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AO JUÍZO DO 18º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE CAMPO GRANDE – COMARCA DA

CAPITAL/RJ.

Processo nº:

, já devidamente qualificada nos autos supra, vem à presença de Vossa Excelência, em


atendimento ao despacho de fl. 43, apresentar ALEGAÇÕES FINAIS, pelas razões que
passa expor:

DA REALIDADE DOS FATOS

Inicialmente, em sede de contestação a 1ª Ré alega que há divergência entre o


endereço cadastrado e o constante na inicial, porém, ao verificarmos seu teor é
possível perceber que ainda que ausente o número do endereço, seus complementos
e CEP são suficientes para determinar com precisão o seu endereço. Todavia, apesar
de não receber as faturas em sua residência, a Autora não demanda contra Ré a
respeito deste fato.

Na sequência, a 1ª Ré apresenta as supostas faturas da Autora, porém, como é


possível aferir das faturas acostadas pela própria Ré confrontadas com os outros
documentos apresentados por esta, o número de cartão do constante no Termo de
Retirada do Cartão e das faturas é divergente, pois no primeiro conta o número
correto, , ou seja com final diferente do que realmente é, constante também nos
documentos juntados pela Autora.

Contudo, assumindo que as faturas juntadas sejam pertencentes a Autora é


possível verificar que a 1ª Ré tenta induzir o julgador ao erro, na intenção de fazê-lo
acreditar que a fatura referente ao mês de Setembro fora paga parcialmente, vejamos:
A 1ª Ré alega que havia saldo remanescente do mês anterior na fatura da
Autora de 243,53 (duzentos e quarenta e três reais e cinquenta e três centavos),
contudo, como pode ser observado nos destaques em amarelo, o valor que a Ré alega
ser remanescente é na verdade o valor total da fatura.

É possível ver na linha amarela em destaque acima que no dia 20/08/2019 a


Autora efetuou o pagamento integral da fatura referente aquele mês, Agosto/2019 na
integralidade, a saber R$ 278,39 (duzentos e setenta e nove reais e trinta e nove
centavos), como é possível também constatar que este era o valor total na fatura
juntada pela 1ª Ré às fls 91 e dos comprovantes da Autora:

Assim, conforme se verifica, houve o pagamento integral da fatura de Agosto, e


portanto, não restou saldo subsecivo para o mês seguinte, Setembro.

Outrossim, ao analisarmos a fatura pertinente ao mês de Setembro, vemos que


ela fora paga antes do vencimento em valor que inclusive excedia sua totalidade na
data de 07/09/2019, pois ao retirar um extrato constava ainda o valor pertinente ao
mês de Agosto, mas mesmo assim a Autora saldou com o valor que constava no
extrato, mesmo não sendo referente ao mês corrente, a fim de gerar crédito para si:

Os extratos e faturas não deixam rastro de dúvidas, não houve saldo


remanescente entre a fatura de Agosto e Setembro, como também a fatura de
Setembro fora paga em valor superior a sua totalidade e antes do vencimento.
Consequentemente, falhou a 1ª Ré ao não contabilizar o pagamento da
Autora efetuado em 07/09/2019, uma vez que mesmo já tendo recebido a quitação
do valor a maior o cobrou em bis in idem no mês seguinte, gerando no mês de
Outubro cobrança indevida, com valor que contabilizava fatura já paga
anteriormente.

Portanto, a “falta de identificação do pagamento” não é de responsabilidade da


Autora que o efetuou em tempo oportuno, mas da 1ª Ré que não o registrou em seu
sistema, recebendo o valor sem contudo abatê-lo na cobrança subsequente. Sendo
assim plenamente responsável pela inscrição indevida dos dados da Autora no
cadastro de inadimplentes, uma vez que esta adimpliu com o valor que gerou sua
inscrição.

Dessa forma, se configura a existência do Dano Moral, sua comprovação se dá


pela mácula à honra da Autora, por ter sido posta em posição de má pagadora, quando
sempre quitou com suas dívidas sem atraso, gerando o dever de indenização a esta.

DA GRATUIDADE DE JUSTIÇA

Ataca ainda a 1ª Ré o pedido do deferimento de gratuidade de justiça.

É sabido que o pedido pode ser feito em qualquer fase o processo e que o
benefício da justiça gratuita é pertinente ao procedimento dos juizados especiais em
sede de 1º grau.

Não constitui porém mácula ao devido processo legal o pleito ainda em 1ª


instância para respaldar os recursos em eventual lide em 2º grau, o que se acredita que
não será necessário pela iminente procedência da ação, uma vez que mesmo podendo
ser feito em via recursal, a incerteza de sua concessão para apreciação de recurso
coíbe muitas vezes aquele que não possui condições financeiras de recorrer.

Outrossim, afirma a 1ª Ré que por estar a Autora amparada por advogado


particular não seria pessoa “pobre”, porém tal pensamento há muito tempo fora
superado pela doutrina e jurisprudência pátria em entendimento sedimentado de que
a contratação de advogado particular não constitui fato para que lhe seja negado o
benefício da assistência judicial gratuita conforme o §4º do artigo 99 do Código de
Processo Civil que traz expressamente tal entendimento em seu texto, bem como os
julgados dos nossos tribunais, vejamos:

JUSTIÇA GRATUITA. EXIGÊNCIA DE DECLARAÇÃO DE PATROCÍNIO GRATUITO


INCONDICIONAL. DESCABIMENTO. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. PRECEDENTES. (...)
2. É possível o gozo da assistência judiciária gratuita mesmo ao jurisdicionado
contratante de representação judicial com previsão de pagamento de honorários
advocatícios ad exitum. 3. Essa solução é consentânea com o propósito da Lei n.
1.060/1950, pois garante ao cidadão de poucos recursos a escolha do causídico que,
aceitando o risco de não auferir remuneração no caso de indeferimento do pedido,
melhor represente seus interesses em juízo. 4. A exigência de declaração de patrocínio
gratuito incondicional não encontra assento em qualquer dispositivo da Lei n.
1.060/1950, criando requisito não previsto, em afronta ao princípio da legalidade. 5.
Precedentes das Terceira e Quarta Turmas do STJ. 6. Recurso especial parcialmente
conhecido e, nessa extensão, provido, com determinação de retorno dos autos à origem
para processamento da apelação (STJ, REsp 1504432 - RJ Relator : Ministro OG
FERNANDES julgado em 21/09/2016). (grifo nosso).

ADVOGADO PARTICULAR – NÃO IMPEDIMENTO PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO. Em


regra, os benefícios da assistência jurídica podem ser concedidos com base na
declaração da parte de que não está em condições de arcar com a despesas do
processo sem prejuízo do próprio sustento ou de sua família. Os institutos da
gratuidade de justiça e da assistência judiciária gratuita não podem se confundidos,
dado que distinto e independentes entre si. Fato de a autora estar assistida por
advogado particular não se constitui obstáculo à obtenção da gratuidade de justiça para
fins de dispensa do pagamento de custas. O CPC/2015 e a Lei nº 7.115/83 autorizam a
concessão do benefício à parte que afirma não poder arcar com as despesas processuais
sem prejuízo do sustento próprio ou de sua família, ou mediante requerimento firmado
por seu procurador, na inicial ou na peça recursal. Agravo de Instrumento provido
(Processo: Ag – 0000934-40.2016.5.06.0022, Relator: Antonio Wanderley Martins, Data
de julgamento: 27/07/2017, Quarta Turma, Data da assinatura: 03/08/2017). (grifo
nosso).

Assim, a Declaração de hipossuficiência juntada aos autos é prova cabal da


impossibilidade da parte Autora de custear os gastos processuais, mas para fins de
provas traz a Autora a comprovação de não restituição de imposto de Renda dos
últimos dois anos que corrobora com o fato de não poder arcar com os gatos do
processo.

Assim, ao contrário do que afirma a parte Ré restam comprovados os


pressupostos exigidos para a concessão, não sendo esta uma lide temerária que a
Autora deu causa, mas sim a Ré e sua sequência de falhas.

DA RESPONSABILIDADE DA 1ª RÉ – FALHA NA PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS

Diferentemente do que alega a 1ª Ré restou inequivocamente demonstrado que houve


de sua parte conduta ilícita, onde agiu com desídia e desinteresse em averiguar a situação,
uma vez que a Autora procurou o Banco Réu demonstrando o pagamento feito e solicitando a
emissão de nova fatura no valor correto, sendo contudo não atendida por este, necessitando
demandar em juízo para a resolução do caso e por conseguinte, configurando o dever do
Banco de indenização.

Afirma o Réu que “prestou seu serviço sem qualquer defeito” mas não é isso que a
prova dos autos juntados tanto pela Autora quanto pelo próprio Banco atestam. Os documento
acostados comprovam que as medidas de segurança necessárias não foram cumpridas,
devendo o Banco Réu ser imputado da responsabilidade pelos danos suportados pela parte
autora.

Acertadamente, o Réu traz em sua contestação o dispositivo que prevê a sua


responsabilidade, conforme, prescreve o artigo 14, do Código de Defesa do Consumidor:

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de


culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos
à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas
sobre sua fruição e riscos.

Conclui-se, portanto, que o Banco agiu de forma ilegal, irregular e ilegítima, pois já
restou comprovado o prejuízo causado pelo Banco a parte Autora.
Assim, como o risco do empreendimento é do Banco Réu, deve este suportar o ônus e
o bônus de suas ações, não pode se eximir de arcar com as consequências de seus atos
irregulares, posto que não computou o pagamento efetuado pela Autora, gerando para esta
cobrança duplicada e por fim se negando a consertar sua própria falha, ao ponto que desde o
seu erro vem calculando juros e taxas de cobrança para a Autora sobre valor que esta nunca
deveu.

Dessa forma, o Banco Réu é responsável pelos males sofridos pela parte autora, dando
causa ao dever de indenizá-la, pelo que restou comprovado que deve ser a ação julgada
procedente.

DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

Irresigna-se ainda a parte Ré ao pedido indenizatório, afirmando que a parte autora


intenta capitalizar as custas alheias. Todavia, apesar de afirmar que não houve falhas de sua
parte ou a ocorrência de danos, já restou inconteste que o Banco Réu falhou na prestação de
seus serviços, agindo com displicência e ma-fé ao tentar modificar a verdade dos fatos.

Assim, o valor indenizatório deve atentar aos princípios da razoabilidade, mas também
ao caráter punitivo e pedagógico, que infelizmente é a única linguagem por aqueles que
reiteradamente causam toda espécie de danos aos seus consumidores.

Neste caso, quem pode determinar com precisão o sofrimento suportado pela parte
Autora a não ser ela mesma, que viu sua honra, dignidade e obtenção de créditos violados pelo
Banco Réu, além de estar convivendo desde então com a sombra da cobrança que este Réu
vem somando dia após dia em juros e multas por valor indevido. Outrossim, temos ainda a
ausência de notificação prévia de sua inscrição, ato ilícito perpetrado pela 2ª Ré.

Assim, não há o que se falar em tentativa de enriquecimento ilícito por parte da Autora
que busca ter seu dano reparado e é sabedora de que este juízo pode ainda determinar
quantia diversa da que fora requerida.

É ofensivo o Banco Réu afirmar que a Autora “quer fazer da presente ação autêntica
loteria”, visto que originalmente deu causa a esta lide, não contabilizou o pagamento efetuado
procedendo o devido abatimento em seu sistema e mesmo tendo sido procurada para a
resolução pacífica do caso não atendeu ao pleito Autoral, mesmo tendo o pagamento
registrado na fatura. Dessa forma, seus argumentos se mostram inverídicos e extremamente
frágeis, mostrando a realidade dos fatos, que o Banco Réu não cumpriu com seus deveres,
agindo em negligência e imperícia.

Se formos falar em enriquecimento sem causa, temos que voltar a atenção para Ré que
se beneficiou de um valor pago a ela, mas cobra pelo mesmo em duplicidade e cadastra os
dados da Autora no sistema de inadimplentes sem razão.

Conclui-se, portanto, que o valor indenizatório é razoável frente aos danos sofridos
pelos atos ilícitos de ambas as Rés, embasamento suficiente para determinar a total
procedência desta ação.

DA AUSÊNCIA DE NOTIFICAÇÃO PRÉVIA

Destaca-se ainda que, apesar de não ser atribuição da 1ª Ré, é dever do órgão
mantenedor, ora 2º Réu que proceda a prévia notificação antes de proceder à inscrição como
bem elucida a Súmula 359 do STJ, quando diz “Cabe ao órgão mantenedor do cadastro de
proteção ao crédito a notificação do devedor antes de proceder à inscrição”.

Assim, resta inequívoca primeiramente a falha na prestação dos serviços da 1ª Ré, uma
vez que esta é originalmente a causadora desta lide, pois indevidamente enviou para a 2ª Ré os
dados da Autora para o cadastramento em seu sistema de proteção ao crédito, agindo de
maneira irregular. Em seguida, a 2ª Ré age também de maneira ilícita ao não notificar a parte
autora sobre a inscrição antes de efetua-la.

Portanto, não há que se falar em afastamento de condenação dos Réus, pois cada um
dentro do que lhe era pertinente falho na prestação de seus serviços e seus atos causaram
danos a autora, que deve ser reparada pelos infortúnios suportados, razão que
suficientemente embasa a total procedência dos pedidos autorais.

CONCLUSÃO

Conforme restou inequívoco, houve falha na prestação dos serviços de ambas


as Rés, gerando assim o dever de indenizar a Autora pelos danos suportados
decorrentes destas ações.
Por fim, não possui a parte autora mais provas a produzir, sem não as que já
constam nos autos, concordando com o julgamento antecipado da lide, que acredita
ver julgado totalmente procedente pela indubitável ação ilícita por parte das Rés.

                
Rio de Janeiro, 22 de setembro 2020.

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