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Assunto: Parecer Jurídico do Núcleo de Prática Jurídica (NPJ) da Escola de Direito do Rio
de Janeiro da Fundação Getulio Vargas (FGV Direito Rio) sobre a Visão do Bem.
Rio de Janeiro - RJ
Novembro/2021
ÍNDICE
INTRODUÇÃO 5
1. TIPOS SOCIETÁRIOS 5
1.1. Vantagens do MEI 5
1.2. Desvantagens do MEI 6
1.3. Sociedade Limitada Unipessoal 7
1.4. Vantagens da Sociedade Limitada Unipessoal 7
1.5. Desvantagens da Sociedade Limitada Unipessoal 8
1.6. Negócio Social Visão do Bem como Sociedade Limitada Unipessoal 9
1.7. Tributação da Sociedade Limitada Unipessoal 10
2. CONSTITUIÇÃO DO NEGÓCIO COMO FRANQUIA 12
2.1. Definição de Franquia Social 13
2.2. Exemplos de Franquia Social no Brasil 13
2.3. Sugestão para a Visão do Bem 14
3. CÓDIGO DE ÉTICA E CONDUTA 15
3.1. Minuta do Código de Ética e de Conduta 15
4. LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS 21
5. APLICATIVO VISÃO DO BEM 30
5.1. Objetivos 30
5.2. Público-alvo 31
5.3. Escolha da Plataforma 31
5.3.1. Vantagens do iOS 32
5.3.2. Vantagens do Android 32
5.3.3. Aplicativo Híbrido 32
5.3.4 Qual software escolher? 33
5.4. Custos associados ao desenvolvimento 33
5.5. Monetização do aplicativo 34
5.5.1. Comissões por meio da Economia Compartilhada 34
5.5.2. Anúncios com Banner 35
5.5.3. Modelos de assinatura 35
5.6. Conclusão 36
6. OUVIDORIA 36
6.1. A Ouvidoria como Instituição 37
6.2. A Ouvidoria como mecanismo de prevenção e resolução de conflitos 37
6.3. A instalação da ouvidoria 37
6.4. A ouvidoria interna e suas especificidades 38
6.5. A ouvidoria externa e suas especificidades 38
6.6. Os custos para a instalação de uma ouvidoria 39
6.7. As qualificações para atuação na ouvidoria e possíveis cursos de ouvidoria 39
6.8. Observações sobre a ouvidoria em face da LGPD 40
7. SEDE 43
7.1. A escolha pela realização da locação 43
7.2. As funções do espaço contratado 43
7.3. Das consequências da locação 43
7.4. Resolução de conflitos que podem surgir a partir da locação 44
8. RODAS DE CONVERSA E RELAÇÃO COM AS REVENDEDORAS 45
8.1. Rodas de Conversa 45
8.2. Relação com as revendedoras 46
8.3. Conclusão 48
9. CURSOS E TREINAMENTOS 49
9.1. A dupla importância dos Cursos e Treinamentos 49
9.2. Como aplicar os mecanismos na Visão do Bem 49
10. CONTRATOS DE PATROCÍNIO 50
10.1. Introdução 50
10.2. Relação jurídica 51
10.3. Do patrocínio para divulgação de conteúdo em redes sociais 52
10.4. Da resolução de conflitos no contrato de patrocínio 52
10.5. Do melhor método autocompositivo de resolução de controvérsias 52
10.6. Da cláusula de mediação sugerida 53
11. PLATAFORMAS DE VENDAS DIGITAIS 54
12. CONTRATO DE COMODATO 57
12.1. Do prazo do contrato 58
12.2. Da restituição 58
12.3. Término da parceria e tolerância 60
INTRODUÇÃO
O presente parecer tem por objetivo analisar, de maneira fundamentada, alguns aspectos
relevantes envolvendo a Visão do Bem, principalmente, no que tange à resolução consensual
de conflitos e a prevenção de eventuais desavenças.
Para tanto, serão analisados os aspectos jurídicos, econômicos e regulatórios para a validação
da Visão do Bem, enquanto sociedade empresária, dentro do escopo da sua proposta de
valores e missão. Serão abordados temas relevantes com vistas a orientar a atuação da Visão
do Bem, como os impactos advindos da LGPD e suas relações externas.
1. TIPOS SOCIETÁRIOS
Uma das maiores desvantagens dos MEIs é a sua limitação de crescimento. Esta
estrutura societária possui esta limitante, uma vez que para que se possa ser enquadrado como
MEI, o faturamento não pode ultrapassar uma receita bruta anual de R$ 81.000,00 (oitenta e
um mil reais), isto é, assim que o faturamento ultrapasse este valor, não se pode mais utilizar
a figura do MEI. Embora o Projeto de Lei Complementar n° 108, de 2021, atualmente em
trâmite no Congresso Nacional, vise aumentar este valor total anual para R$ 130.000,00
(cento e trinta e um mil reais), não há como garantir que este será aprovado, e, ainda em caso,
de aprovação, ter um limite de crescimento é definitivamente um ponto negativo.
Outro ponto negativo do MEI é o número de empregados que pode ser contratado.
Nesta estrutura societária somente 1 (um) empregado pode ser contratado, cujo salário não
pode exceder o salário mínimo ou o piso salarial de sua categoria. Destaca-se que, sob o
mesmo Projeto de Lei acima mencionado, se tramita a possibilidade de um aumento para a
contratação de 2 (dois) empregados, mas não existe certeza se esta mudança será aprovada.
MEI
Vantagens Desvantagens
Acesso ao crédito com benefícios Não é possível com que o MEI possua
específicos para MEI participação social em outra sociedade
Responsabilidade Ilimitada
Como já explorado acima, o MEI, embora tenha muitas vantagens, possui uma
estrutura limitante e que pode ser prejudicial ao crescimento do Negócio Social Visão do
Bem. Mediante a promulgação da Lei da Liberdade Econômica (Lei n°13.874/2019),
tornou-se possível a constituição de sociedades limitadas somente com um sócio no seu
capital social, criando as Sociedades Limitadas Unipessoais. Como o Negócio Social Visão
do Bem somente teria uma sócia, sua fundadora, esta seria uma tipo de sociedade cabível
para ser utilizada como o Negócio Social.
Diferentemente aos MEIs, estes tipos societários possuem uma estrutura mais robusta
e requerem uma maior organização e maior esforço de tempo para sua constituição. É
necessário redigir um contrato social que será registrado perante a Junta Estadual no Estado o
qual a sociedade se localiza estabelecendo a forma como a sociedade será gerida e os direitos
e obrigações de seus sócios. Além disso, para fins de registro de endereço do tipo societário e
de documentos perante e a Junta, custos terão de ser incorridos.
Outra diferença que deve ser destacada da limitada é a tributação mais complexa e
robusta e a não existência de isenção aos tributos federais como no caso das MEIs. Esta
tributação diferenciada resulta em um valor maior a título de tributação, uma vez que seria
calculado por meio da aplicação de alíquota ao faturamento da sociedade e teria de serem
adicionados os tributos federais.
Vantagens Desvantagens
Não existe limite de faturamento Custos devem ser incorridos para sua
constituição
Não existe valor mínimo de capital social Não possui os mesmos benefícios tributários
concedidos ao MEI
Responsabilidade Limitada
Embora o Negócio como MEI ou constituído como sociedade tenha o mesmo regime
tributário, existem algumas diferenças. Uma destas diferenças é a não isenção aos tributos
federais, como já explorado acima. Além disso, o valor devido do tributo seria calculado por
meio de uma alíquota aplicada ao faturamento da sociedade. Ainda, o Simples Nacional no
âmbito da Sociedade Limitada Unipessoal possui um limite máximo de faturamento de R$
4.800.000,00 (quatro milhões e oitocentos mil reais) para ser adotado, e a alíquota devida será
modificada de acordo com o faturamento da sociedade e a sua atividade. Como o Negócio
Social Visão do Bem é um MEI, se infere que o faturamento anual é inferior a R$ 81.000,00
(oitenta e um mil reais), logo o limite não impediria com que o regime fosse adotado e faria
com que se aplicasse a alíquota a menor alíquota da atividade de comércio, que pode ser
visualizada abaixo:
Conforme já aduzido, a Visão do Bem tem objetivo de expansão e possui como foco
de atuação comunidades periféricas do país. Com o crescimento contínuo, torna-se mais
difícil, por meio de uma gestão centralizada, garantir que o negócio se mantenha com seus
contornos originais.
Nesse cenário, o modelo de franquia, aparece como uma alternativa para se garantir
uma expansão organizada, possibilitando a manutenção da credibilidade do negócio. O
modelo de negócios de franchising funciona basicamente através do oferecimento dos
direitos de licença de marca por uma empresa para que outros empresários possam vender
seus produtos ou serviços mediante pagamento de uma taxa (royalties), que pode ser fixa ou
descontada.
Como se sabe, o Terceiro Setor possui algumas limitações que dificultam a expansão
de causas sociais e sua atuação a longo prazo, tais como a dificuldade na captação de
recursos, a escassez de profissionais interessados e até a falta de incentivos estatais. Desse
modo, por mais que o objetivo da franquia social não seja o lucro, ela deve, para se manter
sustentável, ser operação financeira superavitária.
Como exemplos de Franquias Sociais no Brasil, cabe trazer, primeiro, a Formare, que
foi uma das primeiras franquias sociais do Brasil. A Formare constitui programa de formação
profissional inovador que permite que empresas adotem os seus cursos de educação
profissional para jovens de baixa renda. Cada empresa parceira é responsável pela abertura do
processo seletivo e inscrição para os cursos. O curso, por sua vez, é formatado após visita à
empresa da equipe especializada da Formare, que identifica o perfil do negócio e estrutura
proposta pedagógica aliando competências de formação geral e técnica. Em resumo, os
próprios funcionários das empresas, atuando voluntariamente, prestam os cursos para alunos
de baixa renda por, em média, um ano. O índice de empregabilidade dos alunos do programa
é de cerca de 80% (segundo seu site https://formare.org.br/como-funciona/), o que demonstra
a efetividade do projeto. A Formare, no seu modelo de franquia social, adotou a utilização de
um contrato de franquia, que delimitou com minúcias os direitos e obrigações existentes entre
as partes.
Observando o Negócio Social da Visão do Bem tal como é hoje, já é possível perceber
algumas características comuns às franquias. Uma delas, que merece destaque, é a existência
de treinamento para as Agentes da Visão. O processo de treinamento permite o alinhamento
entre franqueadora e franqueados a respeito das necessidades da rede e contornos do negócio.
Olhando para o modelo de franquia social adotada pela ONG Banco de Alimentos, é
possível importar a utilização do manual de franquia para o Negócio da Visão do Bem. Como
sugestão, o Manual de Franquia da Visão do Bem poderia ser subdividido considerando as
seguintes áreas de atuação: Técnico, Operações e Divulgando.
1. Disposições gerais
Artigo 1º – Este Código de Ética e Conduta formaliza as diretrizes que devem orientar as
decisões e ações de todos os Colaboradores da Visão do Bem, bem como das associações ou
quaisquer outras entidades ou pessoas físicas ou jurídicas com quem a Visão do Bem interaja
de forma esporádica ou habitual.
Artigo 2º – A formulação deste Código se deu com base nas missões, princípios e valores da
Visão do Bem e em conformidade com a legislação brasileira vigente, incluindo a Lei
Anticorrupção.
2. Missão e valores
Artigo 3º – A Visão do Bem é uma rede de mulheres empreendedoras sociais que tem como
missão criar acesso a exames de vista e correção visual, com óculos de qualidade e preço
acessível para pessoas em situação de vulnerabilidade social; mudando, assim, a vida dessas
mulheres empreendedoras e de suas comunidades.
Artigo 4º – Ficam estabelecidos como valores da Visão do Bem, devendo ser observados em
todas as relações de que participem suas Agentes, seus integrantes, terceiros ou quaisquer
outros Colaboradores na consecução de suas atividades voltadas à Visão Bem:
– Integridade: agir com honestidade, veracidade e de forma justa com todos, sem
que sejam violados regramentos internos da Visão do Bem ou qualquer legislação aplicável;
– Transparência: adotar práticas comerciais claras e transparentes, sem agendas
ocultas;
– Comprometimento: atuar com seriedade, empregando os melhores esforços para
que as missões da Visão do Bem sejam alcançadas.
3. Definições
Artigo 5º – Para os fins deste Código de Ética e Conduta, os termos a seguir definidos terão
os seguintes significados, no singular ou plural e independentemente de gênero:
I. "Agentes": as Agentes da Visão, que são as revendedoras dos produtos da Visão do
Bem;
II. "Código": o presente Código de Ética e Conduta da Visão do Bem;
III. "Colaboradores": todas as pessoas físicas e jurídicas que atuem junto à Visão do
Bem, incluindo as Agentes da Visão, os empregados e os terceiros parceiros;
IV. "Políticas": quaisquer políticas internas desenvolvidas pela Visão do Bem;
V. "Projeto": a Visão do Bem.
Artigo 12 - As Agentes devem disponibilizar os canais oficiais da Visão do Bem para casos
de informações adicionais, elogios ou reclamações.
Artigo 13 - As Agentes devem esclarecer todas as dúvidas quanto à qualidade dos produtos,
oferencendo todo o suporte e orientação necessários aos clientes. Todavia, é vedado qualquer
tipo de aconselhamento médico. Em caso de questionamentos quanto ao manuseio dos óculos
e/ou diagnóstico oftalmológico, as Agentes devem orientar o cliente a buscar atendimento
médico adequado.
Artigo 14 – A Visão do Bem é uma rede que prioriza a interação com o cliente. Nesse
sentido, o uso das redes sociais – tais como Instagram, Facebook, Twitter e TikTok –, são
permitidos para divulgação dos produtos e serviços, desde que o conteúdo divulgado seja
compatível com as missões e valores indicados neste Código.
Artigo 15 – É recomendado que as Agentes mantenham postura adequada nos conteúdos
online que envolvam o nome comercial da Visão do Bem, sendo vedado qualquer tipo de
comentário ofensivo, violento ou discriminatório.
Artigo 16 – O uso das redes é incentivado como forma de divulgação do caráter social da
Visão do Bem, porém não é permitido o compartilhamento de quaisquer informações
privilegiadas ou restritas, relacionados à Visão do Bem e aos seus Colaboradores.
Artigo 17 - Todos os Colaboradores devem zelar pelo nome e reputação da Visão do Bem em
toda a sociedade. Desse modo, deve ser combatido o uso indevido da marca, trazendo ao
conhecimento da Visão do Bem qualquer informação de ato que coloque em risco a sua
reputação.
Artigo 22 – A integridade física e moral de todos os Colaboradores deve ser preservada. Não
será tolerada nenhuma forma de discriminação, assédio, hostilidade, abuso ou injustiça.
Artigo 23 – Não é permitido que os Colaboradores da Visão do Bem dêem e aceitem
presentes ou favores de clientes, fornecedores ou concorrentes.
7. Conflitos de interesses
Artigo 24 – As Agentes, integrantes da Visão do Bem, os terceiros que prestem qualquer tipo
de serviço à Visão do Bem, e todas as demais pessoas ou associações relacionadas ao Código
de Ética devem atuar de forma que seus interesses particulares não se sobreponham aos
interesses dos cliente e do caráter social da Visão do Bem.
8. Propriedade intelectual
Artigo 25 – A propriedade intelectual do Projeto, além de seu nome, logotipo e de sua marca,
inclui, dentre outros, o resultado do trabalho desenvolvido por seus Colaboradores e/ou
terceiros, e contempla relatórios gerenciais, planilhas e projetos, além de ativos intangíveis
como know-how, imagem e reputação, não se admitindo o uso indevido ou a distribuição não
autorizada da propriedade intelectual ou do conhecimento da Visão do Bem, o que pode gerar
consequências negativas, tanto para o Projeto quanto para as pessoas envolvidas, o que inclui
eventuais sanções e medidas judiciais.
Artigo 27 – A Visão do Bem possui uma política de tolerância zero com práticas de
discriminação, preconceito ou assédio. Por esse motivo, não serão admitidas quaisquer
práticas, por Agentes, integrantes da Visão do Bem ou terceiros que prestem serviço à Visão
do Bem, que incentivem qualquer tipo de: (i) assédio moral, físico ou sexual; (ii) violência;
(iii) prática preconceituosa e/ou discriminatória em razão de idade, cor, gênero, religião,
orientação sexual, filiação política, etc.; e (iv) comportamento que coloquem em risco a saúde
e/ou segurança dos clientes e integrantes da Visão do Bem.
10. Cumprimento da legislação e relacionamento com os órgãos públicos
12. Sanções
Artigo 30 – Qualquer incidente relatado como uma violação deste Código será devidamente
investigado. Caso se constate que uma conduta proibida ocorreu, esta será sancionada de
acordo com as leis aplicáveis e com as Políticas internas da Visão do Bem. As medidas
disciplinares podem incluir:
– Advertência verbal ou escrita;
– Suspensão;
– Desligamento;
– Exclusão do Terceiro fornecedor ou parceiro.
Por sua vez, o tratamento é definido como toda operação realizada com tais dados,
como por exemplo, a coleta e o armazenamento. De acordo com o inciso X, art. 5º:
"tratamento: toda operação realizada com dados pessoais, como as que se referem a coleta,
produção, recepção, classificação, utilização, acesso, reprodução, transmissão, distribuição,
processamento, arquivamento, armazenamento, eliminação, avaliação ou controle da
informação, modificação, comunicação, transferência, difusão ou extração".
Em regra, a lei determinou que o tratamento de dados sensíveis deve ser realizado
mediante o consentimento do titular ou seu responsável legais nos seguintes termos:
Art. 11. O tratamento de dados pessoais sensíveis somente poderá ocorrer nas
seguintes hipóteses:
Destaca-se, porém, que a legislação trouxe algumas hipóteses nas quais o tratamento
de dados pessoas, ainda que sensíveis, podem ser realizados sem o consentimento do titular
(art. 11º, II):
Nas hipóteses descritas nas alíneas "e" e "f", a previsão é no sentido de que o
consentimento é dispensado quando o objetivo do tratamento dos dados for a tutela da saúde
do titular.
Ainda, há de se atentar para o fato de que, muitas vezes, a Visão do Bem lida com o
diagnóstico do público infantil, sendo necessário observar cuidados específicos no que tange
tais dados.
Em média, o judiciário brasileiro leva quatro anos e quatro meses para fornecer uma
resposta através de uma sentença de 1ª instância. O estudo do Conselho Nacional de Justiça
desenvolveu um relatório intitulado Justiça em Números1 que analisou o tempo médio de
tramitação dos processos em 1ª instância em todo o Brasil. Dos tribunais de justiça de grande
porte o TJRJ pode ser considerado o mais eficiente, com tempo médio de 1 anos e 9 meses
para julgar um caso2.
Para os leigos os números podem não parecer tão alarmantes, pois ignoraram a
existência de um segundo grau de jurisdição para onde grande parcela dos processos é
encaminhado após o transcorrer do aludido período de tempo. A fase recursal é a
oportunidade que o indivíduo tem de ter a sentença proferida revista por um grau superior de
jurisdição, contudo, os recursos são muitas vezes percebidos como mecanismos para prolatar
o processo.
1
Disponível em:
https://exame.abril.com.br/brasil/quanto-tempo-a-justica-do-brasil-leva-para-julgar-um-processo/. Último acesso
em: 28/11/2021
2
Dados referentes ao ano de 2016
Considerando, ainda, que o resultado obtido através do judiciário pode ser
insatisfatório para ambas as partes, as resoluções consensuais de conflito se traduzem em
métodos mais céleres e satisfatórios para os envolvidos.
O artigo 52, § 7º da LGPD prevê que os vazamentos de dados podem ser objeto de
conciliação direta entre controlador e titular. Entende-se que nesse caso, o sentido de
conciliação abrange os demais métodos alternativos de resolução de conflitos, bem como se
aplica a outros conflitos referentes ao tratamento de dados. Assim, inicialmente,
recomenda-se que haja uma tentativa de negociação direta entre as partes a fim de se chegar a
um consenso.
Por fim, recomenda-se que a Visão do Bem mantenha uma base de dados de fácil
acesso com as informações de seus pacientes. Nos termos do art. 9 da LGPD "O titular tem
direito ao acesso facilitado às informações sobre o tratamento de seus dados, que deverão ser
disponibilizadas de forma clara, adequada e ostensiva acerca de, entre outras características
previstas em regulamentação para o atendimento do princípio do livre acesso".
Anexo I
CLÁUSULA PRIMEIRA
Dados Pessoais
– Nome completo
– Data de nascimento;
– Endereço completo;
CLÁUSULA SEGUNDA
O Titular autoriza que a Controladora utilize os dados pessoais e dados pessoais sensíveis
listados neste termo para as seguintes finalidades:
Parágrafo Primeiro: Caso seja necessário o compartilhamento de dados com terceiros que não
tenham sido relacionados nesse termo ou qualquer alteração contratual posterior, será
ajustado novo termo de consentimento para este fim (§ 6° do artigo 8° e § 2° do artigo 9° da
Lei n° 13.709/2018).
Parágrafo Segundo: Em caso de alteração na finalidade, que esteja em desacordo com o
consentimento original, a Controladora deverá comunicar o Titular, que poderá revogar o
consentimento, conforme previsto na cláusula sexta.
CLÁUSULA TERCEIRA
Compartilhamento de Dados
CLÁUSULA QUARTA
CLÁUSULA QUINTA
À Controladora, é permitido manter e utilizar os dados pessoais do Titular até seis meses após
a finalização do tratamento. Após esse período, os dados serão anonimizados e armazenados
por cinco anos para fins de registro.
CLÁUSULA SEXTA
O Titular poderá revogar seu consentimento, a qualquer tempo, por e-mail ou por carta
escrita, conforme o artigo 8°, § 5°, da Lei n° 13.709/2020.
O Titular fica ciente de que a Controladora poderá permanecer utilizando os dados para as
seguintes finalidades:
CLÁUSULA SÉTIMA
Vazamento de Dados ou Acessos Não Autorizados – Penalidades
As partes poderão entrar em acordo, quanto aos eventuais danos causados, caso exista o
vazamento de dados pessoais ou acessos não autorizados, e caso não haja acordo, a
Controladora tem ciência que estará sujeita às penalidades previstas no artigo 52 da Lei n°
13.709/2018.
Assinatura:
________________________________________
______________________________________________
Com isso em mente, apresenta-se um escopo com viés prático acerca da construção,
desenvolvimento e implementação de um aplicativo que leve o propósito da Visão do Bem
também para o mundo digital, trazendo eficiência e escalabilidade.
5.1. Objetivos
O aplicativo deve ser pensado como um solucionador de problemas. Para isso, é preciso
enxergar com clareza no que esse aplicativo consistirá: o que o usuário da Visão do Bem
estará buscando e encontrando ao fazer o download do app.
De acordo com a proposta de valores da Visão do Bem, podemos imaginar que este aplicativo
apresentará o potencial para ser (i) uma plataforma de produção de conteúdo e divulgação de
informações acerca da saúde visual; (ii) uma plataforma criada em parceria com médicos
associados à Visão do Bem, em contato mediado pelo aplicativo, que entrariam em contato
com os pacientes; (iii) uma plataforma de encaminhamento para exames e consultas; (iv) um
canal de vendas, que disponibilizaria no portfólio da Visão do Bem os exemplares de óculos
de qualidade e preço justo, associado à educação para o consumo destes produtos.
5.2. Público-alvo
Essa etapa parece já estar consolidada considerando a proposta de valores e missão da Visão
do Bem. A importância do público-alvo se traduz pela capacidade da empresa em gerar
identificação, que gerará aderência e engajamento quanto aos serviços ofertados, conteúdos
produzidos e produtos comercializados na plataforma.
Como já se sabe, o público-alvo da Visão do Bem são as “Agentes da Visão”, que serão
beneficiadas pelas funcionalidades do aplicativo, sobre a qual discorreremos em breve, além
dos próprios usuários consumidores de informação, serviços e produtos relacionados à saúde
visual. O aplicativo, portanto, deve ser criado proporcionando democratização não só no
produto, mas também na sua acessibilidade, levando em consideração a escolaridade dos
usuários, a sua faixa etária, bem como outros fatores, como renda e localidade. Todos esses
fatores podem influenciar na usabilidade da plataforma digital, podendo promover mais
inclusão ou, até mesmo, exclusão, caso o público-alvo não esteja claramente definido na
estrutura do aplicativo.
O iOS apresenta desenvolvimento mais rápido do que o Android, com uma estimativa de
cerca de 30-40% maior de tempo3. Além disso, a Apple Store (que abriga os aplicativos
desenvolvidos no software IOS) apresenta expectativas de qualidade mais rígidas,
apresentando padrões elevados de usabilidade. Outro fator é que a Apple é considerada como
um ambiente digital mais seguro do que o Android, considerando o seu sistema fechado.
3
Disponível em:
https://infinum.com/the-capsized-eight/android-development-is-30-percent-more-expensive-t
han-ios
A decisão acerca de qual plataforma escolher deve levar em consideração os fatores de
identificação abordados acima, melhor revelados com uma boa pesquisa de mercado e
com a definição do público-alvo, a quem se destinará o aplicativo. Além desses quesitos,
a viabilidade financeira também deve ser estudada. Considerando que a Visão do Bem
está constituída enquanto MEI, cujo faturamento é limitado, como já avaliado no início
deste, parecer, a elaboração de um produto mínimo viável pode ser uma alternativa a ser
considerada. Na prática, isso consistiria na criação de um aplicativo de forma rápida e
barata, recomendando-se o iOS, a fim de gerar maior aderência e massa de usuários ativos
para a Visão do Bem. Da mesma forma, o iOS também é altamente recomendado para
aplicativos que abrigarão transações financeiras ou operações de compra e venda, como
parece ser o caso da Visão do Bem, ao disponibilizar serviços e produtos no aplicativo.
No entanto, apesar de não ser possível fixar, de antemão, uma faixa de preços associada ao
custo do projeto, é possível fornecermos neste parecer alguns fatores que influenciarão no
preço do desenvolvimento do app. São eles:
● Idéia. A ideia deve ser exposta para especialistas técnicos da empresa. Com esse
● Lista de recursos. É importante discutir alguns recursos vitais que precisam ser
atenção dos usuários, mas que também esteja de acordo com a identidade, proposta de
5. 5. Monetização do aplicativo
mercado digital. Selecionamos, porém, aquelas que entendemos estar mais próximas da
que os consumidores dividam o uso de bens e serviços que acessam. Nesse modelo, a
economia compartilhada como base da ideia do negócio. No caso, o aplicativo poderia ser
responsáveis pela revenda dos óculos de grau. Como já exposto acima, há uma ampla gama
de possibilidades que podem ser implementadas no aplicativo a fim de gerar recursos para a
selecionados.
renda final da Visão do Bem. Além disso, ela consiste em uma modalidade de criação de
estejam alinhadas à proposta de valor e missão da Visão do Bem), num sistema de educação e
contrário dos dois modelos sugeridos acima, a monetização por modelos de assinatura ainda
precisaria ser validado e estaria sujeito à maturação da Visão do Bem enquanto empresa,
oferecido por parte dos usuários. Além disso, modelos de precificação devem ser elaborados
a fim de encontrar um valor que proporcionasse renda suficiente à Visão do Bem, mas que
não fosse excludente com as moradoras de comunidade e mulheres desempregadas que fazem
parte do público-alvo da empresa. Uma alternativa possível seria a cobrança dessa taxa no
modelo de negócio que envolveria médicos parceiros, mediante a garantia do acesso aos
usuários que estariam cadastrados no aplicativo, ou mesmo aos fornecedores, que pagariam a
taxa para ter acesso aos consumidores finais dos óculos de grau, ofertados por um valor
5.6. Conclusão
A ouvidoria pode ser vista como um instrumento de participação das pessoas, seja em
uma instituição pública, seja em uma empresa privada. A intensificação do surgimento e da
atuação das ouvidorias ocorreu no contexto da redemocratização brasileira, após a
Constituição Federal de 1988.
Essa “popularização” da ouvidoria afetou não só o setor público, mas também o setor
privado, fazendo com que maior atenção fosse dada a sua constituição e operação nesse
âmbito. Não apenas grandes empresas e sociedades passaram a melhorar as suas ouvidorias
para resolver problemas e ouvir os consumidores para melhor entendê-los e atendê-los; mas
empresas de médio e pequeno porte, além de empreendimentos sociais, associações e outras
instâncias do setor privado, também construíram esse espaço de diálogo mais direto entre as
pessoas e elas.
Mais que tudo, as ouvidorias podem servir como uma verdadeira ferramenta para
prevenir o surgimento de conflitos grandes dentro da organização. Isso porque, quando um
cidadão ou um consumidor faz uma reclamação perante a ouvidoria, demonstrando sua
insatisfação com determinada conduta ou serviço, há um potencial de que esta evolua para
um embate de interesses. Com a atuação da ouvidoria, no entanto, essa reclamação ou
informação será identificada em um estágio inicial, podendo ser resolvida na própria
ouvidoria, ou encaminhada para outro setor do órgão ou da empresa. A partir do devido
tratamento da demanda, a evolução para um conflito é impedida ou dificultada.
Para o caso da Visão do Bem, a ouvidoria poderá servir, além de outros objetivos, para
identificar e tratar a insatisfação de uma cliente e impedir que a reclamação escale e
transforme-se em um conflito entre o negócio social e a consumidora, o que, aliás, pode ser
prejudicial a ambas, tanto por conta dos custos, quanto por causa dos desgastes que surgem a
partir de tal conflito.
Nesse contexto, a ouvidoria pode tanto informar as funcionárias e agentes do Bem que
recorrem a ela sobre determinado ponto do termo de conduta, nem que seja para lembrá-las
de tal; quanto explicar às clientes e às consumidoras sobre o funcionamento da Visão do
Bem, sobre os direitos que elas possuem em face do negócio social, sobre algum ponto dos
termos de uso do aplicativo, sobre como a informação ou a sugestão que estão pedindo ou
prestando serão tratadas e etc. Em algum sentido, esse tipo de atuação já ocorre no cotidiano,
em conversas simples. Portanto, essa função didática seria exercida pela ouvidoria no
contexto em que a conversa foge do cotidiano e passa a ter um tom mais sério, pois está
passando por um canal exclusivo para isso.
A ouvidoria poderá ser instalada com dois canais: um canal interno e outro canal
externo. A existência de dois canais não significa que serão necessários custos adicionais, ou
seja, não será preciso, para cada canal, uma pessoa ou estrutura. A operação da ouvidoria,
como um todo, pode ser unificado em uma só pessoa e em um só lugar. Os dois canais são
necessários, nesse caso, pois as destinatárias, as pessoas a serem ouvidas, serão distintas;
assim, o tratamento da informação, da reclamação ou da sugestão também poderá ter um
cunho diferente.
Ainda, como o cargo de ouvidora poderia ser assumido por uma das pessoas que já
trabalham voluntariamente para a Visão do Bem, não havendo, neste caso, gasto para
contratação e manutenção de mão-de-obra para a ouvidoria. Mesmo que uma nova pessoa
seja admitida para o cargo de ouvidora, se o trabalho continuar a ser voluntário, o custo ainda
assim não irá existir.
Primeiramente, será necessário obter o consentimento do titular dos dados para que
possa haver seu tratamento. Isso poderá ser feito por meio de uma caixa no formulário (Para
acessar um modelo de formulário, siga o link: https://forms.gle/bU4ZFeZWsi1UtEGC8) em
que a pessoa concorda expressamente em ter seus dados tratados pela ouvidoria.
4
BRASIL, 2018.
Além disso, também deverá constar a possibilidade de o titular dos dados retirar seu
consentimento, caso em que a ouvidoria não poderá realizar tratamentos posteriores dos
dados em questão, sendo válidos os tratamentos já feitos a não ser que haja um pedido de
eliminação deles.
A ouvidoria, adicionalmente, deverá esclarecer ao titular dos dados como eles serão
processados, quais direitos o titular possui dentro desse processo, a finalidade específica do
tratamento dos dados, a identidade e as informações de contato da Visão do Bem e as
responsabilidades das ouvidoras. Ademais. a atuação das ouvidorias deverá seguir
determinados princípios, como a qualidade dos dados, a transparência e a segurança, a
não-discriminação, dentre outros.
No tratamento de dados pessoais, ainda, a ouvidoria poderá enfrentar alguns deles que
possuem a qualidade de “sensíveis”, sendo eles dados que versam “sobre origem racial ou
étnica, convicção religiosa, opinião política, filiação a sindicato ou a organização de caráter
religioso, filosófico ou político, dado referente à saúde ou à vida sexual, dado genético ou
biométrico, quando vinculado a uma pessoa natural” (art. 5º, II, LGPD)5. Dentro desse
contexto, quando esse tipo de informação for imprescindível para a atuação da ouvidoria,
deverá constar no formulário uma caixa sobre o consentimento específico e destacado do
titular para que o tratamento do dado sensível possa ser realizado com uma finalidade
específica.
Enquanto a ouvidoria realiza seu trabalho, ela também poderá encontrar a necessidade
de lidar com dados anonimizados, sendo eles caracterizados como aqueles relativos “a titular
que não possa ser identificado, considerando a utilização de meios técnicos razoáveis e
disponíveis na ocasião de seu tratamento” (art. 5º, III, LGPD)6. Esse processo de tratamento
deverá, assim, garantir o sigilo dos dados do titular em questão, de forma a promover a
máxima segurança das informações de identificação do titular contra acessos não autorizados
e outras situações.
Por fim, atenta-se para o fato de que a pessoa atribuída ao cargo de ouvidora não
necessariamente será qualificada como encarregada de dados pela LGPD (sendo esta
caracterizada como a “pessoa indicada pelo controlador e operador para atuar como canal
de comunicação entre o controlador, os titulares dos dados e a Autoridade Nacional de
5
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6
BRASIL, 2018.
Proteção de Dados (ANPD)” (art. 5º, VIII, LGPD)7). Sem prejuízo disso, ela poderá reunir
tanto a função de ouvidora quanto de encarregada. Caso assim ocorra, as informações sobre
quem exerce esse papel deverão ser fornecidas ao público, possivelmente no sítio eletrônico
(site) da Visão do Bem. Além disso, a encarregada deverá lidar com reclamações e
comunicações dos titulares de dados acerca do tratamento, observar as comunicações da
autoridade nacional e agir de acordo com elas, instruir as trabalhadoras voluntárias e as
agentes do Bem sobre como lidar com os dados dentro das atuações próprias delas, dentre
outras atribuições específicas que podem ser adotadas.
7. Sede
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BRASIL, 2018.
Como locatária do espaço, a Visão do Bem terá alguns deveres legais a cumprir, mas
também possuirá direitos sobre o usufruto do espaço, o que não estaria tão claro e delimitado
se o espaço fosse alugado apenas por meio de uma conversa entre a Visão do Bem e a
proprietária.
Dentro desse contexto, poderá ser adotado outro método de resolução de conflito: a
mediação. Para isso, ela deverá ser prevista expressamente no instrumento contratual de
locação. Por conta de haver uma relação existente entre as partes (de locação) e a
possibilidade delas quererem mantê-la, a escolha pela mediação é mais adequada; e não pela
conciliação, que seria mais recomendado para casos em que não há uma relação existente
entre elas.
A presente seção tem como objetivo abordar as questões relacionadas às “rodas de conversa”
e à relação com as revendedoras. Para tanto, foi estruturada da seguinte forma: i) na primeira
subseção, serão abordados os conceitos relacionados à “roda de conversa”, sua definição de
acordo com o cliente e eventuais problemas jurídicos que podem surgir a partir de do Direito
do Consumidor; ii) na segunda subseção, será explorada a relação com as revendedoras,
principalmente na possibilidade de reconhecimento de vínculo trabalhista e eventuais
consequências. Ao final, uma conclusão será apresentada.
A roda de conversa, de acordo com informações fornecidas pela Visão do Bem, é reunião
informal, sem local fixo, organizada pelas revendedoras, com dois propósitos principais: i) é
instrumento por meio do qual o público em geral é instruído acerca dos benefícios da saúde
visual e do autocuidado e ii) é oportunidade de potencial recrutamento de novas
revendedoras.
Inexiste óbice jurídico para a prática. Contudo, um ponto de atenção que merece destaque, é a
possibilidade de configuração de propaganda enganosa ou abusiva durante os diálogos que
ocorrem nas rodas de conversa.
Enquanto o disposto no parágrafo segundo não gera maiores preocupações, uma vez que é de
fácil identificação, o parágrafo primeiro é especialmente relevante. Isso porque, a
abrangência da cláusula faz com que diversas situações possam ser consideradas propaganda
abusiva. Numa conversa informal, tal qual se propõe a ser a roda de conversa, há de se ter
atenção no recrutamento das novas vendedoras e com as vendas de produtos. Verifica-se da
leitura do dispositivo que qualquer comunicação de caráter publicitário capaz de induzir ao
erro o consumidor é potencialmente perigosa. Ainda que o objeto principal da roda de
conversa seja meramente informacional, nada impede que sejam realizadas vendas nos locais.
Nesse caso, o cuidado com a propaganda é primordial.
i) a alteridade,
ii) a subordinação,
iii) a pessoalidade,
iv) a onerosidade, e
v) a não eventualidade
A preocupação reside principalmente no fato de ter havido caso semelhante apreciado pelo
TST em relação às revendedoras da AVON. Na ocasião, a revendedora da AVON foi
desligada após o não cumprimento de metas de cadastramento. O tribunal entendeu que não
há caracterização do vínculo, porque a revendedora i) agia com total liberdade, tendo pleno
controle de sua agenda e ii) assumia os riscos da atividade empreendedora, uma vez que
deixaria de receber casos suas revendedoras deixassem de vender.
8.3. Conclusão
Em ambos os casos, a via litigiosa gera custos às partes envolvidas. Nesses cenário, um bom
desenho de conciliação pode ser útil. Propõe-se, portanto, a adoção de uma política que
implementada por meio de programas estruturados mediante:
Dessa forma, é necessário que seja criado um manual de boas práticas de venda e que
as revendedoras sejam instruídas tendo esse manual como base. Além disso, a avaliação de
riscos deve ser feita de forma contínua para evitar a caracterização de vínculo trabalhista.
Comunicação e investigação é outro fator fundamental: ter um bom contato com as
revendedoras favorece a identificação prematura de possíveis litígios, antes do
entrincheiramento de posições que inviabilizaria uma conciliação futura. Entretanto, caso o
conflito aconteça, a melhor via de resolução é através da conciliação, tanto consumerista,
quanto trabalhista.
8
Disponível em:
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/o-custo-da-mao-de-obra-brasil-x-eua-09122018
9. Cursos e Treinamento
Contudo, no caso da Visão do Bem, essa temática assume outra dinâmica, ligada ao
relacionamento desta com o público. Dentro da proposta da rede, o contato com o público
geral tem papel central em seu funcionamento. Portanto, além de sua importância no
funcionamento interno da instituição, os cursos e treinamentos também são de extrema
relevância na relação com os consumidores dos produtos e serviços ofertados.
A importância dos cursos e treinamentos nessa relação externa com o mercado advém
da garantia que estes ofertam de unidade na mensagem propagada pelos representantes da
marca e de que o serviço prestado está de acordo com os corretos estudos.
Importante destacar que não existe garantia de que o curso ou treinamento promoverá
uma efetiva capacitação de todos que deles participarem, dependendo ainda do contínuo
controle por parte da Visão do Bem. Caso existisse vínculo empregatício, seria possível ao
empregador advertir ou até punir os empregados que exercessem suas atividades de forma
distinta da ensinada no curso ou treinamento – um controle a posteriori. Já no caso do
certificado, o controle é a anteriori, feito pelo empregador no momento de instituição dos
requerimentos necessários para a obtenção do certificado.
9
COLLETT, Pippa e FENTON, William. Manual do Patrocínio Ed. DVS, São Paulo, 2014. p. 2
10.3. Do patrocínio para divulgação de conteúdo em redes sociais
As redes sociais possuem papel fundamental na divulgação do comércio em nosso
tempo. Visto que o Visão do Bem possui contas no Instagram e no Facebook, é bem provável
que o negócio social seja abordado por possíveis patrocinadores que desejam divulgar sua
marca nos posts do Visão do Bem nas redes sociais. Estas duas redes sociais possuem uma
plataforma destinada para a resolução de controvérsias entre anunciantes e patrocinadores.
Ao montar uma página para o Visão do Bem nestas redes, o processo passou pela aceitação
obrigatória de se submeter a esta forma de resolução de conflitos.
Caso o Visão do Bem chegue a divulgar produtos ou serviços de um patrocinador
nestas redes sociais, qualquer conflito em relação à publicação na rede será submetido a esta
plataforma.
A mediação pode ser ad hoc, isto é, as partes contratam um conciliador à parte para
realizar o procedimento de acordo com as regras que elegerem e no local que escolherem.
Não se recomenda esta opção, porque significa que as partes terão que entrar em acordo sobre
qual conjunto de regras procedimentais seguir, como também terão de arcar com todos os
movimentos burocráticos do procedimento, resultando em elevados custos. Recomenda-se a
utilização do NUPEMEC do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que já possui robusta
estrutura para manejar o processo mediatório e uma lista de mediadores e local para realizar a
audiência. Além do mais, este serviço é gratuito e pode ser solicitado no site do TJRJ 11.
10
Disponível em: https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/conciliacao-e-mediacao/. Último acesso
em 13.11.2021.
11
O acesso é mais fácil por meio deste link:
http://www.tjrj.jus.br/web/guest/institucional/mediacao/pre-processual, último acesso em 28.11.2021.
A cláusula transcrita a seguir conterá um compromisso de mediação pré-processual,
antecedido por negociação. Seu objetivo é impedir a judicialização imediata do conflito entre
o Visão do Bem e o Patrocinador. A cláusula compromissória é a seguinte:
“Todas as controvérsias oriundas ou relacionadas ao presente contrato serão
resolvidas em diálogo aberto e direto entre as partes, seus representantes ou procuradores
legalmente constituídos. Não logrando êxito negociação, a controvérsia será encaminhada
ao NUPEMEC - Núcleo Permanente de Métodos Consensuais de Solução de Conflitos, para
a realização de mediação pré-processual.
As partes acordam que é vedado ingressar em juízo antes de cumpridas as diligências
da negociação e da mediação.”
12
Os Termos e Condições Gerais de Uso da plataforma de vendas Mercado Livre estão disponíveis em:
<https://www.mercadolivre.com.br/ajuda/Termos-e-condicoes-gerais-de-uso_1409>.
13
Lê-se no tópico 10 dos Termos e Condições Gerais de Uso: “O Mercado Livre firmou convênios e parcerias
com diversas autoridades com o objetivo de promover e incentivar a solução amigável de controvérsias e evitar
a judicialização de questões que podem ser resolvidas administrativamente, razão pela qual, os Usuários aceitam
e se comprometem a utilizar as ferramentas da plataforma (reclamação/ mediação) como primeiro meio para a
solução de controvérsias decorrentes das compras e vendas realizadas no site Mercado Livre.”
Além disso, é importante notar que as plataformas de venda, no geral, reservam-se o
direito de suspender os usuários vendedores em caso de práticas que consideram abusivas, de
forma que isso reforça a necessidade de atenção não só aos seus Termos de Uso, mas às
normas do Código de Defesa do Consumidor.
Outro agente que será incluído na relação vendedora-consumidor é a empresa
prestadora de serviços de entrega. Dada a escala das operações de venda da Visão do Bem,
presume-se a utilização dos serviços dos Correios. Apesar de o Correios ser somente um
prestador de serviço, muitos conflitos podem advir da sua prestação indevida. Isso porque a
prestação de serviços de entrega faz parte da cadeia até chegar ao consumidor, que
naturalmente tende a responsabilizar o vendedor em caso de atrasos ou extravio.
Em termos jurídicos, em casos de atrasos ou extravio, o consumidor tem o direito de
demandar restituição em face das vendedoras, mesmo em casos nos quais estas não possuam
nenhuma culpa (“responsabilidade solidária”). Apesar de, posteriormente, as vendedoras
possam pedir restituição dos Correios (“direito de regresso”), todo esse processo causa um
ônus. Dessa forma, é importante sempre monitorar a prestação dos Correios e a devida
entrega dos óculos, de modo a minimizar os ônus decorrentes de uma ação judicial.
Além disso, é importante enfatizar que, embora a relação vendedoras-consumidores
não seja uma relação inerente ao meio de vendas online, ela assume contornos específicos
que merecem atenção. Diferente dos meios de venda físico, os meios de venda online
requerem uma maneira específica de tratamento do cliente, mais impessoal. A principal
diferença é o sistema de reputação de vendedores, adotado por muitas das plataformas de
venda digitais, e que pode ser determinante para o sucesso ou fracasso das vendas. O sistema
de reputação acaba por criar uma necessidade a mais para um atendimento rápido, eficiente e
que saiba lidar com as eventuais adversidades.
Ademais, urge ressaltar que as ofertas veiculadas por meio das plataformas de venda
vinculam, isto é, obrigam a Visão do Bem a vender pelo preço ofertado aos consumidores que
eventualmente demonstrem interesse.
Em suma, em face dos contornos específicos da venda por meio de plataformas
digitais, e suas diferenças em relação aos meios de venda não digitais, algumas
recomendações preliminares podem ser desenvolvidas.
Em primeiro lugar, recomenda-se a criação de um programa específico de treinamento
das vendedoras da Visão do Bem para que possam operar com a mesma eficiência dos meios
de venda não digitais, dada as especificidades da venda online.
Em segundo lugar, recomenda-se a criação de um canal de suporte às vendedoras com
a estrutura necessária, o que inclui acesso ininterrupto à internet, fornecimento de material de
embalagem e, possivelmente, um fundo de recursos para apoio em casos de extravio, danos
aos óculos por ocasião do transporte, custos em casos de devolução e em casos de eventuais
demandas judiciais.
Ponto central da consulta formulada é a análise do que talvez seja o ponto mais
sensível na relação entre a Visão do Bem e as parceiras: O contrato de comodato de bem
móvel firmado entre as partes, tendo como objeto o kit inicial de voluntariado para agente da
visão, cedido às parceiras para o exercício do trabalho.
Isso porque, conforme será visto adiante, há uma série de potenciais problemas que
podem surgir na relação com as parceiras, inclusive de ordem financeira, aptos a ensejar, em
último caso, litígios judiciais entre as partes. Desse modo, mostra-se muito importante a
análise detida dos termos do contrato a ser firmado.
De início, destaca-se que o comodato caracteriza-se por ser um contrato cujo objeto é
o empréstimo, de forma gratuita, de bens que não podem ser substituídos por outros da
mesma espécie e qualidade, conhecidos no direito como infungíveis. No caso em questão,
portanto, considera-se que os kits não podem ser substituídos por objeto semelhante, o que
será muito importante caso a parceira, por exemplo, danifique o bem e queira devolver algum
outro kit.
Há de se ressaltar, também, que nos comodatos firmados com a parceira, a Visão do
Bem não receberá qualquer tipo de remuneração pelo empréstimo dos kits iniciais, salvo
eventuais indenizações pelo cumprimento indevido do contrato.
Tal questão é central para a relação entre a Visão do Bem e a parceira, tendo em vista
que, no mesmo artigo 581 do Código Civil, é estabelecido que o comodante, durante do
contrato, não pode suspender o uso e gozo da coisa emprestada, salvo por necessidade
imprevista e urgente, que deve ser reconhecida pelo juiz. Desse modo, é importantíssimo
entender, de forma plena, o prazo de vigência do contrato firmado, tendo em vista que, salvo
raras exceções, a Visão do Bem não poderá reaver o bem emprestado durante esse período.
Pela análise da cláusula estabelecida, pode-se dizer que, ao seguir a mesma linha do
Código Civil, sem fazer qualquer complementação, o contrato pode ter adotado uma cláusula
aberta, que tem a potencialidade de acarretar disputas. Por mais que tenha sido estabelecido
como prazo do contrato o mesmo da duração do trabalho, não se pode ter certeza quanto ao
termo final do referido prazo, do mesmo modo em que não se pode afirmar de maneira
categórica, pela simples leitura do comodato, quando se daria o término da parceria social.
Desse modo, seria sugerível uma complementação externa à cláusula, a fim de dar
mais segurança à relação entre as partes, de modo a estabelecer, de maneira clara e exata, que
o término da parceria social ocorre com a extinção de algum outro contrato firmado entre a
Visão do Bem e a parceira, para a confirmação da parceria, ou até mesmo com a cláusula de
que o término da parceria ocorre com o decurso de um determinado período de dias.
12.2. Da restituição:
Outra questão fundamental no contrato está presente na cláusula sexta, referente à
restituição do kit emprestado. Isso porque, conforme se verifica ao final de sua redação, a
devolução do kit deverá ocorrer dentro do prazo de 30 dias contados a partir da notificação do
fim do prazo da parceria social, sob pena de constituir em mora a comodatária. Em
complemento, o artigo 582 do Código Civil estabelece que o comodatário, constituído em
mora, responde por ela, além de pagar, até a restituição, o aluguel da coisa que for arbitrado
pelo comodante.
14
RESP 1.175.848/PR, Relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Julgado em 18.9.2012.
12.3. Término da parceria e tolerância
Em uma primeira leitura, pode-se dizer que é de saltar aos olhos uma eventual
contradição entre as cláusulas sétima e nona do contrato, referentes, respectivamente, ao
término da parceria e à tolerância. Isso porque, conforme a cláusula sétima, a parceria social é
rescindida de pleno direito, independentemente de aviso ou interpelação judicial, caso haja o
descumprimento de qualquer cláusula do instrumento contratual. Ocorre que, logo em
seguida, a cláusula nona, surpreendentemente, estabelece que a inobservância a quaisquer das
cláusulas do documento não importará, “de forma alguma”, em alteração do voluntariado,
podendo as partes, a qualquer tempo, exercer os seus direitos oriundos do contrato.
Há, portanto, evidente contradição, cuja solução mais adequada parece ser a exclusão
da cláusula nona, estabelecendo-se tão somente as regras de término da parceria já presentes
na cláusula sétima. Há de se fazer, contudo, um adendo: ainda que se trate da hipótese de
descumprimento contratual, por questões de segurança jurídica, é sempre importante que a
rescisão do contrato seja acompanhada de um aviso à outra parte, ainda que isso não precise
constar como obrigação na cláusula, para que eventuais disputas judiciais sejam instruídas
com provas mais completas.
Por outro lado, é de se destacar que, tendo em vista o treinamento fornecido pela
visão do bem às parceiras, invariavelmente há um custo financeiro para a entidade, seja em
tempo ou capital intelectual despendido, nada mais justo que se faça uma adição ao parágrafo
primeiro da cláusula sétima, para estabelecer algum tipo de indenização à Visão do Bem pelo
treinamento prestado, caso o rompimento do contrato, por parte da comodatária, ocorra após
um período de tempo demasiadamente curto. Caso contrário, isso poderia representar à Visão
do Bem uma prestação gratuita de treinamentos às parcerias, sem a necessária contrapartida.
ANEXO I
Declaro estar ciente de que os colaboradores da VISÃO DO BEM devem guiar seu
comportamento pelas normas e pelos valores contidos no Código de Ética e Conduta que
estou recebendo neste ato. Comprometo-me a ler e respeitar essas diretrizes, bem como zelar
pelo seu cumprimento por parte das demais pessoas às quais ele se aplica. Estou ciente de que
poderei estar sujeito a sanções disciplinares, além daquelas previstas em lei, por qualquer
violação ao disposto no Código de Conduta e Ética e à toda legislação pertinente.
Nome:
RG nº
CPF nº
Assinatura: