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Inês João Machanisse

Policiamento Comunitário

ACADEMIA DE CIÊNCIAS POLICIAIS

Docentes:

Msc. Amilcar Cossa

Msc. Tânia Tsucana

Michafutene, aos 01 de Março de 2024

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Índice
Introdução....................................................................................................................................3
1. Teoria das janelas partidas....................................................................................................4
2. As experiências de James Q, Wilson e George Kelling........................................................5
3. Teoria Construtivista............................................................................................................7
Conclusão.....................................................................................................................................9
Bibliografia................................................................................................................................10

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Introdução
A pesquisa tem como tema: Teoria das Janelas partidas e teoria construtivista. A
pesquisa insere-se no esforço de conhecer com maior propriedade os aspectos ligados ao
policiamento comunitário. Discutir o policiamento comunitário com base nas teorias
acima descritas significa discutir um assunto transversal e que mesmo pela abrangência
de estudos já realizados, ainda existem desafios por serem superados, isto na medida em
que o meio social por si só é complexo. É neste sentido que esta pesquisa procura fe
modo geral analisar a teoria das janelas partidas e a teoria do construtivismo social. De
um ponto de vista específico, a pesquisa procura definir cada conceito directamente
ligado ao tema.

A relevância desta pesquisa insere-se na possibilidade garantir um melhor policiamento


comunitário, isto porque oferece bases necessárias para poder dar o entendimento do
assunto, sendo que está a ser associado ao conhecimento de notórias figuras que
reflectem assunto com certa profundidade.

A pesquisa é relevante na medida em que pode constituir-se como base de orientação


quando se trata de conhecimento que auxiliam o processo de materialização da própria
teoria do policiamento comunitário. O ponto de partida consiste no facto de se defender
a necessidade de um estudo cada vez mais profundo sobre o policiamento comunitário,
no entanto percebe-se ainda que tal estudo não pode ser frutífero se não se recorrer as
bases, pelo que, a primeira hipótese consiste em considerar que os pressupostos
originais do tema ainda são parte da solução de qualquer problema quando se fala de
policiamento comunitário, contudo, estes não são o fim, mas a parte inicial de um longo
processo de estudo e investigação

A pesquisa está organizada em pequenos títulos onde procura-se de forma sintética


esclarecer os principais pontos que estão ligados a cada área. Seguidamente aos títulos,
será apresentada uma conclusão que diz respeito a todos os aspectos abordados ao longo
da pesquisa. Do ponto de vista metodológico, a pesquisa baseou-se no método
bibliográfico, que teve a hermenêutica como técnica de leitura e interpretação de textos,
ou seja, usou uma revisão da literatura especializada na qual realizou-se uma consulta a
obras e artigos científicos seleccionado

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1. Teoria das janelas partidas
A priori é importante dizer que a teoria das janelas partidas refere-se a experiência
realizada num contexto norte-americano. Historicamente a teoria enquadra-se no ano de
1969, nos Estados Unidos da América, concretamente na Universidade de Stanford
quando o Professor Philippe Zimbardo realiza uma experiência no âmbito da psicologia
social que se descreve no do professor em causa ter abandonado duas viaturas da
mesma marca, cor e modelo.

Segundo Shecaira (2009, p. 166) revela que a primeira viatura ficou num bairro em
Bronx, em Nova York, caracterizado por altos índices de pobreza, criminalidade, mas a
segunda viatura foi deixada num bairro totalmente diferente, ou seja, a outra foi deixada
em Palo Alto, zona extremamente abastada na Califórnia. Após se terem abandonado as
viaturas num contexto social totalmente diferente, com o principal objectivo era estudar
o comportamento das pessoas em cada local, sucede-se que se verificam os seguintes
resultados sob controlo de pesquisadores ligados a psicologia em cada um dos bairros.

A primeira viatura, abandonada no bairro de Bronx, bairro extremamente pobre foi


imediatamente vandalizada, primeiramente perdeu as rodas, o motor, os espelhos,
inclusive o rádio, isto é, a viatura foi vandalizada na totalidade, tudo que pudesse ser
roubado não foi deixado e o que não pode ser levado foi deixado no local a fim de ser
destruído.

A segunda viatura, abandonada no bairro abastado, permanecia intacta já há uma


semana, os pesquisadores, propositadamente partiram o vidro do automóvel. Partido o
vidro, verificou-se uma mudança brusca no comportamento das pessoas. Esta viatura
começou a ser vandalizada, tal como a primeira, foram roubados, os pneus, o motor e
tudo quanto pudesse ser retirado, e o que não podia foi mais uma vez deixado para ser
destruído ali mesmo.

Geralmente, ao ver o resultado do que aconteceu com o primeiro carro é comum


associar a pobreza como causa da prática de delitos, entretanto, quando se observa o
resultado do segundo carro, facilmente se concluiu que não é verdadeiro associar a
pobreza como sendo a causa primeira e principal de prática de delito, pois se associa o
nível ou classe social a possibilidade de prática de delito. A pergunta que se coloca é

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porquê, após uma semana, um simples vidro partido desencadeou uma sucessão de
prática de delito?

Podem existir várias considerações sobre este assunto, mas ao facto é que o que é
determinante não é o quão abastadas são as pessoas, muito menos ao ambiente em que
vivem, mas sim a psicologia humana. Não se trata de pobreza ou riqueza. A psicologia
humana e as relações sociais são determinantes para compreender todo o processo.

A ideia central que se pretende transmitir é que partir de um vidro partido se tem a ideia
de um sentimento de desinteresse, deterioração e despreocupação exacerbada, e isso faz
romper os códigos de convivência como, por exemplo a lei, as normas, regras. Para
Hard (2005, p 45) em último caso se vive num autêntico “vale tudo”. Implantado o
ambiente anarquista, o que sucede que a única certeza é de que a escalada de violência
só aumentar de forma incontrolável.

2. As experiências de James Q, Wilson e George Kelling


A teoria das janelas quebras foi consolidada posteriormente por estes pesquisadores. A
ideia central que se propõe é a de que a criminalidade pode ser maior nas zonas onde a
desorganização é maior, ou seja, onde há maior nível de sujeira, desordem. É como se
deixar um vidro partido e ninguém resolver imediatamente, ao longo do tempo àquela
situação vai se replicar. A publicação do artigo “Broken Windows: The Police and
Neighborhood Safety”, escrito por James Wilson e George Kelling, em 1982, na revista
norte-americana Atlantic Montly, foi uma inspiração para colocar em prática a política
de “Tolerância Zero” na cidade de Nova York.

Segundo Wilson e Kelling (1982, p. 2-3) explicam que o nome dado ao artigo significa
que a infiltração da desordem e da criminalidade pode acabar com a qualidade de vida
de uma sociedade. Mais que isso, no momento em que há um crime que seja tolerado
pela sociedade e pelas autoridades, mesmo que esse seja pequeno, pode impulsionar que
crimes mais graves sejam cometidos. Assim, não há melhorias sociais se os crimes, por
mais medíocres que sejam, não forem estancados de forma autoritária.

O conceito de Tolerância zero é amplamente debatido, pelo que segundo Bobbio (2002,
p. 150) é entendido em sentido limitativo, como aceitação, por razões de conveniência,
de um erro. Ainda no mesmo autor o respeito é dirigido àquilo que se considera um

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bem, a tolerância é exercida perante aquilo que se considera um mal, mas que por
razões de prudência não se impede, ainda que se possa impedir.

Com essa teoria, os pesquisadores fazem perceber que sempre que uma comunidade
demonstra sinais de desgaste, pode não importar logo no início. Significa que os
pequenos erros que ocorrem na sociedade podem gerar grandes transtornos na sociedade
se não forem imediatamente solucionados. As atitudes violentas não devem ser
permitidas não importam o quão menor sejam, pois, se não forem sancionadas, dali
surgirão males piores.

O que os pesquisadores Wilson E Kelling apresentam aplicam-se também as crianças,


ou seja, se por alguma razão se permitir algo errado nas crianças, esse padrão pode ser
desenvolvido pela mesma no seu crescimento, gerando um problema em maior
proporção a toda a sociedade. Por exemplo, se algum espaço público for alvo de um
crime e não tiver uma resposta imediata pode gerar um sentimento de abandono pelos
usuários, e paulatinamente os espaços públicos serão verdadeiramente abandonados e
vão dar espaço aos malfeitores, ou seja, Hard (2005, p. 33) sustenta melhor dizendo
“quando o estado de excepção se torna a regra, o tempo de guerra é interminável, a
tradicional distinção entre guerra e política fica cada vez mais obscura”

Com base na experiencia e teoria, foi seguidamente colocada em pratica, pelo que a
teoria foi implementa em nova York nos anos 80, a razão para escolha deste local foi
pelo nível de criminalidade que apresentava. No início, a acção incidiu inicialmente em
combater os (grafites) nas paredes, sujeira nas estações, alcoolismo entre o público,
evasões ao pagamento de passagem, pequenos roubos e desordens. Esta acção
demonstrou imediatamente resultados positivos pois não se tolerava nenhuma desordem
Salienta Foucault (2009, p. 279) “... a mínima desobediência é castigada e o melhor
meio de evitar delitos graves é punir muito severamente as mais leves faltas”

É certo que a criminalidade não irá reduzir na totalidade, o que importa é a constante
prevenção para evitar o alastramento de qualquer situação criminal. Não se trata de
estabelecer o princípio de tolerância zero em relação aos indivíduos, mas sim em
relação ao próprio delito. Em último caso, trata-se da responsabilidade de criar
condições para existência de um ambiente limpo, respeitoso e ordenado por leis e
códigos básicos para uma convivência social humana básica, é caso para se clarificar
que não se combate as pessoas mas sim o crime. Pode ainda se reafirmar que Agamben,

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(2004, p. 61) que o estado de excepção é um espaço anômico onde o que está em jogo é
uma força de lei sem lei. Tal força de lei, em que potência e ato estão separados de
modo radical, é certamente algo como elemento místico, ou melhor, uma forma por
meio da qual o direito busca se atribuir sua própria anomia. Como se pode pensar tal
elemento ‘místico’ e de que modo ele age no estado de excepção é o problema que se
deve tentar esclarecer.

Na perspectiva de Shecaira (2009, p. 167-168) “... o pilar da gestão acerca da tolerância


zero foi, pois, o uso cartográfico de estatísticas de delinquência e avaliação constante
das performances da polícia, com adicionais de produtividade aos envolvidos, como se
fosse a melhor empresa capitalista privada”. No final de tudo isso nos induz a uma
necessidade de uma convivência que se preza pela união e de respeito mútuo, pois caso
contrário, toda a sociedade entraria em colapso, dito de outro modo Saramago (2002, p.
119) “ … se não formos capazes de viver inteiramente como pessoas, ao menos façamos
tudo para não viver inteiramente como animais”

Face a tudo o que foi referenciado aqui é preciso compreender que a prática de delitos
ou qualquer outra infracção não está envolvida a um simples factor, existem
naturalmente vários factores directamente associados, tal como refere o nosso autor
Caldeira (2000, p. 101) que o aumento da violência é resultado de um ciclo complexo
que envolve factores como o padrão violento de acção da polícia; descrença no sistema
judiciário como mediador público e legítimo de conflitos e provedor de justa reparação;
respostas violentas e privadas ao crime; resistência à democratização; e a débil
percepção de direitos individuais e o apoio a formas violentas de punição por parte da
população.

3. Teoria Construtivista
A teoria construtivista foi estabelecida por Jean Piaget na década de 1920. O termo
construtivismo surge com o mesmo autor no contexto da Epistemologia genética, onde
tinha como principal objectivo demonstrar a centralidade do papel do sujeito na
construção das estruturas cognitivas. Desde então, construtivismo foi assumindo varias
abordagens que foram sendo consideradas como construtivismo social, radical, critico
bem como educacional. Embora haja uma propalção de Piaget é preciso reconhecer que
construtivismo tem também por um lado seu berço na Rússia do século XX, em meio a
um contexto histórico conturbado devido as reviravoltas do poder político. A partir de

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1913, o Construtivismo foi liderado pelo teórico russo e poeta futurista Vladmir
Maiakosvski inserido no grupo das artes da vanguarda da Europa.

De entre as várias formas que o construtivismo pode assumir podemos empreender uma
especial atenção ao construtivismo social, onde o mesmo é compreendido como um
movimento de crítica a psicologia social moderna que tem como preponente Kennedy
Gerden com o foco em dois dos seus maiores trabalhos “psychologies social como
história” publicadoem 1973 “O movimento construtivista na psicologia moderna”. A
preponderância de Gergen é notória pelo facto de lançado três pressupostos
fundamentais:

 A realidade é dinâmica, pelo que não possui nenhum tipo de essência ou leis
imutáveis
 O conhecimento é uma construção social, baseado em comunidades linguísticas
 O conhecimento tem consequências sociais, estas que devem determinar o que é
valido ou não.

No contexto do construtivismo social, Zuriff (1998, p. 23) entende que a essência da


posição ontológica do construtivismo social é a ideia de que não há realidade objectiva a
ser descoberta. O que ocorre é que tudo é fruto de construções sociais, o que o homem
faz é construir teorias acerca do funcionamento do mundo através das relações sociais.
Segundo Shotter (1992, p. 116) as nossas teorias socialmente construídas não nos
aproximam de uma descrição mais acurada do mundo como ele é, mas sim de um
conhecimento.

De modo geral importa considerar também o construtivismo como uma família de


teorias que partilham alguns pressupostos tais como: o conhecimento tem uma natureza
pró-activa onde; os processos tácitos e abstractos constrangem os processos explícitos; a
auto-organização como aspecto fundamental; a constante organização e reorganização
da acção e da experiência perante o fluxo constante de mudança, por isso (Mahoney,
1998, p. 272) “…o domínio mental ou cognitivo é intrinsecamente motor”

A teoria construtivista não tem sido tranquila em relação a ela mesma pelo que ao longo
do tempo tal como mostra Bruce Ryan (1999, p. 56) na raiz do problema verifica-se a
epistemologia e a pós-modenidade tem sob o ponto de vista construtivista, debate sobre
a natureza da realidade, pois por um lado, neste caso, na modernidade a realidade é
concebida como objectiva e independente do sujeito, a realidade existe de forma
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independente dos sujeitos, no outro, contexto pós-moderno a realidade é subjectiva, ou
seja, a ciência cria sua própria realidade.

Conclusão
Foi possível ao longo da pesquisa perceber na teoria das janelas quebras o zelo e o
cuidado são elementos importantes capazes de inibir a prática de delitos e conduzir
consequentemente a uma sociedade mais tranquila. Outro aspecto de relevo que não
pode ser deixado de se notar, consiste no facto das autoridades terem de estar em alerta
máximo para que não se desconsidere a menor pratica ilegal pois dali poderiam advir
grandes males que em ultimo caso podem perigar a sociedade como um todo pois os
danos da corrupção que dai se terá penetra não somente na instituições publicas como
também na qualidade dos serviços ai prestados.

Existe uma responsabilidade que chama a cada indivíduo na sociedade, a de respeitar as


normas de convivência, por um lado, por outro lado, a criação de constrições que
demonstrem justiça seriedade por parte daqueles que tem autoridade para velar pela
nossa segurança como um todo social. Isso só pode ser feito em parte se evitar por
completo a ideia do excepcionismo da lei quando se trata de cumpri-la.

Foi possível perceber ao longo do trabalho que o que divide as interpretações


construtivistas são os posicionamentos de cada área construtivista, cada corrente
construtivista defende uma área que nega fundamentalmente as demais, mas nem com
isso o construtivismo se abala como um todo. Um dos grandes méritos que o
construtivismo revela esta na possibilidade de abrir um espaço para permitir que o
individuo na sua singularidade ou colectividade possa ser o centro das atenções, ou seja,
possa ser objecto de debate, envolvendo várias áreas de conhecimento, que acaba sendo
um ganho quando se olha o contorno do desenvolvimento actual.

Tanto a teoria das janelas partidas quanto a teoria construtivistas tem o seu mérito e
relação pelo facto de simultaneamente conseguirem abordar tanto o individuo bem
como a sociedade sem em nenhum momento entrar em choque.

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Bibliografia
AGAMBEN, Giorgio. (2004). Estado de excepção. Tradução de Iracy D. Poleti. São
Paulo: Boitempo,.

BOBBIO, Norberto.(2002) Elogio da Serenidade e outros escritos morais. São Paulo:


Editora Unesp,

CALDEIRA, Teresa Pires do Rio. (2002) Cidade de Muros: Crime, Segregação e


Cidadania em São Paulo. Trad. Frank de Oliveira e Henrique Monteiro. Editora 34,
Edusp, São Paulo.

FOUCAULT, Michel.(2009). Vigiar e Punir. 37. ed. Rio de Janeiro: Editora Vozes,

HARDT. Michael; NEGRI Antonio. (2005). Multidão: Guerra e Democracia na Era do


Império. Rio de Janeiro: Record,

SARAMAGO, José.(2002). Ensaio Sobre a Cegueira. São Paulo: Companhia das


Letras, 2002.

WILSON, James Q. & KELLING, George L.(1982) Broken Windows: thepolice and
neighborhoodsafety. Atlantic Montly (Digital edition),

Shotter, J.(1992). A meta-metodologia da ciência pós-moderna na vida mental.Kvale

Zuriff,G.(1998). Contra o construtivismo social metafissico na psicologia. Behav

Mahoney,M. J. (1998). Psicoterapia construtivista: Psicoterapia e construtivismo:


Consideracoes teoricas. Artmed, Porto.

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