Você está na página 1de 147

Livro Eletrônico

Aula 11

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)

Jean Vilbert
Jean Vilbert
Aula 11

Noções de
ECONOMIA
para o DIREITO

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

SUMÁRIO
1 Considerações INICIAIS ................................................................................................ 4
2 Economia: a ciência do MONEY ................................................................................... 5
3 Direito CIVIL ................................................................................................................. 7
3.1 Filosofia grega: quem é o DONO? ......................................................................... 7
3.2 As instituições IMPORTAM: Douglass North .............................................................. 9
3.3 DINHEIRO: compra tudo (só não felicidade)........................................................... 12
3.4 Rede SOCIAL também é CAPITAL .......................................................................... 14
4 Direito CONSTITUCIONAL ......................................................................................... 15
4.1 o INÍCIO de TUDO: Adam Smith .......................................................................... 16
4.2 A economia é um YO-YO: Jean-Charles Sismondi .................................................. 20
4.3 DESTRUIÇÃO criativa: Joseph Schumpeter ............................................................. 21
4.4 a FOME vai pegar: Thomas Malthus ...................................................................... 23
4.5 EFICIÊNCIA de (Vilfredo) Pareto ............................................................................ 25
4.6 Somando EFICIÊNCIA com EQUIDADE: Gérard Debreu ......................................... 27
4.7 Economia CENTRALIZADA? Nunca! Ludwig von Mises ............................................ 29
4.8 GASTOS públicos: John Maynard Keynes ............................................................... 32 2
4.9 O valor da LIBERDADE: Friedrich von Hayek .......................................................... 38
4.10 MONETARISMO: Milton Friedman ..................................................................... 42
4.11 Políticas CORRETIVAS podem tornas as coisas PIORES ......................................... 46
4.12 Misturando MERCADO com INTERVENÇÃO ....................................................... 47
5 Direito INTERNACIONAL ............................................................................................ 49
5.1 MERCANTILISMO: o que vale é “LA PLATA” ........................................................... 50
5.2 INFLAÇÃO: dinheiro demais na praça ................................................................... 54
5.3 Vai TODO mundo GANHAR: David Ricardo .......................................................... 55
5.4 Um DIA seremos RICOS: Robert Solow .................................................................. 59
5.5 GLOBALIZAÇÃO: Dani Rodrik .............................................................................. 60
5.6 Teoria da DEPENDÊNCIA: Andre Gunder Frank ..................................................... 62
6 Direito EMPRESARIAL .................................................................................................. 64
6.1 A necessidade de COMPETIÇÃO .......................................................................... 64
6.2 Teoria do valor-TRABALHO: Karl Marx ................................................................... 70
6.3 BOLHAS: o jogo do “pega-bobo” ......................................................................... 72
6.4 Sistema BANCÁRIO: Diamond e Dybvig ................................................................. 75
6.5 Teoria dos JOGOS: John Nash ............................................................................. 77

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

7 Direito do CONSUMIDOR .......................................................................................... 81


7.1 PREÇO: quanto se pode COBRAR por um bem? .................................................... 82
7.2 LUXO: Thorstein Veblen ........................................................................................ 85
7.3 Oferta e Demanda ............................................................................................... 86
7.4 MERCADO de incertezas: George Akerlof .............................................................. 87
7.5 ELASTICIDADE da demanda: Marshall e Engel ....................................................... 89
7.6 Custo de OPORTUNIDADE ................................................................................... 89
7.7 Homem IRRACIONAL: economia COMPORTAMENTAL .......................................... 92
8 Direito TRIBUTÁRIO .................................................................................................... 95
8.1 O dinheiro FLUI: François Quesnay ....................................................................... 95
8.2 CAPACIDADE contributiva: Anne-Robert-Jacques Turgot.......................................... 97
8.3 MENOS impostos MAIS arrecadação: Arthur Laffer ................................................. 99
9 Direito ADMINISTRATIVO .......................................................................................... 100
9.1 David Hume ...................................................................................................... 101
9.2 Empresas PÚBLICAS: János Kornai ...................................................................... 103
10 Direito AMBIENTAL ................................................................................................... 104
10.1
10.2
EXTERNALIDADES negativas: façamos os poluidores PAGAREM! ......................... 104
Quando o CRESCIMENTO econômico CUSTA ao meio ambiente? ..................... 106
3
10.3 Quando o MEIO AMBIENTE custa à ECONOMIA ............................................. 109
11 Direito ELEITORAL .................................................................................................... 110
11.1 PARODOXO da votação: Nicolas de Condorcet ................................................ 110
11.2 PARADOXO da independência: Maurice Allais .................................................. 111
12 CONCLUSÃO: Entre a POLÍTICA e a MATEMÁTICA ................................................... 112
13 Questões ................................................................................................................. 114
13.1 Questões SEM comentários.............................................................................. 114
13.2 Gabarito ........................................................................................................ 124
13.3 Questões COM comentários............................................................................ 125
14 Resumo ................................................................................................................... 140
15 Bibliografia .............................................................................................................. 145
16 Considerações Finais ................................................................................................ 145

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Por que cargas d’água alguém da área do Direito deveria estudar Economia?
Economia lá cai em concurso?!
Opa!
Deixe-me responder de forma objetiva: se você resolver algum dia fazer um
concurso da área fiscal ou do Instituto Rio Branco (diplomata), aí cai já na prova
objetiva, de maneira direta; já se você se mantiver nas áreas eminentemente
jurídicas (magistratura, MP, defensoria), o conteúdo é cobrado indiretamente.
Como? Dentro de direito constitucional, internacional, tributário, trabalhista,
ambiental, empresarial, administrativo... Disso, eu não tenho dúvida.
Ademais, se você quiser arrebentar na prova escrita (questões subjetivas) e na prova
oral, aí ECONOMIA É VIDA! Imagine que venha uma questão subjetiva ou oral 4
sobre o modelo de tributação adotado no país (a distribuição do ônus tributário) e
o candidato, além de citar a Revolução Francesa (História do Direito: origem
próxima do princípio da capacidade contributiva), cita ainda as ideias dos
economistas Anne-Robert-Jacques Turgot e François Quesnay, que deram as bases
teóricas para esse movimento jurídico. É responder e correr para a galera!!!

Por fim, a atuação profissional propriamente dita é muito enriquecida com esses
elementos inesperados. Conhecer economia, por exemplo, é entender como o
mundo à nossa volta funciona, de que maneira a política se movimenta e (não
sejamos ingênuos) por que o direito tomou este ou aquele rumo. A economia molda
a sociedade.

1
Que música!!! Confira só: https://www.youtube.com/watch?v=smlOI4YWn6M.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Por isso é que a organização deste conteúdo não segue a linha padrão (cronologia),
mas sim os pontos mais diretos de intersecção entre economia e direito. Nossa
pretensão aqui é desvendar a aplicação prática e diária da economia à seara
jurídica.
No decorrer da leitura, tenho certeza, juntar-se-á ao meu grupo: o dos apaixonados
por ECONOMIA!

2 ECONOMIA: A CIÊNCIA DO MONEY

Mercado... dinheiro... sabemos que economia tem algo a ver com produção e
consumo. Exato! Economia é o estudo do modelo de manejo dos recursos e, mais
especificamente, da produção e das trocas de bens e serviços.

O termo é cunhado com as palavras gregas oikos


(negócios domésticos) e nomos (lei) – regras para os
negócios domésticos (household management).
5
A palavra economia apareceu pela primeira vez na obra
do filósofo Xenofonte (431-360 a.C.), o tratado
Oikonomikos, que descrevia como empreender e
organizar com eficiência uma propriedade agrícola. O termo depois avançou para
englobar indivíduos, empregas, países e até mesmo todo o sistema mundial.

JOVEM CIÊNCIA

Como ciência, a economia é comparativamente nova em relação a outras ciências


– os primeiros economistas, reconhecidos como tal, só surgiriam no final no século
XVIII. Mas como objeto de pensamento (esse negócio de produzir e circular bens e
serviços), a economia é tão antiga quanto a civilização.
A economia é considerada uma Soft Science. O quer isso quer dizer? Ela se utiliza
bastante dos modelos da física e da matemática, mas, diferente dessas, é feita pela
mão do homem, dependendo da relação entre fins e meios escassos, os quais têm
usos alternativos. Os economistas tentam explicar não apenas como os modelos

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

funcionam, mas também sugerem como eles deveriam ser construídos e


melhorados.

A ECONOMIA DEPENDE DO DIREITO E O DIREITO DEPENDA DA...

Na atemporal obra-prima a “Teoria dos O que o pai da economia está a


Sentimentos Morais” (1759), Adam Smith dizer é que, além do comércio, a
afirmou que “a sociedade pode subsistir coisa mais importante para manter
sem a beneficência, embora não na
uma sociedade coesa é uma estrutura
situação mais confortável; porém, a
predominância da injustiça há de destruí- legal apropriada, ou seja, um
la completamente”. SISTEMA JURÍDICO JUSTO.

O economista americano Todd G Buchholz traz um retrato da Rússia pós- 6


comunismo. Os grandes chefes do regime sepultado se aproveitaram de suas
relações com o governo para privatizar os (tomar posse dos) grandes monopólios
públicos. A nova “democracia” tinha pouco mais que um lampejo de sistema
jurídico para lidar com essas questões. Os novos ricos de Moscou (que estavam
mais próximos de Al Capone de Chicago do que com os modernos magnatas)
passaram até mesmo a criar forças privadas de segurança. O presidente Boris
Yeltsin sequer conseguia descobrir como forçar esses sujeitos a pagar impostos!
Com o déficit público indo às alturas, o governo se obrigou a emprestar dinheiro
estrangeiro. Por volta de 1998 já era clara a lição: uma economia de mercado
depende imensamente do sistema legal.

Dito isso, agora podemos ingressar nos elementos de interligação entre esses dois
campos de estudo fundamentais à vida dos homens: economia e direito. Vamos
para cima dos elementos econômicos presentes nos ramos da ciência jurídica.
SIMBORA!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

3 DIREITO CIVIL

Direito civil é um ramo da ciência jurídica que trata dos interesses de ordem privada,
abordando as pessoas, os bens e as pertinentes relações. É ele que regula o que é
de cada um nas relações entre membros da sociedade.
E é por isso que seu campo de abrangência conta com elementos oriundos da
economia – definir “o que é de cada um” passa necessariamente por manejar
recursos escassos. E não é que a economia pode ser resumida justamente como a
“ciência dos recursos ESCASSOS”? Essa é a famosa definição de Lionel Robbins,
formulada em 1932.

Thomas Sowell completaria o raciocínio para incluir a


política. Se “a primeira lição da ECONOMIA é a escassez:
nunca há o suficiente de qualquer coisa para satisfazer a
todos que a queiram. A primeira lição da POLÍTICA é
desregular a primeira lição da economia”.
7
3.1 FILOSOFIA GREGA: QUEM É O DONO?

Os filósofos gregos foram os É claro que eles abordavam a economia como


primeiros a escrever com maior parte da filosofia moral, em vez de buscar
precisão sobre temas que explicar o modo como o sistema econômico
depois viriam a ser incluídos no funcionava – preferiam dizer como deveria
campo da economia. funcionar (viés normativo).

PLATÃO, em “A República”, por exemplo, descreveu um Estado ideal, no qual a


propriedade seria coletiva e o trabalho especializado seria voltado ao bem comum.
Já seu pupilo, ARISTÓTELES, saiu em defesa da propriedade privada.
Para o filósofo classificador (Aristóteles adorava classificar tudo que seus sentidos
podiam notar), há três formas de se organizar a propriedade: (1) tudo é de uso
comum e pode ser utilizado por qualquer um, como bem entender (organização

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

tribal); (2) a propriedade é de regrado uso coletivo (hoje chamaríamos de


comunismo); (3) a propriedade é privada (hoje chamaríamos de capitalismo).
Segundo o tutor de Alexandre o Grande (é... Aristóteles foi isso também), a
organização da propriedade no modelo coletivo traz três importante consequências:

▪ Há menos incentivos para os indivíduos


investirem, produzirem e realizarem trocas no
comércio, uma vez que os ganhos são
coletivizados.
▪ Há redução da responsabilidade pelo
cuidado das coisas, que podem se deteriorar
– se tudo é de todos, nada é de ninguém, e
as pessoas podem deixar de cuidar das
propriedades, além sempre esperar que o
outro vá trabalhar para manter a coisa
pública2.
▪ Há redução do grau de benevolência, porque
as pessoas não têm como ser generosas se
elas nada possuem para doar.

Mas CUIDADO! Na voz do filósofo: “é claramente


melhor que a propriedade seja privada, mas o seu uso
deve ser comum; e a função essencial do legislador é
justamente criar no homem esta disposição para a
benevolência”.

Ademais, Aristóteles era contra aquilo que chamava de pura e simples acumulação
de capital. Ele tinha uma visão negativa do comércio. Os mercadores, aos seus
olhos, eram desvalorizados moralmente, pois acumulavam imensa quantidade de
dinheiro “apenas” por meio da troca, sem “nada produzir”.

2
Esse contexto ficaria mais tarde conhecido como tragédia dos comuns. Eu publiquei um texto em que abordo o
tema paralelamente. Se quiser conferir: https://libertarianinstitute.org/economics/amazon-is-burning-its-about-time-
we-called-capitalism-for-help/. Só escrevi ele em ingreis (sorry)... e não se assuste com as ideias kkkk.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

E como eles faziam isso? Engajando-se nas trocas artificiais.

Aristóteles descreveu dois tipos de troca: NATURAL:


para atender às necessidades genuínas, sendo
bastante restrita, pois a quantidade de propriedade
necessária para uma boa vida é limitada;
ARTIFICIAL: troca de mercadorias unicamente por dinheiro – prática antiética.

Como você pode notar, o pensamento Aristotélico, também na seara econômica,


fincou raízes profundas. A iniciar pela propriedade privada flexibilizada em prol do
bem comum, com forte intervenção estatal (nada além do que defende a moderna
e tão difundida social democracia). Quanto à sua crítica aos comerciantes (ganham
sem produzir), seria explorada no futuro por Marx e seus seguidores. Em suma, as
ideias que acabamos de estudar encontram-se absolutamente VIVAS!

3.2 AS INSTITUIÇÕES IMPORTAM: DOUGLASS NORTH


9
Será que as instituições importam?
Pergunto isso porque muitos colegas meus são céticos quanto à capacidade de um
país se tornar rico ou pobre em razão das “políticas” adotadas.
Em parte, eu também já compartilhei essa ideia (seriam elementos não manejáveis
como a geografia, clima, cultura... os donos do jogo). Mas aí li o livro “Por que as
nações fracassam” e meu mundo virou de pernas pro ar! Hoje afirmo de boca cheia:
são as INSTITUIÇÕES que definem o sucesso ou o fracasso dos povos.
Então, por meio do estudo da economia, tomei ciência de que não apenas Daron
Acemoglu e James Robinson defendem essa ideia. Anteriormente, ela já havia sido
bem esposada pelo economista americano Douglass North (1920-2015).

Prêmio Nobel de Economia em 1993.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A título de exemplo, North ressaltou a importância do direito de propriedade. Ele


pesquisou sua emergência na Inglaterra, onde teria sido fixado em 1688, quando
a Coroa se tornou submetida ao Parlamento. Antes disso, o monarca podia
simplesmente expropriar quem quer que fosse. Quando os poderes reais foram
limitados, o custo das trocas comerciais despencou e os incentivos aumentaram. Os
pobres passaram a ter acesso a bens que antes apenas os ricos acessavam, outros
ramos da economia floresceram (embalados pela prosperidade comercial) e o final
você já conhece: a Inglaterra se tornou (e ainda é) um dos países mais ricos do
mundo.

10

(Ano: 2013 Banca: ESAF Órgão: MF Prova: ESAF - 2013 - MF - Especialista em Políticas
Públicas e Gestão Governamental) Segundo o ganhador do Prêmio Nobel de Economia
Douglass North, instituições são restrições que estruturam a interação entre pessoas. Assim,
podemos afirmar que:
a) não há qualquer relação entre a qualidade das instituições e a riqueza de um país.
b) a liberdade econômica, entendida como liberdade comercial, liberdade para se abrir novos
negócios e do cumprimento de contratos, entre outras coisas, deve ser tratada dentro dos
modelos econômicos e não pode ser confundida com o termo “Instituição".
c) o nível de educação da população de um país é condição suficiente para promover o seu
desenvolvimento.
d) boas entidades geram incentivos corretos e impulsionam o crescimento de uma nação.
e) a liberdade civil exclui os direitos políticos, pois se trata da relação entre indivíduos.
Comentários
Aí fica moleza, não é? “Boas entidades [instituições] geram incentivos corretos e impulsionam
o crescimento de uma nação (D). Logo, há total relação entre a qualidade das instituições e
a riqueza de um país (A). A liberdade econômica (liberdade comercial) deve ser vista como

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

uma “Instituição” (B). O nível de educação da população de um país NÃO é condição


suficiente para promover o seu desenvolvimento, pois se depende das instituições (C).
A alternativa correta é a D.

Mas se é tão óbvio que boas instituições abrem as portas do paraíso, por que não
adotamos logo essas instituições? Por TRÊS motivos:

CONFLITO sobre as instituições: definir quais são as instituições que levam à


prosperidade é sempre terreno extremamente polêmico. Por exemplo, enquanto os
liberais acreditam que liberdade econômica e direitos de propriedade permitem ao
povo em geral alcançar melhores condições de vida, os intervencionistas acreditam
que esse modelo impõe a exploração dos mais pobres, que são mantidos na
miséria. Ao cabo, quem ganha esse embate impõe suas instituições por meio do
direito – viu como o debate econômico acaba no jurídico?

TENSÃO política: há uma tensão que vive no coração das instituições: o Estado
garante ordem e, para isso, recebe uma certa gama de poderes. Só que são
justamente esses poderes que permitem ao Estado usar os recursos em seu próprio 11
benefício, e não da sociedade.

HERANÇA maldita: é certo que as instituições determinam o sucesso ou fracasso


das nações – elas criam a estrutura essencial da economia e do direito. O problema
é que reformar instituições não é NADA fácil – o passado deixa traços indeléveis no
presente. Vejamos o Brasil... estamos até hoje tentando nos livrar dos traços de
patrimonialismo herdado dos tempos de colônia portuguesa3.

É... quem disse que a vida é fácil?

3
Para saber mais, leia “Os donos do poder: formação do patronato brasileiro” (1958), de Raymundo Faoro. Ele
pesquisa as raízes de uma sociedade na qual o poder público é exercido (e usado) como se fosse privado.
Patrimonialismo é “aquela forma de dominação tradicional em que o soberano organiza o poder político de forma
análoga ao seu poder doméstico”.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

3.3 DINHEIRO: COMPRA TUDO (SÓ NÃO FELICIDADE)

Hoje em dia, utilizamos dinheiro (cartões ou internet banking) para tudo. Quando
vamos negociar alguma coisa em espécie (escambo) é uma confusão.

– Vendedor: eu te vendo meu carro, mas quero


aquele seu carro velho, a bicicleta e o papagaio.
– Comprador: NUNCA! O papagaio não tem
preço. Ofereço minha moto, o sofá da sala e o
filho menor, que só me incomoda.
– Vendedor: Desisto do papagaio se você me der
a geladeira, aquela jaqueta de couro maneira e
seu álbum completo de figurinhas da Copa.
Comprador: Hummm... preciso pensar...

É tão mais fácil trabalhar com DINHEIRO! Algo (notas, moedas, cifras digitais) que 12
tenha valor certo e conhecido por todos... algo que é aceito por todos e que vale
para trocar por outros produtos que queremos...
A história do dinheiro começa, ao que se sabe, por volta de 3000 a.C., na
Mesopotâmia. Ali se encontram os primeiros registros da utilização de uma moeda.
Qual seria ela? GRÃOS – algo que todo mundo aceitava para fins de troca.

Antes do dinheiro, para obter o que queriam (e não tinham) as pessoas eram
obrigadas a permutar. Não dava para apenas ir lá e comprar um bem ou serviço.
Tente imaginar: você cria porcos e está com dor de dente. Você vai ao dentista e
oferece carne de porco (um pernil inteiro). O dentista não aceita (ele não come
porco). Você é obrigado a ir a outro dentista, que aceita apenas se for o porco
inteiro (que assalto!). Sofrendo com a dor, você acaba aceitando. Extraído o dente,
o porco é entregue. E lá vai o dentista agora tentar trocar a carne de porco por bens
que ele precisa (leite, pão, manteiga) e contra o relógio – antes que a carne
estrague.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

O escambo é complexo porque depende de dupla coincidência de fatores: duas


pessoas têm de possuir, mutuamente, produtos que a outra quer e ambas devem
estar dispostas a trocar (arroz por trigo, feijão por milho), sendo que o entrevero
pode ainda ocorrer com relação à quantidade... É um pepino (que pode ser
trocador por um abacaxi).
Ainda bem que o dinheiro (ao menos neste aspecto) resolve TODOS os seus
problemas (aqui ele traz felicidade). O comprador não precisa mais achar alguém
que queira trocar um produto que ele tem, basta que ele tenha certa quantia em
dinheiro para comprar o que precisa, de qualquer vendedor, que, por sua vez, pode
guardar o dinheiro quanto tempo quiser (não estraga) para depois atender a suas
próprias necessidades.
Muitos entendem que civilizações mais complexas simplesmente não poderiam ter
surgido se não fosse a flexibilidade de troca que o dinheiro garante.

Bom, para avançarmos, posso dizer que há dois tipos de moeda: mercadoria
(commodity) e fiduciária (fiat).

MERCADORIA: a moeda-mercadoria possui valor intrínseco, isto é, valor para


além do que representa por simbolismo. As moedas mais antigas eram feitas de 13
metais precisos (ouro e prata).

As mais antigas conhecidas são da ilha grega de Egina, cunhadas no


século VI a.C. O modelo foi adotado no que hoje é a Turquia (forma
mais próxima da atual) e de lá se espalhou pelo mundo civilizado, da
Mesopotâmia à Persa, da Índia à China...

FIDUCIÁRIA: a moeda-fiduciária é aquela que não possui um valor em si


mesma, para além daquele que é assinalada pelo órgão emissor. O papel-moeda
(normalmente emitido pelos bancos nacionais) é exemplo vívido desse tipo de
moeda – que viria a dominar o mundo.
Muitos papéis-moeda eram inicialmente uma “promessa de pagamento” contra a
reserva de ouro do governo. Os dólares emitidos pelo Banco Central dos EUA (US
Federal Reserve) até 1971 podiam ser, em tese, trocados por ouro junto ao Banco
Central (Federal Reserve).
Uma vez que essa referência foi extinta (pelo presidente Richard Nixon em 1971,
sob conselho do economista Milton Friedman), o dólar passou a ser uma moeda
que depende unicamente da confiança que as pessoas possuem na estabilidade do

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

país emitente – modelo seguido no mundo todo e que pode ter resultados trágicos
se os governantes resolverem fazer gracinha, brincando de experimento social (vide
caso Venezuela).

O que é o dinheiro?
Em 1803 o economista francês Jean-Baptiste Say apresentou a clássica
visão de que a economia é basicamente um sistema de escambo no qual as
pessoas produzem bens, os quais são trocados por dinheiro, o qual é trocado por
outros bens que as pessoas querem. Logo, a troca real é bem por bem – o dinheiro
é apenas um lubrificante.

Para finalizar o tema, não poderia deixar de observar que moeda, já há séculos,
vem sendo sinônimo de governo. Só que que para além de algumas experiências
com moedas privadas (emitidas por grandes empresas), mais recentemente as
moedas digitais estão em evidência. O caso mais icônico porventura seja o do
BITCON, que virou inclusive alvo de investimento e, porventura, especulação.
Como será que essa história vai evoluir e acabar? Só o tempo dirá...
14
3.4 REDE SOCIAL TAMBÉM É CAPITAL

Para fins econômicos, capital é todo e qualquer bem que possa ser utilizado na
produção de outros bens ou serviços.
Não sem razão, a ideia restrita de capital, a englobar apenas dinheiro, valores,
bens, maquinário... não pode prevalecer. A noção do termo não mais deve ser
tomada de forma tão limitada (como se fazia antigamente). Hoje, tal definição deve
se ampliar, a ponto de englobar as habilidades da força laboral, isto é, o capital
humano.
Por quê? Ora essa, tanto quanto uma máquina inovadora, uma habilidade especial
de um trabalhador pode aumentar (e muito) a produtividade, o que, sem dúvidas,
agrega (e tem) valor.

ABRINDO PARÊNTESIS...
INCOMENSURÁVEL

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Claro que sempre tem um cabeçudo para discordar. O economista marxista


britânico Ben Fine critica a ideia de capital social. Ele vai naquela: não valorar
economicamente relações humanas – insiste em ver a economia como uma área
moral, como se o economista tivesse de ver as coisas como elas deveriam ser
(questão inclusive subjetiva), e não como elas SÃO (singela realidade).

Críticas à parte, em um mundo em que dados valem ouro (Google e Facebook que
o digam), a social network vale money!!!

Por isso digo: as interações entre pessoas no trabalho, na comunidade, no lazer


podem ser consideradas uma espécie de capital (capital social).
Quem é bem relacionado abre portas – grandes empresários jogam tênis ou golfe,
fazem hipismo... para ficar no meio da grã-finagem e haurir contatos. Tem gente
que não tem lá aquela competência técnica no trabalho, mas conhece todo mundo,
o que acaba tendo um impacto muito positivo em suas carreiras. Outras pessoas
utilizam esses contatos para obter conhecimento, compartilhar informações... 15
Ou seja: capital é muito mais do que verdinhas e maquinário.

Obviamente, haveria muito mais para falar sobre as interrelações entre Direito Civil
e Economia. Mas me contenho e paro por aqui. Falamos de propriedade, moeda e
capital. É o suficiente para que você tenha uma boa noção sobre os temas e
arrebente em prova acaso esses assuntos sejam cobrados. Podemos seguir adiante,
para a próxiam disciplina.

4 DIREITO CONSTITUCIONAL

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Quanta discussão vemos todos os dias na e sobre política (materializada pelo


direito)? Poucos assuntos são tão polêmicos como, por exemplo, a intervenção
estatal na economia (em nossas vidas) ou a ausência dela...
A maioria dessas questões macro estão atualmente concentradas na arena do
Direito Constitucional. É nesse pantanal que nos embrenharemos agora.

4.1 O INÍCIO DE TUDO: ADAM SMITH

Vamos falar agora de ninguém menos do que o criador da economia moderna:


Adam Smith e seu petardo “A riqueza das Nações” (1776).
Smith era um economista político: seus interesses iam desde antropologia, história,
filosofia, política... Com ele é que surgem autores que se focam inteiramente na
economia.

Adam Smith (1723-1790) é considerado o fundador da economia


moderna. Escocês de nascimento, perdeu o pai quando tinha 16
apenas 6 meses. Entrou na universidade aos 14 anos. Durante sua
vida, viajou pela Inglaterra e França e ficou amigo de outros
autores importantes, como David Hume4 e Voltaire. Dedicou 10
anos da sua vida a escrever “A riqueza das Nações”.

Vamos a partir de agora abordar alguns dos conceitos trabalhados nessa obra-
prima.

FLUXO CIRCULAR

4
O livro “The Infidel and the Professor: David Hume, Adam Smith, and the Friendship That Shaped Modern Thought”
(Dennis C. Rasmussen) retrata a frutífera amizade.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A economia é um fluxo em que o dinheiro pago nos salários circula ao pagar por
outros bens, que pagam outros salários... O processo se repte em um círculo, que
faz com que os recursos sejam alocados nos setores com maior demanda.

“A sociedade humana, quando


contemplada sob um viés um
tanto abstrato e filosófico,
apresenta-se como uma grande,
uma imensa máquina”.
NÃO há necessidade de
qualquer planejamento central
da economia (a máquina não
precisa de um operador), que se
regula muito bem (obrigado)
pela concorrência e pela busca
dos interesses pessoais (maiores
lucros e melhores salários).

MÃO INVISÍVEL 17

Como é que as ações de muitos indivíduos As pessoas não agem em busca do


(cada um querendo seu próprio bem, bem da sociedade, mas ao buscarem
preocupados apenas com seu interesse seus próprios interesses acabam
individual) não leva ao caos total? Opa! praticando o bem comum. Não há
Justamente o contrário, essa busca é que conflito entre o autointeresse e o bem
leva a uma ordem mercadológica, dentro social. Os homens são levados por
da qual as pessoas podem comprar e uma “mão invisível” a promover um fim
vender de maneira eficiente. que não faz parte de sua intenção.

Aristóteles já havia afirmado em 350 a.C. que o autointeresse é o motor da


economia. Smith aperfeiçoou essa ideia para estabelecer que o mercado é guiado
por uma mão invisível: ações racionais voltadas ao autointeresse acabam dando à
sociedade exatamente o que ela precisa.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A “mão invisível” explica, em uma tacada só: (a) como os


preços nos mercados são mantidos em equilíbrio (preço
natural); (b) como as recompensas para o trabalho, terra e
capital são distribuídas de modo justo; (c) como a oferta se
combina com a procura, guiando o mercado a produzir os bens
mais necessários (ou que as pessoas querem). Logo, o mercado
se autorregula, sem a necessidade de intervenção externa.

(Ano: 2016 Banca: INSTITUTO AOCP Órgão: EBSERH Prova: INSTITUTO AOCP - 2016 -
EBSERH) [...] Mas é só por seu próprio proveito que um homem emprega seu capital em apoio
da indústria; por tanto, sempre se esforçará em usar na indústria, cujo produto tenda a ser de
maior valor ou em trocar pela maior quantidade possível de dinheiro ou outros bens... Nisto
está, como em outros muitos casos, guiado por uma mão invisível para atingir um fim que
não fazia parte de sua intenção. E também não é o pior para a sociedade que isto seja assim.
Ao buscar seu próprio interesse, o homem com frequência favorece o da sociedade melhor
que quando realmente deseja o fazer [...]”. A citação apresentada expressa o funcionamento
18
do capitalismo (e a defesa do livre mercado) na concepção de
a) Michal Kalecki.
b) Karl Marx.
c) John Stuart Mill.
d) Adam Smith.
e) John Maynard Keynes.
Comentários
Fácil, fácil, não é? ADAM SMITH, o cara da mão invisível!
A alternativa correta é a D.

FÁBULAS DAS ABELHAS

Smith não foi o primeiro a falar sobre a existência de uma ordem espontânea. Essa
ideia foi exposta já em 1714 pelo escritor holandês Bernard Mandeville, em seu
fabuloso poema “A Fábula das Abelhas”, que conta a história de uma colmeia que
prosperava pelos “vícios” de suas abelhas (autointeresses). Quando as abelhas se

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

tornam virtuosas (não mais voltadas aos interesses individuais, mas sim tentando
agir pelo bem comum) a colmeia colapsa.

Embora Smith seja considerado inimigo pelos sociais


intervencionistas, ele faz uma série de concessões que seriam
depois criticadas pelos liberais.

SERVIÇOS PÚBLICOS: ele acreditava que alguns serviços precisam ser


publicizados, pois eram “monopólios naturais” (o mercado não funcionava bem
para eles), a exemplo das ferrovias e da iluminação das ruas.

COMBATE AOS MONOPÓLIOS: como defensor incondicional da


concorrência, defendia e existência de eventuais intervenções do governo no
combate à formação de monopólios.

EDUCAÇÃO PÚBLICA: Smith entendia que a riqueza provinha da divisão de


trabalho. Só que quem passa a vida trabalhando em uma única simples tarefa não
tem oportunidade de usar a mente e se torna tão estúpido e ignorante quanto é 19
possível alguém se tornar. A solução? Mais uma vez intervenção do Estado, agora
para prover educação a todos, especialmente os filhos dos pobres.

PREÇO JUSTO: nosso notório escocês acreditava na existência de um preço


“justo”, natural e moralmente correto, embora, nesse caso, a intervenção
governamental não fosse um modo de obtê-lo (a mão invisível fazia isso).

BUSCA DE FELICIDADE: Smith propunha seguir o caminho do progresso e da


riqueza, mas denunciava a busca desenfreada por riqueza, porque ela faz pouco
para “assegurar a verdadeira felicidade”. Segundo ele, “nós não apenas
confundimos os meios (riqueza e poder) com os fins (verdadeira felicidade) como
inadvertidamente sacrificamos os fins em prol dos meios”.

Está vendo? O pai do liberalismo nem era tão liberal assim kkkk.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

4.2 A ECONOMIA É UM YO-YO: JEAN-CHARLES SISMONDI

Karl Marx defendia que o desejo de lucros encorajava a


oferta, muitas vezes sem lastro na demanda, o que levaria à
produção excessiva, ao desperdício e à estagnação,
carregando a economia como um todo ao declínio. As crises
econômicas seriam resultado inevitável do desencontro entre
oferta e demanda gerado pelo sistema capitalista.

Os economistas já haviam percebido que a economia vive de ciclos compostos por


períodos de forte expansão (boom) e períodos de recessão (bust).
Jean-Charles Sismondi (1773-1842) adicionou pimenta no gizado. Ele buscou
demonstrar que as alterações do mercado independem de um evento externo, sendo
produto natural do excesso de produção e da queda do consumo.

Nos tempos de bonança (boom) as 20


empresas produzem mais para atender à
demanda. Para isso, contratam mais
empregados, que recebem mais dinheiro
e consomem, colocando combustível na
expansão da economia. Quando a
oferta ultrapassa a demanda, os preços
começam a cair, em vista da
competitividade (busca de ganhar o
mercado). Os lucros vão reduzindo e
alguns produtores caem fora, deixando
desempregados. Temos recessão.
Quando o preço atinge um patamar de
baixa suficiente a incentivar novos
produtores, o ciclo se inicia novamente.

Mercados em que os preços em alta sustentável são


chamados de bull market, enquanto os mercados com
os preços em queda são os bear market.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

O “Pânico de 1825” foi a primeira crise registrada como proveniente de causas


internas. Ela se iniciou pela especulação em torno de Poyais, um país fictício
inventado para atrair investimentos.

Entre 1821 e 1837, o soldado escocês Gregor MacGregor


convenceu britânicos e franceses a investir muito dinheiro
em um suposto país latino-americano do qual ele seria o
príncipe – uma nação moderna, com instituições sólidas,
economia forte e recursos naturais abundantes. Com sua
incrível lábia, o soldado negociou centenas de títulos do
governo inventado.
E não foi só isso! Para além de afanar as poupanças dos
coitados, ele trouxe 250 imigrantes para o meio da selva
intocada. Mais da metade ali morreria.

De onde esse cara tirou a ideia de um país sul-americano fictício?


Gregor MacGregor é considerado um dos maiores vigaristas da história. Após ficar
sabendo dos movimentos de independência na América do Sul, ele decidira fazer 21
parte das revoluções. Ao aportar por aqui, foi logo alçado a Coronel (por já ter
lutado pela Inglaterra contra Napoleão) e em seguida promovido a General,
quando já estava casado com uma prima de Simon Bolívar (o cara era ligeiro
demais). Acusado de fraude na Europa (chegou a ficar preso em Paris entre 1825
e 1826), retornou à Venezuela e se aposentou como General. Morreu em Caracas
aos 58 anos – enterrado com todas as honras militares.

4.3 DESTRUIÇÃO CRIATIVA: JOSEPH SCHUMPETER

Sismondi não foi o único a abordar essa temática dos ciclos


econômicos (seguindo a tradição já estabelecida desde Adam
Smith). O economista austríaco Joseph Schumpeter (1883-
1950) revolucionou a abordagem ao tratar o fenômeno como
algo inerente à economia e (surpreendentemente) positivo.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

O CHORO PELA INTERVENÇÃO

Quando uma crise econômica se abate sobre uma nação, levando a recessão,
desemprego e quebras, é esperado que haja uma forte demanda (gritaria) por
intervenção estatal – todo mundo quer que o governo dê um jeito de solucionar, ao
menos minorar, a crise... quer dizer, ao menos QUASE todo mundo.
Schumpeter (e seus seguidores) é uma exceção. Ele recomenda fazer o contrário:
NÃO agir! E olha que ele escreveu isso no auge da Grande Depressão (1930s).
Mas por quê? Por que agir é impedir a destruição criativa. A economia trabalha
com ciclos de maneira natural e benéfica, sendo prejudicial tentar interferir nesse
processo.

A DESTRUIÇÃO CRIATIVA

É pressuposto da econômica neoclássica que o mercado é atraído para um estado


de equilíbrio estável. Essa ideia tem base nas ideias de Adam Smith.
Ocorre que, em equilíbrio total, as forças competitivas empurrariam os lucros para 22
baixo (os competidores reduzem os preços para ganhar mercado) até a estaca zero.
A atividade econômica e os próprios investimentos estagnariam. Terrível, não?

Só que há um fator de desequilíbrio


nessa operação: o EMPREENDEDOR.
É ele que carrega a economia ao
lucro e aos ciclos econômicos
(elemento interno e característica
endógena da economia). Com suas
ideias inovadoras, o empreendedor
transforma o que está à sua volta e
cria prosperidade (novos mercados).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Eu fico imaginando Schumpeter lendo a Constituição brasileira vigente, artigo 7º,


inciso XVII, que prevê como direito dos trabalhadores urbanos e rurais a “proteção
em face da automação”5. What???!!!

O economista alemão Wener Sombart já A recessões são como o fogo na


havia defendido (1913) que a destruição
abria caminho para a criação, assim como
floresta, que limpa o velho e
a falta de madeira levou ao uso do carvão. abre espaço para o novo.

Se a riqueza para Adam Smith derivava dos ganhos de capital e para Marx vinha
da exploração dos trabalhadores, para Schumpeter ela vinha da INOVAÇÃO, que
cria novos mercados e faz a economia girar. Viva a inventividade!!!

4.4 A FOME VAI PEGAR: THOMAS MALTHUS 23

O que fazer quando a riqueza produzida por uma nação não é suficiente para
alimentar a população ou, hoje em dia, manter os benefícios sociais prometidos
(especialmente em nos locais em que prevalece o estado de bem-estar social)?
Alguns governos altamente interventistas (como a China) encontraram uma solução:
controle de natalidade! No Brasil, esse recurso seria inconstitucional: “o
planejamento familiar é livre decisão do casal [...] vedada qualquer forma coercitiva
por parte de instituições oficiais ou privadas” (CF, art. 226, § 7º).
Isso não nos impede de discutir a base teórica da questão, a qual se assenta, pelo
menos (há antecedentes), nas ideias de Thomas Malthus (1776-1834).

5
Claro que essa ideia não é original da CF/88 e nem se reduz a ela. O medo da inovação é algo comum e bastante
difundido. Tenho um humilde texto sobre o assunto. Se quiser conferir: https://fee.org/articles/technology-creates-
more-jobs-than-it-destroys/.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Malthus foi uma voz pessimista em meio ao otimismo iluminista do


século XVIII. Ele é conhecido por afirmar que o crescimento da
população, desacompanhado da oferta de comida, levaria a fome
generalizada (armadilha de Malthus). A solução? Ele propunha
extinguir as medidas assistencialistas existentes, o que levaria à
redução da natalidade, equilibrando a relação população-comida.

Segundo ele, quando a população não é controlada ela aumenta em proporção


geométrica (multiplicador = 2, 4, 8, 16, 32...) ao passo que a subsistência cresce
em razão aritmética (de forma linear = 1, 2, 3, 4, 5...), a consequência inevitável é
que os estoques de alimento são superados pela população, levando a doenças e
miséria.

Como visto, Malthus criticava as “leis dos pobres” (assistência pública), que, em sua
visão, não só mantinha as pessoas na miséria (mas vivas) como ainda as encorajava 24
a ter mais filhos.

Mar de ROSAS?
Dizem que o mundo atual é o âmbito da democracia e das liberdades.
Que bonitinho!!! Mas eu fico imaginando o Malthus a criticar abertamente (com
sua teoria realista ao extremo) o Bolsa Família – seria trucidado em praça pública.

Claro que já em sua época e nos anos seguintes, Malthus arrumou meia dúzia de
inimigos, que fizeram de tudo para lhe arranhar a reputação. Thomas Carlyle disse
que a teoria malthusiana era “ciência lúgubre” e o fofinho do Karl Marx (com seu
costumeiro modo afável de ser) acusou Malthus cometer “uma calúnia sobre a
espécie humana”.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Mas a verdade é que as previsões apocalípticas de


Malthus não se confirmaram. Por quê?
Erros de Malthus: (1) não avaliou a capacidade da
tecnologia de aumentar a produção (produzir muito
mais no mesmo espaço de terra); (2) desconsiderou
que com o enriquecimento, as taxas de natalidade até
sobem, mas a mortalidade infantil cai – com o tempo,
os ricos também passam a ter menos filhos.

4.5 EFICIÊNCIA DE (VILFREDO) PARETO

Vilfredo Pareto (1848-1923), economista italiano, baseou sua


teoria em um ranking de felicidade conhecido como utilidade
ordinal, rejeitando uma mensuração de felicidade absoluta
(utilidade cardinal). Para ele, cada um sabe de suas próprias
preferências e fará o que entende melhor para si.
25

Segundo Pareto, a questão é sempre permitir a cada um possa agir para seu próprio
bem sem lesar os outros, alcançando, assim, o que ficou conhecido por “eficiência
de Pareto”.

Tal eficiência se afasta da equidade. De modo


ilustrativo, se duas pessoas estiverem dividindo 10
pães, por Pareto uma poderá ficar com os DEZ pães
e a outra com ZERO pão que está tudo ok... Eficiente!

Como??? Então quando haveria ineficiência?


Imagine que estamos dividindo presunto e queijo entre João e Jean. João adora
queijo e odeia presunto; Jean odeia queijo e adora presunto. Uma divisão 50% de
presunto e queijo para cada um seria ineficiente – cada um receberia metade do
que odeia. A eficiência seria alcançada, por exemplo, se João ficasse com todo o
queijo e Jean com todo o presunto.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Pense em sua mãe e seu pai. Mamãe quer um jardim cheio de flores. Papai quer o
jardim cheio de vegetais. O jardim pode ser plantado com qualquer combinação
entre flores e vegetais, desde que se alcance a Fronteira de Pareto (eficiência). Logo,
os pontos B e C são eficientes; o ponto A é ineficiente.

(Ano: 2016 Banca: FCC Órgão:


AL-MS Prova: FCC - 2016 - AL-
MS – Economista - ADAPTADA) A
fronteira de possibilidades de
produção não pode ser usada
para ilustrar o conceito de ótimo
de Pareto.
Comentários
Podemos sim aplicar o paradigma
de eficiência (ou de ótimo) de
Pareto para explicar a quantidade
eficiente (ótima) de produção que
a firma deve produzir. 26
O item está INCORRETO.

Pareto, como se percebe, não se preocupa em juízos de valor, mas sim com uma
visão objetiva da economia (como ela é), afastando-se da economia normativa
(como as coisas deveriam ser).
As escolhas políticas, deveriam, seguindo essa ideia, buscar o padrão ótimo,
esquecendo de questões puramente subjetivas ou teóricas. Sabemos, contudo, que
na prática os governos raramente (ou nunca) conseguem se guiar pela eficiência.
Vejamos um exemplo.
O político, diplomata e economista Roberto Campos criticou duramente o texto
constitucional de 1998 (hoje tão louvado) já em seu nascedouro. Segundo ele,
durante a gravidez e parto da nova Constituição, os constituintes brincaram de
Deus: concederam imortalidade aos idosos; aboliram a pobreza por decreto;
legislaram custos, acreditando que legislavam benefícios. O resultado é um
“dicionário de utopias”, cujo teor socializante promete uma segurança social sueca
com recursos moçambicanos; um texto que remonta à Constituição portuguesa de
1976, da qual os lusitanos se arrependeram quando se deram conta de que haviam
sido cravados pela “revolução dos cravos” – a piada entre os lusitanos é que os

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

brasileiros colocaram na sua Constituição tudo o que os portugueses queriam tirar


da deles6.

Décadas depois, o que se tem é uma Constituição que entrega,


realmente, muito pouco do que promete – liberdade, igualdade,
segurança, educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia,
transporte, lazer...

4.6 SOMANDO EFICIÊNCIA COM EQUIDADE: GÉRARD DEBREU

Você ficou abismado com a indiferença de Vilfredo com a questão da equidade?


Bem, você não é @ únic@. O economista francês Gérard Debreu (1921-2004)
ganharia fama por buscar (e porventura conseguir encontrar) uma maneira de unir
eficiência e equidade.

Prêmio Nobel de Economia em 1983. 27

Para obter seu intento, Debreu propôs dois teoremas fundamentais da economia: o
da eficiência e o da equidade.

TEOREMA DA EFICIÊNCIA: a distribuição inicial dos recursos existentes (como


terras) gerará eficiência mesmo sem equidade, uma vez que é impossível aumentar
os recursos de um sem reduzir o de outros. A eficiência conclama algum grau de
desigualdade (aqui Pareto na veia).

6
O século esquisito. Rio de Janeiro: Topbooks, 1990, p. 198-210.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

TEOREMA DA EQUIDADE (welfare): busca-se resolver a questão ética deixada


de lado pela eficiência. Para obter uma alocação dos recursos que seja não apenas
eficiente, como também justa, o governo pode intervir para redistribuir recursos (via
cobrança de impostos, por exemplo).

No gráfico ao lado (caixa de


Edgeworth), a curva em amarelo
representa o que os economistas
chamam de curva do contrato
(distribuições possíveis dentro da
eficiência de Pareto). No ponto em
vermelho, Maria está levando uma
baita vantagem; no ponto em azul é
João quem está sendo privilegiado.
O ponto em verde é o equilíbrio entre
eficiência e equidade: os recursos
estão igualmente divididos entre
João e Maria.
28
A ideia de Debreu era deixar o mercado buscar eficiência e permitir que o governo
buscasse equidade.

MERCADO GOVERNO

Eficiência Equidade

O economista americano Kenneth Arrow (1921-2017) juntar-se-ia a Gérard Debreu


para criar o modelo que ficaria conhecido com Arrow-Debreu: cada empresa tem
um conjunto de processos de produção e consumo, refletindo suas preferências, o
que permite um planejamento de estoque e preços.

Prêmio Nobel de Economia em 1972.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Como o modelo pressupõe uma série de elementos (competição perfeita,


informação disponível, baixo custo das transações e consumo racional), foi
considerado irrealista. Ainda assim, é a base dos modernos modelos de Equilíbrio
Geral Computáveis (EGC), bastante utilizados pelos criadores de políticas públicas
e privadas.

Os críticos às teorias de equilíbrio, como a de Debreu e Arrow, costumam apontar


a irrealidade dos modelos. Como buscar equidade em algo tão complexo como a
economia real? Quais externalidades serão consideradas? Uma loja de
motocicletas (e seu barulho) pode reduzir a produtividade de um escritório de
contabilidade ao lado, coisa que os economistas e governantes jamais conseguirão
equilibrar (sequer colocar na ponta do lápis). Na verdade, a economia como um
todo é caótica e imprevisível. As visões que buscam o equilíbrio trabalham mais em
nível teórico do que prático.
29
4.7 ECONOMIA CENTRALIZADA? NUNCA! LUDWIG VON MISES

Karl Marx dizia que o comunismo era a abolição da


propriedade privada. O economista austríaco Ludwig von
Mises (1881-1973) entendeu o recado e foi mais à fundo:
afirmou sem pestanejar que o comunismo é a destruição da
economia racional.

Mises é um dos mais influentes economistas do século XX. Incrivelmente, é pouco


conhecido no Brasil – as academias estão muito mais interessadas em enobrecer a
linha marxista e (simplesmente e sem cerimônias) fazem vista grossa para as ideias
contrárias.
Jura? Oh yeah!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

PRECISAMOS DOS PREÇOS

Mises percebeu que diante da complexidade da economia moderna, os


empreendedores dependem dos preços e dos lucros para direcionar investimentos
para onde está a demanda. O problema é que no socialismo a ideia de preços
genuínos simplesmente desaparece – o governo precisa inventar preços.

Parece pouco? Pense bem! Em um


mercado não é tão difícil para um
empresário saber quanto produzir... ele
não quer gastar produzindo algo que não
será capaz de vender... a oferta é
regulada pela demanda e os preços dão
a toada – quando o preço sobe, aumenta
o interesse em produzir o produto;
quando o preço desce, a oferta vai sendo
reduzida. Agora, sem essas informações
(ajudas providas pelo mercado), a mente
humana simplesmente fica perplexa e não
30
sabe onde alocar os recursos.

Alguns economistas, a exemplo de Oscar Lange (On the Economic Theory of


Socialism – 1936) afirmaram que um planejador central poderia muito bem fixar
(inventar) preços, mas a resposta de Mises a essa proposta foi porreta. A quantidade
de informação necessária para acessar todas as escassezes e excedentes de um
mercado e fixar os preços corretamente é tão grande que qualquer tentativa
centralizada em decisões inquestionáveis (como no socialismo) está fadada ao
insucesso. Só o mercado, onde tais decisões (sempre questionáveis e flexíveis) são
tomadas por centenas de milhares de indivíduos, é capaz de trazer racionalidade
para a economia (via preços que espelham as informações da oferta e da
demanda).

MISES, O PROFETA

Mises se mostraria um profeta. Os Estados comunistas passaram justamente pelo


drama da falta de direcionamento e suas economias ruíram.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Bem que o homi falou. Sem informações de preços, as economias socialistas viviam
às voltas com desperdícios (oferta em excesso) e escassez.
E esse negócio de o Estado dar os preços conforme o número de horas trabalhadas
para fazer um produto (teoria do valor do trabalho – vide Marx) se mostrou a mais
pura balela, pois ignora, pelo menos, a escassez relativa de algumas matérias-
primas e as diferenças de qualidade e complexidade de trabalho. Apenas o mercado
é capaz de levar esses valores em conta.

TODO MUNDO IGUAL?

Em uma economia de mercado, as pessoas podem seguir seus gostos pessoais e


sempre vai ter quem as atenda (pensando em lucrar com isso). Em que pese a
choradeira de parcela dos pensadores (e da população por eles influenciada), os
quais insistem que somos levados a agir involuntariamente por forças
mercadológicas terríveis, a verdade é que o mercado consegue atender a gostos
bem peculiares – desde seu amigo roqueiro, até a titia conservadora; desde a
patricinha ligada em moda até aquele nerd que vai para o trabalho de calça de
moletom. Enfim, tem para todo gosto!
31
Essa coisa de diferença, por outro lado, não faz muito sentido no comunismo, onde
todo mundo deve ser igual.

Na Coreia do Norte até corte de cabelo já foi uniformizado. Não à toa, após a
Guerra Fria sobraram no globo apenas alguns poucos governos comunistas
autoritários, manejando economias híbridas completamente quebradas (como
Cuba) ou capitalistas (como a China).

AS VANTAGENS DO LIVRE MERCADO

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Ao que Mises demonstrou, o livre mercado oferece duas vantagens principais: (1)
os preços refletem as valorações dadas pelos envolvidos nas trocas; (2) apenas os
produtores mais eficientes sobrevivem – a falência é um mecanismo de
racionalização do mercado.
O empreendedor que lê errado o mercado vai ser rapidamente chutado para fora
da concorrência em virtude das perdas (falência). Os recursos e os desempregados
por ele utilizados serão realocados em setores rentáveis da economia.

ABRINDO PARÊNTESIS...
Mas não dá para fazer um “bem bolado”?
Não tem como engendrar um misto de mercado (eficiência) com governo
interventivo (equidade), como queria Gérard Debreu?
Essa coisa de governo misto (mercado + governo interventivo) não funciona! As
ações de um governo interventivo levam a efeitos colaterais, que levam a novas
intervenções, até que, passo a passo, o governo se torna socialista.

32
Entendeu agora por que Mises é tão odiado/ignorado em terras tupiniquins? Porque
ele demonstrou que uma economia verdadeiramente comunista é não apenas
indesejável, mas IMPOSSÍVEL.

4.8 GASTOS PÚBLICOS: JOHN MAYNARD KEYNES

Em 1928 o presidente
norte-americano Herbert
Hoover afirmou: “estamos
mais próximos do que
nunca do triunfo final sobre
a pobreza”. Um ano
depois, Wall Street veio a
baixo. A Crise de 1929 foi
a pior que o mundo
capitalista já vira. Em 1932

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

já eram mais de 13 milhões


os desempregados.

Com a água batendo no pescoço, o governo americano cobrou os altos


empréstimos feitos à Europa após a Primeira Guerra Mundial, o que arrastou o
Velho Continente para dentro do turbilhão.

Em meio a esse caos, surge o cavaleiro da salvação, o economista


e magnata inglês John Maynard Keynes (1883-1946), com seu
bigode para lá de estiloso. Sua receita? Intervenção estatal em
massa, notadamente via gastos públicos (políticas monetária e
fiscal).

33
(Ano: 2015 Banca: CESPE Órgão: MPOG Provas: CESPE - 2015 - MPOG - Economista) No
que se refere a teoria keynesiana, demanda agregada, governo e crescimento econômico,
julgue o item subsequente.
Os adeptos da teoria keynesiana, utilizada para embasar as políticas econômicas de combate
ao desemprego, defendem o uso das políticas monetária e fiscal para regular a demanda
agregada.
Comentários
Falou em política monetária falou em fluxo de dinheiro. Falou em política fiscal falou em
tributação (arrecadação pública). Keynes pretendia usar a ambas para fugir do desemprego
em tempos de recessão.
O item está CORRETO.

Keynes foi representante britânico na Conferência de


Versalhes. Ele acabou pedindo demissão por acreditar
que os termos do acordo proposto eram por demais

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

severos (vingativos) contra a Alemanha e acabariam levando a instabilidade


financeira e, possivelmente, a outra guerra. Dito e feito!

Pois bem. As teorias clássicas viam o desemprego como uma escolha: sempre há
emprego para quem está disposto a trabalhar por menos (salário menor). Acontece
que por uma série de fatores (exemplo: contratos firmados, legislação trabalhista e
atuação dos sindicatos), a queda dos salários é lenta demais durante uma recessão
(não acompanha a realidade econômica).

Como na recessão os preços caem, o


valor real do salário (em relação aos
bens e serviços oferecidos no mercado)
sobe, levando as empresas a ter de
demitir para reduzir custos – há
diminuição da demanda por trabalho e
travas para a redução dos salários. Os
trabalhadores acabam presos em uma
armadilha do desemprego enquanto as
empresas ficam presas em uma
armadilha da subprodução. A recessão
34
cria um ciclo vicioso em que nenhum
emprego é criado.

Como escapar dessa armadilha?


O mercado, por si só, não tem flexibilidade suficiente para sair dela sozinho. Ainda
que os trabalhadores aceitassem receber menos, as leis “protetivas” ao trabalhador
e os sindicatos não permitiriam o corte de salários. Logo, as empresas simplesmente
não podem contratar por valores mais baixos. O desemprego permanece. A
solução? Gastos públicos contracíclicos – para estimular a econômica nas épocas
em que os ciclos de negócio estão em baixa.
Perceba: o tratamento clássico para o desemprego era deixar os salários caírem,
até que a busca por trabalho alcançasse a nova oferta, e cortar despesas públicas,
compensando a perda da arrecadação de impostos. Keynes veio com uma ideia
completamente inovadora (e inversa ao paradigma): em vez de gastar menos, o
governo deveria gastar MAIS!
Claro que isso causa um desconforto: o governo sair esbanjando em tempos de
crise... Muitos tentaram aliviar a barra para Keynes, dizendo que os gastos seriam
em áreas úteis, como infraestrutura... mas para ele pouco importava... podia até

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

mesmo pagar alguém para fazer buraco e depois pagar outro alguém para fechar
o buraco... o importante era o governo gastar (injetar demanda) para reiniciar o
sistema econômico e fazê-lo se recuperar.

Pelo paradoxo da parcimônia, Keynes demonstrou que durante a recessão as


pessoas também gastam menos. A economia se torna refém, presa em um ciclo de
equilíbrio autossustentado por baixa demanda e alto desemprego. A libertação está,
repetindo (porque é importante), no impulso provocado por gastos públicos: os
trabalhares que recebem os salários gastam mais, estimulando a demanda, que
gera novos empregos e então mais gastos. Temos aqui um efeito multiplicador.

Os investimentos de curto prazo do governo,


por exemplo, na construção de estradas, irão
35
empregar diretamente uma série de pessoas.
Mas não é só isso: essas pessoas (novos
empregados) gastarão parte dos salários na
economia, injetando dinheiro e gerando
demanda e mais novos empregos. Trata-se
de um ciclo virtuoso. A renda nacional sobe
em valor superior ao gasto público.

Keynes estimou que, grosso modo, para cada $1 gasto pelo governo a demanda
seria incrementada em pelo menos $1.40, mas isso depende da propensão dos
consumidores em consumir, em vez de poupar.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

(Ano: 2017 Banca: CESPE Órgão: SEDF Prova: CESPE - 2017 - SEDF - Analista de Gestão
Educacional - Economia) A elevação da propensão marginal a consumir proporciona uma
variação positiva no tamanho do multiplicador keynesiano.
Comentários
O multiplicador keynesiano simplificado pode ser expresso pela fórmula “1/(1-c)”, sendo que
“c” é a propensão marginal a consumir. Suponhamos que, de cada $1,00 recebido, os
indivíduos gastem $0,90 e poupem $0,10. Aplicando a fórmula, temos 1/(1-0,9), cujo
resultado final (multiplicador) é 10. Se o governo tivesse colocado $100 milhões na economia,
teria, em tese, $1 bilhão de demanda agregada.
Se as pessoas ficassem animadas e otimistas, e passassem a gastar 95% de cada unidade
monetária recebida, o multiplicador ser 20. Inversamente, se elas ficassem receosas e
decidissem gastar somente 80% e poupar 20%, o multiplicador passaria a ser 5.
De toda forma, é isso: é a propensão marginal a consumir que proporciona variação no
tamanho do multiplicador keynesiano.
O item está CORRETO.

Fique atent@ que Keynes não acreditava que a política monetária sozinha resolveria
a crise, pois em época de recessão o normal é as pessoas pouparem (em vez de
gastar), independentemente de quanto dinheiro seja colocado na economia. Daí a
necessidade de o governo agir de modo interventivo – se economia não fosse
36
ativamente gerenciada durante recessões (reajustando a relação emprego-
consumo-investimento) estaríamos todos perdidos.

John Bates Clark utilizava a metáfora do oceano para explicar a economia e suas
crises. Segundo ele, a superfície do oceano, assim como a economia, por sua
extensão, mostra uma série de irregularidades. Se olharmos em perspectiva, porém,
veremos que as ondas são aberrações provocadas por causas perturbadoras.
Debaixo da superfície as profundezas são tranquilas – as agitações são sempre
menores e temporárias.
Keynes criticava fortemente essa teoria. Se os economistas se propõem a, em tempos
de crise (de mar revolto), cruzarem os braços e aguardar o mau tempo passar
(quando o mar ficará calmo de novo), estão se atribuindo tarefa muito fácil. Em
longo prazo, estaremos todos mortos (afogados).
O homem do bigodinho, então, propunha justamente o contrário: atuar nas crises
e deixar a economia rodar sozinha quando o mercado estivesse funcionando bem.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

ABRINDO PARÊNTESIS...
New Deal
As ideias de Keynes influenciaram o New Deal (pacote de políticas
intervencionistas implementadas pelo presidente americano Theodor Roosevelt na
década de 1930) e são a base do welfare state (estado de bem-estar social) que
tomaria a Europa e depois a América Latina.

(Ano: 2013 Banca: UFMT Órgão: UFMT Prova: UFMT - 2013 - UFMT - Economista) O
surgimento do Estado do Bem-Estar está relacionado a elementos essenciais. Sobre esses
elementos, considere:
I - A existência de excedentes econômicos passíveis de serem realocados pelo Estado para
atender às necessidades sociais.
II - O pensamento keynesiano, que estruturou a sua base teórica.
III - A experiência de centralização governamental, que fomentou o crescimento da capacidade
administrativa do Estado.
37
IV - O apoio irrestrito de organizações privadas, demandantes de recursos financeiros do
Estado.
São elementos essenciais:
a) I, II e III, apenas.
b) I, III e IV, apenas.
c) II e IV, apenas.
d) I, II, III e IV.
Comentários
O estado de bem-estar social até funciona melhor em países europeus (especialmente os
nórdicos), isto é, países ricos, em que há excedentes econômicos passíveis de serem
realocados pelo Estado (item I). É um pouco engraçado (para não dizer trágico) ver países
pobres (América Latina) tentando fazer o mesmo sistema pegar no tranco, seguindo a receita
de Keynes (item II), dentro de governos cada vez mais centralizados (item III) e gigantes. Claro
que isso NÃO tem “apoio irrestrito de organizações privadas” (item IV). Há muita controvérsia,
idas e vindas.
Estão corretos apenas os itens I, II e III.
A alternativa correta é a A.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Os críticos não pouparam o sistema keynesiano, observando que como dinheiro


não cai do céu (nem para o governo), os gastos públicos seriam financiados por
tributação ou aumento do endividamento público. A tributação retira dinheiro da
economia e cria um efeito justamente inverso ao desejado. O aumento do
endividamento público causa inflação e redução do poder de compra.
Outra crítica poderosa foi tecida pelos economistas John Muth e Robert Lucas.
Segundo eles, o governo pode até enganar as pessoas a curto prazo, mas não por
muito tempo. O que eles querem dizer com isso? As pessoas atuam mediante
expectativas racionais e adaptação. Com a injeção de dinheiro na economia pelo
governo, a demanda realmente aumenta. Só que o resultado da maior demanda é
também de aumento dos preços. Ao cabo, o salário real fica estagnado. As pessoas
(empregadores e empregados) logo percebem o que está acontecendo. As medidas
interventivas se tornam ineficazes porque, rapidamente, as pessoas conseguem ler
o que está à sua volta e agem conforme essa leitura.

As pessoas olham para FRENTE, não para TRÁS


O prêmio Nobel de Economia em 2004, Finn Kydland observa que a
noção de que se pode alterar a economia por meio de medidas governamentais
interventivas (política fiscal e monetária, gastos públicos, tributação e taxa de 38
juros) é ingênua, pois as pessoas colhem informações e regulam suas ações para
se aproveitar do governo. Inclusive, por exemplo, as ajudas governamentais
acabam fazendo todos assumirem riscos, como as pessoas que constroem em
áreas de enchente, crendo que se o pior vier, o governo vai socorrê-las.
Kydland compara o governo a um professor leniente que, querendo fazer seu
pupilo estudar, ameaça-o de punição em caso de o dever de casa não ficar a
contento. Como o pupilo sabe que a punição não virá, ele antecipa o futuro e
não faz dever de casa coisa alguma.
Políticas interventivas só são funcionais se pegarem todos de surpresa. Mas isso
não vai acontecer...

4.9 O VALOR DA LIBERDADE: FRIEDRICH VON HAYEK

Carl Menger (1840-1921) é considerado o primeiro a defender que, em termos


evolutivos, o mercado, a economia, o sistema monetário surgem espontaneamente

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

como soluções para necessidades humanas e não precisam ser planejados ou


estruturados conscientemente.
Espontaneamente em torno desse cara (com o perdão do trocadilho), reuniram-se
autores como Joseph Schumpeter (da destruição criativa, lembra?) e... Friedrich von
Hayek (1899-1992).

Prêmio Nobel de Economia em 1974.

A primeira questão que deve ficar evidente em relação a este


notório economista austríaco é que, apesar de largamente
laureado, ele adotava e propunha uma postura de extrema
humildade perante realidade – ao estilo Sócrates (“só sei que nada
sei”). Por exemplo, no que toca à economia (objeto de estudo para
o qual dedicou a vida), ele a considerava complexa demais para
possibilitar qualquer prognóstico preciso, cálculo exato.

39

O economista norueguês Ragnar Frisch desenvolveu nos


anos 1930s uma disciplina que chamou de econometria,
pela qual se pretende, com o uso de métodos matemáticos
e estatísticos, poder analisar mercados e suas tendências.

Efeito BORBOLETA
O efeito borboleta demonstra que pequenas mudanças na condição inicial
podem causar enormes diferenças nos resultados. É como um jogo de pinball –
qualquer pequena mudança na velocidade da bolinha provocará imensas
alterações na direção e, em efeito dominó, uma série completamente diversa de
eventos. Temos aqui as teorias do caos: a economia não é um processo linear,
mas uma série de relações que formam padrões complexos – a economia é
caótica mesmo quando os indivíduos não são.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Notem que as empresas e demais agentes do mercado não sabem tudo sobre a
economia como um todo. Mas eles aglutinam informação relevante sobre o seu
ramo de atividade, o que é fundamental para que se mantenham no mercado – se
lerem o mercado de forma equivocada, vão se dar mal (quebrar).
Os preços se movem como resultado das escolhas tomadas por esses agentes,
refletindo a informação total do mercado. Um planejamento central simplesmente
NÃO poderia aglutinar tanta informação dispersa e acabaria apenas por tumultuar
a coisa toda.

Então, qual papel resta ao governo?


O papel do governo é o de proteger o livre mercado e, por consequência, a
liberdade das pessoas.
Mas o que é que tem a ver livre mercado com liberdade pessoal?
Humm... ótima oportunidade para esclarecer esse aspecto!
Como todo tipo de planejamento central age contra a ordem natural e espontânea
das coisas, ele acaba dependendo de certo grau de força para se impor. E como a
40
natural falta de informação sobre o mercado leva os planos estatais a falharem um
após o outro, o governo precisa se tornar cada vez mais coercitivo para compensar
seus erros e manter o poder. É um ciclo vicioso de erro e coerção.
Para não ficar apenas no abstrato, vamos ilustrar. Em um certo momento histórico
o governo afirma que como as pessoas não são capazes de olhar para o futuro e
economizar parte de seus rendimentos para a velhice. Para remediar essa suposta
deficiência, ele instaura uma previdência pública e a impõe à maioria (se não a
todas) as pessoas. O dinheiro dos trabalhadores vai sendo depositado durante toda
uma vida. Só que o governo usa esse dinheiro para financiar outros projetos e ainda
estende o âmbito da previdência para atender a uma larga gama de benefícios
pautados na solidariedade (assistência social). O resultado é previsível: abre-se um
rombo nas contas e uma reforma no modelo se torna necessária para tentar retornar
à solvência. Aí o governo é obrigado a impor uma nova solução goela abaixo, sem
concordância dos pensionistas, para poder compensar a m* que fez durante
décadas. Já viu algo assim acontecer? O quê? Está acontecendo agora no Brasil?
Acabou de acontecer... é...

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Hayek NÃO partia do pressuposto que no mercado todos eram complementarmente


informados, mas sim que diante da escassez permanente de informação, o mercado
era justamente o melhor modo de obter (não de fornecer) informação. Como cada
indivíduo e empresa estuda sobre seu ramo e toma decisões com base nas
informações que obtém, os preços acabam refletindo uma miríade de ações e
informações dispersas na sociedade (ordem espontânea).

Como defensor da democracia,


Hayek acreditava que esse era o
melhor mecanismo de produzir
e distribuir bens e serviços. O
que ele criticava era uma
ditadura “democrática” do
coletivo, que na prática cede a
uma voz (comitê central).
41
Embora menos influente, em seu
tempo, do que Keynes, a obra de
Hayek teve impacto tão ou mais
duradouro. Quando a farra
intervencionista (o alto gasto
público) esgotou os recursos e
passou provocar ressaca por onde
havia sido aplicada, as ideias de
Hayek foram o remédio.

Em famoso episódio, Margaret Thatcher, em uma reunião do Partido Conservador


inglês, jogou um exemplar da obra de Hayek, “A Constituição da Liberdade” (1960),
sobre a mesa e proclamou: “Querem saber no que acreditamos? É nisso que
acreditamos!”

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

4.10 MONETARISMO: MILTON FRIEDMAN

Irving Fisher (1867-1947) ficou famoso por propor uma equação que ilustra a teoria
quantitativa da moeda:

MV = PT

Trazudindo: a quantidade de moeda em circulação (M), multiplicada pela taxa


média (velocidade) em que o dinheiro muda de mãos (V), é igual ao nível médio de
preços das operações (P) multiplicado pelo número total de transações (T).

O lado esquerdo da equação (M x V) representa o fluxo de moeda na economia,


isto é, quanto o dinheiro mudou de mãos. O lado direito (P x T) representa o que
42
chamamos hoje de PIB (Produto Interno Bruto).
Então, se há dez notas de $10,00 rodando por aí (imagine que esse é todo o
dinheiro existente) e houve quatro operações de compra e venda realizadas com
cada nota, temos o volume total de operações na economia foi de $400,00. Esse
é o PIB do período.

Na cabeça de Fisher, V e T são fixos em relação à quantidade de moeda circulando


na economia – se aumentarmos em 10% o estoque de moeda, os preços se
ajustarão em 10% para cima. Logo, a emissão de moeda poderia ser utilizada para
controlar a inflação. Essa é a base do monetarismo, base que seria aproveitada
pelo economista norte-americano Milton Friedman (1912-2006).

Prêmio Nobel de Economia em 1976.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

No início de sua vida acadêmica, Friedman defendeu o


monetarismo, teoria baseada na equação de Fisher (MV = PT):
a quantidade de moeda e sua velocidade de circulação na
economia iguala o nível dos preços vezes os negócios realizados
(PIB). Friedman entendia que a velocidade era constante e o
excesso de moeda alimentava diretamente o nível dos preços.

Friedman advertiu que colocar dinheiro demais na economia gerava inflação.


Permitir que o estoque de moeda caísse poderia gerar uma imensa recessão – como
aconteceu em 1929, quando o estoque de moeda caiu 1/3 sem que o Banco
Central Americano tomasse uma providência.
Só que como os preços podem demorar semanas, meses e até anos para se
adequar, tentar ler as tendências do mercado era loucura: tentar flertar com a
política monetária para controlar a economia (por tendências) era absolutamente 43
arriscado. O papel dos governos, desse modo, deveria se resumir a assegurar que
o estoque de moeda seguisse diretamente o PIB.
A única maneira de sair de uma crise, por exemplo, era adotar uma política de curva
longa e constante, com severa e consistente política monetária – aumentar o estoque
de moeda no mesmo ritmo do crescimento econômico de longo prazo.

(Ano: 2014 Banca: CESPE Órgão: Câmara dos Deputados Prova: CESPE - 2014 - Câmara
dos Deputados - Analista Legislativo) Com relação à política monetária, julgue o item a seguir.
O objetivo principal da política monetária deve ser a obtenção e a manutenção da
estabilidade de preços. Sob a perspectiva puramente keynesiana, a política monetária pode e
deve ser utilizada como instrumento de controle da taxa de inflação, a fim de gerar estabilidade
no nível de preço, ao passo que, para os monetaristas, o Estado é agente indispensável para
a obtenção de um sistema de pleno emprego.
Comentários

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

As noções estão investidas. Para os monetaristas, a política monetária pode e deve ser utilizada
como instrumento para controle da taxa de inflação. Já Keynes questiona a eficácia da política
monetária em restabelecer a dinâmica econômica. O que ele tem certeza é que o governo é
agente indispensável para a obtenção de um sistema de pleno emprego, atuando mediante
gastos públicos quando a iniciativa privada não conseguir alcançar o equilíbrio de mercado.
O item está ERRADO.

Além do monetarismo propriamente dito e de suas obras (entre elas o best-seller de


fácil leitura “Livre Para Escolher”), três coisas tornaram Friedman muito famoso:

EXPLICANDO A CRISE: ele propôs uma explicação alternativa à Grande


Depressão, colocando a culpa no Banco Central Americano (Federal Reserve), que
deixara o estoque de moeda despencar rapidamente entre 1929-1933, o que teria
transformado uma recessão normal em uma enorme depressão.

Curva de PHILLIPS
Desemprego em alta = preços em baixa (e vice-versa)
Segundo a curva de Phillips, o desemprego e a inflação teriam relação direta e
44
inversa: (1) mais desemprego, menos produção e oferta, preços mais caros =
inflação; (2) preços mais altos (inflação) geram maior atrativo à produção = o
desemprego cai.

O PROFETA: Friedman percebeu que a curva de Phillips só se aplicava a curto


prazo. Em logo prazo poderia haver a combinação de desemprego alto e de
inflação também alta. E foi assim que ele previu corretamente a recessão de 1973-
1975. Nos EUA, nessa época, o índice de miséria (desemprego + inflação) chegou
a 21%. Matou a pau!

O MILAGRE DO CHILE: durante a década de 1980, já calvo, Friedman


ofereceu conselhos (e alunos) ao governo militar do Chile, o que, segundo alguns,
foi decisivo para que o pequeno país deixasse de ser um dos mais pobres da
América Latina para se tornar aquele com os melhores índices de desenvolvimento
humano.

CRÍTICA A KEYNES

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Lembra da proposta de Keynes de gasto público para reavivar a economia?


Pois Friedman era bastante cético quanto à viabilidade da ideia. E ele explicava por
quê: nos tempos de recessão, as pessoas costumam guardar dinheiro. E elas não
são bobas. Elas conseguem muito bem diferenciar o que é renda permanente (que
as faz se sentirem confortáveis e seguras para consumir – gastar) e renda esporádica
(ganhos transitórios, que não afetam a média de consumo).

Pior é que justamente aqueles com maior De uma forma e outra, o resultado é
renda é que economizam os ganhos que os gastos públicos não são a
extraordinários; os com menor renda solução para as recessões. Keynes
acabam gastando mais do que seus estava errado. O resultado de suas
rendimentos de longo prazo – aí já viu ideias nada mais era do que afastar
né? Endividamento, mais miséria e até investimentos privados e fazer com
mesmo necessidade de ajuda que alguns poucos enriquecessem
humanitária para evitar a fome em captando os recursos públicos
massa. investidos.

45
ESTADO MÍNIMO

Herdeiro das noções da escola austríaca (em especial Mises e Hayek), Friedman
também alertava que o governo não podia (não tinha como) controlar a economia
nos mínimos detalhes, já que as pessoas adaptavam seu comportamento às ações
do governo e as neutralizavam.
Friedman lutou para substituir a intervenção ativa do governo (escolhas políticas
subjetivas sobre como e onde gastar o dinheiro público) por uma abordagem
imparcial e técnica. A regra monetária isolava a política do poder arbitrário de um
pequeno grupo de homens não sujeitos a controle pelo eleitorado e das pressões
políticas de curto prazo.

A escola de Chicago, que defendia o livre mercado, a redução


de impostos e do papel do governo (que deveria se preocupar
apenas com defesa, justiça e legislação básica) foi seguida
especialmente nos governos de Margaret Thatcher (Inglaterra)
e Ronald Regan (EUA).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

4.11 POLÍTICAS CORRETIVAS PODEM TORNAS AS COISAS PIORES

Uma das aplicações da regra de Pareto (também conhecida como 80/20) é que na
maioria os países e regiões, os dados disponíveis indicavam que 20% das pessoas
concentra 80% da riqueza – ou até mais (fala-se muito sobre os 1% mais ricos). Isso
leva, compreensivelmente, a tentativas de equalizar essa questão (desigualdade
social).

Em 1956, dois economistas, o australiano Kelvin Lancaster (1924-1999) e o


canadense Richard Lipsey (1928-), observaram que, não raro, as tentativas
46
governamentais de resolver problemas (distorções) na economia acabam gerando
efeitos ainda piores do que os combatidos.
Por isso que, às vezes, a aplicação da melhor solução teórica pode não ser a melhor
resolução prática.

É assim que surge a teoria da segunda melhor solução.


Exemplo: a existência de monopólio normalmente é considerada muito ruim. O
governo, então, interfere e consegue estabelecer a concorrência. Os custos (ao que
dizem) reduzem e os empregos aumentam. O governo só não contava com o fato
de a indústria em tela ser poluente. Antes tínhamos uma empresa poluindo, agora
temos três.

MONOPÓLIO ➔ CONCORRÊNCIA

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Vamos para um exemplo animal? Por 20 anos, a criação de rinocerontes e o corte


de seus chifres para venda no mercado foi considerada legal na África. Qual foi o
resultado? A população de rinocerontes quadruplicou no período. Mas então, um
forte movimento ambientalista conseguiu proibir a prática. E aí, o que rolou? Em
menos de uma década, os rinocerontes passaram a ser novamente ameaçados de
extinção – um chifre de rinoceronte pode custar mais de U$ 300 mil no mercado
negro7.

Ou seja: em teoria é louvável proibir a mercantilização de


commodities animais. Na prática, como a demanda continua a
existir, uma das maneiras realistas (atuais) de protegê-los é pensar
variáveis dentro da lógica econômica (como inundar o mercado de
chifres artificiais para fazer o preço e o interesse pelo produto cair).

4.12 MISTURANDO MERCADO COM INTERVENÇÃO


47
Ao final da Segunda Guerra
Mundial a Alemanha estava
em frangalhos. Não bastasse
desmoralizada e com altas
indenizações a pagar, a
infraestrutura nacional se
encontrava completamente
destruída e a economia
fortemente prejudicada.
O que fazer?

O país optou por renovar a fórmula que havia dado certo para levantar o país após
a Primeira Grande Guerra: uma mistura de mercado com intervenção estatal.

7
Quer saber mais? Confira: https://www.youtube.com/watch?v=8bOtbe_sdV8

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Assim surge o “ordoliberalismo”, um modelo que pretende mesclar o livre comércio


com a intervenção estatal, aproveitando o que considerado o “melhor” dos dois
mundos: a propriedade se mantém privada e o mercado pode operar dentro de
relativa liberdade (há interferências para evitar distorções, como os monopólios) e,
por outro lado, o governo se responsabiliza por uma gama de serviços públicos
considerados essenciais – para isso, pesa a mãos nos impostos.
Na Alemanha, o modelo é apontado como causa do milagre econômico
(wirtschaftswunder) que em poucas décadas reconduziu a nação devastada à
posição de uma das maiores potências do mundo. Não à toa o modelo se espalhou
por outras partes do globo, hoje por muitos chamado de social democracia.

Mais INTERVENÇÃO para mais IGUALDADE


Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994)

Segundo esse economista, que nasceu na Romênia, mas passou boa parte da vida
nos EUA, a ideia de crescimento econômico contínuo viola as leis da física: nada
pode crescer para sempre.
A justiça social deveria estar na ordem do dia, porque sem ela o crescimento da
economia cria tensões sociais (Stuart Mill já havia defendido esta ideia). Alguns 48
passos como a renda mínima e máxima capitalizada deveriam ser implementados
para reduzir a desigualdade.

No Brasil, o que vem prevalendo é exatamente esse modelo, mas com maior gama
de intervenção estatal e (acredite se quiser), com maior universalização das
prestações estatais (mais serviços públicos). Ainda assim, a maioria dos teóricos
insiste em relatar o modelo brasileiro como precipuamente capitalista, rejeitando a
ideia de que seria um meio termo entre capitalismo e socialismo.

Os países nórdicos geralmente são


apontados como uma experiência de
sucesso no mix mercado-publicização.
Essas nações se aproveitaram bem de
populações pequenas (altamente
educadas) e da forte industrialização
prévia – no caso da Noruega, ajudam
ainda as grandes reservas de petróleo.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Porém, a partir da década de 1990, o aparelho generoso de welfare state começou


a cair em declínio até mesmo na Escandinávia (embora isso não seja tão divulgado
por aqui), em razão dos altos impostos e do peso do sistema sobre a sociedade
economicamente ativa – por conta dos amplos benefícios concedidos aos mais
velhos. Atualmente, os países escandinavos vêm revertendo muitas das políticas
publicistas, cortando benefícios e impostos em busca de reequilibrar as contas
públicas e se recolocar no mercado internacional de forma mais competitiva.

5 DIREITO INTERNACIONAL

O Direito Internacional é o conjunto de


normas que regula as relações externas
dos atores que compõem a sociedade
internacional (Estados nacionais e
Organizações). O modo como esses
agentes se comportam em suas relações 49
comerciais, a impactar no Direito, claro,
é influenciado enormemente pelos
modelos econômicos adotados.

E isso não é de hoje (era da globalização). Desde que surgiram as


primeiras reminiscências do comércio entre nacionais e estrangeiros
(já na Grécia Antiga ou mesmo antes) o tema passou a ser digno de
debates acalorados.

Atualmente, as discussões evoluíram para temas ainda mais complexos, embora


algumas questões vetustas (cheirando a naftalina) de tempos em tempos sejam
tiradas do armário em que descansavam para causar tumulto – está aí o
protecionismo (ressentindo ao mercantilismo) e a insistência dos países em manter
uma balança comercial positiva para não me deixar mentir.
Em suma, há muito o que discutir aqui. Direito e Economia, mais uma vez, estão
entrelaçados... e desse emaranhado surgem pontos com efeito direto e cotidiano
em nossas vidas. Bora estudar!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

5.1 MERCANTILISMO: O QUE VALE É “LA PLATA”

No século XV, as cidades-estados se


desenvolviam, enriquecendo ao se
abrir ao comércio internacional.
Uma nova classe de mercadores que
havia prosperado no comércio passa
a substituir a até então hegemônica
classe dos proprietários de terras
(senhores feudais).

O passo seguinte da economia foi abrir o comércio para o MUNDO (ao menos o
mundo que se conhecia até então).
Esse novo modelo refletiu nos estudos econômicos. Até a Renascença (séculos XIV
a XVII), a atenção dos estudiosos se voltava para as relações de troca entre
indivíduos (microeconomia). Com o avanço das navegações e a abertura de rotas
de comércio, o foco se desloca para a macroeconomia. 50

MACROECONOMIA MICROECONOMIA

Foca no crescimento e no Concentra-se nas interações entre


desenvolvimento: analisa a riqueza de indivíduos e empresas dentro da
um país em termos de resultado e economia: os negócios, a oferta e a
renda, comércio exterior, tributação, demanda, compradores e vendedores,
controle da inflação e do desemprego. os mercados e a competição.

É nesse novo cenário que surge o MERCANTILISMO.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Os ingleses levaram essa ideia tão a sério (a de que o


que vale é o metal precioso) que provocaram a chamada
CRISE DA PRATA. As moedas inglesas haviam se tornado
mais leves no decorrer dos anos pela prática do governo
de “apará-las”, removendo uma pequena porção do metal das bordas, que era
fundida e vendida. Quando as pessoas perceberam, passaram a guardar as moedas
antigas (mais pesadas), o que tornou o dinheiro em circulação escasso. Dá para
acreditar?

A riqueza do mundo é um “pote 51


limitado”, pelo que cada nação, na
busca da prosperidade, deve tentar
garantir uma balança comercial
favorável, de modo que mais dinheiro
entre (vendendo bens para outros países
– exportações) do que saia (comprando
bens de outros países – importações). Se
muito dinheiro (ouro e prata) sair do país,
os salários cairão, empregos serão
perdidos, a economia entrará em
colapso.

Dentro dessa lógica, para proteger seus interesses, os governos passaram a utilizar
tarifas, subsídios e monopólios – para fazer o dinheiro entrar (mediante exportações
de produtos nacionais) e não sair (via importação de produtos estrangeiros).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

(Ano: 2011 Banca: CESGRANRIO Órgão: Transpetro Prova: CESGRANRIO - 2011 -


Transpetro - Economista Júnior) A opinião dominante que emergiu dos debates sobre o
comércio internacional nos séculos XVI, XVII e XVIII, no Ocidente, era de que um país deveria
tentar obter grandes e crescentes superávits comerciais. Essa opinião é caracterizada como o
ponto de vista
a) liberal
b) ricardiano
c) monetarista
d) mercantilista
e) neoclássico
Comentários
MERCANTILISMO! Busca de superávits comerciais, isto é, de uma balança comercial favorável
(mias exportações do que importações).
A alternativa correta é a D.

A Inglaterra tentou manter sua balança comercial favorável a todo


custo, inclusive por meio das famosas “Leis suntuárias”, pelas quais 52
restringia o uso de certos tipos de cedidos, buscando atingir as
importações de seda e algodão provenientes da China. As leis
eram minuciosas a tal ponto que ditavam que cor e tipo de roupas,
peles, tecidos e acabamentos as pessoas podiam utilizar.

CRÍTICOS DO PROTECIONISMO

É claro que o mercantilismo não passou incólume. Os críticos logo vieram. Dudley
North (1641-1691), por exemplo, afirmava que o comércio não era um jogo de
soma zero, mas uma “brincadeira” que tornava a TODOS mais ricos.
David Hume (1711-1776) veio com uma teoria ainda mais completa. Ele afirmou
que NÃO era possível, nem vantajoso, manter uma balança comercial sempre
positiva. Excesso de exportação resultava em mais dinheiro entrando no país... com
a maior reserva financeira, o preço da moeda caía e o preço dos produtos subia,
causando inflação (era preciso mais dinheiro para comprar a mesma coisa). Não
bastasse, o ciclo terminava por prejudicar justamente as exportações, pois os preços
mais elevados reduziam a competitividade externa. O protecionismo não estava
com nada!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

(Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: SLU-DF Prova: CESPE - 2019 - SLU-DF - Analista de Gestão
de Resíduos Sólidos – Economia) Acerca do processo de industrialização e das mudanças por
ele trazidas para a economia brasileira, julgue o item a seguir.
O processo de industrialização por substituição de importações, ao usar o protecionismo
contra importações e a resultante reserva de mercado, trouxe preços elevados aos
consumidores de bens envolvidos no processo.
Comentários
Não tem como evitar: protecionismo significa permitir que o mercado interno pratique preços
mais altos. Os consumidores pagam a conta...
Portanto, o item está CORRETO.

Os motivos mudaram (às vezes nem


tanto), mas o protecionismo continua. A
Organização Mundial do Comércio tem
trabalho com os países que buscam
“proteger” os produtores nacionais
53
mediante tarifas. O Brasil já esteve nessa
ciranda várias vezes. O último capítulo
dessa novela talvez seja a guerra
comercial entre EUA e China, que está
abalando o mundo todo e gerando críticas
de tudo quanto é lado8.

A RIQUEZA é produto do TRABALHO


John Locke (1632-1704)

Locke defendia que a propriedade surgia quando as pessoas misturavam seu


trabalho com as coisas do mundo material. Uma maçã em uma árvore, por
exemplo, não é útil para ninguém. Mas ao colhê-la, um trabalhador mistura seu

8
TRADE WAR – TARIFFS. Donald Trump says: “We will bring China to its knees”. Crying: American consumers, farmers,
Wall Street, small business”. Tradução livre: GUERRA COMERCIAL – TARIFAS. Trump diz: “Vamos colocar a China
de joelhos”. Chorando: consumidores, agricultores, investidores e pequenos negócios americanos.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

labor com o fruto, dando valor a ele (poderá ser vendido na feira). O trabalho
retira os bens da natureza e os coloca nas mãos do homem via apropriação.
Esse pensamento tem dois efeitos importantíssimos: (1) a riqueza não é fixa, mas
é produto do trabalho, podendo ser gerada, aumentada e beneficiar a todos; (2)
o foco desloca-se para o individualismo, desafiando a hegemonia mercantilista
(que atendia aos interesses de uma elite).

5.2 INFLAÇÃO: DINHEIRO DEMAIS NA PRAÇA

No século XVI os preços na Europa estavam subindo inexplicavelmente. Várias


teorias foram propostas para elucidar o acontecido. Uma delas é que a INFLAÇÃO
(aumento dos preços) era causada pelo aumento do estoque de moeda.

Nicolau Copérnico (1473-1543), aquele mesmo, o astrônomo


do heliocentrismo (sol no centro), foi um dos pioneiros na
compreensão desse fenômeno. Segundo ele, o dinheiro deprecia
54
quando se torna muito abundante – primeira declaração da
teoria quantitativa da moeda.

Martín de Azpilcueta Navarro (1492-1586) aprofundou essa noção. Ele explicou


que toda mercadoria se torna mais cara quando tem procura acentuada (muita
demanda) e estoque baixo (pouca oferta) e vice-versa. O dinheiro não deixa de ser
uma mercadoria, na medida em que pode ser vendido e trocado. Ele pode ser tornar
mais caro (valorizar) ou mais barato (desvalorizar) – nesse último caso quando
houver pouca procura e muita oferta. Ainda que o dinheiro seja por muitos
considerado um meio estéril de troca, ele tem sua própria dinâmica.
Foi isso o que aconteceu na época. Com grandes quantidades de ouro e prata
ingressando na Espanha (vindas do Novo Mundo), os metais preciosos com os quais
era cunhado o dinheiro se tornaram abundantes (até demais), desvalorizando.
Como o dinheiro valia menos, era preciso mais ouro para comprar a mesma coisa.
Temos alta de preços – inflação.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Jean Bodin (1530-1596) foi direto na


ferida. Ele percebeu isso com clareza e
sacramentou que a alta de preços no
Velho Continente era devida à
abundância de ouro e prata vinda das
colônias ultramar (entrando pela
Espanha e se espalhando pelos demais
países europeus). E ele matou a cobra
e mostrou o pau: demonstrou que
enquanto os preços tinham
quadruplicado no período, o estoque
de metais preciosos havia triplicado
(está aí a relação).

ABRINDO PARÊNTESIS...
Por que o cafezinho é mais caro no bairro dos ricaços?
55
O cafezinho custa mais para os magnatas porque eles têm mais dinheiro para
gastar em suas carteiras recheadas. Quando as pessoas têm mais dinheiro,
querem mais bens e serviços. Só que como a oferta é limitada, os preços sobem.
Simples assim!

Diante dessa “flexibilidade”, alguns economistas façam em preço nominal e preço


real. Preço nominal é a quantia em dinheiro exigida por um bem ou serviço em
certo tempo e local, por certo fornecedor (preço prático), o qual pode alterar com
o fenômeno da inflação. Preço real é a quantia de tempo (x horas de trabalho) ou
de coisas (grãos, carne, leite...) que precisa ser data para obter outra coisa, não
importa quanto seja o valor nominal – como esse valor é intrínseco (preço teórico),
ele não se altera pelos fenômenos econômicos.

5.3 VAI TODO MUNDO GANHAR: DAVID RICARDO

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Diferentemente da ex-presidente, poeta


espontânea e intelectual Dilma Rousseff,
o economista David Ricardo (1772-
1823) defendia que o comércio
internacional tornava a TODOS mais
ricos – é um jogo de “ganha-ganha”.

Está vendo a alegria no rosto desse menino? Sabe por que esse
sorriso maroto? Sabe por que essa tranquilidade no olhar? São
sinais de quem, aos 41 anos, já está a se aposentar (e muito rico).
David Ricardo apostou contra Napoleão na batalha de Waterloo
(comprou ações britânicas). A Inglaterra levou a batalha e Ricardo
quebrou a banca!

Como veremos mais à frente, o filósofo grego Tales de Mileto já havia adiantado
que os filósofos poderiam ser todos ricos, se quisessem (isso porque ele não teve a 56
oportunidade de conhecer Karl Marx ). Ricardo foi mais um exemplo dos
pensadores de vida dupla – usou a inteligência tanto para enriquecer quanto para
pensar em prol da humanidade.
E o que ele fez de legal para a economia?
Ele propôs o conceito de vantagem comparativa: um país, ao investir no que produz
de modo mais eficiente e importar os demais produtos, não só faz os outros países
ganharem (exportadores) como também ganha (importador) – ambos ganham (o
comércio internacional estimula o crescimento econômico).

(Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: TCE-RO Prova: CESPE - 2013 - TCE-RO - Auditor de
Controle Externo - Economia) Segundo a escola clássica, a lei das vantagens comparativas
gera uma deterioração dos termos de intercâmbio entre os países desenvolvidos e os países
em desenvolvimento.
Comentários
Para David Ricardo, e sua teoria da vantagem comparativa, ambos hão de ganhar, mesmo
em se tratando de países desenvolvidos (ricos) versus países em desenvolvimento (pobres). Só

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

no futuro que surgirão terias como a de Andre Gunter Frank (veremos adiante), para o qual o
comércio assimétrico em tais condições torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres.
O item está ERRADO.

Os mercantilistas acreditavam que importar era uma má ideia. Aí vem o David


Ricardo e, contra tudo e contra todos, diz exatamente o contrário: o protecionismo
tornava os países mais pobre, não mais ricos. A longo prazo, o medo das
importações restringia a capacidade de crescimento da economia interna. Mas
como? Em razão do custo comparativo.

Adam Smith já havia percebido que as diferenças climáticas entre


Inglaterra e Portugal eram favoráveis ao comércio: os portugueses
conseguiam produzir mais vinho; os ingleses mais lã. A coisa lógica
a se fazer era que os portugueses se especializassem em vinho e os
ingleses em lã e trocassem o excedente de suas produções entre si.

David Ricardo levou o argumento adiante. Imagine que os brasileiros sejam 20%
mais eficientes fazendo chapéus e 50% mais eficientes fazendo sapatos em relação
57
aos hermanos argentinos. Os brasileiros estão em vantagem absoluta em ambos os
produtos. Mesmo assim, sendo mais eficientes em ambos os casos, é vantajoso aos
brasileiros produzir apenas sapatos e comprar os chapéus dos argentinos. A isso se
chama de vantagem comparativa. Deve-se investir naquilo em que se é melhor e
comprar o resto de outros produtores (os brasileiros estariam perdendo tempo se
produzissem também chapéus, em vez de apenas sapatos).

(Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: ANAC Prova: CESPE - 2012 - ANAC - Analista
Administrativo) De acordo com a teoria das vantagens comparativas, se o país A consegue
produzir pão e vinho em um número de horas de trabalho menor do que o país B, então, o
país A terá vantagem relativa na produção de pão e vinho em relação ao país B.
Comentários
No caso, o país A tem vantagem absoluta (não relativa) em ambos os produtos. Ocorre que
segundo a teoria da vantagem comparativa, vale a pena que o país A produza apenas o item
no qual é mais eficiente, importando aquele em que é menos eficiente (ainda que seja mais
eficiente em produzi-lo do que o país do qual importará).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

O item está ERRADO.

A lógica por trás desse raciocínio está nos custos de se fazer um produto em relação
ao tempo investido ou gasto (vide o conceito de custo de oportunidade – Friedrich
von Wieser). Como os brasileiros são tão bons fazendo sapatos, o tempo investido
fazendo chapéus torna-se muito caro. Se cada nação se concentrar no que faz de
melhor, a produção total será maior e os preços para os consumidores serão mais
em conta, beneficiando a todos.
O protecionismo faz justamente o contrário – eleva artificialmente os preços, faz os
consumidores pagarem mais por produtos piores e mantém a força laboral da
nação alocada em setores de baixa produtividade e rentabilidade, beneficiando
apenas pequenos grupos (elites).

TÁ TUDO INTERLIGADO
Antoine Augustin Cournot (1801-1877)

“O sistema econômico é um todo em que todas as partes estão interligadas”. O


preço do trigo afeta o preço do pão, que afeta o custo de vida, que afeta o preço 58
de outras mercadorias (os comerciantes precisam vender mais caro para manter
seu próprio sustento).

O caso do trigo é um exemplo ilustrativo (de que Cournot está coberto de razão).
Durante as guerras napoleônicas (1799-1815), não era possível importar trigo de
outros países da Europa. Como se poderia prever, o preço do grão subiu na
Inglaterra. Com a escassez de oferta e o incentivo por lucros maiores, os produtores
ingleses passaram a produzir mais trigo – os preços dirigem a economia, como
demonstrou Ludwig von Mises (já vimos isso, lembra?). Com a proximidade do final
do conflito, as importações se tornaram novamente possíveis e o preço começou a
cair. Só que os proprietários de terra, que dominavam o Parlamento, conseguiram
aprovar as Corn Laws (leis dos cereais), protegendo os produtores nacionais. O
resultado foi que o preço do pão subiu para além do que os pobres podiam pagar.
Quando os soldados voltaram para casa e não conseguiam arrumar emprego, a
vitória na guerra foi-lhes paga em miséria.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

E esse não é um caso isolado do século XIX. A


indústria automotiva no Brasil surfa a mesma
onda. A pretexto de proteger os fabricantes com
instalações no país (e os empregos por estes
gerados), os carros importados são massacrados
pelo IPI (imposto sobre produtos industrializados).
O resultado é que em terras tupiniquins os
apaixonados por carro (ricos ou pobres) pagam
MUITO para colocar um motor na garagem.

Aliás, neste aspecto, já faz tempo (1965) que economista americano Mancur Olson
(1932-1998) evidenciou como os governos respondem mais aos apelos de um
pequeno grupo organizado do que de multidões dispersas. Como a vinda de
importações mais baratas atinge um grupo concentrado de fabricantes e seus
empregados, a gritaria é grande. O enorme grupo de pessoas que é atingida por
preços mais altos (os compradores de automóveis, por exemplo), e os potenciais
trabalhos que são perdidos pelos impactos reflexos, acabam ficando dispersos, sem
força política.
E assim gira o mundo – como diria um grande filósofo (meu pai).
59

5.4 UM DIA SEREMOS RICOS: ROBERT SOLOW

Na década de 1950, o economista americano Robert Solow (1924-) fez uma


afirmação ousada: “no decorrer do tempo, TODOS os países serão ricos”. Será
verdade? O Brasil, por exemplo, o país do futuro, o gigante adormecido, irá acordar
algum dia? Para Solow, SIM!

Prêmio Nobel de Economia em 1987.

O raciocínio é o seguinte: (1) nos países desenvolvidos o capital é abundante, o


que faz o retorno de novos investimentos diminuir; (2) já nos países pobres há pouco
capital, o que garante oportunidades – novos investimentos podem gerar altas taxas
de retorno, o que anima (e atrai) os investidores; (3) com o influxo de investimentos,
os países emergentes podem desenvolver tecnologias (o que aconteceu
especialmente na China e, em alguma medida, no Brasil e na Índia), fazendo com

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

que esses países cresçam em rito acelerado; (4) os países pobres acabam tendo
taxas de crescimento maior do que a dos países ricos; (5) ocorre a equalização dos
padrões de vida pelo mundo (todos ficam ricos).

E será que essa teoria se sustenta empiricamente? Hummm... NÃO! Explico


(transmito a explicação de economistas críticos à teoria de Solow).
O capital nem sempre flui para os países mais pobres, o que ocorre por diversos
fatores, em especial instabilidades políticas e direitos de propriedade enfraquecidos,
o que afasta os investidores. Ademais, nem sempre (ou quase nunca) os países
pobres conseguem desenvolver tecnologias que façam frente aos países
desenvolvidos. Ou seja: a coisa não é tão simples quanto Solow quer fazer crer...
60
5.5 GLOBALIZAÇÃO: DANI RODRIK

O comércio a longas distâncias existe pelo menos desde o século I a.C. Movidos
pelo aumento da demanda causado pelo crescimento da população e da riqueza,
os Fenícios saíram em missões em busca de novos produtos.
Mas é a partir de 1820 que o fenômeno da globalização realmente toma forma,
empurrado pela redução dos custos das trocas comerciais – esses custos caem
notadamente quando são inventadas novas formas de transporte, mais rápidas e
baratas, como, na época, o barco a vapor e as ferrovias, somadas à refrigeração
(a preservação de carne, por exemplo, permitia sua importação de lugares
longínquos) e à abertura do Canal de Suez, reduzindo enormemente o tempo de
viagem entre a Europa e a Ásia.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Mas o que significa


GLOBALIZAÇÃO? Para os
economistas, é a integração de
mercados, o que é uma questão
política. Logo, conforme as
escolhas dos países, o fenômeno
se expande e se retrai.

Dani Rodrik (1957-) faz uma leitura inovadora do processo de globalização,


incluindo-o em um “trilema” político: (1) as pessoas querem integração de
mercados pela prosperidade que ela pode trazer; (2) as pessoas querem democracia
para escolher os rumos de sua nação; (3) as pessoas querem que seu Estado seja
independente, soberano, para que suas escolhas democráticas tenham efetiva
função. Rodrik demonstra que esses três desejos são incompatíveis.
Ponha as vestes de um governante zeloso. Você está diante de um gênio da
lâmpada. Empolgado com a ideia de poder levar seu país à prosperidade, você
pede logo seus três desejos: integração, democracia e soberania. O gênio, então,
adverte que ele só pode atender a dois desses pedidos.
61
É assim que funciona o trilema:
integração, democracia e soberania
não podem ser atendidas ao mesmo
tempo. Apenas dois desses elementos
podem ser alcançados de forma
simultânea. Como assim? Vejamos...

A integração econômica requer a redução das diferenças institucionais entre os


países. Só que os eleitores em diferentes países querem diferentes instituições. Por
exemplo: a maioria dos norte-americanos não concorda com o sistema de bem-
estar social aplicado em parte da Europa. Logo, a aplicação de um sistema único
para várias nações significa desrespeitar os eleitores (a democracia) de alguns dos
Estados. Para manter o sistema democrático é preciso que os cidadãos dos vários
países votem para escolher as medidas de aplicação geral, o que acaba criando

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

uma espécie de federalismo internacional, derruindo a soberania (exatamente o que


aconteceu na União Europeia9).

5.6 TEORIA DA DEPENDÊNCIA: ANDRE GUNDER FRANK

A superação do mercantilismo clássico não quer dizer, de jeito nenhum, que as


ideias contrárias ao comércio internacional desapareceram. Elas continuaram (e
continuam) fortes.

Em 1841, por exemplo, o economista germânico


Friedrich List lançou uma defesa poderosa à necessidade
de proteção dos mercados internos. Anos mais tarde,
outro alemon batata, Andre Gunder Frank (1929-2005),
iria desenvolver a teoria da dependência, pela qual ele
busca demonstrar como, se o mundo se abre ao
comércio internacional, os países ricos exploram
descadaramente os países pobres. 62

Segundo a teoria de Frank, os países pobres são levados a acreditar que a abertura
de suas fronteiras ao comércio internacional leva ao crescimento econômico e à
prosperidade social. Acontece que uma vez que as fronteiras caem os países ricos
passam a exercer sua posição de domínio, explorando os países pobres mediante
tratativas de comércio absolutamente desiguais. A economia dos países emergentes
acaba estagnando ou mesmo encolhendo, enquanto os países ricos se regozijam
com a abertura de novos mercados consumidores. Os países ricos ficam mais ricos;
os países pobres ficam mais pobres.

9
Sem querer fazer propaganda, mas já fazendo kkkk aqui vai a indicação de um texto de minha autoria que aborda
o assunto: https://libertarianinstitute.org/articles/is-the-eu-a-federal-state/

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Mas por que isso acontece? Ora, para Frank os países em desenvolvimento, em
geral, produzem commodities (materiais brutos que funcionam como matéria-prima,
como petróleo, minerais, madeira, metais, frutas, grãos, café, carne etc.), que são
adquiridas pelos países desenvolvidos e transformadas em produtos manufaturados.
Esses produtos são então vendidos com alto valor agregado. Isso leva a um sistema
de comércio altamente desbalanceado, sem contar que os países pobres não têm
poder de barganha. Ao cabo, a riqueza fica concentrada nos países ricos e os países
pobres ficam dependentes desse comércio predatório (questão de sobrevivência).

63

Ok. Mas há casos em que os países ricos investem nos países pobres, por exemplo
abrindo uma fábrica na África ou na Ásia. Sim, só que essas nações só fazem isso
para explorar a mão-de-obra barata. Os lucros não são reinvestidos na economia
local, indo parar nos bolsos dos investidores estrangeiros.
Essa visão de Gunder Frank é extremamente negativa e não explica, por exemplo,
como os Emirados Árabes (exportadores de commodities – notadamente petróleo)
conseguem ser mais ricos que o Batman. Ademais, há países que se abriram ao
mercado internacional, iniciaram no fornecimento de commodities e utilizaram os
ganhos para investir em tecnologia. O resultado foi bastante interessante. Exemplo:
Coreia do Sul.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A teoria frankiana é realista para alguns casos, mas não consegue tomar dimensão
do fenômeno todo (como pretende).

6 DIREITO EMPRESARIAL

Finalmente chegamos ao direito EMPRESARIAL.


Se os demais ramos do Direito são primos da Economia, o Direito Comercial é
irmão. E é o tipo de irmão que é amigo, que depende do outro, que busca apoio,
consolo, briga mas reata rapidinho. Enfim, encontramos aqui uma estreita amizade,
da qual nos cabe revelar alguns traços, características e particularidades, o que
faremos com prazer.

6.1 A NECESSIDADE DE COMPETIÇÃO

64
A maioria dos economistas concorda que a E há ainda casos em que há vários
existência de competição é uma condição competidores, mas eles resolvem,
sine qua non para que os preços sejam
sem aviso, disfarçadamente, mudar
“justos” – se há apenas um fornecedor no
a brincadeira: de competição para
mercado, ele pode manter o preço acima do
valor natural por tempo indeterminado. cooperação. Formam-se os cartéis.

CARTÉIS

Se a competição é responsável por baixar os preços, não seria mais benéfico aos
fornecedores, em vez de brigaram para obter a maior fatia de mercado,
simplesmente se unirem para manter os preços artificialmente altos? Não seria
melhor a cooperação?

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Aristóteles, em 330 a.C., já havia advertido ao mundo


grego sobre os malefícios dos monopólios ao contar a
história de Tales de Mileto.
Tales vinha sendo acusado pela sociedade de ficar à toa
na lagoa (filosofando o dia todo) em vez de “trabalhar”.
Para desmentir o povo, Tales comprou vários moinhos no
inverno, quando eles estavam baratos. No verão, quando
as pessoas precisavam dos moinhos, ele usou seu poder
de monopólio para vendê-los a preços salgados10.
Qual a moral da história?
Para Tales, os filósofos poderiam ser ricos se quisessem (em um estalar de dedos).
Para Aristóteles, os monopolistas conseguiam elevar os preços acima do valor
natural (justo).
Marx, para não ficar de fora da brincadeira, também deu os seus pitacos sobre o
assunto. Ele dizia que as empresas competiam cortando preços, o que levava
algumas à falência. Assim, o capitalismo traria a tendência de que cada vez menos
produtores remanescessem, levando à concentração dos meios de produção, com
a criação de monopólios que explorariam não apenas os trabalhadores mas 65
também os consumidores.

E como fica a INOVAÇÃO?


Marx, só para variar, deixou passar alguns detalhes...
A inovação também pode reduzir os preços, mesmo em mercados com
pouca competição. Como os inventores trazem para a mesa novas formas de fazer
as coisas (produtos com maior qualidade e menor preço), eles simplesmente
reorganizam o jogo (jogam para escanteio as velhas formas), o que (como já
vimos) Schumpeter chamou de destruição criativa.
Com a queda nos preços e a perda de mercado pelos fornecedores antigos, os
salários também podem vir a cair e haver desemprego. Mas os novos setores da
economia (em desenvolvimento) se esforçam para obter a mão de obra existente,

10
Tales poderia ser considerado o precursor do comportamento dos investidores no mercado de ações: compre na
baixa; venda na alta.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

elevando os salários e fazendo os empregos migrarem para as áreas da economia


em ascensão.

Outro ponto interessante, contraparadigmático e, por isso, sem surpresas, pouco


trabalhado no Brasil, é que a ideia de cartel possui uma falha estrutural. O cartel é
sempre um jogo bastante arriscado. Os fornecedores são atraídos para o conluio
pela expectativa de lucros maiores. Esse auto-interesse é justamente o elo fraco da
corrente. É possível que um dos membros (geralmente os menores) veja a chance
de ganhar lucros extras introduzindo um elemento de competitividade no sistema
(trapacear o cartel), enfraquecendo o cartel como um todo. Quando maior o cartel,
maiores as chances de ele se quebrar. Temos aqui uma versão do dilema do
prisioneiro (que você verá adiante na teoria dos jogos... guarde esse nome).

MONOPÓLIOS E OLIGOPÓLIOS

Monopólio é uma situação em que uma empresa domina um mercado particular –


várias nações consideram que há monopólio quando uma firma domina 25% de
um mercado. Oligopólio é quando há poucos fornecedores (às vezes dois ou três), 66
os quais dominam o mercado de um produto ou serviço.
Os monopólios e oligopólios podem ser formados tanto pelo crescimento natural
de uma ou mais firmas quanto por ação governamental, por exemplo ao taxar
produtos importados ou ao regular por lei uma restrição ao mercado (Exemplo:
emissões de televisão no Brasil).

Em 1590, os comerciantes da
Holanda se uniram em um
cartel, a Companhia Holandesa
das Índias Ocidentais, a qual
receberia, em 1621, o
monopólio do comércio de
especiarias das Índias.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Alfred Marshal, ao propor seu conceito de


excedente do consumidor (diferença entre o
máximo que o consumidor está disposto a
pagar por um bem e o quanto ele realmente
paga), demonstrou que os monopólios
geram significa perda de bem-estar social,
começando pelo fato de menos bens serem
produzidos e vendidos em comparação com
o montante que seria comercializado em
caso de efetiva concorrência – na
concorrência os preços caem (ao máximo
possível) e a demanda sobe; no sistema de
monopólio ocorre o contrário: a demanda
cai e os preços sobem.

(Ano: 2015 Banca: FGV Órgão: TJ-BA Prova: FGV - 2015 - TJ-BA - Analista Judiciário -
Economia) Um monopolista maximiza lucros quando:
a) a receita marginal supera o custo marginal;
67
b) atua na parte elástica da demanda;
c) o preço iguala o custo marginal, no caso de a demanda não ser perfeitamente elástica;
d) a produtividade marginal iguala a produtividade média;
e) a demanda intercepta o custo médio.
Comentários
A maximização de lucro via aumento do preço só é possível nos casos em que a demanda é
elástica (é flexível o bastante a permitir essa elasticidade).
A alternativa correta é a B.

Adam Smith havia admitido que, em alguns casos, como o das estradas de ferro, o
mercado não conseguiria fornecer incentivos suficientes para que investidores se
oferecem a prover estrutura tão considerável. Ademais, mesmo que surgissem
alguns interessados, não seriam vários os fornecedores, considerando o montante
de investimentos necessários para prestar o serviço. Esses seriam casos de
monopólios naturais (pela própria essência), levando o Estado a assumir o controle
desses serviços.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Smith só não contava que, nos EUA, alguns séculos depois, as


estradas de ferro seriam construídas por investidores e que haveria
alguma concorrência (com vários magnatas interessados em atuar
no ramo e dispostos a oferecer estrutura). Ainda assim, Smith
parecia ter parte de razão, considerando um concorrente
(Vanderbilt) conseguiu se tornar praticamente monopolista e,
inclusive, controlar o preço do transporte (especialmente de querosene). Logo,
contudo, veio a resposta – esses monopólios não resistem muito (Rockfeller criou
alternativa com oleodutos... olha aí a inovação).

De uma forma ou outra, sob o argumento de evitar a cartelização e o surgimento


de monopólios, a partir do final do século XIX foi editada uma série de leis antitruste.

A primeira lei conhecida é de 1890 (Sherman


Act), quando o Congresso Americano tornou
ilegal qualquer tentativa de restrição do
comércio interestadual ou internacional. Em
1914 o Clayton Act proibiu a redução 68
“abusiva” de preços (dumping).

Atualmente, porém, muitos economistas são bastante céticos quanto à efetividade


dessas medidas (embora essas críticas não reverberem no Brasil). Primeiro porque
essas leis são difíceis de impor. Segundo porque muitas vezes elas são derivadas de
pressão política (e não de análises econômicas).

O OUTRO LADO DA MOEDA

Amig@, se tem um lugar onde tudo é polêmico (até mais que no direito), esse lugar
é a ciência econômica. Alguns economistas dizem que, a depender de certos fatores,
em alguns mercados, um monopólio pode ser mais benéfico aos consumidores do
que várias pequenas empresas em concorrência. Como????
Um grande monopolista precisa gastar menos com publicidade e pode se utilizar
da economia em escala (reduzindo as despesas). Com isso, seus lucros subem e o
preço final ao consumidor pode até mesmo ser menor do que se houvesse pequenas

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

firmas concorrendo ferozmente, as quais, além de ter de investir em anúncios,


compram matéria-prima em pequena quantidade.
Outra questão polêmica é a efetividade de obter maiores fatias do mercado
(marketshare) mediante táticas agressivas para tirar os competidores da jogada
(como o dumping). Em longo prazo, esses esforços se tornam muito custosos ao
monopolista – se toda vez que entrar um novo competidor no mercado o
monopolista reduzir seus preços de forma predatória ou adquirir o concorrente por
valor elevado, acabara se estropiando.

O economista americano William Baumol, na década de


1950, defendeu que não importa se há um monopólio,
contanto que não haja barreiras formais ao ingresso de novos
players no mercado (protecionismo governamental, por
exemplo). A mera ameaça de competição faz com que o
monopolista mantenha os preços em nível de competitividade
– preços elevados poderão atrair outros competidos, inclusive
com poderio suficiente para quebrar o monopólio.

69
MONOPÓLIO DE TRABALHADORES?

Se pode haver monopólio do lado de lá, também pode haver do cá – caso em que
os empregados conseguem salários mais altos.

Adam Smith iniciou essa ideia e deu como exemplo os mineiros de


ouro, que ganhavam salários mais altos porque tinham fama de ter
habilidade superior. Nos EUA há muita discussão quanto a uma
eventual reserva de mercado para médicos. No brasil essas
discussões ocorrem com relação ao exame da OAB.

Stuart Mill aborda o tema de uma perspectiva diferente. Para ele, algumas profissões
(como a medicina) têm muros naturais porque barram pessoas das classes mais
baixas em razão das exigências, especialmente de muitos anos de educação de alta
qualidade, o que poucas famílias podem oferecer.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

6.2 TEORIA DO VALOR-TRABALHO: KARL MARX

E agora, chegamos a ele: o CARA!


Possivelmente Karl Marx (1818-1883) seja o economista mais famoso da história.
Vamos dar uma espiada na teoria do barbudo (apenas no aspecto econômico,
porque o âmbito político já foi abordado em outros volumes do nosso estudo).

Para Marx, os recursos naturais vêm de graça da


natureza. Adicionando trabalho aos recursos
naturais, o homem cria matérias-primas.
Adicionamento mais trabalho, o homem cria
máquinas e commodities. Adicionamento ainda
mais trabalho, cria bens. Logo, o valor dos
produtos só pode ser definido pelo esforço
(trabalho) que é necessário para fazê-los.
70
Dito isso, Marx entendia que o valor das coisas não estava distribuído de modo justo
pela sociedade, pois existia uma lacuna entre o valor agregado pelos trabalhadores
aos bens e o salário por eles recebido. Ou seja, os capitalistas (detentores dos meios
de produção) estavam se apropriando descadaramente do valor excedente gerado
pelo trabalho.

Mais-valia nada mais é do que esse valor excedente gerado pelo trabalho.

Pois bem. Essa parcela basilar da teoria de Marx sempre foi alvo de muitas críticas.
Vamos ver por quê.

Castelos de areia: por que eles não custam muito dinheiro, já que não o maior
trabalho para construir? Marx dizia que o trabalho podia ser desperdiçado em cosias
que ninguém queria. A tréplica é: mas como saber? Se algo deu um baita trabalho

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

e é coloca à venda por alto preço, pode ser que ninguém queira... se o preço baixar,
o interesse sobe... a desvinculação da relação valor-trabalho é justamente o que faz
o bem se tornar atrativo.

Obras-primas: pode uma pintura (Mona Lisa) ter seu preço fixado pelo número
de horas investidas para criá-la? Marx dizia que essas grandes criações humanas
eram uma exceção... uma obra-prima é única hehehe

Vinhos 10 anos: e os vinhos que são guardados em nenhum esforço adicional


e agregam valor? Marx diz que a guarda (por si só) é trabalho.

Achado: e o diamante ainda bruto encontrado? Por que ele vale mais do que
um pedaço de calcário obtido com muito esforço? Comparativo: por que o ouro
vale mais do que a prata se ambos dão o mesmo trabalho para obter? Marx? Cadê
você Marx? Ele saiu sem responder...

Em sociedades primitivas, quando o papel do trabalho era determinante na


valoração dos bens, a teoria marxista podia até fazir algum sentido: uma rede de 71
pesca costurada durante uma semana não podia ser trocada por uma colher de
madeira esculpida em uma manhã. O que é irônico é que Marx tenha defendido
essa ideia justamente no nascer da sociedade industrial, onde esse cálculo se tornou
simplista e ultrapassado. Em português simples: ERROUUUU!

(Ano: 2009 Banca: FGV Órgão: SEFAZ-RJ Prova: FGV - 2009 - SEFAZ-RJ - Fiscal de Rendas)
Um trabalhador escolhe livremente entre horas de lazer e de trabalho num mercado sem
obrigações contratuais. Com relação à teoria clássica de oferta de trabalho, que relaciona
horas trabalhadas com salário/hora pago, assinale a afirmativa correta quanto às suas
hipóteses e conclusões.
a) O trabalhador não escolhe livremente entre horas de trabalho e de lazer.
b) Quanto maior o salário/hora, menor a oferta de trabalho.
c) A oferta de trabalho aumenta com o aumento do salário até um dado nível w*, reduzindo
para níveis de salário superiores a w*.
d) Obrigações contratuais incentivam rápidos ajustes às variações de salários.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

a) A oferta de trabalho aumenta com o aumento do salário.


Comentários
A oferta de trabalho aumenta com o aumento de salário, uma vez que mais pessoas estarão
dispostas a trabalhar (por salários maiores). Isso vai indo até certo ponto, quando as pessoas
passam a querer mais lazer. É o que vem acontecendo na Europa, onde o pessoal quer
trabalhar 6 horas por dia (quando muito).
A alternativa correta é a C.

Em suma, muito embora seja sustentáculo de sua teoria política, a teoria do valor-
trabalho de Marx (mais-valia) não se sustenta. Elementos como oferta e demanda
são muito mais relevantes para a fixação dos preços.

6.3 BOLHAS: O JOGO DO “PEGA-BOBO”

Em 1841, o jornalista escocês Charles Mackay publicou a obra “Extraordinary


Popular Delusions and the Madness of Crowds”, um estudo psicológico dos
mercados e do comportamento irracional das pessoas agindo como em manada. A
72
hipótese apresentada (com interesse para a economia) é a de que um frenesi
coletivo pode levar os preços a subirem para além de qualquer valor intrínseco:
cria-se uma BOLHA especulativa!

Quando pensamentos em bolhas,


imaginamos algo mais recente
(1929, 2002, 2008...). Hummm,
não é bem assim. A Bolha das
Tulipas foi uma bolha especulativa
que explodiu em 1637, arruinando
milhares de investidores.

A Mania das Tulipas é das primeiras e mais famosas bolhas especulativas de todos
os tempos.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

No início do século XVII, as camadas mais


altas da sociedade holandesa e alemã
piravam nas tulipas importadas de
Constantinopla. Acreditava-se que as tulipas
podiam conferir riqueza e sofisticação aos
seus proprietários.
As classes médias ficaram obcecadas por
colecionar as variedades mais raras da flor.
Em 1636, a demanda por espécies raras de
tulipas era tão intensa que elas eram
negociadas na bolsa de valores de Amsterdã.

Aproveitando-se da alta de preços, muito investidores enriqueceram rapidamente. E


foi aí que muitos (de nobres a humildes serviçais) tentaram embarcar nesse vagão,
imaginando que a paixão pelas tulipas seria duradoura.
Acontece que quando o apelo pelas flores diminuiu, o preço despencou.
Percebendo o que estava por vir, os investidores se apressaram em vender seus
títulos. O mercado colapsou. Alguns perderam tudo. Quem havia empresado
dinheiro para investir se viu perseguido pelos cobradores11. Foi um desastre!
73
Com 53 anos de idade, Sir Isaac Newton aceitou a chefia
da Casa da Moeda inglesa. Ele levava as leis financeiras
tão a sério quanto levava as leis da física – mandou
diversos falsificadores de moeda para a forca. Sua
experiência com a economia, de toda forma, foi amarga. Pois não é que o cientista
acabou por descobrir que o mercado era mais difícil de prever do que a realidade
física: ele perdeu a maior aparte de sua fortuna na “bolha dos Mares do Sul” (1720),
uma especulação das ações da Companhia dos Mares do Sul – as pessoas tinham
sido levadas a acreditar que ainda havia vastos estoques de ouro nas colônias da
América, como se as minas fossem inesgotáveis.

11
Há um filme (“Amor e Tulipas” - 2017) bem legal que conta um pouco do episódio, junto com uma trama romântica
e trágica. Confira o trailer: https://www.youtube.com/watch?v=7FJmJSo_IeY

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Pobre Newton!!! O economista americano Peter Garber não fica com peninha, não!
Ele entende que os investidores adquirem títulos sabendo muito bem que os preços
estão acima do normal, mas acreditam que estes subirão ainda mais antes de cair,
permitindo-os vender com ágio. Como os preços não podem subir para sempre, o
investidor age guiado pela ideia de que “o cara para quem venderei é mais tolo (do
que eu) e não perceberá que o colapso (crash) se aproxima”.

Mas o que gera as bolhas, o aumento maluco dos preços e depois a queda abissal?
Às vezes, a razão por trás da alta de preços é real (como o fato de senhoritas finas
quererem usar tulipas presas a seus vestidos), mas às vezes o negócio é pura
especulação, a exemplo da Bolha da Internet (Dotcom Bubble).
Nos primórdios da internet, as pessoas acreditaram que toda e qualquer firma que
estivesse na rede iria se tornar a próxima AOL (cujo número de usuário pulou de
200 mil para 1 milhão em dois anos e depois passou a subir à taxa de um milhão
a cada mês). A geral correu para investir – quando seu tio mecânico começa a
discutir investimentos no almoço de domingo da família, você tem um sinal claro de
que uma bolha está prestes a explodir. Estima-se que entre 2000 e 2002, mais de
U$ 7 trilhões tenham desaparecido do mercado de valores (perdas).
74

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A explicação oferecida por Hyman Minsky (1919-1996) é elucidativa. Em tempos


de prosperidade, as dívidas se acumulam porque as pessoas estão confiantes
(“espírito animal” de Keynes). O processo continua (infla) até que atinge o ponto de
crise (momento Minsky) quando as dívidas são exigidas e a economia quebra.

6.4 SISTEMA BANCÁRIO: DIAMOND E DYBVIG

Em 1983, os economistas americanos Douglas Diamond e Philip Dybvig publicaram


o artigo “Bank Runs, Deposit Insurance, and Liquidity”, no qual demonstraram que
mesmo bancos solventes (financeiramente saudáveis) podem sofrer com um frenesi,
uma corrida por saques, o que pode levar à quebra do sistema financeiro como um
todo (foi o que ocorreu em 1929).
Como isso acontece?
Os bancos mantêm consigo uma pequena porcentagem dos depósitos em reservas 75
de caixa. A maioria do dinheiro depositado é investido (emprestado para terceiros).
Normalmente, isso funciona muito bem: quem precisa de crédito obtém e vai
pagando aos poucos (devolvendo o valor). Os bancos conseguem tranquilamente
atender às ordens de devolução (saque) das pessoas que assim pretendem. Agora,
se houver uma corrida por saques, aí a coisa muda de figura.

Se todo mundo (ou um número grande


de pessoas) resolver sacar seus
depósitos ao mesmo tempo, apenas os
que chegarem primeiro conseguirão
receber, uma vez que a maior parte do
dinheiro antes depositado estará
rodando pela economia e demorará a
voltar.

Para que esse sistema funcione, ou as pessoas devem ficar sempre tranquilas,
confiantes de que terão seu dinheiro de volta quando precisarem, ou deve haver

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

alguma espécie de seguro integral para os depósitos. A primeira opção é


assegurada por uma economia estável. A segunda é objeto de franco debate,
considerando o perigo moral que pode vir a ensejar.

PERIGO MORAL

Entre as tantas fases famosas atribuídas a Adam Smith está “o homem responde a
incentivos”. Logo, se não houver incentivo ao trabalho, por exemplo (e o sujeito
puder ganhar a vida na sombra e água fresta), pode apostar que não haverá
nenhum esforço ao labor. A isso se chama perigo moral.
E tal perigo também afeta os mercados, especialmente aqueles cercados de políticas
assecuratórias (como o bancário e financeiro). A existência de seguro incentiva os
operadores a assumir mais riscos, porque eles sabem que os eventuais prejuízos
serão cobertos.

76

Grandes bancos surfam essa onda: alguns se acham “grandes demais para
quebrar”. Sabendo que sua falência causaria recessão, eles atuam sem medo
(investimentos demasiadamente arriscados), na fé de que acaso algo dê errado, o
governo criará um plano para ajudá-los
O Economista americano Kenneth Arrow acreditava que nessas situações a
intervenção estatal era justificada, evitando que o mercado trouxesse prejuízos às
pessoas. Mas e quando o risco vem do próprio Estado?

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Segundo alguns suspeitam, a Crise do


Euro de 2012 foi em boa parte provocada
pela festa dos gastos públicos na Grécia,
cujos políticos governavam crentes de que
o país era “grande demais para quebrar”
e que receberia ajuda externa (o que
acabou mesmo ocorrendo).

6.5 TEORIA DOS JOGOS: JOHN NASH

Até meados da década de 1940, os economistas acreditavam que o impacto


individual de cada comprador ou vendedor no mercado (comparando-se com o
tamanho da economia como um todo) era praticamente insignificante.
Individualmente, os agentes pouco influenciavam nos rumos da economia.
Só que aí os matemáticos americanos John Von Neumman e Oskar Morgenstern 77
publicaram o inovador artigo Theory of Games and Economic Behavior (1944) e
mudaram todo essa panorama, ao demonstrar que alguns agentes econômicos
eram grandes o suficiente para, com suas decisões individuais, influenciar o
mercado inteiro, a exemplo do grupos econômicos de empresas (conglomerados
empresariais), sindicados e.. tchã, tchã, tchã, tchã... o GOVERNO.
Logo, estudar as interações entre esses agentes (compreender suas escolhas) é
fundamental para entender a economia. Surge a teoria dos jogos.

O EQUILÍBRIO DE NASH

John Nash (1928-2015), aquele mesmo do filme


“Uma mente brilhante”, buscou explicar o que
acontece quando os players (jogadores ou agentes)
tomam decisões independentes em situações não
cooperativas – quando não há oportunidade para
comunicação ou colaboração.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Ele sugeriu que a cooperação é uma possibilidade, mas apenas quando cada player
a percebe como um elemento que maximizará sua chance individual de sucesso. A
partir disso, Nash identificou um estado de equilíbrio em que nenhum dos players
quer alterar seu comportamento individual (mantém a melhor estratégia individual,
não cooperativa), supondo que os outros farão o mesmo.

DILEMA DO PRISIONEIRO

Em 1950 Melvin Dresher e Merrill Flood explicaram a teoria de Nash de forma


bastante criativa e elucidativa por meio do dilema do prisioneiro.
Imagine que dois criminosos foram pegos e interrogados separadamente. Durante
as oitivas lhe são oferecidas as seguintes opções: (1) se cada um delatar o outro,
ambos receberão uma pena média, aceitável; (2) se ambos silenciarem, receberão
uma pena pequena, que será facilmente cumprida; (3) se apenas um dos dois
delatar o outro, quem abriu o bico sairá livre, leve e solto (como um passarinho) e
o que silenciou cumprirá uma longa pena, terrível. 78

O que você acha que aconteceria?


A melhor estratégia de cooperação, claramente, seria ficar em silêncio (6 meses de
pena), mas o equilíbrio de Nash leva a crer que na maioria da vezes teremos a pena

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

média de 3 anos – acreditando que o outro abrirá o bico, nenhum dos dois terá
coragem de silenciar (e ter de encarar 10 anos de cana).

(Ano: 2013 Banca: FCC Órgão: MPE-AM Prova: FCC - 2013 - MPE-AM - Agente Técnico -
Economia) Em relação a estratégias competitivas e jogos, é correto afirmar:
a) Os modelos de Duopólio desenvolvidos pela Teoria Econômica não fazem uso do conceito
de Equilíbrio de Nash.
b) Para todo e qualquer jogo sempre há apenas uma estratégia compatível com o Equilíbrio
de Nash.
c) Quando cada agente consegue definir sua estratégia ótima, independentemente da
adotada por seus concorrentes, há um Equilíbrio de Estratégias Dominantes.
d) Todo Equilíbrio de Nash corresponde a um Equilíbrio de Estratégias Dominantes, pois
nenhum agente tem incentivo a alterar seu comportamento.
e) O Dilema dos Prisioneiros é um caso clássico em que todos os agentes possuem uma
estratégia dominante e por isso o equilíbrio é alcançado.
Comentários
79
Quando cada agente consegue definir sua estratégia ótima, independentemente da adotada
por seus concorrentes, há um Equilíbrio de Estratégias Dominantes (C). Obviamente, NÃO é
todo jogo que apresenta apenas uma estratégia compatível com o Equilíbrio de Nash (B).
NÃO é todo Equilíbrio de Nash que corresponde a um Equilíbrio de Estratégias Dominante,
embora seja verdade que o equilíbrio de Nash representa uma situação em que, em um jogo
envolvendo dois ou mais jogadores, nenhum jogador tem a ganhar mudando sua estratégia
unilateralmente. (D). Uma estratégia estritamente dominante é aquela que sempre fornece a
maior utilidade para um jogador, independentemente da estratégia do outro jogador. Assim,
um equilíbrio estratégico dominante é alcançado quando cada jogador escolhe sua própria
estratégia dominante (E).
A alternativa correta é a C.

O que isso tudo tem a ver com economia? Em situações de informação incompleta
(nevoeiro de incerteza), os players do mercado tomam decisões tentando prever o
que seus concorrentes e demais agentes irão fazer. Por exemplo: quem trabalha no
mercado financeiro busca agir tentando adivinhar o que o banco central irá fazer
(quanto à inflação, câmbio, títulos, quantidade de moeda, taxas de juros).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

ABRINDO PARÊNTESIS...
PARA MUITO ALÉM DO MERCADO
A teoria de Nash explica por que é difícil manter um oligopólio via cartel (lembra?),
considerando a real possibilidade de um dos agentes trair os demais em busca do
lucro pessoal e imaginando que, em algum momento, um dos outros fará o
mesmo.
Mas a aplicação da teoria dos jogos e do equilíbrio vai muito além da seara
mercantil. Nações atuam com base nela. Há uma versão do dilema do prisioneiro
conhecido como “jogo de guerra e paz”, que explica por que os países investem
tanto dinheiro em novas tecnologias bélicas (e o medo de não se armar e o outro
armar-se até os dentes?).

(Ano: 2016 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de Teresina - PI Prova: FCC - 2016 - Prefeitura de
Teresina - PI - Técnico de Nível Superior) A teoria dos jogos pode ser útil para analisar o
processo decisório nas empresas. No modelo do dilema dos prisioneiros,
80
a) o resultado de uma decisão depende também da decisão dos demais participantes.
b) os participantes tomam sua decisão em um ambiente de cooperação.
c) a informação é perfeita.
d) temos um jogo de soma constante.
e) não existem estratégias dominantes.
Comentários
A ideia da teoria dos jogos é justamente a correlação entre as decisões (ambiente de
influência). Logo, “o resultado de uma decisão depende também da decisão dos demais
participantes”.
A alternativa correta é a A.

A CORRENTE DOS SUBJOGOS

Outro economista responsável por fazer avançar a teoria dos jogos foi o alemão
Reinhard Selten, que introduziu o conceito de subjogo. A ideia é de que muitas

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

situações reais são compostas por diversos estágios (como os elos de uma corrente),
sendo que o equilíbrio deve ser alcançado em cada estágio do jogo.

Imagine que “Espetinho de Gato” é uma rede de lanchonetes


com diversas unidades em várias cidades. “Hambúrguer do
Cão” é um concorrente que está se preparando para entrar
no mercado em uma dessas localidades. Pensando
isoladamente, a melhor estratégia para Espetinho de Gato
seria baixar o preço para matar o Cão já no berço.

Acontece que seguindo a corrente, pode ser que no decorrer do


tempo outros concorrentes tentem também entrar no mercado. Se
a Espetinho de Gato manter a estratégia de redução predatória de
preços, acumulará perdas e mais perdas. A estratégia que parece
ótima em um jogo isolado se mostra desastrosa em um jogo de
múltiplos estágios.

81
7 DIREITO DO CONSUMIDOR

Até o século XX, as relações de consumo pautavam-se na confiança, mesmo porque,


em regra, os contraentes se conheciam, mantinham relações de proximidade, em
pequenas cidades ou em comunidades razoavelmente delimitadas (bairros de
grandes cidades).
Posteriormente, o trato comercial passou por um processo de despersonalização –
o profissionalismo de grandes empreendimentos cortou barreiras (inclusive a da
pessoalidade antes existente) – para alguns, a publicidade substituiu o "bom nome".
Veja-se que hoje compramos pela internet sem nem saber exatamente de onde vem
o produto ou quem (pessoa) o comercializa.
Em tal ambiente, as relações são tão diversas que demandaram (ao que se
entendeu) um novo direito, para além do civil e do empresarial, considerando as
especificidades das relações havidas entre fornecedor e consumidor. É assim que
surge o direito do consumidor, o qual altera sensivelmente o modo como a
economia funciona nesses meandros.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

7.1 PREÇO: QUANTO SE PODE COBRAR POR UM BEM?

Você já teve a impressão de que foi “assaltado” ao comprar um produto?


Eu tenho alguns exemplos.

Dia de jogo, céu azul. Só que quando você chega na frente do


estádio, o tempo vira e começa a garoar... pelo jeito vem chuva
da boa nos próximos minutos... e aí brotam do chão uns sujeitos
vendendo capa de chuva por R$ 30,00, sendo que ela
normalmente custa cinco pila. Pode isso?

Você está visitando os museus, coisa linda, aproveitando a arte e a


cultura produzida pelo homem. O dia só pode ficar melhor com um
sorvete. E é aí que você quebra a cara: a casquinha está U$ 8,00, o
que, a depender de a quantas anda o Brasil (a taxa de câmbio e o
IOF), vai te custar uns R$ 40,00.
82
Parte dos economistas entende que essa de ser assaltado não existe: o preço de
qualquer coisa é o quanto as pessoas estão dispostas a pagar. Não há dimensão
moral na colocação dos preços. Os vendedores vão pressionando os preços para
cima. Se eles pressionam demais, as pessoas deixam de pagar (caro além da conta)
e o vendedor é obrigado a reduzir o preço (negociando, a capa de chuva sai por
R$ 25,00). Segundo esses autores, nem mesmo o ouro tem um valor intrínseco.
Tudo é variável.
Será que todo mundo concorda com essa VISÃO? É claro que NÃO (até rimou).
Aristóteles já havia dito (em 350 a.C.) que o preço das coisas deveria ser mensurado
pela sua necessidade (quanto mais necessário, mais caro). No Império Romano, as
Cortes protegiam os proprietários de terra quando os preços das terras caíam,
salvando-os de vender suas propriedades por “preços injustos”, com grandes
perdas. Em 1544 o economista espanhol Luis Laravia de la Calle chegou a propor
que os preços fossem estabelecidos por “estimativa popular”, considerando a
qualidade e a abundância – tem louco pra tudo mesmo...

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Na voz de São Thomas de Aquino, o “preço justo”


corresponde ao convencionalmente aceito pelas partes sem
coação. Mas o convencionado pode se tornar injusto
quando uma parte tira vantagem da outra (exemplo:
cobrando mais de um faminto durante uma escassez).

A famosíssima obra Suma


Teológica é um dos primeiros
estudos do mercado. Para Aquino
(um monge), a questão do preço
carregava uma profunda questão
moral. Como a avareza era um
pecado capital, mas ao mesmo
tempo os mercadores precisavam
lucrar para que tivessem incentivo
para comerciar (sem comércio a
comunidade iria ficar privada dos
bens de que necessitava), era
preciso encontrar um meio termo:
83
o “preço justo” poderia incluir um
lucro decente, mas que não
representasse vantagem excessiva.
Como saber qual era esse valor?
Bastava deixar à liberdade do
comprador, desde que provido de
informação suficiente e honesta.

Lembre-se da enorme importância dos preços! Mises esclareceu que o socialismo


não funciona justamente porque os preços são a única maneira de estabelecer as
necessidades.

ABRINDO PARÊNTESIS...
Utilidade marginal

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A utilidade da última unidade consumida ou produzida é menor do que a da


primeira – o quinto chocolate gera menos prazer do que o primeiro.
Lei dos rendimentos decrescentes: o trabalhador continuará trabalhando até a
sofrível dor da última hora (desutilidade) para ganhar seu pagamento por hora
(utilidade). A última hora, que possui menor produtividade, será remunerada com
o mesmo preço da primeira hora (que tem produtividade muito maior). Assim, a
última hora faz elevar o preço total da produção, o que chamamos de custo
marginal – aumento do custo total para produzir uma unidade a mais.
A razão dos preços por mercadorias é igual à razão de suas utilidades marginais.

PREÇO DE EQUILÍBRIO

Como bom liberal (precursor do liberalismo), Adam Smith entende que o mercado
é o sistema que gera o preço mais justo. Mas ele não deixa de fazer análises
pontuais sobre a justeza prática dos preços. Para ele, todos os bens têm um preço
que reflete o esforço para fazê-lo – preço natural ou valor real.

84
O valor real de um bem é o preço do trabalho para obtê-lo. O preço
do grão envolve o aluguel pago, os salários dos trabalhadores, o
transporte, o lucro do fazendeiro. Os mercados competitivos forçam
os preços a corresponder ao valor real (natural) – equilíbrio entre as
contribuições do trabalho, terra e capital.

Eventualmente, os preços no mercado (taxa de retorno) podem diferir do preço


natural, mas apenas por um certo período de tempo, em vista de situações anormais
(como escassez).

A competição REDUZ o preço. Se o preço está Lei da gravidade econômica: se


muito baixo, os fornecedores quebram ou uma mercadoria estiver
abandonam o mercado. A diminuição da excessivamente cara, mais
competição faz o preço SUBIR. Os preços estão fornecedores entram no
sempre sendo atraídos para o centro de mercado, esperando vender um
equilíbrio (preço natural). pouco mais barato e lucrar.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Se a demanda por um produto supera sua oferta, os consumidores competem para


ver quem vai poder comprá-lo, o que faz o preço subir. Isso gera oportunidade de
lucros, o que coloca novos players no mercado e faz o preço descer.
Esse equilíbrio é conseguido de maneira espontânea, sem controle coercitivo,
planejado ou mesmo intenção deliberada de quem quer que seja.

7.2 LUXO: THORSTEIN VEBLEN

Thorstein Veblen (1857-1929) foi um cara conhecido pela


ironia, acidez e heterodoxia. Enquanto os outros falavam em
preço de equilíbrio, valor-trabalho e oferta-demanda, ele
chegou de sola com o conceito de consumo conspícuo:
mercadorias luxuosas se tornam mais atraentes quando são
mais caras, o que contradiz diretamente a premissa
neoclássica de curvas decrescentes de procura.

85

Veblen ridicularizou a ideia de homem econômico racional, que toma decisões no


mercado de modo pensado, calculado. Segundo sua visão, os recursos são
deslocados da satisfação de necessidade genuínas para uma corrida de consumo
conspícuo. O ponto principal do marketing é tornar as pessoas infelizes com o que
elas possuem para que elas comprem algo novo e... caro!

Nos produtos de exclusividade (veblen goods), a


procura aumenta quando os preços sobem. Isso quer
dizer que se o preço do bem cair e ele se tornar
acessível, sua atração despescará (exemplo: Rolex e
Ferrari). Esses bens são feitos para poucos, para
serem “coisa de rico”.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A Burberry chegou a queimar $140 milhões em roupas, o estoque ao final de uma


colação (jamaix fará promoção) para evitar que os produtos fossem vendidos a
valores mais baixos e se popularizassem. Exclusividade significa restrição de acesso,
o que se faz por preços altos. Para muitos, abre-se aqui uma questão ética.

7.3 OFERTA E DEMANDA

Oferta e demanda são elementos fundamentais da economia. A interrelação entre


a quantidade de um produto disponível no mercado e o desejo dos consumidores
de obterem esse produto é fundamento dos mercados.
Classicamente, a quantidade que as empresas buscam produzir de um produto é
determinada pelo preço – preços mais elevados (preço substancialmente maior que
o custo de produção) incentivam a produção (garantias de maiores lucros). Agora,
se o preço é alto demais (acima do que as pessoas estão dispostas a pagar), então
a produção (oferta) é reduzida.

Acontece que nem sempre as coisas funcionam dessa forma.


86
Exemplo: se uma fábrica de computadores está operando no
limite de sua capacidade produtiva (100 computadores por dia)
e a demanda é de 105 computadores, possivelmente não valha
a pena abrir toda uma nova linha de produção (com vários custos
e riscos envolvidos). Melhor será aumentar um pouco o preço
para fazer a demanda reduzir para 100 computadores/dia.

Acontece que nem sempre as coisas funcionam dessa forma. Exemplo: se uma
fábrica de computadores está operando no limite de sua capacidade produtiva (100
computadores por dia) e a demanda é de 105 computadores, possivelmente não
valha a pena abrir toda uma nova linha de produção (com vários custos e riscos
envolvidos). Melhor será aumentar um pouco o preço para fazer a demanda reduzir
para 100 computadores/dia.
Há ainda outros fatores que interferem nessa operação, como o fato de o bem ser
essencial (mesmo com o aumento do preço de uma medicação, sua demanda
continuará estável) ou o fato de as pessoas pirarem em um produto (o Iphone é
vendido a preço de ouro no Brasil e mesmo assim uma galera paga o preço
extorsivo).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

7.4 MERCADO DE INCERTEZAS: GEORGE AKERLOF

O economista americano George Akerlof (1940-) observou que a


economia neoclássica presume mercados perfeitos, em que um
grande número de firmas compete para vender produtos idênticos
e todos têm plena informação. Só que esse cenário passa longe
de ser o que se verifica na prática. Na realidade, o tamanho das
firmas e suas posições no mercado muda tudo! E nem todos têm
o mesmo acesso a informação.

A maioria dos economistas acreditava (e ainda acredita) que os mercados permitem


às pessoas negociar (comprar e vender) bens e (prestar e contratar) serviços por um
certo valor (pretendido e aceito). Akerlof questionou essa tese, afirmando que nem
sempre isso ocorre em razão da assimetria de acesso à informação necessária – o
efeito dessa ausência de informação é que acabam ficando no mercado apenas os
“limões”. Como assim? 87
Essa ideia pode ser bem compreendida pelo exemplo dos automóveis usados
(conhecidos como “seminovos” kkkk). Um vendedor tem dificuldades em comprovar
que seus carros não são “bomba”. Para poder competir com os limões (carros
baratos, mas com gosto amargo ao final) o vendedor de bons carros acaba tendo
de ofertar garantias estendida e subir o preço. No fim, os carros ficam mais caros.

$ na mão é VENDAVAL?
“O dinheiro ruim tira o dinheiro bom de circulação”
A teoria de Akerlof é uma versão moderna da ideia sugerida originalmente pelo
financista inglês Sir Thomas Gresham (1519-1579), que observou que quando
moedas com mais e menos prata circulavam ao mesmo tempo, as pessoas
tendiam a tentar segurar as moedas mais “pesadas”. Daí por que “o dinheiro ruim
tira o dinheiro bom de circulação”.

Esse ambiente de assimetria de informação ocorre nos planos de saúde. O segurado


sempre sabe mais sobre sua saúde do que a seguradora. Os prêmios vão subindo
conforme a idade, mas sempre sobra um “limão” (segurado que oculta informações

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

da seguradora). O resultado são preços (do prêmio) cada vez mais altos e prejuízo
para os segurados de maior idade.
Para piorar, no Brasil a farra da judicialização leva todos a buscarem elevar o
padrão de seu plano de saúde via Judiciário. Como a tática, em 95% dos casos é
bem-sucedida, os preços dos planos aumentam ainda mais (reflexo inexorável). Ao
cabo, as classes mais baixas acabam ficando impossibilitadas de acessar planos
mais em conta (inexistentes). Esse é o mercado dos limões...

(Ano: 2016 Banca: ESAF Órgão: ANAC Provas: ESAF - 2016 - ANAC - Especialista em
Regulação de Aviação Civil) A respeito da teoria do agente principal, analise as afirmativas
abaixo, classificando-as em verdadeiras (V) e falsas (F), e, em seguida, assinale a opção que
contenha a sequência correta.
( ) Essa teoria considera a existência de uma relação entre dois atores, o principal e o agente,
sendo o agente aquele indivíduo que emprega uma ou mais empresas para atingir seu
objetivo.
( ) Na relação agente principal, pode aparecer uma dificuldade derivada da assimetria de
informações, que surge da incapacidade do principal de monitorar as atividades realizadas
pelos agentes e esses perseguirem suas próprias metas em vez das metas do principal.
88
( ) A teoria do agente principal se aplica entre os órgãos reguladores e as empresas reguladas,
pois os primeiros precisam de informações dos últimos para regular o mercado, e isso sempre
envolve assimetria de informação – que pode ser agravada pela evolução tecnológica.
a) V, F, V
b) F, V, V
c) V, V, F
d) F, F, V
e) F, V, F
Comentários
Quem emprega uma ou mais empresas para atingir seu objetivo é o principal (exemplo: uma
seguradora), não o agente (Item I). Os itens II e III (corretos) nos ajudam a compreender com
exatidão como funciona o exquema.
A alternativa correta é a B.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

7.5 ELASTICIDADE DA DEMANDA: MARSHALL E ENGEL

Alfred Marshall (1842-1924) já havia percebido que quando o


preço de necessidades como o pão sobe, a demanda muda muito
pouco. Isso porque as pessoas não podem simplesmente investir
seu dinheiro em outros bens – o pão tem poucos substitutos, o que
torna sua demanda pouco responsiva aos preços.

Outros bens (que possuem mais substitutos e não são essenciais), são muito mais
responsivos às alterações de preço – se o preço sobe, as pessoas param de comprar
(é o caso da geleia de morango, que pode ser substituída por geleias de outros
sabores).
A isso Marshall chamou de elasticidade da demanda – a responsividade do mercado
depende da quantidade de procura após a alteração do preço.

Ernst Engel (1821-1896) aperfeiçoou essa análise ao demonstrar que a


demanda por bens de luxo é muito mais responsiva aos preços e à 89
melhoria das condições de renda da população (demanda elástica).

Quando as pessoas enriquecem, seu gasto com comida (necessidade básica) não
sobe tanto assim (comida é um produto de demanda inelástica). Agora, quando a
renda melhora, os gastos com produtos de luxo (como viagens ao exterior e
produtos importados) sobem rapidamente. Essa noção é conhecida como Lei de
Engel.
Mas no que isso importa para o direito? Por exemplo, com o crescimento da renda
das famílias em um país, o governo vê o dinheiro ir embora em importações e
viagens para o exterior (os mercantilistas ficam de cabelo em pé)... e por aí vai...

7.6 CUSTO DE OPORTUNIDADE

Caso ou compro uma bicicleta?


Parece brincadeira, mas NÃO É! Esse é um dilema econômico muito sério! O custo
do casamento envolve a perda da oportunidade de ter uma bicicleta.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

E isso serve para tudo. O custo de ir ao cinema é a felicidade que você teria ao ir
à praia. Chamamos isso de custo de oportunidade: em um ambiente de escassez
(dinheiro ou tempo, por exemplo) ao fazer uma coisa, deixamos de fazer outra – em
um mundo de possibilidades infinitas e recursos limitados, somos levados a escolher.

O economista austríaco Friedrich von Wiesser (na obra Foundations of Social


Economoy – 1914) explica que o custo de uma atividade envolve não apenas o que
gastamos com ela (exemplo: ingresso do cinema), mas também o que ganharíamos
com a segunda melhor escolha (exemplo: curtir as ondas do mar).

O verdadeiro valor de um produto, portanto,


pouco tem a ver com o seu custo de produção,
mas sim com o quanto as pessoas o desejam e
estão dispostas a pagar – a pessoa mora em uma
casa caindo aos pedaços, as contas estão
atrasadas, a comida é polenta 5 dias por semana 90
porque o fubá está barato, mas o Golf rebaixado,
com rodão e sonzera está na garagem.

Hoje muito se fala, a título de exemplo adicional, que em cidades grandes vale mais
a pena alugar um imóvel (do que comprar), pois o custo de oportunidade para a
aquisição da casa própria não compensa. Vale mais investir o dinheiro e ficar
pagando aluguel, especialmente para quem precisa morar perto do trabalho e está
exposto à necessidade ter de se mudar.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

(Ano: 2018 Banca: FGV Órgão: AL-RO Prova: FGV - 2018 - AL-RO - Analista Legislativo -
Economia) Suponha um indivíduo com o ensino médio completo. O custo de oportunidade
para esse indivíduo cursar em período integral e concluir o ensino superior é igual
a) aos encargos educacionais cobrados pela faculdade.
b) ao valor da mensalidade do ensino médio corrigida pela inflação.
c) ao custo do material escolar, transporte e moradia.
d) ao salário sacrificado do mercado de trabalho, caso não ingressasse na faculdade.
e) a zero, uma vez que o indivíduo já concluiu o ensino médio.
Comentários
Se o sujeito vai ficar na universidade em período integral, ele não poderá trabalhar. Logo,
quanto ao custo de oportunidade, o que temos é que ele sacrificará o salário que poderia
receber, acaso não estivesse o dia todo estudando (essa é a “oportunidade” perdida).
A alternativa correta é a D.

(Ano: 2012 Banca: CESPE Órgão: TJ-AL Prova: CESPE - 2012 - TJ-AL - Analista Judiciário -
Economia) Com relação ao custo de oportunidade, assinale a opção correta.
a) Se cada hora diária de estudo aumenta em três pontos a nota de um indivíduo em uma
prova de matemática, então o custo de oportunidade de não estudar e jogar videogame por
uma hora diária é igual a 0,3 ponto a mais na prova de matemática. 91
b) Se dez reais são suficientes para a compra de apenas um CD ou de um DVD, então o custo
de oportunidade da compra de um CD é dez reais.
c) O custo de oportunidade de estar no Brasil em determinado instante equivale ao custo de
oportunidade de não estar em qualquer outro lugar nesse mesmo instante.
d) Se, para participar de um curso no exterior por certo período, é necessário pagar R$ 140
mil e abrir mão de um emprego no Brasil com ganhos de R$ 280 mil pelo mesmo período,
então o custo de oportunidade de desistir do curso e aceitar esse emprego é igual a R$ 2 mil.
e) Se o custo de um médico corresponde a cinco vezes o custo de um enfermeiro, então o
custo de oportunidade de dois enfermeiros é igual ao de um médico.
Comentários
Assertiva A = Igual a 0,3 coisa alguma. Cada hora perdida jogando videogame tem o custo
de oportunidade de cada hora estudada, isto é, 3 pontos na prova.
Assertiva B = o custo de oportunidade de comprar um CD é um DVD.
Assertiva C = isso mesmo. O custo de oportunidade de estar no Brasil é o de não estar em
Miami, Alpes Suíços, Londres, Nova Iorque...
Assertiva D = o custo de oportunidade aceitando o emprego é dado pela seguinte fórmula →
curso / emprego = 140.000 / 280.000 = 0,5. A resposta tenta confundir com o custo de
oportunidade de desistir do emprego → emprego / curso = 280.000 / 140.000 = 2.
Assertiva E = bora exercitar a matemática!!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Médico = m
Enfermeiro = e
Custo (2e) = 2; Produção (2e) = 1/2 = 0,5 enfermeiros
Custo (2m) = 10; Produção (2m) = 1/10 = 0,1 médicos
Custo de oportunidade (2e) = 0,1 / 0,5 = 0,2 (o custo para formar 2 enfermeiros é de 0,2
médicos)
A alternativa correta é a C.

O custo de oportunidade também vale para as ações governamentais. Como o


cobertor é curto, investir mais em presídios (como exige o STF) significa investir
menos em outras áreas (como saúde, educação e segurança).

92

7.7 HOMEM IRRACIONAL: ECONOMIA COMPORTAMENTAL

Adam Smith foi, realmente, um sujeito à frente do seu tempo. Com ele se iniciaram
muitos dos conceitos que utilizamos até hoje. Um deles é o do homem econômico
racional, que calcula os benefícios e toma decisões com base em uma análise de
potencialização do seu próprio bem-estar (não apenas dinheiro, como observa
Stuart Mill, mas riqueza das mais variadas espécies, inclusive moral).

Essa visão seria muito criticada no futuro, ao argumento de que


o homem não é 100% racional (longe disso).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

O Nobel em Economia Herbert Simon afirmaria, na década de 1940, que a


racionalidade não explica, sozinha, as decisões do homem. Ele seria acompanhado
em 1979 pelos psicológicos israelita-americanos Amos Tversky (1937-1996) e
Daniel Kahneman (1934-), que demonstraram que o homem nem sempre sopesa
custos e benefícios na hora de decidir, muitas vezes tomando decisões irracionais,
especialmente em ambiente de incerteza.

Racional, mas NÃO tanto...


Racionalidade RESTRITA
Kahneman e Tversky aplicaram suas técnicas da psicologia cognitiva para dar o
pontapé inicial na economia comportamental, a qual prega que as pessoas não
agem de modo totalmente racional. Exemplos: (1) temos forte atitude assimétrica
em relação a perdas e ganhos. Odiamos mais perder do que gostamos de ganhar,
o que nos faz, às vezes, perder boas oportunidades de ganho em razão do medo
de perder; (2) não gostamos de mudanças, o que explica a razão pela qual
investidores frequentemente têm dificuldades de abandonar ações de baixa
performance.
Após esses estudos, ainda que fiéis à ideia de que o homem escolhe o que pensa
ser melhor para si (sopesa benefícios), mas reconhecendo que há falhas 93
corriqueiras nesse processo racional, os economistas passaram a utilizar o termo
racionalidade restrita.

Imagine que você seja parad@ na rua e alguém te ofereça R$ 100 de graça, assim,
na maior. Você fica superfeliz. Então o sujeito diz que se você aceitar jogar “cara
ou coroa” (50% de chance) e ganhar, levará R$ 250; se perder, fica sem nada. Há
grandes chances de você preferir ficar com os 100 pila (segurança do ganho).
Agora, imagine que você esteja sendo assaltad@ e tem R$ 250,00 na carteira. Você
reclama que era o dinheiro do leite das crianças e o assaltante se compadece.
Oferece a você uma opção: dar R$ 100,00 para ele ou jogar cara ou coroa. Se
você resolver jogar e ganhar, ele vai embora sem nada; se você perder, ele leva os
R$ 250. Há uma grande chance de você topar jogar cara ou coroa esperando
poder se livrar sem ter de perder nada – não ficará com a segurança de dar apenas
R$ 100 (risco na perda).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Esse é o comportamento contraditório que a maioria das pessoas apresenta: elas


são avessas a risco quando estão encarando possíveis ganhos e são amantes dos
riscos quando estão tentando escapar de perdas.

Como isso impacta na economia e no direito? Em vários aspectos. Exemplo, a perda


de utilidade em empobrecer $ 1 mil parece ser maior do que o ganho de utilidade
em enriquecer $ 1 mil. Não à toa os índices de felicidade não se alteram tanto em
países mais ricos em razão da renda (as pessoas se acostumam facilmente a
ganhar). Por outro lado, considere o desespero do empresário falido (a perda dói)...
Os operadores do direito devem ficar atentos ao bordão: “o alemão nunca perde;
apenas ganha uma derrota”. Brincadeiras à parte, é isso que deve o juiz ressaltar
em uma partilha em divórcio, por exemplo (o quanto as partes ganharam).

Se o governo está disposto a adotar alguma medida, precisa saber reforçar os 94


pontos positivos (vender a ideia). Suponha que uma doença poderá matar 60
pessoas neste ano. O governo tem dois tratamentos à disposição: um que salvará
20 vidas e outro que tem 1/3 de chances de salvar todas, mas 2/3 de deixar todas
morrerem.
Explicados dessa forma os tratamentos, as pessoas tendem a preferir o primeiro
(garantir 20 vidas). Mas se a explicação mudar (o primeiro programa levará à morte
certa de 40 pessoas, enquanto o segundo tem 1/3 de chances de que ninguém
morrerá contra 2/3 de chance de que 60 morrerão) a tendência passa a ser as
pessoas preferirem o segundo tratamento.
Pois bem.
Os fornecedores de produtos e serviços, se querem ser capazes de avaliar melhor o
mercado, precisam compreender esse comportamento real do ser-humano. É
preciso saber que alguém atravessa a cidade para comprar no outro mercado e
economizar R$ 15 nas compras da semana (que totalizaram R$ 150), mas não faz
o mesmo esforço para economizar R$ 15 na televisão que custa R$ 1.500,00,
embora a diminuição patrimonial seja a mesma (R$ 15).
Os juristas, como não poderia deixar de ser, precisam entender isso tanto quanto
os fornecedores, se quiserem bem disciplinar essas relações. Em suma, importa para
todos.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A CULTURA vale muito!


Kenneth Galbraith (1908-2006)

O contexto cultural no qual as decisões econômicas são tomadas é fundamental.


Exemplo: a propaganda pode moldar as preferências dos consumidores de modo
absolutamente decisivo.

8 DIREITO TRIBUTÁRIO

Em sentido amplo, o Direito Tributário ocupa-se do estudo da


tributação (desde a instituição, passando por sua regulamentação e
chegando à arrecadação dos valores) e engloba ainda a gestão,
guarda e destinação dos recursos públicos (direito financeiro).

Por óbvio, essas questões vão acabar perpassando o âmbito da Economia, uma vez 95
que quanto o Estado pretende arrecadar e de que maneira irá investir são questões
que envolvem os modelos econômicos adotados.
Apenas a título de exemplo: se o Estado for de economia liberal, menos recursos
serão necessários e maior será a proteção concedida aos indivíduos – limites ao
poder estatal em tirar parte dos ganhos dos cidadãos. Agora, se o modelo for
interventivo (como a social democracia), o Estado não poderá instituir tributos
praticamente como bem entender.

Vamos mergulhar nessas noções.

8.1 O DINHEIRO FLUI: FRANÇOIS QUESNAY

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Formado em medicina, François


Quesnay (1694-1774) converteu-se
à economia. Como médico, ele
defendia que do mesmo modo que o
corpo precisa de fluxo de sangue, a
economia dependia de constante
circulação de dinheiro. O dinheiro
flui entre os setores e classes (assim
como o sangue flui pelos órgãos): os
agricultores pagam aluguel aos
proprietários, que compram
mercadorias dos artesãos, que
adquirem alimentos dos
agricultores... e por aí vai...

A agricultura trabalha com a natureza,


que multiplica os esforços e os recursos
do agricultor (produz excedente). A
manufatura, por sua vez, é estéril porque
os valores de seu resultado (output) são
96
os mesmos dos insumos (input) – várias
teorias posteriores iriam demonstrar que
isso não é verdade.

Uma das questões mais palpitantes da época de Quesnay era como reabastecer os
cofres do Estado francês, esgotados pela dispendiosa Guerra dos Sete Anos (1756-
1763).
Muitos tinham a resposta na ponta da língua: “SIMPLES! Basta aumentar os
impostos”!!!
Quesnay nadava contra a maré. Ele defendia que aumentar os impostos era como
o derramamento de sangue (técnica “medicinal” muito utilizada na época): se não
fosse feito com cuidado, do modo correto, poderia matar o paciente.
E as metáforas médicas não paravam por aí. Para ele, a riqueza se originava da
agricultura (assim como o corpo precisa de alimento, a riqueza vinha da terra... as
demais atividades eram estéreis, não geravam excedente, apenas contribuíam para
o fluxo do dinheiro). Portanto, o modo mais simples e menos distorcido de extrair
dinheiro era um imposto único sobre a propriedade de terras – cobrar dos

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

proprietários, que nada produziam e apenas coletava aluguel. As demais atividades


deveriam ser deixadas em paz. Daí o temos laissez-faire, literalmente “deixa fazer”12.

A ideia de laissez-faire (hands-off) é Não são poucos os céticos à capacidade


que o mercado competitivo é capaz do mercado de oferecer benefícios
de criar riqueza e estimular inovações sociais mais amplos e distribuídos, de
tecnológicas. Proposta polêmica, que modo que cabe ao governo intervir para
tem recebido as mais diversas críticas oferecer certos serviços (essenciais) e
no decorrer dos anos. ainda limitar os poderes dos produtores.

8.2 CAPACIDADE CONTRIBUTIVA: ANNE-ROBERT-JACQUES TURGOT

Durante o século XVIII (pelo menos até


1763), a França já havia se envolvido em
uma porção de guerras, as quais estavam
custando o olho da cara ao Erário (cofres
públicos). Não bastasse, o sistema tributário
97
se mostrava extremamente ineficiente – esse
negócio de querer tirar de quem tem pouco
e poupar quem tem muito tornava a
arrecadação uma tarefa intrincada.

Não à toa, enquanto o restante da Europa avançava com a Revolução Industrial, a


França se afundava em uma crise econômica e social. A única revolução em seu
horizonte era a popular (burguesa?).

12
A origem do termo é atribuída ao escritor francês Pierre de Boisguilbert, que utilizou a frase laisse faire de la nature
(deixe a natureza agir), com o sentido de “deixe o mercado agir”.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Com a ascensão de Luis XVI ao trono francês em 1774, Anne


Turgot (1727-1781) se tornou Ministro de Finanças. Ele se debatia
com a seguinte questão: “quem deve pagar impostos?” Os
tributos, como sabemos, para além do orçamento público, afetam
toda a economia: preços, lucros, consumo, renda... interferem,
também, no nível de felicidade das pessoas. Era preciso ter todo o
cuidado na hora de distribuir o ônus tributário.

A proposta de Turgot era simplificar a tributação, tentando interferir o mínimo


possível na vida das pessoas e no livre mercado (gerarador de riquezas).

98

Suas ideias, que depois seriam refinadas por outros economistas, buscavam maior
eficiência e equidade na arrecadação de tributos, o que incluía a noção de que os
mais ricos (por ter melhores condições) deveriam pagar mais e aqueles diretamente
beneficiados pelas ações do governo tinham obrigação de arcar com os custos.

Não sei se estamos nos entendendo, mas estamos a


falar aqui de capacidade contributiva e contribuição
de melhoria. Hoje pode parecer algo autoevidente,
mas na época essas ideias não colaram bem (eram
revolucionárias). As classes mais abastadas, que tinham muitos privilégios e eram

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

as maiores beneficiárias das obras públicas (sem ter de pagar nada por elas) ficaram
enraivecidas.

Em 1776, Turgot aboliu as guildas (corporações que se amigavam com o governo


para ter benefícios) e extinguiu uma política de governo que utilizava trabalho
forçado para construir estradas, substituindo-a por um tributo. Aí já era demais!
Turgot perdeu o cargo e suas medidas foram em grande parte revertidas.

Os efeitos das mudanças que promoveu, no


entanto, acabaram tendo fundamental
importância para abrir os olhos de parte da
população e levaram, anos depois, à
REVOLUÇÃO FRANCESA.

(Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: SLU-DF Prova: CESPE - 2019 - SLU-DF - Analista de Gestão
de Resíduos Sólidos – Economia) Com relação à estrutura tributária brasileira, julgue o item
99
subsequente.
Um fator agravante da falta de equidade do sistema tributário brasileiro é a excessiva
participação dos tributos sobre o consumo, em relação àqueles sobre a renda e a propriedade,
na arrecadação.
Comentários
Exato! O sistema se torna regressivo, onerando, de modo mais pesado, quem tem renda
inferior e gasta a maior parte de sua renda justamente com o consumo (os mais ricos, que
economizam e investem mais, ficam de boa na lagoa).
Logo, o item está CORRETO.

8.3 MENOS IMPOSTOS MAIS ARRECADAÇÃO: ARTHUR LAFFER

Os governos de países como o Brasil têm mantido uma fórmula


muito simples: precisa de mais dinheiro, cobra mais impostos! Falta
um pouco de leitura aos governantes (se eles quiserem, posso
emprestar alguns bons livros).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Digo isso porque faz tempo (1970) que


Arthur Laffer já comprovou que alíquotas
altas nem sempre levam a satisfatória
arrecadação. Isso porque a taxação diminui
sensivelmente o incentivo para a produção e
o consumo, o que, em verdade, faz a
arrecadação cair a partir do momento em
que a taxação se torna excessiva.

100
Bora TAXAR os SUPER-RICOS?
E os paraísos fiscais?
Uma coisa que volte e meia aparece para discussão é a regulamentação do
famigerado imposto sobre grandes fortunas. Os defensores só esquecem de
perceber que tão logo esses caras são taxados, eles saem do país, indo parar em
paraísos fiscais (por que que você acha que Mônaco é tão rico?)

A grande questão é onde está o ponto de arrecadação máxima. Você conseguiria


apontar? A esquerda diz que é mais para cima; a direita diz que é mais para baixo.
Não é fácil não...

9 DIREITO ADMINISTRATIVO

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

O tamanho da máquina pública (administrativa) é objeto dos mais acalorados


debates políticos, econômicos e jurídicos. Várias questões importantes estão
incluídas nesse ponto – para citar apenas alguns, aqui vão: serviços públicos,
assistencialismo, intervenção no mercado via empresas públicas.
Não precisa nem dizer que precisamos dar uma boa olhada em alguns desses
aspectos, não é?!

9.1 DAVID HUME

David Hume (1711-1776) foi um dos maiores nomes do seu


tempo. Segundo seu entendimento, mesmo em uma economia
de mercado funcional, há áreas em que os mercados falham
(são insuficientes ou ineficientes). Daí é que surge a necessidade
de alguma (pequena) intervenção estatal na economia.

101

Um bom exemplo disso seria a iluminação


pública (nas ruas), um bem de utilização
irrestrita, tornado disponível a todos, sem a
possibilidade de excluir os não pagantes (free
riders). O mesmo se diga da defesa nacional.
Nesses casos, haveria pouco incentivo a uma
atividade privada.

NÃO EXCLUSIVIDADE NÃO RIVALIDADE

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

É difícil de impedir que os não pagantes O consumo do serviço por uma pessoa
(free riders) usufruam do serviço de não diminui a capacidade da outra de
graça. também consumi-lo.

Como há uma demanda para esses serviços (e o mercado não a atenderia), cabe
aos governos assumi-los na forma de serviço público, custeando-os via tributação.

Segundo o STF, a Taxa de Iluminação Pública é


inconstitucional, uma vez que seu fato gerador tem
caráter inespecífico e indivisível (Súmula Vinculante
nº 41). Aí, pela EC 39/2002, que incluiu o artigo
149-A na Constituição, simplesmente foi criada a COSIP (Contribuição para
Custeio do Serviço de Iluminação Pública), que na prática faz exatamente a
mesmíssima coisa – as concessionárias de serviço público incluem a cobrança da
iluminação pública nas faturas de energia elétrica dos consumidores da iluminação
residencial, comercial, industrial.

Como já vimos, até mesmo o pai dos liberais, Adam Smith, acataria essa premissa 102
de que alguns bens estão “fora do mercado” ou que o mercado não seria eficiente
para prestá-los. Ele também citou as estradas (embora hoje os pedágios venham
substituindo as estradas públicas em muitos lugares).

David Hume foi uma figura ímpar. Ele ajudou a mudar a mentalidade de sua época,
advertindo de que não há mérito na pobreza, nem problema na riqueza.
À beira da morte, em 4 de julho de 1776 (dia em que os Estados Unidos declaravam
sua independência), Hume ofereceu um jantar para se despedir dos amigos. À
mesa, Adam Smith reclamava do tratamento que Hume recebia em seus últimos
dias, o que só deixava claro o quanto o mundo era ingrato.
Sempre bem-humorado, o moribundo respondeu: “Não, não, aqui estou eu, tendo
escrito toda sorte de coisas calculadas para levantar hostilidades no campo moral,
político, religioso, e ainda assim não tenho nenhum inimigo; com exceção de todos
os Whigs, todos os Tories [os dois partidos da época] e todos os cristãos”.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

9.2 EMPRESAS PÚBLICAS: JÁNOS KORNAI

Lembro como se fosse hoje: estava eu no mestrado quando uma professora


inadvertidamente argumenta: “como meu finado marido dizia: ‘se a iniciativa
privada fosse tão boa, não haveria falência’”. Eu fiquei de boca aberta. Tive de
levantar a mão e fazer minha pequena explanação...

Ora, professora, mas a falência não é, justamente, o instrumento de


racionalização do mercado? Só ficam os fortes, os eficientes, os que
são capazes de oferecer produtos de qualidade por preços atrativos.
Bom para o consumidor. Agora, quem não se submete ao risco de
falência (como as empresas públicas) pode agir de modo ineficiente,
ofertar produtos de qualidade inferior por preços elevados, atuar de
modo deficitário... é uma FARRA!

Como vocês podem imaginar, a profe não gostou nada nada da minha observação.
Mas eu não estou sozinho nessa defesa. Anos mais tarde fui descobrir que o 103
economista húngaro János Kornai (1928-) viu em primeira mão tudo isso acontecer
na Hungria socialista. Ele criou uma teoria que aprofunda o raciocínio.
Em mercados competitivos, as decisões das empresas são tomadas em um ambiente
de pressão: há duras limitações orçamentárias – as receitas precisam superar as
despesas (lucratividade). Já as empresas públicas não estão sujeitas a essa mesma
disciplina. Elas estão sujeitas a suaves restrições orçamentárias. O governo, em
última instância, assegura as empresas públicas contra o risco de falência (elas
nunca vão fechar as portas por serem ineficientes).

No Brasil é exatamente assim. A Lei n.º 11.101/2005 (Lei de


Falências) trouxe em seu artigo 2º, inciso I, a impossibilidade de
falência das empresas estatais (empresas públicas e sociedades de
economia mista). Isso sem contar as autarquias, que acaso sejam
ineficientes, podem apresentar um plano estratégico de reestruturação e ganharão
como prêmio o título de Agência Executiva, o que significa maior autonomia e
disponibilidade de recursos orçamentários e financeiros (artigo 51 da Lei nº
9.649/1998). Brasil-sil-sil!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Kornai descreve essa suavidade de orçamento como uma síndrome dos modelos de
planejamento central que NÃO pode ser curada porque apenas uma mudança
sistemática poderia apresentar uma solução.
Lembrando que esse não é um problema apenas de países socialistas e das sociais
democracias, pois mesmo países mais liberais (como os EUA) costumam socorrer
grandes empresas em dificuldades (como os bancos durante as crises do sistema
financeiro), o que leva essas grandes corporações a esperar por essa ajuda (perigo
moral, sobre o qual já falamos), passando a atuar de modo ineficiente ou mesmo
passando a assumir altos riscos (contanto com a salvação estatal).

10 DIREITO AMBIENTAL

Nem o direito ambiental escapa das questões econômicas.


O direito ambiental é um conjunto de regras e princípios que regulam a proteção
do meio ambiente, buscando regular os efeitos diretos e indiretos da ação humana
no meio, de forma a garantir às atuais e futuras gerações o direito ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado. Seu objeto é a garantia da vida humana, em uma visão 104
antropocêntrica (clássica), ou a proteção direta da vida, em todas as suas formas
(releitura biocêntrica).

Pois é. Um dos principais princípios que visam a esse escopo é


justamente o desenvolvimento sustentável, isto é, a compatibilização
do desenvolvimento econômico com a proteção ambiental. E aqui
está a seara econômica, em contato com o direito. Pé na mata!!!

10.1 EXTERNALIDADES NEGATIVAS: FAÇAMOS OS POLUIDORES PAGAREM!

Até 1950, ninguém percebia que elementos como a poluição gerada pelos
produtores simplesmente não era incluída nos custos de produção. Ou seja, que
alguns empresários (em alguns ramos) lucram com o produto e deixam a poluição
para a sociedade. A partir de então, muito se vem discutindo que as fábricas não
arcam com os reais custos de sua atividade, os quais são socializados (enquanto os
lucros são individualizados).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

(Ano: 2015 Banca: VUNESP Órgão: Prefeitura de São Paulo - SP Prova: VUNESP - 2015 -
Prefeitura de São Paulo - SP - Analista de Políticas Públicas e Gestão Governamental -
Conhecimentos Específicos) É um exemplo de externalidade negativa o custo
a) de renovação da frota pública de veículos.
b) das passagens de ônibus.
c) da poluição gerada pelos carros.
d) gerado pela construção do metrô.
e) da fiscalização do trânsito.
Comentários
Externalidades negativas são situações nas quais as ações de um determinado agente da
economia prejudicam os demais indivíduos (deseconomias externas). O custo social é maior
do que o custo pago na seara privada.
A alternativa correta é a C.
105
(Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: DPU Prova: CESPE - 2016 - DPU - Economista) Em relação
à economia do setor público e aos objetivos da intervenção governamental na economia,
julgue o item a seguir.
Na presença de externalidade positiva, o mercado produz resultado socialmente ótimo em
termos de bem-estar.
Comentários
PEGADINHA! Qualquer que seja a externalidade, positiva ou negativa (falha de mercado),
gera desequilíbrio, fazendo com que o mercado se distancie do resultado considerado
socialmente ótimo.
O item está ERRADO.

Algumas ideias passaram a surgir para resolver essa questão. Uma delas é a do
economista britânico Arthur Pigou (1877-1959), segundo o qual a maneira resolver
o imbróglio é taxar os poluidores (fazê-los pagar pelo estrago).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

O imposto pigoviano tem por objetivo fazer com que o custo total
de produção (inclusive da poluição) seja incluído no bolso dos
produtores. Se os produtores querem utilizar combustíveis fósseis
e emitir cases de efeito estufa, por exemplo, devem estar
preparados para arcar com os danos causados.

Ainda que a solução possa ser eficiente, muitos criticam a medida porque se
resolveria em algo como “pague para poluir”. Ademais, NÃO é fácil estimar o real
valor da poluição.
Será que o mercado tem condições de lidar com as externalidades? É a pergunta
que fica...

TRIBUTE o que é ruim, NÃO é o que bom!


Nicholas Georgescu-Roegen (1906-1994)

Os impostos devem ter como alvo coisas “ruins”, como a poluição, e não coisas
“boas”, como os salários.
106
Vários autores falam hoje em economia ecológica: a economia humana deveria ser
vista como parte de um sistema ecológico maior.

10.2 QUANDO O CRESCIMENTO ECONÔMICO CUSTA AO MEIO AMBIENTE?

Adam Smith (sempre ele) ao questionar a noção de que a riqueza


de uma nação se resumia ao seu estoque de metais preciosos (visão
mercantilista) afirmou que a verdadeira riqueza deveria ser medida
pela quantidade de operações (comércio) realizadas no país. Ele
acabara de plantar uma (mais uma) semente, da qual viria a
germinar a noção de Produto Interno Bruno (PIB).

Muito tempo mais tarde, o economista russo-americano Simon Kuznets aperfeiçoou


a ideia para a criação do índice, que busca sumarizar todas as transações realizadas
em uma economia durante o ano.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Após a Segunda Guerra mundial, o índice se consolidou e os países saíram em uma


corrida para aumentar o PIB. As críticas não tardaram a aparecer. Hoje se fala que
o PIB é apenas um índice e nem deveria ser o mais importante (pois a riqueza pode
estar concentrada em um pequeno grupo).
Ademais, outros fatores haveriam de ser considerados, como o impacto ambiental
gerado por indústrias que muito contribuem para o aumento do PIB (olha aqui as
externalidades de novo).

Kenneth Boulding (1910-1993) acusa os economistas


convencionais de atuar no modelo “economia de caubói”, como
se os recursos naturais fossem ilimitados e a poluição algo que
não precisa ser considerado. Tudo é medido pelo cálculo capenga
do PIB, que precisa ser substituído rapidamente por índices que
contabilizem a perda de recursos e o dano ambiental.

ÍNDICE DE FELICIDADE 107


As críticas não param no meio ambiente do ponto de vista estrito (meio ambiente
natural), mas avançam para questões como o índice de felicidade da população,
que, ao que entendem esses autores, deveriam ser consideras.

O economista americano Richard Easterlin (1926-) demonstrou


que a felicidade, em um primeiro momento, está fortemente
associada com a renda familiar. Mas após certo nível, essa
relação perde força. Mais rico não quer dizer mais feliz13. A essa
constatação se costuma chamar de Paradoxo de Easterlin.

13
As pesquisas costumam indicar que a ascensão financeira não é facilmente convertida em graus de felicidade;
porém, ao mesmo tempo, a redução da renda (essa sim) impacta dramaticamente no nível de bem-estar. Meu pai
sempre dizia: “triste não é ser pobre (e nós éramos kkkkk), mas o empobrecimento”.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Hoje conhecemos esse fenômeno por adaptação hedônica (hedonic treadmill). Em


1971, os psicólogos americanos Phillip Brickman e Donald Campbell sugeriram que
as pessoas se adaptam rapidamente a novos patamares de renda, passando a tratar
a segurança financeira como algo normal, retornando ao grau de felicidade
anterior.
Levada ao extremo, essa ideia conclui que acima dos níveis de subsistência, o
desenvolvimento econômico pouco tem a ver com o grau de felicidade, que está
em outros elementos.

Francis Edgeworth afirmou que a


economia é uma máquina para
criar a energia máxima do prazer
(felicidade). Só que os estudos de
satisfação demonstram que
quando a sociedade atinge
determinado nível de riqueza (as
pessoas têm certo salário), o
aumento da renda não tem mais
impacto nos níveis de felicidade. 108

PIB MACHISTA!!!

Malilyn Waring (1952-) reclama que a teoria econômica


predominante reforçaria estereótipos masculinos como a
competitividade, individualismo e racionalidade (???). A
economia precisaria de valores mais “suaves” tais como
“conexão social”. O PIB, por exemplo, não inclui uma
vasta quantidade de trabalho (em grande parte feminino)
que tem valor econômico, mas por não ser pago.

Segundo a autora, atividades como dar a luz a filhos, criá-los e educá-los, cuidar
dos afazeres domésticos..., se não forem remuneradas deixam de ser consideradas
no PIB. Cozinhar só entra na conta (torna-se economicamente ativo) quando a
comida é vendida, embora a atividade seja exatamente a mesma do que aquela

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

feita no fogão de casa (excluem-se as mulheres). Em suma, a contribuição das


mulheres para o “capital social” é subvalorizada.

E como estamos falando em Direito ambiental, ela relata ainda que elementos como
a perda da biodiversidade e a piora na saúde pública (pela poluição, por exemplo)
não estão sendo consideradas nessa conta.

Apesar de todas as críticas a conta é simples: um PIB maior


representa mais empregos e salários mais altos; um PIB
menor (em queda) representa desemprego e incerteza.

10.3 QUANDO O MEIO AMBIENTE CUSTA À ECONOMIA

109
O economista Nicholas Stern estima que o custo das mudanças
climáticas pode ter um impacto negativo maior do que 20% do
PIB global, sendo que com investimentos da ordem de 1% do
PIB, seria possível remediar os efeitos mais danosos se
agíssemos AGORA. Segundo ele, sem intervenção, as
mudanças climáticas custarão cerca de 2,5% do PIB mundial
ao ano até 2099 – esses caras são muito profetas (projeção de
70 anos é bastante audacioso).

A ideia de Stern era apavorar o mundo invertendo a lógica do pensamento. Suas


previsões foram feitas em 2006 (custeadas pelo Reino Unido). Até agora, parece
não que deu muito certo...

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

11 DIREITO ELEITORAL

E para você que achou que já não tivéssemos mais nenhum ramo do direito para
ligar com a economia, aqui vai nossa última pedida: Direito Eleitoral!
O Direito Eleitoral é o ramo do Direito Público (Constitucional) que trata do direito
ao sufrágio – é dimensão política do direito.
E temos, sim, alguns pontos a ressaltar aqui!
Last but not least...

11.1 PARODOXO DA VOTAÇÃO: NICOLAS DE CONDORCET

Dentre os vários assuntos ligados ao processo de tomada de decisões, temos os


sistemas de votação. Mas o que eles têm a ver com economia e direito? Ora essa,
TUDO!
Se formos pensar que é o governo quem estabelece as leis e que o Estado dá um
110
dedinho para interferir na economia (modelos tão em voga como o welfare state e
a social democracia), escolher representantes é apostar nos rumos do direito e da
economia.
Os sistemas eleitorais buscam garantir, em geral, que as preferências pessoais dos
indivíduos possam ser expressadas na escolha de representantes (democracia
representativa). O processo de decisão coletiva (democrática) depende de um
sistema de escolha (votação) justo e eficiente.

Há dois séculos, o matemático francês Nicolas de Condorcet


(1743-1794) demonstrou que é possível que uma maioria
prefira o candidato Jair ao candidato João, mas prefira João
contra José e, ao mesmo tempo, José contra Jair. Pode ser
que um terço prefira, nesta ordem, Jair-João-José; outro um
terço prefira João-José-Jair e outro terço José-Jair-João.
Claramente Jair leva vantagem sobre João e João sobre
José. Só que José ganha de Jair. Realizar uma escolha justa
e objetiva em um caso desses é claramente um problema.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Mais tarde (1950s), Kenneth Arrow avançaria o argumento para afirmar que a
existência de um sistema eleitoral que reflita as preferências pessoais com precisão
não é apenas uma questão problemática, mas uma real impossibilidade.
E vamos a cada dois anos votar, na esperança de escolher racionalmente
candidatos, não é?

11.2 PARADOXO DA INDEPENDÊNCIA: MAURICE ALLAIS

Em 1944, o matemático húngaro John von Neumann e o economista germânico


Oskar Morgenstern desenvolveram uma teoria matemática para descrever como as
pessoas se comportariam tomando decisões diante de condições de incerteza.
Segundo eles, as pessoas agem de modo racional, comparando as possibilidades
e sopesando os benefícios de cada opção, com base em uma regra utilitarista (grau
de bem-estar gerado).

O economista francês Maurice Allais (1911-2010) desafiou essa 111


noção de racionalidade, afirmando que as pessoas são
influenciadas por alternativas irrelevantes, naquilo que chamou de
paradoxo da independência.

Imagine que alguém lhe ofereça uma maçã ou uma banana. Você
escolhe a maçã. No dia seguinte a oferta se repete, mas com adição
de uma opção, uma laranja. É esperado que você escolha entre maçã
ou laranja, porque ontem você rejeitou a banana e a inclusão da
laranja nada altera a relação entre maçã e banana. O lógico é que
você repita a escolha (maçã) ou prefira a nova opção (laranja)... escolher a banana
seria irracional. Pois a irracionalidade é nossa marca registrada... “ahhh, hoje estou
a fim de banana...” (escorregamos na casca de banana).

O que isso tem a ver com economia? Ora, as escolhas que as pessoas fazem para
atender suas necessidades são a base da economia... E o que tem a ver com direito
eleitoral? Opa, o que é direito eleitoral, senão o modo como organizamos o modelo
de governo e de escolha dos governantes.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

O mesmo que vale para maçãs, bananas e laranjas vale para candidatos.
Por sinal, não só o direito eleitoral como o direito como um todo é uma questão de
escolha.
O STF em seu mister diário, por exemplo, é a ilustração viva do paradoxo da
independência.
Para não ficar no abstrato, trarei um caso real.

O naturalizado pode ser deputado e senador, só não pode ser presidente da


respectiva Casa. Por quê? Porque estaria na linha de sucessão do Presidente da
República (CF, art. 80). Mas não poderia a Constituição dizer que eles podem ser
presidentes da Casa, apenas não poderão assumir a Presidência da República? Até
poderia (a Constituição pode TUDO)... Mas ia ser esquisito... só faltava mesmo a
Constituição limitar a função pública (cargo) em razão de questões pessoais.
Aí vem o caso Renan Calheiros (ADPF 402) e o STF faz o quê? Escolhe a banana 112
(ou escorrega na casca de banana ao fazer política). O que disse o genial intérprete
constitucional (ironia nível hard)? Disse que o Renanzinho podia se manter como
presidente do Senado, só não podia assumir a Presidência da República. Opa! Os
réus criminais não podem ocupar cargos que estejam na linha sucessória da
Presidência da República (tanto quanto os brasileiros não natos). Qual a diferença
do réu em relação ao naturalizado? Tecnicamente? NENHUMA! Ambos não
poderiam estar na linha sucessória da Presidência da República. Simples assim... ou
não... Eita!!!
A moral da história é que por alguma razão (no STF nem precisa dizer qual é, né?),
a presença escolhas adicionais parece importar. Elas fazem diferença! É assim na
economia. É assim no direito. Qualquer modelo que busque estudar o
comportamento no processo de decisão (e pretenda ser realista) precisa considerar
esses elementos irracionais.

12 CONCLUSÃO: ENTRE A POLÍTICA E A MATEMÁTICA

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

No século XIX, os economistas conseguiram transformar a economia de um ramo


da filosofia política em um campo extremamente especializado e essencialmente
matemático. Aqueles sem conhecimento nas operações complexas acabavam
excluídos; discussões como as levadas a cabo por Stuart Mill (divisão de renda,
justiça econômica) desapareciam.
Os economistas estavam passando a acreditar que os movimentos a economia
poderiam ser previstos e controlados por meio de equações, do mesmo modo que
os engenheiros podiam controlar as máquinas nas fábricas.

O economista e matemático francês Léon Walras (1834-1910)


chegou a afirmar que não entendia por que alguns ainda
insistiam em usar linguagem cotidiana para explicar coisas de
maneira mais desajeitada e incorreta quando essas coisas
podiam ser muito bem-ditas (de forma precisa e sucinta) na clara
linguagem da MATEMÁTICA.

Walras desenvolveu um modelo matemático complicado, um conjunto de equações


que tinham de ser satisfeitas simultaneamente para explicar a economia. Ele mesmo 113
dizia não poder resolver todas as equações, mas ao contá-las (junto ao número de
incógnitas), ele concluía que havia uma solução a ser descoberta kkkkk.
Com base nisso, ele adaptou o modelo de Adam Smith: em vez da mão invisível,
defendeu uma mão que tateava (em francês tâtonnement). Para explicar seu
conceito, Walras utilizava um leiloeiro, que intermedeia comprador e vendedor,
iniciando com um preço inicial e, por meio dos lances, tateava até que o preço se
tornasse ajustado.
Pois bem. Segundo muitos críticos atuais, essa mão perdeu o tato. A coisa está
bagunçada. Há quem diga que a ciência é um constante processo de refinamento
e melhoria. A economia, ao posar como ciência, teria removido a necessidade de
questões éticas, o que lhe afundou no lodo do pragmatismo cruel.
O que fazer? Que postura adotar? Ser mais positivo ou mais negativo, otimista ou
pessimista em relação à ciência econômica?
Eu prefiro concordar em parte com os críticos, mas continuar otimista: a economia
precisa se reconciliar com a filosofia, de modo que possa ser mais eficiente para a
política e bem instrumentalizar o direito. Isso é verdade!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Daí a extrema necessidade de que pensadores fora das áreas matemáticas se


debrucem sobre seu objeto de estudo – inclusive e principalmente os juristas e ainda
mais aqueles que já perceberam a importância do estudo da humanística.
Captou a ideia?
Sim?
Então venha conosco. A economia é um mundo de possibilidades, para que
possamos mudar o que está errado e manter o que está certo (melhorar) o mundo!

13 QUESTÕES

13.1 QUESTÕES SEM COMENTÁRIOS 114

Q1. Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: SLU-DF Prova: CESPE - 2019 - SLU-DF -
Analista de Gestão de Resíduos Sólidos - Economia
Com relação à atuação do governo na economia, particularmente no
endividamento público, julgue o item que se segue.
O déficit público, que consiste na diferença entre o investimento público e a
poupança do governo, pode ser financiado pela emissão de títulos públicos
para venda ao setor privado.

Q2. Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: SLU-DF Prova: CESPE - 2019 - SLU-DF -
Analista de Gestão de Resíduos Sólidos - Economia
Com relação à atuação do governo na economia, particularmente no
endividamento público, julgue o item que se segue.
A dívida mobiliária dos estados e dos municípios inclui os títulos emitidos para
pagamento de precatórios.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Q3. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova:
FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Técnico-
Legislativo - Economista
Em que pesem as pequenas variações nos indicadores ao longo do tempo, o
grau de concentração de renda no Brasil apresenta-se como um dos mais
elevados do mundo, desde meados do século XX, até nossos dias. Destacam-
se, no caso brasileiro, como causas estruturais dessa desigualdade, EXCETO
a) os baixos índices de crescimento econômico.
b) o poder e a habilidade política das classes dirigentes em manter situações
de privilégio.
c) a elevada concentração de riquezas do país.
d) a ausência histórica de políticas públicas que objetivem mudanças estruturais
e objetivas de forma consistente.
e) o pequeno grau de organização social e política dos extratos mais
desassistidos da população.

115
Q4. Ano: 2018 Banca: FUNRIO Órgão: AL-RR Prova: FUNRIO - 2018 - AL-RR -
Economista
Diante das seguintes afirmações de I a V e o legado de cada autor para o
sistema econômico, relacione adequadamente os conceitos econômicos aos
respectivos autores.
I. As teorias sobre a sociedade, a economia e a política – o entendimento
coletivo que sustentam que as sociedades humanas progridem através da luta
de classes: um conflito entre uma classe social que controla os meios de
produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão-de-obra para a
produção e que o Estado foi criado para proteger os interesses da classe
dominante.
II. Elaborou uma teoria que afirmava que a população iria crescer tanto que
seria inviável produzir alimentos suficientes para suprir a total necessidade
alimentícia do grande número de pessoas no planeta. Dentre suas obras, a
principal foi o Princípio da População. É considerado o pai da demografia por
sua teoria para o controle do aumento populacional.
III. Desenvolveu a teoria das vantagens comparativas que constitui a base
essencial da teoria do comércio internacional. Demonstrou que duas nações
podem se beneficiar mutuamente do comércio livre, mesmo que uma nação

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

seja menos eficiente na produção de todos os tipos de bens do que o seu


parceiro comercial. Defendia que nem a quantidade de dinheiro num país, nem
o valor monetário desse dinheiro, era o maior determinante para a riqueza de
uma nação. Para o autor, uma nação é rica em razão da abundância de
mercadorias que contribuam para a comodidade e o bem-estar de seus
habitantes.
IV. Foi um economista cujas ideias mudaram fundamentalmente a teoria e
prática da macroeconomia, bem como as políticas econômicas instituídas
pelos governos. Ele fundamentou as suas teorias através de outros trabalhos
anteriores que analisavam as causas dos ciclos econômicos, refinando-as
enormemente e tornando-se amplamente reconhecido como um dos
economistas mais influentes do século XX e o fundador da macroeconomia
moderna.
V. É o pai da economia moderna, sendo considerado o mais importante teórico
do liberalismo econômico. Autor de Uma investigação sobre a natureza e a
causa da riqueza das nações, a sua obra mais conhecida, e que continua sendo
usada como referência para os economistas, na qual procurou demonstrar que
a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos inclusive
(e não apenas exclusivamente) pelo seu próprio interesse, promoviam o
crescimento econômico e a inovação tecnológica. 116
( ) Adam Smith
( ) David Ricardo
( ) Karl Marx
( ) John Maynard Keynes
( ) Thomas Malthus

Q5. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: SABESP Prova: FCC - 2018 - SABESP -
Analista de Gestão - Relações Públicas
De acordo com a Economia Política clássica, passando pelas teorias marxistas,
o valor de uma mercadoria é definido
a) pela capacidade de consumo da população de uma determinada nação.
b) pelo desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
c) pela carga tributária aplicada por um determinado Estado.
d) pela quantidade de trabalho empregado na sua produção.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

e) pelo sistema de meios de troca e de circulação organizado em uma


determinada nação.

Q6. Ano: 2017 Banca: IFB Órgão: IFB Prova: IFB - 2017 - IFB - Professor -
Economia
O conceito de custo de oportunidade diz respeito:
a) à perda de valor da moeda, quando ocorre inflação.
b) à rentabilidade que se ganha em uma aplicação alternativa inesperada.
c) ao gasto que tem um agente econômico quando aplica seus recursos
diretamente em títulos do tesouro norte-americano.
d) à rentabilidade que se deixa de ganhar em aplicação alternativa à que
realiza um agente econômico.
e) ao risco evitado por um investidor, quando aproveita a oportunidade de
aplicar seu patrimônio em renda fixa.

Q7. Ano: 2016 Banca: FCC Órgão: AL-MS Prova: FCC - 2016 - AL-MS -
Economista
117
Sobre externalidades negativas tem-se que
a) as firmas tendem a produzir mais do que o nível socialmente eficiente de
produto.
b) a sociedade ganha, pois as firmas não pagam os custos externos de
produção.
c) a competição perfeita é socialmente desejável, pois elimina a externalidade
negativa.
d) um monopólio irá sempre produzir um nível de produto que é igual ao nível
socialmente eficiente.
e) esta externalidade não é mais um problema pois ela é passível de aferição.

Q8. Ano: 2012 Banca: OBJETIVA Órgão: EPTC Prova: OBJETIVA - 2012 - EPTC
- Economista
Com relação a mercados em que há assimetrias de informação, é INCORRETO
afirmar que:

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

a) O problema de Seleção Adversa está no fato de os administradores poderem


procurar atingir seus próprios objetivos, mesmo que isso incorra na obtenção
de lucros menores para os proprietários das empresas.
b) Devido à existência de informações assimétricas, os mercados de seguros
estão sujeitos a problemas de risco moral, em que a parte segurada passa a
tomar menos cuidados para evitar perdas do que fazia antes da aquisição do
seguro.
c) Os vendedores podem solucionar o problema da informação assimétrica
enviando sinais aos compradores sobre a qualidade de seus produtos.
d) A existência de informação assimétrica no mercado de carros usados pode
resultar em um desvio de eficiência que acaba por expulsar os carros de alta
qualidade do mercado.

Q9. Ano: 2016 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de Teresina - PI Prova: FCC - 2016
- Prefeitura de Teresina - PI - Técnico de Nível Superior
Em um hipotético estudo para a construção de corredores de ônibus, pela
iniciativa privada, em grandes avenidas de Teresina, um técnico alertou para a
necessidade de se considerar, na avaliação da obra, o que os economistas
chamam de externalidades. Sobre estas, o Técnico chamou a atenção para a
118
I. possível ocorrência de diferenças entre custos privados e custos sociais com
a realização das obras.
II. desejabilidade da realização de uma estimativa do impacto sobre o comércio
na região, durante as obras e após sua conclusão.
III. projeção para um eventual aumento das viagens de ônibus com a
implantação dos corredores.
IV. estimativa de um possível impacto sobre outras obras viárias que se utilizam
dos mesmos insumos utilizados na construção de corredores de ônibus. Está
correta a associação entre os apontamentos do Técnico e a noção de
externalidade, no que consta em
a) I, II e III, apenas.
b) I, II, III e IV.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e IV, apenas.
e) I e II, apenas.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Q10. Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: Instituto Rio Branco Prova: CESPE - 2016 -
Instituto Rio Branco - Diplomata
David Ricardo aperfeiçoou as ideias de Adam Smith e desenvolveu a chamada
Teoria das Vantagens Comparativas. No livro Sobre os Princípios da Economia
Política e da Tributação, Ricardo defende que o comércio internacional é
benéfico a todos os países que mantêm vínculos comerciais entre si, pois o
importante, segundo ele, são as vantagens comparativas, não as absolutas, de
todos os fatores de produção de uma economia.

Q11. Ano: 2015 Banca: CEPERJ Órgão: Prefeitura de Saquarema - RJ Prova:


CEPERJ - 2015 - Prefeitura de Saquarema - RJ - Gestor Público
O keynesianismo, corrente teórica que volta a ser referida na discussão sobre
desenvolvimento, entende que:
a) é necessária a atuação do Estado para assegurar o pleno emprego, garantir
investimentos e monitorar a poupança e o consumo.
b) não é necessária a atuação do Estado no âmbito econômico, porque o
mercado é capaz de regular satisfatoriamente a economia.
c) é necessária a atuação do Estado, porém não na economia, mas no âmbito 119
das políticas sociais.
d) é necessária a atuação do Estado apenas para assegurar o pleno emprego,
por meio da oferta de vagas no setor público.
e) não é necessária a atuação do Estado, senão no caso dos municípios
pequenos, em que a economia ainda é frágil.

Q12. Ano: 2013 Banca: FGV Órgão: MPE-MS Prova: FGV - 2013 - MPE-MS -
Analista - Economia
A respeito da tragédia do uso comum, assinale a afirmativa correta.
a) Refere-se à alocação ineficiente de recursos sem direitos de propriedade bem
definidos, como no caso de reservas de petróleo compartilhadas por empresas
distintas, sem regras bem definidas.
b) Refere-se à externalidade gerada por determinados agentes, como no caso
de fumantes que moram com pessoas que não gostam da fumaça gerada.
c) Refere-se ao uso de bens ou serviços como “carona”, como no caso de
alguns moradores que não pagam por vigias de rua, pois os mesmos passarão
na frente de suas casas se algum vizinho estiver pagando por tal serviço.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

d) Refere-se ao uso excessivo de um bem público que se torna rival, como no


caso de congestionamentos de carros das vias públicas.
e) Refere-se à possibilidade de se impedir o uso ou consumo de um
determinado bem, como no caso de pedágios em estradas.

Q13. Ano: 2010 Banca: FGV Órgão: CODESP-SP Prova: FGV - 2010 - CODESP-
SP - Economista
Diante de uma recessão econômica intensa, o governo pode adotar as
seguintes medidas para estimular a economia:
a) política fiscal expansionista via redução de tributos e política monetária
contracionista via aumento da taxa de juros.
b) política monetária expansionista via redução do compulsório e política fiscal
contracionista via redução do gasto público.
c) política fiscal expansionista via aumento de tributos e política monetária
expansionista via compra de títulos públicos.
d) política monetária contracionista via redução da taxa de juros e política fiscal
expansionista via aumento de gasto público.
120
e) política fiscal expansionista via redução de tributos e política monetária
expansionista via redução do compulsório.

Q14. Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: BACEN Prova: CESPE - 2013 - BACEN -
Analista - Política Econômica e Monetária
Acerca das teorias de atuação dos agentes econômicos em relação aos
diversos tipos de bens, julgue o item a seguir.
Considere um mercado em que só há duas empresas ofertando determinado
bem e não há possibilidade de acordo para cooperação entre essas empresas.
Nessa situação, somente haverá equilíbrio de Nash quando cada empresa
cobrar o menor preço possível.

Q15. Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-PI Prova: FCC - 2015 - SEFAZ-PI -
Analista do Tesouro Estadual
A teoria econômica utiliza o termo trade-off para explicar a tomada de decisões
por parte das pessoas. Segundo a teoria, toda a decisão requer a comparação

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

entre custos e benefícios dentre variadas possibilidades alternativas de ação. O


trade-off enfrentado pelo agente econômico implica um custo
a) de oportunidade.
b) marginal.
c) de transação.
d) de eficiência
e) de equidade.

Q16. Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: ANTT Prova: CESPE - 2013 - ANTT -
Especialista em Regulação de Serviços de Transportes Terrestres - Economia
De acordo com Adam Smith, em A Riqueza das Nações (1776), “Mesmo as
obras públicas que, por sua natureza, não têm condições de gerar renda para
sua própria manutenção, mas cuja conveniência está mais ou menos restrita a
algum lugar ou distrito em particular, sempre são mais bem mantidas com uma
receita local ou provincial, sob a direção de uma administração local e
provincial, do que com a receita geral do Estado, cuja administração sempre
deve caber ao poder executivo”. No que diz respeito à descentralização de
atividades, julgue o item a seguir. 121
A centralização de atividades regulatórias em um único órgão regulador federal
produz resultados equivalentes àqueles que seriam produzidos pela
descentralização dessas mesmas atividades em órgãos reguladores estaduais,
se forem altos os custos de transmissão e processamento das informações
locais necessárias à definição de regras regionais diferenciadas.

Q17. Ano: 2014 Banca: CESPE Órgão: SUFRAMA Prova: CESPE - 2014 -
SUFRAMA - Economista
Considerando o papel do governo na economia, os postulados da teoria
keynesiana, as curvas de oferta e demanda agregada e a relação destas com
a curva de Philips, julgue o item que se segue.
O governo tem como funções a busca da adequada alocação de bens públicos
e a promoção de distribuição de renda equitativa, de forma que a estabilidade
e o crescimento econômicos são alcançados pela própria dinâmica do sistema
de mercado.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Q18. Ano: 2014 Banca: CESPE Órgão: TJ-SE Prova: CESPE - 2014 - TJ-SE -
Analista Judiciário - Economia
Com base nas teorias de bem-estar, julgue os itens subsequentes.
A fronteira de possibilidades de utilidade corresponde ao conjunto de níveis de
utilidade associados a alocações eficientes de Pareto.

Q19. Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: DPE-RJ Prova: FGV - 2014 - DPE-RJ - Técnico
Superior Especializado - Economia
Suponha que o governo deseje reduzir a quantidade consumida de cerveja em
função das potenciais externalidades negativas que podem ser geradas.
Uma política que NÃO deve ser adotada pelo governo para alcançar esse
objetivo é
a) elevar a tributação sobre a venda.
b) colocar anúncios públicos sobre os malefícios do consumo.
c) proibir que motoristas alcoolizados dirijam.
d) impor cotas de importação para bebidas substitutas.
e) aumentar a idade mínima legal para que um indivíduo possa comprar ou
122
consumir.

Q20. Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-RJ Prova: FCC - 2014 - SEFAZ-RJ -
Auditor Fiscal da Receita Estadual
De acordo com a teoria da ciência econômica, referem-se a conceitos
econômicos, levados em conta nas decisões individuais:
I. O trade off entendido como termo que define uma situação de escolha
conflitante, ou seja, quando uma ação econômica, visando à resolução de
determinado problema acarreta, inevitavelmente, outros problemas.
II. O custo de oportunidade é aquilo que o agente econômico deve ter de
recompensa para abrir mão de algum consumo.
III. A mudança marginal que é um pequeno ajuste incremental em um plano
de ação não revestido de racionalidade econômica.
IV. O incentivo que é algo que induz os indivíduos a agir, tal como a perspectiva
de uma punição ou recompensa.
Está correto o que se afirma em:

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

a) I, II, III e IV.


b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e IV, apenas.
e) III e IV, apenas.

Q21. Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-RJ Prova: FCC - 2014 - SEFAZ-RJ -
Auditor Fiscal da Receita Estadual
O pensamento econômico foi construído com a contribuição de inúmeros
autores, que tiveram seus nomes associados às teorias que defenderam e a
determinadas formas de relação entre Estado e atividade econômica. A seguir,
são citados cinco autores, as questões às quais seus nomes são associados e
ao papel que atribuíam ao Estado. Apenas uma série é correta.
a) Adam Smith, mão invisível, intervencionismo.
b) Thomas Malthus, superpopulação, intervencionismo.
c) Karl Marx, economia do bem-estar, intervencionismo.
d) Keynes, teoria quantitativa da moeda, intervencionismo.
123
e) Schumpeter, destruição criativa, não-intervencionismo.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

13.2 GABARITO

Q1. CERTO Q11. A

Q2. CERTO Q12. A

Q3. A Q13. E

Q4. B Q14. CERTO

Q5. D Q15. A

Q6. D Q16. ERRADO

Q7. A Q17. ERRADO


124
Q8. B Q18. CERTO

Q9. B Q19. D

Q10. ERRADO Q20. D

Q21. E

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

13.3 QUESTÕES COM COMENTÁRIOS

Q1. Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: SLU-DF Prova: CESPE - 2019 - SLU-DF -
Analista de Gestão de Resíduos Sólidos - Economia
Com relação à atuação do governo na economia, particularmente no
endividamento público, julgue o item que se segue.
O déficit público, que consiste na diferença entre o investimento público e a
poupança do governo, pode ser financiado pela emissão de títulos públicos
para venda ao setor privado.
Comentários
Investimento público significa GASTO (despesas); poupanças significa dinheiro em 125
caixa. A diferença entre o que se tem e o que se gasta é o déficit (se o gasto é maior
que a receita/caixa). Para financiar a farra dos gastos o governo pode emitir títulos
públicos (como se fossem notas promissórias), o que fará caixa, mas poderá quebrar
o Estado mais a frente (junto com quem comprou esses títulos). Ou seja:
PERIGOSO.
Logo, o item está CERTO.

Q2. Ano: 2019 Banca: CESPE Órgão: SLU-DF Prova: CESPE - 2019 - SLU-DF -
Analista de Gestão de Resíduos Sólidos - Economia
Com relação à atuação do governo na economia, particularmente no
endividamento público, julgue o item que se segue.
A dívida mobiliária dos estados e dos municípios inclui os títulos emitidos para
pagamento de precatórios.
Comentários
Conforme estabelece a Lei de Responsabilidade Fiscal (LC 101/2000), a dívida
pública consolidada ou fundada corresponde ao montante total das obrigações
financeiras do ente da Federação, assumidas para amortização em prazo superior

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

a doze meses e as operações de crédito de prazo inferior a doze meses cujas receitas
tenham constado do orçamento. Além da dívida mobiliária e contratual, integram a
Dívida Consolidada os precatórios judiciais emitidos não pagos durante a execução
do orçamento em que houverem sido incluídos.
Logo, o item está CERTO.
ATENÇÃO: Quando a Fazenda Pública Federal, Estadual, Distrital ou Municipal é
condenada a pagar determinada quantia a alguém, este pagamento não é feito de
maneira ordinária (é só pagar o dinheiro e ponto)... tem toda uma mística (uma
burocracia). Os pagamentos, portanto, são feitos sob o regime especial chamado
de “precatório” (art. 100 da CF/88), que nada mais é do que uma espécie de “fila”
para pagamento.

Q3. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: Câmara Legislativa do Distrito Federal Prova:
FCC - 2018 - Câmara Legislativa do Distrito Federal - Consultor Técnico-
Legislativo - Economista
Em que pesem as pequenas variações nos indicadores ao longo do tempo, o
grau de concentração de renda no Brasil apresenta-se como um dos mais
elevados do mundo, desde meados do século XX, até nossos dias. Destacam-
se, no caso brasileiro, como causas estruturais dessa desigualdade, EXCETO 126
a) os baixos índices de crescimento econômico.
b) o poder e a habilidade política das classes dirigentes em manter situações
de privilégio.
c) a elevada concentração de riquezas do país.
d) a ausência histórica de políticas públicas que objetivem mudanças estruturais
e objetivas de forma consistente.
e) o pequeno grau de organização social e política dos extratos mais
desassistidos da população.
Comentários
Assertiva A = Hummm... há países com baixos índices de crescimento econômico e
menos ou mais desigualdade. Esse não é tão um fator tão impactante.
Assertiva B =Opa... nisso o Brasil está entre os melhores do mundo. Somos ótimos
em privilegiar elites – o capitalismo de coalização (entre alguns empresários e
políticos) mantém um povinho bem restrito no poder e na riqueza...
Assertiva C = concentração de riqueza = concentração de renda.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Assertiva D = aqui é sempre tudo meio tumultuado... difícil mudar alguma coisa de
modo consciente.
Assertiva E = os extratos mais desassistidos são massa de manobra, especialmente
de alguns partidos políticos, mas não conseguem se organizar sair da situação em
que se encontram.
Em vista disso, a alternativa A é a correta (exceção) e gabarito da questão.

Q4. Ano: 2018 Banca: FUNRIO Órgão: AL-RR Prova: FUNRIO - 2018 - AL-RR -
Economista
Diante das seguintes afirmações de I a V e o legado de cada autor para o
sistema econômico, relacione adequadamente os conceitos econômicos aos
respectivos autores.
I. As teorias sobre a sociedade, a economia e a política – o entendimento
coletivo que sustentam que as sociedades humanas progridem através da luta
de classes: um conflito entre uma classe social que controla os meios de
produção e a classe trabalhadora, que fornece a mão-de-obra para a
produção e que o Estado foi criado para proteger os interesses da classe
dominante. 127
II. Elaborou uma teoria que afirmava que a população iria crescer tanto que
seria inviável produzir alimentos suficientes para suprir a total necessidade
alimentícia do grande número de pessoas no planeta. Dentre suas obras, a
principal foi o Princípio da População. É considerado o pai da demografia por
sua teoria para o controle do aumento populacional.
III. Desenvolveu a teoria das vantagens comparativas que constitui a base
essencial da teoria do comércio internacional. Demonstrou que duas nações
podem se beneficiar mutuamente do comércio livre, mesmo que uma nação
seja menos eficiente na produção de todos os tipos de bens do que o seu
parceiro comercial. Defendia que nem a quantidade de dinheiro num país, nem
o valor monetário desse dinheiro, era o maior determinante para a riqueza de
uma nação. Para o autor, uma nação é rica em razão da abundância de
mercadorias que contribuam para a comodidade e o bem-estar de seus
habitantes.
IV. Foi um economista cujas ideias mudaram fundamentalmente a teoria e
prática da macroeconomia, bem como as políticas econômicas instituídas
pelos governos. Ele fundamentou as suas teorias através de outros trabalhos
anteriores que analisavam as causas dos ciclos econômicos, refinando-as
enormemente e tornando-se amplamente reconhecido como um dos

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

economistas mais influentes do século XX e o fundador da macroeconomia


moderna.
V. É o pai da economia moderna, sendo considerado o mais importante teórico
do liberalismo econômico. Autor de Uma investigação sobre a natureza e a
causa da riqueza das nações, a sua obra mais conhecida, e que continua sendo
usada como referência para os economistas, na qual procurou demonstrar que
a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos inclusive
(e não apenas exclusivamente) pelo seu próprio interesse, promoviam o
crescimento econômico e a inovação tecnológica.
( ) Adam Smith
( ) David Ricardo
( ) Karl Marx
( ) John Maynard Keynes
( ) Thomas Malthus
A sequência CORRETA, lida de cima para baixo, é a seguinte:
a) V, II, I, IV e III.
b) V, III, I, IV, II.
128
c) IV, III, I, II, V.
d) IV, III, II, V, I.
Comentários
Item I = falou luta de classes e progressão histórica desse conflitou falou em Karl
Marx.
Item II = desequilíbrio entre o aumento da população e da produção de alimentos?
Apocalipse pela fome? Ahhh!!! Thomas Malthus!
Item III = vantagens comparativas como base da teoria do comércio internacional:
David Ricardo.
Item IV = John Maynard Keynes foi realmente (e ainda é) muito influente.
Item V = Papai Adam Smith é o cada!
Em vista disso, a alternativa V (V, III, I, IV e II) é a correta e gabarito da questão.

Q5. Ano: 2018 Banca: FCC Órgão: SABESP Prova: FCC - 2018 - SABESP -
Analista de Gestão - Relações Públicas

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

De acordo com a Economia Política clássica, passando pelas teorias marxistas,


o valor de uma mercadoria é definido
a) pela capacidade de consumo da população de uma determinada nação.
b) pelo desequilíbrio entre a oferta e a demanda.
c) pela carga tributária aplicada por um determinado Estado.
d) pela quantidade de trabalho empregado na sua produção.
e) pelo sistema de meios de troca e de circulação organizado em uma
determinada nação.
Comentários
Adam Smith (Economia Política clássica) mandou bem em quase tudo, mas
derrapou na questão dos preços. Sua crença de que o valor de uma mercadoria é
definido “pela quantidade de trabalho empregado na sua produção”, ideia que mais
tarde deu base à teoria da mais-valia de Marx, é uma mácula em seu currículo
rsrsrsrs.
Em vista disso, a alternativa D é a correta e gabarito da questão.

Q6. Ano: 2017 Banca: IFB Órgão: IFB Prova: IFB - 2017 - IFB - Professor - 129
Economia
O conceito de custo de oportunidade diz respeito:
a) à perda de valor da moeda, quando ocorre inflação.
b) à rentabilidade que se ganha em uma aplicação alternativa inesperada.
c) ao gasto que tem um agente econômico quando aplica seus recursos
diretamente em títulos do tesouro norte-americano.
d) à rentabilidade que se deixa de ganhar em aplicação alternativa à que
realiza um agente econômico.
e) ao risco evitado por um investidor, quando aproveita a oportunidade de
aplicar seu patrimônio em renda fixa.
Comentários
Falou em custo de oportunidade, falou em perda de uma coisa por preferir fazer
outra – “rentabilidade que se deixa de ganhar em aplicação alternativa” (D). Se
você compra um imóvel, perde a oportunidade de usar o mesmo dinheiro para
investir em um fundo rentável, por exemplo. O custo de oportunidade de dormir
demais é estudar de menos = ter problemas para aprovação no concurso
Em vista disso, a alternativa D é a correta e gabarito da questão.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Q7. Ano: 2016 Banca: FCC Órgão: AL-MS Prova: FCC - 2016 - AL-MS -
Economista
Sobre externalidades negativas tem-se que
a) as firmas tendem a produzir mais do que o nível socialmente eficiente de
produto.
b) a sociedade ganha, pois as firmas não pagam os custos externos de
produção.
c) a competição perfeita é socialmente desejável, pois elimina a externalidade
negativa.
d) um monopólio irá sempre produzir um nível de produto que é igual ao nível
socialmente eficiente.
e) esta externalidade não é mais um problema pois ela é passível de aferição.
Comentários
Assertiva A = SIM! Como a produção é mais barata (os custos não são suportados
pelo produtor), é possível produzir mais do que o socialmente eficiente, inclusive
esgotando recursos, etc. 130
Assertiva B = a sociedade perde!
Assertiva C = não há garantias de que as externalidades negativas serão todas
eliminadas na competição perfeita.
Assertiva D = em teoria, o monopólio vai produzir em nível inferior ao socialmente
eficiente. Lembre-se que na concorrência os preços caem (ao máximo possível) e a
demanda sobe; no sistema de monopólio ocorre o contrário: a demanda cai e os
preços sobem.
Assertiva E = claro que é um problema e justamente porque é muito difícil aferi-las;
Em vista disso, a alternativa A é a correta e gabarito da questão.

Q8. Ano: 2012 Banca: OBJETIVA Órgão: EPTC Prova: OBJETIVA - 2012 - EPTC
- Economista
Com relação a mercados em que há assimetrias de informação, é INCORRETO
afirmar que:
a) O problema de Seleção Adversa está no fato de os administradores poderem
procurar atingir seus próprios objetivos, mesmo que isso incorra na obtenção
de lucros menores para os proprietários das empresas.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

b) Devido à existência de informações assimétricas, os mercados de seguros


estão sujeitos a problemas de risco moral, em que a parte segurada passa a
tomar menos cuidados para evitar perdas do que fazia antes da aquisição do
seguro.
c) Os vendedores podem solucionar o problema da informação assimétrica
enviando sinais aos compradores sobre a qualidade de seus produtos.
d) A existência de informação assimétrica no mercado de carros usados pode
resultar em um desvio de eficiência que acaba por expulsar os carros de alta
qualidade do mercado.
Comentários
Assertiva A = seleção adversa é um dos fenômenos da informação assimétrica, mas
que ocorre quando os compradores selecionam de maneira incorreta determinados
bens e serviços no mercado.
Assertiva B = EXATO! O risco moral, relacionado à presença de informação
assimétrica, engloba o denominado problema agente-principal, que ocorre no caso
em que o agente (aqui o segurado), devendo agir no interesse do principal
(seguradora), é incentivado a agir de forma contrária ao que espera o principal
(seguradora). Isso ocorre porque o agente (segurado) tem mais informações sobre
suas ações do que o principal (seguradora) e, também, porque o principal 131
(seguradora) não pode monitorar perfeitamente o agente (segurado).
Assertiva C = os vendedores podem solucionar o problema da informação
assimétrica enviando sinais aos compradores sobre a qualidade de seus produtos?
Claro que não, eles podem evitar solucionar o problema da informação
concedendo garantias, por exemplo.
Assertiva D = este é o exemplo clássico dado por George Akerlof: como os
compradores acham que todos os carros usados são tranqueira, os bons carros
acabam saindo do mercado porque teriam de se submeter a preços muito baixos.
Em vista disso, a alternativa B é a correta e gabarito da questão.

Q9. Ano: 2016 Banca: FCC Órgão: Prefeitura de Teresina - PI Prova: FCC - 2016
- Prefeitura de Teresina - PI - Técnico de Nível Superior
Em um hipotético estudo para a construção de corredores de ônibus, pela
iniciativa privada, em grandes avenidas de Teresina, um técnico alertou para a
necessidade de se considerar, na avaliação da obra, o que os economistas
chamam de externalidades. Sobre estas, o Técnico chamou a atenção para a

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

I. possível ocorrência de diferenças entre custos privados e custos sociais com


a realização das obras.
II. desejabilidade da realização de uma estimativa do impacto sobre o comércio
na região, durante as obras e após sua conclusão.
III. projeção para um eventual aumento das viagens de ônibus com a
implantação dos corredores.
IV. estimativa de um possível impacto sobre outras obras viárias que se utilizam
dos mesmos insumos utilizados na construção de corredores de ônibus. Está
correta a associação entre os apontamentos do Técnico e a noção de
externalidade, no que consta em
a) I, II e III, apenas.
b) I, II, III e IV.
c) III e IV, apenas.
d) I, II e IV, apenas.
e) I e II, apenas.
Comentários
TODOS os itens são exemplos de possíveis externalidades a serem verificadas em 132
caso de uma decisão pública.
Em vista disso, a alternativa B é a correta e gabarito da questão.

Q10. Ano: 2016 Banca: CESPE Órgão: Instituto Rio Branco Prova: CESPE - 2016 -
Instituto Rio Branco - Diplomata
David Ricardo aperfeiçoou as ideias de Adam Smith e desenvolveu a chamada
Teoria das Vantagens Comparativas. No livro Sobre os Princípios da Economia
Política e da Tributação, Ricardo defende que o comércio internacional é
benéfico a todos os países que mantêm vínculos comerciais entre si, pois o
importante, segundo ele, são as vantagens comparativas, não as absolutas, de
todos os fatores de produção de uma economia.
Comentários
Está tudo certinho, exceto pela frase “todos os fatores de
produção”. Na verdade, Ricardo considerava somente o
fator trabalho (hora de trabalho).
Logo, o item está ERRADO.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Q11. Ano: 2015 Banca: CEPERJ Órgão: Prefeitura de Saquarema - RJ Prova:


CEPERJ - 2015 - Prefeitura de Saquarema - RJ - Gestor Público
O keynesianismo, corrente teórica que volta a ser referida na discussão sobre
desenvolvimento, entende que:
a) é necessária a atuação do Estado para assegurar o pleno emprego, garantir
investimentos e monitorar a poupança e o consumo.
b) não é necessária a atuação do Estado no âmbito econômico, porque o
mercado é capaz de regular satisfatoriamente a economia.
c) é necessária a atuação do Estado, porém não na economia, mas no âmbito
das políticas sociais.
d) é necessária a atuação do Estado apenas para assegurar o pleno emprego,
por meio da oferta de vagas no setor público.
e) não é necessária a atuação do Estado, senão no caso dos municípios
pequenos, em que a economia ainda é frágil.
Comentários
Assertiva A = EXATO! O Estado, para os keynesianos, é Deus na Terra – cabe a ele
assegurar o pleno emprego, garantir investimentos e monitorar a poupança e o
consumo. 133
Assertiva B = nada!!! Os keynesianos são parte da religião do interventismo estatal.
Assertiva C = é justamente na economia que a “mágica” acontece – como diria
Hayek (crítica de Keynes): “a economia é o mesmo para TODOS os fins”.
Assertiva D = “apenas” para o pleno emprego? Não... para quase tudo...
Assertiva E = para os keynesianos a economia é como um incapaz... precisa ser
tutelado pelo Estado.
Em vista disso, a alternativa A é a correta e gabarito da questão.

Q12. Ano: 2013 Banca: FGV Órgão: MPE-MS Prova: FGV - 2013 - MPE-MS -
Analista - Economia
A respeito da tragédia do uso comum, assinale a afirmativa correta.
a) Refere-se à alocação ineficiente de recursos sem direitos de propriedade bem
definidos, como no caso de reservas de petróleo compartilhadas por empresas
distintas, sem regras bem definidas.
b) Refere-se à externalidade gerada por determinados agentes, como no caso
de fumantes que moram com pessoas que não gostam da fumaça gerada.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

c) Refere-se ao uso de bens ou serviços como “carona”, como no caso de


alguns moradores que não pagam por vigias de rua, pois os mesmos passarão
na frente de suas casas se algum vizinho estiver pagando por tal serviço.
d) Refere-se ao uso excessivo de um bem público que se torna rival, como no
caso de congestionamentos de carros das vias públicas.
e) Refere-se à possibilidade de se impedir o uso ou consumo de um
determinado bem, como no caso de pedágios em estradas.
Comentários
O conceito de tragédia do uso comum é apresentado pelo economista Garrett
Hardin: o que é de todos não é de ninguém. Quando não há um dono bem definido
as coisas costumam sair do controle: ninguém cuida e o uso/exploração pode ser
tornar irrazoável.
Em vista disso, a alternativa A é a correta e gabarito da questão.

Q13. Ano: 2010 Banca: FGV Órgão: CODESP-SP Prova: FGV - 2010 - CODESP-
SP - Economista
Diante de uma recessão econômica intensa, o governo pode adotar as 134
seguintes medidas para estimular a economia:
a) política fiscal expansionista via redução de tributos e política monetária
contracionista via aumento da taxa de juros.
b) política monetária expansionista via redução do compulsório e política fiscal
contracionista via redução do gasto público.
c) política fiscal expansionista via aumento de tributos e política monetária
expansionista via compra de títulos públicos.
d) política monetária contracionista via redução da taxa de juros e política fiscal
expansionista via aumento de gasto público.
e) política fiscal expansionista via redução de tributos e política monetária
expansionista via redução do compulsório.
Comentários
Para estimular a economia o governo tem que aumentar a renda, podendo utilizar
um ou mais dos seguintes instrumentos:
Políticas FISCAIS expansionistas: (1) aumento do gasto público; (2) redução de
impostos; (c) aumento no grau de confiança do consumidor; (d) melhora das
expectativas.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Políticas MONETÁRIAS expansionistas: (1) redução da exigência de depósito


compulsório (mantendo o dinheiro na economia); (2) redução da taxa de
redesconto; (3) compra de títulos (colocar dinheiro na economia); (4) facilitação dos
empréstimos de liquidez.
Assertiva A = tudo que o governo não quer é contração – o aumento dos juros
reduz o consumo e congela a economia (reduz a demanda e gera desemprego).
Assertiva B = contração de novo – o gasto público é polêmico... ideia de Keynes de
que gastos públicos geram demanda agregada.
Assertiva C = aumentar impostos desincentiva consumo... leva a estagnação e piora
do quadro geral (retira dinheiro da economia).
Assertiva D = a redução da taxa de juros não é contracionista, pois incentiva o
consumo.
Assertiva E = políticas expansionistas de redução de tributos e redução do
compulsório. Exatamente!
Em vista disso, a alternativa E é a correta e gabarito da questão.

Q14. Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: BACEN Prova: CESPE - 2013 - BACEN - 135
Analista - Política Econômica e Monetária
Acerca das teorias de atuação dos agentes econômicos em relação aos
diversos tipos de bens, julgue o item a seguir.
Considere um mercado em que só há duas empresas ofertando determinado
bem e não há possibilidade de acordo para cooperação entre essas empresas.
Nessa situação, somente haverá equilíbrio de Nash quando cada empresa
cobrar o menor preço possível.
Comentários
Ou seja: apesar de os participantes não cooperarem, a busca individual de vencer
a competição (com o menor preço) conduz o “jogo” (concorrência) a um resultado
estável (equilíbrio), não havendo incentivo para que nenhum dos concorrentes altere
o seu comportamento (política de preços).
Logo, o item está CERTO.

Q15. Ano: 2015 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-PI Prova: FCC - 2015 - SEFAZ-PI -
Analista do Tesouro Estadual

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

A teoria econômica utiliza o termo trade-off para explicar a tomada de decisões


por parte das pessoas. Segundo a teoria, toda a decisão requer a comparação
entre custos e benefícios dentre variadas possibilidades alternativas de ação. O
trade-off enfrentado pelo agente econômico implica um custo
a) de oportunidade.
b) marginal.
c) de transação.
d) de eficiência
e) de equidade.
Comentários
Escolher entre uma coisa e outra. Escolher uma quer dizer que não poderá fazer a
outra. Isso é trade-off (escolha dentre possibilidades) e isso é custo de oportunidade!
Em vista disso, a alternativa A é a correta e gabarito da questão.

Q16. Ano: 2013 Banca: CESPE Órgão: ANTT Prova: CESPE - 2013 - ANTT -
Especialista em Regulação de Serviços de Transportes Terrestres - Economia
136
De acordo com Adam Smith, em A Riqueza das Nações (1776), “Mesmo as
obras públicas que, por sua natureza, não têm condições de gerar renda para
sua própria manutenção, mas cuja conveniência está mais ou menos restrita a
algum lugar ou distrito em particular, sempre são mais bem mantidas com uma
receita local ou provincial, sob a direção de uma administração local e
provincial, do que com a receita geral do Estado, cuja administração sempre
deve caber ao poder executivo”. No que diz respeito à descentralização de
atividades, julgue o item a seguir.
A centralização de atividades regulatórias em um único órgão regulador federal
produz resultados equivalentes àqueles que seriam produzidos pela
descentralização dessas mesmas atividades em órgãos reguladores estaduais,
se forem altos os custos de transmissão e processamento das informações
locais necessárias à definição de regras regionais diferenciadas.
Comentários
Questãozinho mel na chupeta. A tão só leitura do enunciado resolve a questão.
Ora, se “as obras públicas [...] sempre são mais bem mantidas com uma receita
local ou provincial, sob a direção de uma administração local e provincial, do que
com a receita geral do Estado” (enunciado), como afirmar que “A centralização de
atividades regulatórias em um único órgão regulador federal produz resultados

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

equivalentes àqueles que seriam produzidos pela descentralização dessas mesmas


atividades em órgãos reguladores estaduais” (item)???
Logo, o item está ERRADO.

Q17. Ano: 2014 Banca: CESPE Órgão: SUFRAMA Prova: CESPE - 2014 -
SUFRAMA - Economista
Considerando o papel do governo na economia, os postulados da teoria
keynesiana, as curvas de oferta e demanda agregada e a relação destas com
a curva de Philips, julgue o item que se segue.
O governo tem como funções a busca da adequada alocação de bens públicos
e a promoção de distribuição de renda equitativa, de forma que a estabilidade
e o crescimento econômicos são alcançados pela própria dinâmica do sistema
de mercado.
Comentários
As funções do governo, sendo os interventivistas, são: alocativa, distributiva e
estabilizadora. Eles NÃO acreditam que o “crescimento econômicos são alcançados
pela própria dinâmica do sistema de mercado”.
137
Logo, o item está ERRADO.

Q18. Ano: 2014 Banca: CESPE Órgão: TJ-SE Prova: CESPE - 2014 - TJ-SE -
Analista Judiciário - Economia
Com base nas teorias de bem-estar, julgue os itens subsequentes.
A fronteira de possibilidades de utilidade corresponde ao conjunto de níveis de
utilidade associados a alocações eficientes de Pareto.
Comentários
As fronteiras de possibilidade demarcam o nível máximo de utilidade (ou bem-estar)
que pode ser alcançado por um indivíduo (ou um grupo), dados os níveis de bem-
estar alcançados pelos demais indivíduos (ou grupos). O “ótimo de Pareto” ocorre
quando não for possível melhorar a situação de um agente sem piorar a situação
outro.
Logo, o item está CERTO.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Q19. Ano: 2014 Banca: FGV Órgão: DPE-RJ Prova: FGV - 2014 - DPE-RJ - Técnico
Superior Especializado - Economia
Suponha que o governo deseje reduzir a quantidade consumida de cerveja em
função das potenciais externalidades negativas que podem ser geradas.
Uma política que NÃO deve ser adotada pelo governo para alcançar esse
objetivo é
a) elevar a tributação sobre a venda.
b) colocar anúncios públicos sobre os malefícios do consumo.
c) proibir que motoristas alcoolizados dirijam.
d) impor cotas de importação para bebidas substitutas.
e) aumentar a idade mínima legal para que um indivíduo possa comprar ou
consumir.
Comentários
Assertiva A = com maior tributação, haverá aumento do preço e queda o consumo.
Assertiva B = propaganda negativa reduz a demanda – ocorreu com o cigarro.
Assertiva C = ao menos um grupo específico (motoristas) tente a consumir menos.
Assertiva D = imposição de cotas de importação (protecionismo) sobre bebidas
138
substitutas significa que elas entrarão menos no mercado, abrindo espaço para o
consumo da bebida alcóolica. Essa política terá efeito inverso (aumentará a
bebedeira).
Assertiva E = haverá redução do número de pessoas aptas a consumir.
Em vista disso, a alternativa D é a correta e gabarito da questão.

Q20. Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-RJ Prova: FCC - 2014 - SEFAZ-RJ -
Auditor Fiscal da Receita Estadual
De acordo com a teoria da ciência econômica, referem-se a conceitos
econômicos, levados em conta nas decisões individuais:
I. O trade off entendido como termo que define uma situação de escolha
conflitante, ou seja, quando uma ação econômica, visando à resolução de
determinado problema acarreta, inevitavelmente, outros problemas.
II. O custo de oportunidade é aquilo que o agente econômico deve ter de
recompensa para abrir mão de algum consumo.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

III. A mudança marginal que é um pequeno ajuste incremental em um plano


de ação não revestido de racionalidade econômica.
IV. O incentivo que é algo que induz os indivíduos a agir, tal como a perspectiva
de uma punição ou recompensa.
Está correto o que se afirma em:
a) I, II, III e IV.
b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
d) I e IV, apenas.
e) III e IV, apenas.
Comentários
Item I = isso! Trade off explicita uma situação de escolha entre opções (análise de
custo-benefício).
Item II = conceito simples e direto! Se faço isso, deixo de fazer aquilo. Então o isso
deve valer a pena em relação ao aquilo.
Item III = errado! A mudança marginal é um ajuste incremental em um plano de
ação revestido de racionalidade econômica. 139
Item IV = precisamente! E o homem responde a incentivos (Adam Smith).
Estão corretos os itens I e IV. Logo, a alternativa D é a correta e gabarito da questão.

Q1. Ano: 2014 Banca: FCC Órgão: SEFAZ-RJ Prova: FCC - 2014 - SEFAZ-RJ -
Auditor Fiscal da Receita Estadual
O pensamento econômico foi construído com a contribuição de inúmeros
autores, que tiveram seus nomes associados às teorias que defenderam e a
determinadas formas de relação entre Estado e atividade econômica. A seguir,
são citados cinco autores, as questões às quais seus nomes são associados e
ao papel que atribuíam ao Estado. Apenas uma série é correta.
a) Adam Smith, mão invisível, intervencionismo.
b) Thomas Malthus, superpopulação, intervencionismo.
c) Karl Marx, economia do bem-estar, intervencionismo.
d) Keynes, teoria quantitativa da moeda, intervencionismo.
e) Schumpeter, destruição criativa, não intervencionismo.
Comentários

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Assertiva A = Adam Smith defendeu com todo o coração que o mercado deve
regular as relações entre as pessoas. Nada de intervencionismo.
Assertiva B = apesar de as teorias de controle de natalidade serem inspiradas em
Malthus, ele não fazia o tipo intervencionista.
Assertiva C = aqui derruba o pessoal que é “bonzinho”. A teoria do Sr. Marx nada
tem a ver com bem-estar. Sua preocupação era com o sistema econômico
(substituição do capitalismo pelo socialismo). Quando ele percebia que o
capitalismo vinha melhorando a vida das pessoas o que ele dizia? NÃO importa!
Assertiva D = Keynes não se liga com a teoria quantitativa da moeda, embora
acreditasse que a moeda podia alterar variáveis reais como o nível de emprego.
Sua ideia era de gasto governamental para bombar a economia.
Assertiva E = Schumpeter defende que a economia se move em ciclos (ondas de
inovação), que ao mesmo tempo criam novas maneiras (mais eficientes) de produzir
e destroem estruturas que se tornam obsoletas na revolução tecnológica. Ele era
não intervencionista, defendendo que mesmo em períodos de crise, não se deveria
tentar salvar os que estavam perecendo – quem quebrava abria espaço para novas
empresas e negócios, mais saudáveis.
Em vista disso, a alternativa E é a correta e gabarito da questão.
140
14 RESUMO

GLOSSÁRIO DE ECONOMIA

Balança comercial = equilíbrio (ou diferença) no valor das importações em relação


às exportações do país em um certo período.

Capital = o dinheiro e os ativos físicos (maquinário e infraestrutura) usado para


produzir renda. Em sentido amplo, engloba também o capital humano (habilidade
dos trabalhadores, conhecimentos, know-how...).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Capitalismo = sistema econômico no qual as trocas são livres, os meios de


produção são de propriedade privada, os agentes econômicos competem para
vender bens e serviços (e obter lucros) e os trabalhadores podem trocar seu labor
por dinheiro (salários).

Cartel = grupo de empresas que concordar em cooperar entre si para controlar o


modo como um bem ou serviço particular será prestado, bem como seu preço.

Ciclo econômico = flutuação do crescimento caracterizada por momentos de


expansão (boom) e de recessão (burst).

Colusão = acordo entre duas ou mais empresas para não competir e fixar preços
(gerará um cartel).

Commodities = materiais brutos que funcionam como matéria-prima (petróleo,


minerais, madeira, metais, frutas, grãos, café, carne etc.).

Comunismo = sistema econômica baseado nas ideias de Karl Marx no qual a


propriedade privada é extinta e os meios de produção passam a ser de propriedade
coletiva.

Custo marginal = aumento no total dos custos causados pela produção de mais
uma unidade.
141
Déficit = desiquilíbrio entre contas. Exemplo: um governo gasta mais do que
arrecada ou importa mais do que exporta.

Deflação = queda nos preços de bens e serviços no decorrer do tempo, em geral


ligada a períodos de estagnação econômica.

Demanda = a quantidade de produto ou serviço que uma pessoa ou sociedade


está disposta a comprar.

Depressão = um longo e severo período de declínio da atividade econômica,


fazendo os resultados econômicos despencarem, o desemprego subir e o crédito se
tornar escasso.

Diminuição do retorno marginal = situação na qual cada unidade extra de algo


produz sucessivamente menor benefício.

Economia = todo o sistema de atividade econômica de um país ou de uma área,


compreendendo a produção, o consumo, o trabalho e o comércio que ali ocorre.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Economia clássica = approach inicial provido especialmente pelos economistas


clássicos Adam Smith e David Ricardo, que entendem que a riqueza das nações é
obtida pelo livre comércio.

Economia comportamental = braço da economia que estuda os fatores


psicológicos e sociais que influenciam nos processos de decisão de interesse da
economia.

Economia mista = modelo que busca mesclar capitalismo e socialismo, com parte
dos meios de produção detidos pelo Estado e parte pelos particulares, combinando
aspectos de planejamento central com traços de livre mercado (no que for
permitido). Na prática, TODAS as economias atuais são mistas, havendo uma
ampla gama de variações nesse balanço – o Brasil é muito mais interventivo do que
os EUA, por exemplo.

Escola austríaca = escola de economia fundada por Carl Menger no final do século
XIX, cujo cerne é a liberdade individual (livre mercado), com oposição à interferência
estatal na economia.

Escola de Chicago = escola econômica ligada à Universidade de Chicago, é ávida


defensora do livre mercado (liberalização e desregulamentação), tendo se tornado
prevalente na década de 1980 e perdido algum terreno após os anos 2000. 142
Estagflação = situação caótica de aumento de preços (inflação) e, ao mesmo
tempo, alto desemprego e baixo crescimento econômico.

Externalidade = um custo ou benefício adicional derivado de uma atividade


econômica que é sentido por uma pessoa não diretamente envolvida na atividade
e que (a rigor) não reflete no preço.

Inflação = alta de preços.

Informação assimétrica = um desiquilíbrio na informação. Por exemplo, os


vendedores têm maior informação sobre seus produtos do que os compradores; os
segurados possuem maiores informações sobre sua saúde dos que os planos.

Keynesianismo = escola econômica baseada nas ideias de John Maynard Keynes e


que advoga o manejo do gasto público (seu aumento) para impulsionar a
economia, especialmente em tempos de recessão.

Laissez-faire = termo francês utilizado com o sentido de “deixa fazer”, isto é, deixe
os mercados atuarem, defendendo o livre mercado (livre das amarras e da
interferência governamental).

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Liberalismo econômico = corrente que defende que o bem comum é obtido quando
as pessoas são livres para realizar suas próprias escolhas (livre mercado).

Livre mercado = modelo em que as escolhas sobre a produção são feitas por
indivíduos e empresas privadas, normalmente com base na oferta e demanda, de
modo que os preços se tornam reflexo do mercado.

Macroeconomia = estuda a economia como um todo, voltando-se aos fatores


abrangentes que interferem nos resultados econômicos, como inflação, crescimento,
desemprego, taxa de juros...

Mão invisível = noção extraída da obra de Adam Smith de que a sociedade obtém
seus melhores resultados quando os indivíduos perseguem seus próprios interesses.
O mercado, portanto, é guiado por essa mão invisível ao bem-comum.

Mercantilismo = doutrina que dominou a Europa Ocidental entre os séculos XVI e


XVIII e que pregava que o governo deveria manter rígido controle sobre o comércio
internacional, sempre mantendo a balança comercial positiva (exportar mais do que
importar), de modo que os cofres do país estivessem sempre cheios de ouro e prata
(verdadeira riqueza).

Microeconomia = estuda ações dos agentes econômicos (indivíduos e 143


companhias), as projeções do mercado e as tendências financeiras.

Moeda fiduciária (fiat) = forma de moeda que não é forjada com uma commodity
física (como ouro), mas que ganha valor pela confiança que as pessoas depositam
nela – é o modelo de moeda que prevalece atualmente (dólar, real, euro, libra,
peso).

Monopólio = situação em que um agente econômico domina totalmente um certo


mercado, tornando-se o único provedor de um dado bem ou serviço.

Multiplicador Keynesiano = segundo John Maynard Keynes, o aumento dos gastos


públicos gera um efeito tão positivo na economia que o incremento na renda é
ainda maior do que o valor do gasto elevado (há uma multiplicação).

Oligopólio = situação em que um mercado é dominado por uns poucos agentes


econômicos. Há risco de elevação de preços e formalização de cartel.

Planejamento central = sistema em que o controle da economia é centralizado no


governo, que passa a tomar decisões sobre a produção e a alocação de recursos.

Política fiscal = atuação governamental no setor tributário (tributos) e de gastos.

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Política monetária = atuação do governo por meio do controle da quantidade de


moeda em circulação e da taxa de juros para aquecer (acelerar) ou esfriar (refrear)
a economia. É defendida pelos monetaristas, como Milton Friedman (em especial
no início de sua carreira acadêmica).

Preço = quantidade de dinheiro (ou de outros bens) exigida do comprador pelo


vendedor para aquisição de um bem ou serviço.

Produto Interno Bruto (PIB) = a média da renda nacional do país no curso de um


ano. O índice é calculado com base no resultado total das atividades econômicas
do país no período (todas as transações realizadas).

Protecionismo = política econômica que busca restringir o comércio internacional


para beneficiar os produtores nacionais, o que se faz mediante política tributária
(normalmente tarifas).

Recessão = período em que a economia está com resultado negativo (encolhendo).

Teoria da dependência = teoria segundo a qual a riqueza e os recursos fluem dos


países mais pobres para os países maios ricos, ficando os países emergentes
impossibilidades, na prática, de se desenvolver.

Teoria do caos = braço da matemática que mostra como pequenas alterações na


144
condição inicial pode causar grandes diferenças no futuro, fazendo os resultados
parecerem caóticos.

Teoria dos jogos = escola matemática que estuda as estratégias dos indivíduos
quando em interação e diante da necessidade (processo) de realização de escolhas.

Trade-off = explica o processo de tomada de decisões por parte das pessoas – toda
a decisão requer a comparação entre custos e benefícios entre as opções
disponíveis.

Utilidade = medida da satisfação gerada pelo consumo de um produto ou serviço.

Utilidade marginal = a mudança da utilidade ou satisfação provocada pelo


consumo de uma unidade a mais de um produto ou serviço.

Valor nominal = o valor exigido para aquisição de um bem ou serviço, expresso em


dinheiro corrente no dia. Esse valor muda de acordo com a inflação (aumento) ou
deflação (queda), não podendo ser comparado em épocas muito diferentes.
Exemplo: no meu tempo de moleque (eu lembro bem), uma Coca-Cola 2lt no
mercado custava R$ 1,39; hoje custa quase R$ 8 conto!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Vantagem absoluta = a habilidade de um país de produzir um produto de maneira


mais eficiente do que outros.

Vantagem comparativa = a habilidade de um país de produzir um produto de


maneira relativamente mais eficiente, mesmo que outros países sejam mais eficientes
no todo.

15 BIBLIOGRAFIA

Gostou muito do assunto e quer estudar mais? Está com tempo? Ótimo! Seguem
as minhas recomendações bibliográficas para estudos adicionais e que foram as
principais obras utilizadas como fonte de pesquisa para o desenvolvimento deste
material.
145
BUCHHOLZ, Todd G. New ideas from dead economists: an introduction to modern
economic thought. New York: Penguin, 2007.

KISHTAINY, Niall, et al. The economics book. New York: Dorling Kindersley, 2012.

ORRELL, David. Entendendo economia: de Pitágoras aos principais economistas


contemporâneos. 2. ed. São Paulo, LeYa, 2015.

Boa leitura!

16 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao final da nossa aula e, (in)felizmente, do nosso curso!

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br
Jean Vilbert
Aula 11

Foi um prazer estar com os futuros colegas (juízes e juízas). Espero ter ajudado nessa
caminhada e ter tornado mais aprazível o estudo das matérias de humanística. Se
você conseguiu aprender, todo o esforço e dedicação valerá a pena. Sei que o
caminho da aprovação em concurso é difícil, mas posso garantir que é
recompensador.
E quanto a mim (e ao Estratégia como um todo), estamos sempre aqui com a
intenção firme de realizar sonhos!
Ótimos estudos!
Quaisquer dúvidas, sugestões e críticas, ou se você viu algum erro no material
(ajude a melhorá-lo a cada dia), entre em contato sem hesitação. Estou disponível
no fórum do Curso, por e-mail e, inclusive (embora não frequentemente), pelo
Facebook ou Instagram.
Jean Vilbert

146

Formação Humanística p/ Magistratura Estadual 2019 (Curso Regular)


www.estrategiaconcursos.com.br

Você também pode gostar