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A Engenharia Genética tem-se destacado como prática para a geração de novas tecnologias, em áreas como

a Medicina, a Agricultura e a Indústria.


Ao longo do tempo, a Engenharia Genética encontra cada vez mais sítio para a sua prática, desenvolvendo
novos processos. Surgiram então a técnica do DNA recombinante, do DNA complementar e da reação de
polimerização em cadeia. Todas estas técnicas acarretam diversas vantagens, nomeadamente a melhoria da
qualidade de vida da sociedade. Contudo, apresentam também desvantagens, bem como problemas
bioéticos.
Neste trabalho pretendemos explorar todas estas técnicas bem como estas mesmas vantagens e
desvantagens e os problemas éticos.

Começaremos então por fazer uma pequena abordagem aos temas do DNA e RNA esclarecidos em anos
anteriores. O DNA (ácido desoxirribonucleico) codifica informação hereditária e a passa de geração em
geração. São constituídas por uma dupla cadeia de nucleótidos, desenvolvendo-se ambas as cadeias no
sentido 5`-> 3`, de modo antiparalelo. Os nucleótidos são constituídos por um grupo fosfato, um açúcar,
desoxirribose, e uma de quatro bases azotadas, adenina, guanina, timina e citosina
O RNA é formado por uma cadeia simples de nucleótidos, apresentando dimensões muito inferiores às da
molécula de DNA. Através de uma molécula intermediária de RNA (mRNA), a informação codificada no
DNA é utilizada para especificar a sequência de aminoácidos de uma proteína.

Este DNA e RNA serão um forte aliado à engenharia genética. Esta que é um dos principais pilares da
biotecnologia. Consiste num conjunto de técnicas de isolamento, manipulação e/ou de introdução do DNA
de determinados organismos. Essas técnicas, permitem atuar sobre o material genético no sentido de o
alterar ou reparar, tendo como objetivo produzir organismos geneticamente melhorados.
É a engenharia genética que permite conhecer melhor algumas das doenças humanas, oferece produtos
cativantes à indústria e tenta libertar a agricultura das suas dependências em relação aos adubos e aos
pesticidas.

Vamos então recuar um pouco na história e entender o aparecimento desta tecnologia tão importante. Até à
década de 70, o DNA era o componente celular mais difícil de ser analisado. A sua sequência de nucleótidos
era geralmente analisada através de meios indiretos. A partir da década de 70 novas tecnologias foram
desenvolvidas e permitiram a manipulação do DNA. Abriram a molécula de DNA, extraíram genes,
transplantaram-nos para outras células, multiplicaram alguns desses genes milhões e milhões de vezes e
“criaram, em tubo de ensaio”, seres que não surgiram como resultado de milhões de anos de evolução.
A transferência direta de DNA de um organismo para outro foi realizada pela primeira vez em 1972,
seguiu-se o primeiro animal geneticamente modificado, um rato, e em 1983 ocorreu-se a primeira planta
geneticamente modificada, a planta do tabaco. Avanços seguidos que permitiu aos cientistas manipular e
adicionar genes para uma variedade de organismo diferente e induzir uma variedade de efeitos diferentes.
Em 1976, a tecnologia foi comercializada, com o advento de bactérias geneticamente modificadas.
Todos estes avanços tecnológicos proporcionam-nos cada vez mais conhecimentos sobre o genoma dos
seres vivos, na qual, teve uma grande contribuição nas áreas da medicina, da agricultura e da indústria.

Em seguida abordaremos algumas técnicas aderentes à engenharia genética, mas para isso será relevante
explicitar o que são enzimas de restrição uma vez que estarão presentes em todas essas técnicas. Os vírus
invadem frequentemente as bactérias e afetam o seu DNA. Algumas bactérias possuem um mecanismo de
defesa contra os vírus que consiste na produção de enzimas de restrição. Estas enzimas cindem a cadeia de
DNA em pontos específicos, as zonas de restrição, e catalisam o desdobramento do DNA em fragmentos
menores por hidrólise.
Estes fragmentos contêm nas suas extremidades a sequência que foi reconhecida pela enzima de restrição.
A descoberta das enzimas de restrição e das ligases do DNA forneceu aos investigadores a oportunidade de
manipular e transferir genes de uma molécula de DNA para outra, isto é, de um organismo para outro.
As enzimas de restrição permitiram desenvolver umas das metodologias mais utilizadas pela engenharia
genética, ou seja, a tecnologia do DNA recombinante (rDNA). Para uma melhor compreensão desta técnica
será importante o estudo de alguns corpos inerentes a este processo.
Um vetor é uma dessas entidades. Transfere o DNA de uma célula ou de um organismo dador para outra
célula ou um organismo recetor.
Os vetores mais utilizados são os plasmídeos e os bacteriófagos.
Na técnica do DNA recombinante, será necessário o recurso a plasmídeos, pequenas moléculas circulares
de DNA que ocorrem naturalmente em algumas bactérias, leveduras e células vegetais. Estas moléculas
destacam-se, pois, são capazes de se replicar independentemente do DNA cromossómico. Estes ligam-se a
determinados compostos, tornando-os mais densos, permitindo a sua separação por centrifugação.
Mas então em que consiste esta técnica de DNA recombinante?

1. Isola-se DNA de dois organismos, um plasmídeo e uma célula contendo o gene de interesse. Para
que se tenha o DNA recombinante, é necessário utilizar as enzimas de restrição. Esta mesma enzima
irá reconhecer e fragmentar a sequência alvo específica de cada organismo, ou seja, esta “corta” a
molécula de DNA do plasmídeo e a molécula de DNA dadora nesse ponto específico. A que
funcionará como dadora será isolada do gene que se quer inserir no plasmídeo.
2. O fragmento de DNA a inserir é colocado em contacto com o plasmídeo, juntamente com a DNA
liga-se, formando o plasmídeo recombinante contendo o gene de interesse. A DNA liga-se é
responsável por selar as lacunas do eixo do DNA, funcionando como uma “cola”. O gene passa
assim a fazer parte do plasmídeo que possui agora, para além dos seus genes, o gene estranho que lhe
foi inserido, ou seja, possui um DNA recombinante.
3. A molécula de DNA recombinante produzida é introduzida em um organismo hospedeiro, as
bactérias, podendo então ser replicadas. As células hospedeiras copiam o DNA do vetor juntamente
com o próprio DNA, criando múltiplas cópias do DNA inserido.
4. A partir do DNA recombinante, o gene inserido passa a comandar a síntese da proteína desejada,
possibilitando a multiplicação celular. As bactérias servem como “mini fábricas”, produzindo
grandes quantidades de proteína. Por exemplo, se nosso plasmídeo continha o gene da insulina
humana, as bactérias começariam a transcrição do gene e a tradução do RNAm para produzir muitas
moléculas da proteína insulina.

Esta técnica possui inúmeras aplicações e vem ganhando cada vez mais importância nos últimos anos. Entre
as possibilidades estão o desenvolvimento de proteínas recombinantes mais seguras para o tratamento de
doenças, o aprimoramento da terapia genética, a produção de vacinas, além do uso na agricultura.

Terapia genética: consiste na inserção de genes nas células/tecidos de um indivíduo com o intuito de tratar
uma doença hereditária. A terapia genética visa suplementar com alelos funcionais aqueles que são
defeituosos ou mortos.

Obtenção de OGM

1. Produção de alimentos em maior quantidade: um exemplo disto é a produção de leite (a


somatotrofina bovina recombinante é muito usada na produção de leite nos Estados Unidos).

2. Produção de grandes quantidades de substâncias com aplicação médica/farmacêutica: por exemplo


a insulina (primeira proteína humana produzida comercialmente através da modificação de bactérias
utilizando a engenharia genética), hormona do crescimento (auxilia na correção da baixa estatura em
casos correlacionados com a ausência ou pequena produção desta hormona).

3. Produção de substâncias com aplicação agronómica: um exemplo desta produção serão as plantas
com inseticidas (um uso pioneiro e economicamente importante)

Passaremos agora à abordagem da técnica do DNA complementar. Os procariontes são organismos muito
utilizados na engenharia genética como recetores de DNA desconhecido, porque são fáceis de cultivar, tem
um crescimento rápido e apresenta processos bioquímicos bem conhecidos. No entanto, não têm
mecanismos de maturação do mRNA e quando se introduzem genes, estes organismos vão ler tanto os
intrões como exões o que faz com que os intrões não sejam retirados e a proteína produzida não seja
funcional. Assim o cDNA facilita a produção de proteínas de seres eucariontes em bactérias, pois ao ser
inserido nas bactérias (seres procariontes) um clone de cDNA garante-se a produção da proteína normal.

O DNA complementar é então DNA sintetizado a partir de um molde de mRNA maduro (sem os intrões)

O nome DNA complementar não parece um termo totalmente desconhecida para nós, será que conseguem
decifrar em que é que consiste esta técnica de DNA complementar?

O cDNA é obtido a partir do RNA mensageiro (mRNA) maturado (isto é, foram removidos os intrões,
ficando apenas com exões) por complementaridade de bases. Esta transcrição em sentido inverso é
conseguida através da ação de uma enzima denominada transcriptase reversa. Assim, o mRNA funciona
como molde para a síntese de uma cadeia de DNA. Após a formação da cadeia de DNA, a enzima DNA
polimerase atua, formando, por complementaridade, a outra cadeia de DNA a partir dos nucleótidos
presentes no meio, constituindo-se uma molécula estável.
Com isto, ao ser introduzida num microrganismo através de um vetor, vai produzir uma proteína de
interesse. Todos os cDNA que se sintetizam a partir do RNA podem ser clonados em bactérias, originando
uma biblioteca de cDNA em que toda a informação fica armazenada em bactérias por longos períodos de
tempo, desde que sejam fornecidas todas as condições indispensáveis para a sua manutenção.

Esta técnica é muitas vezes utilizada na obtenção de cópias de genes que codificam produtos com interesse.
Torna possível a produção de proteínas humanas por procariontes que podem ser cultivados facilmente em
biorreatores. É muitas vezes utilizada para tratamento de algumas doenças humanas. Por exemplo, o cDNA
de vários humanos foram clonados em E.coli (um tipo de bactéria), e estas passaram a sintetizar proteínas
que após extraídas e purificadas, foram usadas em tratamentos.

As reações de polimerização em cadeia são uma das técnicas para clonar DNA de modo a obter grandes
quantidades a partir de uma pequena amostra.

1. A dupla hélice de DNA é copiada. A esta molécula adicionam-se primers*, nucleótidos livres e
DNA-polimerase resistentes ao calor.

*primers - oligonucleótidos sintéticos de DNA de cadeia simples (10 a 30 bases) que se vão ligar ao DNA
em pontos específicos, delimitando a zona a copiar.

2. Aquecimento do DNA para separar as duas cadeias;


3. Aquando do arrefecimento, alguns primers ligam-se a zonas específicas da cadeia simples de DNA.
4. A partir dos primers reconstitui-se a dupla hélice de DNA-polimerase, pois esta reconhece os
primers como locais de iniciação da síntese.
5. Repetição do procedimento de modo a produzir cópias suficientes do DNA em estudo.
No entanto, esta técnica apresentou uma dificuldade em conciliar um processo que decorre a elevadas
temperaturas com a fragilidade da enzima DNA-polimerase. Recorreu-se assim aos microrganismos,
extraindo a enzima de DNA-polimerase de bactérias que vivem em meios muito quentes.

Esta técnica auxilia em várias atividades:


➔ Obtenção de DNA para o fingerprint e para a técnica de DNA recombinante;
➔ Testes genéticos para identificar desordens genéticas;
O rastreamento genético é cada vez mais comum durante o período de pré-implementação do
processo de fertilização in vitro e serve para determinar se um feto é saudável antes de ser
implantado. São realizados também para o diagnóstico genético de doenças raras.
➔ Diagnóstico de doenças bacterianas ou virais.
Um exemplo é os testes de covid RT-PCR, que têm esta designação por ser utilizada a técnica da
reação em cadeia da polimerase.

Outra técnica da engenharia genética é o DNA fingerprint. No genoma humano existem sequências de DNA
repetidas (zonas de restrição) que são reconhecidas e cortadas por determinadas enzimas de restrição. Estas
enzimas dividem o DNA em fragmentos cujas número, tamanho, localização e nucleótidos são variáveis de
indivíduo para indivíduo e refletem as diferenças entre os alelos dos vários loci.
Quando submetidos à técnica de eletroforese, fragmentos de DNA distintos movimentam-se de forma
diferente. Esta técnica consiste em colocar a amostra de uma determinada proteína num gel ao qual se aplica
uma corrente elétrica no sentido de proceder à separação de variantes da proteína, isto é, a mesma proteína
pode diferir em alguns aminoácidos, o que lhe confere propriedades elétricas diferentes, fragmentos de DNA
distintos movimentam-se de forma diferente.
O resultado é um padrão de bandas que difere de indivíduo para indivíduo, funcionando como um “código
de barras” genético.

O DNA fingerprint é utilizado por exemplo na Investigação criminal: esta técnica permite a partir de
material biológico deixado num local, a identificação dos suspeitos de um crime, bem como a identificação
de cadáveres.

Testes de paternidade: a comparação da impressão digital dos progenitores e dos descendentes permite
confirmar ou excluir a paternidade com um elevado grau de credibilidade.

Existem alguns obstáculos na expressão de genes eucariontes em bactérias.

● Deve associar-se o gene às sequências promotoras (regiões do DNA que iniciam a transcrição de um
determinado gene) e reguladoras mais apropriadas e que possam ser reconhecidas pela RNA
polimerase da bactéria (as zonas de regulação da expressão génica em procariontes são diferentes dos
eucariontes).

A resolução deste problema pode ser obtida pela combinação de uma determinada sequência
nucleotídica com um promotor da própria bactéria, permitindo a expressão da sequência eucarionte
inserida.

● Quando se transferem genes para uma bactéria, é aconselhável que o DNA transferido já esteja
processado, uma vez que as bactérias hospedeiras não possuem enzimas para o processamento e
remoção dos intrões, introduzindo uma cópia de cDNA do gene.
A utilização e introdução no mercado dos OGM é um assunto controverso e que levanta problemas éticos.
Apesar das vantagens associadas a estes organismos, o impacto que podem vir a ter sobre o ambiente e a
saúde humana é desconhecido e imprevisível

Apesar de todas as contribuições importantes, a engenharia genética acarreta preocupações éticas. Ainda não
se sabe quais podem ser as consequências do uso dos organismos geneticamente modificados a longo prazo.
No entanto, sabe-se que a aplicação da engenharia genética a seres humanos levanta um conjunto maior de
questões éticas, morais, sociais e espirituais sobre a modificação do genoma humano. Estes problemas
bioéticos estão divididos em dois grandes subtemas: os problemas bioéticos ambientais e os bioéticos
humanos.
Problemas bioéticos ambientais:
➔ Disseminação incontrolada de genes;
➔ Alterações definidos de genomas de certas espécies
Com a genética produzimos (OGMs). Eles englobam desde vegetais, plantas, animais e humanos,
como é o caso da ovelha Dolly. Mas, o homem pode ultrapassar esse limite? Se a natureza não cria
essas modificações ou não as seleciona naturalmente, pode o homem manipular e alterar a natureza?
Os eventuais benefícios justificariam os riscos que podem advir dessa ação humana?
➔ Redução da biodiversidade, isto ocorre quando um produto torna-se o foco da indústria aquando do
seu bom desempenho. Também sabemos que plantas e animais geneticamente modificados
interagem com espécies que não possuem nenhuma manipulação genética. No entanto, ao longo do
tempo, as espécies geneticamente modificadas tendem a ser dominantes, eliminando características
das outras espécies domésticas, o que possibilita a falta de resistência a doenças, no futuro.
Problemas bioéticos humanos:
➔ Hipotética manipulação da família. Nas clínicas de Fertilização in vitro, os pais decidem, quase com
100% de acerto, o sexo do futuro filho. A análise de uma célula do embrião permitirá a certeza do
sexo. Somente os embriões saudáveis do sexo escolhido são implantados no útero materno. Seria
uma espécie de "bébé à la carte”, desenhado pelos pais a partir de suas preferências pessoais.
➔ Discriminação com base em dados genéticos: os dados genéticos são únicos, estruturais,
probabilísticos e geracionais e o direito à informação genética é uma questão de autonomia privada, a
discriminação/ divulgação das informações genéticas de um indivíduo pode conduzir ao
reducionismo, à estigmatização e à perda ou diminuição da capacidade de autodeterminação.
➔ Eugenia: Entende-se por eugenia “o estudo dos agentes sob o controle social que podem melhorar ou
empobrecer as qualidades raciais das futuras gerações seja física ou mentalmente” definido por
Galton. Identificar genes significa conhecer as raças. Não poderão estas técnicas conduzir à eugenia?
Poderão também ser criadas novas “raças”, a partir da constituição genética?

É fascinante perceber quão longe a tecnologia nos permitiu avançar, agindo em diversas áreas que há uns
anos atrás pensávamos ser impossível alcançar. Embora ainda haja algum ceticismo face à mesma e alguma
insegurança face à sua segurança, a tecnologia da engenharia genética, permitiu a evolução em diversas
áreas das ciências, como a medicina, ciência forense e farmacêutica.

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