Você está na página 1de 19

Facer, descomplicando o Direito.

Sumário
Introdução .................................................................................................................................. 4
1. O que é Direito Processual Penal? ...................................................................................... 5
2. Qual é a relação existente entre o Direito Penal Substantivo e Direito Penal Adjectivo? . 5
3. Qual é a função do direito penal? ....................................................................................... 5
4. Quais sãos os três sectores ou disciplinas distintas que compõem o Direito Penal? .......... 5
5. Qual é a relação existente entre Direito Penal Substantivo e o Direito Processual Penal ou
Adjectivo? .................................................................................................................................. 6
6. O que distingue o Direito Processual Penal de outras disciplinas jurídicas? ..................... 6
7. Qual é o âmbito do Direito Processual Penal? ................................................................... 7
8. Qual é o fim do Processo Penal? ........................................................................................ 7
9. Qual é a natureza jurídica do Direito Processual Penal? .................................................... 7
10. Quais são os princípios que enformam o Direito Processual Penal? .............................. 8
11. Em que consiste o principio da oficialidade? ................................................................. 8
12. Em que consiste o princípio da acusação? ...................................................................... 8
13. Em que consiste o principio da oficialidade? ................................................................. 9
14. Em que consiste o princípio de acusação? .................................................................... 10
15. Em que consiste o princípio da investigação? .............................................................. 10
16. Em que consiste o princípio da contraditoriedade e audiência? ................................... 10
17. Em que consiste o princípio da suficiência e das questões prejudiciais? ..................... 10
18. Em que consiste o princípio da concentração? ............................................................. 11
19. Em que consiste o principio da livre apreciação das provas? ....................................... 11
20. Em que consiste o principio da publicidade? ................................................................ 11
21. Quais são os principais sujeitos do processo penal? ..................................................... 11
22. Quais são os modelos ou sistemas vigentes do processo penal? .................................. 12
23. Em que consiste o Processo inquisitório? ..................................................................... 12
24. Em que consiste o processo acusatório? ....................................................................... 12
25. Qual é o modelo que o processo penal moçambicano melhor se identifica? ................ 12
26. Apresente as formas do processo penal moçambicano e os critérios para a sua a
determinação. ........................................................................................................................... 13
27. Debruce sobre o processo especial. .............................................................................. 13
28. Fale do processo comum. .............................................................................................. 13
29. Quais são os elementos que devem constar do auto? ................................................... 14
30. Qual é o destino dos autos? ........................................................................................... 14

Facer, descomplicando o Direito.


31. Qual é a diferença que existe entre suspeito e arguido? ............................................... 14
32. O que é prisão preventiva? ............................................................................................ 15
33. Quais são os remédios para a detenção ilegal ou prisão preventiva? ........................... 15
34. Quais são as características da instrução preparatória? ................................................ 15
35. O que se entende por meios de prova?.......................................................................... 15
36. Qual é o fim da prova? .................................................................................................. 15
37. Em que consiste o objecto da prova? ............................................................................ 16
38. O que difere o objecto da prova e objecto de prova? .................................................... 16
39. De quem a competência para ordenar as buscas e a sua execução? ............................. 16
40. O que é prova testemunhal? .......................................................................................... 16
41. O que se faz depois de concluída a instrução? .............................................................. 16
42. Quando é deduzida a acusação? .................................................................................... 17
43. Qual é possível atitude do arguido e o assistente diante da acusação? ......................... 17
44. Qual é a finalidade da audiência preliminar? ................................................................ 17
45. A fase de audiência preliminar é obrigatória ou facultativa? ....................................... 17
46. Qual é a finalidade do debate preliminar? .................................................................... 17
47. O que procede, findo o prazo ou encerrado o debate preliminar? ................................ 18
48. Em que consiste o despacho de pronúncia? .................................................................. 18
49. O que é o despacho de não pronúncia? ......................................................................... 18
50. Quais são os princípios que orientam o julgamento?.................................................... 18

Facer, descomplicando o Direito.


Introdução
Este PDF é fruto das aulas ministradas por dr. Justo Mulembwe, docente da cadeira de Direito
Processual Penal, na Faculdade de Gestão de Recursos Naturais e Mineralogia da Universidade
Católica de Moçambique e, destina-se aos estudos para provas (e conhecimentos gerais) de
Direito do Processo Penal moçambicano. O conteúdo contido neste documento serve de ponto
de partida, por isso, não dispensa a leitura das obras recomendadas pelos seus docentes, caso
seja estudante.

Boa leitura,
Amílcar Magenge, estudante de 4º Ano.

4
1. O que é Direito Processual Penal?
Formalmente, o direito de processo penal é o conjunto das normas jurídicas que orientam e
disciplinam o processo penal.

2. Qual é a relação existente entre o Direito Penal Substantivo e Direito Penal


Adjectivo?
O Direito Processual Penal constitui, em certo sentido, uma parte do direito penal. Até se diz
que o direito processual e o direito substantivo penal formam uma unidade (direito penal total),
derivada da função específica que a esta extensa região do Direito compete: só através do
direito processual logra o direito substantivo, ao aplicar-se aos casos reais da vida, a realização
ou concretização para que originariamente tende.

3. Qual é a função do direito penal?


O direito penal tem como função proteger os bens e valores essenciais da vida em comunidade,
através de prevenção de lesões que sejam de recear no futuro (função preventiva) e da punição
de lesões que tiveram já lugar (função repressiva).

4. Quais sãos os três sectores ou disciplinas distintas que compõem o Direito Penal?
O Direito Penal, que também pode ser chamado de direito criminal, que considerado no seu
sentido mais amplo (total), constitui um ordenamento jurídico complexo, que se reparte por
três sectores ou disciplinas distintas mas mutuamente complementares a saber: o direito penal
substantivo ou material (esse direito material, diz respeito ao conjunto de regras gerais
abstractas, hipotéticas e dotadas de coercibilidade, que regem as relações numa dada
comunidade); a segunda disciplina é o direito processual penal ou formal ou adjectivo
(lembrando, que se fala em direito adjectivo para significar o direito processual, isto é, o ramo
do direito que disciplina a forma de resolução de litígios surgidos em consequência do não
acatamento às regras que regulam as relações entre os sujeitos de direito, dito de outro modo,
o direito processual penal fixa as condições e os termos do movimento processual destinados
a averiguar se um certo agente praticou um certo facto e qual é a reacção que lhe deve
corresponder; e a terceira disciplina é o direito de execução das penas ou direito
penitenciário.

5
5. Qual é a relação existente entre Direito Penal Substantivo e o Direito Processual
Penal ou Adjectivo?
Mais do que qualquer outro ramo da ciência jurídica, as relações entre o direito substantivo e
o direito adjectivo formam uma unidade tal que, em regra, o direito substantivo não se pode
realizar plenamente sem o concurso do direito adjectivo. Na verdade, e de modo diverso do
que sucede, por exemplo, com o direito civil, que na maioria dos casos se realiza e aplica
espontaneamente, por livre vontade dos interessados, o direito penal não é de aplicação
voluntária, só se efectiva por via de uma actividade processual. Por isso, o corpo do art. 1 do
CPP dispõe que “Nenhuma pena ou medida de segurança pode ser aplicada sem haver um
processo em que se prove a existência da infracção e a responsabilidade criminal do acusado,
em conformidade com as regras definidas no presente Código”.
Há assim, uma relação de instrumentalidade necessária entre o direito processual penal e o
direito penal que os distingue da conexão também existente entre os demais ramos de direito e
os respectivos processos.

6. O que distingue o Direito Processual Penal de outras disciplinas jurídicas?


O que distingue o Direito Processual Penal de outras disciplinas jurídicas é a conexão de
instrumentalidade que existe entre o Direito Penal e o Direito Processual Penal, ou seja, o facto
de, o Direito Penal ser inaplicável sem o Direito Processual Penal e este não ser possível de ser
sem que haja o Direito Penal. Como se vê do disposto no art. 1 do CPP, que dispõe “Nenhuma
pena ou medida de segurança pode ser aplicada sem haver um processo em que se prove a
existência da infracção e a responsabilidade criminal do acusado, em conformidade com as
regras definidas no presente Código”.
Apesar destas mútuas influências, o certo é, porém, que não deixa de existir uma clara
autonomia entre o direito penal e o direito processual penal, resultante, desde logo, da
diversidade do respectivo objecto: o direito penal tem a ver directamente com a ordenação da
vida em sociedade, qualificando, de forma geral e abstracta, os comportamentos humanos em
função de valores jurídicos que considera fundamentais para a comunidade e prescrevendo
sanções para quem violar esses valores, o direito processual penal visa assegurar que os actos
tendentes a decisão sobre a prática de um crime e a aplicação da pena ao respectivo agente se
realizem com absoluto respeito pelos princípios de justiça.

6
7. Qual é o âmbito do Direito Processual Penal?
Sendo que o âmbito também significa o objecto da disciplina jurídica, isto é, aquilo a que ela
se propõe regular, as suas finalidades, podemos dizer que, a função essencial do Direito
Processual Penal cumpre-se como vimos, na decisão jurisdicional de saber se foi praticado um
crime e, em caso afirmativo, quais as consequências jurídicas que daí derivam.
Por isso, certos autores entendem que o seu âmbito de aplicação se esgota com o trânsito em
julgado da sentença, já não abrangendo a fase de execução da pena, que terá índole puramente
administrativa. Outros, pelo contrário, sustentam que o direito de execução das penas se
integra, no direito processual penal, pese embora a circunstância de a administração
penitenciária estar reservada a uma esfera de actuação própria, que pode dizer-se livre da
jurisdição.
Também não se esquecer do âmbito de aplicação espacial (princípio da territorialidade), que
comporta certas excepções, conforme 23.º e seguintes do C.P.P. Quer dizer actos processuais
de um estado terceiro não são obrigatórios na ordem interna moçambicana, ressalvando o
auxílio jurídico interestadual em matéria penal (artigo 271.º do C.P.P). Portanto, o direito
processual penal moçambicano aplica-se a todos indivíduos que tenham praticado infracção
criminal dentro do território nacional, independentemente de ser estrangeiro.
Âmbito de aplicação temporal (ver artigo 12.º do CC e 9º do CPP)
Ter em atenção ao direito transitório (artigos 3.º, 4.º, 5.º e 6.º da Lei que aprova o C.P.P). E
recorrer a lei que não limite ou agrave o direito de defesa.

8. Qual é o fim do Processo Penal?


O Processo Penal tem como fim a realização do direito penal substantivo. Ou seja, visa lograr
uma decisão de modo processualmente admissível e válido; justa segundo o direito substantivo;
e tornar seguro e estável o direito declarado. A função do direito processual penal cumpre-se
na decisão.

9. Qual é a natureza jurídica do Direito Processual Penal?


Tal como o Direito Penal, também o Direito Processual Penal constitui uma parte do direito
público; não só porque, como em todo o direito processual, nele intervém sempre o Estado no
exercício de uma das suas funções, a função jurisdicional, mas sobretudo porque a perseguição
e condenação dos criminosos é, matéria exclusiva da colectividade estatal (Estado). Há uma
relação entre o Estado e o indivíduo, e posição deste na comunidade (posição situacional).

7
10. Quais são os princípios que enformam o Direito Processual Penal?
Em termos de sistematização vamos agrupar os princípios em categorias para fácil
compreensão:
 Princípios relativos a promoção ou iniciativa processual (incluímos neles os que nos
dizem algo em relação ao que se deve fazer quando se quiser iniciar uma acção penal –
princípios da oficialidade, legalidade e de acusação);
 Princípios relativos a prossecução ou decurso processual (principio da investigação, da
contrariedade e audiência, da suficiência e da concentração);
 Princípios relativos Prova: princípios da investigação, da livre apreciação da prova e “in
dúbio pró reo”;
 Princípios relativos Forma: princípios da publicidade, da oralidade e da imediação.

11. Em que consiste o principio da oficialidade?


Este princípio consiste em indagar sobre a quem compete a iniciativa (o impulso) de investigar
a prática de uma infracção e a decisão de a submeter ou não a julgamento. Tem-se que
considerar que tal iniciativa é tarefa estatal e ela é realizada oficiosamente, em certos casos
mesmo à margem da vontade e da actuação dos particulares.
Em determinado tipo de crime, o Estado age oficiosamente: não necessita da participação, ou
do impulso particular, para que se desencadeie todo o processo de investigação, com vista a
determinar quem foram os agentes e a decisão de os submeter ou não a julgamento. O exercício
da acção penal compete ao Ministério Público – princípio da oficialidade (artigo 52 do C.P.P).

12. Em que consiste o princípio da acusação?


Com a adopção deste princípio, pretende-se assegurar o carácter isento, objectivo, imparcial e
independente da decisão judicial. Também, este princípio anuncia que quem acusa (o MP) e
quem julga (o tribunal), devem estar separados.
Com o processo penal pretende-se atingir uma determinada finalidade, e essa finalidade será
atingida com objectividade, com imparcialidade e mediante um órgão independente (artigos
15.º; 19.º; 53.º; 59.º n.o 1; 284.º; 308.º; 312.º; 313.º; 314.º; 336.º; 353.º; 354.º; 357.º do novo
C.P.P).
Para que isto seja assim, torna-se necessário que a entidade julgadora não possa ter também
funções de investigação e da acusação da infracção, por conseguinte:
- O Ministério Público investiga e acusa (artigos 307.º a 331.º do novo C.P.P);

8
- O Juiz de instrução aceita a acusação ou não ou ainda abre audiência preliminar ou debate
preliminar. Por fim, pronuncia ou não pronuncia (19.º; 332.º a 356.º do novo C.P.P).
- O juiz de julgamento julga, aprecia a conduta do arguido (artigos 357.º a 450.º do novo
C.P.P).

13. Em que consiste o principio da oficialidade?


O princípio da oficialidade, relativo à promoção processual penal, significa que a iniciativa e
prossecução processuais incumbem ao Ministério Público. Artigo 52 do CPP
Há limitações ao princípio da oficialidade:
a) Crimes particulares:
São constituídos por infracções de pequena gravidade, de infracções que, não se relacionando
com bens jurídicos fundamentais da comunidade, apenas atingem a pessoa visada e a
comunidade em si própria não se sente lesada, e por conseguinte, não sente necessidade de
reagir.
Deixa-se ao particular que tome a iniciativa de dar conhecimento, e depois ele próprio, se
quiser, que deduza acusação.
Se o ofendido por um crime particular, quiser que haja procedimento criminal, dá
conhecimento ao Ministério Público e tem de declarar que se quer constituir assistente, mas
não é ele que vai fazer a instrução, quem o faz é o Ministério Público. Depois há um imposto
a ser pago, só depois o juiz da instrução profere o despacho admitindo o indivíduo como
assistente (artigo 56 do novel C.P.P).
Simplesmente, depois de submeter o arguido ou não a julgamento, através da dedução de
acusação, essa decisão última pertence ao particular, se ele não o fizer o processo é arquivado
(artigo 57 do novel C.P.P).
b) Crimes semi-públicos:
Aqui a comunidade já se sente lesada, sente que os seus valores fundamentais foram violados.
No entanto, põe acima dos valores comunitários os valores individuais que foram infringidos,
que foram violados, porque entende que a reacção contra essa infracção depende da vítima, do
ofendido.
Se o ofendido entende que não deve queixar-se, então a comunidade também não o faz, mas se
o fizer, a partir do momento em que o ofendido se queixou, então o Estado assume nos seus
ombros todo o processo, sem mais intervenção do ofendido: já não se torna necessário ele
constituir-se assistente e deduzir acusação particular (artigos 55.º; 76.º; 77.º; 78.º; 79.º; 289.º
n.o 4; 330.º do novel C.P.P).

9
A lei deixa nestes casos o direito de denúncia ao particular (artigo 287.º do C.P.P). Se ele quiser
queixar-se, então prossegue tudo como se fosse um crime público, como se a comunidade se
sentisse violada. O Estado assume todo o processo, desde a instrução até ao julgamento.
A queixa, a constituição de assistente, e a dedução de acusação por particular, são momentos
distintos.

14. Em que consiste o princípio de acusação?


Com a adopção deste princípio, pretende-se assegurar o carácter isento, objectivo, imparcial e
independente da decisão judicial. Para que isto seja assim, torna-se necessário que a entidade
julgadora não possa ter também funções de investigação e da acusação da infracção, por
conseguinte:
- O Ministério Público investiga e acusa (artigos 307.º a 331.º do novel C.P.P);
- O Juiz de instrução aceita a acusação ou não ou ainda abre audiência preliminar ou debate
preliminar. Por fim, pronúncia ou não pronúncia (19.º; 332.º a 356.º do novel C.P.P).
- O juiz de julgamento julga, aprecia a conduta do arguido (artigos 357.º a 450.º do novel
C.P.P).

15. Em que consiste o princípio da investigação?


O objecto do processo não disponível por forca do princípio da investigação. Não pode o MP,
sob algum pretexto, recusar de investigar uma notícia criminal [artigo 4, n.º 1, als. a) e c) da
Lei n.º 22/2007, de 1 de Agosto.

16. Em que consiste o princípio da contraditoriedade e audiência?


Este princípio anuncia que cabendo ao juiz penal cuidar de reunir as bases necessárias a sua
decisão, não deve ele, todavia, levar a cabo a sua actividade isoladamente, pelo contrário deve
ouvir tanto a acusação como a defesa. Ou seja, é um dever imposto ao julgador de, perante
qualquer assunto que tenha que discutir, tem de ouvir as várias razões das partes (defesa e
acusação).

17. Em que consiste o princípio da suficiência e das questões prejudiciais?


O princípio da suficiência tem como conteúdo o facto de o processo penal, em regra, se bastar
a si próprio, o que significa que a sua promoção é independente e autónoma de qualquer outro
processo e que nele se podem e devem, também em regra, decidir todas as questões que
interessem a decisão da causa penal: obrigatoriamente se forem de natureza penal, sempre que
possível se tiverem outra natureza.

10
18. Em que consiste o princípio da concentração?
O princípio da concentração significa que os actos processuais devem ser praticados numa só
audiência se possível, ou em audiências próximas no tempo, para que as impressões colhidas
pelo juiz não desapareçam da sua memória.

19. Em que consiste o principio da livre apreciação das provas?


O princípio da livre apreciação das provas é aquele segundo o qual o Juiz é livre na valoração
dos fatos que lhe foram apresentados.

20. Em que consiste o principio da publicidade?


O princípio da publicidade implica que à audiência possa assistir qualquer indivíduo e que
sejam admissíveis relatos públicos da mesma. Excepto quando puser em causa a dignidade,
moral ou ordem pública (factos concretos). Ex. crimes sexuais.

21. Quais são os principais sujeitos do processo penal?


O processo penal pode se definir como uma sequência de actos juridicamente pré-ordenados e
praticados por certas pessoas legitimamente autorizadas, com vista a lograr a decisão sobre se
foi praticado algum crime e, em caso afirmativo, sobre as respectivas consequências jurídicas
e a sua justa aplicação. Essas pessoas e entidades que, investidos nas mais diversas funções,
desenvolvem actividades no processo recebem a designação genérica de participantes
processuais.
Mas nem todos os participantes processuais realizam uma função determinante, a ponto de
imprimirem ao processo uma certa direcção ou uma fisionomia própria. Os funcionários
judiciais, por exemplo, colaboram no processo e, no entanto, a sua actuação não é decisiva. O
mesmo se passa com as testemunhas, os declarantes e os peritos, que intervêm como meios de
prova, mas não tem poder de iniciativa nem de decisão relativamente as questões processuais.
Aos participantes a quem, por forca da sua particular posição jurídica, são reconhecidos direitos
e deveres processuais autónomos, no sentido de poderem condicionar a concreta tramitação do
processo costuma chamar-se sujeitos processuais.
Nesta ordem, são sujeitos processuais:
● Os tribunais;
● O MP;
● Outros órgãos encarregados pela instrução (SERNIC, GCCC) e titulares da própria
acusação.

11
● O arguido e seu defensor;
● O ofendido e os assistentes;

22. Quais são os modelos ou sistemas vigentes do processo penal?


Na história são dois os modelos estruturais: Processo inquisitório e Processo acusatório puro
(exemplo clássico do direito processual penal inglês).

23. Em que consiste o Processo inquisitório?


O processo inquisitório é o exemplo padrão de um processo sem partes. Nele, a investigação
da verdade, e de uma forma geral, o domínio do processo estão concentradas num único órgão
– o juiz: a este compete simultaneamente inquirir, acusar e julgar, sem que intervenha qualquer
outra autoridade oficial encarregada da acusação. O processo é, em regra, totalmente escrito e
secreto, do que resulta a impossibilidade, para o arguido de exercer efectivamente o seu direito
de defesa – não há contraditório, é o juiz que investiga, há presunção de culpabilidade e o
tribunal funciona na dependência do poder político. Todos os meios incluindo a tortura são
considerados legítimos para extorquir do réu a confissão, tida por rainha das provas.

24. Em que consiste o processo acusatório?


O processo acusatório (que vigora, ainda hoje, nos países anglo-saxónico ou influenciados
por estes) é, pelo contrário, o exemplo marcante de um processo penal de partes. O interesse
público da perseguição e punição das infracções penais e encabeçado no representante da
acusação (que pode ser uma entidade publica ou privado), o interesse do arguido é representado
pelo defensor e o processo surge deste modo como uma discussão, uma autêntica confrontação
entre ambos, sob o olhar imparcial e passivo do juiz. A este não cabe colher o material
probatório, mas sim as partes, por meio do sistema de interrogatório e contra-interrogatório
(examination and cross-examination) das testemunhas, dos peritos e do próprio arguido (que
pode testemunhar em causa própria). O papel do juiz é unicamente o de dirigir a audiência,
velando sobretudo para que as partes não se afastem do formalismo prescrito, e proferir a
decisão final baseados nas provas apresentadas pela acusação e pela defesa.

25. Qual é o modelo que o processo penal moçambicano melhor se identifica?


O processo penal moçambicano é tipicamente um processo sem partes, embora isso não
signifique que a sua estrutura se confunda com a do tipo inquisitório (pelo menos na sua forma
pura). Ele é, na verdade, um processo basicamente acusatório mas integrado por um princípio
de investigações.

12
26. Apresente as formas do processo penal moçambicano e os critérios para a sua a
determinação.
No ordenamento jurídico moçambicano temos o processo comum e o processo especial. Temos
dois critérios para a fixação das formas de processo penal: quantitativo (tem que ver com a
moldura penal abstracta aplicável ao crime) e qualitativo (a qualidade do ilícito e não a pena
aplicável: contravenções ou transgressões).

27. Debruce sobre o processo especial.


É especial o que se aplica nos casos expressamente previstos pela lei, artigo 305.º do CPP.
Artigo 306.º do CPP e 420.º do C.P.P.
● Sumário [artigos 420.º a 430.º do CPP – maior ou igual a 1 ano a menor ou
igual a 5 anos de prisão]. Deve ser detenção em flagrante delito, mpa maior
de um ano e menor ou igual a cinco anos; deve ser procedida pela autoridade
judiciária (17.º do C.P.P) ou entidade policial (SERNIC e PRM) e a
audiência se iniciar no máximo de 48 horas ou, nos casos indicados no artigo
425º, de 5 dias após a detenção. Natureza contravencional, n.o 2 quando
detidos em flagrante delito. Se não for possível, de forma fundamentada, o
M.oP.o relega a forma comum, libertando o arguido mediante TIR ou ordena
a apresentação ao JIC para a aplicação do medidas de coacção ou garantia
patrimonial, artigo 421.º, n.os 3 e 4 do C.P.P.
● Sumaríssimo [artigos 431.º a 435.º do C.P.P – 3 dias a 1 ano de prisão ou
multa. Critério quantitativo.
● Por difamação, calúnia e injúrias [segue a forma comum – instrução –
com as especificações dos artigos 436.º a 440.º do C.P.P.] – critério
qualitativo.
● Transgressões [artigos 441.º a 450.º do C.P.P]. Critério qualitativo
independemente da moldura penal abstracta – artigo 441.º do C.P.P. artigo
14.º do C.P].

28. Fale do processo comum.


O processo comum aplica-se a crimes com pena superior a 5 anos de prisão ou no caso de
impossibilidade de julgamento em 48 horas ou 5 dias (pedido de adiamento, pelo arguido, por
falta de testemunhas, assistente ou arguido, pedido do M.oP.o ou oficioso de diligências para

13
a descoberta da verdade material) nos crimes puníveis de 3 dias a 5 anos, com decisão
fundamentada do M.oP.o.

29. Quais são os elementos que devem constar do auto?


Elementos que devem constar de um auto, indicando as circunstâncias da infracção que tiver
conhecimento, seus agentes, nomes, moradas e profissões das testemunhas (105.º; 286.º; 289.º
do CPP):
● Descrever os factos que constituem o crime;
● Identidade do infractor (nome, estado, profissão, naturalidade e residência);
● Identidade do ofendido (nome, estado, profissão, naturalidade e residência);
● Identidade da autoridade ou funcionário público que a presenciou (nome, a qualidade e
residência);
● Identidade das testemunhas, pelo menos duas, (nome, estado, profissão, naturalidade e
residência ou outros sinais que os possam identificar);
● Assinaturas (autoridade que o levantou ou mandou levantar, testemunhas, se for
possível, infractor, se quiser);
● Se deseja constituir-se em assistente (sendo obrigatória nos crimes particulares, artigo
289.º, n.o 4 do C.P.P).

30. Qual é o destino dos autos?


Se for forma comum e por difamação, calúnia e injúrias, requere requerida instrução e esta
inicia nos artigos 307.º a 322.º; 436.º do C.P.P.
Se for sumária, sumaríssima e transgressões remete ao Tribunal para efeitos de julgamento
imediato, artigos 420.º; 421.º; 431.º; 445.º, n.o 2 do C.P.P. Se não for requerida, aguarde-se
pelo pagamento voluntário de multa, se for a pena (artigo 444.º do C.P.P); prescrito o prazo
estabelecido pela lei para o efeito, remete-se ao tribunal. Artigo 445.º, n.o 2 do C.P.P.

31. Qual é a diferença que existe entre suspeito e arguido?


Um mero suspeito não é um sujeito processual e, por isso, não tem direitos nem deveres
processuais específicos.
Já a atribuição do estatuto de arguido a alguém (constituição de arguido) é um acto de elevada
importância, pois significa que o Estado pretende investigar e, eventualmente, julgar um crime,
com a inerente compressão de alguns direitos de uma determinada pessoa. Consequentemente,
enquanto sujeito processual, essa pessoa fica sujeita a um conjunto de deveres que visam

14
facilitar a administração da justiça e passa a beneficiar de um conjunto de direitos específicos
que limitam os poderes das autoridades. Ou seja, um suspeito é constituído arguido para ser
parte no processo e para que, por via dessa posição processual, lhe sejam aplicáveis direitos e
deveres específicos.

32. O que é prisão preventiva?


A prisão preventiva, é uma medida de coacção destinada a garantir o normal desenvolvimento
do processo e cuja aplicação exige, além de outros requisitos, tratar‑se de criminalidade
especialmente perigosa ou de crime punível com pena de prisão superior a 2 anos, bem como
a existência de «fortes indícios» de que o crime foi cometido pelo arguido. Art. 243 CPP.
Também se pode ordenar a prisão preventiva de uma pessoa que se encontre irregularmente no
território nacional ou contra a qual haja um processo de extradição ou de expulsão. Nesse caso,
como nos outros, sendo a medida de coacção mais grave, a prisão preventiva só tem lugar
quando nenhuma medida mais leve for suficiente.

33. Quais são os remédios para a detenção ilegal ou prisão preventiva?


São remédios para a detenção ilegal ou prisão preventiva, requerimento para apresentação
judicial e “habeas corpus” como garantia da liberdade provisória. Artigos 262.º a 268.º do
CPP.

34. Quais são as características da instrução preparatória?


A instrução dos processos-crime é secreta, inquisitória e dirigida por uma autoridade
administrativa (fase pré-processual), o M.ºP.º, artigos 236 da CRM; 4, n.º 1, al c) da Lei n.º
22/2007, de 1 de Agosto e 59.º, n.o 2 al b); 308.º; 309.º, 312.º do C.P.P.
O juiz só intervém para evitar excessos (juiz da paz), garantir que direitos fundamentais não
sejam grosseiramente violados. Artigos 313.º e 314.º do C.P.P.

35. O que se entende por meios de prova?


Definem-se meios de prova como os meios materiais de que se lança mão para a demonstração
da veracidade de determinado facto.

36. Qual é o fim da prova?


O fim da prova é a demonstração da verdade em relação a existência de um facto ou coisa, no
sentido mais amplo.

15
37. Em que consiste o objecto da prova?
Objecto da prova (artigo 155.º do C.P.P) são "os factos que devem ser provados; em
princípio são todos os factos juridicamente relevantes no processo".

38. O que difere o objecto da prova e objecto de prova?


A primeira expressão refere-se aos factos ou circunstâncias directamente relacionadas ao facto
em apuração, ou mesmo aqueles com base nos quais se possa inferir a existência de factos que
sejam objecto da apuração, enquanto a segunda expressão refere-se às coisas passíveis, em tese,
de serem provadas (isto é, de serem objectos de prova): os factos em si.

39. De quem a competência para ordenar as buscas e a sua execução?


É competência exclusiva do poder judicial, artigos 313.º e 314.º do CPP. Visto que contende
com os direitos fundamentais, tais sejam, o da inviolabilidade do domicílio e da
correspondência, artigo 68 da CRM, e do direito de propriedade, artigo 82 da CRM. Ver mais
as normas constitucionais transcritas acima.

40. O que é prova testemunhal?


É uma prova pessoal admitida, artigos 159.º a 173.º do CPP. A testemunha está sujeita aos
seguintes deveres:
✔ Dever de comparência [artigos 163.º, al a), sob pena de 132.º, n.os 1 e 2 do
C.P.P]; atenção o artigo 376.º do C.P.P.
✔ Dever de depor [artigos 101.º, n.o 4; 163.º, al b); e 172.º do C.P.P.]
✔ Dever de prestar juramento ou compromisso de honra (dever da verdade) artigos
101.º, n.os 1 e 3; 163.º, als b) e d) do CPP. Excepto artigos 179.º do C.P.P.

41. O que se faz depois de concluída a instrução?


Concluída a instrução os autos ficam a guarda do M.oP.o ou remetidos ao Juiz competente (JIC
para a abertura de audiência preliminar e juiz de julgamento para o julgamento sumário).
Encerrada a instrução preparatória o M.ºP.º pode tomar as seguintes posições:
a) Dedução da acusação, artigo 323.º, n.o 1 do C.P.P;
b) Abstém-se de acusar, artigos 323.º, n.o 1 e 327.º do C.P.P (ordenando o
arquivamento dos autos ou aguardar a produção de melhor prova).
c) Suspende provisoriamente o processo, artigo 328.º e 329.º, ambos do C.P.P.
i. Se entende que há prova bastante dos elementos da infracção, seus
agentes e correspondente responsabilização, deduzirá acusação,

16
tomando posição sobre a situação do arguido (liberdade provisória ou
não), artigos 330.º e 331.º, ambos do C.P.P.
ii. Se entende que, o tipo legal de crime dispensa da pena, com anuência
do assistente se existir, decide pelo arquivamento. Ver também o artigo
327.º do CPP.
iii. Se entende não haver prova bastante do crime e seus agentes ou se
conclui pela inexistência de crime, abstém-se de acusar e ordena que os
autos fiquem a aguardar a melhor prova ou se arquivem, ordenando a
notificação do denunciante. Artigo 324.º do C.P.P.

42. Quando é deduzida a acusação?


A acusação é deduzida logo que é finda a instrução, artigos 322.º, n.º 3; 330.º e 331.º do CPP.

43. Qual é possível atitude do arguido e o assistente diante da acusação?


Depois de notificados da acusação ou do arquivamento podem:
Assistente: deduzir a sua acusação particular (artigos 325.º; 330.º, n.º 2 do C.P.P) ou requerer
a abertura da audiência preliminar [artigo 333.º, n.º 1 al b) e n.ºs 2 e 3 do C.P.P] ou ainda
suscitar a intervenção do superior hierárquico do procurador (artigo 325.º, n.º 2 do C.P.P).
Arguido: requerer a abertura da audiência preliminar [artigo 333.º, n.º 1 al a) e n.ºs 2 e 3 do
C.P.P].
Prazos: 5 dias, 8 dias e 30 dias (artigos 325.º, n.º 2; 330.º, n.º 3; 333.º, n.º1 do C.P.P).

44. Qual é a finalidade da audiência preliminar?


Pelo fim – função – a audiência preliminar tem por finalidade obter uma decisão de submissão
ou não da causa a julgamento, através da comprovação da decisão de deduzir acusação ou
arquivar os autos, artigo 332.º, n.º 1 do C.P.P.

45. A fase de audiência preliminar é obrigatória ou facultativa?


A fase de audiência preliminar é facultativa na medida em que só se realiza a pedido de
indivíduos com legitimidade para o efeito (arguido e assistente), artigos 332.º, n.º 2; 333.º;
343.º, n.º 1 do C.P.P.

46. Qual é a finalidade do debate preliminar?


O debate preliminar permite uma discussão perante o juiz de instrução, por forma oral e
contraditória, sobre se, do decurso da instrução e da audiência preliminar, resultaram indícios

17
de facto e elementos de direito suficientes para justificar a submissão do arguido ao julgamento,
artigo 344.º do C.P.P.

47. O que procede, findo o prazo ou encerrado o debate preliminar?


Findo o prazo ou encerrado o debate preliminar o juiz de instrução criminal profere, ditando
para a acta, o despacho de pronúncia ou não pronúncia, artigo 353.º, n.º 1 do C.P.P podendo
fundamentar pela remissão para as razões de facto e de direito enunciadas na acusação ou no
requerimento de abertura da audiência preliminar.
Ou dada a complexidade das questões a resolver ordena que os autos lhe sejam conclusos a fim
de proferir o despacho, no prazo de 10 (dez) dias, de pronúncia ou não pronúncia, marcando a
data para a sua leitura, artigo 353.º, n.º 2 do C.P.P.

48. Em que consiste o despacho de pronúncia?


É decisão instrutória que decide avançar com o processo para julgamento, porquanto foram
recolhidos indícios suficientes de se terem verificado os pressupostos de que depende a
aplicação ao arguido de uma pena.

49. O que é o despacho de não pronúncia?


É a decisão proferida pelo juiz, quando termina a instrução, pronunciando-se no sentido que o
arguido não deve ser submetido a julgamento, dado que não foram recolhidos indícios
suficientes de se terem verificado os pressupostos de que depende a aplicação ao arguido de
uma pena.

50. Quais são os princípios que orientam o julgamento?


Princípio do contraditório
Dever de o juiz, perante qualquer assunto que tenha que discutir, ouvir as várias razões da
acusação e da defesa. Artigos 368.º, al f); 372.º; e 385.º, n.o 2 do CPP.
Princípio da concentração
Continuidade nas audiências. Impõe que o conjunto de actos processuais que constituem a
audiência se pratique de forma o mais possível concentrada no tempo. Artigo 373.º do CPP.
Ter memória dos factos e evitar a manipulação da prova.
Princípio da imediação
Contacto pessoal entre o juiz e os diversos meios de prova. A convicção do tribunal deve
basear-se na prova produzida e examinada na audiência. Artigos 386.º; 400.º; 401.º; 408.º do
C.P.P.

18
Princípio da oralidade
Associada a imediação temos a oralidade. Maior contacto entre o julgador e as provas. Avaliar
a credibilidade visual. Um contacto com a pessoa é diferente de relato escrito. Artigos 106.º;
386.º; 390.º a 399.º; 400.º; 401.º; 408.º do C.P.P.
Princípio da identidade do juiz
Deste princípio resulta a necessidade de os juízes que participam na audiência serem os mesmos
do princípio ao fim e também serem eles que decidem dos factos considerados e não provados.
Artigos 16.º; 407.º, n.º 1 al b); 409.º, n.º 2 do C.P.P.
Princípio da publicidade.
Implica que à audiência possa assistir qualquer cidadão e que sejam admissíveis relatos
públicos da mesma. É meio de eliminar quaisquer desconfianças sobre a independência e
imparcialidade com que é administrada a justiça penal. Artigos 65, n.º 2 da CRM; 96.º; 97.º;
98.º; 365.º e 407.º do CPP.

Sucessos para si!

19

Você também pode gostar