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DESCRIÇÃO
Introdução aos métodos de sequenciamento de material genético, tecnologia do DNA
recombinante e técnicas de hibridização de ácidos nucleicos.
PROPÓSITO
Compreender as metodologias de estudo e análise da sequência de DNA, uma ação
importante para entender a sua manipulação para fins de biotecnologia, bioinformática,
diagnóstico e outras aplicações, como pesquisa.
OBJETIVOS
MÓDULO 1
MÓDULO 2
MÓDULO 3
INTRODUÇÃO
As características hereditárias são passadas de geração em geração através do material
genético, codificado em nosso DNA. Existe um grande interesse em conhecermos a fundo o
nosso DNA, que tem sido alvo de estudos cada vez maiores e mais profundos desde sua
descoberta, na década de 1950.
PRINCÍPIOS DO SEQUENCIAMENTO
A quantidade de conhecimento que temos sobre o genoma humano e de outras espécies
aumentou extraordinariamente a partir do desenvolvimento de tecnologias de sequenciamento
do DNA. A maior iniciativa para sequenciamento de genomas foi o Projeto Genoma Humano,
que gerou uma quantidade de informação gigantesca. Atualmente, sabemos que o genoma
humano tem mais de 3 bilhões de pares de bases e que 99,9% da população humana
compartilha o mesmo DNA. Ainda assim, não sabemos a função de aproximadamente metade
dos genes descobertos.
Fonte: Shutterstock.com
A informação genética está contida no DNA (ácido desoxirribonucleico), uma longa molécula
que é formada por nucleotídeos. Para entendermos como as técnicas a serem exploradas
neste conteúdo funcionam, precisamos relembrar alguns conceitos-chave do DNA e da biologia
molecular.
DNA: construção complexa
O primeiro deles é a ideia de que o DNA é uma construção complexa, como uma casa luxuosa.
Por mais luxuosas que sejam, as casas são feitas de tijolos, que são as unidades mínimas na
nossa metáfora. No DNA, as unidades básicas são os nucleotídeos. Cada nucleotídeo tem
três regiões principais:
Um açúcar chamado de desoxirribose (por não conter oxigênio no segundo carbono da ribose).
No terceiro carbono da desoxirribose, temos um álcool orgânico (grupamento hidroxila)
importante para a replicação.
No primeiro carbono da ribose, temos uma base nitrogenada (Adenina, Timina, Citosina,
Guanina - A, T, C, G). (Figura 1).
Replicação do DNA
ATENÇÃO
Agora que sabemos esses aspectos do DNA e de sua replicação, podemos conhecer as
técnicas para identificação dos nucleotídeos que os formam.
Nesse método, Sanger e seus colegas usaram nucleotídeos especiais, com duas grandes
diferenças dos nucleotídeos normais que encontramos nas células: os nucleotídeos que
Sanger usava eram marcados com radioisótopos, de forma que eles pudessem identificar
qual base nitrogenada foi adicionada; já as desoxirriboses foram modificadas pela retirada da
hidroxila no terceiro carbono, o que impede a adição de nucleotídeos novos pela polimerase.
Por isso, o Sequenciamento Sanger leva o nome oficial de terminação de cadeia, ou dideoxy
(pela falta de duas (di-) hidroxilas, no segundo e terceiro carbonos da ribose – os ddNTP).
Fonte: Shutterstock.com
RADIOISÓTOPOS
Como a marcação radioativa era a mesma para cada nucleotídeo, a identificação de qual
ddNTP havia sido adicionado se dava pela separação física, em tubos diferentes, dos ddNTPs
marcados. Assim, o Sanger original tinha quatro tubos diferentes, cada um contendo
polimerase, iniciadores, tampão, os 4 nucleotídeos (dNTPs) e um didesoxinucleotídeos
(ddNTP), marcado com radioatividade.
EXEMPLO
A cada ciclo de amplificação, os dNTPs são adicionados até que o ddNTP marcado com
radioisótopo seja adicionado, o que faz com que a adição de nucleotídeos à fita nova seja
parada apenas para aquela fita. As outras fitas que estão sendo sintetizadas na mesma
reação continuam sendo sintetizadas até que o ddNTP seja adicionado. Dessa forma, temos
sequências de DNA de diferentes tamanhos, todas terminando em um ddNTP marcado com
radioisótopo. Assim, sabemos qual ddNTP terminou a cadeia, pois eles estão em tubos
separados!
Da mesma forma que revelamos o resultado de uma PCR convencional separando o produto
amplificado em um gel de agarose através da eletroforese e corando-o com um agente
intercalante de DNA que seja fluorescente, a revelação do Sequenciamento Sanger também se
baseava na separação por eletroforese e revelação.
Quando o gel de agarose polimeriza, forma uma malha frouxa, que não é estreita o suficiente
para separar sequências com diferenças de até um único nucleotídeo (ou ddNTP, no caso do
Sequenciamento Sanger) que precisamos detectar. Então, usamos outro tipo de gel, ou
polímero: a poliacrilamida, feita a partir da polimerização da acrilamida/bisacrilamida, que nos
dará uma malha muito mais intricada (forma poros regulares e de tamanho uniforme) e capaz
de distinguir pequenas diferenças no tamanho do DNA.
Além disso, como a intenção do gel é a separação dos produtos por tamanho quando
submetidas a uma corrente elétrica, as moléculas de DNA menores migram mais rapidamente
pelo gel e, por isso, estão localizadas mais abaixo do que as moléculas maiores. Finalmente, a
revelação é feita através da emissão de radioatividade, que ficava impressa em um filme de
raios X, e, em seguida, a sequência é montada a partir dos tamanhos de DNA obtidos (Figura
4).
Qi-Liang Ding/Wikimedia Commons/ Licensed Attribution-Share Alike 3.0 Unported
Figura 4. Sequenciamento Sanger manual e imagem real do sequenciamento.
A partir da Figura 4, vemos que cada ddNTP marcado com radioisótopos foi colocado em tubos
separados e, após eletroforese em gel de poliacrilamida, foram obtidos diferentes tamanhos de
DNA. Após revelação (Figura 4, à direita), a sequência é montada de forma manual a partir
desses tamanhos.
Para que a automatização fosse bem-sucedida, entretanto, eles precisaram modificar algo
crucial: o uso de radioisótopos. Por serem a maior limitação da técnica, eles foram substituídos
por fluoróforos. O uso destes na marcação dos ddNTPs concedeu outra grande vantagem:
além de serem mais seguros, podem ser utilizados vários fluoróforos que se excitam e emitem
fluorescência em comprimentos de onda diferentes ao mesmo tempo. Isso permite que vários
fluoróforos sejam usados na mesma reação, abolindo o uso de quatro tubos.
Com cada ddNTP marcado com fluoróforo de cor diferente, o sequenciamento é mais seguro e
mais barato, pois já não precisamos lidar com a segurança extra contra a radioatividade e
reduzimos a reação a um único tubo.
Com o uso de quatro fluoróforos, um para cada ddNTP e em um único tubo de amplificação,
outra limitação ao uso do sequenciamento foi superada: a forma de leitura.
FLUORÓFOROS
RELEMBRANDO
Na técnica original
Na automação
A leitura dos fragmentos com terminação em ddNTPs marcados com fluoróforos passou a ser
feita por eletroforese em capilar, ou seja, em um tubo extremamente fino contendo um polímero
semelhante à poliacrilamida pela qual cada fragmento passa, um de cada vez.
À medida que cada fragmento passa pelo capilar, um laser incide sobre a sequência, e os
ddNTPs marcados emitem fluorescências em comprimentos de onda diferentes que são
detectadas por um aparelho. Os aparelhos mais modernos conseguem sequenciar cerca de
900 pares de base (pb) em uma cadeia, e possuem múltiplos capilares para a leitura de
dezenas de amostras diferentes. O aparelho também processa e filtra a fluorescência de ruído
(ou background) de cada ddNTP lido e nos fornece uma representação gráfica da sequência e
de sua qualidade.
PIROSEQUENCIAMENTO
As bibliotecas são formadas por meio da “quebra” do DNA extraído, seja por ele ter sido
digerido em pequenos fragmentos usando enzimas, seja por ter sido clivado usando métodos
físicos, como a sonicação.
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Os adaptadores imobilizam o fragmento de DNA e auxiliam o início da síntese, pois se ligam
por complementariedade a oligonucleotídeos iniciadores aderidos a microesferas, de forma que
cada microesfera tenha apenas um fragmento de DNA ligado a ela.
Cada microesfera será depositada em um micropoço (em um microchip), local onde ocorrerá
uma PCR diferente, chamada de PCR em emulsão (ou em gotícula de óleo-água).
Assim, cada microesfera terá várias cópias idênticas do mesmo DNA. Isso é importante para
amplificação do sinal emitido pelo pirofosfato, que precisa ser suficiente para que nossos
métodos de detecção disponíveis consigam captar esse sinal.
Em seguida, as fitas duplas ligadas à microesfera são desnaturadas em fitas simples, e estarão
prontas para iniciarmos a reação de sequenciamento.
Na etapa de sequenciamento, um único dNTP é adicionado por vez à reação. Assim, quando o
dNTP complementar à sequência-molde é adicionado pela polimerase, o pirofosfato liberado na
formação da ligação fosfodiéster dá energia para a reação luminosa ocorrer, que é, por sua
vez, detectada por um sensor.
EXÓGENAS
Nessa emulsão de água, em uma fase oleosa, as gotículas de água contêm os reagentes
de PCR, uma fita de DNA a ser sequenciado e uma bead para sua ancoragem.
SONICAÇÃO
Esse sistema permite a existência de milhares de microesferas, cada uma com uma sequência
de DNA única, amplificada e sequenciada. Assim, milhões de pares de base podem ser
sequenciados muito mais rapidamente do que pelo método de Sanger.
Nessa técnica, a biblioteca de DNA é ligada aos adaptadores. Vamos entender como isso é
feito:
Os fragmentos de DNA são anelados a iniciadores aderidos a uma placa (chamada de célula
de fluxo ou flowcell) por meio dos adaptadores, e a síntese por ponte de DNA começa usando
dNTPs normais.
Na síntese por ponte, cada extremidade do DNA contém adaptadores diferentes capazes de se
anelar aos primers complementares já aderidos à placa.
A fluorescência de cada ciclo é obtida em diferentes comprimentos de onda para cada ddNTP
e é detectada pelo aparelho sequenciador, que decodifica o sinal. Cada corrida pode ter
milhões de clusters diferentes, o que nos gera uma quantidade gigantesca de dados (Figura 8).
Figura 8. Esquema do sequenciamento Illumina.
ATENÇÃO
Talvez esta tenha sido a maior vantagem dos sequenciamentos de nova geração: a introdução
de métodos de alto rendimento, o que significa um sequenciamento de um número gigantesco
de bases, de forma muito mais rápida do que o Sequenciamento Sanger.
Contudo, as NGS possuem desvantagens, como perda de precisão quando as sequências são
muito repetitivas em um único nucleotídeo, pois é difícil para o aparelho saber quantas bases
idênticas foram adicionadas em um ciclo apenas, já que o pico de luz fica bem mais extenso ou
mais longo. Nesses casos, podemos usar o Sequenciamento Sanger, que é mais confiável
para determinação de sequências repetitivas por também separar as moléculas de DNA por
tamanho.
Toda essa capacidade de sequenciamento introduziu outra questão importante: como unir
esses pequenos fragmentos e reconstituir a sequência contínua original de milhões de pares
de base, como as que existem nos organismos vivos?
Com o desenvolvimento tecnológico que permitiu os sequenciamentos de alto rendimento,
vimos o desenvolvimento de softwares e algoritmos especializados na resolução do quebra-
cabeças gerado ao produzirmos centenas de milhões de sequências. Com o estudo da
genômica e da transcriptômica, um campo novo de intercessão entre biologia e informática
cresceu muito: a bioinformática.
TRANSCRIPTÔMICA
Estudo do total de genes que estão sendo transcritos em determinada célula, pela síntese
da cDNA a partir do RNA mensageiro. .
Neste vídeo, você conhecerá um pouco sobre os métodos de NGS de terceira geração.
Para aprender sobre como o quebra-cabeças do genoma é montado em maiores detalhes,
acesse nossa seção Explore +.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
E) Com a chegada de NGS, o Sequenciamento Sanger se tornou obsoleto e não tem mais
utilidade para a maioria das aplicações em ciência, saúde e biotecnologia.
2. SOBRE O SEQUENCIAMENTO SANGER, É CORRETO AFIRMAR QUE:
C) Parte do princípio de separação das moléculas de DNA em gel de agarose e revelação dos
nucleotídeos por emissão de luz ultravioleta.
GABARITO
O Sequenciamento Sanger é muito mais confiável que a maioria dos NGS, especialmente para
identificar nucleotídeos em regiões repetitivas, pois também é capaz de separar as sequências
terminadas em ddNTPs marcadas de acordo com seu tamanho. No entanto, cada corrida de
Sequenciamento Sanger consegue identificar uma quantidade de pares de base muito
pequena (cerca de 900 bp) comparada à capacidade de sequenciamento de NGS, que pode
chegar a milhões de pares de base (ou Mpb) por corrida.
MÓDULO 2
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A tecnologia do DNA recombinante consiste na união de duas fitas de DNA.
Também é conhecido como clonagem molecular, pois nesse processo temos a expansão de
organismos hospedeiros idênticos geneticamente, ou clones, todos contendo o DNA
recombinante.
EXEMPLO
Por exemplo, a clonagem molecular permite: que bactérias sintetizem insulina humana, usada
no tratamento de diabetes mellitus tipo I; usar genes inseridos em plasmídeos como forma de
amplificarmos o gene e usá-los como curva de quantificação em uma qPCR; fabricar vacinas
contra o papilomavírus humano (HPV) usando apenas a proteína externa do vírus produzida
em levedura.
Além disso, podemos alterar geneticamente organismos complexos, como plantas e animais,
ao introduzirmos genes de outras origens – os transgenes, gerando os organismos
transgênicos – ou modificando genes que já existem em determinado organismo. Criamos,
assim, os chamados organismos modificados geneticamente (GMO, genetically modified
organisms). Entretanto, com essa capacidade, vieram muito questionamentos éticos sobre o
que podemos e devemos modificar nos organismos.
Para dominarmos essa poderosa ferramenta, precisamos conhecer alguns pontos-chave sobre
a informação que queremos transferir, sobre as formas de transferência e sobre o sistema para
onde estamos transferindo a informação genética.
A informação que queremos transferir, nesse caso, é uma sequência de DNA de interesse, que
pode ser tanto um gene, uma região regulatória, ou pequenas sequências que determinam
epítopos antigênicos que não serão expressos, que chamamos de inserto. A forma de
transferência dessa sequência é o que chamamos de vetor.
EPÍTOPOS ANTIGÊNICOS
Assim como uma encomenda precisa ser transportada por caminhão, moto, navio ou avião
para chegar até seu destino, a sequência genética precisa de uma forma de transporte até o
organismo-alvo. O sistema de utilização é o nosso organismo final, que apresente a
capacidade de expressar determinado gene ou seja modificado geneticamente, o qual
chamamos de hospedeiro (Figura 10).
Fonte: Shutterstock.com
Figura 10. Esquema das partes essenciais da clonagem molecular: sequência de interesse
(ou inserto), vetor (plasmídeo) e hospedeiro (bactéria).
Para isso, podemos partir de uma sequência já conhecida. Nas últimas duas décadas, uma
quantidade gigantesca de informação genética foi produzida, e existem diversas ferramentas
de informática disponíveis na internet para conhecermos a sequência exata de genes e regiões
não codificantes de diversos organismos. A maior plataforma pública e gratuita que armazena
sequências de DNA (e cDNA, caso estejamos interessados em RNA) e mais conhecida é o
GenBank (ou banco de genes, em tradução livre), do Instituto Nacional de Saúde dos Estados
Unidos da América (NIH – National Health Institute).
ATENÇÃO
Caso seu gene de interesse não esteja entre as sequências armazenadas e disponíveis ao
público, você poderá sequenciar a região. Nesse caso, basta amplificarmos a sequência ou a
região próxima que a flanqueie (ou seja, as regiões que estão antes e depois de determinada
sequência) por PCR. Após a amplificação, iremos separar as sequências obtidas na PCR por
eletroforese em gel de agarose e observar se existem vários produtos ou apenas um.
Caso tenhamos apenas um produto, podemos purificar a PCR e extrair apenas o DNA
amplificado – ou seja, remover todo tampão, enzima Taq e os iniciadores, que poderiam
interferir no sequenciamento. Caso mais de uma banda esteja visível no gel de agarose,
precisaremos cortar a banda de tamanho desejado e purificá-la a partir do gel. Assim,
eliminamos produtos de PCR inespecíficos e impedimos que eles influenciem nosso
Sequenciamento Sanger, o que será feito a seguir.
Mas o que fazer caso não haja informação suficiente sobre o organismo estudado sequer para
desenhar iniciadores para a PCR?
Uma vez que tenhamos nosso inserto amplificado e sua sequência conhecida, podemos
colocá-lo (ou inseri-lo) no nosso vetor.
Uma vez determinada com exatidão a composição da sequência, precisamos observar seu
tamanho. Assim como usamos meios de transporte diversos para diferentes tamanhos de
encomendas, precisamos escolher qual o melhor vetor para transportar a sequência.
Fonte: Shutterstock.com
EXEMPLO
Por exemplo, um plasmídeo pode ter uma sequência de DNA que codifique uma proteína de
canal, que, por sua vez, confere resistência a certo antibiótico. Ao entrar em uma célula que
esteja sob pressão seletiva pelo tal antibiótico – ou seja, uma célula que esteja lutando para
sobreviver ao antibiótico –, a aquisição desse plasmídeo conferirá resistência, e a bactéria
poderá sobreviver facilmente.
Um gene de resistência a antibiótico, que auxilia na seleção das bactérias que contêm o
plasmídeo.
O sítio múltiplo de clonagem (multiple cloning site – MCS), que deve incluir um promotor
gênico, diversos sítios de restrição por diferentes enzimas e um terminador (Figura 11).
PROMOTOR GÊNICO
Promotor gênico é uma sequência curta no DNA que precede o gene e sinaliza à
maquinaria celular de transcrição de RNA o local a que ela deve se ligar para encontrar o
início do gene.
TERMINADOR
Terminador gênico é uma sequência curta que define o sitio de finalização da transcrição
para liberar a maquinaria de transcrição.
ATENÇÃO
Lembre-se de que essas são as regiões mínimas à replicação em uma bactéria e que seu
organismo hospedeiro pode ser um eucarioto (leveduras, células animais e vegetais), que pode
requerer outras regiões para replicação do plasmídeo e sua expressão. Por exemplo, devemos
sempre priorizar o uso de promotores gênicos derivados de leveduras, caso nosso sistema
hospedeiro seja a levedura, e de usar promotores e potenciadores preferencialmente virais
para células de mamífero, em adição à origem de replicação e um marcador de seleção de
eucariotos.
Existem situações em que pode ser necessário usar insertos maiores, e, nesses casos, outros
sistemas podem ser usados. Por exemplo, o sistema de cosmídeos permite insertos de até 50
kb, pois sua composição genética é uma mistura entre plasmídeos e bacteriófagos.
Entretanto, cosmídeos exigem que seu genoma seja empacotado, ou seja, que uma camada
de proteína chamada capsídeo viral recubra o DNA do cosmídeo, para protegê-lo e para que
haja infecção de novas células. Outras opções são os cromossomos artificiais bacterianos
(Bacterial Artificial Chromosome – BAC) ou de levedura (Yeast Artificial Chromosome – YAC),
para insertos de tamanho superior a 100 kb.
BACTERIÓFAGOS
São vírus capazes de infectar bactérias, injetando o material genético viral através da
parede celular até o citoplasma da bactéria.
Uma vez que conheçamos a sequência do nosso inserto, e tenhamos escolhido o vetor que
melhor se adeque às nossas necessidades, podemos começar a clonagem. Para isso, vamos
explorar duas estratégias principais. A primeira baseia-se na digestão do DNA e utiliza as
chamadas enzimas de restrição. A segunda, mais recente, utiliza apenas PCR. Vamos
explorá-las com detalhes a seguir.
Para usar o método de clonagem por enzimas de restrição, tanto nosso inserto quanto nosso
vetor precisam ter sítios de clivagem pela enzima de restrição de nossa escolha. É de extrema
importância que o sítio de restrição (ou clivagem) no vetor seja único, caso contrário ele será
digerido em diversos fragmentos não funcionais, e nossa clonagem não funcionará (Figura 13).
Caso nosso inserto não possua o sítio de restrição naturalmente em suas extremidades,
podemos colocar a sequência que a enzima reconhece nas extremidades durante a
amplificação por PCR. Para isso, basta acrescentarmos o sítio de restrição às extremidades
dos iniciadores. Em seguida, faremos a digestão do inserto e do vetor pela mesma enzima de
restrição em microtubos separados. A reação de digestão é normalmente feita a 37°C por uma
hora, muito embora a reação possa ser deixada de um dia para o outro para aumentar a
digestão.
Uma vez que a restrição tenha acontecido, veremos se o vetor foi linearizado – lembre-se de
que ele era circular – pela eletroforese em gel de agarose. Esperamos ver apenas uma banda,
mais abaixo que a banda do plasmídeo não digerido, pois o DNA linear migra mais
rapidamente que o circular. Se virmos mais de uma banda no gel, será porque nossa enzima
de restrição encontrou mais de um sítio de clivagem no vetor. Isso pode ser o que você deseja,
caso queira remover uma sequência primeiro para, depois, colocar seu inserto no local.
Para evitar que o vetor digerido volte a ser um círculo (já que as extremidades digeridas são
complementares entre si, especialmente se uma única enzima de restrição para as duas
extremidades estiver sendo usada), devemos usar fosfatases, para remover o fosfato nas
extremidades 5’, o que impede a circularização espontânea.
ATENÇÃO
Lembre-se de usar a fosfatase apenas no tubo do vetor, e não no do inserto. Essa é uma boa
forma de controle de qualidade da nossa digestão e para assegurar que nossa clonagem será
bem-sucedida.
No entanto, o pareamento das bases não será suficiente para que uma ligação estável
aconteça, pois a complementariedade das bases se dá por pontes de hidrogênio facilmente
desfeitas pelo calor. Para termos uma ligação estável, precisamos que ela seja covalente, o
que significa que precisamos fazer a ligação fosfodiéster entre as extremidades 5’ e 3’ das
duas fitas pareadas. Para isso, usamos uma enzima chamada DNA ligase (Figura 14).
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Nessa opção, não precisamos de enzimas de restrição.
Nela, amplificamos o DNA do inserto em uma PCR especial, que utiliza oligonucleotídeos
iniciadores com duas regiões: a região 3’ é usada para amplificar o inserto, pois o reconhecem
e se anelam a ele; e a região 5’ é uma região complementar ao vetor, que será usada na
segunda etapa da RFC.
Por isso, os primers para RFC são maiores que os iniciadores convencionais, com
comprimento médio de 50 pb, sendo que 25 pb devem se anelar ao inserto e os 25 pb
restantes ao vetor.
ATENÇÃO
Na prática, é importante que as duas regiões dos iniciadores senso e antissenso tenham
aproximadamente a mesma temperatura de anelamento para que a PCR funcione. Usaremos
esses oligonucleotídeos para amplificar o inserto e, ao mesmo tempo, adicionar a ele uma
região de complementariedade ao vetor. Existe ainda a possibilidade de seu inserto ser
pequeno o suficiente para estar contido dentro de iniciadores um pouco mais longos, o que
reduz a RFC a apenas uma PCR.
Como queremos amplificar um vetor de clonagem com milhares de pares de base, cada
extensão deverá ter 1 minuto por kb – ou seja, para um plasmídeo de 7 kb, serão 7 minutos de
extensão por ciclo. Como em uma PCR convencional, validaremos a reação vendo o amplicon
de tamanho desejado na eletroforese em gel de agarose.
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A ciclagem vai ser um pouco diferente da PCR convencional, pois usamos menos ciclos, uma
vez que a longa fita consumirá os reagentes rapidamente. Em seguida, iremos purificar esse
produto de PCR para eliminar os reagentes de PCR e usá-lo em uma segunda reação, como o
mega-primer: as extremidades do nosso inserto irão anelar com as extremidades
complementares do vetor.
Além disso, podemos fazer a RFC-PCR sem temperatura de anelamento, usando apenas uma
extensão a 72°C. Para essa segunda PCR, precisamos usar o mega-primer; o vetor da nossa
escolha; Taq polimerase, de preferência uma adequada para polimerização de longas fitas; e
dNTPs.
Como os iniciadores são maiores, sua temperatura de anelamento também será maior e mais
próxima à de extensão.
Finalmente, o vetor parental deverá ser digerido por uma enzima chamada Dpn1, uma
endonuclease que apenas reconhece e cliva o DNA metiladol – como o DNA amplificado por
PCR não contém grupamento metil, nosso DNA recombinante fica intacto, enquanto o vetor
parental, que havia sido purificado depois de replicado na bactéria, é digerido (Figura 15).
DNA METILADO
A partir da Figura 15, podemos ver que os iniciadores usados na primeira PCR (amplificação
de inserto) possuem regiões sobrepostas para posterior anelamento ao vetor (2º PCR).
Uma vez que tenhamos inserido nossa sequência de interesse em um vetor, quer usando
enzimas de restrição, quer não, precisamos verificar se nosso inserto está presente. Para isso,
fazemos uma PCR com um iniciador senso que se anele próximo ao sítio de clonagem e um
iniciador antissenso que se anele à sequência do inserto.
Esperamos que essa PCR de detecção do DNA recombinante funcione e nos dê uma banda
única, do tamanho esperado para o intervalo entre os primers. Esse é o controle de qualidade
da clonagem, que vamos repetir mais à frente. Estamos prontos, então, para colocar esse vetor
recombinante dentro de uma bactéria. Essa etapa é necessária para que mais vetores sejam
produzidos, mesmo que nosso hospedeiro final não seja a bactéria. Assim, conseguiremos
quantidade de vetores suficientes para outros hospedeiros.
Para colocar nosso vetor recombinante dentro de uma célula, usamos uma técnica chamada
de transformação − processo de aquisição horizontal de DNA exógeno do meio ambiente que
algumas bactérias possuem. A principal bactéria usada em clonagem molecular é a
Escherichia coli, um bacilo Gram-negativo com fácil multiplicação e manutenção em cultura,
alta eficiência de transformação e que possui cepas usadas em laboratório que não são
patogênicas. No entanto, a E. coli não é naturalmente capaz de adquirir DNA a partir do meio.
Para ser passível de transformação, precisamos fazer como que a E. coli seja competente.
Conseguimos isso ao congelarmos instantaneamente as células, usando nitrogênio líquido e na
presença de tampão rico em cálcio, que fará com que a parede celular da E. coli fique
permeável e apresente pequenos orifícios para a entrada do DNA durante a transformação.
Após tornarmos a E. coli competente para a entrada do DNA exógeno na célula, podemos
transformar nosso vetor recombinante. A transformação bacteriana mais comumente usada é a
de choque térmico. As células que estão congeladas serão descongeladas e misturadas com o
DNA do vetor plasmidial. Tudo isso deve ser feito em gelo; caso contrário, a célula perderá sua
competência.
Ao analisarmos a Figura 16, vemos que, após congelamento instantâneo de bactéria sensível a
antibiótico (1), a parede celular fica permeável (2). Assim, o plasmídeo é incubado com a
bactéria e pode entrar mediante o choque térmico (3). Os clones que tiveram uma
transformação bem-sucedida são capazes de crescer sob seleção, ou seja, tornam-se
resistentes ao antibiótico presente na placa pela aquisição do plasmídeo (4).
Entretanto, é importante sabermos que a transformação para clonagem tem eficiência muito
mais baixa do que a transformação apenas para expansão do vetor (ou seja, apenas para
aumentarmos a quantidade que temos de determinado plasmídeo). Por isso, normalmente
tentamos obter e usar o máximo de DNA para a transformação durante a clonagem.
A entrada do vetor na E. coli competente precisa distinguir a célula na qual a transformação foi
bem-sucedida da que não foi. Portanto, usamos alguns marcadores de seleção que estão
presentes nos vetores e que farão a distinção entre as bactérias. O marcador de seleção mais
usado é o antibiótico ampicilina. A ampicilina é um antibiótico derivado da penicilina, capaz
de matar bactérias e usado em infecções bacterianas comuns. As espécies de E. coli são
sensíveis à ampicilina, o que significa que essas bactérias morrem na presença do
antibiótico.
Para isso, selecionaremos várias colônias para verificarmos mais uma vez se a clonagem
molecular funcionou, usando a PCR de detecção do DNA recombinante. Apenas os clones cuja
banda do vetor-inserto estiver presente serão usados para purificação do plasmídeo.
SELEÇÃO AZUL-BRANCA
Neste método de clonagem, é possível distinguir visualmente não apenas quais colônias de
clones bacterianos tiveram o plasmídeo transformado com sucesso (com o uso de antibióticos),
mas também quais clones tiveram o inserto integrado ao vetor com sucesso.
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A bactéria E. coli possui uma enzima chamada beta-galactosidase, codificada por um dos
genes presente em uma estrutura de genes expressos contiguamente em um único mRNA
chamado operon lac.
A expressão desse operon é induzida pela presença de lactose no meio e expressa a enzima
beta-galactosidade; é reprimida por um composto chamado IPTG (isopropil-beta-D-1-
tiogalactopiranosideo).
Quando a beta-galactosidase é expressa, ela cliva (quebra) um composto, chamado x-gal, em
galactose e em um corante azul insolúvel.
No plasmídeo usado nesse sistema, a beta-galactosidase não contém esse segmento, mas ele
está presente em outra região, no sítio de clonagem múltipla (MCS). Esse é o sítio no qual o
nosso DNA-alvo deve ser inserido.
Caso o inserto seja adicionado com sucesso, ele o fará no meio da sequência do peptídeo-alfa,
impedindo que este último seja expresso.
Portanto, a beta-galactosidase não será capaz de clivar x-gal, e o corante azul não será feito.
Nesse caso, o inserto é detectado pela falta do corante azul, o que torna a colônia de clones
branca.
Caso o inserto não tenha sido inserido com sucesso, o gene do peptídeo-alfa permanece
intacto, e a beta-galactosidase poderá usá-lo e clivar x-gal, produzindo o composto azul. Dessa
forma, as colônias negativas, em que a clonagem não ocorreu, serão azuis (Figura 17).
Figura 17. Esquema simplificado da seleção azul-branca. As colônias cujo inserto foi
integrado ao plasmídeo crescem na cor branca.
SAIBA MAIS
A purificação do plasmídeo recombinante poderá ser feita e, apesar de não ser absolutamente
necessária, é recomendável fazer o sequenciamento do inserto.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A TECNOLOGIA DO DNA RECOMBINANTE POSSUI MUITAS
APLICAÇÕES EM MEDICINA, AGRONEGÓCIOS E BIOTECNOLOGIA.
SOBRE DNA RECOMBINANTE, É INCORRETO AFIRMAR QUE:
A) As bactérias podem ser usadas como fábricas para proteínas de origens exógenas.
D) A diabetes mellitus do tipo I pode ser controlada pelo o do uso de insulina produzida por
tecnologia do DNA recombinante.
E) A clonagem molecular não é útil na modificação de organismos pluricelulares, pois não gera
organismos estáveis.
A) Os plasmídeos são vetores autorreplicativos nos quais inserimos um DNA exógeno a ser
clonado.
C) Bactérias não são bons organismos hospedeiros, pois são incapazes de fazer
transformação.
D) As enzimas de restrição são usadas na clonagem para sintetizar novas sequências de DNA,
pela sua capacidade sintetase.
GABARITO
1. A tecnologia do DNA recombinante possui muitas aplicações em medicina,
agronegócios e biotecnologia. Sobre DNA recombinante, é incorreto afirmar que:
MÓDULO 3
TÉCNICAS DE HIBRIDIZAÇÃO
As técnicas de hibridização consistem na identificação de sequências de DNA fita simples ou
RNA específicas por meio de seu pareamento por complementariedade – ou hibridização –
com sequências sintéticas. O termo hibridização pode ser, por vezes, equivalente ao
pareamento por complementariedade. Assim, pode-se dizer que os oligonucleotídeos
iniciadores hibridizam com o DNA-alvo em uma PCR. Para definirmos melhor o conteúdo a ser
abordado neste módulo, vamos falar de técnicas de hibridização que não se baseiam na
amplificação do DNA pela Taq polimerase.
Para detectar o DNA fita simples ou RNA nesse grupo de técnicas, usamos oligonucleotídeos
marcados, chamados de sondas.
Tais sondas podem ser curtas ou longas, e são normalmente marcadas com isótopos
radioativos, enzimas, anticorpos, substratos ou com fluoróforos, dependendo da técnica em
questão.
DIRETOS
Em métodos diretos, as sondas são marcadas diretamente com o emissor de sinal (por
exemplo, radioisótopos ou fluoróforos) e são, portanto, proporcionais à quantidade de
moléculas existentes na amostra analisada.
INDIRETOS
Em indiretos, as sondas estão marcadas com agentes intermediários que são usados para
aumentar o sinal emitido (como enzimas, substratos e anticorpos).
Existe um grupo de três técnicas de hibridização chamadas blots (manchas, em inglês), que
são baseadas na separação das macromoléculasalvo (DNA, RNA ou proteínas),
desnaturação e transferência para uma membrana porosa que permitirá a hibridização com
as sondas para revelação.
Southern blotting
Criada pelo bioquímico britânico Edwin Southern, em 1975, recebe o seu nome. Nessa técnica,
identificamos sequências específicas de DNA.
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Para isso, precisamos, primeiro, extrair o DNA total da nossa célula ou do tecido e digeri-lo
usando enzimas de restrição.
Uma vez que o DNA tenha sido fragmentado, podemos separá-lo usando eletroforese, que
pode ser feita em gel de agarose ou em poliacrilamida, dependendo da resolução que se
queira.
Em suma, a eletroforese é feita da mesma forma que a usada para ler o produto da
amplificação de uma PCR, e podemos ler seu resultado ao adicionarmos brometo de etídio ao
gel.
ATENÇÃO
Para isso, precisamos montar uma espécie de sanduíche, no qual as duas “fatias de pão” são
placas de vidro, cada uma acompanhada por papel absorvente do lado de dentro, e o gel em
contato com a membrana porosa como “recheio”. O sanduíche deve sempre ser montado
dentro de uma cuba contendo o tampão de transferência, de forma que todos os componentes
fiquem encharcados e nenhuma bolha de ar fique presa. Isso porque as bolhas de ar impedem
a transferência, formadas quando o tampão aquoso é submetido a corrente elétrica – por isso,
usamos papel absorvente para manter a membrana e o gel em contato com o tampão durante
todo o período de transferência, que pode levar mais de três horas dependendo do tamanho
dos fragmentos digeridos. Após a transferência, o DNA fica fixado na membrana, que pode ter
seus sítios de ligação inespecífica bloqueados e pode ser armazenada por longos períodos em
geladeira.
ATENÇÃO
Para a etapa de hibridização propriamente dita, usamos sequências conhecidas, as sondas.
As sondas são complementares às sequências-alvo e se anelam a elas, fazendo parte do
sistema de detecção do sinal. Tanto as sequências-alvo quanto as sondas podem ser feitas de
DNA ou de RNA.
A membrana deve ficar imersa em solução contendo a sonda, em agitação, por pelo menos
uma hora. Após essa incubação, a membrana é lavada, e todas as sondas que não se ligaram
por complementariedade ao DNA desnaturado em fita simples serão removidas do sistema,
restando apenas aquelas que se anelaram ao DNA.
Na revelação colorimétrica, a sonda está marcada com um substrato que é usado por uma
enzima, em uma etapa adicional, para produção de um composto colorido. Assim, a posição da
sonda pode ser visualizada a olho nu. As sondas fluorescentes precisarão de leitura em
aparelho especializado, que excitará o fluoróforo e permitirá a identificação do local onde a
sonda está.
No método quimioluminescente, temos uma enzima que catalisa uma reação, cujo produto
emite luz em determinado comprimento de onda (dependendo de qual enzima reveladora for
usada) e, por isso, também precisamos de aparelho para leitura da reação.
Northern blotting
Iremos desnaturar e separar o RNA total extraído por eletroforese em gel de agarose contendo
formaldeído − um composto químico que usamos para fixação e preservação da amostra, que
é especialmente útil quando trabalhamos com RNA.
Em seguida, iremos transferi-lo do gel para a membrana de nitrocelulose ou nylon. Para isso,
montamos o mesmo sanduíche, contendo a membrana e o gel no meio, dentro de folhas de
papel absorvente e com as placas de vidro como “pão”.
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Após a transferência ocorrer e fixarmos o RNA, passamos à etapa de hibridização das sondas
e revelação do resultado, de acordo com a marcação das sondas usadas (Figura 19).
HIBRIDIZAÇÃO IN SITU
A hibridização in situ (in situ hybridization – ISH) foi uma das primeiras técnicas de biologia
molecular a ser aplicada ao diagnóstico clínico de doenças.
A ISH tem sido usada para diagnóstico citogenético e de doenças infecciosas, como no caso
da infecção pelo papilomavírus humano (HPV), causador do câncer do colo do útero, em
cérvice uterina. Outros exemplos de aplicação da ISH incluem a detecção de cromossomos
aberrantes, com alterações como duplicações, deleções e inserções genômicas que não
deveriam existir e que podem causar doenças, como ocorre na distrofia muscular de
Duchenne, na fibrose cística e em alguns tipos de câncer.
Fonte: Ryan Jeffs / Wikimedia Commons / License 3.0
A ISH originalmente usava isótopos radioativos para marcação das sondas. Porém, com o
desenvolvimento de marcadores fluorescentes mais seguros, a ISH evoluiu para FISH
(fluorescent in situ hybridization, ou hibridização in situ fluorescente). As outras abordagens de
leitura do sinal vistas nos blottings, como quimioluminescência e colorimetria, também podem
ser usadas em ISH, porém são menos difundidas que a FISH.
Já que trabalhamos com tecidos ou células em cultivo, a leitura dos resultados normalmente é
feita em microscopia. Para isso, precisamos ter um microscópio de fluorescência, capaz de
excitar os fluoróforos e detectar o local de emissão da fluorescência com a precisão necessária
ao sistema.
Nesse caso, podemos usar microscópio com precisão na casa de nanômetros, ou seja, na
casa de bilionésimo de um metro, algo em torno de 0,000000001 metro (Figura 20).
O primeiro ponto que avaliamos em uma IHS ou FISH é o desenho da sonda. Caso queiramos
identificar uma sequência, um gene ou um mRNA longo, podemos usar dezenas de sondas
curtas, de cerca de 20 pb cada uma, que se anelem ao longo da sequência-alvo. Isso dá
grande especificidade ao método, além da ótima sensibilidade dada pelo aumento do sinal
emitido, já que todas estarão marcadas.
Caso desejemos detectar uma região muito curta, na qual não poderemos sintetizar e anelar
dezenas de sondas diferentes, podemos usar uma técnica chamada de branched-FISH (ou
FISH ramificado).
E a segunda região, mais longa, é usada como alvo para as sondas marcadas se anelarem.
Como em outras técnicas de hibridização, na ISH ou FISH, precisamos desnaturar o DNA fita
dupla em fitas simples. Como agora estamos trabalhando com tecidos ou células fixados e
aderidos a uma lamínula de microscopia, não podemos usar agentes que destruam o tecido,
como acontece se tratarmos ele com tampões extremamente alcalinos.
ATENÇÃO
Por isso, a desnaturação do DNA normalmente é feita por calor controlado, de forma a não
destruirmos a célula ou o tecido. Se nosso ácido nucleico-alvo for RNA, não poderemos usar
calor, então utilizamos um composto químico chamado de formamida para desnaturação de
proteínas que possam estar ligadas ao RNA, liberando-o para a hibridização.
Precisamos ainda considerar como as sondas entrarão nas células, e isso depende
diretamente do material que estamos usando e da natureza das células. Se estivermos fazendo
FISH para células ou tecidos de mamíferos, permeabilizamos as membranas plasmáticas
usando álcool (etanol) e detergentes suaves (Triton 0.1%). Caso trabalhemos com leveduras,
precisamos permeabilizar uma estrutura mais resistente, a parede celular, o que fazemos
usando digestão enzimática da parede.
VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. AS TÉCNICAS DE HIBRIDIZAÇÃO DE DNA E RNA FORAM UMAS DAS
PRIMEIRAS A SEREM USADAS E APLICADAS EM BIOLOGIA
MOLECULAR. SOBRE HIBRIDIZAÇÃO, SELECIONE A OPÇÃO CORRETA:
B) O northern blot foi desenvolvido para separação e identificação de proteínas, DNA e RNA,
podendo ser usado igualmente para as três moléculas.
E) Na FISH, usamos agentes desnaturantes dos ácidos nucleicos, como o calor, e fixadores,
como o formaldeído.
GABARITO
1. As técnicas de hibridização de DNA e RNA foram umas das primeiras a serem usadas
e aplicadas em biologia molecular. Sobre hibridização, selecione a opção correta:
As sondas usadas em ISH são sequências de DNA curtas e marcadas. Para que tenhamos a
especificidade – dada pela ligação das sondas ao DNA-alvo – e sensibilidade – dada pela
capacidade de detecção do sinal −, precisamos usar o máximo de sondas marcadas, o que
significa que o máximo do gene deve estar coberto por sondas.
CONCLUSÃO
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste tema, aprendemos como as grandes contribuições do conhecimento do genoma humano
e de outros organismos foram feitas pelas técnicas moleculares. Vimos também o
sequenciamento, um conjunto de diferentes técnicas que visam descobrir a sequência de
nucleotídeos presentes no DNA. Dentre esse conjunto de técnicas, exploramos o
sequenciamento Sanger e o sequenciamento de nova geração.
AVALIAÇÃO DO TEMA:
REFERÊNCIAS
ADDGENE. Plasmids 101: A Desktop Resource (3rd Edition). Consultado em meio eletrônico
em: 30 out. 2020.
CRONAN, J.E. Escherichia coli as an Experimental Organism. In: eLS, John Wiley & Sons,
Ltd., 2014.
HEATHER, J. M.; CHAIN, B. The sequence of sequencers: The history of sequencing DNA.
Genomics. 1(107),p 1-8. 2013.
HUBER, D. et al. Fuorescence in situ hybridization (FISH): History, limitations and what to
expect from micro-scale FISH? Micro and Nano Engineering: 1 (2018) 15–24.
LIAO, Y. et al. RNA Isolation and Northern Blot Analysis. Bio-protocol 4(6), 2014 Consultado
em meio eletrônico em: 6 nov. 2020.
SACRAMENTO STATE. Southern blotting: Probe labeling & Detection. Consultado em meio
eletrônico em: 6 nov. 2020.
VAN DEN ENT, F.; LOWE., J. RF cloning: A restriction-free method for inserting target genes
into plasmids. J. Biochem. Biophys. Methods 67 (2006) 67–74.
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CONTEUDISTA
Camila Freze Baez
CURRÍCULO LATTES