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CURSO SUPERIOR DE TÉCNICO DE POLÍCIA

OSTENSIVA E PRESERVAÇÃO DA ORDEM


PÚBLICA

Direito Penal II

JANEIRO - 2022
essdmaterialdidatico@policiamilitar.sp.gov.br
Atualização: Cap PM Fernando Antônio de Moura, da Essd.
Cb PM Marcio Silva, do CIAF;

2º CICLO DE ENSINO
Sumário
Aula 1 e 2 - Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso e o respeito aos mortos: Violação de Sepultura:
Generalidade e Conceitos; Destruição, subtração ou ocultação de cadáver: Generalidade e Conceitos;
Vilipêndio de Cadáver: Generalidade e Conceitos. Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual: Estupro:
Generalidade e conceitos; Sujeito ativo e passivo; Tipo objetivo e subjetivo; Consumação e tentativa;
Violação sexual mediante fraude: Generalidades e conceitos...................................................................4
Aula 3 e 4 - Assédio Sexual (Lei Federal 10.224/01): Generalidades e conceitos. Estupro de Vulnerável:
Generalidade e conceitos; Sujeito ativo e passivo; Tipo objetivo e subjetivo; Consumação e tentativa;
Corrupção de menores: Generalidades e conceito. Favorecimento da prostituição ou outra forma de
exploração sexual: Generalidade e conceitos; Casa de prostituição: Generalidade e conceitos; Rufianismo:
Generalidade e conceitos;...........................................................................................................................9
Aula 5 e 6 - Do Ultraje Público ao Pudor: Ato obsceno: Generalidade e conceitos; Exclusão do crime;
Escrito ou objeto obsceno: Generalidade e conceitos. Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública; Dos
Crimes de Perigo Comum: Incêndio: Generalidade e conceitos; Aumento de pena; Incêndio culposo. Dos
Crimes Contra a Saúde Pública: Charlatanismo; Curandeirismo; Dos Crimes Contra a Paz Pública:
Incitação ao crime;....................................................................................................................................15
Aula 7 e 8 - Apologia de crime ou criminoso; Associação Criminosa. Dos Crimes Contra a Fé Pública:
Da Moeda Falsa: Moeda Falsa; Petrechos para falsificação de moeda; Generalidades. Da Falsidade de
Títulos e Outros Papéis Públicos: Falsificação de papéis públicos. Petrechos de falsificação..................21
Aula 9 e 10 - Da Falsidade Documental: Falsificação de documento público; Falsificação de documento
particular. Da Falsidade Documental: Falsidade ideológica; Falsidade de atestado médico; Uso de
documento falso; De Outras Falsidades: Falsa identidade; Adulteração de sinal identificador de veículo
automotor...................................................................................................................................................26
Aula 11 e 12 - Dos Crimes Contra a Administração Pública: Dos Crimes Praticados por Funcionário
Público Contra a Administração em Geral: Peculato e suas modalidades. Inserção de dados falsos em
sistema de informações; Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações...............32
Aula 13 e 14 - Concussão; Excesso de exação; Corrupção passiva; Prevaricação...................................36
Aula 15 e 16 - Condescendência criminosa; Advocacia administrativa; Funcionário público
(conceito)..................................................................................................................................................40
Aula 17 e 18 - Dos Crimes Praticados por Particular Contra a Administração em Geral: Usurpação de
função pública; Resistência; Desobediência; Dos Crimes Praticados por Particular Contra a
Administração em Geral: Desacato; Corrupção ativa..............................................................................42
Aula 19 e 20 - Dos Crimes Contra a Administração da Justiça: Denunciação caluniosa; Comunicação
falsa de crime ou contravenção; Autoacusação falsa; Falso testemunho ou falsa perícia........................46
Aula 21 e 22 - Coação no curso do processo; Exercício arbitrário das próprias razões; Fraude processual;
Favorecimento pessoal; Favorecimento real; Exercício arbitrário ou abuso de poder.............................49
Aula 23 e 24 - Fuga de pessoa presa ou submetida à medida de segurança; Evasão mediante violência
contra pessoa. Arrebatamento de preso; Patrocínio infiel; Exploração de prestígio; Desobediência à
decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito...............................................................................53
Aula 25 e 26 - Lei de abuso de autoridade...............................................................................................57
Aula 27 e 28 - Lei de drogas.....................................................................................................................66
Aula 29 e 30 - Lei de drogas.....................................................................................................................74
Aula 31 e 32 – Lei de tortura ...................................................................................................................79
Aula 33 e 34 - Estatuto da criança e do adolescente.................................................................................83
Aula 35 e 36 - Estatuto da criança e do adolescente ................................................................................87
Aula 37 e 38 - Estatuto do idoso ..............................................................................................................96
Aula 39 e 40 - Leis de crimes ambientais ..............................................................................................101
Aula 41 e 42 - Leis de crimes ambientais ..............................................................................................103
Aula 43 e 44 - Estatuto do Desarmamento ............................................................................................106
Aula 45 e 46 - Estatuto do Desarmamento ............................................................................................114
Aula 47 e 48 - Estatuto do Desarmamento ............................................................................................116
Aula 49 e 50 - Código de defesa do Consumidor (crimes) ...................................................................121
Aula 51 e 52 - Lei de Violência Doméstica...........................................................................................125
Aula 53 e 54 - Crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor......................................................130
Aula 55 e 56 - Crimes Hediondos..........................................................................................................134
Aula 57 e 58 - Crimes Hediondos..........................................................................................................136
Aula 59 e 60 - Organização Criminosa..................................................................................................138
Aula 61 e 62 - Organização Criminosa..................................................................................................141
Aula 63 e 64 - Contravenções Penais.....................................................................................................143
Aula 65 e 66 - Contravenções Penais.....................................................................................................145
Aula 67 e 68 - Contravenções Penais.....................................................................................................148
Referências Bibliográficas.....................................................................................................................154
Aula 1 e 2 - Dos Crimes Contra o Sentimento Religioso e o respeito aos mortos: Violação de Sepultura:
Generalidade e Conceitos; Destruição, subtração ou ocultação de cadáver: Generalidade e Conceitos; Vilipêndio de
Cadáver: Generalidade e Conceitos. Dos Crimes Contra a Liberdade Sexual: Estupro: Generalidade e conceitos;
Sujeito ativo e passivo; Tipo objetivo e subjetivo; Consumação e tentativa; Violação sexual mediante fraude:
Generalidades e conceitos.
DOS CRIMES CONTRA O SENTIMENTO RELIGIOSO E O RESPEITO AOS MORTOS
VIOLAÇÃO DE SEPULTURA
Considerações iniciais: Disciplina o art. 210 do Código Penal: ―Violar ou profanar sepultura ou urna
funerária: Pena — reclusão, de um a três anos, e multa‖.
O crime em estudo tem o intuito de proteger o sentimento de respeito pelos mortos, Nelson Hungria,
sustenta que ―a lei penal protege não é a paz dos mortos, mas o sentimento de reverência dos vivos para
com os mortos. O respeito aos mortos (do mesmo modo que o sentimento religioso) é um relevante valor
ético-social, e, como tal, um interesse jurídico digno, por si mesmo, da tutela penal.‖
Tipo objetivo: Os verbos núcleo do tipo (ações nucleares do tipo) estão traduzidos nos verbos:
a) violar- abrir, descobrir, destruir, no caso, sepultura ou urna funerária. Com a violação, o cadáver ou as
cinzas do defunto devem ficar expostos, mas não há necessidade de que sejam removidos; ou
b) profanar - tratar com desprezo, ultrajar, macular, aviltar, por exemplo, jogar excrementos sobre a
sepultura ou urna funerária, destruir os ornamentos, escrever palavras injuriosas.
Objeto material: sepulcro, a tumba e o túmulo e tudo que for construído em torno, lápide por exemplo.
Deve necessariamente conter o cadáver. Urna funerária compreende as caixas, cofres ou vasos que contêm
as cinzas ou ossos do morto.
Tipo subjetivo: É o dolo, verificado na vontade livre e consciente do agente em violar ou profanar
sepultura ou urna funerária. Crime que não se processa na modalidade culposa
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: Sujeito passivo é a coletividade, a família e os amigos do falecido, sendo por esse motivo
titulado como crime vago por não ter apenas uma pessoa como vitima.
Consumação: com a violação ou profanação de sepultura ou urna funerária.
Tentativa: perfeitamente admissível.
Particularidade: O tipo penal é alternativo, isto é, a pratica das duas condutas (violar e profanar) leva a
configuração de um só delito. Ressalta-se que não comete o crime em tela, a pessoa que agir no exercício
regular do direito, aquele que procede a mudança do cadáver ou de seus restos mortais para outra sepultura,
mediante as formalidades legais (exumação). A ação penal e pública incondicionada
Exemplo prático: João morador de rua caminhava pelo cemitério e ao passar em frente uma sepultura e
verificar que ali estava enterrada uma mulher decide abrir para vê-la, após abri, observou que não era uma
mulher, deixa tudo do jeito que esta e foge do local, sendo preso em flagrante em poucos metros.

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DESTRUIÇÃO, SUBTRAÇÃO OU OCULTAÇÃO DE CADÁVER
Considerações iniciais: Disciplina o art. 211 do Código Penal: ―Destruir, subtrair ou ocultar cadáver ou
parte dele: Pena — reclusão, de um a três anos, e multa‖. O crime em tela tem como objeto jurídico a
proteção do sentimento de respeito pelos mortos
Tipo objetivo: Os verbos núcleo do tipo (ações nucleares do tipo) estão traduzidos nos verbos:
a) destruir — atentar contra a existência da coisa, por exemplo, queimar ou esmagar o cadáver ou parte
dele, mas não é necessária a destruição total;
b) subtrair— significa tirar o cadáver ou parte dele da esfera de proteção ou guarda da família, amigos,
vigias do cemitério, a subtração pode dar-se antes ou depois do sepultamento, por exemplo, haverá
subtração se, durante um velório, pessoas tiram o corpo do caixão e fogem com ele; ou
c) ocultar — significa esconder, mas sem que isso implique destruição do cadáver ou parte dele. Há apenas
o desaparecimento do objeto do crime, por exemplo, após o atropelamento, o agente esconde a vítima no
interior de uma mata ou a joga em um rio ou a esconde em sua residência. A ocultação somente pode
ocorrer antes do sepultamento.
Objeto material: É o cadáver ou parte dele, não se considera o esqueleto humano ou as suas cinzas.
Exclui-se também a múmia do conceito de cadáver, sendo certo que a sua subtração pode configurar o
crime de furto. A lei também se refere à parte do cadáver, por exemplo, em acidente de aeronave somente
se logra encontrar a cabeça do falecido. Ressalva a doutrina que as partes amputadas de corpo vivo não são
tuteladas pela lei.
Tipo subjetivo: É o dolo, verificado na vontade livre e consciente do agente em destruir, subtrair ou
ocultar cadáver.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar o delito em tela, inclusive a própria família do morto.
Sujeito passivo: Por tratar-se de crime vago, o sujeito passivo é a coletividade, em primeiro plano;
secundariamente pode-se incluir a família e os amigos do falecido.
Consumação: Na modalidade de destruir, se consuma com a destruição total ou parcial do cadáver. Na
modalidade ocultar, o crime se consuma com o desaparecimento do cadáver ou de parte dele. Finalmente,
na modalidade subtrair, o crime se consuma com a retirada do cadáver ou de parte dele da esfera de
proteção e guarda da família, amigos etc.
Tentativa: Plenamente admissível
Particularidade: O tipo penal é alternativo, isto é, a pratica das três condutas (destruir, subtrair ou ocultar)
leva a configuração de um só delito. Haverá concurso material de crimes se o agente matar a vítima e
depois destruir ou ocultar o seu cadáver (CP, arts. 121 e 211). Se o agente para destruir ou subtrair o
cadáver tiver de violar a sua sepultura (CP, art. 210), haverá crime único. A ação e pública incondicionada.
Exemplo prático: João fazendo parte de uma facção criminosa XPC, descobre que seu rival Pedro, morreu
e que seu corpo será velado no clube esportivo da comunidade vizinha. Com o intuito de angariar um maior
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posto dentro do crime, durante o velório, João subtrai o corpo de Pedro levando até sua comunidade e
atendo fogo, a fim de mostrar força. João e preso dias depois e respondera por um só crime, sendo ele o
capitulado no artigo em estudo.

VILIPÊNDIO DE CADÁVER
Considerações iniciais: Disciplina o art. 212 do Código Penal: ―Vilipendiar cadáver ou suas cinzas: Pena
— detenção, de um a três anos, e multa‖. O crime em tela tem como objeto jurídico a proteção do
sentimento de respeito pelos mortos
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) esta traduzidos no verbo vilipendiar, isto é,
ultrajar, tratar com desprezo, no caso, o cadáver ou suas cinza. O vilipêndio pode ser praticado de diversos
modos, por exemplo, atirar excrementos no cadáver, proferir palavrões contra ele, praticar atos sexuais com
ele. Deve, portanto, a ação criminosa se dar sobre ou junto ao cadáver ou suas cinzas.
Objeto material: É o cadáver ou suas cinzas. Segundo parte da doutrina a vontade da lei é tutelar não só
estas e o cadáver, mas também as partes dele, o esqueleto e etc.,
Tipo subjetivo: O dolo, consistente na vontade livre e consciente de vilipendiar o cadáver e suas cinzas.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, incluindo a própria família do morto.
Sujeito passivo: É a coletividade, em primeiro plano; secundariamente pode-se incluir a família e os
amigos do falecido.
Consumação: Com a pratica da conduta vilipendiadora.
Tentativa: É admissível, exceto no vilipêndio por meio de palavras.
Particularidade: Se o vilipêndio configurar calúnia contra o falecido, haverá concurso formal de crimes
(arts. 138, § 2º, e 212). Este crime se processa através de ação penal pública incondicionada
Exemplo prático: Maria apaixonada por João descobre que este veio a falecer. Impelida por um amor
incondicional, resolveu ir até sua sepultura abri e manter relações sexuais com corpo de João. Maria e pega
em flagrante, processada e condenado pelo crime em estudo, ante o vilipendio ao cadáver de João.

DOS CRIMES CONTRA A LIBERDADE SEXUAL


ESTUPRO
Considerações iniciais: Disciplina o art. 213 do Código Penal: ―Constranger alguém, mediante violência
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos. O crime em estudo tem como objeto jurídico a
proteção a liberdade sexual.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo constranger (obrigar,
forçar, compelir) alguém (pessoa humana), mediante o emprego de violência ou grave ameaça, à conjunção
carnal (cópula entre pênis e vagina), ou à prática (forma comissiva) de outro ato libidinoso (masturbação,
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coito anal, sexo oral, toque nas partes pudentes), bem como permitir que com ele se pratique (forma
passiva) outro ato libidinoso.
Objeto material: A pessoa que sofre o constrangimento
Tipo subjetivo: É o dolo, verificado na vontade de constranger alguém, mediante o emprego de violência
ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato
libidinoso.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, podendo ser o homem ou a mulher.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa, podendo ser o homem ou a mulher. Ressalta-se que a esposa pode ser
vitima de estupro praticado pelo marido.
Consumação: O crime se consuma com a prática do primeiro ato libidinoso, sendo que na hipótese de
conjunção carnal, com a introdução parcial ou total do pênis na vagina.
Tentativa: Plenamente possível, exceto nas modalidades qualificadas, devido à figura do preterdolo.
Particularidade: Tipo misto alternativo - A pratica da conjunção carnal (cópula pênis e vagina) e outro ato
libidinoso em seguida (coito anal), no mesmo contexto, contra a mesma vitima, é crime único. O crime de
estupro e um delito hediondo (art. 1º, inciso V, da lei 8072/90 – Lei de crimes hediondos). Este crime se
processa através de ação penal publica incondicionada
Qualificadoras: Disciplina o §1º do art. 213 do C.P. ―Se da conduta resulta lesão corporal de natureza
grave ou se a vítima é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a
12 (doze) anos.‖. Na primeira parte, a pena será superior se da conduta advier lesão grave. Trata-se de
figura preterdolosa, pois o resultado adveio de culpa, caso o agente queira o dois resultado, o estupro e a
lesão corporal, estaremos diante de um concurso material de crimes (art. 213 e 129 §§1 e 2)
Na segunda parte, traz o fator idade, com o objetivo de tutelar pessoas com parcial vulnerabilidade, ante a
sua falta de maturidade
Disciplina o §2º do art. 213 do C.P. ―Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta)
anos.‖. Trata-se também de figura preterdolosa, ou seja, o agente deve dolo na conduta antecedente
(estupro) e culpa na conduta consequente (morte). Caso exista dolo no estupro e dolo na morte da vitima,
estaremos diante do concurso material de crimes (art.213 e art. 121).
Causas de aumento de pena: Ao crime de estupro aplicam-se as causas de aumento de pena prevista nos
artigos 226 e 234-a do CP, que veremos adiante.
Exemplo prático: 1- João compelido por um desejo incontrolável por Maria, arma-se de uma faca e vai até
o local que ela morava, a compelindo a manter relações sexuais, com o fito de satisfazer a própria lascívia.
2- João compelido por um desejo incontrolável por Maria começa agredir seu filho, prometendo para no
momento em que ela ceder aos seus desejos sexuais, que seria a copula pênis e vagina.

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3- Stive, Policial Militar, flagra Joana na prática de tráfico de entorpecentes, exigindo que ela pratique
relações sexuais para não ser presa. Neste exemplo temos concurso formal (art. 213 e art. 319
―prevaricação‖)
4- João compelido por um desejo incontrolável por Maria, arma-se de um revolver e determina que ela se
masturbe diante dele, a liberando em seguida. Observe que nesse exemplo, João não tocou em Maria e
mesmo assim praticou o crime de estupro.

VIOLAÇÃO SEXUAL MEDIANTE FRAUDE


Considerações iniciais: Disciplina o art. 215 do CP ―Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade da
vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.‖ . O crime em estudo tem como objeto jurídico a
liberdade sexual.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo ter (obter ou
conseguir) conjunção carnal (cópula entre pênis e vagina) ou praticar (realizar, executar) outro ato
libidinoso (coito anal, sexo oral, masturbação) com alguém (pessoa humana), mediante fraude (ardil,
engodo, engano, logro) ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de vontade (meio que
guarde similaridade com a fraude) da vitima.
Objeto material: A pessoa que sofre o constrangimento
Tipo subjetivo: E o dolo, traduzido na vontade livre e consciente de ter conjunção carnal ou praticar outro
ato libidinoso com alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre manifestação de
vontade da vitima.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, podendo ser homem ou mulher.
Sujeito passivo: Qualquer pessoa, podendo ser homem ou mulher, ressalvado os sujeitos do art. 217
Consumação: Com a prática do ato libidinoso, no caso da conjunção carnal, com a introdução total ou
parcial do pênis na vagina. Não exigindo a efetiva satisfação sexual.
Tentativa: É admissível
Particularidade: Não se exige que o agente do crime realmente vise com a prática do crime a sua
satisfação da libidinosa. Se houver engano por parte da vítima, afasta-se o crime, pois exige-se a fraude.
Vale-se frisar que a fraude e o meio executório deste crime.
Exemplo prático: João, curandeiro, convence Maria que é necessário que ele introduza o pênis na vagina
dela, para que o espirito mal possa ser expulso.

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Aula 3 e 4 - Assédio Sexual: Generalidades e conceitos. Estupro de Vulnerável: Generalidade e conceitos;
Sujeito ativo e passivo; Tipo objetivo e subjetivo; Consumação e tentativa; Corrupção de menores:
Generalidades e conceito. Favorecimento da prostituição ou outra forma de exploração sexual:
Generalidade e conceitos; Casa de prostituição: Generalidade e conceitos; Rufianismo: Generalidade e
conceitos.

ASSÉDIO SEXUAL
Considerações iniciais: Disciplina o art. 216-A do CP ―Constranger alguém com o intuito de obter
vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de superior hierárquico ou
ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função: Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois)
anos‖. Tem como objeto jurídico a tutela a dignidade sexual e a liberdade sexual. Nesse tipo penal também
visa a proteção nas relações de trabalho
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo constranger, que
significa forçar, compelir. A conduta tipificada não é a de violentar a vítima e sim a de apenas embaraçá-la.
Não é qualquer gracejo, que caracteriza o assédio. Nas lições de Cezar Roberto Bitencourt, para
caracterização do crime e necessário ―a importunação séria, grave, ofensiva, chantagiosa ou ameaçadora a
alguém subordinado‖. Vale salientar que o crime em estudo, segundo a doutrina, também e chamado
―assédio laboral‖, pois o legislador somente tipificou o assédio decorrente de relação de trabalho, sendo
que se os fatos se derem em outro tipo de relação, como por exemplo a familiar, não estará configurado o
crime em tela.
Objeto material: A pessoa que sofre o constrangimento.
Tipo subjetivo: É o dolo, consistente na vontade livre e consciente de constranger a vítima. Exige- se, a
finalidade de obter vantagem ou favorecimento sexual. Caso o agente tem como objetivo o relacionamento
duradouro e sério, não estará configurado o crime em tela.
Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, já que a lei exige que o agente se prevaleça da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função.
Sujeito passivo: O subordinado ou empregado de menor escalão que o do sujeito ativo.
Consumação: Com a prática do ato constrangedor, sendo irrelevante a obtenção da vantagem ou
favorecimento sexual.
Tentativa: A tentativa e possível, por exemplo por escrito, mas não chega ao conhecimento do destinatário
Particularidade: O assédio pode ser realizado verbalmente, por escrito ou por gestos. A exigência da
vantagem ou favorecimento sexual pode ser para si ou para terceiros, caso este saiba estaremos diante de
concurso de pessoas.
Causas de aumento de pena: Aduz o § 2o ―A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de
18 (dezoito) anos.‖. Apesar de o dispositivo apenas fazer referencia a expressão menor de 18 anos, há
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interpretar a idade mínima de 14 e a máxima de 18 anos.
Exemplo prático: João, CEO da empresa Megaevento, determina que Maria, a secretária, compareça em
sua sala. Maria ao chegar na sala, se depara com João, que informa que ela será demitida, mas caso faça
sexo com ele naquele momento, poderá permanecer no emprego.

ESTUPRO DE VULNERÁVEL
Considerações iniciais: Aduz o art. 217-A do C.P. ―Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com menor de 14 (catorze) anos: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.‖. Complementa o §
1o ―Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com alguém que, por enfermidade ou
deficiência mental, não tem o necessário discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra
causa, não pode oferecer resistência.‖ O referido crime tem como objetos jurídicos a liberdade sexual e o
pleno desenvolvimento das pessoas vulneráveis.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo ter (conseguir,
alcançar) conjunção carnal (cópula entre pênis e vagina) ou praticar (realizar, executar) outro ato
libidinoso (qualquer ação relativa à obtenção de prazer sexual, por exemplo, coito anal, sexo oral) com
menor de 14 anos , com alguém efermo (doente) ou deficiente (portador de retardo ou insuficiência)
mental, que não possua o necessário (indispensável) discernimento (capacidade de distinguir e conhecer o
que se passa, critério, juízo) para a pratica do ato, bem como com alguém que, por outra causa (motivo,
razão), não possa oferecer resistência (força de oposição contra algo).
Objeto material: A pessoa vulnerável
Tipo subjetivo: É o dolo, demonstrado na vontade de ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso.
Não é exigida nenhuma finalidade especial, sendo suficiente a vontade de submeter a vítima à prática de
relações sexuais.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, lembrando que pode ser tanto homem como mulher.
Sujeito passivo: A pessoa vulnerável (menor de 14 anos, enfermo ou deficiente mental sem discernimento
para a prática do ato, ou pessoa com incapacidade de resistência)
Consumação: Com a conjunção carnal ou com a prática de qualquer outro ato libidinoso. Ressalta-se que,
na conjunção carnal, não se exige, para a consumação do crime, a penetração total do pênis na vagina, nem
ejaculação.
Tentativa: Plenamente possível.
Particularidade: Erro de tipo - Muitas pessoas, embora menores de 14 anos, podem aparentar a terceiros
já ter atingido a referida idade. Há as que possuem um corpo físico avantajado ou se maquiam em excesso;
outras, pelas suas atitudes (ex.: prostituição de longa data), parecem ter mais idade do que realmente têm;
enfim, a confusão com o elemento do tipo menor de 14 anos pode eliminar o dolo (não se pune a título de
culpa). Este crime se processa através de ação penal pública incondicionada.
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Qualificadoras: Aduz o § 3o do art. 217-A ―Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave: Pena -
reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.‖. E aduz o § 4o ―Se da conduta resulta morte: Pena - reclusão, de
12 (doze) a 30 (trinta) anos.‖. São figuras preterdolosas (dolo na conduta antecedente e culpa na conduta
consequente). Caso o agente tenha o dolo nas duas condutas, ou seja, dolo no estupro de vulnerável e dolo
no resultado lesão corporal grave ou morte, estaremos diante de um concurso material de crimes.
Disciplina o § 5º ―As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-se
independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter mantido relações sexuais
anteriormente ao crime.‖
Exemplo prático: Tício conhece uma bela jovem e por ela fica atraído, mesmo sabendo que ela possui 13
anos, manteve relações sexuais com ela. No dia seguinte a família da jovem tomou conhecimento do fato e
se dirigiu a delegacia mais próxima, onde foi lavrado o Boletim de ocorrência em desfavor de Tício por
estupro de vulnerável.

CORRUPÇÃO DE MENORES
Considerações iniciais: Disciplina o art. 218 do C.P. ―Induzir alguém menor de 14 (catorze) anos a
satisfazer a lascívia de outrem: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.‖. Crime tem com objeto
jurídico a proteção da moralidade e imaturidade sexuais dos menores de 14 anos.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo induzir (dar a ideia,
sugerir, persuadir) alguém menor de 14 anos a satisfazer (realizar, saciar) a lascívia (prazer sexual) de
outrem. Segundo Rogério Sanches Cunha, o tipo penal do art. 218 ―limitasse, portanto, às práticas sexuais
meramente contemplativas, como, por exemplo, induzir alguém menor de 14 anos a vestir-se com
determinada fantasia para satisfazer a luxúria de alguém‖, caso o induzimento for para a pratica de
conjunção carnal ou ato libidinoso com outrem, o indutor poderá responder na qualidade de partícipe do
crime do art. 217-A (estupro de vulnerável).
Objeto material: A pessoa menor de 14 anos, induzida à satisfação da lascívia de outrem.
Tipo subjetivo: É o dolo, latente na vontade livre e consciente de induzir alguém menor de 14 anos a
satisfazer a lascívia de outrem.
Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa.
Sujeito passivo: E o menor de 14 anos, podendo ser homem ou mulher.
Consumação: Consuma-se com a influência do agente no sentido de levar o menor a praticar atitude
tendente à satisfação da lascívia de outrem. Irrelevante a ocorrência do ato. Titulado como crime formal.
Tentativa: E possível
Exemplo prático: Mévio se dirige até Joana, menor de 14 anos, e induz que ela faça um strip-tease para o
seu amigo Tício, com o intuito de satisfazer a lascívia deste.

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FAVORECIMENTO DA PROSTITUIÇÃO OU OUTRA FORMA DE EXPLORAÇÃO SEXUAL
Considerações iniciais: Disciplina o art. 218-B ―Submeter, induzir ou atrair à prostituição ou outra forma
de exploração sexual alguém menor de 18 (dezoito) anos ou que, por enfermidade ou deficiência mental,
não tem o necessário discernimento para a prática do ato, facilitá-la, impedir ou dificultar que a abandone:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos.‖ Tem como objeto jurídico a moralidade e a imaturidade
sexuais dos menores de 18 anos.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo submeter (subjugar,
dominar, sujeitar alguém a algo), induzir (dar a ideia, sugerir) ou atrair (seduzir, chamar a atenção de
alguém para algo) são os verbos alternativos, cujo objeto é a prostituição ou outra forma de exploração
sexual de pessoa menor de 18 anos ou que, em virtude de enfermidade ou deficiência mental, não tenha o
discernimento necessário para a prática do ato. A segunda parte do tipo penal prevê as seguintes condutas
alternativas: facilitar (tornar acessível ou à disposição); impedir (obstar, colocar qualquer obstáculo) ou
dificultar (tornar algo complicado).
Objeto material: A pessoa menor de 18 anos
Tipo subjetivo: É o dolo, caracterizado na vontade livre e consciente do agente em praticar o disposto do
artigo em estudo.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: Será o menor de 18 anos ou o que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o
necessário discernimento para a prática do ato. Boa parte da doutrina entende que os menores de 14 anos
são abrangidos pelo referido artigo.
Consumação: Com a prática da prostituição ou outra forma de exploração sexual pelas vitimas
Tentativa: A tentativa admissível
Agravantes: Disciplina o § 1o do artigo em tela ―Se o crime é praticado com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa.‖. Neste caso terá o cumulo da pena pecuniária a pena privativa de
liberdade.
Figuras equiparadas: Aduz o § 2o Incorre nas mesmas penas: I - quem pratica conjunção carnal ou outro
ato libidinoso com alguém menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos na situação descrita
no caput deste artigo; II - o proprietário, o gerente ou o responsável pelo local em que se verifiquem as
práticas referidas no caput deste artigo.
No caso do inciso I, passa a prever punição para o cliente, nas mesmas penas daquele que pratica o verbo
núcleo do tipo descrito no artigo em estudo.
No caso do inciso II, pune-se nas mesmas penas do caput, as pessoas referidas que tenha o conhecimento
que ocorre as práticas do verbo do tipo no local.
Particularidades: Trata-se de tipo penal misto alternativo, de ação múltipla ou de conteúdo variado, e a
pratica de duas ou mais condutas caracteriza crime único. Disciplina o § 3o do artigo em tela que ―Na
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hipótese do inciso II do § 2o, constitui efeito obrigatório da condenação a cassação da licença de
localização e de funcionamento do estabelecimento.‖ Em todos os casos, a ação penal e pública
incondicionada.
Exemplo prático: Maria, com 17 anos, trabalhando há dois anos na casa de prostituição tenta abandonar
esta vida, quando e impedida por Tício, que cria obstáculos para que ela não deixe o local que pratica a
prostituição.

CASA DE PROSTITUIÇÃO
Considerações iniciais: Prescreve o art. 229 do CP ―Manter, por conta própria ou de terceiro,
estabelecimento em que ocorra exploração sexual, haja, ou não, intuito de lucro ou mediação direta do
proprietário ou gerente: Pena - reclusão, de dois a cinco anos, e multa.‖. Tem como objeto jurídico a
moralidade sexual e os bons costumes. Há doutrinadores que sustentam que com o advento da Lei n.
12.015/2009, este crime perdeu o nomen iuris, deixando de ser casa de prostituição, passando a se
classificado como ―estabelecimento destinado a exploração sexual.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo manter, isto é,
conservar, sustentar estabelecimento em que ocorra exploração sexual. Pune-se, portanto, o proprietário de
qualquer estabelecimento, destinado ou não à prostituição, em cujo interior ocorra à exploração sexual, por
exemplo, indivíduo que possui um restaurante, mas que em sua edícula permite encontro de clientes com
prostitutas. O mesmo ocorre com a manutenção de casas de massagem, banho, ducha, relax. Caso se
comprove que no interior haja a exploração sexual, haverá o enquadramento típico.
Objeto material: O estabelecimento que ocorre a exploração sexual
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É a coletividade, secundariamente a pessoa explorada sexualmente.
Consumação: Com a efetiva comprovação da habitualidade na manutenção do estabelecimento em que
ocorra a exploração sexual.
Tentativa: Inadmissível, por se tratar de crime habitual.
Particularidades: Tendo em vista o verbo empregado pelo tipo penal, manter, estamos diante de um crime
habitual (exige habitualidade, com reiteração seguida da conduta). A ação penal e pública incondicionada
Exemplo prático: Tício há mais ou menos dois anos, mantém em total funcionamento um bar frequentado
tanto por homens, quanto por mulheres, sendo que muitas delas são prostitutas. Verificado a possibilidade
do aumento de seus lucros, a cerca de um ano, Tício decide disponibilizar quartos no andar de cima para
que as prostitutas possam fazer o atendimento dos clientes.

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RUFIANISMO
Considerações iniciais: Disciplina o art. 230 do C.P ―Tirar proveito da prostituição alheia, participando
diretamente de seus lucros ou fazendo-se sustentar, no todo ou em parte, por quem a exerça: Pena -
reclusão, de um a quatro anos, e multa.‖. Tem como objeto jurídico tutelar a liberdade sexual e a
moralidade.
Conceito de rufianismo: Segundo Guilherme de Sousa Nucci ―é uma modalidade do lenocínio, que
consiste em viver à custa da prostituição alheia. É a atividade exercida por aquele que explora prostitutas e,
consequentemente, incentiva o comércio sexual. O termo equivalente é o cafetão.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo tirar proveito (extrair
lucro, vantagem ou interesse) da prostituição alheia. As formas compostas do núcleo principal (tirar
proveito) são:
a) participando dos lucros (reservando, para si, uma parte do ganho que a prostituta obtém com sua
atividade)
b) fazendo-se sustentar (arranjando para ser mantido, provido de víveres ou amparado). Não se demanda
seja essa a única fonte de renda do sujeito ativo, mas uma delas.
Objeto material: A pessoa prostituída explorada
Tipo subjetivo: É o dolo, não existindo na forma culposa.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, titulada como rufião ou cafetão.
Sujeito passivo: A pessoa que exerce a prostituição.
Consumação: Dá-se a consumação com a participação reiterada do rufião no recebimento dos lucros, bem
como da sua manutenção à custa da prostituta.
Tentativa: Inadmissível
Particularidades: Esta no rol dos crimes habituais. A ação penal é pública incondicionada
Qualificadoras: Aduz o § 1o ―Se a vítima é menor de 18 (dezoito) e maior de 14 (catorze) anos ou se o
crime é cometido por ascendente, padrasto, madrasta, irmão, enteado, cônjuge, companheiro, tutor ou
curador, preceptor ou empregador da vítima, ou por quem assumiu, por lei ou outra forma, obrigação de
cuidado, proteção ou vigilância: Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.‖.
Disciplina o § 2o Se o crime é cometido mediante violência, grave ameaça, fraude ou outro meio que
impeça ou dificulte a livre manifestação da vontade da vítima: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos,
sem prejuízo da pena correspondente à violência.‖.
Exemplo prático: Mévio, casado com Gertrudes, a obriga se prostituir para sustentar a casa e seu vício em
bebida alcoólica, utilizando ainda o direito advindo da prostituição de sua esposa, para gastar em jogo de
baralho.

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Aula 5 e 6 - Do Ultraje Público ao Pudor: Ato obsceno: Generalidade e conceitos; Exclusão do crime;
Escrito ou objeto obsceno: Generalidade e conceitos. Dos Crimes Contra a Incolumidade Pública; Dos
Crimes de Perigo Comum: Incêndio: Generalidade e conceitos; Aumento de pena; Incêndio culposo. Dos
Crimes Contra a Saúde Pública: Charlatanismo; Curandeirismo; Dos Crimes Contra a Paz Pública:
Incitação ao crime;

ATO OBSCENO
Considerações iniciais: Disciplina o art. 233 do CP ―Praticar ato obsceno em lugar público, ou aberto ou
exposto ao público: Pena - detenção, de três meses a um ano, ou multa.‖ O crime em estudo tem como
objeto jurídico tutelar o pudor público.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo praticar (executar,
levar a efeito ou realizar, implicando em movimento do corpo humano e não simplesmente em palavras)
ato ofensivo ao pudor. Tem-se por ato obsceno todo aquele de cunho sexual capaz de ofender o pudor
público médio da sociedade. Esse senso deve ser avaliado de acordo com o lugar e a época em que o crime
foi praticado.
Objeto material: É a pessoa que presencia o ato
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: Por se tratar de crime vago, o sujeito passivo é a coletividade.
Consumação: Por se tratar de crime perigo, se consuma com a prática do ato, não exigindo que tenha sido
presenciado por terceiros.
Tentativa: De difícil verificação
Particularidades: Conforme se verifica no tipo penal, o crime traz um elemento normativo que é a pratica
do ato obsceno não em qualquer lugar, mas sim em lugar público (é aquele ao qual todas as pessoas têm
acesso, por exemplo, ruas, praças.) , ou aberto (aquele cujo acesso é livre ou condicionado, por exemplo,
metrô, cinema, museu, teatro.) ou exposto ao público (é o local privado visível para quem se encontra num
lugar público ou aberto ao público. p. ex. interior de um automóvel). A ação penal e pública
incondicionada.
Exemplo prático: Mévio convida Tícia para almoçar. Durante o almoço o papo foi ficando quente ao
ponto de que eles resolveram ir embora para ficar em um lugar mais tranquilo e a dois. Ocorre que a
empolgação era tão grande que decidiram para o veiculo em uma rua e começar a pratica de atos
libidinosos.

ESCRITO OU OBJETO OBSCENO


Considerações iniciais: Disciplina o art. 234 do CP ―Fazer, importar, exportar, adquirir ou ter sob sua
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guarda, para fim de comércio, de distribuição ou de exposição pública, escrito, desenho, pintura, estampa
ou qualquer objeto obsceno: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.‖. O bem jurídico
tutelado é o pudor publico, a moralidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo fazer (dar existência
ou construir), importar (fazer ingressar no País vindo do estrangeiro), exportar (fazer sair do País com
destino ao exterior), adquirir (obter ou comprar) e ter sob sua guarda (possuir sob sua vigilância e
cuidado). O objeto e algo visível, considerado obsceno. Pode ser por meio escrito, desenho, pintura ou
qualquer outro objeto. A prática de uma ou mais condutas implica na realização de um só delito.
Objeto material: É o escrito, desenho, pintura, estampa ou qualquer outro objeto obsceno.
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É a coletividade
Consumação: Consuma com a prática de uma das condutas previstas no tipo. Trata-se de crime de perigo
Tentativa: É possível (p.ex. tentar importar).
Particularidades: O paragrafo único e seus incisos trazem as figuras equiparadas, que serão apenas da
mesma forma do crime exposto no caput. A ação penal e pública incondicionada
Parágrafo único - Incorre na mesma pena quem:
I - vende, distribui ou expõe à venda ou ao público qualquer dos objetos referidos neste artigo;
II - realiza, em lugar público ou acessível ao público, representação teatral, ou exibição cinematográfica de
caráter obsceno, ou qualquer outro espetáculo, que tenha o mesmo caráter;
III - realiza, em lugar público ou acessível ao público, ou pelo rádio, audição ou recitação de caráter
obsceno.
Exemplo prático: Tício em posse de várias propagandas pornográficas, com o intuito de angariar mais
adeptos ao evento, resolve colocar as propagandas em telefones públicos. Por tal ato foi pego em flagrante,
pelo crime de escrito ou objeto obsceno.

OBSERVAÇÕES: Crimes que serão expostos abaixo são apenas para conhecimento:
Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso com o objetivo de satisfazer a
própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime mais grave.
Registro não autorizado da intimidade sexual
Art. 216-B. Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer meio, conteúdo com cena de nudez ou
ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo e privado sem autorização dos participantes: Pena - detenção, de
6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
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Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em fotografia, vídeo, áudio ou qualquer
outro registro com o fim de incluir pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de cena de sexo ou de
pornografia
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à venda, distribuir, publicar ou
divulgar, por qualquer meio - inclusive por meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou
telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que contenha cena de estupro ou de estupro de
vulnerável ou que faça apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima, cena de sexo,
nudez ou pornografia: Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime mais grave.
§ 1º A pena é aumentada de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se o crime é praticado por agente que
mantém ou tenha mantido relação íntima de afeto com a vítima ou com o fim de vingança ou humilhação.
Exclusão de ilicitude
§ 2º Não há crime quando o agente pratica as condutas descritas no caput deste artigo em publicação de
natureza jornalística, científica, cultural ou acadêmica com a adoção de recurso que impossibilite a
identificação da vítima, ressalvada sua prévia autorização, caso seja maior de 18 (dezoito) anos.
DISPOSIÇÕES GERAIS
―Art. 225. Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título (todos os crimes contra a liberdade sexual
e liberdade sexual de vulnerável), procede-se mediante ação penal pública incondicionada.‖
“Aumento de pena: Art. 226. A pena é aumentada: I – de quarta parte, se o crime é cometido com o
concurso de 2 (duas) ou mais pessoas; II - de metade, se o agente é ascendente, padrasto ou madrasta, tio,
irmão, cônjuge, companheiro, tutor, curador, preceptor ou empregador da vítima ou por qualquer outro
título tiver autoridade sobre ela; IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o crime é praticado: a)
mediante concurso de 2 (dois) ou mais agentes; b) para controlar o comportamento social ou sexual da
vítima‖

DISPOSIÇÕES GERAIS
Aumento de pena: ―Art. 234-A. Nos crimes previstos neste Título (para nosso estudo, de estupro até
escrito e objeto obsceno) a pena é aumentada: III - de metade a 2/3 (dois terços), se do crime resulta
gravidez; IV - de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços), se o agente transmite à vítima doença sexualmente
transmissível de que sabe ou deveria saber ser portador, ou se a vítima é idosa ou pessoa com deficiência.‖
―Art. 234-B. Os processos em que se apuram crimes definidos neste Título correrão em segredo de justiça.‖

DOS CRIMES CONTRA A INCOLUMIDADE PÚBLICA


DOS CRIMES DE PERIGO COMUM
INCÊNDIO
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Considerações iniciais: Disciplina o Art. 250 do C.P. ―Causar incêndio, expondo a perigo a vida, a
integridade física ou o patrimônio de outrem: Pena - reclusão, de três a seis anos, e multa.‖ Bem jurídico
tutelado e a incolumidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo causar (provocar, dar
origem ou produzir). Objeto da conduta é incêndio. Compõe-se com expor (arriscar), que, em verdade, já
contém o fator perigo, podendo-se dizer que ―expor alguém‖ é colocar a pessoa em perigo. Classifica-se
incêndio como o fogo intenso que tem forte poder de destruição e de causação de prejuízo.
Objeto material: É a substância ou objeto incendiado
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É a sociedade
Consumação: Quando ocorrer a conduta de provocar incêndio (lembrar a classificação de incêndio)
Tentativa: E admissível
Particularidades: O tipo exigido para caracterização do crime é o perigo de vida, à integridade física ou
ao patrimônio de outrem. O crime pode ser praticado mediante omissão (o agente que culposamente ateia
fogo à cortina de sua casa e nada faz para apaga-lo.) A ação penal e pública incondicionada
Causas de aumento de pena: ―§ 1º - As penas aumentam-se de um terço:
I - se o crime é cometido com intuito de obter vantagem pecuniária em proveito próprio ou alheio;
II - se o incêndio é:
a) em casa habitada ou destinada a habitação;
b) em edifício público ou destinado a uso público ou a obra de assistência social ou de cultura;
c) em embarcação, aeronave, comboio ou veículo de transporte coletivo;
d) em estação ferroviária ou aeródromo;
e) em estaleiro, fábrica ou oficina;
f) em depósito de explosivo, combustível ou inflamável;
g) em poço petrolífico ou galeria de mineração;
h) em lavoura, pastagem, mata ou floresta.‖
Modalidade culposa: “§ 2º - Se culposo o incêndio, é pena de detenção, de seis meses a dois anos.‖. Nesse
caso o agente causa o incêndio por imprudência, negligencia ou imperícia. Salienta-se que essa modalidade
não incidem as majorantes supramencionadas.
Exemplo prático: Mévio, com inveja de seu colega de turma da faculdade coloca fogo em sua casa a fim
de destruir o patrimônio. O fogo atinge proporções gigantescas, destruindo toda a casa e atingindo demais
casas vizinhas.

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DOS CRIMES CONTRA A SAÚDE PÚBLICA
CHARLATANISMO
Considerações iniciais: Aduz o Art. 283 do C.P. ―Inculcar ou anunciar cura por meio secreto ou infalível:
Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa.‖ O bem jurídico tutelado e a saúde pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo inculcar (apregoar ou
dar a entender) ou anunciar (divulgar ou fazer saber) cura (é o restabelecimento da saúde de alguém, que
estava enfermo) por meio secreto ou infalível. O crime em estudo tem como escopo punir a pessoa que
sendo medico ou não, se promove à custa de métodos questionáveis e perigosos de curar pessoas.
Objeto material: É o anúncio de cura secreta ou infalível.
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Pode ser qualquer pessoa
Sujeito passivo: É a sociedade. No entendimento de Fernando Capez ―a pessoa que venha a ser enganada
pelo charlatão.‖.
Consumação: Com a prática das condutas típicas, independentemente do prejuízo efetivo para a saúde de
terceiros.
Tentativa: É admissível
Particularidades: Um único anúncio que o agente pode curar a AIDS, por exemplo, já configura esse
crime. É crime de perigo abstrato, não se considera crime habitual. A ação penal e pública incondicionada
Forma qualificada pelo resultado: Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste
Capítulo, salvo quanto ao definido no art. 267. (―Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta
lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é
aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se
resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.‖)
Exemplo prático: Tício, após concluir a faculdade de medicina, se vê em uma situação complicada para
conseguir emprego, então decide anunciar que tem um método infalível para a cura do câncer. Questionado
sobre o método, se nega a divulgar, dizendo que e secreto.

CURANDEIRISMO
Considerações iniciais: Dispõe o art. 284 do C.P. ―Exercer o curandeirismo: I - prescrevendo, ministrando
ou aplicando, habitualmente, qualquer substância; II - usando gestos, palavras ou qualquer outro meio; III -
fazendo diagnósticos: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.‖. Bem jurídico (objeto jurídico) tutelado
e a saúde pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo exercer
(desempenhar uma atividade com habitualidade) o curandeirismo (é a atividade desempenhada pela pessoa
que promove curas sem ter qualquer titulo ou habilitação para tanto, fazendo-o, geralmente, por meio de
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reza ou emprego de magia). As formas que o curandeiro ira fazer isso estão prescritas nos incisos de I a III.
Objeto material: É a substância prescrita, o gesto, a palavra ou outro meio empregado e o diagnóstico
realizado.
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É a sociedade. Também, nos ensinamentos de Guilherme de Souza Nucci ―a pessoa que é
objeto da ―cura‖‖.
Consumação: Consuma-se com a prática reiterada dos atos previstos no tipo penal
Tentativa: Inadmissível
Particularidades: Trata-se de crime habitual. O tratamento utilizado pelo curandeiro, ainda que tenha sido
bem-sucedido, configura o crime em tela. A ação penal e pública incondicionada
Qualificadora: Parágrafo único - Se o crime é praticado mediante remuneração, o agente fica também
sujeito à multa.
Forma qualificada pelo resultado: Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste
Capítulo, salvo quanto ao definido no art. 267. (―Art. 258 - Se do crime doloso de perigo comum resulta
lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é aumentada de metade; se resulta morte, é
aplicada em dobro. No caso de culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade; se
resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo, aumentada de um terço.‖)
Exemplo prático: Mévio de forma reiterada utiliza gestos e palavras para curar pessoas que possuem
câncer.

DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA


INCITAÇÃO AO CRIME
Considerações iniciais: Disciplina o Art. 286 do C.P. ―Incitar, publicamente, a prática de crime: Pena -
detenção, de três a seis meses, ou multa.‖. O crime em estudo tem como objeto jurídico a paz pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo incitar (impelir,
estimular ou instigar) publicamente, a prática de crime.
Objeto material: É a paz pública
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É a sociedade
Consumação: Quando ocorrer o estimulo a prática criminosa, mesmo que as pessoas não pratiquem o
crime incitado, o crime estará consumado
Tentativa: Caso a incitação ocorra através de cartazes, panfletos e possível admissível à tentativa.
Figuras equiparadas: Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem incita, publicamente, animosidade
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entre as Forças Armadas, ou delas contra os poderes constitucionais, as instituições civis ou a sociedade.
Particularidades: Caso a incitação seja para a prática de contravenção penal o crime em estudo não estará
caracterizado (incitar a pratica de crime). A incitação deve ser feita para prática de um crime especifico,
pois a citação genérica não torna a conduta típica.
A ação penal e publica incondicionada
Exemplo prático: Durante uma manifestação, Mévio incita as pessoas ali presentes a quebrarem o
patrimônio público.
Aula 7 e 8 - Apologia de crime ou criminoso; Associação Criminosa. Dos Crimes Contra a Fé Pública: Da
Moeda Falsa: Moeda Falsa; Petrechos para falsificação de moeda; Generalidades. Da Falsidade de Títulos e
Outros Papéis Públicos: Falsificação de papéis públicos. Petrechos de falsificação

APOLOGIA DE CRIME OU CRIMINOSO


Considerações iniciais: Aduz o Art. 287 do C.P. ―Fazer, publicamente, apologia de fato criminoso ou de
autor de crime: Pena - detenção, de três a seis meses, ou multa.‖. O bem jurídico tutelado neste crime é a
sociedade.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo fazer (produzir,
executar ou dar origem), publicamente, apologia (louvor, elogio, discurso de defesa) de fato criminoso (não
se considera a contravenção penal) ou de autor de crime (é a pessoa condenada, com trânsito em julgado,
pela prática de um crime)
Objeto material: É a paz pública
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É a sociedade
Consumação: Com a apologia, independentemente de pessoas virem a repetir o fato criminoso exaltado. A
apologia deve ser feita em publico
Tentativa: Admite-se desde que a apologia não seja oral
Particularidades: Convém mencionar que o Supremo Tribunal Federal, na ADPF 187, em decisão
unânime, excluiu do campo de incidência da norma do art. 287 as manifestações em favor da
descriminalização de substâncias psicotrópicas, em especial a denominada ―marcha da maconha‖, por estar
acobertada pelos direitos constitucionais de reunião e de livre expressão do pensamento.
A ação penal e publica incondicionada
Exemplo prático: Tício afirma publicamente, que os assassinados de homossexuais são corajosos e
deveriam ser exaltados ou invés de julgados.

ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA
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Considerações iniciais: Disciplina o art. 288 do C.P. ―Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim
específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos.‖ O objeto jurídico tutelado e a paz
pública. Este crime anteriormente conhecido como quadrilha ou bando, obteve nova redação no ano de
2012, passando a nomenclatura para associação criminosa.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo associar-se (reunir-se
em sociedade, agregar-se ou unir-se). O objeto da conduta é a finalidade de cometer crimes.
Objeto material: É a paz pública
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: E a coletividade, a sociedade.
Consumação: Segundo Fernando Capez a consumação, ―dá-se no instante em que a associação criminosa
é formada, independentemente da prática de qualquer delito.‖
Tentativa: Inadmissível
Particularidades: A associação criminosa visa o cometimento de crimes (exclui as contravenções penais).
Tal associação deve ser permanente e não eventual. Sua composição e de três ou mais pessoas. Deve haver
a pratica de crimes indeterminados pela associação. Se associar para comer crimes determinados, estaremos
diante de concurso de pessoas. A ação penal e pública incondicionada.
Exemplo prático: Caio, Tício e Mévio conhecidos de infância resolvem unir esforços para a prática
reiterada de diversos crimes.

DOS CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA


DA MOEDA FALSA
MOEDA FALSA
Considerações iniciais: Aduz o Art. 289 do C.P. ―Falsificar, fabricando-a ou alterando-a, moeda metálica
ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro: Pena - reclusão, de três a doze anos, e multa.‖.
Objeto jurídico tutelado é a fé pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo falsificar (reproduzir
imitando ou imitar com fraude), fabricar (manufaturar ou cunhar) ou alterar (modificar ou adulterar)
moeda metálica ou papel-moeda de curso legal no país ou no estrangeiro.
Objeto material: É a paz pública
Tipo subjetivo: É o dolo. Não se exige a finalidade específica de obtenção de lucro ou de colocar a moeda
em circulação.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: É o Estado, a coletividade. Segundo Fernando Capez ―É também vítima a pessoa física ou
jurídica individualmente prejudicada.‖.
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Consumação: Quando a moeda (papel ou metal) for falsificada, fabricada ou alterada, além das outras
condutas descritas no tipo.
Tentativa: É plenamente possível
Particularidades: O crime em estudo e de competência da justiça federal, haja vista somente a União
controla a emissão de moeda (sendo assim, o Policial que se deparar com essa ocorrência, deverá
apresentar na Policia Federal).
Nas lições de Fernando Capez ―É da essência do delito que a falsificação seja apta a iludir a vítima, isto é, a
causar engano. Se for grosseira, isto é, inidônea a esse fim, não se configura o crime em tela.‖. Salienta-se
que a utilização de papel-moeda grosseiramente falsificado não passara impune, haja vista o entendimento
consolidado na Súmula 73 do STJ (―A utilização de papel moeda grosseiramente falsificado configura, em
tese, o crime de estelionato, da competência da Justiça Estadual.‖)
A ação é pública incondicionada
Figuras equiparadas: ―§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem, por conta própria ou alheia, importa ou
exporta, adquire, vende, troca, cede, empresta, guarda ou introduz na circulação moeda falsa.‖
Figura privilegiada: ―§ 2º - Quem, tendo recebido de boa-fé, como verdadeira, moeda falsa ou alterada, a
restitui à circulação, depois de conhecer a falsidade, é punido com detenção, de seis meses a dois anos, e
multa.‖.
Qualificadora: ―§ 3º - É punido com reclusão, de três a quinze anos, e multa, o funcionário público ou
diretor, gerente, ou fiscal de banco de emissão que fabrica, emite ou autoriza a fabricação ou emissão: I -
de moeda com título ou peso inferior ao determinado em lei; II - de papel-moeda em quantidade superior à
autorizada.‖. Trata-se de crime próprio (só praticado por funcionários públicos)
―§ 4º - Nas mesmas penas incorre quem desvia e faz circular moeda, cuja circulação não estava ainda
autorizada.‖. Nesse caso temos crime comum (praticado por qualquer pessoa), mas a pena e a mesma do
§3º.
Exemplo prático: Mévio querendo demonstrar sua habilidade técnica resolve fabricar moedas de R$ 1,00
(um real). Ao concluir percebe que ficou parecidíssima com a verdadeira e resolve fazer comprar
utilizando-as. Pratica que o leva a prisão em flagrante.

PETRECHOS PARA FALSIFICAÇÃO DE MOEDA


Considerações iniciais: Dispõe o Art. 291 do C.P. ―Fabricar, adquirir, fornecer, a título oneroso ou
gratuito, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto especialmente
destinado à falsificação de moeda: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.‖. Bem jurídico tutelado é a
fé pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo fabricar (construir,
cunhar, criar..), adquirir (obter ou comprar), fornecer (guarnecer ou prover), a titulo oneroso (mediante o
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pagamento de certo preço) ou gratuito (sem contraprestação), possuir (ter a posse ou reter), ou guardar
(vigiar ou tomar conta de algo) maquinismo (é o conjunto de peças de um aparelho ou mecanismo),
aparelho (é o conjunto de mecanismo existente numa maquina), instrumento (é o objeto empregado para a
execução de um trabalho) ou qualquer objeto especialmente destinado à falsificação de moeda.
Objeto material: É o maquinismo, aparelho, instrumento ou objeto que tem por finalidade a falsificação
de moeda.
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa pode praticar esse delito
Sujeito passivo: É o Estado, a coletividade.
Consumação: Quando as condutas típicas forem praticadas (fabricação, aquisição, fornecimento, posse ou
guarda do objeto destinado à falsificação de moeda). Não e necessário que o agente realize efetivamente a
falsificação de moeda.
Tentativa: É admissível, menos na modalidade fornecer.
Particularidades: A prática de mais de um verbo do tipo caracteriza crime único. Processa-se por meio de
ação penal pública incondicionada
Exemplo prático: Mévio, morador do interior de São Paulo, guarda dentro do porão de sua casa um
maquinário destinado à fabricação de moeda falsa a qual e utilizada de forma diária.

DA FALSIDADE DE TÍTULOS E OUTROS PAPÉIS PÚBLICOS


FALSIFICAÇÃO DE PAPÉIS PÚBLICOS
Considerações iniciais: Disciplina o Art. 293 do C.P ―Falsificar, fabricando-os ou alterando-os: I – selo
destinado a controle tributário, papel selado ou qualquer papel de emissão legal destinado à arrecadação de
tributo; II - papel de crédito público que não seja moeda de curso legal; III - vale postal; IV - cautela de
penhor, caderneta de depósito de caixa econômica ou de outro estabelecimento mantido por entidade de
direito público; V - talão, recibo, guia, alvará ou qualquer outro documento relativo a arrecadação de
rendas públicas ou a depósito ou caução por que o poder público seja responsável; VI - bilhete, passe ou
conhecimento de empresa de transporte administrada pela União, por Estado ou por Município: Pena -
reclusão, de dois a oito anos, e multa.‖. O objeto jurídico tutelado é a fé pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo falsificar (reproduzir,
imitando, ou contrafazer) fabricando-os (manufaturando-os, construindo-os, cunhando-os) ou alterando-os
(modificando-os, transformando-os), todos os papeis descritos nos incisos do artigo.
Objeto material: Pode ser selo, estampilha, papel selado, outro papel semelhante, título da dívida pública,
vale postal, cautela de penhor, caderneta de depósito, talão, recibo, guia, alvará, outro documento
semelhante, bilhete, passe ou conhecimento de empresa de transporte.
Tipo subjetivo: É o dolo

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Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado, a coletividade.
Consumação: Com a falsificação, mediante fabricação ou alteração.
Tentativa: Plenamente possível.
Figura privilegiada: § 2º - Suprimir, em qualquer desses papéis, quando legítimos, com o fim de torná-los
novamente utilizáveis, carimbo ou sinal indicativo de sua inutilização: Pena - reclusão, de um a quatro
anos, e multa.
§ 4º - Quem usa ou restitui à circulação, embora recibo de boa-fé, qualquer dos papéis falsificados ou
alterados, a que se refere este artigo e o seu § 2º, depois de conhecer a falsidade ou alteração, incorre na
pena de detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.
Figura equiparada: § 3º - Incorre na mesma pena quem usa, depois de alterado, qualquer dos papéis a que
se refere o parágrafo anterior. (entenda-se o parágrafo anterior sendo o §2º).
§ 5º Equipara-se a atividade comercial, para os fins do inciso III do § 1º, qualquer forma de comércio
irregular ou clandestino, inclusive o exercido em vias, praças ou outros logradouros públicos e em
residências.
Processa-se por meio de ação penal pública incondicionada
Exemplo prático: Tício, como meio de vida, fabrica bilhete de transporte município para a venda.

PETRECHOS DE FALSIFICAÇÃO
Considerações iniciais: Disciplina o art. 294 do C.P. ―Fabricar, adquirir, fornecer, possuir ou guardar
objeto especialmente destinado à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior: Pena -
reclusão, de um a três anos, e multa.‖. O bem jurídico tutelado é a fé pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo fabricar (construir,
criar), adquirir (obter, comprar), fornecer (abastecer ou guarnecer), possuir (ter a posse de algo ou reter em
seu poder) ou guardar (vigiar ou tomar conta de algo) objeto especialmente destinado a falsificação dos
papeis referidos no art. 293.
Objeto material: É o objeto destinado à falsificação
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: Quando as condutas típicas forem praticadas (fabricação, aquisição, fornecimento, posse ou
guarda do objeto destinado à falsificação de qualquer dos papéis referidos no artigo anterior).
Tentativa: É admissível
Particularidades: A prática de mais de um verbo do tipo caracteriza crime único. Se processa por meio de
ação penal pública incondicionada

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Causa de aumento de pena: Dispõe o art. 295 do C.P. ―Se o agente é funcionário público, e comete o
crime prevalecendo-se do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.‖. Ressalta-se que efetivamente o
funcionário público deve-se prevalecer do cargo.
Exemplo prático: Mévio, morador do interior de São Paulo, guarda dentro do porão de sua casa um
maquinário destinado à fabricação de papéis falsos a qual e utilizada de forma diária.

Aula 9 e 10 - Da Falsidade Documental: Falsificação de documento público; Falsificação de documento


particular. Da Falsidade Documental: Falsidade ideológica; Falsidade de atestado médico; Uso de
documento falso; De Outras Falsidades: Falsa identidade; Adulteração de sinal identificador de veículo
automotor.

DA FALSIDADE DOCUMENTAL
FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO
Considerações iniciais: Disciplina o Art. 297 do C.P. ―Falsificar, no todo ou em parte, documento público,
ou alterar documento público verdadeiro: Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa.‖. O objeto jurídico
tutelado é a fé pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo falsificar (reproduzir,
imitando), no todo ou em parte, documento público (é o escrito, revestido de certa forma, destinado a
comprovar um fato, desde que emanado de funcionário público, com competência para tanto), ou alterar
(modificar ou adulterar) documento público verdadeiro (se construir documento novo, índice na primeira
figura; modifique um verdadeiro, já existente, é aplicável esta figura).
Objeto material: É o documento público
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano pode-se considerar a pessoa prejudicada pela falsificação
Consumação: Consuma-se com a falsificação ou alteração do documento, sendo desnecessário o uso
efetivo do documento falsificado.
Tentativa: É plenamente possível
Particularidades: É necessário que a falsificação seja apta a iludir terceiro, que tenha potencialidade
ofensiva, pois, se grosseira, absolutamente inidônea a enganar, não haverá o crime em questão. E
necessário pericia para a prova da existência do crime. Se processa por meio de ação penal pública
incondicionada.
Causa de aumento de pena: § 1º - Se o agente é funcionário público, e comete o crime prevalecendo-se
do cargo, aumenta-se a pena de sexta parte.

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Figuras equiparadas: § 2º - Para os efeitos penais, equiparam-se a documento público o emanado de
entidade paraestatal, o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os
livros mercantis e o testamento particular.
§ 3º Nas mesmas penas incorre quem insere ou faz inserir: I – na folha de pagamento ou em documento de
informações que seja destinado a fazer prova perante a previdência social, pessoa que não possua a
qualidade de segurado obrigatório; II – na Carteira de Trabalho e Previdência Social do empregado ou em
documento que deva produzir efeito perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que
deveria ter sido escrita; III – em documento contábil ou em qualquer outro documento relacionado com as
obrigações da empresa perante a previdência social, declaração falsa ou diversa da que deveria ter
constado.
§ 4º Nas mesmas penas incorre quem omite, nos documentos mencionados no § 3º, nome do segurado e
seus dados pessoais, a remuneração, a vigência do contrato de trabalho ou de prestação de serviços.
Exemplo prático: Mévio a procura de emprego, encontra uma vaga de motorista de caminhão, mas não
poderá concorrer há referida vaga por não ser habilitado. Sai do local desolado e resolve falsificar uma
carteira nacional de habilitação para conseguir a vaga.

FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PARTICULAR


Considerações iniciais: Disciplina o art. 298 ―Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou
alterar documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.‖. O crime em tela,
tem como objeto jurídico a fé pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo falsificar (reproduzir,
imitando), no todo ou em parte, documento particular (é todo escrito, produzido por alguém determinado,
revestido de certa forma, destinado a comprovar um fato ainda que seja a manifestação de vontade. Para
facilitar o entendimento, utilize a exclusão, sendo o documento particular aquele não emanado por
funcionário publico ou, ainda que o seja, não preencher as formalidades legais), ou alterar (modificar ou
adulterar) documento particular verdadeiro.
Objeto material: É o documento particular
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa prejudicada pelo documento falsificado.
Consumação: Com a prática de qualquer um das condutas previstas no tipo penal, mesmo se não houver
prejuízo ao Estado ou para o particular.
Tentativa: Plenamente admissível
Particularidades: Para a caracterização do crime em estudo e necessário que o documento falsificado ou
alterado seja capaz de ludibriar um terceiro, sendo que não estaremos diante desse tipo penal caso a
imitação ou modificação seja grosseira. Se processa por meio de ação penal pública incondicionada

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Figura equiparada: Parágrafo único. Para fins do disposto no caput, equipara-se a documento particular o
cartão de crédito ou débito.
Exemplo prático: Tício, dono da empresa Megaevento firmou contrato com a empresa de Mévio. Tício
percebeu que não iria poder cumprir o contrato, resolveu alterar a cláusula de punição existente, o qual o
beneficiaria, mas foi descoberto por mévio que o entregou as autoridades policiais.

FALSIDADE IDEOLÓGICA
Considerações iniciais: Dispõe o art. 299 C.P. ―Omitir, em documento público ou particular, declaração
que dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita,
com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é público, e reclusão de um a três anos, e
multa, se o documento é particular.‖. O bem jurídico tutelado nesse crime é a fé pública.
Estamos agora diante do chamado falso ideológico, aquele em que o documento é formalmente perfeito,
sendo, no entanto, falsa a ideia nele contida. O sujeito tem legitimidade para emitir o documento, mas
acaba por inserir um conteúdo sem correspondência com a realidade dos fatos. Assim, uma escritura
lavrada pelo funcionário do Cartório do Registro de Imóveis é formalmente perfeita, pois a ele incumbe
formar o instrumento público. Entretanto, se essa escritura encerrar declarações falsas prestadas pelo
particular, haverá o crime de falso ideológico.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo omitir (deixar de
inserir ou não mencionar), em documento público ou particular, declaração (afirmação, relato, depoimento,
manifestação) que dele devia constar, ou nele inserir (colocar ou introduzir) ou fazer inserir (proporcionar
que se introduza) declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante.
Objeto material: É o documento público ou particular
Tipo subjetivo: É o dolo. Nos ensinamentos de Fernando Capez ―exige-se também o chamado elemento
subjetivo do tipo, consistente na finalidade especial de lesar direito, criar obrigação ou alterar a veracidade
sobre o fato juridicamente relevante‖. Ausente esse fim específico, o fato é atípico.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa prejudicada pela falsificação.
Consumação: Com a prática de qualquer um das condutas previstas no tipo penal.
Tentativa: E admissível na modalidade comissiva (inserir e fazer inserir), a controvérsias na doutrina.
Particularidades: Já estudamos acima a falsidade material (falsificação de documento publico e
particular) que consiste na alteração da forma do documento, construindo um novo ou alterando o que e
verdadeiro, ex. o falsificador obtém, numa gráfica, impressos semelhantes aos das carteiras de habilitação,
preenchendo-os com os dados do interessado e fazer nascer uma carta não emitida pelo órgão competente.
Já a falsidade ideológica por sua vez, prova uma alteração de conteúdo, que pode ser total ou parcial.

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Se processa por meio de ação penal pública incondicionada
Causa de aumento de pena: Parágrafo único - Se o agente é funcionário público, e comete o crime
prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é de assentamento de registro civil, aumenta-se
a pena de sexta parte.
Exemplo prático: Mévio habilitado na categoria B, consegue um emprego o qual necessita fazer entregas
utilizando moto. Para não perder o emprego, mévio se dirige até o órgão competente e fornecendo dados
falsos consegue fazer constar em uma habilitação categoria A.

FALSIDADE DE ATESTADO MÉDICO


Considerações iniciais: Aduz o art. 302 do C.P. ―Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado
falso: Pena - detenção, de um mês a um ano.‖. O crime em estudo tem como objeto jurídico a fé pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo dar (ceder ou
produzir) o médico, no exercício da sua profissão, atestado (é o documento que contém a afirmação ou
declaração acerca de algo) falso.
Objeto material: É o atestado falso
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, somente o médico pode praticá-lo.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa prejudicada pelo atestado falso.
Consumação: Ocorre no exato momento em que o médico entrega o falso atestado a outrem
Tentativa: É admissível
Particularidades: O atestado deve versar, segundo doutrina majoritária, sobre fato relevante (constatação
de uma enfermidade) e não sobre opinião ou prognostico profissional. Nos ensinamentos de Fernando
Capez ―O crime configurar-se-á quando o médico, falsamente, certificar no atestado que o paciente é ou foi
portador de doença, ou que é detentor de perfeita saúde, ou que sofre de enfermidade diversa da real.‖.
Se processa por meio de ação penal pública incondicionada.
Qualificadora: ―Parágrafo único - Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se também multa.‖.
Para a configuração da qualificadora não e necessário o recebimento da vantagem, bastando apenas a
existência do fim especifico.
Exemplo prático: Caio médico ortopedista das clinicas ―você melhor‖, costuma ajudar seus pacientes a se
aposentar, para tanto expede atestado com enfermidade além da enfrentada pelos pacientes.

USO DE DOCUMENTO FALSO


Considerações iniciais: Disciplina o art. 304 do C.P. ―Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou
alterados, a que se referem os arts. 297 a 302: Pena - a cominada à falsificação ou à alteração.‖. O bem
jurídico tutelado e a fé pública

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Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo fazer uso (empregar,
utilizar ou aplicar) de qualquer dos papéis falsificados ou alterados, a que se referem os arts. 297 a 302.
Objeto material: É o documento falsificado ou alterado
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Para Fernando Capez ―exceção do próprio falsificador. Conforme já
estudado, este responderá apenas pela falsificação do documento, constituindo o uso post factum impunível
(progressão criminosa).‖.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano o terceiro prejudicado com o uso do documento falso.
Consumação: Com o efetivo uso do documento falso
Tentativa: Inadmissível.
Particularidades: É necessário que o agente tenha ciência da falsidade do documento, do contrário o fato
é atípico por ausência de dolo. Se o agente, no momento da utilização do documento, desconhecer sua
falsidade, responderá pelo crime em tela caso continue a usar o documento após ter ciência da falsidade.
Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada.
Exemplo prático: Mévio, procurado pela justiça, resolve utilizar documentos falsos para não ser
reconhecido e recapturado.

DE OUTRAS FALSIDADES
FALSA IDENTIDADE
Considerações iniciais: Dispõe o art. 307 do C.P. ―Atribuir-se ou atribuir a terceiro falsa identidade para
obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem: Pena - detenção, de três
meses a um ano, ou multa, se o fato não constitui elemento de crime mais grave.‖. O crime em tela tem
como objeto jurídico tutelado a fé pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo atribuir-se
(considerar como autor) ou atribuir (imputar) a terceiro falsa identidade (identidade e o conjunto de
características peculiares de uma pessoa determinada, que permite reconhece-la e individualiza-la,
envolvendo o nome, a idade, o estado civil, a filiação, o sexo, entre outros dados) para obter vantagem, em
proveito próprio ou alheio, ou para causar dano a outrem.
Objeto material: É a identidade
Tipo subjetivo: É o dolo. Fernando Capez completa ―exige-se também o chamado elemento subjetivo do
tipo, consistente no fim especial de obter vantagem, em proveito próprio ou alheio, ou de causar dano a
outrem. (vontade)
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano o terceiro eventualmente prejudicado.
Consumação: No momento do ato de atribuir-se ou atribuir a outrem falsa identidade. Não e necessário a
obtenção da vantagem, sendo esta apenas o exaurimento do crime

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Tentativa: Se a atribuição da identidade for por escrito e possível a tentativa.
Particularidades: No crime em tela não há emprego de documentos, o agente se limita declarar, de forma
verbal ou por escrito, dados falsos relativos a sua identidade pessoal. A vantagem a que se refere o artigo
pode ser tanto moral, patrimonial e etc. O crime em estudo e crime subsidiário, de forma que, cometido
delito mais grave, este restara absorvido, por exemplo, o indivíduo atribui a si ou a terceiro, falsa
identidade, isto é, faz declarações falsas a respeito de sua identidade pessoal ou de terceiro, induzindo ou
mantendo alguém em erro, com o intuito de obter indevida vantagem econômica para si ou para terceiro,
em prejuízo alheio, comete crime mais grave, qual seja, estelionato.
A ação é pública incondicionada
Exemplo prático: Tício, irmão gêmeo de Mévio, sabendo da dificuldade que seu irmão tem na matéria de
Direito Penal se passa por ele para fazer o exame da OAB.

ADULTERAÇÃO DE SINAL IDENTIFICADOR DE VEÍCULO AUTOMOTOR


Considerações iniciais: Aduz o art. 311 do C.P. ―Adulterar ou remarcar número de chassi ou qualquer
sinal identificador de veículo automotor, de seu componente ou equipamento: Pena - reclusão, de três a seis
anos, e multa.‖. O bem jurídico tutelado nesse tipo penal é a fé pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo adulterar (falsificar
ou mudar) ou remarcar (tornar a marcar) número de chassi (é o sinal identificador da estrutura sobre a qual
se monta o veiculo) ou qualquer sinal identificador de veículo aumentos (é qualquer marcar colocada no
veículo para individualiza-lo, podendo ser inclusive a placa do veículo) de seu componente ou equipamento
Objeto material: É o número do chassi ou outro sinal identificador, componente ou equipamento de
veículo.
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano o terceiro prejudicado com a adulteração ou remarcação
Consumação: Com a adulteração ou remarcação
Tentativa: É possível
Causa de aumento de pena: § 1º - Se o agente comete o crime no exercício da função pública ou em razão
dela, a pena é aumentada de um terço.
Figuras equiparadas: § 2º - Incorre nas mesmas penas o funcionário público que contribui para o
licenciamento ou registro do veículo remarcado ou adulterado, fornecendo indevidamente material ou
informação oficial.
Particularidades: A ação penal e pública incondicionada
Exemplo prático: Tício comprou um veículo com licenciamento atrasado e diversas multas, sabendo que
havia impossibilidade de pagar, resolve adulterar as placas, bem como chassi e demais componentes, para
evitar que seu veiculo fosse recolhido em uma fiscalização.

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Aula 11 e 12 - Dos Crimes Contra a Administração Pública: Dos Crimes Praticados por Funcionário Público Contra
a Administração em Geral: Peculato e suas modalidades. Inserção de dados falsos em sistema de informações;
Modificação ou alteração não autorizada de sistema de informações.

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


DOS CRIMES PRATICADOS POR FUNCIONÁRIO PÚBLICO CONTRA A ADMINISTRAÇÃO
EM GERAL
PECULATO
Considerações iniciais: Dispõe o art. 312 do C.P. ―Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor
ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo,
em proveito próprio ou alheio: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.‖ O bem jurídico tutelado é a
moralidade da administração pública, bem como o seu patrimônio. Tutela-se também o patrimônio do
particular que estiver sobre a guarda da administração pública.
Peculato próprio, na realidade nada mais é que a apropriação indébita praticada por funcionário público
com violação do dever funcional.
Tipo objetivo: Com o intuito de aplicar a melhor didática para a explicação desse crime, iremos
desmembra-lo nos diversos tipos de peculato existente:
a) Peculato-apropriação – denominado como peculato próprio, encontra-se previsto na primeira parte
do artigo 312 ―Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público
ou particular, de que tem a posse em razão do cargo‖. O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está
traduzido no verbo apropriar (agente tem a posse (ou detenção) lícita do bem móvel, público ou particular,
e inverte esse título, pois passa a comportar-se como se dono fosse). No caso do crime em estudo o agente
só ira se apropriar do bem que tem a posse em razão do cargo público, sendo bem publico ou particular a
ele confiado. No caso de apropriação de bem particular o crime será denominado como peculato-
malversação.
b) Peculato-desvio – denominado como peculato próprio, encontra-se previsto na segunda parte do
artigo 312 ―desviá-lo, em proveito próprio ou alheio‖. O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está
traduzido no verbo desviar (o agente tem a posse da coisa e lhe dá destinação diversa da exigida por lei,
agindo em proveito próprio ou de terceiro.)
c) Peculato-furto - Previsto no § 1º: ―Aplica-se a mesma pena, se o funcionário público, embora não
tendo a posse do dinheiro, valor ou bem, o subtrai, ou concorre para que seja subtraído, em proveito
próprio ou alheio, valendo-se da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário‖. Denominado
como peculato improprio. Podemos observar que muito parecido com o crime de furto (art. 155), porem
nesse caso será praticado por funcionário público, o qual valendo dessa qualidade para cometê-lo. Nas
lições de Fernando Capez ―o agente não tem a posse ou detenção do bem como no peculato-apropriação ou
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desvio, mas se vale da facilidade que lhe proporciona a qualidade de funcionário público para realizar a
subtração‖. Nesse crime o agente funcionário público poderá cometer a subtração ou facilitar para que
outro a faça.
d) Peculato-culposo – Com previsão no 2º: ―Se o funcionário público concorre culposamente para o
crime de outrem: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano‖. Pune-se aqui o funcionário público que
por negligência, imprudência ou imperícia concorre para a prática de crime de outrem. Nesse caso tanto
poderá o funcionário publico contribuir para a pratica de furto ou apropriação indébita cometido por um
particular, como poderá contribuir para os demais tipos de peculato cometido por outro funcionário
público. Mesmo parecendo um concurso de agentes, tal hipótese deve ser rechaçada, haja vista a
impossibilidade de participação culposa em crime doloso.
Objeto material: Será o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel.
Tipo subjetivo: É o dolo, menos no peculato culposo.
Sujeito ativo: O crime em estudo e considerado crime próprio, sendo assim so pode ser praticado por
funcionário público (conceito esta no art. 327 ―Considera-se funcionário público, para os efeitos penais,
quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.‖.) e as
pessoas a ele equiparadas legalmente (conceito no art. 327 § 1º ―Equipara-se a funcionário público quem
exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de
serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.‖)
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano o particular que tiver seu bem apropriado.
Consumação: Peculato-apropriação trata-se de crime material. Consuma-se o crime no momento em que
o agente transforma a posse ou detenção sobre o dinheiro, valor ou outra coisa móvel em domínio, ou seja,
quando passa a agir como se fosse dono da coisa.
Peculato-desvio consuma-se no instante em que o funcionário público dá à coisa destino diverso do
previsto em lei.
Peculato-furto consuma-se no instante com a inversão da posse, ou seja, no momento em que o bem passa
da esfera de disponibilidade da vítima para a do autor. Exige-se também o chamado elemento subjetivo do
tipo, consubstanciado na expressão ―em proveito próprio ou alheio‖.
Tentativa: Plenamente possível, exceto modalidade culposa.
Particularidades: Disciplina o § 3º ―No caso do parágrafo anterior, a reparação do dano, se precede à
sentença irrecorrível, extingue a punibilidade; se lhe é posterior, reduz de metade a pena imposta.‖
No paragrafo em tela podemos observar a possibilidade de extinção de punibilidade e redução de pena em
caso de peculato-culposo.
A reparação do dano (restituição do bem ou indenização do valor), para dar causa à extinção da
punibilidade, deve ser anterior ao trânsito em julgado da sentença criminal. Deve ser completa e não exclui
eventual sanção administrativa contra o funcionário. Caso a reparação for posterior o transito em julgado a
pena será reduzida pela metade.

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A ação é pública incondicionada.
Causa de aumento de pena: Aduz o § 2º do art. 327 ―A pena será aumentada da terça parte quando os
autores dos crimes previstos neste Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de
direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista, empresa
pública ou fundação instituída pelo poder público.‖.
Exemplo prático: Mévio, delegado de polícia, deixa de registrar nos autos a apreensão de dinheiro
encontrado em poder dos assaltantes de um restaurante, dele se apropriando.

PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM


Considerações iniciais: Dispõe art. 313 do C.P. ―Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no
exercício do cargo, recebeu por erro de outrem: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.‖ O bem
jurídico tutelado nesse tipo penal e a Administração Pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo apropriar-se,
igualmente ao crime anteriormente estudo, mas no crime em tela o funcionário publico apropriar-se do bem
mediante erro de outrem. Ele aproveita que a vitima cometeu um erro (podendo ser sobre a coisa que se
entrega, sobre a obrigação que deu causa a entrega e/ou sobre a pessoa a que se faz a entrega). Este crime e
denominado como peculato-estelionato.
Objeto material: Será o dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel.
Tipo subjetivo: É o dolo, devendo haver a intenção de assenhoramento definitivo do bem, de o agente
tornar seu o objeto ao constatar o engano.
Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, sendo assim só pode ser praticado por pessoa especifica no caso o
funcionário público.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa que sofreu a lesão patrimonial.
Consumação: Restara consumado no momento em que o funcionário se apodera da coisa, agindo como se
dono fosse.
Tentativa: É plenamente possível
Particularidades: Na hipótese de o funcionário público incorrer em erro, entendendo ser o responsável
pelo recebimento do dinheiro ou qualquer utilidade e na verdade não e, não há falar no crime em tela. Se,
contudo, descobrir o engano e, ainda assim, não devolver o bem, aí sim haverá o delito em estudo.
Se o funcionário público provocar o erro, induzindo a pessoa a erro, estaremos diante do crime de
estelionato (art. 155). Na modalidade criminosa em estudo o funcionário público se aproveita do erro, não
contribui para que ele aconteça.
Exemplo prático: Joana vai até a prefeitura e paga o valor de uma taxa municipal a Mévio, que e
funcionário incompetente para recebê-la, o qual, ao perceber o erro em que incidiu a contribuinte, silencia,
apoderando-se do valor pago.

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INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES
Considerações iniciais: Disciplina o art. 313-A do C.P. ―Inserir ou facilitar, o funcionário autorizado, a
inserção de dados falsos, alterar ou excluir indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou
bancos de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si ou para outrem
ou para causar dano: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.‖. O bem jurídico tutelado é a
administração pública. Conhecido como ―peculato-pirata‖.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo inserir (introduzir ou
incluir) ou facilitar (permitir que alguém introduza ou inclua), o funcionário autorizado, a inserção de
dados falsos (informações que não condizem com a realidade), alterar (modificar ou mudar) ou excluir
(remover ou eliminar) indevidamente dados corretos (aqui os dados estão corretos, mas ao modificar ou
eliminar, pode haver prejuízo a administração publica ou terceiros) nos sistemas informatizados ou bancos
de dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida (pode ser qualquer lucro, ganho,
privilegio ou benefício ilícito) para si ou para outrem ou para causar dano.
Objeto material: São os dados falsos ou verdadeiros de sistemas informatizados ou banco de dados
Tipo subjetivo: É o dolo, com elemento subjetivo de obter vantagem indevida para si ou para outrem ou
para causar dano.
Sujeito ativo: Somente o funcionário público devidamente autorizado a lidar com o sistema informatizado
ou banco de dados. Caso o agente não tenha autorização para realizar as operações, haverá a configuração
do crime de prevaricação (CP, art. 319).
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: Com a prática de qualquer um das condutas tipificadas
Tentativa: É admissível
Particularidades: Este crime observa o aumento de pena previsto no art. 327, §2º, do C.P. A ação penal e
pública incondicionada.
Exemplo prático: Mévio, funcionário público devidamente autorizado a lidar com sistema informatizado
insere os dados de um amigo no sistema, para que ele possa a começar a receber beneficio previdenciário.

MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE INFORMAÇÕES


Considerações iniciais: Dispõe o art. 313-B do C.P. ―Modificar ou alterar, o funcionário, sistema de
informações ou programa de informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente: Pena –
detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos, e multa.‖. O bem jurídico tutelado nesse tipo penal é a
administração pública. Conhecido como ―peculato-hacker‖.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo modificar (imprimir
um novo modo, transformar de maneira determinada) ou alterar (mudar de forma a desorganizar,
decompor o sistema original), o funcionário, sistema de informações ou programa de informática sem
autorização ou solicitação de autoridade competente.

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As condutas devem ser praticadas ―sem autorização ou solicitação da autoridade competente‖. Havendo tal
autorização ou solicitação, competente, o fato é atípico.
Objeto material: É o sistema de informações ou o programa de informática.
Tipo subjetivo: É o dolo. O agente deve ter ciência de que o faz ―sem autorização ou solicitação de
autoridade competente‖.
Sujeito ativo: Somente o funcionário público
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: Quando houver a prática de qualquer das condutas típicas.
Tentativa: É admissível
Particularidades: A ação penal e pública incondicionada
Causa de aumento de pena: Parágrafo único. As penas são aumentadas de um terço até a metade se da
modificação ou alteração resulta dano para a Administração Pública ou para o administrado.
Exemplo prático: Tício, funcionário público, sem autorização resolve modificar os sistemas de
informação da repartição publica em que trabalha, qual tal pratica gera um dano irreparável a administração
pública.

Aula 13 e 14 - Concussão; Excesso de exação; Corrupção passiva; Prevaricação.

CONCUSSÃO
Considerações iniciais: Disciplina o art. 316 do C.P. ―Exigir, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.‖. O bem jurídico tutelado pelo crime em tela é a
administração pública, considerando o seu interesse patrimonial e moral.
Observe que muito se assemelha a uma extorsão, entretanto praticada valendo-se da qualidade de
funcionário público, e não mediante violência e grave ameaça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo exigir (impor,
ordenar, reclamar, havendo um aspecto nitidamente impositivo na conduta) para si ou para outrem, direta
ou indiretamente (disfarçado ou camuflado), ainda que fora da função (férias, licença, afastamento) ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida (pode ser qualquer lucro, ganho, privilégio ou
beneficio ilícito).
Objeto material: É a vantagem indevida
Tipo subjetivo: É o dolo. É necessário que o agente tenha ciência de que a vantagem exigida é ilegítima.
Se há erro ao supor a legitimidade da exigência, não haverá crime em face ao erro de tipo (art. 20 do C.P.).
O crime em estudo exige o chamado elemento subjetivo do tipo, pois a vantagem é ―para si ou para
outrem‖.

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Sujeito ativo: Somente o funcionário público
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano pode ser a entidade de direito público ou outra pessoa
prejudicada.
Consumação: Com a exigência da vantagem indevida, sendo irrelevante o recebimento ou não da desta.
Tentativa: É possível na hipótese de exigência por escrito, não havendo possibilidade de verificação da
tentativa no caso de exigência feita de maneira oral.
Particularidades: É necessário que haja nexo causal entre a função pública desempenhada pelo agente e a
ameaça proferida.
O objeto material do crime é a vantagem indevida, se for exigido vantagem devida, o fato poderá
configurar crime de abuso de autoridade.
Caso haja mera solicitação, e não exigência, inexiste a concussão, podendo haver corrupção passiva (art.
317 do C.P.)
Observa-se o aumento de pena do artigo 327, §2º, do C.P.
A ação penal é pública incondicionada.
Exemplo prático: Mévio, policial militar, sabendo que no bar do senhor João possui jogo do bicho, exige
o valor de R$ 100,00 para não prende-lo.

EXCESSO DE EXAÇÃO
Considerações iniciais: Dispõe o §1º do art. 317 do C.P. ―Se o funcionário exige tributo ou contribuição
social que sabe ou deveria saber indevido, ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
gravoso, que a lei não autoriza: Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.‖. O objeto jurídico
tutelado é administração pública, considerando o seu interesse patrimonial e moral.
Exação é a cobrança pontual de imposto. Sabe-se que permitida à cobrança de imposto, sendo crime a
cobrança em excesso.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo exigir tributo ou
contribuição social que sabe ou deveria saber indevido (não há autorização para cobrança ou o valor já foi
quitado ou a quantia do tributo é excedente) ou, quando devido, emprega na cobrança meio vexatório ou
gravoso, que a lei não autoriza (nesse caso o tributo e devido, mas a cobrança é feita de forma que causa
humilhação, tormento, vergonha ao contribuinte ou utilizando meios onerosos ou opressores que a lei não
autoriza).
Objeto material: É o tributo (impostos, taxas...) ou a contribuição social.
Tipo subjetivo: Na conduta exigência indevida, é o dolo. Necessário que o agente saiba que o tributo é
indevido, do contrario estaremos diante de erro de tipo.
Na conduta cobrança vexatória ou gravosa, é o dolo. E necessário a ciência da falta de autorização legal
Sujeito ativo: Somente o funcionário público
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Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: Com a prática das condutas descritas no tipo penal, sendo irrelevante o recebimento do
tributo ou contribuição social.
Tentativa: Na exigência indevida, possível por meio escrito. Na cobrança vexatória ou gravosa e possível,
imagine a situação que a cobrança será feita através de carro de som e antes que se inicie e obstada.
Particularidades: Trata-se de normal penal em branco, sendo necessário consultar os meios de cobrança
de tributos e contribuições, para apurar se há excesso de exação.
A ação penal é publica incondicionada
Qualificadora: ―§ 2º - Se o funcionário desvia, em proveito próprio ou de outrem, o que recebeu
indevidamente para recolher aos cofres públicos: Pena - reclusão, de dois a doze anos, e multa.‖.
Verifica-se na qualificadora o elemento subjetivo do tipo ―proveito próprio ou de outrem‖. Consumando-se
com o efetivo desvio daquilo que foi recebido.
Exemplo prático: Tício, funcionário publico pertencente ao quadro do INSS, sabendo que a empresa X
não fez os depósitos de contribuição social resolve utilizar o caminhão de som para efetuar a cobrança na
porta da empresa.

CORRUPÇÃO PASSIVA
Considerações iniciais: Aduz o art. 317 do C.P. ―Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou
indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou
aceitar promessa de tal vantagem: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.‖. O objeto
jurídico tutelado no crime em epígrafe é a administração pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo solicitar (pedir ou
requerer) ou receber (aceitar em pagamento ou simplesmente aceitar algo), para si ou para outrem
(proveito próprio ou alheio), direta (sem rodeios e pessoalmente) ou indiretamente (disfarçado ou
camuflado), ainda que fora da função (funcionário de férias, afastamentos regulares) ou antes de assumi-la,
mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem (consentir em receber dádiva
futura).
Objeto material: É a vantagem indevida
Tipo subjetivo: É o dolo. Neste crime verifica-se o elemento subjetivo do tipo na expressão ―para si ou
para outrem‖.
Sujeito ativo: Somente funcionário público.
Sujeito passivo: É o Estado e o particular (quando este não é o sujeito de corrupção ativa)
Consumação: No momento da solicitação ou aceitação da promessa, ainda que não se concretize. Não
havendo a solicitação ou a promessa, consuma-se com o recebimento.
Tentativa: Há a possibilidade da tentativa, por exemplo, na solicitação por escrito não recebida pelo
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destinatário.
Particularidades: Não se descaracteriza o crime pela preparação do flagrante quando já houve a
solicitação ou promessa de vantagem. Assim, não há o que falar em flagrante preparado ou crime
impossível.
O delito em tela não e necessariamente bilateral, para haver uma corrupção passiva não exigido uma
corrupção ativa.
A pessoa que corrompe o funcionário público não será participe do crime em estudo, esse terá cometido o
crime do art. 333 (corrupção ativa), aqui verificamos uma exceção da teoria unitária ou monista do crime.
A ação é pública incondicionada.
Causa de aumento de pena: § 1º - A pena é aumentada de um terço, se, em consequência da vantagem ou
promessa, o funcionário retarda ou deixa de praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever
funcional.
Forma privilegiada: § 2º - Se o funcionário pratica, deixa de praticar ou retarda ato de ofício, com
infração de dever funcional, cedendo a pedido ou influência de outrem: Pena - detenção, de três meses a
um ano, ou multa.
Exemplo prático: Mévio, policial militar, solicita R$ 100,00 (cem reais) para não recolher o veiculo com
licenciamento atrasado.

PREVARICAÇÃO
Considerações iniciais: Dispõe o art. 319 do C.P. ―Retardar ou deixar de praticar, indevidamente, ato de
ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal: Pena
- detenção, de três meses a um ano, e multa.‖. O bem jurídico tutelado pelo crime em tela é a administração
pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo retardar (atrasar ou
procrastinar) ou deixar de praticar (desistir da execução), indevidamente (não permito por lei, infringindo
dever funcional), ato de ofício (ato que o funcionário público deve praticar, segundo seus deveres
funcionais, portanto o agente deve estar no exercício de suas funções) ou praticá-lo (executá-lo ou realiza-
lo) contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse (qualquer proveito, ganho ou vantagem, não
necessariamente pecuniária) ou sentimento pessoal (é a disposição afetiva do agente em relação a algum
bem ou valor)
Objeto material: É o ato de ofício (ato que o funcionário público deve praticar, segundo seus deveres
funcionais, portanto o agente deve estar no exercício de suas funções)
Tipo subjetivo: É o dolo, com elemento subjetivo do tipo verificado na vonta de ―satisfazer interesse‖ ou
―sentimento pessoal‖.
Sujeito ativo: Somente o funcionário público.
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Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: Nos verbos retardar e deixar de praticar consuma-se com a não execução do ato de oficio.
No verbo praticar, com a prática do ato em contrário a lei.
Tentativa: Nos verbos retardar e deixar de praticar impossível à tentativa, por ser praticas omissivas, já no
verbo praticar e possível a tentativa.
Particularidades: A jurisprudência entende que não estará caracterizado o crime em estudo quando o
funcionário público possuir discricionariedade para a prática do ato de ofício.
Se a retardar ou deixar de praticar ocorrer por motivo de força maior, não há o que falar em crime.
O ato de oficio praticado contra a disposição expressa de lei, portanto sabe-se que deve haver uma lei
regulando o ato. A expressão lei deve ser interpretada de maneira estrita, sendo assim não há o crime em
tela quando o ato e praticado contra portaria, regulamento etc.
A ação e penal pública incondicionada.
Distinção: Na corrupção passiva verifica-se de maneira latente que o agente e movido pelo interesse de
receber vantagem indevida por parte de um terceiro. Na prevaricação o agente e movido pela satisfação de
um interesse ou sentimento pessoal.
Exemplo prático: Caio policial militar, por ter grande simpatia pela torcida de um time de futebol não
toma as providencias administrativas cabíveis, ante o estacionamento irregular do veiculo que transporta a
torcida.
Observação: Há o crime de prevaricação em presídio descrito no art. Art. 319-A do C.P. ―Deixar o Diretor
de Penitenciária e/ou agente público, de cumprir seu dever de vedar ao preso o acesso a aparelho
telefônico, de rádio ou similar, que permita a comunicação com outros presos ou com o ambiente externo:
Pena: detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano.‖

Aula 15 e 16 - Condescendência criminosa; Advocacia administrativa; Violência arbitrária; Funcionário público.

CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA
Considerações iniciais: Disciplina o art. 320 do C.P. ―Deixar o funcionário, por indulgência, de
responsabilizar subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência,
não levar o fato ao conhecimento da autoridade competente: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou
multa.‖.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo deixar (omitir-se) o
funcionário, por indulgência (tolerância ou benevolência), de responsabilizar (não imputar
responsabilidade) subordinado que cometeu infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte
competência, não levar (ocultar ou esconder algo de alguém) o fato ao conhecimento da autoridade
competente.
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Objeto material: É a infração não punida ou não comunicada
Tipo subjetivo: É o dolo, com elemento subjetivo do tipo contido na expressão por indulgência
Sujeito ativo: Somente funcionário público
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: Com a simples omissão
Tentativa: Por se tratar de crime omissivo, impossível à tentativa
Particularidades: É pressuposto do delito que haja anteriormente a prática de infração pelo funcionário
subordinado, compreendendo aquela tanto as faltas disciplinares, como cometimento de crimes.
A ação penal é pública incondicionada
Exemplo prático: Tício, funcionário público, toma conhecimento que Mévio, seu subordinado, praticou
infração no exercício do cargo, acaba tolerando a referida infração não promovendo sua responsabilização.

ADVOCACIA ADMINISTRATIVA
Considerações iniciais: Aduz o art. 321 do C.P. ―Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado
perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário: Pena - detenção, de um a três
meses, ou multa.‖. O bem jurídico tutelado é a administração pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo patrocinar (proteger,
beneficiar ou defender), direta ou indiretamente, interesse privado (aquele que confronta com o interesse
público) perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário (é o prestígio junto aos
colegas ou a facilidade de acesso às informações ou à troca de favores investindo contra o interesse maior
da administração de ser imparcial ou isenta nas suas decisões e na sua atuação).
Objeto material: É o interesse privado
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Somente o funcionário público
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano o terceiro prejudicado.
Consumação: Com a prática do patrocínio
Tentativa: É admissível
Particularidades: O termo advocacia pode dar entender tratar-se de tipo penal voltado somente para
advogados, o que condiz com a realidade, pois está no sentido de ―promoção de defesa‖ ou ―patrocínio‖.
O patrocínio expresso no tipo penal não exige contrapartida. É necessário que o funcionário, ao patrocinar
os interesses alheios, valha-se das facilidades que a função lhe proporciona.
O patrocínio pode ser de modo formal, petições, requerimentos e etc, ou solicitar a outros funcionários
verbalmente este ou aquele desfecho a um pedido.
Salienta-se que o interesse a ser patrocinado e qualquer tipo de interesse.
Qualificadora: Disciplina o Parágrafo único do art. 321 do C.P. ―Se o interesse é ilegítimo: Pena -
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detenção, de três meses a um ano, além da multa.‖. Observa-se que na qualificadora e expresso que o
interesse é ilícito.
Exemplo prático: Mévio, funcionário público do alto escalão do Governo, liga para um Policial Militar,
requerendo que ele não recolha o veiculo que acaba de abordar, haja vista pertencer a um grande amigo.

FUNCIONÁRIO PÚBLICO
Considerações iniciais: Disciplina o art. 327 do C.P. ―Considera-se funcionário público, para os efeitos
penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.‖.
Estamos diante de uma norma explicativa.
Funcionário Público por equiparação: ―§ 1º - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo,
emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada
ou conveniada para a execução de atividade típica da Administração Pública.‖.

Aula 17 e 18 - Dos Crimes Praticados por Particular Contra a Administração em Geral: Usurpação de função
pública; Resistência; Desobediência; Dos Crimes Praticados por Particular Contra a Administração em Geral:
Desacato; Corrupção ativa.

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL


USURPAÇÃO DE FUNÇÃO PÚBLICA
Considerações iniciais: Aduz o art. 328 do C.P. ‖Usurpar o exercício de função pública: Pena - detenção,
de três meses a dois anos, e multa.‖. O bem jurídico tutelado nesse tipo penal é a administração pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo usurpar (alcançar
sem direito ou com fraude) o exercício de função pública (não se relaciona com cargo ou emprego, sendo o
conjunto de atribuições inerentes ao serviço público).
Objeto material: É a função pública
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, inclusive o funcionário público, quando atue completamente fora da sua
área de atribuições.
Sujeito passivo: É o Estado.
Consumação: Com a prática da usurpação.
Tentativa: É admissível.
Particularidades: Segundo Fernando Capez ―Não basta tão somente que o particular se intitule
funcionário público: é necessário que efetivamente pratique algum ato funcional. A mera atribuição da
qualidade de funcionário público configura o delito do art. 45 da LCP.‖ (simulação da qualidade de
funcionário público).

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Qualificadora: ―Parágrafo único - Se do fato o agente aufere vantagem: Pena - reclusão, de dois a cinco
anos, e multa.‖. Salienta-se que a vantagem pode ser material ou moral.
Exemplo prático: Tício, escrivão de polícia, recepciona uma ocorrência na delegacia, decide por elaborar
o boletim de ocorrência e o assina, tomando assim todas as atribuições do delegado de policia.

RESISTÊNCIA
Considerações iniciais: Disciplina o art. 329 do C.P. ―Opor-se à execução de ato legal, mediante violência
ou ameaça a funcionário competente para executá-lo ou a quem lhe esteja prestando auxílio: Pena -
detenção, de dois meses a dois anos.‖. O bem jurídico tutelado é a administração pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo opor-se (colocar
obstáculo) à execução de ato legal (é o ato lícito; não confundir com ato injusto, haja vista uma coisa não
ser sinônimo da outra), mediante violência (vis corporalis) ou ameaça (vis compulsiva, que pode ser real ou
verbal, devendo estar revestida de poder intimidatório, capaz de incutir medo ao homem do tipo normal,
mas não precisa ser grave) a funcionário competente para executá-lo (fazê-lo cumprir) ou a quem lhe esteja
prestando auxílio (dando apoio).
Objeto material: É a pessoa agredida ou ameaçada.
Tipo subjetivo: É o dolo, com o elemento subjetivo do tipo consistente no fim de opor-se à execução de
ato legal.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano o funcionário público executar do ato legal, podendo ser
um particular se estiver auxiliando o funcionário público.
Consumação: No momento do emprego da violência ou ameaça contra o funcionário.
Tentativa: Plenamente possível, ressalva-se que no caso de ameaça só será possível caso realizada por
escrito.
Particularidades: A resistência passiva, isto é, aquela consistente em oposição a ordem legal sem
comportamento agressivo contra funcionário, não configura o crime, por exemplo, agarrar-se a um poste
para não ser preso. Ofensa não caracteriza ameaça, sendo assim poderemos estar diante do crime de
desacato.
O funcionário deve ser competente para execução do ato funcional. Se incompetente, o fato e atípico.
A violência praticada contra mais de um funcionário configura crime único.
Trata-se de ação pública incondicionada
Qualificadora: ―§ 1º - Se o ato, em razão da resistência, não se executa: Pena - reclusão, de um a três
anos.‖.
Concurso de crimes: ―§ 2º - As penas deste artigo são aplicáveis sem prejuízo das correspondentes à
violência.‖.
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Exemplo prático: Soldados da Policia Militar, aborda Mévio, após consulta via Copom recebe a
informação que o abordado esta procurado. No momento que vai executar sua prisão, Mévio começa a
agredir os Policiais, mas acaba sendo algemado e conduzido para a delegacia.

DESOBEDIÊNCIA
Considerações iniciais: Aduz o art. 330 do C.P. ―Desobedecer a ordem legal de funcionário público: Pena
- detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.‖
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo desobedecer (não
ceder à autoridade ou força de alguém, resistir o infringir) a ordem legal (comando lícito) de funcionário
público.
Objeto material: É a ordem dada
Tipo subjetivo: É o dolo. Exige-se que ele tenha consciência da legalidade da ordem e da competência do
funcionário público para expedi-la. Inexiste dolo quando o não cumprimento da ordem decorre de força
maior.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, inclusive o funcionário publico (desde que a ordem recebida não tenha
vinculo com sua atividade funcional)
Sujeito passivo: É o Estado, segundo plano o funcionário público competente para emitir a ordem.
Consumação: No momento que houver a desobediência a ordem, seja ela para o agente fazer (comissiva)
ou deixar de fazer algo (omissiva).
Tentativa: Somente possível na forma comissiva
Particularidades: Para a caracterização do crime de desobediência é preciso que haja ordem legal e
emanada de funcionário público competente.
A embriaguez exclui a culpabilidade, mesmo se completa e decorrente de caso fortuito de força maior.
A ação é pública incondicionada.
Exemplo prático: Policial Militar durante um bloqueio de trânsito da ordem de parada direta ao cidadão
Tício, que desobedece a ordem e se evadi, sendo preso instante depois.

DOS CRIMES PRATICADOS POR PARTICULAR CONTRA A ADMINISTRAÇÃO EM GERAL


DESACATO
Considerações iniciais: Disciplina o art. 331 do C. P. ―Desacatar funcionário público no exercício da
função ou em razão dela: Pena - detenção, de seis meses a dois anos, ou multa.‖ O bem jurídico tutelado é a
administração pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo desacatar (desprezar,
faltar com respeito ou humilhar) funcionário público no exercício da função ou em razão dela (exige-se que
a palavra ofensiva ou o ato injurioso seja dirigido ao funcionário que esteja exercendo suas atividades ou,
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ainda que ausente delas, tenha o autor levado em consideração a função pública).
Objeto material: É o funcionário, mas também sua honra.
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado, também o funcionário público desacatado
Consumação: No momento em que houver o desacato, por se tratar de crime formal, de maneira que não
se exige que o funcionário público se sinta ofendido com os atos praticados.
Tentativa: Para Magalhães Noronha, ―dependendo do meio empregado, é possível a tentativa. Assim, ela
será inadmissível se ocorrer injúria oral.‖
Particularidades: Se o funcionário provocar a ofensa não configura o desacato, ou seja o particular que
responde a provocação, este não busca desprestigiar a função pública.
Exemplo prático: Soldado da Policia Militar aborda Tício, durante a abordagem este começa a proferir
diversos xingamentos e ainda cospe no rosto do Soldado, vindo a ser preso logo em seguida.

CORRUPÇÃO ATIVA
Considerações iniciais: Disciplina o art. Art. 333 do C.P. ―Oferecer ou prometer vantagem indevida a
funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício: Pena – reclusão, de 2
(dois) a 12 (doze) anos, e multa.‖ Tem como objeto jurídico a administração pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo oferecer (propor ou
apresentar para que seja aceito) ou prometer (obrigar-se a dar algo a alguém) vantagem indevida a
funcionário público, para determiná-lo (prescreve-lo) a praticar (executar ou levar a efeito), omitir (não
fazer) ou retardar (atrasar) ato de ofício (ato inerente às atividade do funcionário).
Objeto material: É a vantagem indevida, podendo ser de natureza patrimonial ou qualquer outra natureza,
moral ou sexual.
Tipo subjetivo: É o dolo. Há o elemento subjetivo do tipo especifico que é a vontade de fazer o
funcionário praticar, omitir ou retardar ato de ofício.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: No momento em que o funcionário toma conhecimento da oferta ou da promessa,
irrelevante a aceitação ou recebimento.
Tentativa: Possível dependendo da forma que for praticada. Se verbal impossível, se por carta possivel
Particularidades: A corrupção pode ser praticada de todos os meios (gestos, atos, escritos, palavras...)
A corrupção pode ser antecedente (quando a vantagem e entregue antes da ação ou omissão) ou
subsequente (quando a vantagem é entregue depois da ação ou omissão do funcionário). A subsequente não
admite a corrupção ativa.
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Corrupção própria e impropria. Será própria quando o ato a ser praticado e ilegítimo, ilegal, ilícito; será
imprópria quando o ato a ser praticado e legitimo, licito legal.
A ação penal é pública incondicionada.
Exemplo prático: Mévio, logo após ser abordado com 100 toneladas de drogas, oferece R$ 20.000,00
(vinte mil reais) aos policiais para que não o prenda.

Aula 19 e 20 - Dos Crimes Contra a Administração da Justiça: Denunciação caluniosa; Comunicação falsa de crime
ou contravenção; Autoacusação falsa; Falso testemunho ou falsa perícia

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO DA JUSTIÇA


DENUNCIAÇÃO CALUNIOSA
Considerações iniciais: Dispõe o art. 339 do C.P. ―Dar causa à instauração de inquérito policial, de
procedimento investigatório criminal, de processo judicial, de processo administrativo disciplinar, de
inquérito civil ou de ação de improbidade administrativa contra alguém, imputando-lhe crime, infração
ético-disciplinar ou ato ímprobo de que o sabe inocente: Pena - reclusão, de dois a oito anos, e multa.‖. O
bem jurídico tutelado é a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo dar causa (dar
motivo ou fazer nascer algo) à instauração de investigação policial (basta à realização de diligências
tendentes a apurar a infração criminosa para que se repute configurado o delito de denunciação caluniosa,
contudo, posicionamento na jurisprudência exigindo a instauração formal de inquérito policial), de
processo judicial (não envolve somente as ações penais, mas também as ações civis públicas), processo
administrativo (PD, PAD, CD, CJ) instauração de investigação administrativa (sindicâncias e processos
administrativos de toda ordem), inquérito civil (procedimento administrativo conduzido pelo Ministério
Publico tem o intuito de subsidiar ação civil publica) ou ação de improbidade administrativa contra alguém,
imputando-lhe (atribuir algo a alguém) crime (caso seja contravenção, estará no §2º) de que o sabe
inocente.
Objeto material: É a investigação policial, de processo judicial, processo administrativo disciplinar , a
investigação administrativa, o inquérito civil ou ação de improbidade administrativa, indevidamente
instaurados.
Tipo subjetivo: É o dolo. É imprescindível que o denunciante saiba (dolo direto) que o denunciado é
inocente, conforme expressa exigência legal contida na expressão ―de que o sabe inocente‖. Sem ele, não
há crime.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa. Segundo Fernando Capez ―Podem ser sujeitos ativos o promotor de
justiça, o delegado de polícia, o juiz de direito, o advogado, desde que tenham conhecimento da falsidade
da imputação.‖.
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Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa prejudicada pela falsa informação.
Consumação: Consuma-se com a instauração de investigação policial, de processo judicial, de
investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém. Não há
necessidade que ocorra efetivo prejuízo material para o Estado ou para o denunciado.
Tentativa: Perfeitamente possível
Causa de aumento de pena: ―§ 1º - A pena é aumentada de sexta parte, se o agente se serve de anonimato
ou de nome suposto.‖.
Causa de diminuição de pena: ―§ 2º - A pena é diminuída de metade, se a imputação é de prática de
contravenção.‖.
Exemplo prático: Mévio, querendo se vingar de seu vizinho, informa a autoridade policial que ele estaria
descarregando, naquele momento, caixas de mercadorias contrabandeadas, sabendo que estas são legais,
provocando, desse modo, a condução do delegado de polícia até o local.

COMUNICAÇÃO FALSA DE CRIME OU CONTRAVENÇÃO


Considerações iniciais: Disciplina o art. 340 do C.P. ―Provocar a ação de autoridade, comunicando-lhe a
ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado: Pena - detenção, de um a seis
meses, ou multa.‖. O objeto jurídico tutelado no crime em tela é a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo provocar (dar causa,
gerar ou proporcionar) a ação (o tipo menciona apenas ação, logo, podem o delegado, por exemplo,
registrando um boletim de ocorrência, o promotor e o juiz, requisitando a instauração de inquérito policial,
tomar atitudes em busca da descoberta ou investigação de uma infração penal, ainda que não oficializem
seus atos) de autoridade (delegado de polícia, juiz, promotor de justiça, bem como todas as autoridades
administrativas que tenham atribuição legal para iniciar investigações), comunicando-lhe (fazendo saber ou
transmitindo-lhe) a ocorrência de crime ou de contravenção que sabe não se ter verificado.
Objeto material: É a ação da autoridade
Tipo subjetivo: É o dolo. Possui o elemento subjetivo do tipo especifico que é a vontade de fazer a
autoridade atuar sem causa.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: No momento em que a autoridade pratica alguma ação no sentido de elucidar o fato
criminoso
Tentativa: É admissível.
Particularidades: O agente deve ter certeza de que o fato comunicado realmente não ocorreu ou é
absolutamente diverso do ocorrido. A dúvida afasta o crime.
A ação penal e pública incondicionada.
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A ligação ao 190 e a falsa comunicação de crime (trote), não caracteriza o crime em estudo
Exemplo prático: Mévio após utilizar seu veiculo para fugir da cena de um crime, resolve fazer um
boletim de ocorrência narrando que seu veiculo fora roubado um dia antes.

AUTOACUSAÇÃO FALSA
Considerações iniciais: Disciplina o art. 341 do C.P. ―Acusar-se, perante a autoridade, de crime
inexistente ou praticado por outrem: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.‖. O bem jurídico
tutelado é a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo acusar-se (é a
conduta do sujeito que se auto incrimina, chamando a si um crime que não praticou), perante a autoridade
(autoridade judiciaria ou policial, bem como o membro do Ministério Público), de crime inexistente (não
aceita a falsa imputação de contravenção penal) ou praticado por outrem (para configuração do tipo penal,
necessário que o sujeito se auto acuse da prática de crime cometido por outra pessoa, sem ter tomado parte
como coautor ou partícipe).
Objeto material: É a declaração falsa
Tipo subjetivo: É o dolo
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, excluindo o autor, coautor ou participe do delito que constitui o objeto da
autoacusação falsa.
Sujeito passivo: É o Estado.
Consumação: Ocorre no instante em que a autoridade toma conhecimento da autoacusação
Tentativa: Somente admissível na autoacusação realizada por escrito.
Particularidades: Caso o agente, além de acusar-se, imputa falsamente a terceiros a participação no crime,
haverá concurso material entre a autoacusação e denunciação caluniosa.
A ação penal e pública incondicionada.
Exemplo prático: Mévio, com o intuito de proteger seu irmão, assumi a prática de um crime do qual não
teve participação ou foi autor.

FALSO TESTEMUNHO OU FALSA PERÍCIA


Considerações iniciais: Dispõe o art. 342 do C.P. ―Fazer afirmação falsa, ou negar ou calar a verdade
como testemunha, perito, contador, tradutor ou intérprete em processo judicial, ou administrativo, inquérito
policial, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.‖ O bem jurídico
tutelado e a administração da justiça
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo fazer (exercer,
prestar) afirmação falsa (mentir ou narrar fato não correspondente à verdade), ou negar (não reconhecer a
existência de algo verdadeiro ou recusar-se a admitir a realidade) ou calar a verdade (silenciar ou não
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contar a realidade dos fatos) como testemunha (é a pessoa que viu ou ouviu alguma coisa relevante e é
chamada a depor sobre o assunto em investigação ou processo), perito, contador, tradutor ou intérprete em
processo judicial, ou administrativo, inquérito policial, ou em juízo arbitral.
Objeto material: Pode ser o depoimento, o laudo, o cálculo ou a tradução.
Tipo subjetivo: É o dolo, exigindo-se a consciência da falsidade.
Sujeito ativo: A testemunha, o perito, o contado, o tradutor ou o intérprete.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa prejudicada pela falsidade produzida.
Consumação: Com a prática de qualquer das condutas previstas no tipo penal, explicando que o falso
testemunho consuma-se com encerramento do depoimento, a falsa pericia e o falso laudo contábil com a
entrega do laudo a autoridade, a tradução e interpretação falsa, com a entrega do documento traduzido e
Tentativa: É admissível na falsa pericia e no falso calculo, haja vista poderem ser interceptados por
terceiros
Particularidades: Há o direito da testemunha em falta com a verdade ou se calar evitando comprometer-
se, vale dizer, utilizando o princípio constitucional do direito ao silêncio e de não ser obrigado a se auto
acusar.
Exemplo prático: Mévio, na condição de testemunha, ao chegar o momento de seu depoimento no
processo judicial, conta diversas mentiras para livrar o seu amigo Tício da prisão.

Aula 21 e 22 - Coação no curso do processo; Exercício arbitrário das próprias razões; Fraude processual;
Favorecimento pessoal; Favorecimento real.

COAÇÃO NO CURSO DO PROCESSO


Considerações iniciais: Dispõe o art. Art. 344 do C.P. ―Usar de violência ou grave ameaça, com o fim de
favorecer interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa que funciona ou é
chamada a intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral: Pena - reclusão,
de um a quatro anos, e multa, além da pena correspondente à violência.‖. Tem como bem jurídico tutelado
a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo usar (empregar ou
servir-se) de violência (coação física) ou grave ameaça (seria intimidação), com o fim de favorecer
interesse próprio ou alheio, contra autoridade, parte, ou qualquer outra pessoa (não somente a autoridade
que conduz o processo, nem tampouco só a parte nele envolvida pode ficar expostas à coação, mas também
outros sujeitos que tomem parte no feito, tais como os funcionários que provem o andamento processual, a
testemunha que vai depor, o perito que fará um laudo, o jurado, dentre outros) que funciona ou é chamada a
intervir em processo judicial, policial ou administrativo, ou em juízo arbitral.
Objeto material: É a pessoa que sofre a coação
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Tipo subjetivo: É o dolo com a finalidade de favorecer interesse próprio ou alheio em processo ou juízo
arbitral.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano pode ser a pessoa que sofreu a violência ou grave ameaça.
Consumação: Com a prática da violência ou grave ameaça contra uma das pessoas elencadas no tipo penal
Tentativa: É admissível
Causa de aumento de pena: Parágrafo único. A pena aumenta-se de 1/3 (um terço) até a metade se o
processo envolver crime contra a dignidade sexual.
Particularidades: Haverá concurso material (CP, art. 69) entre a coação no curso do processo e os delitos
que resultarem da violência empregada (lesão corporal, homicídio), conforme se verifica no texto legal.
A prática de várias ameaças, com vistas a um só fim, constitui crime único.
A ação é pública incondicionada.
Exemplo prático: Tício esta sendo processado pelo crime de homicídio, sabendo que Pedrita é a
testemunha principal do crime, liga diariamente em sua casa atemorizando-a, lhe afirmando que se
comparecer na audiência irá morrer.

EXERCÍCIO ARBITRÁRIO DAS PRÓPRIAS RAZÕES


Considerações iniciais: Disciplina o art. 345 do C.P. ―Fazer justiça pelas próprias mãos, para satisfazer
pretensão, embora legítima, salvo quando a lei o permite: Pena - detenção, de quinze dias a um mês, ou
multa, além da pena correspondente à violência.‖.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo fazer (exercer,
produzir) justiça pelas próprias mãos (obter, pelo próprio esforço, algo que se considere justo ou correto),
para satisfazer pretensão (há de ser um interesse que possa ser satisfeito em juízo, pois não teria o menor
cabimento considerar crime a atitude do agente que consegue algo incabível de ser alcançado através da
atividade jurisdicional do Estado), embora legítima, salvo quando a lei o permite.
Objeto material: É a coisa ou pessoa que sofre a conduta típica
Tipo subjetivo: É o dolo com a finalidade especifica de satisfazer pretensão, embora legítima.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa contra a qual se volta o agente.
Consumação: Com o emprego ou uso do meio arbitrário com o fim de satisfazer uma pretensão
Tentativa: Perfeitamente possível
Particularidades: E crime de ação pública ou privada, dependendo do caso concreto. Se houver emprego
de violência à ação e pública incondicionada. Se houver o emprego de outro meio de execução (ameaça,
fraude ou violência contra a coisa) a ação será de iniciativa privada. Tal verificação se faz com a leitura do
parágrafo único, do artigo em estudo, ―Se não há emprego de violência, somente se procede mediante
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queixa.‖.
Exemplo prático: Mévio emprestou R$ 200,00 (duzentos reais) para Tício, que não devolveu o referido
valor na data combinada. Sabendo que Tício estava com o valor no bolso, Mévio o aborda na rua e com
emprego de violência pega o valor que lhe é devido.

FRAUDE PROCESSUAL
Considerações iniciais: Aduz o art. 347 do C.P. ―Inovar artificiosamente, na pendência de processo civil
ou administrativo, o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito:
Pena - detenção, de três meses a dois anos, e multa.‖. O bem jurídico tutelado é a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo inovar (introduzir
uma novidade capaz de gerar engano) artificiosamente (usar um recurso engenhoso, malícia ou ardil), na
pendência de processo civil ou administrativo (não estão abrangidas as investigações de natureza civil e as
sindicâncias), o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com o fim de induzir a erro o juiz ou o perito.
Segundo Nelson Hungria, o crime em estudo ―visa a coibir os artifícios tendentes ao falseamento da prova
e, consequentemente, aos erros de julgamento, seja em favor, seja em prejuízo de qualquer dos
interessados‖.
Objeto material: É a coisa, a pessoa ou o lugar que sofre a inovação.
Tipo subjetivo: É o dolo com a finalidade de induzir a erro o juiz ou o perito
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa prejudicada com a inovação artificiosa.
Consumação: Com a realização da fraude, ou seja, com a inovação artificiosa.
Tentativa: Perfeitamente possível
Particularidades: As inovações artificiosas devem ser idôneas a enganar o juiz ou o perito, do contrário,
se o artificio for grosseiro, não há falar em crime. O meio de empregado pelo agente deve ser idôneo para
conseguir o engano.
A ação penal é pública incondicionada
Causa de aumento de pena: ―Parágrafo único - Se a inovação se destina a produzir efeito em processo
penal, ainda que não iniciado, as penas aplicam-se em dobro.‖.
Exemplo: Tício, após matar Pedrita, coloca uma arma em sua mão para que fique parecendo um suicídio.

FAVORECIMENTO PESSOAL
Considerações iniciais: Disciplina o art. 348 do C.P. ―Auxiliar a subtrair-se à ação de autoridade pública
autor de crime a que é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de um a seis meses, e multa”. O bem
jurídico tutelado e a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo auxiliar (fornecer
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ajuda) a subtrair-se (fugir, esconder-se ou evitar a ação da autoridade que o busca) à ação de autoridade
pública (pode ser juiz, o promotor, o delegado ou qualquer outra que tenha legitimidade para buscar o
procurado) autor de crime a que é cominada pena de reclusão.
Objeto material: É a autoridade enganada
Tipo subjetivo: É o dolo. E necessário que o agente tenha ciência da situação do favorecido, isto é, de que
ele está sendo perseguido pela autoridade pública ou de que a perseguição certamente ocorrerá no futuro,
por ser autor de um crime. O desconhecimento dessa situação afasta o dolo, não havendo falar no crime em
tela.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: Consuma-se o crime no momento em que o favorecido consegue, ainda que
momentaneamente, em razão do auxílio prestado, subtrair-se à ação da autoridade pública.
Tentativa: Haverá tentativa se, prestado o auxílio, o criminoso não consegue escapar da ação da autoridade
pública.
Particularidades: Não confundir favorecimento com participação, haja vista que o favorecimento e
indispensável que o auxílio seja prestado após o primeiro delito ter-se consumando. Caso houver
oferecimento de abrigo ou qualquer ajuda antes do cometimento do crime, trata-se de participação.
Não caracteriza o crime o favorecimento a autor de contravenção penal, da mesma forma se o autor for
inimputável.
A ação penal é pública incondicionada.
Figura privilegiada: ―§ 1º - Se ao crime não é cominada pena de reclusão: Pena - detenção, de quinze dias
a três meses, e multa.‖.
Escusa absolutória: ―§ 2º - Se quem presta o auxílio é ascendente, descendente, cônjuge ou irmão do
criminoso, fica isento de pena.‖.
A escusa alcança o unido estavelmente e todas as formas de filiação, inclusivo o parentesco por adoção.
Exemplo prático: Mévio, após ser condenado pelo crime de homicídio, foge e começa a ser procurado
pela justiça. Tício, ciente da condição de Mévio, ajeita um espaço em sua casa para que ele possa ficar
escondido.

FAVORECIMENTO REAL
Considerações iniciais: Disciplina o art. 349 do C.P. ―Prestar a criminoso, fora dos casos de coautoria ou
de receptação, auxílio destinado a tornar seguro o proveito do crime: Pena - detenção, de um a seis meses, e
multa.‖ O objeto jurídico do crime em tela é a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo prestar auxilio
(ajudar ou dar assistência) a criminoso (há de ser a pessoa que comete o crime, não se incluindo os
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inimputáveis), fora dos casos de coautoria (aqui vale o participe também) ou de receptação (tipo especifico
para punição), destinado a tornar seguro o proveito do crime (a vantagem auferida com a pratica do delito)
Nas lições de Fernando Capez ―Nesta figura penal, assim como no crime previsto no art. 348, procura-se
impedir o favorecimento ao autor de crime; contudo, agora, o favorecimento consiste em tornar seguro o
proveito do delito. De forma secundária, a lei penal também visa proteger o patrimônio da vítima do crime
anterior.‖.
Objeto material: É a administração da justiça.
Tipo subjetivo: É o dolo com a finalidade tornar seguro o proveito do delito (elemento subjetivo do tipo)
A ausência de conhecimento da procedência criminosa do bem exclui o dolo, e, portanto, o tipo penal.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, exceto o coautor ou participe do delito antecedente (que deu origem ao
proveito a ser seguro)
Sujeito passivo: É o Estado.
Consumação: Com a prestação de auxílio ao criminoso, irrelevante se o agente logrou êxito em tornar
seguro o proveito do delito antecedente.
Tentativa: Perfeitamente admissível
Particularidades: O crime em estudo não admite a escusa absolutória.
Na hipótese, se alguém, por exemplo, guardar a faca usada por um homicida, com o fim de atrapalhar as
investigações policiais e impedir a perseguição do delinquente, poderá haver o crime de favorecimento
pessoal.
A ação é pública incondicionada.
Exemplo prático: Tício, após roubar joias procura um lugar para que possa manter em segurança. Mévio
sabendo da necessidade do amigo recebe todo o proveito do crime e guarda em seu porão.

Aula 23 e 24 - Fuga de pessoa presa ou submetida à medida de segurança; Evasão mediante violência contra pessoa.
Arrebatamento de preso; Patrocínio infiel; Exploração de prestígio; Desobediência à decisão judicial sobre perda ou
suspensão de direito.

FUGA DE PESSOA PRESA OU SUBMETIDA À MEDIDA DE SEGURANÇA


Considerações iniciais: Aduz o art. 351 do C.P. ―Promover ou facilitar a fuga de pessoa legalmente presa
ou submetida a medida de segurança detentiva: Pena - detenção, de seis meses a dois anos.‖ O bem jurídico
tutelado e administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo promover (dar causa,
impulsionar ou originar) ou facilitar (tornar mais fácil, acessível sem grande esforço) a fuga (escapada ou o
rápido afastamento do local onde se está detido) de pessoa legalmente presa ou submetida a medida de
segurança detentiva.

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Nas lições de Fernando Capez o crime em estudo ―Visa impedir que terceiros frustrem a execução da pena
ou da medida de segurança pelo preso ou detento, isto é, promovam ou facilitem sua fuga. Veja-se que o
tipo penal não pune a fuga do preso, pois não se pode repreender o direito à liberdade.
Objeto material: É a pessoa fugitiva
Tipo subjetivo: É o dolo, podendo ocorrer a titulo de culpa.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: Quando houver a fuga da pessoa legalmente presa ou submetida a medida de segurança.
Tentativa: É admissível, salvo quando se der por meio da omissão.
Particularidades: A conduta pode ser praticada tanto no interior do estabelecimento prisional, quanto fora
dele (viatura policial, hospital)
A ação penal e pública incondicionada.
Qualificadora: ―§ 1º - Se o crime é praticado a mão armada, ou por mais de uma pessoa, ou mediante
arrombamento, a pena é de reclusão, de dois a seis anos.‖.
―§ 3º - A pena é de reclusão, de um a quatro anos, se o crime é praticado por pessoa sob cuja custódia ou
guarda está o preso ou o internado.‖ (ex. o carcereiro que deliberadamente deixa aberta a cela do preso e o
portão da cadeia)
Concurso material: ―§ 2º - Se há emprego de violência contra pessoa, aplica-se também a pena
correspondente à violência.‖.
Modalidade culposa: ―§ 4º - No caso de culpa do funcionário incumbido da custódia ou guarda, aplica-se
a pena de detenção, de três meses a um ano, ou multa.‖.
Exemplo prático: Mévio, durante visita ao seu amigo Tício no presidio, consegue arrumar um forma para
que ele fuja e após prover a distração dos carcereiros conclui o seu intento.

EVASÃO MEDIANTE VIOLÊNCIA CONTRA PESSOA


Considerações iniciais: Dispõe o art. 352 do C.P. ―Evadir-se ou tentar evadir-se o preso ou o indivíduo
submetido a medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa: Pena - detenção, de três
meses a um ano, além da pena correspondente à violência.‖ O objeto jurídico tutelado e a administração da
justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo evadir-se (fugir ou
escapar da prisão) ou tentar evadir-se (é a forma tentada que está equiparada à consumada) o preso ou o
indivíduo submetido à medida de segurança detentiva, usando de violência contra a pessoa (é a coação
física exercida contra ser humano).
Objeto material: É a pessoa agredida
Tipo subjetivo: É o dolo
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Sujeito ativo: Somente pelo preso ou pessoa submetida a medida de segurança detentiva
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano a pessoa agredida durante a fuga.
Consumação: No momento em que o agente logra subtrair-se à esfera de guarda ou vigilância, mediante o
uso de violência ou então no momento em que ele tenta evadir-se.
Tentativa: Inadmissível, considerando que o tipo penal prevê a tentativa como crime consumado (crime de
atentado o de empreendimento).
Particularidades: Não basta, contudo, o mero ato de evadir-se ou tentar evadir-se. É necessário o efetivo
emprego de violência contra a pessoa (guarda, carcereiro, parente dos presos etc.). Não se considera aqui a
violência moral.
A ação é pública incondicionada.
Exemplo prático: Mévio, durante uma rebelião no presidio, agride com um pedaço de madeira o
carcereiro que impedia sua evasão.

ARREBATAMENTO DE PRESO
Considerações iniciais: Disciplina o art. Art. 353 do C.P. ―Arrebatar preso, a fim de maltratá-lo, do poder
de quem o tenha sob custódia ou guarda: Pena - reclusão, de um a quatro anos, além da pena
correspondente à violência.‖ O bem jurídico tutelado é a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo arrebatar (tirar com
violência) preso (é somente a pessoa cuja prisão foi decretada, incluindo-se aqueles que, cautelarmente,
foram detidos - prisão temporária, preventiva ou semelhante – e os que estão cumprindo pena), a fim de
maltratá-lo (submetê-lo a maus tratos), do poder de quem o tenha sob custódia ou guarda.
Objeto material: É a preso arrebatado.
Tipo subjetivo: É o dolo, com a finalidade de submeter o preso a maus-tratos (elemento subjetivo do tipo)
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: É o Estado, em segundo plano o preso arrebatado.
Consumação: Com a efetiva subtração do preso, isto é, a retirada dele do poder de quem detém sobre ele a
guarda ou custódia, irrelevante a ocorrência de maus-tratos, por constitui mero exaurimento do crime.
Tentativa: Perfeitamente possível
Particularidades: A ação e pública incondicionada.
Exemplo prático: Tício, após ter sua prisão decretada, estava sendo transferido de presídio, quando foi
efetivo se desembargue para entrar no estabelecimento prisional, foi arrebatado por populares que passaram
a agredi-lo de maneira constante.

EXPLORAÇÃO DE PRESTÍGIO
Considerações iniciais: Dispõe o art. 357 do C.P. ―Solicitar ou receber dinheiro ou qualquer outra
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utilidade, a pretexto de influir em juiz, jurado, órgão do Ministério Público, funcionário de justiça, perito,
tradutor, intérprete ou testemunha: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.‖. O bem jurídico tutelado
é a administração da justiça.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo solicitar (pedir ou
buscar) ou receber (aceitar e pagamento) dinheiro ou qualquer outra utilidade (de natureza material ou
moral), a pretexto de influir (tendo por finalidade inspirar ou insuflar) em juiz , jurado, órgão do Ministério
Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.
Esse crime, consoante a doutrina, na realidade, constitui verdadeiro estelionato, uma vez que o agente
obtém vantagem ilícita induzindo o indivíduo em erro. A fraude consiste em afirmar que exerce influência
sobre aquelas pessoas.
Objeto material: É o dinheiro ou a utilidade recebida ou solicitada
Tipo subjetivo: É o dolo, com o fim especifico de influi na ação do juiz, jurado, membro do Ministério
Público, funcionário de justiça, perito, tradutor, intérprete ou testemunha.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa, mas e mais comum a pratica desse crime por advogado.
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: No momento em que é realizado o pedido do dinheiro ou de qualquer outra vantagem,
independentemente de a vítima aceitar ou não a solicitação. Na conduta receber, o delito consuma-se com a
efetiva obtenção da vantagem.
Tentativa: Admite-se na conduta solicitar se for por escrito. Na conduta receber ocorre no momento que o
agente e impedido, por circunstancias alheias a sua vontade, de obter a vantagem.
Particularidades: O dinheiro solicitado pelo agente não deve destinar-se ao juiz, promotor de justiça,
funcionário da justiça, perito oficial, tradutor ou intérprete oficial etc., pois, caso for destinado as pessoas
descritas acima, haverá o crime de corrupção ativa e passiva.
Exemplo prático: Advogado que, dizendo-se pessoa bastante influente no Tribunal de Justiça, solicita
dinheiro a seu cliente, a pretexto de lograr uma sentença que lhe seja favorável.

DESOBEDIÊNCIA À DECISÃO JUDICIAL SOBRE PERDA OU SUSPENSÃO DE DIREITO


Considerações iniciais: Aduz o art. 359 do C.P. ―Exercer função, atividade, direito, autoridade ou múnus,
de que foi suspenso ou privado por decisão judicial: Pena - detenção, de três meses a dois anos, ou multa.‖.
O bem jurídico tutelado é a administração pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo exercer
(desempenhar com habitualidade) função (é a pratica de um serviço relativo a um cargo ou ofício),
atividade (qualquer ocupação ou diligência), direito (é a faculdade de praticar um ato), autoridade (significa
o poder de dar ordens e fazer respeitar decisões) ou múnus (é um encargo), de que foi suspenso (cessação
por tempo determinado) ou privado (tolhido de forma definitiva) por decisão judicial
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Objeto material: É a função, atividade, direito, autoridade ou múnus.
Tipo subjetivo: É o dolo. É necessário que o agente tenha ciência de que foi suspenso ou privado desse
exercício por determinação judicial, do contrário não haverá dolo de praticar a infração, nem, portanto, fato
típico.
Sujeito ativo: Qualquer pessoa.
Sujeito passivo: É o Estado
Consumação: No momento em que o agente inicia o exercício, afrontando a decisão judicial.
Tentativa: É admissível
Particularidades: Trata-se de crime de ação penal pública incondicionada

Aula 25 e 26 - Lei de abuso de autoridade

LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE - LEI N. 13.869/19

DISPOSIÇÕES GERAIS DA LEI DE ABUSO DE AUTORIDADE


Disciplina o art. 1º da referida lei que ―Esta Lei define os crimes de abuso de autoridade, cometidos por
agente público, servidor ou não, que, no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las, abuse do
poder que lhe tenha sido atribuído.
§ 1º As condutas descritas nesta Lei constituem crime de abuso de autoridade quando praticadas pelo
agente com a finalidade específica de prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda,
por mero capricho ou satisfação pessoal.
§ 2º A divergência na interpretação de lei ou na avaliação de fatos e provas não configura abuso de
autoridade.”
O ―caput‖ do artigo 1º, demonstra os motivos que a lei vem a baila e quem comete os crimes nela expostos.
O §1º é um dos pontos mais relevantes desta lei, nele que mora o chamado dolo específico, ou seja, o
agente que praticar qualquer um dos crimes descritos na lei, além de ter agido por vontade de cometer o
fato criminoso (dolo), terá que estar imbuído da finalidade específica de ―prejudicar outrem ou beneficiar a
si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.”.
Exemplo constitui crime com base no artigo 16 da lei em estudo “Deixar de identificar-se ou identificar-se
falsamente ao preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão”,
sendo assim o agente público tem que ter a vontade de não se identificar (dolo), com o intuito de prejudicar
o preso, ter beneficio pra si ou pra terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal (dolo
especifico), em outras palavras se o agente deixar de se identificar por necessidade da profissão (trabalha
em serviço reservado, por exemplo), mesmo que esteja incorrendo no dolo de não divulgar sua
identificação, não terá o dolo específico, sendo assim sua conduta é atípica, não respondendo pelo crime
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ora exposto.
Considerando que os crimes expostos são de ação pública incondicionada, como veremos logo mais a
frente, cabe ao órgão acusador provar que o agente agiu imbuído pelo dolo específico.
O §2º, o agente público que ao interpretar uma lei ou valorar fatos ou provas é houver posterior divergência
não incorrera em abuso de autoridade. Exemplo, o Juiz em posse de fatos e prova da materialidade de um
crime, decide manter o indivíduo em prisão preventiva, que posterior impetra habeas corpus em órgão
superior obtendo êxito, tendo sua liberdade autorizada, o primeiro Juiz não incorre em crime de abuso de
autoridade, haja vista o disposto no §2º.

DOS SUJEITOS DO CRIME


Sabe-se que todos os crimes possuem sujeitos, passivo e ativo. O sujeito passivo, dos crimes desta lei,
pode-se inferir ser a pessoa física ou jurídica, nacional ou estrangeira e também o Estado, titular da
Administração Pública.
Já o sujeito ativo vem disciplinado no art. 2º da referida lei definindo da seguinte forma “É sujeito ativo do
crime de abuso de autoridade qualquer agente público, servidor ou não, da administração direta, indireta
ou fundacional de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e de
Território, compreendendo, mas não se limitando a:
I - servidores públicos e militares ou pessoas a eles equiparadas;
II - membros do Poder Legislativo;
III - membros do Poder Executivo;
IV - membros do Poder Judiciário;
V - membros do Ministério Público;
VI - membros dos tribunais ou conselhos de contas.
Parágrafo único. Reputa-se agente público, para os efeitos desta Lei, todo aquele que exerce, ainda que
transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função em órgão ou entidade abrangidos
pelo caput deste artigo.”
Analisando o artigo em estudo, verificamos se tratar de um conceito amplo de agente público, a fim de
exemplificar quem os são, foi dado um rol nos incisos, mas podendo se estender a mais pessoas que não
esteja nos incisos em estudo, haja vista não ser um rol taxativo e sim exemplificativo.
O parágrafo único, considerada uma norma explicativa, ou seja, ela explica quem é agente público para
efeitos dessa lei, igualmente faz o artigo 327 do Código Penal, que também explica o que e funcionário
público, mas devemos para efeitos dessa lei, observar o disposto nesse parágrafo único, devido o principio
da especialidade (A norma especial afasta a incidência da norma geral).
Como estamos no estudo de sujeito ativo, vale lembrar sobre a possibilidade de coautoria e participação
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nos crimes que logo estudaremos, ou seja, é possível que uma pessoa que não seja agente público, pratique
algum crime exposto nessa lei?
Sim, mas só em coautoria ou participação, haja vista que agente público é elementar de todos os tipos
penais dessa lei, por isso, comunica-se aos que não estiverem nessa situação funcional, lembremos o que
diz o artigo 30 do Código Penal “Não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter pessoal,
salvo quando elementares do crime.”
Exemplo, o policial militar decide com ajuda de um amigo (que não e agente público) a constranger o
preso, para satisfação pessoal, por que era seu inimigo, a exibir parte do corpo à curiosidade pública.
Esse amigo que não é agente público, responderá juntamente com o policial militar com base no artigo 13
da nova lei de abuso de autoridade em coautoria, haja vista que como anteriormente falado, por ser agente
público elementar do crime, ou seja, estar disposto dentro do tipo penal à condição de caráter pessoal, esse
se comunica.

DA AÇÃO PENAL
Disciplinado no art. 3º da referida lei “Os crimes previstos nesta Lei são de ação penal pública
incondicionada.”
Trata-se aqui dos tipos de ação penal, sendo que para processar um agente público pelos crimes dessa lei,
será por meio de ação penal pública incondicionada, exclusividade do ministério público, caso este se
mantenha inerte, poderá o ser intentada a ação penal privada subsidiaria da pública, tendo como prazo de
decadencial de 6 (seis) meses.

DOS EFEITOS DA CONDENAÇÃO


Disciplinado no art. 4º da referida lei “São efeitos da condenação:
I - tornar certa a obrigação de indenizar o dano causado pelo crime, devendo o juiz, a requerimento do
ofendido, fixar na sentença o valor mínimo para reparação dos danos causados pela infração,
considerando os prejuízos por ele sofridos;
II - a inabilitação para o exercício de cargo, mandato ou função pública, pelo período de 1 (um) a 5
(cinco) anos;
III - a perda do cargo, do mandato ou da função pública.
Parágrafo único. Os efeitos previstos nos incisos II e III do caput deste artigo são condicionados à
ocorrência de reincidência em crime de abuso de autoridade e não são automáticos, devendo ser
declarados motivadamente na sentença.”
O agente público que vier a ser condenado pela prática de um ou mais crimes expostos na lei em estudo,
além da pena a ele cominada, sofrerá os efeitos dos incisos acima transcritos, devendo indenizar os danos
causados pelo abuso de autoridade, se a vítima assim requerer e provar os prejuízos sofridos, podendo ficar
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inabilitado para exercício de cargo, mandato ou função publica, pelo período de 1 a 5 anos, e também
podendo perder o cargo, o mandato ou a função pública.
Para que o Juiz condene o agente público nos incisos II e III, deve o agente público ser reincidente na
prática do crime de abuso de autoridade, ou seja, estar sofrendo uma segundo condenação por crime de
abuso de autoridade, sendo assim a lei não permite ao juiz a aplicação na sentença dos incisos II e III se
não for o agente público reincidente.

DAS SANÇÕES DE NATUREZA CIVIL E ADMINISTRATIVA


Aduz o artigo 6º da lei em estudo que ―As penas previstas nesta Lei serão aplicadas independentemente
das sanções de natureza civil ou administrativa cabíveis.
Parágrafo único. As notícias de crimes previstos nesta Lei que descreverem falta funcional serão
informadas à autoridade competente com vistas à apuração.”
Estamos diante da tríplice responsabilidade, sendo que a sanção no âmbito criminal não exclui a
possibilidade das sanções administrativas e civis.
Noticiado à prática de um dos crimes previstos nesta lei, será reportado a autoridade competente para
apuração de possível falta funcional.
Descreve o artigo 7º “As responsabilidades civil e administrativa são independentes da criminal, não se
podendo mais questionar sobre a existência ou a autoria do fato quando essas questões tenham sido
decididas no juízo criminal.”
Confirmada a autoria e a materialidade do crime de abuso de autoridade no juízo criminal, não mais poderá
ser contestada em outros âmbitos.
Disciplina o artigo 8º “Faz coisa julgada em âmbito cível, assim como no administrativo-disciplinar, a
sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em
estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.”
Restando decido no âmbito criminal que o abuso de autoridade ocorreu por uma das excludentes de
ilicitude, não poderá ser o agente condenado no âmbito civil ou administrativo-disciplinar.

DOS CRIMES EM ESPÉCIE


A nova lei de abuso de autoridade descreve diversos crimes que podem ser cometidos por Juízes,
Promotores de Justiça, Delegado, Deputados, Senadores, Policiais e etc.
Com a finalidade didática, iremos nos ater aos crimes que podem ser cometidos por policiais, lembrando
que o rol de crimes e bem maior do que o exposto a seguir.

Deixar de comunicar a prisão em flagrante


Considerações gerais: Disciplina o art. 12 “Deixar injustificadamente de comunicar prisão em flagrante à
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autoridade judiciária no prazo legal: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”
Sendo assim a autoridade policial deixa de maneira injustificada de comunicar a prisão de uma pessoa a
autoridade judiciária (juiz) no prazo legal (art. 306, §1º do CPP, prazo de 24 horas).
Observe que a lei e clara, a autoridade policial deixa de maneira injustificada, caso tenha uma justificativa
não incorre no crime e mais, para incorrer no crime vale lembrar que a autoridade tem que estar imbuída do
dolo específico, ou seja, ela tem que deixar de comunicar a prisão em flagrante a autoridade judiciaria no
prazo legal, sem nenhuma justificativa e ainda tem que ser com o intuito de ―prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.”, com a ausência
do dolo específico estaremos diante de uma conduta atípica.
Exemplo: O delegado ao receber um preso em flagrante, podendo avisar o Juiz no prazo legal (24 horas)
não o faz por que não esta com vontade (mero capricho).
Figuras equiparadas: Aduz o paragrafo único “ Incorre na mesma pena quem:
I - deixa de comunicar, imediatamente, a execução de prisão temporária ou preventiva à autoridade
judiciária que a decretou;
II - deixa de comunicar, imediatamente, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontra à sua
família ou à pessoa por ela indicada;
III - deixa de entregar ao preso, no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, a nota de culpa, assinada pela
autoridade, com o motivo da prisão e os nomes do condutor e das testemunhas;
IV - prolonga a execução de pena privativa de liberdade, de prisão temporária, de prisão preventiva, de
medida de segurança ou de internação, deixando, sem motivo justo e excepcionalíssimo, de executar o
alvará de soltura imediatamente após recebido ou de promover a soltura do preso quando esgotado o
prazo judicial ou legal.”
Lembrando que para que cometa esses crimes, o agente público deve agir para ―prejudicar outrem ou
beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação pessoal.”.

Constranger o preso ou o detento


Considerações gerais: Prescreve o artigo 13 da lei em estudo que “Constranger o preso ou o detento,
mediante violência, grave ameaça ou redução de sua capacidade de resistência, a:
I - exibir-se ou ter seu corpo ou parte dele exibido à curiosidade pública;
II - submeter-se a situação vexatória ou a constrangimento não autorizado em lei;
III - (VETADO). (Promulgação partes vetadas)
III - produzir prova contra si mesmo ou contra terceiro:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, sem prejuízo da pena cominada à violência.”
Este tipo penal tem como meta punir o agente público que por meio da violência, grave ameaça ou outro
meio que reduza a capacidade de resistência o constrange das formas elencadas nos incisos, devendo o
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agente estar com o intuito de ―prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por
mero capricho ou satisfação pessoal.”
Deixar de identificar-se ou fazer falsamente
Considerações gerais: Disciplina o artigo 16 da lei em estudo “Deixar de identificar-se ou identificar-se
falsamente ao preso por ocasião de sua captura ou quando deva fazê-lo durante sua detenção ou prisão:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.”
O tipo penal em comento, puni o agente público que esta prendendo uma pessoa e recusa a se identificar,
ou se vem a se identificar faz falsamente. Vale novamente salientar que há a necessidade do dolo especifico
(prejudicar outrem ou beneficiar a si mesmo ou a terceiro, ou, ainda, por mero capricho ou satisfação
pessoal)
Sendo assim, se o agente público deixa de se identificar, ou fizer de maneira falsa, devido ser necessário
para a continuidade das investigações, por exemplo, por que trabalha com sigilo (serviço velado), não
incorre na prática do crime de abuso de autoridade.
Particularidade: Disciplina o Parágrafo único. “Incorre na mesma pena quem, como responsável por
interrogatório em sede de procedimento investigatório de infração penal, deixa de identificar-se ao preso
ou atribui a si mesmo falsa identidade, cargo ou função.”

Impedir entrevista com advogado


Considerações gerais: Aduz o artigo 20 da lei em comento “Impedir, sem justa causa, a entrevista
pessoal e reservada do preso com seu advogado: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e
multa.”
O tipo penal tem o condão de punir o agente público que impedi a entrevista com o advogado, sendo assim,
mesmo antes da apresentação da ocorrência no Distrito Policial, o advogado estando presente, deve
permitir a entrevista com o preso.

Presos de ambos os sexos


Considerações gerais: Disciplina o artigo 21 da lei em comento “Manter presos de ambos os sexos na
mesma cela ou espaço de confinamento: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”
Não resta dúvida quanto que responde por este crime o agente publico que de manter presos de ambos os
sexos na mesma cela, o que pode gerar alguma divergência de interpretação e a análise de ―espaço de
confinamento‖, que segundo entendimento geral é qualquer área não projetada para ocupação humana
contínua e que possua meios limitados de entrada e saída, ou seja, pode ser que o compartimento de preso
seja assim interpretado.

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Figura equiparada: Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem mantém, na mesma cela, criança ou
adolescente na companhia de maior de idade ou em ambiente inadequado, observado o disposto na Lei nº
8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente).

Violação de imóvel alheio


Considerações gerais: Aduz o artigo 22 da lei em comento “Invadir ou adentrar, clandestina ou
astuciosamente, ou à revelia da vontade do ocupante, imóvel alheio ou suas dependências, ou nele
permanecer nas mesmas condições, sem determinação judicial ou fora das condições estabelecidas em lei:
Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”
Este tipo penal, puni o agente público que invadir ou adentrar imóvel alheio ou suas dependências
(garagem, quintal), de forma clandestina ou astuciosamente, ou contra a vontade do ocupante (morador,
possuidor, proprietário), ou nele permanecer nas mesmas condições, sem ordem judicial ou se não for para
prestar socorro, em caso de flagrante delito, ou durante o dia em cumprimento de determinação judicial ou
ainda devido um desastre.
Em que pese o código penal ter um crime em seu rol quase idêntico a este, no primeiro o sujeito ativo pode
ser qualquer pessoa, já nesse crime o sujeito ativo e próprio, somente o agente público ou o particular em
coautoria ou participação.
Figura equiparada: Prescreve o §1º “Incorre na mesma pena, na forma prevista no caput deste artigo,
quem:
I - coage alguém, mediante violência ou grave ameaça, a franquear-lhe o acesso a imóvel ou suas
dependências;
II - (VETADO);
III - cumpre mandado de busca e apreensão domiciliar após as 21h (vinte e uma horas) ou antes das 5h
(cinco horas).”
Excludente de ilicitude: Disciplina o §2º “Não haverá crime se o ingresso for para prestar socorro, ou
quando houver fundados indícios que indiquem a necessidade do ingresso em razão de situação de
flagrante delito ou de desastre.”.
Observe no prescrito da excludente que trata de fundados indícios, sendo assim para haver o ingresso em
um imóvel alheio e necessário convicção que esta ocorrendo um flagrante delito ou em caso de crimes
permanentes (por exemplo, tráfico de drogas), evidências suficientes para embasar um ingresso em
residência alheia (exemplo, informações através de delator).

Inovação artificiosa
Considerações gerais: O artigo 23 da nova lei de abuso de autoridade traz em seu corpo, o seguinte texto
“inovar artificiosamente, no curso de diligência, de investigação ou de processo, o estado de lugar, de
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coisa ou de pessoa, com o fim de eximir-se de responsabilidade ou de responsabilizar criminalmente
alguém ou agravar-lhe a responsabilidade: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”
Observe que o tipo penal tem o intuito de punir o agente que para eximir-se de responsabilidade ou com a
intenção de responsabilizar criminalmente alguém ou piorar (agravar) a responsabilidade, inova
artificiosamente (realiza algo novo de forma ardilosa), modificando o lugar, coisa ou pessoa.
Exemplo, um policial militar recebe uma ligação particular do irmão, o qual informa que acaba de atropelar
uma pessoa. Ao chegar ao local dos fatos, verifica uma pessoa atropelada em óbito, um veículo batido e
uma pessoa desacordada dentro do veículo, sem mais nenhum testemunha no local. O PM junto com o
irmão, pega o corpo em óbito coloca debaixo do veículo que esta com a pessoa desacordada a fim de
demonstrar que a culpa não foi do seu irmão e sim da outra pessoa.
Veja que no exemplo, o perito de forma artificiosa inovou o estado de pessoa e lugar, alterando tanto o
corpo como toda a cena criminosa, a fim de eximir a responsabilidade do irmão e responsabilizar alguém.
Figura equiparada: Aduz o Parágrafo único. “Incorre na mesma pena quem pratica a conduta com o
intuito de:
I - eximir-se de responsabilidade civil ou administrativa por excesso praticado no curso de diligência;
II - omitir dados ou informações ou divulgar dados ou informações incompletos para desviar o curso da
investigação, da diligência ou do processo.”
O inciso I fala em responsabilidade administrativa, esclarecendo que o Policial Militar que no curso de um
processo administrativo resolve inovar artificiosamente o estado de lugar, de coisa ou de pessoa, com os de
eximir-se da responsabilidade, responderá por crime de abuso de autoridade.

Constranger a admitir para tratamento pessoa em óbito


Considerações gerais: Disciplina o art. 24 “Constranger, sob violência ou grave ameaça, funcionário ou
empregado de instituição hospitalar pública ou privada a admitir para tratamento pessoa cujo óbito já
tenha ocorrido, com o fim de alterar local ou momento de crime, prejudicando sua apuração: Pena -
detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.”
Será responsabilizado o agente público que utilizar de violência ou grave ameaça para constranger um
funcionário ou empregado de hospital público ou privado a receber uma pessoa em óbito e admitir que o
falecimento ocorreu dentro da instituição hospitalar, a fim de alterar local e momento do crime.
Observe que além da finalidade do tipo penal, deve haver os dolos específicos já descritos acima.
Vale ressaltar que socorrer uma pessoa a qual se acredita estar viva, mas descobre que já estava em óbito
na verificação preliminar na emergência do hospital, não constitui o crime em estudo. Para a constituição
do crime deve haver constrangimento, com uso de violência ou grave ameaça, para que a pessoa admita
para tratamento pessoa cujo óbito já tenha ocorrido.

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Obtenção dolosa de prova ilícita
Considerações gerais: Aduz o art. 25 “Proceder à obtenção de prova, em procedimento de investigação
ou fiscalização, por meio manifestamente ilícito: Pena - detenção, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.”
O agente público usando de meios ilícitos consegue obter provas contra um suposto investigado ou pessoa
que esta sob fiscalização, além da inadmissibilidade da prova obtida, incorra o agente no crime em estudo.
Exemplo, um policial militar aborda uma pessoa próxima a uma comunidade, após busca pessoal encontra
certa quantia em dinheiro, bem como o celular do abordado. Após questionamentos, o abordado declara já
ter sido preso por tráfico de drogas, mas que estava ali só de passagem e o dinheiro e fruto de seu trabalho
como lavador de carros. Desconfiado do testemunho o policial consegue acessar os dados do “whatsapp”
do abordado e descobre que todo o dinheiro provém do tráfico e que estava indo buscar mais com seus
comparsas, em ato continuo leva para a Delegacia onde e preso.
Nesse exemplo, o policial no momento que acessa os dados do celular do preso e obtém as conversas que
levam a prisão em flagrante, só ira cometer o crime se tiver agido em dolo especifico do artigo 1º.
Figura equiparada: Dispõe o parágrafo único “Incorre na mesma pena quem faz uso de prova, em
desfavor do investigado ou fiscalizado, com prévio conhecimento de sua ilicitude.”
Sendo assim, não só a obtenção de prova manifestamente ilícita e crime de abuso de autoridade, utiliza-la
sabendo que provém de ilicitude, também incorre em prática do crime, lembrando que para tanto deve o
agente ter o dolo específico. Por exemplo, o Juiz mesmo tendo o conhecimento que a prova foi obtida de
maneira ilícita decide aceita-la no processo e a utiliza-la para sentenciar o réu, mas fez isso para buscar a
verdade real dos fatos (princípio consagrado do direito penal), não incorre no crime por que não agiu sobre
a égide do dolo especifico do artigo 1º.

Exigir informação
Considerações gerais: Disciplina o artigo 33 que “Exigir informação ou cumprimento de obrigação,
inclusive o dever de fazer ou de não fazer, sem expresso amparo legal: Pena - detenção, de 6 (seis) meses
a 2 (dois) anos, e multa.”
Esse crime não está muito ligado com a prática policial, mas a figura equiparada a seguir esta presente no
dia a dia do policial militar.
Figura equiparada: Aduz o parágrafo único que “Incorre na mesma pena quem se utiliza de cargo ou
função pública ou invoca a condição de agente público para se eximir de obrigação legal ou para obter
vantagem ou privilégio indevido.”
Estamos diante da famosa ―carteirada‖, onde o agente público utiliza sua posição para se esquivar de
obrigações, deveres legais.
Exemplo, um Juiz de direito conduzindo seu veiculo em estado nítido de embriaguez, ao seu abordado pela
viatura da Policial Militar, já desce do veículo dizendo ―quero ver que vai ter coragem de iniciar uma
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fiscalização e mais, terá coragem de me prender, sou Juiz dessa cidade‖.
Observe no exemplo que o magistrado utilizou da função pública para se eximir de obrigação legal e ainda
de obter vantagem, vejam que o dolo específico (beneficiar a si mesmo) está totalmente imbricado na
conduta.
Imagine outro exemplo, um Policial Militar na rodovia a mais de 180 km por hora em seu veiculo, quando
e abordado por equipes da Policia Rodoviária. Ao desembarcar do veículo se apresenta como Policial
Militar, mas informa que estava naquela velocidade por que esta socorrendo sua mãe que esta no banco
desmaiada.
Veja que nessa conduta ele não utilizou a ―carteirada‖, ele se apresentou (obrigação funcional) e informou
os fatos que estavam ocorrendo, podendo as viaturas da Polícia Rodoviária tomar todos os procedimentos
administrativos cabíveis, devendo prover o socorro ou autorizar a continuidade do socorro.

Aula 27 e 28 - Lei de drogas

DROGAS - LEI N. 11.343/2006

Considerações iniciais
A Lei n. 11.343/2006, que dispõe sobre medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção
social de usuários e dependentes de drogas e estabelece normas para repressão à produção não autorizada e
ao tráfico ilícito de drogas. Com a leitura da lei percebe-se nitidamente que não tem o propósito único de
punir, mas também de prevenir o tráfico e uso indevidos, cuidando igualmente do tratamento e da
recuperação do dependente.

Do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – SISNAD


A Lei de Drogas instituiu um novo órgão denominado Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas
– SISNAD, com a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com a
prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas e a
repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas.

Terminologia adotada pela lei 11.343/2006


A lei optou pelo termo drogas.
O parágrafo único do art. 1º, dispõe: “Para fins desta Lei, consideram-se como drogas as substâncias ou
os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas
atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União”.

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Com a lei, foi adotado um conceito legal desta categoria jurídica chamada drogas, que não ficou restrito à
categoria dos entorpecentes, nem das substâncias causadoras de dependência física ou psíquica.
Consideram-se drogas todas as substâncias ou produtos com potencial de causar dependência, com a
condição de que estejam relacionadas em dispositivo legal competente.
Conforme dicção do art. 14, I, a, do Decreto n. 5.912/06, caberá ao Ministério da Saúde, publicar listas
atualizadas periódicas.
Ao referir-se a drogas, portanto, a lei criou normas penais em branco, cujo preceito deve ser
complementado por norma de natureza extrapenal, no caso Portaria do Serviço de Vigilância Sanitária, do
Ministério da Saúde. Assim, se for constatada a existência de alguma substância entorpecente não
relacionada na Portaria n. 344/98, por força do princípio da legalidade, sua produção, comercialização,
distribuição ou consumo não constituirá crime de tráfico ou de porte para consumo pessoal.

DOS CRIMES E DAS PENAS


Posse para consumo pessoal
Considerações iniciais: Dispõe o art. 28 da lei em estudo, “Quem adquirir, guardar, tiver em depósito,
transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I – advertência sobre os efeitos
das drogas; II – prestação de serviços à comunidade; III – medida educativa de comparecimento a
programa ou curso educativo.” Objeto jurídico (bem jurídico tutelado) desse crime é a saúde pública, e
não o viciado. Nesse crime se quer evitar é o perigo social que representa a detenção ilegal do tóxico, ante
a possibilidade de circulação da substância, com a consequente disseminação.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido em diversos verbos, os quais a
doutrina classifica como tipo misto alternativo. Com a ideia de facilitar à didática, faremos considerações
de cada verbo:
Adquirir: é obter mediante troca, compra ou a título gratuito.
Guardar: é a retenção da droga em nome e à disposição de outra pessoa, isto é, consiste em manter a droga
para um terceiro. Quem guarda, guarda para alguém.
Ter em depósito: é reter a coisa à sua disposição, ou seja, manter a substância para si mesmo. Essa conduta
típica foi introduzida pela nova Lei.
Transportar: pressupõe o emprego de algum meio de transporte, pois, se a droga for levada junto ao
agente, a conduta será a de ―trazer consigo‖. Trata-se de delito instantâneo, que se consuma no momento
em que o agente leva a droga por um meio de locomoção qualquer. Essa figura típica também foi
introduzida pela nova Lei.
Trazer consigo: é levar a droga junto a si, sem o auxílio de algum meio de locomoção. É o caso do agente
que traz a droga em bolsa, pacote, nos bolsos, em mala ou no próprio corpo.
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Objeto material: é a droga, dispostas na Portaria SVS/MS n. 344, de 12 de maio de 1998.
Tipo subjetivo: é o dolo
Elemento normativo: é aquele cujo significado exige prévia interpretação pelo juiz, que no crime em
estudo esta demonstrado na expressão ―sem autorização‖ ou ―em desacordo com determinação legal ou
regulamentar‖.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado (coletividade)
Consumação: com a prática de qualquer um das condutas descritas no tipo penal.
Tentativa: segundo majoritária doutrina, não há possibilidade de tentativa. Há quem sustente a
possibilidade de tentativa na conduta ―adquirir‖, quando, iniciado o ato executório de aquisição.
Particularidades: O crime em estudo, traz em seu descritivo o termo consumo pessoal, algo um tanto
complexo para se verificar no caso real, para tanto o juiz deve atender à natureza e à quantidade da
substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação, às circunstâncias sociais e
pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente (art. 28, §2º)
Aduz o § 2º do art. 48 da lei em estudo, “tratando-se da conduta prevista no art. 28 desta Lei, não se
imporá prisão em flagrante, devendo o autor do fato ser imediatamente encaminhado ao juízo competente
ou, na falta deste, assumir o compromisso de a ele comparecer, lavrando-se termo circunstanciado e
providenciando-se as requisições dos exames e perícias necessários.” (significa apenas a não lavratura do
auto de prisão em flagrante e a não condução ao cárcere. Nada impede que seja o autor do fato capturado e
levado perante a autoridade competente, conforme dicção do § em estudo.)
Figuras equiparadas: Dispõe o § 1º do art. 28, “Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo
pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou
produto capaz de causar dependência física ou psíquica.”
As penas do crime em estudo: De acordo com a Lei, não há qualquer possibilidade de imposição e pena
privativa de liberdade, sendo as penas adotadas as seguintes:
I- advertência sobre os efeitos das drogas;
II- prestação de serviços à comunidade: será aplicada pelo prazo de 5 meses, se primário; 10 meses, se
reincidente (§§3º e 4º do art. 28). Será cumprida em programas comunitários, entidades educacionais ou
assistenciais, hospitais, estabelecimentos congêneres, públicos ou privados sem fins lucrativos, que se
ocupem, preferencialmente, da prevenção do consumo ou da recuperação de usuários e dependentes de
drogas (§ 5º).
III- medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo: será aplicada pelo prazo de 5
meses, se primário; 10 meses, se reincidente. (§§3º e 4º do art. 28)

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O § 6º do art. em estudo, disciplina “para garantia do cumprimento das medidas educativas a que se
refere o caput, nos incisos I, II e III, a que injustificadamente se recuse o agente, poderá o juiz submetê-lo,
sucessivamente a: I - admoestação verbal; II - multa.”
I - admoestação verbal; (consistir em censura verbal feita pelo juiz, concitando o agente a cumprir a medida
que lhe foi aplicada.)
II - multa. (consiste em sanção pecuniária, aplicável ao agente que, injustificadamente, se recuse a cumprir
as penas de prestação de serviços à comunidade e comparecimento a programa ou curso educativo. Deve
suceder a admoestação verbal. O art. 29 dispõe ―Na imposição da medida educativa a que se refere o inciso
II do § 6º do art. 28, o juiz, atendendo à reprovabilidade da conduta, fixará o número de dias-multa, em
quantidade nunca inferior a 40 (quarenta) nem superior a 100 (cem), atribuindo depois a cada um, segundo
a capacidade econômica do agente, o valor de um trinta avos até 3 (três) vezes o valor do maior salário
mínimo.‖)

Tráfico de drogas
Considerações iniciais: Disciplina o art. 33 “Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar,
adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze)
anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa.” O bem jurídico tutelado é a
saúde pública. O crime em estudo esta no rol dos crimes hediondos.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido em diversos verbos, em 18
(dezoito), os quais a doutrina classifica como tipo misto alternativo. Passamos analisar um a um:
Importar: é trazer a droga para dentro do território nacional, por via aérea, marítima ou terrestre. Consuma-
se o delito quando são transpostas as fronteiras do País, no momento em que o agente penetra no território,
mar territorial ou espaço aéreo nacional.
Exportar: consiste em fazer a mercadoria sair do território nacional. A exportação, assim como a
importação, é crime de perigo abstrato, presumindo-se o dano para a comunidade internacional. A lei só
pune a exportação clandestina e irregular da droga, uma vez que é permitida a exportação de drogas com
finalidade científica ou terapêutica.
Remeter: significa mandar, entregar, enviar, encaminhar, expedir, desde que dentro do País (caso contrário,
será importação ou exportação).
Preparar: consiste na combinação de substâncias para a formação da droga. Assim, só ocorre o delito de
preparação quando as substâncias empregadas na composição da droga não são tóxicas em si mesmas.
Caso contrário, se os componentes já forem substâncias proibidas, sua combinação será mero exaurimento.

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Produzir: é criar, seja em pequena ou em grande escala. Assim, a extração da mescalina do cacto peyote
seria classificada como produzir, ao passo que a transformação da cocaína bruta em cloridrato de cocaína,
solúvel em água, para ser injetada, tipificar-se-ia como preparar. A produção diz respeito a drogas
sintéticas, que são produzidas em laboratório. A preparação é uma combinação rudimentar. A distinção,
todavia, é sutil.
Fabricar: é a produção em escala e por meio industrial.
Adquirir: é obter mediante troca, compra ou a título gratuito.
Vender: é a alienação a título oneroso, com recebimento de dinheiro ou qualquer outra mercadoria em
troca. Compreende, portanto, a compra e a troca.
Expor à venda: é exibir a droga a possíveis compradores, com a finalidade de venda. Trata-se de conduta
permanente: enquanto a droga estiver exposta para a venda, o agente pode ser preso em flagrante.
Oferecer: significa sugerir a aquisição, mediante pagamento ou troca, ou a aceitação gratuita. No
oferecimento, o traficante vai em direção ao potencial usuário ou adquirente e lhe apresenta a proposta.
Ter em depósito: é reter a coisa à sua disposição, ou seja, manter a substância para si mesmo.
Transportar: pressupõe o emprego de algum meio de transporte. Trata-se de delito instantâneo, que se
consuma no momento em que o agente leva a droga por um meio de locomoção qualquer.
Trazer consigo: é levar a droga junto a si, sem o auxílio de algum meio de locomoção. É o caso do agente
que traz a droga em bolsa, pacote, nos bolsos, em mala ou no próprio corpo.
Guardar: é a retenção da droga em nome e à disposição de outra pessoa
Prescrever: é receitar. Trata-se da única conduta do art. 33 que configura crime próprio, pois só pode ser
praticada por profissional que possa receitar a droga, por exemplo, médico ou dentista.
Ministrar: é injetar, inocular, aplicar.
Entregar a consumo: Apenas fez menção à entrega a consumo, ainda que gratuita.
Fornecer: significa dar, entregar. O fornecimento pode ser a título oneroso ou gratuito. A diferença entre a
venda e o fornecimento oneroso está em que este último é mais um abastecimento. Fornecedor é aquele que
abastece os estoques do vendedor. Assim, o fornecimento seria uma venda contínua a determinada pessoa.
Quanto ao fornecimento gratuito, pode ser eventual.
Objeto material: é a droga
Tipo subjetivo: é o dolo
Sujeito ativo: qualquer pessoa, exceto no verbo prescrever
Sujeito passivo: é a coletividade
Consumação: como vimos, consuma-se o delito com a prática de uma das ações previstas no tipo.
Algumas condutas são permanentes, como guardar, ter em depósito, trazer consigo e expor à venda. Nesses
casos, enquanto dita conduta estiver sendo praticada, o momento consumativo prolonga-se no tempo. As
demais modalidades são instantâneas. O crime consuma-se em um momento determinado.
70
Tentativa: de difícil configuração, uma vez que, diante da grande variedade de condutas, a tentativa de
uma das formas já é a consumação de outra.
Figuras equiparadas: Disciplina o § 1º do art. em estudo “Nas mesmas penas incorre quem: I - importa,
exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito,
transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação
de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal
ou regulamentar, de plantas que se constituam em matéria-prima para a preparação de drogas; III -
utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou
vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. IV - vende ou entrega
drogas ou matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas, sem autorização
ou em desacordo com a determinação legal ou regulamentar, a agente policial disfarçado, quando
presentes elementos probatórios razoáveis de conduta criminal preexistente.”
Demais crimes dentro do art. em estudo: Dispõe o § 2º “Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso
indevido de droga: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-
multa.”
Induzir é dar a ideia, isto é, fazer nascer a ideia de usar a droga na cabeça de uma pessoa que sequer havia
cogitado tal hipótese. Instigar é reforçar uma ideia já existente, incrementando o ânimo de quem já estava
inclinado a fazer uso da droga. Auxiliar é dar apoio efetivo, estrutural, material ao usuário.
O elemento subjetivo exigível na espécie é o dolo, a vontade livre e consciente de auxiliar, induzir ou
instigar. Nas lições de Fernando Capez “A ação precisa ser dirigida a uma pessoa determinada, não
bastando a propaganda genérica feita sem destinação específica, para configurar induzimento ou
instigação”
Para a consumação, é necessário que ocorra o efetivo consumo da droga. Tem-se admitido a tentativa,
quando o uso não chega a se efetivar por circunstâncias alheias à vontade do agente.
Convém mencionar que o Supremo Tribunal Federal, na Arguição de Descumprimento de Preceito
Fundamental (ADPF) n. 187, em decisão unânime, excluiu do campo de incidência da norma do art. 287 as
manifestações em favor da descriminalização de substâncias psicotrópicas, em especial, a denominada
―marcha da maconha‖, por estar acobertada pelos direitos constitucionais de reunião e de livre expressão
do pensamento.
O §3º “Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu relacionamento, para
juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a
1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28.”

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Trata-se este crime de cessão gratuita e eventual de droga. Vejam que a lei não cuida de qualquer cessão
gratuita e eventual de drogas, pois exige que a droga seja oferecida para pessoa do relacionamento do
agente e, mais, com a finalidade de juntos a consumirem.
Se a cessão não for eventual, mas constante, ainda que gratuita, poderá haver a caracterização do tráfico
ilícito de drogas.
Causa de diminuição de pena (tráfico privilegiado): Aduz o § 4º “Nos delitos definidos no caput e no §
1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, desde que o agente seja
primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização
criminosa”
A concessão do benefício não configura direito público subjetivo do réu, mas mera faculdade do julgador,
haja vista o legislador deixar claro que poderão ser reduzidas.
Os requisitos constantes são cumulativos e não alternativos.

Aparelhagem para a produção de substância entorpecente


Considerações iniciais: Disciplina o art. 34 “Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender,
distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário,
aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação
de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão,
de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa.” Tem
como objeto jurídico a saúde pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido em diversos verbos, conforme
se vê no tipo penal, mas voltado ao maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado a
fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas. A prática de mais de um verbo (conduta)
não implica concurso de crimes, mas um único delito.
Objeto material: maquinismo, aparelho, instrumento ou objeto destinado à produção de droga. Nos
ensinamentos de Fernando Capez “Pode-se, afirmar que o crime aqui previsto é o de tráfico de aparelhos
e máquinas voltados à produção da droga.”.
Tipo subjetivo: é o dolo
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Consumação: com a prática das condutas incriminadas
Tentativa: admite-se apenas nas modalidades de conduta ―fabricar‖, ―adquirir‖, ―vender‖, ―fornecer‖,
―transportar‖ e ―distribuir‖.

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Associação para o tráfico
Considerações iniciais: Disciplina o art. 35 da lei de drogas, “Associarem-se duas ou mais pessoas para o
fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 desta
Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos)
dias-multa.” O objeto jurídico do crime é a saúde pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo ―associar-se‖
(agregar-se, unir-se). Exige-se o fim de praticar qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e
34 desta Lei.
Tipo subjetivo: é o dolo em associar-se em duas ou mais pessoas em caráter estável, com a finalidade
especial de cometer um ou mais delitos de tráfico.
Sujeito ativo: qualquer pessoa,
Sujeito passivo: é a coletividade
Consumação: dá-se com a formação da associação para o fim de cometer tráfico, independentemente da
eventual prática dos crimes pretendidos pelo bando.
Tentativa: não se admite.
Particularidades: Nos ensinamentos de Fernando Capez “o fato de duas pessoas, ocasionalmente,
encontrarem-se na porta de um colégio e decidirem, naquele mesmo instante, induzir um estudante a
consumir entorpecente não constitui associação criminosa, pois se trata de mera reunião casual, sem
qualquer estrutura, ajuste prévio ou estabilidade que possa indicar a permanência de uma associação.”
Figura equiparada: Parágrafo único do art. em estudo dispõe, “Nas mesmas penas do caput deste artigo
incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei.”

Financiamento ou custeamento do tráfico ilícito de drogas ou maquinários


Considerações iniciais: Disciplina o art. 36 da lei de drogas, “Financiar ou custear a prática de qualquer
dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º , e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte)
anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) dias-multa.” O crime em estudo tutela
a saúde pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo ―financiar‖, que
significa prover às despesas de alguma atividade, e ―custear‖, que significa correr com as despesas de algo.
O financiamento ou custeio deve ser da prática dos delitos dos arts. 33, caput e § 1º, e 34.
Tipo subjetivo: é o dolo
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado
Consumação: com o efetivo financiamento ou custeio da atividade ilícita
Tentativa: admissível
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Particularidades: Fernando Capez esclarece “o ato de financiar ou custear deveria constituir
participação (auxílio) no crime de tráfico, punida na forma do art. 29 do CP. Entretanto, o legislador,
optando por adotar uma exceção pluralística à teoria unitária ou monista, cuidou de criar um tipo
autônomo, fazendo com que o financiador e o custeador sejam considerados autores desse delito e não
meros partícipes do tráfico”.
Colaboração como informante
Considerações iniciais: Dispõe o art. 37 da lei de drogas “Colaborar, como informante, com grupo,
organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º
, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700
(setecentos) dias-multa.” O crime em tela tem como objeto jurídico a saúde pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo ―colaborar‖, que
significa ajudar, auxiliar, trabalhar em conjunto. Deve o agente colaborar ―como informante‖ com o grupo,
organização ou associação.
Tipo subjetivo: é o dolo
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado
Consumação: com a efetiva colaboração, como informante, independentemente da prática de qualquer ato
pelo grupo, associação ou organização criminosa.
Tentativa: admissível

Aula 29 e 30 - Lei de drogas

Prescrever ou ministrar culposamente em excesso ou irregularmente


Considerações iniciais: Aduz o art. 38 da lei de drogas, “Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas,
sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação
legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta)
a 200 (duzentos) dias-multa.” O crime em tela tem como fito tutelar a saúde pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo ―prescrever‖ (indicar,
receitar) e ―ministrar‖ (dar, fornecer, administrar). A droga deve ser prescrita ou ministrada sem que dela
necessite o paciente, ou em doses excessivas ou ainda em desacordo com determinação legal ou
regulamentar. A conduta típica passou a abranger qualquer prescrição culposa, seja ela em paciente que
necessita da droga, mas em doses menores, ou o paciente que dela não precisa, mas é atingido pela conduta
culposa do agente.
Tipo subjetivo: é a culpa, em caso de dolo a conduta será a do art. 33

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Sujeito ativo: Trata-se de crime próprio, sendo assim só pode ser cometido por médico, o dentista,
(conduta de prescrever e ministrar) o farmacêutico ou o profissional de enfermagem (conduta de ministrar)
Sujeito passivo: é a coletividade, em segundo plano a pessoa que recebe a dose.
Consumação: no momento em que é feita a prescrição ou a aplicação culposa, mesmo que não ocorra a
aquisição da substância.
Tentativa: Inadmissível, por se tratar de crime culposo.
Particularidades: Dispõe o paragrafo único do art. em estudo “O juiz comunicará a condenação ao
Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente.”.

Causas especiais de aumento de pena


Considerações iniciais: Disciplina o art. 40 da lei em estudo, “As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta
Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do
produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; II - o agente
praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder
familiar, guarda ou vigilância; III - a infração tiver sido cometida nas dependências ou imediações de
estabelecimentos prisionais, de ensino ou hospitalares, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais,
recreativas, esportivas, ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de recintos onde se realizem
espetáculos ou diversões de qualquer natureza, de serviços de tratamento de dependentes de drogas ou de
reinserção social, de unidades militares ou policiais ou em transportes públicos; IV - o crime tiver sido
praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação
difusa ou coletiva; V - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito
Federal; VI - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer
motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; VII - o agente financiar ou
custear a prática do crime.”
Explicações: inciso I trata do tráfico ―transnacional‖, correspondendo ao atual tráfico ―internacional‖ de
drogas.
Inciso II prevê aumento de pena aos agentes que, tendo a função de combater a criminalidade e,
principalmente, o tráfico ilícito de drogas, lançam-se ao comércio clandestino, prevalecendo-se da função
pública. Esta causa de aumento de pena alcança também aquelas pessoas que, embora não titulares de
função pública, tenham ―missão de educação, poder familiar, guarda e vigilância‖ sobre as vítimas ou as
drogas.
No inciso III a enumeração é taxativa, incidindo a causa de aumento em razão do maior perigo à saúde
pública pela atuação do tráfico e demais delitos em locais de grande afluxo de pessoas.

75
No inciso IV embora não preveja expressamente a lei, a causa de aumento é aplicada sem prejuízo das
penas correspondentes à violência, à grave ameaça, ao porte ilegal de arma e a eventual resultado danoso
advindo do processo de intimidação.
O inciso V traz o trafico interestadual, caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o
Distrito Federal. Disciplina a Súmula 587 do STJ: ―Para a incidência da majorante prevista no art. 40, V, da
Lei n. 11.343/2006, é desnecessária a efetiva transposição de fronteiras entre estados da Federação, sendo
suficiente a demonstração inequívoca da intenção de realizar o tráfico interestadual‖.
O inciso VI, visa proteger as pessoas sem plena capacidade de entendimento, de discernimento ou de
autodeterminação, seja pela idade, seja por qualquer outra causa, e que, por essa razão, seriam mais
facilmente influenciadas e atingidas pela difusão do vício.
Destarte, o inciso VII, aplica-se ao traficante que financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes
previstos nos arts. 33 a 37 da lei, ou seja, além de participar desses crimes também os financiar. Em sendo
apenas o financiador dos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34, estará configurado o crime do art.
36.

Fiança, sursis, graça, indulto, anistia, liberdade provisória e penas restritivas de direitos
Considerações: Dispõe o art. 44 da lei de drogas, “Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º , e 34 a
37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória,
vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos.”
Explicações: Em 1º de setembro de 2010, o Plenário da Suprema Corte, ao julgar o HC 97.256/RS, Rel. M
in. Ayres Britto, declarou, por maioria, a inconstitucionalidade incidental da parte final do art. 44 da Lei n.
11.343/2006, bem como da expressão ―vedada a conversão em penas restritivas de direitos‖, prevista no §
4º do art. 33 do mesmo diploma legal.
Alterações introduzidas pela Lei n. 11.46407, os crimes hediondos e assemelhados, dentre eles o de tráfico,
passaram a comportar a concessão de liberdade provisória sem fiança (art. 2º, II), sendo alterado, por
consequência, o teor do art. 44 da Lei de Drogas. Essa posição, entretanto, ressaltamos mais uma vez, não é
pacífica.
Particularidades: Disciplina o Parágrafo único do artigo em estudo “Nos crimes previstos no caput deste
artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua
concessão ao reincidente específico.”

Dependência e inimputabilidade
Considerações iniciais: Dispõe o art. 45 da lei de drogas, “É isento de pena o agente que, em razão da
dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação

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ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o
caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.”
Explicações: Dependência consiste em uma relação de natureza fisiológica que se estabelece entre o
indivíduo e a droga, pela qual o primeiro, devido ao uso inicial da substância, acaba por desenvolver uma
patológica necessidade de continuar a consumi-la, a tal ponto que a brusca interrupção do seu consumo
provoca distúrbios fisiológicos capazes de ocasionar intenso sofrimento físico, com possibilidade de levar o
usuário ao coma e à morte. A dependência psíquica é a vontade incontrolável de usar a droga,
independentemente de existir alguma dependência física. É uma compulsão invencível, um desejo mais
forte que o autocontrole ditado pela razão.
Na hipótese de caso fortuito ou força maior, o indivíduo não é doente, nem possui qualquer dependência,
tendo sido vítima do acaso. É o caso do indivíduo que é amarrado por assaltantes, e recebe droga injetada
até perder a capacidade de discernimento. S e a incapacidade for total, será absolvido do crime praticado,
qualquer que tenha sido a infração, sem a imposição de medida de segurança, tratando-se de absolvição
própria (medida de segurança para quê? Ele não é doente, nem dependente). S e a incapacidade for parcial,
receberá condenação com pena diminuída, também não se cogitando de medida de segurança. (art. 46)
Particularidades: Dispõe o Parágrafo único do artigo em estudo, “Quando absolver o agente,
reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições
referidas no caput deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para
tratamento médico adequado.”

PROCEDIMENTO EM CASO DE POSSE PARA CONSUMO PESSOAL


Em caso de crime previsto no art. 28 da Lei de Drogas, não havendo concurso com os crimes previstos nos
arts. 33 a 37, o agente será processado e julgado na forma dos arts. 60 e seguintes da Lei n. 9.099/95, que
dispõe sobre o Juizado Especial Criminal.
Assim, sinteticamente, podemos ter o seguinte roteiro:
Interrupção da atividade criminosa, através da intervenção estatal (polícia civil ou militar): visa fazer
com que cesse o delito, não significando a prisão em flagrante do usuário de drogas, vedada pela lei. Nada
impede, entretanto, a condução coercitiva do agente ao JECRIM ou ao distrito policial.
Definição, pela autoridade policial, da tipificação da conduta: deve a autoridade policial, de início, tão
logo lhe seja apresentada a ocorrência, definir se o agente é usuário (possuindo a droga para consumo
pessoal) ou se é traficante (possuindo a droga para entrega a consumo de terceiros), considerando os
critérios do art. 28, § 2º, da lei. No presente roteiro, deve a conduta ser tipificada como no art. 28 da lei.
Lavratura de Termo Circunstanciado pela autoridade policial: A policia judiciaria (policia civil) tem
como atribuição a lavratura do referido termo

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Encaminhamento do autor do fato ao JECRIM, ou, na falta deste, lavratura de termo de
compromisso de a ele comparecer.
Requisição dos exames e perícias necessários: constatação da substância entorpecente, perícia em
eventuais petrechos apreendidos, exame de corpo de delito etc.
No JECRIM, apresentação imediata ao juiz de direito.
Realização da audiência preliminar: presente o autor do fato e seu defensor, poderá o Ministério Público
propor a transação, que deverá restringir-se à aplicação de advertência, prestação de serviços à comunidade
ou comparecimento a programa ou curso educativo. Não propondo o Ministério Público a transação,
dissentindo o juiz, não poderá ele propô-la, devendo suspender a audiência e encaminhar os autos ao
Procurador-Geral de Justiça, por aplicação analógica do disposto no art. 28 do Código de Processo Penal.
Aceita a proposta de transação pelo autor do fato e seu defensor, segue-se a homologação do juiz e a
imposição da pena.
Não aceita a proposta de transação pelo autor do fato ou seu defensor, o Ministério Público oferecerá
denúncia oral, observando-se o rito dos arts. 77 e seguintes da Lei n. 9.099/95.

PROCEDIMENTO EM CASO DE TRÁFICO DE DROGAS


Prisão em flagrante: com a condução do agente ao distrito policial e a lavratura do respectivo auto.
Comunicação da prisão ao juiz competente, em 24 horas: esse prazo já era previsto no art. 306, § 1º, do
Código de Processo Penal (com a redação que lhe foi dada pela Lei n. 11.449/2007). Recebendo a
comunicação da prisão em flagrante, o juiz dará vista do auto ao órgão do Ministério Público, para análise
da legalidade do ato.
Elaboração de laudo de constatação: para estabelecer a materialidade do delito, verificando-se a natureza
e a quantidade da droga, permitindo a lavratura do auto de prisão em flagrante. Esse laudo será firmado por
um perito oficial (de acordo com a nova redação do art. 159 do Código de Processo Penal, dada pela Lei n.
11.690/2008) ou, na falta deste, por pessoa idônea. Ressaltou a lei que o perito que subscrever o laudo de
constatação não ficará impedido de participar da elaboração do laudo definitivo.
Conclusão do inquérito policial: 30 (trinta) dias estando o indiciado preso e 90 (noventa) dias estando o
indiciado solto. Esses prazos podem ser duplicados pelo juiz, ouvido o Ministério Público, mediante pedido
justificado da autoridade de polícia judiciária.
Remessa dos autos de inquérito policial ao juízo: findo o inquérito policial, a autoridade policial fará
relatório sumário das circunstâncias do fato, justificando as razões que a levaram à classificação do delito,
indicando a quantidade e natureza da substância ou produto apreendido, o local e as condições em que se
desenvolveu a ação criminosa, as circunstâncias da prisão, a conduta, a qualificação e os antecedentes do
agente. Caso não haja condições para a elaboração do relatório final, poderá a autoridade policial requerer a
devolução dos autos de inquérito para a realização de diligências necessárias. Os autos de inquérito
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policial, com o relatório, serão encaminhados a juízo sem prejuízo da realização de diligências
complementares (art. 52, parágrafo único), cujo resultado deverá ser encaminhado ao juízo competente até
3 dias da audiência de instrução e julgamento

ENTREGA VIGIADA
Considerações iniciais: Dispõe o inciso II do art. 53 da lei em estudo “a não-atuação policial sobre os
portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros produtos utilizados em sua produção, que se
encontrem no território brasileiro, com a finalidade de identificar e responsabilizar maior número de
integrantes de operações de tráfico e distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.”
Explicações: o objetivo dessa forma de investigação é permitir que todos os integrantes da rede de
narcotraficantes sejam identificados e presos, além de garantir maior eficiência na investigação, uma vez
que, se a remessa da droga é interceptada antes de chegar ao seu destino, será ignorado o destinatário ou, se
conhecido, não se poderá incriminá-lo. Por razões de política criminal, considera-se mais conveniente não
interceptar imediatamente o carregamento de droga, seus precursores químicos ou outros produtos
utilizados em sua produção, para conseguir um resultado mais positivo, qual seja o desbaratamento de toda
a organização criminosa.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL E DA JUSTIÇA FEDERAL


Estabelece o art. 70 da Lei de Drogas que o processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a 37,
se caracterizado ilícito transnacional, são da competência da Justiça Federal. Assim, a regra geral é de que
a competência para o processo e julgamento dos crimes da Lei de Drogas é da Justiça Estadual, exceção
feita ao ilícito transnacional.

Aula 31 e 32 – Lei de tortura

LEI DE TORTURA – LEI N. 9.455/97


INTRODUÇÃO
A Constituição da República Federativa do Brasil tratou em seu art. 5º, inciso III que “ninguém será
submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante”.
Com o intuito de facilitar nosso estudo, conceituaremos tortura com base nos ensinamentos de Fernando
Capez, como sendo “a inflição de castigo corporal ou psicológico violento, por meio de expedientes
mecânicos ou manuais, praticados por agentes no exercício de funções públicas ou privadas, com o intuito
de compelir alguém a admitir ou omitir fato lícito ou ilícito, seja ou não responsável por ele”

79
Diversos são os tratados os quais o Brasil é signatário que tratando do assunto com o intuito de erradicar tal
prática, tanto que o inciso acima transcrito foi extraído da Convenção Americana de Direito Humanos,
chamada de Pacto de São José da Costa Rica.
Após alguns episódios ocorridos no decorrer dos anos, houve forte pressão internacional para que o Brasil
tivesse uma lei de combate a tortura, sendo promulgada em 1997 a lei 9.455.

DOS CRIMES EM ESPÉCIE


CRIME DE TORTURA
Considerações iniciais: O art. 1º da lei em comento dispõe que “constitui crime de tortura” é por incisos e
alíneas disporá quais práticas estarão imbricadas com prática de tortura. Faremos a seguir uma análise que
vale para todas as práticas de tortura em breve estudadas.
Sujeito ativo: O legislador não deu qualidade especifica ao sujeito ativo, sendo assim o crime em estudo
pode ser cometido por qualquer pessoa, não só por funcionário público.
Sujeito passivo: em grande parte das praticas de tortura, o sujeito passivo pode ser qualquer pessoa,
lembrando que em alguns momentos a qualidade especial para a vítima, por exemplo, a pessoa presa ou
sujeita a medida de segurança.
Tipo subjetivo: é o dolo, na vontade livre e consciente do sujeito ativo em praticar a conduta criminosa.
Consumação: com a prática das condutas descritas em cada tipo penal
Tentativa: admissível, salvo se a pratica for de omissão.

Causar sofrimento físico ou mental


Considerações iniciais: Disciplina o inciso I do art. 1º da lei de tortura “constranger alguém com emprego
de violência ou grave ameaça, causando-lhe sofrimento físico ou mental”.
Tipo objetivo: A conduta, a ação nuclear, a conduta do tipo, está descrita nos verbos “constranger”,
“submeter” e “omitir”.
Particularidades: Este tipo penal para caracterizar deve ter três propósitos, o quais estão descritos nas
alíneas a, b e c:
“a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa;
b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;
c) em razão de discriminação racial ou religiosa;”
A alínea ―a‖ também e denominada pela doutrina como tortura-prova. Indiferente se a prova ira compor
procedimento judicial ou extrajudicial
A alínea ―b‖ também denominada pela doutrina como tortura-crime-meio. Salienta-se que mesmo que a
ação ou a omissão criminosa não ocorra, estará consumado o crime.

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A alínea ―c‖ também denominada pela doutrina como tortura racional, fato que ocorre pelo simples fatos
de ser o agente contrário a um determinada raça ou religião
A ausência dos propósitos acima, não haverá crime de tortura, mas eventualmente outra figura típica
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

Tortura-pena
Considerações iniciais: Disciplina o inciso II do art. 1º da lei de tortura “submeter alguém, sob sua
guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou
mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo.”
Tipo objetivo: A conduta, a ação nuclear, a conduta do tipo, está descrita no verbo ―submeter”
Particularidades: O crime em comento funciona como forma de castigo pessoa ou medida de caráter
preventivo aplicada contra a pessoa sob guarda, poder ou autoridade (lembrando que a ausência desses
requisitos, poderá ser enquadrada em outro tipo penal).
Este crime também denominado pela doutrina como tortura-pena ou tortura castigo
Pena: reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.

Figura equiparada
Considerações: Aduz o §1º do art. 1º da lei em estudo que “Na mesma pena incorre quem submete pessoa
presa ou sujeita a medida de segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato
não previsto em lei ou não resultante de medida legal.”
Esta figura penal é considerada subsidiária em relação ao crime de abuso de autoridade previsto no art. 4º,
b, da Lei n. 4.898/65.
A pena que o parágrafo faz referência é a do art.1º, sendo assim de reclusão, de 2 (dois) a 8 (oito) anos.
Este crime é denominado pela doutrina como tortura do encarcerado.
Saliente aqui que o sujeito ativo neste crime e um sujeito especifico, podendo ser apenas a ―pessoa presa
ou sujeito a medida de segurança”.

Crime de tortura impróprio


Considerações iniciais: Disciplina o §2º do art. 1º da lei de tortura “Aquele que se omite em face dessas
condutas, quando tinha o dever de evitá-las ou apurá-las incorre na pena de detenção de 1 (um) a 4
(quatro) anos.”
Tipo objetivo: A conduta, a ação nuclear, a conduta do tipo, está descrita no verbo “omite”. Pune o crime
em comento a pessoa que tinha o dever de evitar ou apuras as condutas descritas no art. 1ª incisos I e II e
acaba por se omitir de seu dever.

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Tortura qualificada pelo resultado
Considerações: Disciplina o §3º do art. 1º da lei de tortura “Se resulta lesão corporal de natureza grave
ou gravíssima, a pena é de reclusão de 4 (quatro) a 10 (dez) anos; se resulta morte, a reclusão é de 8
(oito) a 16 (dezesseis) anos.”
Trata-se de hipóteses de crime preterdoloso ou preterintencional, em que o agente, querendo a tortura,
ocasiona na vítima lesões corporais graves ou gravíssimas, ou, ainda, a morte. Não se confunde o crime em
tela com o homicídio qualificado por tortura, já que neste último o agente visa a finalidade morte,
empregando o meio tortura para alcançá-lo.

Causas de aumento de pena


Considerações: Disciplina o §4º do art. 1º da lei de tortura “§ 4º Aumenta-se a pena de 1/6 (um sexto) até
1/3 (um terço): I – se o crime é cometido por agente público; II – se o crime é cometido contra criança,
gestante, portador de deficiência, adolescente ou maior de 60 (sessenta) anos; III – se o crime é cometido
mediante sequestro.”
A explicação sobre quem e considerado agente público está no art. 327 do Código Penal
Crime cometido mediante sequestro – nesse caso, a prática do sequestro consistirá no meio empregado pelo
agente para concretizar a tortura. A intenção do agente será a de torturar a vítima, sendo o sequestro o meio
empregado para a consecução do fim pretendido.

Efeito da condenação
Considerações: Disciplina o §5º do art. 1º da lei de tortura “A condenação acarretará a perda do cargo,
função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da pena aplicada.”
Aplicável apenas ao sujeito ativo funcionário público, no exercício ou em razão da função pública.

Fiança, graça e anistia


Considerações: Disciplina o §6º do art. 1º da lei de tortura “O crime de tortura é inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia.”
Observa-se que o parágrafo não faz referência ao indulto, sendo assim, como não há vedação legal, permito
e o indulto para tal crime

Regime inicial
Considerações: Disciplina o §7º do art. 1º da lei de tortura “O condenado por crime previsto nesta Lei,
salvo a hipótese do § 2º, iniciará o cumprimento da pena em regime fechado.”
Obrigatório o regime inicial aqui exposto, não cabendo a discricionariedade do juiz.
E possível a progressão de pena, respeitado o intervalo legal.
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Extraterritorialidade
Considerações: Disciplina o art. 2º da lei de tortura “O disposto nesta Lei aplica-se ainda quando o crime
não tenha sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em
local sob jurisdição brasileira.”
Demonstra-se acima uma exceção ao princípio da territorialidade exposto no art. 5º do Código Penal (“art.
5º Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional.”), sendo aqui expressa uma hipótese de extraterritorialidade
incondicionada.

Aula 33 e 34 - Estatuto da criança e do adolescente

ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE (ECA) - LEI N. 8.069/90


DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE
De proêmio, o art. 2º do ECA disciplina quem e considerado criança e quem e considerado adolescente
“Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e
adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.”

Ato Infracional
Por disposição expressa no código penal, art. 27, os menores de 18 (dezoito) anos são penalmente
inimputáveis, sendo assim, não poderia ser diferente na esteira do ECA, que em seu art. 104 disciplina
“São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato.”
Por tanto, aos menores de dezoito anos que vierem a cometer ato infracional, serão aplicadas medidas
socioeducativas e não penas (reclusão, detenção e prisão simples).
O ato infracional está descrito no art. 103 “Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou
contravenção penal.”, sendo assim, todas as infrações penais (crimes e contravenções penais) descritas em
nosso ordenamento jurídico, quando praticada por menor de dezoito anos, considerar-se-á ato infracional.
Disciplina o art. 112 “Verificada a prática de ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao
adolescente as seguintes medidas:
I - advertência; (admoestação verbal, reduzida a termo e assinada, art. 115 do ECA)
II - obrigação de reparar o dano; (restituição da coisa, ou, outra forma de compensação, art. 116 do ECA)

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III - prestação de serviços à comunidade; (realização de tarefas gratuitas de interesse geral, não excedente
a seis meses, art. 117)
IV - liberdade assistida; (menor será acompanhado por pessoa capacitada, designada pela autoridade
competente, por um prazo mínimo de seis meses, art. 118 e incisos)
V - inserção em regime de semi-liberdade; (utilizado como forma de transição para o meio aberto,
possibilita ao menor a realização de atividade externas, ficando obrigatório a escolarização e a
profissionalização, art. 120 e incisos)
VI - internação em estabelecimento educacional; (constitui medida privativa de liberdade, qual trataremos
em breve)
VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
§ 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e
a gravidade da infração.
§ 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será admitida a prestação de trabalho forçado.
§ 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e
especializado, em local adequado às suas condições.” (a eles não serão aplicadas medidas de segurança,
mas sim, medidas socioeducativas)

Da internação em estabelecimento educacional


O assunto merece certo destaque, haja vista se tratar de uma restrição ao direito de liberdade,
principalmente ao tratar com criança e adolescente.
Como e sabido, a medida socioeducativa de internação em estabelecimento educacional (conhecido como
fundação casa e anteriormente chamada de FEBEM), e destinada a criança ou adolescente que vier a
cometer um ato infracional.
O art. 121 do ECA demonstra de uma maneira clara como ser a internação do menor:
“Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade,
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo
expressa determinação judicial em contrário.
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo sua manutenção ser reavaliada, mediante
decisão fundamentada, no máximo a cada seis meses.
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de internação excederá a três anos.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o adolescente deverá ser liberado, colocado em
regime de semi-liberdade ou de liberdade assistida.
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de idade.

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§ 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida de autorização judicial, ouvido o Ministério
Público.
§ 7o A determinação judicial mencionada no § 1º poderá ser revista a qualquer tempo pela autoridade
judiciária.” (grifo nosso)
A norma mostra de maneira clara o prazo máximo de internação, e também a idade limite do internado.
O art. 122, dispõe em quais situações poderá ser aplicada a medida socioeducativa de internação, haja vista
ser um medida restritiva de liberdade. Vale salientar que as situações expressas são taxativas.
“Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.
§ 1º O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a três meses.
§ 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses,
devendo ser decretada judicialmente após o devido processo legal.
§ 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada”. (grifo nosso)
Como podemos analisar nos artigos acima transcritos, há diversas regras a serem seguidas para que um
menor tenha sua liberdade cerceada, bem como a manutenção do cerceamento requer diversos cuidados

DOS CRIMES
DOS CRIMES EM ESPÉCIE
Dispõe o art. 225 do ECA “Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados contra a criança e o adolescente,
por ação ou omissão, sem prejuízo do disposto na legislação penal.”
Sendo assim, trataremos adiante dos crimes praticados contra os menores.
Todos os crimes a seguir dispostos são de ação pública incondicionada (art. 227 do ECA)
Recém-criado pela lei 13.869/2019(lei de abuso de autoridade), o art. 227-A dispõe “os efeitos da
condenação prevista no inciso I do caput do art. 92 do Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940
(Código Penal), para os crimes previstos nesta Lei, praticados por servidores públicos com abuso de
autoridade, são condicionados à ocorrência de reincidência.”
“Parágrafo único. A perda do cargo, do mandato ou da função, nesse caso, independerá da pena
aplicada na reincidência.”

Privação de liberdade da criança ou do adolescente, fora dos casos permitidos ou sem observância
das formalidades legais
Considerações iniciais: Disciplina o art. 230 do ECA “Privar a criança ou o adolescente de sua
liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem
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escrita da autoridade judiciária competente: Pena - detenção de seis meses a dois anos.” Tem como
objeto jurídico a integridade física e psíquica do adolescente.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo, a ação nuclear, a conduta do tipo está descrita no verbo ―privar”
(impedir, deter), a criança ou o adolescente (aqueles elencados no art. 1 do ECA), nos casos dispostos no
artigo transcrito acima.
Sendo assim, fica claro que a privação da liberdade do menor sem que esteja em flagrante de ato
infracional e considerado crime, para isso devera o agente estar munido de ordem escrita da autoridade
judiciário, na ausência dessa também será inviável a apreensão do menor.
Salienta o descrito no art. 106 do ECA “Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em
flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.”
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a privação de liberdade da criança ou do adolescente fora das hipóteses legais
Tentativa: admissível
Figura equiparada: Dispõe o paragrafo único do artigo em estudo “na mesma pena aquele que procede à
apreensão sem observância das formalidades legais.”

Omissão da comunicação de apreensão de criança ou de adolescente


Considerações iniciais: Aduz o art. 231 do ECA “Deixar a autoridade policial responsável pela
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e
à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada: Pena - detenção de seis meses a dois anos.”. O bem
jurídico tutelado é a integridade física e psíquica do adolescente.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “deixar” ,
demonstrando a ideia de um não fazer aquilo que deveria ter feito, sendo assim estamos falando de crime
omissivo próprio.
Salienta-se o descrito no art. 107 “a apreensão de qualquer adolescente e o local onde se encontra
recolhido serão incontinenti comunicados à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou
à pessoa por ele indicada”.
Sujeito ativo: por ser tratar de crime próprio, só pode ser cometido pela autoridade policial
Sujeito passivo: criança ou adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a mera omissão
Tentativa: Inadmissível, haja vista estarmos diante de crime omissivo
Particularidades: Caso a autoridade policial não tenha condições de localizar a família do apreendido, seja
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por motivos alheios a sua vontade, a comunicação deverá ser feita ao Conselho Tutelar (art. 131 a 135 do
ECA).

Submissão de criança ou adolescente a vexame ou a constrangimento


Considerações iniciais: Dispõe o art. 232 do ECA “Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade,
guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento: Pena - detenção de seis meses a dois anos.” O bem
jurídico tutelado é a O bem jurídico tutelado é a integridade física e psíquica do adolescente.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “submeter” (sujeitar,
subordinar) a vexame (vergonha, desonra, afronta) ou a constrangimento (embaraço, encabulação,
acanhamento, vergonha), por qualquer meio.
Anteriormente tratado, o art. 18 desse estatuto já pondera sobre atos que atentem contra o menor “É dever
de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.”
Sujeito ativo: qualquer pessoa que exercer, a qualquer título, autoridade, guarda ou vigilância sobre a
criança ou o adolescente (pai, mãe, tutor, curador, guardiões, empregadas, responsáveis por instituições de
internação etc.).
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva submissão da criança ou do adolescente a vexame ou a constrangimento, por
qualquer meio.
Tentativa: admissível
Particularidades: Salienta-se aqui a questão do transporte do menor que for pego na pratica de ato
infracional. Sua condução não poderá ser efetuada no compartimento de transporte de preso, dicção do art.
178 do ECA “O adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou
transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou
que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade.”.

Aula 35 e 36 - Estatuto da criança e do adolescente

Omissão da imediata liberação de criança ou adolescente, em face da ilegalidade da apreensão


Considerações iniciais: Disciplina o art. 234 do ECA “Deixar a autoridade competente, sem justa causa,
de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da
apreensão: Pena - detenção de seis meses a dois anos.” Tutela-se a integridade física e psíquica do
adolescente.
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Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “deixar”, que no
contesto no crime verifica-se a abstenção de um fazer, isto é, a autoridade competente abstém-se, sem justa
causa, de liberar imediatamente a criança ou o adolescente ilegalmente apreendido.
Sujeito ativo: trata-se de crime próprio. Somente pode ser agente desse crime o delegado de polícia ou o
juiz de direito.
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a mera omissão na liberação do menor, sem justa causa
Tentativa: como estamos diante de um crime omissivo, inadmissível a tentativa

Subtração de criança ou adolescente


Considerações iniciais: Dispõe o art. 237 do ECA “Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem o
tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com o fim de colocação em lar substituto: Pena -
reclusão de dois a seis anos, e multa.” Bem jurídico tutelado é a visa à proteção dos direitos da criança e
do adolescente.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “subtrair” indicando
que a criança ou o adolescente devem ser retirados da esfera de vigilância daquele que detenha sua guarda,
em virtude de lei ou ordem judicial. Deve haver a finalidade de colocação em lar substituto.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a pessoa que tem a criança ou o adolescente sob sua guarda em virtude de lei ou ordem
judicial
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: consuma com a mera subtração da criança ou do adolescente com o fim de colocação em lar
substituto, sendo irrelevante a efetiva ocorrência desta última providência (colocar em lar substituto).
Tentativa: admissível
Particularidades: Se inexistir a finalidade de colocação da criança ou adolescente em lar substituto,
poderá configurar-se o crime do art. 249 do Código Penal (“Subtrair menor de dezoito anos ou interdito ao
poder de quem o tem sob sua guarda em virtude de lei ou de ordem judicial”)

Promessa ou entrega de filho ou pupilo


Considerações iniciais: Aduz o art. 238 do ECA “Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo a
terceiro, mediante paga ou recompensa: Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa.” Tem como objeto
jurídico a integridade física e psíquica do menor
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “prometer” e
“efetivar”, referindo-se à entrega do filho ou pupilo a terceiro. Deve, necessariamente, haver a
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contrapartida: paga ou recompensa.
Sujeito ativo: pais, tutores e também os guardiões judicialmente nomeados.
Sujeito passivo: filhos, pupilos ou menores postos sob guarda.
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a promessa ou efetiva entrega
Tentativa: admite-se na modalidade ―efetivar‖ a entrega
Figura equiparada: Aduz o paragrafo único “Incide nas mesmas penas quem oferece ou efetiva a paga ou
recompensa.”.

Envio ilícito ou para fins lucrativos de criança ou adolescente para o exterior


Considerações iniciais: Dispõe o art. 239 do ECA “Promover ou auxiliar a efetivação de ato destinado ao
envio de criança ou adolescente para o exterior com inobservância das formalidades legais ou com o fito
de obter lucro: Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa.” O bem jurídico tutelado é a integridade
física e psíquica do menor.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “promover” e
“auxiliar”. Promover indica atuação direta do sujeito ativo, enquanto auxiliar indica a participação de
terceira pessoa.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: por se tratar de crime formal, se consuma com a promoção ou auxílio à prática do ato,
independentemente do efetivo envio da criança ou do adolescente para o exterior ou da obtenção de lucro.
Tentativa: admissível
Particularidade: O ato deve ser ―destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior com
inobservância das formalidades legais ou com o fito de obter lucro‖.
Figura qualificada: Disciplina o paragrafo único do artigo em estudo, “Se há emprego de violência, grave
ameaça ou fraude: Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena correspondente à violência.”

Utilização de criança ou adolescente em cena pornográfica ou de sexo explícito


Considerações iniciais: Disciplina o art. 240 do ECA “Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou
registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.” O bem jurídico tutelado é a integridade psíquica
do menor, a moralidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “produzir”,
“reproduzir”, “dirigir”, “fotografar”, “filmar”, “registrar”, “agenciar”, “facilitar”, “recrutar”,
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“coagir”, “intermediar” e “contracenar”. O produtor, em regra, é aquele que financia a representação ou
película, a atividade fotográfica ou outro meio visual. Diretor é o responsável pelo desenvolvimento dos
trabalhos. Pretendeu o legislador que não houvesse qualquer tipo de registro, por qualquer meio, de cena
pornográfica ou de sexo explícito envolvendo criança ou adolescente.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre no momento em que a criança ou o adolescente é utilizado como participante da cena
de sexo explícito ou pornográfica. Irrelevante se a cena foi utilizada de qualquer modo, ou divulgada, por
qualquer meio.
Tentativa: admissível
Figura equiparada: Aduz o §1º do artigo em estudo, “Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a participação de criança ou adolescente nas cenas
referidas no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.”
Na conduta de ―contracenar‖, a consumação ocorre com a atuação do ator com a criança ou adolescente em
cena de sexo explícito ou pornográfica.
Causas de aumento de pena: Dispõe o §2º do artigo em estudo “Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se
o agente comete o crime: I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de exercê-la; II –
prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade; ou III – prevalecendo-se de
relações de parentesco consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de tutor, curador,
preceptor, empregador da vítima ou de quem, a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com
seu consentimento.”
Observação: estabelece o art. 241-E que, para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a expressão ―cena de
sexo explícito ou pornográfica‖ compreende qualquer situação que envolva criança ou adolescente em
atividades sexuais explícitas, reais ou simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou
adolescente para fins primordialmente sexuais.

Fotografia, vídeo ou registro de cena de sexo explícito ou pornográfica


Considerações iniciais: Dispõe o art. 241 do ECA “Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou outro
registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo criança ou adolescente: Pena –
reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.” Bem jurídico tutelado é a integridade psíquica da criança
ou adolescente e a moralidade pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “vender” e
“expor” à venda fotografia, vídeo ou registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente.
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Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com os atos de ―vender‖ e ―expor à venda‖ fotografia, vídeo ou outro registro contendo as
cenas de sexo explícito ou pornografia envolvendo criança ou adolescente.
Tentativa: admissível

Transação de fotografia, vídeo ou outro registro de cena de sexo explícito ou pornográfica


Considerações iniciais: Disciplina o art. 241-A do ECA “Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive por meio de sistema de informática ou
telemático, fotografia, vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.” Bem jurídico
tutelado é a integridade psíquica da criança ou adolescente e a moralidade pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “oferecer”,
“trocar”, “disponibilizar”, “transmitir”, “distribuir”, “publicar”, “divulgar”, praticado qualquer uma
das condutas estará incorrendo no crime em tela.
Sujeito ativo: qualquer
Sujeito passivo: a criança e o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: Por se tratar de crime formal, a consumação ocorre com a pratica das condutas descritas no
tipo penal, sendo irrelevante qualquer resultado.
Tentativa: é admissível
Figura equiparada: Aduz o§ 1º do artigo em estudo, “Nas mesmas penas incorre quem: I – assegura os
meios ou serviços para o armazenamento das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
artigo; II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de computadores às fotografias, cenas ou
imagens de que trata o caput deste artigo.”.
§ 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste artigo são puníveis quando o responsável legal
pela prestação do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito de que
trata o caput deste artigo.
A conduta de ―assegurar‖, prevista como figura equiparada no § 1º, refere-se aos meios ou serviços para o
armazenamento das fotografias, cenas ou imagens proibidas, ou ainda, ao acesso por rede de computadores.
Estabelece o § 2º como condição objetiva de punibilidade das figuras previstas pelo § 1º, I e II, a negativa
do responsável legal pela prestação do serviço (de armazenamento ou de acesso), após oficialmente
notificado, em desabilitar o acesso ao conteúdo ilícito.
Particularidades: O verbo ―Publicar‖ significa difundir imagem para número indeterminado de pessoas.
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Aquisição, posse ou armazenamento de fotografia, vídeo ou registro de cena de sexo explícito ou
pornográfica
Considerações iniciais: Disciplina o art. 241-B do ECA “Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que contenha cena de sexo explícito ou pornográfica
envolvendo criança ou adolescente: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.” Bem jurídico
tutelado é a integridade psíquica da criança ou adolescente e a moralidade pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “adquirir”
(comprar, obter, arranjar), “possuir” (ter, deter) ou “armazenar” (ter em deposito, guardar, conservar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: Por se tratar de crime formal, consuma-se com a prática das condutas descritas no tipo penal
Tentativa: admissível
Causa de diminuição de pena: Aduz o § 1º do artigo em debate “A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3
(dois terços) se de pequena quantidade o material a que se refere o caput deste artigo.”
Causa de exclusão do crime: Dispõe o § 2º “Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a
finalidade de comunicar às autoridades competentes a ocorrência das condutas descritas nos arts. 240,
241, 241-A e 241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por: I – agente público no exercício de suas
funções; II – membro de entidade, legalmente constituída, que inclua, entre suas finalidades institucionais,
o recebimento, o processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes referidos neste parágrafo; III –
representante legal e funcionários responsáveis de provedor de acesso ou serviço prestado por meio de
rede de computadores, até o recebimento do material relativo à notícia feita à autoridade policial, ao
Ministério Público ou ao Poder Judiciário.”
“§ 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão manter sob sigilo o material ilícito referido.”

Simulação de participação de criança ou adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica


Considerações iniciais: O art. 241-C disciplina “Simular a participação de criança ou adolescente em
cena de sexo explícito ou pornográfica por meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia,
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e
multa.” Bem jurídico tutelado é a integridade psíquica da criança ou adolescente e a moralidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “simular”, que seria
manipular vídeo ou fotografia de sexo explícito para inserir criança ou adolescente na imagem, ou
manipular a imagem ou vídeo de uma criança ou adolescente para inserir a cena de sexo explícito.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou adolescente
92
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática das condutas descritas no caput, irrelevante o resultado
Tentativa: admissível.
Figura equiparada: Aduz o parágrafo único do artigo em debate, “Incorre nas mesmas penas quem
vende, expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por qualquer meio, adquire, possui ou
armazena o material produzido na forma do caput deste artigo.”

Aliciamento, assédio, instigação ou constrangimento para a prática de ato libidinoso


Considerações iniciais: Dispõe o art. 241-D do ECA, “Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por
qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela praticar ato libidinoso: Pena – reclusão, de
1 (um) a 3 (três) anos, e multa.” Bem jurídico tutelado é a integridade psíquica da criança e a moralidade
pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos ―Aliciar”,
“assediar”, “instigar” ou “constranger”, com o animus de praticar com a criança atos libidinosos.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança. Observe que no tipo penal não há referência ao adolescente.
Tipo subjetivo: é o dolo, como fim especifico de praticar com a criança atos libidinosos.
Consumação: Irrelevante o resultado naturalístico, sendo assim consuma-se com a efetiva prática das
condutas incriminadoras.
Tentativa: admissível
Figura equiparada: Dispõe o paragrafo único “Nas mesmas penas incorre quem: I – facilita ou induz o
acesso à criança de material contendo cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela
praticar ato libidinoso; II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com o fim de induzir
criança a se exibir de forma pornográfica ou sexualmente explícita.‖

Venda, fornecimento ou entrega de arma, munição ou explosivo a criança ou adolescente


Considerações iniciais: Disciplina o art. 242 do ECA, “Art. 242. Vender, fornecer ainda que
gratuitamente ou entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, munição ou explosivo:
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos.” Objeto jurídico desse crime é a integridade física e psíquica
do menor
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “vender”,
“fornecer” e “entregar”, a título oneroso (pagando) ou gratuito, arma, munição ou explosivo ao menor.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
93
Consumação: com a efetiva venda, fornecimento ou entrega, de qualquer forma.
Tentativa: admite-se
Particularidade: Se a venda, fornecimento ou entrega a criança ou adolescente for de arma de fogo, estará
configurado o crime do art. 16, V, da Lei n. 10.826/2003 (estatuto do desarmamento). Aplica-se o art. 242
do ECA quando não for arma de fogo.

Venda, fornecimento ou entrega, sem justa causa, a criança ou adolescente de produtos cujos
componentes possam causar dependência física ou psíquica
Considerações iniciais: Dispõe o art. 243 do ECA “Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, ainda
que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa,
outros produtos cujos componentes possam causar dependência física ou psíquica: Pena - detenção de 2
(dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.” O bem jurídico tutelado nesse
crime e a integridade física e psíquica.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos ―fornecer‖,
―servir‖, ―ministrar‖ e ―entregar‖. Não haverá crime se ocorrer justa causa para a prática da conduta, nas
hipóteses em que o objeto material do crime for representado por produtos cujos componentes podem
causar dependência física ou psíquica, ainda que por utilização indevida (―cola de sapateiro‖, acetona, éter,
esmalte de unha, bebida alcoólica etc.). Com relação à bebida alcoólica, não há que falar em justa causa,
caracterizando-se o delito com a simples prática de qualquer modalidade de conduta.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática de qualquer uma das condutas
Tentativa: admissível

Venda, fornecimento ou entrega de fogos de estampido ou de artifício a criança ou adolescente


Considerações iniciais: Aduz o art. 244 do ECA “Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou entregar,
de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo
seu reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer dano físico em caso de utilização indevida:
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa.” Objeto jurídico tutelado é a integridade física e
psíquica do menor.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “vender”,
“fornecer” e “entregar”. O fornecimento poder dar-se a título oneroso ou gratuito. A entrega poder ser de
qualquer forma.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
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Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática de qualquer um dos verbos do tipo penal
Tentativa: admite-se

Submissão de criança ou adolescente à prostituição e à exploração sexual


Considerações iniciais: Disciplina o art. 244-A do ECA “Submeter criança ou adolescente, como tais
definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à exploração sexual: Pena – reclusão de quatro a
dez anos e multa, além da perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em favor do Fundo dos
Direitos da Criança e do Adolescente da unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi
cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa-fé.” O bem jurídico tutelado e a integridade
psíquica, física e moral.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “submeter” (sujeitar,
subjugar). A criança e o adolescente devem ser submetidos à prostituição (relações sexuais por dinheiro) ou
à exploração sexual (de qualquer natureza).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva submissão do menor à prostituição ou à exploração sexual
Tentativa: admissível
Figura equiparada: dispõe o “Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente ou o responsável
pelo local em que se verifique a submissão de criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste
artigo.”
Particularidade: O imperativo do § 2º estabelece, “constitui efeito obrigatório da condenação a cassação
da licença de localização e de funcionamento do estabelecimento.”

Corrupção de criança ou adolescente


Considerações iniciais: Dispõe o art. 244-B do ECA ―Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18
(dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la: Pena - reclusão, de 1 (um) a
4 (quatro) anos.‖ Bem jurídico tutelado é à proteção da infância e juventude.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo ―corromper‖
(perverter, estragar) e ―facilitar a corrupção‖ (tornar fácil a corrupção, a perversão). As formas de conduta
devem ser desenvolvidas praticando a infração penal com o menor de 18 anos ou induzindo-o a praticá-la.
Na primeira hipótese, o agente tem o menor de 18 anos como seu coautor ou partícipe na infração penal.
Na segunda hipótese, o agente induz o menor de 18 anos a praticar a infração penal: o menor torna-se autor
95
da infração (ato infracional), e o agente torna-se partícipe (participação moral na modalidade induzimento).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: por haver divergência doutrinaria, nos posicionaremos em consonância a sumula 500 do
STJ que defende que a consumação se da com a mera pratica de induzir ou praticar o menor a praticar ato
infracional, sendo irrelevante se o menor vá fazer ou não.
Tentativa: admite-se
Figura equiparada: Aduz o §1º do artigo em debate “Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de
bate-papo da internet”
Causa de aumento de pena: Disciplina o § 2º do artigo em estudo, “As penas previstas no caput deste
artigo são aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou induzida estar incluída no rol do
art. 1o da Lei no 8.072, de 25 de julho de 1990.” (Lei de crimes hediondos)

Aula 37 e 38 - Estatuto do idoso

ESTATUTO DO IDOSO – LEI N. 10.741/2003

INTRODUÇÃO
No âmbito penal, dentro do Estatuto do Idoso, o legislador optou por tipos penais autônomos, com o intuito
de tutelar a vida, a integridade física, a saúde, a liberdade, a honra, a imagem e o patrimônio do idoso.
Alguns tipos penais merecem destaque, haja vista estarem expressos no nosso Código Penal, mas caso
ocorrido contra o idoso, em respeito ao principio da especialidade, restará configurado o deste estatuto,
como por exemplo, a omissão de socorro ao idoso, abandono de idoso entre outros, disposto em breve.
É de suma importância delinear a quem essa lei tem o escopo de regular direitos, com isso a lei tomou o
devido cuidado de nos demonstrar quem será considerado idoso.
O art. 1º do estatuto em epigrafe disciplina “é instituído o Estatuto do Idoso, destinado a regular os
direitos assegurados às pessoas com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos.”
Destarte, cabe a nós agentes públicos no limite de nossa competência, fiscalizar e fazer com que o estatuto
seja devidamente aplicado, sendo que a sua inobservância poderá acarretar crimes, que passamos a
demonstrar.

96
DOS CRIMES EM ESPÉCIE
Omissão de socorro
Considerações iniciais: Dispõe o art. 97 do Estatuto do Idoso, “Deixar de prestar assistência ao idoso,
quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou
dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade
pública: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.” Tem como objeto jurídico a proteção à
vida ou saúde da pessoa idosa
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos ―deixar‖ (largar,
abandonar), ―recusar‖ (negar, não prestar, opor), ―retardar‖ (procrastinar, demorar), ―dificultar‖
(obstaculizar, criar empecilho) e pela expressão ―não pedir‖ (não solicitar, não requerer). Trata-se de crime
omissivo puro. Constituem circunstâncias elementares do tipo a possibilidade de prestar assistência e
também a ausência de risco pessoal ao agente. Entretanto, nesses casos, existe a obrigação de pedir o
socorro da autoridade pública.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a pessoa idosa
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a omissão
Tentativa: como se trata de crime omissivo, não comporta a tentativa
Causa de aumento de pena: Disciplina o parágrafo único do artigo em estudo, “A pena é aumentada de
metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.”
Trata-se de figura preterdolosa, pois o resultado adveio de culpa, querendo o agente o resultado lesão
corporal ou morte, estaremos diante de concurso de crimes.

Abandono de idoso
Considerações iniciais: Dispõe o art. 98 do Estatuto do Idoso, “Abandonar o idoso em hospitais, casas de
saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando
obrigado por lei ou mandado: Pena – detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa.” Tem como
objeto jurídico a proteção à vida ou saúde da pessoa idosa
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “abandonar”
(desamparar, largar) e pela expressão “não prover” (não fornecer, não abastecer, não providenciar). Nessa
última modalidade de conduta, deve o agente estar obrigado por lei ou mandado a prover ao idoso suas
necessidades básicas.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a pessoa idosa
Tipo subjetivo: é o dolo
97
Consumação: dar-se-á com o efetivo abandono ou com o não provimento das necessidades básicas do
idoso
Tentativa: por se tratar de crime omissivo não comporta tentativa

Maus-tratos a idoso
Considerações iniciais: Dispõe o art. 99 do Estatuto do Idoso, ―expor a perigo a integridade e a saúde,
física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de
alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou
inadequado: Pena – detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.”. O crime em tela tem como intuito
tutelar a proteção à vida e à saúde da pessoa idosa
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “expor”, no caso e
expor a perigo que significa periclitar, colocar em risco. A conduta pode desenvolver-se pela submissão do
idoso a condições desumanas ou degradantes, mediante a privação de alimentos e cuidados indispensáveis
e a sua sujeição a trabalho excessivo ou inadequado.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o idoso
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a exposição do idoso a perigo de dano
Tentativa: admissível nas formas comissivas (ação)
Formas qualificadas: O crime em estudo restara qualificado no imperativo do ―§1o quando, “se do fato
resulta lesão corporal de natureza grave: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos.” Ou quando,
“§2o Se resulta a morte: Pena – reclusão de 4 (quatro) a 12 (doze) anos.”
Trata-se de figura preterdolosa, pois o resultado adveio de culpa, querendo o agente o resultado lesão
corporal ou morte, estaremos diante de concurso de crimes.

Outros crimes
Considerações: Disciplina o art. 100, “Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um)
ano e multa”. Nesse artigo, cada um dos seus incisos constituirá um crime apenado na forma descrita no
art. 100 (6 meses a 1 anos), os quais analisaremos do I ao IV.
Impedimento de acesso a cargo público
Considerações iniciais: Dispõe o inciso I do art. 100, “obstar o acesso de alguém a qualquer cargo
público por motivo de idade”
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “obstar” (impedir,
obstaculizar), por conta da idade o acesso a cargo público de qualquer natureza.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
98
Sujeito passivo: qualquer pessoa, observe que o texto legal não faz referência ao idoso, utiliza a expressão
―alguém‖.
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva obstaculização ou impedimento de acesso ao cargo público
Tentativa: admite-se
Particularidade: Há elemento normativo no crime em análise que é a expressão ―por motivo de idade‖, ou
seja, o impedimento ou a obstaculização foi perpetrada por único e exclusivo motivo de idade.
Salienta-se que a idade não precisa ser igual ou superior de 60 anos.

Negativa de emprego ou trabalho


Considerações iniciais: Dispõe o inciso II do art. 100, “negar a alguém, por motivo de idade, emprego ou
trabalho”.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “negar” (recusar,
vedar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: qualquer pessoa
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva negativa de emprego ou trabalho
Tentativa: não se admite
Particularidade: Há elemento normativo no crime em análise que esta demonstrada na expressão ―por
motivo de idade‖. Significa que a negativa do emprego ou trabalho se da única e exclusivamente por
motivo de idade. Não estamos tratando aqui apenas de idoso, qualquer pessoa pode ser vitima.

Assistência à saúde vedada, retardada ou dificultada


Considerações iniciais: Disciplina o inciso III do art. 100, “recusar, retardar ou dificultar atendimento ou
deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa, a pessoa idosa”.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “recusar” (não
aceitar, repelir, negar), “retardar” (demorar, procrastinar), “dificultar” (obstaculizar, tornar difícil) e pela
expressão “deixar de prestar” (largar, abandonar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o idoso
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática das condutas descritas no tipo penal
Tentativa: admissível, exceto nas condutas omissivas
Particularidades: O crime em estudo traz elemento normativo do tipo visível na expressão ―sem justa
99
causa‖, sendo assim se as práticas das condutas ocorrem por justa causa, não estaremos diante do tipo penal
em estudo.

Apropriação indébita
Considerações iniciais: Disciplina o art. 102 do estatuto em estudo, “Apropriar-se de ou desviar bens,
proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua
finalidade: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.”. Tem como objeto jurídico a proteção do
patrimônio do idoso
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “apropriar-se”
(assenhorear-se, tornar-se dono, fazer sua a coisa) e ―desviar‖ (desencaminhar, alterar o destino).
Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha posse ou detenção do patrimônio do idoso.
Sujeito passivo: a pessoa idosa
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva apropriação ou desvio
Tentativa: admissível.
Particularidades: O dispositivo em comento não faça menção expressa, é necessário que o sujeito ativo
tenha a posse ou detenção do bem, provento, pensão ou qualquer outra renda do idoso. Trata-se de
modalidade especial de apropriação indébita inserida no Estatuto para a tutela específica do patrimônio do
idoso. Caso o agente se aproprie ou desvie e não tenha a posse ou detenção da remuneração ou renda do
idoso, estará configurado outro ilícito penal contra o patrimônio (furto, estelionato, roubo etc.).

Coação do idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração


Considerações iniciais: Dispõe o art. 107 do estatuto “Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar,
contratar, testar ou outorgar procuração: Pena – reclusão de 2 (dois) a 5 (cinco) anos.” Bem jurídico
tutelado é a liberdade individual e o patrimônio do idoso.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “coagir”, que
significa constranger, forçar. A coação deve destinar-se a fazer com que o idoso disponha de seu
patrimônio, doando, contratando, testando ou outorgando procuração ao agente ou a terceiro.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a pessoa idosa
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a doação, celebração do contrato, testamento ou outorga de procuração pelo idoso, que
age contra sua vontade, coagido pelo agente.
Tentativa: admissível

100
Aula 39 e 40 - Leis de crimes ambientais.

CRIMES AMBIENTAIS - LEI N. 9.605/98


Responsabilidade penal nos crimes contra o meio ambiente
Quando tratamos de responsabilidade penal, pensamos no sujeito ativo do crime praticado, que no caso da
maioria dos crimes ambientais poderá ser qualquer pessoa, inclusive pessoa jurídica (empresas públicas ou
privadas, entidades, sociedade de economia mista e etc).
O art. 2º da lei em epígrafe trata do concurso de agentes (sujeitos ativos) nos crimes ambientais, “Quem, de
qualquer forma, concorre para a prática dos crimes previstos nesta Lei, incide nas penas a estes
cominadas, na medida da sua culpabilidade, bem como o diretor, o administrador, o membro de conselho
e de órgão técnico, o auditor, o gerente, o preposto ou mandatário de pessoa jurídica, que, sabendo da
conduta criminosa de outrem, deixar de impedir a sua prática, quando podia agir para evitá-la.”
Podemos ver aqui que teremos concursos de agentes entre pessoa física e pessoa jurídica
No âmbito dessa lei, conforme a nova ordem constitucional, os crimes ambientais tem mais do que proteger
o bem jurídico individual, mas também proteger o interesse coletivo ou difuso, haja vista que o meio
ambiente não pertence a uma única pessoa, mas sim a coletividade.
Dispõe o art. 3º “As pessoas jurídicas serão responsabilizadas administrativa, civil e penalmente conforme
o disposto nesta Lei, nos casos em que a infração seja cometida por decisão de seu representante legal ou
contratual, ou de seu órgão colegiado, no interesse ou benefício da sua entidade. Parágrafo único. A
responsabilidade das pessoas jurídicas não exclui a das pessoas físicas, autoras, co-autoras ou partícipes
do mesmo fato.”. Observa-se a tríplice responsabilidade da pessoa jurídica, na prática dos crimes dispostos
nesta lei. Salienta-se que a responsabilização da pessoa jurídica não exclui a responsabilização da pessoa
física, sendo sim, dois sistemas de imputação paralelos.
Como é sabido, a pessoa física na prática de algum crime terá a sua pena decretada, entre elas podendo ser
de reclusão, detenção ou prisão simples. No caso da pessoa jurídica, não há a possibilidade de penas de
privativas de liberdade, mas viáveis as de multa, prestação pecuniária, a interdição temporária de direitos e
as penas alternativas de modo geral.
Passaremos a tratar dos crimes os quais a pessoa física e a pessoa jurídica poderá praticar no âmbito da lei
em estudo

DOS CRIMES AMBIENTAIS


Dos crimes contra a fauna
Art. 29. Matar, perseguir, caçar, apanhar, utilizar espécimes da fauna silvestre, nativos ou em rota
migratória, sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo
com a obtida: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.

101
§ 1º Incorre nas mesmas penas:
...
III – quem vende, expõe à venda, exporta ou adquire, guarda, tem em cativeiro ou depósito, utiliza ou
transporta ovos, larvas ou espécimes da fauna silvestre, nativa ou em rota migratória, bem como produtos
e objetos dela oriundos, provenientes de criadouros não autorizados ou sem a devida permissão, licença
ou autorização da autoridade competente.
§ 3º São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e
quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro
dos limites do território brasileiro, ou águas jurisdicionais brasileiras.
§ 4º A pena é aumentada de metade, se o crime é praticado:
I – contra espécie rara ou considerada ameaçada de extinção, ainda que somente no local da infração;
II – em período proibido à caça;
III – durante a noite;
IV – com abuso de licença;
V – em unidade de conservação;
VI – com emprego de métodos ou instrumentos capazes de provocar destruição em massa.
§ 5º A pena é aumentada até o triplo, se o crime decorre do exercício de caça profissional.
§ 6º As disposições deste artigo não se aplicam aos atos de pesca.
Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou
domesticados, nativos ou exóticos: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Incorre nas mesmas penas quem realiza experiência dolorosa ou cruel em animal vivo, ainda que
para fins didáticos ou científicos, quando existirem recursos alternativos.
§ 1º-A Quando se tratar de cão ou gato, a pena para as condutas descritas no caput deste artigo será de
reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, multa e proibição da guarda.
§ 2º A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 1/3 (um terço), se ocorre morte do animal.
Art. 34. Pescar em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados por órgão
competente: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem:
...
III – transporta, comercializa, beneficia ou industrializa espécimes provenientes da coleta, apanha e pesca
proibidas.
Art. 36. Para os efeitos desta Lei, considera-se pesca todo ato tendente a retirar, extrair, coletar, apanhar,
apreender ou capturar espécimes dos grupos dos peixes, crustáceos, moluscos e vegetais hidróbios,
suscetíveis ou não de aproveitamento econômico, ressalvadas as espécies ameaçadas de extinção,
constantes nas listas oficiais da fauna e da flora.
102
Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:
I – em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;
II – para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que
legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;
III – (Vetado);
IV – por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.
Considerações gerais sobre os crimes contra a fauna: Dos crimes tratados do art. 29 até o art. 34, são
todos ataques contra a fauna (coletivo de animais de dada região), como é possível depreender da leitura do
§ 3º do art. 29. Muito importante lembrar que os crimes do art. 29 não se aplicam ao ato de pescar,
conforme §6 º. Salienta-se ainda que o crime do art. 29 só ocorrera caso o sujeito ativo cometa os atos
“sem a devida permissão, licença ou autorização da autoridade competente, ou em desacordo com a
obtida” (elemento normativo), ou seja, caso o agente cometa os atos com permissão, licença ou autorização
pra fazer, não incorrerá na prática desse crime. O artigo fazer referência a palavra espécime que e qualquer
exemplar ou amostra de um material ou ser vivo, por exemplo um único cachorro doméstico, por exemplo,
é um espécime do gênero Canis, que abrange todas as espécies de cães do mundo, sendo assim diferente do
que e espécie significa um grupo de indivíduos com características comuns.
O art. 32 no §1º apresenta elemento normativo “quando existirem recursos alternativos”.
O art. 32 no §1º-A, dispõe sobre recente atualização da lei, que passou a prever pena maior para os casos de
maus-tratos a cães e gatos.
O elemento normativo no art. 34. “Em período no qual a pesca seja proibida ou em lugares interditados
por órgão competente”.
No inciso III: “Coleta, apanha e pesca proibidas”.
O art. 36 e uma norma penal complementar ou explicativa.
O art. 37 tipo penal permissivo
Sujeito ativo: Os sujeitos ativos dos crimes contra a fauna podem ser qualquer pessoa
Sujeito passivo: sempre a coletividade, em todos os crimes
Tipo subjetivo: de todos os crimes é o dolo
Consumação: com a prática das condutas descritas nos artigos em estudo.
Tentativa: em todos os artigos e plenamente possível.

Aula 41 e 42 - Leis de crimes ambientais

Dos crimes contra a flora


Art. 38. Destruir ou danificar floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em formação,
ou utilizá-la com infringência das normas de proteção: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou

103
multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
Art. 41. Provocar incêndio em mata ou floresta: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime é culposo, a pena é de detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Art. 42. Fabricar, vender, transportar ou soltar balões que possam provocar incêndios nas florestas e
demais formas de vegetação, em áreas urbanas ou qualquer tipo de assentamento humano: Pena –
detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, ou multa, ou ambas as penas cumulativamente.
Art. 44. Extrair de florestas de domínio público ou consideradas de preservação permanente, sem prévia
autorização, pedra, areia, cal ou qualquer espécie de minerais: Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1
(um) ano, e multa.
Art. 51. Comercializar motosserra ou utilizá-la em florestas e nas demais formas de vegetação, sem
licença ou registro da autoridade competente: Pena – detenção, de 3 (três) meses a 1 (um) ano, e multa.
Art. 52. Penetrar em Unidades de Conservação conduzindo substâncias ou instrumentos próprios para
caça ou para exploração de produtos ou subprodutos florestais, sem licença da autoridade competente:
Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Considerações gerais sobre os crimes contra a flora: Flora é o conjunto de plantas de determinado lugar.
Para a doutrina tradicional, assim como nos crimes contra o consumo, haveria crimes de perigo abstrato
(por determinação legal ou previsão da lei). Para a doutrina moderna, trata-se de crimes de lesão, já que a
relação ambiental contra a flora é atingida. Convém salientar que nos tipos dos arts. 38, pressupõe-se a
efetiva ocorrência do dano.
A maioria dos crimes previstos contra a flora comporta elemento normativo (todos grifados), devendo ser
observado para a real prática do crime.
Sujeito ativo: em todos os crimes, qualquer pessoa pode ser o sujeito ativo
Sujeito passivo: sempre a coletividade
Tipo subjetivo: todos os crimes a titulo de dolo
Consumação: com as praticas das condutas (verbos) dos tipos penais
Tentativa: em todos os crimes e admissível

Dos crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural


Art. 62. Destruir, inutilizar ou deteriorar:
I – bem especialmente protegido por lei, ato administrativo ou decisão judicial;
II – arquivo, registro, museu, biblioteca, pinacoteca, instalação científica ou similar protegido por lei, ato
administrativo ou decisão judicial: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Parágrafo único. Se o crime for culposo, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção, sem prejuízo
da multa.
104
Art. 63. Alterar o aspecto ou estrutura de edificação ou local especialmente protegido por lei, ato
administrativo ou decisão judicial, em razão de seu valor paisagístico, ecológico, turístico, artístico,
histórico, cultural, religioso, arqueológico, etnográfico ou monumental, sem autorização da autoridade
competente ou em desacordo com a concedida: Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
Art. 65. Pichar ou por outro meio conspurcar edificação ou monumento urbano: Pena - detenção, de 3
(três) meses a 1 (um) ano, e multa.
§ 1º Se o ato for realizado em monumento ou coisa tombada em virtude do seu valor artístico,
arqueológico ou histórico, a pena é de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de detenção e multa.
§ 2º Não constitui crime a prática de grafite realizada com o objetivo de valorizar o patrimônio público ou
privado mediante manifestação artística, desde que consentida pelo proprietário e, quando couber, pelo
locatário ou arrendatário do bem privado e, no caso de bem público, com a autorização do órgão
competente e a observância das posturas municipais e das normas editadas pelos órgãos governamentais
responsáveis pela preservação e conservação do patrimônio histórico e artístico nacional.
Considerações gerais sobre os crimes contra o ordenamento urbano e o patrimônio cultural: Nesta
seção, é tutelado o meio ambiente no aspecto do ordenamento urbano e do patrimônio cultural, protegendo,
entre outros bens, os arquivos, os museus, os registros, as bibliotecas, as pinacotecas etc., além de lugares
especialmente protegidos em razão de valor paisagístico, ecológico, turístico, histórico, cultural, religioso,
arqueológico, etnográfico ou monumental. ―Pichar, grafitar ou por outro meio conspurcar edificação ou
monumento urbano‖ também é considerado crime (art. 65).
Os crimes acima expostos também abarcam elementos normativos todos sublinhados.
O §2º do art. 65 e uma forma de exclusão do crime exposto no caput (pichação).
Sujeito ativo: qualquer pessoa pode praticar os crimes acima descritos, inclusive o proprietário do local.
Sujeito passivo: é a coletividade
Tipo subjetivo: todos os crimes expostos são punidos a titulo de dolo, sendo assim o tipo subjetivo deve
ser o dolo
Consumação: com a prática das condutas (verbos do tipo) descritas nos artigos.
Tentativa: em todos os crimes e admissível

Ação penal nos crimes ambientais


Nas infrações penais previstas na Lei dos Crimes Ambientais, a ação penal é pública incondicionada (art.
26).
Na ação penal pública incondicionada, a conduta do sujeito (pessoa física ou jurídica – no caso da lei em
comento) lesa um interesse jurídico de acentuada importância (no caso, o meio ambiente), fazendo com que
caiba ao Estado a titularidade da ação, que deve ser iniciada sem a manifestação de vontade de qualquer
pessoa. Assim, ocorrido o delito ambiental, deve a autoridade policial proceder de ofício, tomando as
105
medidas cabíveis. Em juízo, a ação penal pública deve ser exercida privativamente pelo Ministério Público
(art. 129, I, da CF).

Aula 43 e 44 - Estatuto do Desarmamento

ESTATUTO DO DESARMAMENTO – LEI 10.826/2003


Introdução
A lei em estudo em seu primeiro capítulo trata sobre o sistema nacional de armas, assim dispõe o art. 1º
“ O Sistema Nacional de Armas – Sinarm, instituído no Ministério da Justiça, no âmbito da Polícia
Federal, tem circunscrição em todo o território nacional.”.
O art. 3º da lei vem tratar sobre o registro da arma de fogo, sendo obrigatório. O art. 4º regulamenta quem
pode adquirir arma de fogo de uso permitido e quais requisitos devem cumprir, expostos em seus incisos.
Demonstra o art. 5º que o certificado de registro de arma de fogo, autoriza o proprietário a manter a arma
de fogo exclusivamente no interior de sua residência ou domicilio e também em seu local de trabalho.
Ficando claro que o registro não da à permissão para que transite com a arma de fogo.
Fica ainda mais evidente a afirmação acima quando na leitura do art. 6º “É proibido o porte de arma de
fogo em todo o território nacional, salvo para os casos previstos em legislação própria e para”, o incisos
do artigo irá demonstrar a quem é permitido o porte da arma no território nacional, como por exemplo, o
inciso II que da a legalidade do porte aos integrantes de órgãos referidos nos incisos do art. 144 da CF (art.
144, inciso V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.)
E de cunho prático salientar o descrito no art. 7º da lei em estudo “As armas de fogo utilizadas pelos
empregados das empresas de segurança privada e de transporte de valores, constituídas na forma da lei,
serão de propriedade, responsabilidade e guarda das respectivas empresas, somente podendo ser
utilizadas quando em serviço, devendo essas observar as condições de uso e de armazenagem
estabelecidas pelo órgão competente, sendo o certificado de registro e a autorização de porte expedidos
pela Polícia Federal em nome da empresa.”. Sendo assim fica permito ao funcionário da empresa de
segurança o porte da arma somente de serviço, fora do âmbito do serviço, poderá incorrer nos crimes
previstos nesta lei.
- Vale ressaltar o disciplinado no Decreto 9846/19, que trata sobre o transporte de arma pelo
integrantes do CAC (Caçador, Atirador e Colecionador)
“Art. 5º Os clubes e as escolas de tiro e os colecionadores, os atiradores e os caçadores serão registrados
no Comando do Exército
...
§ 2º Fica garantido, no território nacional, o direito de transporte desmuniciado das armas dos clubes e
das escolas de tiro e de seus integrantes e dos colecionadores, dos atiradores e dos caçadores, por meio da

106
apresentação do Certificado de Registro de Colecionador, Atirador e Caçador ou do Certificado de
Registro de Arma de Fogo válido, desde que a munição transportada seja acondicionada em recipiente
próprio, separado das armas. (Redação dada pelo Decreto nº 10.629, de 2021)
§ 3º Os colecionadores, os atiradores e os caçadores poderão portar uma arma de fogo de porte municiada,
alimentada e carregada, pertencente a seu acervo cadastrado no Sigma, no trajeto entre o local de guarda
autorizado e os de treinamento, instrução, competição, manutenção, exposição, caça ou abate, por meio da
apresentação do Certificado de Registro de Arma de Fogo e da Guia de Tráfego válida, expedida pelo Comando do
Exército. (Redação dada pelo Decreto nº 10.629, de 2021).
...
§ 6º Para fins do disposto no § 3º, considera-se trajeto qualquer itinerário realizado entre o local de guarda
autorizado e os de treinamento, instrução, competição, manutenção, exposição, caça ou abate, independentemente
do horário, assegurado o direito de retorno ao local de guarda do acervo. (Incluído pelo Decreto nº 10.629, de
2021)

Classificação das armas de fogo


Dispõe a Portaria nº 1.222/19 em seus anexos, as armas de uso permito ou restrito, conforme segue abaixo

AS ARMAS DE USO PERMITO:

Calibre Nominal Energia (Joules) Classificação(2)

9x19mm PARABELLUM 629,81 Permitido

9x18 Makarov 285,95 Permitido

9x23 Winchester 795,60 Permitido

10mm Automatic 927,55 Permitido

221 RemingtonFireball 955,74 Permitido

25 Automatic 87,78 Permitido

25 North American Arms 151,70 Permitido

30 Luger (7.65mm) 396,41 Permitido

32 Automatic 195,65 Permitido

32 H&R Magnum 320,94 Permitido

32 North American Arms 268,81 Permitido

32 Short Colt 117,99 Permitido

32 Smith &Wesson 129,79 Permitido

107
32 Smith &WessonLong 177,17 Permitido

327 Federal Magnum 815,61 Permitido

356 TSW 680,34 Permitido

357 Magnum 1322,76 Permitido

357 Sig 685,72 Permitido

38 Automatic 419,17 Permitido

38 Smith &Wesson 202,51 Permitido

38 Special 437,88 Permitido

38 SuperAutomatic +P 569,23 Permitido

380 Automatic 280,26 Permitido

40 Smith &Wesson 666,25 Permitido

400 Cor-Bom 854,35 Permitido

44 S&W Special 632,48 Permitido

45 Automatic 590,48 Permitido

45 Auto Rim 471,20 Permitido

45 Colt 755,15 Permitido

45 Glock AutomaticPistol 661,60 Permitido

45 Winchester Magnum 1318,42 Permitido

6 x 45mm 1505,01 Permitido

17 Hornet 791,07 Permitido

17 Remington 1204,00 Permitido

17 RemingtonFireball 1115,40 Permitido

218 Bee 1028,16 Permitido

22 Hornet 973,61 Permitido

221 RemingtonFireball 1332,02 Permitido

25-20 Winchester 540,51 Permitido

30 Carbine 1278,46 Permitido

32-20 Winchester 433,44 Permitido


108
38-40 Winchester 716,53 Permitido

38-55 Winchester 1297,16 Permitido

44-40 Winchester 831,14 Permitido

17 Mach 2 206,73 Permitido

17 Hornady Magnum Rimfire 332,46 Permitido

17 Winchester Super Magnum 541,80 Permitido

22 Short 101,82 Permitido

22 Long 128,86 Permitido

22 Long Rifle 247,93 Permitido

22 Winchester Rimfire 228,91 Permitido

22 Winchester Magnum (Rimfire) 440,64 Permitido

AS ARMAS DE USO RESTRITO:

Calibre Nominal Energia (Joules) Classificação(2)

41 Remington Magnum 1657,91 Restrito

44 Remington Magnum 1849,35 Restrito

454 Casull 3130,41 Restrito

460 S&W Magnum 3883,88 Restrito

457 Linebaugh 2359,85 Restrito

480 Ruger 1986,47 Restrito

50 Action Express 1917,38 Restrito

500 S&W Magnum 3900,98 Restrito

500 Special 1991,78 Restrito

6mm Remington 3140,32 Restrito

6.5 Creedmoor 3356,24 Restrito

6.5 Grendel 2464,41 Restrito

6.5 x 55 Swedish 3152,18 Restrito

6.8mm Remington SPC 2636,84 Restrito

109
7mm Mauser (7x57) 3327,22 Restrito

7mm Remington Magnum 4365,04 Restrito

7mm Remington Short Action


4324,95 Restrito
Ultra Magnum

7mm Remington Ultra Magnum 4961,65 Restrito

7mm Shooting Times Westerner 5086,92 Restrito

7mm Weatherby Magnum 4248,57 Restrito

7mm Winchester Short Magnum 4623,38 Restrito

7mm-08 Remington 3715,49 Restrito

7 x 64 Brenneke 3667,25 Restrito

7-30 Waters 2633,16 Restrito

7.62 x 39 2044,60 Restrito

8mm Mauser (8x57) 2801,88 Restrito

8mm Remington Magnum 5247,44 Restrito

9.3 x 62 4794,67 Restrito

204 Ruger 1715,78 Restrito

22-250 Remington 2340,59 Restrito

220 Swift 2340,59 Restrito

222 Remington 1717,63 Restrito

222 Remington Magnum 1711,17 Restrito

223 Remington 1959,07 Restrito

223 Winchester Super Short


2496,62 Restrito
Magnum

225 Winchester 2074,61 Restrito

243 Winchester 2893,31 Restrito

243 Winchester Super Short


3020,36 Restrito
Magnum

25 Winchester Super Short 3241,22 Restrito

110
Magnum

25-06 Remington 3384,37 Restrito

25-35 Winchester 1720,04 Restrito

250 Savage 2372,58 Restrito

257 Roberts 2598,42 Restrito

257 Weatherby Magnum 4017,36 Restrito

26 Nosler 4488,65 Restrito

260 Remington 3129,17 Restrito

264 Winchester Magnum 3830,64 Restrito

27 Nosler 4623,38 Restrito

270 Weatherby Magnum 4681,35 Restrito

270 Winchester 4063,52 Restrito

270 Winchester Short Magnum 4480,03 Restrito

28 Nosler 4938,30 Restrito

280 AckleyImproved 4478,49 Restrito

280 Remington 4020,74 Restrito

284 Winchester 3674,33 Restrito

30 Nosler 5500,87 Restrito

30 Remington AR 2897,37 Restrito

30 Thompson Center 4022,98 Restrito

30-06 Springfield 4514,68 Restrito

30-30 Winchester 2727,99 Restrito

30-40 Krag 3173,01 Restrito

300 AAC Blackout 1924,61 Restrito

300 Holland&Holland Magnum 4462,77 Restrito

300 Remington Short Action


4715,03 Restrito
Ultra Magnum

300 Remington Ultra Magnum 5635,08 Restrito

111
300 RugerCompact Magnum 4857,44 Restrito

300 Savage 3389,69 Restrito

300 Weatherby Magnum 5291,04 Restrito

300 Winchester Magnum 5278,22 Restrito

300 Winchester Short Magnum 4916,85 Restrito

303 British 3590,52 Restrito

307 Winchester 3303,65 Restrito

308 Marlin Express 3369,30 Restrito

308 Winchester 4119,43 Restrito

32 Winchester Special 2884,60 Restrito

325 Winchester Short Magnum 5303,51 Restrito

33 Nosler 6112,21 Restrito

338 Federal 4372,19 Restrito

338 Lapua Magnum 6548,66 Restrito

338 Marlin Express 3914,52 Restrito

338 Remington Ultra Magnum 6112,21 Restrito

338 RugerCompact Magnum 5203,47 Restrito

338 Winchester Magnum 5899,62 Restrito

340 Weatherby Magnum 6548,66 Restrito

348 Winchester 3777,58 Restrito

35 Nosler 6095,27 Restrito

35 Remington 2913,69 Restrito

35 Whelen 4556,56 Restrito

350 Remington Magnum 4702,32 Restrito

356 Winchester 3381,39 Restrito

358 Winchester 3691,95 Restrito

36 Nosler 6438,13 Restrito

370 Sako Magnum 5597,76 Restrito


112
375 Holland&Holland Magnum 6601,18 Restrito

375 Remington Ultra Magnum 6828,96 Restrito

375 Ruger 6554,94 Restrito

375 Winchester 2860,96 Restrito

376 Steyr 5409,68 Restrito

405 Winchester 4370,54 Restrito

416 Remington Magnum 6935,07 Restrito

416 Rigby 6762,77 Restrito

416 Ruger 6992,98 Restrito

416 Weatherby Magnum 8487,06 Restrito

44 Remington Magnum 2281,89 Restrito

444 Marlin 4594,48 Restrito

45-70 Government 4031,29 Restrito

450 Bushmaster 3809,55 Restrito

450 Marlin 4757,23 Restrito

457 Wild West Guns 4978,82 Restrito

458 Lott 7928,21 Restrito

458 Winchester Magnum 7551,52 Restrito

470 Nitro Express 6956,89 Restrito

475 Turnbull 5433,07 Restrito

500 Nitro Express 3" 7747,49 Restrito

5.56x45 mm 1748,63 Restrito

7.62x51 mm 3632,01 Restrito

12.7x99 mm 17112,50 Restrito

DOS CRIMES EM ESPÉCIE


Posse irregular de arma de fogo de uso permitido
Considerações iniciais: Disciplina o art. 12 da lei em estudo “Possuir ou manter sob sua guarda arma de
113
fogo, acessório ou munição, de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, no
interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local de trabalho, desde que seja o
titular ou o responsável legal do estabelecimento ou empresa: Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos,
e multa.” O bem tutelado no crime em estudo é a proteção da incolumidade pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “possuir” significa
ter em seu poder, fruir a posse de algo, no caso, da arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido;
“manter sob sua guarda” significa ter sob seu cuidado, preservar, no caso, o artefato, em nome de terceiro.
Difere do depósito, pois este consiste na guarda da arma para si próprio.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: cuida-se de crime de mera conduta, de perigo abstrato, que se consuma com a simples posse
ou manutenção sob guarda do objeto material (arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido)
Tentativa: não é admissível
Particularidades: a norma em comento trata-se de norma penal em branco, devendo ser verificado o que e
arma de uso permitido no decreto que estiver em vigor no momento. Salienta-se que no tipo penal há
elemento normativo expresso no termo “em desacordo com a determinação legal ou regulamentar”

Aula 45 e 46 - Estatuto do Desarmamento.

Omissão de cautela
Considerações iniciais: Dispõe o art. 13 “deixar de observar as cautelas necessárias para impedir que
menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa portadora de deficiência mental se apodere de arma de fogo que
esteja sob sua posse ou que seja de sua propriedade: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.”
Objeto jurídico deste crime e a proteção da incolumidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo ―deixar”, caracteriza
crime omissivo,
Sujeito ativo: qualquer pessoa responsável pela arma
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: culpa, manifestada pela negligência
Consumação: crime se consuma com a omissão (negligência) do agente. A posição que vem sendo mais
aceita na jurisprudência é a de que o apoderamento da arma é imprescindível, pois configura o resultado
involuntário do crime culposo.
Tentativa: não se admite, pois se trata de crime omissivo próprio, culposo.
Figura equiparada: Disciplina o parágrafo único do art. em estudo, “nas mesmas penas incorrem o

114
proprietário ou diretor responsável de empresa de segurança e transporte de valores que deixarem de
registrar ocorrência policial e de comunicar à Polícia Federal perda, furto, roubo ou outras formas de
extravio de arma de fogo, acessório ou munição que estejam sob sua guarda, nas primeiras 24 (vinte
quatro) horas depois de ocorrido o fato.”. Salienta-se que no caso deste parágrafo estamos diante de crime
próprio (só cometido pelo proprietário ou diretor responsável)

Porte de arma de fogo de uso permitido


Considerações iniciais: Aduz o art. 14 do estatuto “Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob guarda
ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido, sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.” O bem
jurídico tutelado é a proteção da incolumidade pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido em treze verbos (portar, deter,
adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter,
empregar, manter sob guarda ou ocultar), traduzindo tipo misto alternativo, no qual a realização de mais de
um comportamento pelo mesmo agente implicará sempre um único delito. Inclusive, a lei não faz distinção
entre o ―porte‖ e o ―transporte‖ de arma de fogo, sendo ambas as condutas típicas e configuradoras do
delito. Indiferente, também, para a configuração do delito, estar a arma de fogo desmuniciada por ocasião
da apreensão. Essa, a nosso ver, é a posição mais acertada, até porque esse crime é de mera conduta e de
perigo abstrato, consumando-se independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo para a sociedade,
sendo que a probabilidade de vir a ocorrer algum dano é presumida pelo tipo penal.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática de qualquer um dos verbos descritos no tipo penal
Tentativa: em tese, é admissível, embora de difícil visualização.
Particularidades: há elemento normativo expresso no termo ―sem autorização e em desacordo com
determinação legal ou regulamentar”.
Dispõe expressamente o parágrafo único que o crime de porte ilegal de arma de fogo de uso permitido é
inafiançável, salvo quando a arma estiver registrada em nome do agente. Não exclui o dispositivo,
entretanto, a possibilidade de concessão ao agente de liberdade provisória sem fiança, nas hipóteses
admitidas pela lei processual penal.
Causa de aumento de pena: Dispõe o art. 20 “Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e
8º desta Lei.”
115
Disparo de arma de fogo
Considerações iniciais: Disciplina o art. 15 da lei em estudo “Disparar arma de fogo ou acionar munição
em lugar habitado ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que essa conduta
não tenha como finalidade a prática de outro crime: Pena – reclusão, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e
multa.” Bem jurídico tutelado no crime em estudo é a proteção da incolumidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “disparar” e
“acionar”. O disparo em via pública absorve o porte ilegal, sendo assim respondera apenas pelo crime de
disparo de arma de fogo em via pública. O crime em comento so existe se a finalidade não for a pratica de
outro crime, portanto considerado tipo penal subsidiário.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com o disparo da arma de fogo ou acionamento da munição. Trata-se de crime de perigo.
Tentativa: Inadmissível
Particularidades: A quantidade de disparo é irrelevante nesse crime, constituindo um só crime. O disparo
de arma de fogo em local ermo e fato atípico, diante do perigo impossível. No crime de homicídio
consumado utilizando arma de fogo, o crime em estudo fica absorvido, já que a finalidade do agente era
prática do homicídio.
O parágrafo único do art. em estudo dispõe que o crime previsto no caput é inafiançável, valendo as
considerações feitas anteriormente quanto a questão da liberdade provisória com ou sem fiança.
Causa de aumento de pena: Dispõe o art. 20 “Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e
8º desta Lei.”

Aula 47 e 48 - Estatuto do Desarmamento.

Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito


Considerações iniciais: Disciplina a art. 16 do Estatuto do Desarmamento ―Possuir, deter, portar,
adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar,
remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso restrito,
sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena – reclusão, de 3 (três) a
6 (seis) anos, e multa.”. A objetividade jurídica do crime é a proteção a incolumidade pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido em quatorze verbos, como se
vê no tipo penal acima transcrito. Desta forma considerado tipo misto alternativo, que nos traduz que a
prática de mais de um verbo implicara sempre um único delito.

116
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática de uma ou mais condutas descritas no tipo penal, sendo que a prática de mais
de uma conduta não implica em concurso de crimes
Tentativa: em tese é admissível, embora que seja de difícil configuração.
Particularidades: o crime em estudo é considerado crime hediondo, conforme o parágrafo único do art. 1º
da lei n. 8072/90.
Para a configuração do crime é irrelevante se a arma estiver municiada ou não, haja vista o crime ser de
mera conduta e de perigo abstrato, consumando independentemente da ocorrência de efetivo prejuízo para
a sociedade.
Verifica-se nesse tipo penal, elemento normativo jurídico do tipo traduzida na expressão ―sem autorização
e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”
Causa de aumento de pena: Dispõe o art. 20 “Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é
aumentada da metade se forem praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e
8º desta Lei.”

Supressão ou alteração de marca, numeração ou sinal de identificação de arma de fogo ou artefato


Considerações iniciais: Os incisos do §1º do art. 16 dispõe sobre figuras equiparadas ao crime exposto no
caput (Posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito). O inciso I disciplina “suprimir ou alterar
marca, numeração ou qualquer sinal de identificação de arma de fogo ou artefato”. Este crime tem por
objetivo proteger a incolumidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “suprimir”
(retirar, eliminar, obliterar) e “alterar” (modificar, mudar). Consta no art. 2º, inciso I da lei em estudo, que
compete ao Sinarm identificar as características e a propriedade de armas de fogo, sendo assim quando há
supressão ou alteração, passa a impossibilitar que se reconheça o armamento e a quem pertence.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva pratica dos verbos do tipo
Tentativa: admissível

Modificação das características da arma de fogo


Considerações iniciais: Disciplina o art. 16, inciso II “modificar as características de arma de fogo, de
forma a torná-la equivalente a arma de fogo de uso proibido ou restrito ou para fins de dificultar ou de
117
qualquer modo induzir a erro autoridade policial, perito ou juiz”. O inciso em estudo tem como
objetividade jurídica a proteção da incolumidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido no verbo “modificar” (alterar,
mudar). Somente é punível a modificação que torne a arma de fogo equivalente à de uso proibido ou
restrito, ou aquela que tenha por fim dificultar ou de qualquer modo induzir a erro autoridade policial,
perito ou juiz.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva modificação das caraterísticas da arma de fogo
Tentativa: admissível
Particularidades: Salienta-se que além do dolo, deve o agente ter o fim especial de tornar a arma de fogo
modificada equivalente a arma de uso proibido ou restrito, ou dificultar ou de qualquer modo induzir a erro
a autoridade policial, perito ou juiz.

Posse, detenção, fabricação ou emprego de artefato explosivo ou incendiário


Considerações iniciais: Aduz o inciso III do art. 16 “possuir, detiver, fabricar ou empregar artefato
explosivo ou incendiário, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”.
Bem jurídico tutelado é a proteção da incolumidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “possuir” (ter,
deter), “deter” (ter, possuir), “fabricar” (produzir, realizar) e “empregar” (utilizar, aplicar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática de um dos verbos
Tentativa: admissível nas condutas “fabricar” e “empregar”
Particularidades: Há elemento normativo ante a expressão, “sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar”.

Porte de arma de fogo de numeração raspada


Considerações iniciais: Dispõe o art. 16 inciso IV, “portar, possuir, adquirir, transportar ou fornecer
arma de fogo com numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado, suprimido ou
adulterado”. Tutela-se a incolumidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “portar” (trazer
consigo, carregar), “possuir” (ter, deter), “adquirir” (conseguir, alcançar, comprar), “transportar”
118
(conduzir, levar) e “fornecer” (proporcionar, dar). O agente que incorre na prática das condutas dos
verbos, mesmo que na posse de uma arma aparentemente de uso permitido, haja vista a supressão ou
adulteração da numeração, marca ou outro sinal de identificação.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a realização de qualquer das condutas incriminadas
Tentativa: não se admite
Particularidades: Trata-se de tipo penal misto alternativo, ou de conteúdo variado, sendo que a prática de
mais de uma conduta não enseja o concurso de crimes.

Venda, entrega ou fornecimento de arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou


adolescente
Considerações iniciais: Aduz o inciso V do art. 16 “vender, entregar ou fornecer, ainda que
gratuitamente, arma de fogo, acessório, munição ou explosivo a criança ou adolescente”. Objetividade
jurídica é a proteção da incolumidade pública, bem como a proteção da vida e integridade física da criança
e do adolescente.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “vender” (alienar,
comercializar), “fornecer” (dar, entregar, proporcionar) e “entregar” (dar, fornecer)
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a criança ou o adolescente
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre com a efetiva prática dos verbos do tipo
Tentativa: admissível
Particularidades: qualquer das condutas pode ser a título oneroso ou gratuito. O crime em comento não
revogou o crime disposto no art. 242 do ECA. Caso haja a prática de venda, fornecimento ou entrega a
criança ou adolescente for de arma de fogo, estará configurada a hipótese criminosa do inciso V, ora em
estudo. Caso a venda, fornecimento ou entrega a criança ou adolescente for de qualquer outra arma, que
não arma de fogo, estará configurada a hipótese deste art. 242 do ECA.

Produção, recarga, reciclagem ou adulteração de munição ou explosivo


Considerações iniciais: Disciplina o art. 16, inciso VI, “produzir, recarregar ou reciclar, sem autorização
legal, ou adulterar, de qualquer forma, munição ou explosivo.” Bem jurídico tutelado e a incolumidade
pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “produzir” (gerar,
119
fabricar), “recarregar” (tornar a carregar), “reciclar” (processar para reutilizar) e “adulterar” (defraudar,
corromper)
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática de qualquer das condutas incriminadas
Tentativa: admissível
Qualificadora: Disciplina o recém-criado §2º da lei em debate “Se as condutas descritas no caput e no §
1º deste artigo envolverem arma de fogo de uso proibido, a pena é de reclusão, de 4 (quatro) a 12 (doze)
anos.”

Comércio ilegal de arma de fogo


Considerações iniciais: Dispõe o art. 17 da lei estudo “Adquirir, alugar, receber, transportar, conduzir,
ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar, vender, expor à venda, ou de qualquer
forma utilizar, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, arma de
fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 12 (doze) anos, e multa.” Bem jurídico tutelado é a incolumidade pública.
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido em quatorze verbos, adquirir,
alugar, receber, transportar, conduzir, ocultar, ter em depósito, desmontar, montar, remontar, adulterar,
vender, expor à venda, ou de qualquer forma utilizar. A prática de qualquer uma das condutas caracteriza o
crime em comento, se não tiver autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Sujeito ativo: qualquer pessoa, desde que no exercício de atividade comercial ou industrial
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva prática de uma das condutas incriminadas.
Tentativa: admite-se, mas de difícil constatação
Particularidades: O crime em estudo e tipo penal alternativo, sendo que a pratica de mais de uma conduta
caracteriza crime único.
O §1º disciplina “equipara-se à atividade comercial ou industrial, para efeito deste artigo, qualquer forma
de prestação de serviços, fabricação ou comércio irregular ou clandestino, inclusive o exercido em
residência.”
Conduta equiparada: Disciplina o recém-criado §2º “Incorre na mesma pena quem vende ou entrega
arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização ou em desacordo com a determinação legal ou
regulamentar, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente.”
120
Causa de aumento de pena: Dispõe o art. 19 ―Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada
da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.”. Dispõe também o
art. 20 “Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem
praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei.”

Tráfico internacional de arma de fogo


Considerações iniciais: Disciplina o art. 18 da lei em comento “Importar, exportar, favorecer a entrada
ou saída do território nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem autorização
da autoridade competente: Pena – reclusão, de 8 (oito) a 16 (dezesseis) anos, e multa.” Bem jurídico
tutelado é a proteção da incolumidade pública
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo) está traduzido nos verbos “importar” (trazer
de fora do país), “exportar” (enviar ou vender para fora do país) e “favorecer” (facilitar, beneficiar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: na modalidade de conduta ―importar‖, consuma-se com o efetivo ingresso da arma de fogo,
acessório ou munição no País. Na modalidade de conduta ―exportar‖, com a efetiva saída do objeto
material do País. São hipóteses de crime instantâneo. Na conduta de ―favorecer‖ a entrada ou saída do
território nacional, consuma-se com o efetivo favorecimento, que pode ser praticado por ação ou por
omissão do agente.
Tentativa: admissível, exceção se faz ao verbo favorecer haja vista que a pratica pode ser por omissão
Particularidades: O favorecimento deve voltar-se à entrada ou saída do território nacional, a qualquer
título, de arma de fogo, acessório ou munição. Em qualquer das modalidades de conduta deve inexistir
―autorização da autoridade competente‖, que, no caso da lei em comento, deve pertencer ao Comando do
Exército, nos termos dos arts. 24 e 27.
Conduta equiparada: Disciplina o recém-criado parágrafo único “Incorre na mesma pena quem vende ou
entrega arma de fogo, acessório ou munição, em operação de importação, sem autorização da autoridade
competente, a agente policial disfarçado, quando presentes elementos probatórios razoáveis de conduta
criminal preexistente.”
Causa de aumento de pena: Dispõe o art. 19 ―Nos crimes previstos nos arts. 17 e 18, a pena é aumentada
da metade se a arma de fogo, acessório ou munição forem de uso proibido ou restrito.”. Dispõe também o
art. 20 “Nos crimes previstos nos arts. 14, 15, 16, 17 e 18, a pena é aumentada da metade se forem
praticados por integrante dos órgãos e empresas referidas nos arts. 6º, 7º e 8º desta Lei.”

121
Aula 49 e 50 - Código de defesa do Consumidor.

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR – LEI N. 8.078/90

Introdução
Entende-se por consumidor e assim dispõe o art. 2º sendo, “toda pessoa física ou jurídica que adquire ou
utiliza produto ou serviço como destinatário final”. O paragrafo único dispõe “Equipara-se a consumidor
a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo.”
O art. 3º dispõe quem é considerado fornecedor “Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou
privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou
comercialização de produtos ou prestação de serviços.”.
O objeto da relação entre consumidor e fornecer se perfaz através de produto ou serviços, sendo
disciplinado pelos §§1º e 2º do art. 3º “§1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou
imaterial.” “§2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações
de caráter trabalhista.”

DOS CRIMES CONTRA A RELAÇÃO DE CONSUMO NO CDC


Código de Defesa do Consumidor, além de doutrinar sobre a relação de consumo, tem a função de um
código penalmente subsidiário, visando complementar tipos penais não previstos no código penal,
contendo doze tipos penais.
Os crimes disposto na lei em estudo tem como objeto jurídico a tutela ao interesse coletivo das relações de
consumo, como sujeito ativo (aquele que pratica a ação) o fornecedor (art. 3º), tem como sujeito passivo
primário a coletividade, por se tratar de interesse coletivo, mas poderá haver um sujeito passivo secundário
por ser possível no crime especifico demonstrar uma pessoa física atingida pela prática. A relação entre
fornecedor e consumidor se perfaz através da aquisição de um produto ou serviço, sendo o objeto material
dos crimes. Isso aplicável a todos os crimes.

DOS CRIMES EM ESPÉCIES


Omissão de dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos
Considerações iniciais: Disciplina o art. 63 do CDC “Omitir dizeres ou sinais ostensivos sobre a
nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade:
Pena - Detenção de seis meses a dois anos e multa.”
Figura equiparada: Dispõe o §1º “Incorrerá nas mesmas penas quem deixar de alertar, mediante

122
recomendações escritas ostensivas, sobre a periculosidade do serviço a ser prestado.”
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo), a conduta, está traduzido no verbo ―omitir”,
em relação ao caput do art. e na conduta equiparada a conduta esta traduzida no verbo “deixar de alertar”,
sendo assim já a possível deduzir que em ambos estamos diante de um crime omissivo próprio
Tipo subjetivo: dolo e culpa
Consumação: ocorre com a omissão de sinalização ou de dizeres acerca da nocividade ou periculosidade
do produto. No que tange ao §1º consuma-se com a ausência de alerta
Tentativa: não se admite, por se tratar de crime omissivo
Particularidades: Aduz o §2º “Se o crime é culposo: Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.”.
Sendo assim, ficando claro que o crime se processa pelo elemento subjetivo dolo ou culpa.

Propaganda enganosa
Considerações iniciais: Dispõe o art. 66 do CDC “Fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir
informação relevante sobre a natureza, característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho,
durabilidade, preço ou garantia de produtos ou serviços: Pena - Detenção de três meses a um ano e
multa.”
Figura equiparada: Disciplina o § 1º “incorrerá nas mesmas penas quem patrocinar a oferta.”
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo), a conduta, no ―fazer afirmação falsa ou
enganos”, como se sabe, fazer e uma palavra que caracteriza ação, sendo assim um crime comissivo. Há
tem a conduta “omitir informação relevante”, o verbo ja nos ajuda a verificar que se trata de crime
omissivo
Sujeito ativo: Considerando a figura equiparada temos como sujeito ativo além do fornecedor, aquele que
patrocinar, ou seja, o patrocinador.
Tipo subjetivo: dolo e culpa
Consumação: no fazer (crime comissivo), consuma-se com a afirmação falsa enganosa, no omitir (crime
omissivo), consuma-se com a omissão da informação relevante.
Tentativa: admissível apenas na modalidade comissiva
Particularidades: Aduz o § 2º “Se o crime é culposo: Pena – Detenção de um a seis meses ou multa.”
Sendo assim, ficando claro que o crime se processa pelo elemento subjetivo dolo ou culpa.
Exemplo jurisprudencial: “Se o agente, gerente de posto de gasolina, a quem cabia sua administração,
com o objetivo promocional, afixa faixa com o fim de atrair clientela, se compromete a conceder benefício
ao consumidor se atendido por este o requisito exigido para tal e, ao depois, se nega a assim proceder,
apesar de satisfeita a exigência, com este agir realiza o tipo incriminado previsto no Código do
Consumidor, em face da falsidade da informação sobre serviços, induzindo o consumidor a engano”
(TACrimRJ – RDC, 18/196).‖
123
Publicidade enganosa
Considerações iniciais: Disciplina o art. 67 do CDC “Fazer ou promover publicidade que sabe ou deveria
saber ser enganosa ou abusiva: Pena Detenção de três meses a um ano e multa.”
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo), a conduta, traduzida nos verbos “fazer ou
promover”, verifica-se condutas comissivas.
Sujeito ativo: tanto o profissional que faz a publicada enganosa ou abusiva ou o que a promove
Tipo subjetivo: dolo, sendo o direto e o eventual (deveria saber)
Consumação: com a veiculação da publicidade, sem a necessidade de uma vitima especifica, haja vista a
proteção a coletividade.
Tentativa: admissível
Particularidades: se o agente induzir o consumidor a erro e for verificado o prejuízo efetivo, estará
tipificado o crime disposto no art. 7º, VII, da Lei n. 8.137/90 (crimes contra a ordem tributária, econômica
e contra as relações de consumo, e dá outras providências.)
Exemplo jurisprudencial: “O agente que, usando nome semelhante ao de instituição tradicional de
ensino, faz publicidade de cursos por correspondência, sugerindo através de prospectos que os mesmos se
tratam de cursos oficiais promovidos por aquela escola, incorre nas penas do art. 67, da Lei 8.078/90 pois
presente o intuito de enganar pessoas” (TACrim – RJD, 28/73).‖

Cobrança vexatória
Considerações iniciais: Disciplina o art. 71 do CDC “Utilizar, na cobrança de dívidas, de ameaça,
coação, constrangimento físico ou moral, afirmações falsas, incorretas ou enganosas ou de qualquer outro
procedimento que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu trabalho,
descanso ou lazer: Pena – Detenção de três meses a um ano e multa.”
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo), a conduta, traduzida no verbo “utilizar”,
pode se dizer que é fazer uso de, empregar, usar, meios para a cobrança que coloque o exponha o
consumidor a ridículo ou interfira com seu trabalho, descanso ou lazer.
Sujeito ativo: nesse caso pode ser o fornecedor (credor) ou quem efetuar a cobrança
Tipo subjetivo: dolo
Consumação: com o emprego de meios abusivos para a cobrança da dívida
Tentativa: admissível

Omissão na entrega de termo de garantia


Considerações iniciais: Dispõe o art. 74 do CDC “Deixar de entregar ao consumidor o termo de garantia
adequadamente preenchido e com especificação clara de seu conteúdo: Pena Detenção de um a seis meses
124
ou multa.”
Tipo objetivo: O verbo núcleo do tipo (ação nuclear do tipo), a conduta, traduzido na expressão ―deicar de
entregar‖, sabemos que deixar e uma conduta omissiva. Falamos aqui da garantia legal, disposta no art. 24
do CDC.
Tipo subjetivo: dolo
Consumação: com a mera omissão na entrega
Tentativa: não se admite

CIRCUNSTÂNCIAS AGRAVANTES
Considerações iniciais: A aplicação das circunstâncias agravantes a seguir, não impede a das
circunstâncias agravantes genéricas dos art. 65 e 66 do Código Penal.
Disciplina o art. 76 “São circunstâncias agravantes dos crimes tipificados neste código:
I - serem cometidos em época de grave crise econômica ou por ocasião de calamidade;
II - ocasionarem grave dano individual ou coletivo;
III - dissimular-se a natureza ilícita do procedimento;
IV - quando cometidos:
a) por servidor público, ou por pessoa cuja condição econômico-social seja manifestamente superior à da
vítima;
b) em detrimento de operário ou rurícola; de menor de dezoito ou maior de sessenta anos ou de pessoas
portadoras de deficiência mental interditadas ou não;
V - serem praticados em operações que envolvam alimentos, medicamentos ou quaisquer outros produtos
ou serviços essenciais .”

Aula 51 e 52 - Lei de Violência Doméstica

LEI DE COMBATE A VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER – LEI N.


LEI Nº 11.340, DE 7 DE AGOSTO DE 2006.

INTRODUÇÃO
A Lei 11.340/2006 tem como escopo criar instrumentos para enfrentar um problema que assola uma grande
parte das mulheres pelo mundo, que é a violência de gênero,
Também denominada popularmente de ―Lei Maria da Penha‖, foi criada após a Sr. Maria da Penha
Fernandes, procurar organismos internacionais, por ter ficado indignada em ver seu ex-marido que havia a
sido o percursor de sua paraplegia, depois de efetuar um disparo de arma de fogo em suas costas não ser
preso em nenhuma de suas condenações. A busca por justiça fez com que o Estado Brasileiro, em 2001,

125
fosse condenado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), por negligência e omissão em relação à
violência domestica, recomendando a tomada de providências a respeito do caso.
Vale ressaltar que o Brasil e signatário da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação contra as Mulheres (promulgada pelo Decreto n. 4.377/2002) e da Convenção
Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará
– 1994 – promulgada pelo Decreto n. 1.973/96).

DA VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER


A lei em estudo em seu art. 5º preceitua o que configura da violência doméstica e familiar contra a mulher:
“Art. 5º Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação
ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano
moral ou patrimonial
I - no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço de convívio permanente de pessoas,
com ou sem vínculo familiar, inclusive as esporadicamente agregadas;
II - no âmbito da família, compreendida como a comunidade formada por indivíduos que são ou se
consideram aparentados, unidos por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressa;
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida,
independentemente de coabitação.
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo independem de orientação sexual.”
Salientam-se alguns aspectos em que a tutela da violência doméstica e familiar contra a mulher, o qual
compreende as relações de casamento, união estável, família monoparental, família homoafetiva, família
adotiva, vínculos de parentesco em sentido amplo, introduzindo, ainda, a ideia de família de fato,
compreendendo essa as pessoas que não têm vínculo jurídico familiar, considerando-se, entretanto,
aparentados (amigos próximos, agregados etc.).
Sobre a questão do namoro, com intuito de elucidar possíveis questionamentos fale exposto o voto do
Ministro Jorge Mussi do STJ ―O namoro, outrossim, evidencia uma relação íntima de afeto que independe
de coabitação. Portanto, agressões e ameaças de namorado contra a namorada – mesmo que o
relacionamento tenha terminado – que ocorram em decorrência dele, caracterizam violência doméstica.
Está caracterizada, neste caso, a relação íntima de afeto entre as partes, ainda que apenas como namorados,
pois o dispositivo legal não exige coabitação para configuração da violência doméstica contra a mulher‖
(STJ – CC 103.813/MG – Rel. Min. Jorge Mussi – 3ª S. – DJE, 3-8-2009).

DAS FORMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER


O art. 7º da Lei Maria da Penha tratou de estabelecer as formas que a violência contra a mulher no âmbito
familiar:
126
“Art. 7º São formas de violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outras:
I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal;
II - a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição
da autoestima ou que lhe prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou
controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro
meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação;
III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a
participar de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a
induza a comercializar ou a utilizar, de qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer
método contraceptivo ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição, mediante
coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos;
IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração,
destruição parcial ou total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e
direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer suas necessidades;
V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou injúria.”
Para as condutas acima descritas, a um sujeito ativo, sendo referido pela lei como ―agressor‖, não fazendo
referência ao sexo masculino ou feminino, portanto, concluímos que pode ser tanto homem quanto a
mulher.
Já o sujeito passivo da violência doméstica e familiar, tutelado por esta lei, só poderá ser a mulher, vale
salientar que o transexual que fizer a cirurgia de sexo e passar a ser considerado mulher no registro civil
poderá ter efetiva proteção da lei.

DO ATENDIMENTO PELA AUTORIDADE POLICIAL


A Autoridade Policial deve adotar algumas medidas no atendimento da mulher que foi submetida a
situação de violência doméstica familiar, vale aqui salientar o disposto no art. 11:
“Art. 11. No atendimento à mulher em situação de violência doméstica e familiar, a autoridade policial
deverá, entre outras providências:
I - garantir proteção policial, quando necessário, comunicando de imediato ao Ministério Público e ao
Poder Judiciário;
II - encaminhar a ofendida ao hospital ou posto de saúde e ao Instituto Médico Legal;
III - fornecer transporte para a ofendida e seus dependentes para abrigo ou local seguro, quando houver
risco de vida;
127
IV - se necessário, acompanhar a ofendida para assegurar a retirada de seus pertences do local da
ocorrência ou do domicílio familiar;
V - informar à ofendida os direitos a ela conferidos nesta Lei e os serviços disponíveis, inclusive os de
assistência judiciária para o eventual ajuizamento perante o juízo competente da ação de separação
judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de dissolução de união estável.”
Os incisos e parágrafos do art. 12, determina que a autoridade policial deve tomar os seguinte
procedimentos, de forma imediata:
“I - ouvir a ofendida, lavrar o boletim de ocorrência e tomar a representação a termo, se apresentada;
II - colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e de suas circunstâncias;
III - remeter, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, expediente apartado ao juiz com o pedido da
ofendida, para a concessão de medidas protetivas de urgência;
IV - determinar que se proceda ao exame de corpo de delito da ofendida e requisitar outros exames
periciais necessários;
V - ouvir o agressor e as testemunhas;
VI - ordenar a identificação do agressor e fazer juntar aos autos sua folha de antecedentes criminais,
indicando a existência de mandado de prisão ou registro de outras ocorrências policiais contra ele;
VI-A - verificar se o agressor possui registro de porte ou posse de arma de fogo e, na hipótese de
existência, juntar aos autos essa informação, bem como notificar a ocorrência à instituição responsável
pela concessão do registro ou da emissão do porte, nos termos da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de
2003 (Estatuto do Desarmamento);
VII - remeter, no prazo legal, os autos do inquérito policial ao juiz e ao Ministério Público.
§ 1º O pedido da ofendida será tomado a termo pela autoridade policial e deverá conter:
I - qualificação da ofendida e do agressor;
II - nome e idade dos dependentes;
III - descrição sucinta do fato e das medidas protetivas solicitadas pela ofendida.
IV - informação sobre a condição de a ofendida ser pessoa com deficiência e se da violência sofrida
resultou deficiência ou agravamento de deficiência preexistente. (Incluído pela Lei nº 13.836, de 2019)
§ 2º A autoridade policial deverá anexar ao documento referido no § 1º o boletim de ocorrência e cópia de
todos os documentos disponíveis em posse da ofendida.
§ 3º Serão admitidos como meios de prova os laudos ou prontuários médicos fornecidos por hospitais e
postos de saúde.”
Recém promulgo art. 12-C, que traz uma forma de maior celeridade na proteção da mulher vítima:
”Art. 12-C. Verificada a existência de risco atual ou iminente à vida ou à integridade física da mulher em
situação de violência doméstica e familiar, ou de seus dependentes, o agressor será imediatamente
afastado do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida:
128
I - pela autoridade judicial;
II - pelo delegado de polícia, quando o Município não for sede de comarca; ou
III - pelo policial, quando o Município não for sede de comarca e não houver delegado disponível no
momento da denúncia.
§ 1º Nas hipóteses dos incisos II e III do caput deste artigo, o juiz será comunicado no prazo máximo de 24
(vinte e quatro) horas e decidirá, em igual prazo, sobre a manutenção ou a revogação da medida aplicada,
devendo dar ciência ao Ministério Público concomitantemente.
§ 2º Nos casos de risco à integridade física da ofendida ou à efetividade da medida protetiva de urgência,
não será concedida liberdade provisória ao preso.”
No que concerne ao policial (inciso III), a amplitude da expressão nos faz crer que pode ser o militar e o
civil das esferas federal e estadual. Aqui a lei confere a possibilidade para aplicação das medidas protetivas
desde o soldado até o coronel; quer ao agente de polícia, como ao escrivão, ao perito e ao papiloscopista,
sem distinção.

DAS MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA


São medidas aplicadas pelo Juiz, com o intuito de proteção da vitima de violência domestica. Aduz os arts.
18 e 19
“Art. 18. Recebido o expediente com o pedido da ofendida, caberá ao juiz, no prazo de 48 (quarenta e
oito) horas:
I - conhecer do expediente e do pedido e decidir sobre as medidas protetivas de urgência;
II - determinar o encaminhamento da ofendida ao órgão de assistência judiciária, quando for o caso,
inclusive para o ajuizamento da ação de separação judicial, de divórcio, de anulação de casamento ou de
dissolução de união estável perante o juízo competente;
III - comunicar ao Ministério Público para que adote as providências cabíveis.
Art. 19. As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas pelo juiz, a requerimento do Ministério
Público ou a pedido da ofendida.
§ 1º As medidas protetivas de urgência poderão ser concedidas de imediato, independentemente de
audiência das partes e de manifestação do Ministério Público, devendo este ser prontamente comunicado.
§ 2º As medidas protetivas de urgência serão aplicadas isolada ou cumulativamente, e poderão ser
substituídas a qualquer tempo por outras de maior eficácia, sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
forem ameaçados ou violados.
§ 3º Poderá o juiz, a requerimento do Ministério Público ou a pedido da ofendida, conceder novas
medidas protetivas de urgência ou rever aquelas já concedidas, se entender necessário à proteção da
ofendida, de seus familiares e de seu patrimônio, ouvido o Ministério Público.”
Adotada a necessidade das medidas protetivas, o Juiz avaliara qual dela se adequa melhor ao caso para que
129
seja dado o respaldo necessário a vitima, podendo entender por uma ou ate mais.
Disciplina nessa toada o art. 22:
“Art. 22. Constatada a prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, nos termos desta Lei, o
juiz poderá aplicar, de imediato, ao agressor, em conjunto ou separadamente, as seguintes medidas
protetivas de urgência, entre outras:
I - suspensão da posse ou restrição do porte de armas, com comunicação ao órgão competente, nos termos
da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003 ;
II - afastamento do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida;
III - proibição de determinadas condutas, entre as quais:
a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das testemunhas, fixando o limite mínimo de distância
entre estes e o agressor;
b) contato com a ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação;
c) freqüentação de determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida;
IV - restrição ou suspensão de visitas aos dependentes menores, ouvida a equipe de atendimento
multidisciplinar ou serviço similar;
V - prestação de alimentos provisionais ou provisórios.
VI – comparecimento do agressor a programas de recuperação e reeducação; e
VII – acompanhamento psicossocial do agressor, por meio de atendimento individual e/ou em grupo de
apoio.
§ 1º As medidas referidas neste artigo não impedem a aplicação de outras previstas na legislação em
vigor, sempre que a segurança da ofendida ou as circunstâncias o exigirem, devendo a providência ser
comunicada ao Ministério Público.
§ 2º Na hipótese de aplicação do inciso I, encontrando-se o agressor nas condições mencionadas no caput
e incisos do art. 6º da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro de 2003, o juiz comunicará ao respectivo órgão,
corporação ou instituição as medidas protetivas de urgência concedidas e determinará a restrição do
porte de armas, ficando o superior imediato do agressor responsável pelo cumprimento da determinação
judicial, sob pena de incorrer nos crimes de prevaricação ou de desobediência, conforme o caso.
§ 3º Para garantir a efetividade das medidas protetivas de urgência, poderá o juiz requisitar, a qualquer
momento, auxílio da força policial.”
Vindo o agressor a descumprir a medida protetiva imposta incorra em prática criminosa, descrita no art. 24-
A ― Descumprir decisão judicial que defere medidas protetivas de urgência previstas nesta Lei:
Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2 (dois) anos
§ 1º A configuração do crime independe da competência civil ou criminal do juiz que deferiu as medidas.
§ 2º Na hipótese de prisão em flagrante, apenas a autoridade judicial poderá conceder fiança.
§ 3º O disposto neste artigo não exclui a aplicação de outras sanções cabíveis.”
130
DA AÇÃO PENAL
Seguindo a regra geral do Código de Processo Penal, a ação penal nos crimes que envolvam violência
doméstica e familiar contra a mulher é pública incondicionada, com iniciativa do Ministério Público.

Aula 53 e 54 - Crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor

CRIMES DE PRECONCEITO DE RAÇA E COR - LEI N. 7.716/89


INTRODUÇÃO
De proêmio vale fazer a distinção entre alguns conceitos, sendo eles o racismo, preconceito e
discriminação:
Racismo pode ser entendido como conjunto de teorias e crenças que estabelecem uma hierarquia entre as
raças, entre as etnias.
Preconceito pode ser entendido como qualquer opinião ou sentimento concebido sem exame crítico, ou
sentimento hostil, assumido em consequência da generalização apressada de uma experiência pessoal ou
imposta pelo meio; intolerância.
Discriminação entendido como ato que quebra o princípio de igualdade, como distinção, exclusão, restrição
ou preferências, motivado por raça, cor, sexo, idade, trabalho, credo religioso ou convicções políticas.
A lei 7.716/89 criada com o intuito de punir os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça,
cor, etnia, religião ou procedência nacional, assim disciplina o art. 1º “Serão punidos, na forma desta Lei,
os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional.”
Vale ressaltar recente decisão do Supremo Tribunal Federal que entendeu que a discriminação por
orientação sexual e identidade de gênero, passa a ser considerado crime de Racismo.

DOS CRIMES EM ESPÉCIE


Diversos são os crimes existentes na lei em estudo, mas tentaremos tratar os que fazem maior relação com
o serviço policial.

Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial


Considerações iniciais: Disciplina o art. 5º da lei em estudo “Recusar ou impedir acesso a
estabelecimento comercial, negando-se a servir, atender ou receber cliente ou comprador. Pena: reclusão
de um a três anos.” Tem como objeto jurídico a tutela do direto à igualdade, do respeito à personalidade e
à dignidade da pessoa.
Tipo objetivo: vem representada pelos verbos ―recusar‖ (não aceitar, repelir, negar), ―impedir‖ (obstar,

131
proibir) e ―negar‖ (recusar, repudiar). A recusa ou impedimento de acesso ao estabelecimento comercial
deve dar-se pela negativa em servir, atender ou receber o cliente ou comprador, condutas estas resultantes
do preconceito racial.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado, em segundo plano o cliente ou comprador discriminado.
Tipo subjetivo: dolo
Consumação: com a efetiva recusa ou impedimento de acesso, pela negativa em servir, atender ou receber.
Tentativa: admissível na conduta impedir, mas de difícil verificação

Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno


Considerações iniciais: Dispõe o art. 6º da lei em debate “Recusar, negar ou impedir a inscrição ou
ingresso de aluno em estabelecimento de ensino público ou privado de qualquer grau. Pena: reclusão de
três a cinco anos.” Tem como bem jurídico penalmente tutelado do direto à igualdade, do respeito à
personalidade e à dignidade da pessoa.
Tipo objetivo: vem expressa pelos verbos ―recusar‖ (não aceitar, repelir), ―negar‖ (recusar, repudiar) e
―impedir‖ (obstar, proibir), referindo-se a inscrição ou ingresso em estabelecimento de ensino público ou
privado.
Sujeito ativo: qualquer pessoa que tenha poderes para realização do ato.
Sujeito passivo: o Estado, em segundo plano o aluno discriminado.
Tipo subjetivo: dolo
Consumação: com a recusa, negação ou impedimento.
Tentativa: admissível na conduta impedir, mas de difícil verificação.
Causa de aumento de pena: Disciplina o parágrafo único ―Se o crime for praticado contra menor de 18
(dezoito) anos a pena é agravada de 1/3 (um terço).‖

Impedir o acesso
Considerações: Do art. 7º ate o art. 14, são crimes em que por motivo de preconceito a pessoa e impedida
de acessar um determinado local, sendo assim iremos coloca-los em sequência, com as explicações devidas
em seguida
“Art. 7º Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel, pensão, estalagem, ou qualquer
estabelecimento similar.
Pena: reclusão de três a cinco anos.
Art. 8º Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes, bares, confeitarias, ou locais
semelhantes abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
132
Art. 9º Impedir o acesso ou recusar atendimento em estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou
clubes sociais abertos ao público.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 10. Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de cabeleireiros, barbearias, termas ou casas
de massagem ou estabelecimento com as mesmas finalidades.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 11. Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios públicos ou residenciais e elevadores ou escada
de acesso aos mesmos:
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 12. Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões, navios barcas, barcos, ônibus,
trens, metrô ou qualquer outro meio de transporte concedido.
Pena: reclusão de um a três anos.
Art. 13. Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer ramo das Forças Armadas.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.
Art. 14. Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou convivência familiar e social.
Pena: reclusão de dois a quatro anos.”
Todos tem como objeto jurídico a tutela do direto à igualdade, do respeito à personalidade e à dignidade da
pessoa.
Tipo objetivo: conforme se verifica nos tipos penais acima, são três verbos distintos, sendo eles ―impedir‖
(obstar, obstaculizar, proibir), ―recusar‖ (não aceitar, repelir) e ―obstar‖ (impedir, obstaculizar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado, em segundo plano a pessoa discriminada.
Tipo subjetivo: dolo
Consumação: com a prática das condutas descritas no tipo penal
Tentativa: admite-se nas condutas impedir e obstar, mas de difícil verificação.
Particularidades: se os fatos não se derem por preconceito, não esta caracterizado os crimes acima

Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito


Considerações iniciais: Disciplina o art. 20 da lei em estudo “Praticar, induzir ou incitar a discriminação
ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional. Pena: reclusão de um a três anos e
multa.”. Tem como bem jurídico penalmente tutelado o direto à igualdade, do respeito à personalidade e à
dignidade da pessoa.
Tipo objetivo: vem representada pelos verbos ―praticar‖ (realizar, executar), ―induzir‖ (influenciar,
persuadir) e ―incitar‖ (estimular, aguçar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
133
Sujeito passivo: o Estado
Tipo subjetivo: dolo
Consumação: com a pratica de um dos verbos do tipo.
Tentativa: possível no verbo ―praticar‖, mas de difícil constatação.
Qualificadora: Dispõe o § 2º do art. 20 “Se qualquer dos crimes previstos no caput é cometido por
intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de qualquer natureza: Pena: reclusão de dois
a cinco anos e multa.”

Divulgação do nazismo
Considerações iniciais: Aduz o §1º do art. 20 da lei em estudo “Fabricar, comercializar, distribuir ou
veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou
gamada, para fins de divulgação do nazismo. Pena: reclusão de dois a cinco anos e multa.”
Tipo objetivo: tem como conduta, representada nos verbos ―fabricar‖ (produzir, construir),
―comercializar‖ (negociar, exercer comércio), ―distribuir‖ (espalhar, dividir, repartir) ou ―veicular‖
(divulgar, propagar)
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado
Tipo subjetivo: dolo
Consumação: com a prática de qualquer um dos verbos
Tentativa: admissível
Particularidades: Há a necessidade que os atos tem o fim especifico de divulgação do nazismo. Salienta-
se que a cruz suástica é um símbolo religioso, tanto que para os budistas representava a felicidade, a boa
sorte.

Aula 55 e 56 - Crimes Hediondos

CRIMES HEDIONDOS – LEI N. 8.702/90


INTRODUÇÃO
Dispõe o art. 5º, XLIII, da Constituição Federal “lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de
graça ou anistia a prática de tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo
evitá-los, se omitirem”
Observe que alguns crimes o legislador entendeu que mereciam um tratamento mais severo, entre eles
estão os crimes hediondos.
O Brasil para a verificação dos crimes hediondos adotou o sistema legal, em que apenas a lei indicará quais

134
crimes são considerados hediondos, sendo assim uma lei especifica, a do nosso estudo atual, conterá um rol
taxativo para demonstrar todos os crimes considerados hediondos, não podendo o juiz ignorar sua
classificação no momento oportuno, como também não poderá dar característica de hediondo a um crime
que não esteja no rol legal.
Vale salientar que os delitos militares não são caracterizados como crimes hediondos, haja vista não
constarem na relação do art. 1º da lei de Crimes Hediondos.
Esclarecemos que os crimes de tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e terrorismo não são considerados
crimes hediondos (não consta no rol do art. 1º), mas de acordo com o art. 2º, são equiparados aos
hediondos, sendo aplicado o mesmo tratamento mais severo, proibindo anistia, graça ou indulto e de fiança.

CRIMES HEDIONDOS, O ROL LEGAL.


Disciplina o art. 1º da Lei de Crimes Hediondos “São considerados hediondos os seguintes crimes, todos
tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
I – homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido
por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2º, incisos I, II, III, IV, V, VI, VII e VIII);(nova
redação dada pela lei 13.964/19)
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão corporal seguida de morte (art.
129, § 3o), quando praticadas contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição
Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da
função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro
grau, em razão dessa condição;
II - roubo:
a) circunstanciado pela restrição de liberdade da vítima (art. 157, § 2º, inciso V);
b) circunstanciado pelo emprego de arma de fogo (art. 157, § 2º-A, inciso I) ou pelo emprego de arma de
fogo de uso proibido ou restrito (art. 157, § 2º-B);
c) qualificado pelo resultado lesão corporal grave ou morte (art. 157, § 3º);
III - extorsão qualificada pela restrição da liberdade da vítima, ocorrência de lesão corporal ou morte
(art. 158, § 3º);
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).
VII-A – (VETADO)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou
medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de
135
1998)
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de criança ou adolescente ou
de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º)
IX - furto qualificado pelo emprego de explosivo ou de artefato análogo que cause perigo comum (art. 155,
§ 4º-A).
Parágrafo único. Consideram-se também hediondos, tentados ou consumados:
I - o crime de genocídio, previsto nos arts. 1º, 2º e 3º da Lei nº 2.889, de 1º de outubro de 1956;
II - o crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso proibido, previsto no art. 16 da Lei nº 10.826,
de 22 de dezembro de 2003;
III - o crime de comércio ilegal de armas de fogo, previsto no art. 17 da Lei nº 10.826, de 22 de dezembro
de 2003;
IV - o crime de tráfico internacional de arma de fogo, acessório ou munição, previsto no art. 18 da Lei nº
10.826, de 22 de dezembro de 2003;
V - o crime de organização criminosa, quando direcionado à prática de crime hediondo ou
equiparado.”(NR)

DA ANISTIA, GRAÇA E INDULTO.


Como já dito anteriormente, os crimes hediondos e os equiparados a hediondos, são insuscetíveis de
anistia, graça e indulto.
Disposto na Constituição Federal, bem como no art. 2º, I, da Lei em estudo “Os crimes hediondos, a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: I -
anistia, graça e indulto;”.
Anistia é o esquecimento jurídico de um crime, efetivado através de uma lei de efeito retroativo. Em outras
palavras, o Estado abdica do direito de punir através de um ato legislativo, de competência exclusiva do
Congresso Nacional, com sanção do Presidente da República.
Graça é a concessão de perdão ao criminoso pelo Presidente da República, nos termos do art. 84, XII, da
Constituição Federal, feita mediante decreto. A graça é sempre individual, ou seja, concedida a um sujeito
determinado, sendo solicitado por petição do condenado, por iniciativa do Ministério Publico e etc.
Indulto é o perdão concedido pelo Presidente da República por meio de decreto. O indulto tem caráter de
generalidade, ou seja, abrange várias pessoas, referindo-se a fatos, e pode ser concedido sem qualquer
requerimento.

Aula 57 e 58 - Crimes Hediondos

DA FIANÇA E LIBERDADE PROVISÓRIA

136
Dispõe o art. 2º, II, da lei em estudo, ―Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de: II - fiança.
No passado, além da vedação a concessão de fiança, havia também a proibição de liberdade provisória, que
foi extinta no ano de 2007, através da lei 11.464, que passou a permitir a liberdade provisória aos crimes
hediondos e equiparados.
Sabe que na legislação brasileira há a possibilidade de liberdade provisória com ou sem fiança.
Sendo assim, aos agentes que praticarem crimes que estejam no rol dos hediondos, poderão ser
beneficiados pela liberdade provisória sem fiança, haja vista a fiança ser inadmitida nos crimes hediondos.
Esta posição encontra divergência entre a doutrina e jurisprudência.

DO REGIME INICIAL FECHADO E A PROGRESSÃO DE REGIME


Aduz o art. 2º, §1º da lei em analise “Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:...
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.”
Sendo assim, por imposição legal, o juiz ao sentenciar no réu deve estipular a valoração da pena e indicar
no regime inicial de cumprimento, sendo obrigado no caso de crimes hediondos ter como regime inicial o
fechado.
No passado a lei em debate, comportava além do imperativo do regime inicial fechado a impossibilidade de
progressão de regime, fato que gerou uma celeuma que acabou sendo dirimida pelo Supremo Tribunal
Federal, entendendo pela inconstitucionalidade do dispositivo que vedava a progressão de regime.
No ano de 2007, através da Lei n. 11.464, alterou a Lei em estudo, deixando expressa a possibilidade de
progressão de regime nos seguintes termos:
“Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de:...
§ 2º A progressão de regime, no caso dos condenados pelos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o
cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente, observado o disposto nos §§ 3º e 4º do art. 112 da Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984 (Lei de
Execução Penal).”
Portanto e para que não haja dúvida, caso de apenado primário, deverá cumprir 2/5 (dois quintos) da pena,
se for reincidente deverá cumprir 3/5 (três quintos) da pena.

PRISÃO TEMPORÁRIA EM CRIMES HEDIONDOS


A duração da prisão temporária, nos crimes hediondos e assemelhados, é de 30 dias, com possibilidade de
prorrogação por mais 30 dias, assim disciplina o art. 2, 4, da Lei de Crimes Hediondos “§ 4o A prisão
temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes previstos neste
137
artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada
necessidade”.

ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA PARA A PRÁTICA DE CRIMES HEDIONDOS


Disciplina o art. 8º da Lei de Crimes Hediondos “Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista
no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de
entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.”
O art. 8º criou uma nova espécie de quadrilha ou bando (atual associação criminosa): a formada com a
finalidade específica de cometer qualquer dos delitos naquela previstos. A nova quadrilha ou bando (atual
associação criminosa) é composta dos seguintes elementos: (i) reunião permanente de três ou mais agentes;
(ii) com a finalidade de praticar reiteradamente; (iii) os crimes de tortura, terrorismo, tráfico de drogas e
hediondos. A pena dessa quadrilha com fins específicos passa a ser de 3 a 6 anos.
No caso de tráfico de drogas, o crime recebe o nome de associação criminosa para o tráfico, sendo certo
que a definição típica da Lei de Drogas deve prevalecer, por ser ela mais recente e específica, com a pena
de 3 a 10 anos de reclusão, e pagamento de 700 a 1.200 dias-multa.

DELAÇÃO PREMIADA
Dispõe o parágrafo único do art. 8º “O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou
quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.”
Essa causa de redução de pena somente se aplica ao crime de associação criminosa (anteriormente
denominado bando ou quadrilha) para a prática de crimes hediondos e assemelhados, ou seja, o disposto no
referido parágrafo único se aplica somente ao caput do art. 8º e não ao tipo penal básico do art. 288 do
Código Penal.

Aula 59 e 60 - Organização Criminosa

CRIME ORGANIZADO LEI N. 12.850, DE 2 DE AGOSTO DE 2013


INTRODUÇÃO
A Lei n. 12.850, de 2 de agosto de 2013, definiu organização criminosa, dispôs sobre a investigação
criminal, os meios de obtenção da prova, as infrações penais correlatas e o procedimento criminal.
O art. 1º, §1º, dispõe o que considera-se organização criminosa “associação de 4 (quatro) ou mais pessoas
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo
de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de infrações penais
cujas penas máximas sejam superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter transnacional.”

138
Sendo assim, para a formação de um organização criminosa e necessário os seguintes requisitos:
- associação de 4 ou mais pessoas;
- estrutura interna na organização;
- ordenação de funções;
- divisão de tarefas entre seus integrantes;
- dispensa a constituição formal, com atas e assembleias;
- unidos com a finalidade de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza;
- mediante a prática de infrações penais com pena máxima em abstrato igual ou superior a 4 anos, ou que
sejam de caráter transnacional e, nesse caso, não há relevância da reprimenda fixada em abstrato pela lei.
São requisitos cumulativos, ou seja, para preencher o conceito de organização criminosa, é necessário
cumular todos esses requisitos.
Disciplina o §2º do art. 1º da lei em análise, os crime organizado por extensão “Esta Lei se aplica
também:
I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional quando, iniciada a execução no
País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a prática dos atos de terrorismo
legalmente definidos do tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente;”
Isso que dizer, que as situações exposta acima fogem ao conceito de organização criminosa, mas por
provocarem intensa danosidade social, merecem o rigor estatal, sendo assim, aplicada a lei das
organizações criminosas.

CRIME ESPECÍFICO DE ORGANIZAÇÃO CRIMONOSA


Considerações iniciais: Disciplina o art. 2º da Lei de Crime Organizado “Promover, constituir, financiar
ou integrar, pessoalmente ou por interposta pessoa, organização criminosa: Pena - reclusão, de 3 (três) a
8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo das penas correspondentes às demais infrações penais praticadas”.
Tem como bem jurídico penalmente tutelado a paz pública
Tipo objetivo: As condutas típicas expressas neste tipo penal verifica-se nos verbos “Promover”
(estimular a criação), “constituir” (formar efetivamente), “financiar” (custear a manutenção da
organização) e “integrar” (fazer parte, formal ou informalmente).
Tipo subjetivo: é o dolo, com elemento específico que o agente atuou, além dos verbos, com a finalidade
especial de obtenção de uma vantagem, impondo-se, assim, o ônus de demonstrar esse interesse peculiar.
Consumação: com a prática de qualquer um dos verbos o crime se consuma, devendo restar demonstrado
que foi constituído para obtenção de vantagem, para pratica de infrações penais cujas penas máximas sejam
superior a (quatro) anos ou que sejam de caráter transnacional
Figura equiparada: Aduz o §1º do art. 2º da Lei em debate “Nas mesmas penas incorre quem impede ou,
139
de qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que envolva organização criminosa.”
Causa de aumento de pena: O art. 2º, em seu § 2º, traz uma causa de aumento de pena de até metade se
na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo (§ 2º As penas aumentam-se até a
metade se na atuação da organização criminosa houver emprego de arma de fogo.) Por força da
taxatividade legal, não basta o porte, será necessária a utilização da arma, nem que seja apenas para causar
medo.
Existem outras causas de aumento de pena, que variam de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços), assim aduz o
§4º “A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços):
I - se há participação de criança ou adolescente;
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização criminosa dessa condição para a
prática de infração penal;
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em parte, ao exterior;
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras organizações criminosas independentes;
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da organização.”
Agravamento da pena: disciplina o §3º “A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou
coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos de execução.”
Particularidades: os agentes públicos que integrarem organizações criminosas terão consequência
jurídicas estipuladas nos §§ 5º, 6º e 7º.
“§ 5º Se houver indícios suficientes de que o funcionário público integra organização criminosa, poderá o
juiz determinar seu afastamento cautelar do cargo, emprego ou função, sem prejuízo da remuneração,
quando a medida se fizer necessária à investigação ou instrução processual.
§ 6º A condenação com trânsito em julgado acarretará ao funcionário público a perda do cargo, função,
emprego ou mandato eletivo e a interdição para o exercício de função ou cargo público pelo prazo de 8
(oito) anos subsequentes ao cumprimento da pena.
§ 7º Se houver indícios de participação de policial nos crimes de que trata esta Lei, a Corregedoria de
Polícia instaurará inquérito policial e comunicará ao Ministério Público, que designará membro para
acompanhar o feito até a sua conclusão.”
§ 8º As lideranças de organizações criminosas armadas ou que tenham armas à disposição deverão iniciar
o cumprimento da pena em estabelecimentos penais de segurança máxima.
§ 9º O condenado expressamente em sentença por integrar organização criminosa ou por crime praticado
por meio de organização criminosa não poderá progredir de regime de cumprimento de pena ou obter
livramento condicional ou outros benefícios prisionais se houver elementos probatórios que indiquem a
manutenção do vínculo associativo.”
Vale aqui a diferenciação entre associação criminosa, organização criminosa e constituição de milícia
privada:
140
Aula 61 e 62 - Organização Criminosa

DA INVESTIGAÇÃO E DOS MEIOS DE OBTENÇÃO DA PROVA


O art. 3º da lei, traz os meios de obtenção de provas, sendo que no inciso I, deixa claro a possibilidade da
colaboração premiada ―Art. 3º Em qualquer fase da persecução penal, serão permitidos, sem prejuízo de
outros já previstos em lei, os seguintes meios de obtenção da prova:
I - colaboração premiada;
II - captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos;
III - ação controlada;
IV - acesso a registros de ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de
dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais;
V - interceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, nos termos da legislação específica;
VI - afastamento dos sigilos financeiro, bancário e fiscal, nos termos da legislação específica;
VII - infiltração, por policiais, em atividade de investigação, na forma do art. 11;
VIII - cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de
provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal.”

141
Colaboração premiada
A colaboração premiada como meio de prova na lei das organizações criminosas esta disciplinada no art. 4º
e seus inicios e parágrafos, o qual vejamos:
“Art. 4º O juiz poderá, a requerimento das partes, conceder o perdão judicial, reduzir em até 2/3 (dois
terços) a pena privativa de liberdade ou substituí-la por restritiva de direitos daquele que tenha
colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e com o processo criminal, desde que dessa
colaboração advenha um ou mais dos seguintes resultados:
I - a identificação dos demais coautores e partícipes da organização criminosa e das infrações penais por
eles praticadas;
II - a revelação da estrutura hierárquica e da divisão de tarefas da organização criminosa;
III - a prevenção de infrações penais decorrentes das atividades da organização criminosa;
IV - a recuperação total ou parcial do produto ou do proveito das infrações penais praticadas pela
organização criminosa;
V - a localização de eventual vítima com a sua integridade física preservada.‖
Além da redução de pena, há ainda as seguintes previsões legais de benefícios para os colaboradores,
expostas nos §§2º a 5º:
“§ 2º Considerando a relevância da colaboração prestada, o Ministério Público, a qualquer tempo, e o
delegado de polícia, nos autos do inquérito policial, com a manifestação do Ministério Público, poderão
requerer ou representar ao juiz pela concessão de perdão judicial ao colaborador, ainda que esse
benefício não tenha sido previsto na proposta inicial, aplicando-se, no que couber, o art. 28 do Decreto-
Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 (Código de Processo Penal).
§ 3º O prazo para oferecimento de denúncia ou o processo, relativos ao colaborador, poderá ser suspenso
por até 6 (seis) meses, prorrogáveis por igual período, até que sejam cumpridas as medidas de
colaboração, suspendendo-se o respectivo prazo prescricional.
§ 4º Nas mesmas hipóteses do caput deste artigo, o Ministério Público poderá deixar de oferecer denúncia
se a proposta de acordo de colaboração referir-se a infração de cuja existência não tenha prévio
conhecimento e o colaborador:
I - não for o líder da organização criminosa;
II - for o primeiro a prestar efetiva colaboração nos termos deste artigo.
§ 5º Se a colaboração for posterior à sentença, a pena poderá ser reduzida até a metade ou será admitida
a progressão de regime ainda que ausentes os requisitos objetivos.”
Vale salientar que a lei mesmo falando da redução de pena, não obriga o juiz a faze-la, haja vista o disposto
no § 1° “ Em qualquer caso, a concessão do benefício levará em conta a personalidade do colaborador, a
natureza, as circunstâncias, a gravidade e a repercussão social do fato criminoso e a eficácia da
colaboração.”
142
Então poderá haver casos que o colaborador não será beneficiado com redução, se não houver o
preenchimento dos requisitos acima. O juiz verificando que há o preenchimento dos requisitos, teremos a
mitigação da sanção penal e demais benesses
“§8º O juiz poderá recusar a homologação da proposta que não atender aos requisitos legais,
devolvendo-a às partes para as adequações necessárias. “
A colaboração pode ocorrer em qualquer fase da persecução penal, até mesmo após o trânsito em julgado,
pois a lei não estabeleceu qualquer limite temporal para o benefício.
A colaboração ineficaz, isto é, que não auxiliar no desvendamento dos crimes, não terá nenhum efeito
benéfico para o réu.

Da Ação Controlada
Disciplinada no art. 8º da Lei do Crime Organizado a ação controlada consiste “em retardar a intervenção
policial ou administrativa relativa à ação praticada por organização criminosa ou a ela vinculada, desde
que mantida sob observação e acompanhamento para que a medida legal se concretize no momento mais
eficaz à formação de provas e obtenção de informações.”
Ou seja, consiste em retardar a intervenção policial ou administrativa relativa à ação praticada por
organização criminosa ou a ela vinculada, desde que mantida sob observação e acompanhamento para que
a medida legal se concretize no momento mais eficaz à formação de provas e obtenção de informações.
Para o haja o retardamento da ação policial, devera o juiz e o ministério publico estarem ciente “§1º O
retardamento da intervenção policial ou administrativa será previamente comunicado ao juiz competente
que, se for o caso, estabelecerá os seus limites e comunicará ao Ministério Público.”

Aula 63 e 64 - Contravenções Penais

LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS - DECRETO-LEI N. 3.688/41


PARTE GERAL
Dispõe o art. 1º da lei de Contravenções Penais “Aplicam-se as contravenções às regras gerais do Código
Penal, sempre que a presente lei não disponha de modo diverso.”
Passamos a um detalhamento geral sobre questões outrora debatidas no Código Penal em sua parte geral.
Conceito: Contravenção Penal disposto no art. 1º da Lei de Introdução ao Código Penal como sendo
“...contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,
ou ambas, alternativa ou cumulativamente”.
Infração penal de menor potencial ofensivo: as contravenções penais são consideradas infrações penais
de menor potencial ofensivo (art. 61 da Lei n. 9.099/95).
Rito processual: o processo relativo às contravenções penais segue o rito previsto pela Lei n. 9.099/95

143
(Juizado Especial Criminal).
Princípio da legalidade: também se aplica às contravenções penais. Não há contravenção penal sem lei
anterior que a defina.
Princípio da retroatividade da lei mais benéfica: também se aplica às contravenções penais.
Tempo da contravenção penal: aplica-se a regra do art. 4º do Código Penal – Teoria da Atividade:
considera-se praticada a contravenção penal no momento da ação ou da omissão, ainda que outro seja o
momento do resultado.
Sujeito ativo: qualquer pessoa. A pessoa jurídica não pode ser sujeito ativo de contravenção penal.
Sujeito passivo: qualquer pessoa, física ou jurídica, incluindo o Estado e a coletividade.
Formas de conduta: a contravenção penal pode ser praticada por ação ou omissão.
Consumação: consuma-se a contravenção penal quando nela se reúnem todos os elementos de sua
definição legal (art. 14, I, do CP).
Prisão em flagrante em contravenção penal: em tese, é cabível. Entretanto, sendo a contravenção
infração penal de menor potencial ofensivo, aplica-se o disposto no art. 69, parágrafo único, da Lei n.
9.099/95: ―ao autor do fato que, após a lavratura do termo, for imediatamente encaminhado ao juizado ou
assumir o compromisso de a ele comparecer, não se imporá prisão em flagrante, nem se exigirá fiança‖.
Prisão temporária: não é admissível nas contravenções penais, uma vez que a Lei n. 7.960/89 refere-se
expressamente a ―crimes‖.
Prisão preventiva: não é admissível nas contravenções penais, uma vez que os arts. 312 e 313 do Código
de Processo Penal referem-se apenas a ―crime‖.
Territorialidade: com relação às contravenções penais, o Brasil adotou o Princípio da Territorialidade,
sem exceções. “Art. 2º A lei brasileira só é aplicável à contravenção praticada no território nacional.”
Elemento subjetivo: é a voluntariedade “Art. 3º Para a existência da contravenção, basta a ação ou
omissão voluntária. Deve-se, todavia, ter em conta o dolo ou a culpa, se a lei faz depender, de um ou de
outra, qualquer efeito jurídico.”
Damásio de Jesus esclarece que “a contravenção, assim como o crime, exige dolo e culpa, conforme a
descrição típica. O dolo se apresenta como elemento subjetivo implícito no tipo; a culpa, como elemento
normativo. Ausentes, o fato é atípico”.
Consumação: reunindo-se todos os elementos de sua definição legal, estará consumada a contravenção
penal, igual disposto no art. 14, I, do CP “ Art. 14 - Diz-se o crime: I - consumado, quando nele se reúnem
todos os elementos de sua definição legal”
Tentativa: disciplinado no art. 4º da lei em comento “Não é punível a tentativa de contravenção.”
Penas principais da Contravenção Penal: Dispõe o art. 5º “As penas principais são: I – prisão simples.
II – multa.”
Prisão Simples: o art. 6º disciplina sobre a pena de prisão simples “A pena de prisão simples deve ser
144
cumprida, sem rigor penitenciário, em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em
regime semi-aberto ou aberto.”
Não há em nosso País um estabelecimento penal exclusivo para o cumprimento da prisão simples, sendo
assim o condenado fica em seção especial de prisão comum. O condenado deve ficar separado dos
condenados a penas de reclusão ou detenção (“§ 1º O condenado a pena de prisão simples fica sempre
separado dos condenados a pena de reclusão ou de detenção.”)
Vale ressaltar que não cabe regime fechado para as contravenções penais
Limites das penas: o art. 10 da lei em comento dispõe “A duração da pena de prisão simples não pode,
em caso algum, ser superior a cinco anos, nem a importância das multas ultrapassar cinquenta contos.”
Medidas de segurança: Disciplina o art. 13 da lei em estudo “Aplicam-se, por motivo de contravenção, os
medidas de segurança estabelecidas no Código Penal, à exceção do exílio local.”
Como sabido, a medida de segurança e aplicado ao infrator que for considerado inimputável.
Ação penal: Aduz o art. 17 da lei “A ação penal é pública, devendo a autoridade proceder de ofício.”,
sendo assim, não há o que se falar em contravenção penal condicionada a representação do ofendido ou
processada através de queixa-crime.
Todas as contravenções penais, independentemente de rito especial, são processadas perante o Juizado
Especial Criminal, seguindo o rito previsto na Lei n. 9.099/95.

Aula 65 e 66 - Contravenções Penais

PARTE ESPECIAL
DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PESSOA
Fabrico, comércio, ou detenção de armas ou munição
Considerações iniciais: Dispõe o art. 18 da Lei de Contravenções Penais “Fabricar, importar, exportar,
ter em depósito ou vender, sem permissão da autoridade, arma ou munição: Pena – prisão simples, de três
meses a um ano, ou multa, de um a cinco contos de réis, ou ambas cumulativamente, se o fato não
constitue crime contra a ordem política ou social.”.
Vale ressaltar que este tipo penal foi parcialmente revogado (derrogado) pelo Estatuto do desarmamento,
no que se refere a arma de fogo, tendo total aplicabilidade sobre as armas brancas
Armas brancas, são as que não constituem armas de fogo, tais como estiletes, canivetes, facas, punhais,
adagas, machados, espadas etc.
Tipo objetivo: demonstrado nas condutas do verbo ―fabricar‖ (dar origem, manufaturar, produzir),
―importar‖ (introduzir no país), ―exportar‖ (fazer sair do país), ―ter em depósito‖ (possuir, ter à sua
disposição) e ―vender‖ (comercializar, alienar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa

145
Sujeito passivo: é a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática de qualquer dos verbos
Tentativa: inadmissível (art. 4º)
Particularidades: a conduta deve ser praticada ―sem a permissão da autoridade‖, havendo permissão
estaremos diante de um fato atípico.

Porte de arma
Considerações iniciais: Dispõe o art. 19 da Lei em estudo “Trazer consigo arma fora de casa ou de
dependência desta, sem licença da autoridade: Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou
multa, de duzentos mil réis a três contos de réis, ou ambas cumulativamente”
Vale ressaltar que este tipo penal foi parcialmente revogado (derrogado) pelo Estatuto do desarmamento,
no que se refere à arma de fogo, tendo total aplicabilidade sobre as armas brancas.
Tipo objetivo: demonstrado nas condutas ―trazer consigo‖, que significa portar, ter ao alcance, deter.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: é a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática da conduta disposta no tipo penal
Causa de aumento de pena: Disciplina o § 1º A pena é aumentada de um terço até metade, se o agente já
foi condenado, em sentença irrecorrível, por violência contra pessoa.
Particularidade: Aduz o §2º “Incorre na pena de prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de
duzentos mil réis a um conto de réis, quem, possuindo arma ou munição: a) deixa de fazer comunicação ou
entrega à autoridade, quando a lei o determina; b) permite que alienado menor de 18 anos ou pessoa
inexperiente no manejo de arma a tenha consigo; c) omite as cautelas necessárias para impedir que dela
se apodere facilmente alienado, menor de 18 anos ou pessoa inexperiente em manejá-la.”

Vias de fato
Considerações iniciais: Dispõe o art. 21 da lei em comento “Praticar vias de fato contra alguem: Pena –
prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de cem mil réis a um conto de réis, se o fato não
constitue crime.”
Vias de fato, é a violência contra a pessoa, sem produção de lesões corporais.
Tipo objetivo: vem expressa pelo verbo ―praticar‖, que significa fazer, realizar, executar.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: qualquer pessoa
Tipo subjetivo: é o dolo
146
Consumação: com a efetiva pratica do fato descrito no tipo penal
Particularidades: considerada infração penal subsidiaria, ou seja, só se consuma se o fato não constituir
crime
Causa de aumento de pena: Dispõe o parágrafo único. “Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) até a
metade se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos.”

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES AO PATRIMÔNIO


Instrumento de emprego usual na prática de furto
Considerações iniciais: Disciplina o art. 24 da Lei em estudo “Fabricar, ceder ou vender gazua ou
instrumento empregado usualmente na prática de crime de furto: Pena – prisão simples, de seis meses a
dois anos, e multa, de trezentos mil réis a três contos de réis.”
Gazua é um instrumento cujo nome provém do castelhano ―ganzua‖, significando o ferro ou instrumento
curvo de que se servem os serralheiros e os gatunos para abrir todas as fechaduras. É equiparada à mixa,
chave falsa utilizada para a abertura de fechaduras e cadeados, ou para o acionamento de ignição de veículo
automotor.
Tipo objetivo: vem representada pelos verbos ―fabricar‖ (criar, dar origem, produzir), ―ceder‖ (entregar,
dar) e ―vender‖ (entregar mediante pagamento, comercializar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a prática dos verbos, vinculados ao artefato.
Particularidades: quando o próprio agente fabrica o instrumento e o utiliza para a prática do crime
patrimonial, responde apenas por esse último.

Posse não justificada de instrumento de emprego usual na prática de furto


Considerações iniciais: Dispõe o art. 25 da Lei em análise “Ter alguém em seu poder, depois de
condenado, por crime de furto ou roubo, ou enquanto sujeito à liberdade vigiada ou quando conhecido
como vadio ou mendigo, gazuas, chaves falsas ou alteradas ou instrumentos empregados usualmente na
prática de crime de furto, desde que não prove destinação legítima: Pena – prisão simples, de dois meses a
um ano, e multa de duzentos mil réis a dois contos de réis.”
Vale aqui algumas explicações: Vadio é aquele que se entrega habitualmente ao ócio. Mendigo é aquele
que se entrega a mendicância, que vive de esmolas
Tipo objetivo: vem expressa pela locução verbal ―ter em seu poder‖, que significa possuir, trazer consigo,
ter em sua posse para uso imediato.
Sujeito ativo: trata-se de contravenção penal própria, em que somente podem ser agentes: a) o condenado
147
(definitivamente) por crime de furto ou de roubo; b) o vadio; c) o mendigo.
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre com a efetiva posse do objeto material.
Particularidades: retira a tipicidade da contravenção. Ao detentor do objeto material é que incumbe a
prova da destinação legítima.

Violação de lugar ou objeto


Considerações iniciais: Aduz o art. 26 da Lei em estudo “Abrir alguém, no exercício de profissão de
serralheiro ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência de pessoa de cuja legitimidade não se tenha
certificado previamente, fechadura ou qualquer outro aparelho destinado à defesa de lugar nu objeto:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis.”
Tipo objetivo: vem representado pelo verbo ―abrir‖, que significa desobstruir, dar acesso, permitir a
entrada, desimpedir.
Sujeito ativo: trata-se de contravenção penal própria. Somente pode ser sujeito ativo o profissional da
serralheria ou ofício análogo (chaveiro, mecânico, armeiro, ferreiro).
Sujeito passivo: a coletividade. Secundariamente, o titular do patrimônio atingido ou colocado em risco.
Tipo subjetivo: trata-se de contravenção penal culposa, caracterizada pela negligência, pela desídia em
certificar-se o agente da qualidade da pessoa que lhe solicitou o serviço profissional.
Consumação: ocorre com a efetiva abertura da fechadura ou do aparelho destinado à defesa do lugar ou
objeto.
Particularidades: Caso o agente não exerça profissionalmente as atividades acima descritas, poderá estar
configurada outra infração penal (participação em furto mediante rompimento de obstáculo, por exemplo).

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À INCOLUMIDADE PÚBLICA


Direção perigosa de veículo na via pública
Considerações iniciais: Disciplina o art. 34 da Lei de Contravenções Penais “Dirigir veículos na via
pública, ou embarcações em águas públicas, pondo em perigo a segurança alheia: Pena – prisão simples,
de quinze dias a três meses, ou multa, de trezentos mil réis a dois contos de réis.”
Tipo objetivo: a conduta vem representada pelo verbo ―dirigir‖, que significa conduzir, operar, manobrar.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade. Secundariamente, a pessoa eventualmente exposta a perigo de dano.
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre com a direção perigosa, independentemente de outro resultado.
Particularidades: a jurisprudência é antagônica no que tange a necessidade de demonstração de perigo
148
concreto, ou o perigo abstrato é suficiente para a caracterização da contravenção.
Parte entende que é necessário a demonstração de maneira concludente que a conduta do agente pôs em
risco a incolumidade pública, em posição contrária a parte que entende que basta a presença do perigo para
a segurança alheia e estará caracterizado a contravenção

Aula 67 e 68 - Contravenções Penais

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À PAZ PÚBLICA


Provocação de tumulto. Conduta inconveniente
Considerações iniciais: Disciplina o art. 40 da Lei em comento “Provocar tumulto ou portar-se de modo
inconveniente ou desrespeitoso, em solenidade ou ato oficial, em assembléia ou espetáculo público, se o
fato não constitue infração penal mais grave; Pena – prisão simples, de quinze dias a seis meses, ou multa,
de duzentos mil réis a dois contos de réis.”
Tipo objetivo: a conduta vem representada pelos verbos ―provocar‖ (causar, dar azo, ensejar) e ―portar-se‖
(comportar-se, proceder).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva ocorrência do tumulto ou conduta inconveniente
Particularidades: Entende-se por tumulto, por exemplo, alvoroço, desordem, motim, confusão, agitação.
Modo inconveniente ou desrespeitoso, por exemplo, vaias, apitos, gritos, risadas etc.

Perturbação do trabalho ou do sossego alheios


Considerações iniciais: Dispõe o art. 42 da Lei de Contravenções Penais “Perturbar alguém o trabalho ou
o sossego alheios: I – com gritaria ou algazarra; II – exercendo profissão incômoda ou ruidosa, em
desacordo com as prescrições legais; III – abusando de instrumentos sonoros ou sinais acústicos; IV –
provocando ou não procurando impedir barulho produzido por animal de que tem a guarda: Pena –
prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”
Tipo objetivo: a conduta vem representada pelo verbo ―perturbar‖, que significa causar desordem,
confusão, aborrecer, incomodar, atrapalhar.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: com a efetiva perturbação do trabalho e sossego alheios
Particularidades: para a caracterização dessa contravenção, é necessário que haja um diploma

149
disciplinado das atividades laboriosas, emanado do poder público competente, estabelecendo o horário de
funcionamento de indústrias, fábricas, igrejas, bares, restaurantes e quaisquer outros estabelecimentos
comerciais.

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À FÉ PÚBLICA


Recusa de moeda de curso legal
Considerações iniciais: Aduz o art. 43 da Lei em estudo “Recusar-se a receber, pelo seu valor, moeda de
curso legal no país: Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”
Tipo objetivo: a conduta vem representada pelo verbo ―recusar(-se)‖, que significa não aceitar, refugar.
Trata-se de crime omissivo.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre com a recusa ou aceitação da moeda por valor inferior
Particularidades: Não caracteriza a contravenção em análise, se for moeda estrangeira, se a moeda, em
papel ou metal, estiver fora dos padrões admitidos pela casa da moeda, por exemplo, rasgada, com
numeração de série apagada, com peso inferior etc. Se há suspeita falsificação da moeda .
Simulação da qualidade de funcionário
Considerações iniciais: Disciplina o art. 45 da Lei de Contravenções Penais “Fingir-se funcionário
público: Pena – prisão simples, de um a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a três contos de réis.”
Tipo objetivo: a conduta vem representada pelo verbo ―fingir(-se)‖, que significa simular, aparentar.
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre com o fingimento ou simulação
Particularidades: Na contravenção penal em comento, o agente apenas finge, simula ser funcionário
público. Se houver intuito de obter indevida vantagem econômica, caracteriza-se o crime de estelionato
(art. 171 do CP).

DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO


Exercício ilegal de profissão ou atividade
Considerações iniciais: Dispõe o art. 47 da Lei em comento “Exercer profissão ou atividade econômica
ou anunciar que a exerce, sem preencher as condições a que por lei está subordinado o seu exercício:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de quinhentos mil réis a cinco contos de
réis.”
150
Tipo objetivo: a conduta vem representada pelos verbos ―exercer‖ (praticar, exercitar, realizar) e
―anunciar‖ (fazer anúncio, dar notícia, propalar).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre com o efetivo exercício ou anúncio do exercício ilegal da profissão ou atividade.
Particularidades: a profissão ou atividade deve estar regulada por lei, a qual deve conter as condições a
que se subordina o seu exercício. É irrelevante à sua configuração a eventual inexistência de prejuízo.

DAS CONTRAVENÇÕES RELATIVAS À POLÍTICA DE COSTUMES


Jogo de azar
Considerações iniciais: Dispõe o art. 50 da Lei em estudo “Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar
público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele: Pena – prisão simples, de
três meses a um ano, e multa, de dois a quinze contos de réis, estendendo-se os efeitos da condenação à
perda dos moveis e objetos de decoração do local.”
Tipo objetivo: a conduta vem representada pelos verbos ―estabelecer‖ (estruturar, montar, manter) e
―explorar‖ (executar, beneficiar-se).
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: a coletividade
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre com o efetivo estabelecimento ou exploração do jogo de azar.
Causa de aumento de pena: Aduz o § 1º “A pena é aumentada de um terço, se existe entre os
empregados ou participa do jogo pessoa menor de dezoito anos.”
Pena de multa: Dispõe o § 2o “Incorre na pena de multa, de R$ 2.000,00 (dois mil reais) a R$ 200.000,00
(duzentos mil reais), quem é encontrado a participar do jogo, ainda que pela internet ou por qualquer
outro meio de comunicação, como ponteiro ou apostador.”
Ponteiro: também chamado de apontador, é aquele que está à frente do jogo, que toma notas, preenche
pules etc.
Apostador: é aquele que participa do jogo de azar, fazendo apostas.
Particularidades: § 3º Consideram-se, jogos de azar:
a) o jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte;
b) as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam autorizadas;
c) as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.
§ 4º Equiparam-se, para os efeitos penais, a lugar acessivel ao público:
a) a casa particular em que se realizam jogos de azar, quando deles habitualmente participam pessoas
151
que não sejam da família de quem a ocupa;
b) o hotel ou casa de habitação coletiva, a cujos hóspedes e moradores se proporciona jogo de azar;
c) a sede ou dependência de sociedade ou associação, em que se realiza jogo de azar;
d) o estabelecimento destinado à exploração de jogo de azar, ainda que se dissimule esse destino.

Jogo do bicho
Considerações iniciais: Disciplina o art. 58 da Lei de Contravenções Penais “Explorar ou realizar a
loteria denominada jogo do bicho, ou praticar qualquer ato relativo à sua realização ou exploração: Pena
– prisão simples, de quatro meses a um ano, e multa, de dois a vinte contos de réis.”
Revogação: o art. 58 da LCP foi revogado pelo art. 58 do Decreto-Lei n. 6.259, de 10 de fevereiro
de 1944, do seguinte teor:
“Art. 58. Realizar o denominado „jogo do bicho‟, em que um dos participantes, considerado comprador ou
ponto, entrega certa quantia com a indicação de combinações de algarismos ou nome de animais, a que
correspondem números, ao outro participante, considerado o vendedor ou banqueiro, que se obriga
mediante qualquer sorteio ao pagamento de prêmios em dinheiro. Penas: de 6 (seis) meses a 1 (um) ano de
prisão simples e multa de Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros) a Cr$ 50.000,00 (cinquenta mil cruzeiros) ao
vendedor ou banqueiro, e de 40 (quarenta) a 30 (trinta) dias de prisão celular ou multa de Cr$ 200,00
(duzentos cruzeiros) a Cr$ 500,00 (quinhentos cruzeiros) ao comprador ou ponto.
§ 1º Incorrerão nas penas estabelecidas para vendedores ou banqueiros:
a) os que servirem de intermediários na efetuação do jogo;
b) os que transportarem, conduzirem, possuírem, tiverem sob sua guarda ou poder, fabricarem, darem,
cederem, trocarem, guardarem em qualquer parte, listas com indicações do jogo ou material próprio para
a contravenção, bem como de qualquer forma contribuírem para a sua confecção, utilização, curso ou
emprego, seja qual for a sua espécie ou quantidade;
c) os que procederem à apuração de listas ou à organização de mapas relativos ao movimento do jogo;
d) os que por qualquer modo promoverem ou facilitarem a realização do jogo.
§ 2º Consideram-se idôneas para a prova do ato contravencional quaisquer listas com indicações claras
ou disfarçadas, uma vez que a perícia revele se destinarem à perpetração do jogo do bicho”.

DAS CONTRAVENÇÕES REFERENTES À ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA


Recusa de dados sobre própria identidade ou qualificação
Considerações iniciais: Disciplina o art. 68 da Lei em comento “Recusar à autoridade, quando por esta,
justificadamente solicitados ou exigidos, dados ou indicações concernentes à própria identidade, estado,
profissão, domicílio e residência: Pena – multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis.”
Tipo objetivo: a conduta vem representada pelo verbo ―recusar‖, que significa negar-se, opor-se, resistir.
152
Sujeito ativo: qualquer pessoa
Sujeito passivo: o Estado
Tipo subjetivo: é o dolo
Consumação: ocorre com a simples recusa
Causa de aumento de pena: “Parágrafo único. Incorre na pena de prisão simples, de um a seis meses, e
multa, de duzentos mil réis a dois contos de réis, se o fato não constitue infração penal mais grave, quem,
nas mesmas circunstâncias, faz declarações inverídicas a respeito de sua identidade pessoal, estado,
profissão, domicílio e residência.”

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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