O documento discute os conceitos de prevenção criminal e suas classificações segundo diferentes abordagens criminológicas e penais. Apresenta as noções de prevenção geral e especial em matéria penal, distinguindo-as da abordagem criminológica. Discute também os modelos clássico e neoclássico de prevenção ao delito e as dimensões primária, secundária e terciária da prevenção segundo Medina.
O documento discute os conceitos de prevenção criminal e suas classificações segundo diferentes abordagens criminológicas e penais. Apresenta as noções de prevenção geral e especial em matéria penal, distinguindo-as da abordagem criminológica. Discute também os modelos clássico e neoclássico de prevenção ao delito e as dimensões primária, secundária e terciária da prevenção segundo Medina.
O documento discute os conceitos de prevenção criminal e suas classificações segundo diferentes abordagens criminológicas e penais. Apresenta as noções de prevenção geral e especial em matéria penal, distinguindo-as da abordagem criminológica. Discute também os modelos clássico e neoclássico de prevenção ao delito e as dimensões primária, secundária e terciária da prevenção segundo Medina.
PREVENÇÃO DA INFRAÇÃO PENAL NO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
1 - PREVENÇÃO CRIMINAL: NOÇÕES
Nas palavras de José Cesar Naves de Lima Júnior: A prevenção do delito consiste no conjunto de ações destinadas a evitar sua prática. Neste ponto, conforme afirmado por Nestor Sampaio Penteado Filho, dois tipos de medidas são adotados para alcançar esta finalidade, a primeira atingindo indiretamente o delito e a segunda, diretamente. Neste caso, quanto às medidas indiretas, os autores referem-se àquelas que atuam sobre as causas do delito, sendo que, quando se cessam, cessam-se também seus efeitos. É necessário destacar que o tema prevenções, estudado a partir da Criminologia, não pode ser confundido com aquele estudado em matéria penal. Se de um lado ao analisar o art. 59 do CP, podemos extrair que o legislador impôs ao juiz que ao fazer a dosimetria da pena atente-se à prevenção. E a partir disso, podemos dividir essa aludida prevenção em prevenção geral e especial, sendo ainda subdivididas em positiva e negativa, e de outro, a Criminologia trouxe simplesmente a prevenção dividida em três graus ou formas, a saber: primária, secundária e terciária. 1.1 – PREVENÇÕES EM MATÉRIA PENAL - DIVERGE DA CRIMINOLÓGICA 1.1.1 – Prevenção Geral Nesta, quando a pena é imposta a qualquer indivíduo, os demais componentes da sociedade reagem a isso, podendo ser feito de forma positiva ou negativa: a.) Prevenção Geral Positiva: vai ocorrer quando os cidadãos sentem o efeito da aplicação da pena e integram-se socialmente, daí ter a função integradora. Em razão da aplicação da pena, a sociedade acredita que o sistema penal funciona e fica unida em torno disso. É o que ocorre quando alguém é preso por um crime qualquer que choca a nação, como um homicídio de pais contra filhos. Cumpre ressaltar que nem sempre a prevenção geral positiva tem os seus efeitos sentidos socialmente. Veja-se o caso de crimes como os de colarinho branco, os quais dificilmente são aplicadas as penas e devidamente punidos. b) Prevenção Geral Negativa: Também conhecida como função exemplificadora. É que, ao aplicar uma pena a qualquer indivíduo, integrantes de uma sociedade vão entender isso como um exemplo do que ocorre com alguém quando se comete certos tipos de crime. A mensagem recebida pela sociedade é: ora, se alguém rouba, o sistema penal age rapidamente então, quem rouba será punido pelo sistema penal. A crítica da doutrina é relacionada aos crimes de colarinho branco. Para o Promotor de Justiça, Autor e Professor Christiano Gonzaga, a prevenção geral negativa não é tão sentida em crimes desta espécie, já que não são punidos. 1.1.2 – Prevenção Especial a. Prevenção especial positiva Positiva foca o lado útil da aplicação da pena, consistente na ressocialização do condenado. Nas palavras de Christiano Gonzaga: Na prevenção especial, quando alguém está cumprindo pena, devem ser permitidos a ele os benefícios da execução penal, como a progressão de regime, a remição da pena pelo trabalho e pelo estudo, saídas temporárias, entre outros. Somente com essa reinserção social gradativa é que a pena terá cumprido o seu papel ressocializador. É a partir deste viés ressocializador que o STF editou a Súmula Vinculante nº 56, em que se determina o cumprimento da pena em regime domiciliar, caso inexistam os regimes semiaberto e aberto: A falta de estabelecimento penal adequado não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE 641.320/RS. Observe que, com o intuito de conceder à pena o caráter ressocializador, todas as interpretações legais devem estar atinentes àquilo que beneficia o condenado, pois se deve primar pelo seu retorno ao convívio social. b.2) Prevenção especial negativa: com enfoque mais voltado ao condenado em si, almeja se que ele não volte a delinquir, uma vez que a aplicação de pena e consequente envio ao cárcere impedirá que se pratiquem novos delitos. Essa é a função chamada de neutralizadora. Uma vez que ele se encontra recolhido ao estabelecimento prisional, o cometimento de novos delitos torna-se bastante difícil. Obviamente, não podemos afirmar que todas as vertentes da prevenção possuem a finalidade atendida. Principalmente aqui no Brasil. 1.2 – PREVENÇÕES EM MATÉRIA CRIMINOLÓGICA – DIVERGE DA PENAL 1.2.1 – A Prevenção como dissuasão Significa dissuadir o potencial infrator por meio do efeito intimidatório da pena, operando sobre seu processo motivacional (dissuasão). 1.2.2 – A Prevenção como intervenção seletiva no cenário do crime Trata-se da dissuasão mediata ou (in)direta, alcançada por meio de instrumentos não penais que alterem o cenário do crime, modificando alguns de seus fatores ou elementos – espaços físicos, desenho arquitetônico e urbanístico, atitude da vítima etc., de modo a aumentar os riscos e diminuir os benefícios para o infrator. 1.2.3 – A Prevenção como prevenção especial A prevenção do delito não seria um objetivo autônomo da sociedade e dos poderes públicos, mas sim o efeito último perseguido pelos programas de ressocialização e reinserção, que teria como destinatário não infrator potencial, mas o apenado, com o escopo precípuo de evitar sua reincidência (e não de evitar a criminalidade). 1.3 – MODELOS TEÓRICOS BÁSICOS DE PREVENÇÃO AO DELITO Bem, seguindo na ideia da orientação de cunho prevencionista, diz-se que a prevenção delitiva, portanto, nada mais é do que o conjunto de ações que visam evitar, direto ou indiretamente, a ocorrência do delito. É por esta razão que um conjunto de normas e regras às quais todos devem se sujeitar são editadas. Daí porque, havendo a transgressão cabe aos Estado acionar o Judiciário para o Exercício de sua pretensão punitiva restaurar a ordem. Dois tipos de medidas para prevenção criminais são adotados, a saber: Dentre os princípios prevencionistas, Hoffmann destaca: → Existencialismo absoluto da relação causa-efeito (nada existe sem uma causa); → Prevenção é a única responsável pela neutralização das causas criminógenas; → Solução para o problema criminal está na transformação do mau caráter em bom caráter. Nesse sentido, dois modelos teóricos do delito são estudados, a saber: 1. Modelo Clássico; 2. Modelo Neoclássico. É o que estudaremos a seguir, mas antes, vale mencionar a prevenção situacional. Cuida-se de método de prevenção do crime que busca diminuir as oportunidades que influenciam na concretização do delito. 1.3.1 – Modelo Clássico O foco deste modelo é no efeito intimidatório que vem do rigor e severidade da pena aquela abstrata prevista para o delito. A crítica apontada ao modelo são várias, dentre elas, destacamos, nas palavras de Molina (MOLINA, Gomes 2008, p. 404-405): i. A capacidade preventiva de determinado meio não depende de sua natureza penal ou não penal, mas dos efeitos que produz; ii .A intervenção penal possui elevados custos à sociedade; iii. A pena, em verdade, reflete o fracasso do Estado no enfrentamento efetivo das mazelas sociais; iv. Trata-se de uma demonstração simplória do processo motivacional e do mecanismo dissuasório da pena. 1.3.2 – Modelo Neoclássico Em sentido contrário, o modelo Neoclássico foca no efetivo funcionamento do ordenamento jurídico, especialmente como é percebido pelo infrator. As críticas são (MOLINA, Gomes 2008, p. 404-405): I. Efetividade do sistema penal não enfrenta efetivamente as causas do crime; II. Ignora outras variáveis que devem ser consideradas na análise do incremento da criminalidade para além da efetividade ou não do sistema penal. 1.4 – ESPÉCIES OU CLASSIFICAÇÕES DA PREVENÇÃO – POR MEDINA Podemos resumi-las da seguinte forma: 1..4.1– Dimensão Clássica A – Prevenção Primária A prevenção primária consiste nos programas de prevenção destinados a criar os pressupostos aptos a neutralizar as causas do delito, como a educação, e a socialização – enfoque etiológico -. Incide sobre as causas do problema, quer dizer, na concretização de direito fundamentais de todos, como acesso a saúde, educação, moradia, trabalho, segurança, enfim, da qualidade de vida. Tem como destinatário toda a população. B – Prevenção Secundária Note que a prevenção secundária é, naturalmente, mais falha que a primária. Isso porque, atua depois que o crime surgiu. Neste caso, o combate ao crime é feito no local onde ele surgiu, comumente nos locais mais pobres das periferias, em que comunidades são carentes de direitos sociais básicos, daí terem que apelar para a prática de delitos para ter saúde, por exemplo, medicamento para mãe que está doente. C – Prevenção Terciária A prevenção terciária atua após o delito e tem como destinatária a população carcerária, assumindo caráter ressocializador com o escopo de evitar a reiteração criminosa. Aqui, semelhança há com a prevenção secundária, já que, está prevenção também é operacionalizada pela Política Criminal e o Direito Penal. Após ter dado errada a implementação de políticas públicas, bem como não ter sido possível combater os focos de criminalidade, agora a única saída que se tem é a atuação em cima do criminoso. Com base nisso, o Estado busca as melhores formas de impedir que ele volte a delinquir, seja por meio de sua neutralização numa penitenciária, seja por métodos mais eficazes de ressocialização, como a já aplicada remição pelo estudo. 1.4.2 – Dimensão Política A – Modelo Tradicional A prevenção deve se voltar a dissuasão geral e especial, sob o efeito intimidatório da pena de prisão, devendo-se adotar, para aumentar a efetividade desta, estratégias situacionais de vigilância e incapacitação B – Modelo liberal A prevenção deve se voltar tanto ao âmbito individual quanto ao âmbito social, haja vista considerar o crime um problema social, devendo-se adotar estratégias de tratamento individual ou intervenção familiar comunitária. C – Modelo Radical A prevenção deve visar a redução das igualdades sociais, uma vez que o crime é considerado uma construção histórica e social, produto dos grupos detentores de poder, refletindo, assim, as desigualdades inerentes às estruturas sociais vigentes. 1.4.3 – Dimensão Pluridimensional A – Prevenção por meio do sistema de justiça penal A prevenção se exerce sob ameaça de um castigo, leia-se, pelo efeito intimidatório da pena, valendo-se das estratégias de dissuasão (fazer com que o criminoso reconheça que o crime é um mal com consequências graves), incapacitação ou inocuização (retirar o criminoso de circulação mediante sua segregação ao cárcere) e reabilitação (adequar o preso ao convívio social.) B – Prevenção situacional do delito Inspirada nas teorias criminológicas da eleição racional e das atividades cotidianas, é exercida pela redução das oportunidades que influenciam na concretização da vontade delitiva, mediante a modificação do cenário do crime, incrementando os riscos, dificuldades ou custos e reduzindo as expectativas e lucros associados a práticas delitivas. São modalidades de prevenção situacional do delito: prevenção situacional da recompensa e prevenção situacional do sentimento de culpa do ofendido. i. Prevenção situacional da recompensa: Visa reduzir as recompensas ou ganhos decorrentes das condutas criminosas, minimizando os estímulos sua prática. Ex. Substituição do dinheiro em moeda por cartão magnético. ii. Prevenção situacional do sentimento de culpa do ofendido: Dar-se-á pela adoção de medidas, como campanhas educativas, que reforcem a condenação moral da conduta desviante e influenciam positivamente o comportamento do indivíduo, em conformidade com as regras e normas de conduta, visando um comportamento pró- social. Ex. Proibição da embriaguez ao volante e campanhas educativas “se dirigir não beba”. C – Prevenção comunitária A prevenção visa ao enfrentamento de comportamentos antissociais da sociedade, exercendo-se por meio da adoção de programas com estratégias orientadas a alterar as condições sociais e instituições sociais (ex. Família, clubes, organizações etc.) que neles repercutem, vinculando-se às explicações da sociologia urbana. D – Prevenção evolutiva ou de desenvolvimento Essa prevenção procura elidir o desenvolvimento do comportamento criminoso individual, mediante a redução dos fatores de risco e ampliação dos fatores de proteção revelados a partir de estudos de desenvolvimento humano. 1.5 – OS FATORES SOCIAIS COMO INFLUENCIADORES CRIMINOLÓGICOS 1.5.1 – Pobreza E Miséria A pobreza e a miséria, considerada uma forma extrema de pobreza, em que há ausência de condições mínimas para a sobrevivência, por vezes, ensejam um sentimento de exclusão e revolta social, fazendo com que, pessoas comuns, passem a integrar o mundo do crime, seja de forma esporádica, seja adotando-o como forma de subsídio para uma dignidade mínima. 1.5.2 – Sistema Econômico É montado sob uma perspectiva de desigualdades sociais e precária economia. O baixo poder aquisitivo popular, consequência de uma arbitrária política salarial, é um forte influenciador criminal, além disso, a má distribuição de renda, inflação e a especulação do mercado, compondo o sistema econômico, faz com que aqueles que se sentem em desvantagem econômica, mergulhe, como forma ilusória de equilíbrio econômico, na criminalidade. 1.5.3 – Educação A educação, seja ela familiar, social ou escolar, exerce, sem dúvidas, importante função na formação da personalidade de cada indivíduo. A ausência ou restrição de conhecimento torna o indivíduo vulnerável à prática de condutas ilícitas e a justificativa, nesses casos, é a sobrevivência na sociedade. 1.5.4 – Meios De Comunicação Meios de comunicação dos mais variados como rádio, TV, jornais, filmes, mídias digitais, exercem grande e influente função pedagógicas, sobre a sociedade, podendo o fomento e a divulgação da criminalidade influenciar na criminalidade. 1.5.5 – Mal Vivência É definida por Hilário Veiga de Carvalho, como um grupo polimorfo de indivíduos marginalizados, que vive em situação de parasitismo, sem aptidão para o trabalho, por razões de ordem biológica ou pela exclusão social. Em síntese, resulta da adoção deliberada ou desafortunada, de um modo de vida marginal. Ex. Andantes, mendigos etc. Os fatores para a mal vivência podem ser de: I) origem biológica (mal vivência étnica: inadaptação às regras mínimas sociais de convívio. Ex. Ciganos. Mal vivência constitucional/orgânica: não fixação da moralidade em um lugar específico em função de uma instabilidade socioeconômica. Ex. Andarilhos, tropeiros etc. e ainda mal vivência de neuróticos: indivíduos com debilidade mental que adotam uma vida nômade) ou II) fatores mesológicos (infância abandonada: caracteriza-se por crianças órfãs e que vivam em lares abandonados ou desfeitos) 1.5.6 – Habitação A proliferação de favelas pode ser detectada facilmente em países emergentes ou em desenvolvimento. Nestes casos, há condições de vida muito precárias, como por exemplo, saneamento, higiene, estruturas de acesso, meios de locomoção, educação de difícil implementação etc., consequentemente, isso faz com que o crime se torne atraente e um mecanismo facilitador de uma vida estável com melhorias básicas significativas. 1.5.7 – Política A organização política da sociedade exerce, sem dúvidas, influência na vida dos diversos grupos sociais e, consequentemente, no fenômeno criminal, conforme maior ou menor grau de liberdade que gozem seus cidadãos, haja vista a imitação pelo povo das elites governantes. 1.5.8 – Preconceito A discriminação é campo fértil para conflitos sociais, sendo obstáculo para a convivência pacífica entre as pessoas. 2 – MODELOS DE REAÇÃO AO CRIME Uma vez que o crime ocorre, consequentemente, algum instrumento de reação é ativado a fim de impedir que consequências danosas sejam geradas. Podemos destacar os 03 (rês) principais modelos de reação ao delito também chamado de modelos de implementação de política criminal, são eles: 2.1 – MODELO CLÁSSICO OU DISSUASÓRIO A punição do delinquente que deve ser, sob essa perspectiva, intimidatória e proporcional ao dano causado. Não é exagero frisar que neste modelo de reação ao crime, a política criminal apresentada é a pena com finalidade exclusivamente RETRIBUTIVA, e por isso, deve ser PROPORCIONAL ao dano causado. Note que tal modelo apresenta um caráter exclusivamente INTIMIDATÓRIO a fim de reprovar o mal causado com uma justa retribuição, a PENA. Note que o modelo, embora tenha como plano de fundo uma finalidade retributiva, acaba por gerar uma consequência prevencionista. Importante neste caso é: Não há preocupação em ressocialização; Não há preocupação com a reparação dos danos causados. Isso significa que a vítima é excluída por esse modelo. Em relação ao delinquente, também merece destaque que as sanções penais somente são aplicadas aos: Imputáveis e Semi-imputáveis. Uma vez que os inimputáveis são submetidos à tratamento psiquiátrico. 2.2 – MODELO RESSOCIALIZADOR Por outro lado, o Modelo Ressocializador intervém na vida e na pessoa do delinquente, buscando a reinserção social do condenado. O Modelo Ressocializador possui um viés mais HUMANISTA, utilizando a pena como uma finalidade de PREVENÇÃO ESPECIAL POSITIVA, portanto, note que a finalidade, ao contrário do que propõe o sistema clássico, está concentrada na reinserção da pessoa do condenado e não à retribuição de seu mal. Aqui o exemplo que pode ser considerado, inclusive da adoção desse tipo de modelo no Brasil, é o art. 126, Lei de Execução Penal, em que se admite a remição pelo estudo como forma de ressocializar o agente. Ressalte-se que o Modelo Ressocializador NÃO DEFENDE QUE O CRIMINOSO TENHA TRATAMENTO BENÉFICO APÓS O COMETIMENTO DO DELITO, mas que ele seja tratado igual ser humano, na letra da lei. 2.3 – MODELO RESTAURADOR Finalmente, chegamos ao modelo RESTAURADOR, também chamado de Modelo Integrado, Consensual de Justiça Penal ou Justiça Restaurativa. CUIDADO! ESTE MODELO É O RESTAURADOR e não se confunde com o RESSOCIALIZADOR, visto no tópico anterior! Diferente do modelo anterior, este: Busca o reestabelecimento do status quo ante dos protagonistas do conflito criminal, com a composição de interesses entre as partes envolvidas no conflito criminal e a reparação do dano sofrido pela vítima, mediante acordo, consenso, transação, conciliação, mediação ou negociação, propiciando a restauração do delito, a assistência ao ofendido e a recuperação do delinquente. No ordenamento jurídico Brasileiro, a Lei 9.099/95, é exemplo da implementação deste modelo, principalmente, no aspecto em que a composição civil e a transação penal são instrumentos importantes de resolução de conflitos entre autor e vítima. Além desses dois institutos despenalizadores, mas em menor proporção, podemos citar ainda: → A suspensão condicional do processo como forma de também extinguir a punibilidade, desde que o agente cumpra todas as condições propostas no prazo legal. 3 - PROCESSOS DE CRIMINALIZAÇÃO 3.1 - CRIMINALIZAÇÃO PRIMÁRIA A criminalização primária, conforme nos revela ZAFFARONI (et al, 2015, p. 43): “O ato e o efeito de sancionar uma lei penal material que incrimina ou permite a punição de certas pessoas.” Noutras palavras é a edição de uma norma penal incriminadora. Aqui, os olhos devem voltar-se ao legislador. Trata-se de um ato formal programático, em regra, oriundo de agencias políticas (Poder Legislativo e Poder Executivo), cujo cumprimento incumbirá às agências de criminalização secundária (delegados de polícia, promotores, advogados, defensores públicos, juízes, agentes penitenciários). Importantes doutrinadores, fazem alusão ao chamado Direito Penal Simbólico ou ainda, Direito Penal do Pânico. São casos em que se cria um Direito Penal apenas para atender os movimentos sociais instantâneos que clamam, porém, não há qualquer efetividade, na norma criada. 3.2 – CRIMINALIZAÇÃO SECUNDÁRIA Pode-se dizer que enquanto o enfoque da criminalização primária se resume no ato ou efeito de sancionar uma lei, a secundária irá recair sobre fatos grosseiros que sejam de mais fáceis detecção e sobre pessoas que causem menos problemas. Isto é, incapazes de acessar positivamente o poder político e econômico e os meios de comunicação de massa o que viola o princípio constitucional da Isonomia. Foi por isso que dissemos que, na mesma linha de raciocínio da criminalização primária, a criminalização secundária vem abordar a construção dos crimes e dos criminosos por parte dos controles sociais formais. Não é diferente esse tipo de abordagem daquele tipo visto na criminalização primária, pois o enfoque a ser criminalizado ainda é o crime de colarinho azul. 3.2.1 – Desvio Secundário ou efeito reprodutor da criminalização O desvio secundário também chamado de efeito reprodutor, ocorre quando as pessoas selecionadas pelo sistema penal passam a ser rotuladas como delinquentes, havendo sua exposição pública pelos meios de comunicação social, o que contribui para a preconceituosa construção de um estereótipo, associado à classe social, etnia, idade, gênero e aparência estética. Esse estereótipo, por sua vez, passa a ser o principal critério seletivo na criminalização secundária, o que justifica a existência de certa uniformidade estética da população carcerária, representada por caracteres que foram considerados pelo determinismo biológico como causas do delito, quando, em verdade, seriam causas da criminalização. Observe-se, porém, a possibilidade de virem a se tornar causas do delito na hipótese em que a pessoa assumir o papel vinculado ao estereótipo, comportamento esse denominado de desvio secundário ou efeito reprodutor da criminalização. 4 – ESTATÍSTICA CRIMINAL E CIFRAS CRIMINAIS CRIMINOLOGIA CONTEMPORÂNEA Desde o século XIX, implementamos um tratamento científico de estatística criminal que ganhou espaço e tornou-se relevante para o estudo do fenômeno criminológico. Isso significa que passamos a relacionar os ilícitos cometidos a fatores de criminalidade e, a partir desse cruzamento, norteamos nossa política criminal. Ilícitos + Fatores de criminalidade = Subsídio à política criminal. Embora o levantamento seja imprescindível e muito significativo, não podemos desprezar que muitas infrações penais não chegam ao conhecimento das autoridades oficiais, consequentemente, temos uma distorção dos resultados acerca da realidade fenomênica. A partir desta realidade, surgem 03 (Três) nomenclaturas doutrinárias, de ordem conceitual, a fim de proporcionar a leitura das estatísticas criminal, são elas: Criminalidade real, Criminalidade revelada, aparente ou registrada e Cifras ocultas também chamada de Cifras negras. Criminalidade real: Refere-se ao número efetivo de crimes ocorridos em determinado local dentro de um espaço delimitado. Criminalidade revelada, aparente ou registrada: Trata-se do número de crimes que chegam ao conhecimento do Estado. Cifras ocultas ou cifras negras: Corresponde ao percentual de crimes que não chega ao conhecimento do Estado. Tem-se, assim, que a cifra oculta corresponde, matematicamente, ao resultado da diferença entre a criminalidade real e a criminalidade revelada. 4.1 – CIFRA NEGRA A expressão cifra pode indicar o resultado de uma soma, um cálculo ou quantidade total de algo. O Brasil é um país populoso e de proporções continentais, portanto, imaginar que todos os crimes ocorridos em nosso território são apurados e investigados pela polícia é uma ingenuidade. Muitos delitos praticados sequer chegam ao conhecimento das autoridades policiais, e quando não são apurados nem punidos, passam a compor a denominada cifra negra do Direito Penal. Apontamos, como exemplo, alguns fatores responsáveis pela cifra negra, ou seja, pela não comunicação de crimes pelas vítimas às autoridades responsáveis e, consequentemente, por sua não apuração e impunidade: → O aumento do risco de vitimização secundária. A vitimização secundária decorre do sistema criminal de justiça e também é conhecida por sobrevitimizar, in verbis: A vitimização secundária, notoriamente sentida pela atuação das instituições estatais diante de um crime, ocorre quando a vítima vai procurar ajuda estatal diante da prática da infração penal sofrida por ela. Ao chegar a uma Delegacia de Polícia em que os agentes públicos não possuem o necessário preparo para o seu acolhimento, ela é novamente vitimizada, o que é chamado também de sobrevitimização. 4.2 – CIFRA DOURADA A cifra dourada é considerada espécie do gênero cifra oculta. Também chamado de White-collar crimes, ou cifras de ouro e refere-se à crimes de colarinho branco não revelados ou não apurados pelo Estado. A partir dessa escassa perseguição de crimes de colarinho branco é que a doutrina aponta três ordens de fatores, a saber: fatores de natureza social, fatores de natureza jurídico-formal e fatores de natureza econômica. 4.2.1 - Fatores de natureza social Contrariamente ao que se dá nas infrações típicas de classes sociais menos favorecidas, os autores dos denominados crimes do colarinho branco ostentam prestígio social, inexistindo um estereotípico que oriente as agências oficias na perseguição das infrações penais e sendo escasso o efeito, estigmatizam-te das sanções aplicadas. 4.2.2 - Fatores de natureza jurídico-formas Refere-se à competência de comissões especiais e dos órgãos ordinários, para certos tipos de infrações, em dadas sociedades. Registre-se que as manobras criminosas nos delitos econômicos se valem de complexas estruturas societárias e de intrincados procedimentos financeiros, dificultando a individualização da conduta dos autores do fato e demandando a necessidade de minuciosa perícia técnica. 4.2.3 - Fatores de natureza econômica A capacidade econômica do autor do fato permite a contramão de advogados de renomado prestígio e, até mesmo, o exercício de pressões sobre os denunciantes. 4.3 – CIFRA CINZA Entende-se por essa expressão as infrações penais que ocorrem, mas são solucionadas no âmbito da própria Delegacia de Polícia, por meio de não oferecimento de representação, desistência da vítima de continuar o procedimento e ausência de testemunhas que queiram falar sobre os fatos, ou seja, quando ocorre alguma solução extraprocessual que impede a continuidade do feito. Assim, são as infrações penais que caem no vazio e no esquecimento, como se fossem cinzas ao vento. 4.4 – CIFRA AMARELA A cifra amarela trata das ocorrências em que há abuso e violência policial contra indivíduo, que deixam de ser levadas ao conhecimento dos órgãos públicos, como por exemplo, delegacias de polícia, ouvidoria, ministério público, corregedoria, etc., por temor de sofrer represálias 4.5 – CIFRA VERDE Consiste nas ocorrências referentes aos crimes contra o meio ambiente que não chegam ao conhecimento dos órgãos policiais.