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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
Sumário
Mariana Barreiras
Apresentação. . .................................................................................................................................. 3
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal.. .................................................. 4
Criminologia Feminista. . ................................................................................................................. 4
Racismo e Sistema Penal............................................................................................................... 7
População Carcerária Brasileira................................................................................................... 7
Racismo Estrutural.......................................................................................................................... 9
Daltonismo Racial............................................................................................................................ 9
O Mito da Democracia Racial. . ..................................................................................................... 10
Criminalização Primária e Secundária: Injúria e Racismo. . .................................................... 11
Racismo Recreativo........................................................................................................................12
Perfilamento Racial........................................................................................................................13
Letalidade Policial.. .........................................................................................................................13
Origens Positivistas do Racismo no Sistema Penal............................................................... 14
Gênero e Sistema Penal.................................................................................................................15
Criminalização das Mulheres.......................................................................................................16
Vitimização das Mulheres. . ...........................................................................................................19
Criminologia Queer........................................................................................................................ 24
Resumo............................................................................................................................................. 29
Mapas Mentais............................................................................................................................... 37
Questões de Concurso..................................................................................................................42
Gabarito............................................................................................................................................ 57
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Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
Mariana Barreiras
Apresentação
Olá, querido(a) aluno(a)! Nesta aula, vamos tratar de alguns temas que têm aparecido com
frequência – e com razão – nos editais de Criminologia.
Em primeiro lugar, trataremos da Criminologia Feminista, que nasceu na década de 1970 e
deu origem a um novo paradigma de estudo criminológico.
Depois, falaremos da centralidade do quesito racial no funcionamento do sistema de justi-
ça criminal, que se declara neutro, mas reflete o racismo estrutural da sociedade.
Por fim, analisaremos a questão de gênero dentro do sistema penal para compreender: a
maneira pela qual as mulheres têm sido criminalizadas e vitimizadas no Brasil; e a Crimino-
logia Queer.
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Não é no período medieval que as mulheres são afastadas da esfera pública. Entretanto, é a partir
da baixa Idade Média, especificamente, que se constrói o mais perfeito e coordenado discurso, não
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somente de exclusão ou limitação da participação feminina na esfera pública, mas de sua persegui-
ção e encarceramento como pertencente a um grupo perigoso.1
Esse projeto, nascido na Idade Média, destinado a descrever e classificar as mulheres para
custodiá-las de alguma forma, valia-se de variados discursos. Havia um discurso teológico, de
repressão às mulheres que ousavam falar com Deus, de Deus ou em nome de Deus. Considera-
va-se – e em algumas religiões ainda se considera – que o ofício da prédica religiosa requeria
uma condição de superioridade e de plenitude intelectual que as mulheres não possuem. Ade-
mais, atribuía-se extrema importância à clausura na vida religiosa feminina. Outro tipo de nar-
rativa importante era o discurso médico, que considerava a mulher como um ser histérico, um
ser inferior anatomicamente, psicologicamente e racionalmente. O saber médico também foi
relevante para fortalecer a crença de que o processo de procriação deve condicionar os papéis
que a mulher pode desempenhar. O discurso jurídico também não pode ser desconsiderado. A
mulher era considerada incapaz e estava sob o poder do pai, inicialmente, e do marido, após o
casamento.
Com essas premissas, buscava-se justificar o processo de custódia das mulheres – em
suas residências, em internatos, em instituições religiosas, em estabelecimentos psiquiátricos
–, sempre em nome de princípios morais, da proteção da mulher e da preservação dos bons
costumes e da castidade feminina.
Esse procedimento histórico de custódia das mulheres, alega a Criminologia feminista, é,
portanto, anterior ao processo de encarceramento dos homens, que se difundiu como método
de punição a partir do século XIX, com o aprisionamento dos excedentes da burguesia.
Com as mulheres custodiadas, já não era mais necessário que o saber criminológico delas
se ocupasse. Assim, entre os séculos XV a XIX, a Criminologia se transformou em um discurso
de homens, para homens, sobre homens.
Com o advento da escola positivista e o nascimento da Criminologia como ciência, a mu-
lher volta a ser objeto de atenção. Cesare Lombroso escreveu “A Mulher Delinquente”, em
1892. Nessa obra, reuniu os discursos jurídico, médico e moral, defendendo que, por um lado,
a mulher seria fisiologicamente inerte e passiva – e, portanto, mais obediente –; por outro lado,
ela seria amoral: engenhosa, fria, calculista, sedutora, maléfica, tagarela, perversa, vingativa e
portadora de sexualidade exacerbada. Para Lombroso, a mulher normal é aquela que se subor-
dina à maternidade e o melhor exemplo de delinquente feminina é a prostituta, portadora de
inevitável e herdada disposição orgânica à loucura moral.
No século XX, chama particular atenção o tratamento dispensado às mulheres pela Viti-
mologia, que se organiza após a Segunda Guerra Mundial. Hans von Hentig, por exemplo, dizia
que muitas mulheres integravam o tipo lascivo de vítima, cuja sensualidade é uma fraqueza
facilmente explorável. Para ele, muitas mulheres eram cúmplices ou mesmo provocadoras de
crimes sexuais.
1
MENDES, Soraia da Rosa. Criminologia feminista: novos paradigmas. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 28.
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Para que se possa compreender todas as maneiras a partir das quais é possível ‘controlar’ um ser
humano, e perceber quem se beneficia das distintas nuances como se exerce e formaliza esse con-
trole, é preciso que se estude como se estrutura o poder dentro da esfera privada. Não basta estudar
o controle social apenas na esfera pública, porque isso fornece um conhecimento parcial do modo
em que se opera o sistema de custódia da mulher.2
2
MENDES, Soraia da Rosa. Criminologia feminista: novos paradigmas. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 170.
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Do ponto de vista vitimológico, alguns índices criminológicos revelam que a vida negra é
negligenciada pelo sistema de justiça criminal. Os jovens negros são as principais vítimas de
homicídio. Segundo dados do Atlas da Violência 2020, do total das vítimas de homicídio em
2018, 75,7% eram negros. Entre eles, a taxa foi de 37,8 por 100 mil habitantes, enquanto entre
os não negros a taxa foi de 13,9. A chance de uma pessoa negra morrer de forma violenta no
Brasil é 2,7 maior que uma pessoa não negra. E o homicídio foi a principal causa de mortalida-
de de jovens, que são as pessoas de 15 a 29 anos. Fala-se, portanto, em uma juventude perdida
ou mesmo em genocídio da juventude negra brasileira.
E a taxa de homicídio de negros vem crescendo. Entre 2008 e 2018, enquanto os homicí-
dios de não negros caíram 12,9%, houve aumento de 11,5% dos homicídios de negros. Para as
mulheres negras, os índices são lamentavelmente similares. Entre 2008 e 2018, enquanto os
homicídios de não negras tiveram redução de 11,7%, os homicídios de mulheres negras au-
mentaram 12,4%. Em 2018, de todas as mulheres assassinadas, 68% eram negras.
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A Vitimologia, ademais, demonstra com dados sobre condenações criminais que os gru-
pos minoritários não recebem a mesma proteção da lei do que as classes dominantes. Em um
levantamento realizado em Virgínia, Estados Unidos, todos os negros indiciados por matar um
branco receberam sentença de prisão de morte ou perpétua. Mas somente 5,7% dos negros
indiciados por matarem outro negro receberam pena tão severa. A maioria (41,8%) dos negros
que mataram negros recebeu pena inferior a 10 anos de prisão. A cor da vítima influencia, por-
tanto, enormemente, o desfecho do caso.
Racismo Estrutural
No passado, o estudo das questões raciais levava em consideração somente o racismo in-
dividual, ou seja, a ação concreta de indivíduos racistas. Com o passar do tempo, começou-se
a perceber a importância de levar em consideração, ao lado do racismo individual, o racismo
institucional, que é aquele resultante do funcionamento das instituições. A terceira dimensão
do racismo, que vem sendo analisada nos tempos atuais, é o racismo estrutural. Percebe-se
que o racismo é parte da própria ordem social. Partindo-se de uma perspectiva de racismo es-
trutural, portanto, conclui-se que a ordem social é racista de modo geral. E como as instituições
e pessoas refletem a ordem racial – que é racista –, as pessoas e, sobretudo, as instituições
que não tratarem de maneira ativa e como um problema as desigualdades raciais reproduzi-
rão práticas racistas. Dito ainda de outro modo: na perspectiva do racismo estrutural, se nada
fazem, as instituições se tornam correias de transmissão de privilégios e violências racistas.
Daltonismo Racial
Michelle Alexander, pesquisadora americana e defensora dos direitos civis, no livro “A Nova
Segregação: Racismo e Encarceramento em Massa”, de 2010, resume a narrativa histórica dos
EUA em três momentos:
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• Escravidão;
• Segregação racial oficial: Sistema “Jim Crow”, formado por regras, leis, políticas e prá-
ticas que, entre 1876 e 1965, autorizavam a discriminação legal contra os negros nos
estados do Sul dos EUA em praticamente todas as esferas da vida política, social e eco-
nômica;
• Prisão: guardiã contemporânea de corpos negros.
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Para quem defende a tese da democracia racial, o Brasil não precisa mais enfrentar o pro-
blema do racismo. Seríamos um país miscigenado, de modo que as políticas públicas orienta-
das aos negros, como ações afirmativas (cotas no ensino, ou no serviço público, por exemplo),
seriam completamente desnecessárias, injustas e até mesmo perigosas, porque trariam a pos-
sibilidade de transformar o Brasil num país bicolor.
Do ponto de vista de uma Criminologia Crítica, a alegação de democracia racial não se sus-
tenta. Dentro de um marco crítico, a tese da democracia racial é falaciosa e dá sustento para
a continuidade da hegemonia branca. Afinal, como ela alega que não existe racismo no Brasil
– contrariando TODOS os dados estatísticos –, embasa o argumento de que nada precisa ser
feito para equacionar o problema.
E retomando a narrativa histórica, o Brasil, assim como os EUA, apresenta uma sobrerre-
presentação de negros em seus cárceres. Ou seja, aqui, assim como lá, a prisão é igualmente
guardiã de corpos preferencialmente negros.
A injúria é descrita na doutrina penal como uma ofensa direcionada a um indivíduo especí-
fico. É um crime prescritível e afiançável.
O racismo, por sua vez, está tipificado na Lei n. 7.716/89, conhecida como Lei Caó. A lei
contém vários delitos de racismo. O mais emblemático, a meu ver, consta do art. 20:
Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional.
Pena – reclusão de um a três anos e multa.
Nos crimes de racismo, a ofensa não é dirigida apenas a um indivíduo específico. Ela é di-
recionada à coletividade a que pertence a pessoa ofendida. Exige-se a presença do ódio racial,
a intenção de discriminar a coletividade.
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De acordo com o art. 5º, inciso XLII, da Constituição Federal, o crime de racismo é impres-
critível e inafiançável. Logo, configura conduta mais grave do que a injúria racial.
Diante dessa dualidade de tipos penais, a Criminologia tem denunciado que é comum que
as condutas sejam reiteradamente catalogadas como injúria racial. A escolha pelo tipo penal
mais brando é uma tendência tanto das autoridades policiais como dos demais intervenientes
do eventual processo penal (Ministério Público, Juiz), que por vezes solicitam ou determinam
a desclassificação do crime de racismo para o crime de injúria racial.
Essas práticas contribuem para a permanência da impunidade das práticas racistas no
Brasil. Há um alto índice de mortalidade de casos criminais, ou seja, de casos que não viram
processos ou que resultam em absolvição ou extinção da punibilidade.
No Rio de Janeiro, por exemplo, em 30 anos, apenas 244 processos de racismo e injúria ra-
cial foram julgados. É uma média de 8 casos por ano. O Rio Grande do Sul condenou somente
6,8% dos réus por racismo e injúria racial de 2005 a 2018. A Bahia julgou míseros 7 casos de
racismo em 7 anos. Esses dados revelam uma parcela significativa das condutas fica impune.
Isso se deve tanto ao racismo estrutural que guia as decisões no processo criminal como à
dificuldade de acesso à justiça que os negros e pobres possuem no Brasil. O fortalecimento
das defensorias públicas brasileiras é crucial em qualquer tentativa de equacionamento dessa
questão em nosso País.
Além disso, alguns teóricos têm questionado a pertinência dessa dualidade de tipos pe-
nais. Deve-se problematizar a noção de que racismo e injúria possuem naturezas distintas.
Ambas seriam ofensas com dimensão coletiva, pois a cada vez que se xinga um negro indivi-
dualmente, a coletividade negra é ofendida. Nessa linha de raciocínio, defende-se a permanên-
cia, em nosso ordenamento, somente do crime de racismo, para que sejam contornados os
óbices atuais à impunidade dessas condutas.
Nesse sentido, o STJ determinou, no AREsp n.º 686.965/DF, que o crime de injúria racial é
imprescritível porque também traduz preconceito de cor, atitude que conspira no sentido da
segregação. Logo o crime de injúria racial veio a somar-se àqueles outros, definidos na Lei
n. 7.716/89, cujo rol não é taxativo. Ou seja, de acordo com esse entendimento, o comando
constitucional de que o crime de racismo é imprescritível somente é, de fato, preenchido se
a conduta de injúria racial for abarcada pelo manto da imprescritibilidade. A intolerância e o
desrespeito em relação aos negros é a atitude que, de maneira ampla, o constituinte pretendeu
obstar, vedando a seus agentes a alegação de prescrição.
Racismo Recreativo
Racismo recreativo é o nome que se dá ao emprego do humor racista. São as piadas, os
memes, a circulação de imagens derrogatórias que expressam o desprezo por minorias raciais
na forma de humor. De um ponto de vista crítico, percebe-se que o emprego de piadas que in-
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feriorizam os negros nada mais é do que um meio disfarçado de propagar a hostilidade racial
e de legitimar as hierarquias raciais.
É, portanto, uma estratégia que permite a perpetuação do racismo, protegendo a imagem
social de pessoas brancas. Seria, então, um ótimo exemplo de racismo sem racistas.
Perfilamento Racial
Perfilamento racial é o ato de suspeitar ou ter como alvo uma pessoa de uma determinada
raça, com base em características ou comportamentos observados ou assumidos de um gru-
po racial ou étnico, em vez de uma suspeita individual. Em inglês emprega-se o termo “racial
profiling”. Trata-se, por exemplo, da atitude policial de revistar, com mais frequência, veículos
dirigidos por negros ou pedestres negros. Outro exemplo é a ação dos seguranças privados de
desconfiarem com mais frequência de clientes negros ou mesmo de barrarem o acesso deles
a centros comerciais, lojas e estabelecimentos em geral.
Quando analisamos o perfilamento racial, devemos atentar tanto para as ações desses
agentes como para suas omissões. Ou seja, é necessário prestar atenção nas condutas que os
seguranças, policiais e operadores do sistema de justiça criminal deixam impunes.
Letalidade Policial
Possuímos altas taxas de mortes decorrentes de intervenção policial. A série histórica do
Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que a quantidade de pessoas mortas por poli-
ciais, civis e militares, cresceu constantemente de 2013 a 2020.
As características das vítimas da letalidade policial coincidem com as das vítimas dos
homicídios em geral. Em 99% dos casos, são homens. Na maioria dos casos, são jovens: 73%
possuem entre 15 e 29 anos. Além disso, há um estereótipo racial guiando a atuação das
ações policiais letais, já que 79,1% das vítimas são negras. Logo, a letalidade policial é apenas
mais uma faceta do já conhecido genocídio dos jovens negros brasileiros.
O militarismo costuma ser apontado como um combustível extra para o emprego violento
do Direito Penal subterrâneo. O conceito de Direito Penal subterrâneo, cunhado por Lola Aniyar
de Castro, diz respeito àqueles momentos em que o poder punitivo é exercido pelas agências
de controle social formal à margem da legalidade. Trata-se, portanto, do emprego da força de
maneira ilegal, arbitrária, comumente realizando a criminalização das dissidências ideológicas
e das minorias qualitativas, com o reforço de um estereótipo de delinquente como membro da
classe baixa. O “ethos” guerreiro masculino e viril, a lógica de caserna, os cânones de disciplina
e hierarquia e a preparação para a guerra, típicas das polícias militares, ajudam a alimentar a
lógica letal das corporações.
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Tobias Barreto
Tobias Barreto, em seu livro Menores e loucos em direito criminal, de 1884, expõe sua
opinião sobre a obra de Lombroso. Explica que “O Homem Delinquente” é uma obra célebre e
revolucionária, escrita por um autor perspicaz e paciente que, no entanto, incorreu em alguns
excessos, ao analisar e medir as minúcias corporais de tantos criminosos, compilando dados
em extensos anexos, tabelas e apêndices, fatigantes para o leitor.
Assim como Lombroso, Tobias Barreto tinha uma visão bastante preconceituosa da mu-
lher, um ser que se deixava levar pelas paixões e que, quando apaixonada, era incapaz de pen-
sar em qualquer outro assunto que não o amor. Ele chama atenção para a incongruência do
Direito, que considerava as mulheres como distintas dos homens na esfera civil – encurtando
para elas o diâmetro do círculo de atividade jurídica permitida em relação à administração de
suas vidas e de seus bens – e idênticas na esfera penal, em que não há diferença de idade de
homens e mulheres para o início da imputabilidade:
Não dissimulo (...) que a mulher (...) também é sujeita a excessos de atavismo, que transformam
todas as suas graças em outras tantas garras de ferocidade. (...) Há uma coisa pior do que ver o
homem converter-se em fera, é ver o anjo converter-se em diabo. O feio moral feminino é sempre
mais desagradável do que o feio moral masculino. (...) Com efeito, é uma verdade trivialíssima que a
mulher afeta-se mais facilmente (...). Sendo assim, por que princípio esse fato não é bem ponderado
na balança da justiça?3
Nina Rodrigues
3
BARRETO, Tobias. Menores e loucos em direito criminal. Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2003, p. 31 e ss.
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Pode-se exigir que todas estas raças distintas respondam por seus atos perante a lei com igual ple-
nitude de responsabilidade penal? (...) Por ventura pode-se conceder que a consciência do direito e
do dever que têm raças inferiores, seja a mesma que possui a raça branca civilizada? (...) A civiliza-
ção ariana está representada no Brasil por uma fraca minoria da raça branca a quem ficou o encargo
de defendê-la, não só contra os atos antissociais – os crimes – dos seus próprios representantes,
como ainda contra os atos antissociais das raças inferiores (...). Pela acentuada diferença de sua
climatologia, pela conformação e aspecto físico do País, pela diversidade étnica de sua população,
já tão pronunciada e que ameaça mais acentuar-se ainda, o Brasil deve ser dividido, para os efeitos
da legislação penal, pelo menos nas suas quatro grandes divisões regionais (...).4
Afrânio Peixoto
[...] para prover a isso há a eugenia, a boa geração, a boa criação (...) para que se produzam seres sa-
dios e válidos, dotados de todas as qualidades requeridas a um perfeito exemplar humano. (...) Mas,
exatamente, esta Civilização promove a destruição da humanidade, que a criou. Que é a medicina,
o conforto, a assistência, as suplências? Faz-se a ortopedia dos aleijados (...); custosa criação dos
débeis; os enfermiços sobrevivem; os tarados continuam; (...) curam-se tuberculosos, pesteados,
leprosos... E estes todos, voltados à morte purificadora, contaminam os outros e procriam outras
taras, outras degenerações, outros enfermos e loucos. (...) É um sonho. Impedir, se possível. Se não,
consertar. Como um plantador escolhe as melhores sementes e um criador os melhores reprodu-
tores, também o Estado se interessará pela sua formação (...). Criar será um sacerdócio. Apenas
escolhidos os mais dignos, biologicamente.5
Eram comuns, então, no começo do século XX, argumentos de defesa da esterilização eu-
genista da população. Como medida de controle social, os praticantes de crimes graves não
deveriam procriar, para que as suas tendências criminais biológicas não fossem transmitidas
aos sucessores.
4
RODRIGUES, Nina. As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil. 3. ed. [S.l.]: Companhia Editora Nacional, 1938, p. 226.
5
PEIXOTO, Afranio. Criminologia. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1933, p. 276 e ss.
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caso, a droga se destina ao consumo pessoal. Na prática, isso fez com que houvesse uma
verdadeira explosão dos casos de tráfico de drogas. Ou seja, para que as pessoas surpreendi-
das com drogas pela polícia não ficassem “impunes”, aumentou a tendência jurisdicional de
considerar as condutas como tráfico. As pessoas presas por tráfico de drogas, que antes da
Lei eram 15% da população carcerária, hoje representam mais de 30% do total. O impacto foi
particularmente enorme para a população carcerária feminina.
No tocante ao crime praticado, 57% das mulheres estão presas por infração à Lei de Dro-
gas. Em seguida vêm os crimes contra o patrimônio, praticados por 24% das presas. Entre os
homens, os índices são bastante distintos: 39% estão presos por crime contra o patrimônio, e
31% por infrações à Lei de Drogas.
Especificamente no tocante às prisões de mulheres por tráfico de drogas, são comuns rela-
tos de invasões da polícia sem mandados de busca em seus domicílios, tortura para obtenção
de informações que, em muitos casos, elas desconhecem, prisão pela proximidade com algum
familiar envolvido no tráfico e prisão com o transporte de poucas quantidades de drogas.
A grande maioria das mulheres não possui vinculação com grandes redes de organizações
criminosas e não ocupa papel de gerência dos esquemas de tráfico. Ao contrário, costumam
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Em dezembro de 2018, o Congresso Nacional aprovou a Lei n. 13.769/18, que inseriu o art.
318-A ao Código de Processo Penal, determinando que a prisão preventiva imposta à mulher
gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será subs-
tituída por prisão domiciliar, desde que ela não tenha cometido crime com violência ou grave
ameaça a pessoa e que não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
Apesar disso, muitos juízes e tribunais seguem negando o benefício, alegando que o caso
concreto configura uma situação excepcionalíssima, que impede a obtenção do benefício.
Regras de Bangkok
As Regras de Bangkok são as regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres
Presas e Medidas Não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras. Elas propõem olhar
diferenciado para as especificidades de gênero no encarceramento feminino e priorizam medi-
das não privativas de liberdade. O Brasil participou ativamente da elaboração e da aprovação,
mas as regras não foram efetivamente postas em prática.
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Como vimos anteriormente, as mulheres negras são sobrerepresentadas nos índices vi-
timológicos. De 2008 a 2018, a taxa de homicídios de mulheres negras sofreu elevação de
12,4%, enquanto o assassinato de não negras caiu 11,7%. Dentre as vítimas de feminicídios, há,
igualmente, uma prevalência de negras. Em 2019, 66,6% das vítimas de feminicídio no Brasil
eram negras, mas elas representavam apenas 52,4% da população feminina nos estados que
forneceram os dados.
Embora haja vítimas de feminicídio em todas as faixas etárias, a maioria das vítimas en-
contra-se em idade reprodutiva. Cerca de 56,2% das vítimas de feminicídio em 2019 tinham
entre 20 e 39 anos de idade.
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É comum, nos feminicídios, o emprego de armas brancas (53% dos casos). Mas as recen-
tes flexibilizações do Estatuto do Desarmamento podem contribuir para o aumento do em-
prego de arma de fogo nos próximos anos, já que a presença dessas armas aumenta o risco
de violência doméstica. No gráfico abaixo, “outros meios” são, por exemplo, agressão física e
asfixia mecânica.
Em aproximadamente 59% dos casos, o feminicídio tem como local de ocorrência uma
residência. E em 90% dos casos o autor do crime é um companheiro ou ex-companheiro. Es-
ses dados revelam a particular perversidade do delito, que acontece em ambiente familiar e
doméstico, exatamente onde procuramos conforto, abrigo e segurança.
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Essa particular perversidade também é verificada nos casos de estupro, crime em que 85%
das vítimas são mulheres. Em 2019, 57% das vítimas tinham menos de 14 anos e em 84% dos
casos o autor era conhecido da vítima. Temos um estupro a cada 8 minutos no Brasil.
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É importante ressaltar que há, sempre, uma dificuldade metodológica na obtenção de da-
dos confiáveis sobre violência sexual. Estima-se que 90% dos casos permaneçam fora das
estatísticas oficiais, integrando a cifra negra da criminalidade. Isso ocorre porque, além de o
assunto ser cercado de tabus, as vítimas temem o processo de vitimização secundária (trata-
mento meramente burocrático ou mesmo desrespeitoso por parte dos operadores do sistema
de justiça criminal, que coisificam e diminuem a vítima) ou de vitimização terciária (aqui, no
sentido de humilhação e ridicularização sofrida no meio social).
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Criminologia Queer
“Queer” é um termo da língua inglesa que significa estranho, esquisito. O termo é utilizado
para designar as pessoas que não correspondem à heteronormatividade, ou seja, que não são
heterossexuais, em função da orientação sexual ou identidade de gênero.
A Criminologia “Queer”, portanto, analisa as questões homofóbicas, tais como as agres-
sões destinadas aos gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e outros grupos que fujam à hete-
ronormatividade. Além disso, a Criminologia Queer deve levar em consideração não somente
o momento em que a população LGBTQI+ é vítima de um delito, mas também o tratamento
– muitas vezes profundamente discriminatório – que essas pessoas recebem no sistema de
justiça criminal.
Essa corrente criminológica nasceu no final da década de 1980 nos Estados Unidos. Num
primeiro momento, fez oposição aos estudos feministas e demais estudos sociológicos sobre
minorias sexuais e de gênero, pois, de certa maneira, tratavam a ordem social como sinônimo
de heterossexualidade. A teoria queer, explica Salo de Carvalho, revela que os estudos sobre
as minorias qualitativas sexuais acabavam contribuindo para a manutenção e naturalização
da norma heterossexual. Aos poucos, no entanto, as teorias queer passaram a dialogar com
as teorias feministas. A convergência entre as teorias feminista e queer radica na crítica e
na desconstrução do falocentrismo ou ideal do macho, que estabelece uma hierarquia entre
homens e mulheres e, igualmente, uma hierarquia entre hétero e homossexualidade. Os pos-
tulados do “viriarcado” acabam implicando a diminuição tanto do que é feminino (misoginia),
como do que contém diversidade sexual (homofobia, transfobia). O padrão heteronormativo e
heterossexista reproduz o ideal de uma masculinidade viril, violenta e absolutamente hegemô-
nica, que dita o que deve ser o padrão e se materializa na heterossexualidade compulsória, na
homofobia e na misoginia.
Assim, a ideia central de uma teoria queer é desconstruir a hierarquia socialmente estabe-
lecida entre hétero e homossexualidade e superar a lógica binária resultante da heteronormati-
vidade compulsória, que separa e rotula as pessoas como hétero ou homossexuais.
Salo de Carvalho explica que a violência heterossexista pode ser:
• Simbólica: realizada com discursos de inferiorização da diversidade sexual e de orienta-
ção de gênero. Trata-se da cultura homofóbica;
• Institucional: atitudes de homofobia oriundas do Estado, com a criminalização e a pato-
logização das identidades que não sejam heterossexuais;
• Interpessoal: atitudes homofóbicas individuais, em que a violência propriamente dita é
empregada para anular a diversidade6.
6
CARVALHO, Salo de. Sobre as possibilidades de uma criminologia “queer”. In: Sistema Penal & Violência. Porto Alegre, Vol.
4, N. 2, julho/dezembro 2012, p. 151-168.
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Não obstante essa evolução, Salo de Carvalho explica que na literatura jurídico-penal e cri-
minológica brasileira, inclusive nas suas perspectivas críticas e inovadoras, é incipiente – para
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não afirmar inexistente – o diálogo com as teorias queer. Mas defende que é viável a constru-
ção de uma lente criminológica queer, que deve ter como objetos de análise a violência homo-
fóbica e os correlatos crimes de ódio. Para ele, compreender a construção das masculinidades
hegemônicas e as suas formas de produção de violência (interpessoal, institucional e simbóli-
ca) parece ser um dos principais desafios do pensamento criminológico contemporâneo.
Para que isso ocorra, é necessário um radical rompimento com a Criminologia ortodoxa
e sua tentativa de edificação de modelos compreensivos universais, completos e coerentes.
Percebe-se aqui, mais uma vez, um ponto de contato entre a Criminologia Queer e a Crimi-
nologia Feminista. Em ambos os modelos de pensamentos, chega-se à conclusão de que a
própria Criminologia Crítica, se realmente pretende compreender a complexidade do contem-
porâneo, deve abdicar da tentação dos modelos totalizadores, representados pelas grandes
narrativas sobre o crime, o criminoso, os processos de criminalização e os mecanismos de
controle social.
Criminalização da Homotransfobia
Em junho de 2019, na esteira dos debates provocados nas últimas décadas pela Crimi-
nologia Queer e das demandas da população LGTBQI+, o STF decidiu criminalizar a homo-
transfobia (ou LGBTQI+fobia) como forma de racismo. O caso foi discutido na Ação Direta de
Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) n. 26, de autoria do Partido Cidadania (antigo PPS) e
no Mandado de Injunção n. 4.733, protocolado pela Associação Brasileiras de Gays, Lésbicas
e Transgêneros (ABGLT). No julgamento, firmou-se a tese de que houve omissão do Congresso
Nacional. Afinal, a Constituição Federal, em seu art. 5º, inciso XLI, dispõe que a lei punirá qual-
quer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais. Apesar disso, há um
vácuo legislativo no que diz respeito às agressões contra o público LGBTQI+.
Diante da inércia do Poder Legislativo em tipificar tais condutas, o STF determinou que es-
sas agressões devem ser enquadradas como racismo, com base no conceito de “raça social”,
até que uma norma específica seja aprovada pelos parlamentares.
De acordo com a decisão do STF, o racismo não se resume a aspectos estritamente feno-
típicos. É fruto de construção de índole histórico-cultural motivada pelo objetivo de justificar a
desigualdade e destinada ao controle ideológico, à dominação política, à subjugação social e
à negação da alteridade, da dignidade e da humanidade dos integrantes de grupo vulnerável. O
racismo é, portanto, uma manifestação de poder que instaura, mediante inaceitável inferioriza-
ção, situação de injusta exclusão de ordem política e de natureza jurídico-social.
Ainda de acordo com o Supremo, a homofobia também poderá ser utilizada como qualifi-
cadora de motivo torpe no caso de homicídios dolosos ocorridos contra homossexuais.
O STF preocupou-se, ainda, em compatibilizar sua decisão com o princípio, igualmente
constitucional, da liberdade religiosa. Por isso, determinou que religiosos e fiéis não poderão
ser punidos por racismo ao externarem suas convicções doutrinárias sobre orientação sexual
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desde que suas manifestações não configurem discurso de ódio, assim entendidas aquelas
exteriorizações que incitem a discriminação, a hostilidade ou a violência contra pessoas em
razão de sua orientação sexual ou de sua identidade de gênero.
Desse modo, a repressão penal à prática da homotransfobia não alcança nem restringe ou
limita o exercício da liberdade religiosa, qualquer que seja a denominação confessional profes-
sada. A livre manifestação do discurso religioso, explicou o Ministro Celso de Mello, legitima
a instauração do dissenso e viabiliza a concretização de valores essenciais à configuração
do Estado Democrático de Direito: o respeito ao pluralismo e à tolerância. Por isso, aos fiéis e
ministros é assegurado o direito de pregar e de divulgar, livremente, pela palavra, pela imagem
ou por qualquer outro meio, o seu pensamento e de externar suas convicções de acordo com
o que se contiver em seus livros e códigos sagrados, bem assim o de ensinar segundo sua
orientação doutrinária ou teológica. Essas manifestações religiosas podem se dar em espaço
público ou privado, em atuação individual ou coletiva.
Na aplicação prática da lei, um problema tem surgido. Para compreendê-lo, é necessário
recordar a diferença entre racismo e injúria racial, estabelecida pelo Direito Penal. Os crimes
de racismo são aqueles da Lei n. 7.716/89. Nesses casos há uma ofensa à coletividade. Como
exemplo poderíamos imaginar um estabelecimento que proibisse a entrada de negros, ou, para
relacionar com o tópico que estamos estudando, um estabelecimento que proibisse a entrada
de travestis. O crime de injúria racial, por sua vez, encontra-se no Código Penal, art. 140, §3º.
Nesse caso, trata-se de ofensa dirigida a indivíduos determinados. Como exemplo podemos
imaginar um xingamento dirigido a uma pessoa negra ou LGBTQI+ e relacionado com essas
características.
O STF, ao reconhecer o estado de mora do Congresso Nacional, decidiu que a homofobia
e a transfobia, qualquer que seja a forma de sua manifestação, devem ser enquadradas nos
diversos tipos penais definidos na Lei n. 7.716/89, até que sobrevenha legislação autônoma.
Ocorre que, na vasta maioria dos casos, a ofensa se dá na forma de injúria racial, e isso tem
feito com que o resultado prático da decisão do STF fique limitado. A questão foi objeto de em-
bargo de declaração e o mais provável é que o STF reconheça a extensão de sua decisão para
os casos de injúria racial já que, como explicamos, em 2018, ratificou uma decisão do STJ que
reconheceu não ser taxativo o rol dos crimes previstos na Lei n. 7.716/1989.
Alguns ministros se posicionaram contra a decisão de criminalizar a homotransfobia,
sobretudo em razão do princípio da reserva legal e da separação de poderes. O STF estaria
invadindo uma competência do Congresso Nacional ao tipificar condutas. Dá-se o nome de
ativismo judicial a essa atuação mais presente, criativa e abrangente do Poder Judiciário que,
com o intuito de concretizar valores constitucionais, acaba esbarrando nas competências dos
demais Poderes.
A criminalização era uma demanda histórica dos grupos LGTBQI+. Ao menos em teoria,
ela facilita o trabalho das instâncias de controle social formal, que agora contam com uma
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Em março de 2021, o Ministro do STF Luís Roberto Barroso ajustou uma decisão cautelar
deferida anteriormente no bojo da ADPF 527. Na nova decisão, determinou que presas transe-
xuais e travestis com identidade de gênero feminino podem optar por cumprir penas em esta-
belecimento prisional feminino ou masculino. No caso de optarem por estabelecimentos para
homens, elas devem ser mantidas em área especial, que assegure a integridade e segurança
do indivíduo.
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RESUMO
Criminologia Feminista
Origens na Inglaterra, década de 1970. Debates sobre a violência sofrida pela mulher e o
funcionamento sexista do sistema penal. Desconstrução do pensamento patriarcal, baseado
na crença de superioridade do homem sobre a mulher.
Para Zaffaroni, o primeiro discurso criminológico é o livro Martelo das Feiticeiras (“Malleus
Maleficarum” de 1486 ou 1487), manual inquisitorial conta os hereges que estabelece uma re-
lação direta entre a feitiçaria e a mulher. A Criminologia “nasce” como um discurso de homens,
para homens, sobre as mulheres.
Por volta do século XIII teve início um período de intensa perseguição contra as mulhe-
res, com a caça às bruxas e o sistema inquisitorial perseguindo os instintos femininos, con-
siderados demoníacos. As mulheres foram custodiadas em suas residências, em internatos,
em instituições religiosas, em estabelecimentos psiquiátricos, em nome de princípios morais.
Com as mulheres custodiadas, já não era mais necessário que o saber criminológico delas se
ocupasse. Dos séculos XV a XIX, a Criminologia se transformou em um discurso de homens,
para homens, sobre homens.
Na escola positivista, a mulher volta a ser objeto de atenção. Cesare Lombroso escreveu “A
Mulher Delinquente”, em 1892. A mulher seria fisiologicamente inerte e passiva e, ao mesmo
tempo, amoral. O melhor exemplo de delinquente feminina é a prostituta, com herdada disposi-
ção orgânica à loucura moral. No século XX, a Vitimologia destaca o papel das mulheres como
cúmplices ou mesmo provocadoras de crimes sexuais.
Com a Criminologia Crítica nasce a possibilidade de uma Criminologia Feminista, pois o
sistema de justiça criminal passou a ser visto nos termos das categorias de patriarcado e gê-
nero. Autoras como Carol Smart, Maureen Cain, Kathleen Daly são alguns nomes de destaque
na Criminologia Feminista internacional.
No Brasil, Vera Regina Pereira de Andrade defende que o sistema de justiça criminal tem
se revelado ineficaz para a proteção das mulheres contra a violência. Soraia de Rosa Mendes
explica que há uma continuidade e uma interação entre o controle social informal, historica-
mente destinado às mulheres, e o controle social formal, que é androcêntrico: um mecanismo
feito por homens para o controle de condutas masculinas. A partir do reconhecimento da im-
portância do controle socia informal sobre a vida das mulheres, é impossível adotar o sistema
de justiça criminal como objeto principal de estudo. É preciso que se estude como se estrutura
o poder dentro da esfera privada. Carmen Hein de Campos destaca que é necessário acrescen-
tar um componente pós-moderno à Criminologia, ou seja, analisar as mulheres em situações
específicas e concretas de múltiplas opressões: mulher negra, mulher lésbica, mulher pobre
etc. A Criminologia Feminista deve abdicar da tentativa de formular uma única teoria.
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O Brasil teve praticamente quatro séculos de escravidão e, ao seu final, não se preocupou
em fornecer aos negros condições para que superassem a situação de marginalidade social.
A população brasileira tem cerca de 55% de negros (soma de pretos e pardos). Há sobrerrepre-
sentação de negros em diversos índices criminológicos.
Cerca de 64% da população carcerária é negra. Isso não significa que os negros cometem
mais crimes. A alta porcentagem é resultado do racismo estrutural que guia a discricionarie-
dade, os estereótipos e a seletividade do processo brasileiro de criminalização secundária
(aplicação da pena a um caso concreto).
Do ponto de vista vitimológico, a vida negra é negligenciada pelo sistema de justiça crimi-
nal. Os jovens negros são as principais vítimas de homicídio. Do total das vítimas de homicídio
em 2018, 75,7% eram negros. A chance de uma pessoa negra morrer de forma violenta no
Brasil é 2,7 maior que uma pessoa não negra. Fala-se, portanto, em uma juventude perdida ou
genocídio da juventude negra brasileira.
A taxa de homicídio de negros vem crescendo. Entre 2008 e 2018, os homicídios de não
negros caíram 12,9%, mas houve aumento de 11,5% dos homicídios de negros. Para as mulhe-
res negras, entre 2008 e 2018, os homicídios de não negras tiveram redução de 11,7%, mas os
homicídios de mulheres negras aumentaram 12,4%. Em 2018, de todas as mulheres assassi-
nadas, 68% eram negras.
Racismo Estrutural
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No Brasil não tivemos um sistema oficial de discriminação como o Jim Crow. Há uma cor-
rente de pensamento que acredita que vivemos uma democracia racial: o Brasil não teve um
sistema oficial de segregação, logo, foi democrático, miscigenou-se vastamente e abandonou
o passado racista. Do ponto de vista de uma Criminologia Crítica, a alegação de democracia
racial não se sustenta (é contrariada por dados estatísticos) e dá sustento para a continuidade
da hegemonia branca.
Na criminalização primária (tipo penal em abstrato), as condutas racistas podem ser clas-
sificadas como injúria racial ou racismo. A injúria é uma ofensa direcionada a um indivíduo
específico e é prescritível. Nos crimes de racismo, a ofensa é direcionada à coletividade e a
conduta é imprescritível e inafiançável.
A maioria dos casos é registrada ou desclassificada para injúria racial. E há um alto índice
de mortalidade de casos criminais, ou seja, de casos que não viram processos ou que resul-
tam em absolvição ou extinção da punibilidade. Isso se deve tanto ao racismo estrutural que
guia as decisões no processo criminal como à dificuldade de acesso à justiça que os negros
e pobres possuem no Brasil.
Alguns teóricos questionam a pertinência dessa dualidade de tipos penais, alegando
que sempre há, nas ofensas raciais, uma dimensão coletiva. O STJ determinou, no AREsp n.º
686.965/DF, que o crime de injúria racial é imprescritível porque também traduz preconceito de
cor, atitude que conspira no sentido da segregação. O comando constitucional da imprescriti-
bilidade somente é, de fato, preenchido se a conduta de injúria racial for abarcada.
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Racismo Recreativo
Perfilamento Racial
Perfilamento racial é o ato de suspeitar ou ter como alvo uma pessoa de uma determinada
raça, com base em características ou comportamentos observados ou assumidos de um gru-
po racial ou étnico, em vez de uma suspeita individual. Em inglês emprega-se o termo “racial
profiling”.
Letalidade Policial
Possuímos altas taxas de mortes decorrentes de intervenção policial. 79,1% das vítimas
são negras. Logo, a letalidade policial é apenas mais uma faceta do já conhecido genocídio
dos jovens negros brasileiros. Direito Penal subterrâneo, (termo cunhado por Lola Aniyar de
Castro), diz respeito àqueles momentos em que o poder punitivo é exercido pelas agências de
controle social formal à margem da legalidade. Trata-se do emprego da força de maneira ilegal,
arbitrária, comumente realizando a criminalização das dissidências ideológicas e das minorias
qualitativas, com o reforço de um estereótipo de delinquente como membro da classe baixa.
Aproximadamente 95% dos presos brasileiros são homens, mas a partir dos anos 2000,
começou a haver um crescimento constante das taxas de encarceramento feminino. o contin-
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gente carcerário masculino aumentou 220% de 2000 a 2014. No mesmo período, o contingente
carcerário feminino aumentou 567%.
A explosão do encarceramento feminino está relacionada com a política de guerra às dro-
gas. Com a Lei n. 11.343, que despenalizou o uso, aumentou a tendência jurisdicional de con-
siderar as condutas como tráfico. As pessoas presas por tráfico de drogas, que antes da Lei
eram 15% da população carcerária, hoje representam mais de 30% do total. O impacto foi par-
ticularmente enorme para a população carcerária feminina.
Cerca de 57% das mulheres estão presas por infração à Lei de Drogas. Em seguida vêm os
crimes contra o patrimônio (24%). A grande maioria das mulheres não possui vinculação com
grandes redes de organizações criminosas e não ocupa papel de gerência dos esquemas de
tráfico. A prisão dessas mulheres não tem qualquer impacto na dinâmica e no funcionamento
da economia das drogas.
As especificidades da mulher não costumam ser levadas em consideração no cárcere.
A grande maioria das mulheres presas é negra (68%), ré primária (72%), jovem (50% delas
têm entre 18 e 29 anos), possui baixa escolaridade (50% não concluiu o ensino fundamental)
e é mãe (84%).
Em dezembro de 2018, foi inserido o art. 318-A ao Código de Processo Penal, determi-
nando que a prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que ela não
tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa e que não tenha cometido o
crime contra seu filho ou dependente. Mas muitos juízes e tribunais seguem negando o bene-
fício, alegando que o caso concreto configura uma situação excepcionalíssima, que impede a
obtenção do benefício.
Regras de Bangkok
São as regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas e Medidas Não
Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras. Atentam para as especificidades de gênero
no encarceramento feminino e priorizam medidas não privativas de liberdade. Brasil partici-
pou ativamente da elaboração e da aprovação, mas as regras não foram efetivamente postas
em prática.
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cídio, observa-se uma escalada de casos. Em 2019, 66,6% das vítimas de feminicídio no Brasil
eram negras, mas elas representavam apenas 52,4% da população feminina nos estados que
forneceram os dados. A maioria das vítimas encontra-se em idade reprodutiva: cerca de 56,2%
das vítimas tinham entre 20 e 39 anos de idade. É comum, nos feminicídios, o emprego de
armas brancas (53% dos casos). A recente flexibilização do Estatuto do Desarmamento pode
contribuir para o aumento do emprego de arma de fogo nos próximos anos. Em aproximada-
mente 59% dos casos, o feminicídio tem como local de ocorrência uma residência. E em 90%
dos casos o autor do crime é um companheiro ou ex-companheiro.
Nos crimes de estupro, 85% das vítimas são mulheres. Em 2019, 57% das vítimas tinham
menos de 14 anos e em 84% dos casos o autor era conhecido da vítima. Há, sempre, dificulda-
de metodológica na obtenção de dados confiáveis sobre violência sexual. Estima-se que 90%
dos casos permaneçam fora das estatísticas oficiais, integrando a cifra negra, pois além de o
assunto ser cercado de tabus, as vítimas temem o processo de vitimização secundária (des-
dém do sistema penal) ou de vitimização terciária (ridicularização no meio social).
Criminologia “Queer”
Origens no final da década de 1980, EUA. Analisa as questões homofóbicas, tais como
as agressões destinadas aos gays, lésbicas, bissexuais, transexuais e outros grupos que fu-
jam à heteronormatividade, e o tratamento – muitas vezes profundamente discriminatório –
que essas pessoas recebem no sistema de justiça criminal. Aproximação com a Criminologia
Feminista na desconstrução do “ideal do macho”. Desconstrução da hierarquia socialmente
estabelecida entre hétero e homossexualidade e superação da lógica binária resultante da
heteronormatividade compulsória. A violência heterossexista pode ser: simbólica (discursos
homofóbicos); institucional (atitudes de homofobia oriundas do Estado); e interpessoal (vio-
lência homofóbica propriamente dita).
Para Foucault, a formação de um regime de verdade científico sobre o sexo ocorre a partir
de uma caça às sexualidades periféricas. O projeto positivista de classificação dos tipos de
delinquentes se conecta diretamente à perspectiva dos primeiros sexólogos de mapear o des-
vio sexual. Nos dois casos, ocorre a anulação da diversidade e a essencialização das identida-
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Criminalização da Homotransfobia
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
Mariana Barreiras
Em março de 2021, o Ministro do STF Luís Roberto Barroso, no bojo da ADPF 527, deter-
minou que presas transexuais e travestis com identidade de gênero feminino podem optar por
cumprir penas em estabelecimento prisional feminino ou masculino. No caso de optarem por
estabelecimentos para homens, elas devem ser mantidas em área especial, que assegure a
integridade e segurança do indivíduo.
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MAPAS MENTAIS
Criminologia Feminista
Desconstrução do
pensamento patriarcal Ideia central
Zaffaroni
1º discurso
criminológico “Martelo das Feiticeiras”, século XV Soraia de Rosa Mendes
Criminologia nasce como um discurso de homens, para
homens, sobre as mulheres. Continuidade ente o controle social formal e
o controle social informal
Muheres são custodiadas e entre os séculos XV a XIX,
a Criminologia se transformou em um discurso de Mulheres são destinatárias do controle social
homens, para homens, sobre homens. informal
Criminologia Feminista deve dar um giro:
deixar de adotar o sistema de justiça criminal
Carmen Hein de Campos como objeto principal de estudo. Incluir
também o controle social infiormal
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
Mariana Barreiras
Racismo e Sistema
Penal
2008 a 2018
Individual: ação concreta de indivíduos racistas
Escravidão
O Brasil não teve um sistema o cial de segregação, logo, foi democrático, Sistema Jim Crow (atos normativos que
miscigenou-se vastamente e deixou para trás o passado racista. o cializavam a segregação racial)
Tese que não se sustenta com os aportes da Criminologia Prisão: guardiã de corpos negros
Colorblindness
Injúria (CP)
Racismo recreativo
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
Mariana Barreiras
Criminalização
das Mulheres
68%: negras
72%: rés primárias
50%: idade entre 18 e 29 anos Prisão domiciliar de gestantes e mães
84%:mãe
Desestruturação 2018 foi inserido o art. 318-A no CPP
de lares
A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída
por prisão domiciliar, desde que ela não tenha cometido crime com
violência ou grave ameaça a pessoa e que não tenha cometido o crime
contra seu filho ou dependente.
Muitos juízes e tribunais seguem negando o benefício, alegando que o
caso concreto configura uma situação excepcionalíssima
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
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Vitimização das
Mulheres
tabu
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Criminologia Queer
Rompimento com a Criminologia ortodoxa e sua tentativa Institucional: atitudes de homofobia oriundas do
de edificação de modelos compreensivos universais, Estado, com a criminalização e a patologização das
completos e coerentes. Brasil identidades que não sejam heterossexuais.
Interpessoal: atitudes homofóbicas individuais, em que
É incipiente o diálogo da Criminologia com as teorias “queer” a violência propriamente dita é empregada para anular
a diversidade.
STF
Configura qualificadora de motivo 2019: criminalizou a
torpe no caso de homicídios homotransfobia como
Religiosos e fiéis não poderão ser racismo (raça social)
punidos por racismo ao externarem diante da inércia do Poder
suas convicções doutrinárias sobre Legislativo
orientação sexual desde que suas
manifestações não configurem
discurso de ódio
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
Mariana Barreiras
QUESTÕES DE CONCURSO
001. (FCC/2017/DPE-SC/DEFENSOR PÚBLICO/ADAPTADA) Nas duas últimas décadas, o
encarceramento feminino cresceu em virtude da falta de investimentos em presídios que con-
siderem a questão de gênero.
Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da
criminologia.
De acordo com estudos vitimológicos, a diferença entre os crimes sexuais praticados e os co-
municados às agências de controle social é de aproximadamente 90%, o que estaria em con-
sonância com os dados do Panorama da Violência contra as Mulheres no Brasil (texto 1A9-II),
que indica a ocorrência de subnotificação nos casos de estupros praticados em Sergipe. Esse
fenômeno, de apenas uma parcela dos crimes reais ser registrada oficialmente pelo Estado, é
o que a criminologia chama de cifra negra da criminalidade.
A cifra negra corresponde àquela parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São
os crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Os
crimes sexuais apresentam altíssimas taxas de subnotificação. Acredita-se que a diferença
entre os crimes sexuais praticados e aqueles que são comunicados é de 90%. Por isso as esta-
tísticas criminais não refletem a criminalidade real, mas apenas uma parte dela, restando uma
cifra negra, oculta, difícil de decifrar.
Certo.
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
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Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da
criminologia.
A sentença transcrita (texto 1A9-I) exemplifica o que a teoria criminológica descreve como re-
vitimização ou vitimização secundária, que se expressa como o atendimento negligente, o des-
crédito na palavra da vítima, o descaso com seu sofrimento físico e(ou) mental, o desrespeito
à sua privacidade, o constrangimento e a responsabilização da vítima pela violência sofrida.
A sentença transcrita traz exemplo de vitimização secundária, também conhecida como revi-
timização ou sobrevitimização. Na vitimização secundária a vítima primária é objeto da insen-
sibilidade, do desinteresse e da atuação meramente burocrática dos operadores do sistema
criminal estatal. São, portanto, custos adicionais impostos à vítima primária em função da
atuação das instâncias de controle social formal: espera em delegacia, tomada de depoimen-
to, desrespeito à privacidade (procedimentos invasivos, perguntas sobre sua vida pessoal),
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
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A Criminologia não utiliza o mesmo conceito de crime do Direito Penal. Para a criminologia, o
feminicídio pode ser considerado crime porque apresenta incidência massiva na população,
incidência aflitiva, persistência espaço-temporal e inequívoco consenso social sobre a razoa-
bilidade de sua criminalização. O fato de que apresente tipicidade, ilicitude e reprovabilidade é
fundamental para a caracterização de crime pelo Direito Penal, e não pela Criminologia.
Errado.
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
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No item I, algumas ideias centrais da Criminologia Queer são: a superação da lógica binária
resultante da institucionalização da heteronormatividade compulsória, que rotula e as pesso-
as como hétero ou homossexuais; e o combate à homofobia, que é a agressão direcionada à
parcela da população que não se encaixa no padrão heterossexual. No item II, a Criminologia
Queer deve levar em consideração não somente o momento em que a população LGBTQI+ é
vítima de um delito, mas também o tratamento – muitas vezes profundamente discriminató-
rio – que essas pessoas recebem no sistema de justiça criminal. No item III, a Criminologia
Cultural enfatiza que, no contexto atual, não é possível falar em um único sistema de valores,
em face do qual o indivíduo seria livre para determinar-se. Há, ao contrário, uma infinidade de
valores, normas e modelos alternativos de comportamento. No item IV, as construções sobre
gênero e heteronormatividade não são naturais. Ao contrário, decorrem do contexto histórico,
social, global, político e de relações de poder. No item V, o padrão heterossexista reproduz o
ideal de uma masculinidade viril, violenta e absolutamente hegemônica, que dita o que deve
ser o padrão e se materializa na heterossexualidade compulsória, na homofobia e na misogi-
nia, que vitimiza as mulheres.
Letra a.
A taxa de crescimento da população carcerária feminina tem sido maior do que a taxa de
encarceramento masculino. De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional, o con-
tingente carcerário masculino aumentou 220% de 2000 a 2014. No mesmo período, o contin-
gente carcerário feminino aumentou 567%. Se aumentarmos um pouco o lapso temporal do
levantamento, chegamos ao aumento de 700% no encarceramento feminino para o período de
2000 a 2016.
Errado.
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Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
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realizou seus intentos criminosos, certo de que ficaria impune, mas acabou sendo descober-
to e preso.
Conforme a criminologia crítica, o crime praticado contra Estela, descrito no texto 1A14AAA,
pode ser explicado
a) por traumas de infância desenvolvidos por João, o que tornou difícil a sua relação com
as mulheres.
b) pela pouca iluminação da rua que Estela elegeu para voltar para casa depois da aula.
c) pelo comportamento imprudente de Estela, que, no período noturno, andava sozinha em rua
mal iluminada.
d) pela existência de alguma característica inata de João, que fatalmente o levaria a cometer
os crimes de estupro e homicídio.
e) por multifatores, como uma cultura misógina que desvaloriza as mulheres e que legitima a
sua punição quando não forem atendidos os interesses e os desejos masculinos.
É importante notar, nessa questão, que a pergunta se refere à possível explicação para os
crimes praticados contra Estela conforme a Criminologia Crítica. Parte-se, no pensamento cri-
minológico contemporâneo, da ideia de que a delinquência é fruto de muitas variáveis. Dentre
elas, encontra-se a cultura misógina, machista ou sexista. Misoginia é um termo empregado
para descrever as relações nocivas de ódio e desprezo dos homens em relação às mulheres.
Na base dessa cultura reside a ideia de hierarquia entre os sexos, com os homens ocupando
um lugar de ascendência e superioridade sobre as mulheres. Esse tipo de pensamento justifica
crimes como estupro, violência doméstica, feminicídio etc. Na letra A, não há, no texto, qual-
quer menção a traumas de infância de João, e tampouco é esse um argumento recorrente na
Criminologia Crítica. Na letra B, a pouca iluminação da rua pode ter influenciado para a escolha
do local do crime, mas não explica, no marco da Criminologia Crítica, os crimes de estupro
e homicídio em si. Na letra C, o enunciado emprega argumentos de culpabilização da vítima
primária, rechaçados pela Criminologia Crítica. Na letra D, o enunciado é típico da Criminologia
positivista, que falava em criminosos natos e em determinismo.
Letra e.
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Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
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aqui jamais se ocultou, sendo operacionado sob os olhos de quem quiser enxergar.” (GÓES,
Luciano. Abolicionismo penal? Mas qual abolicionismo, “cara pálida”?. Revista InSURgência.
Brasília. Ano 3. v.3. n.2. 2017. Pg. 98).
Considerando a afirmativa acima, é possível compreender o fenômeno do encarceramento em
massa no Brasil, sob o ponto de vista empírico e teórico, a partir da correlação entre:
a) o racismo individualista e o minimalismo penal;
b) o racismo estrutural e o direito penal do inimigo;
c) o racismo institucional e o minimalismo penal;
d) o racismo estrutural e o abolicionismo penal;
e) o racismo individualista e o direito penal do inimigo.
O texto fala de cisão no Direito Penal: ao lado do Direito Penal dos cidadãos, alicerçado no
Direito Penal do fato construído às luzes do Classicismo, haveria o Direito Penal paralelo, para
os “subcidadãos”, legitimado no Direito Penal do autor. Esse trecho está relacionado à teoria
do Direito Penal do Inimigo, formulada em 1985 por Günther Jakobs, que defende a distinção
entre cidadãos e inimigos, aos quais seriam aplicados regimes jurídicos distintos. O cidadão,
quando autor de um fato delitivo, danifica a vigência da norma, sem deixar, no entanto, de ofe-
recer garantia de que se conduzirá, em linhas gerais, conforme as regras. O inimigo se afasta
de maneira duradoura e decidida do Direito. Não admite ser obrigado a entrar em um estado
de cidadania e não pode, portanto, participar dos benefícios do conceito de pessoa (“subcida-
dão”). O Direito Penal do Cidadão volta-se para os fatos. Nele, preservam-se as garantias mate-
riais e processuais. O Direito Penal do Inimigo volta-se para pessoas consideradas perigosas,
configurando modalidade de Direito Penal do autor. Além disso, o texto fala da periculosidade
dos corpos negros, de um país racista que tinha como problema maior a questão negra, cal-
cada em termos genocidas como condição de sobrevivência da sua falsa branquidade. Es-
sas ideias conectam-se à dimensão estrutural do racismo, que considera que a ordem social,
como um todo, é racista. As pessoas e instituições refletem, em suas práticas, o racismo da
ordem social.
Letra b.
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Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
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Um dos principais autores de cunho positivista no Brasil foi Nina Rodrigues. Em “As raças
humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, de 1894, negou o livre-arbítrio invocando a he-
terogeneidade da cultura mental dos brasileiros. Com postulados que foram considerados ra-
cistas, Nina Rodrigues dizia que o negro era briguento, violento nas impulsões sociais e muito
dado à embriaguez. Chegou a defender a existência de, pelo menos, quatro códigos penais no
Brasil, que atendessem as diversidades raciais e regionais. Na letra A, Cohen foi autor da Teo-
ria da Subcultura Delinquente. Na letra B, a Criminologia positivista, típica do século XIX, não
rompe com o Iluminismo, e sim decorre dele, querendo criar uma ciência para estudar o crime.
E não há que se falar, no Positivismo, em rompimento com o consenso, algo que só vai ocorrer
a partir da década de 1960 nos Estados Unidos. Na letra C, a metodologia de Lombroso foi
bastante criticada por uma série de razões, como, por exemplo, por ter se dedicado a estudar
delinquentes que estavam encarcerados, deixando de observar delinquentes que não tivessem
sob os efeitos da prisionização. Lombroso desconsiderava o poder seletivo das engrenagens
criminais, assim como os efeitos degradantes e homogeneizantes da prisão e a possibilidade
de encontrar, na população não criminosa, os mesmos traços existentes na população encar-
cerada. Na letra D, a recepção da obra positivista no Brasil não teve especial ressonância no
estudo dos crimes das tribos indígenas.
Letra e.
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Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
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cundária (aplicação da pena aos casos concretos). Na letra A, ainda são poucos os casos
de aplicação concreta da lei penal (criminalização secundária) atribuindo o ato de racismo a
alguém, de modo que o quadro histórico de preconceito permanece foi pouquíssimo alterado.
Na letra B, a injúria racial tem pena de reclusão de 1 a 3 anos, uma pena relativamente baixa,
que admite a substituição por pena restritiva de direitos por não ultrapassar o limite de 4 anos.
Na letra D, apesar dos princípios constitucionais, o sistema penal atua de forma discriminató-
ria, pois ao selecionar sua clientela direciona-se para as camadas marginalizadas da popula-
ção. Na letra E, os crimes de racismo estão tipificados na Lei n. 7.716/89.
Letra c.
Nina Rodrigues em “As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil”, de 1894, negou o
livre-arbítrio invocando a heterogeneidade da cultura mental dos brasileiros. Com postulados
racistas, Nina Rodrigues dizia que o negro era briguento, violento nas impulsões sociais e mui-
to dado à embriaguez. Na letra A, para os positivistas, a pena podia ser ter duração indetermi-
nada, já que era vista como um meio de defesa social, ou seja, ela seria utilizada não apenas
para castigar, mas para defender a sociedade dos criminosos, que eram vistos como doentes
e anormais e só poderiam retornar à vida em liberdade quando estivessem curados, quando
deixassem de representar uma ameaça. O instituto penal da medida de segurança, plenamente
vigente, é considerado uma decorrência dos postulados positivistas. Na letra D, Ferri é, ao lado
de Garofalo e Lombroso, expoente da Criminologia, mais especificamente na vertente socio-
lógica. Ne letra E, o positivismo foi a escola responsável por trazer a pesquisa empírica para o
método da criminologia.
Letra b.
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014. (FCC/2015/DPE-SP/DEFENSOR PÚBLICO) “As provas indicam que a polícia decidiu ‘partir
para cima’ da população de forma abusiva e indiscriminada, matando mais de 100 pessoas,
grande parte em circunstâncias que pouco tinha a ver com legítima defesa. Ademais, policiais
encapuzados, integrantes de grupos de extermínio, mataram outras centenas de pessoas. Es-
ses policiais realizaram ‘caças’ aleatórias de homens jovens pobres, alguns em função de seus
antecedentes criminais ou de tatuagens (tidas como sinais de ligação com a criminalidade) e
muitos outros com base em mero preconceito. Identificamos 122 homicídios contendo indí-
cios de terem sido execuções praticadas por policiais naquele período.” (São Paulo sob acha-
que: corrupção, crime organizado e violência institucional em maio de 2006. Human Rights
Program at Harward University e Justiça Global)
O relato acima sobre os “crimes de maio de 2006 em São Paulo” é exemplo de
a) criminalização primária.
b) direito penal subterrâneo.
c) criminalização dos movimentos sociais.
d) direito penal do inimigo.
e) encarceramento em massa da pobreza.
O direito penal subterrâneo diz respeito ao poder punitivo exercido pelas agências de controle
social formal à margem da legalidade. É comum que ele funcione realizando a criminalização
das dissidências ideológicas e das minorias qualitativas, com o reforço de um estereótipo de
delinquente como membro da classe baixa. É um sistema que direciona, para as classes subal-
ternas, medidas abusivas, que são proibidas pelo sistema aparente, tais como violações de do-
micílio, violências policiais, violação do direito de imagem na mídia, execução penal à margem
dos direitos humanos. Na letra A, a criminalização primária é a edição de leis penais que criam
tipos penais e definem suas penas. Na letra C, o enunciado da questão fala em homens pobres,
mas não especificamente em integrantes de movimentos sociais. Na letra D, o direito penal
do inimigo prevê a eliminação de algumas pessoas que se afastam de maneira duradoura e
decidida do Direito, como é o caso de terroristas, por exemplo. Homens jovens pobres, vítimas
de preconceito policial não configuram o conceito de inimigo. Na letra E, o encarceramento em
massa da população pobre é uma realidade brasileira (e mundial), mas o texto do enunciado
descreve condutas que vão muito além dessa prática.
Letra b.
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Desde os postulados do labelling approach, reconhece-se que a polícia não distribui seu tra-
balho igualmente por todas as camadas da população. Como todo ser humano, o policial é
guiado por preconceitos e estereótipos e realiza grande parte de suas atividades tendo como
foco as classes marginalizadas da sociedade. Na letra A, alguns crimes podem ser esclare-
cidos mesmo se não há denúncia, e esse é, exatamente, o caso da proatividade policial. Na
letra C, a polícia é, sim, responsável de certa forma por alguns crimes, como ocorre nos casos
de corrupção policial e uso excessivo da força. Mas o texto apresentado não se debruça so-
bre essa temática. Na letra D, o texto não especifica se a reatividade é maior ou menor que a
proatividade. Na letra E, não há, no texto, qualquer menção sobre o sucesso ou ineficácia das
investigações decorrentes da reatividade policial.
Letra b.
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De acordo com a tese da democracia racial, o Brasil não é racista, pois realizou a miscigenação
da sua população e nunca contou com um sistema oficial de discriminação racial, previsto em
atos normativos. Para a Criminologia Crítica, a tese da democracia racial é falaciosa, ou seja,
não se sustenta, já que os negros são sobrerepresentados em diversos índices criminológicos.
Errado.
Perfilamento racial é o ato de suspeitar ou ter como alvo uma pessoa de uma determinada
raça, com base em características ou comportamentos observados ou assumidos de um gru-
po racial ou étnico, em vez de uma suspeita individual.
Errado.
Para Eugenio Raúl Zaffaroni, criminólogo crítico argentino da atualidade, o primeiro discurso
criminológico é o livro Martelo das Feiticeiras, manual inquisitorial conta os hereges do século
XV. Não se trata de uma teoria criminológica: a Criminologia não existia como ciência ainda.
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Mas é um texto sobre um tipo específico de delito e de delinquente: estabelece uma relação
direta entre a feitiçaria e a mulher, considerada perversa, fraca, maliciosa e detentora de “pou-
ca fé” (fe – minus, que deu origem a “feminino”). Por isso, a Criminologia “nasce” (ao menos
enquanto narrativa), como um discurso de homens, para homens, sobre as mulheres.
Errado.
Soraia de Rosa Mendes explica que as relações sociais em geral violentam e discriminam a
mulher e que, como não há uma ruptura entre as relações sociais em geral e o sistema penal,
o sistema de justiça criminal repete as práticas discriminatórias. Para ela, há uma continui-
dade e uma interação entre o controle social informal (realizado pela sociedade, por meio da
família, vizinhança, escola, trabalho), historicamente destinado às mulheres, e o controle social
formal (realizado pelo Estado, por meio da Polícia, Ministério Público, Poder Judiciário), que
é androcêntrico: um mecanismo feito por homens para o controle de condutas masculinas. O
controle social formal e informal se retroalimentam para perpetuar e legitimar a subordinação
da mulher, sobretudo em seu papel de vítima.
Certo.
022. (INÉDITA/2021) As Regras de Bangkok são regras das Nações Unidas destinadas a equa-
cionar o problema do perfilamento racial nas atitudes policiais e do sistema de justiça criminal.
As regras de Bangkok são as regras das Nações Unidas para o Tratamento de Mulheres Presas
e Medidas Não Privativas de Liberdade para Mulheres Infratoras. Atentam para as especificida-
des de gênero no encarceramento feminino e priorizam medidas não privativas de liberdade.
Errado.
023. (INÉDITA/2021) De acordo com a ideia de daltonismo racial, uma cegueira racial delibe-
rada está na base da incapacidade do sistema de justiça criminal de reconhecer o quanto o
fator racial é determinante em suas decisões.
Para Michelle Alexander, o programa de criminalização de homens negros nos EUA tem na po-
lítica de guerra às drogas seu principal suporte. A guerra às drogas nunca teria sido declarada
pelos EUA se os rotulados como inimigos não fossem negros e pobres. Essas constatações
se opõem à ideia de imparcialidade do sistema de justiça criminal. Essa incapacidade do sis-
tema de justiça criminal de reconhecer o quanto o fator racial é determinante recebe o nome
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O pós-modernismo, dos anos 1970 e 1980, assume que as realidades são fluidas, que as pes-
soas não são realidades unívocas. Os saberes devem se fragmentar, considerando as plurali-
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A maioria dos feminicídios ocorre com o emprego de armas brancas (53% dos casos). Mas
as recentes flexibilizações do Estatuto do Desarmamento podem contribuir para o aumento
do emprego de arma de fogo nos próximos anos, já que a presença dessas armas aumenta o
risco de violência doméstica.
Errado.
029. (INÉDITA/2021) A preocupação com o alto índice de presas que são mães e com o po-
tencial impacto do encarceramento feminino na desestruturação dos lares está na base das
regras relativas à conversão da prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou
responsável por crianças ou pessoas com deficiência por prisão domiciliar.
A grande maioria das mulheres presas é mãe (84%). Considerando que às mulheres ainda
é reservada grande parcela das responsabilidades pelos parentes em tarefas de cuidado e
sustento da família, a consequência da política de encarceramento feminino é, certamente, a
desestruturação de milhares de lares brasileiros. Famílias desintegradas, por sua vez, jogam
um papel criminógeno determinante, levando à perpetuação da tradição delitiva nesses am-
bientes. Em dezembro de 2018, o Congresso Nacional aprovou a Lei n. 13.769/18, que inseriu
o art. 318-A ao Código de Processo Penal, determinando que a prisão preventiva imposta à
mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será
substituída por prisão domiciliar, desde que ela não tenha cometido crime com violência ou
grave ameaça a pessoa e que não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
Certo.
030. (INÉDITA/2021) Apesar de o Brasil contar com altos índices de letalidade policial, o fenô-
meno apresenta tendências de estabilidade.
A série histórica do Anuário Brasileiro de Segurança Pública mostra que a quantidade de pes-
soas mortas por policiais, civis e militares, cresceu constantemente de 2013 a 2020.
Errado.
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CRIMINOLOGIA
Criminologia Feminista; Racismo, Gênero e Sistema Penal
Mariana Barreiras
GABARITO
1. E 11. e 21. C
2. C 12. c 22. E
3. C 13. b 23. C
4. E 14. b 24. C
5. a 15. b 25. E
6. E 16. E 26. E
7. e 17. E 27. E
8. a 18. C 28. E
9. C 19. E 29. C
10. b 20. E 30. E
Mariana Barreiras
Servidora pública federal desde 2009. Graduada em Direito e Mestre em Direito Penal e Criminologia pela
Universidade de São Paulo (USP). Professora de Legislação de Interesse da Atividade de Inteligência, Direito
Penal e Criminologia em cursos preparatórios para concurso público. Autora do livro “ABIN - Legislação de
Inteligência Sistematizada e Comentada”, publicado pela editora JusPodivm. Foi Assessora Técnica da
Comissão Nacional da Verdade da Presidência da República (2012 a 2014). Foi Agente de Promotoria do
Ministério Público do Estado de São Paulo (2006-2009). Lecionou as disciplinas Direito Penal e Criminologia
na Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino. Foi membro de diversas
coordenações do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, tendo orientado pesquisas do Laboratório de
Iniciação Científica. Coautora do livro “Criminologia e os problemas da atualidade” e autora de artigos nos
temas de Direito Penal e Criminologia.
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