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1ª Fase | 40° Exame da OAB

Processo Penal

PROCESSO
PENAL
Prof.ª Letícia Sinatora Neves
Prof. Mauro Stürmer

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Olá! Boas-Vindas!
Este material foi preparado com muito carinho para que você
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de
qualidade!

Lembre-se de que o seu sonho também é o nosso!

Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação!

Com carinho,

Equipe Ceisc ♥

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

1ª FASE OAB | 40° EXAME

Processo Penal
Prof.ª Letícia Sinatora Neves
Prof. Mauro Stürmer
Sumário

1. Princípios Fundamentais do Direito Processual Penal ............................................................ 4


2. Aplicação da Lei Processual Penal .......................................................................................... 8
3. Inquérito Policial ..................................................................................................................... 12
4. Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) ............................................................................ 19
5. Ação Penal............................................................................................................................. 22
6. Competência e Jurisdição ...................................................................................................... 28
7. Provas .................................................................................................................................... 40
8. Sujeitos Processuais .............................................................................................................. 48
9. Comunicação dos Atos Processuais das Citações e Intimações ........................................... 49
10. Prisões ................................................................................................................................. 55
11. Medidas Assecuratórias Patrimoniais .................................................................................. 60
12. Das Questões e Processos Incidentes ................................................................................ 65
13. Procedimentos Penais ......................................................................................................... 70
14. Juizados Especiais Criminais ............................................................................................... 78
15. Sentença e Coisa Julgada ................................................................................................... 84
16. Recursos em Processo Penal .............................................................................................. 87
17. Ações autônomas de impugnação: Revisão Criminal, Habeas Corpus e Mandado de
Segurança................................................................................................................................ 101
18. Nulidades no Processo Penal ............................................................................................ 107
19. Lei de Execução Penal ...................................................................................................... 111

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso,
recomenda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em novembro de 2023.

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Processo Penal

1. Princípios Fundamentais do Direito Processual Penal

Prof. Mauro Stürmer


@prof.maurosturmer

Neste ponto do material serão apresentados, de maneira sucinta e objetiva, os mais


importantes princípios de Processo Penal, pois, no decorrer do material, dentro de cada ponto
da disciplina, quando necessário, será feita menção e comentário específicos.

1.1. Princípio da legalidade


Princípio muito caro ao Direito Penal e Processual Penal, pois ligado diretamente a
segurança jurídica. No seu viés, é importante ao processo penal, assim está previsto no art. 5o,
II, da CF, que assegura que “ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei”.

1.2. Princípio da humanidade


Art. 5o, III e XLIX, da CF:
• “Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento desumano ou degradante”;
• “É assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral”.

Garantias processuais de que o processo penal não pode expor o homem a situações
degradantes e torturante.

1.3. Princípio do devido processo legal


Art. 5o, LIV, afirma que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido
processo legal”.

1.4. Imparcialidade do juiz


O juiz, no processo penal, situa-se entre as partes e acima delas – tendo em vista o seu
caráter substitutivo. Certo de que ele não vai ao processo em nome próprio, jamais poderá
haver conflito de interesse entre o Magistrado e a parte. Trata-se de uma característica
subjetiva do órgão jurisdicional.
Para isso estipulam-se:

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Proibição dos Tribunais e Juízes de Exceção (art. 5o, XXXVII).


Dessas regras decorre que ninguém será processado por órgão criado após a ocorrência
do fato.

1.5. Igualdade processual


Nada mais é do que um desdobramento do mandamento esculpido no caput do art. 5o de
nossa Constituição, que nos informa que todos são iguais perante a lei. Assim, em juízo, as
partes devem ter as mesmas oportunidades.
Devemos observar, apenas, que tal princípio pode ser atenuado, pois existem situações
em que a defesa terá algumas prerrogativas processuais que a acusação não possuirá.
Exemplo do princípio do favor rei: o acusado goza de alguns privilégios em contraste
com a pretensão acusatória:
• Art. 609, parágrafo único (embargos infringentes e de nulidade);
• Art. 621 e seguintes (revisão criminal).

Somente a defesa poderá entrar com embargos infringentes ou com a revisão criminal.

1.6. Contraditório
*Para todos verem: esquema.

As partes tem o direito de não apenas produzir provas e de


sustentar suas razões, mas também de vê-las seriamente
apreciadas e valoradas pelo julgador.

Dessa forma elas tem o direito de ser cientificadas sobre


os fatos ocorridos no processo (citações, intimações e
notificações).

Tal princípio foi mais uma vez prestigiado com a reforma


de 2008 que proibiu (art. 155 do CPP) a fundamentação da
decisão com base exclusivamente em elementos
informativos.

1.7. Ampla defesa


Implica o dever do Estado de proporcionar a todo acusado a mais completa defesa, seja
autodefesa (pessoal) ou técnica (efetivada por profissional do Direito inscrito na OAB). Implica,
ainda, o fato de que ao Estado cabe prestar assistência jurídica e integral aos necessitados (art.

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5o, LXXIV).
Decorre, ainda, a necessidade de se observar, como regra, a ordem natural do processo,
em que a defesa será a última a se manifestar.

1.8. Da ação ou da demanda


Cabe sempre à parte provocar a prestação da jurisdição, tendo em vista que os órgãos
jurisdicionais são inertes.

1.9. Garantia contra a autoincriminação


Art. 5o, LXIII, da CF, com a seguinte redação: “O preso será informado de seus direitos,
entre os quais o de permanecer calado [...]”.
Nemo tenetur se detegere.
Ninguém pode ser obrigado a produzir provas contra si mesmo.

1.10. Princípio da inocência


O princípio da inocência revela-se no fato de que ninguém pode ser considerado culpado
senão após o trânsito em julgado de uma sentença condenatória (conforme art. 5 o, LVII,
CF/1988).

1.11. Princípio do juiz natural


Previsto no art. 5o, LIII, da CF/1988, significa dizer que é a garantia de um julgamento
por um juiz competente.
Estabelecido por regras objetivas (de competência) previamente previstas no
ordenamento jurídico.
Proibição de criação de tribunais de exceção, constituídos a posteriori à infração penal e
especificamente para julgá-la.

1.12. Princípio da persuasão racional ou convencimento motivado do


magistrado
O juiz decide com base nos elementos existentes no processo, mas deve avaliá-los por
critérios racionais e sempre motivar suas decisões.
Atenção! No Tribunal do Júri vale o sistema do livre convencimento ou íntima convicção

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do julgador, pois os jurados não são obrigados a motivar suas decisões, ou seja, não são
obrigados a dizer o porquê condenam ou porque absolvem.

1.13. Duplo grau de jurisdição


*Para todos verem: esquema.

Consiste na possibilidade de revisão, por via recursal, das causas já


analisadas/julgadas pelo Juiz de primeiro grau.

Não é tratado de forma expressa nos textos legais e Constitucional,


mas decorre da própria organização do Poder Judiciário.

Há casos em que o mencionado princípio não é aplicável.


JULGAMENTO PELO STF.

1.14. Princípio do promotor natural


Segundo a Constituição Federal, este princípio refere-se a necessidade de que o
julgamento somente ocorra pelo juiz previamente investido na respectiva competência.

Art. 5o, LIII, CF – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade
competente.

Segundo o STF, não pode haver designação casuística de um determinado membro do


MP. Isso irá ferir o princípio do promotor natural.

1.15. Razoável duração do processo


Garantia de todos, direito fundamental expresso em nossa CF, a razoável duração do
processo, foi acrescida no rol do art. 5º pela EC/45. Conforme abaixo se apresenta:

Art. 5, LXXVIII da CF: a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a


razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.

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2. Aplicação da Lei Processual Penal

2.1. Conceito de processo penal


É um conjunto de princípios e normas que disciplinam a composição das lides penais,
por meio da aplicação do Direito Penal objetivo.
É o conjunto de princípios e normas que regulam a aplicação jurisdicional do Direito
Penal, bem como as atividades persecutórias da Polícia Judiciária, e a estruturação dos órgãos
da função jurisdicional e respectivos auxiliares.

2.2. Tipo de processo penal – sistemas


Atenção! Adotamos no processo penal brasileiro o sistema acusatório.

2.3. Lei processual no espaço


Norma de regência:

Art. 1° do CPP. O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este
Código, ressalvados:
I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional;
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado,
nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo
Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2º, e 100);
III - os processos da competência da Justiça Militar;
IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17);
V - os processos por crimes de imprensa.
Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nºs. IV
e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso.

O mencionado artigo traz a regra (aplicação do CPP aos processos no Brasil) e as


exceções. As importantes são: Código de Processo Penal Militar aos processos da Justiça Militar,
não aplicação nos casos de imunidades (a exemplo dos embaixadores) e a cooperação nacional
por meio de tratados ou de termos de cooperação (como cumprimento de cartas rogatórias e
homologação das sentenças estrangeiras – atualmente feita pelo STJ).
Ps.: sentença estrangeira deve ser homologada, já a sentença internacional (de uma
Corte Internacional) essa não necessita da homologação.
Quanto a extradição (assunto mais afeto ao Direito Constitucional, mas aqui apenas
mencionado) não esqueça da não extradição do Brasileiro Nato e daquele acusado de um crime
político.

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2.4. Lei processual no tempo


O mais importante artigo sobre esse assunto é o abaixo transcrito:

Art. 2o do CPP. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade
dos atos realizados sob a vigência da lei anterior.

• Ainda que prejudique a situação do réu, ela é aplicável retroativamente;


• Isso porque é diferente da lei penal (essa sim não retroage para prejudicar o
acusado).

2.4.1. Tempus regit actum


Atos processuais praticados sob a égide da lei antiga são considerados válidos e não são
atingidos pela nova lei processual. Normas novas têm aplicação imediata.

2.5. Fontes das leis processuais


Fonte é o local de onde provém a norma (fonte material).
Para fins de prova da OAB, nosso objetivo aqui, basta o examinando saber o teor do art.
22 da CF que aduz caber a União a produção legislativa das normas de processo penal, com a
autorização, trazida pelo parágrafo único do mencionado dispositivo constitucional, de que o
Estados Membros, legislem sobre temas específicos. Necessário, também, não esquecer que é
possível os Estados Membros legislarem sobre determinados procedimentos. Veja a norma de
regência:
Art. 22 da CF. Compete privativamente à União legislar sobre
I - direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico,
espacial e do trabalho;

Quanto a competência concorrente, imperioso saber que, é possível que Estados


membros venham a legislar sobre: juizado de pequenas causas, direito penitenciário e
procedimentos. Norma de regência:

Art. 24 da CF. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar


concorrentemente sobre:
I - direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico;
X - criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas;
XI - procedimentos em matéria processual;

2.6. Lei processual e sua interpretação


Interpretar é o ato pelo qual se extrai da norma o seu exato alcance.

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2.6.1. Espécies de interpretação


Existe um recurso mnemônico que vai ajudar a não esquecer as espécies de
interpretação:
“Um (i) sujeito busca um (ii) meio de chegar a um (iii) resultado.”

Quanto ao sujeito:
A) Autêntica ou legislativa: feita pelo próprio órgão encarregado da elaboração da lei.
Exemplo: a própria lei explica do que é funcionário público para fins penais (art. 327 do CP).
Atenção! Esta interpretação vincula os intérpretes.
B) Doutrinária: feita pelos estudiosos do Direito.
Atenção! A exposição de motivos do CP é interpretação doutrinária e não autêntica.
C) Judicial: feita pelos órgãos do Poder Judiciário (não é obrigatória).
Cuidado! Poderá ter caráter vinculante. Ex.: súmulas vinculantes.

Quanto ao meio:
A) Gramatical / filológica: leva-se em conta o sentido literal das palavras.
B) Lógica ou teleológica: busca-se a vontade da lei, atendendo-se aos seus fins no
ordenamento jurídico.
C) Sistemática: analisa a coerência da lei com as demais normas do sistema, bem como
em conjunto com os demais princípios de Direito.
D) Histórica: analisa as condições e fundamento da origem da norma. Busca investigar a
sociedade na época da edição da norma.
E) Progressiva: busca o significado legal de acordo com o progresso da ciência.

Quanto ao resultado:
A) Declarativa: a letra da lei corresponde exatamente ao significado desejado pelo
legislador.
B) Restritiva: o legislador disse mais do que desejava dizer, cabendo ao intérprete
restringir seu significado.
C) Extensiva: a lei ficou aquém da vontade do legislador (disse menos do que desejava),
cabendo ao intérprete ampliar seu significado.

Interpretação analógica:

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Muito cuidado! Chefes de Estado, representantes de governo estrangeiros, agentes


diplomáticos, pessoal técnico e administrativo;
É intra legem (dentro da lei).
O texto traz uma cláusula genérica, após trazer uma fórmula casuística.
Ocorre, por exemplo, no homicídio qualificado, veja:

Art. 121, § 2° – Se o homicídio é cometido:


I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; [...]
IV – outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima.

Muita atenção quando se fala em analogia, pois:


• Não é forma de interpretação, mas sim de integração, pois serve para suprir
lacunas legislativas;
• Nada mais é do que a utilização de lei para outro caso semelhante;
• Fundamento: “Onde está a mesma razão, aplica-se o mesmo direito”.

Espécies de analogia:
• In bonam partem: aplica-se ao caso omisso uma lei que beneficia o réu.
• In balam partem: consiste em aplicar a um caso concreto uma lei que irá prejudicar
o réu.

Interpretação da norma processual:

Art. 3o do CPP. A lei processual penal admitirá interpretação extensiva e aplicação


analógica, bem como o suplemento dos princípios gerais de direito.

2.7. Imunidades diplomáticas


Chefes de Estado, representantes de governo estrangeiros, agentes diplomáticos,
pessoal técnico e administrativo.
Admite-se renúncia (pelo Estado).
Embaixadas (sede diplomática) não são consideradas extensões do território estrangeiro
(são, porém, invioláveis).

2.8. Imunidades parlamentares


Material:
Art. 53 da CF. Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos.

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Processual ou formal:
• Garantia quanto à instauração do processo;
• Não ser preso (salvo flagrante delito de crime inafiançável);
• Foro privilegiado;
• Servir como testemunha.

2.9. Imunidades temporárias do Presidente da República


Veja o que, expressamente, prevê nossa Carta Política sobre o tema:

Art. 86, § 4o. O Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser
responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções.

3. Inquérito Policial

O processo penal não serve apenas para que o Estado aplique o seu direito de punir, mas
também para que o indivíduo possa defender-se deste Estado. A Persecução Penal, ou seja, o
caminho a ser percorrido pelo Estado para exercer seu direito de punir, é dividido em duas
etapas. Uma do inquérito policial e outra da ação penal. Aqui trabalharemos a primeira etapa.

3.1. Conceito
O inquérito policial pode ser conceituado como um procedimento administrativo,
preparatório, inquisitivo e sigiloso, presidido pela autoridade policial, que tem por finalidade reunir
elementos necessários à apuração da prática de uma infração penal e sua autoria, a fim de
propiciar a propositura da denúncia ou queixa-crime.

3.2. Natureza jurídica


Pessoal, sempre que for perguntado: “Qual a natureza Jurídica?” de algum instituto, na
verdade, o que se deseja saber é: “o que é isso para o Direito”.
Assim, percebemos que a natureza jurídica do inquérito (o que ele é para o Direito) é de
um procedimento administrativo – não é processo, pois não se constitui de uma relação
trilateral (delegado – parte A, parte B contrária – contraditório e ampla defesa), por isso se fala
em investigado, que pode ser o objeto de uma investigação.

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3.3. Espécies de inquéritos


Segundo o artigo abaixo, outras autoridades, desde que autorizadas por lei, podem
investigar. Vejamos:

Art. 4o do CPP. A polícia judiciária será exercida pelas autoridades policiais no território
de suas respectivas circunscrições e terá por fim a apuração das infrações penais e da
sua autoria.
Parágrafo único. A competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades
administrativas, a quem por lei seja cometida a mesma função.

*Para todos verem: esquema.

Policiais Não policiais

Inquérito Policial Inquéritos Parlamentares -


Súmula 397 do STF (crime
ocorrido na CD ou SF)
Delegados de
Polícia de Carreira
– PC ou PF Inquéritos Presididos por
Autoridades Judiciárias ou
do MP

Inquérito Civil – MP

Inquéritos Policiais
Militares – IPM

Cuidado! Segundo o STF, o Ministério Público poderá investigar. O fundamento


encontrado pela Suprema Corte foi a teoria dos poderes implícitos. Tal investigação será
instrumentalizada por meio de um PIC (procedimento investigatório criminal) e não por meio de
inquérito policial.

3.4. Finalidade
Fornecer elementos de convicção para que o titular da ação penal (MP ou ofendido)
ingresse em juízo.

3.5. Instauração do IP
Colegas, estamos diante de um dos pontos mais cobrados em primeira fase. Logo,
leia com MUITA atenção.

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A forma de início do inquérito irá depender, necessariamente, da espécie de ação


penal.
Ler com muita atenção o art. 5o do CPP, explicado abaixo:
1 – Crimes de ação penal pública incondicionada
A) De ofício – a autoridade inicia o IP sem a necessidade de que alguém o informe, toma
conhecimento da infração sem a necessidade da ação penal, a peça inaugural é uma portaria e
se trata de uma cognição imediata.
B) Requisição do juiz ou do MP – o delegado age provocado pelo juiz ou pelo MP – a
peça inaugural pode ser a própria requisição, ou pode ser uma portaria, é uma cognição
mediata.
Cuidado! É importante saber essa forma de início do inquérito para os casos de HC.
Autoridade coatora. Perceba que nela a autoridade coatora não será o Delegado, mas sim o juiz
ou promotor que requisitou a instauração do IP.
C) Requerimento da vítima ou do seu representante legal – art. 5o, II, CPP
A peça inaugural pode ser a petição da vítima, ou o delegado inaugura por portaria, trata-
se de uma cognição mediata.
D) Flagrante – pode ser instaurado mediante prisão em flagrante.
A peça inaugural é o auto de prisão em flagrante, trata-se de uma cognição coercitiva.
E) Notícia formulada por qualquer do povo – a notícia pode ser anônima ou apócrifa?
Notícia anônima pode fundamentar a instauração de IP, desde que se apure
preliminarmente a viabilidade da notícia, investigue antes, realize rápida diligência para
verificar a veracidade da notícia, se procedente, elabora-se portaria e instaura-se o IP.

2 – Crimes de ação penal pública condicionada

Art. 5o, § 4o, CPP. O inquérito, nos crimes em que a ação pública depender de
representação [Ação Penal Pública Condicionada], não poderá sem ela ser iniciado.

3 – Crimes de ação penal de iniciativa privada

Art. 5o, § 5o, CPP. Nos crimes de ação privada, a autoridade policial somente poderá
proceder a inquérito a requerimento de quem tenha qualidade para intentá-la.

3.6. Características do inquérito policial


1) Instrumental: o IP tem por finalidade apurar a materialidade da infração penal e indícios

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da autoria. Ele não é um fim em si mesmo, mas um instrumento para a instauração da futura
ação penal.
2) Obrigatório: havendo justa causa, o delegado não pode deixar de instaurar o
procedimento investigatório, a autoridade não pode deixar de instaurar.
E no caso de ser requerida a instauração e o Delegado indeferir? Aplica-se o artigo abaixo:

Art. 5o, § 2o, CPP. Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: {...]
§ 2o Do despacho que indeferir o requerimento de abertura de inquérito caberá recurso
para o chefe de Polícia.

3) Discricionário: os atos de investigação são da análise exclusiva da autoridade policial,


que estudará sua conveniência e oportunidade; a discricionariedade diz respeito às diligências.
Cuidado! No caso de o crime deixar vestígios (não transeunte), o exame de corpo de
delito (art. 158 do CPP) será obrigatório.

Art. 14. O ofendido, ou seu representante legal, e o indiciado poderão requerer qualquer
diligência, que será realizada, ou não, a juízo da autoridade.

4) Dispensável: se o titular da ação penal tiver provas da materialidade e indícios da


autoria por outro meio, o IP é dispensável.

Art. 39. [...] § 5o O órgão do Ministério Público dispensará o inquérito, se com a


representação forem oferecidos elementos que o habilitem a promover a ação penal, e,
neste caso, oferecerá a denúncia no prazo de 15 dias.

5) Informativo: os elementos colhidos no IP servirão apenas para subsidiar a ação penal.

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares,
não repetíveis e antecipadas.

6) Escrito:
Art. 9o Todas as peças do inquérito policial serão, num só processado, reduzidas a escrito
ou datilografadas e, neste caso, rubricadas pela autoridade.

7) Sigiloso:
Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade.

Porém ele não é sigiloso para:


• O juiz;

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• O MP – pode acompanhar o inquérito e ser o mesmo promotor na ação penal –


Súmula no 234, STJ.

Súmula no 234 – A participação de membro do ministério público na fase investigatória


criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento da denúncia.

• O advogado – art. 7o, XIV, do EOAB e Súmula Vinculante no 14.

Art. 7, XXI (EAOB) – assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações,
sob pena de nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e,
subsequentemente, de todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes
ou derivados, direta ou indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva
apuração:
a) apresentar razões e quesitos; (perguntas...)
Art. 7, XIV, da Lei 8.906/1994 (EOAB) – examinar, em qualquer instituição responsável
por conduzir investigação, mesmo sem procuração, autos de flagrante e de investigações
de qualquer natureza, findos ou em andamento, ainda que conclusos à autoridade,
podendo copiar peças e tomar apontamentos, em meio físico ou digital;

Súmula Vinculante n° 14 – É direito do defensor, no interesse do representado, ter


acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento
investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito
ao exercício do direito de defesa.

8) Inquisitivo: não havendo acusado, mas somente suspeito, não se aplica ao IP o


contraditório.
Atenção! Segundo a doutrina, o contraditório fica postergado (diferido) para ser usado
durante a ação penal.
9) Indisponível: art. 17 do CPP.

Art. 17. A autoridade policial não poderá mandar arquivar autos de inquérito.

10) Temporário: é uma garantia constitucional, art. 5o, LXXVIII, CF – duração razoável
do processo.

3.7. Prazo do IP
3.7.1. Regra geral

Art. 10 do CPP. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 dias, se o indiciado tiver sido
preso em flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nesta hipótese, a
partir do dia em que se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 dias, quando estiver
solto, mediante fiança ou sem ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.
§ 2o No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas,
mencionando o lugar onde possam ser encontradas.

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§ 3o Quando o fato for de difícil elucidação, e o indiciado estiver solto, a autoridade poderá
requerer ao juiz a devolução dos autos, para ulteriores diligências, que serão realizadas
no prazo marcado pelo juiz.

Anota aí:
• Indiciado preso – 10 dias. Improrrogável;
• Indiciado solto – 30 dias. Prorrogável.

3.7.2. Prazos especiais


Lei no 5.010/1966 – prazo de conclusão do IP na Justiça Federal – art. 66: indiciado
preso – 15 dias, prorrogado por mais 15 dias.
Segundo o art. 66, o preso deverá ser apresentado ao juiz para a prorrogação: indiciado
solto – 30 dias, prorrogáveis a critério do juiz – segue o CPP.
Lei no 11.343/2006 – Lei de Drogas:
• Indiciado preso – 30 dias, prorrogável por mais 30 dias.
• Indiciado solto – 90 dias, prorrogável por mais 90 dias.

3.8. Vícios no inquérito policial


Não sendo o inquérito policial um ato do Poder Judiciário, mas sim um procedimento
administrativo, os vícios que existam nesta fase da persecução penal não acarretam
nulidade processual.
Cuidado! A irregularidade poderá, entretanto, acarretar a invalidade de um ato. É o que
ocorre com a prisão em flagrante irregular etc.

3.9. Indiciamento
É o ato pelo qual o delegado atribui a alguém a prática de uma infração penal, baseado
em indícios da autoria e prova da materialidade.
Pergunta: seria possível o indiciamento determinado por um juiz ou promotor?
O SFT já respondeu e disse que não. STF. 2ª T. – HC no 115015/SP – rel. Min. Teori
Zavascki – j. em 27-8-2013 (Info 717 do STF).
O indiciamento é ato privativo da autoridade policial, segundo sua análise técnico-jurídica
do fato. O juiz não pode determinar que o Delegado de Polícia faça o indiciamento de alguém.

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3.10. Encerramento do inquérito policial


Previsão legal:

Art. 10. do CPP. [...] § 1 A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e
enviará autos ao juiz competente.
§ 2 No relatório poderá a autoridade indicar testemunhas que não tiverem sido inquiridas,
mencionando o lugar onde possam ser encontradas. [...]
Art. 19. Nos crimes em que não couber ação pública, os autos do inquérito serão remetidos
ao juízo competente, onde aguardarão a iniciativa do ofendido ou de seu
representante legal, ou serão entregues ao requerente, se o pedir, mediante
traslado.

Procedimentos no encerramento: novo art. 28 do CPP e a suspensão pelo STF.

Art. 28. Ordenado o arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer elementos


informativos da mesma natureza, o órgão do Ministério Público comunicará à vítima,
ao investigado e à autoridade policial e encaminhará os autos para a instância de revisão
ministerial para fins de homologação, na forma da lei.
§ 1o Se a vítima, ou seu representante legal, não concordar com o arquivamento do
inquérito policial, poderá, no prazo de 30 (trinta) dias do recebimento da comunicação,
submeter a matéria à revisão da instância competente do órgão ministerial, conforme
dispuser a respectiva lei orgânica.
§ 2o Nas ações penais relativas a crimes praticados em detrimento da União, Estados e
Municípios, a revisão do arquivamento do inquérito policial poderá ser provocada pela
chefia do órgão a quem couber a sua representação judicial.

Importante! O STF (Min. Luiz Fux) suspendeu o trecho que modificou o art. 28 do CPP e
estabeleceu regras para o arquivamento de inquéritos policiais. Com a norma, o Ministério
Público (MP) deveria comunicar à vítima, ao investigado e à polícia no caso de arquivamento do
inquérito, além de encaminhar os “autos para a instância de revisão ministerial para fins de
homologação, na forma da lei”. Para Fux, a medida desconsiderou os impactos financeiros no
âmbito do MP em todo o país. Assim, continuamos utilizando, enquanto a decisão do STF não
for revisada, a sistemática do revogado art. 28, abaixo transcrito:

Com a suspensão do art. 28 do CPP, em face da decisão acima apresentada, o


arquivamento na prática continua a ser realizado mediante requerimento (promoção) do
MP e por decisão judicial.

Assim: se o órgão do Ministério Público, em vez de apresentar a denúncia, requerer o


arquivamento do inquérito policial ou de quaisquer peças de informação, o juiz, no caso de
considerar improcedentes as razões invocadas, fará remessa do inquérito ou peças de
informação ao procurador-geral, e este oferecerá a denúncia, designará outro órgão do Ministério
Público para oferecê-la, ou insistirá no pedido de arquivamento, ao qual só então estará o juiz
obrigado a atender.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Cuidado com a alteração legislativa:

Art. 14-A. Nos casos em que servidores vinculados às instituições dispostas no art. 144
da Constituição Federal figurarem como investigados em inquéritos policiais, inquéritos
policiais militares e demais procedimentos extrajudiciais, cujo objeto for a investigação de
fatos relacionados ao uso da força letal praticados no exercício profissional, de forma
consumada ou tentada, incluindo as situações dispostas no art. 23 do Decreto-Lei no
2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), o indiciado poderá constituir defensor.
§ 1o Para os casos previstos no caput deste artigo, o investigado deverá ser citado da
instauração do procedimento investigatório, podendo constituir defensor no prazo de
até 48 (quarenta e oito) horas a contar do recebimento da citação.
§ 2o Esgotado o prazo disposto no § 1o deste artigo com ausência de nomeação de
defensor pelo investigado, a autoridade responsável pela investigação deverá intimar a
instituição a que estava vinculado o investigado à época da ocorrência dos fatos, para
que essa, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, indique defensor para a representação
do investigado.
§ 3o Havendo necessidade de indicação de defensor nos termos do § 2 o deste artigo, a
defesa caberá preferencialmente à Defensoria Pública, e, nos locais em que ela não
estiver instalada, a União ou a Unidade da Federação correspondente à respectiva
competência territorial do procedimento instaurado deverá disponibilizar profissional para
acompanhamento e realização de todos os atos relacionados à defesa administrativa do
investigado.
§ 4o A indicação do profissional a que se refere o § 3 o deste artigo deverá ser precedida
de manifestação de que não existe defensor público lotado na área territorial onde tramita
o inquérito e com atribuição para nele atuar, hipótese em que poderá ser indicado
profissional que não integre os quadros próprios da Administração.
§ 5o Na hipótese de não atuação da Defensoria Pública, os custos com o patrocínio dos
interesses dos investigados nos procedimentos de que trata este artigo correrão por conta
do orçamento próprio da instituição a que este esteja vinculado à época da ocorrência dos
fatos investigados.
§ 6o As disposições constantes deste artigo se aplicam aos servidores militares vinculados
às instituições dispostas no art. 142 da Constituição Federal, desde que os fatos
investigados digam respeito a missões para a Garantia da Lei e da Ordem.

4. Acordo de Não Persecução Penal (ANPP)

Recentemente incluído no art. 28-A do CPP, vem a reforçar o objetivo do Estado Brasileiro
de cada vez mais aderir ao Direito Penal negocial.
Condições para sua implementação.
Conforme o art. 28-A do CPP, para que o ANPP venha a ser possível, devem ser
verificadas, cumulativamente, as exigências abaixo:
a) não sendo caso de arquivamento,
b) o investigado confessado formal e circunstancialmente a prática,
c) a infração penal ter sido praticada sem violência ou grave ameaça,
d) pena mínima inferior a quatro anos.

No caso de ter sido proposto o acordo, as seguintes condições alternativamente ou

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

cumulativamente devem ser observadas:


• Reparar o dano ou restituir a coisa à vítima, exceto na impossibilidade de fazê-lo.
• Renunciar voluntariamente a bens e direitos indicados pelo Ministério Público como
instrumentos, produto ou proveito do crime.
• Prestar serviço à comunidade ou a entidades públicas por período correspondente
à pena mínima cominada ao delito diminuída de um a dois terços, em local a ser
indicado pelo juízo da execução.
• Pagar prestação pecuniária, a ser estipulada nos termos do art. 45 do Decreto-Lei
no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código Penal), a entidade pública ou de
interesse social, a ser indicada pelo juízo da execução, que tenha,
preferencialmente, como função proteger bens jurídicos iguais ou semelhantes aos
aparentemente lesados pelo delito.

Além das condições anteriormente apresentadas, outra poderá será indicada pelo MP,
desde que proporcional e compatível com a infração penal imputada.
Embora as condições acima estejam preenchidas, a lei processual vedou,
expressamente, o ANPP em algumas situações, são elas:
a) Se for cabível transação penal de competência dos Juizados Especiais Criminais, pois
ela é melhor para o investigado e terá preferência, impedindo a realização do ANPP.
b) se o investigado for reincidente ou se houver elementos probatórios que indiquem
conduta criminal habitual, reiterada ou profissional, exceto se insignificantes as infrações penais
pretéritas. Quanto a ser reincidente, não há dificuldade na compreensão, mas, quanto a ser a
conduta do agente insignificante, a doutrina critica essa expressão. Porém, para fins de prova, a
mesma deve ser observada.
c) ter sido o agente beneficiado nos cinco anos anteriores ao cometimento da infração,
em acordo de não persecução penal, transação penal ou suspensão condicional do processo.
d) nos crimes praticados no âmbito de violência doméstica ou familiar, ou praticados contra
a mulher por razões da condição de sexo feminino, em favor do agressor.
No tocante à formalização do acordo, necessário mencionar que o juiz dele não
participa, sob pena de nulidade. Sua participação será apenas na homologação. Assim, tal
negociação deve ser feita entre o Ministério Público, o investigado e seu Advogado. Importante,
também, mencionar aqui que a falta da defesa técnica (Advogado) conduz à nulidade do acordo.
A mencionada homologação do acordo será, necessariamente, feita em uma audiência.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Nela o Magistrado verificará a voluntariedade do investigado – que necessariamente deverá


estar presente – e observará a legalidade do acordo.
No caso de o juiz se negar a homologar o acordo, é possível a interposição de recurso
em sentido estrito (RESE), na forma do previsto no art. 581, XXV, do CPP.
Uma vez homologado judicialmente o acordo, este será devolvido ao Ministério Público
para que o execute no juízo das Execuções.
Importante mencionar que o legislador pensou na vítima, pois determinou que o acordo,
uma vez homologado ou descumprido, deverá a vítima ser comunicada.
No caso de descumprimento do acordo, o MP deverá comunicar o juízo competente e
posteriormente oferecer a denúncia. Neste caso o MP poderá deixar de oferecer a suspensão
condicional do processo prevista na Lei do Juizado Especial Criminal.
Uma vez cumprido integralmente o acordo de não persecução penal, o juízo competente
decretará a extinção de punibilidade.
Por derradeiro, importante não esquecer que celebração e cumprimento do acordo de não
persecução penal não constarão de certidão de antecedentes criminais, salvo para que o mesmo
não seja ofertado novamente no prazo de cinco anos.
Por ser um assunto novo, a jurisprudência sobre esse instituto ainda é pouca. Todavia,
para fins de prova, a colacionada abaixo deverá ser observada:

EMENTA: Direito penal e processual penal. Agravo regimental em habeas corpus. Acordo
de não persecução penal (art. 28-A do CPP). Retroatividade até o recebimento da
denúncia. 1. A Lei no 13.964/2019, no ponto em que institui o acordo de não persecução
penal (ANPP), é considerada lei penal de natureza híbrida, admitindo conformação entre
a retroatividade penal benéfica e o tempus regit actum. 2. O ANPP se esgota na etapa
pré-processual, sobretudo porque a consequência da sua recusa, sua não homologação
ou seu descumprimento é inaugurar a fase de oferecimento e de recebimento da denúncia.
3. O recebimento da denúncia encerra a etapa pré-processual, devendo ser considerados
válidos os atos praticados em conformidade com a lei então vigente. Dessa forma, a
retroatividade penal benéfica incide para permitir que o ANPP seja viabilizado a fatos
anteriores à Lei no 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia. 4. Na hipótese
concreta, ao tempo da entrada em vigor da Lei no 13.964/2019, havia sentença penal
condenatória e sua confirmação em sede recursal, o que inviabiliza restaurar fase da
persecução penal já encerrada para admitir-se o ANPP. 5. Agravo regimental a que se
nega provimento com a fixação da seguinte tese: “o acordo de não persecução penal
(ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes da Lei no 13.964/2019, desde que não recebida
a denúncia. (HC no 191464 AgR – rel. Roberto Barroso – 1ª T. – j. 11-11-2020 – Processo
Eletrônico DJe-280 – Divulg 25-11-2020 – Public 26-11-2020)

Em resumo: o acordo de não persecução penal (ANPP) aplica-se a fatos ocorridos antes
da Lei no 13.964/2019, desde que não recebida a denúncia.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

5. Ação Penal

É o direito subjetivo de pedir ao Estado-Juiz, titular exclusivo do ius puniendi (direito de


punir), a aplicação do direito penal objetivo a um caso concreto.

5.1. Condições da ação penal


São requisitos que irão subordinar o exercício do direito de ação.
*Para todos verem: esquema.

Necessárias em
todos os tipos de
Genéricas ação, para um
exercício válido de tal
direito.
Espécies

Presentes apenas em
Específicas determinadas ações.

Condições genéricas:
1) Possibilidade jurídica do pedido – pedido na ação de estar previsto no ordenamento –
tipicidade;
2) Legitimidade para agir – possibilidade de ocupar o polo passivo e ativo da ação;
3) Interesse em agir (necessidade, utilidade, adequação);
4) Justa causa.

Exemplos de condições específicas:


• Representação do ofendido (art. 88 da Lei do JECRIM – Lei no 9.099/1995);
• Requisição do Ministro da Justiça (art. 145 do CP).

5.2. Classificação da ação penal


No processo civil a classificação das ações leva em conta o provimento jurisdicional
invocado (ação de conhecimento, ação cautelar, ação de execução).

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

No processo penal, a classificação se dá não pelo provimento, mas sim pela titularidade
do sujeito ativo.

Ação Penal Pública:


1. Incondicionada
2. Condicionada
2.1. Representação
2.2. Requisição

Ação Penal Privada:


1. Personalíssima
2. Exclusiva
3. Subsidiária da Pública

Regra geral: art. 100, do Código Penal – a ação penal será pública, salvo quando a lei
expressamente a declara privativa do ofendido.

5.3. Princípios da ação penal


Pública:
• Obrigatoriedade;
• Indisponibilidade;
• Oficialidade – o órgão ministerial é uma instituição Oficial – pertencente ao Estado.

Privada:
• Conveniência e oportunidade;
• Disponibilidade – poderá desistir da Ação – perdão ou perempção;
• Indivisibilidade – importantíssima para as hipóteses de renúncia ou perdão do
ofendido – estudaremos a seguir.

5.4. Ação penal pública


Ação penal pública – titular é o MP – art. 129, I, CF.

Art. 129, CF/1988. São funções institucionais do Ministério Público:


I – Promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Pode ser classificada como:


a) Ação penal pública incondicionada;
b) Ação penal pública condicionada.

Ação penal pública incondicionada:


Regra no Direito Penal.
Titular – MP.
Não está adstrita ao preenchimento de qualquer condição específica. Bastam as
genéricas.

Ação penal pública condicionada: a representação do ofendido.


Quanto à representação (condição específica da ação penal) não podemos esquecer:
Manifestação de que tem interesse na persecução penal do agente.
Natureza jurídica – condição objetiva de procedibilidade.
Não há formalismo.
Não vincula o Ministério Público.
Prazo: decadencial de seis meses. Leia o artigo abaixo:

Art. 38 do CPP. Salvo disposição em contrário, o ofendido, ou seu representante legal,


decairá no direito de queixa ou de representação, se não o exercer dentro do prazo de
seis meses, contado do dia em que vier a saber quem é o autor do crime, ou, no caso do
art. 29, do dia em que se esgotar o prazo para o oferecimento da denúncia.

Retratação da retratação da representação (aqui a vítima autorizou, depois desautorizou


(voltou atrás) e agora deseja autorizar a persecução penal novamente. Possível?
Sim, até o prazo decadencial de seis meses.

Ação penal pública condicionada a requisição do Ministro da Justiça:


Natureza jurídica – condição específica objetiva de procedibilidade.
É ato político. Não vincula o Ministério Público a oferecer a denúncia.
Prazo – não tem prazo decadencial, porém, o delito está sujeito ao prazo prescricional.
Hipóteses:
a) Crime cometido por estrangeiro contra brasileiro, fora do país (art. 7 o, § 3o, b, do CP).
b) Crimes contra a honra praticados contra o PR (art. 141, c/c art. 145 do parágrafo único).

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Muita atenção!

Art. 24, § 2o do CPP. Seja qual for o crime, quando praticado em detrimento do
patrimônio ou interesse da União, Estado e Município, a ação penal será pública.

5.5. Ação penal privada


Classificação: em alguns casos, o crime atenta a um interesse particular da pessoa
que o Estado deixa a seu cargo o início da ação penal. A legitimidade é do ofendido ou do
representante legal.
Espécies:
a) Ação penal privada personalíssima – não há sucessão processual, ou seja,
morrendo o ofendido, estará extinta a punibilidade. Temos apenas um caso em nosso
ordenamento jurídico (art. 236 do CP)

Induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento


Art. 236. Contrair casamento, induzindo em erro essencial o outro contraente, ou
ocultando-lhe impedimento que não seja casamento anterior:
Pena – detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. A ação penal depende de queixa do contraente enganado (somente
ele pode ingressar com a queixa) e não pode ser intentada senão depois de transitar em
julgado a sentença que, por motivo de erro ou impedimento, anule o casamento.

b) Ação penal privada exclusivamente privada – há sucessão processual, se o autor


morrer, o direito de ingressar com a queixa é transmitida aos sucessores. Art. 31 do CPP – CADI
(cônjuge, ascendente, descendente ou irmão).
c) Ação penal privada subsidiária da pública – só é cabível diante da inércia do MP,
ou seja, se o MP não fizer nada pode se entrar com a queixa subsidiária.
Observações:
É possível quando houver inércia do MP.
• Direito fundamental.

Prazo para oferecer a denúncia (CPP) – que deve ser cumprido pelo MP (sob pena de
autorizar a ação penal privada subsidiária):
• Réu preso: cinco dias.
• Réu solto: quinze dias.

Poderes do Ministério Público: a ação penal privada subsidiária da pública continua a ter
natureza jurídica de ação pública (veja o art. 29 do CPP abaixo):

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Art. 29. do CPP. Será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for
intentada no prazo legal, cabendo ao Ministério Público aditar a queixa, repudiá-la e
oferecer denúncia substitutiva, intervir em todos os termos do processo, fornecer
elementos de prova, interpor recurso e, a todo tempo, no caso de negligência do
querelante, retomar a ação como parte principal.

Ação penal – peças acusatórias


• Ação Penal Pública: denúncia (capacidade postulatório do Promotor).
• Ação Penal Privada: queixa-crime (capacidade postulatória do Advogado).

Institutos previstos apenas para a ação penal privada.


Aqui veremos a importância do princípio da indivisibilidade da ação penal privada.
Atenção! Esses institutos não se aplicam à ação penal privada subsidiária da pública,
pois nela – segundo o art. 29 do CPP – o MP poderá reassumir a titularidade do MP.

1 – Renúncia
É um ato unilateral (não depende do outro) do ofendido ou do seu representante legal
renunciando ao direito de promover a ação penal privada, com a consequente extinção da
punibilidade (art. 107, V, do CP).
Só é cabível antes do início do processo.
Renúncia concedida a um dos coautores se estende aos demais – em virtude do princípio
da indivisibilidade.
Art. 49 do CPP. A renúncia ao exercício do direito de queixa, em relação a um dos autores
do crime, a todos se estenderá.

Pode ser:
Renúncia expressa: é aquela feita por declaração inequívoca.

Art. 50. do CPP. A renúncia expressa constará de declaração assinada pelo ofendido, por
seu representante legal ou procurador com poderes especiais.
Parágrafo único. A renúncia do representante legal do menor que houver completado 18
(dezoito) anos não privará este do direito de queixa, nem a renúncia do último excluirá o
direito do primeiro.

Renúncia tácita: ocorre diante da prática de ato incompatível com a vontade de


processar.
O fato de o ofendido receber indenização pelo dano causado pelo crime não implica
renúncia expressa ou tácita do direito de queixa.

Art. 104 do CP. O direito de queixa não pode ser exercido quando renunciado expressa
ou tacitamente.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Parágrafo único. Importa renúncia tácita ao direito de queixa a prática de ato incompatível
com a vontade de exercê-lo.

2 – Perdão – ação penal privada


Conceito: é o ato pelo qual o ofendido ou seu representante legal desiste de prosseguir
com o andamento do processo já em curso, perdoando seu ofensor com a consequente
extinção da punibilidade, o querelante deve aceitar, pois é bilateral.
O perdão só é cabível após o início do processo e até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória.
Coautores: perdão concedido a um dos coautores, estende-se aos demais
(indivisibilidade), mas uns poderão aceitar e outros não.

Art. 51 do CPP. O perdão concedido a um dos querelados aproveitará a todos, sem que
produza, todavia, efeito em relação ao que o recusar.
Art. 55 do CPP. O perdão poderá ser aceito por procurador com poderes especiais.

Perdão poderá ser:


• Processual: quando concedido dentro do processo. Neste caso, a aceitação
poderá ser expressa ou tácita. Será tácita quando não houver manifestação após
três dias da intimação (deve constar do mandado de intimação) - art. 58, CPP.
• Extraprocessual: neste caso, a aceitação também poderá ser expressa ou tácita.
A expressa, conforme o art. 59, deverá ser feita por declaração assinada pelo
querelado ou por seu representante legal (com poderes especiais), já na aceitação
tácita ocorrerá quando praticar ato incompatível com a intenção de prosseguir
com o processo.

Não confunda com perdão judicial! O perdão judicial é oferecido pelo juiz; o perdão do
ofendido é concedido pelo ofendido; o perdão judicial é previsto na lei.

Art. 121, § 5o, do CP. Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a
pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que
a sanção penal se torne desnecessária.

Perdão e renúncia – naturezas jurídicas: a renúncia e o perdão são institutos que


geram a extinção da punibilidade, tudo na forma do art 107 do CP.

3 – Perempção
Conforme art. 107 do CP, a perempção, na forma do artigo abaixo, é causa extintiva da

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

punibilidade.
Art. 60 do CPP. Nos casos em que somente se procede mediante queixa, considerar-se-
á perempta a ação penal:
I – quando, iniciada esta, o querelante deixar de promover o andamento do processo
durante 30 dias seguidos;
II – quando, falecendo o querelante, ou sobrevindo sua incapacidade, não comparecer em
juízo, para prosseguir no processo, dentro do prazo de 60 (sessenta) dias, qualquer das
pessoas a quem couber fazê-lo, ressalvado o disposto no art. 36;
III – quando o querelante deixar de comparecer, sem motivo justificado, a qualquer ato do
processo a que deva estar presente, ou deixar de formular o pedido de condenação nas
alegações finais;
IV – quando, sendo o querelante pessoa jurídica, esta se extinguir sem deixar sucessor.

Ação civil – ex delicto.


É aquela oriunda de uma condenação em processo penal no qual o autor busca uma
indenização em face do dano sofrido pelo crime do qual foi vítima.
Artigo fundamentais:

Art. 63. Transitada em julgado a sentença condenatória, poderão promover-lhe a


execução, no juízo cível, para o efeito da reparação do dano, o ofendido, seu
representante legal ou seus herdeiros.
Parágrafo único. Transitada em julgado a sentença condenatória, a execução poderá ser
efetuada pelo valor fixado nos termos do inciso IV do caput do art. 387 deste Código sem
prejuízo da liquidação para a apuração do dano efetivamente sofrido.
Art. 64. Sem prejuízo do disposto no artigo anterior, a ação para ressarcimento do dano
poderá ser proposta no juízo cível, contra o autor do crime e, se for caso, contra o
responsável civil.
Parágrafo único. Intentada a ação penal, o juiz da ação civil poderá suspender o curso
desta, até o julgamento definitivo daquela.
Art. 65. Faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato
praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento
de dever legal ou no exercício regular de direito.
Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser
proposta quando não tiver sido, categoricamente, reconhecida a inexistência material
do fato.
Art. 67. Não impedirão igualmente a propositura da ação civil:
I – o despacho de arquivamento do inquérito ou das peças de informação;
II – a decisão que julgar extinta a punibilidade;
III – a sentença absolutória que decidir que o fato imputado não constitui crime.
Art. 68. Quando o titular do direito à reparação do dano for pobre (art. 32, §§ 1 o e 2o), a
execução da sentença condenatória (art. 63) ou a ação civil (art. 64) será promovida, a
seu requerimento, pelo Ministério Público.

6. Competência e Jurisdição

6.1. Conceitos
Poder atribuído com exclusividade ao Judiciário para decidir um determinado litígio
segundo as regras legais existentes.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

É o poder das autoridades judiciárias regularmente investidas no cargo de dizer o direito


no caso concreto.

6.2. Jurisdição x competência


Não se pode confundir a jurisdição com a competência, sendo que esta é uma limitação
daquela.
Competência seria a parte da jurisdição que cada órgão jurisdicional pode legalmente
exercer.

6.3. Características da jurisdição


Substitutividade: a jurisdição é a atividade desenvolvida pelo órgão judicial em
substituição as partes.
Inércia: Não há, como regra, prestação jurisdicional de ofício. O Poder Judiciário dever ser
provocado.
Exceção: concessão de HC de ofício.
Coisa julgada: impossibilidade de decisão judicial ser revista por órgão estranho ao Poder
Judiciário.

6.4. Princípio do juiz natural


Quando se busca fixar de maneira correta a competência, temos por objetivo respeitar o
princípio do juiz natural (princípio de assento constitucional).

Art. 5o da CF. [...] XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;


LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente.

Aplicação imediata de lei que altera competência.


Tenha cuidado com a lei processual penal no tempo, pois, segundo o art. 2o do CPP, ela
é aplicada imediatamente (ainda que o processo esteja tramitando). Neste caso, o juiz que deixou
de ser competente encaminha os autos ao que passou a ser.

6.5. Lei processual que altera as regras de competência

Art. 2o. A lei processual penal aplicar-se-á desde logo, sem prejuízo da validade dos atos
realizados sob a vigência da lei anterior.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

6.6. Competências
Guia de fixação de competência: Aqui temos “perguntas” que devem ser respondidas para
fixarmos corretamente a competência.
• Competência originária – o acusado tem foro por prerrogativa de função?
• Competência de jurisdição – qual é a justiça competente?
• Competência territorial – qual a comarca competente?
• Competência de juízo – qual a vara competente?
• Competência interna – qual o juiz competente?
• Competência recursal – para onde vai o recurso?

Agora você fará uma leitura com bastante atenção.


A fixação da competência por prerrogativa da função é aquela que deriva da relevante
função pública exercida pelo autor da infração. Como regra, ela está prevista na Constituição
Federal. Ocorre que o STF vem cada vez mais restringindo sua aplicação, tudo em respeito ao
princípio republicano. Segundo nossa Suprema Corte:

As normas da Constituição de 1988 que estabelecem as hipóteses de foro por prerrogativa


de função devem ser interpretadas restritivamente, aplicando-se apenas aos crimes que
tenham sido praticados durante o exercício do cargo e em razão dele. Assim, por
exemplo, se o crime foi praticado antes de o indivíduo ser diplomado como Deputado
Federal, não se justifica a competência do STF, devendo ele ser julgado pela 1ª instância
mesmo ocupando o cargo de parlamentar federal. Além disso, mesmo que o crime tenha
sido cometido após a investidura no mandato, se o delito não apresentar relação direta
com as funções exercidas, também não haverá foro privilegiado. Foi fixada, portanto, a
seguinte tese: O foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes
cometidos durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
(STF. Plenário. AP no 937 QO/RJ – rel. Min. Roberto Barroso – j. 03-05-2018 – Informativo
no 900 do STF).

Em resumo: o foro por prerrogativa de função aplica-se apenas aos crimes cometidos
durante o exercício do cargo e relacionados às funções desempenhadas.
Previsão legal para fixação da competência:

Art. 69. Determinará a competência jurisdicional:


I – o lugar da infração:
II – o domicílio ou residência do réu;
III – a natureza da infração;
IV – a distribuição;
V – a conexão ou continência;
VI – a prevenção;
VII – a prerrogativa de função.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Muito cuidado com essa decisão judicial!


Crimes contra vida – teoria do esboço do resultado: em regra, o CPP acolhe a teoria
do resultado, considerando como lugar do crime o local onde o delito se consumou (crime
consumado) ou onde foi praticado o último ato de execução (no caso de crime tentado), nos
termos do art. 70 do CPP. Excepcionalmente no caso de crimes contra a vida (dolosos ou
culposos), se os atos de execução ocorreram em um lugar e a consumação se deu em outro, a
competência para julgar o fato será do local onde foi praticada a conduta (local da
execução). Adota-se a teoria da atividade. (STF – RHC no 116200/RJ, rel. Min. Dias Toffoli, 1ª
T., Dje 13.8.2013.)

A) Competência pelo lugar da infração

Art. 70. A competência será, de regra, determinada pelo lugar em que se consumar a
infração, ou, no caso de tentativa, pelo lugar em que for praticado o último ato de
execução.
§ 1o Se, iniciada a execução no território nacional, a infração se consumar fora dele, a
competência será determinada pelo lugar em que tiver sido praticado, no Brasil, o último
ato de execução.
§ 2o Quando o último ato de execução for praticado fora do território nacional, será
competente o juiz do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou
devia produzir seu resultado.
§ 3o Quando incerto o limite territorial entre duas ou mais jurisdições, ou quando incerta a
jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas ou mais
jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção (art. 83 do CPP abaixo
transcrito).

Novidade legislativa abaixo:

§ 4o Nos crimes previstos no art. 171 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de


1940 (Código Penal), quando praticados mediante depósito, mediante emissão de
cheques sem suficiente provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento
frustrado ou mediante transferência de valores, a competência será definida pelo local
do domicílio da vítima, e, em caso de pluralidade de vítimas, a competência firmar-
se-á pela prevenção. (Incluído pela Lei no 14.155, de 2021)
Art. 71. Tratando-se de infração continuada ou permanente, praticada em território de
duas ou mais jurisdições, a competência firmar-se-á pela prevenção.

Aqui adotamos, como regra, a teoria do resultado, pois a competência será determinada
pelo lugar da consumação do delito. Sendo este tentado, pelo lugar do último ato de execução.
Devemos dar muita atenção para os crimes permanentes, aqueles em que a consumação
se prolonga no tempo, pois nestes casos a competência será firmada pela prevenção (art. 83 do
CPP, abaixo transcrito).
Por derradeiro, não se pode esquecer da recente alteração legislativa do § 4 o do art. 70,

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Processo Penal

pois agora os estelionatos por meio de depósito, mediante emissão de cheques sem suficiente
provisão de fundos em poder do sacado ou com o pagamento frustrado ou mediante
transferência de valores, a competência será do local de residência da vítima. No caso de termos
várias vítimas, mais uma vez, adota-se o critério da prevenção (art. 83 do CPP).

Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou
mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver
antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa,
ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3 o, 71, 72, § 2o,
e 78, II, c).

B) Competência pelo domicílio ou residência do réu


Este critério de fixação da competência é subsidiário, ou seja, será utilizado quando não
conhecermos o local em que o crime foi praticado. No caso de a vítima possuir mais de uma
residência, o critério será o da prevenção (art. 83 do CPP). No caso de não possuir residência
fixa (a exemplo de um circense), a competência será o primeiro juiz que tiver conhecimento do
fato.
Art. 72. Não sendo conhecido o lugar da infração, a competência regular-se-á pelo
domicílio ou residência do réu.
§ 1o Se o réu tiver mais de uma residência, a competência firmar-se-á pela prevenção.
§ 2o Se o réu não tiver residência certa ou for ignorado o seu paradeiro, será competente
o juiz que primeiro tomar conhecimento do fato.

Foro de eleição em processo penal:


Nesta espécie de competência é possível que a vítima de um crime de ação privada
(calúnia, difamação ou injúria, por exemplo) escolha onde irá propor a ação: se no seu domicílio
ou no local em que o crime foi praticado.

Art. 73. Nos casos de exclusiva ação privada, o querelante poderá preferir o foro de
domicílio ou da residência do réu, ainda quando conhecido o lugar da infração.

Crimes dolosos contra a vida:


Segundo a Constituição Federal de 1988, os crimes dolosos contra a vida, previstos nos
arts. 121 a 124 do CP, são de competência do Tribunal do Júri. Veja o dispositivo constitucional:

Art. 5o, XXXVIII da CF – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe
der a lei, assegurados:
a) a plenitude de defesa;
b) o sigilo das votações;
c) a soberania dos veredictos;
d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida.

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6.7. Causas de modificação da competência


Agora que você já leu os dispositivos que determinam a fixação da competência, devemos
atentar para as situações em que ela poderá ser modificada. É o que ocorre com os casos de
conexão e continência.
a) Conexão:

Art. 76. A competência será determinada pela conexão:


I – se, ocorrendo duas ou mais infrações, houverem sido praticadas, ao mesmo tempo,
por várias pessoas reunidas (simultaneidade), ou por várias pessoas em concurso,
embora diverso o tempo e o lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras
(reciprocidade);
II – se, no mesmo caso, houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras,
ou para conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas; (lógica, objetiva
e material)
III – quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas circunstâncias elementares
influir na prova de outra infração. (instrumental ou probatória).

Conexão intersubjetiva por simultaneidade:


Diante da primeira parte do art. 76 (conexão intersubjetiva por simultaneidade), há
conexão se, ocorrendo duas ou mais infrações, “houverem sido praticadas, ao mesmo tempo,
por várias pessoas reunidas” – não há liame subjetivo.
Exemplo: diversos expectadores de um jogo de futebol, ocasionalmente reunidos,
praticarem depredações no estádio.

Conexão intersubjetiva por concurso:


Pelo art. 76, I, 2ª parte, há conexão se as infrações forem praticadas “por várias pessoas
em concurso, embora diverso o tempo e o lugar”. É a hipótese de concurso de pessoas em
várias infrações.
Exemplo: quadrilha que trafica entorpecentes em vários pontos da cidade.

Conexão intersubjetiva por reciprocidade:


Pelo art. 76, I, última parte, há conexão se os crimes forem praticados “por várias pessoas,
umas contra as outras”.
Exemplo: agressões entre componentes de dois grupos de pessoas em um baile.

Conexão objetiva, lógica ou material - art. 76, II:


Nos termos do art. 76, II, a competência é determinada pela conexão se, no caso de várias
infrações, “houverem sido umas praticadas para facilitar ou ocultar as outras, ou para conseguir
impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas”.

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Processo Penal

Conexão instrumental ou probatória – art. 76, III:


Conforme o art. 76, III, “quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração”.

b) Continência:

Art. 77. A competência será determinada pela continência quando:


I – duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração; (concurso de pessoas –
cumulação subjetiva)
II – no caso de infração cometida nas condições previstas nos arts. 51, § 1 o, 53, segunda
parte, e 54 do Código Penal.

Continência em razão do concurso de pessoas – art. 77, I (cumulação subjetiva):


Justifica-se a junção de processos contra diferentes réus, desde que eles tenham
cometido o crime em conluio, com unidade de propósitos, tornando único o fato a ser apurado.
Difere da conexão por concurso, porque nesta há vários agentes praticando vários fatos.

Continência em razão do concurso formal de crimes – art. 77, II (cumulação


objetiva):
Observação: a referência feita aos arts. 51, § 1o, 53 segunda parte e 54 do CP
atualmente corresponde aos arts. 70, 73 e 74 do CP.
O art. 70 refere-se ao concurso formal de crimes, em que, com uma mesma conduta, o
agente pratica dois ou mais crimes.
O art. 73, 2ª parte, refere-se ao erro de execução (aberratio ictus), em que, por
acidente ou erro no uso dos meios de execução, o agente, além de atingir a pessoa que pretendia
ofender, lesa outra.
O art. 74, 2ª parte, refere-se ao resultado diverso do pretendido (aberratio criminis), em
que fora da hipótese anterior, o agente, além do resultado pretendido, causa outro.
Em todos os casos, está-se diante de concurso formal, razão pela qual, na essência,
o fato a ser apurado é um só, embora existam dois ou mais resultados.
Agora que você entendeu o que é conexão e continência, devemos saber como resolver
as situações apresentadas. Para tanto, temos que seguir as regras trazidas pelo art. 78 do
CPP.
Art. 78. Na determinação da competência por conexão ou continência, serão observadas
as seguintes regras:
I – no concurso entre a competência do júri e a de outro órgão da jurisdição comum,
prevalecerá a competência do júri;

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Processo Penal

Il – no concurso de jurisdições da mesma categoria:


a) preponderará a do lugar da infração, à qual for cominada a pena mais grave;
b) prevalecerá a do lugar em que houver ocorrido o maior número de infrações, se as
respectivas penas forem de igual gravidade;
c) firmar-se-á a competência pela prevenção, nos outros casos;
III – no concurso de jurisdições de diversas categorias, predominará a de maior graduação;
IV – no concurso entre a jurisdição comum e a especial, prevalecerá esta.
Art. 79. A conexão e a continência importarão unidade de processo e julgamento, salvo:
I – no concurso entre a jurisdição comum e a militar;
II – no concurso entre a jurisdição comum e a do juízo de menores.
§ 1o Cessará, em qualquer caso, a unidade do processo, se, em relação a algum corréu,
sobrevier o caso previsto no art. 152. (doença mental)
§ 2o A unidade do processo não importará a do julgamento, se houver corréu foragido que
não possa ser julgado à revelia, ou ocorrer a hipótese do art. 461.
Art. 80. Será facultativa a separação dos processos quando as infrações tiverem sido
praticadas em circunstâncias de tempo ou de lugar diferentes, ou, quando pelo excessivo
número de acusados e para não Ihes prolongar a prisão provisória, ou por outro motivo
relevante, o juiz reputar conveniente a separação.
Art. 81. Verificada a reunião dos processos por conexão ou continência, ainda que no
processo da sua competência própria venha o juiz ou tribunal a proferir sentença
absolutória ou que desclassifique a infração para outra que não se inclua na sua
competência, continuará competente em relação aos demais processos.
Parágrafo único. Reconhecida inicialmente ao júri a competência por conexão ou
continência, o juiz, se vier a desclassificar a infração ou impronunciar ou absolver o
acusado, de maneira que exclua a competência do júri, remeterá o processo ao juízo
competente.
Art. 82. Se, não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos
diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram
perante os outros juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva. Neste caso, a
unidade dos processos só se dará, ulteriormente, para o efeito de soma ou de unificação
das penas.

Competência por prevenção:

Art. 83. Verificar-se-á a competência por prevenção toda vez que, concorrendo dois ou
mais juízes igualmente competentes ou com jurisdição cumulativa, um deles tiver
antecedido aos outros na prática de algum ato do processo ou de medida a este relativa,
ainda que anterior ao oferecimento da denúncia ou da queixa (arts. 70, § 3 o, 71, 72, § 2o,
e 78, II, c).

Atenção!

Art. 88. No processo por crimes praticados fora do território brasileiro, será competente o
juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado. Se este nunca tiver
residido no Brasil, será competente o juízo da Capital da República.
Art. 89. Os crimes cometidos em qualquer embarcação nas águas territoriais da
República, ou nos rios e lagos fronteiriços, bem como a bordo de embarcações nacionais,
em alto-mar, serão processados e julgados pela justiça do primeiro porto brasileiro em que
tocar a embarcação, após o crime, ou, quando se afastar do País, pela do último em que
houver tocado. [...]
Art. 90. Os crimes praticados a bordo de aeronave nacional, dentro do espaço aéreo
correspondente ao território brasileiro, ou ao alto-mar, ou a bordo de aeronave estrangeira,
dentro do espaço aéreo correspondente ao território nacional, serão processados e
julgados pela justiça da comarca em cujo território se verificar o pouso após o crime, ou
pela da comarca de onde houver partido a aeronave.

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Processo Penal

6.8. Competência da Justiça Federal


A) Órgãos da Justiça Federal
São órgãos da Justiça Federal, segundo o art. 106 da CF:
• Tribunais Regionais Federais,
• Juízes federais.

Cuidado! O STJ é um Tribunal Nacional – não faz parte da Justiça Federal.

B) Competência da Justiça Militar


JMU (art. 124 da CF):
• Julga militares e civis;
• Tem somente competência criminal.

JME (art. 125, § 4o, da CF):


• Julga somente militares dos Estados;
• Julga crimes e questões relacionadas a punições disciplinares militares.

C) Competência criminal da Justiça Eleitoral


É fixada em razão da matéria, cabendo à Justiça Eleitoral o processo e julgamento dos
crimes eleitorais. Os crimes eleitorais são aqueles previstos no Código Eleitoral e os que a lei,
eventual e expressamente, defina como eleitorais.
Questão: quem julga crime eleitoral conexo a crime doloso contra a vida?
Resposta: o crime eleitoral é julgado pela Justiça Eleitoral e o crime doloso contra a
vida será julgado pelo Tribunal do Júri, porque as competências desses crimes estão
previstas na CF.

Competência dos TRFs:


I – processar e julgar, originariamente:
• os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da
Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do
Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;
• as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes
federais da região;
• os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio tribunal ou de

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Processo Penal

juiz federal.

Competência dos juízes federais:


Atenção! Juiz federal não julga contravenção penal. Mesmo que ela seja praticada contra
bens, interesses ou serviços da União.

Súmula no 38 do STJ – Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da CF/88, o


processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: [...]


IV – os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços
ou interesse (BIS) da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas,
excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça
Eleitoral;
V – os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;
V-A – as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5 o deste artigo;
§ 5o Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da
República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de
tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo,
incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.
VI – os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra
o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; [...]
IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da
Justiça Militar.

Algumas questões pontuais sobre a competência da Justiça Federal:


1) Processos contra índios

Súmula no 140 STJ – Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em
que o indígena figure como autor ou vítima.

2) Crimes contra sociedades de economia mista e empresas públicas (cuidado)


Crime contra sociedades de economia mista:
• BB;
• Petrobras.

Súmula no 42 STJ – Compete a Justiça Comum Estadual processar e julgar as causas


cíveis em que é parte sociedade de economia mista e os crimes praticados em seu
detrimento.

3) Crimes contra os Correios


Exploração direta pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (casos de agências

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Processo Penal

oficiais): Justiça Federal.


Franquias (agências exploradas por particulares mediante o sistema de franquias): Justiça
Estadual.

4) Fundação Pública Federal – FURG


Justiça Federal.

5) Bens tombados
Depende de quem tombou:
• Se tombado pela União – Justiça Federal;
• Se tombado pelo Estado ou Município – Justiça Estadual.

6) Desvio de verba federal por prefeito


Súmulas nos 208 e 209 do STJ.
• Verba já incorporada ao patrimônio do Município – o prefeito responde no Tribunal
de Justiça do Estado.
• Verba sujeita a prestação de contas junto ao TCU – o prefeito responde no Tribunal
Regional Federal.

Cuidado! O prefeito responde no TRE (Tribunal Regional Eleitoral) por crime.

7) Crimes contrabando e descaminho


Em ambos os casos, a competência será da Justiça Federal.
A questão é saber: se do local que as mercadorias ingressaram no Brasil ou do local da
apreensão dos bens. A resposta é obtida pela súmula abaixo:

Súmula no 151 do STJ – A competência para o processo e julgamento por crime de


contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do Juízo Federal do lugar da
apreensão dos bens.

8) Crime cometido contra funcionário público federal em razão de sua função


Se este funcionário for federal, a Justiça Federal será a competente:

Súmula no 147 do STJ – Compete à Justiça Federal processar e julgar os crimes


praticados contra funcionário público federal, quando relacionados com o exercício da
função.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Atenção para o art. 109, IX, da CF!

IX – os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da


Justiça Militar;

Navio: é a embarcação apta para a navegação em alto mar.


Aeronave: é todo aparelho manobrável em voo, que possa sustentar-se e circular no
espaço aéreo, mediante reações aerodinâmicas, apto a transportar pessoas ou coisas.
Atenção para a súmula abaixo!

Súmula no 546 do STJ – A competência para processar e julgar o crime de uso de


documento falso é firmada em razão da entidade ou órgão ao qual foi apresentado o
documento público, não importando a qualificação do órgão expedidor.

Exemplo: falsifico uma Carteira Nacional de Habilitação (que é um documento expedido


pelo Estado Membro (via Detran). Utilizo para obter um benefício junto ao INSS (que é uma
autarquia federal). A competência será da Justiça Federal (art. 109, IV, da CF), pois a União foi
prejudicada. Não importa aqui que o documento era estadual.
Atenção especial para a Súmula no 122 do STJ:

Súmula no 122 do STJ – Compete a Justiça Federal o processo e julgamento unificado


dos crimes conexos de competência federal e estadual, não se aplicando a regra do art.
78, II, “a”, do Código de Processo Penal.

Não esqueça que NUNCA um juiz federal julgará uma contravenção penal.
As contravenções penais não são processadas e julgadas pela Justiça Federal, conforme
dispõe a Súmula no 38 do STJ, cabendo à Justiça Estadual a competência, ainda que praticado
em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou entidades autárquicas.
Desse modo, mesmo que haja conexão entre um crime federal e uma contravenção penal,
prevalece a regra constitucional, indicando a necessidade do desmembramento do processo,
não se aplicando neste caso o teor da Súmula no 122 do STJ.

Súmula no 38 do STJ – Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da Constituição


de 1988, o processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens,
serviços ou interesse da União ou de suas entidades.”.

6.9. Conflito de jurisdição


Ocorre sempre que, em qualquer fase do processo, um ou mais juízes,
contemporaneamente, tomam ou recusam tomar conhecimento do mesmo fato delituoso.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Conflito positivo: quando dois ou mais juízes se julgam competentes para conhecer e
julgar o mesmo fato;
Conflito negativo: quando dois ou mais juízes se julgam incompetentes para conhecer e
julgar o mesmo fato.

Processamento:
a) Compete ao STJ os conflitos de competência:
• Entre quaisquer tribunais;
• Entre tribunal e juiz a ele não vinculado;
• Entre juízes vinculados a tribunais diversos.

b) Compete ao STF os conflitos de competência:


• Entre o STJ e qualquer outro tribunal;
• Entre Tribunais Superiores e qualquer outro tribunal;
• Entre Tribunais Superior entre si.

c) Compete aos TRFs solucionar conflitos entre:


• Juízes federais a eles vinculados;
• Juiz federal e juiz estadual investido na jurisdição federal.

d) Na Justiça Militar da União os conflitos devem ser suscitados perante o STM.


e) Conflitos entre TRE ou juízes eleitorais de Estados diferentes são julgados pelo TSE.
Se for do mesmo Estado, compete ao TRE.

Muita atenção! Entre juiz e tribunal ao qual ele está vinculado não se fala em conflito de
jurisdição, é resolvido pela hierarquia.

7. Provas

7.1. Conceito doutrinário


Elementos produzidos pelas partes ou determinados pelo juiz, dentro de um processo
estabelecido, visando à formação do convencimento do julgado quanto a atos, fatos e
circunstâncias que interessam para a decisão da causa.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Liberdade de provas: vige como regra, conforme art. 155 do CPP abaixo transcrito, no
processo penal a ampla liberdade probatória.

Art. 155. O juiz formará sua convicção pela livre apreciação da prova produzida em
contraditório judicial, não podendo fundamentar sua decisão exclusivamente nos
elementos informativos colhidos na investigação, ressalvadas as provas cautelares, não
repetíveis e antecipadas.

A exceção à ampla liberdade está no parágrafo único e refere-se ao estado das


pessoas. Vejam:
Parágrafo único. Somente quanto ao estado das pessoas serão observadas as restrições
estabelecidas na lei civil.

7.2. Objetivo da prova


Formar a convicção do juiz ou tribunal acerca dos elementos necessários para a decisão
da lide.

7.3. Princípios gerais da prova


a) Princípio da autorresponsabilidade das partes: as partes assumem as
consequências de sua inatividade, erro e atos intencionais.
b) Princípio da audiência contraditória: toda prova admite a contraprova, não sendo
admissível a produção por uma parte sem o conhecimento da outra.
c) Princípio da aquisição ou comunhão da prova: a prova pertence ao processo. Não
há prova de uma ou de outra parte.
d) Princípio da oralidade: necessário haver predominância da palavra falada. Os
depoimentos devem ser orais.
e) Princípio da Concentração: deve-se buscar concentrar toda a produção de prova na
audiência. Audiência UNA (art. 400 do CPP).
f) Princípio da publicidade: os atos judiciais (entre os quais a produção de prova) são
públicos. Excepcionalmente admite-se o segredo de justiça para alguns casos, legalmente
estipulados (art. 93, IX, da CF).
g) Princípio do livre convencimento motivado: as provas não recebem, previamente,
um valor pela lei. Deve o julgador ter liberdade para valorá-las, limitando-se apenas aos fatos e
circunstâncias constantes nos autos.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

7.4. Sistemas de valoração da prova


1 – Sistema da certeza moral, da íntima convicção do juiz: permite que o juiz avalie a
prova com ampla liberdade, decidindo ao final de acordo com sua livre convicção, sem
necessidade de fundamentar a decisão.
Cuidado! Como regra, não mais existe em nosso processo penal, prevalece no Tribunal
do Júri – jurados não fundamentam a decisão.
2 – Sistema da verdade legal, tarifado de provas: a lei atribui o valor a cada prova,
cabendo ao juiz simplesmente fazer um cálculo aritmético. Não há convicção pessoal do
julgador na valoração do contexto probatório, mas sim uma obediência estrita ao sistema de
pesos e valores imposto pela lei.
3 – Sistema do livre convencimento motivado, da persuasão racional do juiz: o juiz
tem ampla liberdade na valoração das provas, mas deve fundamentar seu convencimento.
Este é o sistema adotado pelo art. 93, IX, CF e art. 155 do CPP.

7.5. Elementos informativos e prova: diferenças


Anteriormente tal diferenciação era trabalhada tão somente pela doutrina, sendo que a
partir da reforma de 2008 passou a constar também na lei (art. 155 do CPP).
a) Elementos informativos: são aqueles obtidos na fase investigatória, sem a
participação dialética das partes; caracterizam-se por não haver contraditório e ampla defesa
quando da sua produção. Presta-se para a fundamentação de medidas cautelares e também
para a formação da opinio delicti do titular da ação penal.
b) Provas: as provas têm seu regime jurídico ligado ao contraditório judicial, são
aquelas produzidas com a participação do acusador e do acusado e mediante a direta e
constante supervisão do julgador.
Cuidado! Exceção: provas cautelares, não repetíveis e antecipadas, embora sejam
produzidas na fase investigatória, podem ser utilizadas para fundamentar sentença
condenatória, pois em relação a elas o contraditório é diferido.

7.6. Ônus da prova


Conceito: é o encargo que tem a parte de provar, pelos meios que em direito são
admitidos, a veracidade do fato alegado.
Prova da alegação incumbe a quem a fizer:

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Art. 156. A prova da alegação incumbirá a quem a fizer, sendo, porém, facultado ao
juiz de ofício: [...]

7.7. Prova emprestada


É aquela que foi produzida em um processo e depois será carreada para outro. Isso pode
acontecer por certidão ou qualquer outro meio de autenticação para produzir efeitos como prova
em outro processo.
A prova emprestada sempre será considerada uma prova documental, ainda que no
processo original tenha sido testemunhal ou, até mesmo, pericial. Não se admite prova
emprestada carreada de inquérito policial. Primeiro porque ela não esteve sujeita ao crivo do
contraditório, segundo porque nem prova ela é, e sim mero elemento informativo.

7.8. Prova ilegal


É ilegal toda vez que sua obtenção caracterize violação de normas legais ou de princípios
gerais do ordenamento, de natureza processual ou material.
Prova ilegal é gênero que tem como espécies:
a) Provas ilícitas (obtidas por meios ilícitos): quando for obtida em violação a regra de
direito material; em regra, a obtenção da prova ilícita é obtida fora do processo; é
extraprocessual.
Exemplo: confissão mediante tortura; prisão de traficante e apreensão de celular com
últimas chamadas, mensagens.
Na prova ilícita tem-se o chamado direito de exclusão, surgiu no Direito americano e se
materializa através do desentranhamento e da inutilização da prova.
b) Provas legítimas (obtidas por meios ilegítimos): sua obtenção viola uma regra de
direito processual; além disso, em regra, a ilegalidade ocorre no momento de sua produção no
processo; é intraprocessual.
Exemplo: juntada e leitura de documentos no plenário do júri com menos de três dias
úteis de antecedência.
Prova ilegítima deve ser analisada através da teoria das nulidades.

7.9. Prova ilícita por derivação


Meios probatórios que, não obstante, produzidos em momento posterior, encontram-se
afetados pelo vício da ilicitude originário, que a ele se transmite contaminando-os por efeito de
repercussão causal.
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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Teoria dos frutos da árvore envenenada: teoria adotada no Brasil. STF – RHC no
90.376/RJ.
Art. 157. [...] § 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo
quando não evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as
derivadas puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.

7.9.1. Limitações a prova ilícita


Fonte independente:

Art. 157. São inadmissíveis, devendo ser desentranhadas do processo, as provas ilícitas,
assim entendidas as obtidas em violação a normas constitucionais ou legais.
§ 1o São também inadmissíveis as provas derivadas das ilícitas, salvo quando não
evidenciado o nexo de causalidade entre umas e outras, ou quando as derivadas
puderem ser obtidas por uma fonte independente das primeiras.
§ 2o Considera-se fonte independente aquela que por si só, seguindo os trâmites típicos e
de praxe, próprios da investigação ou instrução criminal, seria capaz de conduzir ao fato
objeto da prova.
§ 3o Preclusa a decisão de desentranhamento da prova declarada inadmissível, esta será
inutilizada por decisão judicial, facultado às partes acompanhar o incidente.

7.10. Princípio do nemo tenetur se detegere


O acusado não é obrigado a produzir prova contra si mesmo; muitos doutrinadores dizem
que esse princípio é o direito ao silêncio; mas o silêncio é uma forma desse princípio; esse
é o princípio que veda a autoincriminação.
O direito ao silêncio ou de ficar calado – art. 5o, LXIII, CF.
Direito de não praticar qualquer comportamento ativo que possa lhe incriminar.

7.11. Provas em espécie


Exame de corpo de delito: obrigatoriedade (ainda que haja confissão do acusado).

Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de
delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito quando
se tratar de crime que envolva:
I – violência doméstica e familiar contra mulher;
II – violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

Espécies de ECD: impossibilidade do ECD. Supressão pela prova testemunhal.

Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os
vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Atenção! Questões pontuais:


• O EDCL poderá ser feito em qualquer dia e horário;

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

• A autópsia deverá ser feita pelo menos seis horas após a morte, salvo se os peritos
entenderem (e isso deverá constar do auto) que ela pode ser realizada antes;
• Os cadáveres serão fotogravados na posição em que se encontrarem.

ECDL e lesão corporal:


Se o primeiro for incompleto, poderá ser feito outro.
Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1 o, I, do Código
Penal, deverá ser feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.
A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

Perícia de laboratório:
Os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre
que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas,
desenhos ou esquemas.

Crimes com rompimento de obstáculo ou escalada:


Os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por quais
meios e em que época presumem ter sido o fato praticado.

Incêndio:
Os peritos verificarão a causa e o lugar em que houver começado, o perigo que dele tiver
resultado para a vida ou para o patrimônio alheio, a extensão do dano e o seu valor e as demais
circunstâncias que interessarem à elucidação do fato.

Exame grafotécnico:

Art. 174. No exame para o reconhecimento de escritos, por comparação de letra, observar-
se-á o seguinte:
I – A pessoa a quem se atribua ou se possa atribuir o escrito será intimada para o ato, se
for encontrada;
II – Para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa
reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou sobre
cuja autenticidade não houver dúvida;
III – A autoridade, quando necessário, requisitará, para o exame, os documentos que
existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a diligência, se
daí não puderem ser retirados;
IV – Quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos, a
autoridade mandará que a pessoa escreva o que Ihe for ditado. Se estiver ausente a
pessoa, mas em lugar certo, esta última diligência poderá ser feita por precatória, em que
se consignarão as palavras que a pessoa será intimada a escrever.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Segundo a melhor doutrina, a previsão do inciso IV não foi recepcionada pela Constituição
Federal, pois ele fere o princípio do nemo tenetur se detegere.

Perito:
É um auxiliar da Justiça, compromissado, portador de um conhecimento técnico e sem
impedimentos.
Espécies:
• Oficial – 1 (concursado);
• Louvado ou não oficial – 2.

Não podem ser peritos:

Art. 279. Não poderão ser peritos


I – Os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos n os I e IV do art. 69
do Código Penal;
II – Os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o
objeto da perícia;
III – os analfabetos e os menores de 21 anos.

Atenção!
Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre suspeição
dos juízes.
Art. 281. Os intérpretes são, para todos os efeitos, equiparados aos peritos.

Assistente técnico:
Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido, ao
querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente técnico.
O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão dos
exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas desta decisão.

ECDL e o juiz:

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no todo ou em
parte.
Art. 184. Salvo o caso de exame de corpo de delito, o juiz ou a autoridade policial negará
a perícia requerida pelas partes, quando não for necessária ao esclarecimento da verdade.

Interrogatório: alterações trazidas pela Lei no 11.719/2008.


Reforçou a natureza de ser um meio de defesa.
Passou a ser o último ato de instrução (dentro da audiência una – art. 400 do CPP).

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

O STF passou a entender que esse procedimento se aplica aos processos de sua
competência originária.
No caso de mutatio libelli pode o juiz proceder a novo interrogatório.
O interrogatório é ato não preclusivo (qualquer tempo).

Art. 196. A todo tempo o juiz poderá proceder a novo interrogatório de ofício ou a pedido
fundamentado de qualquer das partes.

Ausência de interrogatório: nulidade relativa ou nulidade absoluta? Prevalece que se


trata de nulidade absoluta, cujo prejuízo é presumido.
Tal prejuízo é de ordem constitucional – ampla defesa.

Prova testemunhal:
• O depoimento deverá ser oral, não sendo possível trazer por escrito.
• É possível, todavia, consultar apontamentos.
• Não poderá a testemunha se eximir da obrigação de depor.
• As testemunhas não poderão ouvir o depoimento uma das outras.
• São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício ou
profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada,
quiserem dar o seu testemunho.

Art. 208. Não se deferirá o compromisso a que alude o art. 203 aos doentes e deficientes
mentais e aos menores de 14 (quatorze) anos, nem às pessoas a que se refere o art. 206.
Art. 209. O juiz, quando julgar necessário, poderá ouvir outras testemunhas, além das
indicadas pelas partes.
§ 1o Se ao juiz parecer conveniente, serão ouvidas as pessoas a que as testemunhas se
referirem.
§ 2o Não será computada como testemunha a pessoa que nada souber que interesse
à decisão da causa.

Dispensa e proibição:

Art. 206. A testemunha não poderá eximir-se da obrigação de depor. Poderão, entretanto,
recusar-se a fazê-lo o ascendente ou descendente, o afim em linha reta, o cônjuge, ainda
que desquitado, o irmão e o pai, a mãe, ou o filho adotivo do acusado, salvo quando não
for possível, por outro modo, obter-se ou integrar-se a prova do fato e de suas
circunstâncias.
Art. 207. São proibidas de depor as pessoas que, em razão de função, ministério, ofício
ou profissão, devam guardar segredo, salvo se, desobrigadas pela parte interessada,
quiserem dar o seu testemunho.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Procedimento:
Não mais vige o sistema presidencialista.
Atualmente o sistema é o do crossexamination (inspiração americana).
Perguntas diretas pelas partes às testemunhas

Art. 212. As perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à testemunha, não
admitindo o juiz aquelas que puderem induzir a resposta, não tiverem relação com a causa
ou importarem na repetição de outra já respondida.

Questões finais:
Falso testemunho: crime previsto no art. 342 do CP.

8. Sujeitos Processuais

NÃO C-O-N-F-U-N-D-A!
A figura do assistente com a do seu advogado (capacidade postulatória).
O assistente poderá ser admitido no processo até o trânsito em julgado da sentença.
Receberá os autos na forma em que se encontram (cuidado: não há assistente na fase do IP).

Ingresso do assistente:
É decidido pelo juiz da causa.
Trata-se de uma decisão interlocutória (simples), segundo o CPP (art. 273) é irrecorrível.
É necessária a oitiva prévia do RMP.
O MP, embora deva ser previamente ouvido, não analisa a conveniência e
oportunidade do ingresso do assistente. Seu parecer deve ater-se a legalidade ou não do
ato.
No caso de codelinquência o outro agente não poderá habilitar-se como assistente, pois
também figura no polo passivo.
Uma vez admitido no processo o Assistente deve ser intimado de todos os atos
processuais – por meio de seu advogado.
Cuidado! Caso intimado deixe de comparecer a algum ato, não será mais intimado para
os demais.
Quais recursos podem ser interpostos pelo assistente da acusação?
Segundo o entendimento majoritário, o assistente da acusação somente pode interpor:

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Apelação:
RESE contra a decisão que extingue a punibilidade.
Obs. 1: o assistente da acusação somente poderá recorrer se o MP não tiver recorrido.
Obs. 2: o assistente de acusação não pode recorrer contra ato privativo do MP.

Poderes do assistente:
• propor meios de prova;
• formular quesitos para a perícia e indicar assistente técnico;
• formular perguntas às testemunhas (sempre depois do MP);
• aditar os articulados, ou seja, complementar as peças escritas apresentadas pelo
MP;
• participar do debate oral;
• arrazoar os recursos interpostos pelo MP;
• interpor e arrazoar seus próprios recursos;
• requerer a decretação da prisão preventiva e de outras medidas cautelares;
• requerer o desaforamento no rito do júri.

Qual é o prazo para o ofendido (ou sucessores) apelar contra a sentença?


Se já estava habilitado como assistente: cinco dias (art. 593 do CPP).
Se ainda não estava habilitado: quinze dias (art. 598, parágrafo único, do CPP).
O prazo só tem início depois que o prazo do MP se encerra.

Súmula no 448 do STF: O prazo para o assistente recorrer supletivamente começa a


correr imediatamente após o transcurso do prazo do MP.

9. Comunicação dos Atos Processuais das Citações e


Intimações

9.1. Citações
Trata-se do ato processual por meio do qual é comunicado à parte (acusado) que contra
ele foi recebida uma denúncia (APPública) ou queixa-crime (APPrivada), com o objetivo de que
ele venha a juízo defender-se.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

De acordo com o art. 363 do CPP – com a redação determinada pela Lei no 11.719/2008
– é com citação que se tem completada a formação do processo.

Art. 363. O processo terá completada a sua formação quando realizada a citação do
acusado.

O destinatário da citação é sempre o réu. Não pode ser citada qualquer outra pessoa em
seu lugar, nem mesmo o Advogado, ainda que possua procuração com poderes para tanto.
Como regra o réu é citado para apresentar resposta à acusação.

Art. 396. Nos procedimentos ordinário e sumário, oferecida a denúncia ou queixa, o juiz,
se não a rejeitar liminarmente, recebê-la-á e ordenará a citação do acusado para
responder à acusação, por escrito, no prazo de 10 (dez) dias.

9.1.1. Espécies de citação


Real ou Ficta (presumida).
Real: é aquela realizada na pessoa do réu, sendo efetivada por: mandado (cumprido por
Oficial de Justiça no âmbito da Jurisdição do juiz da causa – carta precatória, carta rogatória,
carta de ordem, ofício requisitório).
Ficta: efetivada por meio de edital (publicado na imprensa ou fixado no átrio ou na porta
do fórum) ou no caso de citação por hora certa.

A) Citação real: por mandado.


Requisitos intrínsecos do mandado:

Art. 352. O mandado de citação indicará:


I – o nome do juiz;
II – o nome do querelante nas ações iniciadas por queixa;
III – o nome do réu, ou, se for desconhecido, os seus sinais característicos;
IV – a residência do réu, se for conhecida;
V – o fim para que é feita a citação;
VI – o juízo e o lugar, o dia e a hora em que o réu deverá comparecer;
VII – a subscrição do escrivão e a rubrica do juiz.

Requisitos extrínsecos do mandado:

Art. 357. São requisitos da citação por mandado:


I – Leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se
mencionarão dia e hora da citação;
II – Declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa.

Hora e dia para o cumprimento: a lei processual penal é silente quanto a isto. Poderá,

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

portanto, o Oficial de Justiça cumprir a qualquer dia e a qualquer hora.


Respeitadas as inviolabilidades de domicílio.

Réu fora da área de jurisdição do juiz processante: no caso de estar o réu fora da área de
jurisdição do juiz da causa – mas em território nacional –, deverá ele valer-se da citação por
precatória (art. 353 do CPP).
Precatória é uma comunicação processual entre juízes.
Temos:
• Juiz deprecante: quem expede a precatória (art. 354);
• Juiz deprecado: quem recebe a precatória (art. 354).

Após o cumprimento, é devolvida ao juiz deprecante (art. 355 do CPP).

Caráter itinerante da carta precatória: segundo o art. 355, § 1o, do CPP, no caso de o
réu não mais residir no território de jurisdição do juiz deprecado e este souber onde se encontre
o destinatário da carta, deverá encaminhá-la diretamente.

Carta de ordem: usada quando o Tribunal determina que o juiz de primeiro grau
cumpra uma determinação.

Questões pontuais:
Réu militar: não é citado por mandado, mas sim por intermédio de seu Comandante. (art.
358 do CPP).
Funcionário público: deve-se, além de citar o funcionário público, oficiar a sua chefia
para que não seja interrompida a prestação do serviço (continuidade do serviço público) (art. 359
do CPP).
Réu preso: será citado pessoalmente (art. 360 do CPP).

Situações possíveis:
a) O réu não é encontrado pelo Oficial de Justiça
Citação por edital (ficta) com prazo de 15 dias (art. 361 do CPP).
O edital deve ser:
• publicado na imprensa oficial;

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

• publicado em jornal local de grande circulação;


• afixado no átrio do fórum.

A citação editalícia é medida excepcional, que só pode ser adotada depois de esgotados
todos os meios de localização.

Súmula no 351 STF. É nula a citação por edital de réu preso na mesma unidade da
federação em que o juiz exerce a sua jurisdição.

Réu citado por edital – consequência:

Art. 366. Se o acusado, citado por edital, (1) não comparecer, (2) nem constituir advogado,
ficarão suspensos o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar
a produção antecipada das provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão
preventiva, nos termos do disposto no art. 312.

Súmula no 415 do STJ. O período de suspensão do prazo prescricional é regulado pelo


máximo da pena cominada.

b) O réu que se oculta para não ser citado


Neste caso, deverá o Oficial de Justiça proceder à citação por hora certa.
Tal modalidade de citação passou a ser prevista no processo penal apenas em 2008, com
o advento da Lei no11.719 do mesmo ano.
Previsão legal:

Art. 362. Verificando que o réu se oculta para não ser citado, o oficial de justiça certificará
a ocorrência e procederá à citação com hora certa, na forma estabelecida nos arts. 227 a
229 da Lei no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil.
Parágrafo único. Completada a citação com hora certa, se o acusado não comparecer,
ser-lhe-á nomeado defensor dativo.

Obedecerá ao regramento do Código de Processo Civil:


Procura o acusado por duas vezes:
• Não o encontra e suspeita de sua ocultação;
• Intima pessoa da família ou vizinho;
• No dia imediato comparece na hora marcada e efetua a citação.

c) O réu está no estrangeiro – art. 368 do CPP


Estando em lugar sabido, será citado por carta rogatória. Comunicação entre Juízes de
países diferentes. Com o réu no estrangeiro – desde que em lugar sabido – proíbe-se o uso
de edital e exige carta rogatória. Ocorrerá a suspensão da prescrição (até o seu

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

cumprimento). A rogatória seguirá a via diplomática.

9.2. Intimações
9.2.1. Diferença entre intimação e notificação
*Para todos verem: esquema.

Intimação Notificação

Ciência de uma
Ciência de um ato decisão ou
já praticado. despacho que
ordena fazer algo.

Notifica-se a parte
Intima-se de uma
para juntar
sentença proferida.
documentos.

9.2.2. Regras gerais


Aplica-se a elas o que foi estudado para citação (art. 370, caput).
Ministério Público – defensor nomeado e Defensoria Pública: intimação pessoal.
Segundo o STF, ainda que o defensor público esteja presente ao ato, terá direito a
intimação pessoal.
Advogado constituído, querelante, assistente: intimação pela imprensa oficial.
No caso de intimação direta pelo Escrivão, a publicação fica dispensada.
Não havendo imprensa oficial: escrivão, mandado, via postal (AR) ou através de outro
meio hábil.
Art. 370, § 1o. A intimação do defensor constituído, do advogado do querelante e do
assistente far-se-á por publicação no órgão incumbido da publicidade dos atos judiciais da
comarca, incluindo, sob pena de nulidade, o nome do acusado.
Art. 370, § 2o. Caso não haja órgão de publicação dos atos judiciais na comarca, a
intimação far-se-á diretamente pelo escrivão, por mandado, ou via postal com
comprovante de recebimento, ou por qualquer outro meio idôneo.
Art. 370, § 3o. A intimação pessoal, feita pelo escrivão, dispensará a aplicação a que alude
o § 1o .
Art. 370, § 4o. A intimação do Ministério Público e do defensor nomeado será pessoal.
Art. 371. Será admissível a intimação por despacho na petição em que for requerida,
observado o disposto no art. 357.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Art. 357. São requisitos da citação por mandado:


I – Leitura do mandado ao citando pelo oficial e entrega da contrafé, na qual se
mencionarão dia e hora da citação;
II – Declaração do oficial, na certidão, da entrega da contrafé, e sua aceitação ou recusa.

9.2.3. Questões relevantes de intimação x prazos


Sempre que a intimação (seja pessoal, seja por publicação) se der em uma sexta-feira, o
início do prazo será na segunda-feira ou no primeiro dia seguinte, no caso de feriado.
É o teor da Súmula no 310 do STF.
No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos
autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.
É o teor da Súmula no 710 do STF.
Súmulas importantes:

Súmula no 310 do STF. Quando a intimação tiver lugar na sexta-feira, ou a publicação


com efeito de intimação for feita nesse dia, o prazo judicial terá início na segunda-feira
imediata, salvo se não houver expediente, caso em que começará no primeiro dia útil que
se seguir.
Súmula no 710 do STF. No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e
não da juntada aos autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.

Questão que gerou muita controvérsia relaciona-se ao exato momento em que o prazo
iniciava a correr para o MP e Defensorias. Se do ingresso dos autos no Órgão ou do “ciente”
do Membro.
Atualmente o STF pacificou a questão ao afirmar que “reputa-se intimado da decisão o
MP” a partir da data “de entrega dos autos, com vista, à secretaria do órgão ou ao
representante mesmo” (Cezar Peluso – HC 84.166/SP).
Atenção ao artigo abaixo:

Art. 798 do CPP. [...] § 1oNão se computará no prazo o dia do começo, incluindo-se,
porém, o do vencimento. [...]
§ 3o O prazo que terminar em domingo ou dia feriado considerar-se-á prorrogado até o dia
útil imediato.

Novidade legislativa:

Art. 798-A. Suspende-se o curso do prazo processual nos dias compreendidos entre 20
de dezembro e 20 de janeiro, inclusive, salvo nos seguintes casos:
I – que envolvam réus presos, nos processos vinculados a essas prisões;
II – nos procedimentos regidos pela Lei no 11.340, de 7 de agosto de 2006 (Lei Maria da
Penha)
III – nas medidas consideradas urgentes, mediante despacho fundamentado do juízo
competente.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Parágrafo único. Durante o período a que se refere o caput deste artigo, fica vedada a
realização de audiências e de sessões de julgamento, salvo nas hipóteses dos incisos I, II
e III deste artigo.

10. Prisões

É a privação a liberdade de locomoção determinada por ordem escrita e fundamentada


da autoridade competente ou em caso de flagrante delito.

Art. 5o, LXI, CF. ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e
fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão
militar ou crime propriamente militar, definidos em lei.

10.1. Espécies de prisão


10.1.1. Prisão em flagrante

Art. 301. Qualquer do povo poderá (facultativo) e as autoridades policiais e seus agentes
deverão (obrigatório) prender quem quer que seja encontrado em flagrante delito.
Art. 302. Considera-se em flagrante delito quem:
I – está cometendo a infração penal; (próprio)
II – acaba de cometê-la; (próprio)
III – é perseguido, logo após, pela autoridade, pelo ofendido ou por qualquer pessoa, em
situação que faça presumir ser autor da infração; (impróprio, quase-flagrante ou irreal)
IV – é encontrado, logo depois, com instrumentos, armas, objetos ou papéis que façam
presumir ser ele autor da infração.

Infrações permanentes:

Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto
não cessar a permanência.

Falta de testemunha do crime impede a prisão em flagrante? Não. Neste caso


necessitaremos de testemunhas para presenciar a apresentação do preso a autoridade (essas
testemunhas são conhecidas como fedatárias).
Fundamento:
Art. 304, § 2o. A falta de testemunhas da infração não impedirá o auto de prisão em
flagrante; mas, nesse caso, com o condutor, deverão assiná-lo pelo menos duas pessoas
que hajam testemunhado a apresentação do preso à autoridade.

Procedimento – comunicações obrigatórias:

Art. 306. A prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados
imediatamente ao juiz competente, ao Ministério Público e à família do preso ou à pessoa
por ele indicada.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

§ 1o Em até 24 (vinte e quatro) horas após a realização da prisão, será encaminhado ao


juiz competente o auto de prisão em flagrante e, caso o autuado não informe o nome de
seu advogado, cópia integral para a Defensoria Pública.
§ 2o No mesmo prazo (24h), será entregue ao preso, mediante recibo, a nota de culpa,
assinada pela autoridade, com o motivo da prisão, o nome do condutor e os das
testemunhas.

Cuidado! A não comunicação leva à prisão ilegal que deve ser relaxada (art. 5 o, LXV, da
CF e art. 310, I, do CPP).

Decisões possíveis do juiz:

Art. 310. Após receber o auto de prisão em flagrante, no prazo máximo de até 24 (vinte e
quatro) horas após a realização da prisão, o juiz deverá promover audiência de custódia
com a presença do acusado, seu advogado constituído ou membro da Defensoria Pública
e o membro do Ministério Público, e, nessa audiência, o juiz deverá, fundamentadamente:
I -relaxar a prisão ilegal; ou
II -converter a prisão em flagrante em preventiva, quando presentes os requisitos
constantes do art. 312 deste Código, e se revelarem inadequadas ou insuficientes as
medidas cautelares diversas da prisão; ou
III – conceder liberdade provisória, com ou sem fiança.
§ 1o Se o juiz verificar, pelo auto de prisão em flagrante, que o agente praticou o fato nas
condições constantes dos incisos I a III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7
de dezembro de 1940 – Código Penal, poderá, fundamentadamente, conceder ao acusado
liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a todos os atos processuais, sob
pena de revogação.
§ 2o Se o juiz verificar que o agente é reincidente ou que integra organização criminosa
armada ou milícia, ou que porta arma de fogo de uso restrito, deverá denegar a liberdade
provisória, com ou sem medidas cautelares.
§ 3o A autoridade que deu causa, sem motivação idônea, à não realização da audiência
de custódia no prazo estabelecido no caput deste artigo responderá administrativa, civil e
penalmente pela omissão.
§ 4o Transcorridas 24 (vinte e quatro) horas após o decurso do prazo estabelecido no caput
deste artigo, a não realização de audiência de custódia sem motivação idônea ensejará
também a ilegalidade da prisão, a ser relaxada pela autoridade competente, sem prejuízo
da possibilidade de imediata decretação de prisão preventiva. Suspensa por decisão do
Min FUX na ADI 6298.

10.1.2. Prisão preventiva


Cabimento e competência:

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a


prisão preventiva decretada pelo juiz, a requerimento do Ministério Público, do querelante
ou do assistente, ou por representação da autoridade policial.

Atenção! Até o pacote anticrime (Lei no 13.964/2019) era possível que, durante o
processo, o juiz determinasse a prisão preventiva de ofício. Hoje, como vimos na leitura acima,
não é mais possível. Abaixo a antiga redação:
Redação antiga para comparação:

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Art. 311. Em qualquer fase da investigação policial ou do processo penal, caberá a prisão
preventiva decretada pelo juiz, de ofício, se no curso da ação penal, ou a requerimento
do Ministério Público, do querelante ou do assistente, ou por representação da autoridade
policial.

Fundamentos e requisitos:
Resumindo:
Art. 312. A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da
ordem econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a
aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente
de autoria e de perigo gerado pelo estado de liberdade do imputado.

Quando houver:
1) prova da existência do crime;
2) indício suficiente de autoria;
3) perigo gerado pela liberdade do imputado (esse requisito também foi acrescido
pelo pacote anticrime).

A prisão preventiva poderá ser decretada como:


1) garantia da ordem pública;
2) da ordem econômica;
3) por conveniência da instrução criminal, ou
4) para assegurar a aplicação da lei penal.

Outros fundamentos:

§ 1o A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de


qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282,
§ 4o).

Necessidade de fundamentação em fatos novos ou contemporâneos a prisão. Princípio


da contemporaneidade

§ 2o A decisão que decretar a prisão preventiva deve ser motivada e fundamentada em


receio de perigo e existência concreta de fatos novos ou contemporâneos que
justifiquem a aplicação da medida adotada.

Casos de admissão da preventiva. Não basta que a situação se aperfeiçoe ao art. 312
do CPP se não estiver admitida na forma do artigo abaixo:
Atenção! Essas situações são alternativas e não cumulativa. Ou seja: basta uma para
possibilitar a prisão preventiva.

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Processo Penal

Art. 313. Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão
preventiva:
I -nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4
(quatro) anos;
II -se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado,
ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 – Código Penal;
III – se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança,
adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das
medidas protetivas de urgência;
§ 1o Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a
identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para
esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a
identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida.
§ 2o Não será admitida a decretação da prisão preventiva com a finalidade de
antecipação de cumprimento de pena ou como decorrência imediata de investigação
criminal ou da apresentação ou recebimento de denúncia.

Não admissão, motivação e revogação. Causa excludentes de ilicitude.

Art. 314. A prisão preventiva em nenhum caso será decretada se o juiz verificar pelas
provas constantes dos autos ter o agente praticado o fato nas condições previstas nos
incisos I, II e III do caput do art. 23 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 –
Código Penal.

Apesar de o art. 93, IX, da CF trazer a necessidade de motivação para todas as


decisões judiciais, a Lei no 13.964/2019, expressamente, passou a exigir nos casos de
preventiva, bem como elencou algumas situações em que não será considerada válida a
fundamentação apresentada.

Art. 315. A decisão que decretar, substituir ou denegar a prisão preventiva será sempre
motivada e fundamentada.
§ 1o Na motivação da decretação da prisão preventiva ou de qualquer outra cautelar, o juiz
deverá indicar concretamente a existência de fatos novos ou contemporâneos que
justifiquem a aplicação da medida adotada.
§ 2o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória,
sentença ou acórdão, que:
I – limitar-se à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua
relação com a causa ou a questão decidida;
II – empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo concreto de sua
incidência no caso;
III – invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão;
IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese,
infirmar a conclusão adotada pelo julgador;
V – limitar-se a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus
fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles
fundamentos;
VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela
parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação
do entendimento.

Revogação da preventiva – previsão legal.

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Processo Penal

Atenção! Segundo a doutrina este fundamento para revogação – quando não mais é
necessária a prisão que foi legalmente imposta – serve também para a prisão temporária.

Art. 316. O juiz poderá, de ofício ou a pedido das partes, revogar a prisão preventiva se,
no correr da investigação ou do processo, verificar a falta de motivo para que ela
subsista, bem como novamente decretá-la, se sobrevierem razões que a justifiquem.

Necessidade de revisão a cada 90 dias:

Art. 316. Parágrafo único. Decretada a prisão preventiva, deverá o órgão emissor da
decisão revisar a necessidade de sua manutenção a cada 90 (noventa) dias,
mediante decisão fundamentada, de ofício, sob pena de tornar a prisão ilegal.

Prisão preventiva domiciliar: previsão legal

Art. 317. A prisão domiciliar consiste no recolhimento do indiciado ou acusado em sua


residência, só podendo dela ausentar-se com autorização judicial.

Cabimento:
Art. 318. Poderá o juiz substituir a prisão preventiva pela domiciliar quando o agente for:
I – maior de 80 (oitenta) anos;
II – extremamente debilitado por motivo de doença grave;
III – imprescindível aos cuidados especiais de pessoa menor de 6 (seis) anos de idade ou
com deficiência;
IV – gestante;
V – mulher com filho de até 12 (doze) anos de idade incompletos;
VI – homem, caso seja o único responsável pelos cuidados do filho de até 12 (doze)
anos de idade incompletos.
Parágrafo único. Para a substituição, o juiz exigirá prova idônea dos requisitos
estabelecidos neste artigo.

Prisão domiciliar de mulher ou gestante:

Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável
por crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I – não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II – não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.

Possibilidade de cumulação da prisão preventiva domiciliar com medidas alternativas


diversas da prisão do art. 319 do CPP.

Art. 318-B. A substituição de que tratam os arts. 318 e 318-A poderá ser efetuada sem
prejuízo da aplicação concomitante das medidas alternativas previstas no art. 319
deste Código.

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10.1.3. Prisão temporária


Prevista na Lei no 7.960/1992, com cabimento somente na fase do inquérito policial,
em hipótese alguma pode ser decretada de oficial pelo juiz (se for, é ilegal e o pedido deve ser
de relaxamento). No caso de não mais ser necessária a prisão temporária legalmente imposta,
o pedido deve ser revogação, forte no art. 316 do CPP.
Tal medida restritiva de liberdade só é cabível nos casos dos crimes previstos no rol
taxativo do art. 1o, III, da Lei de Regência. Será ela decretada pelo juiz, em face da representação
da autoridade policial ou de requerimento do Ministério Público, e terá o prazo de cinco dias,
prorrogável por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade. Nos casos de
prisão temporária por crime hediondo (Lei no 8.072/1990), o prazo será de 30 dias, prorrogável
por mais 30. O mandado de prisão conterá necessariamente o período de duração da prisão e o
dia que o preso deverá ser libertado. Sua execução somente poderá ocorrer depois da expedição
de mandado judicial.
Uma vez decorrido o prazo contido no mandado de prisão, a autoridade responsável pela
custódia deverá, independentemente de nova ordem da autoridade judicial, pôr imediatamente o
preso em liberdade, salvo se já tiver sido comunicada da prorrogação da prisão temporária ou
da decretação da prisão preventiva. O dia de início de cumprimento deve ser computado no
prazo da prisão. Os presos temporários deverão ficar separados dos demais detentos.

11. Medidas Assecuratórias Patrimoniais

11.1. Conceito
São medidas cautelares de natureza processual, urgentes e provisórias, que tem por
objetivo garantir a eficácia de uma futura decisão judicial.

11.2. Espécies principais


• Arresto;
• Sequestro;
• Hipoteca legal.

Cuidado! Diferença doutrinária entre sequestro e arresto.


Sequestro: retenção de um objeto específico, cuja propriedade esteja sendo discutida,

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recaindo sobre bem determinado.


Arresto: medida acautelatória que incide sobre uma generalidade de bens. O arresto pode
ser:
a) arresto prévio a hipoteca;
b) arresto de bens móveis.

11.2.1. Sequestro (arts. 125 a 132 do CPP)


Cabível para bens imóveis (art. 125) e bens móveis (art. 132).

Art. 125. Caberá o sequestro dos bens imóveis, adquiridos pelo indiciado com os
proventos da infração, ainda que já tenham sido transferidos a terceiro.
Art. 132. Proceder-se-á ao sequestro dos bens móveis se, verificadas as condições
previstas no art. 126, não for cabível a medida regulada no Capítulo Xl do Título Vll deste
Livro.

Requisitos para o sequestro:


Não se exige prova plena. Bastam indícios veementes da origem ilícita dos bens (mais
que meros indícios e menos que prova plena).

Art. 126. Para a decretação do sequestro, bastará a existência de indícios veementes


da proveniência ilícita dos bens.

Competência e legitimidade para requerer e cabimento (o sequestro cabe durante o IP).

Art. 127. O juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público ou do ofendido, ou


mediante representação da autoridade policial, poderá ordenar o sequestro, em
qualquer fase do processo ou ainda antes de oferecida a denúncia ou queixa.

Recurso contra decisão que determina o sequestro de bens: desta decisão cabe o
recurso de apelação. Art. 593, II, do CPP.
Jurisprudência sobre a apelação:

É possível a interposição de apelação, com fundamento no art. 593, II, do CPP, contra
decisão que tenha determinado medida assecuratória prevista no art. 4 o, caput, da Lei no
9.613/98 (Lei de lavagem de Dinheiro), a despeito da possibilidade de postulação direta
ao juiz constritor objetivando a liberação total ou parcial dos bens, direitos ou valores
constritos (art. 4o, §§ 2o e 3o, da mesma Lei). O indivíduo que sofreu os efeitos da medida
assecuratória prevista no art. 4o da Lei no 9.613/98 tem a possibilidade de postular
diretamente ao juiz a liberação total ou parcial dos bens, direitos ou valores constritos. No
entanto, isso não proíbe que ele decida não ingressar com esse pedido perante o juízo de
1o instância e queira, desde logo, interpor apelação contra a decisão proferida, na forma
do art. 593, II, do CPP. STJ. 5ª T. – REsp no 1.585.781/RS – rel. Min. Felix Fischer, j. 28-
6-2016 (Informativo no 587 do STJ).

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Processo Penal

Embargos ao sequestro (tecnicamente contestação):

Art. 130. O sequestro poderá ainda ser embargado:


I – pelo acusado, sob o fundamento de não terem os bens sido adquiridos com os
proventos da infração;
II – pelo terceiro, a quem houverem os bens sido transferidos a título oneroso, sob o
fundamento de tê-los adquirido de boa-fé.
Parágrafo único. Não poderá ser pronunciada decisão nesses embargos antes de passar
em julgado a sentença condenatória.

Competência para julgar os embargos: juiz penal competente para o julgamento.


Os embargos somente serão julgados após a sentença condenatória irrecorrível.
Levantamento do sequestro: trata-se de uma situação que gera a perda da eficácia do
sequestro:
Art. 131. O sequestro será levantado:
I – se a ação penal não for intentada no prazo de sessenta dias, contado da data em
que ficar concluída a diligência;
II – se o terceiro, a quem tiverem sido transferidos os bens, prestar caução que assegure
a aplicação do disposto no art. 74, II, b, segunda parte, do Código Penal;
III – se for julgada extinta a punibilidade ou absolvido o réu, por sentença transitada
em julgado.

Leilão e depósito: após o sequestro dos bens (móveis ou imóveis), o juízo criminal (art.
133 do CPP) providenciará a avaliação e venda de tais bens.
Cuidado com as alterações trazidas pelo Pacote Anticrime.

Art. 133. Transitada em julgado a sentença condenatória, o juiz, de ofício ou a


requerimento do interessado ou do Ministério Público, determinará a avaliação e a venda
dos bens em leilão público cujo perdimento tenha sido decretado.
§ 1o Do dinheiro apurado, será recolhido aos cofres públicos o que não couber ao lesado
ou a terceiro de boa-fé.
§ 2o O valor apurado deverá ser recolhido ao Fundo Penitenciário Nacional, exceto se
houver previsão diversa em lei especial.

Autorização para que órgãos de segurança utilizem os bens sequestrados:

Art. 133-A. O juiz poderá autorizar, constatado o interesse público, a utilização de bem
sequestrado, apreendido ou sujeito a qualquer medida assecuratória pelos órgãos de
segurança pública previstos no art. 144 da Constituição Federal, do sistema prisional, do
sistema socioeducativo, da Força Nacional de Segurança Pública e do Instituto Geral de
Perícia, para o desempenho de suas atividades.
§ 1o O órgão de segurança pública participante das ações de investigação ou repressão
da infração penal que ensejou a constrição do bem terá prioridade na sua utilização.
§ 2o Fora das hipóteses anteriores, demonstrado o interesse público, o juiz poderá
autorizar o uso do bem pelos demais órgãos públicos.
§ 3o Se o bem a que se refere o caput deste artigo for veículo, embarcação ou aeronave,
o juiz ordenará à autoridade de trânsito ou ao órgão de registro e controle a expedição de
certificado provisório de registro e licenciamento em favor do órgão público beneficiário, o
qual estará isento do pagamento de multas, encargos e tributos anteriores à
disponibilização do bem para a sua utilização, que deverão ser cobrados de seu

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responsável.
§ 4o Transitada em julgado a sentença penal condenatória com a decretação de
perdimento dos bens, ressalvado o direito do lesado ou terceiro de boa-fé, o juiz poderá
determinar a transferência definitiva da propriedade ao órgão público beneficiário ao qual
foi custodiado o bem.

11.2.2. Hipoteca legal


Medida que recai sobre o patrimônio lícito do réu ou indiciado. A grande diferença
para o sequestro de imóveis é que a hipoteca recai sobre patrimônio lícito e o sequestro
sobre ilícito.
Objetiva uma futura ação civil ex delito (art. 91, I do CP).
Aquela ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter indenização pelo dano
causado pelo crime (art. 91 do CP), quando existente.

Pressupostos:
• Prova inequívoca da materialidade delitiva;
• Indícios suficientes de autoria.

Legitimidade:

Art. 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do indiciado poderá ser requerida pelo ofendido
em qualquer fase do processo, desde que haja certeza da infração e indícios suficientes
da autoria.

MP também possui legitimidade. Quando ofendido pobre ou houver interesse da


Fazenda Pública.

Art. 142. Caberá ao Ministério Público promover as medidas estabelecidas nos arts. 134
e 137, se houver interesse da Fazenda Pública, ou se o ofendido for pobre e o
requerer.

Finalidade:
Satisfação do dano ex delicto.
Pagamento de eventuais penas pecuniárias e despesas processuais.

Cabimento da hipoteca legal:

Art. 134. A hipoteca legal sobre os imóveis do indiciado poderá ser requerida pelo
ofendido em qualquer fase do processo, desde que haja certeza da infração e indícios
suficientes da autoria.

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Especialização da hipoteca (nada mais é do que a “escolha” do bem imóvel que restará
de fato hipotecado).

Art. 135. Pedida a especialização mediante requerimento, em que a parte estimará o valor
da responsabilidade civil, e designará e estimará o imóvel ou imóveis que terão de
ficar especialmente hipotecados, o juiz mandará logo proceder ao arbitramento do valor
da responsabilidade e à avaliação do imóvel ou imóveis.

Arresto prévio à hipoteca legal (art. 136):


Ocorre nas situações em que haverá uma demora na especialização da hipoteca.
Previsão legal:

Art. 136. O arresto do imóvel poderá ser decretado de início, revogando-se, porém, se no
prazo de 15 (quinze) dias não for promovido o processo de inscrição da hipoteca legal.

Arresto do art. 137 do CPP:


Medida semelhante à hipoteca legal, porém com incidência sobre bens móveis. Recai
sobre bens de origem lícita (essa é a diferença para o sequestro) quando os imóveis forem
insuficientes para garantir o pagamento.

Art. 137. Se o responsável não possuir bens imóveis ou os possuir de valor


insuficiente, poderão ser arrestados bens móveis suscetíveis de penhora, nos termos em
que é facultada a hipoteca legal dos imóveis.
§ 1o Se esses bens forem coisas fungíveis e facilmente deterioráveis, proceder-se-á na
forma do § 5o do art. 120. (avaliadas – leilão)
§ 2o Das rendas dos bens móveis poderão ser fornecidos recursos arbitrados pelo juiz,
para a manutenção do indiciado e de sua família.

11.2.3. Arresto
O arresto também é modalidade de medida assecuratória que tem por objeto o
patrimônio lícito do agente, não se destinando, portanto, à constrição de bens adquiridos com
o produto da infração. São duas as espécies de arresto:
• arresto de imóveis preparatório da hipoteca legal (art. 136 do CPP);
• arresto de bens móveis (art. 137 do CPP).

Atenção com essa jurisprudência:

Para que seja autorizada a decretação da medida de arresto, não é necessário que fique
demonstrado que o réu está praticando atos concretos de desfazimento de bens.
Porém, é imperiosa a demonstração da plausibilidade do direito e do perigo na demora. A
indisponibilidade dos bens não traz prejuízos desarrazoados ao réu, pois ele terá seus
bens desbloqueados, se absolvido ao fim do processo. Assim, é possível o arresto prévio

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de bens de acusados por suposta prática de crime único de corrupção passiva em


concurso de agentes. STF. 1ª T. – Pet no 7.069/DF – rel. Min. Marco Aurélio, red. p/o
acordão Min. Luís Roberto Barroso, j. 13-3-2019 (Info 933 – STF).

Das exceções: a defesa em matéria penal pode ser:


• direta, quando se nega o fato; ou
• indireta, quando procura-se evitar a análise do fato supostamente criminoso.

A indireta ocorrerá por meio das exceções. Podemos defini-las como sendo “o meio pelo
qual o acusado busca a extinção do processo, sem o conhecimento do mérito, ou o atraso em
seu andamento” (CAPES, Curso de processo penal, 27ª ed., p. 372).

12. Das Questões e Processos Incidentes

Quanto às espécies, podem assim ser apresentadas:


• Peremptórias: quando acolhidas, põem termo à causa, extinguindo o processo.
• Dilatórias: quando acolhidas, apenas prorrogam o curso do processo,
procrastinam seu fim.

Vamos analisar cada uma das previstas no CPP:

12.1. Exceção de suspeição


Destinada a rejeitar o juiz que demonstre parcialidade ou quando existem motivos
relevantes que ensejam suspeição de sua isenção em razão de interesses ou sentimentos
pessoais (art. 254, CPP).
Pode ser arguida pelas partes ou pelo MP ou o juiz pode se dar por suspeito (ex officio).
Muita atenção, pois esta exceção deve preceder as demais, salvo quando fundada em
motivo superveniente. Sua interposição deve ser por petição fundamentada, acompanhada de
prova documental e do rol de testemunhas, quando necessário.
Cuidado! Pode ser cobrado em prova: é necessária procuração com poderes especiais
(ou é assinada também pela parte) – art. 98 do CPP.

Art. 254. O juiz dar-se-á por suspeito, e, se não o fizer, poderá ser recusado por qualquer
das partes:
I – se for amigo íntimo ou inimigo capital de qualquer deles;
II – se ele, seu cônjuge, ascendente ou descendente, estiver respondendo a processo por
fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia;

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III – se ele, seu cônjuge, ou parente, consanguíneo, ou afim, até o terceiro grau, inclusive,
sustentar demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado por qualquer das
partes;
IV – se tiver aconselhado qualquer das partes;
V – se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer das partes;
VI – se for sócio, acionista ou administrador de sociedade interessada no processo.

Uma vez interposta a suspeição:


O juiz pode reconhecer a suspeição, remetendo os autos ao seu substituto. Desta decisão
não cabe recurso.
O juiz pode declarar que não é suspeito, apresentando resposta escrita no prazo de cinco
dias, anexando documentos e arrolando testemunhas; remeterá os autos ao tribunal de justiça
em 24 horas.
No caso de não ter aceito a suspeição, chegando ao tribunal, o relator poderá rejeitar
liminarmente a exceção, se a entender infundada; ou mandar processar a exceção.

Poderá ser alegada contra:


I – Juízes de qualquer instância.
Membros do Ministério Público – cuidado com a Súmula no 234 do STJ.

Súmula no 234 do STJ. A participação de membro do Ministério Público na fase


investigatória criminal não acarreta o seu impedimento ou suspeição para o oferecimento
da denúncia.

II – Intérpretes, peritos, funcionários da justiça, serventuários e jurados.


Consequência – quando declarada a suspeição, ficam nulos os atos processuais do
processo principal.
Outro ponto bastante questionado é se cabe exceção de suspeição contra
autoridades policiais. Não. Os delegados não ensejam suspeição em razão da natureza do
inquérito por eles presidido como procedimento preparatório da ação penal. Contudo, têm
obrigação de se declararem suspeitos.

Art. 107. Não se poderá opor suspeição às autoridades policiais nos atos do inquérito,
mas deverão elas declarar-se suspeitas, quando ocorrer motivo legal.

Existe recurso contra reconhecimento espontâneo de suspeição? Não. Somente é


passível de correição parcial, por tumultuar a tramitação do feito.

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12.2. Exceção de incompetência de juízo


Fundamenta-se na ausência de capacidade funcional do juiz.
Pressuposto para propositura é que uma ação penal esteja em andamento, em foro
incompetente, de acordo com as regras dos arts. 69 e seguintes do CPP.
Caso não seja reconhecida de ofício pelo juiz, poderá ser arguida pelo réu, querelado e
MP, não podendo ser arguida pelo autor da ação.
Incompetência relativa pode ser arguida no prazo da resposta da acusação (art. 396 do
CPP), sob pena de preclusão e prorrogação da competência. Incompetência absoluta poderá
ser arguida a qualquer tempo.

Procedimento:
a) Deve ser oposta junto ao próprio juiz da causa;
b) Pode ser arguida verbalmente ou por escrito;
c) O juiz mandará autuar em apartado;
d) O MP deve ser ouvido a respeito da exceção, desde que não seja ele o proponente;
e) O juiz julga então a exceção.

O que poderá ocorrer?


1 – Caso o juiz julgue exceção improcedente, cabe HC.
2 – Caso julgue procedente, cabe RESE (art. 581, III, do CPP).
3 – Caso remeta ao Juízo que entende competente, este poderá não concordar e suscitará
o conflito de competência.
4 – Julgada procedente a exceção, serão declarados nulos os atos decisórios.
5 – Não há suspensão do processo.
6 – Não alegada a exceção de incompetência ratione loci, ocorre preclusão (o juiz
torna-se competente, pois prorrogada estará sua competência. Trata-se de uma competência
relativa).

12.3. Exceção de litispendência


Ocorre litispendência quando uma ação repete outra em curso, ou seja, quando a
imputação atribuir ao acusado, mais de uma vez, em processos diferentes, a mesma conduta
delituosa. Para existir litispendência, os processos devem ter o mesmo pedido, as mesmas
partes e a mesma causa de pedir.

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Processo Penal

Destinada a evitar o trâmite em paralelo de dois processos idênticos.


Acolhendo-se a exceção de litispendência, cabe recurso em sentido estrito (art. 581, III,
do CPP).
O rito é o mesmo da incompetência.
Não há prazo para interposição.
Deve ser arguida no segundo processo.
Não há suspensão do processo.

12.4. Exceção por ilegitimidade de parte


Abrange não apenas a titularidade do direito de ação, como a capacidade de exercício.
A exceção poderá ser arguida quando:
• A queixa é oferecida em caso de ação pública;
• A denúncia é oferecida em hipótese de ação privada;
• O querelante é incapaz;
• O querelante não é o representante legal do ofendido;
• Na ação privada personalíssima, quando a queixa é oferecida pelo sucessor da
vida.

Reconhecida a exceção, o recurso cabível é em sentido estrito (art. 581, III, do CPP). A
exceção de ilegitimidade segue o mesmo procedimento da incompetência do juízo.

12.5. Exceção de coisa julgada


Transitada em julgado uma decisão, é impossível um mesmo processo pelo mesmo fato.
Isso tem por objetivo evitar o odioso bis in idem.
Importante ressaltar que a imutabilidade da coisa julgada não é absoluta no Direito Penal,
pois existe hipótese, especialmente na revisão criminal de a coisa julgada ser revista (art. 621
do CPP).
Esta exceção deve ser proposta quando se verificar a identidade de demanda entre a ação
proposta e uma outra já decidida por sentença já transitada em julgado.
Quando proposta a ação idêntica, o juiz poderá:
a) rejeitar a denúncia;
b) declarar a exceção de ofício;
c) caso o juiz não declare de ofício, poderá o MP ou o réu argui-la.

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Ela seguirá o mesmo rito, é o mesmo da exceção de incompetência.


Fases:
a) Pode ser arguida verbalmente em qualquer fase do processo;
b) Juiz deve ouvir a outra parte e o MP;
c) Deve ser autuada em separado;
d) Se for julgada procedente, a ação principal será extinta, cabendo recurso em sentido
estrito (art. 581, III, do CPP).
e) Se julgar improcedente, processo continua e não cabe recurso, cabendo, entretanto,
habeas corpus.

12.6. Conflito de Jurisdição


Ocorre sempre que, em qualquer fase do processo, um ou mais juízes,
contemporaneamente, tomam ou recusam tomar conhecimento do mesmo fato delituoso.
O conflito poderá ser:
• Conflito positivo: quando dois ou mais juízes se julgam competentes para
conhecer e julgar o mesmo fato;
• Conflito negativo: quando dois ou mais juízes se julgam incompetentes para
conhecer e julgar o mesmo fato.

Processamento (órgão competente para resolver o conflito – matéria prevista


constitucionalmente).
Compete ao STJ os conflitos de competência:
• Entre quaisquer tribunais;
• Entre tribunal e juiz a ele não vinculado;
• Entre juízes vinculados a tribunais diversos.

Compete ao STF os conflitos de competência:


• Entre o STJ e qualquer outro tribunal;
• Entre Tribunais Superiores e qualquer outro tribunal;
• Entre Tribunais Superior entre si.

Compete aos Tribunais Regionais Federais solucionar conflitos entre:


• Juízes federais a eles vinculados;

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
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• Juiz federal e juiz estadual investido na jurisdição federal.

Na Justiça Militar, conflitos devem ser suscitados perante o STM, já conflitos entre TRE
ou juízes eleitorais de Estados diferentes são julgados pelo TSE. Se forem juízes eleitorais do
mesmo Estado, compete ao TRE.
Muita atenção! Entre juiz e tribunal ao qual ele está vinculado não se fala em conflito de
jurisdição, é resolvido pela hierarquia.

13. Procedimentos Penais

Prof.ª Letícia Neves


@prof.leticianeves

13.1. Considerações iniciais


O procedimento é a ordem, a sucessão de atos que devem ser respeitados durante o
processo penal. O art. 394 do CPP dispõe que os procedimentos penais podem ser divididos em
comum ou especial.

13.2. Procedimento comum


Nos termos do art. 394, § 1o, do CPP, o procedimento comum divide-se em: ordinário,
sumário e sumaríssimo. O critério adotado para diferenciá-los é a quantidade máxima de pena
privativa de liberdade prevista ao tipo penal, da seguinte forma:
*Para todos verem: tabela.
Procedimento comum (art. 394, § 1º, do CPP)
Procedimento comum Crimes cuja pena máxima seja igual Ex: art. 213 do CP - pena de 6
ordinária ou superior a quatro anos. a 10 anos.
Procedimento comum Crimes cuja pena máxima seja Ex: art. 306 do CTB – pena de
sumário inferior a quatro anos. 6 meses a 3 anos.
Procedimento comum Infrações de menor potencial Ex: art 163, caput do CP – art.
sumaríssimo ofensivo – art. 61 da Lei nº 147 do CP – pena de 1 mês a
9.099/1995. 6 meses.
Obs: Art. 94 do Estatuto do Idoso
(Lei nº 10.741/2003)
Obs: somente aplica-se o Procedimento Comum se não houver previsão para aplicação de
procedimento especial.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

É importante destacar alguns pontos, vejamos:


Para adoção do procedimento comum, deve ser observada a existência de majorantes ou
minorantes, as quais poderão interferir no procedimento a ser adotado.
As disposições do procedimento comum ordinário aplicam-se subsidiariamente aos
procedimentos especiais, sumário e sumaríssimo (art. 394, § 5o, do CPP).
Os processos que apurem a prática de crime hediondo terão prioridade de tramitação em
todas as instâncias (art. 394-A do CPP).

13.2.1. Procedimento comum ordinário


O regramento que deverá ser observado está disposto nos arts. 395 a 405 do CPP.1
Observação: no âmbito do Juizado Especial Criminal, o recurso cabível da rejeição da
denúncia ou queixa é o de apelação, nos termos do art. 82 da Lei no 9.099/1995.
No caso de citação por edital, o prazo para a defesa começará a fluir a partir do
comparecimento pessoal do acusado ou do defensor constituído (art. 363, § 4 o, do CPP).
A resposta à acusação é o momento processual que o defensor poderá arguir toda a
matéria pertinente à defesa, inclusive, apontar a necessidade de o magistrado reapreciar o
recebimento da denúncia ou queixa, indicando a possibilidade de rejeição da peça acusatória
(art. 395 do CPP). Trata-se de peça obrigatória, nos termos do art. 396-A, § 2o, do CPP, caso
não seja apresentada no prazo legal, ou se o acusado, citado, não constituir defensor, o juiz
nomeará defensor para oferecê-la, concedendo-lhe vista dos autos por dez dias. A não
nomeação de defensor pelo juiz para oferecimento da defesa gerará nulidade absoluta.
Após a apresentação da resposta à acusação, ocasião em que poderá ser alegado tudo
que interesse à defesa, o juiz decidirá pela absolvição sumária ou designará audiência de
instrução e julgamento.

1
A Lei no 13.964/2019 (Pacote Anticrime) introduziu no Código de Processo Penal o chamado “juiz das garantias”, delimitando
a atuação do “juiz da instrução”. Conforme dispõe o art. 3o-B, XIV, do CPP, o juiz competente para decidir sobre a rejeição
ou o recebimento da denúncia será o “juiz das garantias”, o qual terá a atuação encerrada com o recebimento da denúncia
(art. 3o-C, 1ª parte, do CPP). A partir desse momento, a condução do processo competirá a um juiz criminal diferente, ao
chamado “juiz da instrução e julgamento”, a quem incumbirá acompanhar a instrução processual e a apreciação do caso
concreto. Entretanto, atualmente, a implementação do denominado “juiz das garantias” e as demais modificações
decorrentes da nova estrutura processual estão suspensas, em razão de uma decisão de caráter liminar proferida pelo
Ministro Luiz Fux, em face de quatro ações diretas de inconstitucionalidade propostas no âmbito do Supremo Tribunal
Federal (Medida Cautelar na ADI no 6.299 e ADIs nos 6.298, 6.300 e 6.305). Por consequência, o que se tem em vigência é a
manutenção da estrutura processual penal brasileira com apenas um juiz criminal, que será competente para apreciar a peça
acusatória e acompanhar o processo até a sentença.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

O juiz absolverá sumariamente, nas hipóteses do art. 397 do CPP:


I. existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato (ver: art. 23 do CP);
II. existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do agente, salvo
inimputabilidade; (ver: art. 22 do CP);
III. que o fato narrado evidentemente não constitui crime;
IV. extinta a punibilidade do agente.

A decisão que absolve sumariamente o acusado produz coisa julgada material, logo,
transitada em julgado não será possível modificar esta decisão.
Não sendo caso de absolvição sumária, o magistrado designará audiência de instrução e
julgamento, nos termos do art. 400 do CPP, que deverá ser realizada no prazo de 60 dias. Na
audiência, será observada a seguinte ordem:
Cuidado! Lei Mariana Ferrer – art. 400-A do CPP.
Durante a audiência e, em especial, nas que apurem crimes contra a dignidade sexual,
todas as partes e demais sujeitos processuais presentes no ato devem zelar pela integridade
física e psicológica da vítima, sob pena de responsabilização civil, penal e administrativa,
cabendo ao juiz garantir a observância, sendo vedado a manifestação sobre circunstâncias ou
elementos alheios aos fatos objeto de apuração nos autos; e a utilização de linguagem, de
informações ou de material que ofendam a dignidade da vítima ou de testemunhas.
Terminado o interrogatório, não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido,
serão oferecidas alegações finais orais por 20 minutos, respectivamente, pela acusação e pela
defesa, prorrogáveis por mais de 10 minutos, proferindo o juiz, a seguir sentença. Havendo mais
de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
A regra no procedimento comum ordinário é a oralidade. Exceções em que admitimos a
conversão das alegações orais em memoriais escritos, no prazo de cinco dias:
• Art. 404, parágrafo único, do CPP: se existirem diligências imprescindíveis.
• Art. 403, § 3o, CPP: complexidade da causa ou em razão do número de acusados.

Nesses casos, serão apresentados memoriais escritos, no prazo de cinco dias. O juiz terá
o prazo de dez dias para proferir sentença, nos termos dos arts. 403, § 3o, e 404, parágrafo único,
fundamentando a decisão com base nos arts. 386 ou 387 do CPP. Vale destacar a ordem que
os atos devem observar, instrução criminal – art. 394 a 405 do CPP:

Veja o esquema na página a seguir...

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

*Para todos verem: esquema.

Juiz absolve Audiência


Resposta sumariament de
Oferecimento,
Recebimento e ou designa Instrução e
denúncia ou
D/Q
Citação à audiência de Julgamento
queixa acusação instrução e - art. 400
julgamento CPP

Importante registrar que deverá ser observado o princípio da correlação entre a


denúncia e a sentença, a fim de se resguardar a máxima de que o acusado se defende dos
fatos, e não da capitulação jurídica atribuída pela acusação.
Desta forma, importante relembrar o instituto da emendatio libelli, previsto no art. 383 do
CPP, que permite ao magistrado dar ao fato definição jurídica diversa da que constar da queixa
ou da denúncia, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. Diferente é a
situação quando encerrada a instrução probatória, for cabível nova definição jurídica do fato, em
consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da infração penal não
contida na acusação. Neste caso, o Ministério Público deverá aditar a denúncia ou queixa, nos
termos do art. 384 do CPP, configurando o que se denomina mutatio libelli.

13.2.2. Procedimento comum sumário


O procedimento comum sumário deverá observar os arts. 396 e 397 do CPP, acrescendo
a parte específica dos arts. 531 a 538 do CPP. É similar ao comum ordinário, com poucas
alterações, vejamos.
Com a resposta do acusado, o juiz analisará a possibilidade de absolvição sumária (art.
397 do CPP). Não sendo hipótese de absolvição sumária, o juiz designará dia e hora para a
audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 30 dias, ordenando a
intimação do acusado, do seu defensor, do Ministério Público e, se for o caso, do querelante e
do assistente. Na audiência, será observada a seguinte ordem: após o interrogatório, será dada
a palavra para a acusação e para a defesa, para alegações finais orais (art. 534 do CPP), por
vinte minutos prorrogáveis por mais dez minutos para cada parte. Se existir assistente de
acusação habilitado, a sua manifestação será após o Ministério Público, pelo prazo de dez
minutos; sendo oportunizado igual período para manifestação da defesa. Após o magistrado
proferirá sentença.
No procedimento comum sumário não há previsão expressa acerca de eventuais
diligências, mas fique atento em caso de indeferimento de pedidos, pois poderá acarretar

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

cerceamento de defesa. Da mesma forma, não há previsão de conversão das alegações finais
orais em memoriais (aplica-se a regra do art. 394, § 5o, do CPP, utilizando-se de forma subsidiária
as regras do procedimento comum ordinário).

Procedimento comum sumaríssimo: o procedimento será apresentado quando


realizarmos o estudo dos Juizados Especiais Criminais.

13.3. Procedimentos especiais


O procedimento especial é a exceção, possui regramento próprio, sendo aplicado em
razão da prática de determinado crime (por exemplo, crimes dolosos contra a vida) ou no caso
de acusado com foro determinado em virtude da função exercida (arts. 1 o a 12o da Lei no
8.038/1990). Esses procedimentos podem estar previstos no CPP ou na legislação especial,
vejamos:
• procedimento especial para apuração dos crimes dolosos contra a vida (arts. 406
a 497 do CPP);
• crimes de responsabilidade dos funcionários públicos (arts. 513 a 518 do CPP);
• procedimento especial das ações penais originárias dos tribunais (arts. 1º a 12 da
Lei nº 8.038/1990);
• procedimento especial da Lei de Drogas (arts. 54 a 58 da Lei nº 11.343/2006);
• procedimento especial dos crimes contra a honra – arts. 519 ao 523 do CPP (obs.:
em regra, aplica-se a Lei no 9.099/1995);
• procedimento para os crimes contra a propriedade imaterial – arts. 524 a 530, I,
CPP.

13.3.1. Procedimento especial dos crimes dolosos contra a vida


Trata-se de um procedimento especial, conforme o art. 394, § 3 o, do CPP. Além da
previsão no art. 5o, XXXVIII, da CF, o Código de Processo Penal regula os atos nos arts. 406 a
497.
Conforme o art. 74, § 1o, do CPP, são crimes dolosos contra a vida: a) homicídio doloso;
b) aborto; c) induzimento, instigação e auxílio ao suicídio; d) infanticídio. Obs.: o Júri julgará
também os crimes conexos (art. 78, I, CPP).
O procedimento dos crimes dolosos contra a vida possui duas fases bem definidas:

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Procedimento da primeira fase – judicium accusationis:


A chamada fase da acusação é muito similar ao procedimento comum ordinário. Neste
momento há tão somente uma admissibilidade ou não de uma acusação.
Ao receber a denúncia ou queixa, é determinada a citação do acusado, com a abertura do
prazo para a defesa responder à acusação, no prazo de dez dias (art. 406 do CPP). Neste
momento, a defesa poderá arguir preliminares e alegar tudo que interesse à sua defesa, oferecer
documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas, até o
máximo de oito, qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.
A resposta à acusação é peça indispensável também no procedimento do Júri.
Apresentada, o juiz dará vista à acusação, pelo prazo de cinco dias, nos termos do art. 409 do
CPP. Logo após, será designada a realização de audiência de instrução, nos termos do art. 411
do CPP (não há possibilidade expressa em lei de o juiz absolver sumariamente antes da
audiência de instrução, como ocorre em outros procedimentos).
A audiência obedecerá a seguinte ordem: 1ª) declarações do ofendido, se possível; 2ª)
declarações de testemunhas; 3ª) interrogatório do acusado; 4ª) debates orais; 5ª) decisão.
Durante as alegações orais, concede-se a palavra à acusação e à defesa,
respectivamente, pelo prazo de 20 minutos, prorrogáveis por mais 10; havendo mais de um
acusado, o tempo previsto para a acusação e a defesa de cada um deles será individual; ao
assistente do Ministério Público, após a manifestação deste, serão concedidos 10 minutos,
prorrogando-se por igual período o tempo de manifestação da defesa.
Finda a primeira fase do procedimento do Júri, o magistrado poderá decidir pela
pronúncia, impronúncia, absolvição sumária do acusado, ou pela desclassificação da infração
penal para crime diverso da prática de crime doloso contra a vida.
Preclusa a decisão de pronúncia, os autos serão remetidos ao juiz Presidente do Tribunal
do Júri (art. 421 do CPP).

Procedimento da segunda fase do Júri – judicium causae:


A segunda fase do Tribunal do Júri destina-se ao julgamento do acusado perante o
Conselho de Sentença, está disposta nos arts. 422 a 497 do CPP.
O Tribunal do Júri, em conformidade com o art. 447 do CPP, é composto por um juiz
togado, seu presidente, e 25 jurados, sorteados entre os previamente alistados na forma do art.
425 do CPP. Desses 25 jurados, serão sorteados 7, que formarão o Conselho de Sentença.
No dia da sessão de julgamento, deverão comparecer, no mínimo, 15 jurados daqueles

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

25 convocados (arts. 447 e 463 do CPP), para que seja feito o sorteio do Conselho de Sentença.
Formado o Conselho, será iniciada a instrução em plenário (art. 473 do CPP).
A instrução em plenário segue a mesma ordem que o procedimento comum ordinário
(lembrando que, nesta segunda fase, o número de testemunhas é de cinco para cada parte –
art. 422, CPP). A oitiva da vítima e testemunhas deve observar as orientações do art. 474-A do
CPP.
Após a instrução, iniciam-se os debates orais, sendo concedida a palavra primeiramente
à acusação e, após, à defesa, sendo o tempo destinado para cada parte de uma hora e meia.
Além disso, poderá a acusação replicar e a defesa treplicar, utilizando-se do tempo de uma hora
cada parte. Havendo mais de um acusado, o tempo para a acusação e a defesa será acrescido
de uma hora e elevado ao dobro o da réplica e da tréplica.
Importante:
• A decisão de pronúncia limita a acusação, não podendo, durantes os debates
orais, a acusação ultrapassar os limites ali previstos (art. 476 do CPP).
• Durante os debates orais não poderão as partes, sob pena de nulidade, fazer
referência à decisão de pronúncia ou de decisão posterior que a tenha confirmado
como argumento de autoridade. Da mesma forma, não poderão fazer referência
ao silêncio do acusado (art. 478 do CPP).
• Somente poderão ser mostrados no plenário do Júri documentos juntados até três
dias úteis antes do julgamento, dando-se ciência à outra parte, conforme determina
o art. 479 do CPP.

Encerrados os debates orais, o Conselho de Sentença será questionado sobre matéria de


fato e se o acusado deve ser absolvido, por meio de quesitos que serão formulados pelo juiz
presidente (art. 483 do CPP). A sentença será proferida após o julgamento pelos jurados e com
base na decisão tomada por maioria de votos (art. 489 do CPP).
Em caso de desclassificação pelos jurados para outra infração que não seja da
competência do Tribunal do Júri, o juiz presidente deverá sentenciar, conforme o art. 492, § 1 o,
do CPP.
Ainda, em caso de condenação, é competência do juiz presidente determinar a prisão do
condenado, se presentes os requisitos da prisão preventiva previstos no art. 312 do CPP.
Destaca-se que, com a publicação da Lei no 13.964/2019 (Pacote Anticrime), foi inserida a regra
de execução provisória de pena nos processos julgados pelo Tribunal do Júri quando a pena

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Processo Penal

cominada na sentença condenatória for igual ou superior a 15 anos (art. 492, I, e, 2ª parte),
sem prejuízo do conhecimento de eventual recurso a ser interposto. Entretanto, poderá ser
concedido efeito suspensivo a esta apelação desde que observado o disposto no § 5 o do referido
dispositivo.

13.3.2. Alguns apontamentos sobre os demais procedimentos especiais


Procedimento da Lei no 11.343/2006:
Na Lei no 11.343/2006, a instrução criminal está regulada a partir do art. 55,
caracterizando-se como um procedimento especial. Desta forma, oferecida a denúncia, o juiz
notificará o acusado para oferecer defesa prévia, por escrito, no prazo de dez dias. Neste
momento, o acusado poderá invocar todos os argumentos para defesa, especificar as provas e
arrolar até cinco testemunhas. Se não for apresentada, o juiz nomeará defensor para oferecê-
la.
Importante registrar que a lei determina que, recebida a denúncia, o juiz designe dia e
hora para audiência de instrução, ordenando a citação do acusado. Na audiência de instrução,
nos termos do art. 57, a lei dispõe como primeiro ato o interrogatório do acusado, após a
inquirição das testemunhas de acusação e defesa, ao final, será oportunizada a palavra para o
Ministério Público e para o defensor do acusado. Após os debates, o juiz proferirá sentença.
No tocante ao interrogatório, destaca-se que o entendimento jurisprudencial atualizado do
STF e STJ tem determinado a observância do interrogatório como último, aplicando a ordem
prevista no art. 400 do CPP. Inclusive, caracterizando nulidade a inobservância do interrogatório
como último ato (Informativo no 683 do STJ – REsp no 1.808.389/AM – DJe 23-11-2020 e HC no
127.900-AM – STF).

Crimes contra Administração Pública praticado por funcionários públicos:


Nos termos do art. 514 do CPP, nos crimes funcionais afiançáveis, após o oferecimento
da denúncia, o réu será notificado para apresentar, no prazo de 15 dias, resposta preliminar. De
acordo com a Súmula no 330 do STJ entende-se dispensável a resposta preliminar quando a
ação penal estiver instruída com inquérito policial.
Se recebida a denúncia, será o acusado citado, seguindo-se o rito comum, nos termos do
art. 518 do CPP.

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Processo Penal

14. Juizados Especiais Criminais

14.1. Considerações iniciais


O art. 98, I, da CF/1988 dispõe que os Juizados serão providos por juízes togados ou
togados e leigos competentes para conciliação, o julgamento e execução de infrações de menor
potencial ofensivo.
Inobstante a existência de duas legislações, no âmbito do Juizado Especial Criminal
observa-se o regramento previsto na Lei no 9.099/1995, visto que, na Lei no 10.259/2001, não há
previsão do procedimento a ser observado (art. 1o da Lei no 10.259/2001).

14.2. Conceito de infrações de menor potencial ofensivo


Conforme o art. 61 da Lei no 9.099/1995, consideram-se infrações de menor potencial
ofensivo as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a
dois anos, cumulada ou não com multa.
Importante: as contravenções não serão objeto de julgamento nos Juizados Especiais
Criminais Federais, por força do art. 109, IV, da CF, que exclui da competência de julgamento
dos juízes federais o julgamento das contravenções.

Súmula no 38 do STJ: “Compete à Justiça Estadual Comum, na vigência da CF/1988, o


processo por contravenção penal, ainda que praticada em detrimento de bens, serviços
ou interesse da União ou de suas entidades”.

Na reunião de processos, perante o juízo comum ou tribunal do júri, decorrentes das


regras de conexão ou continência, serão observados os institutos da transação penal e da
composição civil, conforme o art. 60, parágrafo único, da Lei n o 9.099/1995.
Obs.: as causas de aumento e diminuição de pena (majorantes e minorantes) deverão
ser observadas para definição de competência. Assim, deverão incidir as causas de aumento
que mais aumentem a pena e as causas que menos diminuem. Por exemplo, no caso de
tentativa, deverá incidir a diminuição da pena máxima em abstrato no mínimo em 1/3 (art. 14,
parágrafo único, CP).

14.3. Critérios e objetivos dos Juizados Especiais


O art. 62 da Lei no 9.099/1995 traz os critérios e objetivos que orientam os Juizados
Especiais Criminais.
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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Além dos critérios, os Juizados Especiais Criminais orientam-se pelos seguintes objetivos:
celeridade, economia processual, informalidade, oralidade e simplicidade. Já os objetivos,
manifestam-se na ideia de:
a) Reparação do dano (diferente da ação civil ex delicto), e
b) Aplicação de pena não privativa de liberdade (sempre que possível).

14.4. Competência no Juizado Especial Criminal


Conforme o art. 63 da Lei no 9.099/1995, a competência do Juizado será determinada pelo
lugar em que foi praticada a infração penal.

14.5. Situações de remessa para o Juízo Comum


Existem algumas situações em que a competência de julgamento no âmbito dos Juizados
Especiais Criminais é afastada por determinação legal. Vejamos:
• Complexidade ou circunstância do caso – art. 77, § 2o e § 3o, da Lei no 9.099/1995;
• Acusado não localizado para ser citado – art. 66, parágrafo único, da Lei no
9.099/1995;
• Quando ocorrer conexão ou continência com delitos da competência do Júri ou
crimes mais graves, será afastada a competência – art. 60 da Lei no 9.099/1995;
• Poderá também restar afastada a competência do JECRIM caso incida uma causa
de aumento de pena, ultrapassando o patamar da pena máxima de dois anos;
• A Lei no 11.340/2006, no art. 41, exclui a aplicação da Lei no 9.099/1995, logo não
há que se falar em JECRIM nos casos de violência doméstica e familiar.

Art. 538 do CPP. Nas infrações penais de menor potencial ofensivo, quando o juizado
especial criminal encaminhar ao juízo comum as peças existentes para a adoção de outro
procedimento, observar-se-á o procedimento sumário previsto neste Capítulo.

14.6. Citação no âmbito do Juizado Especial Criminal


O art. 66 da Lei no 9.099/1995 é claro ao informar que a citação será pessoal ou por
mandado. Logo, se o acusado não for encontrado, o processo será remetido ao juízo comum.
A regra é que a citação seja pessoal e no próprio Juizado Especial Criminal, pois a
pretensão legislativa é de que, inexistindo acordo entre as partes ou não tendo ocorrido a
transação, seja determinada a citação do acusado no final da audiência preliminar, conforme
consta no art. 78 da Lei no 9.099/1995.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Não cabe citação por edital no JECRIM, pois, não sendo encontrado o acusado, haverá
remessa ao juízo comum.

14.7. Fase preliminar


A fase preliminar ao processo está prevista nos arts. 69 a 76 da Lei n o 9.099/1995. Nesta
fase, fica evidenciado o caráter consensual do Juizado, visto que inclui a possibilidade de
composição civil dos danos ou a aceitação da proposta de transação penal como medidas
despenalizadoras, que evitariam a propositura da ação penal.

Termo circunstanciado – art. 69 da Lei no 9.099/1995:


A autoridade policial que tomar conhecimento da ocorrência de uma infração de menor
potencial ofensivo lavrará o chamado termo circunstanciado, que conterá de forma simplificada
o relato dos acontecimentos, indicações de eventuais testemunhas e, se for possível, o exame
de corpo de delito (neste momento pode ser dispensado).
Não se imporá prisão em flagrante para o autor do fato que se comprometer a comparecer
aos atos perante o Juizado Especial Criminal.

Audiência preliminar:
De acordo com os arts. 70 e 71, a audiência ocorreria imediatamente, porém, na prática,
o que ocorre é a remessa do termo circunstanciado ao JECRIM, para após ser marcada uma
data para audiência, sendo as partes intimadas a comparecerem.
Na audiência preliminar, o juiz esclarecerá sobre a possibilidade de composição civil
ou de aceitação da transação (art. 72 da Lei no 9.099/1995).
A composição civil dos danos constitui um acordo de natureza civil, que, se realizado
pelas partes no caso de ação penal privada ou pública condicionada à representação,
resultará na extinção da punibilidade. Nos casos de ação penal pública incondicionada, a
composição dos danos não gera nenhuma consequência no tocante à punibilidade, dando-se
continuidade ao trâmite legal.
Em caso de não haver a composição civil, ou sendo o caso de ação penal incondicionada,
e, em qualquer situação não caracterizar possibilidade de arquivamento, será oferecida a
proposta de transação, ainda na audiência preliminar, que se trata de uma proposta de aplicação
de pena restritiva de direito ou pena de multa para evitar que haja processo penal.
A transação penal evita o processo e não gera reincidência ou maus antecedentes.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Todavia, há a exigência de preenchimento dos seguintes requisitos:


• O autor do fato não poderá ter usufruído de outra transação nos últimos cinco anos;
• Não pode ter sido condenado definitivamente a crime anterior por pena privativa
de liberdade;
• As circunstâncias, como antecedentes, conduta social, personalidade, devem
indicar a possibilidade da medida.

O cumprimento da transação penal resulta na extinção da punibilidade, já o


descumprimento resulta na retomada da situação no momento que parou, podendo, inclusive,
ser oferecida ação penal (Súmula Vinculante no 35 do STF).
Da decisão que aplica a transação caberá recurso de apelação (arts. 76, § 5o, e 82, da
Lei no 9.099/1995).
Não sendo obtido qualquer acordo, prosseguirá a audiência preliminar e, no final, será
oferecida a denúncia ou queixa-crime, em regra oralmente, depois reduzida a termo, no
momento será realizada no próprio JECRIM a citação do acusado (art. 78 da Lei n o
9.099/1995), se possível. Neste momento, inicia-se o procedimento sumaríssimo.
Atente-se para o fato de que a audiência preliminar, como o próprio nome remete,
precede a fase processual, logo somente haverá procedimento sumaríssimo se não houver
adoção de nenhuma das medidas anteriores.

14.8. Procedimento sumaríssimo (fase processual)


Após o oferecimento oral da acusação, será reduzida a termo, e o acusado, caso presente
na audiência, será citado pessoalmente, no Juizado Especial Criminal, e imediatamente
cientificado da designação de dia e hora para a audiência de instrução e julgamento, da
qual também tomarão ciência o Ministério Público, o ofendido, o responsável civil e seus
advogados. Caso o acusado não esteja presente, será citado na forma do art. 66 da lei, por
mandado a ser cumprido pelo Oficial de Justiça.
No dia da audiência de instrução e julgamento (art. 81 da Lei n o 9.099/1995), a sucessão
dos atos segue a seguinte ordem:
1. Proposta de composição ou transação, se não tiverem sido propostas;
2. Palavra ao defensor para responder à acusação;
3. Juiz decidirá se recebe ou não a denúncia ou queixa;
4. Em caso de recebimento, serão ouvidas a vítima e as testemunhas de acusação e

81
1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

defesa;
5. Após, o acusado será interrogado, se presente;
6. Debates orais (acusação e defesa);
7. Sentença.

As principais diferenças entre os demais procedimentos são as seguintes: no caso do


sumaríssimo, a resposta à acusação é oral; a citação é feita antes do recebimento da acusação,
em audiência e na forma oral; se o juiz optar por rejeitar a denúncia ou queixa, caberá o recurso
de apelação, nos termos do art. 82 da Lei n o 9.099/1995. Inclusive, o prazo da apelação neste
procedimento é dez dias.

14.9. Recursos e ações impugnativas no âmbito do Juizado Especial


Criminal
Recursos de apelação: conforme o art. 82 da Lei no 9.099/1995, da decisão de rejeição
da denúncia ou queixa e da sentença caberá apelação. Também será cabível apelação na
hipótese de concessão da transação (art. 76, § 5o, da Lei no 9.099/1995).
O recurso de apelação no JECRIM é dirigido à Turma Recursal, sendo interposto no prazo
de dez dias a contar da ciência da sentença. A petição é escrita e conterá as razões e o pedido,
não se aplicando o art. 600, § 4o, do CPP. Para contrarrazoar o prazo é o mesmo, dez dias, art.
82, §§ 1o e 2o, da Lei no 9.099/1995.

Embargos declaratórios: os embargos declaratórios no JECRIM possuem o prazo de


cinco dias, conforme dispõe o art. 83 da Lei n o 9.099/1995, e poderão ser opostos diante da
obscuridade, contradição ou omissão contida na sentença ou acórdão. Interrompem a contagem
do prazo para os demais recursos.

Recurso especial e recurso extraordinário: no âmbito do JECRIM, não é cabível


recurso especial. Há, inclusive, a Súmula no 203 do STJ, negando o cabimento de recurso
especial. Tal posicionamento se justifica em razão de o art. 105, III, da CF somente mencionar
decisões de Tribunais, não sendo o caso das Turmas Recursais, por isso a ausência de
competência do Superior Tribunal de Justiça para julgamento nesse caso.
Destaca-se que é plenamente cabível recurso extraordinário das decisões das
Turmas Recusais (Súmula no 640 do STF).

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Processo Penal

Habeas corpus: as turmas recursais julgarão os habeas corpus impetrados contra atos
de juízes dos Juizados. Porém, o julgamento de habeas corpus contra ato das Turmas Recursais
Criminais deverá ser realizado pelo Tribunal de Justiça do respectivo Estado ou Tribunal
Regional Federal.

14.10. Suspensão condicional do processo


A suspensão condicional do processo viabiliza a suspensão do processo criminal
mediante o cumprimento de condições. Embora o instituto esteja previsto no art. 89 da Lei n o
9.099/1995, é aplicável em todos os procedimentos processuais, desde que não haja vedação
legal.
A sua aplicação deverá se destinar aos crimes em que a pena mínima prevista ao delito
não ultrapasse um ano, observando os seguintes requisitos:
• o acusado não esteja sendo processado por outro crime;
• não tenha sido condenado por outro crime;
• a culpabilidade, os antecedentes, os motivos e as circunstâncias do crime
autorizem a concessão do instituto (demais exigências do art. 77 do CP).

Aceita as condições contidas na proposta e previstas no art. 89, §§ 1 o e 2o, da Lei no


9.099/1995, o juiz receberá a denúncia e suspenderá o processo pelo período de dois a quatro
anos.
Cuidado! Súmula no 536 do STJ e art. 41 da Lei no 11.340/2006.
A suspensão condicional do processo não se aplica na hipótese de delitos sujeitos ao rito
da Lei Maria da Penha.
Em regra, o oferecimento da proposta é feito pelo Ministério Público, no momento do
oferecimento da denúncia, conforme a lei. Porém, poderá ser feita em momento posterior, nos
casos de desclassificação ou procedência parcial da acusação, nos termos da Súmula no 337 do
STJ, e ainda nas hipóteses de emendatio e mutatio libelli (art. 383, § 1o, e 384, § 3o, do CPP).
O legislador omitiu a possibilidade da suspensão condicional do processo no caso de
ações penais privadas, todavia a doutrina e jurisprudência admitem a hipótese. O que é matéria
controvertida é de quem seria a titularidade para o oferecimento da proposta, existindo duas
posições:
a) No âmbito do STJ, a legitimidade seria titular da ação, ou seja, do querelante.
b) Enunciado no 112 do FONAJE: a legitimidade para o oferecimento é do MP.

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Processo Penal

Caso não seja oferecido o sursis processual, aplica-se o teor da Súmula no 696 do STF.

Concurso de crimes – Súmulas no 243 do STJ e no 723 do STF:


a) concurso material: a suspensão condicional do processo somente será possível se a
soma das penas mínimas não exceder a um ano;
b) concurso formal e crime continuado: a suspensão somente será possível se o aumento
mínimo de 1/6 (arts. 70 e 71 do CP), aplicado sobre a pena mínima do crime mais grave, não
superar o limite de um ano.
Durante o período de provas, a suspensão condicional do processo poderá ser revogada
nos seguintes casos:
• Revogação obrigatória: art. 89, § 3o, da Lei no 9.099/1995 – se, no curso do
prazo, o beneficiário vier a ser processado por outro crime ou não efetuar, sem
motivo justificado, a reparação do dano.
• Revogação facultativa: art. 89, § 4o, da Lei no 9.099/1995 – se o acusado vier a
ser processado, no curso do prazo, por contravenção, ou descumprir qualquer
outra condição imposta.

A consequência da revogação será a retomada imediata do curso do processo e da


contagem do prazo prescricional. Importante destacar que, durante a suspensão do processo, a
contagem do prazo prescricional restará suspensa.
Por fim, expirado o período de provas e cumpridas as condições, o juiz declarará a
extinção da punibilidade, nos termos do art. 89, § 5 o, da Lei no 9.099/1995.

15. Sentença e Coisa Julgada

Em relação à sentença penal é imprescindível o conhecimento dos arts. 386 e 387 do


CPP. A sentença penal, como regra geral, pode ser absolutória (própria), absolutória imprópria
ou condenatória.

15.1. Sentença absolutória


A sentença absolutória própria é aquela que absolve o réu com fundamento no art. 397
ou 386 do CPP.
O art. 397 do CPP dispõe sobre a possibilidade de absolvição sumária, ocasião em que,
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Processo Penal

após a apresentação da resposta à acusação, se for o caso, o juiz deverá absolver o acusado
desde logo.
Atenção! Se estivermos diante do Tribunal do Júri, a sentença que absolver
sumariamente o réu terá fundamento no art. 415 do CPP, e ocorrerá após a instrução probatória,
e o juiz, em regra, decidirá após a apresentação de memoriais.
A absolvição após o fim da instrução tem fundamento no art. 386 do CPP, em todos os
procedimentos, oportunidade em que, analisadas as provas, após a instrução processual,
considera-se o réu absolvido nos termos do referido artigo.
Especialmente em relação à possibilidade de absolvição por não existir prova suficiente
para condenação (art. 386, inciso VII, do CPP), sinaliza-se a utilização do princípio in dubio
pro reo, ou seja, diante do acervo probatório, existem dúvidas quanto à autoria.
Absolvido o réu, o juiz determinará sua soltura – se preso estiver – ou mandará cessar
eventuais medida cautelaras aplicadas.
Ainda, no art. 386 do CPP, há possibilidade da absolvição imprópria, qual seja aquela
que reconhece a causa de isenção de pena, sendo uma delas a constante no art. 26 do CP. Se
diz imprópria porque, embora seja causa de absolvição, conforme se percebe do parágrafo
único, III, do mesmo dispositivo legal, é aplicada uma medida de segurança.
Se estivermos diante do Tribunal do Júri, a sentença que absolver impropriamente o réu,
em razão da inimputabilidade, com base no art. 26, caput, do CP, terá fundamento no art. 415,
inciso IV, do CPP, e deverá ocorrer nos termos do parágrafo único do referido artigo. Ou
seja, somente se absolverá sumariamente no júri em razão da inimputabilidade com base na
doença mental se esta for a única tese defensiva. Havendo tese alternativa, o réu deverá ser
remetido ao plenário, uma vez que há possibilidade de absolvição própria, ou seja, sem aplicação
de medida de segurança.

15.2. Sentença condenatória


Não sendo reconhecida nenhuma das hipóteses acima expostas, o juiz proferirá sentença
penal condenatória, por reconhecer a autoria e materialidade do agente.
Obs.: Nos crimes de ação pública, ainda que o Ministério Público tenha se manifestado
pela absolvição, o juiz poderá proferir sentença condenatória, bem como poderá reconhecer
agravantes, ainda que não tenham sido alegadas – art. 385 do CPP.
Proferida a sentença condenatória, o juiz realizará a dosimetria da pena, observando o
sistema de aplicação de pena determinado no art. 387 do CPP (arts. 59 e 68 do CP).

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Ainda, se for o caso, o juiz poderá fixar valor mínimo para reparação de danos, em razão
de prejuízos sofridos pelo ofendido – art. 387, inciso IV, do CPP.
Se a sentença condenatória for proferida pelo Conselho de Sentença, ou seja, no
procedimento do Tribunal do Júri, o juiz, para aplicar a pena, observará o regramento do art. 492
do CPP.
Se o condenado tiver respondido o processo segregado, em razão de prisão provisória,
administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, o tempo transcorrido deverá ser
detraído da pena definitiva, para fins de fixação do regime prisional – art. 387, § 2o, do CPP.
Vejamos o julgado abaixo:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. DETRAÇÃO PENAL. PERÍODO DE


PRISÃO PROVISÓRIA. CÔMPUTO SOBRE A PENA APLICADA NA SENTENÇA.
INSTITUTO APLICADO CORRETAMENTE. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1.
O tempo de prisão provisória será computado na sentença, para fins de determinação do
regime prisional (art. 387, § 2°, do CPP) ou na fase da execução, quando expedida a guia
de recolhimento, com o propósito de progressão de regime ou de outros benefícios (art.
65, III, “c”, da LEP). 2. Em todo caso, a detração incide a posteriori da pena privativa de
liberdade efetivamente cominada ao réu, conforme o art. 68 do CP. Por isso, nas
condenações iguais ou superiores a quatro anos de reclusão, o instituto não pode ser
utilizado para afastar, por vias transversas, a vedação legal à substituição da pena (art.
44, I, do CP), visto estar relacionado apenas ao saldo ainda a cumprir da sanção e à sua
individualização executória. 3. Agravo regimental não provido (AgRg no HC n o 728.824/MG
–rel. Min. Rogerio Schietti Cruz – 6ª T., j. 14-6-2022, DJe 21-6-2022).

15.3. Coisa julgada


A garantia de coisa julgada significa atribuir à decisão um efeito imutável e irrevogável.
Tal efeito é considerado uma garantia – art. 5o, XXXVI, da CF/1988, evitando a prática de bis in
idem, ou seja, ninguém será julgado mais de uma vez mesmo pelo mesmo fato. A coisa julgada
é subdividida em duas categorias, a coisa julgada formal e a coisa julgada material.
Coisa julgada formal gerada por decisões não analisa e nem julga o mérito, não discorre
sobre o fato processado, é imutável dentro do seu processo, após o trânsito em julgado, por
óbvio. É um exemplo de coisa julga formal a decisão de impronúncia, a qual não analisa se o
acusado é inocente ou culpado, arquivando o processo a partir de uma análise indiciária, razão
pela qual pode haver nova denúncia acerca daquele mesmo fato, se houve novas provas.
Já a coisa julgada material é aquela decisão que julga o mérito da ação proposta. Na
oportunidade, o fato é analisado de forma a absolver ou condenar o réu, o que ocorre após o
trânsito em julgado da sentença penal. Além das sentenças penais, também é exemplo de
decisão com efeitos de coisa julgada material aquela que declara a extinção da punibilidade.
Atenção! O efeito da coisa julgada é um direito do cidadão, visando impedir a pluralidade

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de denúncias sobre um mesmo fato. A única possibilidade de mitigação do efeito de coisa


julgada material seria em atenção ao princípio in dubio pro reo, jamais sob argumento do in dubio
pro societate. Sendo assim, somente pode haver reforma de decisão em favor do réu, razão pela
qual somente é a revisão criminal para benefício do agente.

16. Recursos em Processo Penal

16.1. Considerações iniciais sobre recursos em processo penal


Recurso é o meio processual adequado para impugnar decisões judiciais dentro de uma
mesma relação jurídica, provocando o reexame das questões. Recorre-se da decisão de um
julgador/órgão julgador, que será chamado de juízo a quo, e outro órgão jurisdicional apreciará
o recurso, que, nesse caso, será chamado de juízo ad quem.

16.2. Pressupostos recursais


Classificam-se em subjetivos e objetivos.
a) Pressupostos recursais subjetivos: interesse e legitimidade.
Não será admitido recurso em processo penal da parte que não tenha interesse na reforma
da decisão (art. 577, parágrafo único, do CPP).
Eventualmente é questionado em prova: é possível o réu absolvido recorrer? A resposta
é sem sentido de que, se existir interesse na alteração dos fundamentos indicados no art. 386
do CPP, seria possível, por exemplo, buscar alterar a hipótese de absolvição, visando evitar uma
eventual ação indenizatória no juízo civil.
Em relação à legitimidade, no processo penal temos o que chamamos de legitimidade
múltipla, em que o Ministério Público, o querelante, o réu, seu procurador ou defensor poderão
recorrer. Inclusive, em determinados casos a vítima, ou quem legalmente a represente ou as
pessoas do art. 31 do CPP, poderá recorrer, ainda que não tenha se habilitado como assistente
de acusação. Por exemplo, no caso do art. 598 do CPP.
b) Pressupostos recursais objetivos: previsão legal, adequação e tempestividade.
O pressuposto recursal da previsão legal corresponde à existência do recurso em matéria
penal, ou seja, se há previsão na legislação processual penal do recurso em questão. Por
exemplo, aqui no processo penal não há previsão do chamado recurso de revista, utilizado em
matéria trabalhista.

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Processo Penal

Já a adequação pressupõe que, entre os recursos previstos na legislação, o recurso


utilizado esteja observando o seu adequado cabimento.
A tempestividade também é um pressuposto recursal objetivo. Todo recurso deverá
observar o prazo legal: os prazos são peremptórios e, se não observados, resultam em
intempestividade, ausência do requisito.
A contagem do prazo se dá na forma do art. 798 do CPP, excluindo o dia da ciência e
computando o último. Para tanto, devemos observar as seguintes regras: a) o primeiro dia
sempre terá que ser um dia útil; b) se o último dia não for útil, como sábado, domingos ou
feriados, prorroga-se para o próximo dia útil; c) em regra, os prazos não se interrompem, nem
suspendem; d) a contagem é diferente daquela que se faz no processo civil.

*Para todos verem: tabela.

TERÇA QUARTA QUINTA SEXTA SÁBADO DOMINGO SEGUNDA

5o dia
Intimação 1o dia do 2o dia do 3o dia do 4o dia do
FIM DO
(prazo: 5d) prazo prazo prazo prazo
PRAZO

1o dia do
Intimação - -
prazo

5o dia
Intimação 1o dia do 2o dia do 3o dia do 4o dia do FIM DO
ÚLTIMO DIA
(prazo: 5d) prazo prazo prazo prazo PRAZO
DO PRAZO

No processo penal, os prazos são contados da ciência, e não da juntada aos autos de
eventuais mandados, conforme a Súmula no 710 do STF. Da mesma forma, a Súmula no 310 do
STF reforça a ideia ilustrada na tabela de que, se a intimação ocorrer na sexta, o início da
contagem se dará somente na segunda, pois é o dia útil subsequente ao da intimação, e o início
somente poderá ocorrer em dias úteis.
Importante registrar que a Lei no 14.365/2022 introduziu o art. 798-A no CPP, que dispõe
sobre a suspensão do curso do prazo processual nos dias 20 de dezembro a 20 de janeiro,
sendo proibida também a realização de audiências e sessões de julgamento, não se aplicando
essas disposições aos casos que envolvam réus presos, nos processos vinculados a essas

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prisões; nos procedimentos regidos pela Lei Maria da Penha; e nas medidas consideradas
urgentes, mediante despacho fundamentado.
Por fim, de um modo geral, pode-se dizer que a lei prevê diversos prazos diferentes para
interposição dos recursos em matéria processual penal, observando-se que o prazo mais comum
é o prazo de cinco dias:
*Para todos verem: tabela.

Prazo Recursos – Interposição


48 horas Carta testemunhável

2 dias Embargos declaratórios no Código de Processo Penal

Apelação, recurso em sentido estrito, agravo em execução, embargos declaratórios no


5 dias
JECRIM, recurso ordinário constitucional em habeas corpus

10 dias Apelação no JECRIM e embargos infringentes e de nulidades

15 dias Recurso especial e recurso extraordinário, recurso ordinário em mandado de segurança

16.3. Recursos em espécie


Os recursos processuais penais admitidos no processo penal são os seguintes:

16.3.1. Recurso em sentido estrito (RESE)


É o recurso destinado à impugnação de decisões interlocutórias, que não tenham caráter
definitivo ou terminativo. No entanto, é cabível contra decisões que encerram o processo ou
determinada fase processual, sem julgamento do mérito, como se verá.
Hipóteses de cabimento: as hipóteses de cabimento do recurso em sentido estrito estão
previstas no art. 581 do CPP, podendo, eventualmente, ser adotada interpretação extensiva,
desde que não modifique o conteúdo da norma. Por exemplo, recurso em sentido estrito contra
decisão rejeitou o aditamento próprio da denúncia ou queixa.
Cabe recurso em sentido contra as seguintes decisões:
a) Decisão que rejeitar a denúncia ou queixa (art. 581, I, do CPP): as hipóteses de
rejeição estão no art. 395 do CPP. Em regra, da decisão contrária, ou seja, aquela que recebe a
denúncia ou queixa, não cabe nenhum recurso, apenas impetração de habeas corpus, ante a
absoluta falta de previsão legal. Obs.: No caso das infrações penais de competência do Juizado
Especial Criminal, não cabe recurso em sentido estrito da decisão que rejeitar a denúncia ou
queixa, mas apelação, com prazo de dez dias (art. 82, caput, da Lei no 9.099/1995).

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b) Decisão que concluir pela incompetência do juízo (art. 581, II, do CPP): é o caso
do reconhecimento ex officio da incompetência pelo próprio juiz, que determina a remessa dos
autos ao juízo competente, nos termos do art. 109 do CPP. No procedimento do júri da decisão
de desclassificação do fato para crime não doloso contra a vida (art. 419 do CPP), cabe recurso
em sentido estrito com base nesse inciso, pois o juiz estará, em última análise, concluindo pela
incompetência do Tribunal do Júri para julgar a causa.
Da decisão do juiz dando-se por competente não cabe nenhum recurso, podendo a parte
prejudicada intentar apenas habeas corpus.
c) Decisão que julgar procedente as exceções, salvo a de suspeição (art. 581, III, do
CPP): o art. 95 do CPP enumera as cinco exceções oponíveis, a saber: suspeição,
incompetência do juízo, litispendência, ilegitimidade de parte e coisa julgada.
d) Decisão que pronunciar (art. 581, IV, do CPP): a decisão de pronúncia é uma decisão
interlocutória mista não terminativa, que encerra uma fase do procedimento, sem julgar o mérito,
isto é, sem declarar o réu culpado.
e) Decisão que conceder, negar, arbitrar, cassar ou julgar inidônea a fiança, indeferir
requerimento de prisão preventiva ou revogá-la, conceder liberdade provisória ou relaxar
a prisão em flagrante (art. 581, V, do CPP): nessa hipótese, a lei prevê tanto situação favorável
ao réu quanto desfavorável. Assim, concedida a fiança ou fixado um valor muito baixo, pode o
Ministério Público recorrer. Negada, cassada ou considerada inidônea, cabe ao acusado
apresentar o seu inconformismo.
f) Decisão que julgar quebrada a fiança ou perdido o seu valor (art. 581, VII, do CPP):
quando houver o quebramento, implicando a obrigação de se recolher à prisão, pode dar ensejo
à impetração de habeas corpus.
g) Decisão que julgar extinta a punibilidade do acusado (art. 581, VIII, do CPP): trata-
se de sentença terminativa de mérito, isto é, que encerra o processo com julgamento do mérito,
sem absolver ou condenar o réu.
h) Decisão que indeferir pedido de extinção de punibilidade (art. 581, IX, do CPP): é
o contraponto do inciso anterior, negada a extinção da punibilidade, o processo seguirá seu curso
normal.
i) Decisão que conceder ou negar a ordem de habeas corpus (art. 581, X, do CPP):
dispositivo refere-se à decisão do juiz de primeira instância, da qual, na hipótese de concessão,
cabe também recurso ex officio (art. 574, I, do CPP). Importante fazer menção que, quando o
juiz de 1o negar ordem de habeas corpus, cabível recurso no sentido estrito; entretanto se a

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
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ordem de habeas corpus for denegada no âmbito de Tribunal, será cabível recurso ordinário
constitucional, como logo mais será explicado.
j) Decisão que conceder, negar ou revogar a suspensão condicional da pena (art.
581, XI, do CPP): no caso de a decisão estar embutida em sentença condenatória, cabe
apelação. Após o trânsito em julgado da condenação, cabe agravo em execução (art. 197 da Lei
no 7.210/1984). Assim, esse dispositivo tem aplicação prejudicada.
k) Decisão que anular a instrução criminal no todo ou em parte (art. 581, XIII, do
CPP): reconhecida essa hipótese, que é típica decisão interlocutória, cabe à parte inconformada
ter que reiniciar a instrução ou reproduzir determinados atos, impugnar a decisão anulatória pelo
recurso em sentido estrito.
l) Decisão que incluir ou excluir jurado na lista geral (art. 581, XIV, do CPP): há
autores que sustentam a revogação desse inciso, em razão do art. 426, § 1 o, do CPP.
m) Decisão que denegar a apelação ou julgá-la deserta (art. 581, XV, do CPP): no
caso da apelação, o juízo de prelibação (admissibilidade) deve ser feito tanto na primeira quanto
na instância superior. Assim, o juiz a quo pode deixar de receber o apelo (o que equivale a
denegá-lo), se entender não preenchido algum pressuposto recursal objetivo ou subjetivo.
Nessa hipótese, cabe recurso em sentido estrito contra o despacho denegatório da
apelação.
Se o juiz denegar também o recurso em sentido estrito dessa decisão, caberá carta
testemunhável dirigida ao escrivão (arts. 639 e 640 do CPP).
n) Decisão que ordenar a suspensão do processo, em virtude de questão prejudicial
(art. 581, XVI, do CPP): as questões prejudiciais estão previstas nos arts. 92 e 93 do CPP.
o) Decisão que decidir o incidente de falsidade (art. 581, XVIII, do CPP): o incidente
de falsidade está previsto nos arts. 145 a 148 do CPP.
p) Decisão que recusar homologação ao acordo de não persecução penal (art. 581,
XXV, do CPP): o acordo de não persecução penal está previsto no art. 28-A do CPP.
Além das hipóteses previstas no art. 581 do CPP, consta no art. 294 do CTB (Lei n o
9.503/1997) que: em qualquer fase da investigação ou da ação penal, havendo necessidade para
a garantia da ordem pública, poderá o juiz, como medida cautelar, de ofício, ou a requerimento
do Ministério Público ou ainda mediante representação da autoridade policial, decretar, em
decisão motivada, a suspensão da permissão ou da habilitação para dirigir veículo automotor,
ou a proibição de sua obtenção. Da decisão que decretar a suspensão ou a medida cautelar, ou
da que indeferir o requerimento do Ministério Público, caberá recurso em sentido estrito, sem

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efeito suspensivo.
Hipóteses revogadas:
• Art. 581, XII, XVII e XIX a XXIII, do CPP – Essas hipóteses não são mais objeto de
recurso em sentido estrito, e sim de agravo em execução penal, em virtude do art.
197 da LEP, que introduziu recurso específico das decisões do juiz da Vara de
Execução Penal. Portanto, consideram-se hipóteses tacitamente revogadas;
• Art. 581, XXIV, do CPP também é hipótese em desuso, pois, com a atual redação
do art. 51 do CP, o descumprimento da pena de multa não poderá gerar prisão, a
não ser dívida da Fazenda Pública.

Prazo: o prazo para interposição do recurso em sentido estrito é de cinco dias (art. 586
do CPP). Já para oferecer as razões e contrarrazões, será de dois dias (art. 588 do CPP).
Exceções:
• Prazo de 20 dias, no caso de inclusão ou exclusão de jurado na lista, conforme art.
581, XIV, do CPP (como já mencionado, há posicionamento que sustenta a
revogação desta hipótese);
• Prazo de 15 dias para interposição (dois dias para razões), quando a impugnação
é feita pelo assistente à acusação não habilitado, nos termos dos arts. 584, § 1 o, e
598, parágrafo único, do CPP. A contagem do prazo para o assistente de acusação
interpor recurso segue a regra disposta na Súmula n o 448 do STF: “O prazo para
o assistente recorrer, supletivamente, começa a correr imediatamente após o
transcurso do prazo do Ministério Público”.

Competência para o julgamento – art. 582: a interposição do recurso deve ser dirigida
ao juiz de primeiro grau que proferiu a decisão, para que este possa rever a decisão, em sede
de juízo de retratação.
As razões de recurso devem ser endereçadas ao Tribunal competente (Tribunal de
Justiça, se da competência da Justiça Comum Estadual; ou Tribunal Regional Federal, se da
competência da Justiça Federal).

Efeitos do recurso em sentido estrito: o recurso em sentido estrito possui efeito


regressivo, uma vez que a interposição do recurso obriga o juiz que prolatou a decisão recorrida
a reapreciar a questão, mantendo-a ou reformando-a, conforme dispõe o art. 589, caput, do CPP.
No tocante ao efeito regressivo do recurso: recebendo os autos, o juiz, dentro de dois dias,
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1ª Fase | 40° Exame da OAB
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reformará ou sustentará a sua decisão, mandando instruir o recurso com as cópias que lhe
parecerem necessárias.
Se o juiz mantiver o despacho, remeterá os autos à instância superior; se reformá-la, o
recorrido, por simples petição, e dentro do prazo de cinco dias, poderá requerer a subida dos
autos. O recorrido deverá ser intimado, no caso de retratação do juiz.
Em geral, o recurso em sentido estrito não tem efeito suspensivo, salvo nas hipóteses
previstas no art. 584 do CPP.

16.3.2. Apelação
É o recurso interposto da sentença definitiva ou com força de definitiva, para a segunda
instância, com o fim de que se proceda ao reexame da matéria, com a consequente modificação
parcial ou total da decisão.

Hipóteses de cabimento da apelação – art. 593 do CPP.


Sentenças definitivas de condenação ou absolvição proferidas por juiz singular (art.
593, I, do CPP).
Cabe apelação nas sentenças definitivas de condenação ou absolvição. São as decisões
que encerram a relação jurídica processual, julgando o seu mérito, quer absolvendo, quer
condenando o acusado. De toda sentença condenatória cabe apelação, e de toda absolutória
também.
Da sentença de absolvição sumária no júri (art. 416) e daquelas proferidas nos processos
de competência do juiz singular (art. 397 do CPP), exceto a decisão que declara extinta a
punibilidade (art. 397, IV, do CPP), como as proferidas nos processos de competência do júri, na
primeira fase do procedimento (art. 415 do CPP).
Decisões definitivas, ou com força de definitivas, proferidas por juiz singular nos casos
não previstos no capítulo anterior.
Cabe, ainda, apelação das sentenças que, julgando o mérito, põem fim à relação jurídica
processual ou ao procedimento, sem, contudo, absolver ou condenar o acusado. Logo, no caso,
consistem na hipótese de decisões interlocutórias mistas (definitivas ou com força de definitivas),
que não integram o rol do art. 581 do CPP, sendo, assim, cabível, na forma residual, portanto, o
recurso de apelação, previsto no inciso II do art. 593 do CPP.
Decisões definitivas são aquelas que encerram o processo, incidental ou principal, com
julgamento do mérito, sem, no entanto, absolver ou condenar.

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Processo Penal

Decisões com força de definitivas são aquelas decisões que encerram o processo, sem
julgamento do mérito (decisão interlocutória mista terminativa) ou uma etapa procedimental
(decisão interlocutória mista não terminativa). Ex.: decisão de impronúncia (art. 416 do CPP).

Apelação das decisões do júri: quando a parte pretender recorrer de decisão proferida
no Tribunal do Júri, deve apresentar logo na petição de interposição qual o motivo que o leva a
apelar, deixando expressa a alínea eleita do inciso III do art. 593 do CPP. Posteriormente, no
momento de apresentação das razões, fica vinculado ao motivo declinado.
Assim sendo, o Tribunal somente pode julgar nos limites da interposição. Nesse sentido é
a Súmula no 713 do STF: “O efeito devolutivo da apelação contra decisões do júri é adstrito aos
fundamentos da sua interposição”. No caso de apelação das decisões da segunda fase do júri,
as hipóteses são as seguintes, expostas no art. 593, III, do CPP:
a) Nulidade posterior à pronúncia: por exemplo, alguma das partes suscita em grau de
recurso alguma nulidade ocorrida após a pronúncia, a fim de anular o julgamento, em busca de
um novo.
b) Sentença do juiz presidente contrária à letra expressa da lei ou à decisão dos
jurados: o juiz está obrigado a cumprir as decisões do Júri, não havendo supremacia do juiz
togado sobre os jurados, mas simples atribuições diversas de funções. Os jurados decidem o
fato e o juiz presidente aplica a pena, de acordo com essa decisão, não podendo dela desgarrar-
se.
c) Quando houver erro ou injustiça no tocante à aplicação da pena ou da medida de
segurança: por exemplo, a aplicação de penas muito acima do mínimo legal para réus primários,
ou excessivamente brandas para reincidentes, sem ter fundamento razoável. Neste caso, o
Tribunal, ao julgar o recurso, pode alterar a pena.
d) Quando a decisão dos jurados for manifestamente contrária à prova dos autos:
contrária à prova dos autos é a decisão que não encontra respaldo em nenhum elemento de
convicção colhido sob o crivo do contraditório. Não é o caso de condenação que apoia em versão
mais fraca. Só caberá apelação com base nesse fundamento uma única vez, não importando
qual das partes tenha apelado.

Prazo: o prazo de interposição é de cinco dias, conforme art. 593, caput, do CPP. O prazo
para razões de apelação e contrarrazões é de oito dias (art. 600 do CPP). No caso de
contravenção, o prazo para razões e contrarrazões é de três dias quando não for da competência

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

do JECRIM.
No JECRIM, o prazo único é dez dias, devendo ser apresentadas as razões junto com a
interposição. Salienta-se que é cabível apelação da decisão que rejeitar a denúncia ou queixa;
da sentença e da decisão que conceder apelação (arts. 76, § 5 o, e 82 da Lei no 9.099/1995).

Legitimidade: podem interpor recurso de apelação o Ministério Público, o querelante


(ação penal privada), o réu ou seu defensor (art. 577 do CPP) e o assistente de acusação.
Importante a Súmula no 705 do STF.
A legitimidade do assistente de acusação está prevista no art. 598 do CPP. Pode ser: a)
habilitado nos autos, sendo, portanto, intimado dos atos processuais, podendo, nessa condição,
interpor recurso no prazo de cinco dias; b) não habilitado nos autos, não sendo até então,
portanto, intimado dos atos processuais, razão pela qual terá o prazo mais dilatado para interpor
recurso de apelação, qual seja, 15 dias, nos termos do art. 598, parágrafo único, do CPP.
A contagem do prazo para o assistente de acusação interpor recurso segue a regra
disposta na Súmula no 448 do STF: “O prazo para o assistente recorrer, supletivamente, começa
a correr imediatamente após o transcurso do prazo do Ministério Público”.

Processamento: a apelação poderá ser interposta por termo ou petição. Interposta a


apelação, as razões devem ser oferecidas dentro do prazo de oito dias, se for crime, salvo nos
crimes de competência do Juizado Especial Criminal, quando as razões deverão ser
apresentadas no ato de interposição. É obrigatória a intimação do apelante para que passe a
correr o prazo para oferecimento das razões de apelação.
Se houver assistente, este arrazoará no prazo de três dias após o Ministério Público.
Outra peculiaridade é, se o apelante desejar, poderá oferecer as suas razões em segunda
instância, perante o juízo ad quem (art. 600, § 4o, do CPP).
Importante registrar que a apresentação tardia das razões de apelação não impede o
conhecimento do recurso e é considerada mera irregularidade.

Efeitos da apelação:
São eles:
• Devolutivo: devolve o conhecimento da matéria à instância superior;
• Suspensivo: trata-se do efeito da dilação procedimental, que retarda a execução
da sentença condenatória;

95
1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

• Extensivo (art. 580 do CPP): ocorre nos casos de concursos de agentes, quando
a decisão do recurso interposto somente por um dos corréus beneficia o corréu
que não recorreu, mas isso somente é possível se a matéria não for de caráter
exclusivamente pessoal.

Não há efeito regressivo no recurso de apelação.


Vedação à reformatio in pejus: embora a apelação permita o reexame da matéria
decidida na sentença, o efeito devolutivo não é pleno. Quando apenas a defesa recorrer, não
é possível haver reforma da sentença para agravar a situação, nos termos do art. 617 do CPP.
De outro modo, importante lembrar que o recurso da acusação tem caráter limitado, não pode o
tribunal dar provimento em maior extensão contra o apelado, inclusive temos a Súmula no 160
do STF.
A reformatio in pejus pode ser indireta quando ocorre a anulação da sentença ou de
determinado ato do processo, por recurso exclusivo do réu, e a outra decisão proferida agravar
a situação do acusado. Ainda que seja uma nova decisão, deverá respeitar a antiga, não
podendo piorar a situação do réu.
Assim, caso o réu seja condenado a cinco anos de reclusão, mas obtenha a defesa a
anulação dessa decisão, quando o magistrado – ainda que seja outro – venha a proferir outra
sentença, está restrito a uma condenação máxima de cinco anos.
A proibição de reformatio in pejus aplica-se a todos os recursos e ações penais,
não somente ao recurso de apelação.

16.3.3. Embargos infringentes e de nulidade


Trata-se de recurso privativo da defesa, voltado a garantir o reexame da matéria decidida
em segundo grau, por ter havido decisão não unanime desfavorável ao réu, previsto no art. 609,
parágrafo único, do CPP.
Importante referir que, quando se tratar de matéria de mérito, o nome que devemos utilizar
é embargos infringentes; caso a matéria em divergência seja de nulidades, utilizaremos somente
embargos de nulidade; se porventura a divergência for de matéria de mérito e nulidade,
utilizaremos o nome completo: embargos infringentes e de nulidade.
Por exemplo, se no julgamento de uma apelação, dois desembargadores mantiverem a
sentença e um desembargador proferir voto divergente absolvendo o acusado, caberá embargos
infringentes.

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Processo Penal

Hipóteses de cabimento: só são cabíveis embargos infringentes e de nulidades de


acórdãos de apelação e recurso em sentido estrito. A doutrina e jurisprudência ampliam para
possibilidade de acórdãos referentes ao agravo em execução, pois o processamento deste
recurso segue as regras do recurso em sentido estrito. Importante lembrar que não são cabíveis
de acórdãos de habeas corpus e revisão criminal.
Prazo: o prazo para interposição é de dez dias, a contar da publicação do acórdão (art.
609, parágrafo único, do CPP). Por ocasião da interposição, deve o recurso ser devidamente
instruído com as razões, pois não será aberta vista para essa finalidade.

16.3.4. Embargos de declaração


Encontram-se previstos nos arts. 382 e 619 do CPP e 83 da Lei n o 9.099/1995.Trata-se
de recurso posto à disposição de qualquer das partes, voltado ao esclarecimento de dúvidas
surgidas no acórdão, quando configurada ambiguidade, obscuridade, contradição ou omissão,
permitindo, então, o efetivo conhecimento do teor do julgado, facilitando a sua aplicação e
proporcionando, quando for o caso, a interposição de recurso especial ou extraordinário.
Ambiguidade: é o estado daquilo que possui duplo sentido, gerando equivocidade e
incerteza, capaz de comprometer a segurança do afirmado. No julgado, significa a utilização,
pelo magistrado, de termos com duplo sentido, que ora apresentam uma determinada orientação,
ora seguem em caminho oposto, fazendo com que o leitor, seja ele leigo, seja ele não leigo,
termine não entendendo qual o seu real conteúdo.
Obscuridade: é o estado daquilo que é difícil de entender, gerando confusão e
ininteligência, no receptor da mensagem. No julgado, evidencia-se a utilização de frases e termos
complexos e desconexos, impossibilitando ao leitor da decisão, leigo ou não, captar-lhe o sentido
e o conteúdo.
Contradição: trata-se de uma incoerência entre uma afirmação anterior e outra posterior,
referentes ao mesmo tema e no mesmo contexto, gerando a impossibilidade de compreensão
do julgado.
Omissão: é a lacuna ou o esquecimento. No julgado, traduz-se pela falta de abordagem
do magistrado acerca de alguma alegação ou requerimento formulado, expressamente, pela
parte interessada, merecedor de apreciação.

Prazo: os embargos devem ser interpostos no prazo de dois dias perante o próprio juiz
prolator da sentença (art. 382 do CPP) ou, no caso dos tribunais (art. 619 do CPP), endereçados

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ao próprio relator do acórdão embargado. No caso de embargos nos Juizados Especiais


Criminais, o prazo é de cinco dias.

Efeito interruptivo: por analogia ao disposto no art. 1.026 do CPC, os embargos de


declaração possuem o efeito de interromper o prazo para interposição de recurso. Conforme art.
83, § 2o, da Lei no 9.099/1995, os embargos de declaração no âmbito do Juizado Especial
Criminal também possuem efeito interruptivo.

16.3.5. Carta testemunhável


É o recurso que tem por fim provocar o reexame da decisão que denegar ou impedir o
seguimento de recurso em sentido estrito e do agravo em execução (art. 639 do CPP).
Com relação ao não recebimento da apelação, cabe recurso em sentido estrito (art. 581,
XV, do CPP), não sendo necessária carta testemunhável.

Procedimento: a carta testemunhável deve ser requerida dentro de 48 horas, após a


ciência do despacho que denegar o recurso ou da decisão que obstar o seu seguimento. Não
terá efeito suspensivo.
O requerimento deve ser endereçado ao escrivão, indicando o requerente as peças do
processo que deverão ser trasladadas. O escrivão dará recibo à parte recorrente da entrega do
recurso. Este, dentro do prazo máximo de cinco dias, fará a entrega da carta devidamente
formada com as peças indicadas; o escrivão que se negar a dar o recibo ou deixar de entregar,
sob qualquer pretexto, será suspenso por 30 dias.
Na instância superior, o recurso seguirá o rito do recurso denegado. O tribunal mandará
processar o recurso ou, se a carta estiver suficientemente instruída, julgará diretamente o
recurso.

16.3.6. Agravo em execução penal


É o recurso cabível das decisões do juiz da Vara de Execução Penal, nos termos do art.
197 da Lei no 7.210/1984. É possível encontrar no art. 66 da LEP um rol exemplificativo da
competência do juiz da Vara de Execução, por exemplo: decidir sobre progressão de regime,
livramento condicional, saída temporária, entre outros. Logo, dessas decisões o recurso será o
agravo em execução, que poderá ser interposto pelo Ministério Público ou pelo apenado,
conforme o interesse de cada parte.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Prazo: o prazo para interposição é de cinco dias, conforme se extrai da Súmula n o 700 do
STF. Prazo para razões e contrarrazões é de dois dias (art. 588 do CPP).

Processamento: idêntico ao recurso em sentido estrito, pois na Lei de Execução Penal


não há processamento específico. Logo, no agravo em execução também é permitido o juízo de
retratação, nos termos do art. 589 do CPP.
Obs.: Em regra, o recurso de agravo não possui efeito suspensivo (art. 197 da LEP).
Todavia, é importante ressaltar que, no tocante às medidas de segurança, somente poderá
ocorrer a desinternação ou liberação de tratamento ambulatorial após transitar em julgado essa
decisão (art. 179 da LEP).

16.3.7. Recurso ordinário constitucional em habeas corpus


É o recurso cabível das decisões denegatórias de habeas corpus proferidas no âmbito
dos tribunais.

Cabimento: cabe recurso ordinário constitucional ao STF da decisão dos Tribunais


Superiores que julgar em única instância o habeas corpus, desde que denegatória (art. 102, II,
a, da CF).
Cabe recurso ordinário constitucional ao STJ da decisão denegatória de habeas corpus,
proferida em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais, ou pelos tribunais dos
Estados e do Distrito Federal (art. 105, II, a, da CF).

Prazo: o prazo para interposição e oferecimento das razões é de cinco dias, conforme art.
30 da Lei no 8.038/1990 e Súmula no 319 do STF.
Obs.: Da mesma forma as decisões denegatórias de mandado de segurança por
tribunais caberá recurso ordinário em mandado de segurança, no prazo de 15 dias, nos termos
do art. 33 da Lei no 8.038/1990 e arts. 102, II, e 105, II, da CF.

16.3.8. Recurso extraordinário e recurso especial


São recursos com caráter constitucional, os quais remetem ao Supremo Tribunal Federal
ou ao Superior Tribunal de Justiça as decisões proferidas por qualquer tribunal do país.
O recurso extraordinário é de competência do Supremo Tribunal Federal, o qual analisará
questões que versem sobre a constitucionalidade da decisão recorrida, com fundamento no art.

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Processo Penal

102, III, alíneas, da CF/1988.


Já o recurso especial é julgado pelo Superior Tribunal de Justiça, o qual, ao analisar a
decisão recorrida, dará atenção a eventual afronta à legislação vigente, com fundamento no art.
105, III, alíneas, da CF/1988.

Prazo: para aferição do prazo dos referidos recursos utiliza-se o Código de Processo Civil,
o qual, em seus arts. 1.003, § 3o, e 1.030, dispõe que, para interposição, o prazo a ser observado
é de quinze dias, a contar da intimação do acórdão recorrido.
O prazo é único, devendo ocorrer a interposição acompanhada das razões. De igual
forma, considera-se o prazo de quinze dias para apresentação de contrarrazões.
Atenção! Tratando-se de matéria penal, os prazos anteriormente descritos seguem a
regra do art. 798 do CPP, contando-se de forma corrida os dias.

Processamento: interpõe-se os referidos recursos perante o tribunal recorrido, com


endereçamento das razões à corte correspondente.
Para que sejam admitidos, é imprescindível que a matéria recorrida tenha sido
prequestionada, ou seja, que a matéria aventada no recurso extraordinário ou no recurso
especial tenha sido suscitada e discutida anteriormente.
Especialmente quanto ao recurso extraordinário, para sua admissão, também é
necessário que se demonstre a hipótese de repercussão geral da matéria a ser discutida. A
repercussão geral será considerada se houver questão de interesse do ponto de vista
econômico, político, social ou jurídico que ultrapassem o interesse do processo – art. 102, § 3o,
da CF/1988 c/c o art. 1.035, § 1o, do CPC.
No que tange ao recurso especial, em 15 de julho de 2022, a partir da Emenda
Constitucional no 125/2022, passou a ser exigido à admissão do referido recurso a demonstração
da relevância das questões de Direito federal inconstitucional, ora suscitadas. O impedimento do
conhecimento do recurso especial interposto, por considerar-se irrelevante a questão suscitada,
somente poderá ocorrer se houver manifestação nesse sentido de 2/3 dos membros do órgão
competente – art. 105, § 2o, da CF. Entretanto, conforme o § 3o da CF, entende-se que haverá
relevância nos casos de ações penais.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

17. Ações autônomas de impugnação: Revisão Criminal,


Habeas Corpus e Mandado de Segurança

17.1. Revisão criminal


A revisão criminal é uma ação autônoma de impugnação que, de forma excepcional, tem
como objetivo modificar a sentença penal condenatória transitada em julgado, relativizando
assim a coisa julgada, sempre em benefício do réu, sendo vedada a revisão criminal pro
societate.
É pressuposto da revisão criminal a existência de sentença penal condenatória transitada
em julgado.
Conforme dispõe o art. 621 do CPP, é cabível revisão criminal:
• Quando a sentença penal condenatória, transitada em julgado, for contrária ao
texto da lei ou à evidência dos autos;
• Quando for fundamentada em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos;
• Quando, após a sentença penal condenatória transitada em julgado, forem
descobertas novas provas de inocência ou de causa de diminuição da pena.

Obs.: A doutrina e a jurisprudência admitem revisão criminal nas hipóteses de sentença


absolutória imprópria, visto que resultam na aplicação de medida de segurança, uma sanção
penal.
A revisão criminal pode ser proposta a qualquer tempo, desde que após o trânsito em
julgado, até mesmo após a morte do réu (art. 622 do CPP).
Em regra, é vedada a reiteração de pedido, ou seja, o mesmo réu não pode propor revisão
criminal mais de uma vez, em relação ao mesmo fato, tendo a mesma causa de pedir (art. 622,
parágrafo único, do CPP). Todavia, a referida vedação é incabível quando se estiver diante de
novas provas ou circunstâncias diversas do pedido feito anteriormente.

Legitimidade: pode propor ação de revisão criminal o réu ou o procurador legalmente


habilitado, em caso de morte do réu, pelo cônjuge, ascendente, descendente ou irmão (art. 623
do CPP).
Perceba que o próprio réu pode ingressar com revisão criminal, mesmo que não seja

101
1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

advogado.

Competência: o art. 624 do CPP dispõe sobre o processamento e julgamento das


revisões criminais.
O Supremo Tribunal Federal será competente para julgar as ações de revisão criminal que
digam respeito às condenações por ele proferidas. A referida competência estará restrita ao
mérito, ou seja, o fundamento da revisão deve dizer respeito ao que foi discutido em sede de
recurso extraordinário (art. 102, I, j, da CF/1988).
Nessa esteira, é a competência do Superior Tribunal de Justiça, sendo o referido órgão
competente para julgar as revisões criminais que versarem sobre as condenações por ele
proferidas, sendo a matéria restrita ao conteúdo discutido em recurso especial (art. 105, I, e, da
CF/1988).
Em casos de condenação em segundo grau, o TJ ou TRF que a proferiu será competente
para julgar eventual revisão criminal, de igual forma, se o réu tiver sido absolvido em primeiro
grau e condenado em segundo grau após recurso interposto pelo Ministério Público.

Efeitos: trata-se de uma ação de impugnação excepcional, admitida somente em favor


do réu, sendo assim, é possível que o Tribunal profira decisão ultra petita, como, por exemplo,
decidir pela absolvição do réu, ainda que o pedido tenha sido somente de anulação.
Julgada procedente a revisão criminal, o tribunal poderá alterar a classificação do réu,
absolvê-lo, modificar sua pena ou anular o processo (art. 626 do CPP).
Não há possibilidade de decisão que agrave a situação do réu, sendo vedada reformatio
in pejus (art. 626, parágrafo único, do CPP). Ainda que a decisão tenha anulado o processo e
tenhamos uma nova tramitação processual e, consequentemente, nova decisão, esta não pode
ser mais gravosa que a anterior, sob pena de reformatio in pejus indireta.
É chamado de juízo rescindente aquele que desconstitui a decisão impugnada, quando
cassa uma decisão. Já aquele que reforma a decisão impugnada, substituindo a anterior,
reexaminando seu mérito, havendo, ainda, novo julgamento, é chamado juízo rescisório ou
revisório.
Havendo decisão absolutória, todos os direitos perdidos pelo réu serão reestabelecidos,
devendo o tribunal, em caso de absolvição imprópria, impor a medida de segurança cabível (art.
627 do CPP).
Por fim, se tiver sido postulado pelo interessado, o tribunal poderá reconhecer o direito a

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

uma justa indenização, tendo em vista os prejuízos sofridos (art. 630 do CPP).

17.2. Habeas corpus


O habeas corpus é uma ação autônoma de impugnação com o fim de garantir o direito à
liberdade do indivíduo. Embora se encontre no Livro III do Código de Processo Penal, não é
considerado um recurso, e sim ação impugnativa, com previsão nos arts. 5 o, LXVIII, da CF/1988
e 647 e seguintes do CPP.

Pressupostos: para impetração de habeas corpus é necessária a exposição de fatos que


possam interferir na liberdade do indivíduo, fatos que devem ser revestidos de violência ou
coação.
O termo violência refere-se ao emprego da força física com finalidade de restringir a
liberdade de alguém. É o que ocorre, por exemplo, em uma prisão em flagrante numa situação
não revestida de flagrância.
Já a expressão coação ilegal consiste no constrangimento da liberdade de locomoção por
meio de ameaça, medo ou intimidação (violência moral). Atos que representem perigo à
liberdade de alguém.
De acordo com o art. 648 do CPP, a coação será considerada ilegal quando:
1. Não houver justa causa;
2. Alguém estiver preso por mais tempo do que determina a lei;
3. Ordenada por quem não tem competência para fazê-lo;
4. Houver cessado o motivo que autorizou a coação;
5. Não for admitida fiança nos casos em que a lei autoriza;
6. O processo for manifestamente nulo;
7. Estiver extinta a punibilidade.

Espécies: o habeas corpus pode ser liberatório/repressivo, preventivo ou


trancativo/profilático.
Quando estivermos diante da existência da restrição de liberdade ilegal, sob fato já
existente, com coação ou violência evidenciada, o impetrante o fará em caráter
liberatório/repressivo.
Existindo evidência de ameaça à liberdade do indivíduo, a impetração do habeas corpus
deverá ser feita em caráter preventivo, conhecido como salvo conduto, com o fim de prevenir a

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

ocorrência de restrição da liberdade.


Ainda, poderá ser impetrado com o fim de trancar o inquérito ou a ação penal, em caráter
trancativo/profilático.

Legitimidade: vislumbrada a ilegalidade na privação de liberdade de alguém, qualquer


um poderá impetrar habeas corpus, inclusive o próprio paciente, e até mesmo o Ministério
Público (art. 654 do CPP).
Ainda, se no curso do processo juízes e tribunais competentes verificarem que alguém
sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal, poderão expedir, ex officio, ordem de habeas
corpus (art. 654, § 2o, do CPP)
A ação de habeas corpus é judicialmente gratuita (art. 5o, LXXVII, da CF/1988).

Competência: a competência para recebimento do habeas corpus será definida da


seguinte forma:
*Para todos verem: tabela.

AUTORIDADE
AUTORIDADE COAUTORA
COMPETENTE

Juiz de primeira instância Delegado de polícia

Tribunais de Justiça Juiz de direito ou promotor de justiça.

TRF Juiz Federal ou contra membros do MPU, MPT, MPF e DF.

Tribunal Superior ou autoridade, funcionário público, cujos atos


STF
estejam sujeitos diretamente àquela jurisdição.

Governador de Estado ou DF, desembargadores do TJ ou DF e


membros do TRF, TRE e TRT. Ou, aqueles sujeitos à sua
STJ jurisdição, ministro de Estado ou comandante da Marinha, do
Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da justiça
eleitoral.

Turmas recursais Decisão exarada no âmbito do JECRIM.

Recurso: Súmulas – STF

Súmula no 606 – Não cabe habeas corpus originário para o Tribunal Pleno de decisão de

104
1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Turma, ou do Plenário, proferida em habeas corpus ou no respectivo recurso.


Súmula no 691 – Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer de habeas corpus
impetrado contra decisão do Relator que, em habeas corpus requerido a tribunal superior,
indefere a liminar.
Súmula no 692 – Não se conhece de habeas corpus contra omissão de relator de
extradição, se fundado em fato ou direito estrangeiro cuja prova não constava dos autos,
nem foi ele provocado a respeito.
Súmula no 693 – Não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa,
ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única
cominada.
Súmula no 694 – Não cabe habeas corpus contra a imposição da pena de exclusão de
militar ou de perda de patente ou de função pública.
Súmula no 695 – Não cabe habeas corpus quando já extinta a pena privativa de liberdade.

17.3. Mandado de segurança


Considerações gerais: conforme art. 5o, LXIX, da CF e art. 1o, caput, da Lei no
12.016/2009, mandado de segurança é uma ação autônoma de impugnação, com status de
remédio constitucional, que intenta tutelar direito líquido e certo que estiver sendo violado. Na
esfera penal, é utilizado de forma subsidiária, na impossibilidade de impetração de habeas
corpus ou habeas data, bem como se não houver recurso ordinário específico.

Prazo: por força do art. 23 da Lei no 12.016/2009, o mandado de segurança tem prazo
decadencial de 120 dias, contados da ciência do ato impugnado.

Bem jurídico tutelado: o mandado de segurança tutela direito líquido e certo prejudicado
por autoridade. Eventual controvérsia sobre a matéria de direito não impede a concessão do
mandado de segurança, conforme Súmula no 625 do STF.

Hipóteses de cabimento no processo penal:


Indeferimento de habilitação do assistente de acusação.
Trancamento do inquérito policial ou ação penal – que não tratar de delito com pena
privativa de liberdade.
Proteção da pessoa jurídica no processo pena – ex.: no processo ambiental com dupla
imputação, a pessoa jurídica não é dotada de liberdade de locomoção.
Da determinação do sequestro de bens.
Para concessão de efeito suspensivo a recurso que não o tenha (Súmula n o 604 do STJ
– O mandado de segurança não se presta para atribuir efeito suspensivo a recurso criminal
interposto pelo Ministério Público).
Para franquear o acesso de advogado a inquérito policial, quando este se ver impedido
105
1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

pela autoridade (Súmula Vinculante no 14 do STF).

Hipóteses em que não caberá: a Lei no 12.016/2009, em seu art. 5o, dispõe sobre as
hipóteses de não cabimento do mandado de segurança, são elas:
• De ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo,
independentemente de caução: havendo interposição de recurso administrativo
com efeito suspensivo, restará prejudicado o conhecimento do mandado de
segurança.
• De decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo: Súmula no
267 do STF – “Não cabe Mandado de Segurança contra ato judicial passível de
recurso ou correição”.

Requisitos de admissibilidade:
Ilegalidade ou abuso de poder praticado por uma autoridade (art. 1o, § 1o, da Lei no
12.016/2019)
Demonstração do direito líquido e certo – que deverá ser provado documentalmente,
demonstrando a lesão ou ameaça de direito: não havendo provas suficientes, o MS não será
admitido, pois não há dilação probatória em sua tramitação. A denegação do MS sem julgamento
do mérito não impede sua renovação (dentro do prazo decadencial). Art. 6 o, § 6o, da Lei no
12.016/2019 – O pedido de mandado de segurança poderá ser renovado dentro do prazo
decadencial, se a decisão denegatória não lhe houver apreciado o mérito.
Comprovação da ilegalidade ou do abuso de poder: não se admite impetração de MS
de forma preventiva.

Legitimidade ativa e passiva: podem impetrar mandado de segurança o querelante, o


assistente de acusação, o acusado ou seu defensor, bem como terceiros interessados.
No processo penal, o Ministério Público poderá impetrar mandado de segurança em
defesa da sua pretensão acusatória, neste caso, o acusado deverá ser citado como litisconsorte
passivo (Súmula no 701 do STF).
A legitimidade passiva refere-se ao impetrado, autoridade que pratica o ato impugnado ou
da qual se emana a ordem para sua prática, conforme dispõe o art. 6 o, § 3o, da Lei no
12.016/2009.

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1ª Fase | 40° Exame da OAB
Processo Penal

Competência:
*Para todos verem: tabela.

AUTORIDADE
AUTORIDADE COAUTORA
COMPETENTE

STF Atos do Presidente da República, das mesas da Câmara dos


Deputados e do Senado Federal, do TCU, do PGR e do próprio
STF – art. 102, I, d, da CF/1988.

STJ Atos de Ministro do Estado, Comandantes da Marinha, do Exército


e da Aeronáutica, ou do próprio STJ – art. 105 da CF/1988.

TRF Ato do próprio tribunal ou de juiz federal – art. 108 da CF/1988.

Tribunais de Justiça Simetria TRF

Juiz de primeiro grau Atos de autoridade de polícia

Recursos: julgado o mandado de segurança, estará sujeito ao duplo grau de jurisdição


(art. 14, § 1o, da Lei no 12.016/2009).

18. Nulidades no Processo Penal

Nulidade é o vício que contamina determinado ato processual, praticado sem a


observância da forma prevista em lei, podendo invalidar o ato ou o processo, no todo ou em
parte.

18.1. Nulidade absoluta e relativa


Nulidades absolutas são aquelas que devem ser proclamadas pelo magistrado, de ofício
ou a requerimento de qualquer das partes, pois violam normas de interesse público, como, por
exemplo, um interrogatório realizado sem a presença de defensor.
Importante lembrar da Súmula no 160 do STF, segundo a qual é nulo o reconhecimento
de nulidade não arguida pela acusação em desfavor do acusado.
Já as nulidades relativas são aquelas que somente serão reconhecidas caso arguidas
pela parte interessada, demonstrando o prejuízo sofrido pela inobservância da formalidade legal
prevista para ato realizado.
Se o ato, ainda que produzido de forma irregular, atingiu a sua finalidade, inexiste razão

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para anulá‑lo (art. 563 do CPP). Exige‑se que tenha a parte prejudicada pela nulidade interesse
no seu reconhecimento. Logo, não pode ser ela a geradora do defeito (CPP, art. 565).

18.2. Alguns princípios referentes às nulidades


a) Princípio do prejuízo (art. 563 do CPP) – nenhum ato será declarado nulo, se da
nulidade não resultar prejuízo para a acusação ou para a defesa.
b) Princípio da tipicidade – em regra todo ato tem sua forma prescrita em lei, a
inobservância poderá acarretar nulidade.
c) Princípio da convalidação – trata-se de sanar o ato, aplicável, em regra, aos casos de
nulidade relativa. Em outros termos, não se declara a nulidade se for possível suprir o vício.

18.3. Nulidades arroladas no art. 564 do CPP


Vícios referentes à jurisdição e competência:
a) Incompetência: a competência absoluta (em razão da matéria e de foro privilegiado)
não admite prorrogação; logo, se infringida, é de ser reconhecido o vício como nulidade absoluta.
b) Suspeição: se houver suspeição do juiz, caberá às partes, se o próprio magistrado não
se abstiver de funcionar no feito, argui‑la, nos termos do art. 98 do CPP. Reconhecida a
suspeição, ficarão nulos todos os atos (probatórios e decisórios), como estabelece o art. 101 do
CPP. Os motivos legais de suspeição estão elencados no art. 254 do CPP.

Vícios referentes à ilegitimidade da parte: tratando‑se de ilegitimidade do representante


da parte, poderão ser sanados antes da sentença, com a simples ratificação dos atos
processuais (CPP, art. 564, II).

Falta de atos essenciais ou termos (CPP, art. 564, III): há, no processo, atos
considerados essenciais, imprescindíveis para a validade da relação processual. São assim
considerados porque a omissão (do ato) de qualquer deles é nulidade absoluta. São atos
estruturais, ou essenciais, os alinhados no inciso III do art. 564 do CPP. Faz‑se exceção àqueles
elencados nas letras d e e, segunda parte, e, finalmente, g e h desse mesmo inciso. O próprio
legislador admitiu sanar esses atos, nos termos do art. 572 do CPP. O inciso IV do art. 564 do
CPP cuida da omissão da formalidade que constitua elemento essencial do ato.
a) Denúncia ou queixa e a representação (art. 564, III, a, do CPP): a falta de denúncia
ou de queixa impossibilita o início da ação penal, razão pela qual este inciso, na realidade,
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refere‑se à ausência das fórmulas legais previstas para essas peças processuais. Uma denúncia
ou queixa formulada sem os requisitos indispensáveis (art. 41 do CPP) certamente é nula.
A falta de representação pode gerar nulidade, pois termina provocando ilegitimidade para
o órgão acusatório agir. Entretanto, é possível convalidá‑la, se dentro do prazo decadencial.
b) Exame de corpo de delito (art. 564, III, b): quando o crime deixa vestígios, é
indispensável a realização do exame de corpo de delito, direto ou indireto, conforme preceitua o
art. 158 do CPP.
Assim, havendo um caso de homicídio, por exemplo, sem laudo necroscópico, nem outra
forma válida de produzir a prova de existência da infração penal, deve ser decretada a nulidade
do processo. Trata‑se de nulidade absoluta.
c) Defesa do réu (art. 564, III, c, do CPP): preceitua a Constituição Federal que “aos
litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o
contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes” (art. 5 o, LV, da CF).
Nessa esteira, o Código de Processo Penal prevê que “nenhum acusado, ainda que
ausente ou foragido, será processado ou julgado sem defensor” (art. 261 do CPP). Assim, a falta
de defesa é motivo de nulidade absoluta.
Não nomeação de defensor dativo: é caso de nulidade absoluta.
Ausência de defesa ou deficiência de defesa: Súmula n o 523 do STF: “No processo penal,
a falta de defesa constitui nulidade absoluta, mas a sua deficiência só o anulará se houver prova
de prejuízo para o réu”.
d) Falta de intervenção do Ministério Público (art. 564, III, d, do CPP): é causa de
nulidade se o representante do Ministério Público não interferir nos feitos por ele intentados (ação
pública), bem como naqueles que foram propostos pela vítima, em atividade substitutiva do
Estado‑acusação (ação privada subsidiária da pública) e nas ações privadas.
e) Falta ou nulidade da citação do réu para se ver processar (ampla defesa e
contraditório e interrogatório) – art. 564, III, e, do CPP.
Citação: se o réu não for citado ou se a citação for feita em desacordo com as normas
processuais, prejudicando ou cerceando o réu, é motivo para anulação do feito a partir da
ocorrência do vício. Trata‑se de nulidade absoluta.
A falta ou a nulidade da citação estará sanada desde que o interessado compareça antes
de o ato consumar‑se (art. 570 do CPP).
Porém, haverá nulidade insanável se a falta de citação prejudicar a defesa do acusado,
não sendo possível a convalidação do vício apenas pelo comparecimento do réu ao ato.

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Interrogatório – art. 564, III, e, do CPP.


O interrogatório, sendo ato fundamental – mesmo que não imprescindível –, deve sempre
ser realizado quando o acusado estiver presente, em qualquer momento do procedimento, a fim
de que ele, no exercício de sua defesa pessoal, possa apresentar diretamente a sua versão a
respeito do fato, influindo sobre o convencimento do juiz. Por isso, o CPP estatui, no art. 564, III,
e, que há nulidade na falta de interrogatório do réu presente. Cuida‑se de nulidade insanável.
Concessão de prazos à acusação e à defesa: ao longo da instrução, vários prazos para
manifestações e produção de provas são concedidos às partes. Deixar de fazê‑lo pode implicar
um cerceamento de acusação ou de defesa, resultando em nulidade relativa, ou seja, se houver
prejuízo demonstrado.
f) Decisão de pronúncia (art. 564, III, f, do CPP) – com a abolição do libelo, a alínea f
fica restrita à pronúncia.
g) Intimação do réu para a sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri – art. 564, III,
g, do CPP.
Tornou‑se possível a realização do julgamento em plenário do Tribunal do Júri, mesmo
estando o réu ausente (art. 457). Entretanto, é direito do acusado ter ciência de que se realizará
a sessão, podendo exercer o seu direito de comparecimento. Logo, a falta de intimação poderá
gerar nulidade.
h) Intimação de testemunhas – art. 564, III, h, do CPP.
Com a abolição do libelo, as partes poderão arrolar suas testemunhas para Plenário do
Júri, máximo cinco para cada uma das partes, conforme dispõem os arts. 422 e 423 do CPP. Se
não forem intimadas e, sem embargo, comparecerem, a nulidade será considerada sanada, nos
termos do art. 572 do CPP. Não comparecendo, por não terem sido intimadas, a nulidade é
absoluta.
i) Instalação da sessão do júri – art. 564, III, i, do CPP.
Trata‑se de norma cogente, implicando nulidade absoluta a instalação dos trabalhos, no
Tribunal do Júri, com menos de 15 jurados (art. 463 do CPP).
j) Incomunicabilidade dos jurados – art. 564, III, j, do CPP.
É causa de nulidade absoluta a comunicação dos jurados, entre si, sobre os fatos
relacionados ao processo, ou com o mundo exterior – pessoas estranhas ao julgamento –, sobre
qualquer assunto.
k) Inexistência dos quesitos e suas respostas – art. 564, III, k, do CPP.
Súmula no 156 do STF: “É absoluta a nulidade do julgamento pelo júri, por falta de quesito

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obrigatório”.
l) Acusação e defesa no julgamento pelo Tribunal do Júri – art. 564, III, l, do CPP.
m) Ausência da sentença – art. 564, III, m, do CPP.
n) Recurso de ofício – art. 564, III, n, do CPP.
Na verdade, cuida-se do duplo grau de jurisdição necessário. Em determinadas hipóteses,
impôs a lei que a questão, julgada em primeiro grau, seja obrigatoriamente revista por órgão de
segundo grau. Ex.: a sentença concessiva de habeas corpus (art. 574, I, do CPP). O desrespeito
a esse dispositivo faz com que a sentença não transite em julgado (Súmula n o 423 do STF).
o) Intimação para recurso – art. 564, III, o, do CPP.
As partes têm direito a recorrer de sentenças e despachos, quando a lei prevê a
possibilidade, motivo pelo qual devem ter ciência do que foi decidido. Omitindo‑se a intimação,
o que ocorrer, a partir daí, é nulo, por evidente cerceamento de acusação ou de defesa, conforme
o caso. Nos termos do art. 564, IV, do CPP, haverá nulidade por omissão de formalidade que
constitua elemento essencial do ato. Por exemplo, regularização da falta ou nulidade da citação,
intimação ou notificação – estabelece o art. 570 do CPP que o comparecimento do interessado,
ainda que somente com o fim de arguir a irregularidade, sana a falta ou nulidade da citação,
intimação ou notificação.
p) no Supremo Tribunal Federal e nos Tribunais de Apelação, o quórum legal para o
julgamento – art. 564, III, p, do CPP.

19. Lei de Execução Penal

19.1. Considerações iniciais


A execução das penas e medidas de segurança no Brasil é regulada pela Lei n o
7.210/1984 (LEP). A sua finalidade é efetivar as disposições da sentença ou decisão criminal,
propiciando condições para harmônica integração social do condenado ou internado.
A formação do processo de execução criminal (PEC), em regra, se dá quando se está
diante de uma sentença penal condenatória transitada em julgado. Todavia, antes do trânsito em
julgado, tem sido admitida a execução penal provisória com frequência em nosso país, nos casos
em que houver necessidade de se manter a prisão preventiva, mesmo após a sentença
condenatória. Neste sentido, a Súmula no 716 do STF assegura a possibilidade de progredir de
regime antes do trânsito em julgado. Da mesma forma, dispõe que, caso haja execução

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provisória, o regime da sentença deverá ser aplicado, por exemplo, se a pessoa foi condenada
ao semiaberto, deverá ser transferida ao regime menos gravoso, previsto na sentença.

19.2. Competência do juiz da Vara de Execução


O art. 66 da Lei no 7.210/1984 traz um rol exemplificativo da competência do juiz da Vara
de Execução. Por exemplo, competirá ao juiz da Vara de Execução aplicar na execução lei penal
que favorecer o apenado, nos termos da Súmula no 611 do STF e art. 66, I, da LEP, em atenção
ao art. 5o, LV, da CF.
A competência na execução penal é determinada pelo local de recolhimento,
independente da origem da condenação. Por exemplo, condenada por tráfico internacional de
drogas, está recolhida em penitenciária estadual, o juiz competente para acompanhar a
execução é um juiz da vara de execução estadual, e não federal. O inverso também acontece,
alguém foi condenado pela Justiça Estadual e por alguma razão foi transferido para uma
Penitenciária Federal, o juiz competente será um juiz da Vara de Execução Federal. Isso se dá
em decorrência da aplicação da Súmula no 192 do STJ.

19.3. Individualização da pena na execução


A individualização da pena na execução penal deverá observar as regras dos arts. 5 o ao
9o da LEP.
Os condenados serão classificados segundo os seus antecedentes e personalidade.
O condenado à pena privativa de liberdade em regime fechado, será submetido ao
exame criminológico para uma adequada classificação. Já os condenados em regime
semiaberto poderão ser submetidos ao exame criminológico (art. 8°).
Esse exame criminológico que a lei está tratando é para o início da execução da
pena e não para progressão de regime/livramento condicional.
Além disso, a LEP prevê, em seu art. 9o-A, de forma obrigatória, a identificação do perfil
genético do condenado por crime doloso praticado com violência grave contra a pessoa, bem
como por crime contra a vida, contra a liberdade sexual ou por crime sexual contra vulnerável.
Constitui falta grave a recusa do condenado em submeter-se ao procedimento de
identificação do perfil genético (arts. 9-A, § 8o, e 50, VIII, da LEP).

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Processo Penal

19.4. Detração penal


A detração penal é o cômputo na pena privativa de liberdade e na medida de segurança,
de prisão provisória, no Brasil ou no estrangeiro, ou de internação. O instituto está previsto no
art. 42 do CP.
A detração penal deverá ser observada, desde logo, na sentença condenatória, para fins
de fixação de regime prisional, conforme art. 387, § 2o, do CPP.

19.5. Regimes prisionais e modificações durante a execução da pena


Em regra, o regime a ser cumprido vem estabelecido na sentença penal condenatória ou
quando for aplicada a pena em um acórdão pelo tribunal. Será determinado conforme as regras
contidas no Código Penal, nos arts. 33, § 2o, e 59 do CP.
Caso sobrevenha nova condenação durante o cumprimento de uma pena, a
determinação do regime será feita através da soma do restante da que está sendo cumprida com
a nova condenação, conforme art. 111, parágrafo único, da LEP.

19.6. Sistema progressivo: progressão de regime


A LEP adotou o sistema progressivo para o cumprimento da pena, ou seja, a transferência
do regime mais rigoroso para um menos rigoroso mediante a observância de alguns requisitos,
sendo “inadmissível a chamada progressão per saltum de regime prisional”, nos termos da
Súmula no 491 do STJ.
Para fins de progressão de regime, observa-se a pena total, nos termos da Súmula no 715
do STF, e não o limite máximo de cumprimento da pena, previsto no art. 75 do CP.
Desta forma, quem estiver executando pena poderá progredir, ainda que esteja
aguardando definição de recurso (Súmula no 716 do STF), bastando o preenchimento do
requisito objetivo (lapso temporal) e subjetivo (bom comportamento), observando as
especificidades referentes à natureza do delito, vejamos:

Requisitos para progressão de regime: o instituto da progressão de regime sofreu


profunda alteração com a Lei no 13.964/2019 – Pacote Anticrime. Vejamos o antigo tratamento
legal (aplicável, em regra, ainda aos crimes praticados antes do dia 23 de janeiro de 2020):

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Processo Penal

*Para todos verem: tabela.

Base legal anterior à


Progressão de regime – antes da Lei no 13.964/2019
Lei no 13.964/2019
Antiga redação do Art. 112 da
1/6 Primários e reincidentes – crimes comuns
Lei no 7.210/1984

2/5 Primários – crimes hediondos e equiparados Antiga redação do art. 2o, § 2o,
da Lei no 8.072/1990
3/5 Reincidentes – crimes hediondos e equiparados

A progressão de regime exige o preenchimento de dois requisitos, quais sejam: requisito


subjetivo e objetivo. Em relação ao requisito subjetivo, foi mantido como requisito para concessão
da progressão o atestado de bom comportamento carcerário emitido pelo diretor do
estabelecimento prisional, nos termos do art. 112, § 1o, da LEP.
Entretanto, no tocante ao lapso temporal, previamente estabelecido para o alcance da
progressão ao regime mais brando, o legislador optou por estabelecer uma exigência em
percentual de cumprimento de pena, não mais em formato de fração, restando a seguinte
previsão na nova redação do art. 112 da LEP:
*Para todos verem: tabela.

16% da pena Primário Crime tiver sido cometido sem violência à pessoa ou

20% da pena Reincidente grave ameaça

25% da pena Primário Crime cometido com violência à pessoa ou grave

30% da pena Reincidente EM ameaça

40% da pena Condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, se for primário

Se o apenado for:
a) condenado pela prática de crime hediondo ou equiparado, com resultado morte,
se for primário, vedado livramento condicional;
50% da pena
b) condenado por exercer comando, individual ou coletivo, de organização criminosa
estruturada para prática de crime hediondo ou equiparado; ou
c) condenado pela prática do crime de constituição de milícia privada;

Se o apenado for reincidente na prática de crime hediondo ou equiparado


60% da pena
(reincidência específica)

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Processo Penal

Se o apenado for reincidente em crime hediondo ou equiparado com resultado


70% da pena
morte, vedado o livramento condicional (reincidência específica)

Somente estarão sujeitos aos novos prazos que eventualmente trouxerem um tratamento
mais gravoso à progressão de regime aqueles que praticarem crimes a partir da data da vigência
do Pacote Anticrime (Lei no 13.964/2019), qual seja, dia 23 de janeiro de 2020. Neste sentido,
sempre que a nova lei trouxer algum benefício ao apenado, deverá retroagir.
Dentro deste contexto, não se pode olvidar a Súmula n o 471 do STJ, que assegura a
aplicação do prazo de 1/6 para todos os crimes, inclusive os hediondos e equiparados, desde
que praticados antes do dia 29 de março de 2007, haja vista os efeitos atribuídos ao Habeas
Corpus no 82.959-7/SP, julgado pelo Supremo Tribunal Federal, em fevereiro de 2006.
a) Falta grave e progressão de regime: o cometimento de falta grave durante a
execução da pena privativa de liberdade interrompe o prazo para a obtenção da progressão de
regime, resultando no reinício da contagem do requisito objetivo, que terá como base a pena
remanescente, nos termos do art. 112, § 6o, da LEP. Trata-se da incorporação do entendimento
jurisprudencial, pois o novel parágrafo incorporou o teor da Súmula no 534 do STJ.
b) Progressão de regime especial para mulheres: conforme o art. 112, § 3o, da LEP,
no caso de mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com
deficiência, os requisitos para progressão de regime são, cumulativamente:
1) não ter cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
2) não ter cometido o crime contra seu filho ou dependente;
3) ter cumprido ao menos 1/8 (um oitavo) da pena no regime anterior;
4) ser primária e ter bom comportamento carcerário, comprovado pelo diretor do
estabelecimento;
5) não ter integrado organização criminosa.

Destaca-se que o cometimento de fato definido como crime doloso ou falta grave,
conforme dispõe a lei, implica a revogação da progressão de regime diferenciada (art. 112, § 4 o,
LEP).
c) Tratamento diferenciado para integrantes de organização criminosa –
reconhecidos expressamente em sentença: é vedada a progressão de regime ou obtenção
do livramento condicional, bem como de outros benefícios prisionais, para os casos de
integrante de organização criminosa, expressamente reconhecido em sentença, ou de

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condenado por crime praticado por meio de organização criminosa, quando houver elementos
probatórios que indiquem a manutenção do vínculo associativo, conforme consta no art. 2 o, § 9o,
da Lei no 12.850/2013.
d) Progressão para o regime aberto: a progressão para o regime aberto possui algumas
condições específicas, previstas nos arts. 114 e 115 da LEP, como, por exemplo, estar
trabalhando ou possuir condições de trabalhar imediatamente. Neste caso, convém reforçar que
a inexistência, por exemplo, de vaga para trabalho não autoriza o juiz a suprir essa condição
impondo uma pena restritiva de direito, pois caracteriza uma afronta à legalidade. Inclusive, há
vedação expressa na Súmula no 493 do STJ, matéria já cobrada no Exame da OAB.
e) Exame criminológico e progressão de regime: o exame criminológico não está
previsto como requisito legal para concessão da progressão de regime, ou seja, não há menção
no art. 112 da LEP acerca da sua exigência. Entretanto, é possível que o juiz exija a realização
do exame, desde que em decisão motivada, nos termos da Súmula no 439 do STJ e Súmula
Vinculante no 26 do STF, parte final, pois o início desta súmula está prejudicado pela alteração
legislativa que permite a progressão de regime para esses delitos.
f) Progressão de regime e crimes contra Administração Pública: nos casos de
condenados por crimes contra a Administração Pública, aplica-se como requisito para
progressão, além do tempo e do comportamento, a reparação do prejuízo gerado ao erário,
conforme dispõe o art. 33, § 4o, do CP.

19.7. Regressão de regime


As hipóteses de regressão estão previstas nos arts. 118 e 146-C, parágrafo único, da LEP,
vejamos:
O apenado praticar fato definido como crime doloso ou falta grave (art. 50 a 52 da
LEP) – art. 118, I, LEP.
Nestes casos, antes da regressão de regime deverá ser ouvido, previamente, o apenado,
conforme o art. 118, § 2o, da LEP.
Regressão cautelar: a jurisprudência tem admitido a regressão cautelar, hipótese em que
se regride o regime antes de ouvir o preso, dispensando a audiência, visto se tratar de medida
excepcional e emergencial, mas, para a regressão em caráter definitivo, exige-se a oitiva.

Súmula no 526 do STJ – O reconhecimento de falta grave decorrente do cometimento de


fato definido como crime doloso no cumprimento da pena prescinde do trânsito em julgado
de sentença penal condenatória no processo penal instaurado para apuração do fato.

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No tocante à falta de natureza grave, ressalta-se que é a única espécie de falta disciplinar
que poderá resultar em regressão de regime.
De acordo com o art. 49, o apenado poderá praticar faltas disciplinares de natureza: grave,
média e leve. Entretanto, as únicas espécies de faltas que estão previstas na Lei de Execução
Penal são as faltas graves, vejamos as hipóteses nos arts. 50, 51 e 52.
Em relação às faltas graves envolvendo aparelho celular, o Superior Tribunal de Justiça
entende que tanto a posse do aparelho quanto de seus componentes essenciais, configuram
falta de natureza grave. Inclusive, o entendimento é pela dispensa a perícia do aparelho ou dos
componentes, conforme as Súmulas 660 e 661 do STJ.
Quando o apenado sofrer condenação, por crime anterior, cuja soma da pena restante
com a nova condenação torne impossível a manutenção do regime (art. 111, parágrafo único, da
LEP) – art. 118, II, LEP.
Quando o apenado em regime aberto frustrar os fins da execução ou não pagar,
podendo, a multa cumulativamente imposta. Tal hipótese deve ser analisada com cautela –
art. 118, § 1o, LEP.
A violação comprovada dos deveres inerentes ao monitoramento eletrônico poderá
ensejar a regressão (art. 146-C, parágrafo único, I, da LEP).

19.8. Prisão domiciliar


Para cumprir a pena em residência particular o preso deverá estar em regime aberto e se
enquadrar em uma das quatro hipóteses do art. 117 da LEP, quais sejam:
• Condenado maior de setenta anos;
• Condenado acometido de doença grave;
• Condenada com filho menor ou deficiente físico ou metal;
• Condenada gestante.

Conforme a Súmula Vinculante no 56 do STF, a falta de estabelecimento penal adequado


não autoriza a manutenção do condenado em regime prisional mais gravoso, devendo-se
observar, nessa hipótese, os parâmetros fixados no RE no 641.320/RS, precedente
representativo da súmula:
4. Havendo déficit de vagas, deverão ser determinados: (i) a saída antecipada de
sentenciado no regime com falta de vagas; (ii) a liberdade eletronicamente monitorada ao

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sentenciado que sai antecipadamente ou é posto em prisão domiciliar por falta de vagas; (iii) o
cumprimento de penas restritivas de direito e/ou estudo ao sentenciado que progride ao regime
aberto. Até que sejam estruturadas as medidas alternativas propostas, poderá ser deferida a
prisão domiciliar ao sentenciado (RE no 641320, rel. Min. Gilmar Mendes – Tribunal Pleno – j.
11-5-2016, DJe 8-8-2016).

19.9. Remição de pena


A remição, prevista nos arts. 126 a 130 da LEP, é o cômputo na pena dos dias trabalhados
ou estudados como pena efetivamente cumprida (art. 128 da LEP). A remição pode se dar em
razão do trabalho ou estudo.
A remição de pena por trabalho pode ser usufruída por presos no regime fechado ou
semiaberto. A lei não prevê a hipótese de remição por trabalho no regime aberto, sendo o
entendimento do STF e STJ de que, diante da ausência de previsão, não deve ser concedido.
A contagem se dá da seguinte forma: três dias de trabalho equivalem a um dia da pena.
O trabalho poderá ser realizado internamente ou externamente, a depender do caso específico.
Neste sentido, a Súmula no 562 do STJ reitera que é “possível a remição de parte do tempo de
execução da pena quando o condenado, em regime fechado ou semiaberto, desempenha
atividade laborativa, ainda que extramuros”.
Já a remição por estudo pode ser usufruída em qualquer regime (fechado, semiaberto ou
aberto) e, inclusive, quem estiver em livramento condicional. A cada doze horas de estudo
divididas, no mínimo, em três dias, equivale a um dia da pena.
Alguns aspectos gerais que devem ser observados para fins de prova são:
O preso impossibilitado, por acidente, de prosseguir no trabalho ou nos estudos continuará
a beneficiar-se com a remição.
O tempo a remir em função das horas de estudo será acrescido de um terço no caso de
conclusão do Ensino Fundamental, Médio ou Superior durante o cumprimento da pena, desde
que certificada pelo órgão competente do sistema de educação.
A remição é aplicada também aos presos cautelares.
Forjar acidente de trabalho é falta grave (art. 50 da LEP).
Possível cumular remição por trabalho e estudo, desde que compatíveis.
Por fim, destaca-se que o juiz poderá revogar até um terço do tempo remido daquele que
praticar falta grave durante a execução (art. 127 da LEP).

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19.10. Autorizações de saída: permissão de saída e saída temporária


As autorizações de saída dividem-se em: permissão de saída e saída temporária.

Permissão de saída: em conformidade com a Lei de Execução Penal, poderão obter


permissão de saída (arts. 120 e 121 da LEP), mediante autorização do diretor, os apenados
que cumprem pena em regime fechado, semiaberto e provisórios, devidamente escoltados, em
duas hipóteses:
1. Falecimento ou doença grave do cônjuge, companheiro, ascendente, descendente ou
irmão (CCADI);
2. Necessidade de tratamento médico.

Saída temporária: a saída temporária (arts. 122 a 125 da LEP), sem vigilância direta, isto
é, sem escolta, poderá ser concedida a apenados que cumprem pena em regime semiaberto.
Destaca-se que a ausência de vigilância direta não impede que o juiz determine a
monitoração eletrônica. Constitui uma faculdade do juiz, não uma obrigação legal.

Súmula no 520 do STJ. O benefício de saída temporária no âmbito da execução penal é


ato jurisdicional insuscetível de delegação à autoridade administrativa do estabelecimento
prisional.

Para obtenção da saída temporária, os apenados em regime aberto deverão preencher


os seguintes requisitos:
• Comportamento adequado;
• Cumprimento mínimo de 1/6 para apenado primário e de, no mínimo, 1/4 para
reincidentes;
• Compatibilidade do benefício com os objetivos da pena.

Será concedida por período não superior a sete dias, podendo ser renovadas por mais
quatro vezes. Logo, faz jus a 35 dias de saída, com intervalo de 45 dias entre as saídas.
De acordo com o art. 122, § 2o, da LEP, não terá direito à saída temporária o
condenado que cumpre pena por praticar crime hediondo com resultado morte.

19.11. Monitoramento eletrônico


O monitoramento eletrônico é uma faculdade judicial, pois, de acordo com art. 146-B da

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Processo Penal

LEP, poderá ser definido pelo juiz nos casos definidos em lei, desde que seja necessário, nos
casos de prisão domiciliar e saída temporária no regime semiaberto.
Em caso de descumprimento das regras da monitoração eletrônica poderá o juiz, ouvidos
o Ministério Público e a defesa, como consta no art. 146-C, parágrafo único, da LEP: regredir o
regime prisional; revogar a prisão domiciliar; revogar a saída temporária; ou apenas aplicar uma
advertência.
Atualmente, é muito comum a utilização do monitoramento eletrônico nos casos em que
se autoriza a prisão domiciliar em razão de falta de vagas no sistema prisional.

19.12. Livramento condicional


O livramento condicional é a liberdade mediante condições. Trata-se da última etapa do
cumprimento de pena, não se confundindo com progressão de regime, pois o livramento
condicional não é regime prisional. O instituto é regulado pelos arts. 83 a 90 do CP e arts. 131
a 146 da LEP. Acrescenta-se o art. 44, parágrafo único, da Lei no 11.343/2006, que traz regras
específicas para o livramento nos casos de delitos da Lei de Drogas.
Diferente do que ocorre para progressão de regime, a prática de falta grave não interrompe
o prazo para obtenção do instituto, como dispõe a Súmula no 441 do STJ. Porém, a prática de
falta grave nos últimos doze meses obsta o livramento condicional, sendo fator que deverá ser
observado por ocasião da elaboração do atestado de conduta carcerária.
A liberdade condicional poderá ser concedida para condenados com pena privativa de
liberdade igual ou superior a dois anos.
Os requisitos para obtenção de livramento estão previstos no art. 83 do CP em
combinação com o art. 112, § 2o, da LEP. São requisitos objetivos e subjetivos.
Os requisitos subjetivos estão no art. 83, III e IV, e é exigido o bom comportamento
carcerário atestado pelo diretor, por força do art. 112 da LEP.

Art. 83, inciso III, do Código Penal


a) bom comportamento durante a execução da pena;
b) não cometimento de falta grave nos últimos doze meses;
c) bom desempenho no trabalho que lhe foi atribuído; e
d) aptidão para prover a própria subsistência mediante trabalho honesto.
Art. 83, inciso IV, do CP. Tenha reparado, salvo efetiva impossibilidade de fazê-lo, o dano
causado pela infração.

No tocante ao lapso temporal, deverá ser observado o enquadramento abaixo:

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*Para todos verem: tabela.

Requisito
Hipóteses cabíveis
Objetivo
+ 1/3 Não reincidente em crime doloso

+ 1/2 Reincidente em crime doloso

Condenados por crimes hediondos, tráfico, tortura, terrorismo e tráfico de pessoas


+ 2/3 se enquadram nesta hipótese. Ressaltando que, em caso de reincidência em delitos
dessa natureza, não será possível a concessão de livramento condicional.

Após concedido, o livramento condicional somente poderá ser revogado obrigatoriamente


se durante o período de prova for trazida ao processo de execução nova sentença penal
condenatória irrecorrível por crime praticado antes ou durante o período em que estava em
liberdade (art. 86 do CP).
Também é possível que, a critério do juiz, seja revogado o livramento condicional, nos
termos do art. 87 da LEP, quando descumpridas as condições ou superveniência de condenação
irrecorrível por crime que não tenha sido determinada pena de prisão ou contravenção penal.
Portanto, são duas espécies de revogação: obrigatória e facultativa. Se chegar até o final
do período de provas sem que haja revogação ou suspensão, declara-se extinta a pena (art. 90
do CP). Se porventura, após o término do período de provas, se descobrirem causas de
revogação, não poderá afetar a declaração de extinção.

Súmula no 617 do STJ: A ausência de suspensão ou revogação do livramento condicional


antes do término do período de prova enseja a extinção da punibilidade pelo integral
cumprimento da pena.

Os efeitos das diferentes formas de revogação estão previstos nos arts. 88 do CP e 141
e 142 da LEP.
Aspectos importantes sobre livramento condicional no tocante ao delito de associação
ao tráfico (art. 35 da Lei no 11.343/2006): o crime de associação ao tráfico não é considerado
hediondo. Não há previsão na Lei dos Crimes Hediondos do referido tipo penal. Logo, para
progressão de regime se utiliza o lapso temporal de 1/6 da pena. Porém, o art. 44, parágrafo
único, da Lei no 11.343/2006, dispõe para livramento condicional deverá ser exigido mais de 2/3
da pena, incluindo o delito de associação.

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19.13. Regime disciplinar diferenciado


O regime disciplinar diferenciado foi um dos institutos da execução penal que sofreu
alterações com o advento do Pacote Anticrime.
Conforme o art. 52 da LEP, a prática de fato previsto como crime doloso constitui falta
grave e, quando ocasionar subversão da ordem ou disciplina internas, sujeitará o preso
provisório, ou condenado, nacional ou estrangeiro, sem prejuízo da sanção penal, ao regime
disciplinar diferenciado, com as seguintes características:
• Duração máxima de até dois anos, sem prejuízo de repetição da sanção por nova
falta grave de mesma espécie;
• Recolhimento em cela individual;
• Visitas quinzenais, de duas pessoas por vez, a serem realizadas em instalações
equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, por pessoa da
família ou, no caso de terceiro, autorizado judicialmente, com duração de duas
horas;
• Direito do preso à saída da cela por duas horas diárias para banho de sol, em
grupos de até quatro presos, desde que não haja contato com presos do mesmo
grupo criminoso;
• Entrevistas sempre monitoradas, exceto aquelas com seu defensor, em
instalações equipadas para impedir o contato físico e a passagem de objetos, salvo
expressa autorização judicial em contrário;
• Fiscalização do conteúdo da correspondência;
• Participação em audiências judiciais preferencialmente por videoconferência,
garantindo-se a participação do defensor no mesmo ambiente do preso.

Conforme o § 1o do art. 52 da LEP, o regime disciplinar diferenciado também será aplicado


aos presos provisórios ou condenados, nacionais ou estrangeiros:
• que apresentem alto risco para a ordem e a segurança do estabelecimento penal
ou da sociedade;
• sob os quais recaiam fundadas suspeitas de envolvimento ou participação, a
qualquer título, em organização criminosa, associação criminosa ou milícia
privada, independentemente da prática de falta grave.

Importante registrar que a inclusão do preso no regime disciplinar diferenciado

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depende de decisão do juiz. O RDD nem sempre será cumprido em Penitenciária Federal,
porém nos casos do art. 52, §3º, da LEP, será obrigatório.
Em relação à inclusão do preso em sistema penitenciário federal, atente-se à Súmula 662
do STJ, que dispõe:
Súmula 662 do STJ: Para a prorrogação do prazo de permanência no sistema
penitenciário federal, é prescindível a ocorrência de fato novo; basta constar, em decisão
fundamentada, a persistência dos motivos que ensejaram a transferência inicial do preso.

19.14. Incidentes da execução penal


Durante a execução penal poderão ocorrer alguns incidentes, como, por exemplo:
superveniência de doença mental daquele que está cumprindo pena; a conversão da pena
restritiva de direito em pena privativa de liberdade diante do descumprimento, entre outras
possibilidades.
Conversão da PPL em PRD (art. 180 da LEP) – PPL não superior a dois anos; condenado
em regime aberto; cumprido pelo menos 1/4; antecedentes e personalidade indiquem.
Conversão da PRD em PPL (art. 181 da LEP) – ocorrerá na forma do art. 45 do CP.
Conversão da pena em medida de segurança (art. 183 da LEP)
Desvio ou excesso de execução (art. 185 da LEP)

19.15. Limite de cumprimento das penas privativas de liberdade


O limite de cumprimento de pena é o previsto no art. 75 do CP, qual seja, 40 anos. Antes
da vigência do Pacote Anticrime, o limite previsto era de 30 anos. Trata-se de novatio legis in
pejus, sendo aplicável somente para aqueles que praticarem crimes a partir da vigência da
norma.
No tocante à incidência dos benefícios (direitos), conforme preconiza a Súmula n o 715 do
STF, o limite do art. 75 do CP não é parâmetro ou base de cálculo para os demais direitos em
sede de execução penal. A súmula refere o lapso temporal previsto antes das alterações do
Pacote Anticrime, logo deverá ser atualizada, observando o novo limite de 40 anos. Desta forma,
se o apenado estiver cumprindo uma pena que totaliza 60 anos, será sobre este total que deverá
ser calculada a viabilidade de concessão de algum direito, e não sobre o limite máximo.

19.16. Graça, indulto e comutação de pena


São institutos que extinguem a punibilidade, conforme o art. 107, II, do CP.
A graça é o perdão individual da pena, perdoa-se a pessoa. É concedida pelo Presidente

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da República, por meio de uma avaliação discricionária. É uma medida de caráter excepcional,
concedida mediante análise do caso individual. De acordo com o art. 5 o, XLIII, não é permitida
nem a graça nem a anistia para delitos considerados hediondos ou equiparados.
Já o indulto também é uma causa extintiva da punibilidade. No entanto, é concedido de
forma coletiva, Assim sendo, qualquer preso que preencher as condições passará a ter direito
ao indulto, devendo ser apenas declarado pelo juiz da Vara de Execuções.
A comutação de pena, por sua vez, difere-se do indulto por ser o abatimento parcial do
tempo da pena (prevista em forma de fração), desde que preenchido os requisitos previstos no
decreto presidencial.

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