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Organização e regulação do material genético (p.

125-133)

Expressão génica

Todas as células de um organismo possuem a mesma informação genética, pois resultaram da multiplicação
de uma mesma célula inicial, o ovo. Contudo, a razão pela qual as células se tornam diferentes do ponto de vista
estrutural e molecular reside no facto de sofrerem um processo de diferenciação, o qual resulta da regulação da
expressão dos seus genes, sendo, em cada célula, expressa apenas uma parte do genoma que determinará as suas
características.

Esta regulação do material genético foi estudada em seres procariontes, nos quais o controlo da expressão
génica tem por base operões, isto é, o conjunto de genes estruturais, com funções relacionadas, que serão
transcritos e de genes que os controlam.
Como tal, constatou-se que, esta expressão génica ocorre essencialmente a nível da transcrição e que os
organismos procariontes reagem às flutuações do meio ambiente, variando a expressão dos seus genes e ajustando
o seu metabolismo, o que conduz a uma maior eficiência energética.
Estudou-se então dois principais mecanismos de controlo da expressão dos genes em bactérias, sendo eles,
os operões indutíveis e os operões repressíveis.
Foram então estudados 2 genes diferentes: os genes envolvidos no metabolismo da lactose ( operão lac) e os
genes envolvidos na síntese de triptofano (operão trp).

Cada operão é constituído por:


 Genes estruturais: codificam proteínas com funções relacionadas;
 Gene promotor: região onde a enzima RNA polimerase, responsável pela transcrição dos genes estruturais,
se liga;
 Gene operador: controla o acesso da RNA polimerase, permitindo ativar/desativar a transcrição dos genes
estruturais;
 Gene regulador ou repressor: codifica um repressor específico que é contiuamente transcrito (fora do
operão).

Operão LAC

O operão da lactose é formado por três genes estruturais que codificam as enzimas necessárias ao
metabolismo da lactose e por dois segmentos de DNA que controlam a transcrição dos genes estruturais – o
promotor e o operador.

Ausência de Lactose no Meio

Quando não existe lactose no meio, um repressor (que é codificado, de forma ativa, pelo gene
repressor) está ligado ao operador, bloqueando a transcrição dos genes estruturais. Desta forma, os genes
estruturais que codificam as proteínas associadas ao metabolismo da lactose não são transcritos.

Presença de Lactose no Meio

Quando existe lactose no meio, esta molécula liga-se ao repressor e altera a sua conformação de tal forma
que este se torna inativo, desligando-se do operador. Desta forma, o operador fica livre, permitindo que os genes
estruturais sejam transcritos e posteriormente traduzidos, formando-se as enzimas necessárias ao metabolismo da
lactose.
A lactose funciona como um indutor, pois a sua presença permite ativar o operão. Por este facto, o operão
da lactose é, por vezes, designado operão indutível.

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Assim, devido aos fenómenos de autorregulação descritos, garante-se um controlo essencial para a
poupança de recursos e uma resposta rápida a variações das condições ambientais.

Operão TRP

O operão do triptofano é formado por cinco genes estruturais que codificam as enzimas necessárias à
síntese do aminoácido triptofano, associados a um promotor e a um operador.

Baixos Níveis de Triptofano no Meio

Quando os níveis intracelulares de triptofano no meio são baixos, o


repressor codificado pelo gene repressor encontra-se num estado inativo, não se
ligando ao gene promotor. Desta forma, ocorrerá a transcrição dos genes
estruturais do operão pela RNA polimerase, originando-se assim enzimas
necessárias à síntese de triptofano o que conduzirá a um aumento da concentração
de triptofano.

Elevados Níveis de Triptofano no Meio

Quando a concentração deste aminoácido começa a atingir níveis elevados,


algumas moléculas de triptofano ligam-se ao repressor, modificando a sua
conformação e tornado-o ativo (diz-se, por isso, que o triptofano funciona como
um correpressor). Desta forma, o repressor liga-se ao operador, bloqueando a
transcrição dos genes estruturais do operão.

Regulão

Nas situações anteriores, verificava-se que a regulação era feita à custa de uma proteína repressora,
dizendo-se por isso que se trata de uma regulação negativa. Além disso, cada tipo de operão (lactose ou triptofano)
era controlado por um regulador diferente. Contudo, existem situações em que um grupo de operões é controlado
por um único tipo de regulador, designado de regulão.
A existência deste regulão permite controlar simultaneamente um conjunto de operões envolvidos no
catabolismo de glícidos. Ao ativar estes operões com o mesmo regulador, obtém-se uma eficiente conversão de
diferentes glícidos em glicose, permitindo satisfazer mais rapidamente as necessidades da célula deste nutriente.
Existem muitos outros conjuntos de genes
bacterianos que constituem regulões e que cuja ativação
ou repressão resulta de alterações ambientais, tais como
variações bruscas da temperatura, alterações da
quantidade de água, de oxigénio ou de outras substâncias
presentes no meio. Desta forma, é possível responder de
forma rápida e eficiente às modificações ambientais.
Fundamentos de Engenharia Genética (p.166-177)

A engenharia genética, ou manipulação do material genético, diz respeito ao conjunto de técnicas e


ferramentas de biologia molecular que permitem manipular o DNA.

Ferramentas da Engenharia genética

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Enzimas

Enzima de restrição: As enzimas de restrição, ou endonucleases de restrição, são capazes


de reconhecer pequenas sequências específicas de nucleótidos, cortando a molécula de
DNA apenas nesses locais.
Cada enzima tem uma determinada sequência de reconhecimento. Algumas
enzimas originam extremidades coesivas e outras extremidades rombas.

DNA Ligase: A DNA ligase catalisa a formação de ligações fosfodiéster, de modo a unir de novo os nucleótidos.

DNA Polimerase: Permite a replicação do DNA e necessita de uma cadeia molde e de um primer (fragmento
iniciador)

Transcriptase Reversa: É retiradas de retrovírus, que converte o seu material genético (RNA) em DNA quando
infetam o hospedeiro. Lê uma sequência de mRNA e sintetiza uma cadeia de DNA complementar – cDNA.
Permite,assim, obter uma molécula de DNA sem intrões.

Vetores

Plasmídeos: Servem de veículo para introduzir DNA estranho em células vivas. São moléculas
circulares de DNA de
cadeia dupla existentes nas bactérias. Podem replicar-se de forma independente do DNA
bacteriano.

Bacterifagos: Servem de veículo para introduzir DNA estranho em células vivas. São vírus que atacam bactérias.
Permite introduzir fragmentos de DNA maiores.

Técnicas de Engenharia genética

DNA recombinante

A tecnologia do DNA recombinantes (rDNA) consiste na produção de


moléculas de DNA a partir da combinação de genes com proveniências diferentes.
Este processo é constiuído por várias fases:
1. Reconhecimento pelas enzimas de restrição dos genes de interesse;
2. Corte do gene de interesse e do vetor com a mesma enzima de
restrição;
3. Inserção do gene de interesse no vetor com a ajuda da DNA ligase,
dando origem ao DNA recombinante;
4. Introdução do vetor recombinante na célula hospedeira, que copia o
vetor e o DNA de interesse (clonagem) que poderá ser extraído para
outros fins (como produção de genes humanos em bactérias para que estas produzam em larga escala
uma determinada proteína – insulina).

O processo de multiplicação dos organismos que contêm rDNA permite não só a produção da substância
codificada pelo gene inserido, como também a clonagem desse gene. Os investigadores conservam, assim, cópias
desses genes, constituindo bibliotecas genómicas ou bibliotecas de genes.

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DNA complementar

As bibliotecas de genes podem, também, ser


conseguidas através da produção de DNA
complementar (cDNA).

A produção do cDNA é possível devido à


ação da enzima transcriptase reversa. Esta técnica é
utilizada quando se pretende clonar genes sem os
seus intrões, pois o DNA obtido (cDNA) é produzido
a partir de uma molécula de mRNA maturado.
Obtem-se um DNA livre de intrões, ótimo
para introduzir em plasmídeos, já que os procariontes não têm capacidade para a sua excisão.
A produção de cDNA pode-se dividir nas seguintes fases:
1. Isolamento do mRNA maturado presente numa célula;
2. Adição da transcriptase reversa ao mRNA que criará a cadeia molde do cDNA;
3. Degradação do mRNA para formação da cadeia complementar do cDNA;
4. Adição de um iniciador para a DNA polimerase;
5. Síntese de DNA por uma polimerase, formando um DNA em cadeia dupla.

Reações de Polimerização em Cadeia (PCR)

Esta técnica permite fazer várias cópias a partir de um só fragmento da


molécula. Desta forma, procede-se à amplificação dessa porção do DNA, o que é
extremamente importante quando a amostra de DNA que se possui para a
análise é muito reduzida. Procede-se ao aquecimento da amostra com vista à
separação das duas cadeias. De seguida, fornecem-se nucleótidos e DNA
polimerase, para que se produza uma dupla cadeia a partir da cadeia simples.
Repetem-se estes passos o número de vezes necessário até se obter o número
de cópias pretendido.

Eletroforese

Técnica utilizada para separar fragmentos de DNA de diferentes tamanhos, com a


ajuda de um campo eléctrico.
1. As amostras de DNA são carregadas nos poços de um gel de agarose;
2. Os poços do gel devem ficar orientados para o polo negativo da tina;
3. O DNA migra do polo negativo para o positivo;
4. Os fragmentos de DNA deslocam-se a diferentes velocidades (Fragmentos maiores
deslocam-se lentamente e fragmentos menores deslocam-se rapidamente);
5. Usa-se um marcador para determinar o tamanho dos fragmentos;
6. Para se visualizarem as banda é necessário a adição de um corant às amostras de
DNA antes da adição nos poços.

Este processo pode ser aplicado em técnicas como DNA fingerprint que permite identificar um indivíduo a
partir do seu padrão de DNA específico.

Terapia génica

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A terapia génica consiste na introdução de genes clonados em células de um organismo com o objetivo de
curar uma doença.

Exemplo: A ADA (desaminase da adenosina) é uma enzima envolvida no metabolismo dos nucleósidos. Quando
existe uma alteração em ambos os genes da ADA, verifica-se uma acumulação de desoxiadenosina nas células. Em
concentrações elevadas, a desoxiadenosina torna-se tóxica para as células do sistema imunitário, nomedamente
para os linfócitos B e T. Esta situação conduz a uma imunodeficiência severa combinada (SCID), sendo normalmente
fatal.

Esta técnica pode ser aplicada na produção de OGM:

De forma genérica, designam-se organismos geneticamente modificados (OGM) aqueles cujo genoma foi
manipulado, apresentando diferenças relativamente à sua constituição original. Os OGM podem ser designados
orga- nismos transgénicos quando, em resultado desta manipulação, possuem material genético de outros
organismos inserido no seu genoma.
A manipulação genética permite obter, de forma rápida, organismos detentores de características
vantajosas, tais como:
– maior resistência a doenças, a herbicidas, ao calor, à seca e à geada, e redução das necessidades em
fertilizantes;
– desenvolvimento de produtos com maior valor e qualidade alimentar (maior tamanho, maior valor
nutritivo);
– produção de fármacos que sejam administrados nos seres humanos juntamente com o alimento.

A tecnologia do rDNA permite que esses genes sejam


introduzidos no genoma da planta recorrendo a um vetor
(normalmente, um plasmídeo).
O plasmídeo recombinante é inserido numa cultura de
células da planta in vitro, de forma a que os novos genes sejam
incorporados no DNA do núcleo destas células. Por fim, estas
células são estimuladas a dividirem-se, originando uma planta
transgénica adulta que expressará a nova característica e a
passará à sua descendência.
Nos animais recorre-se a bombardeamento de partículas
ou microinjeção de um plasmídeo com o gene de interesse no
zigoto.
A produção de proteínas por animais transgénicos
apresenta algumas vantagens relativamente à produção desses produtos por

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bactérias. De facto, algumas proteínas produzidas com base na tecnologia do DNA recombinante são mais funcionais
do que quando produzidas por bactérias. Este facto parece resultar das modificações pós-traducionais que ocorrem
nos mamíferos, mas não nos procariontes.

A Engenharia Genética tem desenvolvido técnicas que são utilizadas, atualmente, em diversas áreas como a
Medicina, a Agricultura e a Indústria. Estes progressos têm tanto de notáveis como de perturbadores, questiona-se a
sua segurança bem como as suas implicações éticas, sociais e mesmo religiosas.
Contudo, não podemos esquecer que a Engenharia Genética tem permitido feitos que se refletem na
melhoria da qualidade de vida da sociedade. Julga-se, assim, ser fundamental que a sociedade conheça e
compreenda, de forma rigorosa, o impacto que as novas tecnologias de manipulação dos seres vivos e da vida
produzem ou podem vir a produzir. De igual modo, é importante que a ciência avance de forma cautelosa, pois os
perigos e os benefícios desta área do conhecimento estão, ainda, longe de ser totalmente conhecidos.

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