Você está na página 1de 11

AMUDANÇA NO PAPEL DA POLÍCIA: POLICIAMENTO

COMUNITÁRIO VERSUS POLICIAMENTO REPRESSIVO

0 que é "policiamento comunitário,, e o que, se há algo, é tão especial sobre ele?


P o ~ i 0 - - é um ~ -m: ·to pop~lar, _mas que tem múltiplas defini~
ções. A popularidade e a ambigü1dade desse conceito sao, ao mesmo tempo, uma bên-
ção e umâ maldiç_Th])oiado põsifivo, todO munclOp o d ~ 0 termo
(afinal de contas, quem pode se opor ao conceito de'{comun1daae":õuãõãe"mãe e 11

"torta de maçã", em,si?)e: assiTil,proporcio-nar o apoio popular-qlle é necessánõpara


engendrar a reforma policial a longo prazo. Pelo lado ~egativo, o conceito tem sido
usado e abusado pelos chefes de polícia e políticos que empregam tal termo nebuloso
para1ustifitar todo e qualque-rprogra·mr qué ·queiram. De fato, os programas devem
ser adaptaclos às circunstâncias locãis, mas -o rótulo de policiamento comunitário
pode produzir um "e~uréola'' ao redor deprogr~~as pref~ridos e impedir que os
r- - - -- - - -- ---
30
A MUDANÇA DO PAPEL DA POLtCI .
A . . ..

observadores de fora sejam capazes de distinguir entre as verd d . . _ .


. . . . _ _ a eiras movaçoes poli-
ciais e O pohc1amento trad1c1onal. A questao é se "policiamento . , . ,, =:
\...____ __,_..,....-;-- - - ---;::;-. comumtano na pra-
tica é inovaâor de fato, ou, como Bayley ( 1988) coloca simplesmente" t .
. , ou ra tentativa
de colocar vinho velho em garrafas novas,,? Além disso Goldstein ( 1993 ) .
_ -.--""'"" . . . , prevme que
a popularidade do conceito de pohc1amento comunitário aumenta as expectativas do
públicas e "cria a impressão que, de alguma forma, com a implementação, 0 policia-
mento comunitário proporcionará uma panacéia não apenas para O crime, a desor-
dem e as tensões raciais, mas para muitos outros problemas sérios que afetam as áreas
urbanas ' (p. 1).
Portanto, um dos desafios enfrentados hoje é apontar as características que per-
tencem ao policiamento comunitário e aquelas que não pertencem, e como distingui-
las no modelo atual. Esclarecer isto ajudará a estabelecer a base para uma discussão
crítica dos méritos e limitações deste movimento de reforma. Infelizmente, os estudio-
sos da justiça criminal e os administradores policiais ainda precisam articulàr uma
teoria completa que dê sustentação ao policiamento comunitário com todas as suas
suposições e implicações 2 • Essa imprecisão teórica tem contribuído para a crítica ao
policiamento comunitário por muitos pesquisadores de polícia (ver, por exemplo,
Klockars, 1988; Manning, 1988; Mastrofski, 1988).
Embora os problemas de definição sejam abundantes, seria errado dar a i~pres-
são de que este movimento de reforma é totalmente retórico e nada substancial, ou
que não existe consenso sobre quais são os elem~n~~s princip~is deste no~o modelo
. · E b policiamento comumtano tenha sido concretizado atra-
de po11ciamento. m ora O . . d
, . d d d ramas e práticas O conceito parece ter sido funda o or
ves de uma vane a e e prog :'___- ----=-~~-=--=--.---
. d · , ios e suposições (ver Ec & Spelman, 1987a;
um conJunto comum e nnci &
. . eene & Mastrofski, 1988; Leigh ton, 1991; McElroy, Cosgrove
oldstem, 1990, Gr b 1994 ., Skogan & Hartnett ) 1997;
& Muir 1984; Rosen aum,
Sadd, 1993; Murp hY ' . Toch & Grant, 1991; Trojanowicz &
. 1 1986· Sparrow et a1., 1990, .
Skolmck & Bay ey, ' tos comumente citados neste modelo mclu-
Bucqueroux, 1990) · Alguns dos e1emen
. d 't balho da polícia'; b) um reordenamento das
. - mais amp 1a e ra -
em: a) uma d e miçao fi . atenção ao crime "leve" e à desordem; c) um
. . ,-. 1' •a dando maior ..
pnondades da Pº ici ' bl as e nrevenção, mais do que no policiamento
1 ção de pro em r:.
enfoque n~ . d) 0 reconhecimento de que a "comunidade", qualquer que
. -- . - ..1 1nc1dente, ~ ~'.::::=-=-- ~;--=--=---;----;~ - ---;;-=---:-:=---;----=:..__-
~ d1rec10nauo ao
fi · - execu a u
t m papel crítico na solução dos problemas da vizinhança;
seja sua~ - ---

. do para desenvolver uma teoria completa sobre policiamento comunitário, mas trata-

i ...............,,.,-e.
- , lugar apropria . . d 1. . .
2. Este nao e O , h ve que têm sido negligencia as ou ma -interpretadas em discussões anteriores.
C OMO REC ONHECER UM BOM POLICIAMENT O

e e) o reconhecimento . de que -as-organizaçõe~


- - . . Jiciais
. devem
- ser reest ruturad
reorgamza as para serem res Ponsáveis - pelas rewmdicações
. .J . deste . novo
- - ~enfi0 que e pas e
encorajar um novo tipo -.- d-e comportamento
----: - pohc1a- , . .•Mais e mais estes . con celtas
. e sara -
._posições
_ - -~ :-:-::-::::-~
comuns .. - estão
- sen do traduzidos~ em - praticas
----comuns,
- tais --
como estruturli -
. . . descentralizadas, designações permanentes para a ronda~ ~ s
orgamzacionais . I - 6J- - -' s me.
-camsmos
. -de-par1·icip . ação comunitána _ _ e de reso uçao
. _:-:r:- ue pro __ emas, . novos pro -
gramas.
ae tremamen
. - - to, e revisão __ dÕs sistemas de avahaçao aa atuaçao policial - ent~ ta~nto a --..
- . , -:-,,

- ----
tendc!ncia deChãiiiãr 9 ;.-se tudo de "policiamento comumtano é tambéÍniiina p,;.
-- -- --------- ---------~
tica bastante difundida.
Para explorar algumas mudanças na polícia, o policiamento comunitário Pode
ser comparado ao modelo atual sobre as dimensões-chave da eficácia, eqüidade e efi.
ciência policial (Eck & Rosenbaum, 1994). O eú!>li~ esp:_r~ qu:.. a polícia seja eficaz
nos serviços 9ue e!~ fornece; que ofereça serviços de maneira eqüi~ ,.,,'
comunidade; e que faça!;,do eSforço para conseg"uifêjuê eStes serviçoS e1i<azes e )ii;:,
tos sejam fõrõecidõs a üm custo iníiiimo para a socieda"de (isto é, eficiência). o mÕãe-
loCle policiãriiento comuriitário ·vira os holofÕtes iiãrãafflcic!ncia-poticial-de uma
maneira que outros enfoques não fazem. Em conseqüência, este capítulo dará uma
atenção desproporcional à questão da eficácia. Além disso, em função das preocupa-
ções fiscais atuais no Canadá e nos Estados Unidos, este capítulo também dará aten-
ção considerável à eficiência policial.

A EFICÁCIA POLICIAL

Quando alguém pergunta se as polícias são "eficazes", o primeiro pensamento que


nos vem à cabeça é::: "eficaz ~ do o quê?" O papel apropriado da polícia! na socie-
dade tem sido uma matérili por muitos anos debatida, mas há poucas dúvidas de que
0
trabalho de controlar o crime é considerado como a prioridade maior da polícia
O
!ºb mod'ê!o tradicional (outras funções-chave incluem fornecer serviços de emer-
gênêia, ãciministrar a justiça através da prisão e oferec;~ uma cadeia de S<,fviços não-
emergenciais). Esse~ do~ tr-;aicionais us; dos-para combat~r o crime incluem de-
tenção (ªtravés de patrulha preventiva ou prisão), in capaci lação e reabilitação· Alguns
dos princip'ãlsestudõsiem questionado a eficácia dessas estratégias gera1sâe contro-
O
'a_r ou prevenir crime (Blumstein, Cohen & Nagin, 1978; Blumstein, Cohen, Rol~ &
1986
lisher, ; Sechrest, White & Brown, 1979). Além disso, a pesquisa sobreª pohCia
m particular não tem dado sustentação à hipótese de que patrulhas fortuitas, respos·
A MUDANÇA DO PAPEL DA POLICIA : . ..

tas rápidas e investigações posteriores - principais práticas do policiamento repressi-


vo_ produ~iri is pnsões e menos crimes, (Greenwood, Petersilia & Chaiken,
77; Kelling, Pate, Dieckeman & Brown, 1974b; Spelman & Brown, 1984). Entretan-
19
to, as polícias têm adotado completamente (e promovido através dos anos) a imagem
de •~batentes do crime•:, enquanto os contribuintes continuam reivindÍcar que 0
confrÕÍe do crime (via repressão) seja a principal fun ção da polícia:> "
As funções tradicionais da polícia, sob o modelo de policiamento comunitário,
não foram interrompidas; ao contrário, as prioridades têm sido rearranjadas para
dar uma atenção maior para algumas funções e menor para outras. Foram ainda
acrescentadas, sob o novo modelo, algumas funções adicionais à polícia. E, mais
importante, a maneira como essas funções são executadas é inteiramente diferente
no policiamento comunitário - um tópico que merece tratamento à parte, mai1/
adiante.
Na teoria do policiamento comunitário, o controle do crime, o atendimento de
emergência e a justi a - como concebidos traditionãlmente - recebem u -
menor, enquanto os serviços não-emergenciais recebem atenção mai~ . Essa modifi-·
cação nas prioridades tem sido justificada de vários modos. Primeiro, as funções ~e
controlar crime, atender emer ência e ·ustiça constituem uma ' e uena ro or ã
O
da demanda total pelo serviço policial, e assim, argumenta-se, não ~:vem ser o centro
· · f e do sistema de respostas da polícia. Em segundo lugar,
d a estrutura orgamzac1ona , . .
• • (', · d ) sugerem que as polícias não têm sido muito eficazes
pesqmsas antenores Jª cita as ___ . . . _ - ..
· I ar os problemas não-cnmma1s e nao-emergenc1a1s
nessas
_____ funções.
__,.,, Em terceiro - ug· freqüente
, ,,_
dos residentes , .
nas comunidades _
(Skogan,
representam a preocupaça<:_!!lais _
1990a; Skogan & Hartnett, . • I 997).
t azão para reorganizar . as pnondades
. . . ,
atnbmdas ,
as
A quarta e. mais convmcen , · tem e r a ver com a natureza da vida . urbana e as forças
funções das diferentes Pº1icias , io dos bairros. O modelo de policiamento•• comumtano· , ·
que contribuem O dec1m
----- . para
. ., t de policiamento .,. (por exemplo re d uzir · o cnme
· contl-·
nao- propoe- Ob1etivos
. .
dueren
.
es
. ai da polícia), mas, ao contrário, sugere qµe meios alterna-
nua a ser o,,--obJetivo
. pnncipb' t·vos .!,....--"
devem receber mais •
atençao- (
por exemp1o, estrategias
, · ~, ·
·
hvos de seª t'mg ir esses d o tras Je i funções po iciais). O problema da desordem nos bairros
indiretas
. - envolven o .oustrar como o mode1o ._.de po1·iciamento . . , . e, funda-
comumtano
1
po de se r usadod"' para i teu dos modelos anteriores de policiamento.. Espero que este
mentalmentebém ueren - •
ajude a futuras elaboraçoes e esclarecimentos sobre a teoria, para
exemplo, .tarn analistas possam d'istmguir
· · mais
· '1ac1·1 mente este enfoque dos anterio-
que pohticos e
operadores - em duvida
que estao , . sobre se o pohc1amento
. . comunitário não
res. Para os

33
A MUDANÇA IJ O PAPEL DA PO LICI A .....

·ados __-:-
J
a dirigir a esmo em suas rondas
-
até serem despachado s para um mc1
----
. 'd ente mas
ão se pede que eles procurem - ou lidem com eles _ por pad õ d . 'd__,__
n - . .- - - - _ _ r es e mc1 entes ou
"pontos
_-~ ditíce1ç~~ germam um problema persistente
----_.;~.....:..::.::.::..r
_.:.:.:'.'. '. ' no ba1rro.
• - -
Observando-se . o processo.de solução de problemas mais· de perto, - il ummam-se
.
as diferenças mais fundamentais entre o policiamento com um't'ano · e os mo de1ostra-

--=------=-:;=.:::....:.:~~:.
dicionais. A solução de problema não é um dado isolado . -: requer um ~rau eIeva do
de participação
., . da comunidade. Este fato nos leva ao cerne da- teona · do po1·1ciamento
· --
comumtano.

ENGAJAMENTO DA COMUNIDADE E PARCERIAS

Teoricamente, o papel da CQ!!!Unidade é esseo~I para o policiamento comunitá-


rio, da maneira como ele foi concebido, e constitui
r
o mais importante traço distintivo
deste novo enfoque. No cerne deste novo modelo de policiamento está a idéia, apoiada
empiricamente, de que a polícia não poderá ser bem sucedida sozinha na luta contra o
crime e deve contar com os recursos&rcomtmida-cl:~ litlaídemõâoe ficaz com os
probléni~ êlõ_Dairrõ.Talvez o maior erro na históri_a do policiamento moderno t~nha)'li'
sido dar a policia a responsabih a e e a responsabiliza ão /enas ela se uran a ubh-

-
ca. Com o aparecimento do policiamento comunitário, a ênfase agora se voltou para a
"co-produção" da segurança pública (Lavrakas, 1985; Murphy & Muir, 1984;
fo;nbaum, 1988; Wilson & Kelling:í982). Neste contexto, a segurança é vista como
uma mercadoria produzida pelos~ os conjuntos da polícia e da comunidade, tr! -
8
balhando juntas de maneira nunca prevista ou encorajada no passfilio •
A razão desta nova orierrtação deve ser esclarecida para aqueles que criticam o
papel da "comunidade" no policiamento comunitário. Se estamos interessados em
reduzir crime, a desordem, o medo de crime e outros fatores que depreciam a qua-
O
lidade da vida urbana, devemos estar atentos às descobertas das pesquisas (e experiên-
cias pessoais), pois nos relembram que os resultados dos crimes relatados são contro-
lados pelas forças econômicas e sociais na comunidade (para uma revisão, ver Bursik
& Grasmick, 1993).

s. Gostaria de observar que o policiamento comunitário nasceu nas cidades norte-americanas maiores porque as
comunidades minoritárias mostraram insatisfação com o tratamento não-receptivo e aparentemente injusto da
polícia. Nesses casos, o aparecimento do policiamento comunitário poderia ser visto como uma tentativa da po-
lícia de aumentar a confiança e estabelecer melhores relações com os bairros deteriorados junto ao centro das
cidades.

39
CO M O R ECO NHE C ER UM BOM P O LI C íAM E NT o

]. . Jacobs (196 J) descreveu essa realidade de maneira muito clara e


,rne . .. . .. . rn Seu tra
lh l,t .• ,·co The Death and Life of Great Amencan Ot,es I Vida e Morte d G ·
ba o c .. ss , as 'ªnd
Cidades Ameriamas . 1: ê'J

- A primeira coisa para se entender é que a paz pública das cidades - a paz nas cal d •
'
, nas ruas _ não é mantida pelas ,orças poJ'1C1a1s, . necessárias. t manrid,;
. . mesmo que e1as seJam ça t

l
em primeiro lugar, por uma rede intrincada e quase inconsciente de controles e padrões • ~
luntârios entre as próprias pessoas, e que elas próprias se encarregam de fazer com que sejam
10

cumpridos (pp. 31-32).

Essa perspectiva é radicalmente diferente daquela implicada pelo modelo con.


vencional de luta contra o crime. Ao contrário do ponto de vista amplamente aceito
de que os cidadãos são suplementares para a polícia ("olhos e ouvidos" na melhor das
hipóteses), a suposição aquj é que as polícias é que são suplementares para a comu-
nidade na luta com os problemas do bairro. Não estamos sugerindo que as policias
são irrelevantes e sem importância. Ao contrário, como os impostos para combater
0
crime nas ruas têm sido quase exclusivamente investidos na polícia, é incumbência da
polícia assumir um papel de liderança e servi~:._OI_!l_Q um c~ sador da muda~ -

brir _____________ -
...._modos criativos d~ C omunidack§ a ~e -ajudarem a si próprias9 • -- ----
munitária. Q~safiQ_para as polícias, no final d~ ~écu!~~ e no século XXI, é desco-

Para prevenir o crime, devemos primeiro entender as forças por trás do crime, no
nível de vizinhança. Um conjunto crescente de pesquisas fornece apoio à teoria da

--
desorganiza ão social, que deriva do trabalho clássico de Clifford Shaw e Henry
McKay (1942). De acordo com este mo elo restauraoo,ã atividade'<:rimi'flõsãê enco-
rajada quando um bairro está socialmente desorganizado, ou seja, é incapaz de exer-
cer controle social informal eficaz sobre seus residentes e atingir os objetivos comuns,
tais como reduzir a ameaça de crime (ver Bursik & Grasmick, J993; Byrne & Sampson,
1986) Ba · ·a1 d · · ·
· irros soc1 mente esorganizados são incapazes de criar e sustentalJ!}st1tu 1-
- 1 . --- ------ -
~oes oca,s. Em razão da mudança freqüente e da heterogeneidade da populaçJo, é
lfiiprovâvel que os ·d d . . , • s
outros e trabalhem res, entes
. esenvolvam relacwnamentos pnmanos uns com 0
. em con1unto para resolver os problemas do bairro.
Bairros não pr · il • d . .
1a) para terem ,v eegia os necessitam de uma intervenção de fora (em larga. esca-
. alguma . .
_ . sperança de melhorar o ambiente mas as opções d~
çao e aut~nza_ção do.cidadão dentro do bairro são inúm;ras. Os residentes locais po-
9. M~mo I agfocia policial 1 . d . .
-- ---------------
. u tc1onal, • ., era·
çao rotai dos mid,ntes loe.a · Pr«s1va , ,orçada a rttonh,"r qu, pouco ,la pod, furr ~m a coop
ts que ~rvern . . .
como testanunhos, informanr,s sobr, os incid,ntrs cnnuna1s.

40
A MUDANÇA DO PAPEL DA POLICIA: ...

dem efetuar diferentes ações para ajudar a prevenir o crime e a desordem (DuBow,
McCabe & Kaplan, 1979; Lab, 1988; Lavrakas, 1985; Lewis &Salen, 1986; Rosenbaum,
1988). Eles podem _s~ lver em sua proteção e de suas.famílias, de suas proprieda-
des e seu bairro através de ações coletivas ou individuais. Expandir o papel dos· cida-
dãos comuns nos esforços contra o crime tem sido recomendado por várias comis-
sões nacionais nos Estados U i l t ~ C1al do policiamento comunitário deve
le~r essas idéias para um nível mais alto - engajar a comunidade em maneiras expe-
rimentais de resolver os problemas do bairro. Os papéis-chave ara a comunidade são
clarõ"s~ onstrução da comumaade e reso u ão de roblema. )ti
Construção da Comunidade. Se as comunidades padecem de desorganização social,
deve-se tentar fortalecer os relacionamentos sociais e aumentar a afeição dos residentes
para com o bai_!!2:-.Çonvencer os residentes a trabalharem juntos para conseguir objeti-
vos comuns do bairro é um dos caminhos para estimular a interação social e construir
um relacionamento social. O envolvimento dos residentes da comunidade local em pro-
jetos contra o crime no bairro e projetos orientados aos jovens pode fortalécer os contro-
les sociais informais no nível do bairro e contribuir com o objetivo geral de criar comu-
nidades de auto-regulamentaçã~ Organizando os residentes locais e encoraj~ndo uma
int~ ação social mais freqüente, espera-se criar um ambiente social onde as pessoa~ se
tornem mais atentas ao território da vizinhança-isto é, aumentem a supervisão_em rela-
ção aos comportamentos suspeitos" ofereçam uma supervisão maior ao~ jovens locais e
demonstrem um desejo mais forte de intervir quando necessário para estancar ou deter
um comportamento anti-social. As possibilidades de en~olvimento são ilimita~as, em-
bora os resultados permaneçam incertos. É necessária uma experimentação contínua.
Neste aspecto, 0 que foi dito sobre envolver os cidadãos no P,oliciamento_comu-
nitário já superou a realidade. Por várias razões, a participação da comunidade no
policiamento comunitário tem sido limitada em muitas ci~ades (ver Sadd &
Grinc,1994). Em bairros altamente desorganizados e não-privilegiados, pode ser de-
mais esperar que os cidadãos individualmente ou organizações populares voluntárias
façam papel principal para interromper o crime, a atividade de drogas, a desordem,
O
exceto em espaços geográficos muito definidos. Entretanto, vou recorrer a uma defi-
nição mais ampla de "comunidade" e sugerir que a primeira tarefa a nosso alcance é
mobilizar as instituições e agê~ ~oc~ xistentes na vizinhança, tais como igrejas, )k
·escolas-e agênc~ço social (adiante há mais sobre este tópico). Teoricamente,
·a apli~a._ção c~ordenada e persistente de recursos ad~cionais ajudaria a aumentar 0
po~ s resiêle~ ocais at~avé~ d~~!!!P.º• se os recursos forem usados para refor-_
çar os comportamento_s in~ee.e~~nte§ e ~.!_lto.:regylame~~ dores.

41
COMO RECONHECER UM BOM POLICIAMENTO

Os papéis da polícia são ilimitados n~ rocesso~ nst ru ão da comunidade,


mas poucos desses papéissêãssemelhãm ao que era desempenhado no modelo tradi-
cional. Estamos nos referindo aos esforços para facilitar a cri~ç~o de bairro..tf_om ~ -
todefesa e auto-regulamentados. O novo ofici~_Eol~ciamento comunitário pode
tentar diferentes caminhos para alcançar estes objetivos, mas os objetivos principais
~ ) procurar a contrib~içã o-[ in/iütÍ ê aparticipãção dã êomunídaae na definição
/ ~ roblemas locais; b) trabalhar com a comunidade para desenvolver as soluçõe;------..
~ ropostas para esses problemas; e c) i<kntificar e mobiliZãr os recursos necessários -
ta'ilfu dentro como fora da comunidade - para responder com eficácia a esses proble- _
rma,. :Neste novo papel como agente facilitador, coordenador e referencial, o principal
objetivo do,___n_o_v~
o:. p. ...:o~Ii-c1..--
.a.,...l-;do- p~o-:-:li-ci';-"'a_m_e_n-to_ co_m
.:...-u-n-:-:it-;ár-:i~o-:é:-;f-io~
;- rt::--ai:le:-::c:-:-er::-:-
a "i:h::ai:'b:i
il?::
idi:a~di:e-:d;:a:-s- -
organizações, instituições e indivíduos locais em construir um ambiente físico e so-
cial que dê poucas oportunidades para o comportamento anti-social e criminoso. Isso
nos leva à segunda função da comunidade, função esta em que as agências policiais
progressivas têm feito inovações, a saber, a resolução de problemas atravé~
parcerias.
'~ ~ âa-Formação de Parceri_a3. Como foi sugerido acima,
uma das característica~ mais importantes do policiamento comunitário é o enfoque
sobre a resol~ esta orientaçã~_t_::1_:~mplica~~:.s <;_l~!:.?s na parti~ipa-
ção da comunidade. Como John Eck e eu observamos, "Idealmente, a resolução de
problemas necessita de um alto grau de engajamento da comunidade paiã1aenfíficar
os problemas,
...
desenvolver uma compreensão das circunstâncias particulares que de-
____ -------------
ram origem a eles, escolher os remédios preventivos e avaliar a eficácia desses remé-
__,_ ....., ______
díos"(Eck & Rosenbaum, 1994, p. 9). O pÕliciamento c-o·m-unitári~-~~b~~-~~primeira
mão, que os residentes de uma comunidade representam o papel principal na solução
dos problemas do bairro. Vimos como o °iiÕvopãperaapolícíâ énv~i~e·; bus~;p~las
informações [inputs] sobre os pro~le~ cais através de pesquisas de porta em por-
ta, encontros comunitários, análise das solicitações por serviços, e-outros dados deri-
vado~ das reaçõesdos cid ad-ª9S. - - - - - - ____ _,.
Os meios através dos quais se resolvem os problemas identificados são sempre
exdusi,vos do modelo de polici~ nto comunitário.: Freqüentemente, essas soluções
não envolvem a aplicação da lei criminal. As soluções podem ser tão simples como
chamar o departamento de saneamento para relatar um problema persistente de lixo
ou tão complexo como desenvolver programas de educação extensiva e treinamento
profissional para ós]ovens, a fim de evitar a violên_cia juvenil no bairro. Na universi-
dade, falamos bastante sobre uma ampla gama de medidas de "prevenção à situação

42
>
A MUDANÇA DO PAPEL DA POLICIA : .. .

de crime" que podem ser implementadas para reduzir as oportunidades dos crimes
(Clarke, 1992), e medidas "sociais de prevenção do cri~e" que podem ser desenvolvi-
das para atacar as raízes que causam o crime (Rosenbaum, 1988). De qualquer modo,
as opções são numerosas e a escolha apropriada dependerá de como o problema for
definido e quais recursos estarão disponíveis.
Além de uma menor dependência de sanções criminais para resolver problemas,
um outro traço distintivo e crítico do policiamento comunitário é o desenvolvim..,:nto r
de parcerias com outras instituições e agências para mobilizar recursos adicionais. _
Hoje, a formação de '2 j°rcerias--;;~ "coalizões" é uma das estratégias preferidas da enge-
nharia social que procura "fazer a diferença" nas comunidades urbanas. Da perspecti-
va da polícia, a formação e a utilização de parcerias entre agências rryresentam mu-
dança signifi~ativa no papel tradicional da polícia;!-sta atividade de co-produção não
ap enas reconhece as limitações dá põifciã
Cômo organização única de contenção e
dependência, mas enfatiza a impo; tância dos recursos da comunidade como elemen -
tos-chave num plano a rangente de controle do crime. _ . ,. , . ,
- -A t · b" - t , noção de parceria é digna de nota. A 1de1a bas1ca e que os
eona su 1acen e a . ,
.d _ muito comQlexos e é im_Eossível resolve-los atraves
problemas com que l1 amos sao _ _ -- - .
, . . -- - de definir com precisão o problema e fornecer
de uma umca orgamzaçao. O processo _ _ _ _ _ _ - , .
, _ '-:- oordenação e a aplicação de recursos de multi-
uma resposta requer, - efetivamente,ª
- • - c' ri.adas - tipicamente com o propos1to , . de desen-
p1as ',onte.s. por t an to, as parcenas sao c d b ntes (ver Cook & Roehl l 993;
. tégias coordena as a range ,
volver e implementa~ ~ tra _ R_ 11. 1992 . Klitzner, l 993; Prest by & Wandersman,
Florin, Chavis, Wandersman & ic ' '
1985). hado a formação de parcerias para combater a
Nos anos recen eS, t temos testemun t" •dade faz parte de um movimento mais am-
. . . b d drogas, e esta a iv1
v1olenc1a e o a uso e . ·t ' ias em resposta a uma larga gama de proble-
tratég1as comuni ar .
pio de desenvolveres d de avaliação promissores foram obtidos estudan-
. . plo resu 1ta os
mas soc1a1s. Por exem , ' d moção da saúde (Shea & Basch, 1990) e prevenção
. as areas e pro
do-se as parcerias n . Pentz et ai., 1989), em que pais, escolas, mídia
(Johnson et a1., 1990 •
do uso de drogas d se uniram para prevenir o aparecimento desses proble-
e outros agen tes de mu
. d ançastituto Nacional de Justiça, . meus colegas e eu recentemen -
O 1
mas. Com O subsidio ity n Responses to Drug Abuse Program IPrograma de Respos-
i
r mosoCommun
te ava 1ª .dade ao Abuso de Drogas I em nove cidades .
e descobrimos que
tas da. Comun1 Hciais e comunidade . d .,~ .
Pº em e_u:t.uramen.t.e..trabalhar com outras agên-
organwções1'º-oliciamento
-:- - como na .E!evenç_ao,...one.ntand_o
- . os .~ovens (Rosenbaum
:L_____ ,
.j

cias, tanto no P~ --:--:-- . . -


Lindsay & W1lkmson, 1994). D01s outros proJetos _ 0 proJ·eto de Recupera-
Bennet,t

43
\
._
....) '
"'-' ... .,_,,,
,_, J

,' '
,
. ,

:'
•·

.- t ..

~~-~·:.:i- . . . ,"-.
. vY,.~ ,fr ~t

•• il.
.
.,. t.
-
-~-

-:,,'. .,

ltl
-
\ I

:~J:'• .. · , ,• · í
~-,. .J ..,
"~ '~ - ·,..,.

\t
I" • --~

lf
1;
d•

. .i ,
\
1 l
:

. ,

•- • •• ·'i\• (
lt•tl 11 1-;P
!
•.-4.~ ,~ ~~--~
~;,. r,r.. ..,~ •/' I. - ~,:
, _.,· • 1 . FORO NEV - Nucl eode
~,:,~_i-l ·l •. . :,.. FOUNOATION Estudos da V1olênc1a-USP -
"' .. • J;
Título do original em inglês

How to Recognize Good Po/icing: Prob/ems and Jssues

Copy,ight © by Sag, Pubikatfon,, ln,. & Potice fuecu,;,e Rc,e hF


1• edição 2002
are o rurn (PEHFJ.
1• edição, 1• reimpressão 2012

Dado, lnt«n•don.;, d, Catalogação na Publicação (CIP)


(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Como R<conh,ce, um Bom Potidam,nto, Pcobl,mas , Tema,/ (o,.
ganizado por J Jean-Paul Brodeur; Tradução Ana Luísa Amêndola
Pinh,im. - l. <d. l. ceimp,. - São Paulo, Editom da Univ«,idad,
de São Paulo, 2012. (Série Poücia e Sociedade; 4)

Titulo original,
Vários autores How to Recogn1u Good Potiring, Problem, and lssues
Bibliografia
ISBN 978-85-314-0701- 7

1. Poücia -Administração - Avaliação 2. Poücia - Avaliação 3.


Policiamento Comunitário 4. Relações Polícia-comunidade I. Tí-
tulo. II. Série.

02-2018
CDD-363.2
1ndices para catálogo sistemático:
J. Policiamento: Avaliação: Problemas e Serviços Sociais
363.2

Direitos em língua portuguesa reservados à

Edusp - Editora da Universidade de São Paulo


Av. Corifeu de Azevedo Marques, 1975, térreo
05581-00 I - Butantã - São Paulo - SP - Brasil
Divisão Comercial: Tel. ( 11) 3091-4008 / 3091-4150
SAC (II) 3091-2911 -Fax (II) 3091-4151
www.edusp.com.br - e-mail: edusp@usp.br
Printed in Brazil 20 l 2

Foi feito o depósito legal

Você também pode gostar