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OBRAS DO AUTOR ALBERTO XAVIER

Livros
Estatuto dos benefícios fiscais (esboço de um projeto), Lisboa, 1969
(em colaboração); Benefícios fiscais à exportação: limites e pers-
pectivas, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1969; Port1tgal
e a integração econômica européia, ed. Almedina, Coimbra, 1970;
Política. orça-mental e economin de mei·caclo: a exper·iéncia americana ,
elo após-guerra, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1970;
Sitbsídios pctra mn.a lei de defesa dn concorn~ncia, Cadernos cie
Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1970; .Aspecto.s fnndamentai.s do
contencioso t·ributário, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa,
OS PRIHCIPIOS DA LEGALIDADE
1972; Goncecito e naturezn do acto tribittário, ed. Almedina, Coimbra,
1972 (dissertação de doutoramento em ciências jurídico-econômicas
na Faculdaue de Direito da Universidade de Lisboa); Econont'ia
E- DA TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO
de merendo e justiça social, ed. Empresa Nacional de Publicidade,
Lisboa, 1973; 11fanital de Direito F·íscal, I, ed. Almedina, Lisboa, 197'1;
Do 1n·ocerlimento allministraNvo, ed. José Bushatsky, São Paulo,
1976; Direito 'J.'ributário Internadonal elo Bnwil, ed. Resenha Tri-
butária, São Paulo, 1977; Do Lançamento no Direito Tribntário
B1·asileiro, ed. Resenha Tributária, São Paulo, 1977; Incorporação
rl6 socieclades e imposto de renda, ed. Resenha Tributária, São
Paulo, 1978.

Estudos e Artigos

A.s desigitaldades internacionai8 e a integração econômica, Separata


da Revista da Faculdade de Direito de Lisboa, Lisboa, 1970; .A na-
tureza jiirídicci da associação à 001nunidade Econômica Européia,
ed. Almeóna, Coimbra, 1970; Portugal face ao Mercado Gommn
E1tropeii, Separata da Revista do Instituto Econômico e Social de
Évora, Évora, 1970; O negócio inclireto ern direito fiscal, Cadernos
de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1971; Dir·igismo e livre empi·esa
no munclo contempor·âneo, ed. Assembléia, Guimarães, 1971; A
administração pública e a economia contrat1wl, in Revista do Insti-
tuto Português de Ciências Administrativas, Lisboa, 1974; Il feno-
meno dell'astratezza nell'atto cl'accertamento tributaria, Rivista di
Diritto Finanziario e Scienza delle Finanze, Milão, ed. Giuffre, 1975;
Tipicidacl y legalidad en eZ derecho tributaria, Revista de Derecho
Financiero y de Hacienda Pública, Madrid, 1975, n. 120; O limite
das despesas das socied(ides "holcling", Resenha Tributária, 1976,
n. 29; Indedittibilidade de "royalties" e di8trib·uição de lucros,
Resenha Tributária, 1976, n. 36; A re1mmeração dos administradores
das S. A., Sociedades por Ações - Estudo n. 1, São Paulo, 1977;
Problemas jurídicos da reserva para manittenção de capital de giro,
Ltr, 1977; O regime tribiitário elas correções monetárias das pres- EDITORAm
tações conti·atitais, Resenha Tributária, 1977, n. 16; .Aiitorização para REVISTA DOS TRIBUNAIS
importaçcio no entreposto aduaneiro, Resenha Tributária, 1978;
Colaboração no Verbo (Enciclopédia Luso-Brasileira de Cultura). SÃO PAULO -1978
CIP-Brasil. Catalogação-na-Fonte
Câmara Brasileira do Livro, SP

Xavier, Alberto, 1942-


Xl7p 0s princípios da legalidade e da "tipici-
dade da tributação / Alberto Xaviero - São
Paulo : Ed. Revista dos Tribunais, 1978.

1. Poder de tributar - Brasil L Titulo.

CDU-342: 336. 2. 023(81)


178-0806 -340.131.5:336.2(81)
'-------·-··
Índices para catálogo sistemático:
1. Brasil : Poder de tributar : Limitações constitucionais
Direito tributário 342:336.2.023(81)
2. Brasil : Tributação : Legalidade : Direito tributário
340.131.5:336.2(81)
3. Brasil : Tributação : Limítaçôes constitucionais
Direito tributário 342: 336. 2. 23 (81)

010486
Os prjnçipios da. !eQalidade
e dà t1p1cldade da H''lbutaca
336.21:342 X3p 1978

XAVIER, ALBERTO PINHEIRO


1G61 A
Geraldo Ataliba,
1111111111111111111 Ao grande Amigo, Ao Mestre,
[ 818UOTEC.4 I T.J.E::.F1.J. Ao incansável Defensor do
© desta edição da Estado de Direito.
REVISTA DOS TRIBUNAIS LTDA.
Rua Conde do Pinhal, 78
01501 - São Paulo, SP
Agosto de 1978
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO . . . . . . . .. . .. . . . . .. . .. . .. . .. . .. . . . .. . .. . . . . 1

CAPÍTULOI - O PRINCÍPIO DA LEGALIDADE NO


ESTADO DE DIREITO

§ l .º Do princípio da autotributação ao Estado de Di-


reito . . . . . .. . .. . . .. . .. . .. . .. . .. . .. . . .. . .. . .. . .. . . 5
§ 2. 0 Estado de Direito, igualdade e legalidade . .. . ... .. 8

CAPÍTULOII - OS CARACTERES DO PRINCÍPIO DA


LEGALIDADE NO DIREITO TRIBUTÁRIO

§ 1.º Preeminência da lei e reserva de lei . .. .. .. . ... ... 13


§ 2. 0 Reserva de lei formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
a)
A proibição das fontes consuetudinárias e dos
regulamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
b) O conceito de lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
e) Decretos-lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
d) Decretos regulamentares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
(i) O regulamento e os "elementos essen-
ciais" do tributo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27
(ii) O regulamento e os deveres instrumen-
tais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
(iii) Limites do poder regulamentar:. o § 2.º
do art. 153 da Constituição. como reserva
relativa de lei formal . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
(iv) Regulamento e instituições . . . . . . . . . . . . . . 33
e) Resoluções do Senado e convênios . . . . . . . . . . . . 34
§ 3.0 Reserva absoluta de lei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36

CAPÍTULO III - LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA


§ 1.0 A segurança jurídica no Direito Tributário e o prin-
cípio da proteção da confiança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
§ 2. 0 Os fundamentos da segurança jurídica . . . . . . . . . . . . 46
a) O direito à segurança jurídica . . . . . . . . . . . . . . . . 47
b) Segurança jurídica e economia de mercado . . . 50
SllNfAIUO

C11PÍTULOIV ·- O PRINCÍPIO DA TIPICIDADE NA


DOUTH.INA

§ 1.0 As orientações fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57


a) Tipicidade e adequação típica . . . . . . . . . . . . . . . . 58
b) Tipicidade e obrigação de cobrança . . . . . . . . . . 59
c) Tipicidade e determinação normativa . . . . . . . . . 60 INTRODUÇÃO
§ 2. 0 Observações críticas e reconstrutivas . . . . . . . . . . . . . 62

CAPÍTULO V- TIPICIDADE E NORl1vIA TRIBUTÁRIA A Constituição do Brasil proclama no § 2'! do


§ l.º A origem legal de tipicidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 art. 153 que: "ninguém será obrigado a fazer ou
§ 2.0 Objeto da tipificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 deixar de fazer alguma coisa senão em virtude
a) Tipicidade, hipótese de incidência e capacidade
contributiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
de lei".
b) Tipicidade e mandamento da norma tributária 77 E, aplicando este princípio à matéria tribu-
(i) Fixação da medida do tributo . . . . . . . . . . . 77
(ii) Os fatores da medida do tributo: alíquo- tária, determina, ainda dentro da lista dos direi-
ta e base de cálculo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78 tos e garantias individuais, que "nenhum tributo
será exigido ou aumentado sem que a lei o esta-
CAPÍTULO VI - COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA beleça, nem cobrado, em cada exercício, sem que
TIPICIDADE
a lei que o houver instituído ou aumentado esteja
§ 1.º O princípio da seleção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83 em vigor antes do início do exercício financeiro,
a) Seleção e tipologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
b) Seleção e cláusula geral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84 ressalvados a tarifa alfandegária e de transporte,
§ 2.º O princípio do "numerus clausus" . . . . . . . . . . . . . . . . 86 o imposto sobre produtos industrializados e
a)
Tipologia taxativa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
outros especialmente indicados em lei complemen-
b)Proibição da analogia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
§ 3.G O princípio do exclusivismo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89 tar, além do imposto lançado por motivo de
a) Exclusivismo e doutrina dos tipos . . . . . . . . . . . . 89 guerra e demais casos previstos nesta Constitui-
b) Implicação intensiva e conteúdo acessório do
tipo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 ção" (art. 153, § 29, com a nova redação dada
§ 4. 0 O princípio da determinação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 pela Emenda Constitucional n. 8 de 14. 4 .1977).
a) O princípio da determinação e as "normas
elásticas" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92 Por sua vez o art. 19, inserto no capítulo V
b) Determinação da medida do tributo . . . . . . . . . . 95 "Do Sistema Tributário", já havia estabelecido
c) A noção de conceito indeterminado . . . . . . . . . . 96
que "é vedado à União, aos Estados, ao Distrito
BIBLIOGRAFIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. . . . . . . . . . . . 101 Federal e aos Municípios: I - instituir ou
aumentar tributo sem que a lei o estabeleça,
ressalvados os casos previstos nesta Constituição".
Estes preceitos, que consagram o princípio da
legalidade na ordem constitucional, foram sub-
seqüentemente incorporados ao Código Tributário.
2 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO INTRODUÇÃO 3

Nacional, ao qual - enquanto lei com-eficácia de pensa ou redução de penalidades." O § 19 determi-


lei complementar - compete regular "as limita- na que uequipara-se à majoração do tributo a
ções constitucionais ao poder de tributar" ( Const. modificação de sua base de cálculo, que importe
art. 18, II, § l 9). em torná-lo mais oneroso" e o § 29 esclarece que
Assim, o art. 99 do mencionado Código contém "não constitui majoração de tributo, para os fins
preceito análogo ao art. 19 da Constituição, deter- do inciso II deste artigo, a atualização do valor
minando que "é vedado à União, aos Estados, ao monetário da respectiva base de cálculo".
Distrito Federal e aos Municípios: I - instituir
ou majorar tributo sem que a lei o estabeleça", Conexos com o princípio da legalidade, mas
tendo porém substituído a ressalva genérica do dele autônomos, são os princípios - igualmente
texto constitucional pela ressalva específica, consagrados na Constituição - da anualidade, da
"quanto à majoração, (d) a: disposto nos arts. 21, anterioridade e da não retroatividade. Enquanto
26 e 65". Os preceitos ressalvados autorizam, aliás o princípio da legalidade se concentra na exigên-
com base no art. 21 da Constituição, o Poder cia de lei para a regulação dos tributos, os demais
Executivo, nas condições e nos limites estabeleci- princípios respeitam às características temporais
dos em lei, a alterar as alíquotas ou as bases de de que se deve revestir a referida lei: o princípio
cálculo dos impostos sobre a importação, sobre a da anualidade reporta-se à periodicidade de uma
exportação e sobre operações de crédito, câmbio autorização de eficácia previamente conferida
e seguro, a fim de ajustá-los aos objetivos da polí- por lei orçamentária; o princípio da anterioridade)
tica cambial, e do comércio exterior e monetária. à posição temporal da lei face a um dado exer-
O art. 97 do Código Tributário Nacional, por cício financeiro; o princípio da irretroatividade à
sua vez, declara que "somente a lei pode estabe- posição temporal da lei frente a um dado fato
lecer: I - a instituição de tributos, ou a sua tributário.
extinção; II - a majoração de tributos ou sua Por outras palavras: enquanto o princípio
redução, ressalvado o disposto nos arts. 21, 26, 39, da legalidade cifra-se na exigência nullum tribu-
57 e 65; III - a definição do fato gerador da tum sine lege, os demais princípios traduzem-se
obrigação tributária principal, ressalvado o dis- todos eles na proposição nullum tributum sine
posto no n. I do § 39 do art. 52, e do seu sujeito lege proevia, distinguindo-se entre si pela nature-
passivo; IV - a fixação de alíquota do tributo e za da "lei" a que se referem (lei orçamentária no
da sua base de cálculo, ressalvado o disposto nos princípio da anualidade, lei tributária material
arts. 21, 26, 39, 57 e 65; V - a comissão de pena- nos princípios da anterioridade e da irretroativi-
lidades para as ações ou omissões contrárias a dade) e pela realídade quanto à qual a lei deve
seus dispositivos, ou para outras infrações nela ser considerada "prévia" (o exercfoio financeiro
definidas; VI - as hipóteses de exclusão, suspen- nos princípios da anualidade e da anterioridade,
são e extinção de créditos tributários, ou de dis- o fato tributário no princípio da irretroatividade).
remotas e,
reconhecido, mesmo em
1. Cf. Lóhlein, Die Zulüs:;ig!ceit !W-
ckwirkender Steuergesetze, Munique, 1964, pp. 158-159.
2. Sobre a justiça de gabinete ou Administração condicio-
nante, veja-se Max Vôlker, Der Grundsatz der Gesetzmassigkeit
und die Leitsungsverwaltung, Munique, 1960, p. 2 e ss.; Von
Myrbach-Rheinfeld, Précis de Droit F·inancier, pp. 103-104.
J:i] TfPP.JIDl,,_DJ'.J

3. ~-O)uv u u1 l.ucano n:;J. 1Paa1111ad_e em matéria de :hnpostos


Direito é ponto hoje assente na
doutrina. Como bem diz Ottmar Bühler "no domínio do direito
das prestações coativas, o princípio da legalidade - nenhu-
ma pretensão tributária sem base legal - já era duiva-
cão do princípio corporativo e só depois das exigências do
constitucionalismo" CL Princípios de DÚecho Internacional Tri-
butaria, p. 200; Hense1, Der Einfluss des Steuerrechts auf die
Begriffsbildu.ng des offentliches Rechts, Zoe., cit. p. 77. Por outro
l.ado, que o princípio da legalidade coexistiu com sistemas ju-
rídicos não inspirados no Estado de Direito resulta de o próprio
regime nacionaI-socialista tê-lo acolhido. V. Kruse, Gesetzmiis-
sige Tlerwaltung, Tatbestanásmassige Besteuerung, Zoe. cit., p. 93
e ss.
lei que as autorize, o e a
4. Assim o demonstrou Drews, Die Steuerliche Herkunft
des Grundsatzes der gesetzmassigen Verwaltung, Kiel, 1958; ver conceito de reserva de
também Soares Martínez, Elementos para um Curso de Direito
Fiscal, C. T. F. n. 139, 1970, p. 40; ID., Introdução ao Estudo Pode, porém, afirmar-se ter sido no terreno
das Finanças, Lisboa, p. 62 e ss. e 74 e ss.; Mitchell, Taxatíon in da tributação que o Esta.do
1VJedieval England, New Haven, 1951, p. 158; Adams, Constitu-
tional 1-Iistory of Englaná, Londres, 1951, p. 123 e ss.; Gabriel
5. Cf. Bartholini, Jl princzpzo di legalità dei tributi in ma-
Ardant, Histoire ele l'lmpót, I, Paris, 1971, p. 493 e ss.; V. teria di imposte, Pádua, 1957, passim, mas espec. p. 49 e ss.
Uckmar, Principi comuni ài diriito costituzionale tributaria,
Pádua, 1959, p. 7 e ss. 6. Cf. Berliri, Principii .. . , I, 2." ed., p. 36 e ss.

2
8 L,.EGA~LID/;_DE E 11_~1PICIDADE

in der \\Teise des Rechts genau bestin:1-


sichern soll" ( ... ) "der Staat dessen
z~\veck die Sehaffung
1.st~ dessen in
rnit der Recht erfolgt 11
• des RechtsJ 3.ª
1856; II_, p. 137. Sobre a. de Direito em sentido
1:or1r1al 1 v" Afonso Queiró 3 discricionário da Administra~
ção,. Coirnbra 1 também um conteúdo ma-
formal do Est8.do d.e Direito, Lõhlein, Die
Zultissigkeit ... , 154 a 157; Bühler-
8t:euerrechi: I, p. 124. aos vári.os conceitos
õito Tributário,
sisternática é s Rechtsstaatsge-
danke im Bteuerrecht_, ainda
palavras: Salzwedel, Rechtstaat ini Steuerrecht, i.n Vom Rechtsschutz
cialmente, concebido Steuerrecht, Düsseldorf, 1960, pp. 2 a 8.
8. Cf. A. Baleeiro, Limitações constitucionais ao poder de
fim o Direi to e atua Forense, Rio, 1974, p. 254. Sobre o Willkilíverbot ver o
aquele que tem a justiça recente estudo de Ernst IIõhn, ''Aspekte Verfassungsmassiger
sua realização. Besteuerung", Archiv filr Schweizerisches Abgaberecht, 1976, p.
226. A legitimidade dos critérios discriminadores, face ao prin-
da iguaidade, foi objeto de :recente e brilhante ensaio de
7. Na clássica formulacão de Friedrich Julius Stahl, "Der Celso Antônio Bandeira de Mello, O conteúdo jurídico do prin-
Staat soll die Bahnen und Grezen seiner Wirksamkeit wie die cipio da igualdade, São Paulo, 1978.
LEGALIDADE

relações entre o pTinc1p10 da igllaldade,. da


e da capacidade contributiva, veja-se o excelente
de Pa.ulick . .Der GTundsatz der GlcichmJissigkeit der Bes-
teuerung-sein Inhalt und Grenzen, p. 125 e ss.; ID., Lehrbuch des
Steuerrechts; 5:3 e as ohservações de J<~ruses
Steuerrecht_. I, P~ 34º Em Portugal: J. " Teixeira Ribeirot "Os
princípios constitucionais da fiscalidade portuguesa", Bol. Fac.
. Coimbra, 1966, 225 e ss.; Pessoa Jorge, Curso.,,, p. 94;
Cardoso da Costa, . , , p, 77; All:Jerto P, Xavier, O negócio
indireto em direito fiscal, Lisboa, 1971, p. 42 e ss. Sobre a igual-
dade tributária: cL Salvatore La Rosa, Eguaglianza tributaria
ed esenzioni Milão, 19G8, passim; V. Uckmar, Principii
comuni di costituzionale tributaria, p, 45 e ss.; Liccardo,
introduzione aZlo studio del Diritto Tributaria, p. 259 e ss.; Se-
Linares Quintana, El poder impositivo y la Zibertad
Buenos Aires, 1951, p. 195 e ss.; Jeze, "L'égaHté des
devant l'impôt", Revue de Droit Public et de la
Scíence Politíque, 1944, p. 158 e ss.; lVl:anuel Cortes Rosa,
"Aplicação temporal das normas fiscais" C. T. F., 1961, p. 49
e ss., esp, 237 e ss. e 575 e ss. Sobre a capacidade contributiva,
v infra, p, 313 e ss.; Giardina, Le base teoriche del princi@io di
capacità contributiva, Milão, 1961; Gaffuri, L'attitudine alla cont-
tribu.zíone, Milão, 1969; Maffezzoni, Il principio di capacità con-
tributiva nel Diritto Finanziario, Turim, 1970; Manzoni, ll prin-
cipio della capacità contributiva nell'ordinamento costituzio-
nale italiano, Turim, 1965; Griziotti, "Il principio della capaci-
Ui, contributiva e le sue applicazioni", R. D. F. S. F., 1949, I, p.
15 e ss.; Ramon Valdés Costa, Curso de Derecho Tributaria, I,
Montevideo, 1970, p. 131 e ss.
Terr1 sido n1ui"Lo fec-ündo o estudo deste tema aue deu
rica bibliografia em Portugal: J. Carlos Morêira, "O
da legalidade na administraçào", Bol. Fac. Dir. Coimbra,
lS-±.9, p. 385 e ss.; J\fonso Queiró, O poder cliscricionário. cit.
Rogério So'tres, Interesse público, legalidade e
1955, p. 43 e ss.; André Gonçalves Pereira, Erro e
14 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 15

O princípio da preeminência da lei (Vorrang ções do poder. Isto mesmo o revela a gênese do
des Gesetzes) , princípio da legalidade em sentido referido princípio que, tendo nascido no Direito
amplo, fórmula negativa ou regra da conformi- Tributário, veio a alastrar para o Direito Penal e
dade, traduz-se basicamente na proposição de que para todas as atividades administrativas, como a
cada ato concreto da Administração é inválido se imprensa, a polícia, a emigração, que constituem
-
e na medida em que contraria uma lei material;
'
as mais visíveis de todas as intervenções diretas
o princípio da reserva de lei (Vorbehalt des Ge- ( unmittelbarer Eingriffe) na esfera dos particula~
setzes), princípio da legalidade em sentido res- res.
trito, fórmula positiva, ou regra da compatibili- É certo, já o vimos, que a conjugação de
dade, surgiu originariamente com o sentido de várias correntes tendentes a submeter rigidamente
que cada ato concreto da administração que inter- a Administração ao Direito levaram a que o prin-
vém na liberdade ou propriedade do cidadão cípio da reserva de lei não se limitasse a abranger
- a chamada Freiheit-und-Eigentum Klause 2 - as aludidas intervenções diretas na liberdade e
carece de autorização de uma lei material, mas veio na propriedade dos cidadãos, antes tendesse a
mais tarde a evoluir no sentido de exigir a abarcar todo e qualquer comportamento do poder.
mesma autorização para todo e qualquer ato A verdade, porém, é que em face de inegáveis
administrativo, ainda que diretamente não con- exigências da vida moderna - sobretudo no domí-
tendesse na aludida esfera privada dos particula- nio econômico e. social - imperativos esses subli-
res. nhados por certas orientações políticas, levaram a
Se o princípio da preeminência da lei repre- que nos nossos dias se defenda uma administra-
senta muito mais a defesa da própria idéia de ção "livre da lei" (Gesetzesfreie Verwaztung) que,
generalidade - da volonté générale - numa fase sem embargo do respeito devido à preeminência
de evolução do poder administrativo concebido da lei, não carece de autorização legal para o
essencialmente como ampla esfera de autonomia desempenho das múltiplas intervenções a que se
ou mero âmbito de licitude, que a lei se limitava impôs, mormente quando realiza prestações
exteriormente a demarcar, já o princípio da reser- patrimoniais em benefício dos particulares (Leis-
va a lei desempenha basicamente uma função tungsverwaltung). 3 As concepções do Estado-
de garantia dos particulares contra as interven- -Providência, do Estado-social de Direito, do Esta-
do de Governo ou da Administração constitutiva
ilegalidade no ato administrativo, Lisboa, 1962, capítulo, I; Cas- conduzem assim a conceber a atividade de Admi-
tanheira Neves, Questão de fato - Questão de direito, Coimbra, nistração mais como de realização de certos fins
1967, pp. 351 a 422; veja-se ainda Marceílo Caetano, Manual de
Direito Administrativo, I, n. 14. Na doutrina alemã, veja-se a materiais, do que como mera execução do Direito;
excelerite exposição de Max Vi:ilcker, Der Grundsatz der Gese- e, deste modo, se robustece a originária função
tzmassigkeit und die Leistungsverwaltung, p. 18 e ss.
2. Cf. Ernst Hi:ihn, Aspekte Verfassungsmiissiger Besteue- 3. Cf. Vi:ilcker, Der Grundsatz der Gesetzmiissigkeit und
rung, Archiv für Schweizerisches Abgaberecht, 1976, p. 224.
die Leistungsverwaltung, passim.
LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 17

d.e garantia da reserva de lei, ou seja, de tutela Direito Tributário, revelando deste modo ser o
dos direitos subjetivos. princípio da legalidade menos exigente no âmbito
Seja qual for a posição que se tome em face da atividade administrativa em geral, do que no
deste problema, cumpre, porém, reconhecer que campo dos tributg§,,_'.tJom efeito, entre nós, enquan-
para uma larga corrente da doutrina - em que to o princípio da legalidade da Administração,
enfileiram, entre outros, juristas como Peters, consagrada no § 2çi do art. 153, se traduz numa
Huber, Wolff e Forsthoff - o princípio da legali- reserva relativa de lei formal, o princípio da lega-
dade reveste no Direito Administrativo o seu lidade, em matéria tributária, constante do § 29
conteúdo mínimo de urna simples regra de preemi- do mesmo artigo revela-se como uma reserva abso-
nência da lei. 4 luta de lei formal.
O Direito Administrativo brasileiro apenas pa- É o que demonstraremos adiante, ao examinar
rece exigir uma reserva de lei no que diga respeito os limites do Poder regulamentar no que tange aos
à criação de deveres - de conteúdo positivo ou tributos.
negativo, isto é, à "obrigação de fazer ou deixar de
fazer alguma coisa" a que se refere o § 29 do art.
153 da Constituição. Donde se pode inferir que § 2. º. Reserva de lei formal
também entre nós a atividade administrativa que
não se traduza na criação de limites à liberdade O princípio da reserv~:i. de lei, na acepçào mais
pessoal ou patrimonial dos subditos apenas se en- ampla que comporta, exprime - já o vimos ~
contra submetida à regra da preeminência da lei. a necessidade de que toda a conduta da Adminis-
Mesmo porém no terreno que lhe é privativo, tração tenha o seu fundamento positivo na lei, ou,.
importa sublinhar que o princípio da reserva da por outras palavras, que a lei seja o pressuposto
lei se reveste,• no Direito Administrativo em geral, necessário e indispensável de toda a atividade
de um sentido mais amplo do que o que assume no administrativa.
O aludido princípio é ainda suscetível de
4. A doutrina alemã que mais de perto se tem debruçado mais amplo desenvolvimento, cumprindo distin-
sobre o tema, encontra-se profundamente dividida. Assim, en· guir vários tipos de reserva, atendendo, por um
quanto uns continuam a defender a necessidade de autoriza-
ção legal (Maunz, Turegg, Jesch, Imboden, Merkl, Antoniolli), lado, ao critério da fonte de produção jurídica e,
outros sustentam que tal autorização só é exigível quanto às por outro, ao critério do grau de determinação da
intervenções diretas na esfera dos particulares (Peters, Huber, conduta fornecido pela própria lei.
Wolff, Forsthoff, Kruger), enquanto uma terceira corrente, em--
bora negue a reserva de lei, exige a vinculação aos princípios
constitucionais do Estado social de Direito (Bachof, Hamann, Encarando a realidade sob o prisma da fonte
Spanner, Stern e Reuss). Veja-se uma exposição detalhada destas
doutrinas em Max Võlcker, Der Grundsatz der Gesetzmtis- de produção jurídica, a reserva de lei distingue-se
siglceit ... , p. 86 e ss. e Plõssl, Zusicherungen von Verwaltungs- em reserva de lei material e reserva de lei formal.
behorden, Munique, 1964, p. 96 e ss.; refere-se ao problema Cas-
tanheira Neves, Questão de fato - Questão de direito, p. 371. J\fo primeiro caso, bf;lsta que a conduta da Admi-
CP..,RACTEf(.ES

t7
º A do direito con.suetudinário éJ com efeito,
urn.a das conseqüências típicas e imediatas do princípio da le-
galidade. 1.l. Lõhlein, Díe Verfassungs.rechtliche Zuldssigkeit ... ,
pp. 160-1, Eckhardt-Hillebrecht, Problematik rückwirkender
SteEer{)G~etztJ Co1-Dnia 19GO, pp. 51-35; SpannerJ
1 § 2, notas
27 e 32; Bühlei·-Strickrodt, Steuerrecht, I~ p. 55; Kruse, Gesetz~
-miissige TTerwaltung, Tatbestandsmêissige Besteuerung, loc. cit 7

pp. 104 e ss. e 112, ID., Steuerrecht, I, p. 64; Paulick, Lehrbuch ... ,
p. 84; Jaime Basanta de La Peüa, "Las fue11tes DO escritas del
Derecho Tributario y el derecho supletorio escrito", XIX Sema-
nas de Estudios ele Derecho l'v'!:adri.d, 1972, p. 273 e ss.
e Vejam-se contudo as reservas de Jaenke, Rechtssicherheit im
Steuerrecht, Zoe. cit., p. 52 e ss., invocando que o direito con-
suetudinário não se opõe ao principio da segurança jurídica e
retomando assim as considerações de Kruse, Ober Gewohneits-
recht, S. W. 1959, p. 213. Na Alernanha tem-se também discutido
a sua. da admissibilidade de outras fontes não legais do Direito Tribu-
tário (Ungesetzes Recht), como o princípio da eqüidade (Billig-
5. Gerd "\filº Rothmann adoia u:n conceito r.o.ais restrito de keit) e o princípio da boa fé (Treu und Glauben). A orientação
1e1 formal, identificando-a com a lei proveniente do Poder Le- dominante é no sentido de lhes recusar a natureza de fontes de
gislativo. Cf. O da legalidade, Direito Tributário, 5." direito, valendo apenas no âmbito das relações concretas
Colçtânea, S. Paulo 1 1973, PP~ 153-154. entre as partes. Cf. Lõhlein, Die Verfassungsrechtliche Zulêis-
6. Trata-se da sentença proferida no célebre caso Me Cul- sigkeit .. . , p. 190 e ss.; Kruse, Gesetzmassige Verwaltung .. . , cit.,
loe;h v. Maryland, 4 W. H. 316. Cf. Bernard Schwartz, A Commen- p. 101 e ss. Veja-se ainda estudo de Valentin Rodriguez y
tary on ihe Constitution of United States, Part* 1: The Powers Vazquez de Pra.da, "La equidad como fuente del Derecho 'l"ri-
of Government, IVIac IVIilan, Ne-\v York, 1963, p. 47; c+risvvold, butario", XIX Semanas de Estudios de Derecho Financiero ..
Fecleral Taxation: Cases and Materials, p. 24 e ss. rvradrid, 1972, p. 523 e ss.
:G I~A

B. Sotn·e a regular.nento corí10 fonte Direitr)


con1 os princípios do Estado de Di-
poderes cf.
Ermi?cchtigungen, zum Erlass Steuerlicher
1nstitut Finanzen uncl Sieuernj Heft 10, Bon3> 1951; KJein-Pau~
Hck, Das Steuerrechtliche V"erordnungsrecht gemiiass, § 12 Abs .
.1 Sat.z 1 AD", S. W. 1952, p. 430 e ss.; Paulick, De;· Grundso.tz der
Gleicl1,rinâssigl':.eit der Zoe. cit., p. 146 e ss.; ID~, Lehr~
buch des ailgerneinen Steuerrechts) p. 55 e ssº e 81 e ss.; S-oan:ne1
in H.I-I.S.~ § 2i notas 1 a 22; Bühler-Stric: ~
93 e ss., 102 e ss.; 213 e ss., e 293 e ss.; Salzwedel, Rechtstaat im
Steuerrecht, Zoe. cit., p,. 13 e ss.; Kruse, Gesetz1niissige Verwal-
tung, Tatbestandsrnassige Besteuerung, Zoe. cit., p. 108 e ss.;
ID., Steuerrecht, I, p. 57; Meilicke, Steuerrecht, p. 59; Leca, "Le
domaine de la loi et le don1aine du Teglement en matiêre fiscau
1e", Ann. de l'Universiié de Lyon, 1960, p. 221; V. Uckmar, "La
potestà regolamentare in materia tributaria", Stucli in onore di
A. D. Giannini, p. 930 e ss.; Bartholini, Il principio di legalità ... ,
p. 177 e ss.; Martin Oviedo, "La potestad reglamentaria en ma-
te.ria fiscal", XIX Semanas de Estudios de Derecho Financiero,
10~ Sobre o conceito de ªforca de lei" no sentido de forca
lviadri.d, 1972, p. 249 e ss. de criar obrigações e, via de conseqüência, direitos e faculcÍa·
9. Cf. Soares Martinez, Da personalidade tributária, Lisboa, des. Cf. Geraldo Ataliba, O Decreto-lei na Constiíuição de 1967,
1969, 2.ª ed., p. 2'73 e ss. p. 20.
CfüS1-\.CTERES 1J"A.

"
1. .1 Sobre a crítica a esta expressão ver Yonne Dolacío de
Legislação Tributária. Tipo legal Tributário, Comentá-
rios ao Tributário Nacional, vol. 2. 0 , S. Paulo, 1974, pp.
131-4.
12. Cf. Gemido Ataliba. O Decreto-lei cit., p. 25. Aí se
define "lei" neste sentido como a norma jurídica só subordina-
da à Constituição, produzida pelo Poder Legislativo, com a co-
laboração do Presidente da República, na forma do processo
legislativo, com força vinculante geral, capaz de obrigar todas as
pessoas submetidas à ordem jurídica brasileira a fazerem ou
deixarem de fazer alguma coisa. Cf. A. Baleeiro, Direito Tri-
butário Brasileiro, 6.ª ed., Forense, p. 356.
.,
1 LL Cf. Geraldo Atalib::i, op. cit., p. 66 e ss.

3
DA

14. Cf. M. G. Ferreira Filho, Comentário à Constituição Bra-


sileira, vol. 2.º, p. 48; A. Baleeiro, Limitações constitucionais ao
1G. Cf. Ylves .José de Ivrira,nda Guilnarães, Os princzpi-os
11oder de Tributar, Forense, Rio, 1974, pp. 4.1 e 42. normas constitucionais tributárias, S. Paulo, 1976, p. 41; Cézar
15. A. Baleeiro, Limitações constituc'ionots ao voàer de Vieira de Rezende, Os decretos-leis nas constituições modernas,
Forense, mo, 1974, p. 41. Prnjeção, n. 18, 1977.
13. G. W. Rothma1'n, prínc1p10 da legalidade tributá-
Coletânea, p. 163.
{!Fontes de Direito Tributárion~
137.
Fanu.cchi, Curso ãe Direito Tributário,
17. Cf. 'Nalter Eberhard Streicher, "A da Hamilton D'as de Sousa, "Conceituação de Tributo", Comentá-
República, o Decreto-lei e o princípio da legalidade dos tribu- rios ao Código Tributário Nacional, vol. I, pp. 28 e 35.
tos", RDP, ano VI, n. 24, p. 110 e ss.

3-B
28 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 29

dentro do campo dos "elementos essenciais" dos ponto central da argumentação do autor traduz-se
tributos. em negar que os regulamentos, no direito positivo
Deve ainda observar-se que esta margem de brasileiro, tenham sequer aptidão para criar deve-
liberdade regulamentar só é admissível se a res tributários instrumentais; e em afirmar que,
própria lei estabeleceu os respectivos limites - mesmo cingidos à sua estreita faixa de atuação,
em especial o limite máximo - de tal sorte que vinculariam apenas a Administração, mas não
se apenas tiver estabelecido limite mínimo não assim os particulares. E isto basicamente pela in-
pode admitir-se a outorga da faculdade em terpretação conjugada de dois dispositivos da
causa. 21 Constituição: o art. 153, § 2. 0 , segundo o qual "nin-
guém será obrigado a fazer ou deixar de fazer al-
(ii) O regulamento e os deveres instrumen- guma coisa senão em virtude de lei" e o art. 81, n.
tais III, "in fine", nos termos do qual compete priva-
Para além do mencionado campo dos "ele- tivamente ao Presidente da República "sancionar,
mentos essenciais" do tributo, onde o decreto do promulgar e fazer publicar as leis, expedir decretos
Poder Executivo pode excepcionalmente atuar, ele e regulamentos para a sua fiel execução".
poderá intervir nas demais áreas do Direito Tri- A ponderação desta doutrina - que não po-
butário, nos termos e limites que são próprios demos aceitar - obriga-nos a desenvolver o nosso
do regulamento de execução e que o art. 99 do pensamento a respeito do verdadeiro significado
Código Tributário Nacional sintetiza estabelecen- da reserva de lei constante do § 29 do art. 153 da
do que "o conteúdo e o alcance dos decretos res- Constituição, bem como sobre a distinção entre
tringe-se ao das leis em função das quais sejam regulamentos, em sentido próprio, e simples ins-
expedidos, determinados com observância das truções. É o que fazemos de seguida.
regras de interpretação estabelecidas nesta lei".
Esta conclusão foi recentemente combatida (iii) Limites do poder regulamentar: o § 2. 0
pelo Doutor Roque Carraza 22 , em dissertação que do art. 153 da Constituição como reserva
em vários pontos retoma e desenvolve um ensaio, relativa de lei formal
vigorosamente original, de Geraldo Ataliba 23 • O Concordamos em que o Direito Constitucional
21. Fábio Fanucchi, Curso de Direito Tributário Bra-
brasileiro apenas acolhe a figura do regulamento
sileiro, vol. I, 3.ª ed., 1975, p. 127. de execução ( secundum Zegem), não admitindo os
22. Cf. Roque Carraza, Contribuição para o estudo do Re- chamados regulamentos independentes ou autô-
gulamento no Direito Tributário Brasileiro, dissertação de dou-
1 toramento na PUC, inédita, 1978 .. nomos (praeter legem) 24. Mas não vamos ao ponto
23. Cf. Geraldo Ataliba, Decreto regulamentar no sistema
brasileiro, na Revista da Universidade Católica de São Paulo, 24. Cf. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Princípios
vol. XXXVII. gerais de Direito Administrativo, vol. I, Forense, 1968, p. 313.
E TIPICIDADE r~P"-

#
j

têm o seu fundamento me-


1i foram
"•
~
elos regulamentos conduziram a
1 o da legalidade semelhante tem chegado a
1 "reserva de material".
1 doutrina italiana interpretando expressão análo-
i
1;
~
1i
·~
99
TIPIC1DA.DE CA.RA_CTERES DO tJU

nem mesmo se a natureza, o que o


emanação prevê que ele verdadeiros regulamentos,
e limitadamente a casos para as
às normas dessa lei." Não se Com efeito, no Direito Brasileiro, como noutras
dizer melhor! ordens jurídicas, os regulamentos são verdadeiros
nossa opinião, é necessária a existência de atos normativos - embora secundários -- que,
uma formal que explícita ou implicitamente
desde que nos limites da autorização legal - têm
25. CL IVIicheli, Curso de Direito Tributário, trad. portu- aptidão para criar direitos e obrigações para os
guesa, S. Paulo, 1íJ78, p. 19. Cf. Berliri, Principii .. , I, 1967, pp. particulares. Tais atos são, porém, privativos do
36 e ss.
.26. Cf. Principií .. , p. 61.
Chefe do Executivo, única autoridade para editar
91.
,_} ~;;;:: LEGALIDilDE T.!PICIIt4..DE DA

regu-
conse-

e comJênios
Duas
30. Sobre a natureza das como
no simples n1andamento de uma normci. está
descrita na (''atc;s norrnativos , ver
Geraldo Ataliba, de Direito Tributário", Interpretação
27. Cf. Oswaldo A. Bandeira de 11/fello, Princípios .. ., cit., de Direito Tributário", pp. 136-7.
p. 313. Não assim noutros ordenamentos, como na Itália em que 31. Cf. José Souto Maior Borges, Lei complementar iri-
é autorizado o regulamento ministerial. Cf. Berliri, Principii . .. , S. Paulo, 1975, p. 168 o chega mesmo a falar num
pp. 62 e ss. de reserva de (p. 169).
28. Cf. Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Bra- 32. Cf. Souto Maior Borges, op. cit., p. 171; G. Ataliba,
sileiro, 6. ed., S. Paulo, 1978, p. 153.
0 "Pontes de Direito tributário" in Interpretação do Direito tri-
29. Idem, pág. 34. butário (Saraiva, p. 133).
CARACTERr:s I_j!1~GALTD.AD.E

e1n
decisão no caso con-
o mas
35. Cf. Kruse, Steuerrecht, I, p. 30; Sainz de Bu.janda, Ha-
cienda ·y derecho, Madrid, 1963, III, p. 166; Linares Quintana,
El poder impositivo y la libertad individual, p. 180; Bernardo
Ribeiro de Morais, Sistema Tributário da Constituição de 1969,
S. Paulo, 1973, p. 496. Em Itália, porém, o princípio da legalida-
de, constante do arL 23.° da Constituição, segundo o qual
nenhum tributo pode ser estabelecido "se non in base alla legge"
parece limitar-se, segundo uns, a uma simples reserva relativa;
contrapartida, cf. Michelli, Lezioni di Dirito Tributaria, p. 18 e ss.; Berliri.,
a 1e1 nao tem que fornecer necessariamente o Frincipíi .. , 1952, I, p. 27 e ss.; M. S. Giannini, Le obbligazionni
critério decisão no caso concreto, que o legisla- pubbliche, p. 66; Amatucci, L'interpretazione della norme di Di·
ritto Finanziario, pp. 91-92. Contra: Liccardo, Introduzione allo
dor pode confiar à valoração do órgão de studio del Diriito Tributaria, p. 34 e ss., esp., pp. 36, nota 32, e
aplicação do direito - o administrador. 34 253-4, baseado na necessidade de sua interpretação em função
do fim de proteção da liberdade e da propriedade individual;
Alessi-Stammati, Istituzioni .. . , p. 15; A. Dus, "Considerazioni
33. CL Geraldo Ataliba, op. cit., p. 137. sulla discrezionalità nel'accertamento tributario", R. D. F. S. F.,
34. Cf. os autores citados supra-referidos. 1960, p. 241; Cocivera, Principii .. ., I, p. 23 e ss.
E DA CARA_CTE!:\"ES

2L
38

35. Gerd W. Rothmann, O princípio da legalidade tributá· tano, p. 54. Neste sentido também M. S_
riap in Direito Tributário, 5~ª Coletânea, S. ::Paulo, 19'73, p. 154; zione e rintegrazione delle le;;rge
Yonne Dolácio de Oliveira . Legislação Tributária. Tipo leg-al 77-73. A favor da .h:::t.lvt:::,r...,a., corri :base
Comentários ao CTN, vol. 2, S. Paulo, 1974, p. 138.
Quar;to à proibição da analogia como conseqüência
e
nello
da especial formulação do princípio da legalidade no Direito , R.D.F.SºFi_} 1954~ I} P~ 139~
dos Impostos V. Kruse, Gesetzmassige Verwaltung, Tatbestads· Amatucci, [,',fntr-:r-nrP.ta?.inv.P. delle nornic di Diritto Finanzi.cr.rio;
mêissige Besteuerung, Ioc. cit., p. llO, esp. p. 123 e ss.; ID., p, 51 e ss., sua admíssibiJidade com a função
Steuerrecht, I, p, 71 e ss.; Paulick, Lehrbuch des allgemeinen
de sü11ples reserva relativa de lel formal desempenhada pelo arL
Steuerrechts, p. 102 e ss.; Berliri, Principii . .. , I, 2." ed., p. 143
23. 0 da italiana; Ingrosso, Diritto Finanziario, pp.
e ss.; ID., Corso istituzionale .. . , I, p. 19 e ss.; Cardoso da Costa, 293-1.
Curso ... , p. 197 e ss.; Soares Martinez, Direito Fiscal (lições
policopiad.as), Lisboa, 1968, p. 110; Alberto P. Xavier, O negócio 33. CL sobre a proibição de discricionariedade, Alberto
indireto em Direito Fiscal, Lisboa, 1971, p. 39 e ss. Todavia, para Xavierv J_)o lançaniento 110 Di;eito Tributário Brasileiro; S. Paulo~
IVIicheli a proibição da analogia não resultaria do princípio da 1977, pp. 157 e ss.
legalidade, concedido como mera reserva relativa de lei, mas da 39. Cf. Flume 1 Steueruiesen uncl Rechtsordnung, p. 31 e
própria estrutura da norma jurídica tributária, verdadeira norma ss.; Günther Felix, Ermessensausübung im Steuerrecht, p. 16, que
de fattispecie exclusiva, cuja rigidez a tornaria só raramente distingue as verpflichtenden Gesetzesbefehlen das Ermachti-
suscetível de aplicação analógica. Cf. Lezioni di Diritto Tribu- gungsnormen.

'~
,, 1

1
i CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 41
l
V
4ü LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO

Todavia, no Direito Tributário o princípio da


na sugestiva imagem de Mont1esquieu, "les bouches
qui pronuncent les paroles de la loi, des êtres reserva absoluta subsistiu para além da crise <lo
inanimés qui n'en peuvent modérer--ni-1a-force iluminismo ·e;· em gerar, ae-:-toãas-·as concepções
ni la rigueur". que viam na aplicação da lei -um -mero mecanismo
automático de subsunção lógico-dedutiva. É que,
O culto por uma estrita atividade lógico-sub- neste ramo do Direito, o princípio da reserva de
suntiva - que levou ao ponto da proibição de lei não sei limitava a espelhar um.a dada orienta-
comentários e à pura interpretação literal - pode ção acerca do Direito em geral; antes tinha alicer·-
atribuir-se, como o fez o Prof. Afonso Queiró, ao ces mais fundos, radicados-=rta-.própria "essência-
"triunfo da mentalidade cartesiana da crença no do sistema econômico a que~respeitava e a cujos
poder dominador da lei geral e abstrata. isto é, princípios ordenadores repugnava a sua :violação. -
na razão teorética como expressão da ordem con-
tra o arbítrio" e que está na origem da célebre -----..·,--;:'-:~-.~---=

frase de Robespierre: "Ce mot de jurisprudence


l des tribunaux doit être reHacé de notre lan-
1 gue". 40

ljl
!!
li
A verdade, porém, é que tais concepções foram
gradualmente perdendo o seu vigor inicial: mesmo
no campo do Direito Público, as exigências de uma
atuação administrativa pronta e flexível, para
além de considerações de moralidade e eqüidade,
vieram alargar progressivamente o âmbito do poder
discricionário; e, no próprio Direito Penal - onde
as reações ao subj<etivismo do juiz foram por-
ventura maiores - cedo se substituiu o sistema
de penas fixas, por outros que, atendendo à culpa-
bilidade, voltavam a alargar o campo de livre
ap11eciação do julgador.
40. Cf. Montesquieu, L'sprit des lois, Livro VI, Cap. II, Livro
XI, Cap. VI; Afonso Queiró, O poder discricionário, pp. 21, 22,
45 e 154; Engisch, Introdução ao pensamento jurídico, 2.ª ed.,
Lisboa, 1968 (trad. de Baptista Machado), pp. 170-1. Os órgãos
de aplicação de direito seriam Subsumptionsautomaten, na ex·
pressão de Von Wallis-Spanner, H. H. S., § 2 Steueranpassungs-
gesetz, nota 9.
1

41
· ~.·]
i;
í,
CAPíTULO iH

LEGALIDADE E SEGURANÇA JURiDICA

§ 1.º. A segurança jurídica no Direito Tributá:do


e o pl'indpio da proteção da confiança

Vimos já que a curiccpção de um Estado de :1


Direito atribui à lei a função de principal instru- :1
mento da justiça material; mas à - essa mesma 1

concepção é ainda inerente a idéia de que a lei


deve garantir, na maior extensão possível, a
segurança jurídica ou certeza do Direito. Se a
justiça :material pode ser concebida essencialmente
como uma rigorosa delimitação de esferas jurídi-
cas e, sobretudo no campo do Direito Público,
como uma estrita tutela dos direitos subjetivo~
privados - liberdade e propriedade - ela não
poderia deixar de se apoiar num princípio que
confe:risse :estabilidade às esfe:ras assim delimita-
das, subtraindo a atividade dos cidadãos das áleas
do contingente e do arbitrário.
O princípio da legalidade tributária, nos
quadros do Estado de Direito, é essencialmente
um critério de realização da justiça; mas é, do
mesmo passo, um critério da sua realização em
termos seguros--e certos. A idéia de segurança jurí-
dica é, decerto, bem mais vasta do que a de lega-
lidade; mas posta em contato com esta não pode
deixar de a modelar, deJhe J111primir um con-
44 LEGALIDADE E TlPICIDADE DA LEGALIDADE E SECUl-:.AJ'TÇA JURÍDICA 45

que a idéia de segurança jurídica desempe~


... · .···········
iecessariamente revelar o grau
segurilnça certez2t imposto, ou pelas con- nele um papel de primeiro plano.
cepções dumi:nantes, ou pelas ·peculiaridades do Sem embargo de se denotarem neste campo
setor a que respeita. Ora, o Direito Tributário é algumas imprecisões terminológicas, pode dizer-se
de todos os ramos do Direito aquele em que a que a doutrina dominante - especialmente a
segurança jurídica assume a sua maior intensi- alemã - tende a ver a essência da segurança
dade possível e é por isso que nele o princípio da jurídica na susceptibilidade de previsão objetiva,
legalidade se configura como uma reserva abso- por parte dos particulares, das suas situações
luta de lei formal. 1 jurídicas (Vorhersehbarlceit e Vorausberechen-
barkeit), de tal modo que estes possam ter uma
Compare-se com o que sucede, por exemplo, expectativa precisa dos seus direitos e deveres,
no ·Direito Administrativo e no Direito Penal: no dos benefícios que Jhe serão concedidos ou dos
primeiro, porque as considerações de segurança encargos que hajam de suportar. 2 Daqui resulta
jurídica nunca consBguiram absorver as de opor-
tunidade e conveniência, próprias da Administra~ que a idéia geral de segurança jurídica se analise
ção, o princípio da legalidade contenta-se em - como o observam Lohlein e Jaenke - num
estabelecer uma mera preeminência da lei ou - conteúdo formal, que é a estabilidade do Direito
para a doutrina ainda hoje maioritária - uma e num co·nte{uio rnaterial, que consiste na chama--
reserva relativa de lei material; mas já no segun- da "proteção da confiança" (Vertrauensschutz) .':
do, em que, compreensivelmente, as razões de segu- Precisamente o conceito de "proteção da con-
rança jurídica são dominantes, o princípio da fiança" assume no Direito Tributário uma larga
legalidade sempre se impôs como uma reserva projeção. Na Alemanha, o Tribunal Constitucional
absoluta de lei, lei essa que pode contudo - ao
2. Cf. Eckhardt-Hillebrecht, Problematik rückwirlcendes .. .
menos no campo das contravenções - ser uma Steuergese.tze, p. 51; Lõhlei!l, Die Verfassungsrechtiche Zuliis-
simples lei material. Que no Direito Tributário o sigkeit . . ., pp. 163-164; Bühler-Strickrodt, Steuerrecht, I, p. 217 e
ss.; Jaenke, Rechtssicherr.eit im Steuerrecht, loc. cit., p. 53; Kurt
princípio da legalidade se tenha configurado Friedlaender, "Der rechtstaatliche Gedanke der Rechtssicherheit , 1 •
t·;'
.como uma reserva absoluta·· de lei formal atesta bei Berichtigungsveranlagung nach § 222 Abs 1 ziff 1 oder 2 AO'',
Die Auslegung der Steuergesetz in Wissenschaft und Praxis,
Kõln-Marienburg, 1965, p. 59 e~ss.; Felix, Ermessensausübung im
1. Foi Hensel quem pela primeira vez falou num Postulat Steuerrecht, p. 17; Kruse, Steuerrecht, I, pp. 29 e 53 e ss.; Jacobs,
grosstmogliches Rechtssicherheit. Cf. Der Einflus~ des Steuer- Zum Problem der Rechtssicherheit und Tatbestandsmdssigkeit
rechts auf die Begriffsbildung des oftentliches Recht, loc. cit., der Besteuerung . . ., pp. 633-4. Há quem entenda que os aludidos
p. 87. Cf. sobre as relações entre os princípios da legalidade e requisitos são da essência do conceito de segurança jmidi.ca em
da segurança jurídica, na doutrina mais recente, o artigo de sentido rc::;tritc, o qual revestiria, porém, um conceito amplo
:Wiartin Oviedo, "El principio de seguridad jurídica en el dere- que se não esgotaria na Gesetzssicherheit. GL Scholz, Die Rechts-
cho fiscal", C.T.F., n. 159, junho de 1971, p. 54 e ss. e também sicherheit, Berlim, 1955, p. 59.
Liccardo, Introduzio??t? aUo studiÃi di:l Ditttto Tributário, p. 55,
que se refere ao princípio da certeza como fundamento da le- 3. Cf. L&hlein, Die Verfassungsrechtliche ZuUissigkeit .. .,
galidade. Entre nós, ver Ruy Barbosa Nogueira, Da interpreta- pp. 203-4; Jaenke, Rechtssicherheit im Steuerrecht, Zoe. cit., p.
ção e aplicação das leis Tributárias, S. Paulo, 1974, p. 24. 44.
LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA 47
46 LEGALIDADE E TIPICl.DADE DA TRIIHJ'í'AÇ;;_O

Primeiramente reflexo, entre outros, das con-


procl.),n- ser um imperativo constitucio- '::epções do iluminis:rno acerca da lei e da sua apli-
nal de cf..taiqiiét · Estado de Direito aquilo a que
cação, ganhou novo significado em face dos pos-
chamou o "princípio da confiança na lei fiscal"
tulados do Estado liberal Que, confiando a este ur.t1
(Vertrauengrundsatz bei Steuergesetzen; Ver- círculo restrito de atribÜições, visava essencial-
lâssichkeit des Gesetzes) e segundo o qual as leis
1nente à delimitação precisa da esfera jurídica
tributárias devem ser elaboradas de tal modo: que
dos particulares-frente ao Pnder, tutelando assim
garantam ao cidadáo a confiança de que lhe
a sua liberdade e a sua propriedade. Não se pen-
facultam um quadro completo de quais as suas
se, porém, que os aludidos princípios eram ineren··
ações ou condutas originadoras de encargos fis- tes à forma específica de organização do poder
cais. -i Como bem observa B&chmayr, o princípio político que teve o seu modelo mais acabado :i-10. . 1
da confiança na lei fiscal, como imposição do prin- Estado oitocentista. Com efeito, o reconhecimento 1
cípio constitucional da segurança jurídica, _tra- 1

de que ao Estado cabem mais vastas funções e de fi:


,,,
duz-se praticamente na possibilidade dada ao con- iíl
.que os seus fins não se limitam à tutela da liber- l,i
tribuinte de conhecer e computar os seus encargos
1: tributários com base ãireta e exclusivamente na dade e da propriedade do cidadão, dando lugar à J'.,,
j

:;, erise do tipo clássico de Estado liberal, nem por i 1


lei. 5
\!'
isso abalaram as preocupações de segurança jurí-
1
dica no âmbito do Direito Tributário. Tais preo-
i,,: cupações subsistiram, na verdade, quer por consi-
,>;;) o Os fundamentos da segurança jurídica
!' il ,;;;,. .
derações mais amplas ligadas à segurança jurí-
ti.
~~
O pdncípio da confiança na lei fiscal, de que dica, em geral, quer pelo alcance que a certeza
li. fala a doutrina alemã, ou o direito do contribuinte Direito, no terreno tributário, assume no âmbi- 1:

de um sistema econômico baseado na livre


1
ri
à segurança jurídica, a que se refere Sainz de i
Bujanda 6 · - que conduzem à configuração do iniciativa. 1
1 'd d
prmc1p10 aa 1ega!l
• ?
a e t rrnucana
• ' ., ; , . como reserva
'
Importa, pois, analisar rnais de perto as ra-
absoluta de lei formal - são corolários de certas zões que conduziram as imposições de segurança
concepções acerca da sociedade, do Direito e do jurídica, próprias do Estado de Direito, a expri-
Estado, a que a doutrina tributarista nem sempre mirem-se, na sua máxima intensidade, no campo
tem dado o relevo que indubitavelmente merecem. d.o Direito dos Impostos.
4. Vejam-se as referências em Spanner, in H, H. S., § 1, a) O direito à segurança jurídica
notas 14, 72 e ss. e 77.
5. CL Bachmayr, "Bestimmtheit und Berechenbarkeit von O princípio da legalidade tributária~ conce-
Steuerbelastung - eine Forderung des Grundgesetzes", Be- bido como reserva absoluta de iei, decorre, como
triebsterater, 1963, p. 239 e ss. -
6, Cf. Sainz de Bujanda, Hacienda y derecho, III, p, 313 e se viu, do relevo da segurança jurídica, na sua
ss.,

4
4S LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA 49
1proteção da confiança (Vertra- cipios da legalidade e da segurança jurídica -
.ndamenta-se, por um Ja.do; nos verta frustradas as suas f.unções mais essenciais. ·1
valores da segurança jurídica em geral e, por É evidente aue uma tomada de nosieão nesta
& - • ~

outro, no papel específico que €Ste desempenha matéria. depeTide de opções bem mais vastas quan-
num sistema fiscal de uma economia de mercado. to à oxganização da vida em sociedade, que se
Um e outro destes aspectos têm sido, porém, tornaria agora impossível discutir. Mas não será
postos em causa por certas orientações, cujo traço decerto inoportuno sublinhar não serem admis-
comum está em reputarem tais funda1nentos in- síveis quaisquer confusões entre o Estado de Direi-
compatíveis com as novas taref;.:!,s que ao Estado to e o Estado demo-liberal, que foi apenas um
moderno cumpre prosseguir. modelo histórico em que o primeiro se concreti-
No que toca à certeza jurídica em .geral, e zou; e que à essência do Estado de Direito per-
em especial no terreno do Direito Público, importa tence inegavelmente o princípio de segurança
. 'd"ica. B em se sabe ser est e su:rcet:rve1
JU:rl F . •
a.e varias
' , •

:referir a posição daqueles que - como Hesse e


Forsthoff - vêem no princípio da proteção da graduações e que talvez seja. neste terreno, mais
confiança a pura expressão de uma idéia de segu- vago e impreciso, que a discussão deva ser coloca-
rança própria das conce:pções burguesas e da. l\ifas, posto o problema nestes termos, então
rais, elaboradas como instrumento de proteção e força é reconhecer poder extrair-se conclusão bem
tutela da esfera de liberdade e propriedade dos diversa da preconizada pelos autores acima cita-
cidadãos, mas tornadas já incompatív~is com as dos. É que, se no Estado próprio do século XIX
novas formas do Estado - o Estado-providência as preocupações de segurança jurídica revestiram
ou o Estado-social. Mais do que a tutela dos puros extrema intensidade em face de um poder atro-~
interesses dos particulares frente ao arbítrio fiado, essas preocupações não podem dei.~ar de
Administração, visar-se-ia a prossecução da jus- se reforçar a..rn época de profundo intervencionismo
estatal, o que - como bem observa vVerner Flume
tiça social e esta impõe um intenso intervencionis- - leva u!c:...J~. J.nov·o a co1J:U\,,G .-. ...~;..1 ema d.;;
-"""r o J:l.!.Vl\J!. 1ihP.r-
-'-'~·--··- --
mo, porventura até um dirigísmo do poder, tenden-
dad.e e o do -Direito como tutela da livre esfera
te à adaptação do Direito às particularidades do individual. ;s
caso concreto, mediante critérios de eqüidade e
de oportunidade. A segurança jurídica deveria Foi precisamente à Juz deste condicionalismo
assim ceder o passo a exigências mais fundas das criado pela hipertrofia das funções estatais que
sociedades modernas, como a justiça material, na a doutrina da Igreja se pronunciou sobre o pro-
sua forma de justiça social. A eqüitativa-distribui-
'l. Cf. sobre esta::: orientações Rogério Soares, Interesse
ção da renda :suporia uma larga intervenção do público, legalid.ade e mérito, p. 76 e ss.; André Gonçalves Pe·
poder público, o qual, sem uma ampla liberdade refra, l!.'rro e il:egaliàaàe no ato administrativo, p. 26 e ss.
de apreciação e. decisão - cerceadas pelos prin- 8. Cf. Werner Fi.ume, Steuerwesen und Rechtsordnung, p.
42 e nota 78.
50 LEGALIDADE E Tl.PICIDADE DA TRIBUTAÇÃO
LEGALIDADE E S:CGD""RANÇA JURÍDICA 51
jurídica, proclamando, pela
-..wm Jz un•'d·lC(;I,~ quer
0rfi.a '(pH>
..:,_~
-- _- ;,,.;j
"..:l::i
v.._., ........a
.k
de que o Direito é um instrumento da política
por Deus nasce o inalienável Jiireito do homem econAnüea e, por outro, de que esta envolve obje-
à segurança jurídica e·, por ele, uma esfera con- tivos de promoção do desenvolvimento econômi-
creta do direito protegida contra todo o ataque co, do pleno emprego e da estabilização da ccm-
arbitrário". 9 Mais tarde, João XXIII, na Encíclica juntura, concluem dever o sistema fiscal estrutu-
Pacem in Terris, depois de reproduzir as palavras rar-se em ordem à mais eficaz :realização daque-
seu predecessor, acrescenta - sem margem les fins. Ora, os referidos objetivos de política eco-
para dúvidas - ser a segurança jurídica "direito nômica requereriam que os responsáveis pela sua
fundamental da pessoa humana". Hl consecução tivessem ampla liberdade de movi-
mentos, que lhe permitisse adaptarem-se às con-
b) Segurança jurídica e economia de mercado tínuas alterações que sofrem os mercados. A agi-
J.idade e a -comodidade na manipulação dos instru-
O relevo da segurança jurídica no Direito mentos jurídicos da política ec~mômica - entre
Tributário não decorre apenas do atribuído à se- os quais o imposto - dificilmente se harmoniza-
gurança jurídica, em ge:rãl, que - já o vimos - é ria com a sua _rígida previsão em diplomas dota- , ,,
suscetível de várias graduações, consoante a na- dos de força de lei e que, por conterem ein si a i i !!
tureza dos interesses a que respeita. Reside ainda regulamentação substancial do tributo, retiram à
na sua necessária conexão com: o tipo de sistema Ad.ministração a flexibilidade imposta pelas rápi-
econômico em que vigora. das variações da conjuntura. Uma ampla margem
Com efeito, num sistema econômico que te- de livre apreciação e decisão, ou seja, um alarga-
nha como princípios ordenadores a livre inicia.ti- mento dos poderes discricionários em matéria fis-
"'ª a· co. . . ,.,..,.,,.E..... c1·a e a prop~;,.,.darlo
f ' - A.S.VV.1.A.V.1..i. C!AA.a, + ... ,·na
Uv n~~v",;;"
J.J.c;._ .a. J.A. - UVJ. --
cal, seria assim exigido pelos princípios em que ',,
,,

-Se indispensável elir.ninar, no maior grau possí- li'


~;
assentam a fiscal policy e as "finanças funcio- ~i
vel, todos os fatores que possam traduzir-se em nais": sacrifica-se, certo, a segurança jurídica e ! 1,
ince:rte'72.~ econômicas suscetíveis de prejudicar ;~
a certeza do direito, mas obter-se-iam, em con-
a expansão livre da empresa, designadamente a trapartida, resultados como o acréscimo do ren- 1
insegurança jurídica. E isto era o que inevitavel- dimento nacional, o pleno emprego e a estabili-
mente sucederia se ao domínio claro da lei se zação das flutuações econômicas - que compen-
sucedesse o "voluntarismo" da Administração. sam largamente tal sacrifício.
Posição diversa tem sido tomada por aqueles Uma eficaz intervenção do Esta.do através de
que, partindo, por um lado, do reconhecimento instrumentos tributários aconselharia pois a subs-
R. Rádio-mensagem do Natal de 1942, Cf. Colección de En·
tituição do sistema de res-erva absoluta por outros
cíclicas y Documentos Pontijicios, ed. Acción Católie.a_ Espw..ola, que, o_u_p:rescindissem por completo de uma prévia
Madrid, 1955, pp. 218·219. instituição legal do tributo, ou nos quais à lei
10. Ver Encíclica Pacem in Terris, § 26.
estivesse apenas confiado o papel de corrferir uma
LEGALIDADE E SEGüRANÇA JURÍDICA 53
52 LEGALIDADE E TIPICIDADE D_à TRIBUTAÇÃO

"pe...ra que a Administração subsidiários: só que essa correlação deve ser ten-
tad-a , na-o pe-la u~~..,......;;::~ u-le porle:>"l"i::>>:! .-li;;:f•-;·i-r.:i-~na' -
:unstâncais - P~tabelecesse u1n !llJ.J..J..&J~~GU
......,_...,,....._ - - - - - ' - ' - - - -
rios, suscetíveis de se traduzir num·· decisionismo
imposto ou alterasse os seus elerrrentos essen- fiscal arbitrário, mas pela cor...strução de um sis-
ciais. 11 tema que comporte em si os automatismos ade-
Não pode deixar de reconhecer-se que a alu- quados a uma política fiscal compensatória.
dida orientação teve certo acolhi.."'l'lento nos países Em vez de critérios administrativos de adap-
ocidentais, sobretudo no período imediato à gran- tação dos instrumentos fiscais à conjuntura, ter-
de depressão dos anos 30, dando origem a viola- -se-iam critérios legais que, na definição do siste-
ções, mais ou menos claramente reconhecidas, ma tributário em conjunto e dos elementos es-
dos princípios tradicionais da legalidade e da se- senciais de cada tributo, deveriam_ter em conta a
gurança jurídica em matéria de tributos. Tufas sua capacidade de _:reação au.to;m{itica enrsentidu i:,:;

também importa n5.o esquecer que nos anos mais inverso ao da conjuntura. É aquilo que off-autores '''I
i

recentes se depara com fortes correntes no senti- anglo-saxônicos designam por built-in-flexibility.· 12
do de uma revisão dos pressupostos em que tal O princípio da legalidade, como reserva abso-
orientacão assenta. tentando demonstrar que
~ -; - - não luta de lei, não só não se revela incompatível com
só o princípio da legalidade é compatível com as as modernas políticas econômicas, como é o que
modernas políticas econômicas, mas também re- melhor se coaduna com os princípios em que as-
presenta importante fator positivo de estímulo a senta uma livre economia de mercado.
uma expansão equilibrada das economias. Com efeito, a livre iniciativa, exerce-se atra-
vés de planos econômicos elaborados pelos empre-
Ganham, com efeito, cada vez mais relevo ~is sários para um dado período e nos._quai~ se reali-
orientações no sentido de nm regresso à char.aada za uma previsão, mais ou menos empírica, dos
"ortodoxia financeira", que envolvem não só a custos da produção, do volume dos investimentos
idéia de que o imposto não deve alhear-se dos adequados à obtenção de dado produto e da ca-
seus objetivos tradicionais, de índole estritamente pacidade de absorção do mercado. Tsl previsão
fisca,4_como aL-ida a de que na int.ervenção de es- não pode deixar de ·assentar na presunção de um
tabilização conjuntural se deve recorrer predomi- mínimo de condições de -estabilidade, dentro do
nantemente às políticas monetárias, de utilização que a normal margem dos riscos e incertezas ra-
mais rápida e reversível, do que aos instrumen-
tos tributários. Certo, estes não podem afastar-se zoavelmente comporte para o horizonte de plane-
do sistema econômico em que se inserem, nem 12. Cf. sobre estas orientações Alberte P. Xavier, Política
dos -objetivos da política econômica, de que são orçamental e economia d.e mercado: a experiência americana
do após-guerra, Lisboa,. Hl70; Saira: de Bujanda, "El Dereeho,
11. Anmaga de Navasqués, "El principio de.lega.lida.d y la instrumento de política económica: defensa del principio de
fl.e:rlbilldad fiscal discrecional", XIX Semanas de Estudos de legalidad tributaria", Hacienda y derecho, :h/f...ad:rid, 1962, II, p.
166 e ss. 1ler Pi.mbém vol. !, Madrid, 1962, p, 430 e ss.
Derecko Financiero, Madrid, 1972, p. 473 e ss.

IJ
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•1
54 LEGALIDADE E TIPIC!D"A.DE DA TRIBUTAÇÃO
LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA
55
~&11a.. O planejamento empresa- em estreita relação, os princípios da segurança
-i ~;""
rl. al ' po'.I"·· ""1--'Ç; "' .fm'n..:;..;..,+1·..,.., "'r1·varl::i
iQr,.' --\J.i.~U Vr.e;.4,i> .P
sF> "'-r.-r-'-~.,.- ---
._.u .... 1t:..... e_t.l.::.:-Z..1:,. i:)U-
..!"-~-..:--~._, ____
jurídica, da legalidade e da igualdade. 14
põe assim uma possibilidade de-previsão objetiva e
esta exige, por seu turno, uma segurança quanto A lógica de uma economia de mercado conduz
assim a uma reserva absoluta da lei-no ten1:::no
aos elementos que a afetam. É sabido que o volu- tributário, posto que uma livre apreciação admi-
me dos tributos - dado o papel que assumem na nistrativa d'as situações tributáveis e do grau de
economia global·--- representa para a empresa -não sua tributação não se revela compatível com as
só elevada percentagem dos seus custos de pro- instituições fundamentais daquele t.ipo de econo-
dução, como determina as dispmübilidades que, mia: a propriedade privada, que importa delimitar
no mercado, representam procura para os seus "rigorosamente, frente às pretensões fiscais do Es-
produtos. Um sistema que autorizasse a Adminis- tado; a iniciativa privada, que supõe t...Tffia rígida
tração a criar tributos ou a alterar os elementos fixação legal dos elementos essenciais do tributo, ;:1

essenciais de tributos já existentes, viria do mes- em ordem a uma previsão &imp-ies e objetiva dos :1

1il
1

_.i!. .· mo passo a criar condições adicionais de insegu- encargos tributários da empresa; e ainda a con-
1 !:
rança jurídica e econômica, obrigando a uma corrência, que pressupõe uma igualdade que -só a j li
li constante. revisão dos planos individuais, à qual lei pode facultar.
a livre iniciativa não poderia resistir. Pelo contrá-
rio, um sistema alicerçado numa reserva absoluta
u
'
de lei em matéria de impostos confere aos sujeitos
m
!t-i
econômicos a capacidade de prever objetivamente
; os seus encargos tributários, dando assim as in-

ii
dispensáveis garantias requeridas por nma inicia-
tiva econômica livre- o responsável. 13
1 De outra parte, a concorrência pressupõe a 1

!
igualdade em face da lei, e esta não pode obvia-
mente ser garantida se a Administração fiscal
dispuser nas suas mãos de poderes de clecisão que
lhe permitam uma aplicação "individualizadora"
da lei de imposto. Por esta forma ainda se aliam,
13. Nissen, "Die Steuerliche Vorschriften des Gesetzes zur
Forderung der Stabilitãt und des Wachstuxns der Wirtschait",
Betriebsberater, li166, p. 787 e ss. (apud Spanner, H. H. S., § 1,
nota 14); Sainz de Bujanda, Hacienda y derec-ho, III, p. 378 e
ss. 14. Cf. Alberto P. Xavier, Subsídios para uma lei de defesa da
coru::orri;n;:;'w,, Lisboa, 1970, pp. 25-26.
CAPÍTULO TV

O PRil'fCíPIO DA TIPICIDADE
NA DOUTRINA

§ 1.0 • As orientações fundamentais

Devem-se à doutrina a1emã as primeiras


A •
0
- na t riºbu-
re f erenc1as a"'" pr1nc1p10 d a t•1p1c1"dade ? •
0

tação (Grurutsatz der Tatb~standsmêissigkeit der


Besteuerung), normalmente relacionado ou mes-
mo confundido com o principio da legaiidade tri-
butária (Grundsatz der Gesetzmiissigkeit der
Besteuerung). As aludidas referências tiveram,
de resto, a sua origem na própria formulação li~
teral do § 3 da Steueranpassungsgesetz, cuja alí-
n .. o:i nr1"me1·ra estah,,,tor>o 'i
... J..;..- ..... - ri"~
u..c " ..:i~~~-,,_ de ivnpn~tn
""''-'·&;\..,\,,.rV ~_1 ___\,_ll V,J,l,_J~
vu-vv .... _..,.....

nasce logo que se realizam os pressupostos aos


quais a lei prende o tributo: "Die Steuerschuld
entsteht, sobald der Tatbesta:nd verwirklicht ist,
a.n den das Gesetz die Steur knüpft".
Mas, se a expressa menção da lei a um Tat-
bestaru:i legal levou os autores a entrever a exis-
tência de um princípio da tipicidade no Direito
Tributário, a verdade é que debalde se procurarão
desenvolvimentos do princípio expresses num cor-
po coeso da doutrina, lacuna esta tanto mais gra-
ve quanto noutros ramos do Direito--como o Di-
reito Criminal e o Direito das Coisas - o princípio
da tipicidade- já foi obj_eto de ampla elaboração
58 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE G9

Definido assim o 1'atbestand, natural se tor-


nou-ser a tipicidade· (Tatbestandsmassigkeit) _pre~
dominantemente concebida- como um atributo
do fato ou fatos da viàa, que exp.L'.im.iria a sua con-
formidade ·com o modelo·alnstr·ato descrito na nor-
ma e que seria indispensável para a produção do
efeito jurídico mais.-característico da norma tribu-
tária: a constituição da obrigação de impoato.. -E
Importa, pois, traçar. preld.amente um breve daí que certos autores, como Von Wallis, enten-
quadro das principais correntes da doutrina, de dam por tipicidade da tributação o princípio -
modo a que dele se possam recolher as bases neces-·
basicamente contido no § 39 da lei alemã de adap-
tação iiscal - se_gµndo o qual a.dívida de imposto
-sárias à construção científica de um princípio in- só nasce quando se preenche integralmente o mo- '):

dispensável à plena compreensão do papel ocupa- delo, tipo ou Tatbestand previsto na iei. 3
do pela vontade na aplicação da norma tributá- ''
'
,,
ria, ou seja., .à plena compreensão do conteúdo do b) Tipicidade e obrigação de-cobrança ít

ato administrativo em que o lançamento se traduz.
Outros autores, porém, encarando o mesmo
a) Tipiciàade e adeqitação típica fenômeno .sob um ângulo diverso, não concebem i
já a tipicidade como um atributo do fato - tri-
Fai, como se sabe, Albert Hensel quem pela butável - mas como uma característica da ativi-
primeira vez atribuiu ao Tatbestand tributário dade da Administração de aplicação da norma
lugar de -relevo na dogmática do Direito Fiscal, tributária e de cobrança do :ilnposto, que assim se
definindo-o como o conjunto dos pressupostos aproxima -ou se confunde com o mais tradicional
abstratos contidos nas normas tributárias mate- princ-fpio da legalidade. A tipicidade seria, J>Ois, o
riais, euja verificação concreta desencadeia efei- princípio pelo _qual os tributos só pr-..r.!erão ser
tos jurídicos determinados. 2 oobrados quando a lei o ·autm.ize e, portanto,.
1. Cf. Kruse, Gesetzmassige Verwaltung, Tatbestandsmiis- quando se concretiza a hipótese (Tatbestand) des-
sige Besteuerung, "Vom Rechtsschutz im Steuerrecht", Düssel- sa mesma iei.
dorf", 1960, p. 97.
Dentro desta linha de orientação, alguns, co-
2. Cf. Hensel, Steuerrecht, 2.• ed., Berlim, 1927, p. 43: "Als
Steuertatbestand bezeichnen wir die gesamtheit ãer in dem ma- mo Wacke, confundem-no pura e simplesmente
teriellen Steuerrechtsnormen enthalten abstrakten Vorausset- com o princípio da legalidade, 4 enquanto outros,
zungen, bei deren konkreten Vorliegen (Tatbestandsverwirkli-
chung) bestimmte Rechtsfolgen eintreten sollen". Cf. também 3. Cf. V"on Wallis, H. H. S., § ~sungsgesetz,
Diritto Tributo.rio (trad. it.). p. 72 e ainda "Der Einfluss des nota 6.
Steuerrechts auf die Begriffsbildung des õffentlichen Recht",
Veroffentlichung des vereinigung des Deutschen -Staatsrechts- 4. Cf. Wacka..--Gesetzmãssigkeit und Gleichmassigkeit, S.
lehre, Helft 3, Berlim e Leipzig, .1927, p. 90. W. 1947, p. 26 e ss.
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60 LEG.ALID~4..DE E
DA TRIBUTAÇÃO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE U.!.

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__ ;_·_-.__ r_·._-__

ele é apenas um par do princípio da legalidade - por qualquer


j - __ --~2~:~:~~T;Pnncípio da legalidade se des- Estado de Direito. O prirrcívio -da legalidade es-
__ - J dobra, póf este:"âbranger não só a regra de <me

lli os impostos não poder.a ser cobrados sem funda- -gotar"'-se-ia na afirmação de que os impostos de-
mento legal, mas ainda a de que a Administra- vem ser criados por fontes revestidas da natureza
i ção_ está vincuJada a cobrar o ilnposto Quando se de lei formal. O principio da tipicidade já não
preencheu a previsão legal e portanto
tuiu a dívida de imposto. 5
consti- se respeitaria, porém, à legitimidade formal da nor-
ma tributária, mas ao seu conteúdo material.
l
-J:!-
1vfas já para outros autores o princípio da ti- Assim, para Bühler, s seguido por vários auto-
--- __J
r picidade não seril!- identificável com o principio res, 9 ele traduzir-se-ia no princípio de que aj\g-
J-;-; da legalidade, nem se reconduziria a um mero ministração fiscal não deve ter em mãos cláusulas
,:f"
'j<--j
_j

aspecto deste: se a tipicidade é a característica gerais para a exigência de impostos, antes as cir-
pela qual os impostos só podem ser cobrados cunstâncias de fato de que depende o tributo de-
quando a lei o autorize, o princípio da legalidade vem estar fixadas o mais rigorosarnente possível
seria substancialmente diverso, reportando-se numa formtilação legal - o Taibestand. Desta
para Lademann à exigência constitucional de sorte, deveria o legislador deixar expressos os pres-
uma reserva de lei formal 6, exprimindo para supostos da obrigação tributária mediante unia
Kruse e Hõppner a obrigação de cobrança de im- formulação precisa de cada um àos seus ele:men~ ! ·;

posto por parte da Administração, estabelecida :no tos, com a co:nseqüência da ilegiti..-rnidade consti-
§ 204 da Abgabenordnung. 7
tucional não só das cláusulas gerais vagas - tão
freqüentes no Direito da polícia - como também
e) Tipicidade e determinação normativa da concessão de uma margem de discriciona.rieda-
Depara-se ainda. na doutrina alemã com uma de em matérie. tributária.
terceira corrente, pa1·a a qual o princípio da tipi- De igual modo para Spanner o princípio da
cidade não i-espeita a uma ca:racter:fstica dos fatos tipicidade funcionaria como um i1:_11perativo diri-
tributários, nem tão pouco a um atributo da
8. Cf. Bühler, Steuerrecht, I, p. 122; !D., Princípios de De·
vidade admirlistrativa fiscal; antes traduziria recho Internacional Tributaria (traduç?c0 castelhana), Madrid,
uma exigência a que deveriam obedecer as pró- 1968, pp. 144-145.
prias normas tributárias materiais, imposta - a 9. Cf. Pa.ullck, "Der-Gru..11dsatz der gleichmãssigkeit der
Bestaueru..TJ.g, sein Inhalt und seine Grenzen", Problem des Fi-
nanz- und Steuerrecht, Festschfrit für Ottmar Bühler, Colônia,
5. Cl. Tipke, art. in S. W., 1958, p. 744. 1954, pp. 144-1455; ID., Lehrbuch des allgemeinen Steuerrechts,
6. Cf. Lactemann, H. H. s., § 1, nota 15. pp~ 54 e 110; Felix, Ermessensausübung im Steuerrecht, p. 20;
7. Cf. Kruse, Gesetzrr..li:;;;ige Verwaltung, Tatbestandsmi:í,,,. Meilicke, Steurrecht, p. 49; Hartz, Gesetzliche Generalklauseln
sige Besteuerung, loc. cit., p. 99 e ss.; ID., Steuerrecht, L, pp. :n und Richterrecht im Steuerrech.t, S. W., 1968, p. 245; Jacobs,
e 138; Hõppner, "Zwn Problem der Rechtssicherheit und Tatbestandsmãssígkeít
teuerung, Ioc. cit.,Steuergeheimnis
p. 205 e ss. und Gesetzmttssigkeit der Bes-
d.es Besteuerung bei der Bilanzie:rung in der Ertragsteuerbfümz",
S. W., 1969, p. 633 e ~s.
62 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 63

>:f, impondo-lhe que as nonnas s1"da de. a. verem


" de, porem,
, e, que as varias
, . C.:.)rren-
insti~~~ tnoutos devam ser formula-das tes da doutrina atrás referidas - se bem que
de modo tão claro e inequívoco, que o seu conteú- isoladamente não sejam suscetíveis de explicar
"''"' .ç;.,,.,..
u.v, ~il.l;. ";e; aAmb1"to (Inhalt , '7A .. ~~ ft1
.LIW\#l..-1\! M~~ 7 ·AO~~,.,,..,--\
tkll/Ú .ii U;::;f-fvtil8-Ü) unitariamente o fenômeno - fornecem já um
""'~.,m
u\,,,j{N-L ta- 0 ri .. +,,,rrn.;TI<1...:i:n~
"""v"""'°"" "' ,.:i~H ...... ;T..,,.;i,..,,.. "'"!»
...........:..... J..tA;Q~:....---~--\..~C-..:,.=...i.J.j..i.Vi:.w~v~ "---
\.f;..;.- 0 "Vll- amplo manancial àe elementos indispensáveis a
tribuinte possa prever e medir objetivamente o uma rigorosa construção_ jurídica do princípio.
encargo que para si representa o tributo. rn Como Não é tarefa fácil o deslindar do intrincado
princípio__respeitante ao próprio conteúdo dasnor- "carrossel de conceitos", a que aludia Kruse; e
mas, a tipicidade, com as características atrás para tal inegavelmente concorre-uma imprecisão
apontadas, represenb:iria não só um comando di- terminológica, resultante em parte dos vários sen-
rigido ao legislador, m.as ainda um ditame ao tidos revestidos pelo princípio da legalidade-e, em
próprio intérprete: como .nhservam Bühler--Stri- parte, dos vários ânguios por que pode ser oàser-
ckrodt, a aplicação da norma tributária não deve vada a construção de uma tipologia.
respeitar aos rnotivos 1 mas à clara expressão da A tipicidade, como observa Oliveira. Ascensão,
lei, pois ao contrário do que sucederia noutros pode ser encarada partindo-se da vida para a
ramos do Direito - onde não vigora a aludido norma e exprime nesse caso a conformidade do
princípio - não pode a vontade da lei ser deduzi- fato ao tipo; mas também pode ser observada
da da ordem jurídica, antes cada norma de tri- partindo-se da norma para a vida, significando
butação contém rem si mesma uma providência então um atributo da norma, pelo qual esta es-
singular, cujo sentido e alcance se encerra na sua pecifica um conceito numa tipologia. 12 O primei-
estrita e rigorosa formulação iegaL 11 ro oonto de vista é o adotado por Von Wallis; o
segundo, o que está na base das consràerações
de Blli11ler e de Spanner.
§ 2. º. Observações críticas e reconstrutivas Partindo embora de perspectivas igualmente
válidas, certo é que qualquer dos referidos auto-
Este breve quadro da doutrina___a,cerca do res se limitou a sublinhar aspectos parciais do fe-
princípio da tipicidade no Direito Tributário re- nômeno da tipicidade, sem curar da sua integrs:i,-
vela com nitidez o ainda fraco grau decccelaboração ção no conceito de tipo que a teoria geral do di-
científica de que tem sido objeto e que o tem im- reito elaborou.
pedido de ocupar na dogmática deste ramo do Di- Assim, Von Wallis, ao afirmar que a tipicida-
reito o lugar já conquistado noutros setores, on- de da tributação consiste na conformidade aos
de porventurase revela com menor vigor e inte11- pressupostos constitutivos da previsão legal, ne-
10. Cf. Spanner, H. H. S., § 1, notas 60, 61, 62 e 70. 12. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade dos direitos reai.s,
11. Cf. Bühler·Strickrodt, gteuerrecht, !, pp. 194-5. Lisboa, 1968, pp. 37·39.

5
r
--'~·--~
1
64 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO

. cdado fato dê orie:em a u..rna obri-


PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 65

geral da tipicidade, ele revela-se, porém, insufi-


gação dé @pomo, está afu1al de contas a salientar ciente para explicar, mesmo de um ponto de vista
um fenômeno que não é específico do Direito Tri- normativístico, todo o com.plexo mecapJsmo da ti-
butário, antes comum a toda a ordem jurídica: a pologia legal. Existirá um -tipo geral de imposto?
necessária adequação do fato à norma para que o vigorará no Direito tributário a regra do nume-
efeito jurídico se produza; e, simultaneamente, a rus clausus? qual o objeto da tipificação? Tudo
atribuir à no~ão de tipo o seu sentido mais gerat perguntas a que os referidos autores não dão res-
de previsão ou hipótese legal, ou seja; o conjunto posta.
de pressupostos de que a lei faz depender uma Demais, qualquer das correntes a. que se alu-
-l'l
-·1·.· .1
certa conseqüência jurídica. 13 Ora, se a tipicidade
e, um pr1nc1p10
. , .
que apenas se m:imies .,, t
.a em cer-
diu dei.-xa por inteiro na penumbra uma relação
que se impõe como evidente: a que intercede en-
·"~-:~ tre o priricípio da tipicidade e o já mais burilado
tos setores da ordem jurídica, entre os quais o
tributário, força é descobrir o traço que lhe iln- princípio da legalidade. Este último princípio
prime a sua especificidade no Direito dos Impostos. criou-se no campo do Direito Publico, para que à
Bühler e Spanner vê.em essa especificidade no função executiva: do Estado - jurisdição e admi- 1

fato de as normas tributárias deverem revestir tal nistração - se estabelecessem indispensáveis li-
configuração lógico-jurídica que, pela determina- mites jurídicos; e daí que o estudo da tipicidade,.
ção rigorosa dos conceitos nela abrangidos, se li- volvido primeiro para as realidades do Direito
mite a livre valoração e decisão dos órgãos de apli- Privado·- os contratos, os direitos reais, as socie-
cação do direito. Cumpre reconhecer que a tipici- dades - nem sequer abordasse os problemas sus-
dade nos outros ramos do Direito sempre foi citados pela__necessária preeminência e reserva da
construída em ordem a demarcar precisamente lei. ·É que (e volta a insistir-se neste ponto) se a
os limites da vontade humana no tocante à pro- tipicidade no Direito Privado visa à construção
dução dos efeitos jurídicos: no Direito Privado de um quadro limitativo da autonomia da vonta~
- como no antigo direito dos contratos e nos di- de, no Direito Público o abjeto da limitação é a
reitos reais - visa-se a delimitação da autonomia conduta do poder, a vontade àas órgãos de apli-
privada; no Direito Público - como é o caso do cação do direito; e essa conduta, e essa vontade
Direito Penal - a vontade funcional do juiz ou são precisamente limitadas por via da submissão
do administrador. Mas, se o aspecto sublinhado à lei.
pelos referidos autores já estabelece uma analo- Por isso, de há já muito tempo, a doutrina
. ent re a t'1p1c1
gia . 'rl
.....a d e d a t ri'b u t açao
- e a +,,ecrm
• do Direito Penal soergueu toda uma construção
jurídica da tipicidade assente na idéia de legali-
13. Sobre o conceito geral de tipo, v. Oliveira Ascensão,...A dade: nullum crim~n sine lege é brocardo que na
típicidade .. , p. 19 e ss.; Mezger, Derecho Penal, I, p. 364 e ss.; sua singeleza condensa sinteticamente a co-rrexãG
Betti, Teoria general deZ negocio jurídico (trad. esp.), p. 152;
Grispigni, Diritto Penale lialiww, II, p. 10. dos aluàldos princípios. Também no Direito Ad-
1
1 1H'
..1~
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..t.-=.~
66

:mi~~~·:_:';1'i~ver-se-á
LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO

que menos justificada-


mente ::.:··k terlí- procurado ligar a regra da lega-
lidade da Administração com a da tipicidade, ora
PRit.JCÍPIO D~4:- TIPICID~4.DE 67

tributos, uma vez verifica.dos os seus pressupostos


e esgotados os prazos de pagamento. Terceira e
1i -óltffi'la: a de não ter Tespondido ao problema de
fazendo da primeira espécie da segunda, ora saber se o imperativo da legalidade arrasta neces-
_ljf transformando esta em corolário daquela. 14 Ivíé- sariamente consigo o da tipicidade e; caso negati-
rito é, pois, da corrente representada por Wacke, vo, em que hipóteses e. com que funda..inento tal
11 Tipke, Kruse e Lademann, o ter expresso idéia se verifica e ainda qual a posição específica do
!!:· semelhante no âmbito do Direito Tributário: pois Direito Tributário neste <lomínio.
aqui legalidade e tipicidade andam de As considerações precedentes constituem
mãos dadas. apenas um conjunto de interrogações sugeridas
Pecam, contudo, estes autores por três faltas pelo estado atual da doutrina sobre o tema da ti-
capitais. Primeira: a de não terem elaborado um picidade em matéria de tributos.
conceito de legalidade tributária, que se integras-
1víesmo o espírito menos exigente reconhecerá
se nos esquemas - já bem trabalhados - da le- serem de todo insuficientes os materiais - por-
galidade da Ãdministração: evitar-se-ia assim
formulações demasiado restritas, como as que ne- ventura valiosos n1as fragmentários, até hoje le- '

le vêm ou só o aspecto da reserva da lei - os im- gados pela doutdna. Impõe-se, por isso, proceder
postos só poderão ser cobrados quando a lei o au- a uma tentativa de clarificação do problema, que
t1Tr'i'70 fl'1 so' o pr1"~
"'1-.-. !'.'! da~ L>'<7iet. f"'i<:> ~..., le1· f 0.L-
VLl..a.gvnv..i.~ ,. forneça a segurança i..'rldib!>ensável à sua diluci-
!l)VA..!\.üft..,. - J..:.-
Vi...L ... y,:..41
dação.
m,al - os impostos só podem ser criados por nor-
ma revestida da autoridade e da força de lei. Ou-
tTa: a de se haver colocado no mesmo piano o
princípio da legalidade tributária e a regra da
irrenunciabilidade ou indisponibilidade dos cré-
ditos tributá.Tios pela Adr.uinistração, po.r via da
1
qual os serviços estão vinculados à cobrança dos
14. Cf. M S. Giannini, Atto Amministrativo, E. D., IV, pp.
164-5 e si;;,, sustenta que a tipicidade, juntamente com o princi-
pio da articulação, são emanações da idéia de legalidade. Nas
Lezioni di Diritto Amministrativo, pp. 74 a 78 e 308-313, o mesmo
autor distingue, em pr'ú11et:a. lir.J.1a, a reserva de lei e a tipicida-
de, a qual por seu turno se desdobraria nos conceitos de lega-
lidade, de articulação e de nominação. Refira-se ainda que M. S.
Giannini em L'tnterpretazione dell'atto amministrativo e la teoria
giuridica general.e dell'interpretazione, Milão, 1939, pp. 27tVi,
id.,,ntificava tipicidade a nominatividade. Veja-se também André
Gonçalves Pereira, Erro e ilegalúf,ade no ato administrativo,
Lisboa, 1962, p. 127.

1
1
CAPíTULO V

TIPICIDADE E NORMA TRIBUTÁRIA

Procedeu-se atrás a uma análise do principio


da legalidade tributária que, do mesmo passo,
permitisse a -sua integração na teoria geral da.
legalidade da Administração e revelasse as -suas
especialidades em face daquele principio mais
amplo.
Concluiu-se que as imposições constitucionais ':1
do Estado de Direito, muito particularmente as
ligadas à segurança jurídica, tinham conformado
o princípio da legalidade no Direito Tributário
como uma reserva absoluta de lei formal; e que,
por conseguinte, revestia um conteúdo mais res-
trito do que em geral apresenta no Direito Admi-
nistrativo - essencialmente base-ado em simples
reserva relativa de lei material - mas, por seu
turno, mais próximo daquela que vigora no âm- i !!

-bito do Direito Penal.


!i
rsto leva-nos a afirmar que o brocam.o nullum
crimen, nulla poena sine lege tem o seu equivalen-
te no Direito Tributário: nullum tributum sine
lege. Da mesma forma, pois, que no Direito Penal
o princípio da tipicidade surgiu como técnica de
proteção dos cidadãos contra os poderes ~cte-dsórios
do juiz, ele revelou-se no Direito Tributário como~
instrumento de defesa dos particulares-e:m-:face do
arbítrio da Administração. O princípio da tipid-
'711
ov LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBT_TTAÇ.a'O TIPICIDADE E NORMA TRIBUTÁRIA 71

' dade n~~~~,ti&k'iriirio do que já uns sustenta-


:ra.m,
,. ... -
um
;ptmeijio autônomo do da legalidade:
't .,.
portanto, a formação dos tipos tributários, nos
seus contornos esenciais é monouólío das -normas
li t
an es e a expressao mesma aes e prmcipw quan-
' 4

:revestidas de força de lei, dimanadas dos órgãos


do se man-ifesta nai forma de uma reserva abso- legislativos competentes, por antonomásia as As-
luta de lei, ou seja, sempre que-se encontra cons- sembléias representativas. E que tal regra - ori-

li
.
truído por estritas considerações de segurança
jurídica. 1
A técnica da tipicidade é, porém, a mais ade-
quada à plena compreensão do próprio conteúdo
de reserva absoluta e, portanto, dos limites que a
ginariamente expressão do livre consentimento
dos tributos pelos povos - passou a revestir no
Estado de Direito a função de garantia da se-
p::iração de poderes, pressupostos da realização da
justiça e da segurança jurídica em matéria de
lei impõe à vontade dos órgãos de aplicação .do impostos. Da justiça, posto entender-se que a-se-
u1re1
....:i • •to em ma.,er1a
t' . t rmuiana
.. , , . .. T.i _!!:

prec1samen.A:; t leção do.s fatos tributários e da medida dos tribu-
pela arilllíse da origem normativa dos tipos, do tos, enquanto representam intervenções diretas
objeto da tipificação e dos caracteres da tipolo- na esfera de propriedade dos particulares, só de-
gia tributária, que resulta com nitidez o alcance ve ser confiada a órgãos cuja composição e cujas
da regra nullum tributum sine lege e que se pode- garantias de funcionamento permitam uma ex-
~' -~ u
J.a -1--l\;raçar com ngo.1.
• ... 11v das mat· e'r·a,,.
A-~~-1-~+--
~ cuuu I ;::; que , pressão ponderada e equililTrada da justiça ma-
pelo principio da legalidade, estão reservadas à terial. Da segurança jurídica, por duas vias que
lei e as que, eventualmente, estejam confiadas à lhe são inerentes: a do conhecimento claro e ine-
vontade dos seus órgãos de aplicação. quívoco, resultante de os impostos deverem cons-
A estes temas dedicamos os números se- tar de uma lei escrita, com exclusão de todas as
guintes. dúvidas ligadas à prova e interpretação das fontes
consuetudinárias; e da estabilidade de lei, por
se presumir que as normas editadas pelo órgão·
l' õ~ 1
.A.$
<!)
$ origem le.gal de tipicidade legislativo competente são menos facilmente mo-
dificadas ou revogadas que os meros regulamentos "
Já atrás ge viu, ao tratar do princípio da re- da Administração.
serva de lei, que no Direito Tributário esta as- Os tipos tributários nos seus contornos es-
sumia a natureza de uma reserva de lei formal, senciais não podem, assim, ser criados pelo costu-
no sentido de que a instituição dos tributos e, me ou por regulamentos, mas apenas por lei.
Mas, se a origem normativa da tipicidade é a
1. Discordamos assim de S:1ves Miranda Guimarães quando lei formal quanto aos elementos essenciais do-tipo,.
distingue, a par do princípio constitucional expresso da legali- ' Jª ·+
. , pod e si.,uar-se, ' '
dade, os princípios implícitos da tipicidade, da reserva de lei e eia como vrmos, no 'Pef/Ula-uz.en-
da segurança jurídica tributária. Cf. Os princípios e normas to, quanto aos elementos de que não faz resç:;_·~.--J.
constitucionais tributárias, S. Paulo, 1976, pp. 36 e ss. e 17 e
ss. expressa, ou seja, 8" determinação da alíquota oa
72 LEGALIDADE E TIPICID.iillE DA TRIBUTAÇÃO TIPICIDADE E NORMA TRIBUTÁRIA 73

pnpostos sobre a importação, Corresponderá isto a afirmar-se a existência


a expo~~~,i~·~·n,re operação de crédito, câmbio de uma mera tipicidade do -fato, à semelhança do
e seguros, dentro dos limites da lei. que sucede no Direito Criminal? Realmente, neste
Seja, porérn, lei em sentido formal ou lei em ramo do Direito a técnica da tipiciàade subtrai
sentido material, a verdade é que a tipicidade tri- ao órgão de aplicação ·do ccdke-itu o crité.1..i.o da in-
butária é sempre de origem legal: nullum tribu- criminação, mas a ele é confiada a tarefa de fixar,
tum sine lege. dentro dos quadros da lei, a concreta medida da
pena. Portanto~ tipicidade do fato, mas não tipi-

.,-:'
1
-
11
~ ~~

..·...•.•
§ 2. º. Objeto da tipificação
Da mesma forma que o princípio da tipicida~
de no Direito Penal significa que os crimes devem
ser típicos, e que idêntico princípio no campo do
cidade plena dos efeitos. Coisa diversa se passa
no âmbito do Direito Tributário, pois aí a segu-
rança jurídica exige que· a lei contenha em si
mesma não só o íund~mento da decisão,rncomo o
próprio critério de decidir.
O órgão de aplicação do direito deve ter na
nireito das Coisas estabelece que típicos devem lei predeterminado o conteúdo da sua decisão,

li\ ser os direitos que sobre elas recaem, assim o donde resulta que se procura subtrair ao seu arbí-

I li
~ i :;
íi!)•~.•.

j\.
princípio da tipicidade da tributação requer que
os tributos sejam objeto de uma tipologia. Tribu-
to, imposto, é pois o conceito que se encontra na
base do processo de tipificação no Direito Tributá-
rio de tal modo queo tipo, como é de regra, repre-
trio ou critério subjetivo a eleição dos fatos tri-
butários (como no Direito Penal se retira ao juiz
a livre incriminação dos fatos) mas, mais ainda,
que se lhe pretende retirar o critério da sua tri-
butação, isto é, a fixação da medida do tributo.

I
1L1!. '.
li''
senta necessariamente algo de mais concreto que
o conceito, embora também necessariamente mais
abstrato do que o fato da vida. 2
O órgão de aplicação do direito encontra-s-e, deste
modo, submetido, quer aos tipos legais de fatos
tributários, quer aos tipos de efeitos jurídicos de- 'l
JiI]' Se o tipo tributário exprime, assim~ uma es-
pecificação do conceito de imposto, cada tipo, por
correntes da verificação dos fatos, abrangendo a
medida do tributo.
si, deve co-nter todos os elementos que caracteri- No Direito Tributário a técnica da tipicidade
U:I zam aquele mesmo conceito. Encarando a reali- atua, não_só sobre a _hipótese da norma t:rihutá-
dade de um ponto de vista normativístico, que o ria material, como também sobre o seu manda-
mesmo é dizer, partindo da norma para a vida, mento. Objeto da tipificação são, portanto, os fatos
dir-se-á que objeto da tipificação são os "elemen- e os efeitos, as situações jurídicas iniciais e as si-
tos essenciais" do tributo enumerados no art. 97 tuações j1,t,ridicrtsfinais. 3
do Código Tributário Nacional.
3. Que a tipologia pode respeitar à hipótese ou à conse-
2. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade dos direitos reais, qüência da norma afirma-o claramente Oliveira Ascensão, A ti-
Lisboa, 1968, p. 22. piciãaãe . .. , p. 21.

1
1
74
,..,~

LEGALIDADE E 1'1PIC1DADE DA TRIBUTAÇÃO TIPICIDADE E NORJ\!IA TRIBUTÁRIA g;:)

l.rl/lf~!hipótese de incidência e capa- dor, um limite material ao processo de tipifica-


ção. 5
Olhemos, mais de perto, para a tipicidade do Por isso, nem todas as ;;;ituações da vida abs-
fato, e procuremos .responder a esta questão: tratamente SJrncetiveis de desencadear efeitos tri-
quais são os fatos tipificáveis? butários podem ser designadas pelo legislador
VLlTIOS já que o Estado de Direito, na sua como fatos tributários. Pelo contrário, este encon-
acepção material, impõe como critério de justiça tra-se limitado na
sua faculdade de seleção, elei-
no t'eneno 'i.;riuu.J~i,r10
·i... t, . . , . d_a iguai
o prmc1p10 . "da d e: e ção ou escolha pela exigência de que a situação
que este, para além da sua fo:rrnulação negativa, da vida a integrar na hipótese da norma tributá-
expressa na regra da generalidade, contém ainda ria seja reveladora de capacidade contributiva.
um aspecto positivo, que se traduz no princípio Não pode; desta sorte, deixar de estar
da capacidade contributiva. 4 Significa isto que o referido princípio da capacidade contributiva no
todo o critério de tributação não assente no refe- cerne d€ uma construção dogmática do Direito
rido princípio é, para o Estado de Direito, injusto Tributário, pelo que não deve apoiar-se o setor
e arbitrário; e que, portanto, ele funciona como da doutrina que o pretende relegar pa:ra plano
um imperativo constitucional dirigido ao legisla- secundário, sob o pretexto de se tratar de con-
ceito extrajurídico, vago e insuscetível de aferição
4. Para nós, o princípio da capacidade contributiva é simples concreta. 6
aspecto em que se desdobra o princípio da igualdade e não regra
autônoma. Cf. Amílcar de Araújo Falcão, Fato gerador da obrtga-
ção Tributária, S. Paulo, 3.ª ed., 1974, pp. 68-69. A pretensa auto- 5. Sobre a capacidade contributiva como limite constitu·
no:11U.a do pri...rwípio da capacidade contributiva, face ao da cional ao legislador tributário vide Paulick, Der Grundsatz der
ig-üaldade resultou da sua expressa consagração no art. 202 d.a Gleichmassigkeit der Besteuerung . .. loc. cit., p. 151 e ss.; Sainz
Co:nstituição de 1946. A Constituição vigente não o proclama au- de Bujanda, Hacienda y derecho, IV, pp. 181 e ss. e III, p. 232 e
tonomamente, mas isso não tem qualquer significado de fundo ss.; Berliri, Principií. . . , I, 2: ed., pp. 223 e ss.; Licardo, lntro-
pois, como reconhece Aliomar Baleeiro, ele permanece subjacen- duzione allo stitdio del Diritto TTibutario, p, 128. É o que na
te na Constituição Federal de 1969, que adota um reg.Lrne demo- Alemanha se designa pelo principio da tributação "em relação
crático, assegura que todos são iguais e declara gue a especi- aos meios" (Grundsatz der Besteuerung -im Verhaltnis der
ficação de direitos e garantias e:;,..J;Jressas não exclui outros direi- Mittel) e que exprime a clássica regra de Adam Smith da tri-
tos e garantias decorrentes do regi.me e dos princípios que ela butação "in proportion to their respective abilities".
a.dota (art. 153, § 36) cf. Limitações constitucionais do poder
de tributar cit., p. 309. Cf. também Gerd W. Rothmann, O prilif 6. Cf. Liccardo, Introduzione allo studio del Diritto Tri·
cípio da legalidade. . . cit., p. 170. Aderimos assim à lição de butario, p. 268 e ss. e autores citados a p. 275; e, com hesitação,
Paulo de Barros Carvalho, quer.de s.fir::r.a: "Se é correto dizer- Fon:rouge, Derecho Financiero, I, p. 275 e ss.; contra: Antonini,
·Se que já não existe em nossa Lei Suprema o antigo dispositi- Il regimi fiscali sostitittivi, Milão, 1969, p. 38 e ss.; Berliri, Prin-
vo que impõe limites à pretensão tributária, consoante a capa- cipii .. ., I, 2.' ed., p. 252 e ss.; De Valles "Limiti costi.tuzionaj.i
êidade contributiva do sujeito passivo, nfiD menos verdade ê alle leggi tributarie", R. D. F. S. F., 1958, I, p. 3 e ss.; Sainz de
afirmar que o cânone da igualdade só é viável. em termos Bujanda, Hacieruf.a y dezzchc, IH, p. ~12; Cardoso da Costa,
de tributação, na exata medida em que se considera a capaci- Curso .. ., p. 81; Pessoa .:r0rge, Poderií.o~os impostos ser criados
dade de contribuir de quem vai arcar com o grava.me fiscal", -cf. por decreto-lei? Lisboa, 1968, p. 19, que lhe reconhece a tutela
Teoria de Norma Tributária, S. Paulo, 1974, p. 82. do art. 8.0 , n. 16 da Constituição portuguesa de 1933.

I,
r;e, TIPICIDAD-E E NORM: .L\.
. TRIBUT. 4..RLA
.
~'.._l; LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO 77

"''CTT',...-,~ .:;c,..:c< ; bastaria o simples fato de ele Objeto da tipificação é pois e sempre a capa-- ·~
se encóntraic::formulado em normas jurídicas -. cidade contributiva, cujas expressões a lei deli-
aliás de hierarquia superior - para que tal orien- mita pela formulação de modelos ou tipos, aos
tação se revele menos justificada. E nem as difi- quais se devem ajustar as situações da. vida para
culdades na concretização do seu conteúdo pare- que se desencadeiem os efeitos tributários. 9
cem bastantes para remover o referido princípio O conceito de fato tributário caracteriza-se,
das suas funções de limitação do poder tributário assim, por um requisito formal e por um requi-
e de fundamentação de todo um sistema fiscal sito material: o primeiro consiste na tipicidade;
norteado por um ideal de justiça;-demais, funções o segundo, n~ capacidade contributiva. Analoga-
de tal modo relevantes que a violação do principio mente ao que sucede com o crime ou fato punível,
pe1o '.reg1s . la d or ord'1nario , ' acarre t a a mcons
. t'.j.. .
11,uc10- que se define como o fato típico ilícito e culposa,.
nalidade da respectivaJei e desencadeia as garan- pode-definir-se o fato tributário como o fato típico
tias individuais correspondentes. rei1ela~dor de capacidade contributiva. 10
Não cabe decerto no âmbito deste estudo a
delimitação do conceito àe capacidade contribu-
tiva ou a análise das cori~eqüências que dele de- b) Tipicidade e mandamento da norma tri-
correm para a própria estrutura do sistema fiscal. butária
Importa, todavia, salientar que ele se refere neces-
sariamente a uma capacidade econômica, a uma ( i) Fixação da medida do tributo
titularidade de riqueza, cuja expressão, sob qual-
quer forma, se pretende submeter a tributo. 7 Disse-se há pouco que a tipicidade respeitava
não só aos fatos como aos efeitos, não só às situa-
Pode o legislador escolher livremente as mani- ções jurídicas iniciais como às finais, não só à
festações da riqueza que repute relevantes para 'rupo..ese
• ,+ - que ..__
senao ...ç;m ao mand ament.. o. I m-
ui:tmi'h~
efeitos tributários, bem como delimitá-las por uma porta, pois, justificar o asserto.
que outra forma - mas sempre deverá proceder
a essa escolha de entre as situações da vida efe- A idéia de reserva absoluta de lei (formal ou
tivamente reveladoras de uma capacidade econô- material) envolve, como já várias vezes se afirmou,
mica e sempre a esta se há de referir na defi- que ela contenha em si não só o fundamento, como
nição dos critérios de medida do tributo. 8 também o próprio critério da decisão. Se o órgão
9. Cf. Perez de .Ayala, Derecho Tributaria, I, p. H9; v.
7. É a Besteuerung auf der Grundlage der wirtschaftliche porém, Vicente Arche-Domingo, "Consideraciones sobre el hecho
Leistungsfahigkeit de que fala BühJ.er, Steuerrecht, 2.ª ed., Wies- impombi:e-"', R. D. F. H. P., 1960, p. 559 e ss.; Dino Jarach, El
baden, 1953, I, p. 117 e ss. hecho imponible, Buenos Aires, 1943, p. 94.
8. C.f. Alfredo Augusto Becker, Teoria geral do Direito Tri~ 10. Cf. Berliri, Principii .. . , I, 2.a ed., p. 285; II, t. I, p. 222
b·utário, p. 239. e ss.
78 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO TIPICIDADE E N ORJYIA TRIBUTÁRIA 79

de &~~~~direito deve ter na lei nredeter- É certo que~ em casos, de resto pouco freqüen-
m~o~~~~údo da decisão, isto nã,o pode dei- tes, a alíquota é e úr.Jco elemento de quantifica-
xar desigilificar que o princípio da tipicidade-atua ção dos eieitos prescritos na norma: sucede isto,:;;,
integralmente na norma tlibutária, e.m todos os precisamente nos tributos fixos. Mas, sempre que
seus elementos, na previsão ou hipótese e na esta- o tributo seja variável, a referida quantificação
tuição ou injunção. pressupõe, para além da alíquota, ao menos outro
Se assim não fosse, isto é, se o princípio elemento que sir,ra como-ponto de referência desta.
da legalidade se esgotasse na declaração da- tri- Tal elemento quantitativo pode ser formulado
• ·1 · - d
ouwJ)L.lC!.a
1 • .ç t
e do .1.a o, t.enamos
, ~ .
que o re:::e:nuo
,.J pela lei independentemente do seu valor - seja
princípio' autorizava o órgão de aplicação do direito ou não concretamente avaliável em dinheiro ~
a, verificados certos fatos típicos, definir em_eon- antes com base noutro critério de medida, como
creto a medida do tributo a anlicar. Mas é de ver a supe:rficie, o volume ou o peso, de tal modo que
que semelhante entendimento""é incompatível com o quantitativo da prestação tributária decorrerá da
as mais ., 11
eiemem.,ares
L •
exigenc1as d e segurança JUl'l-
A • • , aplicação de uma taxa específica a cada unidade
dica. Procurando esta subtrair ao ór~ão. de de medida, com a qual a alíquota se conjuga
aplicação do direito quaisquer expressões de arbí- para determinar o quantum da obrigação tribu-
trio ou do seu puro critério subjetivo, natural se tária. Mais freqüentemente, porém, a lei adota
torna a exigência de uma cor1strução por tipos como elemento de quantificacão da dívida de
não só dos fatos tributários, mas também da medi- imposto 1.rma reatidãde avaliãvel em dinheirõ.
da dos tributos. E, desta sorte, são objeto de tipi- Ora, tal elemento faz irrecusavelmente parte inte-
ficação todos os elementos necessários à fixação grante do mandamento da norma, devendo assim
do quantmn da prestação tributária. estar submetido ao princíPio da tiuicidade. 11
0
- ~ k

De resto, a razão que levou a doutrina tradi-


(ii) Os fatores da medida do tributo: alíquota
cional a :re:ferir-se simplesmente à alíquota resul-
e base de cálculo ta de, na grande gellfil'alidade dos casos, a _for-
A doutrina tradicional refere-se exclusivamen- mulação das normas tributárias ocultar a uma
te à alíquota. Mas, à luz deste conte-xto, o proble- observação menos atenta_a individualidade-e auto-
ma deve ser examinado em termos mais amplos, nomia do elemento em causa. Perante uma norma
posto a alíquota ser apenas um dos elementos - que esquematica:µlente afirmava: "todo aquele
decerto o mais importante, mas não o único -
11. A distinção e!!tre fato geradm.~ e-base de cáiculo tem
que concorre para a qualificação abstiata da pres- raiz constitucional, como o lembra .Aliomar Baleeiro, Limita-
tação de imposto. Daí que se· suscite a seguinte ções Cunsiitucronais do poder de tributar, Rio, 1974, pp. 33-34.
dúvida: quais os elementos do mandamento da Que a base de cálculo pertence ao mandamento da norma tri-
butária foL demonstrado com raro brilho por Paulo de Barros
norma tributária que são objeto da tipificação? Carvalho. Teoria de Norma Tributária, p. 158 e ss.

6
80 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO TIPICIDADE E NORMA TPJBUTARIA 81

deve pres_tar x por cento Nesta linha de o:rienfação, o art 97 do Código


" - parecia não fazer sentido Tributário Nacional é expresso em submeter ao
que a mesma. realidade - no caso, a renda, principio da legalidade não só a alíquota, mas
pudesse ter um duplo significado e, portanto, uma também a base de cálculo (n. 5) equiparando à
dupla posição na estrutura da norma, como ele- maioracão do tributo a modificacão da base de
mento da hipótese e como elemento da injunção. cál~ulo .. que importe em torná-lo ~mais oneroso. 12
A verdade, porém, é que nem todas as nonnas
tributárias obedecem àquele figurino comum,
podendo assim ser diversos o aspecto objetivo do
fato tributário, isto é, o elemento da hipótese, e
o elemento que no mandamento desempenha o
papel de fator de quantfficação da dívida. Asshn,
.,..,...,,. exemp1 0 - para n:;í.n f~.l~r
1:''"'" .i. ·~---"- i~. rio VPÍhQ l "'llDO~.,_O
,,_. __ -· ., -- -- • -----~
0
.... "'"

sobre as portas e janelas, onde o fenômeno é por


Ili
demais evidente - o imposto municipal sobre
serviço de qualquer natureza tern como fato gera-
dor a prestação de um certo serviç-o, e cofftO base
de cálculo o preço do dito serviço.
Bem certo que um processo de total autono-
mização de um e outro elemento da norma depa-
rará sempre com os limites impostos pelo princípio
da capacidade contributiva, pelo que, em termos li'
li,
econômicos, e referido elemento de quantificaçfio r:,

funciona em regra como índice ou sub-rogado da


riqueza revelada pelo fato que se integra na hipó-
tese. Seja, porém, mero índice ou fato sub-rogadol
para a ciência econômica, certo é que ele se apre-
senta juridicamente dotado de real autonomia,
Assim, os aspectos materiais dos fatos tributários
(pressupostos objetivos, noutra terminologia) dis-
tinguem-se dos eiementos de quantificação da
dívida de impostolnsertos no mandamento, a base 12. Cf. Yonne Dolácio de Oliveira, Legislação tributária,
de cálculo. Tipo legal trfbutárto, S. Paulo, 1974, p. 143.
CAPíTULO VI

COROLÁRIOS DO
PRINCíPIO DA TIPICIDADE

§ 1.º. O princípio da seleção


a) Seleção e tipologia
O moniento primário do processo de tipifica-
ção no Direito Tributário - comum, de resto, a
toda a tipologia - é a seleção. O princípio da
capacídade contributiva fornece ao legislador o
quadro geral das situações tipificáveis, ao esta-
belecer que só as situações da vida reveladoras
de capacidade econômica são suscetíveis de tri-
butação. Cumpre, de seguida ao legislador recor-
tar, dentro do qua..dro assim definido, aquelas
manifestações de capacidade contributiva que ~f
repute deverem ficar sujeitas a i..-rnposto. 1 I'
,1
A tipicidade repele assim a tributação basea-
da num conceito geral ou cláusula geral de tributo,_
ainda que referido à idéia de capacidade econô-
mica, 2 da mesma forma que em Direito Criminal
1. Função seletiva da tipicidade, chama-lhe Maurach, De-
recho Peruzl, pp. 154-5, 172, 262; Bühler-Strickrodt, Steuerrecht,
I, p. 218: "Ein engangenes Gesetz, prãzisiert übrigens die Steue-
ransp:ruche auch in negativer-weise, -wenn es sich über diese
nicht deutlich genug ausspricht"; Sainz de Bujanda, "Funda-
mento del hecho imponible", Hacienda y derecho, ,Madrid, 1966,
p. IV, 429.
2. Cf. Von Wallis-Spanner, H. H. S., § 2 Steueranpassungs-
gesetz, nota 30, que fazem deriva.:f a aludida proibição do p-rin-
84 . ~IDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO COROL.<ill!OS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 85

não .,é" .. ·.. ···.· . . criminação com -base num é, circunscrevendo grupos particulares de casos
conceitô ou c1ausula geral de crii"lla Ao invés do na sua individualidade própria. 4 O método da
que sucede, por exemplo,.com o ilícito disciplinar, cláusula geral - tão caro aos Estados totalitários
os crimes e .os tributos devem constar de uma - não pode deixar de brigar com a própria essên-
tipologia, ou seja, devem ser descritos em tipos cia do Estado de Direito e, em especial, com os
ou modelos, que exprimam nma._escolha ou sele- valores da segurança jurídica que este encarna.
çào do legislador no mundo das realidades passí-
veis, respectivamente, de punição ou tributaçã,o. Em boa verdade, se- ao Estado de Direito repugna
À seleção, quer dos fatos, quer dos efeitos,
a célebre declaração do Governo soviético de
exerce um duplo efeito. Por um lado, a especifica- Munique, em 1919: "Toda a ofensa dos princípios
ção do·conceito geral a que o tipo se reporta, pela Tevolucionários será p:urlida. A .determinacão da
criação de uma pluralfüade de-modelos que repre- natureza da pena .cabe à livre discrição do juiz"
sentem todos eles expressões parciais de uma - hem decerto não repugnaria menos uma outra
única realidade, de que o conceito é a síntese. norma assim concebida: "Toda a manifestação de
Por outro lado, o preenchimento incompleto do capacidade contributiva será tributada. A deter-
mesmo conceito, pelo que a tipologia se distingue minação da taxa cabe à livre discrição dos ser-
da classificação, ao deixar fora do seu âmbito viços".
realidades que, se bem que aspectos do conceito
geral, foram precisamente excluídas pela atividade O conjunto dos tributos existentes em dada
seletiva do legislador. 3 Eor outras palavras: os ordem jurídica exprime, assim, necessariamente,
tipos tributários são todos eles emanação do con- o quadro das opções do legislador fiscal no mundo
ceito geral de tributo, baseado na idéia de capa- de todos os iates suscetíveis de tributação e de
cidade contributiva, mas não esgotam esse con- todos os efeitos que aqueles mesmos fatos possam
ceito.
abstratamente desencadear. Representa um ver-
b) Seleção e cláus.ula gerai dadeiro catálogo de fatos tributáveis e de medi-
das dos correspondentes tributos.
O princípio da seleção - inerente a qualquer
tipologia - contém em si um comando ao legis-
4. Sobre o método casuístico de elaboração das normas,
lador, segundo o qual este deverá elaborar as nor- suas relações com o princípio da tipicidade e o c,onceito de
mas tributárias por um método casuístico, isto cláusula geral, cf. Engisch, Introdução ao pensamento jurídico,
p. 188 e ss.; Iv.Iauraclr, Derecho Penal, pp. 283-4; Felix, Ermes-
cípio da separação de poderes, posto permitirem ao órgão exe- sensausübung im Steuerrecht, p. 27. Entre nós, ver o -estudo, em
cutivo funcionar como-lee~lador. · tantos pontos precursor, de Brandão Machado, Multas admi-
3. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade dos direitos reais, nistrativas e imposto de rendei, Resenha Tributária, 1973'; p.
pp. 4042 e 49; João de Castro Mendes, Direito Civil <Teoria
Geral), ·lições policopiadas, Lisboa, 1968, III, p. 119. 89 e ss.

1
f:
86 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUT-AÇÃO COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 87

. • do " numerus elausus'"" O fato tributário é necessariamente um fato •L


típico: e _para que revista esta natureza é indis-
pensável que ele __se ajuste, em todos os seus_ele-
O principio da seleção impõe a construção dos mentos, ao tipo abstrato descrito na lei.
. por tipos,
\IJ.rnuws
~·· .. mas nada -nos diz acetca dos A tipicidade do fato tributário pressupõe, por
caracteres de que se deve revestir essa tipologia. conseguinte, uma descrição rigorosa dos seus ele-
Ora, de entre as várias modalidades _l)ossíve-is de mentos constitutiv0s, cuja integral verificação é
• .J:
tipologia - a exemplificativa, a taxativa e a deli- inâispensável para a produção dos efeitos. Basta
mitativa 5 - a tipologia tributária é inegavel- a não verificação ãe um deles para_que não haja,
mente taxativa. A regra nullum tributum sine pela ausência de tipicidade, lugar_ à tributação.
lege alude, deste modo, não só à origem norma- O fato tributário, com ser fato típico, só existe
tiva dos tributos, com-0 tambem ao princípio do como tal, desde que na realidade se verifiquem
numerus clausus em matéria de impostos. todos os :Jilressupostos legalmente previstos que,
De harmonia com o princípio da taxatividade, por esta nova óptica, se convertem em elementos
os direitos tributários constituem um numerus ou aspectos do próprio fato. 7
clausus, de tal modo que o catálogo criado pelo
princípio da seleção delimit~, com rigor o campo b) Proibição da analogia
livre de tributo: e por isso tal princípio é uma Sendo, pois, o Direito Tributário todo mode-
verdadeira Magna Charta do contribuinte. lado pelo princípio da taxatividade ou do numerus
Para que um fato desencadeie efeitos tribu- clausus, ficam os órgãos de aplicação do direito
tários é, pois, indispensável a sua correspondên- - mormente o fisco - fortemente cerceados
cia aura dos tipos ou modelos de tributo criados na sua conduta. Pela já sL-rnples exigência
pelo legislador. Assim, o que caracteriza a tipici- de uma origem legal da tipicidade, se lhes-tinha
dade no Direito Tributário não é tanto a neces- delimitado o poder regulamentar; agora, com a
sidade da conformação do fato à norma para regra da taxatividade, se lhes limita mais ainda
que o efeito se produza - idéia subjacente à a sua livre capacidade de valoração e decisão. Na
opinião de Von Wallis 6 - posto tal conformação
ser comum a todos os ramos do Direito: antes 7. Geraldo Ataliba, Hipótese de incidência _tributá.ria, S.
Pãttlo, cit., Paulo de Barros Carvalho, Teoria de Norma Tri-
é o fato de os efeitos tributários se não produzi- butária, S. Paulo, 1974. Sobre os "elementos" do fato tributário
rem sem que essa conformação se reporte a nor- é essencial o estudo de Sainz de Bujanda, "Análisis jurídica
mas expressamente formuladas com a força e sob dei hecho imponible", Hacienda y derecho, Madrid, 1966, IV, p.
262 e ss. Veja-se também Dino _Jaracti_,..-EL hecho imponible,
a forma de lei. · Buenos-Aires, 1943, passim; Araújo Falcão, EZ hecho generador
de la obligación. tributaria, Buenos .Aires, 1964 (tradução em
5. Sobre a.s várlas-moãalidades ou espêcie!l __ de tipnk:gis.s língua castelhana de Fa;to gerador da-obrigação tributária, Rio,
cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade ... , p. 50 e s8. J..9M), p. 95 e ss.; Narciso Amorós, Derecho Tributario, p. 253
6. V. supra, Capítulo IV, § 1.º, a). · e ss.
88 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 89

ia de um numerus cl<V.I-SUS _ A previsão de novas situações tributáveis, para


.. _ _ do, o recu.rso à analogia - que além das encerradas no catálogo legal, guer iun-
-~ i:tª · nao seria que ~, abertura daquele dada.s na analogia, quer com base na iivre valo-
n~~ro, tundada embora numa igual raz~.o de ração dos órgãos de aplicação do direito são desta
dec·-··, vn<::t~ ni;;iieo
1 rh1"· 8 ................... ~ __..., a1·nda
• t oIhe - agora .d e outro
· .
sort e, estritamente proibidas nu...--na tipologia' taxa-
lado - a previsão de novas situações tributáveis 4" tiva, como a tributária. A conformacão das situa-
P?r obra da vontade do administrador ou do juiz "" ções jurídicas aos tipos .legais tributários é, pois,
ainda que lei ordinária as tiv-esse autorizado: ê absolutamente necessária: - mas será também
9-ue tal lei, .ao assim proceder, estaria ferida de suficient.e?
mconstitucionalidade, posto a legalidade assumir
no Direito dos tributos a configuração de ..uma
reserva absoluta de lei, de que (e ora este traço-se
revelam.ais saliente) o princípio da taxatividade é
R
~ ..
·3 o O princípio do exclusivismo
revelação. a) Exclusivismo e doutrina ãos tipos
. À luz destas considerações ganha, decerto,
mais clareza a observação d.e Bühler-Strickrodt A questão atrás colocada exige, decerto, res-
se_gundo a qual a aplicação da norma tributár~ posta inequivocamente afirmativa. Os tipos legais
nao pode ser deduzida de toda a ordem jurídica de tributos contêm em si os elementos indispen-
ante~ deverá ater-se à clara iormação legal, qu~ sáveis· ou necessários à tributação: é, já o vimos,
em .s1. m~~ma contém um indispensável critério de a regra do numerus clausus; os tipos legais de
decidir: Jede Besteuerungsnorm eine Massnabme imposto encerram em si os elementos suficientes
dars~ellt:. : " 9 É que uma tipologia taxativa, como à tributação: é - vê-lo-emos em àetalhe - o
a tributaria, opera, no seu âmbito· e-amo uma princípio do exclus·i:vismo.
plenitude iógica da ordem a que s~ refere, tor-
nando-a, do mesmo passo, completamente livre Por via deste princípio, os tipos legais de
de lacunas. 1 (} tributo contêm uma d-eserição completa dos ele-
mentos. necessários à tributação. E, se em verdade
8. Diz o art. 108, § 2, no Código Tributário Nacional que "o se afirma que só os fatos previstos na lei desenca-
e~prego ~a analogia não poderá resultar na exigência.. de tribnt.~
nao previsto na lei';. · --- deiam efeitos tributários, em não menor verdade
9. V. supra, p. 62. se afirmará que bastam esses mesmos fatos para
. l~. _ Quant~. à:; relações entre a existência de lacunas e o
pnnc1p10 da tip1c1dade, cf. Oliveira Ascensão A tipicidade o referido desencadear, com exclusão de quaisquer x
p. 57 e ~s. _P~ra nós, só J?Ode falar,se~daJ~ nos setores· d.a outros (e daí a designação por princípio do
ordei;n JUr1d1ca onde exista uma intenção de regulamentação
t?talizante.. Nos setores dominados pelo principio da tipi- exclusivismo) . Quer dizer: cada tipo tributário
cidade, tal mtenção não existe, ·não -cabendo pois falar de la- contém uma valoração definitiva das situaçées
cunas. Cf. no mesmo sentido Pérez de Ayala Gonzalez Garcia
Curso . .. , p. 54. ' jurídicas que são seu o})jetoJ para certos fins.
9() LEGÃ.LIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 91

. ,... · o encerra, uma vaioração de- destaque, como a irrelevância da vontade dos
finit .. . .. áde, o tipo não é mero índice de órgãos de aplicação do direito na. co:nfíguração
uma dada qualidade do fato - mormente a capa- dos tipos, pela_ modelação daquilo que se poderia
cidade contributiva - cuja descoberta implique de~ignar-pekr:seu conteúdo acessório. Semelhantes
outro ou outros pressupastos que a ele acresçam. intervenções - espeêialmente do administrador
Daqui resulta o erro da corrente designada, aliás - poderiam traduzir-se, por via de ato adminis-
com impropriedade, per "doutrina dos tipos" - trativo, quer em dispensar certos elementos do
ii:ttroduzida por Kur,t Ball e Enno Becka'~ que tipo, reputados acessórios, quer em acrescentar
visava superar a antitese entre o Dirito Tributário a este outros requisitos, também qualificados como
e o Direito Civil, pela configuração dos fatos secundários. Trata:r_-se-ia afinal de fenômeno aná-
tributários por traços econômicos típicos, em vez logo ao que se passa com certas tipologias, mesmo
da sua configuração tradicional por caracteres taxatiw.s, do Direito Privado - como a dos direi-
jurídicos. 11 Como diz Sainz de Bujanda, a tos reais - em que, não obsta..."1'1re tais direitos
fórmula.Jurídica não seria mais do que a presunçao constituírem um numerus clausus. -pode a auto-
da existência de uma dada situação econômica 12 1
nomia privada intervir relevantemente na fixação
a qual deveria ser autonomamente descoberta do seu conteúdo acessório. 14
ainda que partindo do elemento indiciário forne~ No Direito Tributário, porém, a tipologia é
cido pelos pressupostos legais. Como bem se com- dominada não só por um princípio de taxatividade
preende, a doutrina dos tipos não faz apelo ao como também por um princípio de exclusivismo:
tipo em sentido jurídico, mas ao tipo real, mero os elementos do tipo são necessários mas, simulta-
neamente, suficientes para a produção do efeito
conceito de ordem, de fronteiras fluídas, ao qual jurídico em causa. Opera-se assim o fenômeno
as realidades se não submetem, mas apenas se
que 9, lógica jurídica designa por implicação inten-
referem. 13
"1
1 ~!;ia 15 e que, como já se observou; se tràduz, e.rn
1, '
:i
~ j
b) Implicação intensiva e conteúdo acessório termos a..xiológicos, :eiLLo tipo conter uma valoração
"1
do tipo defínitiva da realidade, q_ue imprime caráter juri-
"' Para além desta conseqüência, o fato de o àicamente unitário ao fato descrito, com a cor1se-
tipo conter em si uma valoração definitiva da qüente impossibilidade de nele se descortinar
realidade, comporta ainda outras, merecedoras de qualquer elemento acessório. A tipicidade do Direi-
14. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade ... , passim, esp. p.
. 11. .Cf. Alberto P. Xavier, O negócio indireto em Direito 332.
Fiscal, Lisboa, .1971, p. 34 e autores citados na bibliografia, p. 15. Verifica-se a implicação intensiva sempre que os el"'"
47 ~ ss,; V.er .ainda Ruy Barbosa Nogueira, Da interpre-taçtfo e mentos enunciados no pressuposto não são apenas suficientes,
aplicaçao das leis tributárias, S. Paulo, 1974. o. 88 e ss. mas ainda necessários para a verificação da conseqüência:
12. Cf. Sainz de Bujanda, Hacienda y- derech.o, Madrid, segue-se se se verificarem, mas só se segue se se verificarem.
1962, I, p. 445. Cf. Castanheira Neves, Questão ·de-fato - Questão de direito, p .

1
.

13. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade . .. , p. 23 e ss. 264.


1 ·.
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92 LEGALIDAl>E E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO COROLÁ..RIOS DO !'RINCÍPIO DA TIPICIDADE 93

··to _ , àegundo certa terminologia, As normas tributá.rias. como normas de deci-


uma echada: contém em si todos os são material (Sachentsch~idungsnormen) visam
elementos para a valoração dos fatos e~produção pois a deli."Ilitar, na medida do -possível, a livre
dos efeitos, sem carecer de qualquer recurso a valoração e decisão do. administrador e do juiz.
elementos a ela estranhos -e sem tolerar qualquer Para tanto não basta a exclusão da relevância da
valoração que se substitua ou acresça à contida vontade destes órgãos na criação de tributos ino-
no tipo legal. 16 Nullum tributum sine lege é- bro- minados ou na modelação de um seu -:-conteúdo
cardo que igualmente exprime o imperativo de acessório. É ainda necessário que os elementos
- todos os elementos necessários à tributacã.o.
Que ~ hJ.tegrantes do próprio tipo - todos eles princi-
do caso concreto se contenham e apenas se con- pais - sejam de tal modo precisos e determinados
tenham na lei. na sua formulação legal,-:que o órgão de aplicação
1 do direito não possa introâuzir critérios-subjetives
1
§ 4.º. O princípio da determinação de apreciação na sua ~ação concreta. 18 Eis o
li
!-;
! 1
1 1
a) O princípio da determinação e as "normas que a segurança jurídica exige no domínio tri-
i: elásticas" butário: pois não ficaria seriamente abalada a
! regra nullum tributum sine lege, se.-na aplicação
O princípio da tipicidade da tributação vai, do Direito Tributário se pudesse recorrer a ele-
porém, ainda mais longe: exige que o conteúdo mentos ou critérios de valoração e decisão que não
da decisão se encontre .rigorosamente determinado
na lei. É o princípio da determinação (Grund- estivessem já contidos na própria lei?
satz der Bestimmthe_it) de que fala Friedrich. 17 O ponto, em boa verdade, foi bem sublinhado
Como já se \'ÍU, uma reserva absoluta de lei por Bühler e Spanner - recordemo-lo de novo
impõe que a lei-contenha não só o fundamento aqui; e a relevância deste princípio afigurou-se-
da conduta da Administração, mas também o
18. A exigência da determinação conceitual é sublinhada
próprio critério da decisão que, desta sorte, se por vários autores: Cf. Wurlod, Forme juridique-et réalité éco-
obtém por mera dedução da n0rma, limitando-se nomitp.uHians l'application-de&.lois_ fiscales, ·Lausanne, 1947 "La
précision ãe la loi est certainement le meilleur .garant -de la sé-
o órgão de aplicação do direito a nela subsumir o curité", p. 71; A. D. Giannini, I concetti fondamentali del diritto
fato tributário. tributário p. 20; ID., rr rapporto giuridico d'imposta, pp. 24-25;
M. S. GúÚmini, "I proventi degli enti pubblici minori e la ri-
16. Adota-se assim o conceito de tipicidade fechada de serva de la legge", R.D.F.S.F., 1967, p. 3 e ss.; Forte, "Note
Larenz. V. Castanheira Neves, Questão de fato - Questão de di- sulla nozione di tributo nell'ordinamento finanziario italiano e
reito, p. 257, nota 7. sul significato dell'art. 23.º della costituzione", R.D.F.S.F., 1956,
17. Cf. Friedrich, Die R:ilclcwirJcung_im Steuerrecht, S. W., r, p. 271 e ss.; Bartholini, n principio di legalità-dei tributi in ma-
1951, p. 106 (fazendo-o derivar da célebre regra de Adam Smith). teria ãi imposte, p. 79 e ss., que a faz derivar, incorretamente,
Também faz radicar o princípio nas regras-de Smith, Eicca dos princípios <ia. lgualdaàe e ..da autotributaçãõ; _Cocivera, Prin-
Saierno, "Le entrate ordinarie dello Stato", in Primo Trattato cipii . .. , p. 25; Dus, Considerazioni sulla ãiscrezionali~ nell'
Completo di Diritto Amministrativo a. cura di Orlando, Milão, accertamento tributaria, Zoe. cit., p. 243 e. .ss.~:M:ehl, Science et
1902, IX, pp. 180 e 188. . TMhnique Fiscales, p. 638.
COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 95
94 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO

Sabendo-se que o princípio-dalegalidade assu-


... ·. restringiram, decerto que arbi- miu.no Direito..Tribntário um conteúdo peculiar,
;<o próprio princípio da tipicidade. dado o influxo . dos ideais de segurança jurídica
O princípio da-determinaçãe converte, pois, - sabendo-se, por outro lado, _que a segurança
o tipo tributário num tipo rigorosamente _fechacfo: jurídica está r...a::cbase:cdo princípio da determinação
e tipo fechado não -só no sentido que lhe atribui - então importa concluir que existe um impera-
Oliveira Ascensão, de tipo que -exclui outros ele- tivo constitucional, dirigido ·ao -legislador ordiná-
mentos juridicamente relevantes que lhe sejam __rio, por força do qual este deverá formular os ele-
exteriores, de tal modo que o fato pode ter um mentos essenciais do tributo em termos "deter-
conteúdo extratípico modelado ,pela vontade (o minados''. Numa palavra: ao legislador ordinário
que é repelido pelo princípio do exclusivismo) 19 ; está vedada a utilização de conceitos jurídicos
mas também na sentido que lhe atribuem Larenz indetei.-minados em matéria de-incidência, de isen-
e Roxin, de tipo que oferece elevado grau de deter• ções de base de cálculo ou de alíquota.
minação conceitual, ou de fixação do conteúdo.
Isto é: de tipo quanto ao qual se verifica o fenô- b) Determinação da medida do tributo
meno da Typenzwang, como se exprime Wiaecker, Especialmente no que respeita à relevància do
ou da Typenfixierung} no dizer de Baur. 20 No Di- princípio àa determinação no mandamento da
reito Tributário material não teriam foro de cida- norma, cumpre desde já salientar que ele não
de as normas ':incompletas" ou "elásticas". como se esgota em excluir os tributos absolutamente
alguns já as designaram. 21 indeterminados. Se assim fosse, bastaria a mera
indicação por lei dos seus limites máximos, fi-
19. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade ... , pp. 63-65. cando o órgão de aplicação do direito investido
20. Citados por Oliveira Ascensão, A tipicidade .. , p. 63 e na ·função de individualizar o tributo, de modo
167. análogo à individualização judicial das penas
21. As "normas incompletas" refere-se Tesauro, Le giuri-
dizioni speciali e le commíssioni tributarie, Nápoles, 1956, p. 52;
dentro da moldura penal.
às -"mnmas elásticas" Zingali, "L'elasticità delle norme e la dis· -!Ias não é assim: o sistema~constitucional con-
crezionialità dell'amministrazione sui campo tributado" Riv.
Prat. Trib., I, 1960, p. 6. "In a taxing Act one has to look merely sagrou um sistema de "tributos fixos" (ou melhor,
at what is-clearly said. There is no room for any intendment. tributos com critérios fixos de medida) , por ..ana-
There is no equity about a tax. There is no presumption as to a
tax. Nothing is to be read in, nothing is to be implied. One can logia com o tão discutido sistema das penas
only look fairly at the language used". Cf. Barry Pinscrn, Re'oe- fixas. 22 O princípio da tipicidade, refletindo po-
nue Law, p. 642. Em sentido análogo se pronunciou em Portugal derosos ditames de segurança jurídica, traduz-se,
Armindo Monteiro. "No direitq .Fiscal a legalidade tem de con-
ceber-se em termos muito severos ... Dai o terüe conclUir-se que quanto ..ao mandamento da norma, na exigência
norma de imposto encerra, na ~sua letra, simultaneamente, tudo
o que pode ser pedido pelo Estado ao contribuinte e tudo o que 22. Sobre a proibição de penas arbitrárias, V. Maurach,
este tem_de dar àquele. Fora desta fórmula não -há direito ... " Derecho Penal, pp. !13-115; Engisch, Introdução ... , p. 171.
(cf. Introdução . .. , ·p. 130).

7
96 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO
1
i
1 COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 97

~terminação da sua medida. 1 rio estarmos a pisar terreno qu.e quase se diria
._ ·deste sistema. a justiça tri- ~.ugem. -
butá a e sempre uma justiça_estrita- Antes de ma.is, cumpre fazer uma observaçao
mente legal: prescindindo de um -esforço de in- fundamental: é que, ai bem dizer, não existem
dividuaiização _da medida ào tributo, r-eaUza-se conceitos absoluta e rigorosamente determina-
necessariamente por via dos próprios critérios __dos; e que, deparando com aquilo que já se tem
adotados peio 1egíslador para a sua definição designado por uma ''indeterminação imanente''
abstrata. de todos os conceitos, 23 se é forçado reconhe- -ª
E o ponto é tanto maisimportante quaI1to é cer que a problemática da indeterminação não é
certo, reconhecer largo setor da doutrina que de tanto de natureza como de- grau. Assim sendo,
verdadeira discricionariedade só se poderia falar_ não cabe--à lógica fornecer a noção de conceito
aí onde eY..istisse liberdade na fixação dos efeitos -indeterminado, mas só uma disciplina valorati-
jurídicos (Rechtsfolgeermessen) _: é que se a ~e.i, va, como o Direito, pode contribuir para delimi-
em vez de fixar formal e taxativamente os ere1- tar essa noção. Dado isto, a questão desloca-se
para estoutro plano: o que é para o Direitol em
tos jurídicos, se bastasse com uma delimitação abs.:- especial, o que é para o Direito Tributário um
trata do campo das decisões possíveis, o órgão conceito indeterminado?
de aplicação do direito ver-se-ia privado de qual- Posto assim o problema, bem natural se tor-
quer critério objetivo de decisão e a indetermi~ na que a sua solução repouse nos valores e nos
nação legal acabaria por traduzir-se em pura interesses que levaram à sua proibição neste ra-
autorização para agir. Ora isto, que é a essência mo do Direito. Recorde-se uma vez mais ser a
mesmo dos sistemas de reserva relativa de lei, segurança juríàica o fundamento do princípio
contraria claramente o princípio da legalidade da determinação; lembre-se mais uma_~vez que a
com o conteúdo restrito que assumiu no Direito . segurança jurídica se traduz na suscetibilidade
Tributário, por influência da segurança jurídica. de previsão-objetiva, por banda dos particulares,
_íf~s situaçõe5 jurídicas, de tal modo que es-
e) A noção de conceito indeterminado tes sejam protegidos na sua confiança quanto 1

Uma questão importa, porém, desde já dilu- aos direitos e deveres futuros; e, presentes estas 1
idéias, concluir-se-á naturalmente que a inde-
cidar: o que se entende por conceitos indetermi-
terminação conceitual relevante para o Direito !~
nados para efeito da proibição decorrente do
princípio da tipicidade? Tributário é precisamente aq_uela que afeta a 1

referida segurança jurídica, a mencionada sus- 'I


O ponto suscita as dificuldades próprias- à --ceti'oiliâade- de previsão objetiva. 1
teoria da indeterminação conceitua!, às quais 1

acrescem as decorrentes de no Direito Tributá- 23. Cf. Castanheira Neves, t;)'uestão de fato - QuesUfo tJ.e !
direito, pp. 135-136 (nota 8), 140-146, 158~ nota 3, 21-6, 256-7, 349. I_
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98 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TTPTCTl)AnE: 99

que - deve entender-se por jetivas, assentes na experiência comum, nas con-
co_ nado aquele-conceito empregado vicções gerais ou nüs ens-inamentos de uma
pela lei e na qual -e ó-Fgâo de aplicação do direi- ciência ou térn..ica.
to deva descobrir imediata, direta e -exdusiva- Numa palavra: a noção de conceito deter-
mente o conteúdo que, deste modo, é lógica e minado - construída como é sobre a de segu-
conceitualmente unívoco. 24 Houvera a participa- rança jurídica - abrange, para além dos
ção de elementos estranhos à própria lei, houve- conceitos determinados, em sentido estrito, os
ra a intervenção de momentos subjetivos e indi- conceitos lógico-objetivamente determináveis. Só
viduais na sua:aplicaç.ão_- pois logo aí se per- a partir do momento em que a concretização do
deria unívocidade conceituai e, do mesmo passo, conceito careça de uma valoração subjetiva, pes--
a segurança jurídica que dela não pode prescin- soal, do órgão de aplicação do direito - é que
dir. cessa a univocidade lógica do-comando, sem a qual
Tais conceitos determinados. podem ser des- . 'dºica nao
segv..rança jUn - h'a. 25
critivos ou normativ:os;--em especial, dos normati-
1: vos obedecem -ainda ao requisito da determinação
1
1'
i
tributariamente bastante não só aqueles a que
i
1
Engisch chama, por antonomásia, determinados
1 (como o de renda, de imóviel, de proprieda-
1'
de) , como ainda aqueles que, na terminologia do
mesmo autor, são os conceitos normativos em

li sentido estrito, em que é necessária uma valora-


ção para os aplicar no caso concreto: - mas nes-

l lil
''I
p,.
li·
,,
í1i
te caso só aqueles que cal'eçam de valorações ob-
24. Sobre os conceitos indeterminados, em geral, veja-se:
Engisch, Introdução . .. , pp. 173-4; Afonso Queiró, O poder dis-
cricionário, p. 100-e- ss.; Castanheira Neves, Questá<rY!e -tato -

t
Questão de direito, p. 402 e ss. No Direito Tributário, ver Bühler-
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