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Técnicas de biologia molecular e suas aplicações

1. Introdução
A célula viva, é uma entidade extremamente complicada, que produz milhares
de macromoléculas diferentes e abriga um genoma que varia em tamanho de milhões e
bilhões de pares de bases. Compreender como os processos genéticos celulares atuam
requer abordagens experimentais eficaz e complementares, incluindo a utilização de
organismos experimentais adequados, para os quais existam ferramentas de análise
genética
Com o desenvolvimento técnico, vários avanços significativos têm sido obtidos
através do isolamento, análise e síntese de sequência de DNA e genes, e da introdução
desses DNAs recombinantes em células vivas para o estudo da sua função e dos
mecanismos que controlam sua expressão. Atualmente, os esforços estão voltados para
o entendimento das relações entre ácidos nucléicos e proteínas que resultam em,
virtualmente, todos os eventos genéticos na célula.

2. Enzimas utilizadas na biologia molecular


2.1. Enzimas de restrição
As enzimas de restrição, também chamadas de endonucleases de restrição,
reconhecem uma sequência de bases específica na hélice dupla do DNA e cortam ambas
as fitas da hélice, em lugares determinados. Elas são indispensáveis na análise da
estrutura dos cromossomos, no isolamento de genes e na criação de moléculas novas de
DNA que podem ser clonados.
As enzimas de restrição são encontradas em uma grande variedade de
organismos procarióticos e seu papel biológico é o de clivar moléculas de DNA
exógenas. Uma vez que o DNA da célula (endógeno) não é degradado, devido porque
os sítios de metilação na base nitrogenada em cada uma das fitas.

2.2. DNA-ligase
Na clonagem de um determinado segmento de DNA, as enzimas de restrição
geram fragmentos com extremidades de fita simples complementares de até quatro
nucleotídeos de comprimento, que possuem afinidade uma pela outra e são
denominadas extremidades coesivas. A DNA-ligase une esses fragmentos de DNA
contendo extremidades coesivas complementares.
Existem, também, certas endonucleases de restrição que cortam a molécula de
DNA sem criar extremidades coesivas. A DNA-ligase pode unir essas moléculas de
DNA com as chamadas extremidades cegas com outras moléculas de DNA que também
possuam extremidades desse tipo.

2.3. Enzimas de modificação do DNA


São enzimas que modificam as moléculas de DNA pela adição ou remoção de
agrupamentos químicos específicos. As mais importantes são as seguintes:
Fosfatase alcalina – Sua atividade consiste em remover o grupamento fosfato presente
em cada extremidade 5’ de uma molécula de DNA.
Polinucleotídeo-quinase – Essa enzima tem o efeito inverso da fosfatase alcalina,
adicionando grupamentos nas extremidades 5’ livres de uma molécula de DNA.
Desoxinucleotidil-terminal-transferase – Estas enzimas adicionam um ou mais
desoxirribonucleotídeos às extremidades 3’-OH de uma molécula de DNA.

2.4. DNA-polimerases
As DNA-polimerases são enzimas que sintetizam uma nova fita de DNA,
completamentar a uma fita-molde de DNA ou RNA. A maioria das DNA-polimerases
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atua no processo de replicação do DNA e funciona somente se o molde possuir uma


região de fita dupla, que irá atuar como iniciador para a polimerização.

3 - Clonagem de DNA
A clonagem de DNA é uma técnica de Biologia Molecular conhecida também
por DNA recombinante. Essa tecnologia permite pegar um “pedaço” do DNA e
combiná-lo com outro, produzindo muitas cópias de diferentes combinações genéticas.
Num procedimento típico de clonagem de DNA, o gene ou outro fragmento de
DNA de interesse é primeiramente inserido numa peça circular de DNA chamada
plasmídeo. A inserção é feita utilizando-se as enzimas de restrição e DNA ligase. As
enzimas de restrição reconhecem a sequência alvo específica e cortam seletivamente o
fragmento do DNA que será utilizado. O fragmento do gene alvo se une ao vetor,
através da DNA ligase, que é responsável por selar as lacunas do DNA, formando o
plasmídeo recombinante contendo o gene de interesse.
Em seguida o plasmídeo recombinante é introduzido em bactérias. As bactérias
contendo plasmídeo são selecionadas e cultivadas. Conforme elas se reproduzem,
replicam o plasmídeo e o transmitem para seus descendentes, produzindo cópias do
DNA que ele contém. Por exemplo, se nosso plasmídeo continha o gene da insulina
humana, as bactérias começariam a transcrição do gene e a tradução do RNAm para
produzir muitas moléculas da proteína insulina. A proteína de interesse é então
purificada, separada dos demais conteúdo das células. Isso garante que não haja
nenhuma impureza, restando apenas o produto final, como no caso da insulina.
A clonagem molecular possui inúmeras aplicações e vem ganhando cada vez mais
importância nos últimos anos. Entre as possibilidades estão o desenvolvimento de
proteínas recombinantes mais seguras para o tratamento de doenças, o aprimoramento
da terapia genética, a produção vacinas, além do uso na agricultura.

4 – Uso de marcadores moleculares na biologia molecular


Com o avanço das técnicas de biologia molecular, a manipulação do DNA em
laboratório tornou-se uma técnica recorrente. O uso de marcadores moleculares integra
rotineiramente a análise do DNA das mais diversas espécies. Eles vêm sendo
aperfeiçoados e evoluindo constantemente. A presença de vários tipos de marcadores
moleculares e diferenças nos seus princípios, metodologias e aplicações requerem uma
consideração cuidadosa na escolha de um ou mais desses métodos de acordo com a
aplicação, bem como com os recursos (técnico, financeiro, equipamentos) disponíveis
em cada centro de pesquisa.
Os marcadores de DNA são divididos em três categorias principais: os baseados em
hibridização, os baseados em PCR (Reação em cadeia da Polimerase) e por fim,
marcadores baseados em sequenciamento. Os marcadores também podem ser
classificados de acordo com o tipo de herança alélica em dominantes e codominantes.
Os marcadores codominantes possibilitam diferenciar indivíduos homozigotos e
heterozigotos, o que não é possível com marcadores dominantes, para os quais apenas é
possível identificar a presença ou ausência de um determinado alelo. Esta característica
é bem importante dependendo do objetivo do estudo; por exemplo, não é possível
realizar análise de paternidade com marcador dominante.

5. Técnicas de análise de DNA e RNA


5.1 Eletroforese
Ácidos nucléicos, proteínas e outras moléculas biológicas, apresentam carga
elétrica que, no caso do DNA e do RNA, é negativa, portanto, quando moléculas de
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DNA ou RNA são colocadas em um campo elétrico, elas migram em direção ao polo
positivo. A eletroforese é uma técnica laboratorial simples que utiliza a corrente elétrica
para promover a separação de moléculas carregadas, como proteínas e ácidos nucleicos.
A migração das partículas ocorre por diferença de carga elétrica e por peso molecular,
de forma que moléculas menores migram mais rapidamente que as maiores.
Após o término da eletroforese, as moléculas de DNA podem ser visualizadas
corando-se o gel (agarose ou poliacrilamida). No gel de agarose são utilizados os
corantes brometo de etídeo, gelRed e cybergreen, que permitem a visualização do DNA
quando exposto à luz ultravioleta (UV), e o gel de poliacrilamida é corado com nitrato
de prata, que forma coloração preta em contato com o DNA.
A eletroforese tem sido cada vez mais aplicada na rotina laboratorial por
fornecer informações úteis sobre o estado geral do paciente, além de contribuir com
diagnóstico e prognóstico de várias enfermidades, além de auxílio clínico, a eletroforese
também é utilizada na indústria alimentícia colaborando com a detecção de adulteração
e fraudes de alimentos de origem animal.

5.1 Hibridização
Técnica na qual uma sonda de DNA ou RNA de fita simples, é utilizada para
localizar um gene ou molécula dentro de um universo muito amplo, como um genoma,
uma população de moléculas de DNA recombinante ou uma mistura de moléculas de
RNA. A estabilidade do dúplex formado está relacionada ao grau de complementaridade
existente entre duas fitas de ácido nucleico.
A utilização da hibridização na identificação de fragmentos de DNA ou de RNA
específicos pode ser realizada via Southern blot e Northern blot.
Southern blot
Método Southern blot é uma das técnicas de hibridização mais importantes para
a detecção de sequências específicas de DNA. O DNA é digerido com uma ou mais
enzimas de restrição e os fragmentos resultantes são separados por eletroforese em gel
de agarose. A técnica de Southern blot permite a identificação de fragmentos de DNA
com sequência idêntica ou similar à sonda utilizada. Ela pode auxiliar também no
posicionamento relativo de diferentes fragmentos dentro de um segmento maior de
DNA (mapeamento).
Northern blot
Técnica semelhante ao Southern blot, utiliza RNA no lugar do DNA. Pode ser
utilizado para identificar um mRNA específico em uma população de RNAs. Como os
mRNAs são relativamente curtos, não há a necessidade de digestão com qualquer
enzima.
Pode realizar a hibridização de northern blot para determinar a quantidade de um
mRNA em particular presente em uma amostra. Pode ser utilizada para investigar
quanto de um determinado tipo específico de mRNA está presente em uma célula
tratada com um indutor do gene em questão, comparada a uma célula não induzida.
Como outro exemplo de aplicação da técnica, pode ser realizada para comparar os
níveis relativos de um transcrito específico entre diferentes tecidos de um organismo.

5.2 Sequenciamento de DNA


O sequenciamento de DNA é o processo realizado para se determinar a
sequência exata de nucleotídeos em uma molécula de DNA. Um dos métodos mais
usados é a “técnica de desoxi”, também conhecida como terminadores de cadeia ou
Sanger. Essa técnica permite determinar a sequência exata de uma cadeia de DNA com
até 500 nucleotídeos
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Método de Sanger
O DNA a ser sequenciado, que pode ser de fita simples ou de fita dupla
desnaturado, é hibridizado com um oligonucleotídeo (iniciador). Na presença dos quatro
desoxirribonucleosídeos trifosfatados (dATP, dCTP, dGTP e dTTP), um dos
didesoxirribonucleosídeos trifosfatados (ddATP, ddCTP, ddGTP, ddTTP) e DNA-
polimerase, a fita complementar é sintetizada.
Os didesoxirribonucleosídeos trifosfatados não apresentam o grupamento
hidroxílico no carbono 3’, de forma que, uma vez incorporado, impedem a adição de
outro nucleotídeo, terminando, assim, o alongamento da cadeia. Após a reação, as
amostras são desnaturadas na presença de formamida e analisadas em gel de
poliacrilamida contendo ureia. Originando cadeias molde para síntese in vitro de DNA.
O desenvolvimento de novas tecnologias de sequenciamento, com base na
própria síntese de DNA, no uso de inibidores reversíveis do alongamento da cadeia de
DNA e também em procedimentos de ligação de oligonucleotídeos, tem possibilitado
uma grande redução no tempo de determinação das sequências e nos custos das reações.

5.3 Reação em cadeia da polimerase


A reação em cadeia da polimerase (PCR) é uma técnica considerada simples,
pela qual moléculas de DNA são ampliadas milhares ou milhões de vezes de uma forma
bastante rápida. Todo procedimento é realizado in vitro, gerando DNA em quantidade
suficiente para análises posteriores.
O procedimento de PCR envolve três etapas, cada uma repetida muitas vezes.
5.3.1 Desnaturação
O DNA genômico contendo a sequência a ser amplificada é desnaturado por
aquecimento a cerca de 95°C por cerca de 30 segundos. A dupla fita é aberta
(desnaturada), tornando-se uma fita única.
5.3.2 Anelamento ou hibridização
Após a separação das fitas, um par de iniciadores ou primers (uma fita de DNA
específica para o gene que se quer estudar) complementam a fita oposta da sequência de
DNA a ser amplificada. O molde é determinado pela posição dos iniciadores que se
anelam a fita. Essa etapa ocorre a uma temperatura de 60°C.
5.3.3 Extensão ou polimerização
Com o molde já identificado, a enzima DNA-polimerase adiciona as bases
complementares, formando uma nova fita e então tem-se novamente a duplicação da fita
de DNA. Esse processo acontece a uma temperatura de 72°C. O ciclo inteiro é então
reiniciado, os produtos do primeiro ciclo de replicação são então desnaturados,
hibridizados e novamente replicados com DNA-polimerase. O procedimento é repetido
muitas vezes até que o nível desejado de amplificação seja obtido.
Na prática, a amplificação efetiva do DNA requer de 20 a 30 ciclos de reação,
com os produtos de cada ciclo servindo como DNA-molde para o próximo – dando
origem ao termo “reação em cadeia” da polimerase. Essa técnica é aplicada não apenas
na pesquisa básica, mas também na pesquisa aplicada, como nos testes de identificação
genética, medicina forense, diagnóstico de doenças infecciosas, controle de qualidade
industrial, entre outros.

6. Técnicas de análise de genomas e produtos de transcrição em grande escala


6.1 Sequenciamento de genomas
A estratégia mais comum para o sequenciamento de genomas tem sido a de
sequenciamento por shotgun, utilizando o método de Sanger. Nessa estratégia, o DNA
genômico é quebrado aleatoriamente e os fragmentos, em geral de 2 a 5 kb, são
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clonados em um plasmídeo. As extremidades dos insertos são sequenciadas e essas


sequências são montadas utilizando ferramentas de bioinformática. Após a montagem
do genoma, os genes são identificados por um procedimento chamado anotação.

6.2 Análise global de transcrição (transcritômica)


6.2.1 Etiquetas de sequências expressas
As etiquetas de sequências expressas são sequencias curtas de DNA (200-500
pb) geradas a partir do sequenciamento das extremidades 3’-OH e 5’-P de clones de
cDNA selecionados ao acaso. A técnica vem sendo aplicada para a análise da
transcrição de genes nos mais diferentes tipos de organismos. O objetivo da técnica é
gerar, rapidamente, dados sobre a transcrição dos genes que codificam proteínas de um
determinado tipo de célula, tecido, órgão ou organismo. Essas sequências também
ajudam na identificação e posicionamento dos éxons dos genes nos genomas.
6.2.2 Macroarranjos e microarranjos
As mudanças no padrão de expressão gênica têm uma grande implicação no
funcionamento das células, tecidos e organismos. Essas mudanças podem estar
relacionadas ao desenvolvimento, à manifestação de doenças e à morte celular. A
tecnologia de arranjos de DNA permite a análise de variações no padrão de expressão
de uma forma rápida e confiável.
Os macroarranjos de DNA constituem-se de membranas de náilon, em que os
segmentos de DNA são gerados pela PCR. Essas membranas são submetidas a
processos de hibridização com sequências de DNA marcadas e os resultados são
registrados por equipamentos que possibilitam a detecção da radiação ou da
fluorescência emitidas pelas sondas.
Os microarranjos de DNA consistem em milhares de sequências de DNA
imobilizadas em uma superfície de uma lâmina, como por exemplo, sequências
correspondentes a todos os genes que codificam as proteínas de um organismo. A
hibridização é feita com alvos marcado com compostos fluorescentes, esses sinais são
captados e as imagens processadas para análise, por exemplo, do padrão de expressão
gênica.
A tecnologia de microarranjos tem sido bastante utilizada na análise do
transcritoma de diferentes células, tecidos e organismos, tanto nas análises de expressão
gênica em nível transcricional, como na área de pesquisa clínica, visando a análise dos
padrões de expressão gênica em diferentes condições patológicas.
6.2.3 Sequenciamento em grande escala
O sequenciamento em grande escala surgiu com intuito de suprir algumas
limitações da tecnologia de microarranjos. Ele tem em sido considerado como uma
alternativa importante para a análise quantitativa da expressão gênica em nível
transcricional.
A estratégia de sequenciamento na análise de expressão gênica tem sido
associada à tecnologia denominada SAGE (análise seriada da expressão gênica). Essa
tecnologia se baseia na clonagem de sequências curtas de cDNA interligadas, formando
uma série de etiquetas, que são posteriormente sequenciadas. Nessa estratégia, assume-
se que uma sequência curta de uma etiqueta contenha informação suficiente para a
identificação do gene correspondente, evidenciando a transcrição.

7. Técnicas de análise global de proteínas


Nos últimos anos tem-se estudado bastante sobre as proteínas, o intuito é
identificar o repertório de proteínas expresso por diferentes células, tecidos, órgãos ou
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organismos e, também, analisar as interações que ocorrem entre as proteínas e drogas


específicas, bem como descobrir a atividade das proteínas e suas estruturas.
As principais técnicas utilizadas na análise proteômica envolvem o
fracionamento das proteínas por técnicas eletroforéticas e cromatográficas e sua
identificação por espectrometria de massas.

7.1 Técnicas de fracionamento de proteínas associadas à proteômica


A separação de amostras complexas de proteínas ou peptídeos é uma etapa
fundamental para a análise proteômica por espectrometria de massas. Os métodos mais
utilizados são: 1) eletroforese em gel de poliacrilamida em presença do detergente
dodecil sulfato de sódio (SDS); 2) eletroforese bidimensional em gel de poliacrilamida;
e 3) cromatografia líquida.
7.1.1 Eletroforese em gel de poliacrilamida (SDS-PAGE)
As proteínas são construídas a partir de 20 aminoácidos distintos, alguns dos
quais não são carregados, outros são positivamente e outros negativamente carregados.
As proteínas apresentam extensivas estruturas secundárias e terciárias e estão,
normalmente, presentes em estruturas quaternárias. Entretanto, quando tratadas com o
detergente iônico forte dodecil sulfato de sódio, SDS e um agente redutor, as suas
estruturas secundárias, terciárias e quaternárias são, geralmente, eliminadas.
Uma vez cobertas com SDS, os íons do SDS recobrem a cadeia polipeptídica,
conferindo uma carga negativa uniforme para toda proteína. A eletroforese na presença
de SDS pode ser utilizada para separar as misturas de proteínas de acordo com o
tamanho de suas cadeias polipeptídicas. Após a eletroforese, as proteínas podem ser
visualizadas como um corante, como o azul brilhante de Coomassie.
7.1.2 Eletroforese bidimensional (2-DE)
Atualmente, a eletroforese bidimensional em gel de poliacrilamida é o método
mais eficiente de separação simultânea de centenas ou milhares de proteínas. Na
eletroforese bidimensional, as proteínas são submetidas a dois processos consecutivos
(duas dimensões) de separação, baseados em propriedades diferentes das proteínas.
Assim, durante a primeira dimensão, denominada focalização isoelétrica (IEF), as
proteínas são separadas em um gel de poliacrilamida, que forma um gradiente de pH, e
migram até atingirem uma posição estacionária onde possuam carga líquida zero (ponto
isoelétrico). Na segunda dimensão, as proteínas são submetidas a uma eletroforese
desnaturante em gel de poliacrilamida, que separa as proteínas de acordo com suas
massas moleculares. Como os parâmetros usados na primeira dimensão (ponto
isoelétrico) e na segunda dimensão (massa molecular) são independentes, uma grande
resolução é atingida. Mais de 8.000 proteínas podem ser separadas em um único gel
bidimensional.
A análise do conjunto de proteínas de uma célula, tecido ou organismo por
eletroforese bidimensional, associada á análise por espectrometria de massas, permite
gerar um mapa proteômico de referência que pode ser utilizado como ferramenta
importante na análise de expressão gênica diferencial, análise de mutantes ou produção
de organismo geneticamente modificado.
7.1.3 Cromatografia líquida
A cromatografia líquida supre algumas limitações das análises 2-DE, como a
detecção de proteínas pouco abundantes, proteínas muito grandes ou pequenas,
proteínas básicas e de membranas.
Na cromatografia liquida, uma solução contendo uma mistura de peptídeos (fase
móvel) é passada por uma coluna contendo partículas porosas, com características
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particulares de ligação (fase estacionária). As interações das proteínas com a fase


estacionária possibilitam a sua separação.

7.2 Espectrometria de massas na análise de proteínas


A espectrometria de massas é uma técnica capaz de determinar a relação entre
massa e carga (m/z) de espécies ionizadas em fase gasosa. Um espectrômetro de massas
é um instrumento constituído por uma fonte de íons, um analisador de massas, um
detector e um sistema de aquisição de dados. As fontes de ionização empregadas em
espectrometria de massas aplicada à análise proteômica tem a função de ionizar e
transferir as espécies a serem analisadas para a fase gasosa. Os analisadores de massas,
como o próprio nome indica, têm como função básica separar os íons formados de
acordo com suas relações m/z. Esses analisadores possuem aspectos positivos e
negativos, de acordo com o experimento planejado e o resultado experimental
requerido. Uma vez separados, esses íons são detectados por eletromultiplicadoras que
constituem os detectores mais largamente usados.

8. Técnicas de transformação genética de plantas


Os estudos sobre genética molecular de plantas começaram a ser realizados a
pouco tempo. As plantas apresentam genomas complexos e grandes, em razão da
poliploidia, o que dificulta a identificação de mutações recessivas e a manipulação do
DNA.
Aos poucos a pesquisa com plantas foi evoluindo e, hoje em dia, grandes
progressos estão sendo obtidos, principalmente na área de geração de linhagens que
apresentam genes exógenos sendo expressos em seus genomas. Esses genes conferem
vantagens, seja para a planta, como resistência a determinados insetos ou herbicidas,
seja para o homem, como a produção de sementes com maior teor de vitamina A ou
com maior conteúdo proteico. Aos organimos que sofreram algum tipo de manipulação
genética dá-se o nome de organismos geneticamente modificados (OGMs).

8.1 Transformação de plantas via Agrobacterium tumefaciens


As plantas são suscetíveis a diferentes tipos de doenças, incluindo alguns tipos
de câncer ou tumores. Um tumor de plantas é chamado de galha. O agente causador
dessa doença é uma bactéria do solo chamada Agrobacterium tumefaciens. A.
tumefaciens penetra na planta através de aberturas decorrentes de ferimentos e
transforma geneticamente suas células. Ela induz a formação de tumores pela
transferência de parte de seu material genético para o genoma da planta. A expressão
dos genes bacterianos em células transformadas estimula a divisão celular. Como
consequência, as células proliferam, formando um tumor, cujo crescimento não pode
mais ser regulado pela planta.
Os tecidos do tumor secretam um tipo incomum de aminoácidos, conhecidos
como opinas. A. tumefaciens utiliza essas opinas como fonte de carbono ou nitrogênio
para o seu metabolismo. O agente indutor do tumor de A. tumefaciens é o plasmídeo Ti.
Existem vários tipos de plasmídeos Ti e cada um deles comanda a síntese e a utilização
de um tipo de opina.
Somente uma parte do plasmídeo Ti é transferida para a célula vegetal durante a
infecção. Esse fragmento de DNA transferido é chamado de T-DNA, que se integra no
genoma da planta hospedeira e carrega os genes indutores de tumor (onc) e os genes
para a síntese de um tipo de opina. Todos os genes do T-DNA são transcritos pela
RNA-polimerase II da planta e não são transcritos na bactéria. Os mRNAs transcritos
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são poliadenilados nas suas extremidades 3’ e, portanto, são similares aos demais
mRNAs celulares.

8.2 Transformação de plantas via bombardeamento de DNA


Essa técnica consiste na introdução de DNA por um processo denominado
bombardeamento ou biobalística. Esse método utiliza um aparelho chamado de
acelerador de partículas, no qual o DNA plasmidial, contendo um gene de interesse a ser
inserido no genoma da planta e complexado com micropartículas de ouro ou tungstênio,
é submetido a altas pressões de gás hélio. Essa pressão funciona como um “tiro”,
acelerando o complexo DNA-microparticulas com força e velocidade suficientes para o
rompimento simultâneo da parede e da membrana celulares e a penetração na célula
vegetal.
O processo de bombardeamento possui a vantagem de servir para qualquer tipo
de tecido ou célula e, portanto, ser ilimitado para qualquer espécie vegetal e animal. Por
ser um processo que necessita de equipamento adequado para cada tipo celular, ele se
torna oneroso e relativamente complexo.

8.3 Transformação de plantas via eletroporação


A eletroporação exige a utilização de protoplastos, células vegetais que não
possuem parede celular, nesse processo os protoplastos são colocados em soluções que
contêm os genes a serem transferidos, em seguida são bombardeados com impulsos
elétricos curtos de alta voltagem que modificam, temporariamente, a estrutura da
membrana plasmática, induzindo a formação de poros ao longo de sua superfície. Dessa
maneira, é possível aumentar a permeabilidade da membrana, possibilitando a entrada
do gene exógeno. O número e o tamanho dos poros podem aumentar até as membranas
estarem irreversivelmente danificadas. Então os protoplastos se regeneram e podem
gerar novas plantas.
A transformação das células vegetais por eletroporação tem algumas limitações,
como o fato de ser transitória, servir apenas para introdução de pequenas moléculas de
DNA e levar á ocorrência de rearranjos no DNA

7- Considerações finais
As técnicas envolvendo o DNA estão cada vez mais presentes no cotidiano,
resultando em avanços importantes para o entendimento da genética dos organismos de
qualquer espécie. As diversas aplicações destas técnicas levaram a inúmeros progressos.
Através das técnicas de biologia molecular é permitido a detecção, quantificação ou
genotipagem de agentes patogênicos dos homens, animais ou plantas.
A análise genética forense permite a determinação de paternidade e o auxílio à
elucidação de crimes. O estudo do câncer também vem evoluindo por meio da
identificação das alterações nos genes que ocasionam a multiplicação celular nos
tumores, bem como a busca por marcadores tumorais que possibilitem o diagnóstico
precoce da doença.
As técnicas de manipulação do DNA também estão envolvidas na obtenção de
organismos geneticamente modificados (OGMs). Pela Tecnologia do DNA
Recombinante, é possível gerar microorganismos, plantas e animais de grande utilidade
na agricultura, produção animal, medicina, através da produção de medicamentos em
plantas e bactérias, e na preservação ambiental. Adicionalmente, a Tecnologia do DNA
Recombinante proporcionou a identificação, localização e clonagem de genes, terapias
genéticas e vacinas de DNA.

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