Você está na página 1de 24

MODELOS DE

CRIMINOLOGIA CLÍNICA
Proposta de um modelo
de inclusão social
CONCEITUAÇÃO GERAL
DE CRIMINOLOGIA CLÍNICA

Criminologia Clínica é um campo de atividade e


de conhecimentos interdisciplinares
predominantemente científicos, atividade e
conhecimentos esses voltados para a prática
profissional.
Propõe-se fazer uma escuta compreensiva de casos
individuais referentes a pessoas envolvidas com
a justiça e uma leitura da dinâmica da
instituição enquanto instância de controle.
CONCEITUAÇÃO GERAL
DE CRIMINOLOGIA CLÍNICA – cont.

Busca compreender os comportamentos


problemáticos, encarando-os como expressão de
conflitos e confrontos que seus autores têm em
relação às expectativas, normas e valores sociais e
culturais, e também levando em conta seu caráter
de lesividade e conflitualidade na dinâmica que se
estabelece entre o autor e a vítima.
Interessa-se por avaliar os desdobramentos possíveis
dos comportamentos problemáticos e formular
estratégias que contribuam para que os condenados
tenham um sucesso saudável em sua vida.
Modelo médico-psicológico de Criminologia Clínica
Uma criminologia clínica de primeira geração
Criminologia Clínica é um campo de atividade e de
conhecimentos interdisciplinares predominantemente
científicos que, valendo-se dos conceitos, princípios e
métodos de investigação médico-psicológicos (e sócio-
familiares), ocupa-se do indivíduo condenado, para:
a) Analisar no indivíduo a dinâmica de sua conduta
criminosa, sua personalidade e seu “estado perigoso”
(diagnóstico);
b) Inferir sobre as perspectivas de desdobramentos
futuros da mesma (prognóstico);
c) E assim propor estratégias de intervenção, com vistas à
superação ou contenção de uma possível tendência
criminal e a evitar a reincidência (tratamento).
Modelo médico-psicológico de Criminologia Clínica
Uma criminologia clínica de primeira geração – cont.

A conduta criminosa tende a ser compreendida


como conduta anormal, desviada, como possível
expressão de uma anomalia física ou psíquica,
dentro de uma concepção pré-determinista do
comportamento, pelo que ocupa lugar de destaque
o diagnóstico de periculosidade.
Modelo psicossocial de Criminologia Clínica
Uma criminologia clínica de segunda geração

Criminologia Clínica é um campo de atividade e de


conhecimentos interdisciplinares predominantemente
científicos que visa analisar o comportamento criminoso
e estudar estratégias de intervenção junto ao
encarcerado, às pessoas envolvidas com ele e com a
execução de sua pena.
 Análise/compreensão: em suas análises, valoriza os
fatores ambientais enquanto autônomos, e busca
compreender o preso como pessoa, conhecer suas
aspirações e as verdadeiras motivações e de sua conduta
criminosa.
Modelo psicossocial de Criminologia Clínica – cont.

 Estratégias de intervenção: voltar-se-á para os


diretores e agentes de segurança penitenciários,
visando envolvê-los num trabalho conjunto com os
técnicos, assim como envolver todos os demais serviços
do presídio e, de forma especial, a família do detento.
 Avaliação: levará em conta sua resposta às estratégias
de intervenção propostas, valendo-se, não só de
avaliações técnicas, mas também das observações dos
outros profissionais, incluídos aí os agentes de
segurança penitenciários, observações essas que serão
tecnicamente colhidas e interpretadas pelo corpo
técnico.
O paradigma das interrelações
sociais

O paradigma da passagem ao ato – Autor

O paradigma da reação social - Controle

O paradigma das interrelações sociais: relação


paradoxal entre os dois anteriores. –Ator
situado; ideia de devenir
Criminologia Clínica de inclusão social
Proposta de um modelo de terceira geração

A Criminologia Clínica de inclusão social é um


campo de atividade e de conhecimentos
interdisciplinares predominantemente científicos,
que tem como objeto de estudo o paradigma das
inter-relações sociais, por força do qual ocorreu o
crime, entendido como comportamento socialmente
problemático.
Pressupostos da lógica atual
do sistema punitivo

a) Mais grave o crime, mais severa a pena


b) A pena tem ou pode ter a função de ressocialização, mas
sempre em função do tipo e gravidade do crime
cometido.
c) A pena de referência é a de prisão. As demais serão
alternativas.
d) O autor do crime é o único responsável por seu ato.
e) No cárcere, as medidas de segurança devem prevalecer
sobre quaisquer medidas de individuzalização.
f) A ressocialização é pressuposto básico para que o
encarcerado possa ser reinserido na sociedade.
Criminologia Clínica de inclusão social:
inversões lógicas

a) A segurança no cárcere deve subordinar-se à


individualização
b) A inclusão social (reintegração) deve ser um
pressuposto para a ressocialização
c) As penas alternativas passam a ter prioridade,
passando a pena de prisão a ser alternativa.
d) O tipo e quantum de punição deve
subordinar-se à meta de inclusão social.
“a” depende de “b”, e “a’, “b” e “c” dependem
de “d”, que é uma lógica penal, criminológica
e de política criminal.
PARADIGMA DAS INTER-RELAÇÕES SOCIAIS: CONTRIBUIÇÃO DE DEBUYST

O psicólogo belga Christian Debuyst (1992), distingue


duas orientações clínicas na consideração da
delinquência e de seu autor.

Primeira orientação (viés autoritário): a delinquência


é um fenômeno geral, que consiste numa “falha” na
obediência à lei. A explicação para essa falha
também seria geral, de ordem psicológica ou
psicossocial.

Falha = “insensibilidade” perante a lei, por parte do


infrator.
PARADIGMA DAS INTER-RELAÇÕES SOCIAIS: CONTRIBUIÇÃO DE DEBUYST

Segunda orientação: a delinquência se refere a uma situação


específica, bem circunscrita.
Esta situação tem interfaces de natureza psicológica, social,
política, que se inter-relacionam de forma também específica.
A delinquência deve ser estudada em sua especificidade,
levando-se em conta:
 a história do autor;
 o contexto de seu ato;
 as peculiaridades do ofendido no momento do ato;
 a relação conflitiva entre o autor e o ofendido;
 a relação conflitiva entre o autor e o grupo que criou as
regras por ele desobedecidas.
PARADIGMA DAS INTER-RELAÇÕES SOCIAIS:
CONTRIBUIÇÃO DE DEBUYST
Primeira orientação (sistema autoritário): no lugar da inter-
relação, o que se tem é a redução de uma das partes ao papel
de transgressor, cujo discurso individual é deslegitimado e
barrado pelo discurso autoritário (penal e criminológico).
Na primeira orientação, enquanto o discurso penal e
criminológico, ainda que tipicamente defensivo (De Greeff),
aparece como sendo forte e racional, o discurso do
transgressor, com suas versões e justificativas, aparece como
sendo fraco.
Segunda orientação: contrariamente à primeira, ela se abre a
um debate sobre as justificativas do transgressor e sobre todo
o contexto da infração, de todas as inter-relações e confrontos,
face a uma pluralidade de atores em jogo.
Aplicações da crim. clínica de inclusão social
à execução penal (e ao direito criminal)

Ressocialização: visão redutora da


responsabilidade pelo comportamento
problemático
Ator situado: levar em conta a co-
responsabilidade do contexto (malha
paradigmática do cenário do crime)
Intercâmbio sociedade – cárcere
Reintegração social: ressignificações
Inclusão social: fortalecimento pessoal
Criminologia clinica de inclusão social:
uma síntese descritiva
 Objeto de estudo da criminologia clínica de inclusão
social: paradigma das interrelações sociais
 Objeto de análise: complexo contexto em que ocorreu
o comportamento problemático do encarcerado.
 Comportamento problemático: resposta
(problemática) que o condenado deu a uma dada
situação problemática que enfrentou na vida.
 Resposta (problemática): compreendida como a
alternativa mais viável que condenado encontrou
para que ele se adaptasse à referida situação, ainda
que ela implique conflitos nas relações sociais.
Criminologia clinica de inclusão social:
uma síntese descritiva

 Esta análise e compreensão são feitas


mediante uma escuta compreensiva do preso,
em sua individualidade, suas características,
ambições, tendências, conflitos, e na qual o
seu discurso e sua avaliação têm valor central
e seu discurso é tido como um discurso forte.
 É sob este enfoque que se deverá fazer o
chamado exame criminológico de entrada,
convertido então em verdadeiro instrumento
de apoio ao preso e de individualização de
sua pena.
Da multidisciplinaridade
à transdisciplinaridade
Multidisciplinaridade: integração, sem diálogo
Interdisciplinaridade: integração, diálogo, mas
com “aparos”, “cortes” e “sínteses”:
entre as diferentes áreas da equipe técnica
entre a equipe técnica e a equipe de seg.
Transdisciplinaridade: integração, diálogo, mas
sem “aparos”, sem “cortes” e sem síntese:
ENTRE SOCIEDADE
& CÁRCERE
TRANSDISCIPLINARIDADE
Alargamento de fronteiras e de compreensão da realidade
Renovação:
 do pensamento
 do espírito
 da consciência
 da cultura

Desafio para:
 rever princípios
 conviver com os contrários
 conviver com as diferenças (éticas e culturais)
 conviver com a insegurança e incerteza
A TRANSDISCIPLINARIDADE
DEVERÁ PROMOVER

UMA REAL TRANSFORMAÇÃO


EMANCIPATÓRIA, PORÉM NÃO SÓ DO
APEGO DO INDIVÍDUO A SEUS CONCEITOS
E CONHECIMENTOS, MAS TAMBÉM (E ISTO
É MUITO MAIS DIFÍCIL) DE SEU APEGO
DEFENSIVO À SUA HISTÓRIA, À SUA
SUBJETIVIDADE, A SEUS VALORES, À SUA
ÉTICA E À SUA CULTURA.

Você também pode gostar