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PC-RN

Delegado
Criminologia

Li El t ô i
AULA ESSENCIAL
Criminologia

Sumário
Mariana Barreiras

Criminologia...................................................................................................................................... 3
Análise da Banca.............................................................................................................................. 3
1. Conteúdo mais Cobrado em Provas......................................................................................... 4
1.1. Criminologia como Ciência. . ..................................................................................................... 4
2. Nascimento da Criminologia..................................................................................................... 5
2.1. Clássicos..................................................................................................................................... 5
2.2. Positivistas................................................................................................................................ 6
3. Escolas Sociológicas. . ................................................................................................................. 8
3.1. Teorias do Consenso.. ............................................................................................................... 9
3.2. Teorias do Conflito..................................................................................................................12
4. Prevenção da Infração Penal no Estado Democrático de Direito................................... 14
4.1. Prevenção Primária................................................................................................................ 14
4.2. Prevenção Secundária.. ......................................................................................................... 14
4.3. Prevenção Terciária................................................................................................................16
5. Modelos de Reação ao Delito.. ................................................................................................. 17
5.1. Modelo Dissuasório (Clássico).............................................................................................. 17
5.2. Modelo Ressocializador.. ...................................................................................................... 18
5.3. Modelo Integrador (Restaurador, Consensual, Reparador).......................................... 18
Questões de Concurso...................................................................................................................19
Gabarito............................................................................................................................................ 25
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CRIMINOLOGIA
Análise da Banca
Olá, estudante! Vamos começar nossa aula 80/20 fazendo uma análise da banca FGV.
Essa banca não possui qualquer tradição em provas de Criminologia. Não há nenhuma ques-
tão de Criminologia nos bancos de questões. Talvez por essa razão, ela copiou integralmente
o modelo de edital de Criminologia do Cebraspe.
Em Criminologia, o edital do Cebraspe costuma ser o mesmo em todas as provas. Na sua
não foi diferente, o que é uma boa notícia.
Vamos, então, analisar o que o Cebraspe cobra. Analisando as provas já realizadas pelo Ce-
braspe nos últimos dez anos, é possível perceber que há uma predileção da banca pelos temas
de Prevenção do delito no Estado Democrático de Direito e Modelos de Reação ao Crime, res-
ponsáveis por 34% das questões. Em seguida, o assunto Escolas Sociológicas é responsável
por 28% das questões. Criminologia como Ciência (métodos, objetos, funções da Criminologia
e sua relação com o Direito Penal e a Política Criminal) ocupa o 3º lugar, com 27% das ques-
tões. Por fim, os modelos teóricos respondem por 11% das questões.

Incidência de Questões Cebraspe

Criminologia como ciência


27%
34%
Modelos Teóricos

11%
Escolas Sociológicas
28%
Prevenção e modelos de
reação ao delito

Em resumo, os assuntos mais cobrados em provas de Criminologia feitas com base no


edital do Cebraspe são:
• Prevenção e Modelos de Reação ao Delito (34%)
• Escolas Sociológicas (28%)
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• Criminologia como Ciência (27%)


• Modelos Teóricos (11%)

Visto isso, vou apresentar os tópicos principais para o seu estudo.


Para quem quiser me seguir no Instagram, deixo meu perfil: @profmaribarreiras.

1. Conteúdo mais Cobrado em Provas


1.1. Criminologia como Ciência
A Criminologia é uma ciência interdisciplinar e empírica, que se ocupa do estudo do crime,
do delinquente, da vítima e dos mecanismos de controle social. É um saber que se aproxima do
fenômeno criminal com o intuito de entender sua origem, suas causas – individuais e sociais
–, suas consequências e o funcionamento das instâncias de controle.
Assim como ocorre com as demais ciências, os estudos criminológicos não possuem uma
lista fechada de métodos que podem ser utilizados. As técnicas têm, no entanto, como traços
genéricos o empirismo, a indução e a interdisciplinaridade.
• A Criminologia é humana, empírica, interdisciplinar (ou multidisciplinar), indutiva, do “ser”.
• A Criminologia NÃO é exata, normativa, dogmática, dedutiva, teorética, abstrata, do “de-
ver-ser”.

DICA:
Recurso Mnemônico:
CrimINologia: IN: INDUTIVA, INTERDISCIPLINAR, “IMPÍRICA”

Criminologia  Indução  Parte-se do caso concreto com o intuito de chegar a regras


genéricas.
Direito Penal  Dedução  Parte-se de regras genéricas, formulações abstratas, que de-
vem ser aplicadas aos casos concretos.
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Humana

Ciência autônoma Do ser

Não valorativa

Nascimento: séc XIX. "O Homem Delinquente".


Cesare Lombroso, 1876.

Crime

Criminoso
Objetos
Vítima
Conceito
Controle Social

Criminologia Empirismo

Métodos Interdisciplinaridade

Indução

Etiologia

Compreensão Prevenção

Resposta ao crime

2. Nascimento da Criminologia
No tocante ao nascimento da Criminologia, as bancas têm predileção por perguntas que
diferenciam a Escola Clássica, típica do século XVIII, e a Escola Positivista, típica do Século
XIX. Ambas tiveram como epicentro a Itália.

2.1. Clássicos
Os autores clássicos reconhecem que as pessoas são seres racionais, que possuem livre-
-arbítrio, ou seja, podem fazer escolhas. O cometimento de um crime é fruto de uma decisão
que implica quebra do pacto social de convivência pacífica. O delinquente deve ser punido pelo
mal que causou com a sua escolha. A ele, então, são aplicáveis as penas previstas no orde-
namento jurídico, utilizando-se a técnica dedutiva (a dedução é típica do Direito, lembre-se! A
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Criminologia usa técnica indutiva, mas nessa época a Criminologia ainda não havia nascido
propriamente como ciência, de modo que os clássicos são, sobretudo, juristas da área penal)
de subsumir uma conduta a uma norma penal incriminadora. Os clássicos consideram que o
crime é, antes de tudo, um ente jurídico. É necessário que haja uma previsão legal para que
uma conduta seja considerada criminosa.
A Escola Clássica não estava tão interessada em entender a razão pela qual alguém decide
cometer um crime. Mas foi a Escola Clássica que se preocupou, pela primeira vez, em funda-
mentar, delimitar e legitimar a pena. Em substituição ao sistema penal caótico e desumano do
Antigo Regime, a Escola Clássica forneceu um panorama legislativo humanitário e racional,
mostrando que a pena poderia e deveria ser útil, justa e proporcional.
Alguns dos principais expoentes são: Francesco Carrara, Feuerbach e Cesare Bonesana,
também conhecido como Marquês de Beccaria.

Século XVIII

Feuerbach

Marquês de Beccaria Dos Delitos e das Penas, 1764

Francesco Carrara

Crime como principal objeto

Crime é ente jurídico: infração à lei

Livre-arbítrio
Escola Clássica
Delinquente e não-delinquente são
essencialmente iguais

Criminologia Preocupação com penas justas, proprocionais e


previstas em lei

Método dedutivo e abstrato

Política Criminal baseada em princípios como


legalidade, humanidade, dignidade

Pena como retribuição ao mal causado

Pena baseada na responsabilidade moral

2.2. Positivistas
Opondo-se ao racionalismo dedutivo dos clássicos, os positivistas defendem a observa-
ção dos fenômenos criminais, com primazia para a experiência sensitiva humana. A ideia era
aplicar, nas ciências humanas, métodos oriundos das ciências naturais. Como não era possível
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realizar essa aplicação em relação às normas (grande objeto de estudo dos penalistas clás-
sicos), começa-se a estudar o próprio delinquente. Muitos autores identificam que aí nasce,
verdadeiramente, a Criminologia como ciência. Afinal, é nesse momento que a Criminologia
começa a se valer do método indutivo, empírico e multidisciplinar.
Para os positivistas, o livre-arbítrio era uma ilusão. O delinquente era escravo do determi-
nismo biológico ou do determinismo social. No determinismo biológico, acredita-se que di-
ferenças genéticas entre os indivíduos os tornam mais propensos ao crime. São doenças,
patologias que levam o indivíduo a se tornar um delinquente. No determinismo social, são as
características do ambiente social que levam um indivíduo ao crime. Em ambos os casos, não
há espaço para a escolha do indivíduo. Há, nessa Escola, muito interesse pelo estudo da etio-
logia do delito. Ou seja, com o positivismo a Criminologia passa a tentar entender a razão pela
qual uma pessoa comete um crime.
Para os positivistas, o crime não é uma entidade jurídica. Ele existe por si só, ou seja, onto-
logicamente.
É típica do pensamento clássico a adoção de penas proporcionais ao mal causado. A pena,
para os clássicos, é sobretudo retribuição. É característica do pensamento positivista a ado-
ção de medidas de segurança com finalidade curativa, pelo tempo em que persistisse a pato-
logia. A medida de segurança é uma medida de defesa social (defesa da sociedade) contra o
criminoso, que será sempre psicologicamente anormal.
Os principais expoentes do positivismo são:
• Cesare Lombroso, autor de “O Homem Delinquente”, responsável pela corrente antropo-
lógica do positivismo e considerado o pai da Criminologia;
• Enrico Ferri, autor de “Sociologia Criminal”, responsável pela corrente sociológica do
positivismo;
• Rafaelle Garofalo, autor de “Criminologia”, responsável pela corrente jurídica do positi-
vismo.
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Século XIX

Lombroso O Homem Delinquente, 1876

Garofalo Criminologia, 1885

Ferri Sociologia Criminal, 1900

Nascimento da Criminologia como Ciência

Método indutivo, empírico e interdisciplinar

Escola Positivista Criminoso como principal objeto

Crime existe ontologicamente


Criminologia
Determinismo

Delinquente é doente, anormal

Medida de segurança com finalidade


curativa

Medida de segurança baseada na


periculosidade

3. Escolas Sociológicas
As teorias sociológicas do crime podem ser agrupadas em duas grandes categorias: as
Teorias do Consenso e as Teorias do Conflito. As teorias do consenso partem do pressuposto
de existência de objetivos comuns a todos os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. São
também chamadas de funcionalistas ou integralistas.
As teorias do consenso mais cobradas em provas são: Escola de Chicago, Teoria da Ano-
mia, Teoria da Subcultura Delinquente e Teoria da Associação Diferencial.
As teorias do conflito, por outro lado, partem do pressuposto de que há força e coerção
na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e sujeição de outros. A
produção legislativa serviria para assegurar o triunfo da classe dominadora. Essas teorias são
também chamadas de argumentativas.

DICA:
Recurso Mnemônico
Teorias do Consenso: Chicago, Anomia, Subcultura e Associa-
ção.
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Teorias do Conflito: Crítica e Interacionismo Simbólico ou Eti-


quetamento.
É CONSENSO que todo mundo quer CASA.
O CONFLITO é que estamos em CRISE.

3.1. Teorias do Consenso


3.1.1. Escola de Chicago

Se propôs a discutir múltiplos aspectos da vida humana, todos relacionados com a vida na
cidade. Entre os anos 1920 e 1930, Robert Ezra Park, Ernest W. Burgess e seus alunos produ-
ziram mais de 20 obras sobre a ecologia urbana da cidade de Chicago. Os bairros de Chicago
são divididos e analisados de acordo com seus problemas sociais. Burgess desenvolve a teo-
ria das zonas concêntricas. Clifford Shaw e Henry McKay são outros dois nomes importantes
na Escola de Chicago. Preocupados com a delinquência juvenil, na obra Delinquency Areas,
demonstraram que, quanto mais perto do loop, maior a degradação e as taxas de criminalidade
dos bairros. Concluíram, também, que nas áreas criminais, o controle social informal é pouco
eficiente. A pessoa recém-chegada à cidade passa por um processo de desorganização social.
Há um sentimento de perda pessoal, rejeição de regras sociais, perda de raízes. A desorganiza-
ção social causa aumento de doenças, prostituição, insanidades, suicídios e crime.

3.1.2. Teoria da Associação Diferencial

Seu principal autor foi Edwin Sutherland, sociólogo norte-americano. No começo dos anos
40, Sutherland defendeu que o crime não é cometido somente por pessoas menos favoreci-
das. As pessoas aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por
base essa conduta. O processo de comunicação, é fundamental. A pessoa se torna criminosa
quando as definições favoráveis à violação da norma superam as definições desfavoráveis, em
um processo de imitação.

3.1.3. Crime do Colarinho Branco (White-Collar Crime)

Sutherland cunhou a expressão (white collar crime) em 1939. É o crime cometido no âmbi-
to da profissão por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social. A razão pela qual
esses crimes são cometidos é a mesma da criminalidade dos pobres: aprendizado somado a
definições favoráveis à violação da lei. Crimes difíceis de se detectar ou sancionar, em virtude
da “imunidade do negócio”. Crimes com efeitos significativos, porém difusos. É um tipo de cri-
minalidade organizada praticada pelos homens de negócio.
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3.1.4. Crime do Colarinho Branco no Brasil

O tema está, atualmente, em franca evidência. A Operação Lava Jato é citada como exem-
plo de quebra de paradigma. Banestado e Mensalão foram importantes precedentes. Algumas
leis foram importantes para essa alteração de cenário, como a Lei dos Crimes de Colarinho
Branco (Lei n. 7.492/1986) e a Lei de Lavagem de Dinheiro (Lei n. 9.613/1998). Impunidade
deixou de ser uma certeza para os poderosos, políticos ou financeiros.

3.1.5. Teoria da Anomia

Émile Durkheim: sociólogo francês (final séc. XIX). Há momentos em que a sociedade atra-
vessa transformações e perde a capacidade de exercer o papel de freio moral. A anomia é esse
estado de desregramento ou desintegração das normas sociais, produzindo uma situação de
transgressão ou de pouca coesão. O crime se torna um problema quando existe anomia. Caso
contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal e útil, porque permite que a consciên-
cia coletiva evolua.
Robert Merton: sociólogo (EUA), final dos anos 30. Adaptou a teoria do Durkheim para o
American Dream. As estruturas sociais e culturais apresentam objetivos e meios que têm, en-
tre outras, a função de fornecer uma base de previsibilidade e regularidade do comportamento
humano. No limite, quando a previsibilidade das condutas num grupo social é minimizada, pelo
espaçamento entre os objetivos e os meios, está configurada a anomia ou caos cultural. Os in-
divíduos procedem a adaptações individuais, que podem ser: conformidade; inovação (anomia
propriamente dita); ritualismo; retração e rebelião.
Talcott Parsons: sociólogo (EUA), 1951. Teoria do sistema social, aprofundando as ideias
de Merton. Considerou três duplas de fatores: atividade e passividade; predomínio conforma-
tivo e predomínio alienativo; e orientação para objetos sociais e orientação para normas. A
combinação deles ditará qual o tipo de resposta que uma pessoa dará a uma situação em que
há uma perturbação no quadro de expectativas.

3.1.6. Teoria Da Subcultura Delinquente

Desenvolvida na obra “Delinquent boys”, de Albert Cohen (EUA), 1955. Toda sociedade é
internamente diferenciada em numerosos subgrupos, ou subculturas, com maneiras de pensar
e agir: que lhe são peculiares; que as pessoas somente podem adquirir participando desses
grupos; e que alguém raramente deixará de adquirir se for um participante verdadeiro do grupo.
A subcultura, típica das gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo, a versa-
tilidade, o hedonismo de curto prazo e a autonomia de grupo.
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QUADRO SINÓPTICO DAS TEORIAS DO CONSENSO

Teoria Autores Ideia Principal

Robert Park
Ernest Burgess Desorganização social das grandes
Escola de Clifford Shaw cidades
Chicago Henry McKay Controle social informal enfraquecido
(1920-1930)

Émile Durkheim
Crime é normal e útil, a não ser quando
(fim séc. XIX)
Anomia ultrapassados certos limites
Robert Merton
Descompasso entre meios e objetivos
(1938)

Associação Edwin Sutherland Crime é aprendizado


Diferencial (1940) Crime do colarinho branco

Gangues são subculturas delinquentes


Subcultura Albert Cohen Não utilitarismo da ação, malícia,
Delinquente (1955) versatilidade, negativismo, hedonismo de
curto prazo e autonomia de grupo

Desorganização social das grandes


sociedades

Escola de Chicago Controle social informal enfraquecido

Robert Park, Ernest Burgess, Clifford


Shaw, Henry Mckay

Crime é normal e útil, a não ser


quando ultrapassados certos limites,
que configuram a anomia

Anomia Descompasso entre meios e


objetivos

Teorias do Émile Durkheim, Robert Merton,


Talcott Parsons
Consenso
Crime é aprendizado

O crime do colarinho branco é a


Associação Diferencial criminalidade dos poderosos. dificil
de detectar e sancionar

Edw in Sutherland

Gangues são subcultura delinquente

Subcultura Delinquente Não-utilitarismo da ação, malícia.


versatilidae. negativismo. hedonismo
de curto prazo e autonomia de
grupo
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3.2. Teorias do Conflito


3.2.1. Labelling Approach

Desenvolvida sobretudo nos EUA a partir da década de 1960. Também chamada de teoria
da rotulação; teoria do etiquetamento; teoria da reação social; teoria interacionista; interacio-
nismo simbólico. O controle social formal se consolidou como objeto da Criminologia em virtu-
de dessa escola, que nasceu nos anos de 1960, nos Estados Unidos. Estudar a realidade social
implica estudar os processos de interação individual ocorridos no seio da própria sociedade.
Reconhece o caráter constitutivo do controle social formal, considerado instrumento seletivo
e discriminatório. Deixa-se de questionar por que um indivíduo comete crimes, e passa-se a
indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o rótulo de desviada. Há abandono do
paradigma etiológico. Propuseram a política dos 4 Ds:
• Descriminalização (deixar de considerar certas condutas como criminosas);
• Diversão (diversificar a resposta aos problemas da sociedade);
• Devido processo legal (respeitar as regras do processo legal);
• Desinstitucionalização: (pensar em penas alternativas à prisão).

Os principais expoentes são Howard Becker e Erving Goffman.


No Brasil, a Reforma Penal de 1984, a Lei de Execução Penal e a Lei dos Juizados Especiais
Cíveis e Criminais são citadas como reflexo das ideias do labelling.

3.2.2. Criminologia Crítica

Desenvolvida a partir da década de 1970. Também chamada de Nova Criminologia ou Cri-


minologia Radical. Forte apelo às ideias de Karl Marx. Há relação direta entre o modo de pro-
dução capitalista e o funcionamento dos modos punitivos. Não se trata mais de descobrir as
razões da delinquência ou de lutar contra o crime, mas sim de abolir as desigualdades sociais
para equacionar o fenômeno delitivo. O Direito Penal e a própria Criminologia, como vinha sen-
do desenvolvida tradicionalmente, passam a ser objetos de estudo.
Os principais expoentes são William Chambliss, Alessandro Baratta, Taylor, Walton e Young.
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Controle social é seletivo,


discriminatório e
criminogêno

How ard Becker Outsiders, 1963

Manicômios, Prisões e
Erving Goffman
Labelling Approach / Conventos, 1961
Teoria da Reação Social/
Teoria da Rotulação/ Teoria Discriminalização
do Etiquetamento / Teoria Diversão (diversificação)
Interacionista (Déc. 60) Política dos 4Ds
Devido Processo Legal

Desistitucionalização

Brasil: Reforma Penal de


1984, LEP, juizados
Especiais

Relação direta entre o


modo de produção
capitalista e o
funcionamento dos modos
punitivos
Teorias
Sociológicas W illiam Chambliss (EUA)
Law , Order and Pow er,
do conflito 1971

Taylor, W alton e Young (


A nova Criminologia, 1973
ING)

Criminologia Crítica e
Alessandro Baratta (ITA /
Crítica do Direito Penal,
ALE)
1982

George Rusche e Otto Punição e Estrutura Social,


Kirchheimeir (ALE) 1939

Michel Foucault (FRA) Vigiar e punir, 1975

Criminolodia Dialética,
Roberto Lyra Filho
1972
Criminologia Crítica /
Criminologia Radical / A Criminologia Radical,
Juarez Cirino dos Santos
Nova Criminologia 1981
(Déc. 70) Brasil Introdução Crítica ao
Nilo Batista Direito Penal Brasileiro,
1990

Difíceis Ganhos Fáceis,


Vera Malaguti Batista
1998

América Latina Em Busca das Penas


Eugenio Raúl Zaffaroni
Perdidas, 1991
Argentina
Sociologia Jurídica do
Roberto Bergalli (ESP)
Controle Penal

Criminologia da Libertação,
Lola Aniyar de Castro
1987
Venezuela
América Latina e sua
Rosa del Olmo
Criminologia, 1981

Jeff Ferrell (EUA)

Criminologia Cultura Salo de Carvalho

Saulo Ramos Furquim


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4. Prevenção da Infração Penal no Estado Democrático de Direito


A prevenção delitiva é o conjunto de ações que buscam evitar a ocorrência do delito.
No Estado Democrático de Direito, a prevenção deve levar em consideração a complexa di-
nâmica criminal. Ações preventivas não são somente as atividades policiais e do Poder Judici-
ário. Todos os setores do Poder Público devem se envolver com o tema, agindo conjuntamente.

4.1. Prevenção Primária


A prevenção primária é aquela voltada para as causas do cometimento do crime. Ela se
preocupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste. É necessário, por exemplo,
que o Estado forneça educação, condições dignas de vida, moradia, salários justos, sanea-
mento básico, saúde, emprego, lazer. Esse tipo de prevenção opera a médio e longo prazo e se
destina à coletividade.
Como se orienta para as causas do crime, diz-se que essa é uma prevenção etiológica e é
considerada muito eficaz. No entanto, acabam sendo pouco empregadas por não apresenta-
rem resultados imediatos.
Aqui se encaixam as políticas públicas e os programas de prevenção do delito de inspira-
ção político-social: devem ser resolvidas as situações de carência, as desigualdades, os confli-
tos da sociedade, para que desapareçam as causas que levam à criminalidade.
O fortalecimento de vínculos sociais, de valores cívicos e da consciência sobre o cum-
primento das normas são, igualmente, medidas de prevenção primária quando destinadas à
coletividade como um todo (quando endereçadas a um grupo específico, são medidas de pre-
venção secundária).
A prevenção primária guarda, portanto, correlação com a prevenção indireta que estuda-
mos na classificação anterior.

4.2. Prevenção Secundária


Essa prevenção atua considerando os potenciais e eventuais criminosos e vítimas, além
dos locais e momentos em que os crimes ocorrem. Também pode ser chamada de prevenção
situacional, pois destina-se a neutralizar situações de risco. Ela é uma prevenção de curto a
médio prazo, voltada para atacar as oportunidades que oferecem maior atrativo para o infrator.
Não se interessa pelas causas do delito, mas sim pelos potenciais delinquentes e pelo modus
operandi – local, horário, vítima.
Trata-se de uma prevenção que coloca as oportunidades para o cometimento do crime em
primeiro plano. Parte-se da ideia de que pessoas de diferentes sexos, idades, classes sociais
têm diferentes chances de serem protagonistas de um delito ou de se tornarem vítimas desses
crimes. A política legislativa penal, a ação policial, o controle social penal se encaixam nesse
tipo de prevenção.
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Dentro da ideia de prevenção secundária se encontram, também, as práticas derivadas do


routine activity approach, ou enfoque das atividades cotidianas, que advêm da teoria das ati-
vidades rotineiras, típica do modelo clássico e neoclássico da opção racional (vimos isso na
aula 2!). Como já analisamos, para esse enfoque, o crime ocorre quando convergem em tempo
e espaço os seguintes elementos: delinquente motivado; objetivo alcançável; e ausência de
guardião habilitado a prevenir a prática.
Na ideia de prevenção secundária, portanto, as dimensões pessoais (quem comete cri-
mes? quem são as principais vítimas?), temporais (quando acontecem os crimes?) e espaciais
(onde acontecem os crimes? quais são os hot spots?) ganham importância, pois é nessas
variáveis que se busca intervir.
Assim, o investimento em policiamento ostensivo, as ideias de alteração do ambiente físi-
co, por meio de propostas arquitetônicas e urbanísticas (iluminação de hot spots, embeleza-
mento de ambientes públicos, limpeza e ocupação de ambientes degradados); de colocação
de barreiras físicas (cadeados, muros, grades, cancelas ou outros métodos de dificultar o aces-
so ao alvo – target hardening); de emprego de técnicas de vigilância de ambientes (câmeras,
vigilância pessoal, ronda de veículos de segurança); de controle dos meios de comunicação
(determinação de que certos assuntos não sejam noticiados, tais como suicídios); de marca-
ção da propriedade ou da coisa subtraída (tinta rosa nas cédulas de dinheiro obtidas com a
explosão de um caixa eletrônico); e de potencialização da culpa (campanhas fortes e tocantes
sobre o abuso de menores ou sobre a condução sob efeito de álcool, destinadas a grupos e
problemas específicos de uma sociedade) são mecanismos típicos de prevenção secundárias,
pois buscam atuar na diminuição das oportunidades do crime.
A prevenção secundária guarda, portanto, correlação com a prevenção direta que estuda-
mos na classificação anterior.
Para García-Pablos de Molina, essas ideias de prevenção secundária legitimam a “ideolo-
gia de segurança” ou “segurança cidadã”, que, apesar do nome vinculado à ideia de cidadania,
impõe práticas não solidárias e pode levar a excessos de vigilância, por trazer implícita uma
ideia de cruzada contra as situações criminógenas. Nessa ideologia de segurança cidadã, o
medo da população cresce; o combate à criminalidade dos poderosos fica em segundo plano,
pois o que interessa é o crime das ruas; movimentos políticos de populismo penal ganham
força; e verifica-se o desprezo pelas garantias dos cidadãos. Essa ideologia é, por isso, muito
perigosa e considerada uma involução.
No entanto, apesar de todos esses perigos e de não modificar a situação fática que está
na base do problema delitivo, essa é a modalidade de prevenção mais presente na atuação
do Estado, pois ela fornece, em teorias, resultados mais rápidos e diretamente relacionados à
prática criminal.
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4.3. Prevenção Terciária


Trata-se da prevenção voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem a
delinquir. Busca afastar a reincidência e a estigmatização.
São programas que pretendem a não consolidação do status de desviado.
Incentiva-se, por exemplo, a adoção de alternativas à pena privativa de liberdade, que é es-
tigmatizante. Tenta-se humanizar a pena, fornecendo um ofício ou educação para o preso, para
que ele se sinta em condições de voltar à vida em sociedade ao fim do cumprimento da pena.
A prevenção terciária enfrenta o fenômeno criminal muito tardiamente: quando ele já ocor-
reu. A ideia é, então, evitar as cerimônias degradantes típicas das instâncias de controle social
formal e fornecer à pena um fim utilitário, um efeito positivo (tratar, ensinar um ofício, fornecer
terapia, educar) e um caráter compatível com os postulados de dignidade da pessoa humana.
Os altos índices de reincidência, de filiação de presos às facções criminosas e de delinqu-
ência dentro do próprio cárcere demonstram a atual incapacidade do Estado brasileiro de lidar
de forma satisfatória com a prevenção terciária.

Não confunda essa classificação de prevenção (primária, secundária e terciária) com a classi-
ficação relativa ao processo de criminalização, que utiliza as mesmas categorias:
• criminalização primária: é aquela realizada pelo legislador ao criar os tipos penais;
• criminalização secundária: é a ação punitiva exercida sobre pessoas concretas;
• criminalização terciária: é a estigmatização realizada pelo sistema prisional durante a
execução da pena.
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Causas do crime

Médio e longo prazo


Primária Coletividade

Ex: moradia, educação,


emprego

Situações de risco

Curto e médio prazo

Secundária Oportunidades e grupos


Prevenção vulneráveis

Ex: policiamento, grades,


campanhas sobre delitos
específicos

Ressocialização

Presos e egressos
Terciária Age tardiamente

Ex: remição da pena, regime


progressivo, laborterapia,
penas alternativas

5. Modelos de Reação ao Delito


Uma das funções da Criminologia é fazer uma avaliação dos diferentes modelos de res-
posta ao crime. Vamos analisar agora como a Criminologia tem classificado esses modelos.
São basicamente três modelos: o dissuasório; o ressocializador; e o integrador.
Os modelos não são necessariamente excludentes entre si. Um país pode adotar algumas
práticas típicas de um modelo, e outras relacionadas com outros modelos.

5.1. Modelo Dissuasório (Clássico)


A pretensão punitiva do Estado – por meio da prevenção e imposição de uma pena – pro-
duz o efeito de dissuadir as pessoas à prática criminal. Baseia-se na ideia da racionalidade do
criminoso. É importante que o sistema de persecução penal conte com normas completas e
órgãos sólidos. Posições centrais são ocupadas pelo Estado e pelo delinquente. Defende-se o
recrudescimento do sistema penal como forma de prevenção do delito. Pode facilmente levar
a excessos punitivistas.
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5.2. Modelo Ressocializador


Tem como objetivo a reinserção social do infrator. É considerado um modelo mais hu-
manista, se comparado com o modelo dissuasório. O papel central é ocupado pela pessoa
delinquente.

5.3. Modelo Integrador (Restaurador, Consensual, Reparador)


O delito não é apenas um problema entre o Estado e o criminoso: há outras expectativas
dentro do fenômeno criminal. Assim, o modelo integrador busca conciliar o conflito, reparar
o dano e pacificar as relações sociais. Propugna as ideias de “Justiça restaurativa”: procedi-
mentos de mediação, conciliação e reparação. Resgate da dimensão interpessoal do crime: os
envolvidos devem realizar a gestão participativa do conflito. Geralmente, ficam de fora do al-
cance dos procedimentos de justiça restaurativa tanto os delitos muito graves como os delitos
muito leves. Confere à vítima papel mais ativo na resposta do delito.

Pretensão punitiva tem o


poder de dissuadir

Dissuasório Racionalidade do cnmmoso


(Clássico)
Sistema Penal sólido

Posição central: Estado e delinquente

Reinserção social do infrator


Solidariedade social
Modelos de
Ressocializador Humanismo: preocupação
Reação ao com a dignidade do infrator
Crime Posição central: delinquente

Conciliação de todas as
expectitivas do fenômeno
criminal

Integrador (Restaurador, Justiça restaurativa


Consensual, Reparador)
Gestão participativa do delito

Posição central: Estado.


delinquente e vítima
AULA ESSENCIAL
Criminologia
Mariana Barreiras

QUESTÕES DE CONCURSO
001. (CESPE/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/2018/Q949267) Afirmar que a criminolo-
gia é interdisciplinar e tem o empirismo como método significa dizer que esse ramo da ciência:
a) utiliza um método analítico para desenvolver uma análise indutiva.
b) considera os conhecimentos de outras áreas para formar um conhecimento novo, se afir-
mando, então, como independente.
c) utiliza um método silogístico.
d) utiliza um método racional de análise e trabalha o direito penal de forma dogmática.
e) é metafísica e leva em conta os métodos das ciências exatas para o estudo de seu objeto.

A criminologia constrói seu saber a partir de análises do fenômeno criminal. Ela se vale do
conhecimento integrado de vários ramos do saber (interdisciplinaridade) e da observação do
mundo fático (empirismo). Assim, analisa a realidade fática e, a partir dessa observação de
casos, chega a formulações genéricas sobre o fenômeno analisado, numa operação de indu-
ção (parte do específico para chegar ao geral). Na letra b, a criminologia é, certamente, uma
ciência autônoma, mas “dependente” no sentido de necessitar dos aportes de outras áreas. Na
letra c, a criminologia não emprega o método silogístico, que é um tipo de argumento lógico
que aplica o raciocínio dedutivo (o oposto do raciocínio indutivo, típico da criminologia) para
chegar a uma conclusão. Na letra d, a criminologia não trabalha de forma dogmática. O direito
penal é dogmático, parte de dogmas para criar tipos penais e as respectivas penas. Na letra
e, a criminologia não é uma ciência metafísica. A metafísica busca conhecer a essência das
coisas, se ocupa do supremo na hierarquia dos seres, enquanto a criminologia é empírica, se
baseia em fatos e não pretende divagar abstratamente sobre a essência do crime. Por fim, a
criminologia se vale do empirismo, método típico das ciências naturais, mas não se vale dos
métodos rigorosos das ciências exatas, com predições e medições precisas e quantificáveis.
Letra a.

002. (CESPE/PC-PE/DELEGADO DE POLÍCIA/2016/Q815973) A criminologia moderna:


a) é uma ciência normativa, essencialmente profilática, que visa oferecer estratégias para mi-
nimizar os fatores estimulantes da criminalidade e que se preocupa com a repressão social
contra o delito por meio de regras coibitivas, cuja transgressão implica sanções.
b) ocupa-se com a pesquisa científica do fenômeno criminal — suas causas, características,
sua prevenção e o controle de sua incidência —, sendo uma ciência causal-explicativa do delito
como fenômeno social e individual.
c) ocupa-se, como ciência causal-explicativa-normativa, em estudar o homem delinquente em
seu aspecto antropológico, estabelece comandos legais de repressão à criminalidade e des-
preza, na análise empírica, o meio social como fatores criminógenos.
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Criminologia
Mariana Barreiras

d) é uma ciência empírica e normativa que fundamenta a investigação de um delito, de um de-


linquente, de uma vítima e do controle social a partir de fatos abstratos apreendidos mediante
o método indutivo de observação.
e) possui como objeto de estudo a diversidade patológica e a disfuncionalidade do comporta-
mento criminal do indivíduo delinquente e produz fundamentos epistemológicos e ideológicos
como forma segura de definição jurídico-formal do crime e da pena.

A criminologia é uma ciência que se ocupa do estudo do crime, do criminoso, da vítima e do


controle social. Considera o crime um fenômeno social e individual e tenta compreender as ca-
racterísticas e as causas do delito para fornecer explicações sobre o fenômeno, se ocupando
também da prevenção e da ressocialização. Na letra a, a criminologia não é normativa (não
se vale de regras coibitivas) e nem essencialmente profilática (preventiva), já que parte da ob-
servação de muitos crimes que já aconteceram efetivamente. Na letra c, a criminologia não é
normativa, não estabelece comandos legais de repressão e não despreza o meio social como
fator criminógeno. Na letra d, a criminologia não é normativa e, em suas análises, não parte
de fatos abstratos, mas sim da observação da realidade. Na letra e, a criminologia analisa pa-
tologias e disfuncionalidades, mas para compreender o delinquente e jamais com o intuito de
produzir fundamentos epistemológicos e ideológicos para a definição jurídico-formal do crime
e da pena.
Letra b.

003. (CESPE/DPF/DELEGADO/2013/Q788068) Julgue o item a seguir, relacionados aos mo-


delos teóricos da criminologia.
O positivismo criminológico caracteriza-se, entre outros aspectos, pela negação do livre arbí-
trio, pela crença no determinismo e pela adoção do método empírico-indutivo, ou indutivo-ex-
perimental, também apresentado como indutivo-quantitativo, embasado na observação dos
fatos e dos dados, independentemente do conteúdo antropológico, psicológico ou sociológico,
como também a neutralidade axiológica da ciência.

Essa é uma questão difícil, mas não tanto pelo conteúdo em si quanto pela redação ambígua
do enunciado, especificamente no tocante ao termo “independentemente”. O que o enuncia-
do quer dizer, resumidamente, é: O positivismo criminológico caracteriza-se pela negação do
livre arbítrio, pela crença no determinismo, pela adoção do método empírico-indutivo e pela
neutralidade axiológica da ciência, independentemente do fato de um dado autor positivista
ter um viés mais antropológico, psicológico ou sociológico. Lido dessa maneira o enunciado
está correto: a criminologia positivista é empírica, é indutiva, acredita que o livre-arbítrio é uma
ilusão, defende o determinismo, não se aproxima do delito para julgá-lo, ou seja, não faz juízos
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Criminologia
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de valores, juízos axiológicos (neutralidade axiológica), mas sim tenta entender as razões para
o cometimento de um delito. Todos esses postulados foram empregados por autores posi-
tivistas independentemente do viés antropológico, psicológico ou sociológico de seus estu-
dos. Ocorre que, na leitura do enunciado, podemos fazer outra interpretação – absolutamente
possível do ponto de vista da estrutura da frase – do sentido do termo “independentemente”.
Nessa outra possibilidade de interpretação, concluiríamos que o positivismo não dependia de
conteúdos antropológicos, sociológicos ou psicológicos, o que é evidentemente equivocado.
Lombroso utilizou aportes antropológicos e psicológicos, ao falar de atavismo e da categoria
de louco moral. Ferri inaugurou a sociologia criminal. Logo, o candidato que faz essa segunda
interpretação possível do termo “independentemente” acaba avaliando, naturalmente, que o
enunciado está errado.
Certo.

004. (CEBRASPE/PC-SE/DELEGADO DE POLÍCIA/2018/Q1013844) Em seu início, a socio-


logia criminal buscava associar a gênese delituosa a fatores biológicos. Posteriormente, ela
passou a englobar as chamadas teorias macrossociológicas, que não se limitavam à análise
do delito segundo uma visão do indivíduo ou de pequenos grupos, mas consideravam a socie-
dade como um todo.
Tendo esse fragmento de texto como referência inicial, julgue o item a seguir, relativo a teorias
sociológicas em criminologia.
Na perspectiva macrossociológica, o pensamento criminológico moderno é influenciado por
duas visões: a das teorias de consenso e a das teorias de conflito.

As duas grandes linhas das perspectivas sociológicas da Criminologia – aí incluídas as pers-


pectivas macrossociológicas – são as teorias do consenso e do conflito.
Certo.

005. (CESPE/DPF/DELEGADO/2013) Julgue o item a seguir, relacionados aos modelos teóri-


cos da criminologia.
As ideias sociológicas que fundamentam as construções teóricas de Merton e Parsons obede-
cem ao modelo da denominada sociologia do conflito.

Robert Merton e Talcott Parsons desenvolveram a Teoria da Anomia, que obedece ao modelo
da denominada sociologia do consenso.
Errado.

006. (CESPE/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/2018/Q949270) De acordo com a teoria


de Sutherland, os crimes são cometidos:
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Mariana Barreiras

a) em razão do comportamento das vítimas e das condições do ambiente.


b) por pessoas de baixa renda, exatamente em razão de sua condição socioeconômica des-
privilegiada.
c) em razão do comportamento delinquente herdado, ou seja, de origem biológica.
d) por pessoas que sofrem de sociopatias ou psicopatias.
e) por pessoas que convivem em grupos que realizam e legitimam ações criminosas.

Edwin Sutherland é o principal autor da teoria da associação diferencial. Para Sutherland, o cri-
me não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas aprendem a condu-
ta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa conduta. Esse processo
é tanto mais intenso quanto mais íntimas as relações estabelecidas pelo indivíduo. As pesso-
as, então, interagem em grupos, aprendem umas com as outras, se associam, mas não para
seguir os padrões da sociedade, e sim para agir de modo diferente (praticando delitos). Daí o
nome associação diferencial.
Letra e.

007. (CESPE/DPF/DELEGADO/2013/Q788071) No que se refere à prevenção da infração pe-


nal, julgue o próximo item.
Ações como controle dos meios de comunicação e ordenação urbana, orientadas a determi-
nados grupos ou subgrupos sociais, estão inseridas no âmbito da chamada prevenção secun-
dária do delito.

A prevenção secundária se preocupa com a desconstrução de oportunidades para o crime,


considerando os grupos mais vulneráveis à delinquência e à vitimização e os locais e momen-
tos em que os delitos são cometidos. Controle dos meios de comunicação e ordenação urba-
na, orientadas a determinados grupos ou subgrupos sociais, são típicos exemplos de medidas
de prevenção secundária.
Certo.

008. (CESPE/PC-SE/DELEGADO/2018/Q1013849) No que se refere à prevenção da infração


penal no Estado democrático de direito, julgue o próximo item.
A prevenção terciária da infração penal consiste em medidas de longo prazo, como a garantia
de educação, a redução da desigualdade social e a melhoria das condições de qualidade de
vida, enquanto a prevenção primária é voltada à pessoa reclusa e visa à sua recuperação e
reintegração social.
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Criminologia
Mariana Barreiras

É exatamente o oposto. A prevenção primária é aquela voltada para as causas do cometimento


do crime. Ela se preocupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste. É necessário,
por exemplo, que o Estado forneça educação, condições dignas de vida, salários justos, saúde,
emprego. Esse tipo de prevenção opera a médio e longo prazo e se destina à coletividade. Já a
prevenção terciária é voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem a delin-
quir. Busca afastar a reincidência.
Errado.

009. (CESPE/PC-MA/DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL/2018/Q949274) A criminologia consi-


dera que o papel da vítima varia de acordo com o modelo de reação da sociedade ao crime.
No modelo:
a) clássico, a vítima é a responsável direta pela punição do criminoso, sendo figura protagonis-
ta no processo penal.
b) ressocializador, busca-se o resgate da vítima, de modo a reintegrá-la na sociedade.
c) retribucionista, o objetivo restringe-se ao ressarcimento do dano pelo criminoso à vítima.
d) da justiça integradora, a vítima é tida como julgadora do criminoso.
e) restaurativo, o foco é a participação dos envolvidos no conflito em atividades de reconcilia-
ção, nas quais a vítima tem um papel central.

O modelo restaurativo, ou integrador, com discurso positivo e otimista, propõe mediação, con-
ciliação e reparação para apaziguar as situações decorrentes do fenômeno criminal. Trata-se
de resgatar a dimensão interpessoal do crime: os envolvidos devem realizar a gestão participa-
tiva do conflito. O modelo integrador é o que confere à vítima o papel mais ativo na resposta do
delito. Na letra a, o modelo dissuasório clássico confia na pretensão punitiva do Estado – por
meio da prevenção e imposição de uma pena –, que produz o efeito de dissuadir as pessoas
à prática criminal. Vítima e comunidade ocupam posições marginais no modelo dissuasório.
Posições centrais são ocupadas pelo Estado e pelo delinquente. Na letra b, o modelo ressocia-
lizador busca o resgate e a reinserção social do infrator, e não da vítima. Na letra c, o modelo
de reação ao delito com viés retribucionista é o modelo clássico, em que não há preocupação
com o ressarcimento da vítima. Na letra d, apesar de a vítima recuperar um pouco de seu pro-
tagonismo no modelo integrador, não há que se falar em julgamento do criminoso pela vítima.
Esse papel cabe ao Estado.
Letra e.
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Criminologia
Mariana Barreiras

010. (CESPE/PC-GO/DELEGADO DE POLÍCIA SUBSTITUTO/2017/Q840500) Em busca do


melhor sistema de enfrentamento à criminalidade, a criminologia estuda os diversos modelos
de reação ao delito. A respeito desses modelos, assinale a opção correta.
a) De acordo com o modelo clássico de reação ao crime, os envolvidos devem resolver o
conflito entre si, ainda que haja necessidade de inobservância das regras técnicas estatais de
resolução da criminalidade, flexibilizando-se leis para se chegar ao consenso.
b) Conforme o modelo ressocializador de reação ao delito, a existência de leis que recrudes-
cem o sistema penal faz que se previna a reincidência, uma vez que o infrator racional irá so-
pesar o castigo com o eventual proveito obtido.
c) Para a criminologia, as medidas despenalizadoras, com o viés reparador à vítima, condizem
com o modelo integrador de reação ao delito, de modo a inserir os interessados como prota-
gonistas na solução do conflito.
d) A fim de facilitar o retorno do infrator à sociedade, por meio de instrumentos de reabilitação
aptos a retirar o caráter aflitivo da pena, o modelo dissuasório de reação ao crime propõe uma
inserção positiva do apenado no seio social.
e) O modelo integrador de reação ao delito visa prevenir a criminalidade, conferindo especial
relevância ao ius puniendi estatal, ao justo, rápido e necessário castigo ao criminoso, como
forma de intimidação e prevenção do crime na sociedade.

Medidas despenalizadoras, como é o caso da transação penal e da suspensão condicional do


processo, são exemplos de respostas típicas do modelo consensual ou integrador, que leva em
consideração o fato de que o delito não é apenas um problema entre o Estado e o criminoso:
há outras expectativas dentro do fenômeno criminal. Assim, o modelo integrador busca conci-
liar o conflito, reparar o dano e pacificar as relações sociais. Também é chamado de modelo re-
parador, restaurador, restaurativo, consensual ou, ainda, de justiça criminal negociada. Na letra
a, no modelo clássico ou dissuasório, o foco reside na pretensão punitiva do Estado: por meio
da prevenção e imposição de uma pena proporcional ao dano causado, produz-se o efeito de
dissuadir as pessoas da prática criminal. Na letra b, o modelo ressocializador se preocupa em
afastar a reincidência, mas não em função do recrudescimento do sistema penal, e sim da
imposição de penas que não sejam estigmatizantes e criminógenas, ou seja, que proponham
uma inserção positiva do apenado no seio social. Na letra d, a inserção positiva do apenado
no seio social faz parte do modelo ressocializador. Na letra e, o modelo que confere especial
relevância ao “ius puniendi” estatal é o modelo dissuasório. O modelo integrador não está cen-
trado no jus puniendi, e sim na aproximação e diálogo entre as partes envolvidas no conflito,
para que se pacifiquem as relações.
Letra c.
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Criminologia
Mariana Barreiras

GABARITO
1. a 5. E 9. e
2. b 6. e 10. c
3. C 7. C
4. C 8. E

Mariana Barreiras
Servidora pública federal desde 2009. Graduada em Direito e Mestre em Direito Penal e Criminologia pela
Universidade de São Paulo (USP). Professora de Legislação de Interesse da Atividade de Inteligência, Direito
Penal e Criminologia em cursos preparatórios para concurso público. Autora do livro “ABIN - Legislação de
Inteligência Sistematizada e Comentada”, publicado pela editora JusPodivm. Foi Assessora Técnica da
Comissão Nacional da Verdade da Presidência da República (2012 a 2014). Foi Agente de Promotoria do
Ministério Público do Estado de São Paulo (2006-2009). Lecionou as disciplinas Direito Penal e Criminologia
na Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino. Foi membro de diversas
coordenações do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, tendo orientado pesquisas do Laboratório de
Iniciação Científica. Coautora do livro “Criminologia e os problemas da atualidade” e autora de artigos nos
temas de Direito Penal e Criminologia.

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