput deste artigo, bem como o dia em que o preso deverá ser
libertado.

Comentário: A prisão temporária é cabível quando imprescindível


para as investigações no inquérito policial. Deve ser decretada
pelo juiz, expedindo-se mandado de prisão em duas vias, uma das
quais servirá como nota de culpa.
Além disso, com a Lei nº 13.869/2019, passou-se a exigir também que o
mandado de prisão contenha o período de duração da prisão temporária, com
o dia em que o preso será solto.

(...)

§ 7º Decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela custódia


deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o
preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da prisão temporária
ou da decretação da prisão preventiva.

Comentário: o mandado de prisão, como visto, deve conter o


prazo da prisão temporária. Ultrapassado este prazo, o preso deve
ser colocado imediatamente em liberdade, independentemente
de decisão judicial, salvo se já tiver sido comunicado da prorrogação da prisão
temporária ou da decretação da prisão preventiva
(...)

§ 8º Inclui-se o dia do cumprimento do mandado de prisão no cômputo do prazo de prisão


temporária (NR)

Comentário: a nova redação do § 8º deixou claro que o dia de


cumprimento do mandado de prisão deve ser computado no
prazo da prisão temporária.

III.2 – Alteração na Lei nº 9.296/96 (interceptação telefônica)

O art. 10 da Lei nº 9.296/1996 passa a vigorar com a seguinte redação:

Art. 10. Constitui crime realizar interceptação de comunicações telefônicas, de informática


ou telemática, promover escuta ambiental ou quebrar segredo da Justiça, sem autorização
judicial ou com objetivos não autorizados em lei:

Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena a autoridade judicial que determina a execução de
conduta prevista no caput deste artigo com objetivo não autorizado em lei (NR)

Comentário: explicamos a seguir as diferenças entre


interceptação, escuta e gravação.
 Interceptação: realizada por pessoa estranha à conversa, sem
consentimento dos interlocutores.
 Escuta: realizada por pessoa estranha à conversa, mas com o
consentimento de um dos interlocutores.
 Gravação: realizada por um dos participantes da conversa sem o
consentimento do outro.

A Lei nº 13.869/2019 alterou a redação do art. 10 da Lei nº 9.296/1996, passando


a dispor que, além da interceptação, também será crime de abuso de autoridade
a escuta ambiental e a quebra de segredo de justiça sem autorização judicial ou
com objetivos não autorizados em lei.
O parágrafo único, por sua vez, estabelece que a autoridade que determinar a
escuta ou interceptação nos moldes do caput também comete crime de abuso
de autoridade.
III.3 – Alteração no ECA

A Lei nº 8.069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), passa a vigorar


acrescida do seguinte art. 227-A:

Art. 227-A Os efeitos da condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do Decreto-Lei


nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei,
praticados por servidores públicos com abuso de autoridade, são condicionados à ocorrência
de reincidência.

Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá da


pena aplicada na reincidência.

Comentário: Os crimes de abuso de autoridade previstos no ECA


são aqueles tratados em seus artigos 231, 232, 234 e 235.

A prática desses crimes acarreta o efeito extrapenal do art. 92, I, do CP, qual seja,
a perda do cargo, função pública e mandato eletivo.

O art. 227-A do ECA, acrescido pela Lei nº 13.869/2019, passou a dispor que a
ocorrência desse efeito extrapenal fica condicionada à reincidência,
independentemente da pena aplicada nesta.

Antes da Lei nº 13.869/2019, a aplicação do efeito extrapenal exigia apenas


condenação à pena privativa de liberdade igual ou superior a 1 ano.
Agora exige-se que haja reincidência, independentemente da pena aplicada ao
reincidente.

III. 4 – Alteração no EAOAB

A Lei nº 8.906/94 passa a vigorar acrescida do seguinte art. 7º-B:

Art. 7º-B - Constitui crime violar direito ou prerrogativa de advogado previstos nos incisos II,
III, IV e V do caput do art. 7º desta Lei:

Pena - detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.


Comentário: O art. 3º, “j”, da Lei n. 4.898/65 (revogada pela Lei nº
13.869/2019) previa como crime de abuso de autoridade qualquer
atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício
profissional, o que, em tese, abrangeria todos os direitos dos advogados previstos no
art. 7º do EAOAB. A nova Lei de Abuso de Autoridade reduziu o alcance do art. 3º, “j”,
da Lei n. 4.898/65, especificando que apenas a violação aos incisos II, III, IV e V do caput
do art. 7º do EAOAB é que serão crime de abuso de autoridade.

As prerrogativas citadas no tipo penal são as seguintes:


II – a inviolabilidade de seu escritório ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de
trabalho, de sua correspondência escrita, eletrônica, telefônica e telemática, desde que relativas
ao exercício da advocacia;

III - comunicar-se com seus clientes, pessoal e reservadamente, mesmo sem procuração,
quando estes se acharem presos, detidos ou recolhidos em estabelecimentos civis ou militares,
ainda que considerados incomunicáveis;

IV - ter a presença de representante da OAB, quando preso em flagrante, por motivo ligado
ao exercício da advocacia, para lavratura do auto respectivo, sob pena de nulidade e, nos
demais casos, a comunicação expressa à seccional da OAB;

V - não ser recolhido preso, antes de sentença transitada em julgado, senão em sala de Estado
Maior, com instalações e comodidades condignas, assim reconhecidas pela OAB, e, na sua falta,
em prisão domiciliar;

Com relação ao inciso II, o próprio § 6º do art. 7º do EAOAB estabelece que a


inviolabilidade não é absoluta, já que “presentes indícios de autoria e materialidade da
prática de crime por parte de advogado, a autoridade judiciária competente poderá
decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em
decisão motivada, expedindo mandado de busca e apreensão, específico e
pormenorizado, a ser cumprido na presença de representante da OAB, sendo, em
qualquer hipótese, vedada a utilização dos documentos, das mídias e dos objetos
pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos
de trabalho que contenham informações sobre clientes”.
Apesar dessa nova previsão no Estatuto da OAB, deve-se lembrar que a violação ao
direito previsto no inciso XIV do caput do art. 7º do EAOAB (direito de acesso aos
autos) também pode caracterizar crime de abuso de autoridade, conforme previsão
expressa do art. 32 Lei nº 13.869/2019, que não foi repetida no novo art. 7º-B do
Estatuto.
O tema “Direitos do advogado”, de Ética Profissional, é o tema mais importante para a
prova da OAB, já que o art. 7º do EAOAB é o artigo mais cobrado nas provas
anteriores.
Por isso, prestem muita atenção!
Havendo violação às prerrogativas acima destacadas, o infrator cometerá crime, o que
certamente será explorado nas próximas provas.

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