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CRIMINOLOGIA
Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
Mariana Barreiras
Sumário
Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia..................................................................................3
Apresentação......................................................................................................................................................................3
1. Criminologia: Conceito. Cientificidade. Objeto. Métodos.......................................................................4
1.1. Conceito..........................................................................................................................................................................4
1.2. Cientificidade..............................................................................................................................................................4
1.3. Objeto...............................................................................................................................................................................5
1.4. Métodos.......................................................................................................................................................................12
1.5. Funções.........................................................................................................................................................................15
1.6. Sistema: Criminologia, Política Criminal e Direito Penal.................................................................18
Resumo.................................................................................................................................................................................21
Mapas Mentais. . .............................................................................................................................................................. 24
Questões de Concurso................................................................................................................................................26
Gabarito...............................................................................................................................................................................36
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................37
Referências........................................................................................................................................................................57
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Boa aula!!! Vamos com tudo!
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Já de largada, vamos mencionar dois pontos que as bancas adoram. Em primeiro lugar, são
muitas as perguntas sobre os objetos da criminologia. Lembrem-se que eles são, principal-
mente, quatro: crime, criminoso, vítima e controle social. Ou seja, a criminologia estuda: o
crime em si, quem o pratica, quem o sofre e quem o combate.
Outro ponto que as bancas adoram é o termo “Etiologia”. Ele se refere ao estudo das causas
da criminalidade. A criminologia, ao analisar o fenômeno criminal e seu autor, busca, por vezes,
a etiologia do crime, isto é, as causas do cometimento do delito. E às vezes, as bancas usam
palavras parecidas apenas para confundir o(a) candidato(a), como, por exemplo, “Etimologia”.
Esses dois tipos de questão você não vai errar!
Enquanto o Direito Penal valora a sociedade, estabelecendo o que pode e o que não pode
ser feito e prevendo a aplicação de sanções para o descumprimento das normas, a Criminolo-
gia se encarrega de encarar o fenômeno criminal de forma objetiva, sem conotação valorativa,
sem mediação, sem julgamentos.
Em boa síntese:
Cabe definir a Criminologia como ciência empírica e interdisciplinar, que se ocupa do estudo do
crime, da pessoa do infrator, da vítima e do controle social do comportamento delitivo, e que trata
de subministrar uma informação válida, contrastada, sobre a gênese, dinâmica e variáveis principais
do crime – contemplando este como problema individual e como problema social –, assim como
sobre os programas de prevenção eficaz do mesmo e técnicas de intervenção positiva no homem
delinquente e nos diversos modelos ou sistemas de resposta ao delito1.
1.2. Cientificidade
A Criminologia é uma ciência. Possui objeto de estudo próprio, utiliza métodos científicos
e fornece informações válidas sobre o fenômeno criminal. Não se baseia em intuições, “achis-
mos”, mas sim em marcos teóricos que vêm sendo construídos há mais de um século.
1
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luis Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos; introdu-
ção às bases criminológicas da Lei n. 9.099/1995, Lei dos Juizados Especiais Criminais. 5. ed. São Paulo: RT, 2006. p. 33.
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Lembre-se, entretanto, de que é uma ciência humana, não exata. Assim, a informação que
essa ciência fornece é válida, confiável, porém não exata ou definitiva. Os criminólogos obser-
vam a realidade, analisam dados, transformam-nos em informações, mas não buscam leis uni-
versais irrefutáveis que estabeleçam relações de causa e efeito entre as pessoas e os fenôme-
nos criminais. Em vez de tentar fixar regras de causalidade, a Criminologia busca correlações,
fatores que interliguem pessoas e eventos criminais.
1.3. Objeto
Vamos agora analisar separadamente os quatro principais objetos da Criminologia, que, a
essa altura, já sabemos serem quatro: delito, delinquente, vítima e controle social. A principal
ideia, aqui, é entendermos em que momento eles passaram a ser estudados pela Criminologia.
Para ficar bem didático, vamos considerar que a Criminologia nasce por volta dos séculos XVIII
e XIX. No século XVIII temos os chamados autores clássicos, e no século XIX, os positivistas.
Essa distinção entre clássicos e positivistas vai aparecer bastante nas próximas aulas, é bas-
tante cobrada em provas e é importante para entender como a Criminologia foi, com o passar
do tempo, incorporando novos objetos à sua análise.
Delito
O crime é o objeto por excelência da criminologia. Desde o século XVIII ele é analisado
pelos autores clássicos, que eram essencialmente juristas da área penal, e não exatamente
criminólogos. Segundo os autores clássicos do direito penal, as pessoas possuem livre-arbí-
trio, ou seja, podem fazer escolhas. O cometimento de um crime é fruto de uma decisão que
implica quebra do pacto social de convivência pacífica. O delinquente deve ser punido pelo
mal que causou com a sua escolha. A ele, então, são aplicáveis as penas previstas no ordena-
mento jurídico, utilizando-se a técnica dedutiva de subsumir uma conduta a uma norma penal
incriminadora.
Os clássicos utilizam o método dedutivo. Nele, parte-se de uma lei ou teoria geral, abstrata,
para chegar a conclusões relativas a questões particulares. Eles partiam da lei penal para apli-
car uma pena justa, proporcional ao cometimento do crime. Preste atenção porque isso vai
mudar com os positivistas e é algo bastante cobrado em provas!
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metade do século XVIII. O indivíduo escolhe ou não obedecer às leis, mas o Estado não pode
escolher tratamentos cruéis e desumanos.
Então, desde essa fase, ainda chamada de pré-científica da Criminologia, o crime era anali-
sado, mas com essa ótica bastante jurídica, orientada à proporcionalidade das penas.
Atualmente, com a Criminologia já consolidada como ciência, há uma distinção entre o
conceito de delito para a Criminologia e o conceito de delito para o Direito Penal. Juridicamen-
te, crime é o fato típico, ilícito e culpável, ou seja, em resumo bem apertado, pode-se dizer que
uma conduta é delitiva para o Direito Penal se ela se submete à descrição de uma norma penal
proibitiva (é típica, está descrita em um tipo penal); não se encaixa em nenhuma das hipóteses
de exclusão da ilicitude (estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular do direito e
estrito cumprimento do dever legal); e é reprovável.
Para a Criminologia, no entanto, os requisitos a serem preenchidos para que uma conduta
seja considerada criminosa são outros.
Segundo Sérgio Salomão Shecaira, uma conduta, para ser considerada crime pela Crimino-
logia, deve apresentar:
• incidência massiva na população: não devem ser consideradas criminosas as condutas
isoladas, que não se reiteram. Segundo esse critério, não é razoável, por exemplo, crimi-
nalizar a conduta de molestar cetáceo (baleias, golfinhos), pois não é algo que ocorre
com frequência no país. Não obstante, temos no Brasil a Lei n. 7.643/1987, que estabe-
lece pena de 2 a 5 anos de reclusão para quem infringir a regra do art. 1º: – “fica proibida
a pesca, ou qualquer forma de molestamento intencional, de toda espécie de cetáceo
nas águas jurisdicionais brasileiras”;
• incidência aflitiva: crime é algo que causa dor. Não devem ser previstas como crimes
condutas que não causem sofrimento. Segundo esse critério, não é razoável que seja
considerada crime, por exemplo, a conduta de utilizar o termo “couro sintético” para de-
nominar produtos que não sejam obtidos exclusivamente de pele animal, mas a Lei n.
4.888/1965 previa que essa conduta configurava o crime de concorrência desleal;
• persistência espaço-temporal: se a conduta não se distribui por nosso território ao longo
de um certo tempo, não deve ser criminalizada. Imagine, por exemplo, um país que não
receba muitos turistas. Nesse caso, é impensável defender a criminalização específica
da conduta de aplicar golpes em turistas, ou aplicar uma pena mais alta a essa prática
se comparada ao estelionato comum;
• inequívoco consenso social: é necessário que haja inequívoco consenso social sobre a
razoabilidade de se criminalizar a conduta. Ainda, por exemplo, que se saiba que o álcool
é uma droga e que produz consequências nefastas, não há consenso sobre a razoabili-
dade de se proibir o seu uso e comércio2.
2
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 2. ed. São Paulo: RT, 2008. p. 50 e ss.
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Delito e crime podem ser usados como sinônimo. No Direito Penal, crime (ou delito) e con-
travenção são espécies do gênero infração penal. Em linhas gerais, pode-se dizer que a contra-
venção é um crime menor, menos grave. A Criminologia utiliza, normalmente, o termo delito ou
crime para se referir a todas as infrações penais.
Persistência espaço-temporal
Culpabilidade
Inequívoco consenso social
Delinquente
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piedade. Aqui se encaixam as reprovações, no ordenamento jurídico brasileiro, dos atos infra-
cionais praticados por adolescentes.
Já para as teorias socialistas, como veremos nas próximas aulas, a sociedade joga um
papel importante na definição de alguém com criminoso.
Para o marxismo, por sua vez, a sociedade é culpável pelo crime. O delinquente é vítima
inocente e fungível (substituível) das estruturas econômicas injustas da sociedade.
Essas visões não são necessariamente excludentes entre si. O delinquente pode estar su-
jeito às influências do meio, mas ser capaz de superá-las por sua vontade. Todas essas cor-
rentes serão analisadas nas próximas aulas, mas o que dissemos até aqui já demonstra como
foi esse momento de ingresso – com o positivismo – do delinquente na lista dos objetos de
estudo da Criminologia.
Vítima
Em relação à vítima, os estudos criminais, de maneira geral, passaram por três gran-
des momentos.
• Idade de ouro da vítima: perdura desde os primórdios da civilização até o fim da Alta
Idade Média. Nessa época, havia a possibilidade de autotutela, ou seja, de fazer justiça
pelas próprias mãos. Hoje, a autotutela é crime. Trata-se do delito de exercício arbitrário
das próprias razões, do art. 345 do Código Penal:
Atualmente, no Brasil, existe previsão de pena de morte no Código Penal Militar para crimes
militares em tempo de guerra, tais como: traição; espionagem; favorecimento do inimigo; ali-
ciação de militar; ato prejudicial à eficiência da tropa; fuga em presença do inimigo; motim;
revolta; conspiração; rendição; epidemia; envenenamento ou corrupção (poluição) de água po-
tável, forragem ou víveres, dentre outros.
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Foi durante a era de ouro da vítima que se desenvolveu o processo penal acusatório, em
que as funções de acusar, julgar e defender estavam em mãos distintas. As partes tinham
iniciativa probatória, diante de um juiz inerte, que não podia produzir as provas independente-
mente da provocação do autor e do réu.
• Neutralização do poder da vítima: essa fase tem início com a adoção do processo penal
inquisitivo, no século XII. Em oposição ao processo acusatório, o processo inquisitivo
concentra as funções de acusar e julgar nas mãos do juiz, ou seja, o juiz passou a ter a
iniciativa da própria acusação ao mesmo tempo em que continuava a exercer a compe-
tência de julgar a causa. A ideia inicial era diminuir a impunidade, já que essa acabava
sendo a consequência em muitos casos quando a iniciativa extremamente dispendiosa
de acusar estava nas mãos de um particular durante o processo acusatório. No entanto,
o processo inquisitório acabou se revelando problemático por dificultar a imparcialidade
do juiz, que deixou de ser um árbitro e passou a ser um inquisidor.
Nessa fase de neutralização, a vítima perdeu, portanto, o poder de reação ao fato delituoso,
que passou para as mãos da Administração Pública. A pena não era mais dirigida a compensar
a dor da vítima ou mesmo determinada em função dessa dor. A sanção penal passou a ser
uma garantia para o grupo social de que eles podiam ter expectativa na norma, pois a frustra-
ção de seus comandos geraria uma consequência. Desapareceu, nessa fase, a autotutela. A
vítima perdeu seu poder na persecução penal.
• Revalorização do poder da vítima: essa fase tem início no século XVIII e perdura até os
dias atuais. Percebe-se que a vítima havia sido esquecida pelo processo criminal e con-
sidera-se necessário recuperar certa parcela de seu protagonismo. Os autores penalis-
tas clássicos (séculos XVIII) começam a mencionar a importância da vítima, mas é com
a consolidação da Criminologia que os discursos de que a vítima deve ter proeminência
ganham força. Esse discurso se verifica de maneira pronunciada com Benjamim Men-
delsohn, advogado israelita que utiliza o termo vitimologia em 1947 para descrever o so-
frimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista. A vitimologia,
como veremos em aula mais adiante, procura entender qual o papel desempenhado pela
vítima no fenômeno criminal; qual tipo de assistência é necessário para fazer frente aos
traumas deixados pelo evento criminoso; e quais são as taxas reais de criminalidade.
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Controle Social
3
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 2. ed. São Paulo: RT, 2008. p. 60.
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logia, até mesmo porque o papel das agências formais de controle social ainda não era olhado
com interesse.
A entrada das agências formais de controle social no rol de objetos da criminologia acon-
teceu algumas décadas mais tarde, sobretudo a partir dos anos de 1960, nos Estados Unidos,
com o labelling approach, também conhecido como teoria do etiquetamento, teoria da reação
social, teoria da rotulação social ou teoria interacionista. O labelling propugnava que estudar
a realidade social implicava estudar os processos de interação individual ocorridos no seio
da própria sociedade, ou seja, que não se pode compreender o crime prescindindo do enten-
dimento da própria reação ao crime. Assim, não se pode estudar os delitos sem analisar a
Polícia, o Ministério Público, o Poder Judiciário, que são as instâncias que reagem ao crime.
Foi uma teoria que causou uma quebra de paradigma ao defender que a desviação não é uma
qualidade intrínseca da conduta (o crime não existe por si próprio). A desviação é um atributo
que é conferido a certas condutas por meio de complexos processos de interação social (uma
conduta somente passa a ser um crime se as instâncias de controle social formal dizem que
ela é um crime). É decisivo, então, para compreender o crime, compreender como funcionam
os mecanismos sociais que atribuem o status de delinquente a certas pessoas e deixam de
atribuí-lo a outras.
Conforme os teóricos interacionistas, para cada uma das ações desviadas é possível en-
contrar inúmeras ações similares que não serão rotuladas de criminosas, por não serem leva-
das em consideração ou por não se apresentarem de maneira evidente como desviadas. Dian-
te de cada fato, as instituições atuam como filtros, definindo sua natureza. Frente às condutas
humanas, portanto, as agências formais de controle social atuam como uma grande peneira, a
separar quais devem ser etiquetadas como criminosas e quais não merecem o rótulo.
O primeiro filtro de seleção é a polícia. O segundo filtro é realizado pelo Ministério Público,
que decide se pretende dar início à ação penal. E o terceiro filtro é feito pelo Poder Judiciário.
Assim, o labelling approach reconhece o caráter constitutivo do controle social formal:
as instâncias de controle social formal são parte da constituição do crime. Os mecanismos
e instituições de Direito Penal são instrumentos seletivos e discriminatórios. Eles escolhem
quais condutas serão rotuladas como criminosas e escolhem com base em estereótipos e
preconceitos.
Deixa-se de questionar por que um indivíduo comete crimes, e passa-se a indagar a razão
de certa conduta ser etiquetada com o rótulo de desviada. Nesse questionamento, as agências
de controle social adquirem enorme importância e passam a ser estudadas criteriosamente.
Se hoje é comum que haja capítulos sobre a polícia, o Ministério Público, as instituições pri-
sionais, o sistema judiciário nos livros e manuais de Criminologia, isso, em grande parte, deve-
-se ao paradigma inaugurado pelo labelling approach, que tanto valor atribuiu aos respectivos
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papéis na constituição do delito. Vamos falar mais especificamente sobre essa teoria na aula
sobre Escolas Sociológicas.
1.4. Métodos
Assim como ocorre com as demais ciências, os estudos criminológicos não possuem uma
lista fechada de métodos que podem ser utilizados. As técnicas têm, no entanto, como traços
genéricos o empirismo, a indução e a interdisciplinaridade.
Empírico é o conhecimento obtido pela observação de fatos, realizada a partir dos sentidos
humanos. No empirismo, a experiência humana sensorial é a base para a compreensão do
mundo. Uma ciência empírica, portanto, se baseia na experiência, na observação. Desse modo,
podemos afirmar que as teorias criminológicas devem ser formuladas e explicadas a partir da
observação do mundo (e não a partir de abstrações, típicas, por exemplo, do Direito).
Nesse ponto, a Criminologia difere bastante do Direito. Enquanto a Criminologia observa o
fenômeno criminal, o analisa, inserindo-se no mundo real, verificável, o Direito valora o mundo,
dizendo como as pessoas devem se comportar e quais são as sanções para o descumprimen-
to da norma.
Como ciência empírica que é, a Criminologia se vale de método indutivo, que mencionei
agora há pouco. No método indutivo, o raciocínio parte de dados particulares (fatos observa-
dos, ou seja, crimes que ocorreram) e, por meio de uma sequência de operações cognitivas,
chega a teorias ou conceitos mais gerais, indo dos efeitos à causa, das consequências ao
princípio, da experiência à teoria. Esse método empírico e indutivo se opõe ao método abstrato
e dedutivo largamente utilizado no Direito. Mais uma vez para fixar: no método dedutivo, lar-
gamente empregado no Direito, parte-se de uma premissa geral (lei) para uma premissa par-
ticular (caso concreto ao qual a lei deve ser aplicada). Já na indução, largamente empregada
na Criminologia, a observação das situações particulares leva à formulação de um padrão, um
conhecimento genérico que se aplicará a casos parecidos com aqueles analisados.
Como exemplo de técnicas empíricas – de observação da realidade – utilizadas pela Crimi-
nologia, podemos mencionar:
• inquéritos sociais (social surveys): interrogatório direto feito a um número considerado
de pessoas sobre itens criminologicamente relevantes;
• entrevistas;
• estudos biográficos de casos individuais: também conhecidos como métodos longitu-
dinais, são estudos descritivos e analíticos de experiências criminais de um ou vários
casos individuais (são estudos qualitativos que tentam analisar a história de vida do
autor de um fato criminoso);
• observação participante: participação ativa do investigador na vida do grupo objeto de
investigação;
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Alguns autores, como Nestor Sampaio Penteado Filho, defendem que a criminologia, além
de ser indutiva, empírica e interdisciplinar, utiliza os métodos biológicos e sociológicos. Ao
utilizar o método biológico, a criminologia procura, nos corpos dos delinquentes, explicações
para o fenômeno criminal. Ao se valer do método sociológico, a criminologia parte do pressu-
posto que o crime é um fenômeno não apenas individual, mas também social. Quando empre-
ga o método sociológico, as explicações para o fenômeno criminal e a análise da prevenção e
da reação ao delito são feitas considerando as características do grupo social onde ocorre o
crime, e daí a imprescindibilidade da sociologia criminal.
É verdade que a criminologia pode utilizar esses métodos, como veremos com mais deta-
lhes nos próximos capítulos. Mas não é correto pensar que esses (biológico e sociológico) são
os únicos métodos da criminologia, como alguns autores e bancas parecem querer indicar.
Estamos falando de uma ciência que pode se valer de abordagens psicológicas, históricas,
multifatoriais, apenas para citar alguns exemplos. Mas precisamos deixar registrado que, para
algumas bancas (sobretudo Vunesp), é correto dizer que a criminologia utiliza os métodos
biológicos e sociológicos.
Em resumo: a Criminologia é humana, empírica, interdisciplinar (ou multidisciplinar), indu-
tiva, do “ser”.
A Criminologia NÃO é exata, normativa, dogmática, dedutiva, jurídica, teorética, abstrata,
do “dever-ser”.
Recurso Mnemônico:
CrimINologia: IN: INDUTIVA, INTERDISCIPLINAR, “IMPÍRICA”
• Criminologia à Indução à Parte-se do caso concreto com o intuito de chegar a regras
genéricas.
• Direito Penal à Dedução à Parte-se de regras genéricas, formulações abstratas, que de-
vem ser aplicadas aos casos concretos.
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1.5. Funções
A Criminologia possui variadas finalidades ou funções, que estão interligadas.
Uma das principais funções da Criminologia reside no fornecimento de informações con-
fiáveis para que o fenômeno criminal seja compreendido e para que possam ser realizadas
intervenções preventivas.
4
GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luis Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos; introdu-
ção às bases criminológicas da Lei n. 9.099/1995, Lei dos Juizados Especiais Criminais. 5. ed. São Paulo: RT, 2006. p. 112.
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Outra função importante da Criminologia é fazer com que o Direito Penal dialogue com as
demais ciências que tratam do fenômeno criminal. O crime é, sempre, um fenômeno complexo,
resultado da interação entre humanos em sociedade.
Ao ter os mecanismos de controle social como objeto de estudo, a Criminologia desem-
penha outra importante função: a de demonstrar a ineficácia do Direito Penal. A Criminologia
mostra que o sistema penal é estigmatizante e fundamental para que a etiqueta de criminoso
seja atribuída a alguém de maneira efetiva. Nessa função, a Criminologia demonstra que a
seleção realizada pelos mecanismos penais tem o condão de acelerar uma carreira criminal e
consolidar o “status” de desviado.
As teorias da reação social (como a do “labelling approach”) afirmam que o Direito Penal causa
estigmas: quem é selecionado pelos filtros de reação social – Polícia, Ministério Público, Poder
Judiciário, penitenciárias – passa a ser marcado com sinais sociais que o inabilitam para a
plena aceitação social. É muito difícil, se não impossível, que essa pessoa se livre da etiqueta
de criminoso depois de sua passagem pelas engrenagens de controle penal.
Ainda sobre as instâncias de controle social como objeto de estudo, a Criminologia de-
sempenha a função de demonstrar que a rapidez e a certeza da aplicação da sanção penal são
mais importantes do que a sua gravidade. Sabe aquela sensação de impunidade que reina no
Brasil? Pois bem, estudos criminológicos têm demonstrado que o mais importante para o fim
dessa sensação não é a previsão ou aplicação de uma pena severa, longa, extensa, mas sim a
existência de uma pena que seja aplicada de forma célere e certa.
Especificamente em relação ao delinquente, pode-se afirmar que a Criminologia é uma
ciência que tem por função intervir no criminoso, para que ele não volte a delinquir, para que
seja ressocializado. Nesse aspecto, pesquisas criminológicas têm demonstrado o potencial
estigmatizante da pena privativa de liberdade e a importância das modalidades alternativas
de cumprimento de pena, como as penas restritivas de direito e a pena de multa. Ademais, a
Criminologia ressalta a importância de o Direito Penal continuar apresentando traços de sub-
sidiariedade e fragmentariedade.
De acordo com o princípio da fragmentariedade, o Direito Penal deve agir seguindo um postula-
do de intervenção mínima, protegendo apenas os bens jurídicos mais relevantes da sociedade
e somente quando forem alvo de ataques intoleráveis. Diz-se que o Direito Penal é um arquipé-
lago de pequenas ilhas de condutas consideradas ilícitas espalhadas pelo mar do penalmente
indiferente.
O princípio da subsidiariedade impõe, a seu turno, que o Direito Penal somente deve ser uti-
lizado quando outras instâncias de controle não puderem equacionar a questão de maneira
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satisfatória. Assim, se um problema social pode ser enfrentado pelas regras do Direito Civil ou
Administrativo, não deve ser invocado o Direito Penal. Se uma questão pode ser solucionada
no âmbito familiar, não há que se aplicar Direito Penal. Esse princípio é também conhecido pela
expressão latina ultima ratio, que significa, em tradução bem livre, “última instância”.
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Por fim, podemos afirmar ainda que a Criminologia não pretende apresentar conclusões
universais. Ela não é uma ciência “dura”, mas sim humana, e como tal, apresenta um conheci-
mento parcial, provisório, fragmentado, fluido. O saber criminológico deve se adaptar à realida-
de local e às evoluções históricas e sociais.
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Exemplo: imagine que você tenha seu celular roubado. A Criminologia pode se ocupar desse
fenômeno de muitas maneiras, como, por exemplo: por que o criminoso praticou o crime?
Quais características do criminoso o tornaram mais propensos a decidir pelo crime? Por que
o sistema de justiça criminal mantém preso esse ladrão, mas não consegue ser eficiente em
relação aos criminosos poderosos? O Estado, antes de punir o criminoso, poderia ter ofertado
mais educação, esporte, lazer, cultura a esse criminoso? Quais as consequências da pena que
a ele será aplicada? Qual o impacto que esse evento terá na vida da vítima? Quais os bairros
da cidade onde mais se cometem esse tipo de crime? Em todos esses casos, o fenômeno
criminal está sendo analisado de modo empírico e interdisciplinar para que conclusões mais
genéricas sejam elaboradas, dentro de uma dinâmica indutiva.
A Política Criminal se ocupará do fenômeno raciocinando, por exemplo, sobre a suficiência das
atuais leis penais para o crime de furto; sobre a eficiência dos instrumentos manejados pelas
instâncias de controle social; sobre as regras do processo criminal e de execução penal.
O Direito Penal, por sua vez, se ocupa, basicamente, de punir o delinquente, aplicando àquele
caso concreto regras penais abstratamente previstas, numa operação dedutiva.
Para a tutela de bens jurídicos o Estado pode se valer de estratégias penais e extrapenais. Somente
se justifica a tutela penal na hipótese de ser um meio eficaz de proteção do bem jurídico. Assim, a
política criminal, com base em considerações de outros ramos, tais como a criminologia, a filosofia
e a sociologia, visa à análise crítica da legislação penal e à propositura das devidas alterações6.
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RESUMO
Conceito da Criminologia
Cientificidade
A Criminologia é uma ciência. Possui objeto de estudo próprio, emprega método científico
e fornece informações válidas sobre o fenômeno criminal. Não se baseia em intuições, “achis-
mos”, mas sim em marcos teóricos que vêm sendo construídos há mais de um século.
Objetos da Criminologia
Delito: sempre fez parte dos estudos criminológicos, desde os penalistas clássicos no sé-
culo XVIII, preocupados com a racionalidade e a proporcionalidade da pena.
Delinquente: passa a ser objeto da criminologia sobretudo a partir do século XIX, com o
advento das teorias positivistas, que queriam aplicar a observação empírica da realidade.
Vítima: os estudos criminais, de maneira geral, passaram por três grandes momentos:
Idade de ouro da vítima (desde os primórdios da civilização até o século XII, com previsão de
autotutela e processo penal do tipo acusatório, com importante papel desempenhado pela ví-
tima); neutralização do poder da vítima (início com a adoção do processo penal inquisitivo, no
século XII, com perda de protagonismo da vítima); e ressurgimento do poder da vítima (início
no século XVIII e consolidação da vitimologia, sobretudo a partir dos estudos de Benjamim
Mendelsohn de 1947 sobre os judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista).
Controle Social: são os freios que a sociedade apresenta aos indivíduos que almejam a
prática de alguma conduta antissocial. Os controles sociais informais (vizinhança, escola, tra-
balho, clubes, associações) são aqueles de cuja atuação não pode resultar uma sanção penal.
Tornaram-se objeto da criminologia sobretudo com a Escola de Chicago, de 1920 em dian-
te. Os controles sociais formais (polícia, Ministério Público, Poder Judiciário, penitenciárias)
são aqueles de cuja atuação pode resultar uma sanção penal. Consolidaram-se como objeto
de estudo da criminologia a partir dos estudos interacionistas (labelling approach) da déca-
da de 1960.
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Conforme os teóricos interacionistas, para cada uma das ações desviadas é possível en-
contrar inúmeras ações similares que não serão rotuladas de criminosas. Diante de cada fato,
as instituições atuam como filtros, definindo sua natureza. As instâncias de controle social for-
mal são parte da constituição do crime. Os mecanismos e instituições de Direito Penal são ins-
trumentos seletivos e discriminatórios. Eles escolhem quais condutas serão rotuladas como
criminosas e escolhem com base em estereótipos e preconceitos. O primeiro filtro de seleção
do sistema de justiça criminal é a polícia. O segundo filtro é realizado pelo Ministério Público,
que decide se pretende dar início à ação penal. E o terceiro filtro é feito pelo Poder Judiciário.
Métodos da Criminologia
Funções da Criminologia
• Compreensão do fenômeno criminal;
• Fornecimento de informações para intervenções preventivas;
• Controle da criminalidade;
• Compreensão da etiologia do crime;
• Diálogo com o Direito Penal via Política Criminal;
• Crítica do Direito Penal;Avaliação dos modelos de resposta ao crime;
• Pacificação social;
• Reparação do dano;
• Diálogo entre protagonistas do crime.
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A política criminal é considerada uma ponte entre a Criminologia e o Direito Penal. Ela
transforma os conhecimentos da Criminologia em opções concretas de ação, muitas vezes
alterando as normas do Direito Penal. A política criminal se dedica a receber as contribuições
da Criminologia e propor medidas para bem equacionar os delitos. Essas medidas podem ser
penais ou não-penais.
Franz Von Liszt, jurista austríaco que trabalhou na Alemanha na segunda metade do século
XIX, propôs um modelo tripartido da ciência conjunta do Direito Penal. Essa ciência conjunta
conteria três saberes autônomos, mas que deveriam andar interligados: Criminologia, Direito
Penal e política criminal. O Programa de Marburgo consolida essas ideias.
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MAPAS MENTAIS
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (VUNESP/2013/PC-SP/INVESTIGADOR DE POLÍCIA) Os objetos de estudo da moderna
Criminologia são:
a) a vítima e o delinquente.
b) o crime, o criminoso, a vítima e o controle social.
c) o delito e o delinquente.
d) o problema social, suas causas biológicas e o mimetismo.
e) o crime e os fatores biopsicológicos decorrentes de sua prática.
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c) as leis
d) o controle social
e) o Poder Público
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e) dedutivo.
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e) conceitual e abstrata, que se dedica ao estudo das armas de fogo e suas munições; das
armas brancas e demais armas impróprias, objetivando o controle social e a redução da cri-
minalidade.
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e) empírico e lógico-abstrato.
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a) O direito penal tem a função de analisar a forma como o crime foi cometido, bem como
estudar os meios que devem ser adotados com relação à pena e à ressocialização de João.
b) O direito penal é o responsável pelo diagnóstico do fenômeno dos crimes cometidos contra
as mulheres.
c) A criminologia deverá analisar a conduta de João, subsidiando o juiz quanto ao arbitramen-
to da pena.
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d) A política criminal tem a função de propor medidas para a redução das condições que faci-
litaram o cometimento do crime por João, como a urbanização e a iluminação de ruas.
e) A criminologia deverá indicar os trajetos que precisam de rondas policiais ou os locais para
se instalarem postos policiais.
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033. (QUESTÃO INÉDITA/2022) Robert Ezra Park e Ernest W. Burgess são teóricos rela-
cionados com:
a) a Escola de Chicago
b) a teoria da anomia
c) o pensamento clássico penal
d) a Criminologia radical
036. (QUESTÃO INÉDITA/2022) Na observação participante, uma das técnicas utilizadas pela
Criminologia, o pesquisador atua de forma ativa na vida do grupo objeto de investigação.
037. (QUESTÃO INÉDITA/2022) A Criminologia pode ter, entre seus objetivos, a compreensão
da etiologia do crime.
038. (QUESTÃO INÉDITA/2022) No Brasil, atualmente, não existe previsão de pena de morte,
por vedação constitucional.
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041. (QUESTÃO INÉDITA/2022) Apesar de ser interdisciplinar, a Criminologia não conta com
contribuições de juristas dado o caráter normativo do direito.
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GABARITO
1. b 37. C
2. a 38. E
3. a 39. C
4. d 40. E
5. d 41. E
6. b 42. C
7. c 43. C
8. d 44. E
9. d 45. C
10. b 46. E
11. e 47. E
12. d 48. C
13. c 49. E
14. d 50. E
15. e
16. a
17. e
18. b
19. e
20. b
21. e
22. e
23. d
24. C
25. E
26. a
27. d
28. b
29. a
30. d
31. a
32. b
33. a
34. E
35. E
36. C
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GABARITO COMENTADO
001. (VUNESP/2013/PC-SP/INVESTIGADOR DE POLÍCIA) Os objetos de estudo da moderna
Criminologia são:
a) a vítima e o delinquente.
b) o crime, o criminoso, a vítima e o controle social.
c) o delito e o delinquente.
d) o problema social, suas causas biológicas e o mimetismo.
e) o crime e os fatores biopsicológicos decorrentes de sua prática.
Essa é exatamente a lista com todos os objetos de estudo da Criminologia, conforme verifica-
da a evolução da disciplina. As alternativas “a” e “c” não estão erradas, mas incompletas.
Letra b.
Tecnicamente, a resposta correta é a “a”, pois os objetos da Criminologia são delito, delinquen-
te, vítima e controle social. A Justiça, o Direito Penal e a lei, de maneira mais genérica, podem
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Os objetos de estudo da Criminologia são o crime (ou delito), o criminoso (ou delinquente), a
vítima e o controle social.
Letra d.
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As teorias de reação social fizeram com que o controle social integrasse definitivamente o rol
de objetos de estudo da Criminologia. Controle socialsão os freios que a sociedade apresenta
aos indivíduos que almejam a prática de alguma conduta antissocial. O critério que diferencia
controle social formal de controle social informal é, respectivamente, a possibilidade (controle
social formal) ou impossibilidade (controle social informal) da aplicação de uma sanção penal
como consequência da atuação de cada um desses tipos de controle. Como exemplos de con-
trole social formal pode ser citada a polícia, o Poder Judiciário, a administração penitenciária,
o sistema penal etc.
Letra b.
A alternativa C é correta pois traz a informação de que a criminologia analisa dados, ou seja, os
observa, e induz conclusões, ou seja, parte do concreto para o abstrato, realizando induções.
Os fatos prevalecem sobre argumentos, porque é uma ciência empírica. Não é correto dizer
que a criminologia é abstrata, dedutiva, valorativa, dogmática e tampouco que parte, em suas
análises da realidade criminal, da norma jurídica.
Letra c.
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O controle social formal é aquele em que há presença do Estado e de cuja atuação pode resul-
tar a aplicação de uma pena. Não é o caso de Igreja, Família, Opinião Pública, Escola, que são
instâncias de controle social informal. A alternativa D traz apenas agências de controle social
formal: Polícia, Forças Armadas e Ministério Público.
Letra d.
A Criminologia se vale de método empírico, pois parte da observação da realidade. Não parte
de conceitos lógico-abstratos, nem de dogmas ou de normas. Vale-se, ademais, de método in-
dutivo (parte do caso concreto para tentar chegar a formular teorias) e não dedutivo (que parte
de conceitos gerais que devem ser aplicados aos casos concretos, como é o caso do Direito).
Letra d.
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A criminologia é uma ciência do ser, que estuda os fatos, e não uma ciência que se ocupa do
dever-ser, das normas. O dever-ser é objeto de preocupação, por exemplo, do direito penal, mas
não da criminologia. É, ademais, uma ciência que se vale do método empírico (de observação
da realidade com os sentidos humanos) e indutivo (parte de casos particulares para chegar a
conceitos mais gerais). O método indutivo, portanto, não é o único utilizado pela criminologia.
Além do empirismo e da indução, ela se vale da multidisciplinaridade, e de fato emprega mé-
todos da biologia e da sociologia. Como a criminologia estuda os fatos concretos, não é uma
ciência baseada em processos mentais abstratos, conceituais. Na letra E, a definição de teoré-
tica não guarda relação com a observação da realidade. Teorético é aquilo que não é prático.
Sendo a criminologia uma ciência empírica e prática, não há que se falar em método teorético.
Letra b.
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a) teorética que tem por objeto o estudo das ciências penais e processuais penais e seus refle-
xos no controle social, propondo soluções para redução da criminalidade.
b) teorética alicerçada na análise dos antecedentes sociais da criminalidade e dos criminosos,
que estuda exclusivamente o crime, propondo soluções para redução da criminalidade.
c) empírica e teorética, alicerçada no estudo das ciências penais e processuais penais e seus
reflexos no controle da criminalidade, tendo por objeto a redução da criminalidade.
d) empírica (baseada na observação e na experiência) e interdisciplinar que tem por objeto
de análise o crime, a personalidade do autor do comportamento delitivo, a vítima e o controle
social das condutas criminosas.
e) conceitual e abstrata, que se dedica ao estudo das armas de fogo e suas munições; das
armas brancas e demais armas impróprias, objetivando o controle social e a redução da cri-
minalidade.
A letra c traz a lista completa com as quatro vertentes corretas de objetos da Criminologia.
Vale ressaltar que todos os itens de todas as alternativas configuram objetos da Criminologia,
mas a divisão correta das vertentes encontra-se na alternativa c.
Letra c.
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Estudar a etiologia do delito é uma das funções da criminologia. Na letra A, não há uma oposi-
ção entre o que faz a política criminal e a criminologia. Ambas podem tratar de ressocialização
e de prevenção. Na letra B, a criminologia não pretende acabar com o crime. Na letra C, o exa-
minador trocou etiologia por etimologia para confundir o candidato. Na letra E, a criminologia
orienta e não é orientada pela política criminal. Além disso, as intervenções após um delito são
ditadas por medidas de política criminal e pela aplicação do direito penal.
Letra d.
A única alternativa que traz os quatro objetos atuais da criminologia é a letra D: crime, que é
sinônimo de delito, delinquente, vítima e controle social.
Letra e.
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e) empírico e lógico-abstrato.
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O único ente das alternativas que integra o rol de agentes informais do controle social é a esco-
la. Todos os demais são exemplos de controle social formal, pois são atividades de monopólio
estatal e de cuja atuação pode resultar a imposição de uma pena.
Letra e.
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d) ela ocupa-se do estudo do delito e do controle social, mas não se ocupa do estudo do delin-
quente e da vítima, uma vez que tal assunto constitui objeto de estudo da Psicologia.
e) ela constitui um campo fértil de pesquisas para psiquiatras, psicólogos, sociólogos, antro-
pólogos e juristas.
Basicamente, a passagem da música diz que muitos jovens se tornam ladrões (Roubo, art.
157 do Código Penal) porque lhes faltam oportunidades de receber bom ensino e porque já
vivem, desde cedo, em ambientes conflitivos e povoados de armas de fogo (parafal é um tipo
de fuzil). Uma das principais funções da criminologia reside no fornecimento de informações
confiáveis para que o fenômeno criminal seja compreendido e para que possam ser realizadas
intervenções preventivas. A criminologia tem por objetivo, então, compreender a criminalidade
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para, naturalmente, prevenir a ocorrência dos delitos e controlar o fenômeno. Assim, a reflexão
sobre as técnicas de prevenção dos delitos (melhores escolas, desarmamento) e as formas
alternativas de solução de conflitos é uma das funções da criminologia.
Na letra A, a criminologia pode, analisando algumas situações, mostrar aos tomadores de deci-
sões político-criminais, que o perdão judicial – como qualquer outro instituto penal – deve ser
reduzido, ampliado, modificado. Assim, as situações de perdão judicial podem ser analisadas
pela criminologia. Na letra B, a criminologia não é jurídica. Na letra C são descritas tarefas de
investigação criminal, ou seja, tarefas do aparato de repressão penal, não se tratando de abor-
dagens da criminologia. Na letra E, quem se ocupa do “dever ser” é o direito penal, enquanto a
criminologia se ocupa do “ser”.
Letra d.
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CRIMINOLOGIA
Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
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delinquir, como a sociedade contribui para o crime ou mesmo como as instâncias de controle
social agem para equacionar o fenômeno. Naturalmente, as políticas públicas também vão
tratar do assunto, mas não são atuações excludentes, a da criminologia e da política criminal.
Ao contrário, elas se complementam. Afinal, a criminologia tem, entre seus objetos, os meca-
nismos de controle social. Logo, a criminologia estuda as agências que aplicam o direito penal,
não sendo mais uma ciência puramente explicativa das causas do delito. E a criminologia não
apenas estuda o direito penal, como também propõe alterações das normas e procedimentos.
Fazendo essa ponte entre a criminologia e o direito penal está a política criminal. A política
criminal se dedica, portanto, a receber as contribuições da criminologia e propor alterações no
sistema penal para que ele desempenhe bem sua função de tutela de bens jurídicos.
Errado.
A Criminologia constrói seu saber a partir de análises do fenômeno criminal. Ela se vale do
conhecimento integrado de vários ramos do saber (interdisciplinaridade) e da observação do
mundo fático (empirismo). Assim, analisa seus objetos e, a partir dessa observação de casos,
chega a regras genéricas sobre o fenômeno analisado, numa operação de indução (parte do
específico para chegar ao geral).
Na letra B, a Criminologia depende do conhecimento de outras áreas. Na letra C, o erro está
no emprego do método silogístico, que é um tipo de argumento lógico que aplica o raciocínio
dedutivo (o oposto do raciocínio indutivo, típico da criminologia) para chegar a uma conclusão.
Na letra D, a Criminologia não trabalha de forma dogmática. O Direito Penal, ele sim, é dogmá-
tico, parte de dogmas para criar tipos penais e as respectivas penas. A Criminologia não é, na
letra E, uma ciência metafísica. A metafísica busca conhecer a essência das coisas, se ocupa
do supremo na hierarquia dos seres, enquanto a Criminologia é empírica, se baseia em fatos e
não pretende divagar abstratamente sobre a essência do crime. Por fim, a Criminologia se vale
do empirismo, método típico das ciências naturais, mas não se vale dos métodos rigorosos
das ciências exatas, com predições e medições precisas e quantificáveis.
Letra a.
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CRIMINOLOGIA
Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
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a) O direito penal tem a função de analisar a forma como o crime foi cometido, bem como
estudar os meios que devem ser adotados com relação à pena e à ressocialização de João.
b) O direito penal é o responsável pelo diagnóstico do fenômeno dos crimes cometidos contra
as mulheres.
c) A criminologia deverá analisar a conduta de João, subsidiando o juiz quanto ao arbitramen-
to da pena.
d) A política criminal tem a função de propor medidas para a redução das condições que faci-
litaram o cometimento do crime por João, como a urbanização e a iluminação de ruas.
e) A criminologia deverá indicar os trajetos que precisam de rondas policiais ou os locais para
se instalarem postos policiais.
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Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
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As instâncias formais de controle social atuam seletivamente, como grandes filtros. O primeiro
filtro é a polícia; o segundo filtro, o Ministério Público; e o terceiro filtro, o Poder Judiciário.
Letra a.
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Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
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Na esfera estadual, as polícias civis realizam a tarefa de polícia judiciária, pois são encarrega-
das do cumprimento de mandados do Poder Judiciário (mandados de prisão, de busca e apre-
ensão, de condução de presos, de condução coercitiva etc.). Além disso, integram o controle
social formal, que é aquele realizado por instituições estatais, de cuja atuação pode decorrer a
aplicação de uma pena. Nas letras A e B, a polícia administrativa é aquela encarregada da pre-
venção ao crime. Na esfera estadual, as polícias militares são polícia administrativa. Na letra C,
a polícia é um dos principais exemplos de controle social formal. E nas letras B e E, o controle
social informal é aquele realizado pela sociedade civil, como família, vizinhança, associações,
igreja etc.
Letra d.
O processo penal de tipo acusatório é típico da era de ouro da vítima. Foi exatamente durante
a era de ouro da vítima que se desenvolveu o processo penal acusatório, em que as funções
de acusar, julgar e defender estavam em mãos distintas. As partes, aí incluída a vítima, tinham
iniciativa probatória, diante de um juiz inerte, que não podia produzir as provas independente-
mente da provocação do autor e do réu.
Letra a.
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Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
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Cesare de Beccaria, autor da obra Dos delitos e das penas (1764), é considerado um autor da
escola clássica que sintetizou os postulados racionais do Iluminismo.
Letra b.
033. (QUESTÃO INÉDITA/2022) Robert Ezra Park e Ernest W. Burgess são teóricos rela-
cionados com:
a) a Escola de Chicago
b) a teoria da anomia
c) o pensamento clássico penal
d) a Criminologia radical
A Criminologia deu seus primeiros passos para incluir o controle social entre seus objetos de
estudo no começo do século XX. Isso se deu com a Escola de Chicago, entre os anos 1920 e
1930, com Robert Ezra Park e Ernest W. Burgess.
Letra a.
A culpabilidade é um dos elementos do crime para o Direito Penal. Os elementos do crime para
a criminologia são incidência massiva na população; incidência aflitiva; inequívoco consenso
social; e persistência espaço-temporal.
Errado.
036. (QUESTÃO INÉDITA/2022) Na observação participante, uma das técnicas utilizadas pela
Criminologia, o pesquisador atua de forma ativa na vida do grupo objeto de investigação.
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Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
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A observação participante é uma das técnicas empíricas utilizadas por estudiosos da Crimino-
logia para se aproximar dos seus objetos de investigação.
Certo.
037. (QUESTÃO INÉDITA/2022) A Criminologia pode ter, entre seus objetivos, a compreensão
da etiologia do crime.
As bancas adoram esse termo. A Etiologia é o estudo das causas do crime. Muitas escolas
criminológicas abandonaram essa aproximação, mas pode ser, sem dúvida, um dos objetivos
dos estudos criminológicos.
Certo.
038. (QUESTÃO INÉDITA/2022) No Brasil, atualmente, não existe previsão de pena de morte,
por vedação constitucional.
A Constituição Federal permite, e o Código Penal Militar prevê, a adoção de pena de morte em
caso de crimes de guerra.
Errado.
Autotutela é a possibilidade de fazer justiça com as próprias mãos. Na era de ouro da vítima, a
prática era permitida. Hoje, é crime.
Certo.
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041. (QUESTÃO INÉDITA/2022) Apesar de ser interdisciplinar, a Criminologia não conta com
contribuições de juristas dado o caráter normativo do direito.
Operadores do Direito são alguns dos profissionais que contribuem com a formatação da Cri-
minologia, que tem essencialmente caráter interdisciplinar.
Errado.
Para o labelling approach, as condutas não são crimes ontologicamente. As instâncias de con-
trole social formal possuem papel definidor dos crimes, pois selecionarão os indivíduos a se-
rem considerados criminosos.
Certo.
O positivismo foi fundamental para a inclusão do delinquente como objeto de estudo da Crimi-
nologia. As instâncias de controle social passaram a ser objeto da Criminologia com a Escola
de Chicago e, sobretudo, com as teorias interacionistas.
Errado.
As penitenciárias são uma das ferramentas de controle social formal do crime. Logo, podem
ser objeto de estudo da Criminologia.
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Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
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Certo.
A Escola Clássica situa-se nos séculos XVIII e XIX. Mendelsohn viveu no século XX e foi funda-
mental para o fortalecimento do estudo do papel da vítima no delito.
Errado.
Os correcionalistas veem o delinquente como um fraco, débil, que não possui capacidade de
dirigir a sua vida.
Errado.
Típico das teorias positivistas, o determinismo social nega o livre-arbítrio e postula que as ca-
racterísticas do ambiente social levam um indivíduo ao crime.
Certo.
O labelling approach entende que as instâncias de controle social rotulam as pessoas como
criminosas, mas não é considerada uma teoria determinista, pois não nega o livre-arbítrio.
Errado.
O punitivismo exacerbado tem sido visto como uma consequência indesejada do período de
ressurgimento da vítima na Criminologia.
Errado.
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CRIMINOLOGIA
Conceito, Objeto, Método e Funções da Criminologia
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REFERÊNCIAS
ANITUA, Gabriel Ignacio. História dos pensamentos criminológicos. Rio de Janeiro: Revan:
ICC, 2008.
BECCARIA, Cesare; Bonesana, Marches di. Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Cla-
ret, 2014.
LOMBROSO, Cesare. L´Homme criminel. 2. ed. francesa. Paris: Félix Alcan Éditeur, 1895.
SALIM, Alexandre; AZEVEDO, Marcelo André. Direito Penal: parte geral. 7. ed. Salvador, BA:
JusPodivm, 2017.
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Servidora pública federal desde 2009. Graduada em Direito e Mestre em Direito Penal e Criminologia pela
Universidade de São Paulo (USP). Professora de Legislação de Interesse da Atividade de Inteligência, Direito
Penal e Criminologia em cursos preparatórios para concurso público. Autora do livro “ABIN - Legislação de
Inteligência Sistematizada e Comentada”, publicado pela editora JusPodivm. Foi Assessora Técnica da
Comissão Nacional da Verdade da Presidência da República (2012 a 2014). Foi Agente de Promotoria do
Ministério Público do Estado de São Paulo (2006-2009). Lecionou as disciplinas Direito Penal e Criminologia
na Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino. Foi membro de diversas
coordenações do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, tendo orientado pesquisas do Laboratório de
Iniciação Científica. Coautora do livro “Criminologia e os problemas da atualidade” e autora de artigos nos
temas de Direito Penal e Criminologia.
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Nascimento da Criminologia.
Precursores. Iluminismo. Clássicos.
Positivistas. Intermediários
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
CRIMINOLOGIA
Nascimento da Criminologia. Precursores. Iluminismo.
Clássicos. Positivistas. Intermediários
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Sumário
Ii – Histórico Da Criminologia. Escola Clássica E Positiva. Escola De Política Criminal
E “Terza Scuola”. . ..............................................................................................................................................................3
1. Iluminismo.........................................................................................................................................................................3
2. A Escola Liberal Clássica Do Direito Penal E A Criminologia Positivista.................................3
2.1. Escola Clássica..........................................................................................................................................................4
2.2. Criminologia Positivista......................................................................................................................................6
2.3. Marcos Científicos Da Criminologia. ...........................................................................................................12
3. Escolas Intermediárias.. .........................................................................................................................................13
3.1. Escola De Política Criminal. . .............................................................................................................................13
3.2. Terza Scuola. . ............................................................................................................................................................14
Resumo.................................................................................................................................................................................16
Mapas Mentais. . ...............................................................................................................................................................18
Exercícios.............................................................................................................................................................................21
Gabarito...............................................................................................................................................................................32
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................33
Referências Bibliográficas.......................................................................................................................................55
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Nascimento da Criminologia. Precursores. Iluminismo.
Clássicos. Positivistas. Intermediários
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1. Iluminismo
A Europa, nos séculos XV a XVIII, vivenciou o que se convencionou chamar de Antigo Re-
gime. Era a época das monarquias absolutistas, com o regime centralizado nas mãos do rei.
A figura do rei era sagrada e incontestável e a visão teocêntrica do mundo, amplamente do-
minante. Nesse período, o sistema penal era caótico, cruel e arbitrário. Os réus não possuí-
am as garantias processuais e penais que hoje existem em qualquer sistema democratica-
mente sólido.
No século XVIII surgiu o Iluminismo, movimento filosófico que exaltou o poder da razão em
detrimento do poder da religião. Ideologias absolutistas e religiosas foram substituídas pelo co-
nhecimento racional do mundo. O Iluminismo, portanto, promoveu o culto à razão e passou a for-
necer explicações racionais para os problemas sociais. O movimento iluminista é considerado a
base tanto dos autores clássicos do Direito Penal quanto dos autores positivistas da Criminologia.
A Escola Clássica e a Escola Positivista são praticamente da mesma época, isto é, séculos
XVIII e XIX. Os principais autores de cada uma delas defenderam seus postulados e critica-
ram os representantes da linha de pensamento oposta, travando um dos maiores embates da
Criminologia.
Delinearei, em primeiro lugar, as características gerais do pensamento de cada uma
das escolas.
Essa é a parte mais importante da aula. Trata das origens da Criminologia como ciência e é
bastante cobrada pelas bancas.
1
Vamos nos basear, principalmente, nos manuais de Criminologia de García-Pablos de Molina, Sérgio Salomão Shecaira e Edu-
ardo Viana e nas obras originais de: Beccaria, Lombroso, Ferri, Garofalo, Nina Rodrigues, Afrânio Peixoto e Tobias Barreto.
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CRIMINOLOGIA
Nascimento da Criminologia. Precursores. Iluminismo.
Clássicos. Positivistas. Intermediários
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As bancas, como já sabemos, gostam de utilizar o termo etiologia. Se refere à busca de ex-
plicações das causas do comportamento criminoso. A Escola Clássica não estava, portanto,
preocupada com a etiologia dos delitos.
Assim, a Escola Clássica pouco contribuiu com a etiologia. Mas foi a Escola Clássica que
se preocupou, pela primeira vez, em fundamentar, delimitar e legitimar a pena. Em substituição
ao sistema penal caótico e desumano do Antigo Regime, a Escola Clássica forneceu um pano-
rama legislativo humanitário e racional, mostrando que a pena poderia e deveria ser útil, justa
e proporcional.
A pena, para os clássicos, deve ter nítido caráter de retribuição pela responsabilidade mo-
ral do delinquente (imputabilidade moral), de modo a prevenir o delito e restaurar a ordem
externa social.
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CRIMINOLOGIA
Nascimento da Criminologia. Precursores. Iluminismo.
Clássicos. Positivistas. Intermediários
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Os principais autores clássicos relembrados por terem contribuído para a Criminologia são
os seguintes:
• Feuerbach, principal redator do Código Bávaro de 1813. Lá, situou o Direito Penal dentro
do Direito Público e o separou do processo penal. Fez a distinção entre crime e outros
tipos de ilícitos. Desenhou a autonomia da disciplina (Direito Penal) e colocou a tarefa
de criar delitos e impor penas nas mãos do soberano, entregando ao Estado a exclusi-
vidade do poder criminal. Defendeu a separação entre direito e moral. Especificou que
as penas deviam estar previamente declaradas em leis e que somente com observância
dessas leis o direito penal podia ser aplicado, dando forte ênfase ao direito positivado,
ao princípio da legalidade e, portanto, à proteção das liberdades individuais do cidadão.
• Cesare Bonesana, conhecido como Marquês de Beccaria, com sua obra Dos delitos e
das penas, de 1764, que serviu de base para a valorização da dignidade das pesso-
as e para a consequente humanização das penas, em contraposição à crueldade das
sanções existentes até a primeira metade do século XVIII. Para Beccaria, o indivíduo
escolhe ou não obedecer às leis, mas o Estado não poderia escolher tratamentos cruéis
e desumanos. As leis, para ele, deviam ser simples, conhecidas pelo povo. E as penas
deveriam estar previstas nessas leis. Ele criticava o sistema de provas que não admitia
o testemunho da mulher, não dava atenção ao depoimento do condenado e era compla-
cente com a tortura. Preocupava-se com a situação deplorável das prisões e defendia
a necessidade de provas robustas para a condenação de alguém. A obra de Cesare
Bonesana é considerada fundamental para o Direito Penal liberal e para a Criminologia
clássica. Veja alguns trechos:
O juiz deve fazer um silogismo perfeito. A premissa maior deve ser a lei geral; a menor, a ação con-
forme ou não à lei; a consequência, a liberdade ou a pena. Se o juiz for obrigado a elaborar um racio-
cínio a mais, ou se o fizer por sua conta, tudo se torna incerto e obscuro. (...) Quando as leis forem
fixas e literais, quando apenas confiarem ao magistrado a missão de examinar os atos dos cidadão,
para indicar se esses atos são conforme a lei escrita, ou se a contrariam (...) então não se verão
mais os cidadãos submetidos ao poder de uma multidão de ínfimos tiranos (...). À proporção que as
penas forem mais suaves, quando as prisões deixarem de ser a horrível mansão do desespero e da
fome (...) as leis poderão satisfazer-se com provas mais fracas para pedir a prisão2.
• Francesco Carrara, com o seu Programa de Direito Criminal, de 1859. Para ele, o crime
não é um ente de fato, mas sim um ente jurídico. Ou seja, só existe crime porque há
uma norma dizendo que tal fato é um crime. Os indivíduos possuem livre-arbítrio e deci-
dem se comportar de maneira contrária à lei, sendo a pena uma retribuição jurídica que
pretende restabelecer a ordem externa violada. Se o crime é um ente jurídico, deve ser
estudado a partir das normas, em obediência a um método dedutivo, lógico-abstrato.
2
BECCARIA, Cesare Bonesana, Marches di, Dos delitos e das penas. São Paulo: Martin Claret, 2014, p. 21-24.
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Nascimento da Criminologia. Precursores. Iluminismo.
Clássicos. Positivistas. Intermediários
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Além desses, também podemos citar Giovanni Carmignani, igualmente italiano e preocu-
pado em fundamentar o direito de castigar. Para ele, o direito de punir se fundamentava na
necessidade de manter a paz social. A pena não deve se preocupar tanto em castigar, mas sim
em evitar delitos futuros.
MNEMÔNICO!
Quando quisermos lembrar dos autores da Escola CLÁSSICA,
CARRARA, FEUERBACH, BECCARIA, BONESANA e CARMIGANI
vamos pensar em Música CLÁSSICA. Para ouvir música CLÁS-
SICA, vamos nos dirigir a um ambiente como o da imagem, com
mármore CARRARA, lareira com fogo (FEUER, fogo em alemão),
escutar BACH, e vamos vestir uma roupa elegante (uma BECA),
de preferência com o chapéu (BONÉ). Quem combina com esse
ambiente é a CARMINHA, de novela Avenida Brasil.
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Nascimento da Criminologia. Precursores. Iluminismo.
Clássicos. Positivistas. Intermediários
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e por meio da compreensão das leis naturais que os regem. A humanidade já havia passado
pelo estado teológico (em que se pensava que deuses e seres sobrenaturais seriam respon-
sáveis por reger o mundo); pelo estado metafísico (típico do pensamento clássico, em que se
pensava que com argumentações lógicas, abstratas e racionais seria possível compreender o
mundo); e agora estava pronta para ingressar no estado positivo, em que o ser humano em-
pregaria a observação (observação daquilo que é concreto, tangível, positivo) e o trabalho em-
pírico para, de maneira científica, compreender a natureza e a sociedade, rumo ao progresso.
Visto isso, fica mais fácil compreender o positivismo criminológico, ou Escola Positivista,
ou simplesmente Escola Positiva. Vou relembrar aqui, para você, algumas ideias que estuda-
mos na primeira aula.
A Criminologia tem como objeto o crime, o criminoso, a vítima e o controle social. A Cri-
minologia passa a estudar o delinquente a partir da segunda metade do século XIX, com o
advento da filosofia positivista.
Opondo-se ao racionalismo dedutivo dos clássicos, os positivistas defendem a observa-
ção dos fenômenos criminais, com primazia para a experiência sensitiva humana. A ideia era
aplicar, nas ciências humanas, métodos oriundos das ciências naturais. Como não era possível
realizar essa aplicação em relação às normas (grande objeto de estudo dos penalistas clás-
sicos), começa-se a estudar o próprio delinquente. Muitos autores identificam que aí nasce,
verdadeiramente, a Criminologia como ciência. Afinal, é nesse momento que a Criminologia
começa a se valer do método indutivo, empírico e multidisciplinar.
Para os positivistas, o livre-arbítrio era uma ilusão. O delinquente era escravo do determi-
nismo biológico ou do determinismo social. No determinismo biológico, acredita-se que di-
ferenças genéticas entre os indivíduos os tornam mais propensos ao crime. São doenças,
patologias que levam o indivíduo a se tornar um delinquente. No determinismo social, são as
características do ambiente social que levam um indivíduo ao crime. Em ambos os casos, não
há espaço para a escolha do indivíduo. Há, nessa Escola, muito interesse pelo estudo da etio-
logia do delito. Ou seja, com o positivismo a Criminologia passa a tentar entender a razão pela
qual uma pessoa comete um crime.
É típica do pensamento clássico a adoção de penas proporcionais ao mal causado. A pena,
para os clássicos, é sobretudo retribuição. É característica do pensamento positivista a ado-
ção de medidas de segurança com finalidade curativa, pelo tempo em que persistisse a pato-
logia. A medida de segurança é uma medida de defesa social (defesa da sociedade) contra o
criminoso, que será sempre psicologicamente anormal.
Os autores positivistas foram bastante influenciados pelo pensamento evolucionista de
Charles Darwin, que acreditava que alguns seres eram mais evoluídos que outros. Depois de
Darwin demonstrar a teoria da evolução das espécies, o antropólogo inglês Herbert Spencer
(século XIX) defendeu que os pobres, os incapazes, os imprudentes, eram inaptos para o cres-
cimento intelectual e seriam superados pelos indivíduos mais aptos. Seu pensamento evolu-
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Nascimento da Criminologia. Precursores. Iluminismo.
Clássicos. Positivistas. Intermediários
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cionista buscava justificar o neocolonialismo: os colonos, dos países ocupados, seriam seres
inferiores, que não haviam passado por uma evolução completa. As raças inferiores teriam
menos sensibilidade. Era inútil ofertar a elas muita educação ou instrução, sendo mais lógico
reservar-lhes os trabalhos manuais. As ideias de Darwin e de Spencer influenciaram bastante
os positivistas, para quem, como veremos, os indivíduos não eram todos iguais.
O positivismo, de maneira geral, foi crucial para a Criminologia: era essencialmente inter-
disciplinar, tendo construído seu pensamento a partir da aglutinação de várias ciências; aban-
donou a perspectiva fortemente centrada nos saberes jurídicos dos clássicos; trouxe, portanto,
o método indutivo, empírico e interdisciplinar para o centro dos estudos; e transformou o delin-
quente em objeto de profunda análise.
Vamos, agora, analisar o pensamento dos principais autores positivistas e suas três fases
principais: antropológica, jurídica e sociológica.
• Cesare Lombroso, médico e antropólogo italiano, com sua obra O homem delinquente,
de 1876, funda o que se convencionou chamar de fase antropológica do positivismo cri-
minológico. Para a maioria dos autores, é com Lombroso que a Criminologia pode passar
a ser considerada uma ciência e por isso ele é considerado o pai da Criminologia. Utilizou
algumas ideias de fisionomistas para tentar fazer um retrato do delinquente. Várias ca-
racterísticas corporais das pessoas eram analisadas, tais como estrutura do tórax, tama-
nho das mãos e das pernas, quantidade de cabelo, altura, peso, barba, rugas, tamanho
da cabeça etc. A ideia era partir da observação da realidade para chegar a regras gerais
sobre o comportamento delinquente. Tratou, então, de aplicar o método empírico e indu-
tivo para analisar o fenômeno criminal. Para Lombroso, o crime era um fenômeno bio-
lógico, e não um ente jurídico: o delinquente é um selvagem (ele não é igual ao restante
da população!) que já nasce criminoso por ser possuidor de algum tipo de epilepsia. Por
isso, Lombroso utiliza amplamente o conceito de criminoso nato. Os fatores ambientais,
sociais, ou seja, exógenos, externos ao indivíduo, apenas têm o poder de desencadear
os fatores clínicos, biológicos, endógenos. Há, portanto, forte negação do livre-arbítrio, já
que o criminoso é um ser moralmente inferior (não evoluiu!), um louco moral, com evidên-
cias de atavismo. O ser atávico é aquele que reapresenta características que já estavam
presentes em ascendentes distantes. Lombroso era, então, um evolucionista (seguia os
ensinamentos de Darwin): ele entendia que algumas pessoas seriam dotadas de uma
predisposição primitiva para a delinquência. Pessoas mais “evoluídas”, mais distantes
de seus antecessores primitivos, não seriam criminosas por não serem portadoras des-
sas características inatas que levavam ao crime. Lombroso emanou conceitos bastante
preconceituosos sobre as mulheres, consideradas cruéis, mentirosas, fracas, tagarelas e
indiscretas. As mulheres criminosas, para Lombroso, estavam intimamente associadas
à prostituição. As grandes categorias de criminoso para Lombroso são:
− o criminoso nato;
− o louco moral;
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− o epilético;
− o criminoso louco;
− o criminoso ocasional;
− e o criminoso passional.
Não há, em sua obra, uma preocupação em traçar nitidamente a distinção conceitual entre
cada uma das categorias. Partindo do pressuposto – equivocado – que essas categorias são con-
ceitos de cristalina compreensão, focou sua atenção em tirar medidas, analisar e comparar a fisio-
nomia e outras características corporais dos criminosos de cada tipo, buscando o tipo criminal.
• Raffaele Garofalo, jurista italiano, com sua obra Criminologia, de 1885, deu início à fase
jurídica do positivismo criminológico. Ele dizia que o crime é a revelação de uma nature-
za degenerada. Introduziu o conceito de temibilidade (ou periculosidade), que é a perver-
sidade constante e ativa do delinquente e a quantidade do mal que se deve temer desse
criminoso. Esse conceito foi importante para a proposta dos positivistas de aplicação
de medida de segurança, espécie de sanção penal com finalidade curativa que, diferen-
temente da pena, não deve ter prazo, mas sim ser aplicada pelo tempo em que persista
a patologia. A finalidade da medida de segurança, como o próprio nome já diz, é tratar o
criminoso e proteger a sociedade de pessoas desprovidas dos sentimentos de piedade
e probidade. Garofalo defendia, ainda, a existência de um conceito de delito natural, ou
seja, condutas que seriam consideradas crimes em todos os tempos e locais, tais como
o parricídio, o latrocínio e o homicídio por mera brutalidade. Ele postulava a adoção
de – e chegou mesmo a redigir – um código penal internacional, no qual previa duas
categorias de penas: eliminação absoluta, que nada mais é do que a pena de morte, des-
tinada aos homicidas; e eliminação relativa, para os demais tipos de delinquente. Den-
tro da eliminação relativa havia as seguintes espécies: “marooning” ou transporte com
abandono (abandono do delinquente em algum lugar isolado, como um deserto, ou uma
ilha remota, por exemplo); internação perpétua em colônia penal no exterior; internação
por tempo indeterminado no exterior; confinamento em asilos por tempo indeterminado,
que era o tipo de pena apropriada para loucos e alcoólatras; e trabalho compulsório.
• Enrico Ferri foi genro e sucessor de Lombroso. Com sua obra Sociologia Criminal, de
1900, inaugurou a fase sociológica do positivismo criminológico. Defendia, assim como
o sogro, que o livre-arbítrio era uma ficção, mas reconhecia a existência de fatores antro-
pológicos (ex: condições orgânicas), físicos (cosmo-telúricos, como clima e condições
atmosféricas) e sociais (como política, densidade populacional, religião, família) que
influenciavam no cometimento de um crime. Com base nesses fatores, e muito influen-
ciado pela aplicação dos métodos das ciências naturais às ciências humanas, formulou
a “lei da saturação”: assim como um líquido se comporta de maneiras diferentes a de-
pender da temperatura, o nível de criminalidade seria determinado pelas condições do
meio físico e social, combinadas com as tendências congênitas e impulsos ocasionais
dos indivíduos.
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Ferri, ao dar o devido peso aos fatores sociais, é considerado o pai da sociologia crimi-
nal. Ele explicava que o delinquente é um anormal, que só comete delitos porque vive em
sociedade. E segundo Ferri, é papel da sociedade se defender dessas ameaças, por meio de
medidas de defesa social (que viriam a dar origem às atuais medidas de segurança). Para
ele, a pena-castigo, por tempo determinado, não era adequada, suficiente. Era fundamental
que os delinquentes fossem colocados em isolamento por tempo indeterminado, para que só
saíssem quando estivessem curados ou corrigidos, ou seja, para que retornassem ao meio
social somente quando demonstrassem capacidade de interagir em sociedade sem represen-
tar ameaças.
No Brasil, três autores são particularmente identificados como conectados às ideias da
Escola Positivista Italiana:
• Tobias Barreto, em seu livro Menores e loucos em direito criminal, de 1884, apesar de
possuir uma concepção humanista, afirma que o direito de punir é consequência de
uma fórmula científica, algébrica, de imposição da pena aos criminosos, que perturbam
a ordem social. Tobias Barreto, assim como Lombroso, tinha uma visão bastante pre-
conceituosa da mulher, considerada um ser que se deixava levar pelas paixões e que,
quando apaixonada, era incapaz de pensar em qualquer outro assunto que não o amor;
• Nina Rodrigues, em As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, de 1894, cri-
ticou o ecletismo de Tobias Barreto e negou o livre-arbítrio invocando a heterogeneidade
da cultura mental dos brasileiros. Com postulados racistas, Nina Rodrigues dizia que o
negro era briguento, violento nas impulsões sociais e muito dado à embriaguez. Chegou
a defender a existência de, pelo menos, quatro Códigos Penais no Brasil, que atendes-
sem diversidades raciais e regionais;
• Afrânio Peixoto, autor de Hygiene, de 1917, foi no Brasil o defensor da eugenia (eu: boa;
genus: geração). Defendia a importância da medicina eugênica preventiva para o traba-
lho policial: deviam ser investigados e resolvidos os problemas biológicos da gestação,
para a produção de entes sadios, válidos. Em seu livro Criminologia, de 1933, defendeu
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que a disposição ao crime é hereditária e que, por isso, é necessário fazer uma seleção
das pessoas que queremos em nossa sociedade. Partindo de premissas polêmicas, en-
tendia que apenas as pessoas biologicamente dignas deveriam prosperar, e que seria a
realização de um sonho impedir a procriação de doentes, loucos, degenerados.
Como problemas comuns aos teóricos positivistas podem ser citados a patologização do
fenômeno delitivo e a concepção do entorno social como mero fator desencadeante da crimi-
nalidade. Houve, ademais, um erro metodológico cometido pelos positivistas, que consistiu
em analisar clinicamente pessoas que já haviam sido selecionadas pelo sistema sucessivo de
freios que é o Direito Penal.
Recurso Mnemônico
Para lembrarmos dos principais autores do POSITIVISMO,
(Lombroso, Ferri e Garofalo) temos essa imagem do Luiz Flá-
vio Gomes, penalista, conhecido como LFG, fazendo o sinal de
POSITIVO.
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• 1876: Cesare Lombroso, antropólogo italiano, lança a obra O homem delinquente, marco
para o positivismo antropológico;
• 1885: Raffaele Garofalo lança a obra Criminologia, marco para o positivismo jurídico;
• 1900: Enrico Ferri lança sua obra Sociologia criminal, dando origem a uma linha positi-
vista sociológica.
3. Escolas Intermediárias
As escolas intermediárias são aquelas que tentam compatibilizar o pensamento das Esco-
las Clássica e Positivista.
Essa escola busca, portanto, um equilíbrio entre os sistemas clássico e positivista. Von
Liszt, particularmente, defendia a ciência total do Direito Penal, da qual deveriam fazer parte o
Direito, a Antropologia, a Psicologia, a Estatística, a Criminologia, a Política Criminal. Para Liszt,
o Código Penal era a carta magna do delinquente e o Direito Penal, a barreira intransponível da
política criminal. Ou seja, o código Penal existia para defender os criminosos dos abusos esta-
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tais e as autoridades estariam obstadas de tentar buscar objetivos de dominação e poder por
meio do sistema criminal. As políticas criminais punitivistas teriam uma barreira, a dogmática
penal, cujos sólidos princípios nunca deveriam ser ultrapassados.
Se, como veremos nas próximas aulas, hoje são comuns as manifestações contrárias às
penas privativas de liberdade, muito se deve a essa Escola. Algumas das primeiras manifesta-
ções contrárias às penas privativas de liberdade de curta duração surgiram com o Programa
de Marburgo de Von Liszt, em 1882, e a sua “ideia de fim no Direito Penal”, quando sustentou
que a pena justa é a pena necessária.
Recurso Mnemônico:
Escola de Política Criminal;
Franz von Liszt;
Marburgo, na Alemanha.
Não chamaremos mais essa Escola de Escola de Política Criminal, mas sim de ESCOLA DE
POLISZTICA CRIMINALEMANHA.
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Recurso Mnemônico
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RESUMO
ILUMINISMO:
Antigo Regime (séculos XV a XVIII): monarquias absolutistas. Visão teocêntrica do mundo.
Sistema penal cruel, arbitrário e caótico.
Iluminismo (século XVIII): exaltação do poder da razão em detrimento da religião e do mis-
ticismo. Visão androcêntrica do mundo. Sistema penal humanizado. Serviu de base tanto para
a escola clássica como para a positivista.
ESCOLA CLÁSSICA:
Crença no livre arbítrio. O crime é o principal objeto de estudo, considerado um ente jurídico
e significa uma quebra do pacto social. Utilização do método dedutivo e abstrato. Preocupação
com as normais penais, que devem ser justas. As penas devem ser proporcionais, legítimas e
delimitadas e devem estar previstas em leis.
Expoentes da Escola Clássica:
• Feuerbach – Fundador da moderna dogmática penal. Delineou a autonomia do Direito
Penal. Deu ênfase ao princípio da legalidade.
• Marquês de Beccaria – Dos delitos e das penas, 1764. Valorização da dignidade das
pessoas. Humanização das penas.
• Francesco Carrara – Programa de Direito Criminal, 1859. Crime é um ente jurídico. As
pessoas escolhem se comportar contrariamente à lei. A pena pretende restabelecer a
ordem violada.
ESCOLA POSITIVISTA:
Crença no determinismo. O criminoso passa a ser o principal objeto de estudo. O crime é
considerado um fenômeno biológico ou social. Utilização do método indutivo, experimental e
interdisciplinar. Preocupação com a etiologia dos crimes. As penas ideais são as medidas de
segurança por tempo indeterminado.
Expoentes do Positivismo:
• Cesare Lombroso – O homem delinquente, 1876. Análise de características corporais.
Crime é fenômeno biológico. Criminoso possui epilepsia. Negação do livre-arbítrio. Uti-
lização do conceito de criminoso nato. Visão preconceituosa da mulher. Categorias de
criminoso: o criminoso nato; o louco moral; o epilético; o criminoso louco; o criminoso
ocasional; e o criminoso passional.
• Raffaele Garofalo – Criminologia, 1885. Crime é revelação da natureza degenerada.
Conceito de temibilidade justifica a aplicação de Medidas de Segurança por prazo inde-
terminado. Conceito de crime natural. Código Penal Internacional.
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Positivistas brasileiros:
• Tobias Barreto – Menores e loucos em direito criminal, 1884. Possui concepção hu-
manista, mas afirma que o direito de punir é consequência de uma fórmula científica,
algébrica.
• Nina Rodrigues – As raças humanas e a responsabilidade penal no Brasil, 1894. Negou
o livre-arbítrio invocando a heterogeneidade da cultura mental dos brasileiros. Postula-
dos racistas. 4 Códigos Penais.
• Afrânio Peixoto – Hygiene, de 1917, e Criminologia, de 1933. Defensor da eugenia. Dis-
posição ao crime é hereditária.
ESCOLAS INTERMEDIÁRIAS:
• Escola de Marburgo (Alemanha): Escola Sociológica Alemã, Escola Moderna Alemã ou
Jovem Escola Alemã de Política Criminal. Franz Von Liszt. Ciência total do Direito Penal.
Integração da Política Criminal ao Direito Penal. Emprego da Criminologia, Antropologia,
Sociologia, com o método indutivo-experimental Superação do monismo no tocante às
penalidades: possibilidade de emprego de penas (imputáveis) e medidas de segurança
(inimputáveis). Oposição às penas privativas de liberdade de curta duração. Pena vista
sobretudo como prevenção especial: intimidação para o criminoso ocasional; ressocia-
lização para o corrigível; ou neutralização para o habitual. Crime como fenômeno huma-
no, social e jurídico.
• Terza Scuola (Itália): Bernardino Alimena, Manuel Carnevale e Giovanni (João) Battista
Impallomeni. Delito é produto de uma pluralidade muito complexa de fatores endógenos
e exógenos. Possibilidade de se usar tanto a pena, fundamentada na responsabilidade
moral dos imputáveis, quanto a medida de segurança, fundamentada na temibilidade
do inimputável. Responsabilidade moral calcada no determinismo psíquico, e não no
livre-arbítrio. Dualidade de métodos (lógico-jurídico para o Direito Penal e empírico, ex-
perimental para as demais ciências penais). Crime como fenômeno individual e social.
Pena que visava a defesa social, com caráter aflitivo para alguns autores, e preventivo
para outros.
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MAPAS MENTAIS
Paul Johann Anselm Feuerbach
Cesare Lombroso
Criminologia
Itália Enrico Ferri
Raffaele Garofalo
Nascimento Positivistas
Tobias Barreto
Brasil
Nina Rodrigues
Iluminismo Afrânio Peixoto
Karl Röeder
Escola Correcionalista Francisco Giner de los Ríos
Pedro Dorado Montero
Alexandre Lacassagne
Escola de Lyon
Gabriel Tarde
Arturo Rocco
Escola Técnico-Jurídica
Karl von Binding
Bernardino Alimena
Terza Scuola Manuel Carnevale
Giovanni Impallomeni
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Século XVIII
Feuerbach
Marquês de Beccaria Dos Delitos e das Penas, 1764
Francesco Carrara
Crime como principal objeto
Crime é ente jurídico: infração à lei
Livre-arbítrio
Escola
Criminologia Delinquente e não-delinquente são essencialmente iguais
Clássica
Preocupação com penas justas, proprocionais e previstas em lei
Método dedutivo e abstrato
Política Criminal baseada em princípios como legalidade, huma-
nidade, dignidade
Pena como retribuição ao mal causado
Pena baseada na responsabilidade moral
Século XIX
Lombroso O Homem Delinquente, 1876
Garofalo Criminologia, 1885
Ferri Sociologia Criminal, 1900
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Criminologia
Escola de Marburgo
Alemanha
Escola Sociológica Alemã. Escola Moderna Alemã ou Escola de Política Criminal
Integração da Política Criminal ao Direito Penal
Franz Von Liszt
Crime é fenômeno humano, social e jurídico
Superação do monismo em relação às penalidades
Imputáveis: pena
Inimputáveis: medida de segurança
Bernardino Alimena
Manuel Carnevale
DP: lógico-jurídico
Imputávais: pena
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EXERCÍCIOS
001. (VUNESP/PC/DELEGADO DE POLÍCIA/2014) A obra O homem delinquente, publicada
em 1876, foi escrita por:
a) Cesare Lombroso.
b) Enrico Ferri.
c) Rafael Garófalo.
d) Cesare Bonesana.
e) Adolphe Quetelet.
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c) Antropologia Criminal.
d) O Ambiente Criminal.
e) Sociologia Criminal.
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044. (INÉDITA/2022) Tobias Barreto se revelou um grande defensor dos direitos das mulheres
no Brasil.
047. (INÉDITA/2022) A eugenia de Afrânio Peixoto pode ser considerada uma decorrência
dos estudos positivistas.
048. (INÉDITA/2022) Uma das principais diferenças entre as escolas clássica e positivista
reside no método. Enquanto os clássicos são eminentemente empíricos, os positivistas se
valem do método indutivo.
050. (INÉDITA/2022) Garofalo foi um jurista positivista que defendeu a aplicação de medida
de segurança com finalidade curativa.
051. (INÉDITA/2022) Tanto a Terza Scuola como a Escola de Marburgo possuem, entre seus
postulados, a possibilidade de coexistência da pena e da medida de segurança num mesmo
ordenamento jurídico.
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GABARITO
1. a 27. e
2. c 28. b
3. a 29. c
4. a 30. c
5. a 31. a
6. d 32. C
7. b 33. d
8. E 34. e
9. a 35. E
10. C 36. a
11. d 37. C
12. a 38. a
13. E 39. C
14. d 40. d
15. C 41. b
16. c 42. c
17. E 43. a
18. d 44. E
19. e 45. C
20. C 46. E
21. b 47. C
22. a 48. E
23. a 49. E
24. b 50. C
25. b 51. C
26. a
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GABARITO COMENTADO
001. (VUNESP/PC/DELEGADO DE POLÍCIA/2014) A obra O homem delinquente, publicada
em 1876, foi escrita por:
a) Cesare Lombroso.
b) Enrico Ferri.
c) Rafael Garófalo.
d) Cesare Bonesana.
e) Adolphe Quetelet.
Os autores debatem sobre qual o marco inicial da Criminologia como ciência. Para a grande
maioria dos estudiosos, a Criminologia moderna nasce com Cesare Lombroso, que escreveu O
homem delinquente, em 1876.
Letra a.
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III – A Criminologia, como ciência, não pode trazer um saber absoluto e definitivo sobre o
problema criminal, senão um saber relativo, limitado, provisional a respeito dele, pois, com o
tempo e o progresso, as teorias se superam.
Estão CORRETAS as assertivas indicadas em:
a) I e II, apenas.
b) I e III, apenas.
c) I, II e III.
d) II e III, apenas.
O positivismo entendia que o criminoso era um doente e, portanto, pretendia curá-lo. Alguns
autores positivistas, como é o caso de Garofalo, defendiam a existência do delito natural: con-
dutas que seriam consideradas crimes em qualquer tempo e lugar por sua brutalidade. Essa
criminalidade prescindiria, portanto, de definições legais.
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Já a Escola Clássica entendia que os seres humanos são dotados de igualdade e que devem
ser respeitados princípios de humanidade, legalidade e utilidade.
Letra a.
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Lombroso, assim como seus colegas positivistas, desenvolveram teorias que consideravam o
livre-arbítrio uma ficção.
Os positivistas reconheciam o determinismo, mas não por isso defendiam que não devesse ha-
ver punição. Para Lombroso, o estudo do corpo do delinquente era fundamental para entender
o crime. Os estudos de Lombroso e dos positivistas trouxeram, para a Criminologia, métodos e
objetos que puderam consolidá-la como ciência. Não há, na Criminologia, referências à teoria
do distanciamento.
Letra d.
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dade dos criminosos, que eram vistos como doentes e anormais e só poderiam retornar à vida
em liberdade quando estivessem curados, quando deixassem de representar uma ameaça.
O instituto penal da medida de segurança, plenamente vigente, é considerado uma decorrência
dos postulados positivistas.
Feri é, ao lado de Garofalo e Lombroso, expoente da Criminologia, ainda que tenha enveredado
pela sociologia criminal.
O positivismo foi a escola responsável por trazer a pesquisa empírica para o método da
Criminologia.
Letra b.
Enrico Ferri foi genro e sucessor de Lombroso. Em sua obra Sociologia criminal, de 1900, de-
fendia, assim como o sogro, que o livre-arbítrio era uma ficção, mas reconhecia a existência de
fatores antropológicos, físicos e também sociais.
Letra a.
A Escola Clássica não viu nenhuma anormalidade no criminoso e se preocupou mais com o
crime em si e com a pena. A Escola Positivista, a seu turno, colocou o criminoso na lista de
objetos da Criminologia e nele detectou a existência de traços, marcas que determinavam o
caráter delinquente.
Certo.
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A Escola Positivista trouxe, para o estudo do Direito Penal, o método científico empírico, in-
dutivo e multidisciplinar, oriundo das ciências naturais, fundando a Criminologia como ciên-
cia autônoma.
Letra d.
Raffaele Garofalo pertence ao positivismo, que pode ser dividido em fase antropológica, de
Lombroso; fase sociológica, de Ferri; e fase jurídica, de Garofalo.
Letra a.
As teorias sociológicas começam a surgir no seio da Escola Positivista, com Enrico Ferri. Não
implicam o fim da pesquisa sobre as causas do crime (etiologia). Ao contrário, surgem exata-
mente para dar resposta às investigações etiológicas.
Errado.
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Enrico Ferri foi genro e sucessor de Lombroso. Em sua obra Sociologia Criminal, de 1900, de-
fendia, assim como o sogro, que o livre-arbítrio era uma ficção, mas reconhecia a existência
de fatores antropológicos, físicos e também sociais. Ferri, ao dar o devido peso aos fatores
sociais, é considerado o pai da sociologia criminal.
Letra d.
A Escola de Política Criminal previa a possibilidade de penas conviverem com medidas de se-
gurança no ordenamento jurídico. O Programa de Marburgo de Von Liszt, mais especificamen-
te, defendia o fim das penas privativas de liberdade de curta duração.
Certo.
A Escola Clássica acredita que o indivíduo pode tomar decisões racionais relativas ao cometi-
mento de crimes.
As demais alternativas referem-se ao positivismo criminológico.
Letra c.
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O trinômio trazido pela questão faz parte dos objetos da criminologia, aos quais ainda deve
se somar o controle social. O direito penal se preocupava sobretudo com o delito e, de certo
modo, com o delinquente (preocupação com o caráter proporcional e justo das penas, por
exemplo), mas não olhou para a vítima.
Errado.
Franz Von Liszt propôs um modelo tripartido da ciência conjunta do Direito penal. Essa ciên-
cia conjunta conteria três saberes autônomos, mas que deveriam andar interligados: o direito
penal, ciência normativa e dogmática que tem por objetivo punir as condutas desviantes; a
criminologia, como ciência das causas do crime e da criminalidade; e a política criminal, con-
substanciada nos instrumentos que o Estado utiliza para controlar o fenômeno criminal. Esse
movimento de modernizar o Direito Penal, integrando-o com o a criminologia e a política crimi-
nal, ficou conhecido como Programa de Marburgo. Na letra A, a Escola de Kiel foi responsável
por idealizar o direito penal nazista, que servia aos ideais de superioridade da raça ariana e
que admitia a punição pela simples cogitação, fundada na periculosidade do agente. Na letra
B, a teoria da nova defesa social pretendia conciliar a luta contra o crime e a humanização
das penas. Na letra C, o finalismo penal de Hans Welzel se dedicou a explicar que toda ação
humana é finalista, ou seja, traz consigo uma finalidade, um querer, e que, por isso, o dolo e a
culpa deveriam ser retirados da culpabilidade e transportados para a tipicidade. Na letra E, a
escola positiva diz respeito ao positivismo, que tentou aplicar às ciências humanas métodos
das ciências naturais.
Letra d.
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Enrico Ferri foi genro e sucessor de Lombroso. Com sua obra Sociologia Criminal, de 1900,
inaugurou a fase sociológica do positivismo criminológico. Defendia, assim como o sogro, que
o livre-arbítrio era uma ficção, mas reconhecia a existência de fatores antropológicos, físicos e
sociais que influenciavam no cometimento de um crime.
Letra e.
Essa questão é de alto nível de dificuldade em função de uma redação, a meu ver, um tanto pro-
blemática. O que o enunciado quer dizer, resumidamente, é: O positivismo criminológico carac-
teriza-se pela negação do livre arbítrio, pela crença no determinismo, pela adoção do método
empírico-indutivo e pela neutralidade axiológica da ciência, independentemente do fato de um
dado autor positivista ter um viés mais antropológico, psicológico ou sociológico. Lido dessa
maneira o enunciado está correto: a criminologia positivista é empírica, é indutiva, defende o
determinismo, não se aproxima do delito para julgá-lo, ou seja, não faz juízos de valores, juízos
axiológicos (neutralidade axiológica), mas sim tenta entender as razões para o cometimento
de um delito. Todos esses postulados foram empregados por autores positivistas independen-
temente do viés antropológico, psicológico ou sociológico de seus estudos.
Certo.
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Em 1764, Cesare Bonesana, jurista italiano conhecido como Marquês de Beccaria, lança a obra
Dos delitos e das penas, marco para o Direito Penal Clássico e para a Criminologia.
Letra b.
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Cesare Lombroso, Raffaele Garofalo e Enrico Ferri são os principais expoentes da Escola Po-
sitivista da Criminologia.
Letra a.
Cesare Lombroso é considerado o pai da Criminologia, por ter inovado nos métodos que em-
pregou. Para a maioria dos autores, é com Lombroso que a Criminologia pode passar a ser
considerada uma ciência.
Letra b.
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Questão difícil! A letra “c” é a mais correta. Para o positivismo, é papel da sociedade se defen-
der das ameaças que são os criminosos, por meio de medidas de defesa social (que viriam
a dar origem às atuais medidas de segurança). Era fundamental que os delinquentes fossem
colocados em isolamento por tempo indeterminado, para que só saíssem quando estivessem
curados ou corrigidos. Na letra “a”, para o pensamento positivista o livre-arbítrio é uma ficção.
Na letra “b”, Ferri não fala de delinquente moral, e fala em delinquente habitual. Na letra “d”, não
se trata, para Ferri, de definir a quantidade de punição de alguém de acordo com a imoralidade
do seu ato (responsabilidade moral, típica da Escola Clássica), mas sim de definir a quantidade
de punição de alguém de acordo com a necessidade de proteger a sociedade desse tipo de
mal (responsabilidade social). Na letra “e”, a cura do delinquente deve ser a medida da pena, e
não a natureza objetiva do crime.
Letra c.
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e) Enrico Ferri e Cesare Lombroso, recorrendo à metáfora da guerra contra o delito, sustenta-
ram a possibilidade de aplicação das penas de deportação ou expulsão da comunidade para
aqueles que carecessem do sentido de justiça ou o tivessem aviltado.
Outra questão difícil! Para Garofalo, a finalidade da medida de segurança, meio de defesa so-
cial, era tratar o criminoso e proteger a sociedade de pessoas desprovidas dos sentimentos de
piedade e probidade. Na letra “a”, Lombroso associa o atavismo ao criminoso nato. Na letra “b”,
o conceito de temeridade é de Garofalo. Na letra ‘d”, Ferri não chegou a abandonar as causas
biológicas da criminalidade. O que ele fez, em realidade, foi associá-las a outros tipos de expli-
cações para o crime, como as sociais. Na letra “e”, estão descritas penas previstas no Código
Penal Internacional de Garofalo.
Letra c.
Para a escola clássica, o crime é um ente jurídico que deve ser apenado com base no livre-arbí-
trio, a partir do método dedutivo de aplicar a lei (uma regra geral) ao caso concreto (infração).
Nas demais alternativas há vários erros. É com o positivismo que: a pena passa a ser consi-
derada instrumento de defesa social; o criminoso se torna objeto da criminologia; tem início o
emprego do método indutivo-experimental; o crime passa a ser visto como fenômeno social;
tem início o emprego do conceito de determinismo social.
Letra a.
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Franz Von Liszt propôs um modelo tripartido da ciência conjunta do Direito penal. Essa ciên-
cia conjunta conteria três saberes autônomos, mas que deveriam andar interligados: o direito
penal propriamente dito, ciência normativa e dogmática que tem por objetivo punir as condutas
desviantes; a criminologia, como ciência das causas do crime e da criminalidade; e a política
criminal, consubstanciada em um conjunto de princípios fundados na investigação das causas
do crime e dos efeitos da pena (ou seja, fundados nas contribuições da criminologia), com base
nos quais o Estado deve definir que instrumentos utilizará para controlar o fenômeno criminal. Os
instrumentos devem ser flexíveis e multifuncionais, capazes tanto de intimidar algumas pessoas
como de ressocializar outras. Esse movimento de modernizar o Direito Penal, integrando-o com
o a criminologia e a política criminal, ficou conhecido como Programa de Marburgo.
Certo.
Dos delitos e das Penas é a mais importante obra de Cesare Bonesana, conhecido como Mar-
quês de Beccaria e um dos principais expoentes da escola clássica.
Letra d.
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Lombroso e Garofalo são dois expoentes da Escola Positiva. Como ainda veremos detalhada-
mente, na letra “a”, a Escola de Chicago é uma teoria do consenso que explica a criminalidade
analisando a desorganização social das cidades, enquanto a Teoria Crítica é uma teoria do
conflito que, com viés predominantemente marxista, enxerga no modo de vida capitalista as
razões para a prática criminal, fazendo duras críticas às teorias do consenso. Na letra “b”, o
delito sempre foi um dos objetos da Criminologia. Na letra “c”, a Criminologia utiliza amplamen-
te o método empírico, de observação da realidade. E na letra “d”, a teoria do criminoso nato é
de Lombroso.
Letra e.
No panorama criminológico clássico (Escola Clássica) não há que se falar, ainda, em orien-
tações sociológicas, que serão introduzidas na Criminologia pelo positivismo criminológi-
co de Ferri.
Errado.
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É necessário prestar atenção ao enunciado para perceber que a pergunta diz respeito à crimi-
nologia tradicional positivista, que é aquela calcada, sobretudo, nos ensinamentos de Lombro-
so. Trata-se de uma criminologia que analisa o corpo e a mente do delinquente em busca de
patologias (realidade biopsicopatológica) que justifiquem a prática de um crime. É uma escola
que rechaça o livre-arbítrio, em detrimento do determinismo, seja ele biológico ou social.
Letra a.
Liszt defendia que a pena justa é a pena necessária e que a finalidade preventiva especial (di-
rigida ao delinquente) da pena se cumpre dependendo do tipo de criminoso: para o criminoso
ocasional (que não necessita ser ressocializado), a pena é uma intimidação, uma recordação
de que ele não deve cometer crimes; para o criminoso corrigível, a pena deve ter o fim de
ressocializar, de corrigir; para o criminoso habitual (que não é passível de ressocialização),
a pena deve servir como neutralização, inocuização, para que ele, isolado, deixe de cometer
novos crimes.
Certo.
Alguns postulados da Terza Scuola são: distinção entre imputáveis e inimputáveis, sendo a
aplicação de penas fundada não mais com base no livre-arbítrio, mas na responsabilidade
moral derivada do determinismo da normalidade psíquica; crime como fenômeno individual e
social; pena que visava a defesa social, com caráter aflitivo para alguns autores, e preventivo
para outros. Na letra B, a Escola Moderna Alemã (Escola de Marburgo, Escola de Política Cri-
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A Escola Positivista defendia a observação dos fenômenos criminais, com primazia para a
experiência sensitiva humana. A ideia era aplicar, nas ciências humanas, métodos oriundos
das ciências naturais. Essa Escola inaugura o paradigma etiológico, ou seja, um esquema de
interesse pela razão que leva alguém ao cometimento de um crime. A Criminologia nasce no
Positivismo como ciência causal-explicativa da criminalidade, valendo-se do método de obser-
vação da realidade (empírico, experimental, indutivo e interdisciplinar).
Certo.
O Positivismo criminológico, ou Escola Positiva, surgiu na Itália, no século XIX. Foi influenciada
pelos postulados iluministas. Possui três fases principais: antropológica (de Cesare Lombro-
so), jurídica (de Raffaele Garofalo) e sociológica (de Enrico Ferri). Antropólogo italiano, Lom-
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broso foi autor da célebre obra O homem delinquente, de 1876, em que aplicou o método
empírico e indutivo para analisar o fenômeno criminal. Para a maioria dos autores, é com Lom-
broso que a Criminologia pode passar a ser considerada uma ciência. Para o positivismo, o
criminoso é anormal, doente. É característica do pensamento positivista a adoção de medidas
de segurança com finalidade curativa, pelo tempo em que persistisse a patologia. A medida
de segurança é uma medida de defesa social (defesa da sociedade) contra o criminoso. Prio-
rizam-se, assim, no positivismo os interesses da sociedade, em detrimento, por exemplo, dos
direitos e garantias dos delinquentes.
Letra d.
O Positivismo Criminológico teve três fases principais: antropológica (de Cesare Lombroso),
jurídica (de Raffaele Garofalo) e sociológica (de Enrico Ferri). Na letra A, Ferri é o pai da Socio-
logia Criminal. Na letra C, Cesare Bonesana, ou Marquês de Beccaria, é o principal expoente
da Escola Clássica. Na letra D, Durkheim formulou a Teoria da Anomia. E na letra E, Hans von
Hentig é um dos principais autores da Vitimologia.
Letra b.
Enrico Ferri é considerado o pai da Sociologia Criminal. Em 1900 publicou a obra Sociologia
Criminal, em que defendeu a análise de muitos fatores que atuam na criminogênese, dentre os
quais mencionava a influência do ambiente físico e social onde o delinquente vive.
Letra c.
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Para os positivistas, o livre-arbítrio era uma ilusão. O delinquente era escravo do determinismo
biológico ou do determinismo social. É característica do pensamento positivista a adoção de
medidas de segurança com finalidade curativa, de tratamento, pelo tempo em que persistisse
a patologia. Na letra B, Jeremy Bentham, filósofo inglês dos séculos XVIII e XIX, que defendeu
a construção de panópticos, pode ser catalogado como pertencente ao utilitarismo ou à Es-
cola Clássica. Na letra C, Francesco Carrara é um dos expoentes da Escola Clássica. Na letra
D, a criminologia positivista tem como um de seus principais méritos o fato de ter introduzido
o emprego do método indutivo e empírico na análise do fenômeno criminal. Os métodos dog-
mático e dedutivo são típicos do Direito Penal. Na letra E, foi com a Escola Positivista que a
criminologia se firmou como ciência, portanto não se trata de etapa pré-científica.
Letra a.
044. (INÉDITA/2022) Tobias Barreto se revelou um grande defensor dos direitos das mulheres
no Brasil.
Tobias Barreto, assim como Lombroso, tinha uma visão bastante preconceituosa da mulher,
um ser que se deixava levar pelas paixões e que, quando apaixonada, era incapaz de pensar em
qualquer outro assunto que não o amor.
Errado.
Francesco Carrara, com o seu Programa de Direito Criminal, de 1859, defendia que indivíduos
possuem livre-arbítrio e decidem se comportar de maneira contrária à Lei, sendo a pena uma
retribuição jurídica que pretende restabelecer a ordem externa violada. Ele é considerado um
dos principais nomes da Escola Clássica do Direito Penal.
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Bonesana é o Marquês de Beccaria, que pertence à Escola Clássica do Direito Penal. Lombroso
e Garofalo, por sua vez, são expoentes do positivismo criminológico.
Errado.
047. (INÉDITA/2022) A eugenia de Afrânio Peixoto pode ser considerada uma decorrência
dos estudos positivistas.
Afrânio Peixoto, autor de Hygiene, de 1917, foi no Brasil o defensor da eugenia (eu: boa; genus:
geração). Defendia a importância da Medicina eugênica preventiva para o trabalho policial: de-
viam ser investigados e resolvidos os problemas biológicos da gestação, para a produção de
entes sadios, válidos. Ele é um dos autores brasileiros conectados à Escola Positivista.
Certo.
048. (INÉDITA/2022) Uma das principais diferenças entre as escolas clássica e positivista
reside no método. Enquanto os clássicos são eminentemente empíricos, os positivistas se
valem do método indutivo.
O começo está correto. Uma das principais diferenças entre as Escolas Clássica e Positivista
reside no método. Ocorre que tanto o método indutivo quanto o empirismo, isto é, a observa-
ção da realidade, são típicos do positivismo. A Escola Clássica era dedutiva e abstrata.
Errado.
Para os positivistas, o livre-arbítrio era uma ilusão. O delinquente era escravo do determinismo
biológico ou do determinismo social. Já os clássicos acreditavam no livre-arbítrio do indivíduo.
Errado.
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050. (INÉDITA/2022) Garofalo foi um jurista positivista que defendeu a aplicação de medida
de segurança com finalidade curativa.
Raffaele Garofalo, jurista italiano, em sua obra Criminologia, de 1885, discorreu sobre a temibi-
lidade, conceito importante para a proposta dos positivistas de aplicação de medida de segu-
rança, espécie de sanção penal com finalidade curativa que, diferentemente da pena, não deve
ter prazo, mas sim ser aplicada pelo tempo em que persista a patologia.
Certo.
051. (INÉDITA/2022) Tanto a Terza Scuola como a Escola de Marburgo possuem, entre seus
postulados, a possibilidade de coexistência da pena e da medida de segurança num mesmo
ordenamento jurídico.
A depender das circunstâncias do crime e do criminoso, podem ser aplicadas penas, baseadas
na culpabilidade, ou medidas de segurança, baseadas na periculosidade dos delinquentes.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANITUA, Gabriel Ignacio. História dos pensamentos criminológicos. Rio de Janeiro: Revan: ICC,
2008.
BARRETO, Tobias. Menores e loucos em direito criminal. Brasília: Senado Federal, Conselho
Editorial, 2003.
BECCARIA, Cesare Bonesana, Marches di. Dos delitos e das penas. São Paulo:Martin Claret, 2014.
FERRI, Enrico. The Positive School of Criminology. [S.l]: Jefferson Publication, 2015
HERREIRA, Aparecida da Silva. Nova Defesa Social. In Akropolis – Revista de Ciências Huma-
nas da UNIPAR, volume 3, n. 12 (1995), pp. 20 – 25.
LOMBROSO, Cesare. L´Homme criminel. 2 ed. francesa. Paris: Félix Alcan Éditeur, 1895.
RODRIGUES, Nina. As Raças Humanas e a Responsabilidade Penal no Brasil.3. ed. [S.l.]: Com-
panhia Editora Nacional, 1938.
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CRIMINOLOGIA
Nascimento da Criminologia. Precursores. Iluminismo.
Clássicos. Positivistas. Intermediários
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Mariana Barreiras
Servidora pública federal desde 2009. Graduada em Direito e Mestre em Direito Penal e Criminologia pela
Universidade de São Paulo (USP). Professora de Legislação de Interesse da Atividade de Inteligência, Direito
Penal e Criminologia em cursos preparatórios para concurso público. Autora do livro “ABIN - Legislação de
Inteligência Sistematizada e Comentada”, publicado pela editora JusPodivm. Foi Assessora Técnica da
Comissão Nacional da Verdade da Presidência da República (2012 a 2014). Foi Agente de Promotoria do
Ministério Público do Estado de São Paulo (2006-2009). Lecionou as disciplinas Direito Penal e Criminologia
na Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino. Foi membro de diversas
coordenações do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, tendo orientado pesquisas do Laboratório de
Iniciação Científica. Coautora do livro “Criminologia e os problemas da atualidade” e autora de artigos nos
temas de Direito Penal e Criminologia.
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CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas
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Sumário
Apresentação......................................................................................................................................................................3
Teorias Sociológicas.......................................................................................................................................................4
1. Teorias do Consenso e do Conflito.....................................................................................................................4
2. Teorias do Consenso..................................................................................................................................................5
2.1. Escola de Chicago....................................................................................................................................................6
2.2. Teoria da Anomia.. ................................................................................................................................................. 10
2.3. Teorias da Aprendizagem. . ................................................................................................................................14
2.4. Teoria da Subcultura Delinquente.............................................................................................................. 22
3. Teorias do Conflito.. .................................................................................................................................................25
3.1. Labelling Approach.. ............................................................................................................................................26
3.2. Criminologia Crítica.............................................................................................................................................33
Resumo................................................................................................................................................................................55
Mapas Mentais. . ..............................................................................................................................................................63
Exercícios............................................................................................................................................................................ 67
Gabarito...............................................................................................................................................................................84
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................85
Referências......................................................................................................................................................................120
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CRIMINOLOGIA
Teorias Sociológicas
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Apresentação
Olá, bem-vindo(a) à nossa terceira aula. Antes de começarmos, deixo meu Instagram, para
quem tiver interesse: @profmaribarreiras.
Hoje vamos analisar o assunto de Criminologia mais cobrado em provas (se analisadas as
questões de todas as bancas): as teorias sociológicas, que são amplamente dominantes na
Criminologia contemporânea. São teorias que, como já expliquei para você, defendem a im-
possibilidade de se analisar o fenômeno criminal prescindindo do estudo da sociedade onde
o delito está inserido.
Antes de analisar as teorias sociológicas propriamente ditas, vamos conhecer algumas
classificações que são feitas sobre elas.
Ah, nessa aula, vou usar muitos recursos mnemônicos, para ajudar na memorização. Afi-
nal, temos que saber associar a ideia principal de cada teoria a seus autores. Caso eles não
te ajudem, desenvolva os seus. Vá memorizando aos poucos, por camadas. Num primeiro
momento, aprenda quais são as teorias do consenso, e quais as do conflito. Depois de uns
dias, decore a ideia central de cada escola. Por fim, quando tudo isso estiver dominado, acres-
cente os nomes dos autores. Aqui na aula escrita, não tenho como desenvolver os recursos
mnemônicos com detalhes. Inseri as imagens de cada recurso de memorização que uso nas
aulas gravadas. Apesar de as imagens serem autoexplicativas, você pode sentir falta de mais
detalhes para compreender o recurso mnemônico. Nesses casos, sugiro que dê uma olhada
nas videoaulas. Boa aula!
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Teorias Sociológicas
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TEORIAS SOCIOLÓGICAS
1. Teorias do Consenso e do Conflito
As teorias sociológicas dividem-se em dois grandes grupos: teorias do consenso e teorias
do conflito.
As teorias do consenso partem do pressuposto de existência de objetivos comuns a todos
os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. As pessoas de um grupo social possuem con-
senso em torno de uma série de valores e criam instituições para manter a ordem social. Esse
grupo de teorias também é chamado de integralista ou estrutural funcionalista, pois compre-
ende que a sociedade é uma estrutura relativamente estável de elementos, bem integrada e
que todo elemento em uma sociedade possui uma função, contribuindo para a manutenção do
sistema. Essas teorias são mais conservadoras, pois aceitam pacificamente a organização da
sociedade. Para essas teorias, o crime é uma disfunção, ou seja, uma função negativa. O delito
é um fenômeno social, normal e funcional.
Ralf Dahrendorf explica que as teorias do consenso se baseiam em quatro teses:
• Toda sociedade é um sistema relativamente constante e estável de elementos (tese da
estabilidade);
• Toda sociedade é um sistema equilibrado de elementos (tese do equilíbrio);
• Cada elemento dentro da sociedade contribui para o seu funcionamento (tese do fun-
cionalismo);
• Cada sociedade se mantém graças ao consenso dos seus membros sobre determina-
dos valores comuns (tese do consenso).1
Recurso de memorização!
CONSENSO: Chicago, Anomia, Subcultura, Aprendizagem.
É CONSENSO que todo mundo quer CASA.
As teorias do conflito, por outro lado, partem do pressuposto de que há força e coerção
na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e sujeição de outros. A
produção legislativa serviria para assegurar o triunfo da classe dominadora. A sociedade está
1
DAHRENDORF, Ralf. Sociedad y Libertad: hacia un análisis sociológico de la actualidad. Madri: Tecnos, 1971, p. 190.
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Teorias Sociológicas
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sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento da sociedade contribui, de certa for-
ma, para sua desintegração. Para essas teorias o crime faz parte da luta pelo poder. Assim, em
lugar de uma visão de cunho funcionalista, tem-se uma visão de cunho argumentativo. Essas
teorias são mais progressistas, pois enxergam a dominação e querem alterá-la.
Dahrendorf, ao tentar simplificar as teorias do conflito, elenca os seguintes postulados:
• Toda sociedade – e cada um dos seus elementos – está a todo tempo submetida à mu-
dança (tese da historicidade);
• Toda sociedade é um sistema de elementos contraditórios em si e explosivos (tese da
explosividade);
• Cada elemento dentro da sociedade contribui para a sua mudança (tese da disfunciona-
lidade e da produtividade);
• Toda sociedade se mantém graças à coação que alguns dos membros exercem sobre
os demais (tese da coação).2
Para Dahrdendorf, aliás, a tese da coação é a mais apropriada para explicar os conflitos
sociais que são, no limite, conflitos que repousam sobre a desigualdade de divisão de poder
entre os membros da sociedade. Para os teóricos dessa linha, os conflitos possuem efetivida-
de criadora (eles causam mudanças) e é necessário se afastar do pensamento utópico de um
sistema social equilibrado.
A teoria do labelling approach – também chamada de interacionista, interacionismo simbó-
lico, teoria da rotulação ou do etiquetamento – e as teorias críticas – também denominadas
radicais ou dialéticas – se encaixam na categoria de teoria do conflito. Perceba, portanto, que
o Modelo de Reação Social é o modelo típico das teorias do conflito.
Recurso de memorização!
CONSENSO: Chicago, Anomia, Subcultura, Aprendizagem.
CONFLITO: Crítica, Interacionismo Simbólico ou Etiquetamen-
to.
É CONSENSO que todo mundo quer CASA.
O CONFLITO é que estamos em CRISE.
2. Teorias do Consenso
Como acabamos de analisar, as teorias do consenso também são chamadas de funciona-
listas, estrutural-funcionalistas ou integralistas. Elas partem do pressuposto de existência de
objetivos comuns a todos os cidadãos, que aceitam as regras vigentes. Essas teorias são con-
2
DAHRENDORF, Ralf. Sociedad y Libertad: hacia un análisis sociológico de la actualidad. Madri: Tecnos, 1971, p. 190.
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Teorias Sociológicas
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Grande parte da população de Chicago nessa época era de imigrantes. A cidade crescia se
expandindo em anéis, ou círculos concêntricos, do centro para a periferia. Essa é a teoria das
zonas concêntricas, de Ernest Burgess. Segundo ele, o anel mais central, chamado loop, era a
zona comercial, com bancos, grandes lojas, a administração da cidade, estações etc. A segun-
da zona, chamada zona de transição, é uma zona de comércio que conecta o loop à terceira
zona (residencial). A zona de transição, por estar constantemente sujeita à invasão do loop, era
uma área com intensa mobilidade e degradação, com barulho, agitação, mau cheiro, bordéis e
pensões – as denominadas tenement houses, espécies de cortiços para os recém-chegados à
cidade. A terceira zona abrigava trabalhadores com uma condição financeira ligeiramente me-
lhor e imigrantes de segunda geração (filhos dos imigrantes originais). Nela, as moradias ainda
são modestas, mas já ficam um pouco mais afastadas das zonas deterioradas. A quarta zona
é a da chamada classe média, com moradias um pouco melhores. E a quinta zona é aquela
habitada pelos altos-estratos da população. Esses moradores são chamados commuters: são
pessoas que gastam muito tempo em meios de transporte para chegar às regiões centrais
da cidade.
Grandes condomínios de luxo, que se assemelham a cidades, com ruas, enormes áreas de
lazer e até lojas, mais populosos que muitas cidades, cercados de muros, constantemente
vigiados, e afastados do centro da cidade são realidades bastante comuns nas metrópoles
brasileiras. Alphaville em São Paulo (e presente também em outras cidades brasileiras) e con-
domínios da Barra da Tijuca (Rio de Janeiro) são citados como exemplos que se encaixam na
descrição da zona V de Burgess. O aumento da tensão social e a decadência de certos bairros
da cidade faz com que as pessoas queiram se agrupar em comunidades fechadas, em que
fiquem distantes da confusão. Iniciativas como essa acabam por fragmentar o espaço social,
criando a cidade dual. Esse conceito de dual city aumentar a distância social entre os dois gru-
pos. Os moradores dos condomínios não veem os pobres, não convivem com eles. E quanto
mais desconhecemos o outro, quanto mais ficamos afastados e o consideramos um estranho,
mais fácil é criminalizar suas condutas. Segundo Nils Christie, criminólogo norueguês contem-
porâneo, falecido em 2015, a distância social aumenta a tendência de que certas condutas
sejam criminalizadas3.
Clifford Shaw e Henry McKay são outros dois nomes importantes na Escola de Chicago.
Com base na teoria das zonas concêntricas, eles se dedicaram a analisar as áreas de delinqu-
ência e a delinquência juvenil. A obras mais conhecidas deles é Delinquency Areas.
Eles foram responsáveis por demonstrar que, quanto mais perto do loop, maior a degrada-
ção e as taxas de criminalidade dos bairros. Concluíram, também, que nas áreas criminais, o
3
FREITAS, Wagner Cinelli de Paula. Espaço urbano e criminalidade: lições da Escola de Chicago. São Paulo: IBCCRIM, 2002,
p.121 e ss.
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Teorias Sociológicas
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controle social informal é pouco eficiente na formatação do comportamento dos jovens, já que
familiares, amigos e vizinhos geralmente aprovam condutas antissociais. Para Shaw e McKay,
a delinquência começaria cedo, como jogo das ruas e alguns bairros ofereceriam oportunida-
des ao crime, como pessoas dispostas a adquirir bens roubados.
Não se deve, no entanto, entender que há um determinismo ecológico, ou seja: a pessoa
cometerá crimes apenas por habitar uma região. O que ocorre é que o fato de estar localizado
em uma área da cidade é um vetor criminógeno, ou seja, um fator que pode contribuir com a
prática de um delito.
A escola de Chicago percebe que é mais apropriado falar em “cidades”, no plural, pois cada
parte do Município tem sua cultura própria, sua dinâmica particular, com estatutos, usos, cos-
tumes. A cidade não é apenas um amontoado de pessoas, ruas, bairros. O complexo cultural
determina o que é típico de cada cidade e mais, de cada parte da cidade. Essas culturas são
transmitidas e aprendidas dentro dos respectivos grupos.
As formas de adaptação das pessoas à cidade fazem com que haja um processo de per-
manente interação. As interações são tantas que se fala em sobrecarga ou saturação. E ao
mesmo tempo em que há interação, é comum, nas cidades, que haja anonimato: as pessoas
têm mais liberdade de ação de modo que os freios exercidos pelas instâncias de controle so-
cial se afrouxam. As pessoas, nas cidades, se distanciam, são seletivas em seus processos
de aproximação, competem pelos escassos recursos da cidade, tudo isso resultando em uma
postura individualista que tem impacto na criminalidade.
Dentro dos bairros, dos quarteirões, dos edifícios, as pessoas se aproximam por serem
similares. Os vizinhos controlam, informalmente, as atividades uns dos outros, numa espécie
de polícia natural. Nas chamadas “regiões morais”, um grupo de habitantes se identifica. Em
cidades com muitos imigrantes, como era Chicago, havia áreas morais formadas por pessoas
de uma mesma raça ou origem, que ali vivem ou convivem (pode ser um local de residência ou
de encontro) de maneira segregada do restante da população. Há, por exemplo, regiões morais
de pobres, viciados, desajustados, criminosos.
Como as cidades são dotadas de mobilidade, há grande fluidez de pessoas pelas regiões,
o que tende e confundir e desmoralizar as pessoas, pois o controle social informal é tanto
menor quanto mais a pessoa se distancie de suas raízes. A mobilidade dificulta que a família,
a vizinhança, a igreja ou os grupos comunitários imponham inibições a condutas de vício, pro-
miscuidade e delinquência. Assim, a mobilidade está relacionada com criminalidade.
Os estudiosos de Chicago notaram que as taxas de doença mental estavam distribuídas
diferencialmente por bairro da cidade. Os bairros mais pobres apresentavam maiores taxas de
criminalidade e maiores índices de distúrbios mentais. As precárias condições das famílias,
a falta de intervenção estatal e as dificuldades de adaptação decorrentes da imigração e do
isolamento contribuíam enormemente para as altas taxas de insanidade mental.
A pessoa recém-chegada à cidade passa por um processo de desorganização social. Há
um sentimento de perda pessoal, rejeição de regras sociais, perda de raízes. A desorganização
social causa aumento de doenças, prostituição, insanidades, suicídios e crime.
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Teorias Sociológicas
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Clifford Shaw é autor, também, de The Jack-roller: a delinquent boy’s own story. Shaw utiliza
o relato da história de vida (autobiografia) de um delinquente de Chicago, denominado Stanley,
que viveu em diferentes áreas de cidade. A ideia foi demonstrar como a vida em diferentes
áreas da cidade, convivendo com diferentes culturas, tinha impacto na criminogênese.
Por tudo isso, as propostas de Escola de Chicago para equacionar a questão criminal pas-
sam, necessariamente, por alterar as condições de vida nas cidades, sobretudo as condições
econômicas e sociais das crianças, diminuindo as condições para as carreiras delinquentes. O
enfoque da intervenção proposta pelos autores Clifford Shaw e Henry McKay no Chicago Area
Project era a maximização do controle social informal (famílias, vizinhanças, igrejas, clubes,
escolas). Deve haver macrointervenção na comunidade e reconstrução da solidariedade so-
cial. Os projetos devem ser feitos levando em consideração cada vizinhança e devem incluir
atividades recreativas, artesanais, culturais e melhorias nas condições sanitárias e de conver-
sação predial de alguns bairros e edifícios.
Como definitiva contribuição, a Escola de Chicago utilizou largamente os social surveys,
inquéritos sociais que consistem em interrogatório direto feito a um número considerado de
pessoas sobre itens criminologicamente relevantes. Trata-se de técnica empírica de observa-
ção da realidade até hoje utilizado largamente pela criminologia. Além disso, implicou toda
a comunidade no enfrentamento do crime. Alargou o objeto de estudo da ciência, para nele
incluir os mecanismos de controle social. Ademais, a Escola de Chicago propugnou uma inter-
venção preventiva e não repressiva.
Recurso Mnemônico
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Teorias Sociológicas
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Émile Durkheim
Émile Durkheim foi um sociólogo francês do final do século XIX. Ele é considerado um dos
principais teóricos da anomia. Sua teoria sociológica considera que um ser vivo só pode ser
feliz e até mesmo viver se suas necessidades forem compatíveis com os meios para satisfa-
zê-las. No animal, o equilíbrio entre necessidades e meios depende de condições puramente
materiais: é o organismo, o corpo que dita quais são as necessidades (respirar, se alimentar, se
hidratar). No ser humano, a maioria das necessidades não depende do corpo. Afinal, para os
seres humanos, além do mínimo necessário para a sobrevivência, existe o desejo de condições
melhores, de situações de bem-estar. Esse apetite por conforto em algum momento tem que
encontrar limites, até mesmo porque desejos ilimitados são insaciáveis por definição e geram
um perpétuo estado de desconforto. E como esse limite não é dado pelo corpo, ele somente
pode vir da sociedade.
Para Durkheim, então, a força reguladora externa ao indivíduo que limita os desejos é a
sociedade, único poder moral superior ao indivíduo. A sociedade regula, ainda que nem sem-
pre por meio de norma jurídica, o máximo de bem-estar que cada classe social pode legitima-
mente procurar obter e cada um percebe vagamente o ponto extremo até onde podem ir suas
ambições. O contentamento com essas regras gera prazer de existir e viver. O trabalhador não
estará em harmonia com sua função social se não estiver convencido de que é mesmo aquela
a função que deve ter. Ou seja, essa disciplina que a sociedade exerce só é útil se for considera-
da justa pelos povos submetidos a ela, se for reconhecida como equitativa pela grande maioria
das pessoas.
Há momentos, explica Durkheim, em que a sociedade atravessa transformações. Nesses
transtornos, a sociedade perde a capacidade de exercer seu papel de freio moral. Não importa
se se trata de uma crise dolorosa ou de uma transformação boa, afortunada, com pujança
econômica. Em qualquer caso, como as condições de vida mudam, a escala segundo a qual
as necessidades eram reguladas já não pode permanecer a mesma. Leva tempo até que seres
humanos e coisas sejam novamente classificados pela consciência pública.
A anomia é esse estado de desregramento ou desintegração das normas sociais, produzin-
do uma situação de transgressão ou de pouca coesão4. São, por exemplo, aquelas situações
em que não se sabe quais as normas vigentes ou em que uma norma positivada deixa de ser
amplamente observada pela sociedade. Para Durkheim, o crime se torna um problema quando
existe uma situação de anomia. Caso contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal.
4
DURKHEIM, Émile. O suicídio: estudo de sociologia. São Paulo: Edipro, 2014, p. 249.
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Teorias Sociológicas
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Afinal, ele ocorre em todas as sociedades, de todos os tipos e muitos índices criminais vêm
aumentando significativamente ao longo da história social. Por isso, ele diz: “Não há fenômeno
que apresente de maneira mais inconteste todos os sintomas da normalidade. (...) Sem dúvida,
pode ser que o crime tenha formas anormais; é o que ocorre quando, por exemplo, ele atinge
uma taxa exagerada”5.
Para Durkheim, além de normal, o crime é útil. Para entender esse ponto é importante com-
preender suas ideias sobre a consciência coletiva, que é um conjunto de crenças e sentimen-
tos comuns à média dos membros de uma sociedade e que tem vida própria. A consciência
coletiva não é simplesmente a soma de todas as consciências individuais. Ela depende das
consciências individuais, mas não se confunde com elas. Nas sociedades arcaicas, em que as
pessoas diferem pouco umas das outras, existe uma solidariedade por semelhança, mecânica.
Nessas sociedades, os membros têm sentimentos parecidos e por isso diz-se que a consci-
ência coletiva abrange a maior parte das consciências individuais, ainda que com elas não se
confunda. Nas sociedades contemporâneas, os indivíduos são menos parecidos entre si. Cada
um age de acordo com sua liberdade de crença e ação. Aqui, Durkheim fala em solidariedade
orgânica. Nessas sociedades, a consciência coletiva tem sua amplitude reduzida. O crime é
útil porque permite que a consciência coletiva evolua.
O crime é, portanto, necessário; ele está ligado às condições fundamentais de toda vida social, mas
por isso mesmo, ele é útil. Pois estas condições são indispensáveis para a evolução normal da
moral e do direito. (...) A liberdade de pensar de que gozamos atualmente jamais poderia ter sido
proclamada, se as regras que a proibiam não tivessem sido violadas antes de serem solenemente
revogada.6
Do mesmo modo como o crime é algo natural, a sanção também é algo normal. A função
da pena é satisfazer a consciência coletiva, ferida com o crime, mantendo intacta a coesão
social. Assim, o castigo do condenado age nas pessoas honestas, já que serve para curar a
ferida feita nos sentimentos coletivos que somente residem nos indivíduos corretos. Mas a
pena segue sendo, ao menos em parte, uma vingança, pois é uma reação passional institucio-
nalizada – e que reforça a coesão social.
Robert Merton
5
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014, p. 82-83.
6
DURKHEIM, Émile. As regras do método sociológico. São Paulo: Edipro, 2014, p. 87.
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Merton defendeu, em artigo lançado em 1938, que as estruturas sociais e culturais são
compostas de vários elementos, dois dos quais são de fundamental importância: os objetivos
e os meios.
Os objetivos são as metas, propósitos, interesses (Ex.: comprar uma casa; ter um carro;
viajar para o exterior todo ano). Eles são social e culturalmente ordenados em uma escala
de valores.
Os meios, por sua vez, definem, regulam e controlam as maneiras consideradas aceitáveis
para o atingimento dos objetivos (Ex.: trabalhar em troca de um bom salário para poder adquirir
seus bens; praticar fraudes).
Segundo Merton, os meios são sempre limitados pelas normas instituídas. Ou seja: nem
todas as maneiras de se atingir um objetivo são toleradas, lícitas.
Os objetivos culturalmente definidos e os meios considerados válidos pelas normas ins-
tituídas operam em conjunto. Mas a relação entre os objetivos e os meios é uma relação in-
constante. Às vezes, a cultura de uma sociedade coloca muita ênfase na importância de que
se atinja um certo objetivo, mas não fornece os meios correspondentes para que o êxito se dê.
Isso é particularmente visível nas situações em que a estrutura cultural impõe aos cidadãos
padrões de consumo e riqueza, mas a estrutura social não fornece condições para que os indi-
víduos enriqueçam ou consumam do modo como se espera.
Os objetivos e meios têm, entre outras, a função de fornecer uma base de previsibilidade e
regularidade do comportamento das pessoas em sociedade. Quando esses elementos estão
dissociados, a efetividade dessas funções fica limitada. No limite, quando a previsibilidade
das condutas num grupo social é minimizada, por esse espaçamento entre os objetivos e os
meios, está configurada a anomia, que também pode ser chamada de caos cultural.
Para lidar com os objetivos e meios, os indivíduos procedem a adaptações individuais, que
podem ser de cinco tipos7:
Modos de Objetivos ou Metas
Meios Instituídos
Adaptação Culturais
Conformidade + +
Inovação + -
Ritualismo - +
Retração - -
Rebelião ± ±
• Conformidade: os indivíduos se adaptam (+) aos objetivos culturais e (+) aos meios exis-
tentes. Quando temos uma sociedade estável, esse é o tipo mais comum de adaptação.
• Inovação: a ênfase cultural muito forte no objetivo de sucesso convida a esse tipo de
adaptação, que ocorre pelo uso de meios proibidos, porém efetivos, para se alcançar ao
menos um simulacro do sucesso, ou seja, riqueza e poder. Esses indivíduos aceitam (+)
7
MERTON, Robert K. On Social Structure and Science. Chicago: The University of Chicago Press, 1996, p. 139.
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Teorias Sociológicas
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a meta “sucesso”, mas não aceitam (-) se valer dos meios permitidos, regulados pelas
normas. Aqui reside um tipo de delinquência. É aqui, especificamente, que se fala em
anomia, como não aceitação das regras que limitam os meios para o alcance das metas.
• Ritualismo: os indivíduos abandonam ou diminuem gradualmente (-) as metas de suces-
so pecuniário e mobilidade social para um ponto em que podem ser atingidas; e, ao mes-
mo tempo, continuam obedecendo (+) quase compulsivamente às normas instituídas.
• Retração: esses indivíduos rejeitam (-) tanto os objetivos culturais como (-) os meios
instituídos. Eles abdicam dos objetivos estabelecidos pela sociedade e adotam compor-
tamentos em desacordo com as normas instituídas, de modo que estão em constante
escapismo da realidade. É o caso, segundo Merton, dos psicóticos, autistas, marginais,
mendigos, pedintes, alcóolatras crônicos, viciados em drogas.
• Rebelião: essas pessoas não aceitam a estrutura social reinante, mas imaginam e pro-
curam dar vida (±) a uma estrutura modificada. A rebelião envolve necessariamente
ação, transformação dos valores, também chamada de transvaloração. É uma espécie
de adaptação coletiva, em que se deseja instalar uma estrutura social onde haveria cor-
respondência entre mérito, esforço e recompensa.
Esse esquema de Robert Merton foi, posteriormente, ampliado e aprofundado por Talcott
Parsons, que, em 1951, criou a teoria do sistema social. Ele substituiu as duas variáveis de
Merton (objetivos e meios) por outras três duplas de fatores: atividade e passividade; predomí-
nio conformativo e predomínio alienativo; e orientação para objetos sociais e orientação para
normas. A combinação desses fatores ditará qual o tipo de resposta – delitiva por exemplo –
que uma pessoa dará a uma situação em que há uma perturbação no quadro de expectativas.
A teoria de Parsons é complexa e nunca foi cobrada em detalhes em provas. O que as bancas
cobram é que o candidato saiba que ela é uma teoria da anomia e, portanto, do consenso.
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A Teoria da Associação Diferencial foi formulada por Edwin Sutherland, sociólogo (e cri-
minólogo) norte-americano. Suas ideias são do começo da década de 1940. Para Sutherland,
o crime não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas de qualquer
classe social aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base
essa conduta. O processo de comunicação, que permite a aprendizagem, é fundamental para
a prática criminal.
Associação Diferencial significa, em resumo, se associar para aprender a fazer coisas dife-
rentes do que é a regra, ou seja, imitar alguém que é desviante, que comete crimes.
Segundo Sutherland, a pessoa se torna criminosa quando as definições favoráveis à viola-
ção da norma superam as definições desfavoráveis, tudo no âmbito de um processo de imita-
ção. Esse processo é tanto mais intenso quanto mais íntimas as relações estabelecidas pelo
indivíduo. As pessoas, então, interagem, aprendem umas com as outras, se associam, mas não
para seguir os padrões da sociedade, e sim para agir de modo diferente (praticando delitos).
Daí o nome associação diferencial.
Uma das causas fundamentais para a existência de associação diferencial é o conflito
cultural: na sociedade existem diversos grupos culturais, e a cultura criminosa pode prevalecer
por diversos fatores. Outra causa básica para o comportamento criminoso é a desorganização
social, que já havia sido bem explicada pela Escola de Chicago. Quando há desorganização
social, os mecanismos de controle social informal são precários em virtude da perda de raízes,
e isso pode facilitar a escolha pelo caminho do crime.
Sutherland elencou nove princípios da Teoria da Associação Diferencial:
1. A conduta criminosa se aprende, como qualquer outra atividade.
2. O aprendizado se produz por interação com outras pessoas em um processo de
comunicação.
3. A parte mais importante do aprendizado tem lugar dentro dos grupos pessoais íntimos.
4. O aprendizado do comportamento criminoso abrange tanto as técnicas para cometer o
crime, que às vezes são muito complicadas e outras, muito simples, quanto a direção específi-
ca dos motivos, atitudes, impulsos e racionalizações.
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Teorias Sociológicas
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Sutherland cunhou a expressão crime de colarinho branco (white collar crime). Utilizou-a
por primeira vez em um discurso de 1939. Trata-se do crime cometido no âmbito da profis-
são por uma pessoa de respeitabilidade e elevado estatuto social. Em seu livro que leva esse
nome – Crime de colarinho branco: versão sem cortes –, ele analisa decisões da justiça e das
comissões administrativas relativas a 70 grandes empresas americanas para defender a tese
de que as pessoas da classe socioeconômica mais alta estão engajadas em muitos comporta-
mentos criminosos e que este comportamento criminoso difere do comportamento criminoso
da classe econômica mais baixa principalmente por conta dos procedimentos administrativos
– mais brandos – para lidar com os infratores. A diferença entre a criminalidade dos poderosos
e a criminalidade das pessoas mais pobres não é, no entanto, significativa do ponto de vista
da causação do crime: a razão pela qual os crimes são cometidos é a mesma, o aprendizado
somado a definições favoráveis à violação da lei9.
8
SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015, p. 14.
9
SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Revan, 2015, p. 33.
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São crimes que, em geral, não podem ser explicados pela pobreza ou educação de má qua-
lidade. São, ademais, crimes difíceis de se detectar ou mesmo de se sancionar.
A própria população tem, em muitos momentos, dificuldade de classificar tais condutas
como criminosas. Há um sentimento de admiração e respeito aos grandes empresários, ban-
queiros, homens de negócio, políticos. É como se houvesse uma “imunidade do negócio”. A
concessão de prisão especial para os possuidores de diploma de nível superior costuma ser
citada como exemplo de imunidade do negócio.
Sutherland relatava que costuma haver, em relação aos crimes de colarinho branco, a pre-
visão de penas não muito elevadas e de penas pecuniárias e restritivas de direito em substi-
tuição à pena privativa da liberdade, pois o pensamento dominante é que os autores desses
crimes não precisam ser ressocializados, já que têm boa situação econômica e estão integra-
dos na sociedade.
Os efeitos dos crimes de colarinho branco costumam ser significativos, porém difusos.
Não é uma pessoa particular que sente o efeito danoso da conduta, e sim uma coletividade.
Essa característica também contribui para a leveza das penas e para as baixas taxas de perse-
cução do crime.
Apesar de tudo isso, defende Sutherland, o crime do colarinho branco é, por diversas ra-
zões, um tipo de criminalidade organizada praticada pelos homens de negócio. É um tipo de
crime organizado porque são condutas deliberadas, com unidade relativamente consistente. É
uma criminalidade persistente, pois grande parte dos criminosos é reincidente. Mas os crimi-
nosos do colarinho branco não se veem como criminosos, até mesmo porque não são tratados
com os mesmos procedimentos oficiais destinados aos criminosos comuns; e porque, como
são oriundos de outra classe social, não se relacionam de forma pessoal e íntima com aqueles
que se definem como os criminosos típicos.
Cifras da criminalidade
Vou falar um pouco sobre as cifras da criminalidade, porque o crime do colarinho branco
está intimamente relacionado com esse conceito. O conceito de cifras da criminalidade deriva
da percepção de quem nem todos os crimes chegam ao conhecimento das autoridades. Ao
lado da criminalidade real – isto é, da totalidade de delitos praticados – existe a criminalidade
revelada, ou seja, a parcela da criminalidade real que chega ao conhecimento do Estado.
Trata-se do chamado efeito de funil, também conhecido como mortalidade de casos crimi-
nais. Isso é natural e a criminologia reconhece que o processamento de todos os casos (total
enforcement) levaria à falência do próprio sistema penal.
Cifra negra
Uma das consequências do efeito de funil é a existência da denominada cifra negra, aquela
parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São os crimes que não chegam ao co-
nhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Quantas vezes, por exemplo, somos
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Cifra dourada
Cifra negra é o nome mais genérico para designar essa diferença entre a criminalidade
real e a criminalidade conhecida. Ao longo dos anos, subclassificações das cifras negras têm
aparecido. Já disse a você que os crimes do colarinho branco possuem alta taxa de subnoti-
ficação, porque são delitos de difícil detecção. Criou-se, então, um nome específico para essa
diferença entre criminalidade real e conhecida dos poderosos: é a chamada cifra dourada.
A cifra dourada diz respeito, portanto, aos delitos cometidos pelos poderosos que são
desconhecidos e ficam impunes. Pode-se dizer que ela é um subtipo da cifra negra. Quando
alguém dos altos estratos sociais comete um crime contra o sistema financeiro ou um crime
tributário, por exemplo, é possível que fique sem punição porque o sistema penal é desenhado
para selecionar a criminalidade de rua, cometida pelos pobres.
Obs.: Obs. Já houve questões da Vunesp considerando que o conceito de cifra dourada equi-
vale ao conceito de crime do colarinho branco. Tecnicamente, não é isso, como aca-
bamos de ver. Aos crimes do colarinho branco (crimes dos poderosos cometidos no
âmbito laboral) que permanecem desconhecidos ou, segundo algumas definições, em
relação aos quais há uma indulgência do sistema persecutório penal, dá-se o nome
cifra dourada.
Outras cifras
• Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que não
chegam a virar um processo penal. São casos, por exemplo, solucionados pelos pró-
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Recurso Mnemônico
Quando a Psicologia surgiu, havia forte preocupação com a análise da introspecção. Esse
era o viés estruturalista. Com o passar do tempo, ganhou força a visão funcionalista, compor-
tamental ou behaviorista, favorecendo a observação do comportamento. A partir de 1913 sur-
ge o Behaviorismo, liderado pelo psicólogo americano John Broadus Watson, que defendia que
o homem é um animal autômato. Muito influenciado pela Psicologia Animal e pela Filosofia
Objetiva e Mecanicista, o Behaviorismo defende que a Psicologia deve ser empírica e objetiva
e deve se ocupar unicamente de atos observáveis da conduta, que possam ser analisados
em termos de estímulo e resposta. Conhecendo-se a resposta, é possível predizer o estímulo.
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sos violentos, as drogas, estimulação elétrica do cérebro, choques, castração química, tranqui-
lizantes. Na prática do sistema penitenciário dos Estados Unidos alguns programas de modi-
ficação de comportamento foram vistos, pelos próprios prisioneiros, como “psicogenocídio”.
As supostas técnicas de tratamento, em muitos casos, transformaram-se em formas extras
de punição.
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• Negação da vítima (ele teve o que merecia): sua conduta é uma punição à vítima, que
merecia o castigo. Esse raciocínio é empregado para justificar, por exemplo, crimes ho-
mofóbicos.
• Condenação dos condenadores (juízes e policiais são imbecis que implicam comigo):
sua conduta é hipocritamente reprovada por condenadores parciais e corruptos.
• Apelo à lealdade (eu fiz isso em defesa de algo maior): sua conduta se justifica por valo-
res éticos superiores, como o nacionalismo em crimes de terrorismo.
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A Teoria da Aprendizagem Social foi desenvolvida por Albert Brandura, psicólogo canaden-
se, radicado nos EUA, contemporâneo a nós. Ela também pode ser denominada Teoria Social
Cognitiva.
Brandura analisou os comportamentos antissociais em adolescentes e percebeu que esse
tipo de conduta era influenciado em grande parte pelas atitudes dos pais em relação à agres-
sividade. Diferentemente dos behavioristas radicais, acredita que o indivíduo pode aprender
sem sofrer qualquer tipo de reforço. As pessoas podem aprender através da observação. A
esse aprendizado deu o nome aprendizagem observacional, vicariante ou, ainda, modelação.
Ela contém algumas etapas: Atenção; Retenção, Reprodução Motora; Motivação.
A aprendizagem social acontece a partir da interação entre a mente do aprendiz e o am-
biente ao seu redor. A educação se dá, portanto, pelo exemplo e por ações, mas sempre con-
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siderando, igualmente, o estado mental da pessoa aprendiz. Os modelos podem ser outras
pessoas (pais, professores, crianças) ou podem ser simbólicos (internet, televisão, jogos).
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Os grupos subculturais aceitam, por exemplo, que seus integrantes façam algazarra, vandalis-
mo, obscenidades. Os punks, skinheads, hooligans e as gangues são citados por Cohen como
exemplos de grupos de subcultura.
Um argumento central para a teoria da subcultura delinquente é a existência de diferenças
essenciais entre a criminalidade subcultural e a criminalidade em geral. A subcultura, típica
das gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo, a versatilidade, o hedonismo
de curto prazo e a autonomia de grupo:
• Não utilitarismo: eles cometem furtos não como uma atitude racional e utilitária. Eles
roubam porque estão a fim, sem qualquer consideração sobre lucro ou ganho, mas sim
porque é uma atividade que implica renome, satisfação e valentia naquele grupo. Não
há explicação racional ou utilitária para o esforço que se emprega e o risco que se corre
em roubar coisas que muitas vezes acabam sendo descartadas, destruídas ou doadas;
• Malícia: por toda parte, há um tipo de malícia aparente, um prazer no desconforto alheio,
um deleite em desafiar tabus, uma hostilidade gratuita direcionada aos adultos e a quem
não é da gangue;
• Negativismo: a subcultura delinquente não é apenas um conjunto de regras que é dife-
rente ou em conflito com as normas dos adultos respeitáveis da sociedade. Ela é defini-
da por sua polaridade negativa em relação a essas normas. A subcultura pega empres-
tadas as normas da cultura geral e as vira de ponta cabeça. A conduta do delinquente
é correta pelos padrões de sua subcultura exatamente porque ela é errada segundo as
normas da cultura geral.
• Versatilidade: não há uma tendência à especialização. As gangues cometem furtos, van-
dalismo, danos, invasão de domicílio, com vítimas as mais variadas.
• Hedonismo de curto prazo: não há interesse em metas de longo prazo, atividades plane-
jadas ou que envolvam conhecimento e habilidade que somente possam ser adquiridos
com tempo de estudo, dedicação e prática. Os membros das gangues apenas se reú-
nem em alguma esquina sem nenhuma atividade específica em mente.
• Autonomia de grupo: as relações entre os membros da gangue tendem a ser solidárias
e prementes. As relações com outros grupos tendem a ser indiferentes, hostis ou rebel-
des. Para eles, as gangues são um foco irresistível de atração, lealdade e solidariedade,
e é exatamente isso que é a essência da subcultura.
Por ter focado na criminalidade juvenil dentro desses grupos de meninos, uma das críticas
mais frequentes que a teoria da subcultura recebe é exatamente a de não ter conseguido for-
necer uma explicação mais abrangente da criminalidade.
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3. Teorias do Conflito
Antes de mais nada, vamos recordar que os teóricos do conflito partem do pressuposto de
que há força e coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e
sujeição de outros. A sociedade está sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento
da sociedade contribui, de certa forma, para sua desintegração. Para essas teorias, o crime faz
parte da luta pelo poder.
As teorias do conflito alteram profundamente a maneira de pensar as questões crimino-
lógicas. Alessandro Baratta, um dos principais teóricos da Criminologia crítica, explica que a
Criminologia consensual tradicional (e o Direito Penal) sempre se baseou em duas ideias: o
princípio do interesse social e o princípio do delito natural.
Para o princípio do interesse social, o núcleo central dos delitos previstos nos códigos re-
presenta ofensa aos principais interesses fundamentais da sociedade. A ideia de delitos natu-
rais defende a existência de crimes contra os quais toda sociedade civilizada se defende, inde-
pendentemente de época ou cultura. Assim, para a ideologia penal oficial e para a Criminologia
tradicional, a criminalidade é uma qualidade objetiva, ontológica de certos comportamentos.
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Teorias Sociológicas
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As teorias do conflito possuem forte tradição nos Estados Unidos, sobretudo em virtude
do contexto social de pós-guerras, em que disputas internas (raciais, de classe, de desempre-
go, de marginalização, estudantis, feministas) assumiram prevalência se comparadas a con-
flitos externos. Elas partem do pressuposto da existência, na sociedade, de uma pluralidade
de grupos e subgrupos que, eventualmente, apresentam discrepâncias em seus valores. Para
as teorias do conflito, portanto, a sociedade não é monolítica, unitária. Ela está em constante
mudança, cenário que é decorrente de visões diferentes de uma mesma situação por grupos
antagônicos que coexistem.
Assim, para as teorias do conflito, não é o contrato social que garante a manutenção do
sistema e que faz com que os grupos sociais evoluam. Esses papeis devem ser – e são –
atribuídos ao conflito. É, portanto, o conflito que promove as alterações necessárias para o
desenvolvimento dinâmico da sociedade. Por isso, diz-se que essas teorias são progressistas,
e não conservadoras.
Os teóricos do conflito demonstram, por exemplo, que o sistema penal trata os suspeitos
de forma diferenciada com base em sua raça, etnia ou classe social, já que a sociedade não
é hegemônica e que os agentes do controle social e outros grupos poderosos podem impor
definições de desvio que atendem a seus objetivos10.
Os principais postulados da Criminologia conflitual são:
• A ordem social da sociedade industrializada não tem por base o consenso, mas sim o
conflito;
• O conflito não é patológico, senão a expressão da própria estrutura e dinâmica da mu-
dança social;
• Os interesses protegidos pelo direito penal não são interesses comuns a todos os cida-
dãos;
• O Direito representa os valores e interesses das classes ou setores sociais dominantes;
• O crime é uma reação à desigual e injusta distribuição de poder e riqueza na sociedade;
• A criminalidade é uma realidade social criada por meio do processo de criminalização;
• A criminalidade e o direito penal têm natureza política.
Com esses postulados, já adiantamos como pensam as escolas do conflito. Vamos, agora,
analisar especificamente cada uma delas. Ao final da aula, falarei brevemente sobre a Crimino-
logia cultural, que é um desenrolar mais contemporâneo da Criminologia crítica e que começou
a aparecer em algumas provas.
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Teorias Sociológicas
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• teoria da rotulação;
• teoria do etiquetamento;
• teoria da reação social;
• teoria interacionista;
• interacionismo simbólico.
Você deve estar lembrado(a) de que, ao longo das nossas aulas, venho falando pouco a
pouco dessa teoria. Já na nossa primeira aula, eu disse que o controle social formal se conso-
lidou como objeto da Criminologia justamente em virtude dessa escola, que floresceu a partir
dos anos de 1960, nos Estados Unidos.
Rompendo com o ideal consensual de sociedade, o labelling propugnava que estudar a
realidade social implicava estudar os processos de interação individual ocorridos no seio da
própria sociedade. Isto é, não se pode compreender o crime prescindindo do entendimento
da própria reação social. Por isso se diz que um dos postulados da teoria é o interacionismo,
ou interacionismo simbólico, ou construtivismo social. A desviação não é uma qualidade in-
trínseca da conduta, mas um atributo que lhe é conferido por meio de complexos processos
de interação social. É decisivo, então, para compreender o crime, analisar como funcionam os
mecanismos sociais que atribuem o status de delinquente a alguém.
Conforme os teóricos interacionistas, para cada uma das ações desviadas é possível en-
contrar inúmeras ações similares que não serão rotuladas de criminosas, por não serem leva-
das em consideração ou por não se apresentarem de maneira evidente como desviadas. Dian-
te de cada fato, as instituições atuam como filtros, definindo sua natureza. Frente às condutas
humanas, portanto, as agências formais de controle social atuam como uma grande peneira, a
separar quais devem ser etiquetadas como criminosas e quais não merecem o rótulo.
Assim, o labelling approach reconhece o caráter constitutivo do controle social formal, con-
siderado instrumento seletivo e discriminatório. Deixa-se de questionar por que um indivíduo
comete crimes, e passa-se a indagar a razão de certa conduta ser etiquetada com o rótulo de
desviada. O labelling approach abandona o paradigma etiológico (busca da causa do crime),
substituindo a busca das causas da criminalidade pela análise das reações das instâncias
oficiais de controle social. Nesse questionamento, as agências de controle social adquirem
enorme importância e passam a ser estudadas criteriosamente. Se hoje é comum que haja
capítulos sobre a polícia, o Ministério Público, as instituições prisionais, o sistema judiciário
nos livros e manuais de Criminologia, isso, em grande parte, deve-se ao paradigma de controle
inaugurado pelo labelling approach, que tanto valor atribuiu aos respectivos papéis na consti-
tuição do delito.
O labelling defende que os estudiosos defendem a adoção da introspecção simpatizante,
isto é, a aproximação da realidade criminal para compreendê-la a partir do ponto de vista do
delinquente, tentando entender qual é o seu ponto de vista.
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Teorias Sociológicas
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Howard Becker
Obs.: os interacionistas, como Becker, evitam termos tradicionais como crime, criminoso,
bandido, dada a carga valorativa pejorativa que possuem. Preferem utilizar a nomen-
clatura deviance, que podemos traduzir como desviação. A conduta desviante é criada
pela sociedade, ao reagir a certas práticas, rotulando-as.
Em seu livro Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance, de 1963, Becker relata o resul-
tado da análise de grupos de usuários de maconha e de músicos de jazz que fez na década de
1950. Ele explica que todos os grupos sociais constroem suas próprias regras. A pessoa que
quebras essas regras não é aceita como membro de um grupo. Ela é considerada uma estra-
nha, ou melhor, é etiquetada como outsider, e começa, a partir daí, a sofrer um processo de es-
tigmatização. O quanto alguém é considerado um outsider varia de caso a caso. Por exemplo:
uma pessoa que infringe as regras de trânsito é, em geral, menos outsider que um assassino
ou estuprador.
Becker defende que quando perguntamos “por que alguém quebra as regras?” ou ainda “O
que essas pessoas têm de especial que as leva a fazer coisas proibidas?”, estamos: aceitando
que há algo inerentemente desviante nesses atos que quebram as regras; partindo do pressu-
posto de que essa pessoa possui características que a levem a fazer isso; e, mais do que tudo,
aceitando os valores do grupo que faz o julgamento. Ao fazer isso, podemos deixar de fora
uma variável importante, que é exatamente esse processo de julgamento.
As regras são o produto da iniciativa de alguém e Becker denomina essas pessoas moral
entrepreneurs, ou seja, empreendedores morais, e aí se encaixam tanto aqueles que fazem as
regras como aqueles que as aplicam.
Dentre os criadores de regras existem os reformistas de cruzada moral (moral crusading re-
former ou moral crusader). Aqui, ele emprega o termo cruzada referindo-se às cruzadas medie-
vais em nome de Deus. Esses reformistas, explica Becker, estão preocupados com um mal (o
crime), que tem que ser eliminado a todo preço. Eles acreditam que a missão deles é sagrada
e querem, a todo custo, forçar a moral deles para outros grupos de pessoas. Nesse processo,
preocupam-se mais com os fins do que com os meios. É comum que os reformistas requeiram
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Teorias Sociológicas
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Essa visão sociológica que eu acabei de discutir define a desviação como a infração de regras sobre
as quais há acordo. (...) Parece-me que essa suposição ignora o fato central sobre a desviação: ela
é criada pela sociedade. E eu não quero dizer com isso aquilo que é normalmente compreendido, ou
seja, que as causas da desviação estão localizadas na situação social do desviante (...). Ao contrá-
rio, eu quero dizer que os grupos sociais criam a desviação fazendo regras cuja infração constitui a
desviação, e aplicando essas regras para pessoas em particular e etiquetando-as como outsiders. A
partir desse ponto de vista, a desviação não é uma qualidade do ato que a pessoa comete, mas uma
consequência da aplicação, pelas outras pessoas, de regras e sanções para um ofensor. O desviante
é alguém em quem aquela etiqueta foi aplicada com sucesso; o comportamento desviante é um
comportamento que é assim etiquetado pelas pessoas11.
11
BECKER, Howard S. Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance. Nova Iorque: The Free Press, 1963, p. 9.
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Teorias Sociológicas
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Assim, se a desviação é uma consequência da resposta dos outros ao ato de alguém, não
podemos supor que haja homogeneidade no grupo dos etiquetados como desviantes. Nem
todos que foram etiquetados, infringiram uma regra. E nem todos os que quebraram regras, fo-
ram etiquetados. Não é possível, então, ficar procurando traços de personalidade ou situações
de vida que expliquem a desviação. O importante, para Becker, é entender a desviação como
o produto de uma transação que ocorre entre um grupo social e aquele que é visto por esse
grupo como um transgressor (rulebreaker).
No processo de estudo da desviação, não devemos encará-la como algo depravado ou
como algo muito diferente das demais condutas. A desviação é apenas um tipo de compor-
tamento que algumas pessoas desaprovam, enquanto outras valorizam. O correto é tentar
entender o processo pelo meio do qual ambas as perspectivas são construídas e mantidas, e
aí reside a importância de manter contato próximo com os objetos de estudo.
Para Becker, as pessoas de classe média com padrão mínimo de bem-estar e conforto não
seguem os impulsos criminais que todos têm por que elas teriam muito a perder: os laços es-
treitos com amigos e parentes; o emprego; a carreira estudantil; o conforto. Quem, no entanto,
não tem muito a perder, pode se arriscar.
E praticado o ato inicial, explica Becker, começam as cerimônias degradantes, que são
processos desmoralizantes a que é submetido o réu e que atingem sua autoestima. Tem iní-
cio, também, o processo de estigmatização. A sociedade seleciona essa etiqueta – criminoso,
ladrão – para designar o indivíduo, mesmo que ele só tenha gastos alguns minutos da sua
existência praticando o crime.
Estigmatizado e segredado da sociedade, o delinquente se aproximará de outros crimino-
sos e acabará se identificando com eles pela situação de vida em que se encontram. Começa,
então, o processo de desviação secundária: novos atos desviantes são cometidos como fruto
do processo de reação social à desviação primária. O agente mergulha no papel de delinquen-
te, num processo que se chama de role engulfment, e tem início sua carreira criminal. A profe-
cia se autocumpre: tanto diziam que ele era um criminoso, que agora de fato o é.
Becker demonstra que os estudos interacionistas fazem com que os sociólogos percebam
que um grupo muito maior de pessoas e eventos têm que ser levados em consideração no
estudo da desviação. Nesse sentido, a desviação é um ato coletivo. É preciso, diz ele, estudar
o acusado, mas também o acusador. É preciso considerar que há pessoas, situações ou atos
suficientemente poderosos ou legitimados a impor definições (a colar as etiquetas). E ao fazer
isso, ou seja, ao tornar os empreendedores morais objetos de estudo, os estudos interacionis-
tas violam a hierarquia de credibilidade da sociedade, pois questionam o monopólio da verda-
de sobre a desviação. É mais ou menos como se, pela primeira vez, a Criminologia colocasse
em dúvida a palavra da Polícia, do Ministério Público, do Poder Judiciário, da Administração
Penitenciária. Por isso, diz-se que o labelling inaugura um paradigma novo na Criminologia,
aquilo que em nossa terceira aula chamamos de Modelo da Reação Social.
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Erving Goffman
Outro nome de peso no labelling approach é o do canadense Erving Goffman, que realizou
suas pesquisas nos Estados Unidos. É autor, entre outros, de Estigma: Notas sobre a Manipula-
ção da Identidade Deteriorada, de 1963, e Manicômios, Prisões e Conventos, de 1961, livros em
que se debruçou sobre a questão prisional.
Ele introduziu o conceito de instituição total que são aquelas que, como é o caso do cárce-
re, possuem barreiras à relação com o mundo externo simbolizadas por portas fechadas, pa-
redes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou pântanos. Nas instituições totais, todos
os aspectos da vida do condenado são realizados no mesmo local, sob uma autoridade única
e diante de um grupo de pessoas razoavelmente grande. Há horário, padrão e sequência para
as atividades. Caso a permanência do condenado na instituição total seja longa, começa a ter
lugar um processo gradativo de desculturamento: humilhações, rebaixamentos, degradações
pessoais e profanações do “eu”. O “eu” civil é mortificado e a pessoa começa a passar por mu-
danças radicais em sua carreira moral, composta pelas progressivas mudanças que ocorrem
na crença que os outros têm a seu respeito.
A mortificação da pessoa começa por meio de medidas do processo de admissão, que é
um rito de passagem onde ocorre: a perda do nome; a atribuição de um número de prontuário; a
privação dos pertences pessoais; a adoção de um uniforme padrão; as medições pelo departa-
mento médico; as agressões físicas que recebe dos superiores e de colegas mais antigos etc.
Além desse rito inicial, o interno tem que se adaptar à nova vida, adotando novas posturas,
nova linguagem, assumindo novos papeis de submissão e inferioridade, desempenhando tra-
balhos obrigatórios que muitas vezes são vistos como inúteis, se encaixando em regras que
disciplinam minúcias da sua vida.
Goffman fala em exposição contaminadora: trata-se da dissolução da fronteira entre o ser
e o ambiente. O interno não consegue ter sua intimidade preservada. Tudo que ele faz é obser-
vado e registrado em um dossiê. E são comuns queixas de alimento sujo, locais em completa
desordem, pertences impregnados com o suor de outras pessoas, instalações sujas para o
banho. Além disso, são frequentes exames na pessoa do interno e em seu dormitório, violando
a intimidade e o território do “eu”.
Por tudo isso, as instituições totais são fatais para o eu civil do internado, diz Goffman.
Importante explicar que quando fala em instituições totais, Goffman não estava se referindo
somente a prisões, mas também a quartéis, asilos para idosos, claustros religiosos, abrigos
para órfãos, hospitais para doentes mentais, campos de concentração, internatos e tantas ou-
tras instituições em que há barreira social com o mundo externo e proibições à saída.
A pessoa institucionalizada é alguém inadaptada para o convívio em sociedade, exatamen-
te por se identificar com a instituição na qual está recolhida, e estigmatizada. Os egressos do
sistema penitenciário têm, pelo resto de suas vidas, sua ocupação laboral e sua localização
geográfica determinada pela participação na instituição total. A estadia na prisão orienta o
pertencimento ao ambiente da comunidade do submundo, de modo que isso tem efeitos em
toda a existência do ex-interno.
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Implicações político-criminais
12
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 2ª ed. São Paulo: RT, 2008, p. 271.
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compreende-se que nem todos os marginalizados sociais cairão na engrenagem penal. Por
isso, nas provas, algumas bancas falam em determinismo econômico e social (Cebraspe, por
exemplo), enquanto outras (MPE-GO, por exemplo) defendem que existe livre-arbítrio, ou seja,
que os indivíduos são livres e escolhem o caminho da desviação como solução das contradi-
ções capitalistas.
Em resumo, para a Criminologia Crítica não é possível fazer Criminologia sem questionar
os processos de criação da lei penal de acordo com os interesses da classe dominante (cha-
mados processos de definição) e os processos discriminatórios de aplicação da lei em prejuí-
zo das classes oprimidas (chamados processos de seleção).
Do ponto de vista metodológico, a Criminologia Crítica se distancia das técnicas das ciên-
cias sociais. Não aceitam investigações puramente empíricas. Preferem o método histórico-a-
nalítico, em que são analisadas as agências de controle social da sociedade capitalista. Assim,
por exemplo, no lugar de pesquisas estatísticas e empíricas, nascem pesquisas analíticas,
descritivas, situacionais, que consideram a historicidade da situação social.
São considerados postulados da Criminologia crítica:
1. Fundamento conflitual da desviação: a criminalidade surge em resposta a um con-
flito social;
2. Máxima relevância da desviação secundária: a consideração de que as instâncias de
controle social impulsionam processos de etiquetamento e estigmatização;
3. Justiça de classe: a justiça é seletiva e discriminatória, recrutando sua clientela dos mais
baixos estratos sociais;
4. Atitude empática em relação ao desviado: apreço em relação ao criminoso comum e
atitude hostil e beligerante com o delinquente poderoso;
5. Abolicionismo: descrença no papel desempenhado pelas instâncias de controle so-
cial formal.
William Chambliss
William Chambliss é o principal nome da Criminologia Crítica nos Estados Unidos. Autor
de Law, Order and Power, de 1971, foi ao mesmo tempo pioneiro e sistematizador da Crimi-
nologia Crítica em seu país. Resumidamente, Chambliss explica que as ciências sociais são
dominadas por duas grandes perspectivas de trabalho: o modelo funcional, ligado ao trabalho
de Durkheim, e o modelo dialético, derivado da obra de Karl Marx.
Para a visão funcionalista, o crime ofende a moralidade do povo, mas é útil porque une e
concentra as consciências íntegras. Assim, o crime estabelece e preserva os limites morais da
comunidade. É o típico pensamento de Durkheim.
Para a visão dialética, os atos são criminosos porque é do interesse da classe dominante
assim defini-los. A rotulação de pessoas como criminosas serve aos interesses da classe do-
minante. É o típico pensamento derivado de Karl Marx.
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A mais óbvia conclusão é que esses sistemas de aplicação da lei não eram organizados para reduzir
o crime ou para reforçar a moralidade pública. Eles eram antes organizados para dirigir o crime pela
cooperação com os grupos mais criminosos e aplicando as leis contra aqueles cujos crimes eram
uma ameaça mínima para a sociedade. Fazendo isto, os aplicadores da lei acabam como produto-
res do crime. Por prometer lucros e segurança àqueles criminosos que se envolvem em atividades
criminosas organizadas, das quais os sistemas políticos e legais podem se beneficiar, as práticas
da aplicação da lei produzem o crime por selecionar e encorajar a perpetuação das carreiras crimi-
nosas.13
Ian Taylor, Paul Walton e Jock Young, em seus livros A nova Criminologia, de 1973, e Crimi-
nologia crítica, de 1975, criticam as posturas tradicionais da Criminologia do consenso. Defen-
13
CHAMBLISS, William. A Economia Política do Crime: um estudo comparativo da Nigéria e dos Estados Unidos. In:
TAYLOR, Ian; WALTON, Paul; YOUNG, Jock (Orgs.) Criminologia crítica. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1980, p. 218.
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dem que o fenômeno criminal depende do modo de produção capitalista: a lei penal nada mais
é do que uma superestrutura dependente da infraestrutura do sistema de produção. O direito
não é uma ciência, mas uma ideologia que deve ser analisada no contexto de luta de classes.
Aceitar a definição burguesa de crime equivale a aceitar a ficção da neutralidade do direito.
A sociedade criminaliza atividades desenvolvidas a partir das contradições de sua eco-
nomia política. Por isso, é necessário superar a Criminologia Fabiana, ou o Fabianismo da
Criminologia.
Taylor, Walton e Young explicam que a meritocracia é uma falácia, porque as pessoas par-
ticipam do jogo capitalista com fortes desigualdades de acesso. O Fabianismo, criticam eles,
reconhecia isso, mas, em lugar de tentar destruir esse sistema, empenhava-se em racionalizar
a meritocracia, tentando dar condições iguais de acesso ao jogo capitalista. Para eles, o Fabia-
nismo tentou o impossível: criar uma sociedade verdadeiramente meritocrática sem transfor-
mar as relações de propriedade que trabalhavam continuamente para obstruir o igualitarismo
competitivo. Nessa tentativa de conceder igualdade de condições, o Partido Trabalhista inglês,
na época do pós-guerra, engajou-se em compromissos de bem-estar social e recrutou, para
isso, exércitos da classe média, como peritos, professores e assistentes sociais. As agências
de assistência social proliferavam, com a missão de ajudar aqueles cuja vida familiar os inca-
pacitasse de participar na luta meritocrática. A preocupação primária era atacar a privação e
os fatores sociais e ambientais, que estavam, aliás, na base da criminalidade.
Ocorre que essas agências de saneamento (as instituições de assistência social) se valiam
de tratamentos que, apesar de descritos como de interesse do próprio cliente, resultavam em
espirais de rotulações espúrias, posterior internamento e canalização irreversível de indivíduos
em direção a carreiras na prisão, em hospitais psiquiátricos e em áreas marginais. Ou seja, a
assistência social refletia a ideologia da cúpula: é necessário estimular o ajuste, encorajar a boa
cidadania. Com isso, a assistência social ajudava a canalizar contingentes da população rumo
a carreiras na prisão. Segundo Taylor, Walton e Young, a Criminologia ortodoxa dessa época
era uma tentativa de corrigir e controlar os piores excessos de um sistema judicial conservador
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Alessandro Baratta
Alessandro Baratta foi um filósofo, sociólogo e jurista italiano. Seu pensamento, em grande
parte desenvolvido na Alemanha, onde recepcionou a teoria o labelling approach, é central para
a Criminologia Crítica e, posteriormente, para as teorias de direito penal mínimo. Em 1982, pu-
blicou Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal.
Nesse livro, ele defende que o processo de criminalização é o mais poderoso mecanismo
de reprodução das relações de desigualdade do capitalismo. Para ele, a luta por uma socieda-
de democrática e igualitária passa pela superação do sistema penal.
Ele retoma a ideia de que a história do sistema punitivo é a história das relações entre ricos
e pobres. Na sociedade capitalista, há uma drástica repartição desigual de acesso aos recur-
sos e às chances sociais. A mobilidade social é um mito: raramente as pessoas das classes
mais baixas conseguem ascender.
O sistema escolar – assim como o sistema penal – ajuda a refletir a estrutura vertical e hie-
rarquizada da sociedade. As sanções escolares negativas, tais como repetição de anos, notas
baixas em provas, expulsões, etc., são muito maiores quando se desce aos níveis inferiores
da escala social. Começa-se a perceber que as técnicas de seleção baseadas em testes de
coeficientes de inteligência ou no conceito de mérito não são neutras. Afinal, os alunos prove-
nientes de classes mais baixas têm enorme dificuldade de se adaptar ao mundo escolar, que
é estranho a eles, em função, por exemplo, do uso de regras de comportamento e linguagem
bastante diferentes das normas de seus grupos de origem. E aí, diante dessas dificuldades,
advêm sanções negativas que refletem o quanto a escola é um instrumento de transmissão da
cultura dominante.
Os professores partem, ainda que inconscientemente, de estereótipos e preconceitos no
dia a dia de contato com alunos de grupos marginalizados. Algumas pesquisas têm demons-
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trado que a cota de erros desconsiderados pelo professor é menor no caso de maus alunos
que no caso de bons alunos. Ou seja, aquele aluno que tem dificuldade de se adaptar e é con-
siderado um mau aluno, é tratado com mais rigor nas correções.
Além disso, o fenômeno da profecia autocumprida do labelling approach – também conhe-
cida como self-fullfilling profecy – se aplica ao mundo escolar.
Assim, os alunos que vêm de classes sociais marginalizadas encontram um ambiente for-
mado por pessoas que os encaram com estigmas e preconceitos. Desse modo, entendem que
há uma expectativa para que eles sejam maus alunos e que essa expectativa determina, de
largada, o comportamento.
Confirmada a expectativa, o mau aluno sofre com o distanciamento de colegas, que pas-
sam a rejeitá-lo e a isolá-lo. E a maioria dos alunos, que segue os modelos de comportamento,
se sente integrada e coesa, distante desses maus exemplos.
Seguindo essa lógica, a escola não facilita a mobilidade social. Ao contrário, ela ajuda a
diferenciar as classes, econômica e socialmente.
A ideia central de Baratta é demonstrar que o sistema escolar e o sistema penal são com-
plementares e ajudam a reproduzir e assegurar as relações sociais verticalizadas. Ambos os
sistemas criam contraestímulos à integração dos setores mais baixos e marginalizados do
proletariado.
Baratta utiliza os conceitos de criminalização primária e secundária para explicar o proces-
so seletivo de criminalização. A criminalização primária é o ato de aprovar ou sancionar uma
lei penal que tipifica condutas. A criminalização secundária é a ação punitiva exercida sobre
pessoas concretas.
A criminalização primária – as leis penais em abstrato – reflete o universo moral próprio da
cultura burguesa individualista, dando total ênfase ao patrimônio privado e se orientando para
atingir as formas de desvio dos grupos marginalizados. Os crimes dos poderosos – como os
crimes do colarinho branco – tendem a ficar impunes até mesmo em razão da fragmentarieda-
de do direito penal, que não é neutra.
A fragmentariedade do direito penal segue uma lei de tendência, que leva a preservar da
criminalização primária as ações antissociais realizadas por integrantes das classes sociais
hegemônicas ou que são mais funcionais às exigências do processo de acumulação do ca-
pital. Criam-se, assim, zonas de imunização de condutas cuja danosidade se volte contra as
classes subalternas.
Já os processos de criminalização secundária – punição no caso concreto – desenrolam-
-se de uma maneira muito parecida com aquela que narrei ao falar do professor e seus maus
alunos oriundos das classes mais baixas: preconceitos e estereótipos guiam a ação dos re-
presentantes das agências de controle social formal. Policiais, delegados, promotores e juízes
procuram a verdadeira criminalidade naqueles estratos sociais em que é normal encontrá-la.
A pessoa etiquetada com o rótulo de criminosa tem a sua identidade social alterada. Ele não
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é visto mais da mesma maneira e nem se vê mais do mesmo modo. Fica muito fácil que se
instale, então, a delinquência secundária (reincidência) e que nasça uma carreira criminosa.
Baratta relembra o conceito de sociedade dividida de Dahrendorf: só metade da sociedade
extrai de seu seio os juízes e eles têm, diante de si, predominantemente indivíduos provenien-
tes da outra metade. A justiça, então, não é neutra. Existe uma justiça de classe: a distância lin-
guística separa julgadores e julgados; e a menor possibilidade de desenvolver um papel ativo
no processo e de se servir do trabalho de advogados prestigiosos desfavorecem os indivíduos
das classes mais baixas.
Os juízes desconhecem a vida das pessoas marginalizadas e são incapazes de compre-
ender as nuances de um cotidiano de pobreza. Muitos dos julgamentos ocorrem com base
no senso comum. Ou seja, os juízes tendem a esperar um comportamento conforme a lei dos
indivíduos pertencentes aos estratos médios e superiores e condutas contrárias à lei de indiví-
duos provenientes de estratos inferiores. E tendem, ademais, a aplicar mais penas detentivas
em desfavor dos marginalizados, pois considera-se que ela é menos comprometedora para o
status social já baixo dos pobres do que se comparamos à sua aplicação, por exemplo, a um
acadêmico. Essa tendência de julgar conforme o senso comum é chamada, por alguns auto-
res, de teoria de todos os dias.
Voltando aos pressupostos do labelling com que iniciamos nossa aula, Baratta usa a ideia
de que as instâncias de controle social formal criam a criminalidade, constituem o delito e que,
nesse processo, selecionam a população carcerária nos estratos mais baixos da população.
A desigual distribuição de definições criminais – muito maior entre os pobres e muito menor
entre os ricos – ocorre não de maneira fortuita, mas seguindo regras próprias, que Baratta
chama de second code. Esse segundo código social, portanto, revela que o direito penal de-
senvolve um importante papel de reprodução das relações sociais, especialmente na circuns-
crição e marginalização de uma população criminosa recrutada nos setores mais débeis do
proletariado.
Essas ideias todas questionam a neutralidade do direito, demonstram a importância que a
estigmatização produz no indivíduo e colocam em xeque a função educativa da pena.
No mundo criminal, mais uma vez tem o lugar o fenômeno da profecia autocumprida, de
que tanto falou a teoria do labelling approach. A expectativa de criminalidade dirigida aos gru-
pos mais marginalizados faz com que, ainda que haja a mesma quantidade de condutas ilí-
citas nos diferentes estratos sociais, elas sejam mais facilmente detectadas e punidas nos
estratos mais baixos da sociedade.
O sistema penal age, então, de forma bastante similar à da escola, reproduzindo a estra-
tificação e operando no sentido de mantê-la. Por isso a existência, em diferentes países, de
mecanismos de internação de menores delinquentes e por isso, também, o intercâmbio entre
internos dessas instituições e dos presídios. São a mesma população, submetem-se à mesma
lógica. Apesar de as instituições de internação de menores infratores pretenderem ressocia-
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lizar, não é isso que ocorre. A cada sucessiva passagem do menor por uma instituição de as-
sistência corresponde um aumento, em lugar de diminuição, das chances de ser selecionado
para uma carreira criminal.
Os efeitos da intervenção estatal nos criminosos são tão determinantes que, aqueles que
foram submetidos às instâncias de controle social formal (investigados, processados, presos,
condenados) revelam uma criminalidade secundária mais alta do que aqueles que puderam se
subtrair a essa intervenção.
Baratta é absolutamente crítico do cárcere. Ele diz que têm se mostrado infrutíferas as
tentativas de socialização e de reinserção através dessas instituições. Os institutos de deten-
ção são o momento culminante do mecanismo de marginalização. Neles, chamam a atenção
o constante regime de privações a que são submetidos os condenados e o processo negativo
de socialização. Trata-se de um processo de socialização em que há:
• desculturação, isto é, desadaptação às condições necessárias para a vida em liberdade; e
• aculturação ou prisionalização, que é a assunção de atitudes e modelos de comporta-
mento típicos da subcultura carcerária. Na prisionalização, que também pode ser cha-
mada de prisionização, o condenado é educado tanto para ser um criminoso (copiando
os criminosos com forte orientação antissocial) como para ser um bom preso, passivo,
conformista e oportunista.
A educação para ser um bom preso acaba se tornando o verdadeiro objetivo da instituição,
enquanto a função educativa real é excluída desse processo.
Na prática, portanto, as prisões produzem efeitos contrários à reeducação e à reinserção
do condenado, e, logo, favoráveis à sua estável permanência na população criminosa.
Por tudo isso, Baratta defende a adoção de uma política criminal alternativa, que não pode
ser confundida com política penal alternativa. Seu desejo não é apenas de melhorar o direito
penal, mas de substituí-lo por algo melhor que o direito penal, parafraseando Radbruch. Na po-
lítica criminal alternativa haveria a diferenciação da criminalidade pela posição social do autor.
A criminalidade de rua, dos pobres – respostas individuais às adversidades do capitalismo
– seria despenalizada, ou seja, seria equacionada por controles sociais não estigmatizantes,
tais como sanções administrativas ou civis. A criminalidade dos poderosos e a criminalidade
organizada – expressão da relação funcional entre processos políticos e mecanismos legais
e ilegais de acumulação de capital – seriam destinatárias da ampliação do sistema punitivo,
pois isso significaria proteção de interesses comunitários tais como saúde, segurança no tra-
balho e integridade ecológica.
De todos modos, ele é categórico ao dizer que uma política criminal alternativa não pode
ser uma política de substitutivos penais, limitados a uma perspectiva reformista e humanitária.
A política criminal alternativa que ele defende, ou política criminal das classes subalternas,
implica grandes reformas sociais e institucionais para o desenvolvimento da igualdade e do
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Vamos falar agora e no próximo item de autores que escreveram obras fundamentais para
o pano de fundo da Criminologia Crítica. O livro dos alemães Rusche e Kirchheimer, Punição
e Estrutura Social, foi escrito entre 1938 e 1939, mas somente foi “descoberto” na década de
1970. Ele foi fundamental para o livro que abordaremos no próximo item (Vigiar e Punir, de
Michel Foucault).
Georg Rusche foi o primeiro pensador marxista a sistematizar a questão criminal e a ana-
lisar historicamente as relações entre condições sociais, mercados de trabalho e sistemas
penais. O livro foi complementado por Kirchheimer após a morte de Rusche.
Eles demonstraram que, no século XV, com mão de obra abundante, o sistema penal se
dirigia contra as massas empobrecidas, com execuções, mutilações e açoitamentos.
No mercantilismo dos séculos XVI e XVII, nasce a exploração da mão de obra na prisão,
pois havia escassez de trabalhadores. Nascem leis que punem a vadiagem e que tornam úteis
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os camponeses expulsos das terras. A pena de degredo auxilia países na colonização de ter-
ras “descobertas” e a pena de galés (trabalho forçado) demonstra grande funcionalidade. As
casas de correção começam a ser lucrativas, pois conjugam nenhum ou baixos salários ao
adestramento de trabalhadores desqualificados.
Com a Revolução Industrial do século XVIII, surge o processo de acumulação de capital,
caracterizado por exploração intensa de mão de obra e miséria da classe trabalhadora. O capi-
talismo gera um exército de reserva e o mercado se encarrega de oprimir as pessoas.
No século XIX, com o crescimento da rebeldia popular, das revoluções e dos delitos contra
a propriedade, a prisão se converte na pena mais importante de todo o mundo ocidental. Rus-
che e Kirchheimer demonstram que as prisões são uma forma especificamente burguesa de
punição, que se disseminam com a passagem para o capitalismo. A construção da ideologia
burguesa de trabalho é acompanhada pelo surgimento de uma concepção burguesa de tempo,
que tornará possível o princípio fundamental da proporcionalidade da pena.
Eles defendem que:
O sistema penal de uma dada sociedade não é um fenômeno isolado sujeito apenas às suas leis
especiais. É parte de todo o sistema social, e compartilha suas aspirações e seus defeitos. A taxa de
criminalidade pode de fato ser influenciada somente se a sociedade está numa posição de oferecer
a seus membros um certo grau de segurança e de garantir um nível de vida razoável. A passagem de
uma política penal repressiva para um programa progressista de reformas pode, então, transcender
o mero humanitarismo para tornar-se uma atividade social verdadeiramente construtiva. (...) A futili-
dade da punição severa e o tratamento cruel podem ser testados mais de mil vezes, mas enquanto
a sociedade não estiver apta a resolver seus problemas sociais, a repressão, o caminho aparente-
mente mais fácil, será sempre bem aceita.14
Michel Foucault
Michel Foucault foi um filósofo francês que, em 1975, lançou Vigiar e punir: Nascimento da
Prisão. É um estudo sobre a evolução histórica do cárcere e da legislação penal. Seu pensa-
mento surge na mesma época em que a Criminologia Crítica se desenvolvia e apresenta, com
ela, bastante conexão. A obra de Foucault foi uma das responsáveis por descobrir o pensa-
mento de Rusche e Kirchheimer.
As bancas gostam muito de fazer perguntas sobre o pensamento de Foucault. E mais, as per-
guntas sobre Foucault são, em geral e por algum motivo nebuloso, muito exigentes. Então vou
me alongar nesse item, seja porque sua obra é extensa, seja porque os examinadores têm al-
guma predileção por complicar o que já não é muito simples. Vou tentar resumir e simplificar.
14
RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2004, p. 282.
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Se, ao final da aula, você sentir dificuldades nas perguntas sobre Foucault, não desanime. Para
ser vítima das questões sobre Foucault basta estar vivo!
Foucault explica que, até o século XVII, as penas eram verdadeiro suplício: esquartejamen-
to, exposição do condenado em praças públicas, execução em palanques montados a céu
aberto – chamados de patíbulos –, torturas, marcas no rosto, amputação. Eram penas despro-
porcionais, bárbaras e ostentosas. São rituais pensados para restituir a soberania do príncipe.
Posteriormente, o Iluminismo desqualifica o suplício, reprovando sua atrocidade. Surgem
agitações e protestos contra essa teatralização das penas. Ao mesmo tempo, a criminalidade
violenta, de sangue, passa a dar lugar a uma criminalidade de fraude, mais complexa, relacio-
nada com a concentração de riquezas. Essa alteração da criminalidade somada à desqualifica-
ção do suplício leva ao surgimento da ideia de penas proporcionais aos crimes. Aqui situa-se,
por exemplo, a obra de Beccaria.
Fala-se, então, da reforma humanista do século XVIII: os suplícios dão lugar a penas pro-
porcionais. O castigo deve ter a humanidade como medida (e atente-se que a prisão ainda
não era a forma por excelência de castigo). Pouco a pouco, o corpo esquartejado, amputado e
dado como espetáculo começa a desaparecer. O rito de punição que, muitas vezes, ultrapas-
sava o próprio crime em sua selvageria, vai sendo abandonado. Em suas próprias palavras, “a
melancólica festa de punição vai-se extinguindo.”15
Portanto, com uma série de reformas ocorridas em diversos países no final do século XVIII,
o suplício vai, pouco a pouco, sendo deixado de lado. Foucault fala em penalidade suaviza-
da, em que deve haver humanidade, proporcionalidade (medida), individualização das penas
e classificação dos crimes e castigos. Aliás, a partir do século XVIII, difunde-se a ideia de
que a punição das ilegalidades deve ser regular. Pune-se com menos severidade, mas com
mais universalidade. É necessário controlar a codificar as práticas ilícitas, principalmente se
se considera que passou a incomodar muito à nova burguesia a ascensão dos crimes contra a
propriedade. É que antes as principais ilegalidades eram dirigidas a direitos, mas com o desen-
volvimento da sociedade capitalista, elas se dirigiam aos bens. O roubo se torna mais comum
e incômodo, de modo que os códigos começam a separar e a classificar as ilegalidades. De um
lado, as ilegalidades dos direitos, e de outro, as ilegalidades dos bens, sobre as quais há menos
tolerância e que exigem, portanto, vigilância constante.
As reformas penais inserem novos princípios para regularizar e universalizar a arte de cas-
tigar; para diminuir o custo econômico e aumentar a eficácia da pena. Elas constituem uma
nova economia e nova tecnologia do poder de punir. O direito de punir não é mais decorrência
da sede de vingança do soberano. Ele é, agora, instrumento de defesa da sociedade. Mas isso
não significa que ele seja verdadeiramente mais suave, pois, como se verá, ele será posterior-
mente dotado de elementos tão fortes que se torna quase mais temível.
15
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da prisão. 42 ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2014, p. 13.
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Com essa reforma dita humanista, a partir do século XIX, sobretudo entre 1830 e 1848, a
punição torna-se a parte mais velada do processo penal. A publicidade se volta para os deba-
tes e para a sentença, mas a execução fica escondida, pois é algo que a justiça tem vergonha
de impor ao condenado. É pouco glorioso punir. As práticas punitivas se tornam pudicas, e que-
rem tocar no corpo o mínimo possível, para atingir nele algo que não é o próprio corpo. O que
se quer, no sistema penal moderno, é atingir a liberdade, e não provocar dor em um corpo. O
que se quer é suspender direitos. “O castigo passou de uma arte das sensações insuportáveis
a uma economia dos direitos suspensos”16. É, em teoria, uma penalidade incorpórea.
Como já dissemos, essas mudanças são tradicionalmente descritas como consequências
de uma reforma humanista, que visava conferir mais dignidade ao cumprimento de penas. Mas
Foucault questiona essa explicação simplista e defende que permanece um fundo supliciante
na pena moderna, mas com mudança de objetivo. Não se quer mais supliciar diretamente o
corpo, mas sim a alma, o coração, o intelecto, a vontade, as disposições. Constrói-se uma nova
economia e nova tecnologia do poder de punir. A reforma “humanista” não pretende punir me-
nos, mas sim punir melhor. A alma do criminoso é levada ao tribunal e o juiz não julga sozinho,
mas sim em companhia de uma série de instâncias anexas, como peritos, psicólogos, psiquia-
tras, funcionários da administração penitenciária etc. Eles são chamados de juízes anexos, que
fracionam o poder de punir. Essa operação de incorporar, no julgamento, elementos extrajurí-
dicos, escusa o juiz da responsabilidade de castigar. É a pretensa “suavidade penal” aplicada
como técnica de poder.
Na época dos suplícios, o exemplo (a punição) era uma réplica do crime. Após as refor-
mas, considera-se que é preciso empregar a máxima economia. É preciso punir exatamente
o suficiente para impedir novos crimes. A punição passa a ser discreta. Não é mais um ritual
manifesto, é um sinal, um sinal que cria obstáculo. A semiotécnica (método para identificar
sinais que constroem um significado) do poder de punir nesse momento de reforma, explica
Foucault, repousa sobre as seguintes regras:
• Regra da quantidade mínima: o crime é cometido porque traz vantagens. Se, à ideia do
crime, é ligada a ideia de uma desvantagem minimamente maior, ele deixa de ser dese-
jável.
• Regra da idealidade suficiente: a eficácia da pena está na ideia de uma dor, de um des-
prazer. Não é tanto a sensação de sofrimento que importa, mas sim a representação
(idealização) da pena. A representação da pena, e não sua realidade corpórea, deve ser
maximizada.
• Regra dos efeitos laterais: a pena deve ter efeitos mais intensos naqueles que não come-
teram a falta, para que se comportem conforme as regras.
• Regra da certeza perfeita: é preciso que haja um laço forte unindo crime e castigo, pois
nada torna mais frágil o instrumento das leis que a esperança de impunidade.
16
FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Trad. Ligia Pondé Vassalo. 3ª ed. Petrópolis:
Vozes, 1984, p. 16.
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• Regra da verdade comum: a verdade do crime somente poderá ser admitida uma vez in-
teiramente comprovada. É uma transformação importante, já que na fase dos suplícios,
frases arrancadas pelo sofrimento (confissão sob tortura) tinham valor de autenticação.
• Regra da especificação ideal: todas as infrações têm que ser classificadas e reunidas
em um código, que tenha pretensões exaustivas e generalizantes, mas que consiga, ao
mesmo tempo, individualizar a pena.
São, segundo Foucault, regras que, de modo geral, exigem a suavidade como economia
calculada do poder de punir.
Acontece que, quando as reformas foram feitas, não se imaginava e nem se pretendia
conferir à pena de prisão o caráter quase universal de pena. Naquela época, a prisão não era
sinônimo de pena como é para a gente hoje. Mas esse movimento de transformar a detenção
na forma essencial de castigo tem lugar logo após as reformas, sobretudo no século XIX. E é
por isso, explica Foucault, que o corpo (que tinha sido substituído pela alma) volta a ser o per-
sonagem principal. Há uma nova política do corpo.
Então, vamos resumindo: saímos do suplício, rituais bárbaros e ostensivos que evocavam
o poder do Monarca; passamos, a partir do século XVIII, pela reforma pretensamente humanis-
ta, que incorporou uma ideia de suavidade penal, com a humanização e universalização das
penas, já nas mãos de um juiz que divide seu poder com os juízes auxiliares; e chegamos, a
partir do século XIX, à universalização da pena de prisão.
Ou seja, agora relacionando com as escolas criminológicas: Foucault faz uma análise da
suposta suavização penal passando pelos momentos históricos dos suplícios, das penas pro-
porcionais ao delito (conectadas à Escola Clássica, direcionadas à alma) e, por fim, da dissemi-
nação do cárcere como punição por excelência (conectada ao pensamento positivista, como
veremos, e com um regresso de direcionamento ao corpo do homem delinquente).
Quando o emprego da prisão se dissemina, ainda que não sejam empregados castigos
violentos e sangrentos, trata-se, novamente, do corpo do condenado: da sua utilidade, da sua
docilidade, da sua submissão. Há uma tecnologia política do corpo: uma microfísica do poder
que sabe muito sobre o corpo (bem a cara do positivismo!) e que controla suas forças. O dis-
curso de que a nova punição é sobre a alma não consegue mascarar que continua (ou volta) a
haver, sobretudo com a disseminação da pena privativa de liberdade, uma pesada tecnologia
do poder sobre o corpo.
É que, em realidade, já na segunda metade do século XVIII, ainda na Era Clássica, surge
uma preocupação em controlar o corpo em larga escala. Não se trata de cuidar do corpo, mas
de esquadrinhá-lo detalhadamente, de exercer sobre ele uma coerção sem folga. Essa é a
ideia do corpo dócil: um corpo que se analisa, que se manipula, que se modela, que se treina,
que obedece ao adestramento. Para que isso funcione, é necessário atentar aos detalhes:
inspeções minuciosas, regulamentos detalhados e controle das mínimas parcelas da vida e
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do corpo começam a ter lugar. Ganha força, então, a ideia de poder disciplinar e de sociedade
disciplinar, que vai se fortalecendo nos séculos seguintes.
No poder disciplinar, algumas ideias são centrais. Os indivíduos são distribuídos no espa-
ço, e para isso: podem ser utilizadas cercas que fecham um grupo de pessoas em um local
(presídio, por exemplo, mas também pode ser uma escola, um quartel); pode ser determinado
que cada indivíduo deva permanecer em uma parte determinada desse local (cela, por exem-
plo); e pode ser determinado que cada local da construção tenha sua função (pátio, refeitório).
Além da distribuição espacial, existe controle das atividades: horários para as atividades, ges-
tos a serem empregados, utilização crescente do tempo. Quando fala do nascimento do poder
disciplinar, Foucault não se refere especificamente às prisões. Ele exemplifica com a vida nos
quartéis, instituições médicas, escolares e industriais. Mas ele demonstra que, com o passar
do tempo, o cárcere se revela uma importante e útil ferramenta para implementar o poder
disciplinar.
Ao falar especificamente das prisões, ele retoma a ideia do panóptico, que já havia sido em-
pregada pelo inglês Jeremy Bentham na virada do século XVIII para o século XIX. O panóptico
é um sistema arquitetônico para presídios: de uma torre central, todos os corredores radiais
seriam observados. Os presos poderiam ser monitorados facilmente, com um simples virar de
cabeça dos guardas alocados na torre. Ademais, a construção arquitetônica ideal de panóptico
não permitiria a definição, pelos detentos, do ponto a partir do qual se realiza a vigilância, e
tampouco a identificação de quem os vigia. O panóptico ideal é uma máquina de dissociar o
par “ver” x “ser visto”. A ideia era utilitarista: ter a maior vigilância dos detentos com o menor
emprego de recursos. Vamos dar um exemplo:
Foto: peramblogando.blogspot.com
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[...] induzir no detento um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o funciona-
mento automático do poder. Fazer com que a vigilância seja permanente em seus efeitos, mesmo
se descontínua em sua ação; que a perfeição do poder tenda a tornar inútil a atualidade de seu exer-
cício; que esse aparelho arquitetural seja uma máquina de criar e sustentar uma relação de poder
independente daquele que o exerce; enfim, que os detentos se encontrem presos numa situação de
poder de que eles mesmos são os portadores17.
Quem quer que passe pelo cárcere leva consigo as marcas dessa coerção máxima estatal
consubstanciada na pena privativa de liberdade. Afinal, a prisão deixa traços no corpo, impõe
hábitos, determina comportamentos, envolve disciplina.
A disciplina é feita com o adestramento dos corpos, por meio de:
• vigilância hierárquica: redes verticais de relações de controle, em que os controladores
operam vendo tudo o que acontece. São verdadeiros observatórios da multiplicidade
humana.
• sanção normalizadora: sistema de recompensa e de punição instituído para corrigir des-
vios, especialmente mediante micropenalidades baseadas no tempo (atrasos, ausên-
17
Vigiar e punir: história da violência nas prisões. Trad. Ligia Pondé Vassalo. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1984, p. 116.
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A prisão, declara Foucault, é um duplo erro econômico: pelo custo (direto) de sua organiza-
ção e pelo custo (indireto) da delinquência que ela não reprime.
Como resposta a essas críticas, sempre sobrevêm reformas penitenciárias, que reforçam
os princípios da técnica penitenciária e que, portanto, querem resolver a prisão com a própria
prisão. Esses princípios da técnica penitenciária são:
• Princípio da correção (a prisão deve ter por função a transformação do comportamento
do indivíduo);
• Princípio da classificação (os detentos devem ser isolados de acordo alguns critérios,
como a gravidade de seus atos, idade etc.);
• Princípio da modulação das penas (o desenrolar da pena deve ser modificado de acordo
com os resultados obtidos, os progressos, as recaídas);
• Princípio do trabalho como obrigação e como direito (o trabalho penal deve ser uma das
peças essenciais da transformação);
• Princípio da educação penitenciária (a educação é uma precaução no interesse da so-
ciedade e uma obrigação com o detento);
• Princípio do controle técnico da detenção (pessoal especializado com capacidade mo-
ral e técnica deve zelar pelos detentos);
• Princípio das instituições anexas (medidas de assistência devem ser tomadas até a re-
adaptação definitiva do antigo detento).
Mas o emprego desses princípios não vai resolver os males do cárcere. A prisão, seu fra-
casso e sua reforma não são momento sucessivos na história, mas momentos simultâneos,
de forma que a prisão é uma invenção desacreditada desde o seu nascimento. Ou seja, há 150
anos o fracasso da prisão acompanha sua manutenção. E isso ocorre porque o fracasso da
prisão tem uma utilidade. Afinal, a prisão não se destina a suprimir infrações, mas sim a distin-
gui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalidade é uma maneira de gerir as ilegalidades, de traçar
limites de tolerância, deixando algumas pessoas dentro da economia geral das ilegalidades,
e excluindo outras. Ela demarca qual a forma particular de ilegalidade sobre a qual quer jogar
luz. A delinquência (aqui usando o conceito específico de Foucault, que contrapõe delinquente
e infrator; que separa a delinquência, como sinônimo de vida criminosa, da infração, sinônimo
de ato criminal isolado) é a ilegalidade que o sistema carcerário recortou e organizou. É o que
ele chama de ilegalidade dominada, que funciona, aliás, como um agente para a ilegalidade
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dos grupos dominantes. Para que a ilegalidade dos grupos dominantes funcione e tenha seus
lucros, seja na prostituição, no tráfico de armas e de drogas, controla-se e maneja-se a ilegali-
dade dos “delinquentes”. A criminalidade de necessidade (dos pobres, dos necessitados) mas-
cara, com os holofotes que atrai, a delinquência de cima. A delinquência da riqueza é tolerada
pelas leis, pelos tribunais e pela imprensa.
Assim, para Foucault, se há um desafio global em torno da prisão, ele reside na alternativa:
prisão ou algo diferente da prisão?
No Brasil, Roberta Lyra Filho chegou a ser citado pelo Ministro Nelson Jobim como o mais
crítico de nossos juristas críticos. Em seu livro Criminologia dialética, de 1972, ele defendia que
a Criminologia não podia andar a reboque do formalismo jurídico. A integração da Criminologia
e do direito penal precisa passar pelo reexame da filosofia jurídica e da antropologia filosófica,
para que se repense o próprio conceito de direito. Afinal, o conceito de crime é historicamente
determinado pelas manifestações específicas da cultura e das subculturas. Por isso, traçar
um novo conceito de crime é parte dos afazeres criminológicos. A gênese das normas deve
ser estudada, para que se compreenda como o fenômeno delituoso é um capítulo da dialética
de valores.
Outro nome importante para a Criminologia Crítica brasileira foi Juarez Cirino dos San-
tos, professor paranaense, que fez ecoar o pensamento da Criminologia Crítica em seu livro
A Criminologia Radical, escrito entre 1979 e 1981. O autor explica que se embasou no que ele
considera a linha de frente de um movimento universal de Criminologia Crítica, composto por
Foucault; Taylor, Walton e Young; e Rusche e Kirchheimer. Juarez Cirino mostra que a Crimino-
logia Radical tem por objeto as relações sociais de produção (estrutura de classes) e de repro-
dução político-jurídica (superestruturas de controle) da formação social, e que as contradições
de classes vinculam o controle do crime às relações capitalistas da estrutura econômica. A
Criminologia está ligada à economia, e ambas, à política.
Para Juarez Cirino, o processo de criminalização, tanto na produção como na aplicação
das normas, protege seletivamente os interesses das classes dominantes, pré-selecionando
os indivíduos estigmatizáveis distribuídos nas classes sociais subalternas. A punição é admi-
nistrada pela posição de classe do autor, uma variável independente que determina a imunida-
de das elites e a repressão das massas miseráveis. O Direito não é neutro. Ele reflete o modo
de produção da sociedade. O Estado, por sua vez, é organização política do poder das classes
hegemônicas.
Assim, a Criminologia Radical nota que o sistema punitivo possui objetivos aparentes e
objetivos reais. Os objetivos ideológicos aparentes do sistema punitivo são, por exemplo, a
repressão do crime, a ressocialização, a diminuição das taxas criminais. Os objetivos reais
ocultos, por sua vez, são a reprodução das relações de produção e da massa criminalizada.
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(...) o fracasso histórico do sistema penal limita-se aos objetivos ideológicos aparentes, porque os
objetivos reais ocultos do sistema punitivo representam êxito histórico absoluto desse aparelho de
reprodução do poder econômico e político da sociedade capitalista18.
Ainda no Brasil, mas agora no Rio de Janeiro, Nilo Batista explica, tanto em Introdução Críti-
ca ao Direito Penal Brasileiro, de 1990, como em Matrizes Ibéricas do Sistema Penal no Brasil, de
2000, que há marcante congruência entre os fins do Estado e os fins do Direito Penal, de modo
que o conhecimento das reais e concretas funções históricas, econômicas e sociais do Estado
é fundamental para a compreensão desse ramo do direito. Nilo Batista, que foi Promotor de
Justiça e Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, escreveu Direito Penal
Brasileiro em companhia do argentino Eugenio Raúl Zaffaroni, de que falaremos mais adiante.
Continuando no Rio de Janeiro, Vera Malaguti Batista em Difíceis Ganhos Fáceis: Drogas e
Juventude Pobre no Rio de Janeiro, de 1998, e em Introdução Crítica à Criminologia Brasileira,
de 2011, também defende que as escolas criminológicas prévias tentavam classificar e hierar-
quizar, desistoricizar, despolitizar as lutas dos pobres do mundo que são, sempre, o alvo dos
sistemas penais capitalistas. Para ela, é necessário destrinchar e desnudar os mecanismos
de inflição de dor e sofrimento às histórias tristes dos pobres e isso significa, por exemplo:
mudar a política criminal de drogas, produzindo políticas coletivas de controle pela legalidade;
despenalizar os crimes patrimoniais sem violência contra a pessoa; abrir os muros das prisões
para sua comunicação com o mundo externo; diminuir o número de policiais, desarmando-
-os e transformando-os em agentes coletivos de defesa civil; ampliar as defensorias públicas;
acabar com a exposição de suspeitos na mídia e reduzir o noticiário emocionalizado de casos
criminais.
Na Argentina, o nome de Eugenio Raúl Zaffaroni tem muito destaque no campo da Crimi-
nologia Crítica. Ele defende, em Em Busca das Penas Perdidas, de 1991, e outras obras, que os
sistemas penais não detêm legitimidade, já que são seletivos e reprodutores da violência. Zaf-
faroni incorpora dados da realidade social para demonstrar essa deslegitimação, que se mani-
festa no que ele chama de “perda” das penas, ou seja, penas como inflição de dor sem sentido.
As penas perdidas são, portanto, penas carentes de racionalidade. E a esse procedimento, de
incorporar dados da realidade para demonstrar a deslegitimação penal, ele dá o nome de rea-
lismo jurídico-penal. Como ele faz essa análise a partir de um ponto de vista da América Latina,
uma região marginal do poder planetário, ele denomina sua análise, mais especificamente, de
realismo jurídico-penal marginal.
Roberto Bergalli, também argentino, radicado em Barcelona e falecido em maio de 2020,
dedicou grande parte da sua vida ao estudo do controle social punitivo na América Latina. Ele
foi fundador de um dos primeiros cursos de pós-graduação em Criminologia Crítica na Espa-
nha, onde se exilou após ter sido perseguido pela ditadura argentina. Publicou diversas obras
nos campos da Criminologia, da sociologia jurídica e política, da teoria e filosofia do direito, e
18
SANTOS, Juarez Cirino dos. A Criminologia Radical. Curitiba: ICPC: Lumen Juris, 2006, p. 128.
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Criminologia cultural
Em tempos mais recentes, sobretudo a partir de meados dos anos 90, surgem muitos tex-
tos e obras sobre Criminologia Cultural. Alguns autores abordam os cultural studies dentro da
Criminologia Crítica, e por isso vou falar brevemente sobre eles.
A Criminologia Cultural é um ramo da Criminologia que se debruça sobre a criminalização
da cultura diferente, como a de grafiteiros, punks, neonazistas, roqueiros, mendigos, prostitu-
tas etc. Trata-se, então, de um grupo de teóricos preocupados com a subcultura de que falava
Albert Cohen, mas agora dentro de um enfoque conflitual da sociedade.
Jeff Ferrell, nos Estados Unidos, relatou sua experiência com grafiteiros de Denver no livro
Crimes of Style e no artigo Urban grafitti: crime, control and resistance. Em 2008, Jeff Ferrell,
Keith Hayward e Jock Young lançaram Cultural Criminology.
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Teorias Sociológicas
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No Brasil, Salo de Carvalho publicou Criminologia cultural e rock em 2011 e Saulo Ramos
Furquim, A Criminologia cultural e a criminalização cultural periférica, de 2016. Salah H. Khaled
Jr. e Álvaro Oxley da Rocha traduziram a obra de Jeff Ferrell e Keith Hayward e complementa-
ram suas análises. Juntos, esses quatro autores conceberam o Instituto Brasileiro de Crimino-
logia Cultural, fundado em abril de 2019, que assim define a Criminologia Cultural:
19
Instituto Brasileiro de Criminologia Cultural. Disponível em: https://www.criminologiacultural.com.br/. Acesso em 08 ago. 2020.
20
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 7ª ed. São Paulo: RT, 2018, p. 369.
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RESUMO
Teorias Sociológicas: para compreender o fenômeno criminal é necessário analisar a so-
ciedade onde o delito está inserido.
Teorias do Consenso
Escola de Chicago: Se propôs a discutir múltiplos aspectos da vida humana, todos relacio-
nados com a vida na cidade. Entre os anos 1920 e 1930, Robert Ezra Park, Ernest W. Burgess
e seus alunos produziram mais de 20 obras sobre a ecologia urbana da cidade de Chicago. Os
bairros de Chicago são divididos e analisados de acordo com seus problemas sociais. Burgess
desenvolve a teoria das zonas concêntricas. Clifford Shaw e Henry McKay são outros dois
nomes importantes na Escola de Chicago. Preocupados com a delinquência juvenil, na obra
Delinquency Areas, demonstraram que, quanto mais perto do loop, maior a degradação e as
taxas de criminalidade dos bairros. Concluíram, também, que nas áreas criminais, o controle
social informal é pouco eficiente. A pessoa recém-chegada à cidade passa por um processo
de desorganização social. Há um sentimento de perda pessoal, rejeição de regras sociais, per-
da de raízes. A desorganização social causa aumento de doenças, prostituição, insanidades,
suicídios e crime.
Teoria da Anomia
Émile Durkheim: sociólogo francês (final séc. XIX). Há momentos em que a sociedade atra-
vessa transformações e perde a capacidade de exercer o papel de freio moral. A anomia é esse
estado de desregramento ou desintegração das normas sociais, produzindo uma situação de
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transgressão ou de pouca coesão. O crime se torna um problema quando existe anomia. Caso
contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal e útil, porque permite que a consciên-
cia coletiva evolua.
Robert Merton: sociólogo (EUA), final dos anos 30. Adaptou a teoria do Durkheim para o
American Dream. As estruturas sociais e culturais apresentam objetivos e meios que têm, entre
outras, a função de fornecer uma base de previsibilidade e regularidade do comportamento
humano. No limite, quando a previsibilidade das condutas num grupo social é minimizada, pelo
espaçamento entre os objetivos e os meios, está configurada a anomia ou caos cultural. Os in-
divíduos procedem a adaptações individuais, que podem ser: conformidade; inovação (anomia
propriamente dita); ritualismo; retração e rebelião.
Talcott Parsons: sociólogo (EUA), 1951. Teoria do sistema social, aprofundando as ideias
de Merton. Considerou três duplas de fatores: atividade e passividade; predomínio conforma-
tivo e predomínio alienativo; e orientação para objetos sociais e orientação para normas. A
combinação deles ditará qual o tipo de resposta que uma pessoa dará a uma situação em que
há uma perturbação no quadro de expectativas.
Teorias da Aprendizagem: o crime se aprende, assim como também aprendemos técnicas
para neutralizar a culpa.
Teoria Da Associação Diferencial: se insere nas Teorias da Aprendizagem Social. O princi-
pal autor foi Edwin Sutherland, sociólogo norte-americano. No começo dos anos 40, Suther-
land defendeu que o crime não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pes-
soas aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa
conduta. O processo de comunicação, é fundamental. A pessoa se torna criminosa quando as
definições favoráveis à violação da norma superam as definições desfavoráveis, em um pro-
cesso de imitação.
Crime do colarinho branco (White-collar crime): Sutherland cunhou a expressão (white
collar crime) em 1939. É o crime cometido no âmbito da profissão por uma pessoa de respei-
tabilidade e elevado estatuto social. A razão pela qual esses crimes são cometidos é a mesma
da criminalidade dos pobres: aprendizado somado a definições favoráveis à violação da lei.
Crimes difíceis de se detectar ou sancionar, em virtude da “imunidade do negócio”. Crimes com
efeitos significativos, porém difusos. É um tipo de criminalidade organizada praticada pelos
homens de negócio.
Cifras da criminalidade
Cifra negra: crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diver-
sas razões.
Cifra dourada: delitos cometidos pelos poderosos que ficam impunes.
Cifra cinza: crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que não che-
gam a virar um processo penal.
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Cifra amarela: casos em que as vítimas sofreram algum tipo de violência praticada por
servidor público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes
pela apuração.
Cifra verde: delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhecimen-
to policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
Cifra rosa: crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das autoridades.
Behaviorismo: defende que o homem é um animal autômato. A Psicologia deve ser empí-
rica e objetiva e deve se ocupar unicamente de atos observáveis da conduta, que possam ser
analisados em termos de estímulo e resposta. O objetivo da Psicologia Behaviorista é a pre-
dição e o controle do comportamento. Burrhus Frederik Skinner desenvolveu o behaviorismo
radical. Partindo de uma ideia mecanicista e determinista do comportamento humano – e,
portanto, afastando-se do conceito de livre-arbítrio –, pretendia usar o reforço positivo para
condicionar as atitudes humanas. A principal crítica que se faz à teoria de Skinner é que ela, ao
se distanciar dos conceitos de livre-arbítrio e de autodeterminação dos indivíduos, aniquilaria a
dignidade da pessoa humana e configuraria a transposição, para a sociedade, de experimentos
laboratoriais realizados com ratos. O behaviorismo foi responsável pela aplicação da “tecnolo-
gia científica” ao campo da modificação do comportamento, notadamente de criminosos pre-
sos (realização de psicocirurgia em criminosos violentos, uso de drogas, estimulação elétrica
do cérebro, choques, castração química, tranquilizantes). Alguns programas de modificação
de comportamento foram vistos, pelos próprios prisioneiros, como “psicogenocídio”.
Teoria das Técnicas de Neutralização David Matza e Gresham Sykes, criminólogos (EUA),
1957. Analisaram a criminalidade juvenil. Os delinquentes compartilham do mesmo sistema
de valores da sociedade e têm que aprender a neutralizar o comportamento delitivo. Há 5 téc-
nicas de neutralização: negação da responsabilidade; negação da lesão; negação da vítima;
condenação dos condenadores; e apelo à lealdade.
Teoria da Aprendizagem Social (Teoria Social Cognitiva): foi desenvolvida por Albert Bran-
dura, psicólogo canadense contemporâneo a nós. Acredita que o indivíduo pode aprender sem
sofrer qualquer tipo de reforço. As pessoas podem aprender através da observação. Aprendi-
zagem observacional, vicariante ou modelação, contém algumas etapas: Atenção; Retenção,
Reprodução Motora; Motivação. Os modelos podem ser outras pessoas (pais, professores,
crianças) ou podem ser simbólicos (internet, televisão, jogos).
Teoria Da Subcultura Delinquente: Delinquent boys, Albert Cohen (EUA), 1955. Toda socie-
dade é internamente diferenciada em numerosos subgrupos, ou subculturas, com maneiras de
pensar e agir: que lhe são peculiares; que as pessoas somente podem adquirir participando
desses grupos; e que alguém raramente deixará de adquirir se for um participante verdadeiro
do grupo. A subcultura, típica das gangues, valoriza o não utilitarismo, a malícia, o negativismo,
a versatilidade, o hedonismo de curto prazo e a autonomia de grupo.
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Labelling approach
No Brasil, a Reforma Penal de 1984, a Lei de Execução Penal e a Lei dos dos Juizados Es-
peciais Cíveis e Criminais são citadas como reflexo das ideias do labelling.
Howard Becker: Norte-americano, da Universidade de Chicago. Outsiders: Studies in the So-
ciology of Deviance, de 1963. Relata a análise de grupos de usuários de maconha e de músicos
de jazz feita na década de 1950. Todos os grupos sociais constroem suas próprias regras. A
pessoa que quebras essas regras é etiquetada como outsider, e começa, a partir daí, a sofrer
um processo de estigmatização. Tem início o processo de desviação secundária. O agente
mergulha no papel de delinquente, num processo que se chama de role engulfment e profe-
cia autocumprida. As regras são o produto da iniciativa dos moral entrepreneurs. Existe uma
enorme margem de discricionariedade no trabalho policial. O policial estabelece prioridades.
Assim, os enforcers aplicam as leis e criam outsiders de maneira seletiva. As decisões sobre
quais regras devem ser criadas, quais condutas devem ser consideradas desviantes e quais
pessoas devem ser etiquetadas como outsiders são decisões políticas. A desviação é criada
pela sociedade.
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Erving Goffman: Canadense, realizou suas pesquisas nos Estados Unidos. É autor. Estig-
ma: Notas sobre a Manipulação da Identidade Deteriorada, de 1963, e Manicômios, Prisões e
Conventos, de 1961. Introduziu o conceito de instituição total, que possuem barreiras à rela-
ção com o mundo externo. Nelas, todos os aspectos da vida do condenado são realizados
no mesmo local, sob uma autoridade única e diante de um grupo de pessoas razoavelmente
grande. Há um processo gradativo de desculturamento: humilhações, rebaixamentos, degrada-
ções pessoais e profanações do “eu”. A pessoa institucionalizada é alguém inadaptada para o
convívio em sociedade, exatamente por se identificar com a instituição na qual está recolhida,
e estigmatizada.
Criminologia crítica
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luta por uma sociedade democrática e igualitária passa pela superação do sistema penal. A
mobilidade social é um mito. O sistema escolar e o sistema penal são complementares e aju-
dam a reproduzir e assegurar as relações sociais verticalizadas. Ambos criam contraestímu-
los à integração dos setores mais baixos e marginalizados do proletariado. A criminalização
primária – as leis penais em abstrato – reflete o universo moral próprio da cultura burguesa
individualista, dando total ênfase ao patrimônio privado. Os processos de criminalização se-
cundária – punição no caso concreto – guiam-se por preconceitos e estereótipos. Os juízes
desconhecem a vida das pessoas marginalizadas. Muitos dos julgamentos ocorrem com base
no senso comum (teoria de todos os dias). É absolutamente crítico do cárcere. Têm se mos-
trado infrutíferas as tentativas de socialização e de reinserção através dessas instituições,
momento culminante do mecanismo de marginalização, que funcionam com desculturação
e aculturação (ou prisionização). Defende a adoção de uma política criminal alternativa, em
que haveria a diferenciação da criminalidade pela posição social do autor. No limite, o objetivo
último é uma reforma para abolição da instituição carcerária, em função do fracasso histórico.
Aproximação entre presos e operários, com a finalidade de reinserir o condenado na classe tra-
balhadora e fazer com que os condenados adquiram consciência política sobre o capitalismo.
A nova política criminal teria que estar disposta a enfrentar uma batalha cultural e ideológica
para reverter a hegemonia cultural.
Georg Rusche e Otto Kirchheimer: Alemães, autores de Punição e Estrutura Social, de 1939,
mas somente “descoberto” na década de 1970. No século XV, com mão de obra abundante, o
sistema penal se dirigia contra as massas empobrecidas, com execuções, mutilações e açoi-
tamentos. No mercantilismo dos séculos XVI e XVII, nasce a exploração da mão de obra na
prisão, pois havia escassez de trabalhadores. No século XIX, com o crescimento da rebeldia
popular, das revoluções e dos delitos contra a propriedade, a prisão se converte na pena mais
importante de todo o mundo ocidental. As prisões são uma forma especificamente burguesa
de punição, que se disseminam com a passagem para o capitalismo.
Michel Foucault: Filósofo francês. Vigiar e punir: Nascimento da Prisão, de 1975. Estudo
sobre a evolução histórica do cárcere e da legislação penal. Até o século XVII, as penas eram
verdadeiro suplício, rituais bárbaros pensados para restituir a soberania do príncipe. Posterior-
mente, o Iluminismo desqualifica o suplício, reprovando sua atrocidade. Advém a reforma hu-
manista do século XVIII: os suplícios dão lugar a penas proporcionais. Foucault fala em penali-
dade suavizada, em que deve haver humanidade, proporcionalidade (medida), individualização
das penas e classificação dos crimes e castigos em códigos. Pune-se com menos severidade,
mas com mais universalidade. Permanece um fundo supliciante na pena moderna, mas com
mudança de objetivo: não se quer mais supliciar diretamente o corpo, mas sim a alma. Já na
segunda metade do século XVIII, ainda na Era Clássica, surge uma preocupação em controlar
o corpo em larga escala. Ganha força, então, a ideia de poder disciplinar e de sociedade disci-
plinar, que vai se fortalecendo nos séculos seguintes. Quando as reformas foram feitas, não
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se imaginava e nem se pretendia conferir à pena de prisão o caráter quase universal de pena.
Esse movimento de transformar a detenção na forma essencial de castigo tem lugar logo após
as reformas, sobretudo no século XIX e se ajusta à ideia de poder disciplinar. Então a evolução
consiste em:
• suplício pena proporcional prisão.
Quando o emprego da prisão se dissemina, o corpo (que tinha sido substituído pela alma)
volta a ser o personagem principal. Há uma nova política do corpo. Ainda que não sejam em-
pregados castigos violentos e sangrentos, trata-se, novamente, do corpo do condenado: da
sua utilidade, da sua docilidade, da sua submissão. Com o passar do tempo, o cárcere se
revela uma importante e útil ferramenta para implementar o poder disciplinar, sobretudo se
empregado o modelo panóptico, que permite vigilância constante. Faz-se distinção entre in-
frator (ou condenado) e delinquente. O aparelho penitenciário efetua uma substituição: das
mãos da justiça ele recebe um condenado (infrator), mas no lugar do condenado ele coloca o
delinquente, que é o indivíduo a ser conhecido, analisado, retreinado. A disciplina é feita com o
adestramento dos corpos, por meio de: vigilância hierárquica; sanção normalizadora e exame.
A prisão é um duplo erro econômico: pelo custo (direto) de sua organização e pelo custo (indi-
reto) da delinquência que ela não reprime. Elas não diminuem a taxa de criminalidade, provo-
cam reincidência, fabricam delinquentes, favorecem a organização de delinquentes e fabricam
indiretamente mais delinquentes ao fazer cair na miséria a família do detento. A prisão, seu
fracasso e sua reforma não são momento sucessivos na história, mas momentos simultâneos.
O fracasso da prisão tem uma utilidade. A prisão não se destina a suprimir infrações, mas sim
a distingui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalidade é uma maneira de gerir as ilegalidades,
de traçar limites de tolerância, deixando algumas pessoas dentro da economia geral das ilega-
lidades, e excluindo outras.
Roberta Lyra Filho, Criminologia dialética, de 1972. Criminologia não pode andar a reboque
do formalismo jurídico. O conceito de crime é historicamente determinado pelas manifestações
da cultura e das subculturas. Traçar novo conceito de crime é parte do afazer criminológico.
Juarez Cirino dos Santos, professor paranaense, A Criminologia Radical, 1981. O processo
de criminalização (produção e aplicação das normas) protege seletivamente os interesses das
classes dominantes, pré-selecionando os indivíduos estigmatizáveis das classes subalternas.
O fracasso histórico do sistema penal limita-se aos objetivos ideológicos aparentes. Os objeti-
vos reais ocultos do sistema apresentam êxito absoluto.
Nilo Batista, Introdução Crítica ao Direito Penal Brasileiro, 1990, e Matrizes Ibéricas do Siste-
ma Penal Brasileiro, 2000. Há marcante congruência entre os fins do Estado e os fins do Direito
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MAPAS MENTAIS
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EXERCÍCIOS
001. (VUNESP/2018/PC-SP/ESCRIVÃO DE POLÍCIA) Com relação às teorias sociológicas da
criminalidade, é correto afirmar que
A atuação da polícia judiciária ao investigar e prender infratores acaba por contribuir com a
inserção do infrator no sistema de justiça criminal, inserindo-o em uma “espiral” que o impedirá
de retornar à situação anterior sendo, para sempre, definido como criminoso.
Essa afirmação se relaciona, preponderantemente, com qual teoria sociológica da cri-
minalidade?
a) Janelas quebradas.
b) Etiquetamento Social.
c) Anomia.
d) Subcultura.
e) Ecológica do crime.
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a) Subcultura Delinquente.
b) Anomia
c) Teoria Ecológica do Crime.
d) Labeling approach ou “etiquetamento”.
e) Associação Diferencial.
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c) do conhecimento e da pesquisa
d) da formação e da dedução
e) do estudo e da conclusão.
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serção na sociedade livre, têm sido examinados sob o aspecto das relações sociais e de poder,
das normas, dos valores, das atitudes que presidem estas relações, como também sob o ponto
de vista das relações entre os detidos e o staff da instituição penal.
(BARATTA, Alessandro. Criminologia Crítica e Crítica do Direito Penal. 3. ed. Rio de Janeiro: Revan, 2002, p. 184-
185)
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c) A teoria das carreiras desviantes, segundo a qual o recrutamento dos “criminosos” se dá nas
zonas sociais mais débeis, não é confirmada quando se analisa a população carcerária.
d) O suficiente conhecimento e a capacidade de penetração no mundo do acusado por parte
do juiz e das partes no processo criminal são favoráveis aos indivíduos provenientes dos es-
tratos econômicos inferiores da população.
059. (INÉDITA) A Teoria da Aprendizagem Social, também denominada Teoria Social Cogniti-
va, foi desenvolvida por:
a) B. F. Skinner
b) John Watson
c) Albert Brandura
d) David Matza
e) Gresham Sykes
061. (INÉDITA) Para a Teoria da Aprendizagem Social, defendida por Brandura, o comporta-
mento humano é uma resposta às recompensas do meio externo.
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GABARITO
1. b 37. e
2. e 38. e
3. c 39. c
4. a 40. e
5. b 41. b
6. d 42. a
7. b 43. a
8. b 44. b
9. b 45. d
10. d 46. b
11. c 47. d
12. e 48. a
13. e 49. C
14. C 50. b
15. C 51. b
16. c 52. d
17. E 53. c
18. C 54. a
19. E 55. C
20. E 56. a
21. C 57. b
22. E 58. c
23. b 59. c
24. a 60. C
25. C 61. E
26. C
27. c
28. d
29. e
30. e
31. e
32. c
33. a
34. E
35. e
36. c
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GABARITO COMENTADO
001. (VUNESP/2018/PC-SP/ESCRIVÃO DE POLÍCIA) Com relação às teorias sociológicas da
criminalidade, é correto afirmar que
A atuação da polícia judiciária ao investigar e prender infratores acaba por contribuir com a
inserção do infrator no sistema de justiça criminal, inserindo-o em uma “espiral” que o impedirá
de retornar à situação anterior sendo, para sempre, definido como criminoso.
Essa afirmação se relaciona, preponderantemente, com qual teoria sociológica da cri-
minalidade?
a) Janelas quebradas.
b) Etiquetamento Social.
c) Anomia.
d) Subcultura.
e) Ecológica do crime.
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Cesare Lombroso fundou a Escola Positivista. Émile Durkheim inspirou a Teoria Criminológica
da Anomia. Outros dois nomes importantes para a Teoria da Anomia se encontram nas letras
B (Talcott Parsons) e D (Robert Merton), mas em ambas as alternativas estão precedidos por
autores da Escola Clássica. Na letra A, Von Liszt pertence à Escola de Marburgo (Escola Socio-
lógica Alemã, Escola Moderna Alemã ou Jovem Escola Alemã de Política Criminal) e Kardec
não é um autor consagrado na Criminologia. Na letra C, Beccaria pertence à Escola Clássica e
Lloyd Ohlin pertence à Teoria da Ocasião Diferencial, uma das Teorias do Aprendizado.
Letra e.
Para a Teoria da Associação Diferencial, surgida no começo da década de 1940, o crime não
é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas de qualquer classe social
aprendem a conduta desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa con-
duta. O processo de comunicação, que permite a aprendizagem, é fundamental para a prática
criminal. Essas ideias foram importantes para demonstrar que o crime pode ser cometido por
qualquer pessoa na sociedade, independentemente de fatores biológicos, de pobreza, de défi-
cit de inteligência ou falta de inserção social.
Letra c.
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A teoria da subcultura delinquente defende a existência de uma subcultura. Nela, alguns gru-
pos (como os de delinquentes juvenis) passam a aceitar um sistema alternativo de valores e
crenças, que tem origem na interação com outros adolescentes em situação semelhante e que
soluciona os problemas de adaptação causados pela cultura dominante. A criminalidade des-
ses subgrupos possui características como o não utilitarismo da ação, malícia, versatilidade,
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b) Para o marxismo, delinquente é o indivíduo pecador que optou pelo mal, embora pudesse
escolher pela observância e pelo respeito à lei.
c) Para os correcionalistas, criminoso é um ser inferior, incapaz de dirigir livremente os seus
atos: ele necessita ser compreendido e direcionado, por meio de medidas educativas.
d) Para a criminologia clássica, criminoso é um ser atávico, escravo de sua carga hereditária,
nascido criminoso e prisioneiro de sua própria patologia.
e) A criminologia e o direito penal utilizam os mesmos elementos para conceituar crime: ação
típica, ilícita e culpável.
Edwin Sutherland é o principal autor da teoria da associação diferencial. Para Sutherland, o cri-
me não é cometido somente por pessoas menos favorecidas. As pessoas aprendem a conduta
desviada e se associam com outras pessoas tendo por base essa conduta. Esse processo é
tanto mais intenso quanto mais íntimas as relações estabelecidas pelo indivíduo. As pesso-
as, então, interagem em grupos, aprendem umas com as outras, se associam, mas não para
seguir os padrões da sociedade, e sim para agir de modo diferente (praticando delitos). Daí o
nome associação diferencial.
Letra e.
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É importante notar, nessa questão, que a pergunta se refere à possível explicação para os
crimes praticados contra Estela conforme a Criminologia Crítica. Parte-se, no pensamento cri-
minológico contemporâneo, da ideia de que a delinquência é fruto de muitas variáveis. Dentre
elas, encontra-se a cultura misógina, machista ou sexista. Misoginia é um termo empregado
para descrever as relações nocivas de ódio e desprezo dos homens em relação às mulheres.
Na base dessa cultura reside a ideia de hierarquia entre os sexos, com os homens ocupando
um lugar de ascendência e superioridade sobre as mulheres. Esse tipo de pensamento justifica
crimes como estupro, violência doméstica, feminicídio etc. Na letra A, não há, no texto, qual-
quer menção a traumas de infância de João, e tampouco é esse um argumento recorrente na
Criminologia Crítica. Na letra B, a pouca iluminação da rua pode ter influenciado para a escolha
do local do crime, mas não explica, no marco da Criminologia Crítica, os crimes de estupro
e homicídio em si. Na letra C, o enunciado emprega argumentos de culpabilização da vítima
primária, rechaçados pela Criminologia Crítica. Na letra D, o enunciado é típico da Criminologia
positivista, que falava em criminosos natos e em determinismo.
Letra e.
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Émile Durkheim foi um sociólogo francês do final do século XIX. Ele é considerado um dos
principais teóricos da anomia. A anomia é o estado de desregramento, de ausência ou desin-
tegração das normas sociais, produzindo uma situação de transgressão ou de pouca coesão.
Para Durkheim, o crime se torna um problema quando existe uma situação de anomia. Caso
contrário, o crime é um fenômeno relativamente normal. Sua teoria se afastava da patologiza-
ção do delito defendida, por exemplo, pelos positivistas. A criminologia sociológica se conso-
lidou como uma importante alternativa às teorias biológicas e psicológicas (sobre o caráter,
caracterológicas) do delito.
Certo.
Para a teoria da reação social, ou “labelling approach”, não se pode compreender o crime pres-
cindindo do entendimento da própria reação social. Por isso se diz que um dos postulados da
teoria é o interacionismo, ou interacionismo simbólico, ou construtivismo social. A desviação
não é uma qualidade intrínseca da conduta, mas um atributo que lhe é conferido pelas instân-
cias de controle social formal. É decisivo, então, para compreender o crime, entender como
funcionam os mecanismos de controle social que atribuem o status de delinquente a alguém.
Certo.
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Surgido nos Estados Unidos, o paradigma da reação social começa a abandonar os questiona-
mentos etiológicos (estudo das causas do cometimento de crimes). Também conhecido por
“Labelling Approach” ou Teoria do Etiquetamento, tenta se distanciar da nomenclatura crime-
-criminoso, substituindo o enfoque dos estudos. Ao enfocar os processos de criminalização,
procura entender por que a alguém é satisfatoriamente atribuído um rótulo estigmatizante,
ou seja, porque algumas condutas e pessoas são selecionadas pelos mecanismos de reação
social – são criminalizadas – e outras não.
Letra c.
Robert Merton e Talcott Parsons desenvolveram a Teoria da Anomia, que obedece ao modelo
da denominada sociologia do consenso.
Errado.
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As teorias sociológicas do conflito são consideradas progressistas. Para elas, não é o contrato
social que garante a manutenção do sistema e que faz com que os grupos sociais evoluam.
Esses papeis devem ser – e são – atribuídos ao conflito. É, portanto, o conflito que promove
as alterações necessárias para o desenvolvimento dinâmico da sociedade. Por isso, diz-se que
essas teorias são progressistas, e não conservadoras.
Errado.
O enunciado diz respeito à teoria da anomia de Robert Merton. Para ele, a cultura de uma socie-
dade coloca muita ênfase na importância de que se atinja um certo objetivo, mas não fornece
os meios correspondentes para que o êxito se dê. Isso é particularmente visível nas situações
em que a estrutura cultural impõe aos cidadãos padrões de consumo e riqueza, mas a estru-
tura social não fornece condições para que os indivíduos enriqueçam ou consumam do modo
como se espera. Para lidar com os objetivos e meios, os indivíduos procedem a adaptações
individuais, que podem ser de cinco tipos. Uma das possibilidades de adaptação é a inovação.
Nela, o indivíduo faz uso de meios proibidos, porém efetivos, alcançar seus objetivos. É aqui,
especificamente, que se fala em anomia, como não aceitação das regras que limitam os meios
para o alcance das metas.
Certo.
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consideravam o crime um fato jurídico. Na letra C, o crime não existe ontologicamente para
o “Labelling Approach” e tampouco interessam, para essa teoria, as motivações delitivas. Na
letra D, de fato, a Escola Clássica se valia de método dedutivo, mas isso significava partir do
abstrato (normas) para se chegar ao concreto (delito). Na letra E, os clássicos se preocupavam
com as penas proporcionais, mas defendiam que princípios deveriam informar o sistema, so-
brepondo-se às leis.
Letra b.
As escolas sociológicas ocupam, sobretudo a partir do século XX, importância central na Cri-
minologia. Como parte da Sociologia, a Sociologia Criminal busca explicações para o fenôme-
no criminal na sociedade em que o delito está inserido. É uma ciência que explica a correlação
entre o crime e sua sociedade, tentando compreender as motivações, as possibilidades de
controle e a permanência do fenômeno criminal nos grupos sociais. Para a Sociologia Criminal,
o delito é um fenômeno social causado por variados fatores (como família, educação, pobreza,
costumes, moral), e que guarda relação com situações ordinárias da vida cotidiana.
Letra a.
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ele, muitos índices criminais vêm aumentando significativamente ao longo da história social.
Ou seja, o crime é ubíquo, onipresente, está em todas as partes ao mesmo tempo. Além de
normal, o crime é útil porque propulsiona a evolução da consciência coletiva. Uma sociedade
sem crimes é pouco desenvolvida para Durkheim.
Certo.
A Criminologia Crítica, derivada das ideias de Marx, produz, em certa medida, um retorno ao
determinismo, mas agora não um determinismo biológico, como dos positivistas. Trata-se de
um determinismo econômico-social, que deriva do modo de produção desigual do capitalismo.
Aqui, no entanto, costuma-se dizer que não há um determinismo tão rígido como aquele do
século XIX, pois compreende-se que nem todos os marginalizados sociais cairão na engre-
nagem penal.
Certo.
Na reforma humanista do século XVIII, fala-se em uma penalidade suavizada, em que deve ha-
ver humanidade, proporcionalidade (medida), individualização das penas e classificação dos
crimes e castigos. É necessário controlar a codificar as práticas ilícitas, principalmente se se
considera que passou a incomodar muito à nova burguesia a ascensão dos crimes contra a
propriedade. É que antes as principais ilegalidades eram dirigidas a direitos, mas com o de-
senvolvimento da sociedade capitalista, elas passaram a se dirigir aos bens. O roubo se tor-
nou mais comum e incômodo, de modo que os códigos começam a separar e a classificar as
ilegalidades. De um lado, as ilegalidades dos direitos, e de outro, as ilegalidades dos bens, em
relação às quais havia menos tolerância e que exigiam, portanto, vigilância constante.
Letra c.
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A Teoria da Reação Social, ou Labelling Approach, postula que o crime não existe ontologica-
mente, ou seja, não existe por si só. O conceito de crime é definitorial: ele é resultado dos pro-
cessos de interação na sociedade e, portanto, não se pode compreender o crime prescindindo
do entendimento da própria reação social, que é quem define algo como sendo criminoso. É
decisivo, para compreender o crime, analisar como funcionam os mecanismos sociais que
atribuem o status de delinquente a alguém.
Letra d.
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também é chamado de integralista, pois compreende-se que a sociedade é uma estrutura rela-
tivamente estável de elementos, bem integrada e que todo elemento em uma sociedade possui
uma função, contribuindo para a manutenção do sistema. Para Durkheim, expoente da Teoria
da Anomia, o crime é útil e funcional porque permite que a consciência coletiva evolua, porque
reforça a solidariedade da sociedade.
Letra e.
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a) A pena de prisão foi tida pelos autores como uma forma positiva de adaptação dos trabalha-
dores ao sistema produtivo, trazendo a ressocialização ao centro do sistema punitivo.
b) O surgimento da prisão como forma hegemônica de punição da modernidade foi uma con-
quista iluminista de humanização das penas frente à barbárie da Idade Média.
c) Os autores podem ser classificados como membros da Escola de Chicago, dominante no
período de publicação da obra.
d) As relações entre mercado de trabalho, sistema punitivo e cárcere são próprios da crimi-
nologia crítica, que surgiu na década de 1960 e foi a principal escola de oposição a Rusche e
Kirchheimer.
e) A pena de prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo mercantil, com a consequente
necessidade de disciplina da mão de obra para beneficiar interesses econômicos.
Os alemães Georg Rusche e Otto Kirchheimer, em 1939, na obra “Punição e Estrutura Social”,
estabeleceram uma relação entre mercado de trabalho e cárcere. Nela, defendiam exatamente
que a pena de prisão é relacionada ao surgimento do capitalismo mercantil, com a consequen-
te necessidade de disciplina da mão de obra para beneficiar interesses econômicos. Na letra
A, a ressocialização não foi trazida para o centro do sistema punitivo com o aprisionamento:
para Rusche e Kirchheimer a sociedade capitalista depende da existência de excluídos e por
isso a ressocialização pelo trabalho não consegue ter sucesso. São ideias conflitantes. Na
letra B, o nascimento da prisão como forma hegemônica não foi uma conquista humanista.
Ele se deu porque era necessário encontrar mão de obra para o sistema capitalista. Ou seja, a
hegemonia da prisão não existe em função da necessidade de humanizar as penas, mas por
uma razão econômica. Na letra C, Rusche e Kirchheimer não são pertencentes à Escola de Chi-
cago, ainda que tenham publicado a obra em período de pleno florescimento dessa corrente
de pensamento. E na letra D, não há oposição entre o pensamento de Rusche e Kirchheimer e
a Criminologia Crítica. O pensamento dos autores alemães foi redescoberto e difundido pela
Criminologia Crítica.
Letra e.
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delito. Na letra B, a Teoria da Reação Social insere no grupo de teorias do conflito, e não do
consenso. Na letra C, a principal teoria que explica o comportamento criminoso como fruto de
aprendizado foi a Teoria da Associação Diferencial, de Sutherland. A letra D refere-se à Teoria
da Subcultura Delinquente de Albert Cohen. Na letra E, coube ao Positivismo, e mais especifi-
camente a Lombroso, a explicação da existência do homem criminoso pelo atavismo.
Letra a.
A teoria da reação social ou do labelling approach também é conhecida por teoria do etiqueta-
mento ou da rotulação social porque, entre outros aspectos, estuda o processo de reação do
controle social formal ao crime e se debruça sobre a questão de como uma etiqueta de crimi-
noso é aplicada, colada, atribuída com sucesso a certos delinquentes.
Letra e.
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gou seu carro e o que mais queria era chegar em casa. Mas o horário era de rush e o trânsito es-
tava caótico, ainda chovia. No interior de seu carro sentiu o trauma da demissão e só pensava
nas dívidas que já estavam para vencer, quando fora acometido de uma sensação terrível: uma
mistura de fracasso, com frustração, impotência, medo e etc. Neste instante, sem quê nem
porque, apenas querendo chegar em casa, jogou seu carro para o acostamento, onde atropelou
um ciclista que por ali trafegava, subiu no passeio onde atropelou um casal que ali se encon-
trava, andou por mais de 200 metros até bater num poste, desceu do carro meio tonto e não
hesitou, agrediu um motoqueiro e subtraiu a motocicleta, evadindo- se em desabalada carreira,
rumo à sua casa. Naquele dia, Paulo, um pacato cidadão, pagador de impostos, bom pai de
família, representante da classe média-alta daquela metrópole, transformou-se num criminoso
perigoso, uma fera que ocupara as notícias dos principais telejornais. Diante do caso narrado,
identifique dentre as Teorias abaixo, a que melhor analisa (estuda/explica) o caso.
a) Escola de Chicago.
b) Teoria da associação diferencial.
c) Teoria da anomia.
d) Teoria do labeling approach.
e) Teoria crítica.
Questão difícil. O foco da narrativa está nas consequências delitivas da demissão de Paulo.
Ele, integrante da classe média-alta, pensava nas dívidas a pagar, na sensação de frustração,
impotência e medo. Naquele momento, seus objetivos de longo prazo (suas metas, suas com-
pras, suas contas, seus impostos) não podiam mais ser satisfeitos pelos meios disponíveis
(seu salário), já que ele deixava de ter uma renda. Além disso, seu objetivo imediato (chegar
rápido à sua casa) tampouco podia ser satisfeito pelo meio disponível (carro), já que havia
engarrafamento e chuva. Esse distanciamento entre os objetivos e os meios disponíveis para
alcançá-los é o eixo central da teoria da anomia de Robert Merton. Pode-se dizer que, em rela-
ção ao roubo da motocicleta, Paulo agiu com o comportamento de inovação: não aceitou as
regras que limitavam seus meios, e tratou de descumpri-las para alcançar a meta de chegar
logo em casa.
Letra c.
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Lombroso e Garofalo são dois dos principais expoentes da Escola Positivista italiana. Na letra
A, a Escola de Chicago é uma das teorias do consenso e não faz parte da Teoria Crítica, que é
uma das teorias do conflito. Na letra B, o delito é um dos objetos da Criminologia, ao lado do
delinquente, da vítima e das instâncias de controle social. Na letra C, a Criminologia se vale de
método empírico, de observação da realidade. Na letra D, a teoria do criminoso nato foi utiliza-
da sobretudo por Cesare Lombroso.
Letra e.
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A Teoria da Subcultura Delinquente pode ser usada para explicar as regras próprias das fac-
ções criminosas, pois é uma teoria que explica o florescimento de gangues nos bairros deli-
tivos das grandes cidades americanas. As gangues aceitam alguns valores predominantes,
mas também expressam sentimentos e crenças exclusivos de seus grupos (regras próprias,
códigos de conduta próprios). E a teoria da anomia, sobretudo a de Robert Merton, se dedica
a explicar as consequências criminológicas desse descompasso entre objetivos (condição de
vida satisfatória) e meios (oportunidades para a ascensão social).
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d) o abandono completo do suplício corporal como tecnologia encarceradora que passa ser
utilizada a partir do século XIX.
e) o cárcere como dispositivo preponderante sobre o qual se ergue a sociedade disciplinar.
Questão difícil. Foucault, em Vigiar e Punir, não faz, ele mesmo, uma criminologia do homem
delinquente. Passa muito longe disso. O que a banca quis dizer é que Foucault aborda a trans-
formação dos métodos punitivos a partir de uma tecnologia do corpo, e que, em sua aborda-
gem, ele considera que a Criminologia do século XIX, centrada na figura do homem delinquen-
te, constitui força motriz para a consolidação da prisão como mecanismo de controle. Afinal,
naquela época, o mundo estava preocupado com o controle do corpo. Não se trata de cuidar
do corpo, mas de esquadrinhá-lo detalhadamente, de exercer sobre ele uma coerção sem fol-
ga. Essa é a ideia do corpo dócil: um corpo que se analisa, que se manipula, que se modela,
que se treina, que obedece ao adestramento. Esse corpo que se esquadrinha é um conceito
que se potencializa com a Escola Positivista, do século XIX. Para que isso funcione, é neces-
sário atentar aos detalhes: inspeções minuciosas, regulamentos detalhados e controle das
mínimas parcelas da vida e do corpo começam a ter lugar. Ganha força, então, a ideia de poder
disciplinar e de sociedade disciplinar, onde o cárcere desempenha importante papel. As tipo-
logias positivistas foram cruciais na dinâmica de criar o delinquente (uma unidade biográfica,
núcleo de periculosidade, dotado de anomalia) e colocá-lo no lugar do infrator (mero autor de
um fato). Por isso, para Foucault, a técnica penitenciária e o homem delinquente são irmãos
gêmeos, que surgiram juntos e que ajudam a formar, nos subterrâneos do aparelho judiciário,
a delinquência, em substituição à mera infração. Na letra “a”, Foucault fala exatamente do
contrário, substituição do patibular (suplício) pelo cárcere. Na letra “c”, ele não argumenta que
os fins declarados (ressocialização, por exemplo) da pena de prisão sejam cumpridos. Na le-
tra “d”, o suplício corporal não foi completamente abandonado com o cárcere. Ainda que não
sejam necessariamente empregados castigos violentos e sangrentos, trata-se, ainda, do cor-
po do condenado: da sua utilidade, da sua docilidade, da sua submissão. Há uma tecnologia
política do corpo: uma microfísica do poder que sabe muito sobre o corpo e que controla suas
forças. O discurso de que a nova punição é sobre a alma não consegue mascarar que continua
a haver, sobretudo com a disseminação da pena privativa de liberdade, uma pesada tecnologia
do poder sobre o corpo. Na letra “e”, que induz muita gente a erro, quando fala do nascimento
do poder disciplinar, Foucault não se refere especificamente às prisões. Ele exemplifica com
a vida nos quartéis, instituições médicas, escolares e industriais, instituições onde começa de
fato a se erguer o poder disciplinar. Mas ele demonstra que, com o passar do tempo, o cárcere
se revela uma importante ferramenta para implementar o poder disciplinar.
Letra b.
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Para Baratta, as relações entre o preso e a sociedade são perversas, porque reafirmam e apro-
fundam a marginalização social, num mecanismo egoísta, fruto de uma sociedade capitalista,
e violento, permeado de privações e ilegalidades. O sistema penal ajuda a reproduzir e assegu-
rar as relações sociais verticalizadas. Ele cria contraestímulos à integração dos setores mais
baixos e marginalizados do proletariado e é orientando para atingir as formas de desvio des-
ses grupos socialmente mais débeis. Na letra “a”, Baratta é absolutamente crítico do cárcere.
Ele diz que têm se mostrado infrutíferas as tentativas de socialização e de reinserção através
dessas instituições. Nas prisões, chamam a atenção o constante regime de privações a que
são submetidos os condenados e o processo negativo de socialização. Trata-se de um proces-
so de socialização em que há desculturação, isto é, desadaptação às condições necessárias
para a vida em liberdade, e aculturação ou prisionalização, que é a assunção de atitudes e mo-
delos de comportamento típicos da subcultura carcerária. Na letra “b”, o mais importante para
Baratta é modificar a sociedade capitalista excludente. Na letra “c”, os institutos de detenção
são o momento culminante do mecanismo de marginalização, refletindo, portanto, as caracte-
rísticas negativas da sociedade.
Letra d.
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a) criminalização da pobreza.
b) prisionização.
c) direito penal do inimigo.
d) criminologia crítica.
e) encarceramento em massa.
O panóptico, originalmente, é um sistema arquitetônico para presídios: de uma torre central, to-
dos os corredores radiais seriam observados. No panoptismo penal há vigilância permanente.
Hoje, o conceito de panoptismo extrapolou a ideia de sistema arquitetônico prisional. Ele é apli-
cado também com referência a sistemas de informações que permitem localizar, observar a
vida dos cidadãos e, mais especificamente, dos condenados monitorados com medidas alter-
nativas, como tornozeleiras eletrônicas, que permitem à Justiça criminal saber em tempo real
onde está o réu. Nas letras A e B, faz parte do conceito de panoptismo não saber quem exerce
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Para Foucault, o sistema penitenicário revela a delinquência por trás da infração. O panoptis-
mo penitenciário é um sistema de documentação individualizante e permanente sobre o pre-
so: tudo é visto, registrado e se transforma em saber sobre aquele corpo, saber que regula a
prática carcerária. A partir do momento em que o infrator é condenado, ele passa a ser objeto
desse saber. O aparelho penitenciário efetua uma substituição: das mãos da justiça ele recebe
um condenado (ou infrator), mas no lugar do condenado ele coloca o delinquente, que é o indi-
víduo a ser conhecido, analisado, retreinado. O condenado ou infrator é caracterizado pelo ato
que cometeu. O delinquente, pela sua vida. Ou seja, por trás da infração (um ato), existe a delin-
quência (uma vida), que o aparelho penitenciário desvenda. Além disso, para Foucault, a prisão
serve para demarcar a delinquência no campo maior das ilegalidades. A prisão não se destina
a suprimir infrações, mas sim a distingui-las, distribuí-las e utilizá-las. A penalidade é uma ma-
neira de gerir as ilegalidades, de traçar limites de tolerância, deixando algumas pessoas dentro
da economia geral das ilegalidades, e excluindo outras. Ela demarca qual a forma particular de
ilegalidade sobre a qual quer jogar luz. A delinquência é a ilegalidade que o sistema carcerário
recortou e organizou. Nas letras B e D, a prisão não permite erradicar a delinquência do meio
social. Na letra C, a prisão não permite reduzir a delinquência. Foucault, ao explicar que a pri-
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são tem sido denunciada como o grande fracasso da justiça penal, recorda que elas não dimi-
nuem a taxa de criminalidade. Em realidade, fabricam delinquentes. Na letra E, a delinquência e
a periculosidade estão conectadas para Foucault. As tipologias positivistas foram cruciais na
dinâmica de criar o delinquente, uma unidade biográfica, núcleo de periculosidade, dotado de
anomalia. Por isso, para Foucault, a técnica penitenciária e o homem delinquente são irmãos
gêmeos, que surgiram juntos e que ajudam a formar, nos subterrâneos do aparelho judiciário,
a delinquência, em substituição à mera infração.
Letra a.
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Os clássicos consideram que o crime é, antes de tudo, um ente jurídico. A Escola Clássica se
preocupou, pela primeira vez, em fundamentar, delimitar e legitimar a pena. Em substituição ao
sistema penal caótico e desumano do Antigo Regime, a Escola Clássica forneceu um panora-
ma legislativo humanitário e racional, mostrando que a pena poderia e deveria ser útil, justa e
proporcional. Na letra A, os positivistas, no século XIX, deram contornos mais precisos à Crimi-
nologia como ciência. Na letra B, a Criminologia Crítica é uma teoria do conflito que, com viés
predominantemente marxista, enxerga no modo de vida capitalista as razões para a prática
criminal, fazendo duras críticas às teorias do consenso e às ideias de existência de objetivos
comuns a todos os cidadãos. Na letra C, as teorias positivistas eram indutivas. Na letra E, os
modelos de integração são os modelos de consenso, que não falam de coerção, dissensão e
conflito. Para os modelos de integração, as pessoas de um grupo social possuem consenso
em torno de uma série de valores e criam instituições para manter a ordem social.
Letra d.
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As teorias conflituais não falam de patologia. Elas partem do pressuposto de que há força e
coerção na sociedade. Somente existe ordem porque há dominação de uns e sujeição de ou-
tros. A sociedade está sempre sujeita a processos de mudança e cada elemento da sociedade
contribui, de certa forma, para sua desintegração. Para essas teorias o crime faz parte da luta
pelo poder.
Letra a.
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Por ter focado na criminalidade juvenil dos subgrupos (gangues, facções), uma das críticas
mais frequentes sobre a teoria da subcultura é exatamente a de não ter conseguido fornecer
uma explicação mais abrangente da criminalidade. Na letra B, a teoria da anomia apresentada
é de Robert Merton. Na letra C, a teoria da anomia apresentada é a de Durkheim. Na letra D, o
correto seria “não utilitarismo”. E na letra E, o sentimento de impunidade é convergente com o
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conceito de anomia de Durkheim, que significa desintegração de normas, como por exemplo
no caso que normas punitivas que deixam de ser aplicadas, abrindo espaço para a impunidade.
Letra a.
Para Baratta, o sistema escolar – assim como o sistema penal – ajuda a refletir a estrutura ver-
tical e hierarquizada da sociedade. Há homogeneidade entre eles, porque operam de maneira
similar. As sanções escolares negativas, tais como repetição de anos, notas baixas em provas,
expulsões etc., são muito maiores quando se desce aos níveis inferiores da escala social.
Começa-se a perceber que as técnicas de seleção baseadas em testes de coeficientes de in-
teligência ou no conceito de mérito não são neutras. Afinal, os alunos provenientes de classes
mais baixas têm enorme dificuldade de se adaptarem ao mundo escolar, que é estranho a eles,
em função, por exemplo, do uso de regras de comportamento e linguagem bastante diferentes
das normas de seus grupos de origem. E aí, diante dessas dificuldades, advêm sanções nega-
tivas que refletem o quanto a escola é um instrumento de transmissão da cultura dominante.
Letra b.
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d) do conflito cultural.
e) da criminologia radical.
A teoria da neutralização foi desenvolvida em um artigo publicado em 1957 por outros dois cri-
minólogos norte-americanos: David Matza e Gresham Sykes (também conhecido como Grex).
Eles se debruçaram sobre a criminalidade juvenil e defenderam que os delinquentes não pos-
suem outro sistema de valores, mas sim que compartilham do mesmo sistema de valores da
sociedade. Chegaram a essa conclusão ao observar que grande parte dos criminosos: sentem
culpa e vergonha após o crime; demonstram respeito às pessoas que obedecem a lei; e são
conscientes da ilegitimidade de seus comportamentos. Assim, além de terem que aprender
as técnicas de cometimento do delito, os delinquentes têm que aprender a neutralizar o com-
portamento delitivo. Eles vão desenvolvendo racionalizações e justificações para neutralizar a
culpa que sentem ao violar um sistema de valores socialmente aceito. São basicamente cinco
as técnicas de neutralização empregadas: negação da responsabilidade (não foi minha culpa);
negação da lesão (eu achava que não faria mal a ninguém); negação da vítima (ele teve o que
merecia); condenação dos condenadores (juízes e policiais são imbecis que implicam comigo,
são parciais e corruptos); apelo à lealdade (eu fiz isso em defesa de algo maior).
Letra c.
059. (INÉDITA) A Teoria da Aprendizagem Social, também denominada Teoria Social Cogniti-
va, foi desenvolvida por:
a) B. F. Skinner
b) John Watson
c) Albert Brandura
d) David Matza
e) Gresham Sykes
A Teoria da Aprendizagem Social foi desenvolvida pelo psicólogo canadense radicado nos
EUA, Albert Brandura.
Letra c.
061. (INÉDITA) Para a Teoria da Aprendizagem Social, defendida por Brandura, o comporta-
mento humano é uma resposta às recompensas do meio externo.
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REFERÊNCIAS
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ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
BECKER, Howard S. Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance. Nova Iorque: The Free
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GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio; GOMES, Luis Flávio. Criminologia: introdução a seus fun-
damentos teóricos; introdução às bases criminológicas da Lei n. 9.099/1995, Lei dos Juizados
Especiais Criminais. 5ª ed. São Paulo: RT, 2006.
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MORAES, Alexandre Rocha Almeida de; FERRACINI Neto, Ricardo. Criminologia. Salvador: Jus-
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OLMO, Rosa del. A América Latina e sua Criminologia. Rio de Janeiro: Revan, 2004.
PENTEADO Filho, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 7. ed. São Paulo: Sa-
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RUSCHE, Georg; KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2 ed. Rio de Janeiro: Re-
van, 2004.
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SCHAEFER, Richard T. Sociologia. 6 ed. Porto Alegre, AMGH Editora LTDA, 2014.
SERRANO Maíllo, Alfonso; PRADO Luiz Regis. Curso de Criminologia. 3 ed. São Paulo: RT, 2016.
SUTHERLAND, Edwin H. Crime de colarinho branco: versão sem cortes. Rio de Janeiro: Re-
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TAYLOR, Ian; WALTON, Paul; YOUNG, Jock (Orgs.) Criminologia crítica. Rio de Janeiro: Edições
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ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema
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ZAFFARONI, Eugenio Raúl; BATISTA, Nilo; ALAGIA, Alejandro; SLOKAR, Alejandro. Direito Penal
Brasileiro: primeiro volume – Teoria Geral do Direito Penal. 3 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2003.
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CRIMINOLOGIA
Vitimologia e Criminologia Clínica
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
CRIMINOLOGIA
Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
Sumário
Vitimologia e Criminologia Clínica..........................................................................................................................3
Parte I - Vitimologia........................................................................................................................................................3
Conceito de Vitimologia. . ..............................................................................................................................................3
Evolução Histórica...........................................................................................................................................................4
Principais Nomes da Vitimologia............................................................................................................................5
Consolidação da Vitimologia...................................................................................................................................12
Contribuições da Vitimologia.. .................................................................................................................................13
Outras Classificações Vitimárias..........................................................................................................................15
Estatística Criminal e Cifras da Criminalidade...............................................................................................16
Classificações da Vitimização.................................................................................................................................18
Vitimologia Clássica x Vitimologia Solidarista ou Humanitária........................................................20
Lei n. 9.099/95. . ................................................................................................................................................................21
Lei n. 11.106/05.................................................................................................................................................................21
Vítimo-dogmática.. .........................................................................................................................................................23
Desmaterialização da Vítima..................................................................................................................................23
Seletividade da Vitimização.................................................................................................................................... 24
Síndromes Relacionadas à Vitimização............................................................................................................25
Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e
de Abuso de Poder........................................................................................................................................................26
Parte II - Criminologia Clínica................................................................................................................................. 28
Conceito de Criminologia Clínica.. ......................................................................................................................... 28
Resumo................................................................................................................................................................................32
Mapa Mental......................................................................................................................................................................41
Questões de Concurso................................................................................................................................................47
Gabarito...............................................................................................................................................................................65
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................66
Referências..................................................................................................................................................................... 103
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CRIMINOLOGIA
Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
Parte I - Vitimologia
Conceito de Vitimologia
O termo Vitimologia deriva da união das palavras vítima e logos e refere-se, portanto, ao
estudo das vítimas. Esse termo foi cunhado em 1947 por Benjamin Mendelsohn, advogado
egresso do campo de concentração nazista, sobre quem falaremos mais adiante.
Vítima pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica, desde que sofra uma desventura, uma
ofensa, uma lesão decorrente de um crime. A lesão pode ser de vários tipos, como corpórea,
psíquica ou econômica.
A vítima pode ser direta ou indireta. A vítima direta, ou imediata, é a pessoa propriamente
lesada, detentora do bem jurídico atacado. Em um crime de homicídio, a pessoa morta é vítima
direta. A vítima indireta, ou mediata, é aquela que suporta indiretamente as consequências do
delito. É o caso, por exemplo, do Estado. Como titular da grande maioria das ações penais, é
considerado vítima mediata. E pode, naturalmente, ser também considerado vítima imediata,
como nos crimes contra a Administração Pública.
Alguns autores defendem que a Vitimologia é uma ciência. Outros, que é um ramo da Cri-
minologia. De qualquer maneira, a Vitimologia se dedica a jogar luz sobre o papel fundamental
que a vítima desempenha no fenômeno criminal. Analisa, entre outras coisas, a contribuição
do ofendido como causa ou condição do evento delituoso. Preocupa-se com a vítima, buscan-
do restaurar o seu papel no cenário criminal. Além de tentar entender qual o papel da vítima no
delito, defende programas de intervenção em crises, compensação, restituição, ressarcimento
do dano, assistência médica, psicológica e jurídica, seja na etapa de mediação como no pro-
cesso criminal ou cível eventualmente instaurado. Movimentos de defesa dos direitos da mu-
lher, da criança e do adolescente, dos indígenas, dos condenados e de grupos especialmente
vulneráveis têm sido citados como importantes propulsores da Vitimologia.
Além de procurar entender o papel desempenhado pela vítima no fenômeno criminal e o
tipo de assistência necessária para fazer frente aos traumas deixados pelo evento criminoso, a
Vitimologia desempenha importante papel no descobrimento das taxas reais de criminalidade,
como veremos mais adiante.
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CRIMINOLOGIA
Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
Evolução Histórica
A vítima é um dos objetos da Criminologia, como analisamos na primeira aula. Ali, tivemos a
oportunidade de analisar que, em relação à vítima, os estudos criminais passaram por três gran-
des momentos. Vamos agora, retomar e aprofundar os conhecimentos sobre essas três fases:
• Idade de ouro da vítima: perdurou desde os primórdios da civilização até o fim da Alta
Idade Média. Nessa época havia a possibilidade de composição e de autotutela, ou seja,
de fazer justiça pelas próprias mãos. Havia, ainda, a possibilidade de aplicação da lei de
talião, de que já falamos anteriormente. Conhecida pela máxima “olho por olho, dente
por dente”, essa lei traz a ideia de correspondência entre o mal causado a alguém e o
castigo que deve receber. A um homicida, por exemplo, poderia ser imposta a pena de
morte. Durante a era de ouro da vítima se desenvolveu o processo penal acusatório,
em que as funções de acusar, julgar e defender estavam em mãos distintas. As partes
tinham iniciativa probatória, diante de um juiz inerte, que não podia produzir as provas
independentemente da provocação do autor e do réu.
• Neutralização do poder da vítima: essa fase teve início com a Baixa Idade Média, com
a crise do feudalismo, o início das Cruzadas, e a adoção do processo penal inquisitivo,
no século XII. Em oposição ao processo acusatório, o processo inquisitivo concentra as
funções de acusar e julgar nas mãos do juiz. Também chamado de processo inquisitório,
acabou se revelando problemático por dificultar a imparcialidade do juiz, que deixou de ser
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CRIMINOLOGIA
Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
Hans Gross foi um jurista e criminólogo austríaco que teve importância decisiva no nasci-
mento da Criminalística, disciplina que se dedica a elucidar os crimes. Além de pai da perícia
criminal, Hans Gross é considerado precursor da Vitimologia em virtude de sua obra Raritä-
tenbetrug, publicada em 1901, em que analisou a ingenuidade das vítimas de fraudes raras.
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Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
Benjamin Mendelsohn
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Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
Sua tipologia das vítimas, apresentada na palestra “Um horizonte novo na ciência biopsi-
cossocial”, pronunciada em um hospital de Bucareste, é bastante conhecida. Possui uma base
ao mesmo tempo etiológica e interacionista, já que procura compreender as causas de alguém
se tornar vítima analisando a interação existente entre os integrantes da dupla penal (vítima e
agressor). Foi desenvolvida, portanto, com base na correlação de culpabilidade entre a vítima e
o vitimador (delinquente): quanto maior a culpabilidade de um, menor a culpabilidade do outro.
1
MENDELSOHN, Benjamin. La victimologie et les besoins de la societe actuelle. In: Revue internationale de criminologie et
de police technique, v. 26, n. 3, p. 267-276, jui./sep. 1973.
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Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
• Vítima por ignorância, que é menos culpada que o delinquente, como, por exemplo,
aquele que anda com a bolsa aberta um lugar perigoso, sendo imprudente. São também
chamadas de vítima de menor culpabilidade;
• Vítima tão culpada quanto o delinquente, que dá causa ao resultado, como, por exemplo,
no caso da rixa (briga), da eutanásia, da dupla suicida, do aborto consentido e dos cri-
mes de estelionato em que a vítima tenta se aproveitar de uma situação pretensamente
muito vantajosa que lhe é apresentada. É também chamada de vítima voluntária;
• Vítima mais culpada que o delinquente, que o provoca, como, por exemplo, a vítima de
um homicídio privilegiado praticado após injusta provocação. São também chamadas
de vítima por provocação;
• Vítima como única culpada, de que é exemplo a pessoa que se coloca em situação de
completo risco, como o suicida ou um agressor que acaba sendo vítima de legítima
defesa. São também chamadas de vítimas agressoras, simuladas, simuladoras, imagi-
nárias ou pseudovítimas. Nessas hipóteses não se está diante de uma vítima real. Não
se trata de uma pessoa que coopera com o ânimo criminoso de alguém: ao contrário, a
pseudovítima é a única culpada pela situação.
RECURSO MNEMÔNICO
NÃO Ideal
- Ignorância
= Voluntária
+ Provocadora
EXCLUSIVAMENTE Pseudo
E para ajudar a memorizar, em aula eu sugiro que os alunos memorizem o começo das no-
menclaturas que Mendelsohn atribui: Id, Ig, Vo, Provo, Pseudo. Isso ajuda a construir a tabela
na hora da prova.
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Vitimologia e Criminologia Clínica
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Hans Von Hentig foi um psicólogo criminal alemão radicado nos Estados Unidos.
No artigo Remarks on the Interaction of Perpretator and Victim, publicado em 1940, Hans
von Hentig explica que, em muitos casos a vítima não contribui para o fenômeno criminal, mas
que frequentemente pode ser observada uma mutualidade na conexão entre agressor e vítima.
Em clara conexão com os postulados positivistas do século XIX, e nitidamente inserido numa
visão de corresponsabilização da vítima, ele defende que em muitos casos a vítima ativamente
leva o agressor à tentação. “Se há criminosos natos, é evidente que também existem vítimas
natas, que se autolesionam e se autodestroem por meio de uma pessoa estranha maleável.”
Ele analisa três grupos de crimes, sob o ponto de vista vitimológico: assassinatos, crimes se-
xuais e estelionatos.
No tocante aos crimes sexuais, Hentig assinala – em viés típico de uma cultura pautada
por valores androcêntricos – que a sedução e o caráter depravado de certas vítimas são fun-
damentais para compreender muitos casos de estupro e incesto (relação sexual com parente
próximo). Em dois exemplos que nos soam absurdos, ele cita casos em que a filha ia dormir
na cama do pai, sendo que em um desses casos a menina havia perdido a mãe recentemente.
Por fim, no que diz respeito aos crimes de estelionato e outras fraudes, Hentig sublinha o
caráter fundamental da cooperação da vítima: a pessoa enganada é tentada a agir em direção
oposta aos seus interesses. Trata-se de um delito cooperativo, um jogo de confiança, do qual
raramente é vítima uma pessoa honesta. A vítima não apenas contribui amplamente para a
consumação do crime com o seu comportamento como impede, em muitos casos, que o deli-
to seja reportado e investigado, já que a demonstração de que estavam dispostas a entrar em
negócios desonestos pode ser bastante prejudicial à alta reputação de certas vítimas.
Em 1948, Hentig lançou o livro “O criminoso e sua vítima.” Para alguns, essa foi a primeira
obra a tentar sistematizar o estudo da Vitimologia. Nela, adiantando um pouco os postulados
interacionistas que seriam definitivamente incorporados à Criminologia na década de 1960,
Hentig explica que a relação entre o agressor e a vítima é muito mais intrincada do que as dis-
tinções simplistas do Direito Penal. São dois seres humanos, entre os quais pode se verificar
uma rica gama de interações, atrações e repulsas. Para o Direito é muito clara a distinção entre
vítima e agressor. O mesmo raciocínio não se aplica na Sociologia e na Psicologia, em que as
duas categorias podem se fundir. Há uma relação de mutualidade entre vítima e agressor. A
vítima forma e modela o criminoso. Em certo sentido, os animais predadores e suas presas se
complementam. Para conhecer uma pessoa, temos que estar familiarizadas com o seu com-
panheiro complementar.
Há, no livro, uma classificação geral das vítimas e os tipos psicológicos de vítimas. Em
ambas, como se verá a seguir, Hentig segue na ótica de corresponsabilização da vítima, com
viés fortemente impregnado de uma visão androcêntrica de mundo.
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Vitimologia e Criminologia Clínica
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Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
Consolidação da Vitimologia
Em 1973 ocorreu o 1º Simpósio Internacional de Vitimologia, em Jerusalém, Israel, presidi-
do por Israel Drapkin Senderey, médico argentino-chileno. Foi o fundador do Instituo de Crimi-
nologia do Chile e ajudou na formação de outras instituições de Criminologia em países latino-
-americanos, como Venezuela, Costa Rica e México. Em 1959, mudou-se para Israel para criar
o Instituto de Criminologia da Faculdade de Direito da Universidade Hebraica de Jerusalém.
Sua vinculação com a América Latina, no entanto, nunca cessou, já que ele visitava frequen-
temente a região para dar cursos e palestras, com especial destaque para as vindas ao Brasil.
Em 1976 ocorreu, em Boston, nos Estados Unidos, o 2º Simpósio Internacional. O 3º Sim-
pósio ocorreu em Münster, na Alemanha, em 1979. Nessa ocasião, decidiu-se pela criação da
Sociedade Mundial de Vitimologia. (World Society of Victimology). Desde então, os Simpósios
Internacionais seguem acontecendo a cada três anos.
Em 1991, o 7º Simpósio Internacional de Vitimologia foi realizado no Rio de Janeiro. A es-
colha do Rio de Janeiro guardou relação com o sólido trabalho que vinha sendo realizado no
País pela Sociedade Brasileira de Vitimologia (SBV), fundada sete anos antes, em 28 de julho
de 1984, na mesma cidade.
Na fundação da SBV, especialistas das áreas de Direito, Medicina, Psiquiatria, Psicologia,
Sociologia e Serviço Social, além de outros estudiosos das ciências sociais, uniram-se para
consolidar no Brasil os conhecimentos relacionados com a vitimologia.
A SBV realiza estudos, pesquisas, seminários e congressos ligados à pesquisa vitimológi-
ca e mantém contato com outros grupos nacionais e internacionais, sobre aspectos relevantes
da Vitimologia. É, inclusive, membro da Sociedade Mundial de Vitimologia.
Para Ester Kosovski, brasileira, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, orga-
nizadora e autora de obras na área da Vitimologia e expoente da SBV,
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Todo o arcabouço do sistema penal, a começar com a polícia, passando pelo Ministério Público, a
Defensoria Pública, o Judiciário e finalmente a execução da pena é calcado quase que exclusiva-
mente na perseguição ao criminoso (nem sempre bem sucedida) e na sua punição (quase sempre
falha), deixando fora das preocupações do Estado a vítima, o lesado, o agredido, aquele que sofreu
a ofensa e que deve requerer mais atenção2.
A SBV tem sido muito importante na realização de colóquios, simpósios e palestras sobre
Vitimologia no Brasil e no incentivo a iniciativas pragmáticas que transformem o cenário viti-
mológico brasileiro. O Grupo Interdisciplinar de Estudos em Vitimologia, da Universidade Fede-
ral do Rio de Janeiro, foi impulsionado pela SBV como importante local de pesquisas e debates
sobre Vitimologia no meio acadêmico nacional. A criação e o funcionamento de centros de
assistência à vítima em várias unidades da federação foram fomentados pela SBV, na tentativa
de prevenir o processo de vitimização e de auxiliar no processo de assistência às vítimas.
Dentre os nomes de destaque da Vitimologia no Brasil podemos citar ainda: Edgard de
Moura Bittencourt, com sua obra Vítima, Laércio Pellegrino, Heitor Piedade Júnior e Heber
Soares Vargas.
Contribuições da Vitimologia
A Vitimologia, ao retirar a vítima do esquecimento penal e ao atribuir-lhe protagonismo, per-
cebe e demonstra que estudar o ofendido, analisar sua contribuição para a dinâmica criminal
e ouvir e atender suas necessidades é tarefa fundamental e complexa para as atuais ciências
criminais. As principais contribuições da moderna Vitimologia podem ser agrupadas nos se-
guintes eixos3:
• Vítima e dinâmica criminal: a Vitimologia explica que nem sempre a vítima é aleatória,
fungível, acidental ou irrelevante no iter criminis. A contribuição da vítima para a gênese
e dinâmica criminal não é homogênea e uniforme, mas sim variável de acordo com diver-
sos fatores, como a existência de interação prévia entre infrator e vítima;
• Vítima e prevenção do delito: partindo-se da premissa de que o risco de vitimização
(risco de ser vítima de um delito) não é distribuído igualmente na sociedade, admite-se
a possibilidade de prevenção vitimária, que é a prevenção da delinquência voltada para
a vítima em potencial. Como se sabe, por exemplo, que as principais vítimas de delitos
sexuais são as mulheres, podem ser traçadas estratégias para diminuição desse risco
diferenciado de vitimização. É uma prevenção complementar e não substitutiva da pre-
venção criminal. Possui as vantagens de ser uma intervenção não-penal e de ser dese-
nhada especificamente para grupos ou subgrupos que necessitam proteção especial
(mulheres, negros, idosos, jovens, etc.);
2
KOSOVSKI, Ester. Vitimologia e Direitos Humanos: uma boa parceria. Disponível em <http://sbvitimologia.blogspot.com.
br/>. Acesso em 17 abr. 2018.
3
GARCÍA-PABLOS de Molina. GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos teóricos. 5 ed. São Paulo: RT,
2006, p. 76 e ss.
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SUMARIVA, Paulo. Criminologia: teoria e prática. 6 ed. Niterói/RJ: Impetus, 2019, p. 140-141; MOREIRA Filho, Guaracy. Viti-
mologia: o papel da vítima na gênese do delito. 2 ed. São Paulo: Editora Jurídica Brasileira, 2004, p. 163 e ss.
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• Vítima omissa ou ilhada: aquela que se afasta das relações sociais e, por não participar
da sociedade e viver isoladamente, deixa de relatar às autoridades competentes seus
direitos violados. Para Guaracy Moreira Filho, são pessoas que desprezam a cidadania:
não denunciam à autoridade pública quando agredidas ou subtraídas, ainda que sejam,
com frequência, vítimas de furtos, roubos e atentados sexuais.
• Vítima da Política Social: aquela que é vítima do Estado, da negligência do Poder Públi-
co. Para Guaracy Moreira Filho, essa vítima aparece quando o Poder Público se organiza
contra o povo, fenômeno denominado crime branco: inversão de prioridades no Gover-
no, corrupção, ausência de políticas públicas voltadas para o indivíduo. Os exemplos
mais comuns de vítima da política social seriam as crianças desnutridas, as pessoas
analfabetas, as vítimas da seca, os presos em cárceres superlotados, a população sem
assistência médica, as vítimas de enchentes, desabamentos, blecautes.
Cifra Negra
As taxas reais de criminalidade são, portanto, facilitadas pelos informes que as vítimas
fornecem. Há muitos crimes que não chegam ao conhecimento da polícia. Nos crimes sexuais,
por exemplo, é bastante comum que, por vergonha e temor, se deixe de noticiar o caso às auto-
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ridades estatais encarregadas do controle social formal, sobretudo quando o delito é cometido
por um parente. Deixando de haver notícia do crime, o delito não integra as estatísticas oficiais.
A essa diferença entre a criminalidade real – isto é, a totalidade de delitos praticados – e a cri-
minalidade conhecida ou revelada, dá-se o nome de cifra negra, ou cifra oculta. Esses crimes,
que ocorrem, mas não chegam ao conhecimento do poder estatal, integram o que se chama de
“cifra negra” ou cifra oculta da criminalidade. Pesquisas revelam que a diferença entre a cifra
negra dos crimes sexuais é altíssima: a diferença entre os crimes ocorridos e os comunicados
à agência de controle social seria de aproximadamente 90%.
Trata-se do chamado efeito de funil, também conhecido como mortalidade de casos crimi-
nais. Isso é natural e a Criminologia reconhece que o processamento de todos os casos (“total
enforcement”) levaria à falência do próprio sistema penal.
A propensão em relatar ou não um caso às instâncias de controle social está conectada
à crença no sistema de justiça penal; à existência de uma situação vexatória para a vítima; ao
grau de relacionamento da vítima com o agressor; à existência de apólice de seguro dando
cobertura ao objeto do crime; ao montante envolvido no delito, entre outros fatores.
Quando são muito significativas as cifras negras, as estatísticas deixam de ser confiáveis
e o Poder Público encontra séria dificuldade em equacionar os problemas, já que não conhece
sua real dimensão. O maior prejudicado, nesse caso, é a própria sociedade.
Cifra Dourada
Os crimes do colarinho branco possuem alta taxa de subnotificação, porque são delitos de
difícil detecção. Há um nome específico para essa diferença entre criminalidade real e conhe-
cida dos poderosos: é a chamada cifra dourada.
Tecnicamente, a cifra dourada equivale aos delitos cometidos pelos poderosos que não
chegam ao conhecimento das instâncias de controle social formal, mas há algumas variações
em torno desse conceito. Há quem, incorrendo em certa imprecisão, diga que a cifra dourada
equivale a delitos do colarinho branco que ficam impunes, mas desconhecimento da ocor-
rência do crime e impunidade são realidades distintas. Já houve, ademais, oportunidades em
que a Vunesp, alargando ainda mais a definição, considerou que o conceito de cifra dourada
equivale ao próprio conceito de crime do colarinho branco, independentemente de o delito ser
conhecido pelas instâncias de controle social.
Cifra Cinza
A cifra cinza consiste nos crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém
que não chegam a virar um processo penal. São casos, por exemplo, solucionados pelos pró-
prios policiais em sua atividade rotineira; ou na própria delegacia de polícia; ou com a renúncia
da vítima ao direito de queixa ou representação. A cifra cinza demonstra que as polícias têm
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papel conciliador de conflitos e é, nesse aspecto, dotada de muito poder, pois exerce suas
competências de tratar o fenômeno delitivo longe da supervisão direta das instâncias que
seriam as intervenientes subsequentes do sistema de persecução, como Ministério Público,
Defensoria Pública, Poder Judiciário.
Cifra Amarela
A cifra amarela consiste nos casos em que as vítimas sofrem algum tipo de violência prati-
cada por servidor público e deixam, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes
pela apuração.
Cifra Verde
Trata-se de delitos que têm por objeto o meio ambiente e que não chegam ao conhecimen-
to policial ou não são processados porque impossível tentar descobrir a autoria.
Cifra Rosa
São os crimes de caráter homofóbico que não chegam ao conhecimento das autoridades.
Classificações da Vitimização
Atualmente, a Vitimologia aponta que existem diferentes maneiras de classificar a
vitimização.
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Heterovitimização
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Lei n. 9.099/95
A Lei n. 9.099/95, Lei dos Juizados Especiais Criminais, marcou uma mudança paradigmá-
tica no ordenamento jurídico brasileiro em direção à consideração da vítima na relação delitiva.
Seu art. 62 dispõe expressamente que o processo perante o Juizado Especial orientar-se-á
pelos critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade,
objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de
pena não privativa de liberdade.
Heitor Piedade Júnior defende que esse ato normativo foi responsável por outorgar à víti-
ma o status de personagem cidadã.
Anteriormente ao advento da referida lei, a vítima sofria um duplo processo de vitimização: a primá-
ria, consistente na violência sofrida pelo crime, e a vitimização secundária, que ocorria quando, na
expressão de Raul Cervini, entrando em contato com o sistema policial ou judicial, (...) sofria o efeito
sobrevitimizador do processo penal. A partir de uma nova visão social, à luz das modernas ciências
do comportamento humano, a vítima pode pedir proteção ao poder público, pode falar em juízo,
pode ouvir e ser ouvida, pode contribuir na busca da Justiça, como sujeito de direitos.
Lei n. 11.106/05
A Lei n. 11.106/05 fez importantes alterações do ponto de vista vitimológico no Código
Penal. Em primeiro lugar, retirou o termo “mulher honesta” do tipo penal de posse sexual me-
diante fraude e atentado violento ao pudor mediante fraude, deixando claro que é irrelevante a
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conduta recatada prévia da vítima na configuração do tipo penal. Além disso, retirou, do rol de
causas extintivas da punibilidade, algumas previsões que estavam em completo descompasso
com a realidade do século XXI. Antes do advento da Lei, extinguiam a punibilidade o “casamen-
to do agente com a vítima, nos crimes contra os costumes”, e o “casamento da vítima com
terceiro”, nos mesmos crimes, desde que cometidos sem violência real ou grave ameaça e
desde que a ofendida não requeresse o prosseguimento do inquérito policial ou da ação penal.
Do ponto de vista dos processos de vitimização, a Lei Maria da Penha (Lei n. 11.340/06,
que cria mecanismos para coibir a violência doméstica e familiar contra a mulher) é frequente-
mente citada como exemplo de ato normativo que se preocupa com a diminuição dos efeitos
da vitimização secundária. Seu art. 10-A, prevê, desde 2017, alguns dispositivos para, expres-
samente, evitar a revitimização da depoente. Assim, passou a ser direito da mulher em situa-
ção de violência doméstica e familiar o atendimento policial e pericial especializado, ininter-
rupto e prestado por servidores previamente capacitados, preferencialmente do sexo feminino.
Devem ser evitadas sucessivas inquirições sobre o mesmo fato nos âmbitos criminal, cível e
administrativo, bem como questionamentos sobre a vida privada. Por isso, o depoimento deve
ser registrado em meio eletrônico ou magnético, e a degravação e a mídia devem integrar o
inquérito.
Nos crimes de feminicídio é muito comum que os filhos sejam vítimas indiretas, tanto
pelo fato de perderem a mãe, como pelo fato de presenciarem o crime. A grande maioria dos
crimes de feminicídio é cometida no local de residência da mulher e em muitos casos o delito
é praticado na presença de outros moradores do lar. Foi por essa razão, aliás, que o legislador
incluiu, em 2018, uma causa de aumento de pena – de 1/3 até a metade – para o feminicídio
praticado na presença física ou virtual de descendente ou ascendente da vítima (Art. 121, §7º,
inciso III, do Código Penal).
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Vítimo-dogmática
Dá-se o nome vítimo-dogmática às implicações que a Vitimologia causou na dogmática
penal, sobretudo a partir da Alemanha na década de 1990. A vitimo-dogmática analisa a con-
tribuição da vítima para a ocorrência de um crime O essencial na discussão desse tema é o
estudo da responsabilidade da vítima na experiência que sofreu e o consequente impacto, na
dosimetria da pena, de sua eventual contribuição. O raciocínio é o seguinte: se a vítima renun-
cia às medidas de autoproteção disponíveis e, consequentemente, abandona o bem jurídico, a
responsabilidade penal do autor deve ser eximida ou atenuada. Essa discussão ganhou parti-
cular importância nos crimes culposos, como nos casos em que se apura que a vítima de um
acidente culposo de trânsito não estava fazendo uso de cinto de segurança. Ora, se ela mesma
não estava protegendo sua vida e integridade física, é justo atribuir essa responsabilização ao
vitimário que não agiu dolosamente?
Para os adeptos de uma visão vítimo-dogmática moderada, ou fraca, o comportamento da
vítima somente pode repercutir no âmbito da dosimetria da pena, como está previsto no art.
59 do Código Penal. Fazem parte desse grupo Thomas Hillemkamp e Winfried Hassemer. É a
corrente majoritária.
Para os adeptos de uma visão vítimo-dogmática radical, ou forte, não é adequado, sequer,
impor pena se a vítima não necessita ou não merece proteção. A corresponsabilidade da víti-
ma implica a exclusão do crime, via de regra pela atipicidade. Parte-se do princípio do Direito
Penal como ultima ratio, ou seja, do princípio da subsidiariedade, de acordo com o qual a pena
somente é legítima para condutas que violem bens jurídicos de uma vítima merecedora de
proteção. Fazem parte desse grupo Bernd Schünemann e Claus Roxin, com seu funcionalismo
penal, para o qual o efeito protetivo da norma encontra seu limite na autorresponsabilidade da
vítima. Esse pensamento seria aplicável aos delitos não violentos e aos delitos de interação,
como é o caso do estelionato, em que é necessário um determinado comportamento da vítima
para sua consumação. Uma das críticas que se faz a essa visão é o fato de ela impor pesada
carga de responsabilidade penal sobre a vítima, transferindo para ela os custos do crime. Por
isso, tem sido apelidada de “blaming the victim” (culpando a vítima).
Desmaterialização da Vítima
No Direito Penal, os delitos com vítima indeterminada são denominados crimes vagos, ou
ainda multivitimários ou de vítimas difusas. A coletividade é quem sofre os efeitos da prática
delitiva. O sujeito passivo é a comunidade inteira, e não alguém dotado de personalidade jurídi-
ca. É o caso, por exemplo, do crime de porte de arma de fogo e dos crimes de poluição.
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Atualmente, vivemos em sociedades de risco. O termo sociedade de risco foi cunhado por
Ulrich Beck e diz respeito à sociedade pós-industrial que se preocupa enormemente com os
perigos, tanto porque sabe que, como destruiu os recursos naturais, catástrofes ecológicas
são uma realidade cada vez mais presente; como porque presencia o desmoronamento dos
sistemas sociais. É uma sociedade em que há intenso desenvolvimento tecnológico, o traba-
lho é precarizado e as instituições duram menos que as pessoas. Trata-se de uma sociedade
em que grandes contingentes de pessoas são empurrados para o mercado informal ou para-
lelo de trabalho, mas que, ao mesmo tempo, pune mais quem tenta se inserir nessa realidade,
seja com trabalhos ocasionais, furtos, contrabandos e mercados negros.
Na sociedade de risco, a população está com medo, não sabe em que acreditar e sente uma
necessidade de consumir segurança. Nessa sociedade, hipertecnológica e global, os riscos são
desconhecidos, incontroláveis, ameaçam as gerações presentes e futuras e dão origem a uma
sensação coletiva de insegurança. Surgem novas modalidades criminosas, de caráter suprain-
dividual, como a econômica e a ambiental. As estruturas e conceitos básicos do Direito Penal
clássico, de caráter individual, não oferecem boas respostas a esses medos coletivos.
Nessa realidade contemporânea, existe uma tendência de desmaterialização da vítima e
do bem jurídico. Os legisladores exacerbam a política criminal punitiva e criam tipos preventi-
vos, em que a tutela penal é antecipada para um momento prévio, fornecendo um tratamento
diferenciado e gravoso aos crimes novos e com vítimas difusas, tais como econômico-tributá-
rios, ambientais e relativos a organizações criminosas. Verifica-se uma expansão da proteção
de bens jurídicos coletivos, vagos, imprecisos. A essa tendência, dá-se o nome de desmateria-
lização, liquefação, espiritualização ou dinamização do bem jurídico ou da vítima.
Seletividade da Vitimização
A Vitimologia demonstra que o risco de vitimização é seletivo e diferencial. Alguns grupos
populacionais e segmentos sociais são particularmente propensos à vitimização, seja ela pri-
mária, secundária ou terciária. Fatores pessoais, sociais e situacionais atuam para desenhar
um maior ou menor prognóstico de vitimização.
Minorias e grupos marginalizados atraem uma parcela significativa de delitos. No Brasil,
isso é facilmente observável nos delitos violentos. Os jovens negros são as principais vítimas
de homicídio. Segundo dados do Atlas da Violência 2020, do total das vítimas de homicídio em
2018, 75,7% eram negros. Entre eles, a taxa foi de 37,8 por 100 mil habitantes, enquanto entre
os não-negros a taxa foi de 13,9. A chance de uma pessoa negra morrer de forma violenta no
Brasil é 2,7 maior que uma pessoa não-negra. E o homicídio foi a principal causa de mortalidade
de jovens, que são as pessoas de 15 a 29 anos. Fala-se, portanto, em uma juventude perdida.
Os escassos recursos socioeconômicos das vítimas pobres potencializam, ademais, os
efeitos da revitimização, já que lhes é mais custoso enfrentar as dificuldades para fazer girar
com eficiência o sistema de justiça criminal. A população marginalizada, quando vítima, pos-
sui reduzida capacidade de se fazer ouvir com credibilidade, de perseguir seus direitos.
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Síndrome de Lima
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A Síndrome da Mulher de Potifar diz respeito aos casos em que mulheres fazem falsa acu-
sação de estupro ou outros abusos sexuais. Potifar é um personagem bíblico, retratado como
um homem poderoso que possuía vários escravos. Sua esposa sentia-se atraída por José, o
serviçal de confiança de Potifar. Diante da recusa de José, a esposa de Potifar, sentindo-se
humilhada e rejeitada, vingou-se, acusando-o falsamente de estupro.
Essa situação é particularmente delicada, já que os delitos sexuais são comumente prati-
cados na ausência de testemunhas, fazendo com que prova pericial e a palavra da dupla penal
(agressor e vítima) ganhem extrema relevância na apuração dos fatos. Por isso, os operadores
do sistema de justiça criminal podem ter em mente essa figura criminológica para apurar cui-
dadosamente a verossimilhança da palavra da vítima.
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A Declaração orienta que os funcionários dos serviços de polícia, de justiça e de saúde, tal
como o dos serviços sociais e o de outros serviços interessados, devem receber uma forma-
ção que os sensibilize para as necessidades das vítimas, bem como instruções que garantam
uma ajuda pronta e adequada a elas.
Alinhada com os ideais de direitos humanos, a Declaração da ONU pretende reduzir a viti-
mização e solicita aos países signatários – dentre os quais se inclui o Brasil:
• que tomem medidas nos domínios da assistência social, da saúde, incluindo a saúde
mental, da educação e da economia, bem como medidas especiais de prevenção crimi-
nal para reduzir a vitimização e promover a ajuda às vítimas em situação de carência;
• que incentivem os esforços coletivos e a participação dos cidadãos na prevenção do crime;
• que adaptem as respectivas legislações aos direitos humanos;
• que reforcem os meios necessários à investigação, à persecução e à condenação dos
culpados da prática de crimes;
• que promovam a divulgação de informações que permitam aos cidadãos a fiscalização
da conduta dos servidores públicos e das empresas e a promoção de outros meios de
acolher as preocupações dos cidadãos;
• que haja o respeito de códigos de conduta e normas éticas por parte dos servidores
públicos, incluindo o pessoal encarregado da aplicação das leis, o dos serviços peniten-
ciários, o dos serviços médicos e sociais e o das forças armadas, bem como por parte
do pessoal das empresas comerciais;
• que proíbam as práticas e os procedimentos suscetíveis de favorecer os abusos, tais
como o uso de locais secretos de detenção e a detenção em situação incomunicável;
• que colaborem com os outros Estados, no quadro de acordos de auxílio judiciário e admi-
nistrativo, em domínios como o da investigação e o da persecução penal dos delinquen-
tes, da sua extradição e da penhora dos seus bens para os fins de indenização às vítimas.
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Alvino explica que o processo de maturação psicológica do indivíduo se faz numa cami-
nhada que vai do ato ao pensamento. Ou seja, as pessoas caminham, em sua evolução psíqui-
ca, do ato (impensado) para a reflexão.
No princípio do curso vital de cada indivíduo, ocorre um dos mais profundos conflitos do ser
humano. Trata-se do conflito fundamental para a psicanálise, que é aquele que se estabelece
entre filhos e pais, permeado por sentimentos e impulsos contraditórios, de amor e ódio. Esse
conflito funciona como paradigma para os grandes conflitos sociais, como aqueles entre seg-
mentos e camadas sociais, entre o indivíduo e a civilização, entre dominados e dominadores.
Diante do conflito fundamental, apresentam-se duas hipóteses de solução.
• Solução não satisfatória, com fixação no conflito fundamental.
• Solução satisfatória, sem fixação no conflito fundamental.
Quando há uma solução não satisfatória, a pessoa fica presa no conflito fundamental. O
filho (ou ambos, pais e filhos) ficam presos em relações infantis de domínio-submissão e riva-
lidade, e em formas não construtivas do filho de lutar pela emancipação. Essas experiências
mal resolvidas na infância resultam em padrões de resposta para conflitos futuros. Nesses
casos, se a pessoa vem a praticar um delito, seu crime será, predominantemente, expressão de
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Vitimologia e Criminologia Clínica
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Eugenio R. Zaffaroni, importante nome atual da Criminologia Crítica argentina, diz que os
indivíduos criminalizados pelo sistema tornaram-se criminosos por conta das condições de
marginalização social que sofreram, que inclui uma vulnerabilidade social e uma vulnerabi-
lidade psíquica. Os conflitos intra e interindividuais por que a pessoa tem passado em sua
caminhada de maturação psicológica tornaram-na mais vulnerável para enfrentar os atuais
conflitos, de forma a se deixar mais facilmente capturar pela malha do sistema penal. Nessa
linha, em vez de falar em etiologia (busca das razões) da criminalidade, deveríamos falar em
etiologia da vulnerabilidade.
Com base nesses postulados, Alvino elenca algumas propostas para a execução penal:
• Fortalecimento psíquico do apenado (não se trata exatamente de equacionar desvios
psicológicos dos internos, mas sim de identificar seus pontos vulneráveis diante dos
obstáculos que suas condições lhes impõem).
• Abertura (gradativa) do cárcere (o cárcere será tanto melhor quanto menos cárcere for).
• Reaproximação cárcere-sociedade (saídas temporárias, serviços externos, visitas, tra-
balho voluntário).
• Programas de recompensa (encontro agressor-vítima-sociedade, Justiça restaurativa).
• Estímulo ao pensamento, à reflexão, à simbolização (caminhada de maturação psicológica).
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RESUMO
Conceituação e Finalidade
Vitimologia é o estudo das vítimas. O termo foi cunhado em 1947 por Benjamin Mendelsohn.
Vítima pode ser qualquer pessoa, física ou jurídica, que sofra uma desventura, uma ofensa,
uma lesão (física, psíquica, econômica, etc.) decorrente de um crime.
Para alguns, a Vitimologia é uma ciência. Para outros, um ramo da Criminologia. Dedica-se a:
• compreender o papel fundamental que a vítima desempenha no fenômeno criminal;
• defender programas de intervenção em crises, ressarcimento do dano e assistência mé-
dica, psicológica e jurídica;
• descobrir das taxas reais de criminalidade;
• mudar a legislação naquilo que for necessário;
• retirar a vítima do papel meramente testemunhal.
Evolução Histórica
Idade de ouro da vítima: desde os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média.
Possibilidade de composição e de autotutela. Lei de talião: “olho por olho, dente por dente”.
Desenvolveu-se o processo penal acusatório, em que as funções de acusar, julgar e defender
estavam em mãos distintas.
Neutralização do poder da vítima: da Baixa Idade Média (século XII) até século XVII. Pro-
cesso inquisitivo: concentra as funções de acusar e julgar nas mãos do juiz e dificulta a impar-
cialidade do magistrado. A vítima perdeu o poder de reação ao fato delituoso, que passou para
as mãos da administração pública.
Revalorização do poder da vítima: do século XVIII até os dias atuais. Percebe-se que a víti-
ma havia sido esquecida pelo processo criminal e que é necessário recuperar certa parcela de
seu protagonismo. Um dos problemas é a pressão que as vítimas ou seus parentes exercem
para que haja leis e punições extremamente severas.
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ende uma esfera muito mais ampla, que inclui as vítimas de acidentes de trânsito, de acidentes
de trabalho, de vícios, de suicídios, do doenças laborais, dentre outras. Fatores que determi-
nam que alguém se torne vítima provêm de seis espécies de meios:
• Meio endógeno, bio-psíquico, da própria vítima;
• Meio natural, físico, imune à influência humana;
• Meio natural ambientalmente modificado pela influência humana;
• Meio social (ações antissociais);
• Meio social político (governos autoritários, ditatoriais, racistas, genocidas);
• Meio motor (máquinas da modernidade).
Hans Von Hentig: “O criminoso e sua vítima”, 1948. Psicólogo criminal alemão radicado
nos Estados Unidos. Há mutualidade na conexão entre agressor e vítima. Visão de correspon-
sabilização da vítima: a vítima ativamente leva o agressor à tentação. “Se há criminosos natos,
é evidente que também existem vítimas natas”.
Classes gerais de vítimas, para Hentig:
• A vítima jovem: a juventude é o período mais perigoso da vida. Mas algumas ficções
distorcem a realidade. Mulheres jovens muitas vezes consentem com o ato sexual.
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• A vítima mulher: gênero feminino é forma de fraqueza reconhecida pela lei. Em muitos
casos a mulher é responsável por sua vitimização, como as trabalhadoras domésticas
que engravidam dos seus patrões e acabam sendo eliminadas.
• A vítima idosa: no idoso, há uma combinação de patrimônio acumulado, fraqueza física
e debilidade mental. Qualquer um que supere a desconfiança e a apreensão dos idosos
pode se aproximar, para o bem ou para o mal.
• A vítima doente mental ou com perturbações mentais: dementes, loucos, viciados em dro-
gas, alcoólatras não têm noção do perigo e se colocam facilmente em situação de vítima.
• A vítima imigrante, ignorante ou minoritária: imigrantes e ignorantes são vítimas poten-
ciais de estelionatários. A estupidez psicológica é muito procurada pelos criminosos,
porque se aproxima da infantilidade. Os grupos minoritários não recebem a mesma pro-
teção da lei do que as classes dominantes. Além disso, são vítimas do próprio sistema
de justiça criminal. A cor da vítima influencia enormemente no desfecho do caso.
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Consolidação da Vitimologia
Contribuições da Vitimologia
• Vítima e dinâmica criminal: nem sempre a vítima é aleatória, fungível, acidental ou irre-
levante no iter criminis.
• Vítima e prevenção do delito: prevenção vitimária é a prevenção da delinquência voltada
para a vítima em potencial. É uma prevenção complementar e não substitutiva da pre-
venção criminal.
• Vítima como fonte alternativa informadora da criminalidade real: possuem relevância
central as pesquisas de vitimização, em que se pede diretamente à população que relate
suas experiências como vítimas de delitos em certo espaço temporal.
• Vítima e medo do delito: Vitimologia preocupa-se com o medo como estado de ânimo
coletivo e não necessariamente associado a uma prévia experiência vitimária.
• Vítima e política social: a Vitimologia preocupa-se com a ressocialização da vítima, que
não reclama apenas compaixão, mas respeito aos seus direitos.
• Vítima e sistema legal: a vítima tem em suas mãos a chave da movimentação legal, já
que praticamente somente os delitos noticiados são perseguidos.
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• Vítima imune: aquela que, por ser famosa ou por ocupar algum posto, cargo ou função
de prestígio, os delinquentes evitam vitimar.
• Vítima atuante ou inconformada: aquela que busca determinadamente a punição dos
autores e a indenização dos danos sofridos.
• Vítima omissa ou ilhada: aquela que se afasta das relações sociais e, por não participar
da sociedade e viver isoladamente, deixa de relatar às autoridades competentes seus
direitos violados.
• Vítima da Política Social: aquela que é vítima do Estado, da negligência do Poder Público.
Classificação da Vitimização
Vitimização direta x Vitimização indireta: vítima direta é aquela que sofre diretamente os
efeitos de um delito. A vítima indireta é aquela que, por ter alguma relação com a vítima direta,
acaba sofrendo indiretamente as consequências do crime.
Vitimização Primária, Secundária e Terciária: vitimização primária é aquela em que o su-
jeito é atingido pela prática do crime ou de um fato traumático. Vitimização secundária (sobre-
vitimização, revitimização) é aquela em que a vítima primária é objeto da insensibilidade, do
desinteresse e da atuação meramente burocrática dos operadores do sistema criminal estatal.
Sobre o conceito de vitimização terciária não há consenso. Para alguns, ocorre a vitimização
terciária quando a vítima primária do crime é abandonada ou ridicularizada em seu meio so-
cial (Vunesp e FCC). Para outros (Nestor Sampaio Penteado Filho), a vitimização terciária se
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verifica igualmente com o abandono das vítimas, mas esse abandono pode ser praticado tanto
pelas instâncias informais como pelas agências formais de controle social. Para um terceiro
grupo(Shecaira), a vitimização terciária não atinge a vítima primária do crime, mas sim o seu
autor, que recebe um sofrimento excessivo, como tortura, apedrejamento, linchamento, ou res-
ponde a processos que não deveriam ter sido a ele imputados.
Heterovitimização: autorrecriminação da vítima pela ocorrência do crime.
Vitimologia Clássica x Vitimologia Solidarista ou Humanitária
Vitimologia Clássica: termo cunhado por Elena Larrauri. Tendências de transferir para a
vítima a responsabilidade pela gênese criminal. Vitimologia carregada de preconceitos, pré-jul-
gamentos e tenderia à coculpabilização da vítima.
Vitimologia humanitária ou solidarista: nítida preocupação de conferir à vítima um papel
de destaque nos procedimentos de apuração de responsabilidades, de proteger seus interes-
ses e sua dignidade, e de ressarcir seus prejuízos. Alterações legislativas nesse sentido:
• Lei n. 9.099/95: mudança paradigmática no ordenamento jurídico brasileiro em direção
à consideração da vítima na relação delitiva. Processo deve objetivar, sempre que possí-
vel, a reparação dos danos sofridos pela vítima.
• Lei n. 11.106/05: retirou o termo “mulher honesta” de alguns tipos penais. Retirou, do rol
de causas extintivas da punibilidade, algumas previsões como o casamento do agente
com a vítima ou com terceiro nos crimes contra os costumes.
• Violência Doméstica: a Lei Maria da Penha: contém dispositivos para, expressamente,
evitar a revitimização da depoente, como atendimento policial e pericial especializado,
e a determinação para que sejam evitadas sucessivas inquirições sobre o mesmo fato.
Nos casos de feminicídio, é muito comum que os filhos sejam vítimas indiretas, tanto
pelo fato de perderem a mãe, como pelo fato de presenciarem o crime. O legislador
incluiu, em 2018, uma causa de aumento de pena – de 1/3 até a metade – para o femi-
nicídio praticado na presença física ou virtual de descendente ou ascendente da vítima
(Art. 121, §7º, inciso III, do Código Penal).
• Lei n. 13.431/17 (Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente: dispõe, expressa-
mente, que a revitimização da criança e do adolescente é um tipo de violência institucio-
nal que deve ser evitada, e disciplina a escuta especializada e o depoimento especial.
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Visão vítimo-dogmática radical, ou forte: não é adequado, sequer, impor pena se a vítima
não necessita ou não merece proteção. A corresponsabilidade da vítima implica a exclusão do
crime, pela atipicidade (Schünemann, Roxin). É criticada por impor pesada carga de responsa-
bilidade penal sobre a vítima: “blaming the victim” (culpando a vítima).
Desmaterialização da vítima: Atualmente, vivemos em sociedades de risco: sociedade
pós-industrial, altamente tecnológica e global, que destruiu os recursos naturais e presencia
o desmoronamento dos sistemas sociais. População sente medo e necessidade de consumir
segurança. Riscos são desconhecidos e incontroláveis. Surgem novas modalidades crimino-
sas, de caráter supraindividual, como a econômica e a ambiental. Tendência de desmateriali-
zação (liquefação, espiritualização ou dinamização) do bem jurídico ou da vítima. Política cri-
minal punitiva com tipos preventivos, expansão da proteção de bens jurídicos coletivos, vagos.
Seletividade da vitimização: o risco de vitimização é seletivo e diferencial. Minorias e gru-
pos marginalizados atraem uma parcela significativa de delitos. No Brasil, os jovens negros
são as principais vítimas de homicídio. Os escassos recursos socioeconômicos das vítimas
pobres potencializam os efeitos da revitimização.
ONU, 1985: Declaração dos Princípios Básicos de Justiça Relativos às Vítimas da Crimina-
lidade e de Abuso de Poder.
Conceito amplo de vítima: são as pessoas que, individual ou coletivamente, tenham sofrido
um prejuízo, nomeadamente um atentado à sua integridade física ou mental, um sofrimento de
ordem moral, uma perda material, ou um grave atentado aos seus direitos fundamentais, como
consequência de atos ou de omissões violadores das leis penais em vigor num Estado membro,
incluindo as que proíbem o abuso de poder. O conceito de vítima inclui também a família próxima
ou as pessoas a cargo da vítima direta e as pessoas que tenham sofrido um prejuízo ao intervi-
rem para prestar assistência às vítimas em situação de carência ou para impedir a vitimização.
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Vítimas devem ser tratadas com compaixão e respeito pela sua dignidade. Têm direito ao
acesso às instâncias judiciárias e à obtenção de reparação através de procedimentos rápidos,
equitativos, de baixo custo e acessíveis.
Meios extrajudiciários de solução de conflitos (mediação, arbitragem) podem ser utilizados.
Quando não seja possível obter do delinquente uma indenização completa, os Estados
devem procurar assegurar uma indenização financeira às vítimas.
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MAPA MENTAL
Idade de ouro da vítima Lei de talião: olho por olho, dente por dente
Processo penal acusatório
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“Raritätenbetrug”, 1901
Analisou a ingenuidade das vítimas de fraudes raras
Hans Gross
Precursor da Vitimologia
Advogado israelita
“Um horizonte novo na ciência biopsicossocial”, 1947
nomes da Tipologia
Vítima tão culpada quanto o delinquente Ignorante
Vítima tão culpada quanto o delinquente Voluntária
Vitimologia
Vítima mais culpada que o delinquente Provocadora
Vítima exclusivamente culpada Pseudovítima
da Vitimologia
Ester Kosovski
Edgard de Moura Bittencourt
Laércio Pellegrino
Nomes de destaque no Brasil
Heitor Piedade Júnior
Heber Soares Vargas
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Vítima nata: aquela que a apresenta, desde o nascimento, predisposição para ser vítima.
Vítima potencial ou latente: aquela que apresenta comportamento, temperamento ou estilo de vida que atrai o delinquente.
Vítima eventual, real ou inocente: aquela que é verdadeiramente vítima, ou seja, cuja conduta não
contribuiu para a ocorrência do crime.
Vítima voluntária: aquela que concorda com o crime, como a vítima de eutanásia.
Outras
Vítima acidental: aquela que é vítima de si mesma, geralmente por
Classificações
inobservância do dever de cuidado, como negligência ou imprudência.
das Vítimas
Vítima indefesa: aquela que tolera a lesão sofrida, pois sabe que perseguir o infrator será tarefa ainda mais custosa.
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relacionadas
à vitimização A vítima adota postura de enfrentamento com os agressores.
Síndrome de Londres
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (VUNESP/2018/PC-SP/AGENTE DE TELECOMUNICAÇÕES POLICIAL) Na classifica-
ção de Benjamin Mendelsohn, a vítima imaginária é considerada uma vítima
a) mais culpada que o infrator.
b) voluntária ou tão culpada quanto o infrator.
c) completamente inocente ou ideal.
d) unicamente culpada.
e) de culpabilidade menor ou por ignorância.
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d) que ocorre no meio social em que vive a vítima e é causada pela família, por grupo de amigos etc.
e) causada pelos órgãos formais de controle social, ao longo do processo de registro e apu-
ração do delito, mediante o sofrimento adicional gerado pelo funcionamento do sistema de
persecução criminal.
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c) A Vitimologia nasceu como ramo das ciências jurídicas, por conta das observações fei-
tas pelos estudiosos a respeito do comportamento da vítima perante o ordenamento jurídi-
co em vigor.
d) A Vitimologia surgiu, como ramo da Criminologia, em 1876, por meio da obra “O Homem
Delinquente”, de Cesare Lombroso.
e) O comportamento da vítima sempre contribui para a ocorrência do crime contra si praticado.
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c) Benjamin Mendelsohn.
d) Kurt Schneider.
e) Hans Gross.
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Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da
criminologia.
De acordo com estudos vitimológicos, a diferença entre os crimes sexuais praticados e os co-
municados às agências de controle social é de aproximadamente 90%, o que estaria em con-
sonância com os dados do Panorama da Violência contra as Mulheres no Brasil (texto 1A9-II),
que indica a ocorrência de subnotificação nos casos de estupros praticados em Sergipe. Esse
fenômeno, de apenas uma parcela dos crimes reais ser registrada oficialmente pelo Estado, é
o que a criminologia chama de cifra negra da criminalidade.
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c) cifras douradas
d) cifras negras
e) cifras cinza
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sem fim — agressão, reclamação na polícia, falta de proteção. Por outro lado, ainda vige o
instituto da legítima defesa, muito mais eficaz que qualquer medidazinha (sic) de proteção.
Intimem-se, inclusive ao MP.
Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da
criminologia.
A sentença transcrita (texto 1A9-I) exemplifica o que a teoria criminológica descreve como re-
vitimização ou vitimização secundária, que se expressa como o atendimento negligente, o des-
crédito na palavra da vítima, o descaso com seu sofrimento físico e(ou) mental, o desrespeito
à sua privacidade, o constrangimento e a responsabilização da vítima pela violência sofrida.
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a) prática … social
b) comparativa … observativa
c) geral … clínica
d) individual … científica
e) metódica … particular
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GABARITO
1. d 33. a
2. e 34. b
3. a 35. c
4. c 36. e
5. e 37. c
6. e 38. e
7. C 39. c
8. b 40. b
9. a 41. b
10. a 42. d
11. a 43. e
12. d 44. b
13. a 45. C
14. c 46. d
15. d 47. e
16. e 48. e
17. d 49. b
18. d 50. C
19. d 51. C
20. b 52. c
21. d 53. a
22. b 54. b
23. e 55. e
24. a 56. b
25. b 57. d
26. c 58. d
27. a 59. b
28. c 60. c
29. c 61. E
30. e 62. e
31. b 63. d
32. d
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GABARITO COMENTADO
001. (VUNESP/2018/PC-SP/AGENTE DE TELECOMUNICAÇÕES POLICIAL) Na classifica-
ção de Benjamin Mendelsohn, a vítima imaginária é considerada uma vítima
a) mais culpada que o infrator.
b) voluntária ou tão culpada quanto o infrator.
c) completamente inocente ou ideal.
d) unicamente culpada.
e) de culpabilidade menor ou por ignorância.
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c) Cesare Bonesana.
d) Cesare Lombroso.
e) Raffaele Garofalo.
Benjamin Mendelsohn foi um advogado israelita que utilizou o termo Vitimologia em 1947 para
descrever o sofrimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista. Segun-
do sua classificação, a vítima pode ser: totalmente inocente (ou ideal); menos culpada que o
delinquente (ou vítima por ignorância); tão culpada quanto o delinquente (ou voluntária); mais
culpada que o delinquente (ou provocadora); e única culpada. Nas letras B, D e E constam auto-
res positivistas, preocupados com o delinquente, e não com a vítima. Na letra C, Cesare Bonesa-
na, ou Marquês de Beccaria, filia-se à escola clássica, que dava enfoque ao crime, e não à vítima.
Letra a.
A pessoa embriagada que atravessa uma rua movimentada se colocou (ainda que sem ter
consciência) em situação de completo risco. Por isso, a melhor classificação para esse caso é
de vítima como única culpada. Na letra A, a vítima que concorre para a produção do delito pode
ser a vítima por ignorância, a vítima tão culpada quanto o delinquente (ou voluntária), a vítima
mais culpada que o delinquente ou a vítima como única culpada. Mendelsohn não emprega
o termo vítima resistente. Na letra B, a vítima ideal é a vítima totalmente inocente. Na letra D,
a vítima por ignorância é a vítima menos culpada que o delinquente, mas que age de maneira
imprudente e participa, portanto, do evento criminoso. Na letra E, a vítima completamente ino-
cente é a vítima ideal, que não concorre de forma alguma para o evento criminoso.
Letra c.
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Em 1901, Hans Gross, jurista austríaco, analisou a ingenuidade das vítimas de fraude em traba-
lho considerado pioneiro na área da Vitimologia.
Letra a.
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Benjamin Mendelsohn foi um advogado israelita que utilizou o termo Vitimologia em 1947 para
descrever o sofrimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista. Segun-
do sua classificação, a vítima pode ser: totalmente inocente (ou ideal); menos culpada que o
delinquente (ou vítima por ignorância); tão culpada quanto o delinquente (ou voluntária); mais
culpada que o delinquente (ou provocadora); e única culpada.
Letra c.
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Benjamin Mendelsohn, advogado israelita, utiliza o termo Vitimologia em 1947 para descrever
o sofrimento dos judeus nos campos de concentração de Alemanha nazista e é considerado
o pai da Vitimologia.
Letra d.
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A Vitimologia se dedica a jogar luz sobre o papel fundamental que a vítima desempenha no
fenômeno criminal. Analisa a contribuição do ofendido como causa ou condição do evento
delituoso. Preocupa-se com a vítima, buscando restaurar o seu papel no cenário criminal. Na
letra A, um dos papeis da Vitimologia é, precisamente, tentar entender qual o papel da vítima no
delito. Na letra C, a Vitimologia nasceu como ramo da Criminologia. As formulações de Men-
delsohn, aliás, partem de um conceito amplo de vítima, que extrapola a mera noção de vítimas
de delitos. Na letra D, a Vítima nasceu como ramo da Criminologia a partir das formulações de
Benjamin Mendelsohn, no contexto pós Segunda Guerra Mundial. Na letra E, o comportamen-
to da vítima pode ou não contribuir para a ocorrência do crime. Tanto é assim que na própria
classificação de Mendelsohn está prevista a categoria de vítima totalmente inocente, também
chamada de vítima ideal, que não tem “culpa” na infração penal, ou seja, não concorre de forma
alguma para o evento.
Letra b.
A questão adotou o conceito de vitimização terciária de Nestor Sampaio Penteado Filho. Para
ele, a vitimização terciária consiste na “falta de amparo dos órgãos públicos às vítimas; nesse
contexto, a própria sociedade não acolhe a vítima, e muitas vezes a incentiva a não denunciar
o delito às autoridades, ocorrendo o que se chama de cifra negra”.
Letra d.
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O conceito de vitimização terciária está, todavia, em fase de concretização, não havendo con-
senso sobre o significado do termo. Para alguns autores, ocorre a vitimização terciária quan-
do a vítima do crime é abandonada ou ridicularizada em seu meio social: pela comunidade,
familiares, amigos etc. Há uma exaltação do criminoso e humilhação da vítima primária pe-
las instâncias informais de controle social. Como decorrência da vitimização terciária pode
haver o aumento da subnotificação criminal, ou seja, da cifra negra. As vítimas podem, por
exemplo, optar por não registrar uma ocorrência diante do medo de serem ridicularizadas no
grupo social. Esse conceito de vitimização terciária tem sido o mais frequentemente adotado
pela Vunesp.
Letra e.
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A Lei n. 9.099/95, Lei dos Juizados Especiais Criminais, marcou uma mudança paradigmática
no ordenamento jurídico brasileiro em direção à consideração da vítima na relação delitiva. Seu
art. 62 dispõe expressamente que o processo perante o Juizado Especial orientar-se-á pelos
critérios da oralidade, simplicidade, informalidade, economia processual e celeridade, objeti-
vando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima e a aplicação de pena
não privativa de liberdade.
Letra a.
Na classificação de Benjamin Mendelsohn, a vítima pode ser: totalmente inocente (ou ideal);
menos culpada que o delinquente (ou vítima por ignorância); tão culpada quanto o delinquente;
mais culpada que o delinquente (ou provocadora); e única culpada (ou agressora, simulada,
simuladora, imaginária ou pseudovítima). A vítima tão culpada quanto o delinquente é aquela
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que dá causa ao resultado, como, por exemplo, no caso da rixa (briga), da eutanásia, da dupla
suicida, do aborto consentido e dos crimes de estelionato em que a vítima tenta se aproveitar
de uma situação pretensamente muito vantajosa que lhe é apresentada. O golpe do bilhete
premiado se encaixa nesse último exemplo de vítima tão culpada quanto o delinquente.
Letra c.
Não há, todavia, consenso sobre o conceito de vitimização terciária. Para a linha de pensamento
adotada pela Vunesp, ocorre a vitimização terciária quando a vítima primária do crime é abando-
nada ou ridicularizada em seu meio social: pela comunidade, familiares, amigos etc. Há uma exal-
tação do criminoso e humilhação da vítima primária pelas instâncias informais de controle social.
Letra c.
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Nas primeiras formulações vitimológicas, havia a tendência de analisar os crimes mais co-
muns e de considerar, de certa maneira, a vítima como culpada pelo delito. Era uma Vitimolo-
gia carregada de preconceitos, pré-julgamentos e que tenderia à coculpabilização da vítima.
Atualmente, a tendência da Vitimologia é de adotar um direcionamento mais humanitário ou
solidarista, com a nítida preocupação de conferir à vítima um papel de destaque nos procedi-
mentos de apuração de responsabilidades, de proteger seus interesses e sua dignidade, e de
ressarcir seus prejuízos.
Letra e.
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No item I, o foco principal é o abuso sexual sofrido por Maria. Nesse momento ela passou por
um processo de vitimização primária, que é aquela em que é aquela em que o sujeito é atingido
pela prática do crime ou de um fato traumático. No item II, o foco principal é a humilhação por
que passou Maria em seu meio social. Nesse momento, ela foi alvo de vitimização terciária, que,
em uma de suas acepções, diz respeito ao processo de ridicularização que a vítima primária do
crime sofre em seu meio social. Há uma exaltação do criminoso e humilhação da vítima primá-
ria pelas instâncias informais de controle social. No utem III, o foco principal está no fato de
Maria ter que reviver o trauma, relatando os fatos mais de uma vez. Trata-se, nesse ponto, de um
processo de vitimização secundária: a vítima primária é objeto da insensibilidade, do desinte-
resse e da atuação meramente burocrática dos operadores do sistema criminal estatal. Trata-se
dos custos adicionais impostos à vítima primária em função da atuação das instâncias de con-
trole social formal: espera em delegacia, tomada de depoimento, comparecimento a inúmeros
atos processuais, identificação dos suspeitos, perícia etc. O sistema penal coisifica a vítima,
tratando-a como mero objeto e não como pessoa titular de direitos e merecedora de dignidade.
Letra b.
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A cifra negra diz respeito à parcela de crimes que não chegam ao conhecimento da polícia, da
justiça ou da administração carcerária e que, portanto, não são solucionados ou punidos. Tra-
ta-se, portanto, da diferença entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida. Ela se deve
a vários fatores, dentre os quais se encontra a seletividade do sistema penal, que direciona sua
engrenagem para a parcela mais marginalizada da população. Assim, nem todas as pessoas
que praticam atos definidos como crimes caem nos filtros do controle social formal.
Letra d.
As cifras negras dizem respeito aos crimes que deixam de ser reportados às instâncias poli-
ciais, dando margem à subnotificação criminal. Quando as cifras negras são muito significati-
vas, as estatísticas deixam de ser confiáveis e o Poder Público encontra séria dificuldade em
equacionar os problemas, já que não conhece sua real dimensão. O maior prejudicado, nesse
caso, é a própria sociedade. Há outras duas alternativas na questão que dizem respeito a cifras
criminológicas. Na letra B, os crimes dos poderosos, também conhecidos como delitos do co-
larinho branco, quando ficam impunes, configuram a chamada cifra dourada. Na letra E, temos
um exemplo de cifra amarela, que corresponde aos casos em que as vítimas sofreram algum
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tipo de violência praticada por servidor público e deixaram, por temor, de denunciar o ilícito às
unidades competentes pela apuração. Nas letras C e D, como não é mencionada a diferença
entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida, não há sequer que se falar em cifras.
Letra a.
Vítima imune é aquela que, por ser famosa ou por ocupar algum posto, cargo ou função de pres-
tígio, os delinquentes evitam vitimar, diante da repercussão que o caso pode ganhar. É o caso
de padres, jornalistas, personalidades, políticos etc. Na letra A, a vítima que deixa de processar o
autor de delito por saber que a perseguição do agressor seria mais infrutífera ou danosa à própria
vítima é denominada vítima indefesa. Na letra C, vítima falsa é aquela que, agindo por vingança
ou interesse pessoal, imputa falsamente a alguém a prática de um crime contra si, mesmo não
tendo sido vítima de delito algum. A vítima de estelionato pode ser, na classificação de Mendel-
sohn, catalogada como vítima tão culpada como o criminoso. Na letra D estão descritas situa-
ções de legítima defesa e estrito cumprimento do dever legal, que são causas de exclusão da
ilicitude, não sendo possível dizer que a vítima se transformou em autor de um delito. Ademais,
vítima que se converte em autor não é uma classificação consagrada na Vitimologia. Na letra E,
a pessoa que possui uma tendência natural de se tornar vítima é denominada vítima nata.
Letra b.
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A vítima falsa ou simuladora é aquela que, agindo por vingança ou interesse pessoal, imputa
falsamente a alguém a prática de um delito contra si, mesmo não tendo sido vítima de crime
algum. Ela simula um delito, se autovitimiza, para obter benefícios. Na letra A está descrita a
vítima voluntária. Na letra B, a vítima indefesa. Na letra D, a vítima nata. E na letra E, a vítima
omissa ou ilhada.
Letra c.
Vítima atuante ou inconformada é aquela que busca determinadamente a punição dos autores
e a indenização dos danos sofridos, comunicando diligentemente o fato criminoso às autori-
dades competentes.
Letra e.
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O conceito de cifras negras refere-se à parcela de crimes que não integra as contagens oficiais.
Trata-se da diferença entre a criminalidade real e a criminalidade conhecida. São os crimes que
não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Por isso as esta-
tísticas criminais não refletem a criminalidade real, mas apenas uma parte dela, restando uma
cifra negra, oculta, difícil de decifrar. As pesquisas de vitimização, ou seja, realizadas com a po-
pulação em geral questionando se foram vítimas de algum crime, procuram suprir essa lacuna.
Letra c.
Em Criminologia, as cifras são usadas para expressar uma parcela de criminalidade que, pelas
mais variadas razões, não chegam ao conhecimento das autoridades ou não são apuradas,
em consequência do efeito funil da seleção quantitativa. As cifras douradas correspondem
aos crimes dos poderosos praticados no contexto laboral, também conhecidos como delitos do
colarinho branco, que ficam impunes. A alternativa E não fala da diferença entre criminalidade
real e criminalidade conhecida, mas é a que melhor se encaixa na questão, já que os crimes de
colarinho de branco não são crimes contra a dignidade (em geral são crimes de aspecto econô-
mico, contra a ordem financeira, contra a relação de consumo, etc.); não são crimes de menor
potencial ofensivo, pois são dotados de penas altas, dada a gravidade da conduta e o número
de pessoas que podem ser lesadas; não estão necessariamente relacionados à cifra cinza, que
consiste nos crimes que são de conhecimento das instâncias policiais, porém que não chegam
a virar um processo penal; não estão relacionados com à cifra amarela, que diz respeito aos
casos em que as vítimas sofreram algum tipo de violência praticada por servidor público e dei-
xaram, por temor, de denunciar o ilícito às unidades competentes pela apuração; e, por fim, os
crimes de colarinho branco estão, necessariamente, ligados ao conceito de cifra dourada.
Letra e.
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Crimes que ocorrem, mas não chegam ao conhecimento do poder estatal, integram o que se
chama de “cifra negra” ou cifra oculta da criminalidade, que também pode ser definida como a
diferença entre a criminalidade real – isto é, a totalidade de delitos praticados – e a criminali-
dade conhecida ou revelada.
Letra b.
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A cifra dourada diz respeito delitos cometidos pelos poderosos que ficam impunes. Quando
alguém dos altos estratos sociais comete um crime contra o sistema financeiro ou um crime
tributário, por exemplo, é possível que fique sem punição porque o sistema penal é desenhado
para selecionar a criminalidade de rua, cometida pelos pobres. A sonegação fiscal é um exem-
plo de criminalidade da elite que, em muitos casos, fica impune e integra a cifra dourada. A
cifra dourada é um subtipo da cifra negra, que é, de maneira mais genérica, a diferença entre a
criminalidade real e a criminalidade conhecida.
Letra b.
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Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da
criminologia.
De acordo com estudos vitimológicos, a diferença entre os crimes sexuais praticados e os co-
municados às agências de controle social é de aproximadamente 90%, o que estaria em con-
sonância com os dados do Panorama da Violência contra as Mulheres no Brasil (texto 1A9-II),
que indica a ocorrência de subnotificação nos casos de estupros praticados em Sergipe. Esse
fenômeno, de apenas uma parcela dos crimes reais ser registrada oficialmente pelo Estado, é
o que a criminologia chama de cifra negra da criminalidade.
A cifra negra corresponde àquela parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São
os crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. Os
crimes sexuais apresentam altíssimas taxas de subnotificação. Acredita-se que a diferença
entre os crimes sexuais praticados e aqueles que são comunicados é de 90%. Por isso as esta-
tísticas criminais não refletem a criminalidade real, mas apenas uma parte dela, restando uma
cifra negra, oculta, difícil de decifrar. As pesquisas de vitimização, ou seja, realizadas com a po-
pulação em geral questionando se foram vítimas de algum crime, procuram suprir essa lacuna.
Certo.
A cifra negra corresponde àquela parcela de crimes que não integra as contagens oficiais. São os
crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades, pelas mais diversas razões. A omis-
são das vítimas, por temor de represália, é um dos motivos que estão na base das cifras negras.
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A questão versava sobre o conceito de cifra negra, que é aquela parcela de crimes que não in-
tegra as contagens oficiais. São os crimes que não chegam ao conhecimento das autoridades,
pelas mais diversas razões. Tecnicamente, cifra negra não diz respeito somente aos crimes de
rua, mas a todos tipos de crime. Analisando as demais alternativas, no entanto, fica claro que
a letra E contém a melhor resposta. Na letra A, a ausência de registro de práticas antissociais
do poder político e econômico é a cifra dourada, um subtipo da cifra negra. Nas letras B, C e D,
a criminalidade real é a totalidade de delitos cometidos e não a parcela de crimes que chegou
ao conhecimento do Estado.
Letra e.
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O redescobrimento da vítima teve lugar a partir da 2ª Guerra Mundial, em especial com os es-
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Letra e.
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Vitimologia e Criminologia Clínica
Mariana Barreiras
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mar a polícia, a qual, tendo ido ao local, o afastará dali. Mais que isso, legalmente, pouco há
que fazer. Enfim, enquanto a mulher não se respeitar, não se valorizar, ficará nesse ramerrão
sem fim — agressão, reclamação na polícia, falta de proteção. Por outro lado, ainda vige o
instituto da legítima defesa, muito mais eficaz que qualquer medidazinha (sic) de proteção.
Intimem-se, inclusive ao MP.
Considerando os textos apresentados, julgue o item que se segue, pertinentes aos objetos da
criminologia.
A sentença transcrita (texto 1A9-I) exemplifica o que a teoria criminológica descreve como re-
vitimização ou vitimização secundária, que se expressa como o atendimento negligente, o des-
crédito na palavra da vítima, o descaso com seu sofrimento físico e(ou) mental, o desrespeito
à sua privacidade, o constrangimento e a responsabilização da vítima pela violência sofrida.
A sentença transcrita traz exemplo de vitimização secundária, também conhecida como revi-
timização ou sobrevitimização. Na vitimização secundária a vítima primária é objeto da insen-
sibilidade, do desinteresse e da atuação meramente burocrática dos operadores do sistema
criminal estatal. São, portanto, custos adicionais impostos à vítima primária em função da
atuação das instâncias de controle social formal: espera em delegacia, tomada de depoimen-
to, desrespeito à privacidade (procedimentos invasivos, perguntas sobre sua vida pessoal),
comparecimento a inúmeros atos processuais, identificação dos suspeitos, procedimentos de
perícia etc. A vítima se sente maltratada e negligenciada pelo sistema legal, que não dispensa
um tratamento condizente com seu papel e que, por vezes, desconfia de seu relato ou a respon-
sabiliza pelo delito sofrido. O sistema penal coisifica a vítima, tratando-a como mero objeto e
não como pessoa titular de direitos e merecedora de dignidade.
Certo.
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d) Vitimização secundária é definida como o resultado da agressão infligida à vítima pelo au-
tor do crime.
e) O termo “vitimologia” foi cunhado na década de 20 do século XX, ao término da primeira
guerra mundial.
A Organização das Nações Unidas adotou, em 1985, a Declaração dos Princípios Básicos de
Justiça Relativos às Vítimas da Criminalidade e de Abuso de Poder, um dos principais diplomas
internacionais no que diz respeito aos direitos das vítimas. Na letra B, os obstáculos e sofri-
mentos vivenciados pela vítima em decorrência da atuação do controle social formal formam a
vitimização secundária. Na letra C, a Vitimologia passa a ser sistematizada no Brasil sobretudo
na década de 1980, com a fundação da Sociedade Brasileira de Vitimologia (SBV), no Rio de Ja-
neiro, em 1984. Na letra D, a agressão infligida à vítima pelo autor do crime é denominada vitimi-
zação primária. Na letra E, o termo Vitimologia foi cunhado por Benjamin Mendelsohn, egresso
do campo de concentração nazista, no contexto de término da Segunda Guerra Mundial.
Letra a.
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A vítima ideal é, na classificação de Mendelsohn, a vítima totalmente inocente, que não tem
“culpa” na infração penal, ou seja, não concorre de forma alguma para o evento, como ocorre
no caso do enunciado. Na letra A, a vítima tão culpada quanto o delinquente (ou voluntária, é
aquela que dá causa ao resultado, como, por exemplo, no caso da rixa (briga), da eutanásia,
da dupla suicida, do aborto consentido e dos crimes de estelionato em que a vítima tenta se
aproveitar de uma situação pretensamente muito vantajosa que lhe é apresentada. Na letra C,
a vítima mais culpada que o delinquente (ou vítima por provocação) é aquela que o provoca
o agressor, como, por exemplo, a vítima de um homicídio privilegiado praticado após injusta
provocação. Na letra D, a vítima como única culpada (vítima agressora, simulada, simuladora,
imaginária ou pseudovítima) é aquela que se coloca em situação de completo risco, como um
agressor que acaba sendo vítima de legítima defesa. Na letra E, a vítima de culpabilidade me-
nor (ou vítima por ignorância), é menos culpada que o delinquente, como, por exemplo, aquele
que anda com a bolsa aberta um lugar perigoso, sendo imprudente.
Letra b.
Vítima latente ou potencial é aquela que aquela que apresenta comportamento, temperamento
ou estilo de vida que atrai o delinquente. Possui, portanto, predisposição para se tornar vítima,
atraindo criminosos, como é o caso de prostitutas e usuários de drogas. Na letra A, vítima
omissa é aquela que se afasta das relações sociais e, por não participar da sociedade e viver
isoladamente, deixa de relatar às autoridades competentes seus direitos violados. Na letra B,
vítima falsa ou simuladora é aquela que, agindo por vingança ou interesse pessoal, imputa
falsamente a alguém a prática de um delito contra si, mesmo não tendo sido vítima de crime
algum. Na letra C, pseudovítima é a vítima exclusivamente culpada, de que é exemplo a pessoa
que se coloca em situação de completo risco, como agressor que acaba sendo vítima de legíti-
ma defesa. Na letra E, a vítima atuante ou inconformada é aquela que busca determinadamen-
te a punição dos autores e a indenização dos danos sofridos, comunicando diligentemente o
fato criminoso às autoridades competentes.
Letra d.
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suas repercussões em outras sociedades neoliberais. Na letra E, o garantismo penal não tem
a pretensão de reverter o caráter seletivo do sistema penal. Reconhece-se a seletividade como
intrínseca ao sistema. O que se busca é fornecer garantias para os cidadãos capturados pelas
engrenagens penais.
Letra b.
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REFERÊNCIAS
GARCÍA-PABLOS de Molina. GOMES, Luiz Flávio. Criminologia: introdução a seus fundamentos
teóricos. 5 ed. São Paulo: RT, 2006.
HENTIG, Hans Von. The Criminal & His Victim: studies in the Sociobiology of Crime. [s.l.]: Ar-
chon Books, 1967.
HENTIG, Hans Von. Remarks on the Interaction of Perpetrator and Victim. In: Journal of Crimi-
nal Law and Criminology (1931-1951). 31(3):303-309; Northwestern University Press, 1940.
KOSOVSKI, Ester. Vitimologia e Direitos Humanos: uma boa parceria. Disponível em <http://
sbvitimologia.blogspot.com.br/>. Acesso em 17 abr. 2018.
KOSOVSKI, Ester; SÉGUIN, Elida. Temas de Vitimologia. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2000.
KOSOVSKI, Ester; PIEDADE Jr., Heitor; ROITMAN, Riva (Orgs.) Estudos de Vitimologia. Rio de
Janeiro: Letra Capital, 2014.
MENDELSOHN, Benjamin. La victimologie et les besoins de la societe actuelle. In: Revue inter-
nationale de criminologie et de police technique, v. 26, n. 3, p. 267-276, jui./sep. 1973.
MOREIRA Filho, Guaracy. Vitimologia: o papel da vítima na gênese do delito. 2 ed. São Paulo:
Editora Jurídica Brasileira, 2004.
PENTEADO Filho, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 7. ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.
SÁ, Alvino Augusto de. Criminologia Clínica e Psicologia Criminal. São Paulo: RT, 2007.
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Prevenção Criminal
SISTEMA DE ENSINO
Livro Eletrônico
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Prevenção Criminal
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Sumário
Prevenção Criminal.. ........................................................................................................................................................3
Parte I – Prevenção e as Teorias da Pena..........................................................................................................3
Conceito de Prevenção..................................................................................................................................................3
Teorias da Pena: Teorias Justificacionistas x Teorias Negacionistas...............................................4
Teorias Absolutas x Teorias Relativas................................................................................................................4
Teorias Absolutas............................................................................................................................................................4
Teorias Relativas..............................................................................................................................................................5
Teorias Mistas....................................................................................................................................................................7
Parte II – Classificações da Prevenção Delitiva. ............................................................................................7
Prevenção Direta x Prevenção Indireta...............................................................................................................7
Prevenção Primária x Secundária x Terciária...................................................................................................8
Parte III – Perfilamento Criminal. . ........................................................................................................................ 10
Perfilamento Racial.. ......................................................................................................................................................11
Resumo.................................................................................................................................................................................13
Mapas Mentais. . ...............................................................................................................................................................15
Questões de Concurso.................................................................................................................................................16
Gabarito...............................................................................................................................................................................29
Gabarito Comentado....................................................................................................................................................30
Referências........................................................................................................................................................................57
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Prevenção Criminal
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PREVENÇÃO CRIMINAL
V – Prevenção da Infração Penal. Perfilamento Criminal.
Olá, vamos hoje concluir nossas aulas de Criminologia.
Na primeira e segunda partes da aula, vamos falar de prevenção criminal. Para isso, vamos,
na primeira parte, analisar as classificações das teorias da pena, já que muitas dessas teorias
versam exatamente sobre o fim preventivo da pena. Nessa parte falaremos sobre prevenção
geral e especial, prevenção positiva e negativa. Depois, na segunda parte, vamos analisar ou-
tra possibilidade de classificação, agora relativa à prevenção propriamente dita. Trata-se da
separação em prevenção primária, secundária e terciária. Essa é a classificação mais fácil e,
também, a mais cobrada em provas.
Depois, na terceira parte, vamos falar de perfilamento criminal, explicando o que é e dife-
renciando de perfilamento racial.
1
OLIVEIRA, Natacha Alves. Criminologia. 2 ed. Salvador: Juspodium, 2019, p. 159.
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Prevenção Criminal
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Teorias Absolutas
As teorias absolutas olham para o passado. A pena, para elas, não é um instrumento com
fins futuros. São teorias que impedem a instrumentalização do indivíduo para fins preventivos
(o indivíduo não pode ser um meio para se atingir qualquer coisa, como a prevenção) e que
delimitam a magnitude da pena (não é permitida a penalização grave em culpabilidade leve, e
vice-versa). São expoentes desse modelo de pensamento Kant e Hegel.
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Prevenção Criminal
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Teorias Relativas
As teorias relativas defendem que a pena deve ter um fim socialmente útil. São teorias que
olham para o futuro. A ideia é prevenir que outros crimes sejam praticados.
Dentro das teorias relativas, a prevenção pode ser geral e especial. A prevenção geral é
destinada à comunidade como um todo. A prevenção especial, ao próprio delinquente.
Além disso, fala-se também em prevenção positiva e negativa, como veremos nos pró-
ximos itens.
Prevenção Geral
Para a prevenção geral, a pena tem impacto na generalidade de pessoas. A pena se dirige à
sociedade como um todo – é genérica, geral – e não apenas a um delinquente específico. Pode
ser subdividida em prevenção geral positiva e negativa.
Prevenção Geral Negativa
A formulação da teoria da prevenção geral negativa se deve a Feuerbach, responsável por
elaborar uma teoria pioneira em não se debruçar exclusivamente sobre a execução da pena.
Preocupou-se em teorizar sobre a etapa de cominação legal. Para ele, a pena é uma “coação
psicológica” com a qual se pretende evitar o fenômeno delitivo. Substitui-se o poder físico, so-
bre o corpo, pelo poder psíquico, sobre a alma.
A teoria da prevenção geral negativa desenvolveu-se, portanto, no período do Iluminismo
e foi adotada também por Jeremy Bentham e Marquês de Beccaria. Para essa linha de pen-
samento, a pena é uma ameaça (caráter negativo) dirigida a todos os cidadãos (caráter geral)
para que se abstenham de cometer crimes. Baseia-se na intimidação, na utilização do medo,
que seria a mola propulsora da racionalidade humana. A pena é contramotivação. É uma teoria
dirigida à toda a coletividade, mas que acaba produzindo efeito nos potenciais infratores.
É bastante utilizada para legitimar tanto a criação de novos tipos penais como a elevação
da pena de delitos já existentes. Claus Roxin, penalista alemão contemporâneo, diz que essa
é uma teoria inclinada ao terror, pois quem pretende intimidar com a pena tende a reforçar o
efeito castigando o mais duramente possível.
A capacidade racional absolutamente livre do homem e a existência de um Estado abso-
lutamente racional em seus objetivos são duas importantes ficções que servem de apoio à
teoria da prevenção geral negativa.
No que diz respeito à racionalidade humana, sabe-se que a atitude conforme o Direito pode,
em muitos casos, ser consequência da cominação penal e da possibilidade de execução da
pena. Acredita-se, portanto, que em muitas situações a prevenção geral negativa funciona.
Empiricamente, no entanto, isso é algo de difícil mensuração e, portanto, praticamente inde-
monstrável, sobretudo em locais onde há um número expressivo de organizações criminais e
em que as taxas de impunidade são altíssimas, como é o caso do Brasil no tocante aos homi-
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Prevenção Criminal
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cídios. Luiz Flávio Gomes aponta, especificamente, que a eficácia dissuasória da pena é muito
questionável em certos tipos de crime, como os delitos contra a vida. Ademais, a prevenção
geral negativa desconsidera a confiança que o delinquente tem em não ser descoberto, im-
portante fator na equação racional delitiva. Logo, a ideia de um “ser humano econômico”, que
avalia as vantagens e desvantagens da sua atuação, faz cálculos e ponderações a todo tempo
antes de praticar uma conduta, não corresponde à realidade.
No tocante à racionalidade estatal, é importante observar que a teoria da prevenção geral
negativa além de ser inclinada ao terror no tocante à agravação desproporcional das penas,
passa longe de resolver o impasse de delimitar quais são os comportamentos que o Estado
tem legitimidade para intimidar. Fica aberta a questão: todas as condutas antiéticas ou anti-
jurídicas podem ser tuteladas pelo Direito Penal? O âmbito do punível resta indefinido. É uma
prevenção que se ocupa da legalidade mediante coação, mas que não se preocupa com a legi-
timidade, com o fundamento do poder estatal de aplicar sanções jurídico-penais.
Prevenção geral negativa Intimidação, medo, ameaça
Prevenção Geral Positiva
A pena reforça (caráter positivo) a confiança da população (caráter geral) no sistema ju-
rídico como um todo, promovendo integração social. A prevenção geral positiva também é
chamada de integradora, pois tem por objetivo a formação e o fortalecimento da consciência
social, da integração social, mediante o estímulo ao culto dos valores mais caros à comunida-
de. É uma teoria dirigida ao cidadão fiel ao direito. A pena é reforço à fidelidade dos indivíduos
com as normas.
Prevenção geral positiva Integração Social, confiança na norma
Prevenção Especial
Vimos até aqui que a prevenção geral se destina à coletividade, seja positivamente (inte-
gração social), seja negativamente (intimidação). Agora vamos passar a falar da prevenção
especial, que se dirige ao criminoso em particular, e não à generalidade de pessoas.
Prevenção Especial Negativa
Para a prevenção especial negativa, a pena deve segregar (caráter negativo) a pessoa (ca-
ráter especial) que cometeu um delito para defender a sociedade. Aqui, trata-se de isolar, de
inocuizar (tornar inócuo, inofensivo), de neutralizar (com a prisão, por exemplo) uma pessoa
para que não cometa outros crimes.
Prevenção especial negativa Segregação
Prevenção Especial Positiva
Para a prevenção especial positiva, a pena deve objetivar a ressocialização (caráter positi-
vo) do condenado (caráter especial). Aqui, a pena teria caráter pedagógico.
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Teorias Mistas
As teorias mistas, também chamadas de ecléticas ou unificadoras, realizam a combinação
de finalidades retributivas e preventivas, tentando conciliar os pontos conflitantes.
No Brasil, o art. 59 do Código Penal diz que, ao estabelecer a pena em um caso concreto,
deve ser observado se ela é necessária e suficiente para reprovação e prevenção do crime.
Trata-se de uma postura de tentar conciliar as teorias absolutas com as relativas, abarcando
tanto a prevenção geral como a prevenção especial.
Prevenção Indireta
As medidas de prevenção indireta atuam nas causas do crime, sem atingir o delito espe-
cificamente. É uma atuação profilática, com campo de atuação extenso e intenso, que busca
todas as causas possíveis da criminalidade: próximas ou remotas, genéricas ou específicas.
Essas medidas de prevenção podem atuar no indivíduo ou no meio social. Quando atu-
am no indivíduo, podem, por exemplo, analisar a personalidade, o caráter e o temperamento,
para tentar moldar a conduta. Podem ainda atuar na cura de doenças, na correção de defeitos
congênitos, na recuperação de alcóolatras e dependentes químicos, na orientação sobre boa
alimentação e qualidade de vida.
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Quando atuam no meio social, também procuram melhorar a qualidade de vida, com me-
didas sociais, políticas, econômicas etc. Construção de moradias dignas, melhoramento das
condições dos bairros mais carentes, aumento da rede de esgoto, universalização do ensino
público, oferta de cursos profissionalizantes, medidas de planejamento familiar são exemplos
comumente citados de prevenção indireta.
Prevenção Direta
As medidas de prevenção direta relacionam-se com a infração criminal que está prestes a
ocorrer ou em formação. Interferem, portanto, no iter criminis. É o caso da intervenção policial,
das rondas policiais ostensivas, da repressão jurídico-processual de delitos e até mesmo das
políticas públicas de desestímulo a alguma prática delitiva concreta.
Prevenção Primária
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Prevenção Secundária
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Prevenção Terciária
Trata-se da prevenção voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem a
delinquir. Busca afastar a reincidência e a estigmatização.
São programas que pretendem a não consolidação do status de desviado.
Incentiva-se, por exemplo, a adoção de alternativas à pena privativa de liberdade, que é es-
tigmatizante. Tenta-se humanizar a pena, fornecendo um ofício ou educação para o preso, para
que ele se sinta em condições de voltar à vida em sociedade ao fim do cumprimento da pena.
A prevenção terciária enfrenta o fenômeno criminal muito tardiamente: quando ele já ocor-
reu. A ideia é, então, evitar as cerimônias degradantes típicas das instâncias de controle social
formal e fornecer à pena um fim utilitário, um efeito positivo (tratar, ensinar um ofício, fornecer
terapia, educar) e um caráter compatível com os postulados de dignidade da pessoa humana.
Os altos índices de reincidência, de filiação de presos às facções criminosas e de delinqu-
ência dentro do próprio cárcere demonstram a atual incapacidade do Estado brasileiro de lidar
de forma satisfatória com a prevenção terciária.
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O FBI foi uma das primeiras instituições a empregar a técnica, que costuma ser empregada
nos últimos estágios de uma investigação, para filtrar a lista de suspeitos. Mas nada impede
que seja empregado no início da investigação, para dar um norte aos policiais.
Não é uma profissão regulamentada no Brasil. Detetives, criminólogos, psicólogos, psi-
quiatras, policiais, jornalistas, etc. realizam a atividade. É muito comum, aliás, que perfiladores
não possuam graduação ou educação formal em ciências comportamentais (como psicologia
ou psiquiatria, por exemplo). Logo, a maioria dos perfis carece de cientificidade e não pode
embasar formalmente uma investigação.
O perfilamento é empregado principalmente em:
• Crimes onde haja sinais de psicopatologia;
• Crimes seriais (Serial killers estão entre os mais perfiláveis, pois matam por razões psi-
cológicas e, com isso, deixam muitas pistas para os perfilhadores);
• Crimes violentos (sexuais, ritualistas, satanistas, etc.);
• Incêndios, etc.
Perfilamento Racial
Perfilamento criminal não é o mesmo que perfilamento racial, termo que está bastante em
alta na Criminologia. Perfilamento racial é o ato de suspeitar ou ter como alvo uma pessoa de
uma determinada raça, com base em características ou comportamentos observados ou as-
sumidos de um grupo racial ou étnico, em vez de uma suspeita individual.
Em inglês emprega-se o termo “racial profiling”.
EXEMPLO
Atitude policial de revistar, com mais frequência, veículos dirigidos por negros ou pedestres negros.
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Devemos atentar tanto para as ações dos agentes como para suas omissões. O perfila-
mento racial demonstra que o sistema de justiça criminal não é neutro: a atuação dos policiais,
delegados, promotores e juízes é baseada em estereótipos e preconceitos, direcionando a bus-
ca pelo crime sempre nos mesmos estratos sociais: os pobres.
A maioria dos presos são negros. E isso não quer dizer que eles cometem mais crimes,
mas sim, como já sabemos, que são os alvos preferenciais do sistema penal, que sistematica-
mente deixa impune a criminalidade dos brancos e poderosos.
Atualmente, o emprego de tecnologia de reconhecimento facial tem aprofundado os pro-
blemas de perfilamento racial. Algumas pesquisas apontam que softwares de reconhecimento
facial erram mais com mais frequência quando analisam rostos negros, e isso tem feito com
que pessoas inocentes sejam detectadas como criminosas, instaurando traumas e injustiças.
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RESUMO
Prevenção criminal: conjunto de medidas, públicas ou privadas, adotadas com o objetivo
de impedir a prática de delitos, abarcando tanto as políticas sociais para redução da delinquên-
cia, como as políticas criminais para o fornecimento de respostas penais adequadas.
Estado Democrático de Direito; medidas preventivas devem ser priorizadas em relação às
repressivas. Medidas de cunho não penal devem ser largamente empregadas. Tanto a popula-
ção como todos os setores do Poder Público e todos os entes da federação (União, Estados,
DF, Municípios) devem se envolver com o tema, agindo conjuntamente. Deve-se reconhecer a
onipresença do crime.
Teorias da Pena
Teorias justificacionistas x Teorias negacionistas
Teorias negacionistas: não reconhecem legitimidade na intervenção jurídico-penal (orien-
tações político-criminais de viés abolicionista).
Teorias justificacionistas: reconhecem a legitimidade do sistema penal. Dividem-se em
dois grandes ramos: teorias absolutas e teoria relativas da pena.
Teorias absolutas x Teorias relativas
Teorias absolutas (retributivas): o fim da pena é a imposição de um castigo. A pena não
necessita de outras finalidades ou justificações. Ela é um fim em si mesmo. Teorias que olham
para o passado. Impedem a instrumentalização do indivíduo para fins preventivos e delimitam
a magnitude da pena. Expoentes: Kant e Hegel.
Teorias relativas (preventivas): a pena deve ter um fim socialmente útil. São teorias que
olham para o futuro. A ideia é prevenir que outros crimes sejam praticados.
Prevenção geral: destinada à comunidade como um todo.
Prevenção geral negativa: A pena é uma ameaça (caráter negativo) dirigida a todos os cida-
dãos (caráter geral) para que se abstenham de cometer crimes. Baseia-se na intimidação, na
utilização do medo. Teoria inclinada ao terror.
Prevenção geral positiva (integradora): a pena reforça (caráter positivo) a confiança da
população (caráter geral) no sistema jurídico como um todo, promovendo integração social.
Prevenção especial: dirige-se ao criminoso em particular, e não à generalidade de pessoas.
Prevenção especial negativa: a pena deve segregar (caráter negativo) a pessoa (caráter
especial) que cometeu um delito para defender a sociedade. Trata-se de isolar, de inocuizar, de
neutralizar.
Prevenção especial positiva: pena deve objetivar a ressocialização (caráter positivo) do
condenado (caráter especial). Pena com caráter pedagógico.
Teorias mistas (ecléticas ou unificadoras): realizam a combinação de finalidades retributi-
vas e preventivas, tentando conciliar os pontos conflitantes. Ex.: Brasil, art. 59 do Código Penal:
ao se estabelecer a pena em um caso concreto, será observado se ela é necessária e suficiente
para reprovação e prevenção do crime.
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Perfilamento criminal
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Prevenção Criminal
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MAPAS MENTAIS
Abolicionismo Penal
Teorias da Pena.
Teorias Absolutas
Devemos Punir?
Teorias Relativas
Sim: Teorias Justificacionistas
Teorias Mistas
Negativa: Intimidação
Prevenção geral: toda a comunidade
Positiva: Integração social
Teorias Teorias relativas:
Justificacionistas pena é prevenção
Negativa: segregação
Prevenção especial: delinquente Positiva: ressocialização
retribuição e prevenção
Iter criminis
Direta
Prevenção
Causas do Crime
Indireta
Causas do crime
Médio e longo prazo
Primária Coletividade
Ex: moradia, educação, emprego
Situações de risco
Curto e médio prazo
Ressocialização
Presos e egressos
Terciária Age tardiamente
Ex: remição da pena, regime progressivo, laborterapia, penas alternativas
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (VUNESP/2014/PC-SP/ESCRIVÃO DE POLÍCIA) Uma das formas que o Estado Brasi-
leiro adota como controle e inibição criminal é a pena prevista para cada crime, cuja teoria
adotada pelo Código Penal Brasileiro é a mista, de acordo com o artigo 59 do Código Penal,
que tem como finalidade a:
a) prevenção e a retribuição
b) indenização e a repreensão.
c) punição e a reparação.
d) inibição e a reeducação.
e) conciliação e o exemplo.
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c) quaternária.
d) terciária.
e) primária.
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b) O aumento do desemprego no Brasil incrementa o risco das atividades delitivas, uma vez
que o trabalho, como prevenção secundária do crime, é um elemento dissuasório, que opera no
processo motivacional do infrator.
c) A prevenção primária do delito é a menos eficaz no combate à criminalidade, uma vez que
opera, etiologicamente, sobre pessoas determinadas por meio de medidas dissuasórias e a
curto prazo, dispensando prestações sociais.
d) Em caso de a Força Nacional de Segurança Pública apoiar e supervisionar as atividades
policiais de investigação de determinado estado, devido ao grande número de homicídios não
solucionados na capital do referido estado, essa iniciativa consistirá diretamente na prevenção
terciária do delito.
e) A prevenção terciária do crime consiste no conjunto de ações reabilitadoras e dissuasórias
atuantes sobre o apenado encarcerado, na tentativa de se evitar a reincidência.
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c) na qualidade de vida de um povo, na proteção aos bens patrimoniais e nos direitos individu-
ais e sociais.
d) nos direitos sociais universalmente conhecidos, como educação, moradia e segurança.
e) na reparação do dano causado em razão da delinquência, assistindo o recluso com progra-
mas psicológicos e de assistência social.
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GABARITO
1. a 26. E
2. a 27. c
3. d 28. d
4. a 29. e
5. a 30. e
6. c 31. C
7. c 32. c
8. b 33. E
9. a 34. E
10. c 35. E
11. b 36. E
12. d 37. C
13. d 38. C
14. c 39. e
15. b 40. c
16. E 41. e
17. E 42. b
18. C 43. e
19. C 44. b
20. b 45. b
21. e 46. c
22. d 47. b
23. C 48. e
24. a 49. d
25. E 50. e
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GABARITO COMENTADO
001. (VUNESP/2014/PC-SP/ESCRIVÃO DE POLÍCIA) Uma das formas que o Estado Brasi-
leiro adota como controle e inibição criminal é a pena prevista para cada crime, cuja teoria
adotada pelo Código Penal Brasileiro é a mista, de acordo com o artigo 59 do Código Penal,
que tem como finalidade a:
a) prevenção e a retribuição
b) indenização e a repreensão.
c) punição e a reparação.
d) inibição e a reeducação.
e) conciliação e o exemplo.
O art. 59 do Código Penal diz que, ao estabelecer a pena em um caso concreto, deverá ser
observado se ela é necessária e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Trata-se
de uma postura de teoria mista, de tentar conciliar as teorias absolutas com as relativas. As
teorias mistas, também chamadas de ecléticas ou unificadoras, realizam a combinação de
finalidades retributivas e preventivas, tentando conciliar os pontos conflitantes.
Letra a.
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A prevenção secundária também pode ser chamada de prevenção situacional, pois destina-se
a neutralizar situações de risco. Não se interessa pelas causas do delito, mas sim pelos po-
tenciais delinquentes e pelo modus operandi – local, horário, vítima, objetos empregados, etc.
Assim, o emprego de técnicas de vigilância de ambientes (câmeras, vigilância pessoal, ronda
de veículos de segurança) combinadas com o cruzamento com bancos de dados criminais
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é medida de prevenção secundária. Nas letras B e C não constam termos empregados nas
classificações sobre prevenção. Na letra D, a prevenção terciária é voltada para o preso e o
egresso, com o fim de evitar que voltem a delinquir. Na letra E, a prevenção primária age nas
causas do delito.
Letra a.
A remição da pena, seja por estudo, trabalho ou leitura, está relacionada com a necessidade
de ressocialização do apenado. Logo, é política de prevenção criminal terciária, como todas as
demais voltadas ao preso e ao egresso que tenham o fim de evitar que voltem a delinquir. As
letras B, C, D e E trazem exemplos de medidas de prevenção secundária.
Letra a.
A prevenção terciária é aquela voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem
a delinquir. Busca afastar a reincidência e a estigmatização. São programas que pretendem a
não consolidação do status de desviado, como os descritos na alternativa C. A laborterapia é o
emprego do trabalho ou o ensino de um ofício com funções terapêuticas. A liberdade assistida
é uma medida socioeducativa prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente, em que se
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As medidas voltadas à população carcerária que buscam afastar a reincidência são relevantes
para a criminologia e classificadas como medidas de prevenção terciária. Trata-se da preven-
ção voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem a delinquir. Busca afastar
a reincidência e a estigmatização. São programas que pretendem a não consolidação do sta-
tus de desviado. Na letra A, a prevenção primária é direcionada para as causas do delito, mas
não para a recuperação dos criminosos. Na letra B, são medidas que impactam a diminuição
dos indicadores criminais, sendo consideradas medidas de prevenção terciária. Nas letras D e
E, a prevenção que ataca a raiz do conflito é a prevenção primária, orientada profilaticamente
para as causas do crime.
Letra c.
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Prevenção Criminal
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Um Estado Democrático de Direito deve preferir medidas de prevenção, dos mais variados ti-
pos – primária, secundária e terciária – isto é, integralizada, em lugar de priorizar intervenções
meramente repressivas, típicas de um Estado autoritário.
Letra b.
A prevenção primária é aquela voltada para as causas do cometimento do crime. Ela se pre-
ocupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste. É necessário, por exemplo, que
o Estado forneça educação, condições dignas de vida, moradia, salários justos, saneamento
básico, saúde, emprego, lazer. Esse tipo de prevenção opera a médio e longo prazo e se destina
à coletividade.
Letra c.
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A prevenção pode ser geral ou especial, positiva ou negativa. A alternativa b traz dois exem-
plos corretos de prevenção. A prevenção geral é aquela dirigida a toda a população: a punição
é um exemplo para que as demais pessoas não decidam cometer aquele crime e é, logo, um
reforço da validade das normas. A prevenção especial é dirigida ao próprio delinquente, para
que deixe de delinquir, seja em função da sua segregação (inocuização), seja em função de
sua ressocialização.
Letra b.
A prevenção primária é aquela voltada para as causas do cometimento do crime. Ela se pre-
ocupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste. É necessário, por exemplo, que
o Estado forneça educação, condições dignas de vida, moradia, salários justos, saneamento
básico, saúde, emprego, lazer. Esse tipo de prevenção opera a médio e longo prazo e se destina
à coletividade. Na letra A, a prevenção terciária é voltada para o preso e o egresso, com o fim
de que não voltem a delinquir. Na letra B, quinária não é uma categoria presente nas classifica-
ções de prevenção. Na letra C, a prevenção secundária é situacional, atua considerando os po-
tenciais e eventuais criminosos e vítimas, além dos locais e momentos em que os crimes ocor-
rem. Na letra E, quaternária não é uma categoria presente nas classificações de prevenção.
Letra d.
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A prevenção primária busca diminuir os conflitos sociais que estão na base da razão para o
cometimento do crime. Ela se preocupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste.
É necessário, por exemplo, que o Estado forneça educação, condições dignas de vida, moradia,
salários justos, saneamento básico, saúde, emprego, lazer. Esse tipo de prevenção opera a mé-
dio e longo prazo e se destina à coletividade. O fortalecimento de vínculos sociais, de valores
cívicos e da consciência sobre o cumprimento das normas são, igualmente, medidas de pre-
venção primária quando destinadas à coletividade como um todo (quando endereçadas a um
grupo específico, são medidas de prevenção secundária). Nas letras A e B, temos exemplos de
medidas de prevenção secundária, que é aquela que atua considerando os potenciais e even-
tuais criminosos e vítimas, além dos locais e momentos em que os crimes ocorrem. Também
pode ser chamada de prevenção situacional, pois destina-se a neutralizar situações de risco.
Na letra C, trata-se de prevenção terciária. Na letra E, a prevenção típica não atua em momento
posterior ao crime, mas sim antes do seu acontecimento. A prevenção terciária atua sobre o
preso e o egresso, com o fim de evitar o cometimento de um novo delito. E a prevenção que
atua na iminência do acontecimento delitivo é a prevenção secundária.
Letra d.
A prevenção terciária é voltada para o preso e o egresso e tem por objetivo evitar que voltem
a delinquir.
Letra c.
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Prevenção Criminal
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A prevenção geral se destina à comunidade. Na prevenção geral positiva, a pena reforça (cará-
ter positivo) a confiança da população no sistema jurídico como um todo, promovendo integra-
ção social (caráter geral). A prevenção geral positiva também é chamada de integradora, pois
tem por objetivo a formação e o fortalecimento da consciência social, mediante o estímulo ao
culto dos valores mais caros à comunidade. A letra A trata de prevenção especial negativa. A
letra C apresenta uma mistura de prevenção especial negativa (neutralização) com prevenção
geral negativa (contramotivação, intimidação). Na letra D, há uma mistura de prevenção geral
negativa (intimidação) com prevenção especial negativa (pena). Na letra E, a prevenção geral
positiva não é uma teoria dirigida ao potencial delinquente, mas sim ao cidadão fiel ao direito,
já que a pena é reforço à fidelidade dos indivíduos às normas.
Letra b.
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A alteração dos espaços físicos e urbanos pode configurar medida de prevenção, mais especi-
ficamente prevenção secundária. Essa prevenção atua considerando os potenciais e eventuais
criminosos e vítimas, além dos locais e momentos em que os crimes ocorrem. Também pode
ser chamada de prevenção situacional, pois destina-se a neutralizar situações de risco. Ela
é voltada para atacar as oportunidades que oferecem maior atrativo para o infrator. Não se
interessa pelas causas do delito, mas sim pelas formas – local, horário, vítima – de seu come-
timento. Na ideia de prevenção secundária, portanto, as dimensões temporais (quando acon-
tecem os crimes?) e espaciais (onde acontecem os crimes? quais são os hot spots?) ganham
importância, pois é nessas variáveis que se busca intervir. Assim, ideias de alteração do am-
biente físico, por meio de propostas arquitetônicas e urbanísticas (iluminação, embelezamento
de ambientes públicos, limpeza e ocupação de ambientes degradados) são mecanismos típi-
cos de prevenção secundárias, pois buscam atuar na diminuição das oportunidades do crime.
Certo.
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As medidas de prevenção indireta atuam nas causas do crime, sem atingir o delito especifi-
camente. Realizam atuação profilática, com campo de atuação extenso, que busca todas as
causas possíveis da criminalidade: próximas ou remotas, genéricas ou específicas. A ideia é
que cessada a causa, cessam os efeitos. Diferem das medidas diretas que se relacionam com
a infração criminal que está prestes a ocorrer ou em formação. As medidas diretas interferem,
portanto, no iter criminis.
Certo.
A superlotação carcerária afeta a prevenção terciária, que é aquela voltada para o preso e o
egresso, com o fim de evitar que voltem a delinquir. Essa prevenção busca afastar a reincidên-
cia. Incentiva-se, por exemplo, a adoção de alternativas à pena privativa de liberdade, que é
estigmatizante. Tenta-se humanizar a pena, fornecendo um ofício ou educação para o preso,
para que ele se sinta em condições de voltar à vida em sociedade ao fim do cumprimento da
pena. A prevenção primária – voltada para as causas do cometimento do crime – e a preven-
ção secundária – que atua considerando os potenciais e eventuais criminosos e vítimas, além
dos locais e momentos em que os crimes ocorrem – não são diretamente afetadas pela super-
lotação carcerária.
Letra b.
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A prevenção terciária é voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem a de-
linquir. Busca afastar a reincidência. Nas letras A e B, temos medidas de prevenção primária,
que é aquela voltada para as causas do cometimento do crime. A prevenção primária se preo-
cupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste. É necessário, por exemplo, que o
Estado forneça educação, condições dignas de vida, salários justos, saúde, emprego. Na letra
C, a prevenção primária é muito eficaz, por atua nas mais variadas causas da criminalidade;
opera a médio e longo prazo; envolve múltiplas prestações sociais; e se destina à coletividade.
Na letra D, a investigação não é exatamente uma medida de prevenção, mas sim de reação ao
delito. Mas caso se entenda que o apoio policial serve também para evitar o cometimento de
novos crimes, deve-se compreender que se trata de medida de prevenção secundária. Essa
prevenção atua considerando os locais e os momentos em que os crimes ocorrem. Também
pode ser chamada de prevenção situacional, pois destina-se a neutralizar situações de risco.
Letra e.
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de, orientando mudanças na legislação positivada. No enunciado III, o Direito Penal, no tocante
às funções da pena, abarca a teoria mista, já que consagra, em seu art. 59, a ideia de conjugar a
reprovação e a prevenção do crime. Para a teoria absoluta, o fim da pena é a imposição de um
castigo. São as chamadas teorias retributivas, para as quais a pena é uma forma de retribuição
do mal causado. Elas são chamadas de absolutas porque, para elas, a pena não necessita de
outras finalidades ou justificações. Ela é um fim em si mesmo. Para as teorias relativas (ou
utilitárias), por sua vez, a pena deve ter um fim socialmente útil, de prevenção.
Letra a.
A prevenção primária é aquela voltada para as causas do cometimento do crime. Ela se preo-
cupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste. É necessário, por exemplo, que o
Estado forneça educação, condições dignas de vida, moradia, salários justos, saneamento bá-
sico, saúde, emprego, lazer. Esse tipo de prevenção opera a médio e longo prazo e se destina à
coletividade. A prevenção orientada para a ressocialização do preso é denominada prevenção
terciária.
Errado.
A prevenção terciária do delito é voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que
voltem a delinquir. Busca afastar a reincidência e a estigmatização. São programas que pre-
tendem a não consolidação do status de desviado. A prevenção que se preocupa com a imple-
mentação de políticas sociais é a prevenção primária.
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O art. 59 do Código Penal dispõe que, ao estabelecer a pena em um caso concreto, será obser-
vado se ela é necessária e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Trata-se de uma
postura de tentar conciliar as teorias absolutas com as relativas. E por prevenção, entende-se
que o Código Penal abarca tanto a prevenção geral como a especial. Na prevenção geral, acre-
dita-se que as penas do Código Penal têm impacto na generalidade de pessoas. A pena se
dirige à sociedade como um todo – é genérica, geral –, seja como ameaça (prevenção geral
negativa), seja como reforço da consciência coletiva de respeito ao ordenamento jurídico (pre-
venção geral positiva). Na prevenção especial, a pena se preocupa tanto com o isolamento, a
neutralização do delinquente por um tempo (prevenção especial negativa) – com a pena priva-
tiva de liberdade, por exemplo –, como com sua ressocialização (prevenção especial positiva).
Letra c.
A prevenção terciária é voltada para o preso, com o fim de evitar que volte a delinquir. Almeja
afastar a reincidência. São programas que pretendem a não consolidação do status de desvia-
do. Buscam-se, por exemplo, alternativas à pena privativa de liberdade, que é estigmatizante.
Procura-se humanizar a pena, fornecendo um ofício ou educação para o preso, para que ele se
sinta em condições de voltar à vida em sociedade ao fim do cumprimento da pena.
Letra d.
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A prevenção primária é aquela voltada para as causas do cometimento do crime. Ela se pre-
ocupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste. É necessário, por exemplo, que
o Estado forneça educação, condições dignas de vida, moradia, salários justos, saneamento
básico, saúde, emprego, lazer. Esse tipo de prevenção opera a médio e longo prazo e se destina
à coletividade. A melhoria de atendimento às gestantes é uma medida de saúde que beneficia
a população como um todo e que opera a longo prazo, pois contribui para o nascimento e cres-
cimento de indivíduos saudáveis, para a saúde das mulheres. A longo prazo, essa medida pode
favorecer, por exemplo, a existência de lares estruturados e de pessoas plenamente aptas ao
estudo e trabalho. Na letra A, C e D temos exemplos de medidas de prevenção secundária. Na
letra B, exemplo de medida de prevenção terciária.
Letra e.
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c) A prevenção terciária se orienta aos grupos que ostentam maior risco de protagonizar o pro-
blema criminal, se relacionando com a política legislativa penal e com a ação policial.
d) A prevenção secundária tem como destinatário o condenado, se orientando a evitar a reinci-
dência da população presa por meio de programas reabilitadores e ressocializadores.
e) A prevenção primária corresponde a estratégias de política cultural, econômica e social, atu-
ando, por exemplo, na garantia da educação, saúde, trabalho e bem-estar social.
A prevenção primária é aquela voltada para as causas do cometimento do crime. Ela se pre-
ocupa em neutralizar o problema antes que ele se manifeste. É necessário, por exemplo, que
o Estado forneça educação, condições dignas de vida, moradia, salários justos, saneamento
básico, saúde, emprego, lazer. Esse tipo de prevenção opera a médio e longo prazo e se destina
à coletividade. Nas letras A e C temos exemplo de prevenção secundária, que atua conside-
rando os potenciais e eventuais criminosos e vítimas, além dos locais e momentos em que os
crimes ocorrem. Na letra B, a prevenção descrita é primária. Na letra D, a prevenção descrita é
terciária: atua sobre o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem a delinquir.
Letra e.
As teorias relativas são as que atribuem peso à prevenção. A prevenção especial é dirigida ao
condenado. A prevenção especial positiva busca a reinserção do apenado.
Certo.
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Para a prevenção geral negativa, a pena é uma ameaça (caráter negativo) dirigida a todos os
cidadãos (caráter geral) para que se abstenham de cometer crimes. Baseia-se na intimidação,
na utilização do medo, que seria a mola propulsora da racionalidade humana. A prevenção que
possui caráter ressocializador e pedagógico é a prevenção especial positiva. Ela é especial
porque dirigida ao delinquente, e é positiva porque busca sua ressocialização.
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A prevenção especial, seja positiva ou negativa, nunca é direcionada para a coletividade. A pre-
venção especial dirige-se, sempre, ao criminoso em particular, enquanto a prevenção geral se
dirige à coletividade. Para a prevenção especial positiva, a pena deve objetivar a ressocializa-
ção do condenado. Intimidação está relacionada com a prevenção geral negativa, para a qual
a pena é uma ameaça dirigida a todos os cidadãos para que se abstenham, pelo medo, de co-
meter crimes. Neutralização está relacionada com a prevenção especial negativa, para a qual
a pena deve segregar, neutralizar a pessoa que cometeu um delito para defender a sociedade.
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A prevenção geral é aquela dirigida à coletividade. Em seu aspecto negativo, a pena é uma
ameaça (caráter negativo) dirigida a todos os cidadãos (caráter geral) para que se abstenham
de cometer crimes. Baseia-se na utilização do medo, que seria a mola propulsora da racio-
nalidade humana. A pena é contramotivação, intimidação dirigida a toda a coletividade, mas
que produz efeitos nos potenciais infratores. Na letra A, a prevenção dirigida à reintegração é
a prevenção terciária. Na letra B, a conscientização de todos os cidadãos sobre a importância
de obedecer as leis e o fornecimento de serviços públicos de qualidade são típicas medidas
de prevenção primária. Na letra D, a prevenção que busca a reeducação e ressocialização é a
prevenção especial positiva. Na letra E, as ações policiais de repressão ao delito são medidas
de prevenção secundária.
Letra c.
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insere-se nas teorias absolutas, para as quais o fim da pena é a imposição de um castigo, uma
forma de retribuição do mal causado. Na letra B, na prevenção especial positiva a preocupação
é a ressocialização. Na letra C, a prevenção geral negativa está relacionada com a intimidação
de um potencial delinquente. Na letra D, a prevenção geral positiva relaciona-se com o reforço
da consciência coletiva sobre a validade das normas e a necessidade de sua obediência.
Letra e.
A prevenção terciária é voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem a delin-
quir. Busca afastar a reincidência. Na letra A, o trabalho de conscientização social, se dirigido à
toda a coletividade, é medida de prevenção primária; se dirigido a grupos específicos, é medida
de prevenção secundária. Na letra C, a prevenção criminal terciária cuida da ressocialização do
preso, e não é uma das formas de participação popular na gestão pública. Na letra D, a preven-
ção criminal terciária atua tardiamente (quando o delito já ocorreu e o delinquente está preso
ou já cumpriu sua pena) e não profilaticamente (antes da prática delitiva). Na letra E, o aparato
de repressão criminal se insere na prevenção secundária do delito.
Letra b.
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Políticas públicas que desestimulem a prática de uma conduta desviante são exemplos de medi-
da de prevenção direta do delito. As medidas de prevenção direta relacionam-se com a infração
criminal que está prestes a ocorrer ou em formação. Interferem, portanto, no iter criminis. É o
caso da intervenção policial, das rondas policiais ostensivas, da repressão jurídico-processual
de delitos e até mesmo das políticas públicas de desestímulo a alguma prática delitiva concreta.
Nas letras A, B, C e D constam medidas de prevenção indireta, que atuam nas causas do crime,
sem atingir o delito especificamente. É uma atuação profilática, com campo de atuação extenso
e intenso, que busca todas as causas possíveis da criminalidade: próximas ou remotas, genéri-
cas ou específicas. Análise de personalidade, caráter e temperamento, para tentar moldar a con-
duta das pessoas; cura de doenças; orientação sobre boa alimentação e qualidade de vida; cons-
trução de moradias dignas; melhoramento das condições dos bairros mais carentes; aumento da
rede de esgoto; universalização do ensino público; oferta de cursos profissionalizantes; medidas
de planejamento familiar são exemplos comumente citados de prevenção indireta.
Letra e.
A prevenção terciária tem um destinatário específico: é voltada para o preso ou recluso, e tem
o fim de evitar que volte a delinquir. Busca afastar a reincidência. Engloba programas que pre-
tendem a não consolidação do status de desviado, com medidas socioeducativas e ressociali-
zadoras. Na letra A, a prevenção relacionada com os problemas eventualmente decorrentes da
migração não recebe uma denominação específica. Na letra C, a prevenção que age na raiz ou
nas causas do conflito criminal é a prevenção primária. Na letra D temos exemplos de preven-
ção secundária. Na letra E temos exemplos de prevenção primária.
Letra b.
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A prevenção terciária é voltada para os presos e egressos e tem por objetivo evitar a reincidência.
Letra c.
A prevenção primária busca diminuir os conflitos sociais que estão na base da razão para o co-
metimento do crime. A implementação de políticas públicas se insere nesse tipo de prevenção:
devem ser resolvidas as situações de carência, as desigualdades, os conflitos da sociedade,
para que desapareçam as causas que levam à criminalidade. Na letra A, a prevenção terciária
é voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que voltem a delinquir. Não decorre, em
geral, da atuação direta do Ministério Público e do Poder Judiciário, cujos afazeres, aliás, di-
zem mais respeito à repressão do que à prevenção delitiva. Na letra C, trabalhos na área social
contribuem para a diminuição de conflitos que está na base da razão para o cometimento do
crime. Logo, são medidas de prevenção primária. Na letra D, a construção de presídios não tem
se mostrado efetiva como medida de prevenção ao crime, pois o aumento do encarceramento
não leva à diminuição das taxas criminais. Na letra E, a atuação de ONG pode se enquadrar
como prevenção primária, secundária ou terciária. Caso se trate de ONG voltada a causas so-
ciais, será prevenção primária. Caso se trate de ONG que busca diminuir as oportunidades e
situações delitivas, será prevenção secundária. E caso se trate de ONG voltada para a reinser-
ção de presos e egressos, prevenção terciária.
Letra b.
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De acordo com o art. 59 do Código Penal, o juiz, ao estabelecer a pena em um caso concreto,
observará se ela é necessária e suficiente para reprovação e prevenção do crime. Trata-se de
uma postura de tentar conciliar as teorias absolutas (retributivas) com as relativas (preventi-
vas). A isso se dá o nome de teoria unificadora, unitária, eclética ou mista.
Letra e.
A prevenção terciária é voltada para o preso e o egresso, com o fim de evitar que volte a delin-
quir. Busca afastar a reincidência. Nas letras A e B, constam programas de prevenção secun-
dária, que são aqueles que consideram os potenciais e eventuais criminosos e vítimas, além
dos locais e momentos em que os crimes ocorrem. Também pode ser chamada de prevenção
situacional, pois destina-se a neutralizar situações de risco. Na letra C, a punição em público
não é permitida pelo ordenamento jurídico brasileiro. A letra E traz exemplo de medida de pre-
venção primária, que se caracteriza por ser voltada para as causas do cometimento do crime,
orientando-se pela neutralização do problema antes que ele se manifeste.
Letra d.
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REFERÊNCIAS
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PENTEADO Filho, Nestor Sampaio. Manual Esquemático de Criminologia. 7. ed. São Paulo:
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ROXIN, Claus. A proteção de bens jurídicos como função do Direito Penal. Org. e trad. André
Luís Callegari, Nereu José Giacomolli. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2006.
ZAFFARONI, Eugenio Raúl. Em busca das penas perdidas: a perda da legitimidade do sistema
penal. 5 ed. Rio de Janeiro: Revan, 2001.
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Servidora pública federal desde 2009. Graduada em Direito e Mestre em Direito Penal e Criminologia pela
Universidade de São Paulo (USP). Professora de Legislação de Interesse da Atividade de Inteligência, Direito
Penal e Criminologia em cursos preparatórios para concurso público. Autora do livro “ABIN - Legislação de
Inteligência Sistematizada e Comentada”, publicado pela editora JusPodivm. Foi Assessora Técnica da
Comissão Nacional da Verdade da Presidência da República (2012 a 2014). Foi Agente de Promotoria do
Ministério Público do Estado de São Paulo (2006-2009). Lecionou as disciplinas Direito Penal e Criminologia
na Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Aperfeiçoamento do Ensino. Foi membro de diversas
coordenações do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, tendo orientado pesquisas do Laboratório de
Iniciação Científica. Coautora do livro “Criminologia e os problemas da atualidade” e autora de artigos nos
temas de Direito Penal e Criminologia.
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