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Apropriação Indébita

Art. 168 - Apropriar-se de coisa alheia móvel, de que tem a


posse ou a detenção:
       
        Aumento de pena

        § 1º - A pena é aumentada de um terço, quando o


agente recebeu a coisa:

•        I - em depósito necessário;


•        II - na qualidade de tutor, curador, síndico, liquidatário,
inventariante, testamenteiro ou depositário judicial;
•        III - em razão de ofício, emprego ou profissão.

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Apropriação Indébita

• Caracterizado pela quebra de confiança;

• A vítima entrega espontaneamente um objeto ao agente;

• Inversão do ânimo em relação ao objeto;

• Posse ou detenção desvigiada;

• Quem recebe deve estar, inicialmente, de boa-fé – caso contrário


pode configurar o estelionato;

• Dolo surge após o recebimento da posse

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Apropriação Indébita

• Não existe fraude

• Mero esquecimento afasta o crime – não há dolo;

• Animus rem sibi habendi – ânimo de assenhoreamento

• Funcionário público / em razão do serviço -> peculato

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Apropriação Indébita Previdenciária

        Art.
168-A. Deixar de repassar à previdência social as
contribuições recolhidas dos contribuintes, no prazo e forma
legal ou convencional:

        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.

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Apropriação Indébita Previdenciária
§ 1o Nas mesmas penas incorre quem deixar de:

        I – recolher, no prazo legal, contribuição ou outra importância


destinada à previdência social que tenha sido descontada de
pagamento efetuado a segurados, a terceiros ou arrecadada do
público; 

        II – recolher contribuições devidas à previdência social que


tenham integrado despesas contábeis ou custos relativos à venda
de produtos ou à prestação de serviços; 

        III - pagar benefício devido a segurado, quando as respectivas


cotas ou valores já tiverem sido reembolsados à empresa pela
previdência social. 

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Apropriação Indébita Previdenciária

§ 2o É extinta a punibilidade se o agente, espontaneamente,


declara, confessa e efetua o pagamento das contribuições,
importâncias ou valores e presta as informações devidas à
previdência social, na forma definida em lei ou regulamento, antes
do início da ação fiscal. 

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Apropriação Indébita Previdenciária

        § 3o É facultado ao juiz deixar de aplicar a pena ou aplicar somente


a de multa se o agente for primário e de bons antecedentes, desde que: 

        I – tenha promovido, após o início da ação fiscal e antes de oferecida


a denúncia, o pagamento da contribuição social previdenciária, inclusive
acessórios;

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Apropriação Indébita Previdenciária
      
        II – o valor das contribuições devidas, inclusive acessórios, seja igual
ou inferior àquele estabelecido pela previdência social,
administrativamente, como sendo o mínimo para o ajuizamento de suas
execuções fiscais. 

Memo/INSS/PG/N -> limite para não ajuizamento de execução fiscal pela


autarquia previdenciária – R$ 5.000,00

MP 1973-63 de 29/06/2000 -> Lei 10.522/2002 – R$ 2.500,00


(insignificante)

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Estelionato

Art. 171 - Obter, para si ou para outrem, vantagem ilícita,


em prejuízo alheio, induzindo ou mantendo alguém em
erro, mediante artifício, ardil, ou qualquer outro meio
fraudulento:
       
        § 1º - Se o criminoso é primário, e é de pequeno
valor o prejuízo, o juiz pode aplicar a pena conforme o
disposto no art. 155, § 2º.

• Artimanha, engodo, engano, artifício.

• Crime material – consumação com a obtenção da vantagem

• A fraude deve ser idônea – crime impossível – avaliar as


características da vítima
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Estelionato

    Deve atingir pessoa determinada / vítimas incertas crime


contra a economia popular – Lei 1521/51 (pirâmides,
correntes, adulteração de bombas, balança e taxímetro)

Súmula 17 do STJ: “Quando o falso se exaure no estelionato,


sem mais potencialidade lesiva, é absorvido por este”

  

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Estelionato

        Disposição de coisa alheia como própria

        I - vende, permuta, dá em pagamento, em locação ou


em garantia coisa alheia como própria;

Alienação ou oneração fraudulenta de coisa própria

        II - vende, permuta, dá em pagamento ou em garantia


coisa própria inalienável, gravada de ônus ou litigiosa, ou
imóvel que prometeu vender a terceiro, mediante pagamento
em prestações, silenciando sobre qualquer dessas
circunstâncias;     
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Estelionato

        Defraudação de penhor

        III - defrauda, mediante alienação não consentida


pelo credor ou por outro modo, a garantia pignoratícia,
quando tem a posse do objeto empenhado;
* Sujeito ativo é o devedor

        Fraude na entrega de coisa

        IV - defrauda substância, qualidade ou quantidade


de coisa que deve entregar a alguém;
• Vidro no lugar de cristal
• Cobre no lugar de ouro
• Mercadoria de segunda
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Estelionato
Fraude para recebimento de indenização ou valor de
seguro

        V - destrói, total ou parcialmente, ou oculta coisa


própria, ou lesa o próprio corpo ou a saúde, ou agrava as
conseqüências da lesão ou doença, com o intuito de
haver indenização ou valor de seguro;

•Contrato de seguro em vigor


•Caso de auto-lesão punível
•Intuito de obter o valor do seguro
•Bem jurídico tutelado – patrimônio do segurador
      
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Estelionato

Fraude no pagamento por meio de cheque

        VI - emite cheque, sem suficiente provisão de fundos


em poder do sacado, ou lhe frustra o pagamento.

• Deve haver má-fé na emissão do cheque

• Súmula 246 STF – “Comprovado não ter havido fraude,


não se configura o crime(...)”

• Cheque – ordem de pagamento a vista


• Cheque pós-datado afasta o crime
• Pode configurar o estelionato comum
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Fraude no pagamento por meio de cheque
       
• Causa direta do convencimento da vítima – cheque
para pagamento de dívida anterior não configura

• Ex. pagar prejuízo de um acidente de carro /


substituição de outro título não honrado

• O banco paga (cheque especial) – não há crime em


relação ao banco – ilícito civil

• Súmulas 521 do STF e 244 do STJ – foro competente é


o do local da recusa

• Súmula 554 do STF x Arrependimento posterior

“O pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o


recebimento da denúncia, não obsta o prosseguimento da ação penal” 90
Estelionato

       
§ 3º - A pena aumenta-se de um terço, se o crime é
cometido em detrimento de entidade de direito público
ou de instituto de economia popular, assistência social
ou beneficência.

      

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RECEPTAÇÃO
(própria e imprópria)

             Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou


ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser
produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a
adquira, receba ou oculte:

• Crime acessório – indispensável a ocorrência de crime


anterior

• Produto de contravenção não caracteriza

• Não é necessário que o crime anterior seja contra o


patrimônio – ex. peculato

• Existe receptação de receptação


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RECEPTAÇÃO

            
• Quem encomenda um carro para um outrem comete o
crime antecedente (furto ou roubo) e não a receptação –
partícipe

• O agente deve angariar alguma vantagem – caso contrário


haverá mero favorecimento real (art. 349)

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Receptação dolosa

simples qualificada agravada privilegiada

própria imprópria
RECEPTAÇÃO
qualificada

        § 1º - Adquirir, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter


em depósito, desmontar, montar, remontar, vender, expor à
venda, ou de qualquer forma utilizar, em proveito próprio ou
alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial,
coisa que deve saber ser produto de crime

§ 2º - Equipara-se à atividade comercial, para efeito do


parágrafo anterior, qualquer forma de comércio irregular ou
clandestino, inclusive o exercício em residência.

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RECEPTAÇÃO
CULPOSA

§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou


pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela
condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por
meio criminoso

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RECEPTAÇÃO

§ 4º - A receptação é punível, ainda que desconhecido ou


isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa

• Ainda que não se saiba o autor do crime antecedente

• Deve haver um crime anterior

• Suposto autor do antecedente absolvido

• Verificar os casos do art. 386 do CPP

• Em tese, se a absolvição não for calcada na inexistência do fato,


atipicidade ou excludente de ilicitude, pode haver condenação por
receptação independente da absolvição anterior

• Mesmo que autor do crime anterior seja isento de pena – louco,


menor, escusa absolutória
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RECEPTAÇÃO
§ 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o
juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de
aplicar a pena. Na receptação dolosa aplica-se o disposto no
§ 2º do art. 155. 

        § 6º - Tratando-se de bens e instalações do patrimônio


da União, Estado, Município, empresa concessionária de
serviços públicos ou sociedade de economia mista, a pena
prevista no caput deste artigo aplica-se em dobro.

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Escusas Absolutórias
As escusas absolutórias são causas excludentes da
punibilidade previstas no Código Penal Art 181 e
182.

Escusas podem ser:


Imunidades Absolutas
Imunidades Relativas
Exceções Art 183 CP
Imunidades Absolutas
As hipóteses previstas no art. 181 CP 181, estão limitadas
aos crimes contra o patrimônio, desde que esses não
tenham sido cometidos com violência ou grave ameaça.
Art. 181 – É isento de pena quem comete qualquer dos
crimes previstos neste título, em prejuízo:
I – do cônjuge, na constância da sociedade conjugal; ]
II – de ascendente ou descendente, seja o parentesco
legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
Apesar da expressão “cônjuge” estar ligada ao casamento,
é perfeitamente cabível a escusa absolutória em casos de
união estável. Seria uma hipótese de analogia in bonam
partem.
Imunidade Relativa
O Réu não deixará de ser punido, mas a iniciativa da
ação penal estará condicionada à representação da
vítima.
 Se é possível a punição, portanto, não se trata de
escusa absolutória.

 São os casos do art. 182:


I – do cônjuge desquitado ou judicialmente separado;
II – de irmão, legítimo ou ilegítimo; III – de tio ou
sobrinho, com quem o agente coabita.
Exceções
 Na parte final do Capítulo estão dispostas as exceções. Não será possível
alegação de escusas absolutórias:
 Art 183
 I – se o crime é de roubo ou de extorsão, ou, em geral, quando haja emprego de grave ameaça ou
violência à pessoa;
 II – ao estranho que participa do crime.
 III – se o crime é praticado contra pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (Incluído
pelo Estatuto do Idoso).

 Reza o art. 95 do Estatuto: “Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada,
não se lhes aplicando os arts. 181 e 182 do Código Penal”.

 Apesar da discussão sobre ser causa excludente de culpabilidade, é comum a


doutrina apontar mais uma hipótese de escusa absolutória CP prevista no Art
348, no crime de favorecimento pessoal:

 Art. 348. Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública autor de crime a que é cominada pena de
reclusão: Pena – detenção, de 1 (um) a 6 (seis) meses” § 2o. Se quem presta auxílio é ascendente,
descendente, cônjuge ou irmão do criminoso, fica isento de pena.”

 Se a polícia está à procura de um criminoso e eu o escondo em minha residência


para que o mesmo não seja encontrado, cometo esse crime.
 Mas, se o criminoso for meu filho, ficarei isento de pena em razão da escusa
absolutória prevista.
Discussão doutrinária
Segundo Maria Berenice Dias:
“A partir da nova definição de violência doméstica, assim
reconhecida também a violência patrimonial, não se
aplicam as imunidades absolutas e relativas dos arts. 181
e 182 do Código Penal quando a vítima é mulher e mantém
com o autor da infração vínculo de natureza familiar.
 Não há mais como admitir o injustificável afastamento da
pena ao infrator que pratica um crime contra sua cônjuge
ou companheira, ou, ainda, alguma parente do sexo
feminino. Aliás, o Estatuto do Idoso, além de dispensar a
representação, expressamente prevê a não aplicação desta
excludente da criminalidade quando a vítima tiver mais
de 60 anos.”
 Para Rogério Sanches discorda de Maria Berenice:

 Ousamos discordar. A uma, deve ser alertado que o Estatuto do Idoso,


para impedir as escusas quando a vítima é pessoa idosa, foi
expresso[2] (diferente da Lei Maria da Penha, que nada dispôs nesse
sentido, nem implicitamente); a duas, não permitir a imunidade para o
marido que furta a mulher, mas permiti-la quando a mulher furta o
marido, é ferir, de morte, o princípio constitucional da isonomia (aliás, a
Lei 11.340/2006 deve garantir à mulher vítima de violência doméstica e
familiar especial proteção, e não simplesmente à mulher, mesmo quando
autora!).

Nesse mesmo sentido já se posicionou o STJ (RHC 42.918 – RS, Relator Min.
Jorge Mussi, julgado em 05/8/14):
 “1. O artigo 181, inciso I, do Código Penal estabelece imunidade penal absoluta
ao cônjuge que pratica crime patrimonial na constância do casamento.
 (...)
 3. O advento da Lei 11.340/2006 não é capaz de alterar tal entendimento, pois
embora tenha previsto a violência patrimonial como uma das que pode ser
cometida no âmbito doméstico e familiar contra a mulher, não revogou quer
expressa, quer tacitamente, o artigo 181 do Código Penal.
 4. A se admitir que a Lei Maria da Penha derrogou a referida imunidade, se
estaria diante de flagrante hipótese de violação ao princípio da isonomia, já
que os crimes patrimoniais praticados pelo marido contra a mulher no âmbito
doméstico e familiar poderiam ser processados e julgados, ao passo que a
mulher que venha cometer o mesmo tipo de delito contra o marido estaria
isenta de pena.
 5. Não há falar em ineficácia ou inutilidade da Lei 11.340/2006 ante a
persistência da imunidade prevista no artigo 181, inciso I, do Código Penal
quando se tratar de violência praticada contra a mulher no âmbito doméstico
e familiar, uma vez que na própria legislação vigente existe a previsão de
medidas cautelares específicas para a proteção do patrimônio da ofendida.
 6. No direito penal não se admite a analogia em prejuízo do réu, razão pela
qual a separação de corpos ou mesmo a separação de fato, que não extinguem
a sociedade conjugal, não podem ser equiparadas à separação judicial ou o
divórcio, que põem fim ao vínculo matrimonial, para fins de afastamento da
imunidade disposta no inciso I do artigo 181 do Estatuto Repressivo”.
 Posto isso, caso superada a barreira do necessário respeito à isonomia, a
vedação das escusas dos arts. 181 e 182 do Código Penal para crimes contra o
patrimônio da mulher no ambiente doméstico e familiar pressupõe o devido
processo legislativo (lei), evitando teses que fomentam a analogia “in malam
partem”.

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