Você está na página 1de 12

XX EXAME DE ORDEM UNIFICADO

FGV - Prova aplicada em 18/09/2016


Questão 3
Andy, jovem de 25 anos, possui uma condenação definitiva pela prática de contravenção penal. Em
momento posterior, resolve praticar um crime de estelionato e, para tanto, decide que irá até o portão da
residência de Josefa e, aí, solicitará a entrega de um computador, afirmando que tal requerimento era
fruto de um pedido do próprio filho de Josefa, pois tinha conhecimento que este trabalhava no setor de
informática de determinada sociedade.
Ao chegar ao portão da casa, afirma para Josefa que fora à sua residência buscar o computador da casa a
pedido do filho dela, com quem trabalhava. Josefa pede para o marido entregar o computador a Andy,
que ficara aguardando no portão. Quando o marido de Josefa aparece com o aparelho, Andy se
surpreende, pois ele lembrava seu falecido pai. Em razão disso, apesar de já ter empregado a fraude, vai
embora sem levar o bem.
O Ministério Público ofereceu denúncia pela prática de tentativa de estelionato, sendo Andy condenado
nos termos da denúncia.
Como advogado de Andy, com base apenas nas informações narradas, responda aos itens a seguir.
A) Qual tese jurídica de direito material deve ser alegada, em sede de recurso de apelação, para evitar
a punição de Andy? Justifique. (Valor: 0,65)

B) Há vedação legal expressa à concessão do benefício da suspensão condicional do processo a Andy?


Justifique. (Valor: 0,60)
Gabarito comentado
A) A tese de direito material a ser alegada pelo advogado de Andy é que, no caso, não poderia ele ter
sido punido pela tentativa, tendo em vista que houve desistência voluntária. Prevê o Art. 15 do CP que o
agente que voluntariamente desiste de prosseguir na execução responde apenas pelos atos já praticados e
não pela tentativa do crime inicialmente pretendido. Isso porque o agente opta por não prosseguir
quando pode, ao contrário da tentativa, quando o agente não pode prosseguir por razões alheias à sua
vontade. No caso, a execução já tinha sido iniciada, quando Andy empregou fraude. O benefício, porém,
não foi obtido, sendo certo que o crime não se consumou pela vontade do próprio agente. Assim, sua
conduta se torna atípica e deveria ele ser absolvido.

B) Não há vedação legal, podendo Andy fazer jus ao benefício da suspensão condicional do processo. O
crime de estelionato possui pena mínima de 01 ano, o que está de acordo com as exigências do Art. 89
da Lei nº 9.099/95.
Ademais, prevê o dispositivo que não caberá suspensão se o agente já houver sido condenado ou se
responder a outro processo pela prática de crime. Todavia, no caso, Andy havia sido condenado pela
prática de contravenção penal, logo não há vedação à concessão do benefício.
XXII EXAME DE ORDEM UNIFICADO
FGV - Prova aplicada em 28/05/2017
Questão 3
Na cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, Maurício iniciou a execução de determinada
contravenção penal que visava atingir e gerar prejuízo em detrimento de patrimônio de entidade
autárquica federal, mas a infração penal não veio a se consumar por circunstâncias alheias à sua
vontade.
Ao tomar conhecimento dos fatos, o Ministério Público dá início a procedimento criminal perante
juízo do Tribunal Regional Federal com competência para atuar no local dos fatos, imputando ao
agente a prática da contravenção penal em sua modalidade tentada, oferecendo, desde já, proposta de
transação penal.
Maurício conversa com sua família e procura um(a) advogado(a) para patrocinar seus interesses,
destacando que não tem interesse em aceitar transação penal, suspensão condicional do processo ou
qualquer outro benefício despenalizador.
Com base apenas nas informações narradas e na condição de advogado(a) de Maurício, responda:
A) Considerando que a contravenção penal causaria prejuízo ao patrimônio de entidade autárquica
federal, o órgão perante o qual o procedimento criminal foi iniciado é competente para julgamento da
infração penal imputada? Justifique. (Valor: 0,65)

B) Qual argumento de direito material deverá ser apresentado para evitar a punição de Maurício?
Justifique. (Valor: 0,60)
Gabarito comentado
A) Apesar de a contravenção penal causar prejuízo ao patrimônio de autarquia federal, a Justiça
Federal não é competente para julgar a infração penal, tendo em vista que o Art. 109, inciso IV, da
Constituição da República Federativa do Brasil prevê expressamente que a Justiça Federal terá
competência para julgar infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesses da
União e de suas entidades autárquicas e empresas públicas, excluídas as contravenções penais.
Diferente da regra geral, as contravenções penais, ainda que nas circunstâncias do dispositivo acima
mencionado, devem ser julgadas perante a Justiça Estadual, no caso, Juizado Especial Criminal
Estadual.

B) Apesar de Maurício ter iniciado a execução de uma contravenção penal e a mesma não ter se
consumado por circunstâncias alheias à vontade do agente, o que, em tese, configura tentativa, que,
pela regra do Código Penal, impõe a punição pelo crime pretendido com redução de pena, na hipótese
apresentada, a infração penal que não restou consumada foi uma contravenção. Nos termos do previsto
no Art. 4º do Decreto-Lei 3.688/41, não se pune a tentativa de contravenção penal. Assim, no momento
em que Maurício não conseguiu consumar o delito por circunstâncias alheias à sua vontade, sua
conduta não é punível.
XIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO
FGV - Prova aplicada em 01/06/2014
Questão 1

Gustavo, retornando para casa após ir a uma festa com sua esposa, é parado em uma blitz de rotina. Ele
fica bastante nervoso, pois sabe que seu carro está com a documentação totalmente irregular (IPVA
atrasado, multas vencidas e vistoria não realizada) e, muito provavelmente, o veículo será rebocado
para o depósito. Após determinar a parada do veículo, o policial solicita que Gustavo saia do carro e
exiba os documentos. Como havia diversos outros carros parados na fiscalização, forma-se uma fila de
motoristas.
Gustavo, então, em pé, na fila, aguardando sua vez para exibir a documentação, fala baixinho à sua
esposa: “Vou ver se tem jogo. Vou oferecer cem reais pra ele liberar a gente. O que você acha? Será
que dá?”. O que Gustavo não sabia, entretanto, é que exatamente atrás dele estava um policial que tudo
escutara e, tão logo acaba de proferir as palavras à sua esposa, Gustavo é preso em flagrante.
Atordoado, ele pergunta: “O que eu fiz?”, momento em que o policial que efetuava o flagrante
responde: “Tentativa de corrupção ativa!”.
Atento(a) ao caso narrado e tendo como base apenas as informações descritas no enunciado, responda
justificadamente, aos itens a seguir.
A) É correto afirmar que Gustavo deve responder por tentativa de corrupção ativa? (Valor: 0,70)

B) Caso o policial responsável por fiscalizar os documentos, observando a situação irregular de


Gustavo, solicitasse quantia em dinheiro para liberá-lo e, Gustavo, por medo, pagasse tal quantia, ele
(Gustavo) responderia por corrupção ativa? (Valor: 0,55)
Gabarito comentado
A questão objetiva extrair do examinando conhecimento acerca do iter criminis e dos crimes
praticados por particular contra a administração pública.
A) Nesse sentido, relativamente à alternativa “A”, o examinando deve lastrear sua resposta no sentido
de que o delito de corrupção ativa (artigo 333 do CP) é crime formal que não admite, via de regra, a
modalidade tentada (exceto, como exemplo recorrente na doutrina, se o crime for praticado via
escritos). Além disso, levando em conta a narrativa do enunciado, percebe-se que o delito em análise
sequer teve o início da execução e, muito menos, atingiu a consumação. Isso porque a corrupção ativa
somente se consuma com o efetivo oferecimento ou promessa de vantagem indevida, o que não
ocorreu no caso narrado. Consequentemente, a conduta levada a efeito por Gustavo é atípica.

B) No que se refere a alternativa “B”, por sua vez, o examinando deve indicar que caso Gustavo
pagasse a quantia solicitada pelo policial ele não responderia por corrupção ativa pelo simples fato de
que tal conduta sequer está descrita no tipo penal do artigo 333 do CP, configurando, portanto, fato
atípico.

Você também pode gostar