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Receptação

 Art. 180. Adquirir, receber, transportar,


conduzir ou ocultar, em proveito próprio
ou alheio, coisa que sabe ser produto de
crime, ou influir para que terceiro, de boa
fé, a adquira, receba ou oculte:
 Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro)
anos e multa.
Crime acessório, cuja existência pressupõe a
prática de um delito antecedente (crime
pressuposto).

O tipo menciona “produto de crime” para a


caracterização da receptação, portanto,
aquele que tem sua conduta ligada a uma
contravenção anterior não comete
receptação.
 A receptação é crime contra o
patrimônio, porém, o crime antecedente
não precisa estar previsto no título dos
crimes contra o patrimônio, mas é
necessário que cause prejuízo a alguém

 (exemplo: receber coisa produto de


peculato).
 A receptação é crime de

 Ação Pública Incondicionada,


independente da espécie de ação do
crime anterior
 A receptação divide-se em dolosa e
culposa.

 A receptação dolosa: possui as seguintes


modalidades:
 a) simples, que pode ser própria (caput, 1ª
parte) ou imprópria (caput, 2ª parte);
 b) qualificada (par. 1º);
 c) agravada (par. 6º);
 d) privilegiada (par. 5º, 2ª parte);
 1. Receptação Dolosa Simples – Artigo 180,
caput, do Código Penal
 Receptação própria – artigo 180, “caput”,
primeira parte, do Código Penal
 São 5 as condutas típicas:
 adquirir: obter a propriedade a título oneroso ou
gratuito;
 receber: obter a posse (tomar emprestado);
 transportar: levar de um lugar para outro.
 conduzir: estar na direção de meio de transporte;
 ocultar: esconder, colocar o objeto em um local
onde não possa ser encontrado por terceiros.
 As duas últimas figuras foram introduzidas
no Código Penal pela Lei n. 9.426/96.

 Na receptação dolosa do caput aplica-se o


privilégio previsto no § 2.º do artigo 155 do
Código Penal, como dispõe a segunda parte
do § 5.º do artigo 180 do Código Penal.
 Consumação
 É delito material.

 Consuma-se no exato instante em que o


agente adquire, recebe, oculta, conduz ou
transporta, sendo que os três últimos
núcleos tratam de crime permanente cuja
consumação protrai-se no tempo, permitindo
o flagrante a qualquer momento.
 Tentativa
 A tentativa é possível.

 Ex. sujeito é contratado para conduzir veículo


roubado e acaba sendo flagrado para
conduzir veículo roubado antes de tomar sua
direção.
 3 Elemento subjetivo
 É o dolo direto. O agente deve ter efetivo
conhecimento da origem ilícita do objeto.
 Não basta o dolo eventual. Se assim agir, o
fato será enquadrado na modalidade culposa
do crime.

 O dolo subseqüente não configura o delito,


como no caso de o agente vir a descobrir
posteriormente que a coisa por ele adquirida
é produto de crime.
 A receptação distingue-se do
favorecimento real (art 349 CP) porque
neste o agente oculta o proveito do crime
pretendendo auxiliar o infrator;

 já na receptação, o fato é praticado em


proveito próprio ou alheio, ou seja, há
intenção de lucro e não de favorecer o
sujeito ativo do delito anterior.
 Sujeito ativo: qualquer pessoa, já que trata-
se de um crime comum.

 Sujeito passivo: vítima do crime


antecedente

 Elemento Subjetivo: a receptação dolosa


pressupõe que o agente saiba, e tenha plena
ciência da origem criminosa do bem.
 Objeto Material:

 deve ser produto do crime, ou seja, ter sido


obtida pelo autor do crime antecedente
justamente através de sua conduta
delituosa.

 Já o instrumento do crime (revólver usado


no roubo ou pagamento de homicídio de
alguém) não pode ser considerado objeto
material da receptação.
 Quem guarda instrumento do crime com
o fim de dar cobertura ao criminoso
responde por favorecimento pessoal art.
348 CP.

 Não haverá descaracterização do delito


de receptação o fato do objeto ter sofrido
transformação para depois ser
transferido ao receptador, uma vez que a
lei refere-se indistintamente a produto do
crime.
 Receptação imprópria – artigo 180,
“caput”, segunda parte, do Código Penal

 A receptação imprópria consiste em influir


para que terceiro, de boa-fé, adquira, receba
ou oculte objeto produto de crime.
 Influir significa persuadir, convencer,
instigar alguém etc.
 A pessoa que influi recebe o nome de
intermediário, não podendo ser o autor do
delito antecedente e, necessariamente, tem
de conhecer a origem espúria do bem,
enquanto o terceiro (adquirente) deve
desconhecer o fato.

 Quem convence um terceiro de má-fé é


partícipe da receptação desse
 Consumação

 A consumação ocorre no exato instante


em que o agente mantém contato com o
terceiro de boa-fé, ainda que não o
convença a adquirir, receber ou ocultar.


 É crime formal.

 Assim, não se admite tentativa, pois ou o


agente manteve contato com o terceiro
configurando-se o crime ou não,
tornando-se fato atípico.
 Artigo 180, § 4.o, do Código Penal
 Trata-se de norma penal explicativa que
dispõe sobre a autonomia da receptação,
traçando duas regras: a receptação é
punível ainda que desconhecido o autor do
crime antecedente, ou isento de pena.
 São causas de isenção de pena que não
atingem o delito de receptação:
 excludentes de culpabilidade
(ex:inimputabilidade);
 escusas absolutórias art 181 CP.
 Assim, comete crime de receptação quem
adquire objeto furtado por um alienado
mental, por exemplo.

 De acordo com o disposto no artigo 108 do


Código Penal, a extinção da punibilidade do
crime anterior não atinge o delito que dele
dependa, salvo duas exceções: abolitio
criminis e anistia.
 Sujeito Ativo
 Pode ser praticado por qualquer pessoa,
desde que não seja o autor, co-autor ou
partícipe do delito antecedente.

 O advogado não se exime do crime


com o argumento de que está recebendo
honorários advocatícios.
 Sujeito Passivo
 É a mesma vítima do crime antecedente.
 O tipo não exige que a coisa seja alheia, no
entanto, o proprietário do objeto não
comete receptação quando adquire o bem
que lhe havia sido subtraído, porque não se
pode ser sujeito ativo e passivo de um
mesmo crime.
 Tem-se como exceção o mútuo pignoratício
– alguém toma um empréstimo e deixa com
o credor uma garantia.

 Terceiro furta o objeto, sem qualquer


participação do proprietário, e oferece a
esse, que adquire com o intuito de
favorecer-se.

 Há receptação porque o patrimônio do


credor foi lesado com a perda da garantia.
 Objeto Material
 A coisa deve ser produto de crime ainda que
tenha sido modificado, como, por exemplo, o
furto de automóvel – há receptação mesmo
que sejam adquiridas apenas algumas peças.
 O instrumento do crime (arma, chave falsa
etc.) não constitui objeto do crime de
receptação, pois não é produto de crime.
 Pergunta: Um imóvel pode ser objeto de
receptação?
 Resposta: A doutrina não é pacífica:
 Como a lei não exige que a coisa seja
móvel, tal como faz em alguns delitos
(exemplo: artigo 155 do Código Penal),
Fragoso entende que pode ser objeto de
receptação.
 Na opinião dos Professores Damásio de
Jesus, Nelson Hungria e Magalhães
Noronha, a palavra receptação pressupõe o
deslocamento do objeto, tornando
prescindível que o tipo especifique “coisa
móvel”; dessa forma, excluem a
possibilidade de um imóvel ser objeto de
receptação.

 Essa é a posição do Supremo Tribunal


Federal.

 Causa de Aumento – Artigo 180, § 6.o, do
Código Penal
 Se o objeto é produto de crime contra a União,
o Estado, o Município, concessionária de serviço
público ou sociedade de economia mista, a pena
do caput aplica-se em dobro.
 O agente deve saber que o produto do crime
atingiu uma das entidades mencionadas.
 Se assim não fosse, haveria responsabilidade
objetiva.
 Repise-se que a figura do § 6.o só se aplica à
receptação dolosa do caput.
 Receptação Qualificada – Artigo 180, § 1.o, do
Código Penal
 A pena é de reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos,
e multa se o crime é praticado por comerciante
ou industrial no exercício de suas atividades, que
deve saber da origem criminosa do bem.
 O nomem juris está incorreto, pois não se trata
de qualificadora, mas sim de um tipo autônomo
que contém verbos não previstos no caput. Além
disso, é crime próprio, pois só pode ser cometido
por comerciante ou industrial.
 Interpretação da expressão deve saber:
 Pergunta: Como punir o comerciante que
sabe da procedência ilícita (dolo direto)?
 A questão não é pacífica:
 O § 1.º tanto prevê as condutas de quem
sabe (dolo direto) quanto as de quem deve
saber (dolo eventual), visto que, embora
empregue somente a expressão “deve
saber”, a conduta de quem sabe encontra-se
abrangida, pois se praticar a conduta com
dolo eventual qualifica o crime, por óbvio que
praticá-la com dolo direto também deve
qualificar.
 Para o Prof. Damásio de Jesus, o
comerciante que “sabe” (dolo direto) só
pode ser punido pela figura simples do
caput, enquanto o comerciante que “deve
saber” responde pela forma qualificada do §
1.o. Como essa interpretação poderia gerar
condenação injusta, pois a conduta mais
grave (dolo direto) teria pena menor, o Prof.
Damásio de Jesus entende que nos dois
casos (dolo direto e eventual) deve ser
aplicada a pena do caput.
 Artigo 180, § 2.o, do Código Penal
 É uma norma de extensão, pois explica o
que se deve entender por “atividade
comercial”.
 Para efeito do § 1.º, considera-se
comerciante aquele que exerce sua
atividade de forma irregular ou clandestina,
inclusive a exercida em residência. Citamos
como exemplo o camelô e o desmanche
ilegal.
 Receptação Culposa – Artigo 180, § 3.o, do
Código Penal
 Adquirir e receber são os verbos do tipo, que excluiu
a conduta ocultar por se tratar de hipótese
reveladora de dolo.
 Os crimes culposos, em geral, têm o tipo aberto. A
lei não descreve as condutas, cabendo ao juiz a
análise do caso concreto. A receptação culposa é
exceção, pois a lei descreve os parâmetros
ensejadores da culpa:
 Natureza do objeto: certos objetos exigem maiores
cuidados quando de sua aquisição. Exemplo: no
caso de armas de fogo deve-se exigir o registro.
 Desproporção entre o valor de mercado e o
preço pago: deve haver uma desproporção
considerável, que faça surgir no homem
médio uma desconfiança.

 Condição do ofertante: quando é pessoa


desconhecida ou que não tem condições de
possuir o objeto, como, por exemplo, no
caso do mendigo que oferece um relógio de
ouro.
 O tipo abrange o dolo eventual. Entendem a
doutrina e a jurisprudência que o dolo
eventual não se adapta à hipótese do caput
do artigo 180 do Código Penal, que pune
apenas o dolo direto, enquadrando-se na
receptação culposa prevista no § 3.º do
artigo.
 Consumação
 Ocorre consumação quando a compra ou o
recebimento se efetivam.

 Tentativa
 Não cabe tentativa, porque não se
admite tentativa de crime culposo.
 Artigo 180, § 5.o, do Código Penal
 O parágrafo prevê, na primeira parte, o
perdão judicial, que somente é aplicado à
receptação culposa, desde que:
 o agente seja primário;
 o juiz considere as circunstâncias.
 Trata-se de direito subjetivo do réu e não de
faculdade do juiz em aplicá-lo – não
obstante a existência da expressão pode.
Receptação de animal

 Art. 180-A.  Adquirir, receber, transportar, conduzir,


ocultar, ter em depósito ou vender, com a finalidade de
produção ou de comercialização, semovente
domesticável de produção, ainda que abatido ou
dividido em partes, que deve saber ser produto de
crime:          (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
 Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e
multa.         (Incluído pela Lei nº 13.330, de 2016)
 Diferentemente da receptação qualificada
do art. 180, §1º do CP, na receptação de
animal o agente não precisa estar no
exercício de atividade comercial ou
industrial (ainda que comércio irregular ou
clandestino, inclusive em residência – art.
180, §2º do CP), mas apenas ter a
intenção de comercializar ou produzir.
Obviamente é preciso demonstrar com
elementos concretos a presença dessa
finalidade especial.
 Lamentavelmente o legislador se olvidou de estender o
benefício do §5º do art. 180 do CP (criminoso primário e
coisa receptada de pequeno valor) ao novo crime de
receptação de animal. Como seria desproporcional aplicar
a benesse a um crime mais grave (art. 180, §1º do CP) e
vedá-la ao delito de igual natureza e menos grave (art.
180-A do CP), é perfeitamente possível a analogia in
bonam partem, método de colmatação do ordenamento
jurídico penal. Em consequência, aplicando-se a teoria da
pior das hipóteses (sanção máxima), a incidência do
menor percentual de diminuição (1/3) para a pena máxima
da receptação de animal (5 anos) resulta em pena de 3
anos e 2 meses, dentro do patamar de concessão de
fiança pela autoridade policial.
 Caso o agente adquira ou receba animal
que, por sua natureza ou pela
desproporção entre o valor e o preço, ou
pela condição de quem a oferece, deva
presumir-se obtida por meio criminoso,
responde pela figura culposa do art. 180,
§3º do CP, desde que haja elementos
acerca da origem ilícita da res.
 Nada impede o concurso de crimes entre crime ambiental
de maus-tratos (art. 32 da Lei 9.605/98) e abigeato ou
receptação de animal, tendo em vista que há proteção a
bens jurídicos distintos, ou tampouco a aplicação do
princípio da consunção caso o animal seja atingido única e
exclusivamente como meio para a concretização do furto
ou receptação.

 A conduta daquele que transporta e comercializa gado de


procedência ignorada era tipificada também como crime
contra as relações de consumo do art. 7º da Lei 8.137/90.
Após discussões, entendeu-se, acertadamente, por
manter a conduta somente como delito de receptação no
art. 180-A do CP, evitando dupla tipificação.

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