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Rio de Janeiro, 28 de novembro de 2021

À Sra. Ana Lúcia B. Santos


Visão do Bem

Assunto: Parecer Jurídico do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) da Escola de Direito do Rio
de Janeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV Direito Rio) sobre a Visão do Bem.

Referência: Cuida-se de parecer com orientações jurídicas para prevenção e resolução de


conflitos no âmbito da atuação da organização. O trabalho foi elaborado pela Clínica
LACONF (Laboratório de Assessoria Jurídica para Resolução Consensual de Conflitos), no
âmbito do NPJ da FGV Direito Rio, entre agosto e novembro de 2021, tendo contado com a
participação de 13 (treze) alunos(as) da graduação em Direito, supervisionados pela advogada
Cristiane Dias Carneiro (OAB/RJ nº 104.682).

André Pacheco Teixeira Mendes


OAB/RJ nº 148.661
Coordenador do Núcleo de Prática Jurídica FGV Direito Rio

Cristiane Dias Carneiro


OAB/RJ nº 104.682
Supervisora de Clínica do Núcleo de Prática Jurídica FGV Direito Rio
FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS
FGV DIREITO RIO
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA - NPJ

PARECER VISÃO DO BEM

Laboratório de Assessoria Jurídica para Resolução Consensual de Conflitos


Supervisora da Clínica: Cristiane Dias Carneiro
Alunos: Bernardo Guaraná, Beatriz Villa, Catarina Messenberg, Dimitri Couto, Igor
Martins, Juliana Maia, Lucas Nery, Luiza Facó, Sérgio Kezen, Vinícius Salomão, Paula
Strogoff, Saulo Rodrigues Rocha.

Rio de Janeiro - RJ
Novembro/2021
ÍNDICE

INTRODUÇÃO 5
1. TIPOS SOCIETÁRIOS 5
1.1. Vantagens do MEI 5
1.2. Desvantagens do MEI 6
1.3. Sociedade Limitada Unipessoal 7
1.4. Vantagens da Sociedade Limitada Unipessoal 7
1.5. Desvantagens da Sociedade Limitada Unipessoal 8
1.6. Negócio Social Visão do Bem como Sociedade Limitada Unipessoal 9
1.7. Tributação da Sociedade Limitada Unipessoal 10
2. CONSTITUIÇÃO DO NEGÓCIO COMO FRANQUIA 12
2.1. Definição de Franquia Social 13
2.2. Exemplos de Franquia Social no Brasil 13
2.3. Sugestão para a Visão do Bem 14
3. CÓDIGO DE ÉTICA E CONDUTA 15
3.1. Minuta do Código de Ética e de Conduta 15
4. LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS 21
5. APLICATIVO VISÃO DO BEM 30
5.1. Objetivos 30
5.2. Público-alvo 31
5.3. Escolha da Plataforma 31
5.3.1. Vantagens do iOS 32
5.3.2. Vantagens do Android 32
5.3.3. Aplicativo Híbrido 32
5.3.4 Qual software escolher? 33
5.4. Custos associados ao desenvolvimento 33
5.5. Monetização do aplicativo 34
5.5.1. Comissões por meio da Economia Compartilhada 34
5.5.2. Anúncios com Banner 35
5.5.3. Modelos de assinatura 35
5.6. Conclusão 36
6. OUVIDORIA 36
6.1. A Ouvidoria como Instituição 37
6.2. A Ouvidoria como mecanismo de prevenção e resolução de conflitos 37
6.3. A instalação da ouvidoria 37
6.4. A ouvidoria interna e suas especificidades 38
6.5. A ouvidoria externa e suas especificidades 38
6.6. Os custos para a instalação de uma ouvidoria 39
6.7. As qualificações para atuação na ouvidoria e possíveis cursos de ouvidoria 39
6.8. Observações sobre a ouvidoria em face da LGPD 40
7. SEDE 43
7.1. A escolha pela realização da locação 43
7.2. As funções do espaço contratado 43
7.3. Das consequências da locação 43
7.4. Resolução de conflitos que podem surgir a partir da locação 44
8. RODAS DE CONVERSA E RELAÇÃO COM AS REVENDEDORAS 45
8.1. Rodas de Conversa 45
8.2. Relação com as revendedoras 46
8.3. Conclusão 48
9. CURSOS E TREINAMENTOS 49
9.1. A dupla importância dos Cursos e Treinamentos 49
9.2. Como aplicar os mecanismos na Visão do Bem 49
10. CONTRATOS DE PATROCÍNIO 50
10.1. Introdução 50
10.2. Relação jurídica 51
10.3. Do patrocínio para divulgação de conteúdo em redes sociais 52
10.4. Da resolução de conflitos no contrato de patrocínio 52
10.5. Do melhor método autocompositivo de resolução de controvérsias 52
10.6. Da cláusula de mediação sugerida 53
11. PLATAFORMAS DE VENDAS DIGITAIS 54
12. CONTRATO DE COMODATO 57
12.1. Do prazo do contrato 58
12.2. Da restituição 58
12.3. Término da parceria e tolerância 60
INTRODUÇÃO

O presente parecer tem por objetivo analisar, de maneira fundamentada, alguns aspectos
relevantes envolvendo a Visão do Bem, principalmente, no que tange à resolução consensual
de conflitos e a prevenção de eventuais desavenças.

Para tanto, serão analisados os aspectos jurídicos, econômicos e regulatórios para a validação
da Visão do Bem, enquanto sociedade empresária, dentro do escopo da sua proposta de
valores e missão. Serão abordados temas relevantes com vistas a orientar a atuação da Visão
do Bem, como os impactos advindos da LGPD e suas relações externas.

1. TIPOS SOCIETÁRIOS

O Negócio Social Visão do Bem foi constituído como Microempreendedor Individual


(“MEI”). O MEI foi um avanço na legislação, por meio da Lei Complementar nº 128/2008,
que permitiu com que profissionais autônomos pudessem ter acesso aos direitos de uma
pessoa jurídica e recebessem um CNPJ. Como esta estrutura é destinada à operações de
menor faturamento e estruturação, o MEI possuí particularidades elencadas na tabela abaixo:

1.1. Vantagens do MEI

Como o MEI é um tipo societário especificamente destinado aos profissionais autônomos, a


criação do CNPJ em nome do profissional é um processo simples e que não demanda
esforços relevantes. Além disso, é um processo totalmente gratuito, o que garante com que
mais pessoas possam ter acesso ao benefício.

Outra vantagem do MEI é o seu regime tributário simplificado, bem como os


benefícios tributários concedidos. O regime tributário atribuído ao MEI é o Simples Nacional,
o mais simples modelo tributário. Na tributação dos MEIs, todo o pagamento tributário pode
ser concluído por meio da quitação mensal do Documento de Arrecadação do Simples
Nacional (“DAS”). Este documento é uma única guia que contém todos os tributos devidos
do MEI e permite com que estes sejam pagos de forma simples. Quanto aos benefícios
tributários, o Microempreendedor Individual é isento dos tributos federais, isto é, não são
cobrados o IRPJ, PIS, Cofins, IPI e CSLL, entre outros. Em decorrência das isenções e a
tributação simples, o valor mensal pago a título de tributo acaba sendo um valor baixo e
acessível.

Cabe destacar também os benefícios ao acesso ao crédito concedido aos MEIs.


Conforme supracitado, profissionais autônomos são estimulados para que se formalizem
como MEI para exercer suas operações. Outra forma de incentivo é a concessão de
empréstimos e financiamento por bancos com taxas de juros menores e maior parcelamento
para MEIs, respeitando a sua menor estrutura para arcar com o pagamento do empréstimo.

1.2. Desvantagens do MEI

Uma das maiores desvantagens dos MEIs é a sua limitação de crescimento. Esta
estrutura societária possui esta limitante, uma vez que para que se possa ser enquadrado como
MEI, o faturamento não pode ultrapassar uma receita bruta anual de R$ 81.000,00 (oitenta e
um mil reais), isto é, assim que o faturamento ultrapasse este valor, não se pode mais utilizar
a figura do MEI. Embora o Projeto de Lei Complementar n° 108, de 2021, atualmente em
trâmite no Congresso Nacional, vise aumentar este valor total anual para R$ 130.000,00
(cento e trinta e um mil reais), não há como garantir que este será aprovado, e, ainda em caso,
de aprovação, ter um limite de crescimento é definitivamente um ponto negativo.

Outro ponto negativo do MEI é o número de empregados que pode ser contratado.
Nesta estrutura societária somente 1 (um) empregado pode ser contratado, cujo salário não
pode exceder o salário mínimo ou o piso salarial de sua categoria. Destaca-se que, sob o
mesmo Projeto de Lei acima mencionado, se tramita a possibilidade de um aumento para a
contratação de 2 (dois) empregados, mas não existe certeza se esta mudança será aprovada.

Salienta-se também a impossibilidade com que MEIs detenham participação do


capital social de outras sociedades ou com que abram filiais. Esta limitação não permite com
que MEIs tornam-se sócios ou acionistas de outras sociedades ou que abram filiais para
expandir sua operação.

Ademais, há de se destacar a responsabilidade atribuída ao titular do MEI. Diferente


de algumas sociedades, o MEI possui responsabilidade ilimitada do seu patrimônio, isto é,
este responde de forma ilimitada, com o seu patrimônio pessoal aos débitos e questões
envolvendo este tipo societário.
Para sumarizar as vantagens e desvantagens do MEI, segue tabela abaixo:

MEI

Vantagens Desvantagens

Permite o acesso ao CNPJ de forma simples Limite de faturamento anual de R$ 81.000,00

Tributação simplificada e benefícios Somente um empregado pode ser contratado


tributários - seu salário será limitado conforme piso
salarial ou salário mínimo

Acesso ao crédito com benefícios Não é possível com que o MEI possua
específicos para MEI participação social em outra sociedade

O MEI não pode abrir filiais

Responsabilidade Ilimitada

1.3. Sociedade Limitada Unipessoal

Como já explorado acima, o MEI, embora tenha muitas vantagens, possui uma
estrutura limitante e que pode ser prejudicial ao crescimento do Negócio Social Visão do
Bem. Mediante a promulgação da Lei da Liberdade Econômica (Lei n°13.874/2019),
tornou-se possível a constituição de sociedades limitadas somente com um sócio no seu
capital social, criando as Sociedades Limitadas Unipessoais. Como o Negócio Social Visão
do Bem somente teria uma sócia, sua fundadora, esta seria uma tipo de sociedade cabível
para ser utilizada como o Negócio Social.

1.4. Vantagens da Sociedade Limitada Unipessoal

Além da possibilidade de constituição por somente um sócio, este modelo societário,


diferentemente dos MEIs, confere ao sua quotista responsabilidade limitada, isto é, o sócio
somente responderá na proporção de seu capital social. Neste sentido, não existe confusão
patrimonial entre o patrimônio da sociedade e do sócio, o que faz com que o patrimônio
pessoal esteja protegido.
Outra questão importante relacionada às Sociedades Limitadas Unipessoais é a maior
possibilidade de crescimento. Estas sociedades podem crescer mais, pois não existem os
limites atribuídos ao MEI, como o limite de contratação de empregados, faturamento e
participação em outras sociedades.

Ademais, como um requerimento para constituição de sociedades limitadas é o aporte


ao capital social, pode se pensar que esta integralização deste valor demandará um grande
valor, no entanto, não existe um limite mínimo para tal ação. Neste sentido, o capital social,
exceto em atividades específicas, pode ser livremente definido pelos sócios.

1.5. Desvantagens da Sociedade Limitada Unipessoal

Diferentemente aos MEIs, estes tipos societários possuem uma estrutura mais robusta
e requerem uma maior organização e maior esforço de tempo para sua constituição. É
necessário redigir um contrato social que será registrado perante a Junta Estadual no Estado o
qual a sociedade se localiza estabelecendo a forma como a sociedade será gerida e os direitos
e obrigações de seus sócios. Além disso, para fins de registro de endereço do tipo societário e
de documentos perante e a Junta, custos terão de ser incorridos.

Outra diferença que deve ser destacada da limitada é a tributação mais complexa e
robusta e a não existência de isenção aos tributos federais como no caso das MEIs. Esta
tributação diferenciada resulta em um valor maior a título de tributação, uma vez que seria
calculado por meio da aplicação de alíquota ao faturamento da sociedade e teria de serem
adicionados os tributos federais.

Para sumarizar as vantagens e desvantagens da Sociedade Limitada Unipessoal, segue tabela


abaixo:

Sociedade Limitada Unipessoal

Vantagens Desvantagens

Pode ser constituída por somente um sócio Exige maior organização

Não existe limite de faturamento Custos devem ser incorridos para sua
constituição
Não existe valor mínimo de capital social Não possui os mesmos benefícios tributários
concedidos ao MEI

Não existe restrição à participação em outras Tributação mais complexa


sociedades

Não existe restrição ao número de


empregados

Responsabilidade Limitada

1.6. Negócio Social Visão do Bem como Sociedade Limitada Unipessoal

Exploradas as vantagens e desvantagens de cada tipo societário aplicável a realidade


do Negócio Social do Visão do Bem, é oportuno avaliar como as características da Sociedade
Limitada Unipessoal podem auxiliar em questões que envolvem o Negócio.

Preliminarmente, como um dos objetivos do Negócio Social Visão do Bem é a busca


por patrocínios, um dos pontos essenciais para que um patrocinador considere o dispêndio de
seus recursos para patrocinar uma causa é confiar que os seus recursos serão utilizados
estritamente para promover esta causa. Na estrutura atual do Negócio Social do Visão do
Bem, o MEI não define uma diferenciação entre o patrimônio do MEI e pessoal. Neste
sentido, não existe segurança ao possível patrocinador que o seu patrocínio não será utilizado
para questões pessoais. Com a proposta de transformação para sociedade limitada, e
consequente diferenciação entre o patrimônio da sociedade e do sócio, o patrocinador poderá
ter maior confiança de que o investimento somente será utilizado pela sociedade.

Além disso, o Negócio Social também objetiva a constituição de franquias sociais.


Como supracitado, caso o modelo de constituição destas franquias sociais seja por meio de
uma filial, não será possível seguir desta forma, pois não é permitido com que MEIs
constituam filiais. Caso se decida seguir com franquias em si, o processo de constituição e
preparação destas franquias será mais simples se feito por meio de uma Sociedade Limitada
Unipessoal, uma vez que este modelo oferece maior organização e estrutura, ponto
importante para seguir com o modelo de franquias.
Ademais, conforme já explorado no que concerne a responsabilidade, o titular do MEI
é ilimitadamente responsável pelos passivos deste modelo societário. Como qualquer
atividade, é provável que o Negócio Social Visão do Bem incorra em passivos. Um destes,
como o Negócio lida com vendedoras que operam em seu nome e clientes, é possível com
que processos sejam ajuizados contra o Negócio e se tornem passivos. Caso esta situação
ocorra, o patrimônio pessoal responderá à estas dívidas e poderá ser dilapidado.

Em suma, por estas questões e as vantagens exploradas acima da Sociedade Limitada


Unipessoal, entendemos que seria positivo que se considerasse a transformação para este
modelo societário. Esta mudança poderá trazer uma maior possibilidade de crescimento e
auxiliar em questões significantes que concernem o Negócio.

1.7. Tributação da Sociedade Limitada Unipessoal

Conforme a recomendação para consideração da Sociedade Limitada Unipessoal, é


oportuno explorar com maior profundidade a tributação deste tipo societário. A Sociedade
Limitada Unipessoal possui três regimes diferentes tributários a qual pode optar, estes sendo,
o Simples Nacional, Lucro Presumido e Lucro Real. Como o Lucro Presumido e Real são
regimes pensados para empresas maiores e de maior faturamento, trataremos do Simples
Nacional no caso do Negócio Social do Visão do Bem.

Embora o Negócio como MEI ou constituído como sociedade tenha o mesmo regime
tributário, existem algumas diferenças. Uma destas diferenças é a não isenção aos tributos
federais, como já explorado acima. Além disso, o valor devido do tributo seria calculado por
meio de uma alíquota aplicada ao faturamento da sociedade. Ainda, o Simples Nacional no
âmbito da Sociedade Limitada Unipessoal possui um limite máximo de faturamento de R$
4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) para ser adotado, e a alíquota devida será
modificada de acordo com o faturamento da sociedade e a sua atividade. Como o Negócio
Social Visão do Bem é um MEI, se infere que o faturamento anual é inferior a R$ 81.000,00
(oitenta e um mil reais), logo o limite não impediria com que o regime fosse adotado e faria
com que se aplicasse a alíquota a menor alíquota da atividade de comércio, que pode ser
visualizada abaixo:

Receita Bruta Total em 12 meses Alíquota


Até R$ 180.000,00 4%

De R$ 180.000,01 a R$ 360.000,00 7,3%

De R$ 360.000,01 a R$ 720.000,00 9,5%

De R$ 720.000,01 a R$ 1.800.000,00 10,7%

De R$ 1.800.000,01 a R$ 3.600.000,00 14,3%

De R$ 3.600.000,01 a R$ 4.800.000,00 19%

Não obstante, o Simples Nacional da Sociedade Limitada Unipessoal ainda é um dos


regimes tributários mais simples do sistema tributário. O pagamento ainda poderia ser
concluído por meio do DAS, podendo ser feito por quitação de uma única guia mensal como
no caso do MEI.
2. CONSTITUIÇÃO DO NEGÓCIO COMO FRANQUIA

Conforme já aduzido, a Visão do Bem tem objetivo de expansão e possui como foco
de atuação comunidades periféricas do país. Com o crescimento contínuo, torna-se mais
difícil, por meio de uma gestão centralizada, garantir que o negócio se mantenha com seus
contornos originais.

Nesse cenário, o modelo de franquia, aparece como uma alternativa para se garantir
uma expansão organizada, possibilitando a manutenção da credibilidade do negócio. O
modelo de negócios de franchising funciona basicamente através do oferecimento dos
direitos de licença de marca por uma empresa para que outros empresários possam vender
seus produtos ou serviços mediante pagamento de uma taxa (royalties), que pode ser fixa ou
descontada.

Todavia, o modelo nos seus contornos tradicionais oferece algumas desvantagens a


serem consideradas. Em primeiro lugar, há sempre o risco dos franqueados, diante da
dificuldade de monitoramento próximo do seu trabalho pela gestão central, acabarem
causando danos à marca. Além disso, há também uma preocupação na verificação do
adequado pagamento dos royalties. Por fim, e mais relevante, o negócio de franquias de
empresas tradicional apresenta muitas formalidades para sua constituição. Um exemplo claro
é a circular de oferta de franquia, que é documento que exige detalhamento muito preciso de
todas as condições gerais do negócio, principalmente em relação aos aspectos legais,
obrigações deveres e responsabilidades das partes, devendo ser muito criterioso, claro e
completo.

Sendo assim, diante desses aspectos, um modelo tradicional de franquia comercial


pode acabar sendo mais prejudicial do que benéfico a uma instituição do terceiro setor tal
como a Visão do Bem.

Nesse cenário, existe, contudo, um modelo de negócio em crescimento no país que


preserva alguns ideais da franquia tradicional e, no entanto, permite uma adaptação para
realidade do terceiro setor: a franquia social.
2.1. Definição de Franquia Social

A franquia social surgiu da necessidade de replicar projetos sociais e funciona em


rede, tendo como objetivo multiplicar o conhecimento de metodologias, técnicas,
conhecimentos e experiências. Entretanto, diferente da Franquia Comercial, a principal meta
a ser atingida não é o lucro, mas a expansão do benefício social.

Como se sabe, o Terceiro Setor possui algumas limitações que dificultam a expansão
de causas sociais e sua atuação a longo prazo, tais como a dificuldade na captação de
recursos, a escassez de profissionais interessados e até a falta de incentivos estatais. Desse
modo, por mais que o objetivo da franquia social não seja o lucro, ela deve, para se manter
sustentável, ser operação financeira superavitária.

2.2. Exemplos de Franquia Social no Brasil

Como exemplos de Franquias Sociais no Brasil, cabe trazer, primeiro, a Formare, que
foi uma das primeiras franquias sociais do Brasil. A Formare constitui programa de formação
profissional inovador que permite que empresas adotem os seus cursos de educação
profissional para jovens de baixa renda. Cada empresa parceira é responsável pela abertura do
processo seletivo e inscrição para os cursos. O curso, por sua vez, é formatado após visita à
empresa da equipe especializada da Formare, que identifica o perfil do negócio e estrutura
proposta pedagógica aliando competências de formação geral e técnica. Em resumo, os
próprios funcionários das empresas, atuando voluntariamente, prestam os cursos para alunos
de baixa renda por, em média, um ano. O índice de empregabilidade dos alunos do programa
é de cerca de 80% (segundo seu site https://formare.org.br/como-funciona/), o que demonstra
a efetividade do projeto. A Formare, no seu modelo de franquia social, adotou a utilização de
um contrato de franquia, que delimitou com minúcias os direitos e obrigações existentes entre
as partes.

Em segundo lugar, cabe trazer o exemplo da Franquia Social da Ong Banco de


Alimentos, que constitui organização atuante no combate de desperdício de alimentos e por
consequência na minimização da forme. O Banco de Alimentos busca os alimentos que
sobram de mercados e entregam onde faltam em instituições beneficentes. O Banco de
alimentos, diferentemente da Formare, não se utiliza do instrumento formal de contrato de
franquia, mas se utiliza do manual de franquia, que constitui guia onde constam as principais
informações referentes ao funcionamento do negócio. Por meio do manual de franquia, se
assegura a maior autonomia dos franqueados sem que haja descumprimento do padrão da
marca.

Os manuais da Ong Banco de Alimentos foram divididos em áreas de atuação, como


Técnico, Operações, Administração, Abrindo Portas e Divulgando e foram adaptados para a
construção de uma célula mínima de uma Ong Banco de Alimentos.

2.3. Sugestão para a Visão do Bem

A Formare, diferentemente da Visão do Bem, realiza contratos de franquia com


empresas de médio e grande porte, com estrutura e organização bem definidas. A Visão do
Bem, por outro lado, teria como franqueados as “Agentes da Visão”, que se constituem, em
sua maioria, pessoas físicas. Desse modo, um contrato detalhado e minucioso tal como um
contrato de franquia, no contexto do negócio da Visão do Bem aparece como um mecanismo
demasiado complexo e que pode até assustar as potenciais Agentes da Visão diante de
possível dificuldade na compreensão dos seus termos e tendo em mente como elas são, em
sua maior parte, profissionais que trabalharão na Visão do Bem sem jornada definida,
funcionando como complemento de renda apenas, um instrumento jurídico tal como um
contrato de franquia também parece inadequado.

Observando o Negócio Social da Visão do Bem tal como é hoje, já é possível perceber
algumas características comuns às franquias. Uma delas, que merece destaque, é a existência
de treinamento para as Agentes da Visão. O processo de treinamento permite o alinhamento
entre franqueadora e franqueados a respeito das necessidades da rede e contornos do negócio.

Olhando para o modelo de franquia social adotada pela ONG Banco de Alimentos, é
possível importar a utilização do manual de franquia para o Negócio da Visão do Bem. Como
sugestão, o Manual de Franquia da Visão do Bem poderia ser subdividido considerando as
seguintes áreas de atuação: Técnico, Operações e Divulgando.

Na parte técnica, seria explicado todo o negócio e história da instituição, em detalhes


e de preferência com algumas imagens. Na parte de operações, seria detalhado quais são as
competências das Agentes da Visão e, resumidamente, alguns pontos centrais de como
realizar as vendas que terão sido passados no treinamento. Nessa área, será importante
pontuar também quais condutas a franqueada não pode adotar, visando a manutenção da
marca e da estrutura do negócio. Por fim, na última Seção, “Divulgando”, poderão ser
apontadas algumas principais técnicas para captação de clientes, detalhando por exemplos,
como instruir as pessoas a utilizar o aplicativo que está em elaboração e será abordado
posteriormente nesse relatório.

Diante do exposto, depreende-se como, atualmente, para o desenvolvimento da Visão


do Bem, não parece interessante a obediência de todas as regras formais para constituição de
uma franquia comercial, sob pena de engessar demasiadamente o negócio. Todavia, diante de
uma possível e desejada expansão, é provável que cada vez as regras de franquias possam ser
interiorizadas visando garantir, cada vez mais, um crescimento padronizado, organizado e
com credibilidade da marca da Visão do bem.

3. CÓDIGO DE ÉTICA E DE CONDUTA

3.1. Minuta do Código de Ética e de Conduta

1. Disposições gerais

Artigo 1º – Este Código de Ética e Conduta formaliza as diretrizes que devem orientar as
decisões e ações de todos os Colaboradores da Visão do Bem, bem como das associações ou
quaisquer outras entidades ou pessoas físicas ou jurídicas com quem a Visão do Bem interaja
de forma esporádica ou habitual.

Artigo 2º – A formulação deste Código se deu com base nas missões, princípios e valores da
Visão do Bem e em conformidade com a legislação brasileira vigente, incluindo a Lei
Anticorrupção.

2. Missão e valores
Artigo 3º – A Visão do Bem é uma rede de mulheres empreendedoras sociais que tem como
missão criar acesso a exames de vista e correção visual, com óculos de qualidade e preço
acessível para pessoas em situação de vulnerabilidade social; mudando, assim, a vida dessas
mulheres empreendedoras e de suas comunidades.

Artigo 4º – Ficam estabelecidos como valores da Visão do Bem, devendo ser observados em
todas as relações de que participem suas Agentes, seus integrantes, terceiros ou quaisquer
outros Colaboradores na consecução de suas atividades voltadas à Visão Bem:
– Integridade: agir com honestidade, veracidade e de forma justa com todos, sem
que sejam violados regramentos internos da Visão do Bem ou qualquer legislação aplicável;
– Transparência: adotar práticas comerciais claras e transparentes, sem agendas
ocultas;
– Comprometimento: atuar com seriedade, empregando os melhores esforços para
que as missões da Visão do Bem sejam alcançadas.

3. Definições

Artigo 5º – Para os fins deste Código de Ética e Conduta, os termos a seguir definidos terão
os seguintes significados, no singular ou plural e independentemente de gênero:
I. "Agentes": as Agentes da Visão, que são as revendedoras dos produtos da Visão do
Bem;
II. "Código": o presente Código de Ética e Conduta da Visão do Bem;
III. "Colaboradores": todas as pessoas físicas e jurídicas que atuem junto à Visão do
Bem, incluindo as Agentes da Visão, os empregados e os terceiros parceiros;
IV. "Políticas": quaisquer políticas internas desenvolvidas pela Visão do Bem;
V. "Projeto": a Visão do Bem.

4. Conduta na venda dos produtos e compromisso com os clientes

Artigo 6º – É vedada a comercialização dos produtos em preços manifestamente


desproporcionais e incompatíveis com a tabela de valores elaborada pela Visão do Bem, sob
pena de desligamento. As Agentes não devem alterar o valor de venda dos produtos, a menos
que expressamente autorizadas a fazê-lo, por meio de negociação justa.
Artigo 7º - As Agentes não devem, sob qualquer hipótese, tirar proveito dos clientes por
meio de ocultação de informações e/ou declaração enganosa.

Artigo 8º - É vedado às Agentes a compra de produtos comercializados pela Visão do Bem


para fins fora do objeto social da Visão do Bem – incluindo a revenda em redes sociais, sites
e/ou lojas físicas –, sob pena de desligamento.

Artigo 9º - É vedado o condicionamento da venda de um produto a um acordo de


favorecimento pessoal com os clientes.

Artigo 10 - É expressamente proibido o condicionamento de venda de um produto à compra


de outro (“venda casada”).

Artigo 11 - Durante o atendimento, as Agentes devem agir com respeito e cordialidade,


garantindo uma relação duradoura e de confiança com os clientes.

Artigo 12 - As Agentes devem disponibilizar os canais oficiais da Visão do Bem para casos
de informações adicionais, elogios ou reclamações.

Artigo 13 - As Agentes devem esclarecer todas as dúvidas quanto à qualidade dos produtos,
oferencendo todo o suporte e orientação necessários aos clientes. Todavia, é vedado qualquer
tipo de aconselhamento médico. Em caso de questionamentos quanto ao manuseio dos óculos
e/ou diagnóstico oftalmológico, as Agentes devem orientar o cliente a buscar atendimento
médico adequado.

5. Responsabilidade nas redes sociais

Artigo 14 – A Visão do Bem é uma rede que prioriza a interação com o cliente. Nesse
sentido, o uso das redes sociais – tais como Instagram, Facebook, Twitter e TikTok –, são
permitidos para divulgação dos produtos e serviços, desde que o conteúdo divulgado seja
compatível com as missões e valores indicados neste Código.
Artigo 15 – É recomendado que as Agentes mantenham postura adequada nos conteúdos
online que envolvam o nome comercial da Visão do Bem, sendo vedado qualquer tipo de
comentário ofensivo, violento ou discriminatório.

Artigo 16 – O uso das redes é incentivado como forma de divulgação do caráter social da
Visão do Bem, porém não é permitido o compartilhamento de quaisquer informações
privilegiadas ou restritas, relacionados à Visão do Bem e aos seus Colaboradores.

6. Conduta nas relações profissionais

Artigo 17 - Todos os Colaboradores devem zelar pelo nome e reputação da Visão do Bem em
toda a sociedade. Desse modo, deve ser combatido o uso indevido da marca, trazendo ao
conhecimento da Visão do Bem qualquer informação de ato que coloque em risco a sua
reputação.

Artigo 18 - Todos os Colaboradores devem manter sigilo absoluto sobre informações


comerciais, financeiras, econômicas, jurídicas, organizacionais e publicitárias da Visão do
Bem, incluindo campanhas promocionais e estratégias comerciais, não fornecendo a
terceiros.

Artigo 19 - Todos os Colaboradores têm o dever de promover um ambiente de trabalho


estimulante e inclusivo, em que não haja qualquer diferenciação em função de características
pessoais de quem quer que seja.

Artigo 20 - É necessário que os Colaboradores informem à administração do Visão Do Bem


qualquer alteração de seus dados pessoais (endereço, grau de instrução, telefone, estado civil,
sobrenome e dependentes).

Artigo 21 – Todos os Colaboradores são proibidos de agir de forma discriminatória em


relação a qualquer pessoa em razão de raça, cor, crença religiosa, gênero, orientação sexual,
nível social, ideais políticos, características físicas e/ou questões ideológicas.

Artigo 22 – A integridade física e moral de todos os Colaboradores deve ser preservada. Não
será tolerada nenhuma forma de discriminação, assédio, hostilidade, abuso ou injustiça.
Artigo 23 – Não é permitido que os Colaboradores da Visão do Bem dêem e aceitem
presentes ou favores de clientes, fornecedores ou concorrentes.

7. Conflitos de interesses

Artigo 24 – As Agentes, integrantes da Visão do Bem, os terceiros que prestem qualquer tipo
de serviço à Visão do Bem, e todas as demais pessoas ou associações relacionadas ao Código
de Ética devem atuar de forma que seus interesses particulares não se sobreponham aos
interesses dos cliente e do caráter social da Visão do Bem.

8. Propriedade intelectual

Artigo 25 – A propriedade intelectual do Projeto, além de seu nome, logotipo e de sua marca,
inclui, dentre outros, o resultado do trabalho desenvolvido por seus Colaboradores e/ou
terceiros, e contempla relatórios gerenciais, planilhas e projetos, além de ativos intangíveis
como know-how, imagem e reputação, não se admitindo o uso indevido ou a distribuição não
autorizada da propriedade intelectual ou do conhecimento da Visão do Bem, o que pode gerar
consequências negativas, tanto para o Projeto quanto para as pessoas envolvidas, o que inclui
eventuais sanções e medidas judiciais.

Artigo 26 – Em caso de desligamento, todos os Colaboradores devem devolver quaisquer


uniformes, crachás, ferramentas de trabalho, flyers de divulgação, dentre outros itens, cedidos
pela Visão do Bem aos seus Colaboradores para sua atuação no âmbito do Projeto.

9. Conduta no relacionamento com clientes e com a sociedade

Artigo 27 – A Visão do Bem possui uma política de tolerância zero com práticas de
discriminação, preconceito ou assédio. Por esse motivo, não serão admitidas quaisquer
práticas, por Agentes, integrantes da Visão do Bem ou terceiros que prestem serviço à Visão
do Bem, que incentivem qualquer tipo de: (i) assédio moral, físico ou sexual; (ii) violência;
(iii) prática preconceituosa e/ou discriminatória em razão de idade, cor, gênero, religião,
orientação sexual, filiação política, etc.; e (iv) comportamento que coloquem em risco a saúde
e/ou segurança dos clientes e integrantes da Visão do Bem.
10. Cumprimento da legislação e relacionamento com os órgãos públicos

Artigo 28 – O Projeto e seus Colaboradores comprometem-se a cumprir rigorosamente os


requisitos legais, fiscais e trabalhistas estabelecidos pelos órgãos de direito, por meio do
cumprimento da legislação imposta e do pagamento das obrigações tributárias e trabalhistas e
agindo de acordo com os princípios da legislação específica. Não será admitido qualquer ato
de corrupção, suborno ou propina – isto é, Colaboradores e terceiros estão proibidos de
prometer, oferecer ou aceitar, de agente público ou privado, nacional ou estrangeiro, qualquer
vantagem indevida.

11. Canal de denúncias

Artigo 29 – Todos os Colaboradores da Visão do Bem devem denunciar atividades que


violem o presente Código ao canal de denúncias da Visão do Bem, através do e-mail
relacionamentovisaodobem@gmail.com. Todas as denúncias serão mantidas em absoluto
anonimato, e nenhum colaborador sofrerá qualquer retaliação por denunciar.

12. Sanções

Artigo 30 – Qualquer incidente relatado como uma violação deste Código será devidamente
investigado. Caso se constate que uma conduta proibida ocorreu, esta será sancionada de
acordo com as leis aplicáveis e com as Políticas internas da Visão do Bem. As medidas
disciplinares podem incluir:
– Advertência verbal ou escrita;
– Suspensão;
– Desligamento;
– Exclusão do Terceiro fornecedor ou parceiro.

13. Mudanças no Código

Artigo 31 – O Projeto se reserva ao direito de emendar, suspender ou alterar quaisquer


termos deste Código a qualquer tempo, sem aviso prévio. Contudo, o Projeto se esforçará
para notificar os Colaboradores sobre qualquer mudança no Código ou nas Políticas
relacionadas o mais cedo possível.
4. LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS

Considerando a entrada em vigor da Lei Geral de Proteção de Dados (Lei nº


13.709/2018) em 18 de setembro de 2020, é importante que a Visão do Bem esteja a par da
nova regulamentação envolvendo o tratamento de dados pessoais, principalmente por lidar
com dados sensíveis e, muitas vezes, de menores de idades.

A LGPD é a legislação brasileira destinada a regular as atividades de tratamento de


dados pessoais. Seus pilares são a proteção da liberdade e privacidade do usuário por meio do
princípio da autodeterminação. Em outras palavras, a legislação confere ao usuário o poder
de decidir sobre como serão coletados, armazenados e utilizados os seus dados pessoais.

De acordo com o artigo 5º da LGPD, dado pessoal é a informação relacionada à


pessoa natural identificada ou identificável, sendo alguns dados caracterizados como
sensíveis, os quais exigem mais atenção, como no caso dos dados referentes à saúde:

Art. 5º Para os fins desta Lei, considera-se:

I - dado pessoal: informação relacionada a pessoa natural identificada ou


identificável;

II - dado pessoal sensível: dado pessoal sobre origem racial ou étnica,


convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de
caráter religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida
sexual, dado genético ou biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural;

Por sua vez, o tratamento é definido como toda operação realizada com tais dados,
como por exemplo, a coleta e o armazenamento. De acordo com o inciso X, art. 5º:
"tratamento: toda operação realizada com dados pessoais, como as que se referem a coleta,
produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição,
processamento, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da
informação, modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração".
Em regra, a lei determinou que o tratamento de dados sensíveis deve ser realizado
mediante o consentimento do titular ou seu responsável legais nos seguintes termos:

Art. 11. O tratamento de dados pessoais sensíveis somente poderá ocorrer nas
seguintes hipóteses:

I - quando o titular ou seu responsável legal consentir, de forma específica e


destacada, para finalidades específicas;

Destaca-se, porém, que a legislação trouxe algumas hipóteses nas quais o tratamento
de dados pessoas, ainda que sensíveis, podem ser realizados sem o consentimento do titular
(art. 11º, II):

"II - sem fornecimento de consentimento do titular, nas hipóteses em que for


indispensável para:

a) cumprimento de obrigação legal ou regulatória pelo controlador;

b) tratamento compartilhado de dados necessários à execução, pela


administração pública, de políticas públicas previstas em leis ou
regulamentos;

c) realização de estudos por órgão de pesquisa, garantida, sempre que


possível, a anonimização dos dados pessoais sensíveis;

d) exercício regular de direitos, inclusive em contrato e em processo judicial,


administrativo e arbitral, este último nos termos da Lei nº 9.307, de 23 de
setembro de 1996 (Lei de Arbitragem) ;

e) proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiro;

f) tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por


profissionais de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária; ou
(Redação dada pela Lei nº 13.853, de 2019)

g) garantia da prevenção à fraude e à segurança do titular, nos processos de


identificação e autenticação de cadastro em sistemas eletrônicos, resguardados
os direitos mencionados no art. 9º desta Lei e exceto no caso de prevalecerem
direitos e liberdades fundamentais do titular que exijam a proteção dos dados
pessoais."
Dentre as exceções listadas, consideramos que as alíneas "b", "c", "e" e "f" são de
relevância ao Visão do Bem. Isto porque os dados sensíveis coletados pelo projeto podem ser
compartilhados com o fim de instruir políticas públicas na região de atuação da iniciativa,
bem como para a realização de relevantes estudos na área da saúde. Nesse último caso, a
legislação prevê que deverá ser garantida a anonimização do dado do usuário, de forma que o
titular do dado "não possa ser identificado, considerando a utilização de meios técnicos
razoáveis e disponíveis na ocasião de seu tratamento" (art. 5º, III).

Nas hipóteses descritas nas alíneas "e" e "f", a previsão é no sentido de que o
consentimento é dispensado quando o objetivo do tratamento dos dados for a tutela da saúde
do titular.

Ainda, há de se atentar para o fato de que, muitas vezes, a Visão do Bem lida com o
diagnóstico do público infantil, sendo necessário observar cuidados específicos no que tange
tais dados.

O artigo 14º da LGPD estabelece que o tratamento de dados pessoais de crianças e


adolescentes deve ser realizado em seu melhor interesse. O princípio do melhor interesse
decorre dos princípios da proteção integral e da prioridade absoluta, que estão listados no
artigo 4º do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e no artigo 227 da Constituição
Federal. Segundo esses princípios, é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar
todos os direitos da criança e do adolescente com absoluta prioridade.

No tratamento dos dados pessoais de crianças, a LGDP prevê a necessidade do


consentimento dos pais, havendo apenas a seguinte exceção:

Art. 14. O tratamento de dados pessoais de crianças e de adolescentes deverá


ser realizado em seu melhor interesse, nos termos deste artigo e da legislação
pertinente.
§ 1º O tratamento de dados pessoais de crianças deverá ser realizado com o
consentimento específico e em destaque dado por pelo menos um dos pais ou
pelo responsável legal.
§ 3º Poderão ser coletados dados pessoais de crianças sem o consentimento a
que se refere o § 1º deste artigo quando a coleta for necessária para
contatar os pais ou o responsável legal, utilizados uma única vez e sem
armazenamento, ou para sua proteção, e em nenhum caso poderão ser
repassados a terceiro sem o consentimento de que trata o § 1º deste artigo.

Dessa forma - em que pese as exceções previstas -, consideramos estar no melhor


interesse da Visão do Bem obter dos titulares dos dados coletados o consentimento por escrito
para o tratamento. Dessa forma, o projeto estará se resguardando de possíveis conflitos
futuros. O art. 8º da LGPD fornece algumas diretrizes a serem seguidas quando da
formalização do consentimento informado:

Art. 8º O consentimento previsto no inciso I do art. 7º desta Lei deverá ser


fornecido por escrito ou por outro meio que demonstre a manifestação de
vontade do titular.

§ 1º Caso o consentimento seja fornecido por escrito, esse deverá constar de


cláusula destacada das demais cláusulas contratuais.

§ 2º Cabe ao controlador o ônus da prova de que o consentimento foi


obtido em conformidade com o disposto nesta Lei.

§ 3º É vedado o tratamento de dados pessoais mediante vício de


consentimento.

§ 4º O consentimento deverá referir-se a finalidades determinadas, e as


autorizações genéricas para o tratamento de dados pessoais serão nulas.

§ 5º O consentimento pode ser revogado a qualquer momento mediante


manifestação expressa do titular, por procedimento gratuito e facilitado,
ratificados os tratamentos realizados sob amparo do consentimento
anteriormente manifestado enquanto não houver requerimento de eliminação,
nos termos do inciso VI do caput do art. 18 desta Lei.

§ 6º Em caso de alteração de informação referida nos incisos I, II, III ou V do


art. 9º desta Lei, o controlador deverá informar ao titular, com destaque de
forma específica do teor das alterações, podendo o titular, nos casos em que o
seu consentimento é exigido, revogá-lo caso discorde da alteração.

A observância de tais regras é de extrema importância posto que tanto o


consentimento do titular, quanto o consentimento do responsável da criança, podem não ser
efetivos.
Tome como exemplo os termos e condições de uso de aplicativos, que geralmente são
apresentados em textos longos com a opção de “aceito” ou “não aceito”. Na maioria das
vezes, o usuário não lê efetivamente o que está sendo apresentado e apenas clica na opção
que demonstra aceitação. Não há, portanto, como garantir se o titular dos dados ou o
responsável pelo titular realmente está concordando com esses termos. Dessa forma, a
redação do termo de consentimento deve ser o mais clara possível e, ao mesmo tempo,
concisa.

Além do problema referente ao consentimento, existe o risco de vazamento dos dados


pessoais armazenados pela Visão do bem. Nesse contexto, é importante que as partes possam
resolver questões eventuais como essa da maneira mais eficiente possível, evitando-se ao
máximo o ajuizamento de uma ação judicial.

Em média, o judiciário brasileiro leva quatro anos e quatro meses para fornecer uma
resposta através de uma sentença de 1ª instância. O estudo do Conselho Nacional de Justiça
desenvolveu um relatório intitulado Justiça em Números1 que analisou o tempo médio de
tramitação dos processos em 1ª instância em todo o Brasil. Dos tribunais de justiça de grande
porte o TJRJ pode ser considerado o mais eficiente, com tempo médio de 1 anos e 9 meses
para julgar um caso2.

Para os leigos os números podem não parecer tão alarmantes, pois ignoraram a
existência de um segundo grau de jurisdição para onde grande parcela dos processos é
encaminhado após o transcorrer do aludido período de tempo. A fase recursal é a
oportunidade que o indivíduo tem de ter a sentença proferida revista por um grau superior de
jurisdição, contudo, os recursos são muitas vezes percebidos como mecanismos para prolatar
o processo.

1
Disponível em:
https://exame.abril.com.br/brasil/quanto-tempo-a-justica-do-brasil-leva-para-julgar-um-processo/. Último acesso
em: 28/11/2021
2
Dados referentes ao ano de 2016
Considerando, ainda, que o resultado obtido através do judiciário pode ser
insatisfatório para ambas as partes, as resoluções consensuais de conflito se traduzem em
métodos mais céleres e satisfatórios para os envolvidos.

O artigo 52, § 7º da LGPD prevê que os vazamentos de dados podem ser objeto de
conciliação direta entre controlador e titular. Entende-se que nesse caso, o sentido de
conciliação abrange os demais métodos alternativos de resolução de conflitos, bem como se
aplica a outros conflitos referentes ao tratamento de dados. Assim, inicialmente,
recomenda-se que haja uma tentativa de negociação direta entre as partes a fim de se chegar a
um consenso.

Na hipótese de a negociação não resultar em uma solução consensual para o


problema, sugere-se que as partes se utilizem da conciliação. Analisamos que para a Visão do
Bem, a conciliação se apresenta como um método mais adequado do que a mediação, pois o
conflito será pontual entre partes que não têm um vínculo anterior, permitindo que um
conciliador intervenha e sugira uma solução, à luz do artigo 165, §§ 2º e 3o, do NCPC.
Propõe-se então a utilização da seguinte cláusula de conciliação na política de privacidade da
empresa:

“Eventuais dúvidas ou controvérsias decorrentes da interpretação ou execução da


presente declaração serão dirimidas por meio de conciliação, realizada por
conciliador judicial no Tribunal de Justiça da Cidade do Rio de Janeiro.”

Por fim, recomenda-se que a Visão do Bem mantenha uma base de dados de fácil
acesso com as informações de seus pacientes. Nos termos do art. 9 da LGPD "O titular tem
direito ao acesso facilitado às informações sobre o tratamento de seus dados, que deverão ser
disponibilizadas de forma clara, adequada e ostensiva acerca de, entre outras características
previstas em regulamentação para o atendimento do princípio do livre acesso".

Anexo I

TERMO DE CONSENTIMENTO PARA TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS


Através do presente instrumento, eu________________________________, inscrito (a) no
CPF sob n°____________, aqui denominado (a) como TITULAR, venho por meio deste,
autorizar que a empresa VISÃO DO BEM, aqui denominada como CONTROLADORA,
inscrita no CNPJ sob n° __________- ____, em razão do serviço prestado, disponha dos
meus dados pessoais e dados pessoais sensíveis, de acordo com os artigos 7° e 11 da Lei n°
13.709/2018, conforme disposto neste termo:

CLÁUSULA PRIMEIRA

Dados Pessoais

O Titular autoriza a Controladora a realizar o tratamento, ou seja, a utilizar os seguintes dados


pessoais, para os fins que serão relacionados na cláusula segunda:

– Nome completo

– Data de nascimento;

– Número e imagem da Carteira de Identidade (RG);

– Número e imagem do Cadastro de Pessoas Físicas (CPF);

– Endereço completo;

– Números de telefone, WhatsApp e endereços de e-mail;

– Exames e atestados médicos, incluindo os coletados pelas colaboradoras da Visão


do Bem no momento do diagnóstico inicial do paciente;

CLÁUSULA SEGUNDA

Finalidade do Tratamento dos Dados

O Titular autoriza que a Controladora utilize os dados pessoais e dados pessoais sensíveis
listados neste termo para as seguintes finalidades:

– Permitir que a Controladora identifique e entre em contato com o titular durante a


prestação do serviço e, posteriormente, por motivos de acompanhamento;
– Para cumprimento, pela Controladora, de obrigações impostas por órgãos de
fiscalização;

– A pedido do titular dos dados;

– Para o exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral;

– Para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiros;

– Para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais


de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária;

– Quando necessário para atender aos interesses legítimos do controlador ou de


terceiros, exceto no caso de prevalecer em direitos e liberdades fundamentais do
titular que exijam a proteção dos dados pessoais;

Parágrafo Primeiro: Caso seja necessário o compartilhamento de dados com terceiros que não
tenham sido relacionados nesse termo ou qualquer alteração contratual posterior, será
ajustado novo termo de consentimento para este fim (§ 6° do artigo 8° e § 2° do artigo 9° da
Lei n° 13.709/2018).
Parágrafo Segundo: Em caso de alteração na finalidade, que esteja em desacordo com o
consentimento original, a Controladora deverá comunicar o Titular, que poderá revogar o
consentimento, conforme previsto na cláusula sexta.

CLÁUSULA TERCEIRA

Compartilhamento de Dados

A Controladora fica autorizada a compartilhar os dados pessoais do Titular com outros


agentes de tratamento de dados, caso seja necessário para as finalidades listadas neste
instrumento, desde que, sejam respeitados os princípios da boa-fé, finalidade, adequação,
necessidade, livre acesso, qualidade dos dados, transparência, segurança, prevenção, não
discriminação e responsabilização e prestação de contas.

CLÁUSULA QUARTA

Responsabilidade pela Segurança dos Dados


A Controladora se responsabiliza por manter medidas de segurança, técnicas e
administrativas suficientes a proteger os dados pessoais do Titular e à Autoridade Nacional de
Proteção de Dados (ANPD), comunicando ao Titular, caso ocorra algum incidente de
segurança que possa acarretar risco ou dano relevante, conforme artigo 48 da Lei n°
13.709/2020.

CLÁUSULA QUINTA

Término do Tratamento dos Dados

À Controladora, é permitido manter e utilizar os dados pessoais do Titular até seis meses após
a finalização do tratamento. Após esse período, os dados serão anonimizados e armazenados
por cinco anos para fins de registro.

CLÁUSULA SEXTA

Direito de Revogação do Consentimento

O Titular poderá revogar seu consentimento, a qualquer tempo, por e-mail ou por carta
escrita, conforme o artigo 8°, § 5°, da Lei n° 13.709/2020.

O Titular fica ciente de que a Controladora poderá permanecer utilizando os dados para as
seguintes finalidades:

– Para cumprimento, pela Controladora, de obrigações impostas por órgãos de


fiscalização;

– Para o exercício regular de direitos em processo judicial, administrativo ou arbitral;

– Para a proteção da vida ou da incolumidade física do titular ou de terceiros;

– Para a tutela da saúde, exclusivamente, em procedimento realizado por profissionais


de saúde, serviços de saúde ou autoridade sanitária;

– Quando necessário para atender aos interesses legítimos do controlador ou de


terceiros, exceto no caso de prevalecerem direitos e liberdades fundamentais do titular
que exijam a proteção dos dados pessoais.

CLÁUSULA SÉTIMA
Vazamento de Dados ou Acessos Não Autorizados – Penalidades

As partes poderão entrar em acordo, quanto aos eventuais danos causados, caso exista o
vazamento de dados pessoais ou acessos não autorizados, e caso não haja acordo, a
Controladora tem ciência que estará sujeita às penalidades previstas no artigo 52 da Lei n°
13.709/2018.

Cidade, dia, mês e ano

Assinatura:

________________________________________

Nome do Paciente (Titular)

______________________________________________

Visão do Bem (Controlador)

5. APLICATIVO VISÃO DO BEM

A criação de um aplicativo que concentre os serviços e conteúdos contidos no portfólio de


valores da Visão do Bem está alinhada à missão da empresa, por meio da promoção da
inclusão e do desenvolvimento social no contexto da digitalização. Hoje, o mercado de
aplicativos móveis protagoniza dentre os setores com maior crescimento. Segundo relatório
da State Mobile 2020, da App Anine, o download de aplicativos aumentou em 40% no Brasil,
entre os anos de 2016 e 2019.

Com isso em mente, apresenta-se um escopo com viés prático acerca da construção,
desenvolvimento e implementação de um aplicativo que leve o propósito da Visão do Bem
também para o mundo digital, trazendo eficiência e escalabilidade.

5.1. Objetivos

O aplicativo deve ser pensado como um solucionador de problemas. Para isso, é preciso
enxergar com clareza no que esse aplicativo consistirá: o que o usuário da Visão do Bem
estará buscando e encontrando ao fazer o download do app.
De acordo com a proposta de valores da Visão do Bem, podemos imaginar que este aplicativo
apresentará o potencial para ser (i) uma plataforma de produção de conteúdo e divulgação de
informações acerca da saúde visual; (ii) uma plataforma criada em parceria com médicos
associados à Visão do Bem, em contato mediado pelo aplicativo, que entrariam em contato
com os pacientes; (iii) uma plataforma de encaminhamento para exames e consultas; (iv) um
canal de vendas, que disponibilizaria no portfólio da Visão do Bem os exemplares de óculos
de qualidade e preço justo, associado à educação para o consumo destes produtos.

Dentro dessa miríade de possibilidades, a Visão do Bem deve avaliar competitivamente os


seus concorrentes – óticas ou sociedades empresárias que desenvolvam atividades
semelhantes às suas, a fim de esboçar uma solução para o aplicativo que proporcione o maior
destaque das demais.

5.2. Público-alvo

Essa etapa parece já estar consolidada considerando a proposta de valores e missão da Visão
do Bem. A importância do público-alvo se traduz pela capacidade da empresa em gerar
identificação, que gerará aderência e engajamento quanto aos serviços ofertados, conteúdos
produzidos e produtos comercializados na plataforma.

Como já se sabe, o público-alvo da Visão do Bem são as “Agentes da Visão”, que serão
beneficiadas pelas funcionalidades do aplicativo, sobre a qual discorreremos em breve, além
dos próprios usuários consumidores de informação, serviços e produtos relacionados à saúde
visual. O aplicativo, portanto, deve ser criado proporcionando democratização não só no
produto, mas também na sua acessibilidade, levando em consideração a escolaridade dos
usuários, a sua faixa etária, bem como outros fatores, como renda e localidade. Todos esses
fatores podem influenciar na usabilidade da plataforma digital, podendo promover mais
inclusão ou, até mesmo, exclusão, caso o público-alvo não esteja claramente definido na
estrutura do aplicativo.

5.3. Escolha da Plataforma


A plataforma de desenvolvimento do aplicativo é uma das primeiras decisões a serem
tomadas. Para isso é importante avaliar os riscos inerentes a cada uma das alternativas
possíveis: em sendo o desenvolvimento somente para (i) iOS; somente para (ii) Android; ou,
se tratar-se de (iii) aplicativo híbrido.

5.3.1. Vantagens do iOS

O iOS apresenta desenvolvimento mais rápido do que o Android, com uma estimativa de
cerca de 30-40% maior de tempo3. Além disso, a Apple Store (que abriga os aplicativos
desenvolvidos no software IOS) apresenta expectativas de qualidade mais rígidas,
apresentando padrões elevados de usabilidade. Outro fator é que a Apple é considerada como
um ambiente digital mais seguro do que o Android, considerando o seu sistema fechado.

5.3.2. Vantagens do Android

Uma das vantagens do aplicativo desenvolvido no software Android é a sua generatividade.


Em outras palavras, o software permite maior flexibilidade na implementação de recursos,
abrindo maior margem para personalizações e soluções mais exclusivas.

5.3.3. Aplicativo híbrido

O aplicativo híbrido consiste na utilização do mesmo código-fonte desenvolvido para o


aplicativo no iOS e também no Android. Esta modalidade otimiza a produtividade no
desenvolvimento do aplicativo, atendendo as necessidades envolvidas em sua totalidade.

5.3.4. Qual software escolher?

3
Disponível em:
https://infinum.com/the-capsized-eight/android-development-is-30-percent-more-expensive-t
han-ios
A decisão acerca de qual plataforma escolher deve levar em consideração os fatores de
identificação abordados acima, melhor revelados com uma boa pesquisa de mercado e
com a definição do público-alvo, a quem se destinará o aplicativo. Além desses quesitos,
a viabilidade financeira também deve ser estudada. Considerando que a Visão do Bem
está constituída enquanto MEI, cujo faturamento é limitado, como já avaliado no início
deste, parecer, a elaboração de um produto mínimo viável pode ser uma alternativa a ser
considerada. Na prática, isso consistiria na criação de um aplicativo de forma rápida e
barata, recomendando-se o iOS, a fim de gerar maior aderência e massa de usuários ativos
para a Visão do Bem. Da mesma forma, o iOS também é altamente recomendado para
aplicativos que abrigarão transações financeiras ou operações de compra e venda, como
parece ser o caso da Visão do Bem, ao disponibilizar serviços e produtos no aplicativo.

5.4. Custos associados ao desenvolvimento

O custo para a elaboração de um aplicativo dependerá da totalidade do projeto orçado. O


mais recomendado é recorrer a um(a) desenvolvedor(a) de aplicativos, ou a um(a)
programador(a), apresentando as necessidades reais da Visão do Bem.

No entanto, apesar de não ser possível fixar, de antemão, uma faixa de preços associada ao
custo do projeto, é possível fornecermos neste parecer alguns fatores que influenciarão no
preço do desenvolvimento do app. São eles:

● Idéia. A ideia deve ser exposta para especialistas técnicos da empresa. Com esse

briefing, o primeiro esboço do aplicativo será desenvolvido e apresentado ao cliente.

● Lista de recursos. É importante discutir alguns recursos vitais que precisam ser

implementados. Também é bom ter a descrição de todos os recursos e funcionalidades

disponibilizadas (por exemplo, um mapa com pinos indicando a localização das

“Agentes da Visão” mais próximas do usuário; pontos de venda da Visão do Bem;

recursos interativos nos posts informativos, etc.)

● Exemplos de aplicativos ou sites dos concorrentes. As instâncias ajudam você a

mostrar aos desenvolvedores quais funções você adora e não gosta.


● Design. Como fator de custo, o design está relacionado à experiência do usuário na

utilização do aplicativo. Isso envolve a elaboração de recursos visuais que atraiam a

atenção dos usuários, mas que também esteja de acordo com a identidade, proposta de

valores e missão da Visão do Bem.

5. 5. Monetização do aplicativo

Finalmente, neste capítulo, abordaremos algumas possibilidades de geração de renda por

meio do aplicativo da Visão do Bem. Existem inúmeras formas de monetização vigentes no

mercado digital. Selecionamos, porém, aquelas que entendemos estar mais próximas da

realidade prática da Visão do Bem.

5.5.1. Comissões por meio da Economia Compartilhada

A economia compartilhada acontece através da criação de alternativas que visam apresentar

um novo modo de consumo, baseado na diminuição dos custos e sustentabilidade. A ideia é

que os consumidores dividam o uso de bens e serviços que acessam. Nesse modelo, a

experiência é o objetivo e não a exclusividade. A economia compartilhada funcione se baseia

em três pilares principais:

● Modelo de negócios baseado na promoção de acesso à bens subutilizados

● Consumidores beneficiados pelo acesso a bens e serviços

● Negócio construído tendo como base marketplaces.


Com diferentes segmentos e propostas, diversas empresas startups investiram no modelo de

economia compartilhada como base da ideia do negócio. No caso, o aplicativo poderia ser

monetizado de acordo com os pilares da Economia Compartilhada, oferecendo produtos e

serviços mediante comissões, além de integrar digitalmente as “Agentes da Visão”,

responsáveis pela revenda dos óculos de grau. Como já exposto acima, há uma ampla gama

de possibilidades que podem ser implementadas no aplicativo a fim de gerar recursos para a

sociedade empresária, desde a criação de conteúdos informativos que eduquem para o

consumo na própria plataforma, ao desenvolvimento de parcerias com médicos e especialistas

selecionados.

5.5.2 Anúncios com banner

Outra possibilidade de geração de renda é permitir anúncios de outras empresas dentro do

aplicativo da Visão do Bem. Com apenas um toque, os usuários estariam incrementando a

renda final da Visão do Bem. Além disso, ela consiste em uma modalidade de criação de

renda win-win (ganha-ganha), em que a Visão do Bem pode se beneficiar financeiramente

(com a obtenção de recursos) e educacionalmente (contratando anúncios com empresas que

estejam alinhadas à proposta de valor e missão da Visão do Bem), num sistema de educação e

consumo que se retroalimenta, e em que as empresas contratantes podem divulgar os seus

serviços ou produtos a um público-alvo interessante ao seu negócio.

5.5.3. Modelos de assinatura


O modelo de monetização por assinatura consiste no pagamento de uma taxa fixa, mensal,

trimestral ou anual, com vistas a possibilitar acesso a um determinado conteúdo. A Netflix

popularizou este modelo de geração de renda no mercado de streaming, permitindo o acesso

ao conteúdo disponibilizado no seu portfólio de filmes mediante pagamento mensal. Ao

contrário dos dois modelos sugeridos acima, a monetização por modelos de assinatura ainda

precisaria ser validado e estaria sujeito à maturação da Visão do Bem enquanto empresa,

tendo em vista que a vinculação a um pagamento mensal para o acesso ao conteúdo

disponibilizado no aplicativo exigiria a construção de confiabilidade no serviço ou produto

oferecido por parte dos usuários. Além disso, modelos de precificação devem ser elaborados

a fim de encontrar um valor que proporcionasse renda suficiente à Visão do Bem, mas que

não fosse excludente com as moradoras de comunidade e mulheres desempregadas que fazem

parte do público-alvo da empresa. Uma alternativa possível seria a cobrança dessa taxa no

modelo de negócio que envolveria médicos parceiros, mediante a garantia do acesso aos

usuários que estariam cadastrados no aplicativo, ou mesmo aos fornecedores, que pagariam a

taxa para ter acesso aos consumidores finais dos óculos de grau, ofertados por um valor

abaixo ao preço de mercado.

5.6. Conclusão

Neste capítulo, esboçamos os passos preliminares e fatores de risco inerentes à construção de


um aplicativo. Além dos requisitos de identificação, consistentes no desenvolvimento de um
aplicativo que maximize os valores de inclusão e acessibilidade dos usuários, assistidos e
consumidores da Visão do Bem, há de serem levadas em consideração questões financeiras,
como os custos do projeto, funcionalidades, além da monetização interna, fundamental para a
sobrevivência monetária da Visão do Bem. Para fins de solução de conflito, ainda, o
aplicativo poderá conter dentro de suas funcionalidades canais diretos para reclamação,
sistemas de ouvidoria, ou mesmo contatos de suporte com agentes da Visão do Bem. Se todos
esses fatores forem observados universalmente, o aplicativo será instrumento digital da
mudança daqueles que sofrem com a marginalização e descaso com a saúde visual.
6. Ouvidoria

6.1. A ouvidoria como instituição

A ouvidoria pode ser vista como um instrumento de participação das pessoas, seja em
uma instituição pública, seja em uma empresa privada. A intensificação do surgimento e da
atuação das ouvidorias ocorreu no contexto da redemocratização brasileira, após a
Constituição Federal de 1988.

Essa “popularização” da ouvidoria afetou não só o setor público, mas também o setor
privado, fazendo com que maior atenção fosse dada a sua constituição e operação nesse
âmbito. Não apenas grandes empresas e sociedades passaram a melhorar as suas ouvidorias
para resolver problemas e ouvir os consumidores para melhor entendê-los e atendê-los; mas
empresas de médio e pequeno porte, além de empreendimentos sociais, associações e outras
instâncias do setor privado, também construíram esse espaço de diálogo mais direto entre as
pessoas e elas.

6.2. A ouvidoria como mecanismo de prevenção e resolução de conflitos

Mais que tudo, as ouvidorias podem servir como uma verdadeira ferramenta para
prevenir o surgimento de conflitos grandes dentro da organização. Isso porque, quando um
cidadão ou um consumidor faz uma reclamação perante a ouvidoria, demonstrando sua
insatisfação com determinada conduta ou serviço, há um potencial de que esta evolua para
um embate de interesses. Com a atuação da ouvidoria, no entanto, essa reclamação ou
informação será identificada em um estágio inicial, podendo ser resolvida na própria
ouvidoria, ou encaminhada para outro setor do órgão ou da empresa. A partir do devido
tratamento da demanda, a evolução para um conflito é impedida ou dificultada.

Para o caso da Visão do Bem, a ouvidoria poderá servir, além de outros objetivos, para
identificar e tratar a insatisfação de uma cliente e impedir que a reclamação escale e
transforme-se em um conflito entre o negócio social e a consumidora, o que, aliás, pode ser
prejudicial a ambas, tanto por conta dos custos, quanto por causa dos desgastes que surgem a
partir de tal conflito.

6.3. A instalação da ouvidoria


Além de prevenir e remediar a existência de conflitos, as ouvidorias também possuem
uma espécie de função pedagógica e didática. Isso porque elas podem eventualmente fornecer
informações desconhecidas, “ensinando” algo sobre a Visão do Bem à pessoa com quem o
diálogo é travado.

Nesse contexto, a ouvidoria pode tanto informar as funcionárias e agentes do Bem que
recorrem a ela sobre determinado ponto do termo de conduta, nem que seja para lembrá-las
de tal; quanto explicar às clientes e às consumidoras sobre o funcionamento da Visão do
Bem, sobre os direitos que elas possuem em face do negócio social, sobre algum ponto dos
termos de uso do aplicativo, sobre como a informação ou a sugestão que estão pedindo ou
prestando serão tratadas e etc. Em algum sentido, esse tipo de atuação já ocorre no cotidiano,
em conversas simples. Portanto, essa função didática seria exercida pela ouvidoria no
contexto em que a conversa foge do cotidiano e passa a ter um tom mais sério, pois está
passando por um canal exclusivo para isso.

A ouvidoria poderá ser instalada com dois canais: um canal interno e outro canal
externo. A existência de dois canais não significa que serão necessários custos adicionais, ou
seja, não será preciso, para cada canal, uma pessoa ou estrutura. A operação da ouvidoria,
como um todo, pode ser unificado em uma só pessoa e em um só lugar. Os dois canais são
necessários, nesse caso, pois as destinatárias, as pessoas a serem ouvidas, serão distintas;
assim, o tratamento da informação, da reclamação ou da sugestão também poderá ter um
cunho diferente.

6.4. A ouvidoria interna e suas especificidades

A necessidade de uma ouvidoria interna surge a partir da existência de assuntos,


problemas e reclamações das trabalhadoras voluntárias (pessoal de marketing, pessoal de
programação e etc.) e das agentes. Esse diálogo entre elas e a Visão do Bem, quando há de
ser realizado em um canal mais formal e fora do cotidiano, deverá ser feito por meio da
ouvidoria, a qual servirá para ouvir as satisfações e insatisfações e tratá-las de maneira
sistemática, além de possivelmente prevenir um conflito que poderia surgir.

6.5. A ouvidoria externa e suas especificidades

A necessidade de uma ouvidoria externa, de outra maneira, surge com as opiniões,


reclamações ou denúncias das clientes que usufruem dos serviços providos pela Visão do
Bem e com o feedback das pessoas que participam das rodas de conversas e dos eventos
realizados sobre visão e empreendedorismo social.

Um canal externo é um meio de disponibilizar e promover uma interlocução entre a


Visão do Bem e suas clientes e de participantes de eventos. Essa interlocução poderá servir,
novamente, como uma maneira de escutar o que as pessoas sentem sobre a Visão do Bem,
lidas com essas impressões e, possivelmente, impedir o surgimento de conflitos. A escuta de
pessoas de fora do empreendimento social é importante na medida em que parte do seu
objetivo é atender às demandas sociais por determinado serviço. Ainda nesse contexto, ao
ouvir e promover um melhor serviço de acordo com os anseios e demandas da população, um
componente da cidadania das pessoas também poderá ser satisfeito, pois estarão ativamente
auxiliando o negócio para que ele se transforme.

6.6. Os custos para a instalação da ouvidoria

É interessante ressaltar que os custos para instalar e operar uma ouvidoria em um


empreendedorismo social são pequenos. Isso porque o gasto monetário para fazer um
formulário de ouvidoria, ou para atender pessoas fisicamente, pelo telefone celular pessoal,
ou através de uma linha telefônica já existente, são, em si, custos pequenos. O único gasto
adicional existente seria aquele destinado a colocar e manter uma nova linha telefônica
exclusiva para o atendimento feito pela ouvidoria.

Ainda, como o cargo de ouvidora poderia ser assumido por uma das pessoas que já
trabalham voluntariamente para a Visão do Bem, não havendo, neste caso, gasto para
contratação e manutenção de mão-de-obra para a ouvidoria. Mesmo que uma nova pessoa
seja admitida para o cargo de ouvidora, se o trabalho continuar a ser voluntário, o custo ainda
assim não irá existir.

6.7. As qualificações para atuação na ouvidoria e possíveis cursos de


ouvidoria

Para o estabelecimento da ouvidoria, em ambos os casos (interna e externa), não se


faz necessária a contratação de pessoas profissionais formadas em uma determinada área.
Mesmo com isso em mente, alguma qualificação sobre o assunto é recomendada. A pessoa
que for atuar como ouvidoria da Visão do Bem poderá buscar alguns cursos para fazer sua
função, como:
- Associação Brasileira de Educação Online - Curso de Ouvidoria na
Administração Pública:
https://www.cursosabeline.com.br/curso/gratis/ouvidoria-na-administracao-publica;
- Escola Nacional de Administração Pública - Curso de Gestão em Ouvidoria:
https://www.escolavirtual.gov.br/curso/119;
- Escola Nacional de Administração Pública - Curso de Resolução de Conflitos
Aplicada ao Contexto das Ouvidorias: https://www.escolavirtual.gov.br/curso/120;
- OEI - Pós-Graduação em Ouvidoria Pública:
https://www.oei.org.br/pos-ouvidoria/;
- Portal Educação - Curso Online de Ouvidoria:
https://www.portaleducacao.com.br/curso-online-vendas-ouvidoria/p;
- OMD Soluções - Curso Online de Capacitação e Certificação em Ouvidoria:
https://ead.omd.com.br/produto/curso-de-capacitacao-e-certificacao-em-ouvidoria-ana
tel/.

Ademais, é positivo que as ouvidoras já tenham algumas características no seu modo


de trabalho, sendo elas, dentre outras: (i) abertura para diálogo e escuta; (ii) postura proativa
para a identificação de questões e pontos; (iii) conhecimento do funcionamento e das regras
da Visão do Bem; e (iv) didática e linguagem clara ao responder e fornecer informações.
Aliás, também é útil que a pessoa possua alguma experiência prévia com o tratamento de
pessoas ou na própria área de ouvidoria.

6.8. Observações sobre a ouvidoria em face da LGPD

A atuação das ouvidorias envolverá, inevitavelmente, o tratamento de dados pessoais


fornecidos à Visão do Bem, sendo elas consideradas operadoras de dados (art. 5º, VII,
LGPD)4. Sendo assim, a atuação da ouvidoria nesse sentido deverá obedecer a algumas
determinações da Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Antes de tudo, no entanto,
deve-se ressaltar que a ouvidoria deverá coletar apenas os dados essenciais para que o
tratamento ocorra.

Primeiramente, será necessário obter o consentimento do titular dos dados para que
possa haver seu tratamento. Isso poderá ser feito por meio de uma caixa no formulário (Para
acessar um modelo de formulário, siga o link: https://forms.gle/bU4ZFeZWsi1UtEGC8) em
que a pessoa concorda expressamente em ter seus dados tratados pela ouvidoria.
4
BRASIL, 2018.
Além disso, também deverá constar a possibilidade de o titular dos dados retirar seu
consentimento, caso em que a ouvidoria não poderá realizar tratamentos posteriores dos
dados em questão, sendo válidos os tratamentos já feitos a não ser que haja um pedido de
eliminação deles.

A ouvidoria, adicionalmente, deverá esclarecer ao titular dos dados como eles serão
processados, quais direitos o titular possui dentro desse processo, a finalidade específica do
tratamento dos dados, a identidade e as informações de contato da Visão do Bem e as
responsabilidades das ouvidoras. Ademais. a atuação das ouvidorias deverá seguir
determinados princípios, como a qualidade dos dados, a transparência e a segurança, a
não-discriminação, dentre outros.

No tratamento de dados pessoais, ainda, a ouvidoria poderá enfrentar alguns deles que
possuem a qualidade de “sensíveis”, sendo eles dados que versam “sobre origem racial ou
étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter
religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural” (art. 5º, II, LGPD)5. Dentro desse
contexto, quando esse tipo de informação for imprescindível para a atuação da ouvidoria,
deverá constar no formulário uma caixa sobre o consentimento específico e destacado do
titular para que o tratamento do dado sensível possa ser realizado com uma finalidade
específica.

Enquanto a ouvidoria realiza seu trabalho, ela também poderá encontrar a necessidade
de lidar com dados anonimizados, sendo eles caracterizados como aqueles relativos “a titular
que não possa ser identificado, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e
disponíveis na ocasião de seu tratamento” (art. 5º, III, LGPD)6. Esse processo de tratamento
deverá, assim, garantir o sigilo dos dados do titular em questão, de forma a promover a
máxima segurança das informações de identificação do titular contra acessos não autorizados
e outras situações.

Por fim, atenta-se para o fato de que a pessoa atribuída ao cargo de ouvidora não
necessariamente será qualificada como encarregada de dados pela LGPD (sendo esta
caracterizada como a “pessoa indicada pelo controlador e operador para atuar como canal
de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de

5
BRASIL, 2018.
6
BRASIL, 2018.
Proteção de Dados (ANPD)” (art. 5º, VIII, LGPD)7). Sem prejuízo disso, ela poderá reunir
tanto a função de ouvidora quanto de encarregada. Caso assim ocorra, as informações sobre
quem exerce esse papel deverão ser fornecidas ao público, possivelmente no sítio eletrônico
(site) da Visão do Bem. Além disso, a encarregada deverá lidar com reclamações e
comunicações dos titulares de dados acerca do tratamento, observar as comunicações da
autoridade nacional e agir de acordo com elas, instruir as trabalhadoras voluntárias e as
agentes do Bem sobre como lidar com os dados dentro das atuações próprias delas, dentre
outras atribuições específicas que podem ser adotadas.

7. Sede

7.1. A escolha pela realização da locação

Em razão da menção sobre uma negociação do usufruto de um espaço com uma


proprietária de um imóvel, acredita-se que haverá, aqui, o estabelecimento de uma relação de
locação, em que a Visão do Bem será a locatária; e a proprietária será a locadora. O aluguel
doe um espaço poderia ser feito de diversas maneiras, como no caso de um espaço de
coworking, mas como o objetivo do espaço é representar a sede da Visão do Bem, dentre
outras finalidades, o ideal seria a adoção de uma relação de locação, que dará uma
característica de maior constância à situação.

7.2. As funções do espaço contratado

O espaço, representando a sede da Visão do Bem, adicionará ao empreendimento


social uma característica de materialidade, de forma que há, efetivamente, um “centro”
disponível para que as pessoas a visitem ou acessem. A sede, ainda, emprestará formalidade a
Visão do Bem, de maneira que as instituições possam se comunicar com ela por meio de um
canal certo, fora do espaço da casa da fundadora ou de suas funcionárias. O espaço também
poderá ter outras funcionalidades, como armazenamento de itens e documentos, se assim
desejar.

7.3. Das consequências da locação

7
BRASIL, 2018.
Como locatária do espaço, a Visão do Bem terá alguns deveres legais a cumprir, mas
também possuirá direitos sobre o usufruto do espaço, o que não estaria tão claro e delimitado
se o espaço fosse alugado apenas por meio de uma conversa entre a Visão do Bem e a
proprietária.

7.4. Resolução de conflitos que podem surgir a partir da locação

Dentro de uma relação de locação, que se dá de maneira contínua no tempo, podem


surgir desacordos, discussões, conflitos que surgem a partir da vontade de uma das partes em
encerrar o contrato ou pelo seu descumprimento.

Uma maneira de possivelmente resolver esse conflito é a judicialização da questão.


Entretanto, o judiciário é um espaço lento para lidar com a urgência da resolução de um
conflito de locação, principalmente quando se está em jogo o lugar onde a Visão do Bem terá
a sua sede.

Dentro desse contexto, poderá ser adotado outro método de resolução de conflito: a
mediação. Para isso, ela deverá ser prevista expressamente no instrumento contratual de
locação. Por conta de haver uma relação existente entre as partes (de locação) e a
possibilidade delas quererem mantê-la, a escolha pela mediação é mais adequada; e não pela
conciliação, que seria mais recomendado para casos em que não há uma relação existente
entre elas.

A mediação é um meio mais rápido (em relação ao judiciário) de as partes resolverem


seus conflitos, em que elas buscam conjuntamente um resultado que seja benéfico a ambas.
Com o auxílio de um terceiro imparcial à relação, o mediador, o qual irá ajudá-las a
compreender os interesses umas das outras e restabelecer o diálogo (que havia na relação e
foi perdido), elas estarão em uma posição melhor para buscar esse resultado consensual.
8. Rodas de conversa e Relação com as revendedoras

A presente seção tem como objetivo abordar as questões relacionadas às “rodas de conversa”
e à relação com as revendedoras. Para tanto, foi estruturada da seguinte forma: i) na primeira
subseção, serão abordados os conceitos relacionados à “roda de conversa”, sua definição de
acordo com o cliente e eventuais problemas jurídicos que podem surgir a partir de do Direito
do Consumidor; ii) na segunda subseção, será explorada a relação com as revendedoras,
principalmente na possibilidade de reconhecimento de vínculo trabalhista e eventuais
consequências. Ao final, uma conclusão será apresentada.

8.1. Rodas de Conversa.

A roda de conversa, de acordo com informações fornecidas pela Visão do Bem, é reunião
informal, sem local fixo, organizada pelas revendedoras, com dois propósitos principais: i) é
instrumento por meio do qual o público em geral é instruído acerca dos benefícios da saúde
visual e do autocuidado e ii) é oportunidade de potencial recrutamento de novas
revendedoras.

Inexiste óbice jurídico para a prática. Contudo, um ponto de atenção que merece destaque, é a
possibilidade de configuração de propaganda enganosa ou abusiva durante os diálogos que
ocorrem nas rodas de conversa.

De acordo com o Código de Defesa do Consumidor,

Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.

§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou comunicação de caráter


publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por
omissão, capaz de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza, características,
qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos
e serviços.

§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de qualquer natureza, a que


incite à violência, explore o medo ou a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento
e experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o
consumidor a se comportar de forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.

Enquanto o disposto no parágrafo segundo não gera maiores preocupações, uma vez que é de
fácil identificação, o parágrafo primeiro é especialmente relevante. Isso porque, a
abrangência da cláusula faz com que diversas situações possam ser consideradas propaganda
abusiva. Numa conversa informal, tal qual se propõe a ser a roda de conversa, há de se ter
atenção no recrutamento das novas vendedoras e com as vendas de produtos. Verifica-se da
leitura do dispositivo que qualquer comunicação de caráter publicitário capaz de induzir ao
erro o consumidor é potencialmente perigosa. Ainda que o objeto principal da roda de
conversa seja meramente informacional, nada impede que sejam realizadas vendas nos locais.
Nesse caso, o cuidado com a propaganda é primordial.

8.2. Relação com as revendedoras

O segundo ponto a ser desenvolvido é a possibilidade de caracterização de vínculo trabalhista


entre as revendedoras e a Visão de Bem. A relação de revenda se caracteriza por ser um
modelo de negócios baseado em compra e venda de produtos. Um revendedor compra os
produtos e os revende por um preço superior, buscando gerar lucro. A principal vantagem é a
capilaridade que o modelo gera: a expansão via revenda possibilita que o produto chegue em
zonas que não chegaria se a venda e distribuição fossem centralizadas. Além disso, a
mecânica de revenda permite a capacitação da revendedora através de cursos de treinamento.

Pela apresentação desse cenário, uma potencial situação de conflito é a possibilidade de


caracterização de vínculo trabalhista. De início, cabe informar que o art. 3º da CLT considera
como sendo “empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a
empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. É importante mencionar, nesse
ponto, que o vínculo trabalhista é avaliado a partir dos seus componentes fáticos. Por força do
princípio da primazia dos fatos, não importa que roupagem jurídica se dê a uma relação, se os
requisitos de caracterização de emprego estão presentes de fato, o vínculo será reconhecido.
Assim, a caracterização do vínculo trabalhista pressupõe cinco requisitos:

i) a alteridade,

ii) a subordinação,
iii) a pessoalidade,

iv) a onerosidade, e

v) a não eventualidade

De todos os requisitos, o principal ponto de preocupação é o requisito de subordinação,


caracterizada pela geração de poder de comando do empregador em relação à atividade
desenvolvida pelo empregado, no curso do contrato de trabalho. Como conceito doutrinário,
sua significação possui diversas dimensões divididas em dois grandes campos: i)
subordinação subjetiva, focada na identificação de uma forte heterodireção dos serviços e
exercício de poder punitivo; ii) subordinação objetiva, relacionada à integração da atividade
do trabalhador com a atividade empresarial, bem ilustrada nos critérios de subordinação
estrutural e estrutural-reticular.

A preocupação reside principalmente no fato de ter havido caso semelhante apreciado pelo
TST em relação às revendedoras da AVON. Na ocasião, a revendedora da AVON foi
desligada após o não cumprimento de metas de cadastramento. O tribunal entendeu que não
há caracterização do vínculo, porque a revendedora i) agia com total liberdade, tendo pleno
controle de sua agenda e ii) assumia os riscos da atividade empreendedora, uma vez que
deixaria de receber casos suas revendedoras deixassem de vender.

Contudo, a jurisprudência pode mudar, principalmente pela sinalização do voto divergente do


Ministro Maurício Godinho, reproduzido adiante:

Na hipótese dos autos, presentes a subordinação, o desempenho não eventual da


atividades, a onerosidade e pessoalidade, não há como enquadrar o vínculo existente
entre a AVON e a executiva de vendas sob outra modalidade que não o padrão
empregatício. Esclareça-se que, no caso da executiva de vendas, existem as três
dimensões da subordinação: a objetiva (a executiva realizava os objetivos da
empresa, estruturando, organizando e gerindo as vendas pelas revendedoras); a
subordinação estrutural (a executiva de vendas estruturava, organizava e geria o
sistema de vendas por meio de revendedoras, fixando e cobrando metas em nome da
empresa; para as revendedoras, é como se a executiva de vendas fosse a própria
empresa, pois ela era a voz e os ouvidos da reclamada na linha de distribuição); por
fim, a subordinação clássica, realizada através de um sistema concentrado e lógico
de reuniões, orientações, metas, acompanhamentos por chefias e reportes contínuos
à reclamada. Recurso de revista conhecido e provido. (TST. Processo: RR -
964-35.2013.5.10.0001 Data de Julgamento: 04/11/2015, Relator Ministro:
Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 18/12/2015)
Do ponto de vista empresarial, a caracterização do vínculo trabalhista é problemática porque
um empregado gera maiores custos ao empregador. Essa diferença é quantificável: um
trabalhador brasileiro custa 73,33%8 sobre sua folha de pagamento a mais para o empregador,
somando todos os encargos trabalhistas.

8.3. Conclusão

Em ambos os casos, a via litigiosa gera custos às partes envolvidas. Nesses cenário, um bom
desenho de conciliação pode ser útil. Propõe-se, portanto, a adoção de uma política que
implementada por meio de programas estruturados mediante:

i) comprometimento da direção da Visão do bem;

ii) avaliação de riscos feita continuamente;

iii) código de conduta que contemple regras e procedimentos feitos sob


medida;

iv) treinamento dos colaboradores;

v) comunicação; investigação e aplicação de sanções.

Dessa forma, é necessário que seja criado um manual de boas práticas de venda e que
as revendedoras sejam instruídas tendo esse manual como base. Além disso, a avaliação de
riscos deve ser feita de forma contínua para evitar a caracterização de vínculo trabalhista.
Comunicação e investigação é outro fator fundamental: ter um bom contato com as
revendedoras favorece a identificação prematura de possíveis litígios, antes do
entrincheiramento de posições que inviabilizaria uma conciliação futura. Entretanto, caso o
conflito aconteça, a melhor via de resolução é através da conciliação, tanto consumerista,
quanto trabalhista.

8
Disponível em:
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-custo-da-mao-de-obra-brasil-x-eua-09122018
9. Cursos e Treinamento

9.1. A dupla importância dos Cursos e Treinamento

Dentro de um empreendimento, o treinamento dos empregados é uma ótima


ferramenta para garantir ganhos de produtividade, eficiência e motivação. É por meio de um
curso e treinamento uniformizado que uma empresa consegue garantir que seus empregados
vão realizar a atividade de forma correta dentro da organização, se garante a capacitação
personalizada do trabalhador.

Contudo, no caso da Visão do Bem, essa temática assume outra dinâmica, ligada ao
relacionamento desta com o público. Dentro da proposta da rede, o contato com o público
geral tem papel central em seu funcionamento. Portanto, além de sua importância no
funcionamento interno da instituição, os cursos e treinamentos também são de extrema
relevância na relação com os consumidores dos produtos e serviços ofertados.

A importância dos cursos e treinamentos nessa relação externa com o mercado advém
da garantia que estes ofertam de unidade na mensagem propagada pelos representantes da
marca e de que o serviço prestado está de acordo com os corretos estudos.

Esse é um ponto fundamental, pois a falta de unidade pode reduzir a confiança do


consumidor sobre a marca, já que os representantes não passam a mesma mensagem ao
público – o que demonstra falta de domínio sobre o tema tratado. Ademais, a propagação de
informações incorretas ou sem o devido embasamento científico pode abrir espaço para
futuros conflitos judiciais envolvendo publicidade enganosa, sujeitando a rede a punições
pecuniárias e detenções (como previsto no Art. 67 do Código de Defesa do Consumidor).

9.2. Como aplicar os mecanismos na Visão do Bem

Devido à importância ressaltada no item anterior, é necessário agora pensar em como


de fato podem ser implementados os cursos e treinamentos para as revendedoras dos produtos
e serviços da Visão do Bem.

No geral, os cursos e treinamentos de funcionários são considerados parte da jornada


de trabalho, fazendo jus a horas extras caso sejam implementados após o horário de
expediente. Dessa maneira, tem o empregador a capacidade de instituir curso ou treinamento
obrigatório para seus funcionários, com base na relação empregatícia constituída.

Todavia, a constituição de vínculo empregatício gera também custas trabalhistas para


o empregador – devido às garantias previstas na CLT. Nesse sentido, apesar de garantir um
maior controle sobre os cursos e treinamentos, essa opção geraria significativos custos para a
Visão do Bem. Em razão disso, deve-se pensar em formas alternativas e menos custosas de
salvaguardar o controle do processo de capacitação.

A principal opção é a instituição de um certificado atinente à realização do curso ou


do treinamento. No caso da Visão do Bem, a rede instituiria treinamento e curso para as
revendedoras, as quais não teriam vínculo empregatício com a organização. Contudo, para
garantir que estas revendedoras participaram dessa capacitação, exigiria a apresentação de
certificado para exercer a profissão na rede.

Além de garantir o controle como já explicitado, o certificado é também um atestado


de qualidade da informação perpassada pelas revendedoras. Os consumidores teriam uma
confirmação da própria organização de que o conteúdo trazido por aquela revendedora tem a
sua anuência. Assim, pode-se evitar quem diz representar a instituição, porém não apresenta a
devida comprovação documental.

Importante destacar que não existe garantia de que o curso ou treinamento promoverá
uma efetiva capacitação de todos que deles participarem, dependendo ainda do contínuo
controle por parte da Visão do Bem. Caso existisse vínculo empregatício, seria possível ao
empregador advertir ou até punir os empregados que exercessem suas atividades de forma
distinta da ensinada no curso ou treinamento – um controle a posteriori. Já no caso do
certificado, o controle é a anteriori, feito pelo empregador no momento de instituição dos
requerimentos necessários para a obtenção do certificado.

10. Contratos de Patrocínio


10.1. Introdução

Foi considerado pela consulente a possibilidade de ser patrocinada por terceiros.


Ainda que o Visão do Bem não tenha patrocinadores e nem esteja à procura de um
patrocinador no momento, vale a pena, por precaução, dispor sobre esta relação, já que foi
informado que estava aberto à possibilidade de patrocínio. O patrocínio é um tipo de contrato,
que pode ser definido da seguinte forma:
"Qualquer acordo comercial por meio do qual um patrocinador, para benefício
mútuo do patrocinador e da parte patrocinada, fornecer contratualmente
financiamento ou outro meio de apoio a fim de estabelecer uma associação entre a
imagem do patrocinador, suas marcas ou produtos e uma propriedade de patrocínio
em troca de direitos de promover tal associação e/ou conceder certos benefícios
diretos ou indiretos previamente acordados."9

Ao se falar de patrocínio a projetos ou causas sociais, o patrocínio perde seu caráter


de mecenato, isto é, de incentivo à produção artística, e adquire caráter filantrópico. O
interesse do patrocinador é vincular sua imagem, marcas ou produtos às ideias que
fundamentam a iniciativa do projeto. Quando uma empresa decide patrocinar o Visão do
Bem, cuja finalidade é tornar acessíveis as informações, exames e aparelhos oculares para
pessoas que vivem nas comunidades, ela quer vincular sua imagem a ideias como direito à
saúde, caridade, educação socialmente inclusiva, por exemplo.

10.2. Relação jurídica


Desta forma, a relação jurídica do patrocínio se constitui a partir de um mútuo
interesse: a Patrocinada, Visão do Bem, necessita de orçamentos para realizar suas atividades.
A Patrocinadora, sociedade empresária, deseja contribuir para o melhoramento da sociedade
como um todo por meio de auxílio a projetos sociais. Logo, a Patrocinadora fará
contribuições financeiras à Patrocinada, para que esta realize as atividades e projetos
especificados e discriminados no contrato celebrado entre as duas. A Patrocinada, Visão do
Bem, exibirá as imagens ou marcas disponibilizadas pela Patrocinadora nos meios de
divulgação do projeto, disciplinados no contrato, como também as exibirão durante o curso
de suas atividades, criando desta forma a associação entre a logomarca e a causa social na
percepção do público, como pretendido pela Patrocinadora.
Por exemplo, a Patrocinadora pedirá que sua marca seja exposta no site do Visão do
Bem, ou como "apoiadora" nas apresentações de roda viva. Deve ser esclarecido, no entanto,
que patrocínio não é propaganda: a Patrocinadora não pode exigir que o Visão do Bem
divulgue produtos ou ofertas exclusivas em suas redes sociais. Contudo, é apropriado que a
Patrocinadora disponibilize descontos de seus produtos para o benefício de clientes do Visão
do Bem.

9
COLLETT, Pippa e FENTON, William. Manual do Patrocínio Ed. DVS, São Paulo, 2014. p. 2
10.3. Do patrocínio para divulgação de conteúdo em redes sociais
As redes sociais possuem papel fundamental na divulgação do comércio em nosso
tempo. Visto que o Visão do Bem possui contas no Instagram e no Facebook, é bem provável
que o negócio social seja abordado por possíveis patrocinadores que desejam divulgar sua
marca nos posts do Visão do Bem nas redes sociais. Estas duas redes sociais possuem uma
plataforma destinada para a resolução de controvérsias entre anunciantes e patrocinadores.
Ao montar uma página para o Visão do Bem nestas redes, o processo passou pela aceitação
obrigatória de se submeter a esta forma de resolução de conflitos.
Caso o Visão do Bem chegue a divulgar produtos ou serviços de um patrocinador
nestas redes sociais, qualquer conflito em relação à publicação na rede será submetido a esta
plataforma.

10.4. Da resolução de conflitos no contrato de patrocínio


Há vários conflitos que podem surgir num contrato de patrocínio. A Patrocinadora
pode achar que a Patrocinada não está expondo sua marca com frequência suficiente ou de
maneira adequada; também pode ocorrer que a Patrocinadora deixe de pagar à Patrocinada o
valor devido no contrato, deixando o Visão do Bem sem uma parte dos recursos que necessita
para a continuação de suas atividades. Estes problemas podem fazer ruir a relação entre a
patrocinadora e o Visão do Bem, levando ao fim do patrocínio e uma possível judicialização.
É muito importante, deste modo, que o contrato preveja formas de resolver essas
controvérsias para que o patrocínio não seja abalado pelas nuances da relação entre os
contratantes. As formas de resolução de controvérsias não garantem que o patrocínio seja
perpétuo, mas impedem muitos conflitos de pôr fim ao contrato. Se for o caso das partes se
desentenderem e optarem por terminar o contrato, os mecanismos de resolução de
controvérsias oferecem uma maneira mais amigável e menos custosa para fazê-lo.

10.5. Do melhor método autocompositivo de resolução de controvérsias


Existem várias formas amigáveis de resolução de controvérsias. A “autocomposição”
significa que as próprias partes do contrato chegarão à solução do problema juntas, sem a
palavra final de um terceiro que decidiria por elas (como um juiz ou árbitro). Estes processos
são a negociação, conciliação e a mediação. Dadas as características menos complexas e
pontuais do contrato de patrocínio que pode vir a ser celebrado pelo Visão do Bem, se sugere
a utilização da negociação, seguida de mediação pré-processual, caso a última não seja capaz
de resolver o conflito.
A negociação é uma forma direta de resolver os conflitos, em que as partes se
encontram a sós para dar fim ao problema em comum acordo. Por envolver apenas
representantes das duas partes, pode ser realizada durante um encontro em pessoa ou até
mesmo por meios digitais. Basta que elas se encontrem a fim de dar um basta no conflito.
Entretanto, recomenda-se que o façam na presença de seus respectivos advogados, para que
as decisões tomadas sejam as mais bem informadas possíveis.
A mediação, por sua vez, envolve um terceiro, chamado “mediador”, cujo propósito é
facilitar o diálogo. Seu objetivo não é dar solução ao problema, mas fazer de tudo para
eliminar as animosidades entre as partes e conduzi-las a uma comunicação amigável. A
relação amigável, por si só, pode ser capaz de fazer com que as partes cheguem a um acordo
no final do processo mediatório.
“A Mediação é uma forma de solução de conflitos na qual uma terceira pessoa,
neutra e imparcial, facilita o diálogo entre as partes, para que elas construam, com
autonomia e solidariedade, a melhor solução para o conflito. Em regra, é utilizada
em conflitos multidimensionais ou complexos. A Mediação é um procedimento
estruturado, não tem um prazo definido e pode terminar ou não em acordo, pois as
partes têm autonomia para buscar soluções que compatibilizem seus interesses e
necessidades.”10

A mediação pode ser ad hoc, isto é, as partes contratam um conciliador à parte para
realizar o procedimento de acordo com as regras que elegerem e no local que escolherem.
Não se recomenda esta opção, porque significa que as partes terão que entrar em acordo sobre
qual conjunto de regras procedimentais seguir, como também terão de arcar com todos os
movimentos burocráticos do procedimento, resultando em elevados custos. Recomenda-se a
utilização do NUPEMEC do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que já possui robusta
estrutura para manejar o processo mediatório e uma lista de mediadores e local para realizar a
audiência. Além do mais, este serviço é gratuito e pode ser solicitado no site do TJRJ 11.

10.6. Da cláusula de mediação sugerida

10
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao/. Último acesso
em 13.11.2021.
11
O acesso é mais fácil por meio deste link:
http://www.tjrj.jus.br/web/guest/institucional/mediacao/pre-processual, último acesso em 28.11.2021.
A cláusula transcrita a seguir conterá um compromisso de mediação pré-processual,
antecedido por negociação. Seu objetivo é impedir a judicialização imediata do conflito entre
o Visão do Bem e o Patrocinador. A cláusula compromissória é a seguinte:
“Todas as controvérsias oriundas ou relacionadas ao presente contrato serão
resolvidas em diálogo aberto e direto entre as partes, seus representantes ou procuradores
legalmente constituídos. Não logrando êxito negociação, a controvérsia será encaminhada
ao NUPEMEC - Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, para
a realização de mediação pré-processual.
As partes acordam que é vedado ingressar em juízo antes de cumpridas as diligências
da negociação e da mediação.”

11. Plataformas de Venda Digitais

Durante as consultas, a Visão do Bem apresentou a vontade de iniciar sua operação de


vendas por meio de plataformas digitais de marketplace. As plataformas de venda são
ferramentas que permitem alavancar as vendas da Visão do Bem com baixos custos e riscos.
Contudo, as plataformas de venda trazem potenciais conflitos específicos, diferentes das
vendas por meios não digitais, e que merecem ser endereçados.
A primeira questão que deve ser pensada é a conciliação entre os propósitos da Visão
do Bem e a operacionalização das plataformas de venda. As plataformas de venda, no geral,
são plataformas abertas a todos, nos quais o consumidor, fornecendo poucos dados, consegue
realizar uma compra em poucos minutos. A Visão do Bem, contudo, não é uma simples
varejista de óculos, tendo em seu arcabouço uma visão social importante, e que limita suas
vendas à moradores de regiões específicas.
Dessa forma, um esforço de reflexão terá de ser realizado pela Visão do Bem para
expandir seus consumidores para aqueles não anteriormente abrangidos pelo público final da
Visão do Bem, ou, alternativamente, para criar um canal de comunicação para filtrar os
potenciais consumidores que acessem as plataformas de venda. O essencial, contudo, é a
manutenção dos valores que guiam a atuação da Visão do Bem em sua integralidade.
A segunda questão é a necessidade de conformação com o Código de Defesa do
Consumidor, que, apesar de ser exigida também nos meios de venda não digitais, assume
contornos específicos no meio digital. Por exemplo, é importante se atentar para o direito ao
arrependimento da compra garantido ao consumidor, que perdura durante sete dias em casos
de compra por meios digitais. Dessa forma, a conformação com os direitos do consumidor
passa, necessariamente, pela criação de uma estrutura específica para as vendas online, não
sendo essa conversão automática. As especificidades da conformação ao CDC serão tratadas
adiante.
Para além das questões abstratas, novos agentes acabam por serem incluídos na
relação em função de uma potencial adesão da Visão do Bem às plataformas de venda. Antes,
o que nos meios não digitais se daria entre as vendedoras da Visão do Bem e os consumidores
finais, agora acaba por ter uma complexidade maior. As plataformas de venda passam a ter
importante papel na relação, além dos prestadores de serviços de entrega. Por isso, é
importante analisarmos possíveis conflitos que possam surgir em cada relação ante à inclusão
desses novos agentes na relação.
As plataformas de venda são o principal agente a ser incluído na relação de venda nas
vendas online, e servem de intermediação entre as vendedoras da Visão do Bem e os
consumidores. Apesar de oferecerem claras vantagens, por servirem de “ponte” entre as duas
partes, as plataformas de venda não se responsabilizam por eventuais conflitos que possam
surgir. Dessa forma, os eventuais ônus advindos de um eventual conflito recaem sobre as
vendedoras.
Por exemplo, o Mercado Livre, em seus Termos e Condições Gerais de Uso12, prevê
expressamente que recai sobre os vendedores da plataforma os valores relativos à qualquer
demanda judicial em relação à qual o vendedor deu causa. Além disso, em casos de exercício
de direito ao arrependimento do consumidor, o Mercado Livre expressamente afirma que os
custos envolvidos devem ser arcados pelos vendedores, inclusive o preço do frete.
Apesar disso, como afirmado anteriormente, as plataformas de venda online oferecem
vantagens. Isso porque diversas dessas plataformas oferecem canais de conciliação e
mediação entre vendedores-consumidores, o que pode servir para amenizar os ônus
decorrentes de potenciais conflitos. Trazendo mais uma vez o Mercado Livre como exemplo,
eles instituíram em sua plataforma de vendas online mecanismos de mediação e conciliação e
inseriram em seus Termos e Condições Gerais de Uso a obrigação de priorizar esse tipo
resolução frente à resolução judicial dos conflitos13.

12
Os Termos e Condições Gerais de Uso da plataforma de vendas Mercado Livre estão disponíveis em:
<https://www.mercadolivre.com.br/ajuda/Termos-e-condicoes-gerais-de-uso_1409>.
13
Lê-se no tópico 10 dos Termos e Condições Gerais de Uso: “O Mercado Livre firmou convênios e parcerias
com diversas autoridades com o objetivo de promover e incentivar a solução amigável de controvérsias e evitar
a judicialização de questões que podem ser resolvidas administrativamente, razão pela qual, os Usuários aceitam
e se comprometem a utilizar as ferramentas da plataforma (reclamação/ mediação) como primeiro meio para a
solução de controvérsias decorrentes das compras e vendas realizadas no site Mercado Livre.”
Além disso, é importante notar que as plataformas de venda, no geral, reservam-se o
direito de suspender os usuários vendedores em caso de práticas que consideram abusivas, de
forma que isso reforça a necessidade de atenção não só aos seus Termos de Uso, mas às
normas do Código de Defesa do Consumidor.
Outro agente que será incluído na relação vendedora-consumidor é a empresa
prestadora de serviços de entrega. Dada a escala das operações de venda da Visão do Bem,
presume-se a utilização dos serviços dos Correios. Apesar de o Correios ser somente um
prestador de serviço, muitos conflitos podem advir da sua prestação indevida. Isso porque a
prestação de serviços de entrega faz parte da cadeia até chegar ao consumidor, que
naturalmente tende a responsabilizar o vendedor em caso de atrasos ou extravio.
Em termos jurídicos, em casos de atrasos ou extravio, o consumidor tem o direito de
demandar restituição em face das vendedoras, mesmo em casos nos quais estas não possuam
nenhuma culpa (“responsabilidade solidária”). Apesar de, posteriormente, as vendedoras
possam pedir restituição dos Correios (“direito de regresso”), todo esse processo causa um
ônus. Dessa forma, é importante sempre monitorar a prestação dos Correios e a devida
entrega dos óculos, de modo a minimizar os ônus decorrentes de uma ação judicial.
Além disso, é importante enfatizar que, embora a relação vendedoras-consumidores
não seja uma relação inerente ao meio de vendas online, ela assume contornos específicos
que merecem atenção. Diferente dos meios de venda físico, os meios de venda online
requerem uma maneira específica de tratamento do cliente, mais impessoal. A principal
diferença é o sistema de reputação de vendedores, adotado por muitas das plataformas de
venda digitais, e que pode ser determinante para o sucesso ou fracasso das vendas. O sistema
de reputação acaba por criar uma necessidade a mais para um atendimento rápido, eficiente e
que saiba lidar com as eventuais adversidades.
Ademais, urge ressaltar que as ofertas veiculadas por meio das plataformas de venda
vinculam, isto é, obrigam a Visão do Bem a vender pelo preço ofertado aos consumidores que
eventualmente demonstrem interesse.
Em suma, em face dos contornos específicos da venda por meio de plataformas
digitais, e suas diferenças em relação aos meios de venda não digitais, algumas
recomendações preliminares podem ser desenvolvidas.
Em primeiro lugar, recomenda-se a criação de um programa específico de treinamento
das vendedoras da Visão do Bem para que possam operar com a mesma eficiência dos meios
de venda não digitais, dada as especificidades da venda online.
Em segundo lugar, recomenda-se a criação de um canal de suporte às vendedoras com
a estrutura necessária, o que inclui acesso ininterrupto à internet, fornecimento de material de
embalagem e, possivelmente, um fundo de recursos para apoio em casos de extravio, danos
aos óculos por ocasião do transporte, custos em casos de devolução e em casos de eventuais
demandas judiciais.

12. Contrato de Comodato

Ponto central da consulta formulada é a análise do que talvez seja o ponto mais
sensível na relação entre a Visão do Bem e as parceiras: O contrato de comodato de bem
móvel firmado entre as partes, tendo como objeto o kit inicial de voluntariado para agente da
visão, cedido às parceiras para o exercício do trabalho.

Isso porque, conforme será visto adiante, há uma série de potenciais problemas que
podem surgir na relação com as parceiras, inclusive de ordem financeira, aptos a ensejar, em
último caso, litígios judiciais entre as partes. Desse modo, mostra-se muito importante a
análise detida dos termos do contrato a ser firmado.

De início, destaca-se que o comodato caracteriza-se por ser um contrato cujo objeto é
o empréstimo, de forma gratuita, de bens que não podem ser substituídos por outros da
mesma espécie e qualidade, conhecidos no direito como infungíveis. No caso em questão,
portanto, considera-se que os kits não podem ser substituídos por objeto semelhante, o que
será muito importante caso a parceira, por exemplo, danifique o bem e queira devolver algum
outro kit.
Há de se ressaltar, também, que nos comodatos firmados com a parceira, a Visão do
Bem não receberá qualquer tipo de remuneração pelo empréstimo dos kits iniciais, salvo
eventuais indenizações pelo cumprimento indevido do contrato.

Conforme o artigo 579 do Código Civil, o contrato de comodato “perfaz-se com a


tradição do objeto”. No jargão jurídico, tradição significa a entrega da coisa, de modo que,
em outros termos, o início da vigência do contrato de comodato dá-se no momento em que a
Visão do Bem entrega à parceira, por empréstimo gratuito, o kit inicial, valendo, a partir de
então, todas as cláusulas estabelecidas.
Feitas as considerações gerais sobre o contrato de comodato, cabe agora uma análise
mais detida de algumas de suas cláusulas, para a identificação de potenciais problemas e a
eventual propositura de soluções.

12.1. Do prazo do contrato:

De início, será analisada a cláusula quinta do contrato, referente ao prazo de sua


vigência. Pela leitura, pode-se dizer que a referida cláusula segue a mesma linha do próprio
Código Civil, que estabelece ao contrato de comodato, caso não haja acordo entre as partes
em sentido distinto, o prazo “necessário para o uso concedido” (artigo 581). Já no contrato da
Visão do Bem, cuja ideia é praticamente idêntica, é estabelecido que o prazo é aquele “da
duração do trabalho voluntariado”.

Tal questão é central para a relação entre a Visão do Bem e a parceira, tendo em vista
que, no mesmo artigo 581 do Código Civil, é estabelecido que o comodante, durante do
contrato, não pode suspender o uso e gozo da coisa emprestada, salvo por necessidade
imprevista e urgente, que deve ser reconhecida pelo juiz. Desse modo, é importantíssimo
entender, de forma plena, o prazo de vigência do contrato firmado, tendo em vista que, salvo
raras exceções, a Visão do Bem não poderá reaver o bem emprestado durante esse período.

Pela análise da cláusula estabelecida, pode-se dizer que, ao seguir a mesma linha do
Código Civil, sem fazer qualquer complementação, o contrato pode ter adotado uma cláusula
aberta, que tem a potencialidade de acarretar disputas. Por mais que tenha sido estabelecido
como prazo do contrato o mesmo da duração do trabalho, não se pode ter certeza quanto ao
termo final do referido prazo, do mesmo modo em que não se pode afirmar de maneira
categórica, pela simples leitura do comodato, quando se daria o término da parceria social.

Desse modo, seria sugerível uma complementação externa à cláusula, a fim de dar
mais segurança à relação entre as partes, de modo a estabelecer, de maneira clara e exata, que
o término da parceria social ocorre com a extinção de algum outro contrato firmado entre a
Visão do Bem e a parceira, para a confirmação da parceria, ou até mesmo com a cláusula de
que o término da parceria ocorre com o decurso de um determinado período de dias.

12.2. Da restituição:
Outra questão fundamental no contrato está presente na cláusula sexta, referente à
restituição do kit emprestado. Isso porque, conforme se verifica ao final de sua redação, a
devolução do kit deverá ocorrer dentro do prazo de 30 dias contados a partir da notificação do
fim do prazo da parceria social, sob pena de constituir em mora a comodatária. Em
complemento, o artigo 582 do Código Civil estabelece que o comodatário, constituído em
mora, responde por ela, além de pagar, até a restituição, o aluguel da coisa que for arbitrado
pelo comodante.

Assim, é de se notar que um ponto extremamente sensível do contrato é o


estabelecimento das possíveis penalidades em caso de mora da comodatária, uma vez que o
contrato, em si, apenas estabelece a constituição da mora, sem qualquer consideração
adicional. Conforme o artigo 582 do código civil, supramencionado, a mora faz incidir sob a
comodatária a obrigação do pagamento de um aluguel pela coisa, a ser arbitrado pelo
comodante, mas o parágrafo único do artigo 575 do mesmo código estabelece que, caso o
aluguel arbitrado seja manifestamente excessivo, o juiz poderá reduzi-lo, tendo sempre em
conta o seu caráter de penalidade.

No mesmo sentido, o Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento, exposto no


informativo de jurisprudência nº 504, de que “o arbitramento do aluguel-pena não pode ser
feito de maneira abusiva, devendo respeito aos princípios da boa-fé objetiva (art. 422/CC),
da vedação ao enriquecimento sem causa e do repúdio ao abuso de direito (art. 187/CC)”.
Desse modo, ainda segundo a corte, “o montante do aluguel-pena não pode ser superior ao
dobro da média do mercado, considerando que não deve servir de meio para enriquecimento
injustificado do comodante14”.

Portanto, é fundamental que, desde logo, seja estabelecido no contrato o valor do


aluguel-pena, a ser aplicado em caso de mora da comodatária, devendo tal montante ser
razoável e não superior ao dobro da média do mercado. Com isso, esvazia-se de maneira
considerável eventual argumentação da comodatária de que o valor estabelecido é abusivo, já
que ele sempre esteve presente em contrato assinado por ambas as partes.

14
RESP 1.175.848/PR, Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Julgado em 18.9.2012.
12.3. Término da parceria e tolerância

Em uma primeira leitura, pode-se dizer que é de saltar aos olhos uma eventual
contradição entre as cláusulas sétima e nona do contrato, referentes, respectivamente, ao
término da parceria e à tolerância. Isso porque, conforme a cláusula sétima, a parceria social é
rescindida de pleno direito, independentemente de aviso ou interpelação judicial, caso haja o
descumprimento de qualquer cláusula do instrumento contratual. Ocorre que, logo em
seguida, a cláusula nona, surpreendentemente, estabelece que a inobservância a quaisquer das
cláusulas do documento não importará, “de forma alguma”, em alteração do voluntariado,
podendo as partes, a qualquer tempo, exercer os seus direitos oriundos do contrato.

Diante disso, surge a dúvida: Caso haja o descumprimento de alguma cláusula do


contrato, por uma das partes, aplicar-se-á a cláusula sétima, e a parceria será rescindida de
pleno direito, ou deverá ser levada em conta a cláusula nona, que estabelece que o referido
descumprimento não importará em alteração do voluntariado, podendo as partes exercer os
seus direitos?

Há, portanto, evidente contradição, cuja solução mais adequada parece ser a exclusão
da cláusula nona, estabelecendo-se tão somente as regras de término da parceria já presentes
na cláusula sétima. Há de se fazer, contudo, um adendo: ainda que se trate da hipótese de
descumprimento contratual, por questões de segurança jurídica, é sempre importante que a
rescisão do contrato seja acompanhada de um aviso à outra parte, ainda que isso não precise
constar como obrigação na cláusula, para que eventuais disputas judiciais sejam instruídas
com provas mais completas.

Por outro lado, é de se destacar que, tendo em vista o treinamento fornecido pela
visão do bem às parceiras, invariavelmente há um custo financeiro para a entidade, seja em
tempo ou capital intelectual despendido, nada mais justo que se faça uma adição ao parágrafo
primeiro da cláusula sétima, para estabelecer algum tipo de indenização à Visão do Bem pelo
treinamento prestado, caso o rompimento do contrato, por parte da comodatária, ocorra após
um período de tempo demasiadamente curto. Caso contrário, isso poderia representar à Visão
do Bem uma prestação gratuita de treinamentos às parcerias, sem a necessária contrapartida.
ANEXO I

Termo de Recebimento e Conhecimento do Código de Ética e Conduta

Declaro estar ciente de que os colaboradores da VISÃO DO BEM devem guiar seu
comportamento pelas normas e pelos valores contidos no Código de Ética e Conduta que
estou recebendo neste ato. Comprometo-me a ler e respeitar essas diretrizes, bem como zelar
pelo seu cumprimento por parte das demais pessoas às quais ele se aplica. Estou ciente de que
poderei estar sujeito a sanções disciplinares, além daquelas previstas em lei, por qualquer
violação ao disposto no Código de Conduta e Ética e à toda legislação pertinente.

___________________________, _____ de ___________ de _____________

Nome:
RG nº
CPF nº
Assinatura:

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