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Livros
Estatuto dos benefícios fiscais (esboço de um projeto), Lisboa, 1969
(em colaboração); Benefícios fiscais à exportação: limites e pers-
pectivas, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1969; Port1tgal
e a integração econômica européia, ed. Almedina, Coimbra, 1970;
Política. orça-mental e economin de mei·caclo: a exper·iéncia americana ,
elo após-guerra, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1970;
Sitbsídios pctra mn.a lei de defesa dn concorn~ncia, Cadernos cie
Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa, 1970; .Aspecto.s fnndamentai.s do
contencioso t·ributário, Cadernos de Ciência e Técnica Fiscal, Lisboa,
OS PRIHCIPIOS DA LEGALIDADE
1972; Goncecito e naturezn do acto tribittário, ed. Almedina, Coimbra,
1972 (dissertação de doutoramento em ciências jurídico-econômicas
na Faculdaue de Direito da Universidade de Lisboa); Econont'ia
E- DA TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO
de merendo e justiça social, ed. Empresa Nacional de Publicidade,
Lisboa, 1973; 11fanital de Direito F·íscal, I, ed. Almedina, Lisboa, 197'1;
Do 1n·ocerlimento allministraNvo, ed. José Bushatsky, São Paulo,
1976; Direito 'J.'ributário Internadonal elo Bnwil, ed. Resenha Tri-
butária, São Paulo, 1977; Do Lançamento no Direito Tribntário
B1·asileiro, ed. Resenha Tributária, São Paulo, 1977; Incorporação
rl6 socieclades e imposto de renda, ed. Resenha Tributária, São
Paulo, 1978.
Estudos e Artigos
010486
Os prjnçipios da. !eQalidade
e dà t1p1cldade da H''lbutaca
336.21:342 X3p 1978
INTRODUÇÃO . . . . . . . .. . .. . . . . .. . .. . .. . .. . .. . . . .. . .. . . . . 1
2
8 L,.EGA~LID/;_DE E 11_~1PICIDADE
O princípio da preeminência da lei (Vorrang ções do poder. Isto mesmo o revela a gênese do
des Gesetzes) , princípio da legalidade em sentido referido princípio que, tendo nascido no Direito
amplo, fórmula negativa ou regra da conformi- Tributário, veio a alastrar para o Direito Penal e
dade, traduz-se basicamente na proposição de que para todas as atividades administrativas, como a
cada ato concreto da Administração é inválido se imprensa, a polícia, a emigração, que constituem
-
e na medida em que contraria uma lei material;
'
as mais visíveis de todas as intervenções diretas
o princípio da reserva de lei (Vorbehalt des Ge- ( unmittelbarer Eingriffe) na esfera dos particula~
setzes), princípio da legalidade em sentido res- res.
trito, fórmula positiva, ou regra da compatibili- É certo, já o vimos, que a conjugação de
dade, surgiu originariamente com o sentido de várias correntes tendentes a submeter rigidamente
que cada ato concreto da administração que inter- a Administração ao Direito levaram a que o prin-
vém na liberdade ou propriedade do cidadão cípio da reserva de lei não se limitasse a abranger
- a chamada Freiheit-und-Eigentum Klause 2 - as aludidas intervenções diretas na liberdade e
carece de autorização de uma lei material, mas veio na propriedade dos cidadãos, antes tendesse a
mais tarde a evoluir no sentido de exigir a abarcar todo e qualquer comportamento do poder.
mesma autorização para todo e qualquer ato A verdade, porém, é que em face de inegáveis
administrativo, ainda que diretamente não con- exigências da vida moderna - sobretudo no domí-
tendesse na aludida esfera privada dos particula- nio econômico e. social - imperativos esses subli-
res. nhados por certas orientações políticas, levaram a
Se o princípio da preeminência da lei repre- que nos nossos dias se defenda uma administra-
senta muito mais a defesa da própria idéia de ção "livre da lei" (Gesetzesfreie Verwaztung) que,
generalidade - da volonté générale - numa fase sem embargo do respeito devido à preeminência
de evolução do poder administrativo concebido da lei, não carece de autorização legal para o
essencialmente como ampla esfera de autonomia desempenho das múltiplas intervenções a que se
ou mero âmbito de licitude, que a lei se limitava impôs, mormente quando realiza prestações
exteriormente a demarcar, já o princípio da reser- patrimoniais em benefício dos particulares (Leis-
va a lei desempenha basicamente uma função tungsverwaltung). 3 As concepções do Estado-
de garantia dos particulares contra as interven- -Providência, do Estado-social de Direito, do Esta-
do de Governo ou da Administração constitutiva
ilegalidade no ato administrativo, Lisboa, 1962, capítulo, I; Cas- conduzem assim a conceber a atividade de Admi-
tanheira Neves, Questão de fato - Questão de direito, Coimbra, nistração mais como de realização de certos fins
1967, pp. 351 a 422; veja-se ainda Marceílo Caetano, Manual de
Direito Administrativo, I, n. 14. Na doutrina alemã, veja-se a materiais, do que como mera execução do Direito;
excelerite exposição de Max Vi:ilcker, Der Grundsatz der Gese- e, deste modo, se robustece a originária função
tzmassigkeit und die Leistungsverwaltung, p. 18 e ss.
2. Cf. Ernst Hi:ihn, Aspekte Verfassungsmiissiger Besteue- 3. Cf. Vi:ilcker, Der Grundsatz der Gesetzmiissigkeit und
rung, Archiv für Schweizerisches Abgaberecht, 1976, p. 224.
die Leistungsverwaltung, passim.
LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 17
d.e garantia da reserva de lei, ou seja, de tutela Direito Tributário, revelando deste modo ser o
dos direitos subjetivos. princípio da legalidade menos exigente no âmbito
Seja qual for a posição que se tome em face da atividade administrativa em geral, do que no
deste problema, cumpre, porém, reconhecer que campo dos tributg§,,_'.tJom efeito, entre nós, enquan-
para uma larga corrente da doutrina - em que to o princípio da legalidade da Administração,
enfileiram, entre outros, juristas como Peters, consagrada no § 2çi do art. 153, se traduz numa
Huber, Wolff e Forsthoff - o princípio da legali- reserva relativa de lei formal, o princípio da lega-
dade reveste no Direito Administrativo o seu lidade, em matéria tributária, constante do § 29
conteúdo mínimo de urna simples regra de preemi- do mesmo artigo revela-se como uma reserva abso-
nência da lei. 4 luta de lei formal.
O Direito Administrativo brasileiro apenas pa- É o que demonstraremos adiante, ao examinar
rece exigir uma reserva de lei no que diga respeito os limites do Poder regulamentar no que tange aos
à criação de deveres - de conteúdo positivo ou tributos.
negativo, isto é, à "obrigação de fazer ou deixar de
fazer alguma coisa" a que se refere o § 29 do art.
153 da Constituição. Donde se pode inferir que § 2. º. Reserva de lei formal
também entre nós a atividade administrativa que
não se traduza na criação de limites à liberdade O princípio da reserv~:i. de lei, na acepçào mais
pessoal ou patrimonial dos subditos apenas se en- ampla que comporta, exprime - já o vimos ~
contra submetida à regra da preeminência da lei. a necessidade de que toda a conduta da Adminis-
Mesmo porém no terreno que lhe é privativo, tração tenha o seu fundamento positivo na lei, ou,.
importa sublinhar que o princípio da reserva da por outras palavras, que a lei seja o pressuposto
lei se reveste,• no Direito Administrativo em geral, necessário e indispensável de toda a atividade
de um sentido mais amplo do que o que assume no administrativa.
O aludido princípio é ainda suscetível de
4. A doutrina alemã que mais de perto se tem debruçado mais amplo desenvolvimento, cumprindo distin-
sobre o tema, encontra-se profundamente dividida. Assim, en· guir vários tipos de reserva, atendendo, por um
quanto uns continuam a defender a necessidade de autoriza-
ção legal (Maunz, Turegg, Jesch, Imboden, Merkl, Antoniolli), lado, ao critério da fonte de produção jurídica e,
outros sustentam que tal autorização só é exigível quanto às por outro, ao critério do grau de determinação da
intervenções diretas na esfera dos particulares (Peters, Huber, conduta fornecido pela própria lei.
Wolff, Forsthoff, Kruger), enquanto uma terceira corrente, em--
bora negue a reserva de lei, exige a vinculação aos princípios
constitucionais do Estado social de Direito (Bachof, Hamann, Encarando a realidade sob o prisma da fonte
Spanner, Stern e Reuss). Veja-se uma exposição detalhada destas
doutrinas em Max Võlcker, Der Grundsatz der Gesetzmtis- de produção jurídica, a reserva de lei distingue-se
siglceit ... , p. 86 e ss. e Plõssl, Zusicherungen von Verwaltungs- em reserva de lei material e reserva de lei formal.
behorden, Munique, 1964, p. 96 e ss.; refere-se ao problema Cas-
tanheira Neves, Questão de fato - Questão de direito, p. 371. J\fo primeiro caso, bf;lsta que a conduta da Admi-
CP..,RACTEf(.ES
t7
º A do direito con.suetudinário éJ com efeito,
urn.a das conseqüências típicas e imediatas do princípio da le-
galidade. 1.l. Lõhlein, Díe Verfassungs.rechtliche Zuldssigkeit ... ,
pp. 160-1, Eckhardt-Hillebrecht, Problematik rückwirkender
SteEer{)G~etztJ Co1-Dnia 19GO, pp. 51-35; SpannerJ
1 § 2, notas
27 e 32; Bühlei·-Strickrodt, Steuerrecht, I~ p. 55; Kruse, Gesetz~
-miissige TTerwaltung, Tatbestandsmêissige Besteuerung, loc. cit 7
pp. 104 e ss. e 112, ID., Steuerrecht, I, p. 64; Paulick, Lehrbuch ... ,
p. 84; Jaime Basanta de La Peüa, "Las fue11tes DO escritas del
Derecho Tributario y el derecho supletorio escrito", XIX Sema-
nas de Estudios ele Derecho l'v'!:adri.d, 1972, p. 273 e ss.
e Vejam-se contudo as reservas de Jaenke, Rechtssicherheit im
Steuerrecht, Zoe. cit., p. 52 e ss., invocando que o direito con-
suetudinário não se opõe ao principio da segurança jurídica e
retomando assim as considerações de Kruse, Ober Gewohneits-
recht, S. W. 1959, p. 213. Na Alernanha tem-se também discutido
a sua. da admissibilidade de outras fontes não legais do Direito Tribu-
tário (Ungesetzes Recht), como o princípio da eqüidade (Billig-
5. Gerd "\filº Rothmann adoia u:n conceito r.o.ais restrito de keit) e o princípio da boa fé (Treu und Glauben). A orientação
1e1 formal, identificando-a com a lei proveniente do Poder Le- dominante é no sentido de lhes recusar a natureza de fontes de
gislativo. Cf. O da legalidade, Direito Tributário, 5." direito, valendo apenas no âmbito das relações concretas
Colçtânea, S. Paulo 1 1973, PP~ 153-154. entre as partes. Cf. Lõhlein, Die Verfassungsrechtliche Zulêis-
6. Trata-se da sentença proferida no célebre caso Me Cul- sigkeit .. . , p. 190 e ss.; Kruse, Gesetzmassige Verwaltung .. . , cit.,
loe;h v. Maryland, 4 W. H. 316. Cf. Bernard Schwartz, A Commen- p. 101 e ss. Veja-se ainda estudo de Valentin Rodriguez y
tary on ihe Constitution of United States, Part* 1: The Powers Vazquez de Pra.da, "La equidad como fuente del Derecho 'l"ri-
of Government, IVIac IVIilan, Ne-\v York, 1963, p. 47; c+risvvold, butario", XIX Semanas de Estudios de Derecho Financiero ..
Fecleral Taxation: Cases and Materials, p. 24 e ss. rvradrid, 1972, p. 523 e ss.
:G I~A
"
1. .1 Sobre a crítica a esta expressão ver Yonne Dolacío de
Legislação Tributária. Tipo legal Tributário, Comentá-
rios ao Tributário Nacional, vol. 2. 0 , S. Paulo, 1974, pp.
131-4.
12. Cf. Gemido Ataliba. O Decreto-lei cit., p. 25. Aí se
define "lei" neste sentido como a norma jurídica só subordina-
da à Constituição, produzida pelo Poder Legislativo, com a co-
laboração do Presidente da República, na forma do processo
legislativo, com força vinculante geral, capaz de obrigar todas as
pessoas submetidas à ordem jurídica brasileira a fazerem ou
deixarem de fazer alguma coisa. Cf. A. Baleeiro, Direito Tri-
butário Brasileiro, 6.ª ed., Forense, p. 356.
.,
1 LL Cf. Geraldo Atalib::i, op. cit., p. 66 e ss.
3
DA
3-B
28 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 29
dentro do campo dos "elementos essenciais" dos ponto central da argumentação do autor traduz-se
tributos. em negar que os regulamentos, no direito positivo
Deve ainda observar-se que esta margem de brasileiro, tenham sequer aptidão para criar deve-
liberdade regulamentar só é admissível se a res tributários instrumentais; e em afirmar que,
própria lei estabeleceu os respectivos limites - mesmo cingidos à sua estreita faixa de atuação,
em especial o limite máximo - de tal sorte que vinculariam apenas a Administração, mas não
se apenas tiver estabelecido limite mínimo não assim os particulares. E isto basicamente pela in-
pode admitir-se a outorga da faculdade em terpretação conjugada de dois dispositivos da
causa. 21 Constituição: o art. 153, § 2. 0 , segundo o qual "nin-
guém será obrigado a fazer ou deixar de fazer al-
(ii) O regulamento e os deveres instrumen- guma coisa senão em virtude de lei" e o art. 81, n.
tais III, "in fine", nos termos do qual compete priva-
Para além do mencionado campo dos "ele- tivamente ao Presidente da República "sancionar,
mentos essenciais" do tributo, onde o decreto do promulgar e fazer publicar as leis, expedir decretos
Poder Executivo pode excepcionalmente atuar, ele e regulamentos para a sua fiel execução".
poderá intervir nas demais áreas do Direito Tri- A ponderação desta doutrina - que não po-
butário, nos termos e limites que são próprios demos aceitar - obriga-nos a desenvolver o nosso
do regulamento de execução e que o art. 99 do pensamento a respeito do verdadeiro significado
Código Tributário Nacional sintetiza estabelecen- da reserva de lei constante do § 29 do art. 153 da
do que "o conteúdo e o alcance dos decretos res- Constituição, bem como sobre a distinção entre
tringe-se ao das leis em função das quais sejam regulamentos, em sentido próprio, e simples ins-
expedidos, determinados com observância das truções. É o que fazemos de seguida.
regras de interpretação estabelecidas nesta lei".
Esta conclusão foi recentemente combatida (iii) Limites do poder regulamentar: o § 2. 0
pelo Doutor Roque Carraza 22 , em dissertação que do art. 153 da Constituição como reserva
em vários pontos retoma e desenvolve um ensaio, relativa de lei formal
vigorosamente original, de Geraldo Ataliba 23 • O Concordamos em que o Direito Constitucional
21. Fábio Fanucchi, Curso de Direito Tributário Bra-
brasileiro apenas acolhe a figura do regulamento
sileiro, vol. I, 3.ª ed., 1975, p. 127. de execução ( secundum Zegem), não admitindo os
22. Cf. Roque Carraza, Contribuição para o estudo do Re- chamados regulamentos independentes ou autô-
gulamento no Direito Tributário Brasileiro, dissertação de dou-
1 toramento na PUC, inédita, 1978 .. nomos (praeter legem) 24. Mas não vamos ao ponto
23. Cf. Geraldo Ataliba, Decreto regulamentar no sistema
brasileiro, na Revista da Universidade Católica de São Paulo, 24. Cf. Oswaldo Aranha Bandeira de Mello, Princípios
vol. XXXVII. gerais de Direito Administrativo, vol. I, Forense, 1968, p. 313.
E TIPICIDADE r~P"-
#
j
regu-
conse-
e comJênios
Duas
30. Sobre a natureza das como
no simples n1andamento de uma normci. está
descrita na (''atc;s norrnativos , ver
Geraldo Ataliba, de Direito Tributário", Interpretação
27. Cf. Oswaldo A. Bandeira de 11/fello, Princípios .. ., cit., de Direito Tributário", pp. 136-7.
p. 313. Não assim noutros ordenamentos, como na Itália em que 31. Cf. José Souto Maior Borges, Lei complementar iri-
é autorizado o regulamento ministerial. Cf. Berliri, Principii . .. , S. Paulo, 1975, p. 168 o chega mesmo a falar num
pp. 62 e ss. de reserva de (p. 169).
28. Cf. Hely Lopes Meirelles, Direito Administrativo Bra- 32. Cf. Souto Maior Borges, op. cit., p. 171; G. Ataliba,
sileiro, 6. ed., S. Paulo, 1978, p. 153.
0 "Pontes de Direito tributário" in Interpretação do Direito tri-
29. Idem, pág. 34. butário (Saraiva, p. 133).
CARACTERr:s I_j!1~GALTD.AD.E
e1n
decisão no caso con-
o mas
35. Cf. Kruse, Steuerrecht, I, p. 30; Sainz de Bu.janda, Ha-
cienda ·y derecho, Madrid, 1963, III, p. 166; Linares Quintana,
El poder impositivo y la libertad individual, p. 180; Bernardo
Ribeiro de Morais, Sistema Tributário da Constituição de 1969,
S. Paulo, 1973, p. 496. Em Itália, porém, o princípio da legalida-
de, constante do arL 23.° da Constituição, segundo o qual
nenhum tributo pode ser estabelecido "se non in base alla legge"
parece limitar-se, segundo uns, a uma simples reserva relativa;
contrapartida, cf. Michelli, Lezioni di Dirito Tributaria, p. 18 e ss.; Berliri.,
a 1e1 nao tem que fornecer necessariamente o Frincipíi .. , 1952, I, p. 27 e ss.; M. S. Giannini, Le obbligazionni
critério decisão no caso concreto, que o legisla- pubbliche, p. 66; Amatucci, L'interpretazione della norme di Di·
ritto Finanziario, pp. 91-92. Contra: Liccardo, Introduzione allo
dor pode confiar à valoração do órgão de studio del Diriito Tributaria, p. 34 e ss., esp., pp. 36, nota 32, e
aplicação do direito - o administrador. 34 253-4, baseado na necessidade de sua interpretação em função
do fim de proteção da liberdade e da propriedade individual;
Alessi-Stammati, Istituzioni .. . , p. 15; A. Dus, "Considerazioni
33. CL Geraldo Ataliba, op. cit., p. 137. sulla discrezionalità nel'accertamento tributario", R. D. F. S. F.,
34. Cf. os autores citados supra-referidos. 1960, p. 241; Cocivera, Principii .. ., I, p. 23 e ss.
E DA CARA_CTE!:\"ES
2L
38
35. Gerd W. Rothmann, O princípio da legalidade tributá· tano, p. 54. Neste sentido também M. S_
riap in Direito Tributário, 5~ª Coletânea, S. ::Paulo, 19'73, p. 154; zione e rintegrazione delle le;;rge
Yonne Dolácio de Oliveira . Legislação Tributária. Tipo leg-al 77-73. A favor da .h:::t.lvt:::,r...,a., corri :base
Comentários ao CTN, vol. 2, S. Paulo, 1974, p. 138.
Quar;to à proibição da analogia como conseqüência
e
nello
da especial formulação do princípio da legalidade no Direito , R.D.F.SºFi_} 1954~ I} P~ 139~
dos Impostos V. Kruse, Gesetzmassige Verwaltung, Tatbestads· Amatucci, [,',fntr-:r-nrP.ta?.inv.P. delle nornic di Diritto Finanzi.cr.rio;
mêissige Besteuerung, Ioc. cit., p. llO, esp. p. 123 e ss.; ID., p, 51 e ss., sua admíssibiJidade com a função
Steuerrecht, I, p, 71 e ss.; Paulick, Lehrbuch des allgemeinen
de sü11ples reserva relativa de lel formal desempenhada pelo arL
Steuerrechts, p. 102 e ss.; Berliri, Principii . .. , I, 2." ed., p. 143
23. 0 da italiana; Ingrosso, Diritto Finanziario, pp.
e ss.; ID., Corso istituzionale .. . , I, p. 19 e ss.; Cardoso da Costa, 293-1.
Curso ... , p. 197 e ss.; Soares Martinez, Direito Fiscal (lições
policopiad.as), Lisboa, 1968, p. 110; Alberto P. Xavier, O negócio 33. CL sobre a proibição de discricionariedade, Alberto
indireto em Direito Fiscal, Lisboa, 1971, p. 39 e ss. Todavia, para Xavierv J_)o lançaniento 110 Di;eito Tributário Brasileiro; S. Paulo~
IVIicheli a proibição da analogia não resultaria do princípio da 1977, pp. 157 e ss.
legalidade, concedido como mera reserva relativa de lei, mas da 39. Cf. Flume 1 Steueruiesen uncl Rechtsordnung, p. 31 e
própria estrutura da norma jurídica tributária, verdadeira norma ss.; Günther Felix, Ermessensausübung im Steuerrecht, p. 16, que
de fattispecie exclusiva, cuja rigidez a tornaria só raramente distingue as verpflichtenden Gesetzesbefehlen das Ermachti-
suscetível de aplicação analógica. Cf. Lezioni di Diritto Tribu- gungsnormen.
'~
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1
i CARACTERES DO PRINCÍPIO DA LEGALIDADE 41
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V
4ü LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO
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A verdade, porém, é que tais concepções foram
gradualmente perdendo o seu vigor inicial: mesmo
no campo do Direito Público, as exigências de uma
atuação administrativa pronta e flexível, para
além de considerações de moralidade e eqüidade,
vieram alargar progressivamente o âmbito do poder
discricionário; e, no próprio Direito Penal - onde
as reações ao subj<etivismo do juiz foram por-
ventura maiores - cedo se substituiu o sistema
de penas fixas, por outros que, atendendo à culpa-
bilidade, voltavam a alargar o campo de livre
ap11eciação do julgador.
40. Cf. Montesquieu, L'sprit des lois, Livro VI, Cap. II, Livro
XI, Cap. VI; Afonso Queiró, O poder discricionário, pp. 21, 22,
45 e 154; Engisch, Introdução ao pensamento jurídico, 2.ª ed.,
Lisboa, 1968 (trad. de Baptista Machado), pp. 170-1. Os órgãos
de aplicação de direito seriam Subsumptionsautomaten, na ex·
pressão de Von Wallis-Spanner, H. H. S., § 2 Steueranpassungs-
gesetz, nota 9.
1
41
· ~.·]
i;
í,
CAPíTULO iH
4
4S LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA 49
1proteção da confiança (Vertra- cipios da legalidade e da segurança jurídica -
.ndamenta-se, por um Ja.do; nos verta frustradas as suas f.unções mais essenciais. ·1
valores da segurança jurídica em geral e, por É evidente aue uma tomada de nosieão nesta
& - • ~
outro, no papel específico que €Ste desempenha matéria. depeTide de opções bem mais vastas quan-
num sistema fiscal de uma economia de mercado. to à oxganização da vida em sociedade, que se
Um e outro destes aspectos têm sido, porém, tornaria agora impossível discutir. Mas não será
postos em causa por certas orientações, cujo traço decerto inoportuno sublinhar não serem admis-
comum está em reputarem tais funda1nentos in- síveis quaisquer confusões entre o Estado de Direi-
compatíveis com as novas taref;.:!,s que ao Estado to e o Estado demo-liberal, que foi apenas um
moderno cumpre prosseguir. modelo histórico em que o primeiro se concreti-
No que toca à certeza jurídica em .geral, e zou; e que à essência do Estado de Direito per-
em especial no terreno do Direito Público, importa tence inegavelmente o princípio de segurança
. 'd"ica. B em se sabe ser est e su:rcet:rve1
JU:rl F . •
a.e varias
' , •
"pe...ra que a Administração subsidiários: só que essa correlação deve ser ten-
tad-a , na-o pe-la u~~..,......;;::~ u-le porle:>"l"i::>>:! .-li;;:f•-;·i-r.:i-~na' -
:unstâncais - P~tabelecesse u1n !llJ.J..J..&J~~GU
......,_...,,....._ - - - - - ' - ' - - - -
rios, suscetíveis de se traduzir num·· decisionismo
imposto ou alterasse os seus elerrrentos essen- fiscal arbitrário, mas pela cor...strução de um sis-
ciais. 11 tema que comporte em si os automatismos ade-
Não pode deixar de reconhecer-se que a alu- quados a uma política fiscal compensatória.
dida orientação teve certo acolhi.."'l'lento nos países Em vez de critérios administrativos de adap-
ocidentais, sobretudo no período imediato à gran- tação dos instrumentos fiscais à conjuntura, ter-
de depressão dos anos 30, dando origem a viola- -se-iam critérios legais que, na definição do siste-
ções, mais ou menos claramente reconhecidas, ma tributário em conjunto e dos elementos es-
dos princípios tradicionais da legalidade e da se- senciais de cada tributo, deveriam_ter em conta a
gurança jurídica em matéria de tributos. Tufas sua capacidade de _:reação au.to;m{itica enrsentidu i:,:;
também importa n5.o esquecer que nos anos mais inverso ao da conjuntura. É aquilo que off-autores '''I
i
recentes se depara com fortes correntes no senti- anglo-saxônicos designam por built-in-flexibility.· 12
do de uma revisão dos pressupostos em que tal O princípio da legalidade, como reserva abso-
orientacão assenta. tentando demonstrar que
~ -; - - não luta de lei, não só não se revela incompatível com
só o princípio da legalidade é compatível com as as modernas políticas econômicas, como é o que
modernas políticas econômicas, mas também re- melhor se coaduna com os princípios em que as-
presenta importante fator positivo de estímulo a senta uma livre economia de mercado.
uma expansão equilibrada das economias. Com efeito, a livre iniciativa, exerce-se atra-
vés de planos econômicos elaborados pelos empre-
Ganham, com efeito, cada vez mais relevo ~is sários para um dado período e nos._quai~ se reali-
orientações no sentido de nm regresso à char.aada za uma previsão, mais ou menos empírica, dos
"ortodoxia financeira", que envolvem não só a custos da produção, do volume dos investimentos
idéia de que o imposto não deve alhear-se dos adequados à obtenção de dado produto e da ca-
seus objetivos tradicionais, de índole estritamente pacidade de absorção do mercado. Tsl previsão
fisca,4_como aL-ida a de que na int.ervenção de es- não pode deixar de ·assentar na presunção de um
tabilização conjuntural se deve recorrer predomi- mínimo de condições de -estabilidade, dentro do
nantemente às políticas monetárias, de utilização que a normal margem dos riscos e incertezas ra-
mais rápida e reversível, do que aos instrumen-
tos tributários. Certo, estes não podem afastar-se zoavelmente comporte para o horizonte de plane-
do sistema econômico em que se inserem, nem 12. Cf. sobre estas orientações Alberte P. Xavier, Política
dos -objetivos da política econômica, de que são orçamental e economia d.e mercado: a experiência americana
do após-guerra, Lisboa,. Hl70; Saira: de Bujanda, "El Dereeho,
11. Anmaga de Navasqués, "El principio de.lega.lida.d y la instrumento de política económica: defensa del principio de
fl.e:rlbilldad fiscal discrecional", XIX Semanas de Estudos de legalidad tributaria", Hacienda y derecho, :h/f...ad:rid, 1962, II, p.
166 e ss. 1ler Pi.mbém vol. !, Madrid, 1962, p, 430 e ss.
Derecko Financiero, Madrid, 1972, p. 473 e ss.
IJ
-.-· i.•1
-i·.l li
•1
54 LEGALIDADE E TIPIC!D"A.DE DA TRIBUTAÇÃO
LEGALIDADE E SEGURANÇA JURÍDICA
55
~&11a.. O planejamento empresa- em estreita relação, os princípios da segurança
-i ~;""
rl. al ' po'.I"·· ""1--'Ç; "' .fm'n..:;..;..,+1·..,.., "'r1·varl::i
iQr,.' --\J.i.~U Vr.e;.4,i> .P
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jurídica, da legalidade e da igualdade. 14
põe assim uma possibilidade de-previsão objetiva e
esta exige, por seu turno, uma segurança quanto A lógica de uma economia de mercado conduz
assim a uma reserva absoluta da lei-no ten1:::no
aos elementos que a afetam. É sabido que o volu- tributário, posto que uma livre apreciação admi-
me dos tributos - dado o papel que assumem na nistrativa d'as situações tributáveis e do grau de
economia global·--- representa para a empresa -não sua tributação não se revela compatível com as
só elevada percentagem dos seus custos de pro- instituições fundamentais daquele t.ipo de econo-
dução, como determina as dispmübilidades que, mia: a propriedade privada, que importa delimitar
no mercado, representam procura para os seus "rigorosamente, frente às pretensões fiscais do Es-
produtos. Um sistema que autorizasse a Adminis- tado; a iniciativa privada, que supõe t...Tffia rígida
tração a criar tributos ou a alterar os elementos fixação legal dos elementos essenciais do tributo, ;:1
essenciais de tributos já existentes, viria do mes- em ordem a uma previsão &imp-ies e objetiva dos :1
1il
1
_.i!. .· mo passo a criar condições adicionais de insegu- encargos tributários da empresa; e ainda a con-
1 !:
rança jurídica e econômica, obrigando a uma corrência, que pressupõe uma igualdade que -só a j li
li constante. revisão dos planos individuais, à qual lei pode facultar.
a livre iniciativa não poderia resistir. Pelo contrá-
rio, um sistema alicerçado numa reserva absoluta
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de lei em matéria de impostos confere aos sujeitos
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econômicos a capacidade de prever objetivamente
; os seus encargos tributários, dando assim as in-
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ii
dispensáveis garantias requeridas por nma inicia-
tiva econômica livre- o responsável. 13
1 De outra parte, a concorrência pressupõe a 1
!
igualdade em face da lei, e esta não pode obvia-
mente ser garantida se a Administração fiscal
dispuser nas suas mãos de poderes de clecisão que
lhe permitam uma aplicação "individualizadora"
da lei de imposto. Por esta forma ainda se aliam,
13. Nissen, "Die Steuerliche Vorschriften des Gesetzes zur
Forderung der Stabilitãt und des Wachstuxns der Wirtschait",
Betriebsberater, li166, p. 787 e ss. (apud Spanner, H. H. S., § 1,
nota 14); Sainz de Bujanda, Hacienda y derec-ho, III, p. 378 e
ss. 14. Cf. Alberto P. Xavier, Subsídios para uma lei de defesa da
coru::orri;n;:;'w,, Lisboa, 1970, pp. 25-26.
CAPÍTULO TV
O PRil'fCíPIO DA TIPICIDADE
NA DOUTRINA
dispensável à plena compreensão do papel ocupa- delo, tipo ou Tatbestand previsto na iei. 3
do pela vontade na aplicação da norma tributá- ''
'
,,
ria, ou seja., .à plena compreensão do conteúdo do b) Tipicidade e obrigação de-cobrança ít
1·
ato administrativo em que o lançamento se traduz.
Outros autores, porém, encarando o mesmo
a) Tipiciàade e adeqitação típica fenômeno .sob um ângulo diverso, não concebem i
já a tipicidade como um atributo do fato - tri-
Fai, como se sabe, Albert Hensel quem pela butável - mas como uma característica da ativi-
primeira vez atribuiu ao Tatbestand tributário dade da Administração de aplicação da norma
lugar de -relevo na dogmática do Direito Fiscal, tributária e de cobrança do :ilnposto, que assim se
definindo-o como o conjunto dos pressupostos aproxima -ou se confunde com o mais tradicional
abstratos contidos nas normas tributárias mate- princ-fpio da legalidade. A tipicidade seria, J>Ois, o
riais, euja verificação concreta desencadeia efei- princípio pelo _qual os tributos só pr-..r.!erão ser
tos jurídicos determinados. 2 oobrados quando a lei o ·autm.ize e, portanto,.
1. Cf. Kruse, Gesetzmassige Verwaltung, Tatbestandsmiis- quando se concretiza a hipótese (Tatbestand) des-
sige Besteuerung, "Vom Rechtsschutz im Steuerrecht", Düssel- sa mesma iei.
dorf", 1960, p. 97.
Dentro desta linha de orientação, alguns, co-
2. Cf. Hensel, Steuerrecht, 2.• ed., Berlim, 1927, p. 43: "Als
Steuertatbestand bezeichnen wir die gesamtheit ãer in dem ma- mo Wacke, confundem-no pura e simplesmente
teriellen Steuerrechtsnormen enthalten abstrakten Vorausset- com o princípio da legalidade, 4 enquanto outros,
zungen, bei deren konkreten Vorliegen (Tatbestandsverwirkli-
chung) bestimmte Rechtsfolgen eintreten sollen". Cf. também 3. Cf. V"on Wallis, H. H. S., § ~sungsgesetz,
Diritto Tributo.rio (trad. it.). p. 72 e ainda "Der Einfluss des nota 6.
Steuerrechts auf die Begriffsbildung des õffentlichen Recht",
Veroffentlichung des vereinigung des Deutschen -Staatsrechts- 4. Cf. Wacka..--Gesetzmãssigkeit und Gleichmassigkeit, S.
lehre, Helft 3, Berlim e Leipzig, .1927, p. 90. W. 1947, p. 26 e ss.
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60 LEG.ALID~4..DE E
DA TRIBUTAÇÃO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE U.!.
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lli os impostos não poder.a ser cobrados sem funda- -gotar"'-se-ia na afirmação de que os impostos de-
mento legal, mas ainda a de que a Administra- vem ser criados por fontes revestidas da natureza
i ção_ está vincuJada a cobrar o ilnposto Quando se de lei formal. O principio da tipicidade já não
preencheu a previsão legal e portanto
tuiu a dívida de imposto. 5
consti- se respeitaria, porém, à legitimidade formal da nor-
ma tributária, mas ao seu conteúdo material.
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1vfas já para outros autores o princípio da ti- Assim, para Bühler, s seguido por vários auto-
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r picidade não seril!- identificável com o principio res, 9 ele traduzir-se-ia no princípio de que aj\g-
J-;-; da legalidade, nem se reconduziria a um mero ministração fiscal não deve ter em mãos cláusulas
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aspecto deste: se a tipicidade é a característica gerais para a exigência de impostos, antes as cir-
pela qual os impostos só podem ser cobrados cunstâncias de fato de que depende o tributo de-
quando a lei o autorize, o princípio da legalidade vem estar fixadas o mais rigorosarnente possível
seria substancialmente diverso, reportando-se numa formtilação legal - o Taibestand. Desta
para Lademann à exigência constitucional de sorte, deveria o legislador deixar expressos os pres-
uma reserva de lei formal 6, exprimindo para supostos da obrigação tributária mediante unia
Kruse e Hõppner a obrigação de cobrança de im- formulação precisa de cada um àos seus ele:men~ ! ·;
posto por parte da Administração, estabelecida :no tos, com a co:nseqüência da ilegiti..-rnidade consti-
§ 204 da Abgabenordnung. 7
tucional não só das cláusulas gerais vagas - tão
freqüentes no Direito da polícia - como também
e) Tipicidade e determinação normativa da concessão de uma margem de discriciona.rieda-
Depara-se ainda. na doutrina alemã com uma de em matérie. tributária.
terceira corrente, pa1·a a qual o princípio da tipi- De igual modo para Spanner o princípio da
cidade não i-espeita a uma ca:racter:fstica dos fatos tipicidade funcionaria como um i1:_11perativo diri-
tributários, nem tão pouco a um atributo da
8. Cf. Bühler, Steuerrecht, I, p. 122; !D., Princípios de De·
vidade admirlistrativa fiscal; antes traduziria recho Internacional Tributaria (traduç?c0 castelhana), Madrid,
uma exigência a que deveriam obedecer as pró- 1968, pp. 144-145.
prias normas tributárias materiais, imposta - a 9. Cf. Pa.ullck, "Der-Gru..11dsatz der gleichmãssigkeit der
Bestaueru..TJ.g, sein Inhalt und seine Grenzen", Problem des Fi-
nanz- und Steuerrecht, Festschfrit für Ottmar Bühler, Colônia,
5. Cl. Tipke, art. in S. W., 1958, p. 744. 1954, pp. 144-1455; ID., Lehrbuch des allgemeinen Steuerrechts,
6. Cf. Lactemann, H. H. s., § 1, nota 15. pp~ 54 e 110; Felix, Ermessensausübung im Steuerrecht, p. 20;
7. Cf. Kruse, Gesetzrr..li:;;;ige Verwaltung, Tatbestandsmi:í,,,. Meilicke, Steurrecht, p. 49; Hartz, Gesetzliche Generalklauseln
sige Besteuerung, loc. cit., p. 99 e ss.; ID., Steuerrecht, L, pp. :n und Richterrecht im Steuerrech.t, S. W., 1968, p. 245; Jacobs,
e 138; Hõppner, "Zwn Problem der Rechtssicherheit und Tatbestandsmãssígkeít
teuerung, Ioc. cit.,Steuergeheimnis
p. 205 e ss. und Gesetzmttssigkeit der Bes-
d.es Besteuerung bei der Bilanzie:rung in der Ertragsteuerbfümz",
S. W., 1969, p. 633 e ~s.
62 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 63
5
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1
64 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO
fato de as normas tributárias deverem revestir tal nistração - se estabelecessem indispensáveis li-
configuração lógico-jurídica que, pela determina- mites jurídicos; e daí que o estudo da tipicidade,.
ção rigorosa dos conceitos nela abrangidos, se li- volvido primeiro para as realidades do Direito
mite a livre valoração e decisão dos órgãos de apli- Privado·- os contratos, os direitos reais, as socie-
cação do direito. Cumpre reconhecer que a tipici- dades - nem sequer abordasse os problemas sus-
dade nos outros ramos do Direito sempre foi citados pela__necessária preeminência e reserva da
construída em ordem a demarcar precisamente lei. ·É que (e volta a insistir-se neste ponto) se a
os limites da vontade humana no tocante à pro- tipicidade no Direito Privado visa à construção
dução dos efeitos jurídicos: no Direito Privado de um quadro limitativo da autonomia da vonta~
- como no antigo direito dos contratos e nos di- de, no Direito Público o abjeto da limitação é a
reitos reais - visa-se a delimitação da autonomia conduta do poder, a vontade àas órgãos de apli-
privada; no Direito Público - como é o caso do cação do direito; e essa conduta, e essa vontade
Direito Penal - a vontade funcional do juiz ou são precisamente limitadas por via da submissão
do administrador. Mas, se o aspecto sublinhado à lei.
pelos referidos autores já estabelece uma analo- Por isso, de há já muito tempo, a doutrina
. ent re a t'1p1c1
gia . 'rl
.....a d e d a t ri'b u t açao
- e a +,,ecrm
• do Direito Penal soergueu toda uma construção
jurídica da tipicidade assente na idéia de legali-
13. Sobre o conceito geral de tipo, v. Oliveira Ascensão,...A dade: nullum crim~n sine lege é brocardo que na
típicidade .. , p. 19 e ss.; Mezger, Derecho Penal, I, p. 364 e ss.; sua singeleza condensa sinteticamente a co-rrexãG
Betti, Teoria general deZ negocio jurídico (trad. esp.), p. 152;
Grispigni, Diritto Penale lialiww, II, p. 10. dos aluàldos princípios. Também no Direito Ad-
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LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO
le vêm ou só o aspecto da reserva da lei - os im- gados pela doutdna. Impõe-se, por isso, proceder
postos só poderão ser cobrados quando a lei o au- a uma tentativa de clarificação do problema, que
t1Tr'i'70 fl'1 so' o pr1"~
"'1-.-. !'.'! da~ L>'<7iet. f"'i<:> ~..., le1· f 0.L-
VLl..a.gvnv..i.~ ,. forneça a segurança i..'rldib!>ensável à sua diluci-
!l)VA..!\.üft..,. - J..:.-
Vi...L ... y,:..41
dação.
m,al - os impostos só podem ser criados por nor-
ma revestida da autoridade e da força de lei. Ou-
tTa: a de se haver colocado no mesmo piano o
princípio da legalidade tributária e a regra da
irrenunciabilidade ou indisponibilidade dos cré-
ditos tributá.Tios pela Adr.uinistração, po.r via da
1
qual os serviços estão vinculados à cobrança dos
14. Cf. M S. Giannini, Atto Amministrativo, E. D., IV, pp.
164-5 e si;;,, sustenta que a tipicidade, juntamente com o princi-
pio da articulação, são emanações da idéia de legalidade. Nas
Lezioni di Diritto Amministrativo, pp. 74 a 78 e 308-313, o mesmo
autor distingue, em pr'ú11et:a. lir.J.1a, a reserva de lei e a tipicida-
de, a qual por seu turno se desdobraria nos conceitos de lega-
lidade, de articulação e de nominação. Refira-se ainda que M. S.
Giannini em L'tnterpretazione dell'atto amministrativo e la teoria
giuridica general.e dell'interpretazione, Milão, 1939, pp. 27tVi,
id.,,ntificava tipicidade a nominatividade. Veja-se também André
Gonçalves Pereira, Erro e ilegalúf,ade no ato administrativo,
Lisboa, 1962, p. 127.
1
1
CAPíTULO V
li
.
truído por estritas considerações de segurança
jurídica. 1
A técnica da tipicidade é, porém, a mais ade-
quada à plena compreensão do próprio conteúdo
de reserva absoluta e, portanto, dos limites que a
ginariamente expressão do livre consentimento
dos tributos pelos povos - passou a revestir no
Estado de Direito a função de garantia da se-
p::iração de poderes, pressupostos da realização da
justiça e da segurança jurídica em matéria de
lei impõe à vontade dos órgãos de aplicação .do impostos. Da justiça, posto entender-se que a-se-
u1re1
....:i • •to em ma.,er1a
t' . t rmuiana
.. , , . .. T.i _!!:
•
prec1samen.A:; t leção do.s fatos tributários e da medida dos tribu-
pela arilllíse da origem normativa dos tipos, do tos, enquanto representam intervenções diretas
objeto da tipificação e dos caracteres da tipolo- na esfera de propriedade dos particulares, só de-
gia tributária, que resulta com nitidez o alcance ve ser confiada a órgãos cuja composição e cujas
da regra nullum tributum sine lege e que se pode- garantias de funcionamento permitam uma ex-
~' -~ u
J.a -1--l\;raçar com ngo.1.
• ... 11v das mat· e'r·a,,.
A-~~-1-~+--
~ cuuu I ;::; que , pressão ponderada e equililTrada da justiça ma-
pelo principio da legalidade, estão reservadas à terial. Da segurança jurídica, por duas vias que
lei e as que, eventualmente, estejam confiadas à lhe são inerentes: a do conhecimento claro e ine-
vontade dos seus órgãos de aplicação. quívoco, resultante de os impostos deverem cons-
A estes temas dedicamos os números se- tar de uma lei escrita, com exclusão de todas as
guintes. dúvidas ligadas à prova e interpretação das fontes
consuetudinárias; e da estabilidade de lei, por
se presumir que as normas editadas pelo órgão·
l' õ~ 1
.A.$
<!)
$ origem le.gal de tipicidade legislativo competente são menos facilmente mo-
dificadas ou revogadas que os meros regulamentos "
Já atrás ge viu, ao tratar do princípio da re- da Administração.
serva de lei, que no Direito Tributário esta as- Os tipos tributários nos seus contornos es-
sumia a natureza de uma reserva de lei formal, senciais não podem, assim, ser criados pelo costu-
no sentido de que a instituição dos tributos e, me ou por regulamentos, mas apenas por lei.
Mas, se a origem normativa da tipicidade é a
1. Discordamos assim de S:1ves Miranda Guimarães quando lei formal quanto aos elementos essenciais do-tipo,.
distingue, a par do princípio constitucional expresso da legali- ' Jª ·+
. , pod e si.,uar-se, ' '
dade, os princípios implícitos da tipicidade, da reserva de lei e eia como vrmos, no 'Pef/Ula-uz.en-
da segurança jurídica tributária. Cf. Os princípios e normas to, quanto aos elementos de que não faz resç:;_·~.--J.
constitucionais tributárias, S. Paulo, 1976, pp. 36 e ss. e 17 e
ss. expressa, ou seja, 8" determinação da alíquota oa
72 LEGALIDADE E TIPICID.iillE DA TRIBUTAÇÃO TIPICIDADE E NORMA TRIBUTÁRIA 73
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§ 2. º. Objeto da tipificação
Da mesma forma que o princípio da tipicida~
de no Direito Penal significa que os crimes devem
ser típicos, e que idêntico princípio no campo do
cidade plena dos efeitos. Coisa diversa se passa
no âmbito do Direito Tributário, pois aí a segu-
rança jurídica exige que· a lei contenha em si
mesma não só o íund~mento da decisão,rncomo o
próprio critério de decidir.
O órgão de aplicação do direito deve ter na
nireito das Coisas estabelece que típicos devem lei predeterminado o conteúdo da sua decisão,
li\ ser os direitos que sobre elas recaem, assim o donde resulta que se procura subtrair ao seu arbí-
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íi!)•~.•.
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princípio da tipicidade da tributação requer que
os tributos sejam objeto de uma tipologia. Tribu-
to, imposto, é pois o conceito que se encontra na
base do processo de tipificação no Direito Tributá-
rio de tal modo queo tipo, como é de regra, repre-
trio ou critério subjetivo a eleição dos fatos tri-
butários (como no Direito Penal se retira ao juiz
a livre incriminação dos fatos) mas, mais ainda,
que se lhe pretende retirar o critério da sua tri-
butação, isto é, a fixação da medida do tributo.
I
1L1!. '.
li''
senta necessariamente algo de mais concreto que
o conceito, embora também necessariamente mais
abstrato do que o fato da vida. 2
O órgão de aplicação do direito encontra-s-e, deste
modo, submetido, quer aos tipos legais de fatos
tributários, quer aos tipos de efeitos jurídicos de- 'l
JiI]' Se o tipo tributário exprime, assim~ uma es-
pecificação do conceito de imposto, cada tipo, por
correntes da verificação dos fatos, abrangendo a
medida do tributo.
si, deve co-nter todos os elementos que caracteri- No Direito Tributário a técnica da tipicidade
U:I zam aquele mesmo conceito. Encarando a reali- atua, não_só sobre a _hipótese da norma t:rihutá-
dade de um ponto de vista normativístico, que o ria material, como também sobre o seu manda-
mesmo é dizer, partindo da norma para a vida, mento. Objeto da tipificação são, portanto, os fatos
dir-se-á que objeto da tipificação são os "elemen- e os efeitos, as situações jurídicas iniciais e as si-
tos essenciais" do tributo enumerados no art. 97 tuações j1,t,ridicrtsfinais. 3
do Código Tributário Nacional.
3. Que a tipologia pode respeitar à hipótese ou à conse-
2. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade dos direitos reais, qüência da norma afirma-o claramente Oliveira Ascensão, A ti-
Lisboa, 1968, p. 22. piciãaãe . .. , p. 21.
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74
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. TRIBUT. 4..RLA
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~'.._l; LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO 77
"''CTT',...-,~ .:;c,..:c< ; bastaria o simples fato de ele Objeto da tipificação é pois e sempre a capa-- ·~
se encóntraic::formulado em normas jurídicas -. cidade contributiva, cujas expressões a lei deli-
aliás de hierarquia superior - para que tal orien- mita pela formulação de modelos ou tipos, aos
tação se revele menos justificada. E nem as difi- quais se devem ajustar as situações da. vida para
culdades na concretização do seu conteúdo pare- que se desencadeiem os efeitos tributários. 9
cem bastantes para remover o referido princípio O conceito de fato tributário caracteriza-se,
das suas funções de limitação do poder tributário assim, por um requisito formal e por um requi-
e de fundamentação de todo um sistema fiscal sito material: o primeiro consiste na tipicidade;
norteado por um ideal de justiça;-demais, funções o segundo, n~ capacidade contributiva. Analoga-
de tal modo relevantes que a violação do principio mente ao que sucede com o crime ou fato punível,
pe1o '.reg1s . la d or ord'1nario , ' acarre t a a mcons
. t'.j.. .
11,uc10- que se define como o fato típico ilícito e culposa,.
nalidade da respectivaJei e desencadeia as garan- pode-definir-se o fato tributário como o fato típico
tias individuais correspondentes. rei1ela~dor de capacidade contributiva. 10
Não cabe decerto no âmbito deste estudo a
delimitação do conceito àe capacidade contribu-
tiva ou a análise das cori~eqüências que dele de- b) Tipicidade e mandamento da norma tri-
correm para a própria estrutura do sistema fiscal. butária
Importa, todavia, salientar que ele se refere neces-
sariamente a uma capacidade econômica, a uma ( i) Fixação da medida do tributo
titularidade de riqueza, cuja expressão, sob qual-
quer forma, se pretende submeter a tributo. 7 Disse-se há pouco que a tipicidade respeitava
não só aos fatos como aos efeitos, não só às situa-
Pode o legislador escolher livremente as mani- ções jurídicas iniciais como às finais, não só à
festações da riqueza que repute relevantes para 'rupo..ese
• ,+ - que ..__
senao ...ç;m ao mand ament.. o. I m-
ui:tmi'h~
efeitos tributários, bem como delimitá-las por uma porta, pois, justificar o asserto.
que outra forma - mas sempre deverá proceder
a essa escolha de entre as situações da vida efe- A idéia de reserva absoluta de lei (formal ou
tivamente reveladoras de uma capacidade econô- material) envolve, como já várias vezes se afirmou,
mica e sempre a esta se há de referir na defi- que ela contenha em si não só o fundamento, como
nição dos critérios de medida do tributo. 8 também o próprio critério da decisão. Se o órgão
9. Cf. Perez de .Ayala, Derecho Tributaria, I, p. H9; v.
7. É a Besteuerung auf der Grundlage der wirtschaftliche porém, Vicente Arche-Domingo, "Consideraciones sobre el hecho
Leistungsfahigkeit de que fala BühJ.er, Steuerrecht, 2.ª ed., Wies- impombi:e-"', R. D. F. H. P., 1960, p. 559 e ss.; Dino Jarach, El
baden, 1953, I, p. 117 e ss. hecho imponible, Buenos Aires, 1943, p. 94.
8. C.f. Alfredo Augusto Becker, Teoria geral do Direito Tri~ 10. Cf. Berliri, Principii .. . , I, 2.a ed., p. 285; II, t. I, p. 222
b·utário, p. 239. e ss.
78 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO TIPICIDADE E N ORJYIA TRIBUTÁRIA 79
de &~~~~direito deve ter na lei nredeter- É certo que~ em casos, de resto pouco freqüen-
m~o~~~~údo da decisão, isto nã,o pode dei- tes, a alíquota é e úr.Jco elemento de quantifica-
xar desigilificar que o princípio da tipicidade-atua ção dos eieitos prescritos na norma: sucede isto,:;;,
integralmente na norma tlibutária, e.m todos os precisamente nos tributos fixos. Mas, sempre que
seus elementos, na previsão ou hipótese e na esta- o tributo seja variável, a referida quantificação
tuição ou injunção. pressupõe, para além da alíquota, ao menos outro
Se assim não fosse, isto é, se o princípio elemento que sir,ra como-ponto de referência desta.
da legalidade se esgotasse na declaração da- tri- Tal elemento quantitativo pode ser formulado
• ·1 · - d
ouwJ)L.lC!.a
1 • .ç t
e do .1.a o, t.enamos
, ~ .
que o re:::e:nuo
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princípio' autorizava o órgão de aplicação do direito ou não concretamente avaliável em dinheiro ~
a, verificados certos fatos típicos, definir em_eon- antes com base noutro critério de medida, como
creto a medida do tributo a anlicar. Mas é de ver a supe:rficie, o volume ou o peso, de tal modo que
que semelhante entendimento""é incompatível com o quantitativo da prestação tributária decorrerá da
as mais ., 11
eiemem.,ares
L •
exigenc1as d e segurança JUl'l-
A • • , aplicação de uma taxa específica a cada unidade
dica. Procurando esta subtrair ao ór~ão. de de medida, com a qual a alíquota se conjuga
aplicação do direito quaisquer expressões de arbí- para determinar o quantum da obrigação tribu-
trio ou do seu puro critério subjetivo, natural se tária. Mais freqüentemente, porém, a lei adota
torna a exigência de uma cor1strução por tipos como elemento de quantificacão da dívida de
não só dos fatos tributários, mas também da medi- imposto 1.rma reatidãde avaliãvel em dinheirõ.
da dos tributos. E, desta sorte, são objeto de tipi- Ora, tal elemento faz irrecusavelmente parte inte-
ficação todos os elementos necessários à fixação grante do mandamento da norma, devendo assim
do quantmn da prestação tributária. estar submetido ao princíPio da tiuicidade. 11
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80 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO TIPICIDADE E NORMA TPJBUTARIA 81
COROLÁRIOS DO
PRINCíPIO DA TIPICIDADE
não .,é" .. ·.. ···.· . . criminação com -base num é, circunscrevendo grupos particulares de casos
conceitô ou c1ausula geral de crii"lla Ao invés do na sua individualidade própria. 4 O método da
que sucede, por exemplo,.com o ilícito disciplinar, cláusula geral - tão caro aos Estados totalitários
os crimes e .os tributos devem constar de uma - não pode deixar de brigar com a própria essên-
tipologia, ou seja, devem ser descritos em tipos cia do Estado de Direito e, em especial, com os
ou modelos, que exprimam nma._escolha ou sele- valores da segurança jurídica que este encarna.
çào do legislador no mundo das realidades passí-
veis, respectivamente, de punição ou tributaçã,o. Em boa verdade, se- ao Estado de Direito repugna
À seleção, quer dos fatos, quer dos efeitos,
a célebre declaração do Governo soviético de
exerce um duplo efeito. Por um lado, a especifica- Munique, em 1919: "Toda a ofensa dos princípios
ção do·conceito geral a que o tipo se reporta, pela Tevolucionários será p:urlida. A .determinacão da
criação de uma pluralfüade de-modelos que repre- natureza da pena .cabe à livre discrição do juiz"
sentem todos eles expressões parciais de uma - hem decerto não repugnaria menos uma outra
única realidade, de que o conceito é a síntese. norma assim concebida: "Toda a manifestação de
Por outro lado, o preenchimento incompleto do capacidade contributiva será tributada. A deter-
mesmo conceito, pelo que a tipologia se distingue minação da taxa cabe à livre discrição dos ser-
da classificação, ao deixar fora do seu âmbito viços".
realidades que, se bem que aspectos do conceito
geral, foram precisamente excluídas pela atividade O conjunto dos tributos existentes em dada
seletiva do legislador. 3 Eor outras palavras: os ordem jurídica exprime, assim, necessariamente,
tipos tributários são todos eles emanação do con- o quadro das opções do legislador fiscal no mundo
ceito geral de tributo, baseado na idéia de capa- de todos os iates suscetíveis de tributação e de
cidade contributiva, mas não esgotam esse con- todos os efeitos que aqueles mesmos fatos possam
ceito.
abstratamente desencadear. Representa um ver-
b) Seleção e cláus.ula gerai dadeiro catálogo de fatos tributáveis e de medi-
das dos correspondentes tributos.
O princípio da seleção - inerente a qualquer
tipologia - contém em si um comando ao legis-
4. Sobre o método casuístico de elaboração das normas,
lador, segundo o qual este deverá elaborar as nor- suas relações com o princípio da tipicidade e o c,onceito de
mas tributárias por um método casuístico, isto cláusula geral, cf. Engisch, Introdução ao pensamento jurídico,
p. 188 e ss.; Iv.Iauraclr, Derecho Penal, pp. 283-4; Felix, Ermes-
cípio da separação de poderes, posto permitirem ao órgão exe- sensausübung im Steuerrecht, p. 27. Entre nós, ver o -estudo, em
cutivo funcionar como-lee~lador. · tantos pontos precursor, de Brandão Machado, Multas admi-
3. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade dos direitos reais, nistrativas e imposto de rendei, Resenha Tributária, 1973'; p.
pp. 4042 e 49; João de Castro Mendes, Direito Civil <Teoria
Geral), ·lições policopiadas, Lisboa, 1968, III, p. 119. 89 e ss.
1
f:
86 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUT-AÇÃO COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 87
. ,... · o encerra, uma vaioração de- destaque, como a irrelevância da vontade dos
finit .. . .. áde, o tipo não é mero índice de órgãos de aplicação do direito na. co:nfíguração
uma dada qualidade do fato - mormente a capa- dos tipos, pela_ modelação daquilo que se poderia
cidade contributiva - cuja descoberta implique de~ignar-pekr:seu conteúdo acessório. Semelhantes
outro ou outros pressupastos que a ele acresçam. intervenções - espeêialmente do administrador
Daqui resulta o erro da corrente designada, aliás - poderiam traduzir-se, por via de ato adminis-
com impropriedade, per "doutrina dos tipos" - trativo, quer em dispensar certos elementos do
ii:ttroduzida por Kur,t Ball e Enno Becka'~ que tipo, reputados acessórios, quer em acrescentar
visava superar a antitese entre o Dirito Tributário a este outros requisitos, também qualificados como
e o Direito Civil, pela configuração dos fatos secundários. Trata:r_-se-ia afinal de fenômeno aná-
tributários por traços econômicos típicos, em vez logo ao que se passa com certas tipologias, mesmo
da sua configuração tradicional por caracteres taxatiw.s, do Direito Privado - como a dos direi-
jurídicos. 11 Como diz Sainz de Bujanda, a tos reais - em que, não obsta..."1'1re tais direitos
fórmula.Jurídica não seria mais do que a presunçao constituírem um numerus clausus. -pode a auto-
da existência de uma dada situação econômica 12 1
nomia privada intervir relevantemente na fixação
a qual deveria ser autonomamente descoberta do seu conteúdo acessório. 14
ainda que partindo do elemento indiciário forne~ No Direito Tributário, porém, a tipologia é
cido pelos pressupostos legais. Como bem se com- dominada não só por um princípio de taxatividade
preende, a doutrina dos tipos não faz apelo ao como também por um princípio de exclusivismo:
tipo em sentido jurídico, mas ao tipo real, mero os elementos do tipo são necessários mas, simulta-
neamente, suficientes para a produção do efeito
conceito de ordem, de fronteiras fluídas, ao qual jurídico em causa. Opera-se assim o fenômeno
as realidades se não submetem, mas apenas se
que 9, lógica jurídica designa por implicação inten-
referem. 13
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1 ~!;ia 15 e que, como já se observou; se tràduz, e.rn
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b) Implicação intensiva e conteúdo acessório termos a..xiológicos, :eiLLo tipo conter uma valoração
"1
do tipo defínitiva da realidade, q_ue imprime caráter juri-
"' Para além desta conseqüência, o fato de o àicamente unitário ao fato descrito, com a cor1se-
tipo conter em si uma valoração definitiva da qüente impossibilidade de nele se descortinar
realidade, comporta ainda outras, merecedoras de qualquer elemento acessório. A tipicidade do Direi-
14. Cf. Oliveira Ascensão, A tipicidade ... , passim, esp. p.
. 11. .Cf. Alberto P. Xavier, O negócio indireto em Direito 332.
Fiscal, Lisboa, .1971, p. 34 e autores citados na bibliografia, p. 15. Verifica-se a implicação intensiva sempre que os el"'"
47 ~ ss,; V.er .ainda Ruy Barbosa Nogueira, Da interpre-taçtfo e mentos enunciados no pressuposto não são apenas suficientes,
aplicaçao das leis tributárias, S. Paulo, 1974. o. 88 e ss. mas ainda necessários para a verificação da conseqüência:
12. Cf. Sainz de Bujanda, Hacienda y- derech.o, Madrid, segue-se se se verificarem, mas só se segue se se verificarem.
1962, I, p. 445. Cf. Castanheira Neves, Questão ·de-fato - Questão de direito, p .
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92 LEGALIDAl>E E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO COROLÁ..RIOS DO !'RINCÍPIO DA TIPICIDADE 93
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96 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO
1
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1 COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TIPICIDADE 97
~terminação da sua medida. 1 rio estarmos a pisar terreno qu.e quase se diria
._ ·deste sistema. a justiça tri- ~.ugem. -
butá a e sempre uma justiça_estrita- Antes de ma.is, cumpre fazer uma observaçao
mente legal: prescindindo de um -esforço de in- fundamental: é que, ai bem dizer, não existem
dividuaiização _da medida ào tributo, r-eaUza-se conceitos absoluta e rigorosamente determina-
necessariamente por via dos próprios critérios __dos; e que, deparando com aquilo que já se tem
adotados peio 1egíslador para a sua definição designado por uma ''indeterminação imanente''
abstrata. de todos os conceitos, 23 se é forçado reconhe- -ª
E o ponto é tanto maisimportante quaI1to é cer que a problemática da indeterminação não é
certo, reconhecer largo setor da doutrina que de tanto de natureza como de- grau. Assim sendo,
verdadeira discricionariedade só se poderia falar_ não cabe--à lógica fornecer a noção de conceito
aí onde eY..istisse liberdade na fixação dos efeitos -indeterminado, mas só uma disciplina valorati-
jurídicos (Rechtsfolgeermessen) _: é que se a ~e.i, va, como o Direito, pode contribuir para delimi-
em vez de fixar formal e taxativamente os ere1- tar essa noção. Dado isto, a questão desloca-se
para estoutro plano: o que é para o Direitol em
tos jurídicos, se bastasse com uma delimitação abs.:- especial, o que é para o Direito Tributário um
trata do campo das decisões possíveis, o órgão conceito indeterminado?
de aplicação do direito ver-se-ia privado de qual- Posto assim o problema, bem natural se tor-
quer critério objetivo de decisão e a indetermi~ na que a sua solução repouse nos valores e nos
nação legal acabaria por traduzir-se em pura interesses que levaram à sua proibição neste ra-
autorização para agir. Ora isto, que é a essência mo do Direito. Recorde-se uma vez mais ser a
mesmo dos sistemas de reserva relativa de lei, segurança juríàica o fundamento do princípio
contraria claramente o princípio da legalidade da determinação; lembre-se mais uma_~vez que a
com o conteúdo restrito que assumiu no Direito . segurança jurídica se traduz na suscetibilidade
Tributário, por influência da segurança jurídica. de previsão-objetiva, por banda dos particulares,
_íf~s situaçõe5 jurídicas, de tal modo que es-
e) A noção de conceito indeterminado tes sejam protegidos na sua confiança quanto 1
Uma questão importa, porém, desde já dilu- aos direitos e deveres futuros; e, presentes estas 1
idéias, concluir-se-á naturalmente que a inde-
cidar: o que se entende por conceitos indetermi-
terminação conceitual relevante para o Direito !~
nados para efeito da proibição decorrente do
princípio da tipicidade? Tributário é precisamente aq_uela que afeta a 1
acrescem as decorrentes de no Direito Tributá- 23. Cf. Castanheira Neves, t;)'uestão de fato - QuesUfo tJ.e !
direito, pp. 135-136 (nota 8), 140-146, 158~ nota 3, 21-6, 256-7, 349. I_
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98 LEGALIDADE E TIPICIDADE DA TRIBUTAÇÃO COROLÁRIOS DO PRINCÍPIO DA TTPTCTl)AnE: 99
que - deve entender-se por jetivas, assentes na experiência comum, nas con-
co_ nado aquele-conceito empregado vicções gerais ou nüs ens-inamentos de uma
pela lei e na qual -e ó-Fgâo de aplicação do direi- ciência ou térn..ica.
to deva descobrir imediata, direta e -exdusiva- Numa palavra: a noção de conceito deter-
mente o conteúdo que, deste modo, é lógica e minado - construída como é sobre a de segu-
conceitualmente unívoco. 24 Houvera a participa- rança jurídica - abrange, para além dos
ção de elementos estranhos à própria lei, houve- conceitos determinados, em sentido estrito, os
ra a intervenção de momentos subjetivos e indi- conceitos lógico-objetivamente determináveis. Só
viduais na sua:aplicaç.ão_- pois logo aí se per- a partir do momento em que a concretização do
deria unívocidade conceituai e, do mesmo passo, conceito careça de uma valoração subjetiva, pes--
a segurança jurídica que dela não pode prescin- soal, do órgão de aplicação do direito - é que
dir. cessa a univocidade lógica do-comando, sem a qual
Tais conceitos determinados. podem ser des- . 'dºica nao
segv..rança jUn - h'a. 25
critivos ou normativ:os;--em especial, dos normati-
1: vos obedecem -ainda ao requisito da determinação
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tributariamente bastante não só aqueles a que
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Engisch chama, por antonomásia, determinados
1 (como o de renda, de imóviel, de proprieda-
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de) , como ainda aqueles que, na terminologia do
mesmo autor, são os conceitos normativos em
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te caso só aqueles que cal'eçam de valorações ob-
24. Sobre os conceitos indeterminados, em geral, veja-se:
Engisch, Introdução . .. , pp. 173-4; Afonso Queiró, O poder dis-
cricionário, p. 100-e- ss.; Castanheira Neves, Questá<rY!e -tato -
t
Questão de direito, p. 402 e ss. No Direito Tributário, ver Bühler-
·Strickrodt, Steuerrecht, I, p. 153 e ss.; Berger, Der Steuerpro-
zess, pp. 258-9 e 492; Von Wallis..Spanner, in H. H. S., § 2, notas
12, 22 e 23 e ss.; Salzwedel, Rechtstaat im Steuerrecht, loc. cit.,
p. 24 e ss.; Felix, Ermessensausübung im Steuerrecht, pp. 23-24;
Jacobs, Zum Problem eles Rechtssicherheit und Tatbestands-
miissigkeit der Besteuerung . .. , Zoe. cit., pp. 633-5; Paulick,
li Lehrbuch des JJllgemeinen Steuerrechts, p. 106 e ss,; Hartz, Ge·
setzliche Generalklauseln unã _JJ.ichterrecht im Steurrecht, Zoe.
cit., p. 245 e ss-.; .Wurlod, Forme -j!!1"idiq1uLet-réclité -éemWmi.-
que . .. , p. '71 e ss.; Araújo Falcão, El hecho generador de la obli- 25. Soore os conceitos::inde.terminados e suas relações com
gación tributaria (trad.), pp. 86-8lP, Levi, L'attività conoscmva outros "conceitos desvinculantes" ou de "Direito eqüitativo",
-1,•. ·: della pubblica amministrazione, p. 249 e ss. veja-se Engisch, Introdução .. _, p. 1'78 e-ss.
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