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TEXTO 1: POLIMORFISMOS

Regiões hipervariáveis

O objetivo da análise de DNA é diferenciar um indivíduo de outro, através de um grande número de


características, dando-lhe uma identidade absoluta como pessoa, podendo assim ser diferenciado dentre
bilhões de outras.

A variabilidade humana em termos de DNA é enorme. Dois genomas humanos escolhidos ao acaso
diferem aproximadamente em uma de cada 500 bases do DNA (nucleotídeos). Como o genoma humano
tem cerca de 3.109 de bases, isto implica em 6 milhões de diferenças entre duas pessoas.

Na espécie humana existem cerca de 50 mil genes que codificam, através de RNA, proteínas. Estes
genes codificadores de proteínas representam, aproximadamente, 10% do genoma. Todo o restante
trata-se de sequências repetitivas que têm função estrutural.

É a variabilidade deste restante, quais sejam, as regiões hipervariáveis ou polimórficas, de função


estrutural, que se utiliza nos exames forenses de DNA.

De nada adiantaria comparar, por exemplo, o gene codificador da insulina (hormônio protéico) de dois
indivíduos saudáveis, pois seriam absolutamente iguais. Muitas vezes, mutações (variações nas bases
nitrogenadas do DNA) genéticas, ao nível dos genes codificadores de proteínas, podem levar à
inviabilidade do indivíduo; ao passo que mutações gênicas nas regiões estruturais têm sido toleradas, ao
longo da evolução humana, uma vez que não possuem função fisiológica definida além da estrutural.

Tipos de polimorfismo

Os polimorfismos das regiões hipervariáveis do DNA podem ser agrupados em dois tipos: polimorfismos
de comprimento e polimorfismos de sequências.

Os polimorfismos de sequência, são compostos de diferentes nucleotídeos em uma determinada


localização do genoma. Estas variações em sequência podem ser manifestadas como regiões de alelos
alternativos ou substituições, adições ou deleções de bases, mas a maioria dos polimorfismos de
sequência é mera mutação pontual”.

Já os polimorfismos de comprimento são seqüências de nucleotídeos que se repetem, sendo


denominadas VNTRs (variable number of tandem repeats) ou número variável de repetições
consecutivas.

As regiões com repetições da seqüência básica maiores que 8 pares de bases (bp) foram denominadas
de minissatélites ou regiões em repetições em tandem longas (LTRs). Aquelas com repetições da
seqüência básica de aproximadamente 2 a 8 bp são denominadas de regiões microssatélites ou STRs
(short tandem repeats).

Os minissatélites são formados por seqüências de vários nucleotídeos, por exemplo,


(ATGCGAGCTACTGAGCC)n, repetidas em números diferentes em cada indivíduo, dando-lhe uma
característica única. Um lócus de minissatélite pode ter muitos alelos em função do número de vezes (n)
em que esta estrutura é repetida ao longo do DNA, deixando a população polimórfica em relação ao lócus
(JOBIM et alii, 1999; JEFFREYS et alii, 1985b).

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Os loci de microssatélites (STRs) ou repetições curtas consecutivas se assemelham aos minissatélites,
porém com estrutura repetida menor, como, por exemplo, na sequência (GATA)n.

O número de repetições básicas nos minissatélites e microssatélites pode variar em diferentes indivíduos
criando um polimorfismo de comprimento.

Métodos de detecção

O primeiro método de detecção de regiões polimórficas do DNA denomina-se RFLP (restriction fragment
length polymorphism) ou polimorfismo de tamanho de fragmentos de restrição. Nas análises clássicas de
RFLP, fragmentos de DNA contendo VNTRs (minissatélites) são cortados do DNA cromossômico por
enzimas de restrição. Um determinado comprimento de fragmento é conhecido como alelo. Assim, são
analisados os fragmentos de corte (restrição) do DNA que diferem (são polimórficos) em tamanho
(comprimento) entre os indivíduos.

O desenvolvimento de sondas de DNA para os loci VNTR foi a chave para a aplicação das análises de
RFLP na medicina forense.

A sonda original de JEFFREYS et alii (1985a, 1985b), que originou o termo “padrão de impressões
digitais de DNA” (fingerprint of DNA), é uma sonda multilocal (MLP). Uma sonda multilocal liga-se a várias
seqüências de DNA e produz inúmeras bandas; a auto-radiografia resultante assemelha-se a um código
de barras comercial. Os laboratórios atualmente usam sondas para loci únicos (SLP), que se ligam a um
único lócus do DNA. Os sistemas de SPL são adotados por serem mais sensíveis, mais facilmente
interpretados e por possuírem uma genética definida (JOBIM et alii, 1999).

As sondas RFLP SLP são elaboradas de modo a se ligarem a uma localização-alvo em cada conjunto
cromossômico. Estas sondas são tipicamente específicas para humanos ou primatas. Os fragmentos de
DNA ligados à sonda variam em tamanho e, portanto, são visualizados como bandas que variam em
posição em uma auto-radiografia. Geralmente são geradas duas bandas em uma auto-radiografia para
cada sonda de lócus único, correspondendo aos alelos maternos e paternos, a menos que estes sejam
compartilhados.

Atualmente, apenas as análises de RFLP SLP são empregadas e, na grande maioria das vezes, em
testes de determinação de paternidade. Esta técnica é extremamente potente, porém, é laboriosa,
complexa e exige DNA íntegro e em grande quantidade para sua aplicação. Por estas razões ela não é
recomendada para análises voltadas à elucidação de crimes, devido à escassez e, mormente, ao estado
de degradação das amostras.

Todos os testes de DNA não realizados por RFLP atualmente em uso baseiam-se em métodos de PCR
(Reação em Cadeia da Polimerase) e incluem os sistemas dotblot, AmpFLPs (polimorfismos do
comprimento amplificado do fragmento de DNA), STRs (repetições tandem curtas) e seqüenciamento
direto do DNA mitocondrial (mtDNA).

A PCR foi descrita pela primeira vez em 1985, por Kary Mullis que, em 1993, recebeu o prêmio Nobel em
química por seu feito. Desde o início, a PCR foi reconhecida como uma resposta em potencial para
quantidade traço de líquido biológico freqüentemente encontrado na área forense. Amiúde, estas
amostras são diminutas para serem utilizadas com os métodos de RFLP (JEFFREYS et alii, 1988).

As tecnologias da PCR são principalmente insensíveis à degradação, uma vez que os loci de DNA-alvo
são pequenos e apenas algumas poucas cópias da seqüência-alvo precisam estar intactas na amostra de

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DNA antes da amplificação. As análises por RFLP, ao contrário, são extremamente sensíveis à
degradação uma vez que a fragmentação do DNA atinge exatamente o cerne do método analítico.

A PCR além de propiciar uma tipagem rápida do DNA, elimina a necessidade de utilização de southern
blot e radioisótopos, permitindo assim a automação.

A tecnologia da PCR é muito poderosa, mas tem suas desvantagens. Como um todo, os sistemas
genéticos analisados por PCR são menos discriminatórios (informativos) que os sistemas genéticos
RFLP. Contudo, o poder discriminatório é aceitável tendendo a aumentar com sistemas adicionais.

Segundo ERLICH (1989), a suscetibilidade à inibição (INIBIDORES DE PCR) por vários fatores como a
porção heme do sangue é uma outra desvantagem da PCR.

Os fragmentos STR são mais suscetíveis à análise por instrumental automatizado do que os fragmentos
de DNA maiores de outros sistemas e, por isto, são normalmente empregados nos laboratórios de ciência
forense.

As análises STR não automatizadas empregam géis de poliacrilamida que são, mormente, corados pela
prata para evidenciação dos fragmentos de DNA. Já as análises automatizadas usam produto amplificado
de DNA marcado com corantes fluorescentes e a leitura e interpretação de seus géis de eletroforeses se
dá automaticamente em aparelho próprio.

Em outra aparelhagem mais sofisticada, os fragmentos STR de DNA são detectados na medida da
migração no gel através de um detector. Diferentes fluoroforos, agentes químicos fluorescentes, são
utilizados em uma dada coluna. Além disto, vários fragmentos STR são suscetíveis a amplificações
simultâneas como conjuntos MULTIPLEX, permitindo a detecção simultânea de vários sistemas
genéticos. Inúmeros sistemas STR estão disponíveis e com números suficientes de sistemas genéticos
(8, 12 e até 16) no qual são testados simultaneamente e dos quais se obtém poderes discriminatórios
semelhantes aos alcançados nos testes de RFLP.

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TEXTO 2: REAÇÃO EM CADEIA DA POLIMERASE
A PCR – Reação em Cadeia da Polimerase - é um método extremamente poderoso na avaliação da
individualização humana. Ela permite a amplificação seletiva, in vitro, de seqüências específicas do DNA
alvo que se deseja estudar. O princípio da reação está no conhecimento da seqüência do DNA alvo e em
reação bioquímica complexa. A ciência básica forneceu as seqüências das regiões de centenas de
microssatélites de importância em hemogenética forense. Os loci de microssatélites conhecidos por STRs
apresentam alelos ou fragmentos de DNA de 100 a 300 pares de bases e são os preferidos na análise
pericial de casos de identificação humana em que a amostra é escassa ou parcialmente degradada.

Em um microtubo são colocados os seguintes componentes:

água;

tampão com magnésio;

dNTPs ou nucleotídeos que contém as bases nitrogenadas adenina, timina, citosina e


guanina, matéria-prima a ser empregada na síntese de DNA;

Taq-DNA-polimerase, enzima polimerizante e termoestável, responsável síntese de DNA;

iniciadores da reação chamados primers que irão parear especificamente na região alvo
(lócus) do DNA que se quer multiplicar; e, obviamente,

o DNA alvo que foi extraído do vestígio que ser quer analisar através de sua multiplicação.

Esta reação de amplificação do DNA dar-se-á através de um aparelho denominado termociclador. Este
aparelho automaticamente propiciará que, através da programação apropriada de repetidos ciclos de
variação de temperatura, se dê, no interior do microtubo, a amplificação da região específica (lócus) do
DNA.

Nesta reação, cada ciclo é composto de três passos. No primeiro chamado de etapa de desnaturação
que se dá a 94oC, existe a separação das fitas do DNA molde.

No segundo passo, conhecido como etapa de anelamento, entre 40o e 60oC, dar-se-á o pareamento ou
ligação dos iniciadores (primers) ao início da região específica (lócus) em ambas as fitas do DNA que se
quer copiar.

No terceiro e último passo, conhecido como etapa de extensão, a 72oC, dá-se a atuação da Taq-DNA-
polimerase que propiciará o pareamento dos nucleotídeos livres, a partir dos iniciadores, às fitas do DNA
molde.

Segundo HIRATA & HIRATA (1998), sob condições teóricas, os produtos de PCR dobram de número a
cada ciclo. Desta forma, se, hipoteticamente, o número inicial de moléculas de DNA fosse 1, ao final do

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primeiro ciclo teríamos 2 moléculas amplificadas. Ao final do segundo ciclo 4 moléculas, do terceiro ciclo
8 moléculas e assim sucessivamente, de modo que a repetição destes ciclos, entre 25 e 35 vezes, leva à
amplificação exponencial da região alvo, ou seja, do lócus que se quer estudar, alcançando-se bilhões de
cópias.

Os loci analisados através da reação de PCR são muitos. Estes loci podem ser analisados
individualmente ou em grupos, através de sistemas chamados múltiplos ou "multiplex" que permitem o
estudo simultâneo de diversos loci.

Independentemente da forma de análise, dentre os loci mais comumente empregados nos estudos
forenses de DNA destacam-se, entre outros, vWA, D8S1179, TPOX, FGA, D3S1358, TH01, D21S11,
D18S51, Penta E, D5S818, D13S317, D7S820, D16S539, CSF e Penta D.

A amelogenina é um dos loci utilizados que permite, através da técnica da PCR, identificar o sexo de um
indivíduo que tenha deixado determinado vestígio biológico.

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TEXTO 3: STR x VNTR
1. Minissatélites ( VNTR)

Os primeiros testes de DNA para análise da individualidade humana foram desenvolvidos por Sir Alec Jeffreys,
Professor da Universidade de Leicester na Inglaterra (Jeffreys, 1986). Esses testes analisam regiões da
molécula do DNA humano, onde encontramos seqüências de minissatélites de grande polimorfismo, que
permitem a diferenciação de indivíduos, desde que não sejam gêmeos idênticos. Essas regiões ou locos
podem ser identificadas por intermédio de sondas sintéticas complementares às seqüências de bases dos
fragmentos dessa porção de DNA. Existem sondas unilocais (SLP), que estudam cada loco individualmente, e
sondas multilocais, que avaliam muitos locos ao mesmo tempo, conhecidas como impressões digitais do DNA
(Jeffreys, 1987). As seqüências analisadas são repetições de cerca de 20 bases de nucleotídeos consecutivos,
ou seja, repetições lado a lado (VNTR) ou repetições de número variável consecutivas.

O polimorfismo dos minissatélites é traduzido pela possibilidade de termos diversos alelos na população.
Sendo assim, isso faz com que os achados de similaridades entre duas pessoas possam ter significado na
caracterização de parentesco entre elas. Além disso, as freqüências dos alelos são também importantes, pois
um alelo do qual a maioria das pessoas é portadora não serve para diferenciar indivíduos. Como exemplo, o
loco D2S44 é uma região onde, na população, existem mais de 20 alelos, mas cada indivíduo poderá ter no
máximo dois, sendo um de origem materna e outro de origem paterna. Esse é um loco bastante polimórfico e
de utilidade na caracterização de pessoas, ficando mais difícil existirem pessoas idênticas nesse sistema, se
comparado com um loco de menor polimorfismo de apenas 5 alelos.

Um indivíduo que apresenta os dois alelos no mesmo loco é chamado de heterozigoto; o de um único alelo é
homozigoto, e deve ter recebido o mesmo alelo em dose dupla do pai e da mãe. Nos testes com sondas
unilocais, cada alelo é representado por uma banda de DNA.

De uma maneira geral, aceita-se internacionalmente que os testes de DNA mais informativos em investigação
da individualidade humana sejam os que analisam os minissatélites e os microssatélites, com reagentes ou
sondas sintéticas específicas para cada loco, marcadas com substância que possa identificar o alelo presente.
Podemos estudar vários locos em seqüência ou ao mesmo tempo.

As sondas unilocais (SLP) analisam cada loco de minissatélites do DNA (VNTR) individualmente pelo método
de RFLP ou polimorfismo de tamanho de fragmentos de restrição ( restriction fragment lenght polymorphism ),
permitindo, com simplicidade, observarmos um alelo de origem materna e outro de origem paterna (Balazs,
1993). Nem todos os locos de minissatélites existentes podem ser utilizados na investigação de paternidade,
sendo melhores aqueles com maior polimorfismo e mais alto grau de heterozigosidade (próximo dos 100%)
(Balazs, 1992; Baiard, 1986; Jobim, 1996).

A maioria dos laboratórios utiliza um número de sondas necessárias para obtenção de resultados satisfatórios
em relação ao índice e à probabilidade cumulativa de paternidade. Na maioria das vezes, isso acontece com o
estudo de 5 sondas unilocais de minissatélites, mas, em situações especiais, utilizam um número maior.

Os casos de trios (mãe, filho e possível pai) são facilmente resolvidos (veja testes no próximo capítulo). Os
exames iniciam pela extração química do DNA; a seguir, essa molécula é cortada com enzimas de restrição
(Hinf-I ou Hae) em inúmeros pedaços, sendo realizada posteriormente a eletroforese desses fragmentos (Fig.
2). Esse procedimento possibilita que os pedaços do DNA de cada pessoa a ser testada, depositados em um
orifício perfurado no gel de agarose (espécie de gelatina), sejam posteriormente dispersos linearmente ao
longo do comprimento do gel, carregados pela corrente elétrica aplicada durante cerca de 18 horas. Os
fragmentos do DNA distanciam-se do local de aplicação, mais ou menos de acordo com o seu peso molecular.
Bandas mais pesadas migram menos, e as mais leves ficam mais distantes.

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Utilizamos uma escada alélica de DNA controle, padrão de peso molecular, em alguns dos locais do gel, o que
posteriormente favorecerá o conhecimento do peso dos fragmentos de DNA detectados em cada pessoa.
Cada indivíduo estudado terá sua amostra localizada lado a lado com os demais participantes da perícia,
possibilitando a comparação dos padrões obtidos.

A visualização das bandas de DNA, que correspondem aos minissatélites, acontece após a técnica que
transfere as amostras de DNA do gel para uma membrana de nylon . A seguir, faz-se reagir, com essa
membrana, a sonda molecular que irá identificar o local específico do DNA que se deseja estudar
(hibridização). Essas sondas são marcadas com material que emite luz em contato com outros reagentes.
Dessa maneira, pode-se radiografar a membrana, obtendo-se um filme que demonstra as diversas bandas de
DNA existentes. É possível, após o teste com determinada sonda, retirá-la da membrana e hibridizá-la
novamente com outra que identificará novo loco, e assim por diante (Debenham, 1991; Thompson, 1998).

As sondas moleculares unilocais reconhecem uma ou duas bandas de DNA em cada indivíduo. Iremos
detectar, no filho, uma banda de origem materna e outra de origem paterna. No caso de esta última ser
diferente das existentes no possível pai, revela-se a exclusão da paternidade.

Após estarmos de posse do estudo de diversas sondas unilocais, iniciamos a interpretação dos resultados.
Para tanto, utilizamos um sistema computadorizado para análise estatística após a digitalização das auto-
radiografias. Cada auto-radiografia é colocada sobre uma mesa digitalizadora ligada ao computador.
Inicialmente, tocamos, com uma caneta eletrônica, em cada banda de DNA padrão (identificado na auto-
radiografia como linhas com diversas bandas de DNA, como se fossem uma escada) e, após, em cada banda
de DNA dos indivíduos em estudo. As bandas do DNA controle têm seu peso molecular em kilobases (kb),
conhecido e incluído no programa a ser utilizado. A digitalização é realizada em duplicata por dois técnicos, o
computador realiza a média e, a seguir, iniciam-se os cálculos estatísticos especializados.

Dessa maneira, os valores em kilobases encontrados no laudo, são exatamente as bandas observadas no
filme radiográfico, transformadas em números que denotam o peso molecular de cada uma, tendo em vista
sua localização em referência aos controles de peso molecular.

Amostras do mesmo DNA podem apresentar discretas diferenças no seu peso molecular quando analisadas
em géis diferentes, pois, além da consistência do gel, das diferenças de corrente, do tempo de eletroforese,
também o toque com a caneta eletrônica nem sempre será idêntico ao realizado anteriormente.

Os testes com sondas multilocais que analisam vários locos ao mesmo tempo estudam um grande
polimorfismo na mesma reação, mas podem confundir o técnico pela quantidade exagerada de bandas de
DNA existentes. Esses testes têm sido pouco utilizados e devem ser acompanhados de estudos com outros
marcadores, para servirem como prova confiável, de acordo com as normas internacionais da American
Association of Blood Banks ( AABB).

As limitações dos testes com minissatélites são decorrentes da necessidade de utilização de amostras com
concentrações elevadas de DNA, assim como da dificuldade de análise de material parcialmente degradado.
Os microssatélites podem substituir, com vantagens, os minissatélites nessas situações.

Os testes de minissatélites analisados com sondas unilocais já foram os favoritos na análise de casos de
investigação de paternidade no qual o suposto pai é falecido, reconstituindo-se o DNA do falecido pela análise
de seus ascendentes ou descendentes. Atualmente, devido aos custos e ao procedimento lento dos
minissatélites, utilizamos os microssatélites ou STRs (Short Tanden Repeats ou Repetições Curtas
Consecutivas) em casos simples e complexos de investigação de paternidade.

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Figura 2- Minissatélite (STR) do DNA. Inclusão de paternidade com sondas MS1, MS31, MS43 e MS621 (RFLP). Na coluna 1, 2
e 3 observam-se as bandas de DNA da mãe, do filho e do suposto pai, respectivamente. Facilmente detectamos as bandas
maternas (M), presentes no filho, sendo que as bandas paternas (P) estão também presentes no investigado. Os marcadores de
peso molecular encontram-se nas laterais (ladder).

2. Microssatélites do DNA pela reação em cadeia da polimerase (PCR)

A PCR é um método extremamente poderoso na avaliação da individualidade humana. Ela permite a


amplificação seletiva, in vitro , de seqüências específicas do DNA alvo que se deseja estudar. O princípio da
reação está no conhecimento da seqüência do DNA alvo e em reação bioquímica complexa. A ciência básica
forneceu as seqüências das regiões de centenas de microssatélites de importância em genética forense. Os
locos de microssatélites conhecidos como STRs ( short tandem repeats ou repetições curtas consecutivas)
apresentam alelos ou fragmentos de DNA de 100 a 300 pares de bases, e são os preferidos na análise pericial
de casos de identificação humana em que a amostra é escassa ou parcialmente degradada (Mullis, 1987;
Hochmeister, 1998).

Os STRs que se utilizam em casos forenses apresentam-se, na maioria, com o núcleo repetitivo de quatro
nucleotídios e limitado número de alelos. O polimorfismo depende do diferente número de repetições. Por
exemplo, o loco F13A apresenta quinze alelos diferentes, quanto ao número de repetições da unidade de
bases GAAA. Enquanto alguns apresentam a unidade repetida 4 vezes e 16 vezes, outros podem ter alelos
com 6 e 12 repetições consecutivas (em tandem ). Diríamos que o primeiro apresenta os alelos 4 e 16, e o
segundo, os alelos 6 e 12. Uma terceira pessoa poderia apresentar somente o alelo 10, tendo recebido o
mesmo alelo de seus pais (homozigose).

A reação em cadeia da polimerase necessita de primers ou iniciadores, para que se inicie o processo de
amplificação. Os primers são específicos para cada loco analisado. Os demais reagentes são o DNA alvo,
magnésio, água, nucleotídios sintéticos e a enzima Taq polimerase. Esses ingredientes são colocados em
pequenos tubos de ensaio e submetidos a ciclos de temperatura em termociclador (Fig.3).

Figura 3 – Termocicladores GeneAmp 9700.

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Os ciclos de temperatura iniciam com o aquecimento a 94ºC, quando as duas fitas do DNA se separam
(desnaturação). Logo a seguir, o aparelho diminui a temperatura para 50 a 60ºC, quando as fitas de DNA
tendem a unir-se novamente, sendo que os primers se anelam ao DNA alvo. Após o anelamento, a
temperatura sobe para 72ºC, quando acontece a extensão dos primers , ou seja, a enzima polimerase atua,
colocando os nucleotídios sintéticos (ATGC) na seqüência correta, permitindo a cópia da seqüência alvo. Novo
ciclo reinicia-se com temperaturas de 94, 56 e 72ºC... Após 20 a 30 ciclos, teremos milhões de cópias do
fragmento de DNA que desejamos estudar.

Figura 4 – Reação em cadeia da polimerase. No ciclo 0, observa-se o DNA alvo não-amplificado. No ciclo 1, observa-se a
desnaturação, o anelamento e a extensão dos primers . No ciclo 2, novamente a desnaturação, o anelamento e a extensão dos
primers . Novas cópias do DNA acontecem em cada novo ciclo.

A identificação dos fragmentos amplificados pode ser realizada após eletroforese em gel de poliacrilamida,
seguida de coloração com prata, ou pela detecção de sinal fluorescente. O sinal fluorescente acontece quando
marcamos os primers com fluorocromos, sendo que os fragmentos se apresentam identificáveis por diversos
métodos, incluindo-se a análise por seqüenciador automático, ou seja, por tecnologia laser. Os resultados da
detecção pela prata são bandas de DNA correspondentes aos alelos amplificados . Na detecção por
seqüenciador automático, observamos curvas ou picos de DNA.

Em ambos os métodos de análise de fragmentos, utilizamos a amplificação da escada alélica ( ladder ), na


qual todas as possibilidades de alelos do loco amplificado podem ser observadas e comparadas com o produto
amplificado. Dessa maneira, é possível conhecer o tamanho do fragmento em pares de base (pb).

A amplificação de diversos STR no mesmo tubo de ensaio denomina-se “ multiplex” . Essa metodologia de
amplificação múltipla depende de que a temperatura de anelamento dos primers seja idêntica e o tamanho dos
alelos diferente, para que possam ser analisados no mesmo gel de poliacrilamida, corado com prata, ou
identificado pelo laser de um seqüenciador automático. A possibilidade de marcação dos locos de STR com
diversos fluorocromos permite a identificação dos multiplex de tamanhos semelhantes (Brinkman, 1998).

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Atualmente, existem produtos comerciais por meio dos quais se amplificam até 16 locos em uma única reação
de PCR, analisando-se o produto amplificado pela PCR em seqüenciadores de DNA. Escadas alélicas (
ladders ) possibilitam a identificação dos alelos existentes nos locos analisados.

Figura 5 – Identificação dos alelos do loco vWA31 (STR) pelo seqüenciador automático de DNA, após PCR. Observa-se que o
filho recebeu o alelo 14 de sua mãe, sendo que o 15, obrigatoriamente, é de origem paterna; o possível pai apresenta esse alelo.
A escada alélica (ladder) permite reconhecer os alelos dos indivíduos. Ela representa todas as possibilidades de alelos existentes
em determinado loco.

Para fins de identificação humana, os STR de valor são aqueles com maior polimorfismo (maior número de
alelos), menor tamanho (entre 100 e 200 pares de bases) e maior freqüência de heterozigotos.

Os STR são muito utilizados na análise de investigação de paternidade, mas não possuem o polimorfismo dos
locos de minissatélites, devendo-se analisar um número suficiente de locos, geralmente cerca de 12 ou mais
locos. Calcula-se que um loco de minissatélite analisado com sondas unilocais corresponda a três locos de
STR.

Os STR são valiosos no estudo de casos em que exista necessidade de análise de ossos, dentes, fios de
cabelo, manchas de sangue, entre outros.

A técnica da PCR permite a identificação do sexo do indivíduo que deixou o vestígio biológico. O loco da
amelogenina apresenta um alelo de 106 pares de bases nas mulheres (XX) e um de 106 e outro de 112 pares
de bases nos homens (XY).

3. Mini STRs

Amostras degradadas de DNA são muito observadas em investigações forenses, incluindo testes de
paternidade após a exumação do suposto pai. A recuperação de informações dessas amostras é
freqüentemente possível, usando produtos de PCR pequenos.

A redução dos amplicons podem ser criadas quando na construção sintética dos primers, movermos os
mesmo para frente e para traz, aproximando-os da região de repetição. Os chamados miniSTRs permitem
recuperar informações de DNA degradado, onde a molécula está partida devido ser muito grande. Com os
novos testes é possível a amplificação dos mesmos locos utilizados e que forneciam amplicons grandes e
sujeitos à degradação. Um dos líderes dessa inovação foram Butler, Shen, and McCord que publicaram as
seqüências de miniSTRs que permitiram a redução máxima do tamanho dos 13 locos do CODIS.

Esses reagentes foram utilizados na amplificação do DNA das vítimas do World Trade Center nos EUA.

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