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Anais do II Seminário Nacional

Movimentos Sociais, Participação e Democracia


25 a 27 de abril de 2007, UFSC, Florianópolis, Brasil
Núcleo de Pesquisa em Movimentos Sociais - NPMS
ISSN 1982-4602

DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO NOS CONSELHOS COMUNITÁRIOS DE


SEGURANÇA DE CURITIBA: UMA NOVA GESTÃO DA SEGURANÇA PÚBLICA?1

Bru no Zav ata ro *

RESUMO

Este artigo se destina a apresentar os resultados de pesquisa realizada no âmbito


dos Conselhos Comunitários de Segurança dos Bairros do Boqueirão, Guabirotuba e Tarumã
da cidade de Curitiba/PR, tendo por objetivo analisar o seu funcionamento a partir, sobretudo,
dos recursos existentes nestas instituições, sejam eles de natureza organizacional e
institucional, sejam eles de natureza individual e subjetiva. Com isso, foi possível avaliar o
quão efetivos são esses recursos no âmbito da dinâmica interna do processo decisório nas
políticas de segurança pública durante a gestão 2004/2006. Para este fim, adotamos como
procedimentos metodológicos a análise da documentação mantida junto à Coordenadoria
Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança, da Secretaria de Estado da Segurança
Pública do Paraná, a aplicação de questionários aos conselheiros, a análise das atas das
reuniões, bem como a sua observação participante.

PALAVRAS-CHAVE: Participação Política; Conselhos Comunitários; Segurança Pública.

INTRODUÇÃO

O período de redemocratização brasileira vai coincidir com a emergência de novos


movimentos sociais. Ao mesmo tempo, vai representar o aumento de demandas por uma
participação política mais ampliada, inclusive no que tange às políticas de segurança pública.
Trata-se de um novo paradigma de segurança pública, entendido como uma tendência de se
romper com a centralização político-administrativa que imperou no Brasil ao longo de todo o
século XX.
Se, de um lado, estes novos espaços que emergiram a partir do período de
redemocratização brasileira vão representar a revalorização do local enquanto espaço portador
de interesses gerais, o que a doutrina mais atualizada vai denominar de “interesse geral local”
(RANGEON, 2005), por outro lado, ainda se enfrenta o desafio de coadunar instituições
policiais historicamente autoritárias com estas novas demandas por participação política.

1
Este artigo, bem como o procedimento do trabalho, foi inspirado na pesquisa “Democracia e Políticas Sociais”,
disponível em Fuks, Perissionotto e Souza (2004). Agradeço particularmente ao professor Renato Perissinotto,
sem cuja orientação e apoio este trabalho não poderia ter sido realizado.

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Neste sentido, questiona-se a capacidade de estas instâncias participativas se erigirem como


verdadeiros atores sociais em prol do desenvolvimento da democracia e da co-gestão das
políticas de segurança pública no Brasil.

Com efeito, o período atual convive com uma forte descrença em relação às
instituições públicas e policiais, e o incentivo à participação comunitária tem o importante
condão de melhorar a percepção e o grau de confiança que as pessoas têm nos aparelhos
policiais, além de servir como instrumento de controle informal da atividade policial,
propondo assim soluções, cobrando resultados, culminando com a melhora do sentimento de
segurança subjetiva (acc ount abilit y e police over sig ht).
No Paraná, os primeiros Conselhos Comunitários de Segurança surgiram nas
cidades de Londrina no ano de 1982 e de Maringá no ano de 1983. Atualmente, existem 114
Consegs regulamentados e outros 40 em processo de regulamentação. Embora tenham surgido
na década de 80, somente no ano de 2003 foram objeto de regulamentação jurídica, resultando
na publicação do Decreto 2332, de 10 de dezembro de 2003 2. Este instrumento legal
estabeleceu os atores relevantes na lógica da participação política, como sendo: I) a diretoria
executiva dos Consegs; II) os membros natos, representados pelo delegado de polícia, titular
do distrito policial e pelo comandante da unidade policial militar que circunscrevem a área do
Conseg (arts. 15 e 16).
Este estudo se funda, portanto, em pesquisas conduzidas nos Conselhos
Comunitários de Curitiba dos bairros do Boqueirão, Guabirotuba e Tarumã, nas gestões
2004/2006, com o intuito de analisar a dinâmica política destes espaços de participação da
comunidade local nos assuntos que tocam a segurança pública, tendo por foco principal
analisar os recursos individuais e subjetivos dos conselheiros e os recursos organizacionais
dos Conselhos, visando, por fim, a compreender como eles acabam se manifestando no
processo decisório e na co-gestão da política de segurança pública no Estado do Paraná. Para
tanto, a pesquisa se dividiu na aplicação de questionário aos conselheiros, na análise das atas
ena observação participante das reuniões dos Consegs e na análise da documentação mantida
junto à Coordenadoria Estadual dos Conselhos Comunitários de Segurança da Secretaria

*
Bacharel em Direito e Ciências Sociais e Especialista em Sociologia Política pela Universidade Federal do
2
Para uma análise internacional de espaços comunitários de participação política no âmbito da segurança pública
ver, a título de exemplo, Chan (1997) para a Austrália, Guerrero (2006) para o Chile, Roché (1999 e 2005) para a

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Estadual da Segurança Pública do Estado do Paraná.

A aplicação das entrevistas foi dirigida à diretoria dos Conselhos de Segurança,


assim composta, conforme previsão do Decreto regulamentador: I - Presidente; II - Vice-
Presidente; III – 1º Secretário; IV – 2º. Secretário; V – 1º Tesoureiro; VI- 2º Tesoureiro.
Mesmo assim, em cada Conselho pudemos aplicar entrevistas a apenas cinco de seus
membros, num total de quinze conselheiros, já que muitas vezes o 2º Secretário divide suas
funções com o 1º Secretário. São estes, na realidade, os atores da sociedade civil relevantes na
lógica da participação política, que conduzem a dinâmica interna dos Consegs.
Tendo em vista se tratar de Conselhos Comunitários de Segurança, cuja
participação se faz a partir do voluntariado3 e da formação da sua diretoria através de uma
disputa eleitoral composta por chapas previamente inscritas, não estamos diante de atores da
sociedade civil com interesses díspares e conflitantes. Ao contrário, no âmbito de cada
diretoria dos Consegs, há o predomínio do papel do Presidente e, se há algum conflito, este se
faz principalmente face aos membros natos (representantes da polícia).
O objetivo da pesquisa foi investigar o peso da sociedade civil na definição das
políticas de segurança pública, ou seja, verificar até que ponto havia co-gestão no
planejamento financeiro e nas estratégias operacionais da polícia.

RECURSOS INDIVIDUAIS

Este tópico se dedica a analisar os atores da sociedade civil, conselheiros dos


Consegs, a partir de um olhar voltado para seus perfis sócio-econômico e escolar, tendo assim
por preocupação central perceber quem eles são e qual lugar ocupam nos espaços social e
simbólico. Tal abordagem se faz necessária posto que permite saber até que ponto os
Conselhos Comunitários de Segurança Pública são apropriados por uma única camada social
ou se, ao contrário, são espaços ocupados por vários setores sociais.

Com efeito, verifica-se que 80% dos conselheiros têm mais de 40 anos de idade,

França, Skogan e Steiner (2004) e Skogan e Hartnett (1997) para a cidade de Chicago, EUA.
3
As motivações para a participação são as mais diversas, desde interesses econômicos do bairro até o
engajamento por melhorias de segurança. Foi o caso de uma conselheira entrevistada que se engajou em um
Conseg após procurar a prefeitura de Curitiba para resolver um problema num campo de futebol próximo a sua
casa, que nos fins de semana era espaço para bagunças e uso de drogas, e constatar que encontrava resistência
por não representar nenhuma entidade ou associação de bairro.

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sendo muito pouca a participação de jovens nos Conselhos Comunitários de Segurança. Do


total pesquisado, chama atenção o fato de que 60% dos conselheiros são mulheres e de que no
Conseg/Boqueirão a Presidência é exercida por uma mulher4. Dos conselheiros, mais da
metade (53,4%) de seus membros é de pessoas cujo estado civil é casado ou que convive em
união estável. Desse modo, da correlação entre pessoas jovens e solteiras, percebe-se que é
uma minoria que participa dos Conselhos de Segurança.
Relativamente ao ramo de atividade profissional dos conselheiros, percebe-se um
predomínio daqueles que se inserem no serviço público, seja na qualidade de servidor da
ativa, seja na de servidor inativo, atingindo assim 60 % dos seus membros.
Mais significativos ainda são os níveis de renda e escolaridade dos conselheiros e
que, in fin e, denotam bem o perfil de “elite” dos Conselhos Comunitários de Segurança
pesquisados. Através destes dados, verifica-se que os membros da gestão 2004/2006 dos
Consegs analisados se enquadram no que se denomina classe média, que percebe uma
remuneração acima da média nacional, não sendo, desse modo, um espaço de
representatividade dos diversos setores sociais existentes num mesmo bairro e localidade.
Observa-se que do total de membros pesquisados, 67,7 % percebem uma remuneração acima
de 6 salários mínimos, do que se pode concluir que os Consegs representam um espaço
apropriado por uma determinada classe social sob o ponto de vista econômico. No que
concerne à escolaridade, não se verificam alterações substanciais, haja vista que um total de
53,3% conselheiros é titular de um diploma de curso superior ou de pós-graduação completos.
Mas para se pensar nos conselheiros como atores conscientes e relevantes,
necessário se faz que eles sejam dotados de motivações para a participação política, as quais
se traduzem muitas vezes no aprendizado político adquirido ao longo da vida, incluindo a fase
adulta, implicando, em última rat io, na percepção que este ator vai ter de si mesmo, dos
instrumentos e do papel que pode desempenhar no processo decisório.

RECURSOS SUBJETIVOS

4
É interessante notar que as mulheres têm, cada vez mais, assumido uma postura ativa nas políticas de segurança
pública e nos postos-chave das instituições policiais, rompendo, com isso, padrões históricos em um ambiente
que até bem recentemente era dominado exclusivamente por homens.

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No que tange ao associativismo em outras organizações coletivas – uma das vias


pelas quais se dá o engajamento político e a socialização política participativa – percebe-se
pela tabela 1 que entre os conselheiros não há uniformidade. Dos dados obtidos, é
significativo o fato de que, entre os conselheiros entrevistados, todos participam de pelo
menos uma associação, sendo comum a participação em mais de uma concomitantemente.
Isto sugere, na linha dos teóricos da democracia participativa (PATEMAN, 1992), que a
participação em si gera o processo de participação, razão pela qual é perfeitamente passível a
cumulação de participações em instâncias diferentes.

Tabela 1 – Participação em outras associações


Participação Participação Participação
Participação
Participação Participação em em em
em outras
em ONGs em sindicatos movimentos associação associações
associações
religiosos de bairro profissionais

Sim 2 2 3 12 5 9
Não 13 13 11 3 9 5
NR 1 1 1
Total 15 15 15 15 15 15

Neste contexto, o maior número de respostas positivas foi encontrado com relação
às associações de bairro (80%). Por outro lado, o mesmo não se pode dizer no que concerne à
participação, por parte dos conselheiros entrevistados, em partidos políticos, a qual atinge tão-
somente 13,4 % de seus membros, sendo um conselheiro filiado ao PT e outro ao PMDB.
Pelos dados acima, percebe-se que os atores da sociedade civil analisados possuem
uma vida altamente associativa, com um comportamento político participativo em relação a
outras instâncias alheias aos Conselhos Comunitários de Segurança. Com efeito, chama a
atenção que, entre os entrevistados, o ativismo político não se manifesta pela forma
tradicional de participação político-partidária, mas ao contrário, seu engajamento político se
manifesta mais em instâncias locais como igrejas, associações comerciais, clubes, associação
de moradores etc.
Partindo do pressuposto de que há importante participação política dos
conselheiros, importava analisar a qualidade da participação que, no mais, deve ser
reforçadapela busca constante de informação política nos meios de comunicação. Assim é
que, perguntados sobre o modo de informação política, verifica-se que 66,7 % dos
conselheiros buscam informação através de mais de uma fonte (jornal impresso, televisão,

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rádio, internet revista e livros), ao passo que 20% dos conselheiros têm o hábito da leitura
como fonte exclusiva de informação e apenas 13,3 % recorrem exclusivamente à televisão.
Ao mesmo tempo, a freqüência com que se dá a busca da informação política é um
dado que não pode ser desprezado na análise do comportamento político dos atores da
sociedade civil. Verificou-se que 93,3% dos membros dos Consegs se informam com uma
freqüência diária através dos canais acima descritos.
Assim, sob o ponto de vista dos recursos subjetivos, os membros dos Conselhos
Comunitários de Segurança pesquisados apresentam comportamento político associativo e se
caracterizam pela busca constante e freqüente de informação política, de modo que é possível
afirmar, nesta ótica, o engajamento político dos conselheiros em comento.
Todavia, resta saber se este comportamento político resulta numa atitude positiva
em relação ao sentimento de competência política que os conselheiros têm de si mesmos,
enquanto atores que se percebem como capazes de influenciar a política. Neste sentido,
perguntado se o conselheiro se via como alguém capaz de influenciar a política, a maioria
(53,3%) se via como sujeito capaz de fazê-lo. Mesmo assim, chama a atenção o dado de que
40% dos conselheiros não se percebiam como tais (Tabela 2).

Ta bela 2 – Au to -perc epçã o polí ti ca

Freqüência %

Sim 8 53,3
Não 6 40,0
NR 1 6,7
Total 15 100,0

Com efeito, trata-se de consagrar o desempenho político não às instituições formais e


representativas do sistema político, mas ao papel que os cidadãos podem exercer, no sentido
de agir face às instituições formais, deslocando assim padrões de autoridade existentes. Para
tanto, o comportamento e as percepções que estes agentes têm de si mesmos se revelam
variáveis imprescindíveis. A crença de si como agente capaz, por fim, pode não representar
uma atitude concreta frente ao sistema político e às decisões governamentais, mas significa
por si só a possibilidade de que a vontade e a auto-avaliação sejam a passagem ao ato
(ALMOND e VERBA, 1965, p. 139).
Assim sendo, a percepção que cada ator tem de sua própria competência política
pode afetar seu comportamento político, fazendo com que ele seja, ao mesmo tempo, mais

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engajado nos assuntos públicos e mais capaz de deliberar e de exercer o controle social do
sistema político, incluindo no nosso estudo as decisões nas políticas de segurança pública.
Complementando os dados acima, perguntamos aos conselheiros, a fim de saber se
o senso de competência política se traduz, no final das contas, num comportamento político
ativo, se eles acompanhavam as propostas e encaminhamentos dirigidos aos representantes
estatais. É sugestivo o fato de que 60% dos conselheiros afirmaram acompanhar o desenrolar
dos encaminhamentos propostos aos representantes governamentais.
O mesmo, contudo, não se pode dizer quanto à percepção que os conselheiros têm
do comportamento dos agentes estatais, o que pode minar o esforço de participação e a
própria sobrevivência destes espaços participativos. Perguntando, neste caso, se o conselheiro
encontrava resistência por parte dos representantes estatais nas propostas elaboradas pelo
Conselho, 60% dos entrevistados responderam que sim. Tal situação é devida, em parte, à
cultura organizacional existente no âmbito das instituições estatais, principalmente das
instituições policiais (SPARROW, MOORE e KENNEDY, 1990).
Uma das formas para que os atores da sociedade civil possam desempenhar,
conjuntamente com o Estado, um papel importante no planejamento estratégico das ações da
polícia e na co-gestão da segurança pública, se dá pela via do conhecimento das ocorrências
criminais do bairro objeto da circunscrição dos Consegs. Entretanto, não é o que se passa no
Estado do Paraná, onde 80% dos conselheiros pesquisados afirmaram não receber quaisquer
informações sobre o número, a natureza e os locais das ocorrências policiais e criminais no
bairro. Com efeito, parte-se do pressuposto de que a participação implica a busca constante de
informação e a participação em arenas decisórias de políticas públicas exige, do mesmo
modo, informações específicas nas áreas de atuação sobre os quais se delibera.
Como podemos ver, ainda há resistência por parte do Estado na participação pró-
ativa da sociedade civil, seja pelo viés da resistência às propostas formuladas pelos
Consegs,seja pela falta de informação e disponibilização das estatísticas de ocorrências
criminais nos bairros de Curitiba, o que inviabiliza, inclusive, a formulação de projetos de
prevenção por parte dos Consegs.
Mesmo que os dados apresentados neste momento sugiram um comportamento
político ativo dos conselheiros comunitários de segurança, pela participação em associações e
pela auto-avaliação política de si mesmo, a análise da dimensão axiológica se mostra

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importante, pois os valores que detêm os conselheiros acabam por motivar e orientar a própria
participação política.
Com efeito, a análise do que os atores da sociedade civil acreditam sobre o respeito
aos direitos humanos, do que eles esperam da polícia de seu bairro, do grau de confiança no
sistema político brasileiro e das instituições policiais, enfim, dos seus valores sociais e
políticos e dos limites das mudanças que esperam, merece algumas linhas à parte de
considerações.
A fim de saber alguns aspectos dos seus valores sociais, perguntamos aos
conselheiros sua adesão ou não ao respeito aos direitos humanos. A maioria, 66,7%, se diz
favorável. Esses dados se mostram importantes, pois permitem avaliar até que ponto a adesão
aos valores democráticos se manifesta em questões práticas.
O mesmo percentual de 66,7% é encontrado quando perguntamos aos conselheiros
sua opinião a respeito da pena de morte, tema altamente controvertido na literatura brasileira,
mas que denota bem a adesão a valores humanitários ou autoritários. Neste caso, este
percentual corresponde àqueles que se dizem desfavoráveis à pena capital.
Os dados relativos ao respeito aos direitos humanos e à pena capital são
importantes, tendo em vista que demonstram os valores sociais dos conselheiros ao mesmo
tempo em que nos sugere o que os conselheiros esperam da atuação da polícia nos seus
bairros. Neste caso, uma instituição participativa, como é o caso dos Consegs, poderia ser
afetada por estes valores autoritários.
Neste sentido, perguntamos se os conselheiros tinham conhecimento da prática de
abusos policiais em seu bairro, sendo que 73,3% afirmaram que não. Se dos dados relativos
ao perfil socioeconômico dos conselheiros dos três Consegs analisados nesta pesquisa
concluímos que se trata de um perfil de “elite” – já que dotados de altos capitais econômico e
escolar – podemos supor que o desconhecimento da prática de abusos policiais por parte dos
conselheiros entrevistados se deve ao fato de que os Consegs ainda não se instituíram como
espaços representativos dos diversos setores sociais existentes no bairro, sobretudo daqueles
contra os quais a polícia geralmente exerce sua violência, ou seja, contra pessoas pobres,
jovens e negras5.

5
Mesmo assim, encontramos pela análise da documentação mantida junto à Coordenadoria Estadual dos
Conselhos Comunitários de Segurança da Secretaria de Estado da Segurança Pública do Paraná alguns registros

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Relativamente à avaliação da polícia, encontramos entre os conselheiros


pesquisados 46,7% que entendem que a polícia é ótima ou boa e os mesmos 46,7% que
entendem que a polícia é regular ou péssima.
Em seguida, perguntamos aos conselheiros sobre o grau de confiança na Polícia
Civil e na Polícia Militar. Pelos dados obtidos, verifica-se que há maior confiança na Polícia
Militar do que na Polícia Civil. Assim, entre aqueles que confiam muito ou apenas confiam na
Polícia Militar, encontramos a significativa porcentagem de 80%, ao passo que na Polícia
Civil a distribuição de freqüências nos mostrou que 46,7 % confiam nesta instituição, não
havendo nenhum conselheiro que confie muito.
A avaliação até certo ponto negativa das polícias em geral, já que 46,7% as vêem
como regulares ou péssimas parece, a um olhar mais desatento, contrastar com o alto grau de
confiança nas polícias, principalmente na Polícia Militar. Contudo, isso pode ser fruto da
maior aproximação dos conselheiros com os problemas cotidianos enfrentados pelos policiais,
como falta de recursos, de efetivo, entre outros.
Este grau de confiança que os atores da sociedade civil e conselheiros dos Consegs
têm nas instituições policiais não vai, contudo, refletir na mesma medida no grau de confiança
nas outras instituições democráticas. Como podemos observar pelos dados abaixo (Tabela 3),
nenhum conselheiro confia muito em nenhum dos três poderes, mas é ao Congresso Nacional
que se atribui o menor grau de confiança (86,7% dos que confiam pouco ou não confiam).

Tabela 3 – Grau de Confiança nos três Poderes


Grau de confiança no Grau de confiança no Grau de confiança no
Congresso Nacional Poder Executivo Poder Judiciário

% % %

e ofícios dos Consegs comunicando a prática de abusos policiais em seus bairros e denunciando alguns policiais.
Pela natureza mesma da denúncia, tal medida se dá freqüentemente através do envio de ofícios dirigidos à
Secretaria de Estado da Segurança Pública.

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Confia 1 6,7% 4 26,7% 7 46,7%


Confia pouco 6 40,0% 9 60,0% 5 33,3%
Não confia 7 46,7% 1 6,7% 2 13,3%
NR 1 6,7% 1 6,7% 1 6,7%
Total 15 100,0% 15 100,0% 15 100,0%

Após a análise dos recursos individuais e subjetivos dos conselheiros, dedicar-nos-


emos no próximo tópico à análise descritiva dos recursos organizacionais dos Conselhos,
deslocando assim o campo de abordagem dos personagens da sociedade civil para a entidade
participativa à qual estão vinculados e a qual representam.

RECURSOS ORGANIZACIONAIS DOS CONSEGS

Neste tópico, além dos recursos materiais, humanos e financeiros existentes nos
Consegs, abordaremos as estratégias utilizadas pelos conselheiros para angariar apoio de
outras instituições a fim de tornar suas entidades mais fortes do ponto de vista político.
No que concerne aos recursos financeiros, os Consegs estudados não recebem
recursos públicos para a implementação de projetos de prevenção nos bairros nos quais
atuam. Ao contrário, as formas de obtenção de recursos se fazem por intermédio do comércio
e do empresariado local que apóia estas instituições6 . Como nos relatou um conselheiro do
Conseg/Boqueirão: “O Estado não deu os meios; fica tudo por conta do cidadão. São os
membros da comunidade que têm que arcar com as despesas. Na sua missão [o Conseg] é
interessante, mas não tem como arcar com as despesas administrativas”.
Dos três Consegs pesquisados, apenas o Conseg do Guabirotuba possui sede
própria, mas mesmo assim se encontra desativada e sem infra-estrutura. Em todos eles, as
reuniões se dão em colégios públicos e privados, centros esportivos ou “ruas da cidadania”
existentes nos bairros.

Desmembrando os dados por Conseg, verificamos que entre os conselheiros do


Conseg/B oqueirão, todos declaram que sua entidade não possui telefone, fax, computador,
internet, veículo próprio ou qualquer um destes itens separadamente. Com relação aos outros

6
A lógica subjacente ao incentivo do Estado à criação de Conselhos Comunitários de Segurança, num ambiente
marcado pela reforma do Estado nos anos 90 e enxugamento da máquina pública, diz respeito à substituição do
investimento público em segurança pública pelo investimento privado, obtido junto ao empresariado local para
os consertos e manutenções de viaturas policiais, para a aquisição de matérias de expediente e reforma das
unidades policiais. Durante a realização da pesquisa encontramos diversos casos em que o poder público se

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dois Conselhos, 80% declaram não haver também qualquer destes itens acima nominados.
Disso resulta um alto custo pessoal da participação em espaços como estes, pois ela demanda,
muitas vezes, recursos próprios dos conselheiros para o exercício de suas atividades nestas
entidades.
Procuram os verificar, em seguida, se os poucos recursos materiais destas entidades
eram com pensados por recursos políticos porventura existentes. Neste caso, estávamos
interessados em saber se os Conselhos Comunitários de Segurança obtinham apoio de outras
entidades governamentais ou não-governamentais. Perguntamos, assim, aos conselheiros se o
Conseg ao qual pertenciam tinha o apoio de instituições não-estatais: 60% dos conselheiros
dos Consegs dos bairros do Guabirotuba e do Tarumã afirmaram ter sim o apoio de
instituições não-estatais, ao passo que este percentual caiu para 40% com relação ao
Conseg/Boqueirão. Trata-se, nesta hipótese, do apoio de associações comerciais, clubes e
igrejas do bairro onde se localiza o Conselho, destacando-se aqui o Rotary Club, Associação
Comercial do Bairro e o Lions Club, onde existem, e outros Conselhos apoiadores.
Quando analisamos a busca de apoio através do recurso a membros dos três
poderes e Ministério Público, verificamos que entre os membros do Conseg/Boqueirão, 60%
já recorreram alguma vez a membros do Poder Legislativo (federal, estadual ou municipal);
40% já recorreram alguma vez a membros do Poder Executivo (federal, estadual ou
municipal) e apenas 20% recorreram alguma vez a membros do Poder Judiciário ou ao
Ministério Público. No caso do Conseg/Guabirotuba, 80% disseram já ter recorrido alguma
vez a membros do Poder Legislativo e do Poder Executivo; 60% afirmaram já ter recorrido
alguma vez a membros do Ministério Público e 40% a membros do Poder Judiciário. Por fim,
no Conseg/Tarumã, apenas 20% declararam já ter recorrido alguma vez a membros do Poder
Legislativo, do Executivo e do Ministério Público e 40% afirmaram já ter recorrido a
membros do Poder Judiciário. Vemos assim, que a desigualdade entre os três Consegs
pesquisados vai se manifestar na busca por apoio vis -à- vis outras entidades e membros dos
três poderes e Ministério Público. Neste caso, parece ser o Conselho Comunitário do bairro do
Guabirotuba aquele que mais ativamente busca recursos políticos para sua entidade e aquele
que apresenta melhores condições em termos de recursos materiais. Chama a atenção também
o fato de que os três Conselhos estudados dizem contar com o apoio da Prefeitura Municipal

serviu da alocação de investimentos privados para o custeio das atividades da polícia.

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de Curitiba, através de seus administradores regionais.


O ponto relativo aos recursos dos conselheiros e das entidades em si se mostra
relevante na medida em que permite analisar o peso de cada ator e de cada conselho na arena
decisória. Neste aspecto, é importante analisar como os recursos disponíveis no âmbito dos
Conselhos Comunitários de Segurança vão se manifestar na dinâmica interna do processo
decisório.
Impõe-se, no entanto, saber até que ponto há deliberação, fruto de debates e de
discussões , muitas vezes permeada pelo conflito. Quais são os atores que se fazem presentes
nas reuniões e o que se discute nelas? Há co-gestão nas políticas de segurança pública? São
estas as questões que tentaremos responder a seguir.

O PROCESSO DECISÓRIO NO INTERIOR DOS CONSEGS

Pela análise das atas das reuniões dos Consegs, verifica-se que em 60,8% dos casos
é o Presidente quem dá início e protagoniza a reunião, seguido de 31,4% de casos em que não
há menção, pela leitura das atas, do ator que inicia os debates, mas que sugere, pela
freqüência com que encaminha a reunião e pela observação participante que empreendemos,
ser o Presidente. Somente em 7,8 % dos casos um outro conselheiro deu início às reuniões.
Verifica-se, ainda, que em apenas 41,2% das reuniões houve debates7, ao passo q ue
em 5 8,8% apenas um ator inicia a reunião e a conduz até seu término. Se analisarmos,
todavia, cada conselho separadamente, constatamos que entre os três Consegs pesquisados,
apenas o Conseg/Boqueirão apresenta alta porcentagem de debates, muito embora seja o
Conselho cuja gestão tenha perdurado por menos de 1 ano (Tabela 4).

Tabela 4 – Existência de debates

Bairros do
Boqueirão Gu abi ro tu ba Tarumã
ncia de E x i s t e s Existên de
debaência de debatcia debates
7
Entendemos que houve debate quando, pela análise da ata de reunião, mais de um ator toma a palavra, mesmo
que seja sem discordar de algum aspecto levantado anteriormente. Isso, entretanto, não significa que não tenha
havido intervenção de outros atores, mas tão-somente que pela análise formal da ata não há qualquer referência a
este aspecto.

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% % %
Sim 8 , 9 7 8 6 ,0
Não 1 11,1 15 8 68,2 14 70,0
Total 9 00,0 22 1 20 00,0
1

Isso se torna relevante na medida em que permite saber se as reuniões dos Consegs
são permeadas pela discussão em torno de assuntos previamente acordados ou surgidos
durante sua realização e, para tanto, necessário se faz que seja um espaço de deliberação.
Seria, então, o caso de saber se as reuniões dos Consegs eram predominantemente
marcadas pelo consenso e pela harmonia ou se, ao contrário, conflitos estiveram presentes.
Neste aspecto, estávamos interessados em saber e quantificar até que ponto houve contestação
no âmbito das reuniões8. Pela quantificação dos dados, somente em 7,8% das reuniões (quatro
registros) houve efetivamente a existência de contestação. Isso demonstra que as gestões 2
004/2006 pesquisadas foram marcadas por um espírito de harmonia, sugerindo, no mais, que os
Consegs não foram espaços de interesses antagônicos dos diversos setores sociais do bairro,
mas que, talvez pela homogeneidade social, etária e econômica, um mesmo grupo com
interesses comuns dominou as gestões em tela. Quando desmembramos os dados por Conseg,
verificamos que novamente é no Conseg/Boqueirão onde é encontrado o maior número de
registros de contestação (22,2% dos casos), chegando a nenhum caso no Conseg/Guabirotuba
(tabela 5).
Tab ela 5 – Exi stê nci a de Con tes taç ão
Bairros do Cons eg
Boqu eirã o Gua birotuba Tarumã
Existência de Existência de Ex istência de
Contest ação Contest ação Contest ação

% % %
Sim 2 ,2% 2 2 %
2
Não 7 77,8% 22 100,0% 18 90,0%
Total 9 00,0% 22 1 20 00,0%
1

Como se trata de um espaço que tem como atores principais a sociedad e civil e
os represe ntantes da Polícia Civil e da Polícia Militar , a delibe ração em torno das polític as

8
Podemos dizer que uma reunião é marcada pela contestação quando após a fala de um ator, aquele que se
pronuncia posteriormente o faz sob um ponto de vista discordante. Tendo em vista se tratar de um espaço de
representação comunitária, a contestação sugere democracia, na medida em que interesses antagônicos são
representados e tutelados

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de seguran ça públic a soment e teria sentid o com a presen ça destes . Novame nte, este não
foi o caso dos Cons elho s pesq uisa dos cuj a pres ença de repr esen tant es da Polí cia
Mili tar no côm put o ger al foi de 27, 5% e da Pol íci a Civ il de ape nas 11, 8 % 9.
Por fim, cabe inda gar a resp eito do que se deli bera no inte rior dest es
espa ços.

Tab ela 6 – Pri nci pai s ass unt os de del ibe raç ão
Ass unt o %
Enc ami nha men tos 8,8 %
Fin anç as 8,8 %
Par tic ipa ção 9,8 %
Diagnó stico1 1,8 %
Eles içõ
de es
proint
bleern
masas no bai rro 5,9 %
Div ulg açã o das açõ es 9,8 %
Pro pos tas e pro jet os 18, 6%
Pre sta ção os nat os
Problemas dede contas
efetivodos e demviatura
e m b r 4policial
,9% 4,9 %
Con tro le soc ial 1,9 %
Out ros a s s e l e v â n c i a 1
unt os de men or r
Tot al 4 , 7 % 100 ,0%

Como podemos verificar, uma gama de assuntos é tratada no âmbito dos


Consegs,com destaque especial ao tempo dedicado em discussões em torno dos projetos e
propostas dos Conselhos Comunitários10 (18,6%).

Entretanto, é significativo o baixo percentual de encaminhamentos por parte dos


Conselhos, os quais em sua grande maioria se destinavam aos representantes da Prefeitura
Municipal de Curitiba e não à Secretaria de Segurança Pública, e o baixo percentual de
prestações de contas e controle social exercido pelos Conselhos face aos membros natos.
Mesmo assim, perguntamos aos conselheiros suas percepções sobre a atuação dos
Conselhos ao quais pertencem e se esta era vista por eles como atuante. Neste caso, 86,7%

9
Esses dados sugerem que talvez seja por esta razão que a Polícia Civil não possui o mesmo grau de confiança
obtido pela Polícia Militar por parte dos Conselheiros pesquisados. Cumpre assinalar que em razão da
distribuição geográfica e administrativa das Delegacias de Polícia e Companhias da Polícia Militar, as polícias
são responsáveis por mais de um bairro e, conseqüentemente, por mais de um Conselho Comunitário de
Segurança. Desse ponto de vista, os custos da participação dos membros natos também são grandes se cada
unidade freqüentar todas as reuniões dos diversos Consegs dos quais fazem parte. Eis a razão pela qual se fala
em setorização geográfica para o bom funcionamento do policiamento comunitário.
10
Trata-se de projetos específicos de cada Conselho como, por exemplo, o projeto “Vizinho de Olho” do

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responderam que sim. Com isso, nas percepções destes atores, os Consegs são espaços
efetivos e atuantes. Mas de qual efetividade falamos?

CONCLUSÕES

Como pudemos observar, os Conselhos Comunitários, embora tenham um relativo


capital econômico, político e social, ainda apresentam um fraco desempenho no que tange ao
processo decisório em todos os seus aspectos.
As diferenças surgem quando desmembramos a análise a partir de cada Conselho
pe r se . Mesmo assim, verifica-se que os Conselhos diferem em termos de recursos, um tendo
mais recursos do que o outro em certo aspecto e menos em outro, mas todos se assemelham
pela atuação limitada no planejamento da segurança pública face às instituições policiais, na
gestão conjunta dos recursos destinados à segurança pública e na análise dos resultados
alcançados por determinada política adotada ou pelo seu conjunto.
Pelos dados expostos, verificamos que ainda estamos longe de ver a sociedade civil
trabalhand o conjuntamente com o Estado para a resolução de seus problemas mútuos. Se, de
um lado, a qualidade dos atores da sociedade civil e os recursos dos quais dispõem são
imprescindíveis para a condução e institucionalização dos Conselhos Comunitários de
Segurança, de outro lado o Estado tem diante de si o desafio de romper com os padrões atuais
de atuação e, para tal fim, a abertura de espaços de participação política é o caminho a ser
seguido nos próximos anos. Contudo, para que os Conselhos não sofram o processo de
esvaziamento político, o Estado deverá perceber que a participação comunitária na gestão é
condição sin e qua non para a otimização das políticas de segurança pública, melhorando
assim a percepção e o grau de confiança nas instituições policiais e a sensação de segurança,
além de conduzir a atuação dos aparelhos policiais para a resolução dos problemas, focando
prioridades conjuntamente estabelecidas e planejadas.

A ausência de policiais nas reuniões é indicativa de que uma reforma


administrativa e geográfica deve ser levada a efeito no âmbito interno das corporações
policiais, visando com isso a adequar a proposta de policiamento comunitário à proposta de

Conseg/Guabirotuba e o proj eto “Vizinho Solidário” do Conseg/Boqueirão, entre outros.

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participação política comunitária, alterando-se, por conseqüência os padrões atuais de


policiamento, as práticas predominantemente repressivas e o modelo de policiamento pautado
na resposta às chamadas encaminhadas via rádio, até hoje vigentes. Mas para isso, é
imprescindível que reformas nos aparelhos policiais sejam realizadas e que o processo
decisório em políticas públicas de segurança seja descentralizado.
Embora o período democrático tenha acompanhado p ari pas su o surgimento de
Conselhos Comunitários de Segurança, percebe-se que ainda são frágeis os instrumentos de
efetiva participação e o pensar segurança pública permanece uma atribuição exclusiva de
operadores do sistema de justiça criminal.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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