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RESENHA CRÍTICA – DOCUMENTÁRIO: Pacto Brutal - O

Assassinato de Daniella Perez

Andressa Lima Silva1


Cleudenice Bonfim de Macedo2

1. REFERÊNCIA DA OBRA EM ANÁLISE

PACTO BRUTAL: O ASSASSINATO DE DANIELLA PEREZ é


uma série documental concebida e produzida pela atriz, cineasta e diretora
brasileira e dirigida por Guto Barra. A série, da emissora HBO Max, foi lançada
em julho de 2022 em uma temporada contendo 5 (cinco) episódios e relata o
notório assassinato da atriz Daniella Perez.

2. FICHA TÉCNICA

Informação geral Editor(es) Paulo Testolini

Formato documentário Distribuição Warner Bros.


Television Distribution
Gênero Crime
Música por Felipe Ayres
Duração 50 minutos - 1 hora
Empresa(s) Warner Bros.
Criador(es) Tatiana Issa produtora(s) Discovery

País de origem Brasil Exibição

Idioma original língua portuguesa Emissora original HBO Max

Produção Transmissão 26 de julho 2022


original

Diretor(es) Tatiana Issa


Guto Barra Temporadas 1

Produtor(es) Tatiana Issa Episódios 5


executivo(s) Guto Barra

1
Estudante do Curso de Direito da FAC – Faculdade Canaã dos Carajás. E-mail:
andressalimasilva@hotmail.com
2
Estudante do Curso de Direito da FAC – Faculdade Canaã dos Carajás. E-mail: cleudenice@gmail.com
2. CONTEXTO HISTÓRICO DO RELATO DOCUMENTAL DA OBRA

A obra realiza o resgate factual dos eventos relacionados ao


assassinato da atriz brasileira Daniella Perez, a investigação policial do caso, a
identificação dos autores do crime e a persecução penal.
A atriz foi a primeira filha da reconhecida escritora Gloria Perez,
conhecida por seu trabalho como atriz com uma carreira interrompida no auge
por seu assassinato brutal. O crime, por sua brutalidade e pela notoriedade
pública dos envolvidos, vítima e autores, ganhou ampla repercussão no ano d
1992 no Brasil.
O assassinato foi cometido por Guilherme de Pádua, ator com
quem a vítima fazia par romântico na trama, e por Paula Nogueira Thomaz,
esposa de Guilherme na época. O corpo da atriz foi encontrado num matagal,
na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, perfurado com dezoito golpes
fatais de punhal, que causaram choque hipovolêmico que a vitimou (segundo
laudo pericial).
A prisão dos dois, então suspeitos, foi decretada em 31 de
dezembro de 1992. O julgamento aconteceu cinco anos depois, em 1997. Do
julgamento decorreu a sentença condenatória dos réus por homicídio
qualificado. O autor foi condenado a 19 anos, enquanto a autora 18. Em 1999,
ambos foram soltos em liberdade condicional.

3. ASPECTOS RELEVANTES SOBRE A PRODUÇÃO DA OBRA

O documentário, podendo ser enquadrado no gênero conhecido


como true crime, procura ser embasado nos autos da investigação criminal
envolvendo o assassinato, nos autos do processo penal, também, na
investigação particular patrocinada e, boa parte, conduzida pela própria mãe da
vítima, numa iniciativa particular.
Foram ouvidas todas as pessoas envolvidas na investigação, na
persecução e na notícia jornalística do caso à época. Muitos artistas, colegas da
vítima, bem como da mãe, também foram ouvidas. Todas as entrevistas
relataram o alto grau de comoção e notoriedade que o caso alcançou.
Sendo a mãe da vítima, Glória Perez é a entrevistada de maior
presença na série e a fonte de fotos e documentos pessoais utilizados na
produção. Um dos conteúdos usados que gerou controvérsia foram as fotos do
corpo da atriz, perfurado por punhaladas desferidas por Guilherme de Pádua e
abandonado em um matagal na Barra da Tijuca. De acordo com Tatiana, a
ordem veio de Glória Perez, que queria que o público tivesse a percepção da
gravidade do crime.
Outro entrevistado importante para a série é o ator Raul Gazolla,
viúvo da atriz. Durante as buscas pelo corpo de Daniella, Raul chegou a ter um
encontro com Guilherme na delegacia onde estava sendo investigado o crime,
sem saber que o colega da ex-esposa havia cometido o assassinato. Raul
chegou a se emocionar durante as entrevistas da série, ao relembrar momentos
familiares com Daniella e a investigação do crime.
Na série, foram também ouvidos os promotores do caso, José
Muiños Piñeiro Filho e Maurício Assayag; os atores Maurício Mattar, Fábio
Assunção, Eri Johnson, Cláudia Raia, Marieta Severo, Cristiana Oliveira, entre
outros; o cantor Roberto Carlos, amigo de Glória Perez; o diretor Wolf Maia; a
jornalista Glória Maria; além de familiares, médicos, jornalistas e demais
especialistas ouvidos no julgamento.
Contudo, Guilherme de Pádua e sua ex-exposa, Paula Thomaz
(hoje Paula Nogueira Peixoto) não foram entrevistados na produção da série.
Outro requisito exigido por Glória Perez é que os dois não fossem ouvidos, sob
a alegação de que eles poderiam dar versões conflitantes e já desmascaradas
pela polícia a respeito do assassinato.

4. ASPECTOS JURÍDICOS RELEVANTES

Guilherme de Pádua e Paula Thomaz foram condenados, em


1997, pelo assassinato da filha primogênita de Glória Perez, famosa roteirista da
Rede Globo, cuja filha Daniella Perez morreu brutalmente, aos 22 anos, em
1992.
O real motivo do crime não fora descoberto. Num primeiro
depoimento, Guilherme afirmou que havia cometido o crime, pois Daniella o
assediava. Todos que conviviam com os dois desmentiram a história. A tese que
perdurou no julgamento foi a de que o ator estaria bravo com o fato de que seu
personagem ter sido cortado de alguns capítulos da novela. Ele acreditava que
Daniella havia influenciado a mãe (escritora da novela) para que os cortes
ocorressem.
Paula e Guilherme foram, assim, acusados de homicídio
qualificado por motivo torpe e por terem utilizado recurso que dificultasse a
defesa da vítima. Dada a premeditação do crime (alteração da placa do veículo),
qualquer tese de homicídio culposo foi descartada, de maneira que o
procedimento adotado foi, então, o do Tribunal do Júri. Guilherme, em
15/01/1997, foi condenado a dezenove anos de reclusão (dos quais já havia
cumprido quatro). Ele tentou recorrer da sentença, mas não obteve êxito, de
maneira que sua pena foi mantida.
Já o julgamento de Paula aconteceu em 16/05/1997. Ela foi
condenada a dezoito anos e seis meses de reclusão. Sua pena foi menor que a
de Guilherme, pois ela contava com menos de 21 anos na data do ocorrido. A
votação do júri no caso de Paula foi bem dividida: 4 para a condenação e 3 para
absolvição. Após recurso, sua pena ficou em 15 anos. O casal cumpriu apenas
sete anos da pena, sendo que deixaram o cárcere em 1999.
Interessa dizer que antes do caso em comento, o homicídio
qualificado não fazia parte do rol de crimes hediondos. Por conta disso, o
tratamento para com o autor do crime não seria tão rígido como aquele previsto
na Lei 8.072/90. Inconformada com essa situação, Glória Perez liderou um
movimento que visava a inclusão do crime de homicídio qualificado no rol dos
crimes hediondos. Em 1994, ela conseguiu arrecadar 1,3 milhão de assinaturas
em favor de um projeto de lei nesse sentido.
O projeto de lei foi elaborado e, então, sancionado por Itamar
Franco, então Presidente da República, publicando-se assim a Lei 8.930/94, que
incluiu o homicídio qualificado no rol dos crimes hediondos. A modificação legal,
contudo, não alterou ou interferiu no julgamento e cumprimento de pena de
Guilherme e Paula, por conta do princípio novatio legis in pejus, que preconiza
que se a nova lei piora de algum modo a situação do réu, ela não retroage.
Há, portanto, uma preocupação da Lei em garantir que sejam
proporcionados ao menor acesso à educação, saúde, alimentação, lazer,
convivência familiar sadia etc. E, quando em situações de privação destes,
procura estabelecer meios para que a deficiência seja suprida.
É nesta última situação exposta, apesar de não estar presente
apenas nela, que melhor percebemos a vitalidade dos princípios na Lei nº 8.069,
pois é a partir deles e procurando respeitá-los ao máximo que se examina formas
de suprir as necessidades do menor desamparado.
Por fim, ao verificarmos que o ECA possui fontes e princípios
próprios, podemos concluir que se trata de um ramo jurídico autônomo.

5. CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

A obra documental em análise possui enorme relevância, vez


que trata de um caso de relevo jornalístico considerável. Ademais, no aspecto
jurídico, o caso desenrolou de modo que os contornos da investigação e da
persecução penal trouxeram para a sociedade uma discussão fértil sobre as
propostas de recrudescimento das penas cominadas aos crimes de homicídio
qualificado.
No campo do estudo acadêmico do Direito, o documentário
permite uma regressão ao contexto normativo penal dos anos 1990 que propicia
uma comparação com o estado atual de coisas nessa seara. Ao estudante
atento, muito se pode derivar de uma análise detida da obra sob a ótica jurídica.
Mesmo no aspecto normativo constitucional a análise da obra
pode ser feita ao considerar que, daquele caso, o primeiro projeto de lei de
iniciativa popular, artifício previsto na Constituição, foi normatizado e até o
presente momento vige em nosso ordenamento.
Desse modo, entende-se que a obra transcende o óbvio aspecto
jornalístico, decorrente da notoriedade, e permite uma imersão em pontos
jurídicos de alto relevo à investigação acadêmica, quer do ponto de vista da
História do Direito Brasileiro, quer embasando discussões sobre tipos penais e
suas penas, política criminal, execução penal e até mesmo Direitos da
Personalidade.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FOUCAULT, Michel. Nascimento da Biopolítica. São Paulo, Martins Fontes,


2008.
______. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis, Vozes, 1987.

FRAGA, Plínio. Promotoria denuncia casal por homicídio: Daniella foi vítima
de ‘caprichos’ de Pádua e mulher, que teria estimulado o crime, dizem
promotores. Folha de São Paulo, São Paulo, 09 jan. 1993, cotidiano, p.3.
Disponível em: <http://acervo.folha.com.br>. Acesso em: 01 jan. 2023

FRANCO, Alberto Silva; LIRA, Rafael; FELIX, Yuri. Crimes Hediondos. 7ª


ed, São Paulo, SP: Revista dos Tribunais, 2011.

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