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3ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE INVESTIGAÇÃO PENAL TERRITORIAL

DA ÁREA PENHA E IRAJÁ DO NÚCLEO RIO DE JANEIRO

EXMO DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DA CAPITAL


– TRIBUNAL DO JÚRI

Inquérito Policial nº 022-04197/2006

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, por


intermédio da Promotora de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições
legais, vem expor para, ao final, requerer o que segue:

Trata-se de inquérito policial instaurado visando apurar a autoria e demais


circunstâncias de crime de homicídio, previsto no art. 121 do Código Penal, ocorrido
no dia 28 de junho de 2006, em Olaria, nesta cidade, vitimando RODRIGO
BELTRÃO GARCIA.

Nos autos foram juntados laudos técnicos e ouvidas testemunhas. Auto de


Exame Cadavérico (fls. 20/25) e termo de declaração do genitor da vítima (fls.
70/71).

Contudo, apesar da gravidade dos fatos apurados, não foi possível


identificar a autoria delitiva. Constata-se que após mais de 15 (quinze) anos a
presente investigação não logrou reunir elementos probatórios mínimos que
viabilizassem o exercício da ação penal.

Nessa seara, cumpre destacar a extrema dificuldade em se angariar


elementos que pudessem contribuir para a identificação da autoria do fato, sendo
certo que até o momento a Autoridade Policial não obteve êxito em identificar
testemunhas oculares do evento, assim como em produzir demais peças técnicas
necessárias ao deslinde da presente persecução penal. 

Tampouco se mostra verossímil que tais elementos venham a ser


amealhados no presente momento, valendo notar que as diligências que poderiam
identificar o autor e a dinâmica do possível crime não foram integralmente realizadas
no período acima assinalado.
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DA ÁREA PENHA E IRAJÁ DO NÚCLEO RIO DE JANEIRO

Além disso, não há linha de investigação útil a elucidar os fatos, sendo que
a perpetuação da presente investigação implicará, tão somente, no retardamento da
prestação jurisdicional, além de danos pessoais gravosos aos possíveis
investigados, conforme já decidiu o Superior Tribunal de Justiça in verbis:

“PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS


SUBSTITUTIVO DE RECURSO ESPECIAL, ORDINÁRIO
OU DE REVISÃO CRIMINAL. NÃO CABIMENTO.
INQUÉRITO POLICIAL. INVESTIGAÇÃO DE CRIMES DE
LAVAGEM DE DINHEIRO, VALORIZAÇÃO ARTIFICIAL
DE BENS E SIMULAÇÃO DE VENDA DE COMBUSTÍVEIS
E DE NASCIMENTO DE GADO. ALEGAÇÕES DE
EXCESSO DE PRAZO E DE AUSÊNCIA DE JUSTA
CAUSA. INVESTIGAÇÕES QUE PERDURAM POR MAIS
DE 6 ANOS SEM O SURGIMENTO DE INDÍCIOS DE
AUTORIA E MATERIALIDADE CAPAZES DE LASTREAR
UMA DENÚNCIA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL
EVIDENCIADO. HABEAS CORPUS NÃO CONHECIDO.
ORDEM CONCEDIDA DE OFÍCIO. 1. Ressalvada pessoal
compreensão diversa, uniformizou o Superior Tribunal de
Justiça ser inadequado o writ em substituição a recursos
especial e ordinário, ou de revisão criminal, admitindo-se,
de ofício, a concessão da ordem ante a constatação de
ilegalidade flagrante, abuso de poder ou teratologia. 2.
Embora possível admitir-se prorrogação casuística dos
prazos de duração da persecução criminal, notadamente
do inquérito policial, são a celeridade e a eficiência
princípios necessários ao desenvolvimento do devido
processo legal. 3. A tramitação de inquérito policial por
mais de seis anos eterniza investigação que deveria ser
sumária - apenas para fundamento de seriedade da
acusação penal (certeza da materialidade e tão somente
indícios de autoria) -, traz gravosos danos pessoais e
transmuta a investigação de fato para a investigação da
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DA ÁREA PENHA E IRAJÁ DO NÚCLEO RIO DE JANEIRO

pessoa. 4. Situação de prejuízos diretos inclusive


financeiros, pela mantença por longo tempo do bloqueio de
bens do paciente. 5. Condição atual de inércia da
investigação, o que, somado ao tempo decorrido, configura
clara mora estatal e prejuízo concretizado. 6. Habeas
corpus não conhecido, porém, concedida a ordem de ofício
para trancamento do inquérito policial e desbloqueio dos
bens apreendidos”. (STJ, HC n. 345.349/TO, Ministro Nefi
Cordeiro, Sexta Turma, DJe 10/6/2016 – grifo nosso).

Não há, portanto, como se conceber utilidade no prosseguimento da


presente investigação, pois, se houver notícia de prova nova, a qualquer tempo
poderá a investigação retomar seu curso, com o desarquivamento do inquérito
policial.

Em razão do exposto, requer o MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO


RIO DE JANEIRO, com fulcro no art. 395, III, do Código de Processo Penal, o
ARQUIVAMENTO do presente inquérito policial.

Rio de Janeiro, 20 de outubro de 2022.

Georgea Marcovecchio Guerra


Promotora de Justiça

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