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39º EXAME

ATUALIZADO COM: INCLUI:


• Quadros de ATENÇÃO
• Lei nº 14.200/2021
(Licenciamento compulsório
• Tabelas Comparativas
da patente)
• Esquemas Didáticos
• Lei nº 14.195/2021 (Lei do
Ambiente de Negócio) • Referências a temas
cobrados em provas anteriores
SUMÁRIO
1.  EMPRESA E EMPRESÁRIO
1.1.  CONCEITO
OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

1.2.  CAPACIDADE DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL


1.3.  IMPEDIMENTOS

1.4.  OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO


1.4.1  REGISTRO
1.4.2  ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS

1.5.  ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL


1.6.  NOME EMPRESARIAL

2.  PROPRIEDADE INDUSTRIAL


2.1.  BENS PATENTEÁVEIS
2.1.1  INVENÇÃO
2.1.2  MODELO DE UTILIDADE
2.2.  BENS REGISTRÁVEIS
2.2.1  DESENHO INDUSTRIAL
2.2.2  MARCA

3.  DIREITO SOCIETÁRIO


3.1.  SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS
3.1.1  SOCIEDADE EM COMUM
3.1.2  SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO
3.2.  SOCIEDADES PERSONIFICADAS
3.2.1  SOCIEDADE COOPERATIVA
3.2.2  SOCIEDADE SIMPLES
3.2.3  EIRELI
3.2.4  SOCIEDADE EM NOME COLETIVO
3.2.5  SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES
3.2.6  SOCIEDADE LIMITADA
3.2.7  SOCIEDADE LIMITADA UNIPESSOAL
3.2.8  SOCIEDADE ANÔNIMA
3.2.9  SOCIEDADE EM COMANDITA POR AÇÕES
3.3.  GRUPOS DE SOCIEDADES
3.4.  TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO , FUSÃO E CISÃO DAS SOCIEDADES.

4.  TÍTULOS DE CRÉDITO


4.1.  CONCEITO E PRINCÍPIOS
4.2.  CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO
2
Alteração Legislativa Atenção Exemplo
4.3.  ESPÉCIES DE TÍTULOS DE CRÉDITO
4.3.1  LETRA DE CÂMBIO
4.3.2  NOTA PROMISSÓRIA
4.3.3  CHEQUE
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4.3.4  DUPLICATA MERCANTIL


4.3.5  CONHECIMENTO DE DEPÓSITO DE MERCADORIAS E WARRANT

5.  CONTRATOS MERCANTIS


5.1.  COMPRA E VENDA MERCANTIL
5.2.  COMISSÃO MERCANTIL
5.3.  REPRESENTAÇÃO COMERCIAL
5.4.  CONCESSÃO MERCANTIL
5.5.  AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO
5.6.  FRANQUIA
5.7.  FATURIZAÇÃO
5.8.  ARRENDAMENTO MERCANTIL
5.9.  ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA
5.10.  LOCAÇÃO DE SHOPPING CENTER

6.  FALÊNCIA
6.1.  INSOLVÊNCIA
6.2.  PROCESSO FALIMENTAR
6.3.  SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA
6.4.  PEDIDO DE RESTITUIÇÃO
6.5.  QUADRO GERAL DE CREDORES
6.6.  REALIZAÇÃO DO ATIVO

6.7.  FASE DE REABILITAÇÃO

7.  RECUPERAÇÃO JUDICIAL


8.  RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL

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1.  EMPRESA E EMPRESÁRIO


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1.1.  CONCEITO

Em substituição à teoria dos atos de comércio adotada pelo código comercial de 1850, o código
civil de 2002 passou a adotar, em seu art. 966, a teoria da empresa, conforme abaixo transcrito:

Art. 966 do CC - Considera-se empresário quem exerce profssionalmente atividade


econômica organizada para a produção ou a circulação de bens ou de serviços.

Empresário, portanto, é quem exerce profssionalmente atividade econômica organizada para


a produção ou a circulação de bens ou de serviços. Há, portanto, quatro elementos que defnem o
conceitos de empresa:

Profssionalmente: desenvolvida com habitualidade, continuidade.

Atividade econômica: é aquela que possui fnalidade lucrativa.

Organizada: reunião dos quatro fatores de produção, a saber: mão-de-obra, matéria-prima,


capital, tecnologia. Na ausência de qualquer um desses fatores de produção, não há organização.

Para a produção ou a circulação de bens ou de serviços: fabricação de bens, prestação de


serviços e circulação de bens e serviços.

O empresário pode ser pessoa física ou jurídica. No primeiro caso, será considerado empresário
individual e, mesmo sendo pessoa física, deverá possuir CNPJ, para que possa ter o mesmo
tratamento tributário das sociedades empresárias.

Tratando-se de empresário pessoa jurídica, haverá uma sociedade empresária (art. 44, II, do
CC) ou uma empresa individual.

O sócio de sociedade empresária não é empresário, pois quem exerce a atividade


empresarial é a sociedade.

EXCEÇÕES AO CONCEITO DE EMPRESÁRIO:

De acordo com o art. 966, parágrafo único, do CC “não se considera empresário quem exerce
profssão intelectual, de natureza científca, literária ou artística, ainda com o concurso de
auxiliares ou colaboradores, salvo se o exercício da profssão constituir elemento de empresa”.

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Como regra geral, portanto, quem exerce profssão intelectual de natureza científca, literária ou
artística (como, por exemplo, médicos, arquitetos, advogados, cantores, desenhistas e dançarinos)
não é considerado empresário.

Mesmo que esses profissionais tenham auxiliares ou colaboradores, ainda assim


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não serão considerados empresários. Entretanto, se o exercício da profissão constituir


elemento de empresa, ou seja, constituir uma atividade econômica profissional organizada
para a produção ou circulação de bens e serviços, aí sim estará caracterizada a sociedade
empresária TEMA COBRADO NOS EXAMES XV e XXXV DA OAB/FGV.

Se um médico exercer a sua profssão em um consultório com o auxílio de uma secretária e


uma de enfermeira, isso, por si só, não confgura atividade empresarial. Entretanto, se o mesmo
consultório passar a oferecer, por exemplo, serviços de contratação de planos de saúde, haverá
a constituição de elemento de empresa capaz de caracterizar a atividade como empresária, já
que haverá também a oferta de serviços.

Além disso, não se enquadram no conceito de empresário as cooperativas (art. 982 do CC) e o
empresário rural, salvo, neste caso, se proceder à sua inscrição no Registro Público de Empresas
Mercantis, hipótese em que será equiparado a empresário.

Em resumo, portanto, não são considerados empresários: a) Quem exerce profssão intelectual,
de natureza científca, literária ou artística, ainda com o concurso de auxiliares ou colaboradores, salvo
se o exercício da profssão constituir elemento de empresa, b) Cooperativas e c) Empresário rural,
salvo se proceder à sua inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis

1.2.  CAPACIDADE DO EMPRESÁRIO INDIVIDUAL

De acordo com o art. 972 do CC, podem exercer a atividade de empresário os que estiverem em
pleno gozo da capacidade civil e não forem legalmente impedidos.

Desse modo, os menores de 18 anos, os ébrios habituais e os viciados em tóxico, aqueles


que, por causa transitória ou permanente, não puderem exprimir sua vontade e os pródigos não
poderão exercer atividade empresarial, conforme art. 4 do CC, já que não são plenamente capazes,
de acordo com o código civil.

O emancipado, a princípio, tem capacidade empresarial, já que a partir da emancipação ele


está em pleno gozo de sua capacidade civil. Entretanto, de acordo com o art. 976 do CC, ele deverá
registrar a prova de sua emancipação perante o Registro Público de Empresas Mercantis (Junta
Comercial).

O art. 974 do CC, por sua vez, estabelece que o incapaz poderá, por meio de representante ou
devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por seus pais
ou pelo autor de herança, mediante autorização judicial, podendo esta, entretanto, ser revogada
pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do interdito, sem prejuízo
dos direitos adquiridos por terceiros TEMA COBRADO NOS EXAMES XX E XXIX DA OAB/FGV.

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Desse modo, salvo os emancipados, o menor de 18 anos não poderá iniciar atividade
empresarial. Entretanto, poderá continuar o exercício da atividade empresarial nas hipóteses
previstas no art. 974 do CC.

A responsabilidade do empresário individual é ilimitada, ou seja, os bens pessoais do empresário


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respondem pelas dívidas empresariais contraídas, não havendo que se falar, evidentemente, em
“desconsideração da personalidade jurídica”, já que se trata de empresário individual, não havendo
personalidade jurídica a ser desconsiderada.

1.3.  IMPEDIMENTOS

Além daqueles que não estão no pleno gozo da capacidade civil, não poderão exercer atividade
empresarial os legalmente impedidos. Vejamos os principais casos.

Servidores Públicos, membros do Ministério Público e Magistratura: não podem ser


empresário individual ou participar de sociedade comercial na função de administrador, mas
podem ser acionistas ou cotistas das sociedades.

Militares da Ativa: ao militar da ativa é vedado comerciar ou tomar parte na administração


ou gerência de sociedade ou dela ser sócio ou participar, exceto como acionista ou quotista, em
sociedade anônima ou por quotas de responsabilidade limitada (art. 29 da Lei nº 6.880/80).

Empresário Falido: o falido fca inabilitado para exercer qualquer atividade empresarial a
partir da decretação da falência e até a sentença que extingue suas obrigações. Além disso, na
hipótese de ter havido prática de crime falimentar e o falido ter sido condenado à inabilitação para
o exercício de atividade empresarial na sentença, os efeitos perdurarão até 5 (cinco) anos após a
extinção da punibilidade, podendo, contudo, cessar antes pela reabilitação penal (arts. 102 e 181,
§1°, da Lei n. 11.101/2005).

Transgressores da Lei n. 8.212/91: os infratores da Lei n. 8212/91, que dispõe sobre a


organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências, poderão
fcar impossibilitados de exercerem atividade empresarial, conforme art. 95, §2° da lei de custeio.

De acordo com o art. 1.134 do CC, a sociedade estrangeira, qualquer que seja o seu objeto, não
pode, sem autorização do Poder Executivo, funcionar no País, ainda que por estabelecimentos
subordinados, podendo, todavia, ressalvados os casos expressos em lei, ser acionista de
sociedade anônima brasileira.

Ressalta-se ainda que, se as pessoas impedidas realizarem atos empresariais, elas serão
responsáveis, pessoalmente e de forma ilimitada, pelos atos praticados (art. 973 do CC) e
responderão ainda pela prática de contravenção penal (art. 47 do Decreto-Lei n. 3.688/41).
TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB.

Além disso, o art. 1º da Lei nº 11.101/2005 não requer a regularidade do empresário para a
decretação da falência, de modo que a pessoa proibida de exercer atividade empresarial pode ser
declarada falida TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV.
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O art. 977 do CC faculta aos cônjuges contratar sociedade, entre si ou com terceiros, desde que
não tenham casado no regime da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória.

O art. 978, por sua vez, permite ao empresário casado, sem necessidade de outorga
conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio
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da empresa ou gravá-los de ônus real. Assim, independentemente do regime de bens, o


empresário casado não precisa de outorga conjugal para alienar bens do patrimônio da
empresa TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/FGV.

1.4.  OBRIGAÇÕES DO EMPRESÁRIO

1.4.1.  REGISTRO

De acordo com o art. 967 do CC, é obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de
Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade. TEMA COBRADO NO
XXIX EXAME DA OAB/FGV.

O Registro Público de Empresas Mercantis (RPEM) foi regulamentado pela lei n. 8.934/94,
sendo sua estrutura dividida em dois órgãos: 1) Departamento Nacional de Registro de Comércio
(DNRC), órgão federal com funções supervisora, orientadora, coordenadora e normativa, no plano
técnico; e supletiva, no plano administrativo e 2) Juntas Comerciais, órgãos estaduais com funções
executora e administradora dos serviços de registro.

Destaca-se que, a título de exceção, o empresário rural não é obrigado a se registrar.


Entretanto, caso se registre no RPEM, fcará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário
sujeito a registro, conforme art. 971 do CC.

O registro não é uma condição para o constituição da atividade empresária, mas sim um
pressuposto para sua regularidade TEMA COBRADO NO XXVII EXAME DA OAB.

A ausência de registro acarretará as seguintes consequências: o empresário não poderá


requerer falência de terceiro nem pleitear recuperação judicial e, tratando-se de sociedade, a
responsabilidade dos sócios será ilimitada.

1.4.2.  ESCRITURAÇÃO DOS LIVROS

Os empresários individuais e as sociedades empresárias têm obrigação de manter a


escrituração de seus livros comerciais, com exceção apenas do microempreendedor individual
que aufra renda anual de até R$ 81.000,00 (oitenta e um mil reais), conforme estabelecido no § 1º
do art. 18-A da Lei Complementar n. 123/2006 c/c art. 1.179, § 2º, do CC.

Para que os livros sejam utilizados como meio de prova a favor do empresário, é indispensável
que eles estejam autenticados.

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Os livros comerciais podem ser obrigatórios ou facultativos.

Obrigatórios: são necessários a todos os empresários ou sociedades empresárias. O único


livro obrigatório comum a todos os empresários é o Livro Diário.
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O livro caixa é dispensado para as microempresas e empresas de pequeno porte optantes pelo
Simples Nacional, conforme art. 26, §2°, da LC n. 123/2006.

Facultativos: são os livros opcionais destinados a proporcionar melhor execução da atividade


empresarial, sem aplicação de qualquer sanção caso eles não sejam escriturados.

Deve-se esclarecer que as qualifcações Microempreendedor individual, Microempresa (ME)


ou Empresa de Pequeno Porte (EPP) não representam espécies de sociedades empresárias, mas
apenas uma qualifcação para benefciar o empresário ou a sociedade empresária principalmente
no que tange a obrigações tributárias e trabalhistas.

EMPRESA DE
MICROEMPRESA MEI
PEQUENO PORTE

Empresário individual Empresário individual Somente o


empresário
individual
TIPOS Sociedade empresária Sociedade empresária
SOCIETÁRIOS

Sociedade simples Sociedade simples

Receita bruta anual Receita bruta de Receita bruta


anual
RECEITA
≤ R$ 360 mil R$ 360 mil a R$ 4,8
milhões ≤ R$ 81 mil

Apenas o pequeno empresário individual está dispensado da escrituração dos livros e apenas as
Microempresas e Empresas de Pequeno Porte optantes pelo SIMPLES é que estão dispensadas
do livro caixa.

Salienta-se ainda que, de acordo com o art. 1.190 do CC, “ressalvados os casos previstos em
lei, nenhuma autoridade, juiz ou tribunal, sob qualquer pretexto, poderá fazer ou ordenar diligência
para verifcar se o empresário ou a sociedade empresária observam, ou não, em seus livros e
fchas, as formalidades prescritas em lei”.

São exceções ao sigilo, entretanto, as seguintes situações:


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EXIBIÇÃO PARCIAL: a Súmula 260 do STF prevê a possibilidade exibição parcial referente
às transações entre os litigantes: “O exame de livros comerciais, em ação judicial, fca limitado às
transações entre os litigantes”.

EXIBIÇÃO TOTAL: o art. 1.191 do CC traz quatro hipóteses taxativas: “O juiz só poderá autorizar
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a exibição integral dos livros e papéis de escrituração quando necessária para resolver questões
relativas a sucessão, comunhão ou sociedade, administração ou gestão à conta de outrem, ou em
caso de falência”.

AUTORIDADES FAZENDÁRIAS: de acordo com art. 1.193 do CC, as restrições estabelecidas ao


exame da escrituração, em parte ou por inteiro, não se aplicam às autoridades fazendárias, no exercício
da fscalização do pagamento de impostos, nos termos estritos das respectivas leis especiais.

A falta de escrituração dos livros poderá caracterizar crime falimentar, conforme art. 178, da
Lei n. 11.101/2005.

Art. 178. Deixar de elaborar, escriturar ou autenticar, antes ou depois


da sentença que decretar a falência, conceder a recuperação judicial
ou homologar o plano de recuperação extrajudicial, os documentos de
escrituração contábil obrigatórios: Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois)
anos, e multa, se o fato não constitui crime mais grave.

1.5.  ESTABELECIMENTO EMPRESARIAL

Entende-se por estabelecimento empresarial, conforme art. 1.142 do CC, “todo complexo de
bens organizado, para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária”.
Observe-se que “bens” abrangem bens materiais (mercadorias, equipamentos, imóvel, veículos,
móveis, utensílios etc.) e imateriais (nome empresarial, marca, ponto comercial, patente, domínio
de internet etc.).

O estabelecimento comercial é considerado uma universalidade de fato, já que constitui um


complexo de bens cuja fnalidade é determinada pela vontade da pessoa jurídica.

A Lei nº 14.195/21 acrescentou três parágrafos ao art. 1.142 do CC, para tratar do conceito
de estabelecimento empresarial, deixando claro que o estabelecimento não se confunde com o
local onde se exerce a atividade empresarial, que poderá ser físico ou virtual, sendo que, na
hipótese de ser virtual, o endereço informado para fns de registro poderá ser, conforme o caso, o
do empresário individual ou o de um dos sócios da sociedade empresária.

O novo § 3º deixa claro, ainda, que compete aos Municípios legislar sobre o horário de
funcionamento dos estabelecimentos comerciais situados no âmbito de seus territórios, conforme
inclusive previsto na súmula vinculante 38 do STF, já que se trata de matéria “de interesse local”,
cuja competência é municipal, nos termos do art. 30, I, da CF/88.

Vejamos a nova redação do art. 1.142 do CC:

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Art. 1.142 do CC - Considera-se estabelecimento todo complexo de bens organizado,
para exercício da empresa, por empresário, ou por sociedade empresária.

§ 1º O estabelecimento não se confunde com o local onde se exerce a atividade


empresarial, que poderá ser físico ou virtual.
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§ 2º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for virtual, o endereço


informado para fns de registro poderá ser, conforme o caso, o do empresário individual
ou o de um dos sócios da sociedade empresária.

§ 3º Quando o local onde se exerce a atividade empresarial for físico, a fxação do horário
de funcionamento competirá ao Município, observada a regra geral do inciso II do caput
do art. 3º da Lei nº 13.874, de 20 de setembro de 2019.”

O nome dado ao contrato de compra e venda de estabelecimento empresarial, provocando a


transferência da sua titularidade, denomina-se trespasse.

Conforme previsto no art. 1.145 do CC, se ao alienante não restarem bens sufcientes para
solver o seu passivo, a efcácia da alienação do estabelecimento depende do pagamento de todos
os credores, ou do consentimento destes, de modo expresso ou tácito, em 30 (trinta) dias a partir
de sua notifcação TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV.

O art. 1.146 do CC, por sua vez, estabelece que “o adquirente do estabelecimento responde
pelo pagamento dos débitos anteriores à transferência, desde que regularmente contabilizados,
continuando o devedor primitivo solidariamente obrigado pelo prazo de um ano, a partir, quanto
aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da data do vencimento”. TEMA
COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

Desse modo, se os débitos anteriores à transferência estiverem devidamente contabilizados,


o adquirente responderá pelo seu pagamento, fcando o alienante solidariamente obrigado pelo
prazo de um ano, a partir, quanto aos créditos vencidos, da publicação, e, quanto aos outros, da
data do vencimento. Por outro lado, os débitos contraídos antes do trespasse e não contabilizados
serão de responsabilidade apenas do alienante.

Além disso, a transferência do estabelecimento importa a sub-rogação do adquirente nos contratos


celebrados anteriormente para sua exploração. Entretanto, nada impede que no contrato de transferência
essa sub-rogação seja afastada pelas partes . TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB/FGV.

Registre-se ainda que, de acordo com o art. 1.147 do CC, “não havendo autorização expressa,
o alienante do estabelecimento não pode fazer concorrência ao adquirente, nos cinco anos
subsequentes à transferência” TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/FGV.

1.6.  NOME EMPRESARIAL

De acordo com o Art. 1.155 do CC, “considera-se nome empresarial a frma ou a denominação
adotada, de conformidade com este Capítulo, para o exercício de empresa”.

O nome empresarial representa o elemento que identifca o empresário ou a sociedade


empresária, podendo ser de duas espécies: a) frma, que pode ser individual ou social (razão
social) ou b) denominação.
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FIRMA FIRMA DENOMINAÇÃO
INDIVIDUAL SOCIAL
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Somente para o Sociedade de Sociedade de


APLICAÇÃO empresário individual responsabilidade responsabilidade
ILIMITADA LIMITADA;

Nome civil do Nome(s) Nome fantasia,


empresário, do(s) sócio(s), como, por exemplo,
completo ou completo(s) ou “Muita Gula”, “Cê
abreviado, acrescido, abreviado(s), Que Sabe”, etc”.
facultativamente, do acompanhado(s)
ramo de atividades. ou não do ramo
Ex. “Carlos Gonçalves de atividades.
Guimarães”, “C. Ex.: “Ana Jimenez
COMPOSIÇÃO Guimarães” ou e Paulo Matos”,
“C. Guimarães “A. Jimenez e
Construções” (art. P. Matos” ou
1.156 do CC). “A. Jimenez
TEMA COBRADO e P. Matos
NOS EXAMES XXVI Construções”.
E XXXVIII DA OAB/
FGV

A Lei nº 14.195/21 acrescentou o 35-A na Lei nº 8.934/94, prevendo a possibilidade de o


empresário ou sociedade utilizar o CNPJ como nome social.

Antes dessa alteração legislativa, o art. 1.155 do CC previa a possibilidade de utilização de


apenas duas espécies de nome empresarial: 1) frma e 2) denominação.

Agora, com a vigência da Lei nº 14.195/21, existe a possibilidade também de se utilizar o CNPJ
como nome social, conforme art. 35-A da Lei nº 8.934/94, in verbis:

Art. 35-A. O empresário ou a pessoa jurídica poderá optar por utilizar o número de
inscrição no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) como nome empresarial,
seguido da partícula identifcadora do tipo societário ou jurídico, quando exigida por lei.

A proteção ao nome empresarial ocorre com registro Junta Comercial. Cada unidade da
federação possui a sua própria Junta Comercial (órgão estadual), de modo que a proteção do nome
empresarial é de âmbito estadual.

Art. 1.166 do CC. A inscrição do empresário, ou dos atos constitutivos das pessoas
jurídicas, ou as respectivas averbações, no registro próprio, asseguram o uso exclusivo
do nome nos limites do respectivo Estado.

Parágrafo único. O uso previsto neste artigo estender-se-á a todo o território nacional,
se registrado na forma da lei especial.

Nome empresarial é diferente de marca. Nome empresarial identifca a pessoa física ou jurídica;
a marca identifca o produto ou o serviço. A proteção da marca se dá com o registro no INPI 11
(Instituto Nacional de Propriedade Industrial), que é de âmbito federal.
CARACTERÍSTICAS DO NOME EMPRESARIAL:

VERACIDADE: o nome empresarial deve ser verdadeiro, deve corresponder com a realidade da
atividade empresarial. Ex.: não é possível colocar na sociedade o nome de pessoa que não é sócio ou
de pessoa falecida. Aliás, se um dos sócios falecer, seu nome deve sair da frma social.
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Art. 1.165 do CC. O nome de sócio que vier a falecer, for excluído ou se retirar,
não pode ser conservado na frma social.

INALIENABILIDADE (obs: o nome empresarial é inalienável, mas a marca não é inalienável, ou


seja, pode ser vendida).

Art. 1.164. O nome empresarial não pode ser objeto de alienação.

Parágrafo único. O adquirente de estabelecimento, por ato entre vivos, pode, se


o contrato o permitir, usar o nome do alienante, precedido do seu próprio, com
a qualifcação de sucessor.

NOVIDADE: o nome empresarial deve ser novo, ou seja, sem registro na Junta Comercial, uma
vez que não é possível a coexistência, na mesma unidade da federação, de nomes idênticos.

IMPRESCRITIBILIDADE: a ação para anular a inscrição do nome empresarial não prescreve,


conforme previsto no art. 1.167 do CC:

Art. 1.167. Cabe ao prejudicado, a qualquer tempo, ação para anular a inscrição
do nome empresarial feita com violação da lei ou do contrato.

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2.  PROPRIEDADE INDUSTRIAL


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A propriedade intelectual é gênero do qual são espécies a propriedade industrial e o direito


autoral. Ao direito empresarial interessa sobretudo a propriedade industrial (lei n. 9.279/96), que
se refere às criações intelectuais para o exercício da atividade empresária.

De acordo com o art. 2º, da Lei n. 9.279/96, a proteção dos direitos relativos à propriedade
industrial, considerado o seu interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do
País, efetua-se mediante:

• I - concessão de patentes de invenção e de modelo de utilidade;

• II - concessão de registro de desenho industrial;

• III - concessão de registro de marca; TEMA COBRADO NO XXXVII EXAME DA


OAB/FGV.

• IV - repressão às falsas indicações geográfcas; e

• V - repressão à concorrência desleal.

Ressalta-se ainda que os direitos de propriedade industrial são considerados bens móveis
para todos os efeitos legais.

São bens de propriedade industrial: Invenção, modelo de utilidade, desenho industrial e


marca. A invenção e o modelo de utilidade exigem patente, enquanto desenho industrial e marca
exigem registro, sempre diante ao INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial).

2.1.  BENS PATENTEÁVEIS

Ao autor de invenção ou modelo de utilidade será assegurado o direito de obter a patente que
lhe garanta a propriedade, nas condições estabelecidas em lei. A patente poderá ser requerida
em nome próprio, pelos herdeiros ou sucessores do autor, pelo cessionário ou por aquele a
quem a lei ou o contrato de trabalho ou de prestação de serviços determinar que pertença a
titularidade TEMA COBRADO NO XVI EXAME DA OAB.

Quando se tratar de invenção ou de modelo de utilidade realizado conjuntamente por duas ou


mais pessoas, a patente poderá ser requerida por todas ou qualquer delas, mediante nomeação e
qualifcação das demais, para ressalva dos respectivos direito.

2.1.1.  INVENÇÃO

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Considera-se invenção a atividade intelectual que respeitar os seguintes requisitos:

• Novidade: de acordo com o art. 11 da Lei n. 9.279/96, considera-se novidade aquilo que
não está compreendido no estado da técnica (estágio atual da técnica, abrangendo
todos os conhecimentos a que pode ter acesso qualquer pessoa, especialmente os
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estudiosos de um assunto específco, no Brasil ou no exterior).

• Atividade inventiva: sempre que para um técnico no assunto não decorra de


maneira óbvia ou evidente do estado da técnica (é necessário avanço, progresso),
conforme art. 13 da Lei nº Lei n. 9.279/96.

• Aplicação industrial: : só se reconhece a invenção se esta puder ser industrializada.

• Não-Impedimento legal: de acordo com o art. 18 Lei n. 9.279/96, não são patenteáveis:
I - o que for contrário à moral, aos bons costumes e à segurança, à ordem e à saúde
públicas; II - as substâncias, matérias, misturas, elementos ou produtos de qualquer
espécie, bem como a modifcação de suas propriedades físico-químicas e os respectivos
processos de obtenção ou modifcação, quando resultantes de transformação do núcleo
atômico; e III - o todo ou parte dos seres vivos, exceto os microrganismos transgênicos1
que atendam aos três requisitos de patenteabilidade - novidade, atividade inventiva e
aplicação industrial - previstos no art. 8º e que não sejam mera descoberta.

Se a invenção ou modelo de utilidade for realizada por empregado ou prestador de serviço,


deve-se questionar: 1) Se a invenção faz parte do contrato de trabalho, e 2) Se os materiais e
meios para a realização da invenção são do empregador.

Se as respostas forem “SIM” e “SIM”, a titularidade será do empregador (foi contratado


para inventar);

Se as respostas forem “NÃO” e “SIM”, a Titularidade será comum, empregado e empregador,


com proveitos divididos em partes iguais;

Se as respostas forem “NÃO” e “NÃO”, a titularidade será do empregado.

2.1.2.  MODELO DE UTILIDADE

De acordo com o art. 9º da Lei n. 9.279/96, é patenteável como modelo de utilidade o objeto
de uso prático, ou parte deste, suscetível de aplicação industrial, que apresente nova forma ou
disposição, envolvendo ato inventivo, que resulte em melhoria funcional no seu uso ou em sua
fabricação. A título de exemplo, podemos imaginar a criação de um liquidifcador que não faz
1 Para os fns da Lei n. 9.279/96, microrganismos transgênicos são organismos, exceto o todo ou
parte de plantas ou de animais, que expressem, mediante intervenção humana direta em sua composição
genética, uma característica normalmente não alcançável pela espécie em condições naturais.

14
nenhum barulho.

A vigência da patente terá o prazo fxo de 20 anos para as invenções e de 15 anos para os
modelos de utilidade, contados da data do depósito.
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Terminado esse prazo de vigência, a proteção termina e o objeto passa a ser considerado de
domínio público, conforme art. 78, I, da Lei n. 9.279/96

É importante registrar que a patente (bem móvel imaterial) pode ser licenciada, ou seja, é
possível que o titular da patente autorize uma ou mais empresas a fabricarem e comercializarem
o produto coberto pela patente, o que se denomina de licenciamento voluntário.

A Licença voluntária (artigos 61 e 62) ocorre, portanto, quando o titular da patente celebra um
contrato, averbado no INPI, permitindo, mediante contraprestação (“royalty”), que terceiro explore
a patente.

Além disso, existe também a possibilidade do licenciamento compulsório (art. 68 e seguintes),


hipótese em que o titular da patente é obrigado a conceder a licença, mesmo contra a sua vontade.

O titular fcará sujeito a ter a patente licenciada compulsoriamente se exercer os direitos


dela decorrentes de forma abusiva, ou por meio dela praticar abuso de poder econômico,
comprovado nos termos da lei, por decisão administrativa ou judicial. Ensejam, igualmente,
a licença compulsória: I - a não exploração do objeto da patente no território brasileiro por
falta de fabricação ou fabricação incompleta do produto, ou, ainda, a falta de uso integral
do processo patenteado, ressalvados os casos de inviabilidade econômica, quando será
admitida a importação; ou II - a comercialização que não satisfzer às necessidades do
mercado TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB.

Além disso, nos casos de emergência nacional ou internacional ou de interesse público


declarados em lei ou em ato do Poder Executivo federal, ou de reconhecimento de estado
de calamidade pública de âmbito nacional pelo Congresso Nacional, poderá ser concedida
licença compulsória, de ofício, temporária e não exclusiva, para a exploração da patente ou do
pedido de patente, sem prejuízo dos direitos do respectivo titular, desde que seu titular ou seu
licenciado não atenda a essa necessidade. (Redação dada pela Lei nº 14.200/2021)

2.2.  BENS REGISTRÁVEIS

2.2.1.  DESENHO INDUSTRIAL

De acordo com o art. 95 da Lei n. 9.279/96, considera-se desenho industrial a forma plástica
ornamental de um objeto ou o conjunto ornamental de linhas e cores que possa ser aplicado a um
produto, proporcionando resultado visual novo e original na sua confguração externa e que possa
servir de tipo de fabricação industrial.

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Assim, o segredo para identifcar se é desenho industrial ou modelo de utilidade é verifcar
se houve alguma melhoria funcional ou apenas uma alteração estética. Se houver melhoria,
será modelo de utilidade. Caso haja apenas alteração estética, estaremos diante de um
desenho industrial.
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O pedido de registro que não atender às condições estabelecidas pelo INPI, mas contiver dados
sufcientes relativos ao depositante, ao desenho industrial e ao autor, poderá ser recebido, desde que
sejam cumpridas, em 5 (cinco) dias, as exigências do INPI. TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA
OAB.

2.2.2.  MARCA

Marca é o sinal distintivo visualmente perceptível não compreendido entre as proibições legais.

No Brasil, som não pode ser registrado como marca, porque não é visualmente perceptível.

Requisitos para a Marca:

• Novidade: trata-se de novidade relativa, uma vez que a proibição se refere ao mesmo
ramo empresarial, de acordo com a classifcação do INPI.

• Não colidência com marca notória: marca notória é aquela conhecida por todos e
a automaticamente protegida pela Convenção da União de Paris. Assim, o INPI não
poderá fazer o registro de marca notória se este não for solicitado por seu titular, ou
seja, a marca notória não depende de registro no INPI para ter proteção legal.

• Não impedimento: os casos de impedimento são trazidos pelo art. 124 da Lei n.
9.279/96. Vejamos os três casos mais importantes: I) Brasão, bandeira, monumentos
ofciais, nacionais ou internacionais, II) Designação ou sigla de entidade ou órgão
público e III) Sinal que induza a falsa indicação geográfca.

A AÇÃO DE NULIDADE DE MARCA OU PATENTE deve ser ajuizada na Justiça Federal, já que o
INPI é autarquia federal. Se o INPI não for o autor da ação, deverá intervir no processo. O PRAZO
PRESCRICIONAL da ação de nulidade de patente dura enquanto for vigente a patente; já o da
marca é cinco anos a partir da concessão. O prazo para a contestação da ação é de 60 dias.

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QUADRO GERAL – EXCLUSIVIDADE DE EXPLORAÇÃO

PROPRIEDADE INDUSTRIAL

PATENTE REGISTRO

MODELO DE DESENHO INDUSTRIAL


INVENÇÃO MARCA
UTILIDADE

Prazo de vigência: 10 Prazo de vigência:


Prazo de vigência:
Prazo de vigência: anos, contado da data
20 anos, contado 20 anos, contado
15 anos, contado do depósito. O prazo
do depósito. Não é do depósito.
do depósito. Não é é prorrogável até 3
possível prorrogação Não é possível
possível prorrogação vezes, por até 5 anos
do prazo prorrogação do
do prazo. a cada vez (total → 15 prazo
anos), após o que cai
em domínio público.

BENS PATENTEÁVEIS BENS REGISTRÁVEIS

O prazo de vigência do desenho industrial é


prorrogável até 3 vezes, por até 5 anos cada
vez (total de15 anos). Após, cai em domínio
Não é possível a prorrogação do prazo de público.
vigência. Desse modo, após esgotado prazo, o
bem cai em domínio público.
Já o prazo de vigência da marca não tem limite
de prorrogação, podendo ser prorrogado em 10
em 10 anos.

Registra-se, por fm, que, de acordo com o art. 225 da Lei nº 9.279/96, “prescreve em 5 (cinco)
anos a ação para reparação de dano causado ao direito de propriedade industrial”. TEMA
COBRADO NO XXX EXAME DA OAB.

17
3

3.  DIREITO SOCIETÁRIO


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3.1.  SOCIEDADES NÃO PERSONIFICADAS

São as sociedades que não foram levadas a registro: Sociedade em Comum e Sociedade em
Conta de Participação.

3.1.1.  SOCIEDADE EM COMUM

Art. 986. Enquanto não inscritos os atos constitutivos, reger-se-á a sociedade, exceto
por ações em organização, pelo disposto neste Capítulo, observadas, subsidiariamente
e no que com ele forem compatíveis, as normas da sociedade simples.

Art. 987. Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente por escrito podem
provar a existência da sociedade, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo.

Art. 988. Os bens e dívidas sociais constituem patrimônio especial, do qual os sócios são
titulares em comum TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV.

Art. 989. Os bens sociais respondem pelos atos de gestão praticados por qualquer dos
sócios, salvo pacto expresso limitativo de poderes, que somente terá efcácia contra o
terceiro que o conheça ou deva conhecer.

Art. 990. Todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas obrigações


sociais, excluído do benefício de ordem, previsto no art. 1.024, aquele que contratou
pela sociedade.

Sociedade em Comum é aquela que se encontra em funcionamento mas que não tem ato
constitutivo arquivado no cartório (sociedade simples) ou na junta comercial (todas as demais).

Portanto, tais sociedades poderiam, mas não adquiriram personalidade jurídica por desídia
dos sócios.

Os sócios, nas relações entre si ou com terceiros, somente podem provar a existência da
sociedade em comum por escrito, mas os terceiros podem prová-la de qualquer modo, inclusive
testemunhas ou quaisquer documentos.

Na sociedade em comum, todos os sócios respondem solidária e ilimitadamente pelas dívidas,


sendo excluído do benefício de ordem do artigo 1.024 do CC aquele que contratou pela sociedade.
Assim, todos os sócios respondem pelas dívidas após o exaurimento do patrimônio social, mas o
que contratou em nome da sociedade não poderá alegar benefício de ordem.

Caso seja levada a registro, a sociedade em comum passa a ser uma sociedade personifcada.

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3.1.2.  SOCIEDADE EM CONTA DE PARTICIPAÇÃO

Art. 991. Na sociedade em conta de participação, a atividade constitutiva do objeto social


é exercida unicamente pelo sócio ostensivo, em seu nome individual e sob sua própria
e exclusiva responsabilidade, participando os demais dos resultados correspondentes.
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Parágrafo único. Obriga-se perante terceiro tão-somente o sócio ostensivo; e,


exclusivamente perante este, o sócio participante, nos termos do contrato social.

Art. 992. A constituição da sociedade em conta de participação independe de qualquer


formalidade e pode provar-se por todos os meios de direito.

Art. 993. O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição
de seu instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade.

Parágrafo único. Sem prejuízo do direito de fscalizar a gestão dos negócios sociais, o
sócio participante não pode tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros,
sob pena de responder solidariamente com este pelas obrigações em que intervier.

Art. 994. A contribuição do sócio participante constitui, com a do sócio ostensivo,


patrimônio especial, objeto da conta de participação relativa aos negócios sociais.

§ 1º A especialização patrimonial somente produz efeitos em relação aos sócios.

§ 2º A falência do sócio ostensivo acarreta a dissolução da sociedade e a liquidação da


respectiva conta, cujo saldo constituirá crédito quirografário.

§ 3º Falindo o sócio participante, o contrato social fca sujeito às normas que regulam os
efeitos da falência nos contratos bilaterais do falido.

Art. 995. Salvo estipulação em contrário, o sócio ostensivo não pode admitir novo sócio
sem o consentimento expresso dos demais.

Art. 996. Aplica-se à sociedade em conta de participação, subsidiariamente e no que com


ela for compatível, o disposto para a sociedade simples, e a sua liquidação rege-se pelas
normas relativas à prestação de contas, na forma da lei processual.

A sociedade em conta de participação é o tipo societário, não personifcado, por determinação


legal, constituído por duas categorias de sócios: o ostensivo e o participante.

O sócio ostensivo é o único a exercer a atividade, tem responsabilidade exclusiva, e age em seu
próprio nome individual TEMA COBRADO NO VIII EXAME DA OAB/FGV.

O sócio participante (ou oculto), por sua vez, contribui com recursos e participa dos resultados
correspondentes, mas não responde perante terceiros. Quando demandada a sociedade em conta
de participação, deve fgurar no polo passivo o sócio ostensivo.

Apesar de não poder tomar parte nas relações do sócio ostensivo com terceiros, sob pena
de responder solidariamente com eles pelas obrigações que intervier, o sócio participante pode
fscalizar a gestão dos negócios sociais pelo sócio ostensivo, conforme previsto no parágrafo único
do art. 993 do CC TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB.

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O contrato social produz efeito somente entre os sócios, e a eventual inscrição de seu
instrumento em qualquer registro não confere personalidade jurídica à sociedade. Assim, a
sociedade em conta de participação, ainda que registrada, não será personifcada.

3.2.  SOCIEDADES PERSONIFICADAS

Art. 982 do CC. Salvo as exceções expressas, considera-se empresária a sociedade que
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tem por objeto o exercício de atividade própria de empresário sujeito a registro (art.
967); e, simples, as demais.

Parágrafo único. Independentemente de seu objeto, considera-se empresária a


sociedade por ações; e, simples, a cooperativa.

As sociedades personifcadas são aquelas que foram devidamente registradas, ou seja,


possuem personalidade jurídica.

São dividias em empresárias e simples.

SOCIEDADES SIMPLES SOCIEDADES EMPRESÁRIAS

O desempenho das atividades ocorre Existe o elemento da empresa, ou seja, a


pelos próprios sócios. atividade é organizada para a produção de bens
e serviços.

Contrato social deve ser registrado no Contrato Social ou Estatuto registrado na


Registro Civil no prazo de 30 dias, sob Junta Comercial
pena da sociedade ser considerada
irregular (art. 998 do CC).

Como exceção à regra geral, as


sociedades de advogados são registradas
na OAB, e as cooperativas são registradas
na junta comercial.

Sociedade Limitada; Sociedade em nome coletivo;

Sociedade em Comandita simples; Sociedade em comandita simples;

Sociedade em nome coletivo. Sociedade em comandita por ações;

ICooperativa; Sociedade anônima;

Sociedade simples (cuidado: “simples” Sociedade limitada.


pode ser a natureza da sociedade ou o tipo
societário).

20
• As sociedades simples são registradas no Registro Civil, salvo no caso das sociedades de
advogados, registradas na OAB, e das cooperativas, registradas na junta comercial.
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• A Sociedade Anônima e a Sociedade em Comandita por Ações são sempre empresárias,


enquanto que a sociedade cooperativa é sempre simples.

Desse modo, as sociedades simples são registradas no registro civil e não têm características
empresárias, porque os serviços são prestados pelos próprios sócios (sociedade de dentistas, médicos
e outros profssionais intelectuais), ainda que com o auxílio de algumas pessoas. São consideradas
também sociedades simples as sociedades que desempenham atividades rurais, desde que não
tenham registros, bem como as sociedades cooperativas, independentemente da atividade.

Por outro lado, se os sócios organizarem o capital e o trabalho, contratando outras pessoas
para executarem os serviços, de modo que eles passem a comandar a referida atividade, então a
sociedade terá características empresárias.

3.2.1.  SOCIEDADE COOPERATIVA

A sociedade cooperativa integra pessoas que reciprocamente se obrigam a contribuir com


bens ou serviços para o exercício de uma atividade econômica, de proveito comum, sem objetivo
de lucro, sendo regida pela Lei n. 5.764/71.

Independentemente do seu objeto, será considerada uma sociedade simples, conforme art. 1.093 do
CC, motivo pelo qual não está sujeita à falência nem pode requerer recuperação judicial/extrajudicial.

A respeito das características da cooperativa, importante o conhecimento do art. 4 da Lei n. 5.764/71.


Art. 4º As cooperativas são sociedades de pessoas, com forma e natureza jurídica
próprias, de natureza civil, não sujeitas a falência, constituídas para prestar serviços
aos associados, distinguindo-se das demais sociedades pelas seguintes características:
I - adesão voluntária, com número ilimitado de associados, salvo impossibilidade técnica
de prestação de serviços;
II - variabilidade do capital social representado por quotas-partes;
III - limitação do número de quotas-partes do capital para cada associado, facultado,
porém, o estabelecimento de critérios de proporcionalidade, se assim for mais adequado
para o cumprimento dos objetivos sociais;
IV - incessibilidade das quotas-partes do capital a terceiros, estranhos à sociedade;
V - singularidade de voto, podendo as cooperativas centrais, federações e confederações
de cooperativas, com exceção das que exerçam atividade de crédito, optar pelo critério
da proporcionalidade;
VI - quorum para o funcionamento e deliberação da Assembléia Geral baseado no
número de associados e não no capital;
VII - retorno das sobras líquidas do exercício, proporcionalmente às operações realizadas
pelo associado, salvo deliberação em contrário da Assembléia Geral;
21
VIII - indivisibilidade dos fundos de Reserva e de Assistência Técnica Educacional e Social;
IX - neutralidade política e indiscriminação religiosa, racial e social;
X - prestação de assistência aos associados, e, quando previsto nos estatutos, aos
empregados da cooperativa;
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XI - área de admissão de associados limitada às possibilidades de reunião, controle,


operações e prestação de serviços.

As sociedades cooperativas poderão ser de responsabilidade limitada, quando a responsabilidade


do associado pelos compromissos da sociedade se limitar ao valor do capital por ele subscrito, ou
de responsabilidade ilimitada, quando a responsabilidade do associado pelos compromissos da
sociedade for pessoal, solidária e não tiver limite (arts 11 e 12 da Lei n. 5.764/71).

Uma das características da cooperativa é justamente a variabilidade, ou dispensa do capital


social, conforme art. 1.094, I, do CC.

Além disso, caso possua capital social, as quotas serão intransferíveis a terceiros estranhos
à sociedade, ainda que por direito hereditário, conforme art. 1.094, IV, do CC. TEMA COBRADO
NO XI EXAME DA OAB/FGV. Vejamos as caracteríísicas das cooperativas:
Art. 1.094 do CC. São características da sociedade cooperativa:
I - variabilidade, ou dispensa do capital social;
II - concurso de sócios em número mínimo necessário a compor a administração da
sociedade, sem limitação de número máximo;
III - limitação do valor da soma de quotas do capital social que cada sócio poderá tomar;
IV - intransferibilidade das quotas do capital a terceiros estranhos à sociedade, ainda
que por herança;
V - quorum , para a assembléia geral funcionar e deliberar, fundado no número de
sócios presentes à reunião, e não no capital social representado;
VI - direito de cada sócio a um só voto nas deliberações, tenha ou não capital a sociedade,
e qualquer que seja o valor de sua participação;
VII - distribuição dos resultados, proporcionalmente ao valor das operações efetuadas
pelo sócio com a sociedade, podendo ser atribuído juro fxo ao capital realizado;
VIII - indivisibilidade do fundo de reserva entre os sócios, ainda que em caso de
dissolução da sociedade.
Art. 1.095. Na sociedade cooperativa, a responsabilidade dos sócios pode ser limitada
ou ilimitada..

A responsabilidade do associado para com terceiros, como membro da sociedade, somente


poderá ser invocada depois de judicialmente exigida da cooperativa (benefício de ordem).

Importante destacar que a Lei nº 13.806/2019 acrescentou o art. 88-A à Lei nº 5.764/71,
dispondo que a cooperativa poderá ser dotada de legitimidade extraordinária autônoma
concorrente para agir como substituta processual em defesa dos direitos coletivos de seus
associados quando a causa de pedir versar sobre atos de interesse direto dos associados que
tenham relação com as operações de mercado da cooperativa, desde que isso seja previsto em seu
estatuto e haja, de forma expressa, autorização manifestada individualmente pelo associado ou por
22
meio de assembleia geral que delibere sobre a propositura da medida judicial.
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3.2.2.  SOCIEDADE SIMPLES

É o tipo societário contratual, não empresário, que pode ter qualquer objeto social relacionado
à prestação de serviços.

A sociedade simples é um tipo societário específco e possui um conjunto genérico de normas, que
são aplicáveis, no que couber, a todos os demais tipos societários contratuais (art. 997 a 1.038 do CC).

Além disso, o código civil também admite que sejam utilizadas regras de outras sociedades
empresárias contratuais à sociedade simples, ou seja, a sociedade simples é importadora e
exportadora de normas.

A Sociedade simples pura usará denominação que é equiparada ao nome empresarial. (art.
1.155 do CC), já a sociedade simples limitada pode usar frma ou denominação, conforme o artigo
1.158 do CC. TEMA COBRADO NO XXXVII EXAME DA OAB/FGV.

Na sociedade simples a cessão total ou parcial das quotas depende do consentimento dos
demais sócios (art. 1.003 do CC), ou seja, trata-se de uma sociedade de pessoas.

Art. 1.003. A cessão total ou parcial de quota, sem a correspondente modifcação do


contrato social com o consentimento dos demais sócios, não terá efcácia quanto a estes
e à sociedade.

Parágrafo único. Até dois anos depois de averbada a modifcação do contrato, responde
o cedente solidariamente com o cessionário, perante a sociedade e terceiros, pelas
obrigações que tinha como sócio.

A sociedade simples deve ser constituída mediante contrato social, escrito, público ou
particular, que além das cláusulas livremente estipuladas entre os sócios (não essenciais), deve
conter os seguintes elementos essenciais (art. 997 do CC):

Art. 997. A sociedade constitui-se mediante contrato escrito, particular ou público, que,
além de cláusulas estipuladas pelas partes, mencionará:

I - nome, nacionalidade, estado civil, profssão e residência dos sócios, se pessoas


naturais, e a frma ou a denominação, nacionalidade e sede dos sócios, se jurídicas;

II - denominação, objeto, sede e prazo da sociedade;

III - capital da sociedade, expresso em moeda corrente, podendo compreender qualquer


espécie de bens, suscetíveis de avaliação pecuniária;

IV - a quota de cada sócio no capital social, e o modo de realizá-la;

V - as prestações a que se obriga o sócio, cuja contribuição consista em serviços;

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VI - as pessoas naturais incumbidas da administração da sociedade, e seus
poderes e atribuições;

VII - a participação de cada sócio nos lucros e nas perdas;


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VIII - se os sócios respondem, ou não, subsidiariamente, pelas obrigações sociais.

Parágrafo único. É inefcaz em relação a terceiros qualquer pacto separado, contrário ao


disposto no instrumento do contrato.

A sociedade simples que admite sócios pessoas jurídicas, deve usar denominação. O objeto
deve ser a prestação de serviços, não caracterizando atividade empresária.

Embora tenha sido extinta a sociedade de capital e indústria, prevista no código comercial de
1850, o código civil de 2002 admite que na sociedade simples existam sócios que contribuam com
capital, e outros que contribuam apenas com serviços, sendo que nesse último caso os sócios só
participam dos lucros, e não das perdas.

Art. 1.007. Salvo estipulação em contrário, o sócio participa dos lucros e das perdas, na
proporção das respectivas quotas, mas aquele, cuja contribuição consiste em serviços,
somente participa dos lucros na proporção da média do valor das quotas.

Em que pese o art. 1.008 do CC estabeleça que é nula a estipulação contratual que exclua
qualquer sócio dos lucros e das perdas, entende-se que que esse artigo não se aplica ao sócio
com participação apenas em serviço, já que o art. 1.007 é expresso no sentido de que ele não irá
participar das perdas.

O contrato social e suas alterações devem ser registrados no cartório de registro civil de
pessoas jurídicas, no prazo de até 30 dias, contados da constituição da sociedade ou de eventuais
modifcações, sob pena da sociedade ser considerada irregular.

O art. 999 do CC estabelece que as modifcações do contrato social, que tenham por objeto
matéria indicada no art. 997 do CC dependem do consentimento de todos os sócios; enquanto
que as demais podem ser decididas por maioria absoluta de votos, se o contrato não determinar
a necessidade de deliberação unânime.

Desse modo, o sócio minoritário tem poder de veto em relação as matérias do art. 997 do CC.

As demais matérias (cláusulas não essenciais) dependem, para modifcação, da decisão da


maioria absoluta de votos2, exceto se o contrato exigir deliberação unânime.

ADMINISTRAÇÃO

A Sociedade Simples pode ser administrada por sócio ou não sócio, designado no contrato
social, ou em ato (instrumento) separado (ex.: ata de reunião; escritura). Não podem ser
administradores da Sociedade Simples as pessoas mencionadas no art. 1.011, §1° do CC, sendo
que referidos impedimentos também aplicam à administração das demais sociedades:

Art. 1.011. O administrador da sociedade deverá ter, no exercício de suas funções, o

2 Considera-se maioria absoluta mais da metade das quotas da sociedade (capital social).
24
cuidado e a diligência que todo homem ativo e probo costuma empregar na administração
de seus próprios negócios.

§ 1º Não podem ser administradores, além das pessoas impedidas por lei especial, os
condenados a pena que vede, ainda que temporariamente, o acesso a cargos públicos;
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ou por crime falimentar, de prevaricação, peita ou suborno, concussão, peculato; ou


contra a economia popular, contra o sistema fnanceiro nacional, contra as normas de
defesa da concorrência, contra as relações de consumo, a fé pública ou a propriedade,
enquanto perdurarem os efeitos da condenação.

Como regra geral, a sociedade responde pelos atos de seus administradores, ainda que estes
tenham extrapolado seus poderes e atribuições. No entanto, o parágrafo único do art. 1.015 do CC
previa três exceções, vejamos:

Art. 1.015. No silêncio do contrato, os administradores podem praticar todos os atos


pertinentes à gestão da sociedade; não constituindo objeto social, a oneração ou a
venda de bens imóveis depende do que a maioria dos sócios decidir.

Parágrafo único. O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a
terceiros se ocorrer pelo menos uma das seguintes hipóteses:

I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;

II - provando-se que era conhecida do terceiro;

III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

O inciso III era inclusive conhecido como aplicação da “teoria ultra vires societatis”,
segundo a qual, havendo operação do administrador evidentemente estranha aos negócios da
sociedade, essa operação não vincularia terceiros.

A Lei nº 14.195/21, no entanto, revogou expressamente o parágrafo único do art.


1.105 do CC, retirando as exceções em que a sociedade não responderia por atos de seus
administradores, o que acaba prestigiando a boa-fé e a segurança jurídica. Agora, portanto,
a sociedade responde pelos atos de seus administradores, independentemente da situação.

O art. 1.016 do CC, por sua vez, dispõe que os administradores podem ser responsabilizados
solidariamente com a sociedade no caso de atuarem com culpa.

Art. 1.016. Os administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os


terceiros prejudicados, por culpa no desempenho de suas funções.

Ressalta-se que o administrador designado no contrato social e que seja sócio da sociedade,
somente poderá pode ser destituído ou ter os seus atos revogados, por justa causa, provada
judicialmente. Já o administrador (sócio ou não sócio) designado em ato separado e o administrador
não sócio podem ser destituídos a qualquer tempo, pela maioria absoluta.
Art. 1.019. São irrevogáveis os poderes do sócio investido na administração por cláusula
expressa do contrato social, salvo justa causa, reconhecida judicialmente, a pedido de
qualquer dos sócios.
Parágrafo único: São revogáveis, a qualquer tempo, os poderes conferidos a sócio por
25
ato separado, ou a quem não seja sócio.

ADMINISTRADOR NÃO SÓCIO


ADMINISTRADOR SÓCIO E OU SÓCIO DESIGNADO EM ATO
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DESIGNADO NO CONTRATO SOCIAL SEPARADO.

Somente poderá pode ser destituído ou ter os seus Podem ser destituídos a qualquer tempo, pela
atos revogados, por justa causa, provada judicialmente maioria absoluta

Tais regras são aplicáveis à sociedade em nome coletivo e comandita simples, mas não à sociedade limitada.

RELAÇÕES COM TERCEIROS

A sociedade simples adquire direitos e contrai obrigações por meio de seus administradores.

A responsabilidade dos sócios pode ser limitada ou ilimitada, conforme dispuser o contrato.

Quando a responsabilidade é ilimitada, os bens pessoais dos sócios só podem ser atingidos
após a execução dos bens sociais, em razão do benefício de ordem (responsabilidade subsidiária),
previsto no art. 1.024 do CC.

Art. 1.024. Os bens particulares dos sócios não podem ser executados por dívidas da
sociedade, senão depois de executados os bens sociais.

Essa regra é aplicável a todas as sociedades, exceto ao sócio que contratou pela sociedade
em comum, que não terá o benefício de ordem, conforme art. 990 do CC. TEMA COBRADO NO
XXXVII EXAME DA OAB/FGV.

Além disso, o sócio admitido em sociedade já constituída não se exime das dívidas sociais
anteriores à admissão, conforme art. 1.025 do CC TEMA COBRADO NO XVII EXAME DA OAB/
FGV, e aquele que se retirou responde por até 2 anos, depois da averbação da alteração contratual,
conforme art. 1.003, parágrafo único, do CC.

RESOLUÇÃO DA SOCIEDADE EM RELAÇÃO AO SÓCIO E DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE

A dissolução da sociedade poderá ser total ou parcial.

A dissolução parcial ocorre quando houver resolução em relação ao sócio. Já a dissolução total
refere-se à extinção da sociedade como toda.

Vejamos no quadro abaixo as principais diferenças entre dissolução total e parcial.

26
DISSOLUÇÃO TOTAL DISSOLUÇÃO PARCIAL

Vontade dos sócios (vontade deve ser unânime) Vontade do sócio


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Decurso do prazo determinado Retirada do Sócio: o sócio da sociedade simples e


demais sociedades contratuais pode se retirar da
sociedade por prazo indeterminado, desde que
Não realização do contrato social notifque os demais com antecedência mínima de
(insufciência ou perda do capital social) 60 dias, independentemente de qualquer motivo.
Na sociedade por prazo determinado, o sócio
deverá provar judicialmente uma justa causa, ou
obter a anuência de todos os demais sócios.

Morte do Sócio

Exclusão do sócio: a) Extrajudicialmente - em razão


do sócio tornar-se remisso, ou seja, não integralizar o
capital subscrito (art. 1.004, par. único); bem como em
relação àquele cuja quota foi liquidada totalmente em
execução proposta por terceiro (art. 1.026 do CC) e b)
Judicialmente – quando o sócio cometer justa causa e
em razão de incapacidade superveniente.

O ingresso de novo sócio na sociedade simples depende do consentimento de todos os sócios,


conforme art. 999 do Código Civil. Desse modo, os herdeiros do cônjuge de sócio, ou o cônjuge
do que se separou judicialmente, não podem exigir desde logo a parte que lhes couber na quota
social, mas concorrer à divisão periódica dos lucros, até que se liquide a sociedade (art. 1.027 do
CC). TEMA COBRADO NO II EXAME DA OAB.

Nos casos em que a sociedade se resolver em relação a um sócio, o valor da sua quota, considerada
pelo montante efetivamente realizado, liquidar-se-á, salvo disposição contratual em contrário, com
base na situação patrimonial da sociedade, à data da resolução, verifcada em balanço especialmente
levantado (art. 1.031, caput, do CC). TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.

O capital social sofrerá a correspondente redução, salvo se os demais sócios suprirem o valor da
quota. Além disso, a quota liquidada será paga em dinheiro, no prazo de 90 (noventa) dias, a partir
da liquidação, salvo acordo, ou estipulação contratual em contrário (§1º e § 2º do art. 1.031 do CC).

Registra-se ainda que a retirada, exclusão ou morte do sócio, não o exime, ou a seus herdeiros,
da responsabilidade pelas obrigações sociais anteriores, até dois anos após averbada a resolução
da sociedade; nem nos dois primeiros casos, pelas posteriores e em igual prazo, enquanto não se
requerer a averbação (art. 1.032 do CC). TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB/FGV.

LIQUIDAÇÃO

A liquidação da sociedade visa a apuração do ativo e o pagamento do passivo e pode ser


extrajudicial ou judicial, conforme haja ou não acordo entre os sócios. Nada impede que a liquidação
seja feita extrajudicialmente, ainda que a dissolução tenha sido decidida judicialmente e vice versa.
27
3.2.3.  EMPRESA INDIVIDUAL DE RESPONSABILIDADE LIMITADA – EIRELI

De acordo com o art. 980-A do CC, a empresa individual de responsabilidade limitada era
constituída por uma única pessoa titular da totalidade do capital social, devidamente integralizado,
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que não podia ser inferior a 100 (cem) vezes o maior salário-mínimo vigente no País.

Ocorre que a Lei nº 13.874/2019 passou a prever expressamente a possibilidade de se criar,


livremente, a sociedade limitada unipessoal, o que acabou por esvaziar a importância da EIRELI,
que, na prática, não fazia mais sentido de existir.

Diante desse cenário, a Lei nº 14.195/2021 passou a prever que as EIRELIS serão
automaticamente transformadas em sociedades limitadas unipessoais, independentemente de
qualquer ato de seus titulares.

Com a Lei nº 14.195/2021, portanto, a EIRELI foi extinta, de modo que as EIRELIS
existentes serão automaticamente transformadas em sociedades limitadas unipessoais,
independentemente de qualquer ato de seus titulares.

3.2.4.  SOCIEDADE EM NOME COLETIVO

É o tipo societário em que todos os sócios, sempre pessoas físicas, respondem solidária e
ilimitadamente pelas dívidas sociais após o exaurimento do patrimônio social.

A sociedade em nome coletivo pode ser simples ou empresária.


Art. 1.039. Somente pessoas físicas podem tomar parte na sociedade em nome coletivo,
respondendo todos os sócios, solidária e ilimitadamente, pelas obrigações sociais.
Parágrafo único. Sem prejuízo da responsabilidade perante terceiros, podem os
sócios, no ato constitutivo, ou por unânime convenção posterior, limitar entre si a
responsabilidade de cada um.
Art. 1.040. A sociedade em nome coletivo se rege pelas normas deste Capítulo e, no que
seja omisso, pelas do Capítulo antecedente.
Art. 1.041. O contrato deve mencionar, além das indicações referidas no art. 997, a frma social.
Art. 1.042. A administração da sociedade compete exclusivamente a sócios, sendo o uso
da frma, nos limites do contrato, privativo dos que tenham os necessários poderes.
Art. 1.043. O credor particular de sócio não pode, antes de dissolver-se a sociedade,
pretender a liquidação da quota do devedor.
Parágrafo único. Poderá fazê-lo quando:
I - a sociedade houver sido prorrogada tacitamente;
II - tendo ocorrido prorrogação contratual, for acolhida judicialmente oposição do credor,
levantada no prazo de noventa dias, contado da publicação do ato dilatório.
Art. 1.044. A sociedade se dissolve de pleno direito por qualquer das causas enumeradas
28
no art. 1.033 e, se empresária, também pela declaração da falência.

Na sociedade em nome coletivo, a responsabilidade perante terceiros é solidária e


ilimitada. Entretanto, os sócios podem no contrato social ou alteração posterior limitar entre si a
responsabilidade de cada um.
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A administração da sociedade cabe exclusivamente aos sócios, devendo-se utilizar frma


ou razão social constando os seus nomes. É cabível a expressão “e companhia” ou “&Cia” para
designar os sócios cujos nomes não constam na frma.

A sociedade em nome coletivo pode ser dissolvida ou liquidada pelos mesmos motivos previstos
para a sociedade simples.

3.2.5.  SOCIEDADE EM COMANDITA SIMPLES

É a sociedade formada por sócios comanditados, que respondem solidária e ilimitadamente pelas
dívidas, e sócios comanditários, que respondem apenas pela integralização das cotas que subscreverem.

A sociedade só pode usar frma ou razão social, composta pelo nome dos sócios comanditados,
sendo obrigatória a expressão “& Cia”.

A expressão “& Cia” indica os comanditários e eventuais comanditados, que não tiveram o
nome na frma.

Se constar o nome de um ou mais sócios comanditários na frma, eles responderão


ilimitadamente, como se fossem comanditados.

Para saber se a sociedade é em nome coletivo ou em comandita simples, eventualmente é


necessário verifcar o contrato social, pois ambas podem ter nomes idênticos, quando utilizam a
expressão “& Cia”.

3.2.6.  SOCIEDADE LIMITADA

Sociedade Limitada é a sociedade personifcada onde a responsabilidade do sócio está restrita


ao valor de suas cotas, mas todos os sócios respondem de forma solidária pelo que falta para a
integralização do capital social (art. 1.052 do CC). TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/
FGV.

O contrato social pode defnir como pode ser feita a cessão de cotas na sociedade limitada.
Na omissão, a cessão de sócio para sócio independe de autorização, ao passo que a cessão
para terceiro será concretizada apenas se não houver a oposição de mais de ¼ do capital
social. TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV.

O capital social representa o valor que os sócios vão entregar para a constituição/formação
da sociedade. A subscrição é o comprometimento para colocar um percentual do capital social da
29
sociedade e a integralização representa o efetivo pagamento.

O capital será subscrito e integralizado pelos sócios, sendo que o sócio que subscrever e não
integralizar será considerado remisso.
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A sociedade limitada é regida pelas normas do capítulo próprio do código civil e no caso de
omissão pelas normas das sociedades simples, podendo o contrato social prever a regência
supletiva pelas normas aplicadas às sociedades anônimas.

Art. 1.053. A sociedade limitada rege-se, nas omissões deste Capítulo, pelas normas da
sociedade simples. TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

Parágrafo único. O contrato social poderá prever a regência supletiva da sociedade


limitada pelas normas da sociedade anônima.

O capital será subscrito e integralizado pelos sócios, sendo que o sócio que subscrever e não
integralizar será considerado remisso. TEMA COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

A integralização poderá ser feita por meio de dinheiro, bens e créditos, mas é vedada
contribuição que consista em PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS, conforme art. 1.055. § 2º, do CC
TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.

Sobre o aumento e diminuição do capital social da sociedade, importante a leitura dos artigos
abaixo reproduzidos:

Art. 1.081. Ressalvado o disposto em lei especial, integralizadas as quotas, pode ser o
capital aumentado, com a correspondente modifcação do contrato.

§ 1° Até trinta dias após a deliberação, terão os sócios preferência para participar do
aumento, na proporção das quotas de que sejam titulares.

§ 2° À cessão do direito de preferência, aplica-se o disposto no caput do art. 1.057.

§ 3° Decorrido o prazo da preferência, e assumida pelos sócios, ou por terceiros, a


totalidade do aumento, haverá reunião ou assembléia dos sócios, para que seja aprovada
a modifcação do contrato.

Art. 1.082. Pode a sociedade reduzir o capital, mediante a correspondente modifcação


do contrato:

I - depois de integralizado, se houver perdas irreparáveis;

II - se excessivo em relação ao objeto da sociedade.

Art. 1.083. No caso do inciso I do artigo antecedente, a redução do capital será realizada
com a diminuição proporcional do valor nominal das quotas, tornando-se efetiva a partir
da averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata da assembléia que a
tenha aprovado.

30
Art. 1.084. No caso do inciso II do art. 1.082, a redução do capital será feita restituindo-se
parte do valor das quotas aos sócios, ou dispensando-se as prestações ainda devidas,
com diminuição proporcional, em ambos os casos, do valor nominal das quotas.

§ 1° No prazo de noventa dias, contado da data da publicação da ata da assembléia que


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aprovar a redução, o credor quirografário, por título líquido anterior a essa data, poderá
opor-se ao deliberado.

§ 2° A redução somente se tornará efcaz se, no prazo estabelecido no parágrafo


antecedente, não for impugnada, ou se provado o pagamento da dívida ou o depósito
judicial do respectivo valor.

§ 3° Satisfeitas as condições estabelecidas no parágrafo antecedente, proceder-


se-á à averbação, no Registro Público de Empresas Mercantis, da ata que tenha
aprovado a redução.

ADMINISTRADOR

O administrador pode ser sócio ou não sócio da sociedade, devendo ser nomeado pelo contrato
social ou em ato separado TEMA COBRADO NO VI EXAME DA OAB. Nada dispondo o contrato
social, a administração da sociedade compete separadamente a cada um dos sócios (art. 1013, caput,
do CC).

Nos termos do 1.061 do CC, a designação de administradores não sócios dependerá de


aprovação de, no mínimo 2/3 dos sócios, enquanto o capital não estiver integralizado, e de
mais da metade do capital, após a integralização TEMA COBRADO NO XXI EXAME DA
OAB/FGV.

O administrador, nomeado por instrumento em separado, deve averbá-lo à margem da


inscrição da sociedade, e, pelos atos que praticar, antes de requerer a averbação, responde pessoal
e solidariamente com a sociedade (art. 1.012 do CC).

Os poderes concedidos ao administrador sócio por contrato social são irrevogáveis, salvo justa
causa reconhecida judicialmente. Já os poderes concedidos por ato separado ou a não sócio são
revogáveis a qualquer tempo (art. 1.019 do CC).

ADMINISTRADOR ADMINISTRADOR ADMINISTRADOR


SÓCIO COM PODERES SÓCIO COM PODERES NÃO SÓCIO
NO CONTRATO SOCIAL EM ATO SEPARADO

Os poderes são irrevogáveis, Poderes revogáveis a Poderes revogáveis a


salvo justa causa reconhecida qualquer tempo qualquer tempo
judicialmente.

O excesso por parte dos administradores somente pode ser oposto a terceiros se ocorrer pelo
menos uma das seguintes hipóteses:

31
I - se a limitação de poderes estiver inscrita ou averbada no registro próprio da sociedade;

II - provando-se que era conhecida do terceiro;


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III - tratando-se de operação evidentemente estranha aos negócios da sociedade.

A responsabilidade do administrador, nomeado por instrumento em separado, será pessoal


e solidária pelos atos que praticar antes de requerer a averbação do ato. Além disso, os
administradores respondem solidariamente perante a sociedade e os terceiros prejudicados, por
culpa no desempenho de suas funções (art. 1.016 do CC).

Destaca-se ainda que conforme previsto no art. 1.063, § 3º, CC, a renúncia de administrador
torna-se efcaz, em relação à sociedade, desde o momento em que esta toma conhecimento da
comunicação escrita do renunciante; e, em relação a terceiros, após a averbação e publicação(
TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.

Além disso, com a edição da Lei n. 13.792/2019, o administrador da sociedade poderá ser
desconstituído mediante quórum de mais da metade do Capital Social, independentemente se o
administrador é sócio ou não sócio da empresa.

ANTES DA LEI N. 13.792/2019 DEPOIS DA LEI N. 13.729/2019

Destituição Administrador Sócio: 2/3 do Destituição do Administrador Sócio ou Não


Capital Social. Sócio: mais da metade do Capital Social.

Destituição do Administrador não Sócio: mais


da metade do Capital Social.

As decisões da sociedade limitada deverão ser tomadas mediante a realização de assembleia


ou reunião. A assembleia será obrigatória quando a sociedade for composta por mais de 10 sócios,
enquanto que a reunião ocorre nas sociedades com 10 ou menos sócios (art. 1.072, §1º, do CC).

As formalidades legais de convocação são dispensadas quando todos os sócios se


declararem, por escrito, cientes do local, data, hora e ordem do dia, conforme art. 1.072, §2º,
do CC TEMA COBRADO NO V EXAME DA OAB/FGV. Além disso, a reunião ou a assembleia
tornam-se dispensáveis quando todos os sócios decidirem, por escrito, sobre a matéria que
seria objeto delas (art. 1.072, §3º, do CC)

32
DECISÕES NA SOCIEDADE LIMITADA

3/4 DO 2/3 DO
MAIORIA MAIORIA
UNANIMIDADE CAPITAL CAPITAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

SIMPLES ABSOLUTA
SOCIAL SOCIAL

Dissolução Modifcação Destituição Designação de


da sociedade do contrato de sócio administrador
por prazo social administrador sócio em ato
determinado designado separado
pelo contrato
Aprovar social
Designação de incorporação, Destituição do
administrador fusão e administrador da
não sócio com dissolução da Designação de sociedade (sócio
REGRA capital social não sociedade administrador ou não sócio).
GERAL integralizado não sócio
se o capital
social estiver Remuneração
integralizado dos
Administradores

Exclusão do sócio
por justa causa

CONSELHO FISCAL

O conselho fscal é órgão facultativo na sociedade limitada e pode ser instituído desde que haja
previsão no contrato social. Nas sociedades anônimas o conselho fscal é órgão obrigatório,
com funcionamento facultativo.

3.2.7.  SOCIEDADE LIMITADA UNIPESSOAL

A Lei n º 13.874/19, publicada no dia 20/09/20919, alterou o art. 1.052 do CC passando a prever
expressamente a Sociedade Limitada Unipessoal, isto é, a possibilidade da Sociedade Limitada
possuir apenas 1 sócio. TEMA COBRADO NO XXXII EXAME DA OAB/FGV.

Trata-se de tipo societário que já era admitido no direito estrangeiro, passando a ser previsto
no Brasil para sanar um problema muito comum na prática, que era a existência de sociedades
limitadas com dois sócios, mas com um deles detendo parte desprezível da sociedade, geralmente
1%.

A Sociedade Limitada Unipessoal é mais atrativa, na prática do que a EIRELI, motivo pelo qual
recentemente a Lei nº 14.195/2021 passou a prever que as EIRELIS serão automaticamente
transformadas em sociedades limitadas unipessoais, independentemente de qualquer ato de seus
titulares.

33
3.2.8.  SOCIEDADE ANÔNIMA

É o tipo societário empresário institucional ou estatutário no qual todos os sócios, chamados


acionistas, respondem apenas pela integralização do preço de emissão de suas respectivas ações,
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ou seja, não há solidariedade entre os acionistas.


Lei nº 6.404/76
Art. 1º A companhia ou sociedade anônima terá o capital dividido em ações, e a
responsabilidade dos sócios ou acionistas será limitada ao preço de emissão das ações
subscritas ou adquiridas.
A sociedade anônima pode utilizar apenas denominação, que deve ser formada pela
expressão “Sociedade Anônima ou S.A.” (no início, no meio ou no fm do nome) ou ainda
pela expressão “Companhia ou Cia” no início ou no meio do nome, nunca no fnal, para
que não haja confusão com o nome de outras sociedades.
Lei n. 6.404/76
Art. 3º A sociedade será designada por denominação acompanhada das expressões
“companhia” ou “sociedade anônima”, expressas por extenso ou abreviadamente mas
vedada a utilização da primeira ao fnal.
§ 1º O nome do fundador, acionista, ou pessoa que por qualquer outro modo tenha
concorrido para o êxito da empresa, poderá fgurar na denominação.
§ 2º Se a denominação for idêntica ou semelhante a de companhia já existente, assistirá
à prejudicada o direito de requerer a modifcação, por via administrativa (artigo 97) ou
em juízo, e demandar as perdas e danos resultantes.

Trata-se de tipo societário próprio de grandes investimentos e em regra um acionista não pode
impedir o ingresso de outro sócio, portanto é um tipo societário de capital.

A companhia pode ser formada por capital exclusivamente privado ou por capital público e
privado, sendo chamada no segundo caso de Sociedade de Economia Mista.

A sociedade anônima poderá ser aberta ou fechada TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB.

S.A. ABERTA S.A. FECHADA

Companhia que tem seus valores mobiliários Companhia que tem seus valores mobiliários
negociados em bolsas de valores ou no negociados apenas entre os acionistas
mercado de balcão (bancos e corretoras).
Para tanto, deverá obter autorização da
CVM - Comissão de Valores Mobiliários, uma
autarquia federal, regida pela Lei n. 6.385/76.

Além disso, a constituição da sociedade anônima pode ocorrer por meio de subscrição pública
ou subscrição particular.

A subscrição pública ocorre quando houver necessidade de captação de investimentos externos.


Nesse caso, as ações que formam o capital social serão oferecidas ao público em geral, por uma
instituição fnanceira que poderá subscrever por sua conta e risco todas as ações e depois oferece- 34
las ao público, ou apenas intermediar a venda das ações entre a companhia e os investidores.
Registra-se ainda que a subscrição pública depende do prévio registro de emissão na Comissão
de Valores Mobiliários, que realizará um estudo de viabilidade fnanceira. Após a aprovação pela
CVM, a companhia deverá encontrar uma instituição fnanceira para viabilizar a venda as ações.

Já a subscrição particular ocorre quando todo o capital já tiver sido constituído pelos próprios
OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

fundadores da sociedade. A constituição da companhia por subscrição particular do capital


pode fazer-se por deliberação dos subscritores em assembleia-geral ou por escritura pública,
considerando-se fundadores todos os subscritores.

A companhia também é classifcada em sociedade de capital determinado e sociedade de


capital autorizado.

CAPITAL DETERMINADO CAPITAL AUTORIZADO

Eventual aumento do capital fixo no estatuto O estatuto social prevê a possibilidade de


depende de autorização da assembleia geral aumento que será feito pelo conselho de
extraordinária administração, sem convocação de assembleia.

CARACTERÍSTICAS GERAIS

São características gerais das sociedades anônimas:

• Sociedade sempre Empresária

• Impessoalidade (sociedade de capital)

• Fracionamento do Capital em ações

• Mínimo de 2 acionistas (exceção: subsidiária integral)

• Responsabilidade dos acionistas limitada à integralização das ações.

Sociedade anônima subsidiária integral ocorre quando a totalidade das ações da companhia
pertence a uma única sociedade brasileira TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB.

35
ACIONISTAS

DIREITOS DOS ACIONISTAS DEVERES DOS ACIONISTAS


OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

Nem o estatuto social nem a assembleia- O acionista é obrigado a realizar, nas condições
geral poderão privar o acionista dos previstas no estatuto ou no boletim de
direitos de: subscrição, a prestação correspondente às
ações subscritas ou adquiridas, ou seja, deve
integralizar as ações subscritas.
I - participar dos lucros sociais;

II - participar do acervo da companhia,


em caso de liquidação;

III - fscalizar, na forma prevista nesta Lei,


a gestão dos negócios sociais;

IV - preferência para a subscrição de


ações, partes benefciárias conversíveis em
ações, debêntures conversíveis em ações e
bônus de subscrição, observado o disposto
nos artigos V - retirar-se da sociedade nos
casos previstos nesta Lei.

CAPITAL SOCIAL

O capital da companhia é formado pela contribuição, em dinheiro ou em outros bens, dos


acionistas e pode ser utilizado para aquisição de máquinas, equipamentos, pagamento de
empregados, etc. A principal característica do capital social é a sua intangibilidade, pois em
princípio ele não pode ser atingido.

Considera-se capital subscrito aquele prometido pelo subscritor no momento da constituição


da companhia ou futuro aumento e capital realizado é aquele efetivamente pago pelos acionistas,
conforme o preço de emissão das ações, fxado pela companhia.

Embora seja considerada intangível, o capital social não é imutável, podendo sofrer aumento
e/ou diminuição.

36
AUMENTO DO CAPITAL SOCIAL DIMINUIÇÃO DO CAPITAL SOCIAL

Pela emissão de novas ações, caso em que Voluntária:


OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

haverá ingresso de novos recursos, ou seja,


capitalização da companhia (art. 165 da Lei
n. 6.404/76). A emissão de novas ações só é a) Perdas substanciais - Se a companhia tiver
possível se já tiver ocorrido a integralização de prejuízo operacional relevante, a assembleia
pelo menos 3/4 do capital social e o aumento deve pode decidir pela redução do capital.
ser decidido em assembleia geral extraordinária
ou pelo Conselho de Administração, caso
o estatuto preveja o capital autorizado. b) Excessividade - Se o capital for
superdimensionado, a assembleia geral
pode reduzi-lo, desde que tal decisão
Correção da expressão monetária por meio seja publicada, cabendo aos credores
da realização de assembleia geral ordinária. apresentar oposição em até 60 dias.

Conversão de valores mobiliários em ações. Redução Obrigatória ou Compulsória.


As debêntures e as partes benefciárias (só Reembolso de dissidente - Considera-se
nas fechadas) podem ser do tipo conversíveis dissidente o acionista que não concorda
em ações. Se o detentor desses títulos exercer com deliberação da assembleia, devendo a
seu direito ocorrerá aumento do capital. companhia reembolsar o valor de suas ações.

ÓRGÃOS DA SOCIEDADE ANÔNIMA

ASSEMBLEIA GERAL

É o órgão máximo da companhia que reúne todos os acionistas, com ou sem direito a voto,
decidindo todas as questões de interesse da sociedade. São atribuições exclusivas da assembleia
aquelas previstas no art. 122 da Lei n. 6.404/76, destacando-se: I) Eleger ou destituir administradores
fscais; II) Autorizar a emissão de debêntures, salvo no caso das companhias abertas, em que
a emissão de debênture pode ser autorizada pelo Conselho de Administração, III) Suspender
o exercício dos direitos de acionista e IV) Deliberar sobre a avaliação de bens no momento da
constituição ou aumento do capital.

A assembleia geral pode ser ordinária (AGO) ou extraordinária (AGE). A AGO é realizada 1 (uma)
vez por ano, nos 4 meses seguintes ao término do exercício social para assuntos de rotina. A AGE
pode ser instalada a qualquer tempo para tratar de assuntos não rotineiros.

Voto plural é aquele em que se atribui mais de um voto por ação a determinada classe de ação.
Antes o voto plural era vedado. No entanto, a Lei nº 14.195/21 acrescentou o art. 110-A na
Lei n. 6.404/76, promovendo importante mudança nas sociedades anônimas, já que passou a
permitir a criação de uma ou mais classes de ações ordinárias com a atribuição de voto plural,
não superior a dez votos por ação ordinária. TEMA COBRADO NO XXIII EXAME DA OAB.

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

É o órgão deliberativo, formado no mínimo por 3 (três) sócios pessoas naturais, eleitos pela
37
assembleia geral, que tem a função de agilizar as decisões da companhia, ou administrá-la, fxando
a orientação geral dos negócios.

Trata-se de órgão obrigatório da companhia aberta, na de capital autorizado e na de economia mista.


OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

Art. 138 da Lei n. 6.404/76. A administração da companhia competirá, conforme dispuser


o estatuto, ao conselho de administração e à diretoria, ou somente à diretoria.
§ 1º O conselho de administração é órgão de deliberação colegiada, sendo a representação
da companhia privativa dos diretores.
§ 2º As companhias abertas e as de capital autorizado terão, obrigatoriamente, conselho
de administração.
Art. 239. As companhias de economia mista terão obrigatoriamente Conselho de
Administração, assegurado à minoria o direito de eleger um dos conselheiros, se maior
número não lhes couber pelo processo de voto múltiplo.
Parágrafo único. Os deveres e responsabilidades dos administradores das companhias
de economia mista são os mesmos dos administradores das companhias abertas.
São atribuições do conselho de administração aquelas previstas no artigo 142 da Lei n.
6.404/76:
Art. 142. Compete ao conselho de administração:
I - fxar a orientação geral dos negócios da companhia;
II - eleger e destituir os diretores da companhia e fxar-lhes as atribuições, observado o
que a respeito dispuser o estatuto;
III - fscalizar a gestão dos diretores, examinar, a qualquer tempo, os livros e papéis da
companhia, solicitar informações sobre contratos celebrados ou em via de celebração,
e quaisquer outros atos;
IV - convocar a assembleia-geral quando julgar conveniente, ou no caso do artigo 132;
V - manifestar-se sobre o relatório da administração e as contas da diretoria;
VI - manifestar-se previamente sobre atos ou contratos, quando o estatuto assim o
exigir;
VII - deliberar, quando autorizado pelo estatuto, sobre a emissão de ações ou de bônus
de subscrição;
VIII – autorizar, se o estatuto não dispuser em contrário, a alienação de bens do ativo não
circulante, a constituição de ônus reais e a prestação de garantias a obrigações de terceiros;
IX - escolher e destituir os auditores independentes, se houver.

DIRETORIA

É o órgão de execução das deliberações da assembleia geral e de representação da companhia,


composto por no mínimo 2 (dois) membros (acionistas ou não), destituíveis a qualquer tempo. No
silêncio do estatuto, a representação da companhia cabe a qualquer diretor.

Os diretores devem ser pessoas físicas residentes no País, conforme prevê o art. 146 da Lei
nº 6.404/76 TEMA COBRADO NO XXVIII EXAME DA OAB/FGV, sendo eleitos pelo Conselho de
Administração, se houver, ou pela Assembleia Geral. A diretoria tem mandato de 3 anos, admitida
a reeleição (art. 143, III da Lei n. 6.404/76).
38
CONSELHO FISCAL

É o órgão formado por no mínimo 3 e no máximo 5 membros que tem a função de fscalizar a
Administração da companhia e comunicar irregularidades.
OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

Mesmo que o estatuto não o institua expressamente, o conselho fscal deve existir na companhia.
Apesar de ser órgão obrigatório, o seu funcionamento é facultativo.

VALORES MOBILIÁRIOS

Para angariar recursos necessários para o desenvolvimento de suas atividades, a sociedade


anônima pode emitir valores mobiliários, cujas principais espécies são: ações, debentures; partes
benefciárias e bônus de subscrição.

AÇÕES

As ações são frações divisíveis do capital da companhia e também representam valores


mobiliários negociáveis.

AÇÕES ORDINÁRIAS AÇÕES AÇÕES DE FRUIÇÃO


PREFERENCIAIS

São as ações comuns, de São ações que garantem aos São ações atribuídas aos
emissão obrigatória, que seus titulares, chamados acionistas, cujas ações foram
garantem aos seus detentores de preferencialistas, totalmente amortizadas
direitos de voto e recebimento direitos diferenciados, como pela companhia.
de lucros e dividendos. Elas recebimento prioritário
são chamadas de “ações de dos dividendos fxos ou
direção”, porque quem as mínimos e prioridade no Amortização é a operação
detém está interessado na reembolso do capital, mas pela qual a companhia, tendo
administração da companhia. podem privar os seus dinheiro disponível, compra
titulares do direito de voto. de volta as ações ordinárias
ou preferenciais, pagando o
A Lei nº 14.195/21 que elas valeriam em caso
acrescentou o art. 110-A na A vantagem das ações de liquidação da sociedade.
Lei n. 6.404/76, permitindo preferenciais de companhia
a criação de uma ou mais fechada pode consistir
classes de ações ordinárias exclusivamente em prioridade Portanto, o detentor dessas
com a atribuição de voto no reembolso do capital. ações de fruição recebe
plural, não superior a dez TEMA COBRADO NO antecipadamente o valor
votos por ação ordinária XII EXAME DA OAB/FGV. líquido das ações substituídas.
TEMA COBRADO NO
XII EXAME DA OAB/FGV.
O número de ações
preferenciais, sem direito
Essa possibilidade de a voto, ou voto restrito
voto plural dependerá de não pode ultrapassar
deliberação societária com 50% do capital social.
quórum de votação específco
(§1º ao artigo 110-A) e
será limitada ao período de
sete anos, permitindo-se
prorrogação por qualquer
prazo (§7º ao artigo 110-A)..

39
DEBÊNTURES

São valores mobiliários que representam um contrato de mútuo, no qual a companhia é


mutuária, e o debenturista é o mutuante. As debêntures, portanto, asseguram um direito de crédito
em face da sociedade.
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Cabe à assembleia geral decidir sobre a emissão de debêntures, exceto na companhia aberta,
onde o conselho de administração pode autorizar a emissão de debêntures não conversíveis em
ações, salvo disposição estatutária em contrário.

PARTES BENEFICIÁRIAS

São valores mobiliários negociáveis estranhos ao capital social e conferem direitos sobre
eventuais lucros da companhia, até o limite de 10% dos lucros.
Art. 46 da Lei n. 6.404/76. A companhia pode criar, a qualquer tempo, títulos negociáveis,
sem valor nominal e estranhos ao capital social, denominados “partes benefciárias”.
§ 1º As partes benefciárias conferirão aos seus titulares direito de crédito eventual
contra a companhia, consistente na participação nos lucros anuais (artigo 190).
§ 2º A participação atribuída às partes benefciárias, inclusive para formação de reserva
para resgate, se houver, não ultrapassará 0,1 (um décimo) dos lucros.
§ 3º É vedado conferir às partes benefciárias qualquer direito privativo de acionista,
salvo o de fscalizar, nos termos desta Lei, os atos dos administradores.
§ 4º É proibida a criação de mais de uma classe ou série de partes

É vedado às companhias abertas emitir partes benefciárias. Apenas as companhias fechadas


podem emiti-las (parágrafo único do art. 47 da Lei n. 6.404/76)

As partes benefciárias podem ser alienadas pela companhia na forma prevista no estatuto,
ou conforme defnido na assembleia geral, visando a capitação de recursos, bem como atribuídas
gratuitamente a fundadores, acionistas, ou terceiros, inclusive a Associação de Empregados. Elas
não podem ter prazo de duração superior a 10 anos, mas podem ser do tipo conversíveis em ações,
caso em que a companhia deve criar uma reserva e capital para absorvê-las.

BÔNUS DE SUBSCRIÇÃO

São títulos que garantem, aos seus titulares, direito de preferência de subscrição de ações até
o limite de aumento do capital autorizado no estatuto e que podem ser também atribuídos como
vantagem adicional aos subscritores de ações ou debêntures.

Compete à assembleia geral deliberar sobre a emissão de bônus, caso o estatuto não atribua
essa função ao conselho de administração.

O direito de subscrever as ações com preferência será exercido mediante a apresentação dos
bônus de subscrição à companhia, devendo ser pago o preço de emissão das ações.
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DISSOLUÇÃO DA S.A.

PARCIAL TOTAL
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Ocorre apenas no caso de reembolso do acionista Término do prazo de duração


dissidente (não é possível exclusão de sócio e a
morte de acionista não gera consequência).
Por decisão judicial (anulação da constituição da
companhia, irrealizabilidade do objeto social e
falência)

Por decisão de autoridade administrativa


competente nos casos previstos em lei especial

Por deliberação da assembleia geral por


acionistas detentores de no mínimo metade das
ações com direito a voto

Cisão total

Incorporação

Fusão

3.2.9.  COMANDITA POR AÇÕES

Aplicam-se à comandita por ações as regras da sociedade anônima, com exceção dos artigos
280 a 284 da Lei n. 6.404/76.

É a sociedade em que os sócios administradores ou gerentes respondem solidária e


ilimitadamente pelas dívidas, enquanto que os sócios não administradores respondem apenas
pela integralização do preço de emissão de suas ações. A responsabilidade, portanto, é verifcada
pela função que o sócio exerce.

A sociedade pode utilizar frma ou denominação, como nome empresarial. Caso utilize frma,
apenas podem ser usados nomes de administradores ou gerentes.

A denominação deverá conter a expressão “comandita por ações ou sua abreviatura - C.A.”

A Lei nº 14.195/21 alterou o art. 1.160 do CC, passando a dispor que é facultativo constar o
objeto social na designação da sociedade anônima ou da comandita por ações. Na redação anterior,
era obrigatório constar o objeto social.

A sociedade em comandita por ações não possui conselho de administração e não é possível a
autorização estatutária de aumento de capital e emissão de bônus de subscrição.
41
3.3.  GRUPOS DE SOCIEDADES

SOCIEDADES COLIGADAS OU FILIADAS


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Consideram-se sociedade coligadas ou fliadas quando entre elas houver 10% ou mais de
participação do capital social, sem ocorrer o controle societário, conforme art. 1.099 do CC:

Art. 1.099. Diz-se coligada ou fliada a sociedade de cujo capital outra sociedade participa com
dez por cento ou mais, do capital da outra, sem controlá-la.

SOCIEDADE CONTROLADAS

Conforme art. 1.098 do CC, considera-se controlada: I) a sociedade de cujo capital outra
sociedade possua a maioria dos votos nas deliberações dos quotistas ou da assembléia geral e
o poder de eleger a maioria dos administradores, II) a sociedade cujo controle, referido no inciso
antecedente, esteja em poder de outra, mediante ações ou quotas possuídas por sociedades ou
sociedades por esta já controladas.

CONSÓRCIO

O consórcio de sociedades se caracteriza pela união de duas ou mais empresas para a


execução em conjunto de um determinado empreendimento. O consórcio de sociedades não
possui personalidade e não há responsabilidade solidária, conforme art. 278 da Lei n. 6.404/76:

Art. 278. As companhias e quaisquer outras sociedades, sob o mesmo controle ou não,
podem constituir consórcio para executar determinado empreendimento, observado o
disposto neste Capítulo.

§ 1º O consórcio não tem personalidade jurídica e as consorciadas somente se obrigam


nas condições previstas no respectivo contrato, respondendo cada uma por suas
obrigações, sem presunção de solidariedade.

§ 2º A falência de uma consorciada não se estende às demais, subsistindo o consórcio


com as outras contratantes; os créditos que porventura tiver a falida serão apurados e
pagos na forma prevista no contrato de consórcio.

3.4.  TRANSFORMAÇÃO, INCORPORAÇÃO, FUSÃO E CISÃO DAS SOCIEDADES.

TRANSFORMAÇÃO

A transformação é a operação pela qual a sociedade passa, independentemente de dissolução


e liquidação, de um tipo para outro, como, por exemplo, uma sociedade limitada que se transforma
em sociedade anônima.

A transformação exige consentimento unânime dos sócios ou acionistas, sendo que, na


hipótese de não estar prevista no contrato social ou estatuto, o sócio dissidente pode exercer o
direito de retirada (artigos 1.14 do CC e 221 da Lei n. 6.494/76).

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A transformação não prejudicará direitos dos credores.

INCORPORAÇÃO
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A incorporação é a operação pela qual uma ou mais sociedades são absorvidas por outra,
que lhes sucede em todos os direitos e obrigações (art. 227 da Lei n. 6.404/76 e 1.116 do CC), não
havendo o surgimento de uma nova sociedade.

Aprovados os atos da incorporação, a incorporadora declarará extinta a incorporada, e


promoverá a respectiva averbação no registro próprio.

FUSÃO

A fusão é a operação pela qual se unem duas ou mais sociedades para formar sociedade
nova, que lhes sucederá em todos os direitos e obrigações (art. 228 da Lei n. 6.404/76). A fusão
determina a extinção das sociedades que se uniram para formar a sociedade nova que a sucederá
nos direitos e obrigações (art. 1.119 do CC).

CISÃO

De acordo com o art. 229 da Lei n. 6.404/76, cisão é a operação pela qual a companhia
transfere parcelas do seu patrimônio para uma ou mais sociedades, constituídas para esse fm
ou já existentes, extinguindo-se a companhia cindida, se houver versão de todo o seu patrimônio,
ou dividindo-se o seu capital, se parcial a versão.

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4

4.  TÍTULOS DE CRÉDITO


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4.1.  CONCEITO E PRINCÍPIOS

Os títulos de crédito são regidos por leis especiais e, subsidiariamente, pelo código civil.

As principais leis que tratam dos títulos de crédito são: Decreto n. 57.663/66 (Letra de Câmbio
e Nota Promissória), Lei n. 5.474/68 (Duplicatas) e Lei n. 7.357/85 (Cheques).

Baseado no conceito de Cesare Vivante, o código civil de 2002 defne título de crédito como o
“documento necessário ao exercício do direito literal e autônomo, nele contido”.

Deste conceito é possível extrair três princípios fundamentais dos títulos de crédito:

CARTULARIDADE: O título de crédito é o documento necessário ao exercício de um direito pelo


credor, em face do devedor, para cobrar, protestar ou executar o credor, devendo ser apresentado
o título original (a cártula), não sendo válida a apresentação de cópias, ainda que autenticadas.

Uma exceção ao princípio da cartularidade é a duplicata, uma vez que o art. 13 da Lei n.
5.474/68 permite o protesto mediante apresentação da duplicata, da triplicata, ou, ainda, por
simples indicações do portador, na falta de devolução do título.

LITERALIDADE: O título de crédito vale pelo que literalmente consta do seu texto. Todos os
direito e obrigações cambiais, tais como endosso, aval, quitação e protesto, devem ser lançados na
próprio cártula e não em documentos separado, ainda que este seja documento público.

Constitui exceção à regra da literalidade a possibilidade de quitação da duplicata em documento


separado, conforme art. 9º, §1º da lei 5.464/68 (lei da duplicata).

AUTONOMIA: Os direitos e obrigações do título de crédito são autônomos entre si, de modo
que a nulidade de uma obrigação não representa a nulidade de outra. Assim, se por exemplo um
incapaz endossar um título, apenas tal endosso será nulo e não outras obrigações. O princípio da
autonomia envolve 2 (dois) subprincípios, a saber:

ABSTRAÇÃO: se o título for transferido ocorre a desvinculação em relação a causa original, que
levou a sua emissão, por isso, aquele que recebeu o título, que é o novo credor, tem o direito de cobrar,
protestar ou executar o devedor, mesmo que tenha ocorridos alguns defeitos no negócio original.
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INOPONIBILIDADE DAS EXCEÇÕES PESSOAIS AO PORTADOR DE BOA-FÉ: se o título de crédito
circular, aquele que possuí-lo de boa-fé poderá cobrar o devedor e este não poderá opor exceção
pessoal que tinha com o credor originário. Poderá apenas opor exceção fundada em direito pessoal
ou nulidade da obrigação, conforme art. 906 do CC.
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Se não houver circulação do título, ou seja, se ele não for transferido para um terceiro, não há
que se falar em autonomia TEMA COBRADO NO XXII EXAME DA OAB/FGV.

4.2.  CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS DE CRÉDITO

Quanto ao Modelo: os títulos podem ser de modelo livre ou vinculado.

• Modelo livre – são os títulos que não tem um padrão previsto em lei, por exemplo a
nota promissória e a letra de câmbio.

• Modelo vinculado – são aqueles títulos que obedecem a um padrão legal, tais como o
cheque e a duplicata.

Quanto à forma: são divididos e ordens de pagamento e promessa de pagamento.

• Ordens de pagamento - são os títulos que contêm uma determinação de pagar quantia
determinada, dada pelo sacador contra o sacado, como no caso do cheque e da letra
de câmbio. As ordens de pagamento, em regra, têm três fguras: sacador (emitente),
o sacado (devedor) e o tomador (benefciário). Contudo, a duplicata também é uma
ordem de pagamento e tem apenas duas fguras: o sacador (empresário) e o sacado
(comprador) – art. 2º, VIII da Lei n. 5.474/68.

• Promessas de pagamento – são os títulos que contêm um compromisso do sacador


de pagar uma quantia ao tomador (benefciário), como no caso da Nota Promissória.

Quanto à hipótese de emissão: são divididos em causais e não causais.

• Causais – são aqueles que exigem para sua emissão a ocorrência de um motivo
previsto em lei, como por exemplo a duplicata, que só pode ser emitida depois da
emissão da fatura de venda de produtos ou da prestação de serviços.

• Não Causais- São aqules que podem ser emitidos livremente, sem a necessidade de
ocorrência de um motivo legal, como por exemplo o cheque.

Quanto à Circulação: ao portador ou nominativo.

• Ao Portador: aquele que não identifca o benefciário. Desde a Lei 8.021/90 o título ao
portador é proibido, exceto se com previsão expressa em lei especial. A mera entrega
do título (tradição) é sufciente para fazer a sua transferência.

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• Nominativo: aquele que identifca o benefciário. Pode ser “à ordem” ou “não à ordem”.
O título “à ordem” circula por meio de endosso e o título “não à ordem” circula por
cessão civil. Quem endossa responde pelo pagamento (pela solvência), mas quem
transfere por cessão civil não responde pela solvência.
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4.3.  ESPÉCIES DE TÍTULO DE CRÉDITO

4.3.1.  LETRA DE CÂMBIO

É um título de crédito pelo qual o sacador dá a ordem pura e simples de pagamento à outra
pessoa, denominada «sacada», a seu favor ou de terceira pessoa (tomador/benefciário).

SAQUE

É o ato de criação e emissão do título de crédito. Quem emite a ordem é o sacador e quem a
recebe é o sacado.

São requisitos essenciais intrínsecos do saque os relativos a qualquer ato jurídico, quais sejam,
agente capaz, objeto lícito e forma prescrita ou não defesa em lei (art. 104 do CC).

Além disso, existem requisitos essenciais ao saque cuja inobservância não permitirá que a
letra de câmbio produza efeitos.

Vejamos os requisitos essenciais listados no art. 1° do anexo I da Lei Uniforme de Genebra


(Decreto n. 57.663/66).

1 - A palavra “letra” inserta no próprio texto do título;

2 - O mandato puro e simples de pagar uma quantia determinada;

3 - O nome daquele que deve pagar (sacado);

4 - O nome da pessoa a quem ou a ordem de quem deve ser paga;

5 - A indicação da data em que (data do saque);

6 - A assinatura de quem passa a letra (sacador).

Há também os requisitos não essenciais, ou seja, aqueles que mesmo quando inobservados
não acarretarão a inefcácia do título.

I – Época do pagamento, porque se não houver considera-se que a Letra de Câmbio é a vista.

II – Lugar do pagamento, porque se não houver, considera-se o endereço do sacado.

III – Lugar do saque, porque se não houver, considera-se o endereço do sacador.


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Permite-se que o credor complete a letra de câmbio para suprir a ausência de requisito
essencial ou não essencial. Nesse sentido dispõe a Súmula n. 387 do STF: A cambial emitida
ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor de boa-fé antes da
cobrança ou do protesto.
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ACEITE

É o ato cambial pelo qual o sacado concorda com a ordem dada pelo sacador, comprometendo-
se a pagar o valor do título. Com o aceite, o sacado (aceitante) passa a ser o devedor principal do
título e o sacador (que emitiu o título) o codevedor. Em eventual ação de execução, o tomador/
benefciário pode promover a execução contra um, alguns ou todos os devedores.

Na letra de câmbio, o aceite é facultativo. Ainda que o sacado seja, por qualquer outro motivo,
devedor do sacador, não será obrigado a aceitar a letra de câmbio emitida contra ele. Contundo,
a recusa do aceite acarreta o vencimento antecipado do título, podendo o sacador ser cobrado
diretamente pelo tomador após o protesto por falta de aceite.

O aceite é efetivado mediante a assinatura do sacado no anverso (frente) do título, ou no verso,


desde que, neste caso, o ato seja identifcado, por exemplo, com a expressão aceito. A identifcação
no verso do título é necessária para não confundir com o endosso.

O aceite pode ser total ou parcial. É total o que decorre da simples assinatura do sacador no
anverso do título e parcial quando o sacado não concorda com algum aspecto do título.

O aceite parcial pode ser modifcativo, quando o sacado altera, por exemplo a data do vencimento,
e imitativo quando o sacado concorda com o pagamento de apenas uma parte do valor do título.

O aceite deve ser obtido pelo tomador (credor) nos prazos previstos em lei, que variam
conforme o vencimento do título.

• Vencimento à vista – A letra de câmbio deve ser apresentada para aceite em até 1
(um) ano da data do saque.

• Vencimento a certo termo da vista - Nesse caso, o título deve ser apresentado
duas vezes ao sacado, a primeira para aceite, que deve ser datado e a segunda para
pagamento. O título deve ser apresentado para aceite em até 1 ano, contado da data
do saque, salvo prazo maior ou menor estipulado pelo sacador.

• Letra de Câmbio a Certo termo da Data - É o título que se vence em determinado


prazo, contado da dia do saque, logo, data signifca saque. O título deve ser
apresentado para aceite até a data do vencimento.

• Letra de Câmbio a Data Certa - É aquela que se vence em determinado dia do


calendário comum. O título deve ser apresentado para aceite até o dia do vencimento.

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ENDOSSO

Endosso é o ato cambial de transferência de título nominativo à ordem. Todos os títulos


com a cláusula “à ordem”, ou sem cláusula de transferência, são transferíveis por endosso
TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA OAB/FGV.
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O endosso não se confunde com a cessão civil.

ENDOSSO CESSÃO CIVIL

O endossante responde pela existência do O cedente responde apenas pela existência


crédito e pela solvência do devedor. do crédito.

Deve ser total Pode ser parcial ou total

O endosso ocorre pela tradição com a simples assinatura no verso ou com a assinatura e
expressão identifcadora no anverso (Ex.: “endosso a ...”, “pague-se a ...”).

Quando o sacador tiver inserido na letra as palavras “não a ordem”, ou uma expressão
equivalente, a letra só é transmissível pela forma e com os efeitos de uma cessão ordinária de
créditos TEMA COBRADO NO XII EXAME DA OAB.

Não se admite endosso parcial de título, já que ele não pode ser fracionado. A cessão de crédito,
por outro lado, pode ser total ou parcial. TEMA COBRADO NO XV EXAME DA OAB/FGV.

TIPOS DE ENDOSSO:

• Endosso em preto: é aquele que identifca o endossatário.

• Endosso em branco: é aquele que não identifca o endossatário.

• Endosso impróprio: não há transferência do crédito. Subdivide-se em 2 tipos:

• Endosso mandato: endossante mandante e endossatário mandatário. É uma


forma de conferir poderes de mandato ao endossatário para que este possa
fazer a cobrança do título. É muito utilizado para fns de cobrança. Destaca-
se que “o endossatário de endosso-mandato só pode endossar novamente o
título na qualidade de procurador, com os mesmos poderes que recebeu” §
1º do art. 917 do CC. TEMA COBRADO NO XXVIII EXAME DA OAB. .

• Endosso caução: também chamado de “endosso pignoratício “ ou “endosso


garantia”. O título de crédito é considerado como bem móvel, podendo ser
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objeto de penhor. Quando o credor cambial dá o título em garantia de uma
dívida sua, está fazendo um endosso caução.

Protestar um título que não deveria ser protestado (ex.: título pago) confgura PROTESTO
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INDEVIDO. Como regra geral, quem responde pelo protesto indevido é o endossante. Exceção:
Súmula 476/STJ - O ENDOSSATÁRIO de título de crédito por endosso-mandato só responde por
danos decorrentes de protesto indevido se extrapolar os poderes de mandatário.

AVAL

É o ato cambiário pelo qual uma pessoa física ou jurídica chamada avalista, ou “dador da
aval”, se responsabiliza pelo pagamento de um título em favor de outrem, chamado avalizado. O
aval, portanto, é um reforço de pagamento (garantia fduciária) e o credor do título pode executar
diretamente o avalista, pois não há benefício de ordem.

O aval ocorre mediante simples assinatura no anverso do título ou por meio de assinatura
com expressão identifcadora no verso. Ex.: (“por aval a...”, “avalizo a...”). Pagando o título, tem o
avalista ação de regresso contra o seu avalizado e demais coobrigados anteriores (art. 899 do CC).
TEMA COBRADO NO XXXIII EXAME DA OAB.

O aval não se confunde com a fança:

AVAL FIANÇA

Garante títulos de crédito Garantia de contratos

Autônomo: Em caso de morte, incapacidade Acessório: segue a sorte da obrigação principal.


ou falência do avalizado, o avalista continua
responsável, ainda que a obrigação seja nula
(ex.: um menor que endossa).

Não tem benefício de ordem Tem benefício de ordem

Embora o Código Civil disponha que é vedado o aval parcial (aquele em que o avalista
garante apenas uma parte do valor) prevalece o entendimento de que o aval parcial é
possível tendo em vista a sua autorização na lei especial, conforme art. 30 do Decreto n.
57.663/66. TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB.

O código civil permite ainda o aval posterior, conforme previsto no art. 900: “O aval posterior ao
vencimento produz os mesmos efeitos do anteriormente dado” TEMA COBRADO NOS EXAMES XXVI e
XXXV DA OAB/FGV.

O avalista pode ser cobrado em caso de inadimplemento do devedor principal (sacado)


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se o título estiver protestado, ou contiver a cláusula “sem despesa”, hipótese em que não há
necessidade de protesto.

O aval em branco é entendido como dado em favor do sacador TEMA COBRADO NO II EXAME
DA OAB.
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Se o avalista for casado, salvo no caso de regime de separação obrigatória de bens, o


aval depende da concordância do cônjuge (arts. 1.642, IV e 1.647, III, do CC). A mesma
regra vale para a fança.

PAGAMENTO

É o ato pelo qual o título é honrado e são extintas as obrigações cambiárias. Em razão dos
princípios da cartularidade e da literalidade, a quitação deve ser lançada na cártula, ou seja, no
próprio título.

A dívida relativa ao título de crédito é quérable (quesível), ou seja, o credor deve procurar o
devedor para o pagamento do título.

PROTESTO

Protesto é ato cambiário extrajudicial de responsabilidade do credor, destinado a instrumentalizar


falta de pagamento e de aceite. De acordo com o art. 1 da Lei n. 9.492/97, “protesto é o ato formal
e solene pelo qual se prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos
e outros documentos de dívida”.

De acordo com o art. 202, III, do CC, o protesto cambiário interrompe a prescrição da ação de
execução, de modo que entendemos revogada a súmula 153 do STF.

Se requerer o protesto no prazo legal, o credor garante todos os direito inerentes ao título.
Se o título não for protestado oportunamente, por falta de pagamento, o credor tem direito de
executar apenas o sacado, ou seu avalista, ou seja, não poderá executar o sacador, o endossante e
os avalistas desses.

Desse modo, o protesto é necessário para que o credor garanta direitos contra o sacador,
endossante ou avalistas desses, e em caso de pedido de falência por impontualidade, art. 94, I da
Lei 11.101/05 e facultativo em relação aos sacado e aos seu avalista.

AÇÃO CAMBIAL

A ação de execução é a medida cabível em caso de inadimplemento no pagamento do valor


constante na letra de câmbio e de outros títulos.

A ação de execução em face do sacado e do seu avalista pode ser proposta independentemente
de protesto. Em relação aos coobrigados (sacador, endossante e seus avalistas), o protesto é
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necessário, salvo se existir a denominada “cláusula sem despesa”.

Os prazos da ação de execução são os seguintes (art. 70 da LUG):


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• 3 (três) anos a contar do vencimento em relação ao sacado e seu avalista;

• 1(um) ano a contar do dia do protesto ou do vencimento (se houver cláusula sem
despesa) em relação ao sacador, endossante, e avalista dos dois;

• 6 (seis) meses a contar do pagamento ou do ajuizamento da execução para o


exercício do direito de regresso entre os coobrigados.

4.3.2.  NOTA PROMISSÓRIA

É o título de crédito em que uma pessoa (emitente) faz uma promessa pura e simples de
pagamento de quantia determinada a outra pessoa (benefciário). A nota promissória, portanto,
tem apenas 2 (duas) fguras, o emitente (promitente ou sacador), e o benefciário (tomador ou
credor), de modo que na nota promissória não há necessidade de aceite.

Aplicam-se à nota promissória as regras da Letra de Câmbio no que tange ao endosso, ao aval
e aos prazos da ação cambial.

A Nota Promissória possui requisitos essenciais, sem os quais não vale como título de crédito.
Vejamos os principais:

• Denominação “Nota Promissória” na língua de sua emissão;

• Promessa pura e simples de pagar a quantia determinada, ou seja, não é admissível


qualquer condição;

• Nome do tomador, benefciário (não existe nota promissória ao portador);

• Data do saque, ou seja, data da emissão;

• Local do saque, ou endereço do sacador;

• Assinatura do sacador.

Época do pagamento e lugar do pagamento não são requisitos essenciais, uma vez que,
se ausentes, considera-se que o título é à vista e que deve ser pago no endereço do
sacador, promitente.

CONTRATO DE ABERTURA DE CRÉDITO E NOTA PROMISSÓRIA: O Contrato de abertura de


crédito não constitui título executivo extrajudicial, pois não tem liquidez e certeza, já que não
esclarece o valor a ser pago, nem permite, por si só, sua determinação (Súmula n. 233 do STJ).
Em razão da falta de liquidez, eventual nota promissória vinculada a contrato de abertura de
crédito não goza de autonomia para ser executada, conforme Súmula n. 258 do STJ. TEMA 51
COBRADO NOS EXAMES XIX E XXV DA OAB/FGV.
4.3.3.  CHEQUE

Cheque é uma ordem de pagamento à vista, dada pelo sacador (correntista), dirigida contra
um banco (sacado) e em favor de um tomador ou do próprio sacador.
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Trata-se de título de crédito vinculado, porque tem padronização obrigatória e não causal, uma
vez que não precisa de uma causa específca para sua emissão.

No cheque, portanto, quem dá a ordem é o sacador (o correntista), o sacado é o banco e o


tomador benefciário é considerado o primeiro credor.

• Permite-se o cheque ao portador, ou seja, sem identifcação do benefciário, quando o seu


valor for de até R$ 100,00 (cem reais).

• No cheque não há aceite, pois há uma relação contratual entre o sacador (emitente) e o
sacado (banco).

O banco sacado não tem qualquer responsabilidade se não houver sufciente provisão de
fundos na conta do emitente. Além disso, a Lei n. 7.357/85 (lei do cheque) proíbe que o banco
aceite, endosse, ou avalize o cheque.

Art. 6º O cheque não admite aceite considerando-se não escrita qualquer declaração
com esse sentido.

Art. 18 O endosso deve ser puro e simples, reputando-se não-escrita qualquer condição
a que seja subordinado.

§ 1º São nulos o endosso parcial e o do sacado.

§ 2º Vale como em branco o endosso ao portador. O endosso ao sacado vale apenas


como quitação, salvo no caso de o sacado ter vários estabelecimentos e o endosso ser
feito em favor de estabelecimento diverso daquele contra o qual o cheque foi emitido.

O cheque é pagável à pessoa nomeada no título, sendo transmissível por via de endosso,
já que, mesmo que não escrita, presume-se a cláusula à ordem (transmissível por endosso),
conforme art. 17 da Lei n. 7.357/85.

No entanto, havendo a inserção da cláusula “não a ordem”, o cheque poderá ser transmitido
apenas por cessão civil (§ 1º do art. 17 da Lei n. 7.357/85), hipótese em que o endossante não
garante o pagamento do título.

O Endosso deve ser realizado no verso ou na folha de alongamento do título, sendo vedado o
endosso condicionado, parcial ou feito pelo sacado (Banco).

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Reputa-se não-escrita qualquer condição a que seja subordinado o endosso. Além disso, são
nulos o endosso parcial e o do sacado (art. 18 da Lei n. 7.357/85)
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Admite-se o endosso em branco, em que não há identifcação do endossatário, ou em preto,


quando o endossatário é identifcado. No caso de endosso em branco, o título circula como se fosse
ao portador, ou seja, deve ser pago a quem possuir o cheque.

Permite-se ainda o denominado endosso póstumo, considerado aquele realizado após o


protesto ou o prazo de apresentação. No entanto, havendo o endosso póstumo, incidirão os efeitos
da cessão civil, ou seja, o cedente se responsabilizará apenas pela existência do crédito.

Art. 29 O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval
prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título.

Art. 30 O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. Exprime-se pelas


palavras “por aval’’, ou fórmula equivalente, com a assinatura do avalista. Considera-se
como resultante da simples assinatura do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo
quando se tratar da assinatura do emitente.

Parágrafo único - O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se


avalizado o emitente.

O cheque pode ser garantido por aval, total ou parcial, vedando-se apenas o aval prestado
pelo sacado. O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação (aval em branco), considera-se
avalizado o emitente TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV.

O cheque avalizado, se não for quitado, também pode ser executado em face do avalista, que
se obriga da mesma maneira que o avaliado, subsistindo sua obrigação ainda que nula a por ele
garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de forma (art. 31, caput, da Lei n. 7.357/85),

O art. 32, por sua vez, determina que o cheque é pagável a vista, considerando não escrita
qualquer menção em contrário. Desse modo, ainda que o título seja marcado com data posterior à
efetiva apresentação, o pagamento pode ser feito imediatamente.

Art. 32 O cheque é pagável à vista. Considera-se não-estrita qualquer menção em contrário.

Parágrafo único - O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como
data de emissão é pagável no dia da apresentação.

O cheque pré-datado é considerado um acordo de vontade entre as partes que, apesar de não
inibir o pagamento à vista pelo banco, pode gerar responsabilidade civil se for apresentado antes
da data do pagamento. Assim, embora o Banco seja obrigado a pagar o cheque à vista, o tomador
pode ser obrigado a indenizar o emitente se houver apresentado o cheque pré-datado antes da
data do vencimento. TEMA COBRADO NO XXVIII EXAME DA OAB.

53
* Súmula 370 do STJ - Caracteriza dano moral a apresentação antecipada de cheque pré-datado.

* Súmula 388 do STJ - A simples devolução indevida de cheque caracteriza dano moral.
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Requisitos Essenciais do cheque:

• A denominação cheque no título e na língua em que é redigido

• Ordem incondicional de pagar quantia determinada.

• Identifcação do banco sacado

• Data de emissão

• Assinatura do sacador, que deve ser identifcado com os números do CPF e do RG,
podendo o último ser substituído por outro documento.

O local de pagamento e o local de emissão não são considerados requisitos essenciais do


cheque, sendo que, na ausência de indicação, considera-se o local de pagamento o lugar junto ao
nome do sacado e o local de emissão o lugar junto ao nome do emitente.

Modalidades de Cheque

• Ao portador: não exige o nome do benefciário, desde que o valor não supere a
quantia de R$ 100,00 (cem reais), conforme previsto no art. 69 da Lei n. 9.069/95.

• Nominativo: é o que tem o nome do benefciário, obrigatório para cheques com valor
superior a R$ 100,00 (cem reais).

Espécies de Cheque

• Cheque Visado: é o cheque que, a pedido do emitente ou portador legítimo, o banco


lança no verso um visto ou declaração atestando a sufciência de fundos e se obriga a
reservar a quantia indicada no título para pagar o legítimo portador. Apenas o cheque
nominado e ainda não endossado pode ser visado.

• Cheque Administrativo (ou Bancário): é o cheque do banco emitido contra uma


de suas agências, a ser pago à um benefciário determinado. Nesse caso, sacador
e sacado são o banco. O Traveller Check é uma espécie de cheque administrativo,
adquirido em Instituição Financeira autorizada, para ser pago em outro país.

• Cheque Cruzado: é o cheque no qual são lançados dois traços na transversal e no


anverso (frente) do título, obrigando o benefciário a receber o pagamento apenas
por depósito na sua conta. O cruzamento pode ser em branco (ou geral), quando não
houver nada escrito entre as listas, de modo que o depósito pode ser realizado em
54
qualquer banco, e pode ser em preto (ou especial), quando for indicado entre os traços
o banco no qual deverá ser depositado. O cruzamento geral pode ser convertido em
especial, mas este não pode converter-se naquele (§ 2º do art. 44 da Lei n. 7.357/85).
A inutilização do cruzamento ou a do nome do banco é reputada como não existente
(§ 3º do art. 44 da Lei n. 7.357/85). TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.
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• Cheque para se levar em conta: é o cheque no qual o emitente insere uma cláusula
na transversal e no anverso do título (por exemplo: para ser depositado na conta do
benefciário, ou para depósito na conta do favorecido), vinculando, embora não haja
cruzamento, que o depósito seja feito na conta do benefciário. Se for indicada uma
conta, não cabe endosso.

O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão, no prazo de 30
(trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago (mesma praça) ou de 60 (sessenta)
dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior (praça diferente).

Se o cheque não for apresentado nos prazos acima mencionados, o portador do título perde
o direito de crédito (há decadência, portanto) contra os avalistas e endossantes. Perderá ainda o
direito de crédito em face do emitente se durante o prazo de apresentação havia fundos e estes
deixaram de existir.

Ressalta-se ainda que, se houver endosso posterior à expiração do prazo de apresentação, ele
produzirá efeitos de cessão civil, mas não isenta o sacador de pagar o cheque (art. 27 da Lei n. 7.357/85).

O cheque pode ser executado, ou usado em pedido de falência em até 6 meses após o término
do prazo de apresentação, ou seja, o prazo prescricional do cheque é de 6 meses, devendo o credor
demonstrar a recusa do pagamento do título devidamente apresentado (protesto ou declaração
do sacado). A ação de regresso de um obrigado contra o outro também prescreve em 6 meses,
contados do dia em que o obrigado pagou o cheque ou do dia em que foi demandado.

A ação de execução do cheque pode ser proposta com a prova do protesto ou declaração do
sacado, isto é, o protesto não é requisito essencial para a propositura ação de execução, já
que esta pode ser proposta mediante declaração escrita e datada do sacado ou da câmara de
compensação TEMA COBRADO NO XI EXAME DA OAB.

Transcorrido o prazo prescricional sem o ajuizamento da ação de execução, o credor poderá


propor ainda ação enriquecimento ilícito, inclusive contra endossante e o avalista, no prazo de 2
anos, conforme art. 61 da lei do cheque.

Transcorrido o prazo de dois anos sem o ajuizamento da ação de enriquecimento ilícito, é


possível ajuizar ação monitória, sendo que, neste caso, o cheque é usado apenas como prova do
crédito (a ação monitória o não tem natureza cambiária).

55
SUSTAÇÃO DO CHEQUE

Sustação é o comando que objetiva o não pagamento do cheque, que pode ocorrer por
revogação ou oposição.
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A revogação (ou contraordem) é a sustação que ocorre por ato judicial, ou extrajudicial (por
exemplo, uma notifcação) em virtude do cheque não ter sido apresentado no prazo legal de 30 ou
60 dias, ou seja, no prazo de apresentação.

Já a oposição é a sustação que decorre de causa justa (relevantes razões de direito), como
extravio, furto, roubo e falência TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB/FGV.

O sacado também pode se recusar a pagar o cheque nos casos de inobservância dos seus
requisitos essenciais, bem como na hipótese de insufciência de recursos.

A emissão de cheque sem fundo é crime previsto no artigo 171, §2°, VI do CP, mas, nos termos
da súmula n. 246 do STF, sua caracterização depende da existência de fraude. Além disso, de
acordo com a súmula n. 554 do STF, o pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos,
após o recebimento da denúncia, não obsta ao prosseguimento da ação penal.

4.3.4.  DUPLICATA

A duplicata é um título de crédito que constitui uma ordem de pagamento emitida em virtude
de uma compra e venda (Duplicata Mercantil) ou de uma prestação de serviços (Duplicata de
Prestação de Serviços).

Trata-se de um título que deve ser antecedido de uma fatura3 e constitui o instrumento de
prova do contrato. A duplicata tem origem no direito brasileiro e é regulada pela Lei n° 5.474/1968.

A duplicata é título de modelo vinculado e também causal, porque depende da anterior emissão
da fatura ou nota-fscal de venda de produto ou de prestação de serviços.

A duplicata possui apenas o sacador (empresário emitente), e o sacado (comprador da


mercadoria ou do serviço, devedor principal).

São requisitos essenciais da duplicata (§ 1º do art. 2º da Lei n° 5.474/68):

• Denominação duplicata, data de emissão e número de ordem;

• Número da fatura ou da nota-fscal faturada;

• Data certa de vencimento ou declaração de que é a vista;

3 Fatura é documento de emissão obrigatória que discrimina a qualidade e quantidade das


mercadorias vendidas.
56
• Nome e domicílio do vendedor e do comprador;

• Importância a ser paga em algarismos e por extenso;


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• Local de pagamento;

• Cláusula à ordem;

Aplicam-se à duplicata, como regra geral, as regras da Letras de Câmbio sobre endosso
(art. 25 Lei n° 5.474/68). Entretanto, não é considerada lícita a emissão da duplicata com a
cláusula “não à ordem”.

• Declaração do reconhecimento de sua exatidão e da obrigação de pagá-la, a ser


assinada pelo comprador (aceite);

• Assinatura do empresário emitente, ou rubrica mecânica.

É importante registrar que uma fatura pode dar ensejo a emissão de uma ou várias duplicatas,
mas uma duplicata não pode representar duas ou mais faturas.

A emissão da duplicata é facultativa, mas, se o empresário o fzer, não poderá emitir qualquer
outro título de crédito para representar a compra e venda mercantil, além do que deverá escriturá-
la no Livro de Registro de Duplicatas.

A duplicata pode ser apresentada para aceite do sacado pelo próprio sacador ou por instituição
fnanceira até 30 dias após sua emissão, sendo que o aceite é obrigatório. Tratando-se de ato
obrigatório, admite-se que ele seja feito expressamente (aceite expresso) ou de forma presumida
(aceite por presunção), quando o devedor recebe as mercadorias sem qualquer reclamação. A
principal diferença entre aceite expresso e presumido é que a duplicata aceita expressamente pode
ser executada independentemente de protesto, enquanto que a duplicata com aceite presumido
deve ser protestada.

O fato do aceite ser obrigatório, não signifca que ele não possa ser recusado. Com efeito,
permite-se a recusa do aceite nos casos previstos no art. 8 da Lei da Duplicata, a saber:
Art. 8º O comprador só poderá deixar de aceitar a duplicata por motivo de:
I - avaria ou não recebimento das mercadorias, quando não expedidas ou não entregues
por sua conta e risco;
II - vícios, defeitos e diferenças na qualidade ou na quantidade das mercadorias,
devidamente comprovados;
III - divergência nos prazos ou nos preços ajustados.

A duplicata poderá ser protestada por falta de aceite, de devolução ou de pagamento, no prazo
de 30 dias após o vencimento. Além da cobrança da duplicata em face do aceitante, caberá processo
de execução contra o sacador, os endossantes e respectivos avalistas, quaisquer que sejam a forma
57
e as condições do protesto, consoante disposto no art. 15, § 1º, do mesmo diploma legal TEMA
COBRADO NO XXXIII EXAME DA OAB/FGV.
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Nos termos da Súmula n. 248 do STJ, comprovada a prestação dos serviços, a


duplicata não aceita, mas protestada, é título hábil para instruir pedido de falência
TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.

Em caso de retenção da duplicata pelo sacado, é possível o protesto sem a apresentação do


título, bastando a mera indicação, conforme art. 13 da Lei nº 5.474/68 TEMA COBRADO NO XIV
EXAME DA OAB/FGV.

A perda ou extravio da duplicata obrigará o vendedor a extrair triplicata, que terá os mesmos
efeitos e requisitos e obedecerá às mesmas formalidades daquela, tratando-se de uma exceção
ao princípio da cartularidade.

Os prazos prescricionais para a ação de execução da duplicata são os seguintes:

• 3 anos contados do vencimento contra o sacado e seu avalista;

• 1 ano contado do protesto em relação ao endossante e seu avalista;

• 1 ano contado do pagamento para o exercício do direito de regresso.

Importante destacar ainda que a Lei nº 13.775/2018 regulamentou a denominada “duplicata


sob a forma escritural”, também conhecida como duplicada eletrônica ou virtual, que já era aceita
pela jurisprudência majoritária do STJ.

Pela duplicada virtual, em vez da emissão física da cártula, o lançamento será feito em
sistema eletrônico de escrituração gerido por quaisquer das entidades que exerçam a atividade de
escrituração de duplicatas escriturais.

Os dados da duplicata serão encaminhados pela internet a uma instituição fnanceira que, por
sua vez, encaminhará ao devedor um boleto bancário para que seja pago o valor contratado.

O aceite ou recusa da duplicata virtual serão feitos de forma eletrônica, com base nos motivos
e condições previstos para a duplicata tradicional, conforme arts. 7º e 8º da Lei nº 5.474/1968.

Se o valor não for pago na data do vencimento, o tabelionato poderá realizar o protesto do
título a partir dos extratos de registros eletrônicos feitos pelos gestores do sistema, podendo a
duplicata, em seguida, ser executada

4.3.5.  CONHECIMENTO DE DEPÓSITO DE MERCADORIAS E WARRANT

58
São emitidos separadamente, mas na mesma oportunidade, por armazéns gerais em favor de
produtor agrícola depositante de alguma mercadoria, como por exemplo soja e milho, permitindo a
circulação dos títulos sem necessidade de movimentar as mercadorias depositadas.

O conhecimento de depósito representa a propriedade depositada enquanto o


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warrant a possibilidade de penhor sobre a mesma mercadoria, sendo que os títulos


podem circular separadamente.

59
5

5.  CONTRATOS MERCANTIS


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Consideram-se contratos mercantis os contratos frmados por empresários no exercício de


suas atividades, aplicando-se as regras do código civil ou do código de defesa do consumidor, de
acordo com a existência, ou não, de desigualdades entre os contratantes.

O contrato poderá ser consensual, quando se concretiza com a simples manifestação da


vontade dos contratantes, ou real, quando se efetiva com a entrega da coisa.

Como regra geral, são aplicadas as normas de direito civil relativas às cláusulas rebus sic
stantibus e pacta sunt servanda, sendo que a desconstituição dos contratos mercantis pode ocorrer
por meio de invalidação (nulidade) ou dissolução (descumprimento do contrato (resolução) ou por
vontade das partes (resilição)).

5.1.  COMPRA E VENDA MERCANTIL

Considera-se compra e venda o contrato pelo qual um dos contratantes chamado “vendedor”
se compromete a transferir o domínio de um bem a outrem denominado “comprador” que se
obriga a pagar preço.

A compra e venda mercantil existe quando comprador e vendedor são empresários, devendo
o contrato possuir as seguintes características:

• Contrato bilateral - tem pelo menos 02 partes (vendedor e comprador);

• Oneroso - pois o vendedor entrega o bem e o comprador paga o preço;

• Consensual - depende do acordo entre as partes (artigo 482 do CC);

• Não solene – não há forma especial determinada pela lei (v. artigo 106 do CC);

• Sinalagmático – gera obrigações para ambas as partes

Em regra, o vendedor responde até a tradição, ou seja, pela entrega da coisa, mas é possível a
estipulação de cláusula em sentido contrário.

Tratando-se de importação e exportação, a distribuição das despesas com o transporte, seguro


e desembaraço alfandegário podem ser distribuídas entre as partes, conforme os termos de
comércio internacional, conhecidos como Incoterms (International Commercial Terms), que são
cláusulas criadas pela câmara de comércio internacional. Vejamos as principais cláusulas:

• FCA (Free Carrier) - carregamento livre na transportadora indicada. O vendedor


se responsabiliza pela entrega da mercadoria na transportadora indicada pelo
60
comprador, no país exportador, e também pelo desembaraço para exportação.

• FAS (Free Alongside Ship) - O vendedor se obriga a entregar o produto ao lado de um


navio, indicado pelo comprador, e a pagar as despesas com desembaraço alfandegário.
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• FOB (Free on Board) - O vendedor se obriga a entregar o produto a bordo de um


navio contratado pelo importador, no país exportador, e a pagar as despesas com o
carregamento e desembaraço alfandegário.

5.2.  CONTRATO DE COMISSÃO MERCANTIL

É o contrato em que um empresário (comissário) se obriga a realizar, em nome próprio, negócios


mercantis por conta de outro (comitente), assumindo perante terceiros a responsabilidade pessoal
pelos atos praticados. TEMA COBRADO NO XXX EXAME DA OAB/FGV.

O comissário tem o dever de observar as instruções feitas pelo comitente, agir com diligência
e lealdade, zelar pelos bens a ele confados e prestar contas do movimento econômico do contrato.

O comissário age em nome próprio, de modo que eventuais prejudicados não podem demandar
o comitente, que, em regra, permanece oculto.

Registra-se ainda que o comissário não responde pela solvência dos compradores das
mercadorias enviadas pelo comitente, exceto se o contrato tiver a cláusula “del credere”,
hipótese em que responderá solidariamente com os devedores inadimplentes, conforme art.
698 do CC. TEMA COBRADO NO IV EXAME DA OAB/FGV.

5.3.  REPRESENTAÇÃO COMERCIAL

É o contrato pelo qual o representante comercial autônomo se obriga a obter pedidos de


compra e venda de mercadorias fabricadas ou comercializadas por um empresário (representado),
cabendo a este aprovar ou não os pedidos obtidos. Vejamos o conceito trazido pelo art. 1 º da Lei
n. 4.886/65.

Art 1º Exerce a representação comercial autônoma a pessoa jurídica ou a pessoa física,


sem relação de emprego, que desempenha, em caráter não eventual por conta de uma
ou mais pessoas, a mediação para a realização de negócios mercantis, agenciando
propostas ou pedidos, para, transmití-los aos representados, praticando ou não atos
relacionados com a execução dos negócios.

Parágrafo único. Quando a representação comercial incluir podêres atinentes ao


mandato mercantil, serão aplicáveis, quanto ao exercício dêste, os preceitos próprios
da legislação comercial.

A atividade do representante comercial, se realizada conforme os preceitos da Lei n. 4.886/65,


não gera vínculo de emprego, devendo o representante se inscrever no conselho regional de
representantes comerciais.
61
O representado deve ainda respeitar a exclusividade na zona de atuação, ou seja, não poderá
negociar seus produtos naquela região sem participação do representante, conforme art. 27, “d”, e
31 da Lei n. 4.8886/65.

Além disso, se houver cláusula de exclusividade de representação, o representante representará


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apenas o representado.

Art. 27. Do contrato de representação comercial, além dos elementos comuns e outros
a juízo dos interessados, constarão obrigatoriamente: (Redação dada pela Lei nº 8.420,
de 8.5.1992)

(...)

d) indicação da zona ou zonas em que será exercida a representação; (Redação dada


pela Lei nº 8.420, de 8.5.1992)

Art. 31. Prevendo o contrato de representação a exclusividade de zona ou zonas,


ou quando este for omisso, fará jus o representante à comissão pelos negócios aí
realizados, ainda que diretamente pelo representado ou por intermédio de terceiros.
(Redação dada pela Lei nº 8.420, de 8.5.1992)

Parágrafo único. A exclusividade de representação não se presume na ausência de


ajustes expressos. (Redação dada pela Lei nº 8.420, de 8.5.1992).

PRINCIPAIS OBRIGAÇÕES DO PRINCIPAIS OBRIGAÇÕES DO


REPRESENTANTE REPRESENTADO

- Fornecer informações ao representado sempre - Pagar a retribuição devida ao representante até


que este solicitar; o dia 15 do mês subsequente ao do pagamento
feito pelos compradores, salvo prazo diverso
fxado no contrato.
- Agir de acordo com as instruções e observar
as cotas de produtividade determinadas pelo
representado; - respeitar a exclusividade de zona, ou seja,
territorialidade, de modo que ele (representado)
não pode vender diretamente na área onde atua
- Respeitar a cláusula de exclusividade, se o representante
expressa no contrato.

É vedada no contrato de representação comercial a inclusão de cláusula del credere.

A Lei nº 14.195/2021 alterou a Lei nº 4.886/65 para deixar claro que a remuneração do
representante comercial é considerada como crédito trabalhista para fns de falência e recuperação
judicial, além de ser crédito extraconcursal se já houver título judicial antes do deferimento do
processamento da recuperação judicial:

A rescisão do contrato de representação comercial pode ocorrer pelos seguintes motivos:


62
Sem culpa das partes: qualquer uma das partes poderá rescindir o contrato por prazo
indeterminado, desde que frmado há mais de 6 meses, e haja notifcação com antecedência mínima
de 30 dias, ou que seja paga indenização de 1/3 das três últimas retribuições.

Culpa do representante: o representado pode rescindir (denuncia) o contrato, se o representante


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for desidioso, praticar ato que importe descrédito, ou for condenado por crime falimentar. O
representante não recebe indenização e pode ser obrigado a pagar perdas e danos.

Culpa do representado: o representante pode rescindir o contrato quando, por exemplo, o


representado não observar a cláusula de exclusividade de zona e não pagar a retribuição. Nestes
casos, o representante tem direito ao recebimento de indenização de 1/12 de todas as contribuições
recebidas durante o contrato por prazo indeterminado. Quando se tratar de contrato por prazo
determinado, a indenização será equivalente a multiplicação de metade dos meses contratados
pela média mensal das contribuições.

Força maior: é possível rescindir o contrato de representação por motivos de força maior,
como por exemplo doença grave do representante e desastre natural.

Importante ressaltar que o STF, em setembro de 2020, fxou o entendimento, com repercussão
geral (tema 550), de que a relação entre representante comercial e representada possui natureza
comercial (e não de trabalho), motivo pelo qual compete à Justiça comum julgar as demandas
envolvendo parcelas da Lei n. 4.886/65

5.4.  CONCESSÃO MERCANTIL

É o contrato pelo qual um empresário denominado concessionário se obriga a comercializar,


com ou sem exclusividade, produtos fabricados por outro empresário, que é o concedente.

Apenas houve regulamentação de concessão mercantil para os veículos automotores terrestres,


conforme Lei n. 6.729/79. Os demais bens devem ser objeto de contrato de agencia ou distribuição.

• Cláusula de exclusividade de vendas - o concessionário de veículos não pode vender


produtos novos que não sejam da marca do concedente.

• Cláusula de territorialidade (exclusividade de zona) - o concedente não pode


vender seus produtos diretamente na área onde atua um concessionário, exceto à
Administração Pública, ao corpo diplomático (consulados e embaixada) e a clientes
especiais (pessoas com defciência, por exemplo).

5.5.  AGÊNCIA E DISTRIBUIÇÃO

De acordo com o art. 710 do CC, pelo contrato de agência uma pessoa denominada agente, assume
em caráter não eventual, e sem vínculos de dependência, a obrigação de promover à conta de outra,
chamada proponente, mediante retribuição, a realização de certos negócios em zona determinada.

Art. 710. Pelo contrato de agência, uma pessoa assume, em caráter não eventual e
sem vínculos de dependência, a obrigação de promover, à conta de outra, mediante
retribuição, a realização de certos negócios, em zona determinada, caracterizando-se a
63
distribuição quando o agente tiver à sua disposição a coisa a ser negociada. TEMA
COBRADO NO XXXI EXAME DA OAB/FGV.

Parágrafo único. O proponente pode conferir poderes ao agente para que este o
represente na conclusão dos contratos.
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Art. 711. Salvo ajuste, o proponente não pode constituir, ao mesmo tempo, mais de
um agente, na mesma zona, com idêntica incumbência; nem pode o agente assumir o
encargo de nela tratar de negócios do mesmo gênero, à conta de outros proponentes.

Art. 712. O agente, no desempenho que lhe foi cometido, deve agir com toda diligência,
atendo-se às instruções recebidas do proponente.

Art. 713. Salvo estipulação diversa, todas as despesas com a agência ou distribuição
correm a cargo do agente ou distribuidor.

Art. 714. Salvo ajuste, o agente ou distribuidor terá direito à remuneração correspondente
aos negócios concluídos dentro de sua zona, ainda que sem a sua interferência.

Art. 715. O agente ou distribuidor tem direito à indenização se o proponente, sem


justa causa, cessar o atendimento das propostas ou reduzi-lo tanto que se torna
antieconômica a continuação do contrato.

Art. 716. A remuneração será devida ao agente também quando o negócio deixar de ser
realizado por fato imputável ao proponente.

Art. 717. Ainda que dispensado por justa causa, terá o agente direito a ser remunerado
pelos serviços úteis prestados ao proponente, sem embargo de haver este perdas e
danos pelos prejuízos sofridos.

Art. 718. Se a dispensa se der sem culpa do agente, terá ele direito à remuneração até
então devida, inclusive sobre os negócios pendentes, além das indenizações previstas
em lei especial.

Art. 719. Se o agente não puder continuar o trabalho por motivo de força maior, terá
direito à remuneração correspondente aos serviços realizados, cabendo esse direito
aos herdeiros no caso de morte.

Art. 720. Se o contrato for por tempo indeterminado, qualquer das partes poderá resolvê-
lo, mediante aviso prévio de noventa dias, desde que transcorrido prazo compatível com
a natureza e o vulto do investimento exigido do agente.

Parágrafo único. No caso de divergência entre as partes, o juiz decidirá da razoabilidade


do prazo e do valor devido.

Art. 721. Aplicam-se ao contrato de agência e distribuição, no que couber, as regras


concernentes ao mandato e à comissão e as constantes de lei especial.

No contrato de agência, o agente não tem a sua disposição a coisa a ser negociada com os
clientes, o que caracteriza a principal diferença em relação ao contrato de distribuição, já que neste
o distribuidor tem a sua disposição a posse da coisa.

Pode ser objeto do contrato de agência ou distribuição qualquer bem móvel, com exceção de
64
veículos automotores terrestres novos, já que estes são objetos de contrato de concessão mercantil.

5.6.  FRANQUIA
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De acordo com a Lei n. 13.966/19, que revogou a Lei n. 8.955/94, considera-se franquia
empresarial o sistema pelo qual um franqueador autoriza por meio de contrato um franqueado
a usar marcas e outros objetos de propriedade intelectual, sempre associados ao direito de
produção ou distribuição exclusiva ou não exclusiva de produtos ou serviços e também ao
direito de uso de métodos e sistemas de implantação e administração de negócio ou sistema
operacional desenvolvido ou detido pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta,
sem caracterizar relação de consumo ou vínculo empregatício em relação ao franqueado ou a
seus empregados, ainda que durante o período de treinamento. TEMA COBRADO NOS EXAMES
XXVII E XXXV DA OAB/FGV.

A partir do conceito trazido pela nova lei de franquia, é possível verifcar duas importantes
inovações legislativas: a) além de não caracterizar relação de emprego, o que já era mencionado
pela lei anterior, deixou expresso que a franquia não caracteriza relação de consumo, b) deixa
expresso que contrato de franquia pode autorizar o uso de qualquer objeto de propriedade
intelectual ao franqueado (antes a lei mencionava apenas marca ou patente);

A Lei de Propriedade Industrial (art. 211 da Lei 9.279/96) exige que o contrato de franquia, para ter
validade perante terceiro, seja registrado no INPI, porque há licença de uso de marca.

Outra inovação trazida pela Lei n. 13.966/19 que merece destaque é a previsão expressa que
a franquia pode ser adotada por empresa privada, empresa estatal (sociedade de economia mista
e empresa pública) ou entidade sem fns lucrativos, independentemente do segmento em que
desenvolva as atividades (art. 1º, § 1º, da Lei nº 13.966/19).

Sempre que o franqueador tiver interesse na implantação de sistema de franquia empresarial,


deverá fornecer ao interessado em tornar-se franqueado uma circular de oferta de franquia, por
escrito e em linguagem clara e acessível, contendo obrigatoriamente as informações mencionadas
no artigo 2º da Lei 13.966/19, das quais destacamos as seguintes:

• Histórico resumido da franqueadora;

• Balanços e demonstrações fnanceiras da franqueadora dos últimos 2 anos;

• Indicação precisa de todas as pendências judiciais, especialmente com franqueados


e subfranqueados;

• Descrição detalhada da franquia;

• Perfl do franqueado “ideal”, no que se refere à experiência, nível de escolaridade, e


outras características;

65
• Requisitos quanto ao investimento direto do franqueado na operação e administração
do negócio;

• Especifcações quanto o total do investimento inicial, taxa de fliação, taxa de franquia


e eventual caução;
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• Valor estimado das instalações, estoques e etc;

• Valor estimado das taxas periódicas e outros valor devidos pelo franqueado, em
especial os royalties;

• Em relação ao território, deve ser especifcado se é garantida ao franqueado exclusividade


ou preferência sobre determinado território de atuação e, caso positivo, em que condições
o faz; e a possibilidade de o franqueado realizar vendas ou prestar serviços fora de seu
território ou realizar exportações; TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.

• Situação do franqueado após o término do contrato, especialmente em relação aos


segredos de fábrica, e ao know how.

• Informações claras quanto a taxas periódicas e outros valores a serem pagos


pelo franqueado ao franqueador ou a terceiros por este indicados, detalhando as
respectivas bases de cálculo e o que elas remuneram ou o fm a que se destinam,
indicando, especifcamente, o seguinte: a) remuneração periódica pelo uso do sistema,
da marca, de outros objetos de propriedade intelectual do franqueador ou sobre os
quais este detém direitos ou, ainda, pelos serviços prestados pelo franqueador ao
franqueado; b) aluguel de equipamentos ou ponto comercial; c) taxa de publicidade ou
semelhante; d) seguro mínimo

• Indicação da existência ou não de regras de transferência ou sucessão e, caso


positivo, quais são elas;

• Informações sobre a existência de cotas mínimas de compra pelo franqueado junto


ao franqueador, ou a terceiros por este designados, e sobre a possibilidade e as
condições para a recusa dos produtos ou serviços exigidos pelo franqueador;

• Indicação das regras de limitação à concorrência entre o franqueador e os


franqueados, e entre os franqueados, durante a vigência do contrato de franquia,
e detalhamento da abrangência territorial, do prazo de vigência da restrição e das
penalidades em caso de descumprimento;

A circular de oferta de franquia deverá ser entregue ao candidato a franqueado no mínimo 10


(dez) dias antes da assinatura do contrato ou pré-contrato de franquia ou ainda do pagamento
de qualquer tipo de taxa pelo franqueado ao franqueador ou à empresa ou pessoa ligada a este.
Entretanto, no caso de licitação ou pré-qualifcação promovida por órgão ou entidade pública, a
Circular de Oferta de Franquia será divulgada logo no início do processo de seleção.

Caso a circular não seja entregue nos termos acima citados, o franqueado poderá arguir
anulabilidade ou nulidade, conforme o caso, e exigir a devolução de todas e quaisquer quantias
já pagas ao franqueador, ou a terceiros por este indicados, a título de fliação ou de royalties,
66
corrigidas monetariamente (art.2, § 2º, da Lei n. 13.966/19)..

A Lei n. 13.966/19 regulamentou também, em seu art. 3º, a possibilidade de o franqueador


sublocar ao franqueado o ponto comercial onde se acha instalada a franquia. Nesse caso, qualquer
uma das partes terá legitimidade para propor a renovação do contrato de locação do imóvel,
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vedada a exclusão de qualquer uma delas do contrato de locação e de sublocação por ocasião da
sua renovação ou prorrogação, salvo nos casos de inadimplência dos respectivos contratos ou do
contrato de franquia.

Ainda em relação à sublocação, estabelece o valor do aluguel a ser pago pelo franqueado
ao franqueador poderá ser superior ao valor que o franqueador paga ao proprietário do imóvel
na locação originária do ponto comercial, desde que: I - essa possibilidade esteja expressa e
clara na Circular de Oferta de Franquia e no contrato; e II - o valor pago a maior ao franqueador
na sublocação não implique excessiva onerosidade ao franqueado, garantida a manutenção do
equilíbrio econômico-fnanceiro da sublocação na vigência do contrato de franquia.

Outro ponto trazido pela nova lei que merece destaque é em relação aos contratos de franquia
internacionais, que devem ser escritos originalmente em língua portuguesa ou com tradução
certifcada para a língua portuguesa custeada pelo franqueador, sendo que os contratantes poderão
optar, no contrato, pelo foro de um de seus países de domicílio (art. 7º, II, da Lei nº 13.966/19)

Por fm, importante destacar que o § 1º do art. 7º da Lei nº13.966/19, passou a dispor que as
partes podem se valer da arbitragem para solução de controvérsias relacionadas ao contrato de
franquia.

5.7.  FATURIZAÇÃO

Faturização (factoring ou fomento mercantil) é o contrato pelo qual uma instituição faturizadora
adquire, por meio de cessão de crédito, direitos decorrentes da compra e venda de mercadoria/
prestação de serviço (faturamento) da faturizada, respondendo esta apenas pela existência da dívida.

O principal objetivo do factoring é permitir que o empresário adquira capital de giro para
administrar os seus negócios por meio da cessão de seus créditos.

As principais espécies de faturização são:

• Faturização convencional (conventional factoring/ old line factoring): Por esse


contrato a faturizadora, que pode ser um Banco, ou uma empresa de factoring, antecipa
parcialmente o valor faturizado, garantindo o pagamento em favor do empresário.

• Faturização de Vencimento (Maturity Factoring): Por esse contrato, a faturizadora


apenas paga o valor dos títulos, depois do vencimento deles. Neste há garantia de
pagamento, mas não antecipação.

Embora não sejam consideradas instituições fnanceiras para fns legais, as empresas de fomento
comercial obedecerão às normas a respeito do sigilo aplicáveis às instituições fnanceiras, conforme
art. 2º da Lei Complementar 105/2001 TEMA COBRADO NO EXAME XVI DA OAB/FGV.
67
5.8.  ARRENDAMENTO MERCANTIL

Arrendamento mercantil, ou leasing, é o contrato realizado entre uma pessoa jurídica


(arrendadora) e uma pessoa física ou jurídica (arrendatária), que tem por objeto a locação
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por prazo determinado dos bens adquiridos pela primeira (arrendadora) de acordo com as
especifcações e para o uso próprio da segunda (arrendatária), permitindo-se que esta, ao fnal
do contrato, compre o bem pelo valor residual (VRG), prorrogue o contrato ou devolva o bem.
TEMA COBRADO NOS EXAMES XXIV e XXV DA OAB/FGV.

Vejamos as principais espécies de leasing:

• Leasing fnanceiro – É aquele cujas parcelas levam em consideração o custo do bem e


os juros, de modo que o valor residual (VRG) será pequeno.

• Leasing operacional – É aquele cujas parcelas totalizam no máximo 75% do valor do


bem arrendado, de modo que o arrendatário deverá pagar um valor elevado para adquirir
o bem ao fnal do contrato, ou seja, o VRG será alto.

• Leasing de retorno (leasing back) – É aquele em que a propriedade do bem é vendida e


posteriormente arrendada pelo comprador ao vendedor. A principal fnalidade do leasing
de retorno é garantir capital de giro à empresa que vende o bem para depois arrendá-lo.

• Súmula n. 293 do STJ: A cobrança antecipada do valor residual garantido (VRG) não
descaracteriza o contrato de arrendamento mercantil.

• Súmula nº 369 do STJ: No contrato de arrendamento mercantil (leasing), ainda que haja
cláusula resolutiva expressa, é necessária a notifcação prévia do arrendatário para constituí-lo
em mora TEMA COBRADO NO IX EXAME DA OAB/FGV.

• Súmula n. 492 do STF: A empresa locadora de veículos responde, civil e solidariamente com
o locatário, pelos danos por este causados a terceiro, no uso do carro locado.

5.9.  ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA EM GARANTIA

É o contrato que uma das partes chamada fduciante, ou mutuária, aliena em confança, um
bem para outra parte, chamada fduciária, mutuante, por exemplo um banco, que se obriga a
devolver a coisa, na forma pactuada, após o pagamento da última prestação do mútuo, ou seja, do
empréstimo, conforme previsto na lei 4.728/65.

“A” deseja comprar um carro, mas não tem dinheiro para tanto. O banco “B” empresta o
dinheiro para “A”, sob a condição de fcar com a propriedade do carro até que o empréstimo
seja pago. Após o pagamento do empréstimo, a propriedade passa a ser de “A”.

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Podem ser objeto da alienação fduciária bens imóveis ou móveis (fungíveis ou infungíveis),
pertencentes ao fduciante, ou ao fduciário mutuante (banco).

Quando se tratar de bem imóvel, aplicam-se os artigos 23 a 33 da Lei n. 9.514/97 (lei do fnanciamento
imobiliário), devendo se constituir a propriedade fduciária de coisa imóvel mediante registro do contrato
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que lhe serve de título no Registro de Imóveis competente TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB.

5.10.  LOCAÇÃO DE SHOPPING CENTER

Nas relações entre lojistas e empreendedores de shopping center, prevalecerão as condições


livremente pactuadas nos contratos de locação respectivos TEMA COBRADO NO X EXAME DA OAB e
as disposições procedimentais previstas na lei locação comum empresarial (Lei n. 8.245/91), devendo-
se destacar as seguintes regras:

• O empreendedor não poderá cobrar do locatário em shopping center as despesas


de obras de reformas ou acréscimos que interessem à estrutura integral do imóvel,
pintura das fachadas, empenas, poços de aeração e iluminação, bem como das
esquadrias externas; indenizações trabalhistas e previdenciárias pela dispensa de
empregados, ocorridas em data anterior ao início da locação e despesas com obras
ou substituições de equipamentos, que impliquem modifcar o projeto ou o memorial
descritivo da data do habite - se e obras de paisagismo nas partes de uso comum.

• As despesas cobradas do locatário devem ser previstas em orçamento, salvo casos


de urgência ou força maior, devidamente demonstradas, podendo o locatário, a cada
sessenta dias, por si ou entidade de classe exigir a comprovação das mesmas.

• Diferentemente da locação comum, o locador de espaço de shopping center não


pode se recusar a renovar o contrato, alegando que necessita do espaço para uso
próprio, de descendente, ascendente ou cônjuge.

O STJ possui decisões favoráveis à denominada cláusula de raio: “A chamada cláusula de raio
proíbe os lojistas de um shopping de explorar o mesmo ramo de um negócio em um determinado
raio de distância, com o objetivo de restringir a concorrência de oferta de bens e serviços no
entorno do empreendimento”.

5.11.  HEDGING OU HEDGE

Hedge, que em inglês signifca proteção, é o instrumento que objetiva proteger operações
fnanceiras sujeitas a risco de variações de preço.

De acordo com o art. 77, § 1º, b, da Lei n. 8.981/95, consideram-se de cobertura (hedge) as
operações destinadas, exclusivamente, à proteção contra riscos inerentes às oscilações de preço ou
de taxas, quando o objeto do contrato negociado: a) estiver relacionado com as atividades operacionais
da pessoa jurídica; b) destinar-se à proteção de direitos ou obrigações da pessoa jurídica.

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6. FALÊNCIA
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Falência é o processo judicial de execução coletiva em face de um empresário insolvente, com


a fnalidade de liquidar o passivo por meio da venda judicial forçada dos ativos da empresa.

Os requisitos básicos para a declaração falência são:

• Devedor empresário ou sociedade empresária

• Insolvência do devedor

A sociedade irregular não poder pleitear a Falência de terceiros, mas poderá sofrer falência.

Por outo lado, não estão sujeitas ao regime falimentar as seguintes pessoas jurídicas:

• Empresa pública e sociedade de economia mista;

• Instituição fnanceira pública ou privada;

• Cooperativa de crédito;

• Consórcio;

• Entidade de previdência complementar;

• Sociedade operadora de plano de assistência à saúde;

• Sociedade seguradora;

• Sociedade de capitalização e outras entidades legalmente equiparadas às anteriores.

LEGITIMIDADE ATIVA LEGITIMIDADE PASSIVA

Autofalência: o próprio empresário ou sociedade Empresário individual


empresária pede sua própria falência (Art.105);

Sócio / Acionista Sociedade empresária.

Qualquer credor: se o credor for empresa, só


poderá propor a ação de falência se estiver
devidamente registrado na Junta Comercial

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6.1. INSOLVÊNCIA

Entende-se por insolvência o estado econômico em que o ativo do empresário não é sufciente
para garantir o pagamento de suas dívidas. Ocorre, entretanto, que, para fns falimentares, a
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insolvência não depende da caracterização da diferença negativa entre ativo e passivo, sendo
presumida nos seguintes casos:

• Insolvência pela Impontualidade: quando o devedor, sem relevante razão de


direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos
executivos protestados cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 (quarenta) salários-
mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I, da Lei n. 11.101/2005). O § 1º do
art. 94 da Lei 11.101/05 permite que credores se reúnam em litisconsórcio a fm de
perfazer o limite superior a 40 salários, para possibilitar o pedido de falência.

• Execução frustrada: quando o executado por qualquer quantia líquida não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens sufcientes dentro do prazo legal (art. 94, II, Lei
n. 11.101/05).

• Atos de falência: São os atos que a própria lei descreveu como confguradores da
insolvência, conforme inciso III do art. 94 da Lei 11.101/05:

a) procede à liquidação precipitada de seus ativos ou lança mão de meio ruinoso ou


fraudulento para realizar pagamentos;

b) realiza ou, por atos inequívocos, tenta realizar, com o objetivo de retardar pagamentos
ou fraudar credores, negócio simulado ou alienação de parte ou da totalidade de seu
ativo a terceiro, credor ou não;

c) transfere estabelecimento a terceiro, credor ou não, sem o consentimento de todos


os credores e sem fcar com bens sufcientes para solver seu passivo;

d) simula a transferência de seu principal estabelecimento com o objetivo de burlar a


legislação ou a fscalização ou para prejudicar credor;

e) dá ou reforça garantia a credor por dívida contraída anteriormente sem fcar com
bens livres e desembaraçados sufcientes para saldar seu passivo;

f) ausenta-se sem deixar representante habilitado e com recursos sufcientes para


pagar os credores, abandona estabelecimento ou tenta ocultar-se de seu domicílio, do
local de sua sede ou de seu principal estabelecimento;

g) deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de


recuperação judicial.

6.2.  PROCESSO FALIMENTAR

O processo falimentar pode ser dividido em três fases:

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FASE PRÉ- FASE FALIMENTAR REABILITAÇÃO
FALIMENTAR

Fase que compreende o pedido Inicia-se com a sentença Com a sentença declaratória, o
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de falência e vai até a sentença declaratória da falência e vai falido fcou inabilitado de exercer
declaratória de falência. até o encerramento da falência. qualquer atividade empresarial
(art. 102). A reabilitação
representa a extinção das
obrigações do falido.

O juízo competente para processar o pedido de falência é aquele onde está localizado o
principal estabelecimento do falido (art. 3º da Lei), que não é necessariamente a sede da empresa,
mas sim o ponto central dos negócios, onde há maior movimento econômico.

O juízo da falência é considerado universal e indivisível, uma vez que é competente para
conhecer todas as ações sobre bens, interesses e negócios do falido, ressalvadas as causas
trabalhistas, de execução fscal, ações que demandarem quantia ilíquida e aquelas não reguladas
pela lei de falência em que o falido fgurar como autor ou litisconsorte ativo.

O pedido de falência pode ser feito pelo próprio devedor (autofalência), pelo sócio ou acionista,
pelo cônjuge sobrevivente, pelos herdeiros ou inventariante e pelos credores.

O devedor poderá apresentar contestação no prazo de 10 (dez) dias, sendo que, nos pedidos
baseados nos incisos I e II do caput do art. 94 da Lei n. 11.101/05 (insolvência pela impontualidade e
execução frustrada), o devedor poderá, no prazo da contestação, depositar o valor correspondente
ao total do crédito, acrescido de correção monetária, juros e honorários advocatícios, hipótese em
que a falência não será decretada e, caso julgado procedente o pedido de falência, o juiz ordenará
o levantamento do valor pelo autor.

Se o pedido de falência for julgado procedente, haverá uma Sentença Declaratória da Falência
e, se julgado improcedente, haverá uma Sentença Denegatória de Falência.

SENTENÇA DECLARATÓRIA DA SENTENÇA DENEGATÓRIA


FALÊNCIA

Recurso Cabível: agravo de instrumento Recurso Cabível: apelação

Natureza Constitutiva, já que permite o início


da fase falimentar.

6.3.  SENTENÇA DECLARATÓRIA DE FALÊNCIA

A sentença declaratória da falência possui natureza constitutiva e deve observar os requisitos


estabelecidos pelo art. 99 da Lei n. 11.101/2005:

Art. 99. A sentença que decretar a falência do devedor, dentre outras determinações:

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I – conterá a síntese do pedido, a identifcação do falido e os nomes dos que forem a esse
tempo seus administradores;

II – fxará o termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de 90 (noventa) dias
contados do pedido de falência, do pedido de recuperação judicial ou do 1° (primeiro)
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protesto por falta de pagamento, excluindo-se, para esta fnalidade, os protestos que
tenham sido cancelados;

III – ordenará ao falido que apresente, no prazo máximo de 5 (cinco) dias, relação
nominal dos credores, indicando endereço, importância, natureza e classifcação dos
respectivos créditos, se esta já não se encontrar nos autos, sob pena de desobediência;

IV – explicitará o prazo para as habilitações de crédito, observado o disposto no § 1° do


art. 7° desta Lei;

V – ordenará a suspensão de todas as ações ou execuções contra o falido, ressalvadas


as hipóteses previstas nos §§ 1° e 2° do art. 6º desta Lei;

VI – proibirá a prática de qualquer ato de disposição ou oneração de bens do falido,


submetendo-os preliminarmente à autorização judicial e do Comitê, se houver,
ressalvados os bens cuja venda faça parte das atividades normais do devedor se
autorizada a continuação provisória nos termos do inciso XI do caput deste artigo;

VII – determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses das partes


envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido ou de seus administradores
quando requerida com fundamento em provas da prática de crime defnido nesta Lei;

VIII – ordenará ao Registro Público de Empresas e à Secretaria Especial da Receita


Federal do Brasil que procedam à anotação da falência no registro do devedor, para que
dele constem a expressão “falido”, a data da decretação da falência e a inabilitação de
que trata o art. 102 desta Lei;

IX – nomeará o administrador judicial, que desempenhará suas funções na forma do


inciso III do caput do art. 22 desta Lei sem prejuízo do disposto na alínea a do inciso II
do caput do art. 35 desta Lei;

X – determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e outras


entidades para que informem a existência de bens e direitos do falido;

XI – pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do falido com


o administrador judicial ou da lacração dos estabelecimentos, observado o disposto no
art. 109 desta Lei;

XII – determinará, quando entender conveniente, a convocação da assembleia-geral


de credores para a constituição de Comitê de Credores, podendo ainda autorizar a
manutenção do Comitê eventualmente em funcionamento na recuperação judicial
quando da decretação da falência;

XIII – ordenará a intimação eletrônica, nos termos da legislação vigente e respeitadas


as prerrogativas funcionais, respectivamente, do Ministério Público e das Fazendas
Públicas federal e de todos os Estados, Distrito Federal e Municípios em que o devedor
tiver estabelecimento, para que tomem conhecimento da falência.

73
Desse modo, entre os requisitos da sentença declaratória da falência está a fxação do Termo
Legal da Falência, que não pode retroagir mais de 90 dias, contados do Pedido de Falência (ou de
Recuperação Judicial convolado em Falência), ou do primeiro protesto por falta de pagamento. O
termo legal representa o período às vésperas da quebra em que os atos praticados pelo falido são
considerados suspeitos, podendo ser declarados inefcazes frente à massa falida.
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Tem-se, portanto, que o “termo legal” é o “período suspeito” sendo que os atos praticados
nesse interstício poderão ser inefcazes. Os atos inefcazes, por sua vez, podem ser classifcados
em atos inefcazes em sentido estrito e atos revogáveis.

• Atos inefcazes em sentido estrito: são aqueles praticados durante certo período,
conforme previsto no art. 129 da Lei n. 11.101/05, sendo desnecessária a comprovação
de dolo ou frade, isto é, são analisados de forma objetiva. A inefcácia desses atos pode
ser reconhecida de ofício pelo juiz, por meio de ação revocatória, ou até mesmo por
simples alegação na petição inicial ou na defesa.
Art. 129. São inefcazes em relação à massa falida, tenha ou não o contratante
conhecimento do estado de crise econômico-fnanceira do devedor, seja ou não intenção
deste fraudar credores:
I – o pagamento de dívidas não vencidas realizado pelo devedor dentro do termo legal, por
qualquer meio extintivo do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;
II – o pagamento de dívidas vencidas e exigíveis realizado dentro do termo legal, por
qualquer forma que não seja a prevista pelo contrato;
III – a constituição de direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo
legal, tratando-se de dívida contraída anteriormente; se os bens dados em hipoteca
forem objeto de outras posteriores, a massa falida receberá a parte que devia caber ao
credor da hipoteca revogada;
IV – a prática de atos a título gratuito, desde 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
V – a renúncia à herança ou a legado, até 2 (dois) anos antes da decretação da falência;
VI – a venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento expresso
ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo restado ao
devedor bens sufcientes para solver o seu passivo, salvo se, no prazo de 30 (trinta) dias,
não houver oposição dos credores, após serem devidamente notifcados, judicialmente ou
pelo ofcial do registro de títulos e documentos; (tema cobrado no III exame da OAB/FGV).
VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre vivos,
por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após a
decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior.
Parágrafo único. A inefcácia poderá ser declarada de ofício pelo juiz, alegada em defesa
ou pleiteada mediante ação própria ou incidentalmente no curso do processo.

• Atos revogáveis: são atos que dependem da verifcação do dolo fraudulento do falido,
ou seja, devem ser analisados de forma subjetiva, conforme art. 130 da Lei n. 11.101/05.
Para que o ato seja revogado, há necessidade de propositura de ação revocatória pelo
administrador judicial, por qualquer credor ou pelo Ministério Público no prazo de 3 (três)
anos contado da decretação da falência TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/
FGV.

Na sentença que declara a falência, o juiz deverá também nomear o Administrador Judicial
(é o antigo síndico), pessoa idônea, preferencialmente advogado, economista, administrador de
empresa, contador, ou pessoa jurídica especializada, bem como ordenar a suspensão de todas
74
as ações e execuções contra o falido, com exceção apenas das ações trabalhistas e as execuções
fscais, que continuarão a correr normalmente.

Observe-se que a lei diz que o administrador deve ser preferencialmente, economista,
administrador de empresa, contador, ou pessoa jurídica especializada, não impedindo que ele tenha
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outra qualifcação como engenheiro ou arquiteto, por exemplo TEMA COBRADO NO V EXAME DA
OAB.

Além disso, o Juiz deverá se pronunciar sobre a continuação provisória das atividades do
falido, ou a lacração de seu estabelecimento, bem como determinar, quando entender conveniente,
a convocação da Assembleia Geral de Credores, que constituirá o Comitê de Credores para o
acompanhando processo falimentar.

O juiz deverá ainda intimar o Ministério Público que passará a ter intervenção obrigatória na
fase falimentar (na fase pré-falimentar a participação do MP não é obrigatória).

EFEITOS DA SENTENÇA DECLARATÓRIA

EFEITOS EM RELAÇÃO AOS


EFEITOS EM RELAÇÃO AO FALIDO CREDORES

Inabilitação: o falido não pode mais explorar a Vencimento antecipado de toda a dívida do falido;
atividade empresarial;
Suspensão do curso da prescrição das obrigações
Perda da disponibilidade de seus bens; do falido;

Os efeitos da falência não se estendem Suspensão de todas as ações / execuções contra


à fgura dos sócios, exceto em caso de o devedor, exceto ações fscais e as que o falido for
responsabilidade ilimitada. autor ou litisconsorte ativo TEMA COBRADO
NO XXVI EXAME DA OAB/FGV.

As exceções só valem para as ações em fase


de conhecimento. Na execução, sempre haverá
suspensão.

O Administrador Judicial que aceitar a nomeação assinará um termo de compromisso e passará


a arrecadar todo e qualquer bem que estiver em posse do falido, elaborando o auto de arrecadação,
que será composto de um inventário, e, quando necessário, de laudo de avaliação. Pode acontecer
de a falência ser defcitária (negativa), ou seja, sem bens arrecadados, porque a situação era tão
grave que os ativos do falido sequer eram sufcientes para pagar as despesas do processo.

Nesse caso, de acordo com o novo art. 114-A da LF, deve-se publicar um edital para que
os credores se manifestem, podendo acontecer uma das seguintes situações: a) os credores
permanecerem silentes, o que acarretará a extinção da falência, b) os credores podem antecipar
recursos para que o administrador judicial continue nos atos de tentativa de encontrar outros bens
para prosseguir o processo.

Não se tratando de uma falência frustrada (falência negativa), o administrador judicial deve:
75
• apresentar em 60 dias plano para realização dos ativos, observado o art. 99, §3º, da Lei n.
11.101/05.

• realizar a venda de todos os bens da massa falida no prazo máximo de 180 dias, contados
na juntada do auto de arrecadação, sob pena de sua destituição (art. 22, III, “j”).
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6.4.  PEDIDO DE RESTITUIÇÃO

Art. 85 da Lei n. 11.101/05. O proprietário de bem arrecadado no processo de falência ou


que se encontre em poder do devedor na data da decretação da falência poderá pedir
sua restituição.
Parágrafo único. Também pode ser pedida a restituição de coisa vendida a crédito e
entregue ao devedor nos 15 (quinze) dias anteriores ao requerimento de sua falência,
se ainda não alienada.

Poderá elaborar o pedido de restituição o proprietário do bem arrecadado, cuja posse era do
falido no momento da arrecadação, bem como o credor que vendeu o bem arrecadado a crédito e
que o tenha entregue ao falido nos 15 dias que antecederam o requerimento da falência.

O Pedido de Restituição deve ser proposto perante o juízo da falência, que mandará autuá-lo
em separado e determinará a intimação do falido, dos credores, do administrador judicial e do
comitê de credores, se existir, para que se manifestem sobre a sua viabilidade.

Se houver manifestação contrária ao Pedido de Restituição, esta será recebida como contestação,
devendo o Juiz verifcar a necessidade de produção de provas e proferir sentença, que poderá
ser atacada por meio de recurso de Apelação, sem efeito suspensivo, conforme art. 90 da Lei n.
11.101/2005. O bem objeto da restituição fcará indisponível até o trânsito em julgado da decisão.

No entanto, se o bem não mais existir ao tempo do pedido de restituição, o requerente receberá
o valor da avaliação do bem, ou, no caso de ter ocorrido sua venda, o respectivo preço, em ambos
os casos no valor atualizado (art. 86, inciso I, da Lei nº 11.101/2005). TEMA COBRADO NO XXVIII
EXAME DA OAB/FGV.

6.5.  QUADRO GERAL DOS CREDORES

A verifcação dos créditos será realizada pelo administrador judicial, com base nos livros contábeis
e documentos comerciais e fscais do devedor e nos documentos que lhe forem apresentados pelos
credores, podendo contar com o auxílio de profssionais ou empresas especializadas.

Os credores terão 15 dias para apresentar ao administrador judicial suas habilitações ou suas
divergências quanto aos créditos relacionados, inclusive os de natureza trabalhista.

O administrador terá 45 dias, contados do fm do prazo de habilitação, para apresentar nova


relação de credores, publicando edital.

Publicado o edital com a relação de credores, estes poderão apresentar ao juiz impugnação,
76
em 10 dias, por meio de ação autônoma. Em caso de crédito trabalhista, essa impugnação se
dará na Justiça do Trabalho (onde também devem correr as ações trabalhistas, até a apuração do
crédito) e, nos demais casos, no juízo falimentar.

Para cada impugnação haverá um auto em separado. Se houver mais de uma impugnação
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para o mesmo crédito, serão autuadas em conjunto. Uma vez autuado em separado, o juiz deverá
instaurar contraditório, ouvirá o credor e o devedor, verifcará se há provas a serem produzidas, e
ao fnal decidirá a impugnação, que poderá ser agravada.

Procedente a impugnação, o crédito será excluído. Se for improcedente o crédito será habilitado.

Publicação da Sentença Declaratória → 15 dias → Habilitação → 45 dias → Publicação da


relação de credores → 10 dias → Impugnação → 5 dias (sucessivos) → manifestação credor e
devedor → 5 dias → manifestação do administrador judicial → decisão do juiz (agravável).

Os credores habilitados constituirão o quadro geral de credores a ser elaborado pelo


administrador judicial, para fns de pagamento.

Antes, porém, o administrador judicial deve fazer alguns pagamentos com os recursos
disponíveis em caixa. São os casos do art. 150 e 151 da Lei n. 11.101/2005 : a) despesas cujo
pagamento amtecipado seja indispensável à administração da falência, b) créditos trabalhistas
de natureza estritamente salarial vencidos nos últimos 3 (três) meses anteriores à decretação da
falência, até o limite de 5 salários mínimos pr trabalhador.

CRÉDITOS EXTRACONCURSAIS: são pagos com precedência.

• Valor entregue pelo fnanciador ao devedor (Financiamento DIP)

• Créditos em dinheiro objeto de restituição,

• Remuneração do administrador judicial, reembolso devido a membros do Comitê de


Credores, e créditos trabalhistas ou decorrentes de acidente de trabalho relativos a
serviços prestados após a decretação da falência. TEMA COBRADO NO IV EXAME
DA OAB.

• Quantias fornecidas à massa pelos credores;

• Despesas com arrecadação, administração, realização do ativo e distribuição do seu


produto, bem como custas do processo de falência;

• Obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a recuperação


judicial, ou após a decretação da falência;

• Custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa tenha sido vencida
TEMA COBRADO NO VII EXAME DA OAB.
77
• Créditos tributários cujo fato gerador ocorra após a decretação da falência.

REMUNERAÇÃO DO ADMINISTRADOR JUDICIAL:


OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

• Caberá ao devedor ou à massa falida arcar com as despesas relativas à remuneração do


administrador judicial e das pessoas eventualmente contratadas para auxiliá-lo (art. 25 da
Lei n. 11.101/200%). TEMA COBRADO NO XX EXAME DA OAB/FGV.

• Parte da remuneração do administrador judicial (40%) será paga no encerramento da


recuperação judicial, desde que tempestiva a prestação de contas e aprovado o relatório
referido no inciso III do art. 63 da Lei de Falências, devendo o pagamento do valor restante
(60%) coincidir com o pagamento feito aos credores (art. 24, § 2º, da Lei nº 11.101/2005 - Lei
de Falências).

CRÉDITOS CONCURSAIS:

• Créditos trabalhistas até 150 salários mínimos por credor e os decorrentes de


acidentes de trabalho.

A limitação não atinge as indenizações por acidente de trabalho. Com relação aos demais
créditos trabalhistas, os valores que excederem os limites serão considerados créditos
quirografários. Importante destacar que, com a Lei n. 14.112/20, o crédito trabalhista cedido
nã perde a sua natureza

• Créditos com garantia real até o limite do bem gravado;

• Créditos tributários, com exceção das multas tributárias;

• Créditos quirografários, a saber: a) aqueles não previstos nos demais incisos deste artigo;
b) os saldos dos créditos não cobertos pelo produto da alienação dos bens vinculados
ao seu pagamento; c) os saldos dos créditos derivados da legislação do trabalho que
excederem o limite estabelecido no inciso I do caput deste artigo;

Com a vigência da Lei n. 14.112/2020, os créditos com privilégio especial e geral, previstos
originariamente na Lei n. 11.101/05, passaram a ser considerados também créditos
quirografários.

• Multas;

• Créditos subordinados, a saber: a) os assim previstos em lei ou em contrato;


b) os créditos dos sócios e dos administradores sem vínculo empregatício
78
TEMA COBRADO NO XVIII EXAME DA OAB/FGV.

6.6.  REALIZAÇÃO DO ATIVO


OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

A realização do ativo é a venda dos bens da massa com o objetivo de arrecadar dinheiro para
o pagamento dos credores e será efetivada da seguinte forma, observada a seguinte ordem de
preferência:

I – alienação da empresa, com a venda de seus estabelecimentos em bloco;

II – alienação da empresa, com a venda de suas fliais ou unidades produtivas


isoladamente;

III – alienação em bloco dos bens que integram cada um dos estabelecimentos do
devedor;

IV – alienação dos bens individualmente considerados.

A venda poderá ser feita, de acordo com a nova redação do art. 142 da LF, por uma das seguintes
modalidades:

• Leilão eletrônico, presencial ou híbrido: é modalidade feita por lances orais, sendo
considerado vencedor o melhor lance não coberto por outro. Deverá ser feito por
leiloeiro ofcial.

• Processo competitivo organizado promovido por agente especializado e de


reputação ilibada, cujo procedimento deverá ser detalhado em relatório anexo ao
plano de realização do ativo ou ao plano de recuperação judicial, conforme o caso;

• Qualquer outra modalidade, desde que aprovada nos termos da Lei.

Visando celeridade e efciência, com a Lei n. 14.112/20, cabe ao Administrador Judicial mostrar
qual é a modalidade de venda que ele entende mais célere e adequada no caso concreto.

Deve-se frisar que os bens objeto da alienação estarão livres de quaisquer ônus e não haverá
sucessão do arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, as
derivadas da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho, conforme art. 141,
II, da Lei nº 11.101/2005.

Art. 141. Na alienação conjunta ou separada de ativos, inclusive da empresa ou de suas


fliais, promovida sob qualquer das modalidades de que trata o art. 142:
I – todos os credores, observada a ordem de preferência defnida no art. 83 desta Lei,
sub-rogam-se no produto da realização do ativo;
II – o objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do
arrematante nas obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, as derivadas
da legislação do trabalho e as decorrentes de acidentes de trabalho.

79
Além disso, em qualquer modalidade de realização do ativo adotada, fca a massa falida dispensada
da apresentação de certidões negativas. TEMA COBRADO NO XIII EXAME DA OAB/FGV.

Realizado todo o ativo e o pagamento dos credores possíveis, o administrador irá apresentar
ao juiz sua prestação de contas e o relatório fnal da falência.
OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

Apresentado o relatório fnal, o juiz encerrará a falência por sentença. É a chamada sentença
de encerramento da falência.

A sentença de encerramento apenas encerra o processo falimentar, mas não declara extintas
as obrigações do falido.

6.7.  FASE DE REABILITAÇÃO

Levando-se em consideração que a sentença declaratória inabilita o falido a exercer qualquer


atividade empresarial (art. 102) e que a sentença de encerramento não declara extinta as suas obrigações,
o falido precisará ser reabilitado por meio de sentença que declare extintas as suas obrigações.

A Lei n. 14.112/2020 estabelece ainda como princípio o “fresh start” (art. 75 da LF), ou seja,
o retorno mais rápido do falido à atividade econômica, com a possibilidade de extinção das
obrigações do falido em prazos menores e condições menos onerosas (art. 158).

Com as alterações inseridas pela nova lei, a extinção das obrigações do falido e o fresh start
ocorrerão nas seguintes hipóteses:

(I) pagamento de mais de 25% dos créditos quirografários;

(II) decurso de prazo de três anos, contados da decretação da falência, ressalvada a utilização
dos bens arrecadados anteriormente e que serão destinados a liquidação para satisfazer os
credores habilitados ou com pedido de reserva realizado;

(III) encerramento da falência nos termos do art. 114-A (ausência de bens do falido) ou do art.
156.

O pedido deve ser feito ao juízo da falência e será autuado em separado. O juiz mandará ouvir
os credores sobre o pedido que poderão apenas se opor com fundamento na não observância dos
requisitos previstos no art. 158.

Feito o pedido, se atendido o requisito legal, o juiz irá declarar por sentença extintas as
obrigações do falido, reabilitando-o para o exercício da atividade empresarial.

80
7

7. RECUPERAÇÃO JUDICIAL
OAB NA MEDIDA | DIREITO EMPRESARIAL

Art. 47 Lei n. 11.101/2005 - A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a


superação da situação de crise econômico-fnanceira do devedor, a fm de permitir a
manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos
credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo
à atividade econômica.

Poderá requerer recuperação judicial o devedor (empresário ou sociedade empresária) que, no


momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda
aos seguintes requisitos, cumulativamente:

I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada
em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;


TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/FGV.

III – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação


judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo (ME
e EPP)

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador,
pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

A recuperação judicial também poderá ser requerida pelo cônjuge sobrevivente, herdeiros
do devedor, inventariante ou sócio remanescente. Tratando-se de exercício de atividade rural por
pessoa jurídica, admite-se a comprovação do prazo de exercício de atividade superior a 2 (dois)
anos por meio da Declaração de Informações Econômico-fscais da Pessoa Jurídica (DIPJ) que
tenha sido entregue tempestivamente.

Estão sujeitos à recuperação todos os créditos existentes à época do pedido, ainda que não
vencidos, com as seguintes exceções:

• Os créditos fscais, salvo parcelamento autorizado por lei.

• Os créditos de adiantamento de contrato de câmbio

• Os credores de alienação fduciária, de arrendamento mercantil, ou de contrato de


compra e venda com reserva de domínio. TEMA COBRADO NO XXXIV EXAME DA
OAB/FGV.

81
CRÉDITOS INCLUÍDOS NA CRÉDITOS EXCLUÍDOS DA
RECUPERAÇÃO JUDICIAL RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Trabalhista e acidente de trabalho; Posteriores ao pedido;


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Com garantia real; Créditos tributários;

Com privilégio especial ou geral Compra e venda com reserva de domínio;

Quirografários; Alienação fduciária;

Subordinados Arrendamento mercantil (leasing).

A petição inicial deve ser protocolada no Juízo onde estiver o principal estabelecimento da empresa
observando os requisitos elencados no art. 51 da Lei n. 11.101/2005, destacando-se os seguintes:

• Exposição das causas da crise fnanceira;

• Certidão de regularidade na Junta Comercial;

• Demonstrativos contábeis dos últimos 3 exercícios sociais;

• Documentação contábil do devedor: documentos dos exercícios anteriores e do ano,


pois as demonstrações do item anterior são até o ano (exercício) anterior;

• Relação de credores;

• Relação de empregados;

• Certidões dos cartórios de protestos nos locais em que o devedor tiver estabelecimento;

• Extratos bancários do devedor e indicação de aplicações fnanceiras;

• Relação das ações judiciais em que o devedor for parte, com a estimativa dos
valores demandados;

• Relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores;

Importante destacar que a Lei n. 14.112/2020 trouxe novos requisitos para a apetição inicial,
como forma de trazer mais seriedade e celeridade ao pedido de Recuperação Judicial, conforme
sintetizamos no quadro abaixo.

82
Principais requisitos acrescidos pela nova lei:

a) a descrição das atividades do grupo societário (art. 51, I, “e”);


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b) Relação dos credores sujeitos e não sujeitos à recuperação (art. 51, III);

c) Indicação do endereço físico e eletrônico (art. 51, III);

d) Valor do crédito com regime de vencimentos (art. 51, III);

e) Relatório detalhado do passivo fscal (art. 51, X);

f) Relação de bens e direitos integrantes do ativo não circulante, incluídos os não sujeitos à
recuperação judicial (art. 51, X);

g) negociação com credores não sujeito à recuperação, como no caso arrendamento mercantil
ou promessa de venda e compra de imóvel – (art. 51, XI);

Após a distribuição do pedido de recuperação judicial, o devedor não poderá alienar ou onerar
bens ou direitos de seu ativo não circulante, inclusive para os fns previstos no art. 67 desta Lei,
salvo mediante autorização do juiz, depois de ouvido o Comitê de Credores, se houver, com exceção
daqueles previamente autorizados no plano de recuperação judicial (art. 66 da LF).

Desse modo, com a nova redação do art. 66 da LF, permite-se a alienação ou oneração dos
ativos não circulantes da recuperanda, desde que mediante autorização judicial.

Além disso, fca vedado ao devedor, até a aprovação do plano de recuperação judicial, a
distribuição dos lucros ou dividendos a sócios e acionistas (art. 6º-A)

Ainda no que se refere à primeira fase do Procedimento de Recuperação Judicial, outra novidade
trazida pela Lei n. 14.112/2020 é a possibilidade da constatação prévia, destinada exclusivamente
para verifcação das reais condições de funcionamento da devedora, e regularidade e completude
da documentação, no prazo máximo de 5 dias (art. 51-A).

O instituto da constatação prévia, acrescido pela Lei n. 14.112/2020 (art. 51-A da Lei n.
11.101/2205), é uma faculdade permitida ao juiz para que nomear um profssional, com o
objetivo de verifcar a regularidade da documentação juntada com a petição inicial e também as
reais situações de funcionamento da empresa, como forma de constatar a seriedade do pedido
e evitar o deslinde de um processo fadado ao fracasso.

83
Importante destacar que a Lei n. 14.112/2020 passou a tratar expressamente da consolidação
substancial e da consolidação processual (art. 69-G e seguintes), dois assuntos muito importantes,
que já eram admitidos na jurisprudência. Vejamos a diferença entre eles:
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CONSOLIDAÇÃO PROCESSUAL CONSOLIDAÇÃO SUBSTANCIAL

Possibilidade de todas as empresas do Signifca a reunião do ativo e do passivo de todo o


grupo econômico pedirem recuperação grupo econômico, para responder pela totalidade
judicial em conjunto (litisconsórcio das dívidas. Trata-se de medida excepcional,
ativo). Possibilita a participação de impondo-se a fexibilização, ainda que pontual,
todas as empresas de um mesmo do princípio da autonomia patrimonial.
grupo econômico na recuperação
judicial, facilitando a reestruturação
das atividades e a superação da crise. Como a consolidação substancial é uma
exceção, o fato de ter uma consolidação
processual não exige a consolidação substancial.

Ressalta-se, ainda, que o novo art. 69-G, §2º, da Lei n. 11.101/05 dispõe: “O juízo do local do
principal estabelecimento entre os dos devedores é competente para deferir a recuperação judicial
sob consolidação processual, em observância ao disposto no art. 3º desta Lei”.

Trata-se de dispositivo que trará muita controvérsia, uma vez que não é unânime na doutrina
e jurisprudência qual deve ser considerado o principal estabelecimento do devedor no caso de
grupo societário.

Existem basicamente três correntes:

a) é o local da sede da holding,

b) o local onde está a sede administrativa (lugar onde as decisões são efetivamente tomadas),

c) o local com maior movimentação econômica (critério econômico).

Citamos a existência das três correntes acima para conhecimento, entretanto, não é costume
da prova da OAB/FGV cobrar correntes doutrinárias na primeira fase.

84
Depois de analisar o preenchimento dos requisitos da petição inicial citados no art. 51 da Lei
n. 11.101/2005, o juiz proferirá despacho autorizando o processamento da recuperação judicial. O
despacho produzirá os seguintes efeitos:

• Nomeação do administrador judicial (na falência, o administrador é nomeado na


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sentença e na recuperação judicial no despacho de processamento).

• Determinação de que o devedor apresente mensalmente as contas de suas atividades;

• Determinar a intimação do MP e Fazendas Públicas;

• Suspensão de todas as ações e execuções contra o devedor (e também da prescrição)


pelo prazo de 180 dias (stay period), com exceção das execuções fscais e das ações
trabalhistas TEMA COBRADO NO VIII EXAME A OAB/FGV.

Aqui temos algumas novidades importantes trazidas pela Lei n. 14.112/2020, sendo a
principal delas a possibilidade de prorrogação do período de 180 dias por igual período, o que era
vedado na redação original da Lei n. 11.101/05 (o período de 180 dias era improrrogável).

REGRAS IMPORTANTES DO STAY PERIOD

• Permite-se prorrogação do prazo de 180 dias, por igual período, uma única vez, em caráter
excepcional, desde que o devedor não haja concorrido com a superação do lapso temporal. (art.
6, § 4º);

• Suspensão das ações, inclusive contra os credores que demandam os sócios solidários, desde
que o crédito esteja sujeito aos efeitos da Recuperação Judicial (art. 6º, caput, inc. II);

• Proibição de arresto, penhora, sequestro, busca e apreensão (art. 6º, caput, inc. III);

Após a publicação do despacho de processamento começa a contar o prazo improrrogável de 60


dias para que o devedor apresente o seu plano de recuperação judicial, sendo que, se não houver a
apresentação, a recuperação judicial será convolada em falência TEMA COBRADO NO VIII EXAME DA OAB.

O plano será elaborado pelo devedor, que pode se valer dos meios de recuperação previstos no
art. 50 da Lei n. 11.101/05, tais como: concessão de prazos e condições especiais para pagamento
das obrigações vencidas ou vincendas, cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade,
constituição de subsidiária integral, cessão de cotas ou ações e venda parcial dos bens.

Apresentado o plano dentro do prazo legal o juiz mandará publicar edital informando os
credores acerca do documento. Qualquer credor poderá apresentar objeção ao plano no prazo de
30 dias contados da publicação do edital.

85
O plano de recuperação deve ser subscrito por um profssional ou empresa especializada e deve conter um
estudo de viabilidade econômica da empresa e laudo econômico fnanceiro e de avaliação dos bens e ativos.

A Lei n. 14.112/20 trouxe algumas regras importantes sobre o plano de recuperação judicial:
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REGRAS IMPORTANTES SOBRE O PLANO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL

• Tratamento diferenciado para credores que continuarem a fornecer produtos ou serviços para o
devedor, desde que o tratamento seja adequado e razoável (art. 67, parágrafo único). O tratamento
diferenciado se justifcada porque esses credores são imprescindíveis para a manutenção da
atividade da empresa, já que fornecem produtos e serviços e essenciais.

• Permite-se a venda da Unidade Produtiva Isolada (art. 50, inc. XVIII), ou seja, é possível a
venda integral da empresa (condições equivalentes aos extraconcursais), desde que não haja
esvaziamento patrimonial capaz de prejudicar os credores não presentes na recuperação judicial.
Nesse tipo de venda não há sucessão.;

Além disso, o plano não poderá prever prazo superior a um ano para pagamento dos créditos
trabalhistas e de acidentes de trabalho vencidos até a data do pedido de recuperação, devendo ainda
prever o pagamento, em até 30 dias, dos créditos trabalhistas até o limite de 5 salários mínimos por
trabalhador referentes a créditos estritamente salariais vencidos nos 3 meses anteriores ao pedido.

Com a Lei n. 14.112/20, passou-se a admitir que o prazo de 1 ano para pagamento dos
credores trabalhistas seja estendido em até 2 anos, se o devedor apresentar garantias, o
plano for aprovado na classe I e houver previsão de pagamento integral (art. 54, §2º).

Se transcorrido o prazo de 30 dias e nenhum credor tiver apresentado objeção, o plano é


considerado aprovado, devendo o juiz deferir a recuperação judicial.

Por outro lado, se ocorrer qualquer objeção, o juiz fca obrigado a convocar a assembleia de
credores para deliberar sobre o plano.

A assembleia irá deliberar por meio de 4 classes de credores (art. 41 da Lei n. 11.101/05) e o
plano somente será considerado aprovado se obtiver aprovação nas 4 classes.

1ª classe: Trabalhista e acidente do trabalho;

2ª classe: Credores com garantia real;

3ª classe: Credores quirografários com privilégio geral e especial e subordinados.

4ª classe: Titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte.

86
Os credores fscais não são ouvidos porque eles não se sujeitam ao plano de recuperação.
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Se o plano não for aprovado pelas 4 classes, mesmo assim o juiz poderá conceder a
recuperação judicial caso o plano tenha votação favorável nos termos do art. 58, §1º, da Lei nº
11.101/2005, conhecida como cram down:
Art. 58. Cumpridas as exigências desta Lei, o juiz concederá a recuperação judicial do
devedor cujo plano não tenha sofrido objeção de credor nos termos do art. 55 desta Lei
ou tenha sido aprovado pela assembleia-geral de credores na forma do art. 45 desta Lei.
§ 1º - O juiz poderá conceder a recuperação judicial com base em plano que não obteve
aprovação na forma do art. 45 desta Lei, desde que, na mesma assembleia, tenha obtido,
de forma cumulativa:
I – o voto favorável de credores que representem mais da metade do valor de todos os
créditos presentes à assembleia, independentemente de classes;
II – a aprovação de 2 (duas) das classes de credores nos termos do art. 45 desta Lei ou, caso
haja somente 2 (duas) classes com credores votantes, a aprovação de pelo menos 1 (uma) delas;
III – na classe que o houver rejeitado, o voto favorável de mais de 1/3 (um terço) dos
credores, computados na forma dos §§ 1º e 2º do art. 45 desta Lei.

Com as modifcações introduzidas pela Lei n. 14.112/2020, a Assembleia Geral de Credores


poderá ser virtual e também ser substituída, com idênticos efeitos, por termo de adesão
frmado por credores que satisfaçam o quórum de aprovação específco ou outro mecanismo
reputado sufcientemente seguro pelo juiz (art. 39, § 4º).

Caso o plano apresentado pelo devedor não seja aprovado pela Assembleia de Credores mesmo
na situação do cram down, a Lei n. 14.112/2020 passou a permitir a possibilidade de apresentação de
plano alternativo pelos próprios credores, no prazo de 30 dias, desde que observados os requisitos
previstos no art. 56, § 6º, da Lei n. 11.101/2005
Art. 56
(...)
§ 6º O plano de recuperação judicial proposto pelos credores somente será posto em
votação caso satisfeitas, cumulativamente, as seguintes condições: (Incluído pela Lei nº
14.112, de 2020)
I - não preenchimento dos requisitos previstos no § 1º do art. 58 desta Lei; (Incluído pela
Lei nº 14.112, de 2020)
II - preenchimento dos requisitos previstos nos incisos I, II e III do caput do art. 53 desta
Lei; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
III - apoio por escrito de credores que representem, alternativamente: (Incluído pela Lei
nº 14.112, de 2020)
a) mais de 25% (vinte e cinco por cento) dos créditos totais sujeitos à recuperação
judicial; ou (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
b) mais de 35% (trinta e cinco por cento) dos créditos dos credores presentes à.

87
assembleia-geral a que se refere o § 4º deste artigo; (Incluído pela Lei nº 14.112, de
2020)
IV - não imputação de obrigações novas, não previstas em lei ou em contratos
anteriormente celebrados, aos sócios do devedor; (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)
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V - previsão de isenção das garantias pessoais prestadas por pessoas naturais em


relação aos créditos a serem novados e que sejam de titularidade dos credores
mencionados no inciso III deste parágrafo ou daqueles que votarem favoravelmente ao
plano de recuperação judicial apresentado pelos credores, não permitidas ressalvas de
voto; e (Incluído pela Lei nº 14.112, de 2020)

Um dos objetivos da Lei n. 14.112/20, ao permitir o plano alternativo, é de equilibrar os interesses


do devedor e dos credores na Recuperação Judicial. Isso porque, no regime original da Lei n. 11.101/05,
apenas o credor tinha a possibilidade de apresentar o plano de recuperação judicial.

Com a Lei n. 14.112/2020, os credores passaram a ter a possibilidade de rejeitar o plano do devedor
e apresentar, observadas as regras do art. 56-A, o plano alternativo, trazendo equilíbrio para a relação
jurídica entre credor e devedor.

Desse modo, não sendo aprovado o plano do devedor pela Assembleia Geral de Credores, o
Administrador Judicial deverá colocar em votação a possibilidade de abertura do prazo de 30 dias para
os credores apresentarem plano alternativo (art. 56, § 4º, da LRF)

Para a aprovação da concessão do prazo, exige-se mais da metade dos créditos presentes (art. 56,
§ 5º), observando-se as mesmas regras referentes à aprovação do plano pelo devedor.

REQUISITOS PARA O PLANO ALTERNATIVO SER COLOCADO EM VOTAÇÃO

1) Plano do devedor não houver preenchido os requisitos do art. 58, § 1º, da LRF (cram down);

2) O plano alternativo deve preencher os requisitos dos incisos I, II e III do art. 53, caput, da LRF
(discriminação pormenorizada dos meios de recuperação, demonstração de viabilidade econômica;
laudo econômico-fnanceiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor);

3) O plano não imputar obrigações novas, não previstas em lei ou em contratos anteriormente
celebrados aos sócios da recuperanda;

4) O plano não impuser ao devedor ou aos sócios sacrifício maior do que enfrentariam na liquidação
falimentar.

Outro ponto importante sobre o plano alternativo é que se permite a capitalização dos créditos,
ou seja, a entrega das ações aos credores como forma de pagamento das dívidas reestruturadas,
permitindo-se inclusive a possibilidade de alteração do controle da sociedade devedora.

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Além disso, permite-se uma segunda prorrogação do stay period, caso os credores apresentem
plano alternativo de recuperação judicial, nas hipóteses previstas no art. 6º, § 4º-A, e no art. 56, §
4º. (art. 6º, § 4º e 4º-A).
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FINANCIAMENTO DIP

Considera-se fnanciamento DIP o fnanciamento feito em favor de uma empresa que já se encontra em
recuperação judicial, para que ela possa auferir recursos para manter sua atividade em curso, ter capital
de giro e até mesmo conseguir cumprir o plano de recuperação judicial.

A Lei n. 14.112/20 passou a dar mais proteção ao fnanciamento DIP, deixando-o mais atrativo, conforme
art. 69-A ao 69-F da Lei n. 11.101/05.

Primeiro ponto importante é que quem autoriza o fnanciamento DIP é o próprio juiz (não é Assembleia
Geral de Credores), podendo, se quiser, ouvir o Comitê de Credores (art. 69-A). Os créditos da fnanciadora
são considerados extraconcursais.

Além disso, mesmo que houver recurso da decisão do juiz que concedeu o fnanciamento, a decisão
das instâncias superiores não poderá alterar a natureza extraconcursal dos créditos decorrentes do
fnanciamento, nem as garantias outorgadas pelo devedor em favor do fnanciador de boa-fé, caso o
desembolso dos recursos já tenha sido efetivado (art. 69-B)

O fnanciamento poderá ser realizado por qualquer pessoa, inclusive credores, sujeitos ou não à
recuperação judicial, familiares, sócios e integrantes do grupo do devedor.

Aprovado o plano, a decisão concessiva da Recuperação Judicial provoca a novação dos créditos,
ou seja, extinguem-se as dívidas anteriores para a criação de novas dívidas, nos termos do plano (art.
59 da Lei n. 11.101/2005). Essa novação aplica-se somente ao devedor em recuperação, respondendo
os avalistas e fadores pela dívida original. Da decisão concessiva cabe agravo de instrumento, por
qualquer credor ou pelo Ministério Público.


O plano de recuperação, uma vez aprovado, é homologado pelo juiz, passando a ter força de
título executivo judicial.

Do despacho que defere a recuperação judicial começa a contar prazo de 2 anos durante o qual
o devedor deve cumprir com todas nas obrigações previstas no plano de recuperação, sob pena
de convolação da recuperação em falência.

Transcorrido os 2 anos sem que haja descumprimento do plano, o juiz proferirá sentença de
encerramento da recuperação judicial (há o encerramento da recuperação, mas não do Plano de
Recuperação).

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Cabe destacar, ainda, que, de acordo com o art. 60 da Lei n. 11.101/05, se o plano de recuperação judicial
aprovado envolver alienação judicial de fliais ou de unidades produtivas isoladas do devedor, o juiz ordenará
a sua realização, observado o disposto no art. 142 desta Lei.

O objeto da alienação estará livre de qualquer ônus e não haverá sucessão do arrematante nas
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obrigações do devedor, inclusive as de natureza tributária, observado o disposto no § 1º do art. 141 desta Lei.

Cabe ao Comitê de Credores e ao administrador judicial a fscalização da execução do plano de


recuperação judicial, conforme art. 27 da Lei n. 11.101/05 TEMA COBRADO NO XXV EXAME DA
OAB.

ATRIBUIÇÕES DO COMITÊ NA ATRIBUIÇÕES NA RECUPERAÇÃO


FALÊNCIA E NA RECUPERAÇÃO JUDICIAL

Fiscalizar as atividades e examinar as contas do Fiscalizar a administração das atividades do


administrador judicial; devedor, apresentando, a cada 30 (trinta) dias,
relatório de sua situação;

Zelar pelo bom andamento do processo e pelo


cumprimento da lei; Fiscalizar a execução do plano de
recuperação judicial;

Comunicar ao juiz, caso detecte violação dos


direitos ou prejuízo aos interesses dos credores;  Submeter à autorização do juiz, quando ocorrer
o afastamento do devedor nas hipóteses
previstas na lei, a alienação de bens do ativo
Apurar e emitir parecer sobre quaisquer permanente, a constituição de ônus reais e outras
reclamações dos interessados; garantias, bem como atos de endividamento
necessários à continuação da atividade
empresarial durante o período que antecede
Requerer ao juiz a convocação da assembleia- a aprovação do plano de recuperação judicial.
geral de credores;

Manifestar-se nas hipóteses previstas na lei;

Após encerrada por sentença o processo de recuperação, caso o devedor deixe de cumprir
obrigação prevista no plano, o credor poderá optar pela execução específca da obrigação ou pelo
pedido de falência com fundamento no art. 94, III, “g”, da Lei n. 11.101/05 (deixa de cumprir, no
prazo estabelecido, obrigação assumida no plano de recuperação judicial).

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8.  RECUPERAÇÃO EXTRAJUDICIAL


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A recuperação extrajudicial pode ser requerida pelo credor que preencher os mesmos
requisitos exigidos para a recuperação judicial, devendo o pedido ser direcionado ao juízo onde
está localizado o principal estabelecimento da empresa ou da flial de empresa que tenha sede fora
do Brasil, conforme art. 3º da Lei nº 11.101/2005. TEMA COBRADO NO XXIV EXAME DA OAB/
FGV.

O plano de recuperação extrajudicial não abrange os créditos de natureza tributária, além do


que não poderá contemplar o pagamento antecipado de dívidas nem tratamento desfavorável aos
credores que a ele não estejam sujeitos (art. 161 da Lei n. 11.101/2005). TEMA COBRADO NO XXI
EXAME DA OAB/FGV.

De acordo com art. 49, §§s 3º e 4º, da Lei n. 11.101/05, alterado pela Lei n. 14.112/20, podem
requerer recuperação extrajudicial os credores titulares dos créditos existentes até a data do pedido,
exceto:

• Créditos Fiscais

• Credor por adiantamento de contrato de câmbio

• Credor com Alienação e Cessão fduciária

• Credor de Arrendamento Mercantil

Muito importante consignar que, com as alterações promovidas pela Lei n. 14.112/2020, passou-
se a permitir que credores trabalhistas também participem da recuperação extrajudicial, desde que
haja negociação coletiva, ou seja, desde que tenha a participação do sindicato.

Permite-se, na recuperação extrajudicial, que a negociação seja feita com grupos de credores
de mesma natureza e sujeito a mesmas condições de pagamento, ou seja, é possível negociar com
pessoas dentro da mesma classe que estejam em situação parecida para recebimento do crédito.

Antes da Lei n. 14.112/20, exigia-se um quórum de aprovação de mais de 3/5 dos créditos de
uma classe (se abranger a totalidade) ou de um grupo (de mesma natureza e sujeito a semelhantes
condições de pagamento).

Com a nova lei, o quórum passa a ser de mais da metade, ou seja, há um incentivo para a
realização da negociação extrajudicial.

Além disso, no regime anterior, o devedor deveria trazer o plano com a adesão de 3/5. Com a
nova lei, permite-se que o devedor apresente o plano com aprovação de + de 1/3 dos credores
sendo, em 90 dias, ele pode negociar para conseguir a adesão da maioria dos credores, facultada
a conversão do procedimento em recuperação judicial a pedido do devedor (art. 163, par. 7º)
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Deve-se salientar, ainda, que o devedor não poderá requerer a homologação de plano
extrajudicial, se estiver pendente pedido de recuperação judicial ou se houver obtido recuperação
judicial ou homologação de outro plano de recuperação extrajudicial há menos de 2 (dois) anos.

O pedido de homologação do plano de recuperação extrajudicial não acarretará suspensão de


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direitos, ações ou execuções, nem a impossibilidade do pedido de decretação de falência pelos


credores não sujeitos ao plano de recuperação extrajudicial.

Além disso, após a distribuição do pedido de homologação, os credores não poderão desistir
da adesão ao plano, salvo com a anuência expressa dos demais signatários (art. 161, § 5º, da Lei nº
11.101/2005). TEMA COBRADO NO XXIX EXAME DA OAB/FGV.

Feito o pedido de homologação ao juiz competente (onde está localizado o principal


estabelecimento da empresa ou da flial de empresa que tenha sede fora do Brasil, conforme art.
3º da Lei nº 11.101/2005), haverá a publicação de edital dando ciência aos credores do pedido de
homologação, que poderão se opor no prazo de 30 dias contados da publicação do edital com base
apenas nos pontos elencados pelo art. 164, §3°, da Lei n. 11.101/05:

I – não preenchimento do percentual mínimo previsto no caput do art. 163 desta Lei n.
11.101/2005 (mais da metade dos créditos de cada espécie, conforme a Lei n. 14.112/20)

II – prática de qualquer dos atos previstos no inciso III do art. 94 ou do art. 130 da lei n.
11.101/2005;

III – descumprimento de qualquer outra exigência legal.

Se for apresentada impugnação, será aberto o prazo de 5 dias para que o devedor se manifeste.
Caso o pedido de homologação seja julgado procedente, o plano passará a ter força jurídica de título
executivo judicial, enquanto que, se julgado improcedente, o processo será extinto, não havendo
convolação em falência, como ocorre no caso de recuperação judicial.

O plano de recuperação extrajudicial produz efeitos após sua homologação judicial. Entretanto,
é lícito que o plano estabeleça a produção de efeitos anteriores à homologação, desde que
exclusivamente em relação à modifcação do valor ou da forma de pagamento dos credores
signatários (art. 165, § 1º, da LF). TEMA COBRADO NO XIV EXAME DA OAB/FGV.

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BIBLIOGRAFIA

• COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Comercial, volume 1: direito de empresa.


16 ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
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• DAS CHAGAS, Edison Enedino. Direito Empresarial Esquematizado. 4ª ed. São Paulo:
Saraiva, 2017.

• GUSMÃO, Mônica. Lições de Direito Empresarial. 10ª ed. São Paulo: Lumen Juris, 2011.

• MARTINS, Fran; ABRAÃO, Carlos Henrique. Curso de Direito Comercial. 35ª ed.
São Paulo: Forense, 2012.

• RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. 2ª ed. São Paulo:
Método, 2012.

• VIDO, Elisabete. Curso de Direito Empresarial. 6 ª ed. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2018.

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