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Processo nº 0024748-74.2006.8.05.

0001
PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA BAHIA
TRIBUNAL DE JUSTIÇA
Segunda Câmara Cível

______________________________________________________________________
Classe : Apelação n.º 0024748-74.2006.8.05.0001
Foro de Origem : Salvador
Órgão : Segunda Câmara Cível
Apelante : Desenbahia - Agencia de Fomento do Estado da Bahia
Advogado : Ivan Fernandez Baqueiro Perrucho (OAB: 25961/BA)
Apelado : Espólio de Zurel de Queiroz Cunha, Representado Por Stela
Guimarães Bulcão
Relator(a) : Maurício Kertzman Szporer
ACÓRDÃO
APELAÇÃO. AÇÃO MONITÓRIA. REGRA DE
TRANSIÇÃO DO CC/16. PRAZO PRESCRICIONAL
QUINQUENAL CONTADO DA VIGÊNCIA DA NOVA
LEGISLAÇÃO. AJUIZAMENTO DA AÇÃO. AUSÊNCIA DE
CITAÇÃO. CONDUTA MOROSA DA PRÓPRIA PARTE.
NÃO INTERRUPÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL.
INTELIGÊNCIA DO ART. 219, § 4º, DO CPC/1973,
APLICÁVEL À ESPÉCIE. PRESCRIÇÃO DECRETADA
SEM PRÉVIA OITIVA DA PARTE. PAS DE NULLITÉ
SANS GRIEF. APELANTE NÃO DECLINA QUALQUER
CAUSA SUSPENSIVA OU INTERRUPTIVA DO FLUXO
PRESCRICIONAL. APELAÇÃO IMPROVIDA. SENTENÇA
MANTIDA.
1. O contrato de abertura de crédito em cobrança foi firmado e
teve o seu vencimento durante a vigência do Código Civil de
1916, ao passo que observada a regra de transição prevista no
art. 2.028 do CC/2002, o prazo prescricional é quinquenal,
contado a partir da vigência do CC/2002.
2. A ação monitória em questão foi ajuizada em 22/06/2006,
sendo aplicável ao caso as normas jurídicas contidas no art. 219,
§§ 2º, 3º e 4º, do CPC/1973, que estabelecia: (i) que apenas a
citação válida tinha o condão de interromper a fluência do prazo
prescricional; (ii) que constituía dever do autor promover a
citação do réu no prazo máximo de 90 (noventa) dias, salvo
demora imputável exclusivamente ao Poder Judiciário; (iii) e
que a ausência de citação no referido prazo máximo não
interrompe a prescrição.
3. Diante de todo contexto de desídia do apelante, evidente que
a citação da parte adversa não ocorreu por culpa da própria
exequente, de sorte que a prescrição não restou interrompida,
nos exatos termos do art. 219, § 4º, do CPC/1973, aplicável ao
caso. Portanto, transcorrido integralmente o prazo preclusivo
quinquenal, que findou em 11/01/20086, acertada a sentença

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proferida pelo juízo a quo.
4. Sobre a nulidade da sentença por ausência de intimação
prévia da parte, verifica-se que o apelante não afirmou nem
comprovou em seu recurso de apelação a existência de qualquer
causa suspensiva ou interruptiva do prazo prescricional. Motivo
pelo qual se impõe a rejeição do pleito de anulação da sentença,
com fundamento no princípio pas de nullité sans grief, previsto
no art. 283, parágrafo único, do CPC/2015 (equivalente ao art.
250, parágrafo único, do CPC/1973).
5. Apelo improvido. Sentença mantida.

Vistos, relatados e discutidos os autos do Apelação nº 0024748-74.2006.8.05.0001, da


Comarca de Salvador em que é recorrente Desenbahia - Agencia de Fomento do Estado
da Bahia e recorrido Espólio de Zurel de Queiroz Cunha, Representado Por Stela
Guimarães Bulcão.

ACORDAM, os Desembargadores integrantes da Segunda Câmara Cível do Egrégio


Tribunal de Justiça da Bahia, em NEGAR PROVIMENTO ao apelo, nos termos do
voto do relator.

Salvador/BA, __ de _______________ de 2018.

Mauricio Kertzman Szporer


Presidente e Relator

Procurador(a) de Justiça

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Classe : Apelação n.º 0024748-74.2006.8.05.0001
Foro de Origem : Salvador
Órgão : Segunda Câmara Cível
Apelante : Desenbahia - Agencia de Fomento do Estado da Bahia
Advogado : Ivan Fernandez Baqueiro Perrucho (OAB: 25961/BA)
Apelado : Espólio de Zurel de Queiroz Cunha, Representado Por Stela
Guimarães Bulcão
Relator(a) : Maurício Kertzman Szporer
RELATÓRIO
Trata-se de apelação cível interposta pela DESENBAHIA AGÊNCIA DE FOMENTO

DO ESTADO DA BAHIA S/A contra sentença proferida pelo Juízo da atual 5ª Vara de

Relações de Consumo da Comarca de Salvador que, nos autos de ação monitória, julgou

improcedente a ação, reconhecendo a prescrição na hipótese dos autos.

Irresignado, o apelante defende a reforma da sentença, sob fundamento de que inexiste

prescrição, já que foi interrompida normalmente com o despacho citatório do juiz, mesmo

incompetente, que ordenou a citação, conforme prevê o art. 202 do CC/2002.

Pontua, também, que a sentença é nula, pois o juízo não intimou a parte antes de

determinar a resolução do feito com base na prescrição intercorrente.

Sem contrarrazões, tendo em vista a ausência de triangularização processual.

É o relatório. Passo a decidir.

Salvador/BA, __ de _______________ de 2018.

Mauricio Kertzman Szporer


Relator

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Foro de Origem : Salvador
Órgão : Segunda Câmara Cível
Apelante : Desenbahia - Agencia de Fomento do Estado da Bahia
Advogado : Ivan Fernandez Baqueiro Perrucho (OAB: 25961/BA)
Apelado : Espólio de Zurel de Queiroz Cunha, Representado Por Stela
Guimarães Bulcão
Relator(a) : Maurício Kertzman Szporer
VOTO
O objeto recursal versa sobre a ocorrência de prescrição nos autos de ação monitória

proposta sob a égide do CPC/1973, quando não realizada a citação válida.

Com efeito, pontuo - conforme disposta na sentença - que o contrato de abertura de

crédito em cobrança foi firmado e teve o seu vencimento durante a vigência do Código Civil

de 1916, ao passo que observada a regra de transição prevista no art. 2.028 do CC/2002, o

prazo prescricional é quinquenal, contado a partir da vigência do CC/2002.

Na espécie, o termo final do prazo prescricional ocorreu em 11/01/2008.

A ação monitória em questão foi ajuizada em 22/06/2006, sendo aplicável ao caso as

normas jurídicas contidas no art. 219, §§ 2º, 3º e 4º, do CPC/1973, que estabelecia: (i) que

apenas a citação válida tinha o condão de interromper a fluência do prazo prescricional; (ii)

que constituía dever do autor promover a citação do réu no prazo máximo de 90 (noventa) dias,

salvo demora imputável exclusivamente ao Poder Judiciário; (iii) e que a ausência de citação

no referido prazo máximo não interrompe a prescrição.

Art. 219. A citação válida torna prevento o juízo, induz litispendência


e faz litigiosa a coisa; e, ainda quando ordenada por juiz
incompetente, constitui em mora o devedor e interrompe a
prescrição.
§1º A interrupção da prescrição retroagirá à data da propositura da
ação.
§2º Incumbe à parte promover a citação do réu nos 10 (dez) dias
subseqüentes ao despacho que a ordenar, não ficando prejudicada
pela demora imputável exclusivamente ao serviço judiciário.
§3º Não sendo citado o réu, o juiz prorrogará o prazo até o máximo

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de 90 (noventa) dias.
§4º Não se efetuando a citação nos prazos mencionados nos
parágrafos antecedentes, haver-se-á por não interrompida a
prescrição.

Estabelecida as premissas acima, extrai-se dos autos que a conduta da parte apelante

não demonstrou a diligência que se espera da cooperação processual, deixando o processo sem

movimentação da parte interessada por longos lapsos temporais, não conseguindo efetivar a

citação da parte adversa.

Frise-se que a marcha processual restou prejudicado pelo próprio apelante, pois, após a

determinação do despacho citatório pelo Juízo da 13ª Vara Cível da Comarca da Capital,

requereu a redistribuição do feito para um das varas da fazenda pública (fls. 46/47), em razão

de alegado endereçamento equivocado pela própria parte.

Após a redistribuição para 6ª Vara da Fazenda Pública, foi expedido mandado de

citação (fl. 54) que, contudo restou frustrado, conforme certidão de oficial de justiça em

23/07/2007 (fl. 55).

Ao fim, o processo foi novamente redistribuído em razão de incompetência, em

09/11/2009, para a 8ª Vara dos Feitos de Relações de Consumo, Cíveis e Comerciais da mesma

comarca.

Nesta senda, a parte requereu a perquirição do endereço via INFOSEG e INFOJUD,

apenas em 19/11/2012, o que foi deferido, sendo encontrado novo endereço, sendo a parte

intimada (fl. 99) para se manifestar sobre a nova informação (fl. 100), mas nada o fez de forma

tempestiva ou diligente, vide certidão (fl. 102).

Apenas após intimada, novamente para se manifestar sob pena de extinção, a parte em

15/10/2014 (fl. 119) requereu a citação no novo endereço. Contudo, em que pese o último

requerimento, a demora e a inefetividade na citação da parte não pode ser imputada à máquina

judiciária, pois a conduta do apelante ao longo de todo o processo não se mostrou

razoavelmente diligente.
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Diante de todo esse contexto de desídia do apelante, evidente que a citação da parte

adversa não ocorreu por culpa da própria exequente, de sorte que a prescrição não restou

interrompida, nos exatos termos do art. 219, § 4º, do CPC/1973, aplicável ao caso. Portanto,

transcorrido integralmente o prazo preclusivo quinquenal, que findou em 11/01/20086,

acertada a sentença proferida pelo juízo a quo que decretou a prescrição da pretensão

executiva.

Nesta senda, o entendimento consolidado pelo STJ:

PROCESSUAL CIVIL E TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL.


PRESCRIÇÃO. CITAÇÃO. DEMORA NÃO IMPUTÁVEL AO
PODER JUDICIÁRIO. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DO
ENDEREÇO CORRETO DA EXECUTADA. ART. 219, § 4º,
CPC/2015. IRRETROATIVIDADE DA INTERRUPÇÃO DA
PRESCRIÇÃO PREVISTA NO § 1º. (...) 6. Dessume-se dos autos
que, entre a propositura da ação e a citação, decorreram mais de
5 anos por falta de indicação, pela recorrente, do endereço
correto do devedor. Nessa situação, não há como se imputar
responsabilidade pela demora ao Poder Judiciário. 7. De acordo
com o § 2º do art. 219 do CPC/1973, incumbe à parte promover a
citação do réu nos prazos legais. Não se efetuando a citação nos
referidos prazos, haver-se-á por não interrompida a prescrição (§
4º). 8. A hipótese se enquadra no § 4º do art. 219 do CPC/1973,
razão pela qual não se aplica à espécie a retroatividade prevista
no § 1º do mesmo dispositivo legal. 9. Recurso Especial não
provido. (REsp 1.690.513/MG, Rel. Min. HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, DJe 11/10/2017).

AGRAVO INTERNO NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


PROCESSUAL CIVIL. TÍTULO DE CRÉDITO. CHEQUE. AÇÃO
MONITÓRIA. CITAÇÃO REALIZADA APÓS O TRANSCURSO
DOS PRAZOS DOS §§ 2º E 3º DO ART. 219 DO CPC/1973.
INÉRCIA DA PARTE EXEQUENTE. NÃO INTERRUPÇÃO DA
PRESCRIÇÃO. REVISÃO DO ACÓRDÃO. SÚMULA 7/STJ.
AGRAVO NÃO PROVIDO. 1. Nos termos do art. 219, § 4º, do
CPC/1973, "não se efetuando a citação nos prazos mencionados

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nos parágrafos antecedentes, haverse-á por não interrompida a
prescrição", a qual somente se interrompe, com efeitos
retroativos à data da propositura da ação, quando verificada que
sua demora se deu por motivos inerentes ao mecanismo da
Justiça, nos termos da Súmula 106/STJ. 2. O Tribunal de origem
concluiu que, por inércia da parte exequente, os executados não
foram citados nos prazos do art. 219, §§ 2º e 3º, do CPC/1973, de
modo que a prescrição não foi interrompida. 3. A alteração do
entendimento firmado, no sentido de reconhecer que a demora na
citação decorreu de ato estranho aos exequentes, demandaria o
revolvimento do suporte fático-probatório dos autos, o que é vedado
pela Súmula 7/STJ. 4. Agravo interno a que se nega provimento.
(AgInt no AREsp 858.142/DF, Rel. Min. RAUL ARAÚJO,
QUARTA TURMA, DJe 30/09/2016).

Quanto à arguição de nulidade da sentença por ausência de intimação prévia da parte,

verifica-se que o apelante não afirmou nem comprovou em seu recurso de apelação a

existência de qualquer causa suspensiva ou interruptiva do prazo prescricional. Ou seja,

suscitou a nulidade por mero formalismo, sem demonstrar concretamente a existência de

qualquer prejuízo na decretação da prescrição, já que não houve qualquer causa suspensiva ou

interruptiva do fluxo prescricional, motivo pelo qual se impõe a rejeição do pleito de anulação

da sentença, com fundamento no princípio pas de nullité sans grief, previsto no art. 283,

parágrafo único, do CPC/2015 (equivalente ao art. 250, parágrafo único, do CPC/1973).

Em situação análoga, este Tribunal, em recente processo de relatoria da I. Desa. Pilar

Celia Tobio de Claro, decidiu no mesmo sentido:

APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL.


EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CÉDULA DE
CRÉDITO BANCÁRIO. PRAZO PRESCRICIONAL TRIENAL,
CONTADO DO VENCIMENTO ESTAMPADO
ORIGINARIAMENTE NO TÍTULO. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO
DO EXECUTADO IMPUTÁVEL EXCLUSIVAMENTE AO
EXEQUENTE. NÃO INTERRUPÇÃO DO PRAZO

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PRESCRICIONAL. INTELIGÊNCIA DO ART. 219, § 4º, DO
CPC/1973, APLICÁVEL AO CASO. PRESCRIÇÃO
DECRETADA SEM PRÉVIA OITIVA DO EXEQUENTE. PAS
DE NULLITÉ SANS GRIEF. EXEQUENTE QUE NÃO INDICA
NO APELO QUALQUER CAUSA SUSPENSIVA OU
INTERRUPTIVA DO FLUXO PRESCRICIONAL. RECURSO
DE APELAÇÃO NÃO PROVIDO. (Classe: Apelação,Número do
Processo: 0032296-97.2012.8.05.0080, Relator(a): Pilar Celia Tobio
de Claro, Primeira Câmara Cível, Publicado em: 25/09/2018).

Por fim, não há que se falar em prescrição intercorrente, pois a ação fora extinta pela

prescrição regular do título executivo cambial.

Conclusão

Ante o exposto, voto é no sentido de NEGAR PROVIMENTO ao recurso de

apelação, mantendo a sentença, com base nos fundamentos retro.

Publique-se. Intimem-se.

Salvador/BA, __ de _______________ de 2018.

Mauricio Kertzman Szporer


Relator

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