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Disciplina: Direito Penal Esquematizado

Tema: Aplicação da Lei Penal no Tempo e no Espaço

Prof. Diego Pureza

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Disciplina: Direito Penal Esquematizado
Tema: Aplicação da Lei Penal no Tempo e no Espaço

SUMÁRIO

APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO .................................................................... 3


Tempo e Lugar do Crime ........................................................................................................... 3
Tempo do Crime .................................................................................................................... 3
Lugar do Crime ...................................................................................................................... 3
Aplicação da Lei Penal no Tempo .................................................................................................. 4
(Ir)retroatividade da lei penal ................................................................................................... 4
Eficácia da Lei Penal no Tempo ............................................................................................. 4
Sucessão de Leis no Tempo ................................................................................................... 5
Lei Temporária e Lei Excepcional .......................................................................................... 6
Lei Intermediária ................................................................................................................... 6
Conflito aparente de leis penais................................................................................................ 7
Especialidade ......................................................................................................................... 7
Subsidiariedade ..................................................................................................................... 8
Consunção ............................................................................................................................. 9
Aplicação da Lei Penal no Espaço .................................................................................................. 9
Territorialidade e Extraterritorialidade da Lei Penal............................................................... 10
Eficácia da Lei Penal no Espaço ........................................................................................... 10
Territorialidade.................................................................................................................... 10
Extraterritorialidade ............................................................................................................ 10
Pena cumprida no estrangeiro ............................................................................................ 12
Eficácia da sentença estrangeira ......................................................................................... 13

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APLICAÇÃO DA LEI PENAL NO TEMPO E NO ESPAÇO

O tema sobre aplicação da Lei Penal no Tempo e no Espaço envolve diversos assuntos
cobrados em concursos públicos. Dessa forma, por questões de didática, desmembraremos
todos os temas por tópicos para facilitar a sua compreensão.
Eis a divisão dos tópicos desta aula:

Aplicação da Lei Penal no Tempo Aplicação da Lei Penal no Espaço


Tempo e Lugar do Crime
(Ir)retroatividade da lei penal Territorialidade e Extraterritorialidade
Lei Temporária e Lei Excepcional Pena cumprida no estrangeiro
Conflito aparente de leis penais Eficácia da Sentença no estrangeiro

Tempo e Lugar do Crime

Tempo do Crime

Para a correta e justa aplicação da lei penal é imprescindível definir o tempo do crime.
Com isso, questiona-se: quando um crime se considera praticado?
Para responder tal questionamento, três teorias se apresentam:
a) Teoria da Atividade: considera-se praticado o crime no momento da conduta;
b) Teoria do Resultado: considera-se praticado o crime no momento do resultado;
c) Teoria Mista da Ubiquidade: considera o tempo do crime tanto o momento da
conduta (ação ou omissão), quanto o momento da produção do resultado (ex: local do disparo
ou local do óbito).
O Código Penal adotou em seu artigo 4º a teoria da atividade:

Art. 4º do CP: “considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão,


ainda que outro seja o momento do resultado”.

Lugar do Crime

Da mesma forma que uma infração penal pode se fracionar em tempos diversos, é
possível que ela se desenvolva em lugares diversos, percorrendo, inclusive, territórios de dois
ou mais países igualmente soberanos. Nesse sentido, é preciso avaliar qual o lugar do crime.

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 Imaginemos o seguinte exemplo: uma bomba fabricada no Brasil é enviada para


explodir e matar vítima que se encontra na Argentina.

Questiona-se: esse crime foi praticado no Brasil (devendo incidir a lei penal brasileira)
ou na Argentina (aplicando-se a lei estrangeira)?

A solução para essa pergunta nos é dada pelo art. 6º do CP:

Art. 6º do CP: “Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou


omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se
o resultado”.

Disputando responder a pergunta acima, assim como quando do estudo do Tempo do


Crime, há as três já mencionadas teorias: teoria da atividade, teoria do resultado e teoria da
ubiquidade.

Aplicação da Lei Penal no Tempo

(Ir)retroatividade da lei penal

Eficácia da Lei Penal no Tempo

Como decorrência do princípio da legalidade, aplica-se, em regra, a lei penal vigente


no tempo da realização do fato criminoso. A lei penal, para produzir efeitos no caso concreto,
deve ser editada antes da prática da conduta que visa incriminar. Excepcionalmente, será
autorizada a retroatividade da lei penal para alcançar fatos passados, desde que benéfica ao
réu.
A este fenômeno conferido à lei penal de movimentar-se no tempo (repita-se:
somente quando benéfica ao réu) dá-se o nome de extra-atividade. A extra-atividade deve ser
compreendida como gênero do qual são espécies:
a) Retroatividade: capacidade que a lei penal possui de ser aplicada a fatos praticados
antes de sua vigência.
b) Ultra-atividade: capacidade de aplicação da lei penal mesmo após a as revogação
ou cessação de efeitos.

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Sucessão de Leis no Tempo

Entre a data do fato praticado e o término do cumprimento da pena, podem surgir


várias leis penais, ocorrendo aquilo que chamamos de sucessão de leis no tempo. Ocorrendo a
sucessão de leis no tempo, é necessário observar as regras da ultra-atividade ou retroatividade.
O art. 5º, XL, da CF/88 enuncia, como regra geral, que “a lei penal não retroagirá, salvo
para beneficiar o réu”. Trata-se da irretroatividade da lei penal, excetuada somente quando esta
lei beneficia de algum modo o acusado (ou mesmo o condenado).
Esta retroatividade da lei benéfica autoriza que a lei nova (que deveria produzir
efeitos a partir da sua entrada em vigor) produza efeitos sobre as ações ou omissões realizadas
antes de sua existência no mundo jurídico. É o que se extrai do art. 2º do CP, vejamos:

“Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar
crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-
se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada
em julgado”.

Com isso, podem se apresentar ao intérprete cinco hipóteses distintas:

Tempo da realização do ato Lei Posterior Fenômeno da


(ir)retroatividade
Fato atípico Torna o fato típico Lei incriminadora
Irretroatividade (art. 1º)
Fato típico Mantém o fato típico, mas Novatio legis in pejus
prejudica o réu Irretroatividade (art. 1º)
Fato típico Supressão da figura Abolitio Criminis
criminosa Retroatividade (art. 2º)
Fato típico Mantém o fato típico, mas Novatio lejis in mellius
favorece o réu Retroatividade (art. 2º, p.
único)

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Fato típico O conteúdo típico migra para Princípio da continuidade


outro tipo penal normativo-típica

Lei Temporária e Lei Excepcional

• Lei Temporária: é aquela instituída por prazo determinado, ou seja, criminaliza


determinada conduta, entretanto, prefixando no seu texto lapso temporal para a sua vigência
(ex: Lei nº 12.663/12 criou crimes para proteger o patrimônio da FIFA durante a Copa do Mundo,
cuja data final de vigência foi de 31 de dezembro de 2014).
• Lei Excepcional: é aquela editada em função de algum evento transitório, como o
estado de guerra, calamidade ou qualquer outra necessidade estatal. Perdura enquanto persistir
o estado de emergência.
Ambas possuem duas características essenciais:

a) Autorrevogabilidade: São autorrevogáveis. Significa dizer que as leis temporárias e


excepcionais se consideram revogadas assim que encerrado o prazo fixado (lei temporária) ou
cessada a situação de anormalidade (lei excepcional);

b) Ultra-atividade: por serem ultra-ativas, alcançam os fatos praticados durante a sua


vigência, ainda que as circunstâncias de prazo (lei temporária) e de emergência (lei excepcional)
tenham se esvaído. Assim prescreve o art. 3º do CP:

Art. 3º do CP: “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua


duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato
praticado durante a sua vigência”.

Lei Intermediária

A lei intermediária é aquela que deverá ser aplicada porque benéfica ao réu, muito
embora não fosse a lei vigente ao tempo do fato, tampouco seja a lei vigente no momento do
julgamento. Ex:

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Conflito aparente de leis penais

É possível que em determinados casos concretos, possa se vislumbrar aparentemente


a aplicação de mais de um dispositivo legal, gerando o denominado conflito aparente de normas.
São pressupostos para o conflito aparente de normas:
 Unidade de fato;
 Pluralidade de normas simultaneamente vigentes.

É necessário a solução de tal conflito aparente para assegurar a harmonia e coerência


do sistema penal e, ao mesmo tempo, evitar a possibilidade do bis in idem, que poderia ocorrer
caso duas normas (aparentemente aplicáveis) incidisse sobre o mesmo fato.
A partir daí, surgem três princípios fundamentais válidos para resolver o conflito
aparente:
(a) Especialidade;
(b) Subsidiariedade;
(c) Consunção.

Especialidade

Está previsto no artigo 12 do Código Penal:

“Art. 12 - As regras gerais deste Código aplicam-se aos fatos incriminados por lei
especial, se esta não dispuser de modo diverso”.

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Entende-se como lei especial aquela que possui todos os elementos da norma geral,
somados de outros que a tornam distinta.
Exemplo: no delito de tráfico de drogas, a princípio, teríamos duas leis aplicáveis ao
caso concreto, todavia, havendo norma especial, esta será aplicada:

Art. 334-A (Contrabando) Art. 33 da Lei nº 11.343/2006


Importar ou exportar mercadoria proibida. Importar, exportar, remeter, preparar,
produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à
venda, oferecer, ter em depósito,
transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou
fornecer drogas, ainda que gratuitamente,
sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar.

Subsidiariedade

Uma lei tem caráter subsidiário relativamente à lei principal, quando o fato por ela
incriminado é também incriminado por outra, tendo um âmbito de aplicação comum, mas
abrangência diversa.
A relação entre as normas subsidiária e principal é de maior ou menor gravidade (e
não de espécie e gênero, como na especialidade).
A norma dita subsidiária atua apenas quando o fato não se subsuma a crime mais
grave.
Pode ser expressa ou tácita:
- Expressa: a própria lei prevê a subsidiariedade explicitamente, anunciando a não
aplicação de norma menos grave quando presente a mais grave:

Perigo para a vida ou saúde de outrem Falsa identidade


Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem Art. 307 - Atribuir-se ou atribuir a terceiro
a perigo direto e iminente: falsa identidade para obter vantagem, em
Pena - detenção, de três meses a um ano, se proveito próprio ou alheio, ou para causar
o fato não constitui crime mais grave. dano a outrem:

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Pena - detenção, de três meses a um ano, ou


multa, se o fato não constitui elemento de
crime mais grave.

- Tácita: ocorre quando um crime de menor gravidade cede diante da presença de um


crime de maior gravidade, integrando aquele a descrição típica deste:

Código de Trânsito Brasileiro


Art. 302. Praticar homicídio culposo na direção de veículo automotor.

Consunção

Também chamado de Princípio da Absorção, ocorre quando um crime previsto por


uma norma (norma consumida) não passa de mera fase para a realização de crime previsto por
outra norma (norma consuntiva), ou é uma forma normal de transição para o último (crime
progressivo).
Fala-se em Consunção nas seguintes hipóteses:
A) Crime Progressivo: ocorre quando o agente, para alcançar um resultado criminoso
mais grave, passa, necessariamente, por um crime menos grave.
Exemplo:
B) Progressão Criminosa: o agente, nesta hipótese, substitui o seu dolo, dando causa
a resultado mais grave. O agente, inicialmente, deseja praticar um crime menor e o consuma.
Posteriormente, delibera praticar um crime maior e também o consuma, atentando contra o
mesmo bem jurídico.
Exemplo:
C) “Antefactum” impunível: são fatos anteriores que estão na linha de
desdobramento da ofensa mais grave.
Exemplo: invasão de domicílio para o delito de furto.
D) “Postfactum” impunível: pode ser considerado mero exaurimento do crime
principal praticado pelo agente, que, portanto, por ele não pode ser punido.
Exemplo: furtador que veículo que, posteriormente, danifica o bem.

Aplicação da Lei Penal no Espaço

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Territorialidade e Extraterritorialidade da Lei Penal

Eficácia da Lei Penal no Espaço

Sabendo que um fato punível pode, eventualmente, atingir os interesses de dois ou


mais Estados igualmente soberanos, gerando, nesses casos, um conflito internacional de
jurisdição, o estudo da lei penal no espaço visa apurar as fronteiras de atuação da lei penal
nacional.
Objetivo: delimitar as fronteiras de atuação da Lei Penal Nacional e evitar conflitos
internacionais de jurisdição. Sobre os assunto, nos interessa o estudo de dois princípios que
norteiam a discussão: Territorialidade e Extraterritorialidade.

Territorialidade

Segundo a regra da Territorialidade, aplica-se a lei penal do local do crime, não


importando a nacionalidade do agente, da vítima ou do bem jurídico. É a regra adotada pelo
Código Penal, estampada no art. 5º:

Art. 5º - “Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras


de direito internacional, ao crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional
as embarcações e aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do
governo brasileiro onde quer que se encontrem, bem como as aeronaves e as
embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar”.
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de
aeronaves ou embarcações estrangeiras de propriedade privada, achando-se
aquelas em pouso no território nacional ou em vôo no espaço aéreo
correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil”.

Extraterritorialidade

Segundo a regra da Extraterritorialidade, em casos excepcionais, a lei brasileira poderá


extrapolar os limites do território, alcançando crimes exclusivamente cometidos no estrangeiro.

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As hipóteses de aplicação da lei brasileira em crimes praticados no estrangeiro estão previstas


no art. 7º, incisos I (extrat. incondicionada) e II e §3º (extrat. condicionada), do Código Penal:

Art. 7º - “Ficam sujeitos à lei brasileira, embora cometidos no estrangeiro:


I - os crimes:
a) contra a vida ou a liberdade do Presidente da República;
b) contra o patrimônio ou a fé pública da União, do Distrito Federal, de Estado, de
Território, de Município, de empresa pública, sociedade de economia mista,
autarquia ou fundação instituída pelo Poder Público;
c) contra a administração pública, por quem está a seu serviço;
d) de genocídio, quando o agente for brasileiro ou domiciliado no Brasil;
II - os crimes:
a) que, por tratado ou convenção, o Brasil se obrigou a reprimir;
b) praticados por brasileiro;
c) praticados em aeronaves ou embarcações brasileiras, mercantes ou de
propriedade privada, quando em território estrangeiro e aí não sejam julgados.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que
absolvido ou condenado no estrangeiro.
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das
seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a
extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar
extinta a punibilidade, segundo a lei mais favorável.
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra
brasileiro fora do Brasil, se, reunidas as condições previstas no parágrafo anterior:
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça”.

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# Problema: João, brasileiro residente em Portugal, mata dolosamente Joaquim,


cidadão português. João foge e retorna ao território brasileiro antes do fim das investigações. A
lei brasileira alcança este fato:
R: _______________________________________________________________

Territorialidade Extraterritorialidade Intraterritorialidade1


Local do Crime Brasil País estrangeiro Brasil
Lei a ser aplicada Brasileira Brasileira Estrangeira
Exemplo Homicídio praticado Tentativa de Diplomata
no Brasil por homicídio contra o estrangeiro que
brasileiro. Presidente da comete crime no
República Brasil.

Pena cumprida no estrangeiro

Aplicando-se o princípio da extraterritorialidade no caso concreto, é possível que


determinada pessoa seja processada, julgada e condenada tanto pela lei brasileira como pela lei
estrangeira. Pode ser que tal sujeito cumpra no estrangeiro total ou parcialmente a pena.
Em tal hipótese, incidirá a regra do art. 8º do CP:

Art. 8º - A pena cumprida no estrangeiro atenua a pena imposta no Brasil pelo


mesmo crime, quando diversas, ou nela é computada, quando idênticas”.

Duas situações possíveis surgem da leitura do art. 8º:


a) Se houver a mesma qualidade da pena, deverá ser realizada a compensação da pena
(abatimento);
b) Se houver qualidade diversa da pena, a pena a ser fixada pelo juiz brasileiro deverá
ser atenuada.
Exemplo: agente é condenado a pena de 5 (cinco) anos na Alemanha por ter atentado
contra a vida do nosso Presidente da República. Já no Brasil, é também processado e condenado,

1
Na Intraterritorialidade, o fato criminoso, apesar de praticado no Brasil, será punido de acordo com a
lei estrangeira aplicada pelo juiz criminal.

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com uma pena imposta de 15 (quinze) anos. Nesse caso, serão abatidos os cinco anos cumpridos
na Alemanha.
Tal regra configura clara hipótese de exceção à aplicação do princípio do ne bis in idem.

Eficácia da sentença estrangeira

Em alguns casos, é possível que um sujeito condenado criminalmente seja também


responsabilizado, posteriormente, na esfera cível no sentido de indenizar a vítima.
É possível ainda, que a sentença criminal seja proveniente de órgão jurisdicional
estrangeiro e, nesse caso, deverá ser homologada no Brasil, exigindo-se, para tanto, que esteja
provado o seu trânsito em julgado, nos termos da Súmula 420 do STF:

“Súmula 420 do STF - Não se homologa sentença proferida no estrangeiro sem


prova do trânsito em julgado”.

A decisão de homologação não atinge o mérito da sentença estrangeira, pois realiza-


se apenas um exame formal dos requisitos necessários.
Sobre o tema, cumpre analisar o art. 9º do CP:

“Art. 9º - A sentença estrangeira, quando a aplicação da lei brasileira produz na


espécie as mesmas consequências, pode ser homologada no Brasil para:
I - obrigar o condenado à reparação do dano, a restituições e a outros efeitos civis;
II - sujeitá-lo a medida de segurança.
Parágrafo único - A homologação depende:
a) para os efeitos previstos no inciso I, de pedido da parte interessada;
b) para os outros efeitos, da existência de tratado de extradição com o país de cuja
autoridade judiciária emanou a sentença, ou, na falta de tratado, de requisição do
Ministro da Justiça”.

Diego Luiz Victório Pureza


Advogado.
Professor de Criminologia, Direito Penal, Direito Processual Penal e Legislação Penal
Especial em diversos cursos preparatórios para concursos públicos.

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Pós-graduado em Ciências Criminai.


Pós-graduado em Docência do Ensino Superior
Pós-graduado em Combate e Controle da Corrupção: Desvios de Recursos Públicos.
Palestrante e autor de diversos artigos jurídicos.

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