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Técnica de DNA recombinante.

Biotecnologia
A tecnologia de DNA recombinante envolve o uso de
1. Técnicas de engenharia genética enzimas e técnicas laboratoriais para isolar e
manipular segmentos de DNA de interesse.
A biotecnologia é uma área do conhecimento
científico que utiliza processos celulares e moleculares Esta técnica permite combinar na mesma molécula de
presentes nos seres vivos para desenvolver tecnologias DNA genes provenientes de fontes diferentes, como
e produtos a uma escala industrial que ajudam a por exemplo diferentes espécies, ou criar genes com
melhorar as nossas vidas e a remediar situações de novas funções, culminando com a formação de uma
desequilíbrio ambiental. molécula de DNA recombinante, (rDNA)

A engenharia genética constitui um pilar fundamental Esta técnica baseia-se na utilização de ferramentas
da biotecnologia atual, esta é definida como a nucleares como as enzimas de restrição, as ligases do
manipulação direta dos genes de um organismo, com DNA e os vetores.
um determinado objetivo. Compreende várias técnicas
- As enzimas de restrição, ou endonucleases de
que permitem atuar sobre o material genético no
restrição, reconhecem determinadas sequências de
sentido de o alterar ou reparar, de modo a melhorar a
nucleótidos e cortam as duas cadeias de nucleótidos
forma ou a função de um organismo. São várias as
do DNA em locais específicos da molécula. As zonas
técnicas da engenharia genética e as suas aplicações.
de restrição correspondem a sequências de DNA
São essenciais para: curtas e simétricas, que se leem da mesma maneira
nas duas cadeias de 5’-3’. As enzimas mais utilizadas
 A produção de produtos agrícolas e reconhecem sequências contendo entre quatro e oito
farmacêuticos nucleótidos. Como as sequências curtas ocorrem
 Terapia génica muitas vezes numa molécula de DNA longa, uma
 Desenvolvimento de vacinas enzima de restrição fará vários cortes nessa molécula
 Na agropecuária, de forma fazer o de DNA, produzindo um conjunto de fragmentos de
melhoramento genético, controlo biológico de restrição. As extremidades em cadeias simples
pragas. chamam-se de extremidades coesivas.
 Recuperação ambiental de solos e águas
poluídas.

As aplicações das técnicas e dos produtos da


engenharia genética têm sido alvo de polémicas, uma
vez que levantam problemas éticos relacionados com

≫ A modificação do material genético natural


≫ A produção de organismos geneticamente
modificados (OGM) assim como a sua
clonagem, uma vez que pode ter um impacto
negativo na saúde e nas cadeias alimentares.

As extremidades coesivas de diferentes fragmentos de


restrição, que foram cortados pela mesma enzima de
restrição, possuem bases complementares e
emparelham através de pontes de hidrogénio.

As ligases do DNA, catalisam a formação de ligações


de fosfodiéster entre os nucleótidos adjacentes na
mesma cadeia, que unem os fragmentos de restrição
com diferentes origens, formando molécula de DNA
recombinante.

A partir das décadas de 70 do sec XX, estava


estabelecido o modelo da estrutura da molécula de
DNA, que conduziram à transformação genética dos
organismos.
Etapas da técnica de DNA recombinante. Esta técnica consiste no isolamento e identificação de
elementos variáveis na sequência de bases da
Um vetor é uma entidade, constituída por DNA, que molécula de DNA.
transfere um determinado gene de uma célula para
outra. Os vetores mais utilizados são os plasmídeos e os É utilizado para o caso do DNA e do RNA um gel de
bacteriófagos. Os plasmídeos são pequenas moléculas agarose, este é um polissacarídeo que atua como uma
circulares de DNA que ocorrem naturalmente em “peneira” para separar os ácidos nucleicos, sobretudo
algumas bactérias, leveduras e células vegetais. com base no tamanho das moléculas e na sua carga
elétrica.
1. Extração e purificação do DNA, seguidas do
isolamento do gene de interesse, com uso de O DNA possui cargas negativas nos seus grupos fosfato,
uma enzima de restrição. o que provoca o movimento em direção ao polo
2. Seleção do vetor, uma molécula de DNA positivo de um campo elétrico.
usada como veículo para conduzir o gene de
interesse para outra célula, na qual será Durante o seu movimento, as moléculas vão sendo
replicado e/ou não expresso. separadas por tamanho. São as mais pequenas que
3. A molécula de DNA e o vetor são tratados com avançam mais no gel.
a mesma enzima de restrição, que corta as Assim, as moléculas são separadas em bandas, cada
duas moléculas em regiões com a mesma uma com vários milhares de moléculas de DNA com o
sequência de nucleótidos. mesmo tamanho. Esta técnica tem sido utilizada na
4. Misturam-se os fragmentos de restrição da análise de restrição, permitindo separar de uma forma
molécula de DNA e o vetor e juntam-se DNA rápida diferentes fragmentos de moléculas de DNA
ligases. Dá-se o emparelhamento pelas clivada.
extremidades coesivas, que são
complementares, inserindo-se o gene no vetor Etapas da eletroforese
com a intervenção de uma DNA ligase.
(clonagem molecular). 1. É obtida uma amostra de material biológico
5. Introdução do plasmídeo/vetor de rDNA na contendo DNA.
célula hospedeira que pode ser procariótica 2. O DNA é cortado com enzimas de restrição.
ou eucariótica. Para comparar impressões digitais genéticas
6. Seleção de células hospedeiras/clones nas de diferentes indivíduos o seu DNA terá de ser
quais o gene de interesse foi inserido com cortado com a mesma enzima de restrição. O
sucesso no vetor, no processo descrito tamanho e a composição em nucleótidos dos
formam-se fragmentos de restrição que não fragmentos de DNA varia de indivíduo para
têm o gene desejado e nem todas as células indivíduo.
recetoras incorporam o DNA dador. 3. Os fragmentos de DNA são sujeitos à ação de
um campo elétrico num meio poroso (gel de
agarose, deslocando-se para o polo positivo, e
percorrem uma distância tanto maior quanto
menor for o seu tamanho.
4. Após coloração e exposição à luz UV, forma-se
um padrão de bandas que difere de indivíduo
para indivíduo, os perfis obtidos podem ser
comparados com um padrão que permite a
sua identificação.

Eletroforese- DNA fingerprint. Técnica do cDNA- DNA complementar.


Uma das técnicas mais importantes nos estudos das Em engenharia genética, a técnica de síntese de DNA
moléculas de DNA, RNA e proteínas é a eletroforese. complementar, consiste na produção de uma
molécula de DNA partir de uma molécula de mRNA.
Esta é aplicada em diversos contextos tais como:
Os procariontes são seres vivos muito utilizados em
≫ Na análise forense (investigação criminal) engenharia genética como recetores de DNA
≫ Na determinação de graus de parentesco estranho, porque são fáceis de cultivar, têm um
≫ Na determinação de relações evolutivas entre crescimento rápido e processos bioquímicos bem
espécies. conhecidos. No entanto, não processam o mRNA e,
quando recebem genes com intrões, estes não são - Para realizar uma amplificação por PCR são
retirados e a proteína produzida não é funcional. necessárias:

Assim é necessário remover os intrões antes da inserção  DNA polimerases


de um gene de um eucariótico num vetor, e a sua  Nucleótidos livres
posterior introdução dentro de uma bactéria.  Um primers de DNA
 Uma solução-tampão com iões Mg2+
Este problema pode ser ultrapassado pela obtenção e necessário á atividade da DNA polimerase.
transferência de DNA complementar.
Esta técnica é executada num aparelho denominado
O cDNA é uma molécula de DNA sem intrões que é termociclador, uma vez que sujeita as moléculas de
diretamente transcrita numa molécula de mRNA DNA a alterações cíclicas de temperatura e permite a
funcional. O processo de obtenção de cDNA é o obtenção de bilhões de cópias de apenas uma
seguinte. molécula de DNA, em poucas horas.
1. Dá-se a lise celular e isola-se e purifica-se uma
molécula de mRNA funcional das células que
sintetizam as proteínas desejadas.
2. Adiciona-se transcriptase reversa e nucleótidos
livres. A transcriptase reversa catalisa a síntese
de uma cadeia simples de DNA a partir de um
molde de mRNA.
3. Junta-se uma enzima que degrada o mRNA
que serviu de molde.
4. Adiciona-se DNA polimerase que catalisa a
formação da cadeia complementar do DNA. As etapas desta técnica são as seguintes:

1. A porção de DNA que se pretende amplificar


é aquecida a 95º, de modo a separar as duas
cadeias de dupla-hélice, por rutura das
ligações de hidrogénio entre as bases
complementares das duas cadeias, dando
origem a duas cadeias simples. A molécula de
DNA fica então desnaturada.
2. A temperatura é reduzida/arrefecida a 45º-65º,
e os reagentes lá presentes são: nucleótidos
livres; DNA polimerase resistente ao calor e
obtida través de microrganismos termófilos e
primers. É à temperatura de
aproximadamente 55º, que os primers
emparelham com as cadeias de DNA por
complementaridade.
3. A temperatura é aumentada para 72º, e a
DNA polimerase catalisa a formação de
Reações em cadeia da polimerase- PCR cadeias complementares, por ligação de
nucleótidos livres às cadeias-molde. A
A PCR, é uma técnica laboratorial de polimerização de
atividade da DNA polimerase é máxima à
DNA in vitro, que permite produzir muito rapidamente
temperatura de 72º.
milhões de cópias de um segmento específico de DNA.
4. O procedimento é repetido e em cada ciclo o
É um processo exponencial, designado de número de moléculas de DNA duplica. Até se
amplificação. obter a quantidade de DNA desejada.

-Tal como acontece com a DNA polimerase em


ambiente celular, também na técnica de PCR são
necessários primers para iniciar o processo de
replicação.

- Os primers utilizados são sintetizados quimicamente


com cerca de 20 nucleótidos.

- Os primers apenas hibridizam com a sequência


complementar exata (cadeia-molde). Este aspeto
permite, através da escolha de sequências de primers
determinar com exatidão a região do DNA a ser
amplificada.
Após a conclusão do processo de amplificação, uma
amostra da reação de PCR é sujeita à eletroforese
para determinar se um fragmento de DNA foi
amplificado com sucesso ou não.

Técnica de edição genética.


Na última década, a engenharia genética deu um
enorme passo em frente com a técnica de edição
genética, que é uma forma simples, versátil e precisa
de manipulação dos genes.

A CRISP-Cas9, ou edição genética, é uma tecnologia


de edição do genoma, que utiliza sistemas enzimáticos
designados por CRISP-Cas.

Esta é uma ferramenta simples, mas poderosa, que


permite editar genomas através da alteração das
sequências-alvo de DNA e consequente modificação
da função dos genes. O sistema de edição genética
consiste em duas moléculas-chave que introduzem
alterações numa região previamente selecionada do
DNA e que são:

 A enzima Cas9, que é uma endonuclease de


restrição (enzima que quebra ligações de
fosfodiéster entre nucleótidos) e atua como
um “par de tesouras moleculares” cortando as
duas cadeias de DNA num local específico no
genoma.
 A molécula de RNA guia, que inclui uma
sequência específica de sequência-alvo do
DNA que se pretende editar, mas também
uma sequência para a qual a Cas9 tem
afinidade e à qual se liga). É a molécula de
RNA guia que direciona o complexo CRISP-
Cas9, para a sequência-alvo, ligando por
complementaridade de bases a uma das
cadeias do DNA.

Adjacente à sequência-alvo, terá de estar presente


uma sequência muito curta (alguns nucleótidos de
comprimento) chamada “motivo adjacente proto
espaçador” (PAM), que é reconhecida pela enzima
Cas9, estabilizando-se nesse local e permitindo o corte
enzimático na cadeia dupla da sequência-alvo do
DNA.

O RNA-guia “guia” a Cas9 para a região selecionada


do DNA, o que garante que a enzima efetue o corte.

Uma vez que a molécula de DNA é cortada, os


mecanismos de reparação da célula entram em ação
e unem naturalmente as duas extremidades. Destas
junções, pode resultar a inativação dos genes, a
correção de mutações génicas graves ou a
substituição de genes.

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