Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
ABORDAGEM E GESTÃO
DE CONFLITOS DE
INTERESSES
NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO
DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO
ÂMBITO NACIONAL
ABORDAGEM E GESTÃO
DE CONFLITOS DE
INTERESSES
NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO
DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO
ÂMBITO NACIONAL
ISBN 978-92-75-71996-1
Alguns direitos reservados. Este trabalho é disponibilizado sob licença de Creative Commons Attribution-Non-
Commercial-ShareAlike 3.0 IGO (CC BY-NC-SA 3.0 IGO; https://creativecommons.org/licenses/by-nc-sa/3.0/
igo/).
Nos termos desta licença, é possível copiar, redistribuir e adaptar o trabalho para fins não comerciais, desde que
dele se faça a devida menção, como abaixo se indica. Em nenhuma circunstância, deve este trabalho sugerir que
a OPAS aprova uma determinada organização, produtos ou serviços. O uso da logomarca da OPAS não é autoriza-
do. Para adaptação do trabalho, é preciso obter a mesma licença de Creative Commons ou equivalente. Em caso
de tradução deste trabalho é necessário acrescentar a seguinte isenção de responsabilidade, juntamente com a
citação sugerida: “Esta tradução não foi criada pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS). A OPAS não é
responsável nem pelo conteúdo nem pelo rigor desta tradução. A edição original em inglês será a única autêntica
e vinculativa”.
Qualquer mediação relacionada com litígios resultantes da licença deverá ser conduzida em conformidade com o
Regulamento de Mediação da Organização Mundial da Propriedade Intelectual.
Vendas, direitos e licenças. Para comprar as publicações da OPAS, ver publications.paho.org. Para apresentar
pedidos para uso comercial e esclarecer dúvidas sobre direitos e licenças, consultar www.paho.org/permissions.
Materiais de partes terceiras. Para utilizar materiais desta publicação, tais como quadros, figuras ou imagens, que
sejam atribuídos a uma parte terceira, compete ao usuário determinar se é necessária autorização para esse uso e
obter a devida autorização do titular dos direitos de autor. O risco de pedidos de indenização resultantes de irregu-
laridades pelo uso de componentes da autoria de uma parte terceira é da responsabilidade exclusiva do utilizador.
Isenção geral de responsabilidade. As denominações utilizadas nesta publicação e a apresentação do material nela
contido não significam, por parte da Organização Pan-Americana da Saúde, nenhum julgamento sobre o estatuto
jurídico ou as autoridades de qualquer país, território, cidade ou zona, nem tampouco sobre a demarcação das suas
fronteiras ou limites. As linhas ponteadas e tracejadas nos mapas representam de modo aproximativo fronteiras
sobre as quais pode não existir ainda acordo total.
A menção de determinadas companhias ou do nome comercial de certos produtos não implica que a Organização
Pan-Americana da Saúde os aprove ou recomende, dando-lhes preferência a outros análogos não mencionados.
Salvo erros ou omissões, uma letra maiúscula inicial indica que se trata dum produto de marca registrada.
A OPAS tomou todas as precauções razoáveis para verificar as informações contidas nesta publicação. No entanto,
o material publicado é distribuído sem nenhum tipo de garantia, nem expressa nem implícita. A responsabilidade
pela interpretação e utilização deste material recai sobre o leitor. Em nenhum caso se poderá responsabilizar a
OPAS por qualquer prejuízo resultante da sua utilização.
Sumário
Agradecimentos VI
Abreviaturas VII
Prefácio VIII
Alcance e finalidade IX
Resumo executivo X
1. Introdução 1
2. Documento de base 3
2.1 Discussão do documento de base 4
2.1.1 Definições 4
2.1.2 Indicadores 5
2.1.3 Metodologias e ferramentas para prevenção e gestão de conflitos de interesses 5
2.1.4 Comentários gerais 5
3. Amamentação 9
3.1 Apresentação de especialista da OMS 9
3.2 Apresentação de especialista externa 9
3.3 Discussão 10
3.4 Estudos de casos dos países 10
3.5 Primeira sessão de grupos de trabalho: amamentação 12
3.5.1 Identificação de conflitos de interesses aparentes 12
3.5.2 Ferramentas de prevenção e gestão 14
3.5.3 Exemplos de práticas adicionais nos países 14
4. Fortificação e reformulação 17
4.1 Apresentação de especialista da OMS 17
4.2 Apresentação de especialista externo 18
4.3 Apresentação de especialista da OMS 18
4.4 Discussão 18
4.5 Estudos de casos dos países 20
4.6 Discussão 22
4.7 Segunda sessão de grupos de trabalho: fortificação e reformulação 23
4.7.1 Identificação de possíveis conflitos de interesses 23
4.7.2 Ferramentas de prevenção e gestão 23
4.7.3 Exemplos de práticas adicionais nos países 25
Agradecimentos
Esse relatório foi coordenado pelo Departamento de Nutrição para a Saúde e o Desenvolvimento (NHD, na sigla
em inglês) da Organização Mundial da Saúde (OMS). O Dr. Francesco Branca e a Sra. Hala Boukerdenna lideraram a
organização da reunião e a preparação desse documento. A OMS agradece as contribuições técnicas das seguintes
pessoas, em ordem alfabética: Dr. Laurence Grummer-Strawn, Sra. Lina Mahy, Dra. Bente Mikkelsen, Dra. Chizuru
Nishida, Sr. Marcus Stahlhofer e Sr. Menno Van Hilten. Agradecemos também aos nossos conselheiros regionais
para a nutrição que nos apoiaram na organização da reunião, em ordem alfabética: Dr. Ayoub Al-Jawaldeh, Dra.
Angela de Silva, Dr. Kartin Engelhardt, Dra. Chessa Lutter, Dra. Adelheid Onyango e Dr. João Rodrigues da Silva
Breda.
Gostaríamos de expressar a nossa gratidão ao Dr. Gaudenz Silberschmidt e à Sra. Loubna El Atlassi, do Departa-
mento de Parcerias e Atores Não Estatais, bem como aos Srs. Gian Luca Burci e Issa Matta, do Escritório de Asses-
soria Jurídica, por seu apoio técnico ao longo de todo o processo. Agradecemos também ao Sr. Andreas Mlitzke e
às Sras. Marie Bombin e Alma Alic, do Departamento de Conformidade e Gestão de Riscos e Ética, pelo seu apoio
na gestão dos procedimentos para conflitos de interesses. A OMS também agradece pelo trabalho das Sras. Karen
McColl e Ann Louise Lie como relatoras e do Prof. Andrew Stark pelo desenvolvimento do documento de base.
Agradecemos ainda às Sras. Marie-Christine Jolly, Fabienne Martens, Jo-Ann Muriel e Jennifer Volonnino, do De-
partamento de Nutrição para a Saúde e o Desenvolvimento, pelo apoio logístico. Esse documento foi editado pelo
Dr. Leo Vita-Finzi.
A OMS expressa sua gratidão pela contribuição técnica dos participantes da reunião, especialmente a sua presiden-
te, Sra. Sue Davies.
VI
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Abreviaturas
PII Plano de Implementação Integral (PII) sobre a nutrição materna, de lactentes e crianças pequenas
VII
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Prefácio
Em resposta ao desafio crescente dos conflitos de interesses na nutrição, o Departamento de Nutrição para a Saú-
de e o Desenvolvimento, situado na sede da OMS, convocou uma consulta técnica da OMS sobre a “Abordagem e
gestão de conflitos de interesses no planejamento e execução de programas de nutrição no âmbito nacional” em
Genebra, na Suíça, de 8 a 9 de outubro de 2015.
A consulta sobre essa questão complexa é o início de um processo com o objetivo de desenvolver ferramentas de
avaliação, divulgação e gestão de riscos para proteger os Estados-Membros contra conflitos de interesses em pro-
gramas de nutrição. O objetivo final é ajudar a promover o Plano de Implementação Integral sobre nutrição mater-
na, de lactentes e crianças pequenas como parte da concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
Os resultados dessa consulta serviram como base para o relatório do Secretariado da OMS, que foi apresentado ao
Conselho Executivo na sua 138ª sessão em janeiro de 2016 e que será discutido na Sexagésima Nona Assembleia
Mundial da Saúde, em maio de 2016.
No início de abril de 2016, a Assembleia Geral das Nações Unidas, em Nova York, adotou uma resolução histórica que
proclamou o período de 2016 a 2025 como a Década de Ação sobre Nutrição das Nações Unidas. A OMS irá trabalhar
com os governos e outras partes interessadas, incluindo organizações internacionais e regionais, a sociedade civil,
o meio acadêmico e o setor privado, para apoiar ativamente a implementação da Década de Ação sobre Nutrição.
Nesse contexto, o papel da OMS é oferecer aconselhamento político baseado em evidências científicas aos seus Es-
tados-Membros, divulgar exemplos de boas práticas, incentivar o compromisso político e liderar as ações interna-
cionais. A gestão adequada dos conflitos de interesses também é necessária, e a OMS está empenhada em auxiliar
com ferramentas práticas, com base nos resultados dessa consulta e no grande conjunto de experiências que estão
sendo adquiridas pelos países nesse momento.
VIII
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Alcance e finalidade
Esse relatório apresenta um resumo das discussões ocorridas durante a reunião. Os resultados dessa consulta ser-
viram como base para o relatório do Secretariado da OMS, que foi apresentado ao Conselho Executivo na sua 138ª
sessão em janeiro de 2016 e discutido na 69ª Assembleia Mundial da Saúde, em maio de 2016. Essa publicação con-
tém o relatório de uma consulta técnica e não representa necessariamente as decisões ou políticas da Organização
Mundial da Saúde.
O relatório deverá ajudar os Estados-Membros e seus parceiros nos esforços para tomar decisões bem embasadas
sobre as ações nutricionais adequadas que são necessárias para promover o Plano de Implementação Integral sobre
nutrição materna, de lactentes e crianças pequenas e concretizar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável. O
relatório se destina a um público amplo, incluindo decisores políticos, seus consultores especializados e o pessoal
técnico e de execução de programas das organizações envolvidas no desenho, implementação e ampliação de pro-
gramas de nutrição para a saúde pública.
IX
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Resumo executivo
Por que essa reunião foi convocada? Quais foram os objetivos da reunião?
O Plano de Implementação Integral sobre nutrição ma- Como uma primeira etapa para o desenvolvimento de
terna, de lactentes e crianças pequenas, aprovado na ferramentas para a avaliação de riscos, a divulgação e
Sexagésima Quinta Assembleia Mundial da Saúde em a gestão dos conflitos de interesses, essa reunião teve
2012 através da resolução WHA65.6, recomenda a cria- como objetivos lançar a discussão, identificar as princi-
ção de “um ambiente de apoio para a implementação pais áreas de trabalho e iniciar a coleta de boas práticas e
de políticas integrais de alimentação e nutrição” e insta estudos de casos nos países. Os objetivos dessa consulta
os Estados-Membros a “estabelecerem um diálogo com foram: (i) desenvolver definições, critérios e indicado-
atores relevantes no âmbito nacional e internacional e res que ajudem a identificar e priorizar os conflitos de
formarem alianças e parcerias para ampliar as ações de interesses no desenvolvimento e na implementação de
nutrição, com o estabelecimento de mecanismos ade- políticas recomendadas pelo Plano de Implementação
quados para a proteção contra possíveis conflitos de Integral sobre nutrição materna, de lactentes e crianças
interesses”. Na decisão WHA67(9), a Sexagésima Séti- pequenas no âmbito nacional, (ii) identificar situações
ma Assembleia Mundial da Saúde, realizada em 2014, em que o desenvolvimento e a implementação dessas
solicitou ao Diretor-Geral “[...] convocar consultas políticas envolvam interações entre governos e atores
informais com os Estados-Membros para completar o não estatais (com foco no setor privado) que possam
trabalho, antes do final de 2015, sobre ferramentas de gerar conflitos de interesses e (iii) identificar uma lista
avaliação e gestão de riscos para conflitos de interes- de ferramentas, metodologias e abordagens que aju-
ses em nutrição, a serem consideradas pelos Estados- dem a identificar e gerir os conflitos de interesses. Esse
-Membros na Sexagésima Nona Assembleia Mundial processo foi visto como um primeiro passo essencial
da Saúde”. Em resposta a esse pedido, foi convocada antes da adoção de outras ações. O esboço do trabalho
uma consulta técnica nos dias 8 e 9 de outubro de 2015, realizado durante a reunião para alcançar esses objeti-
em Genebra, com o objetivo de apoiar os esforços para vos é apresentado na agenda do Anexo III.
lidar com as lacunas na governança dos conflitos de
interesses, a fim de resguardar o desenvolvimento e a Quais foram os resultados da reunião?
implementação de políticas para a nutrição no âmbito
nacional. Esse documento é um relatório da reunião e não contém
nenhuma recomendação oficial da OMS.
Quem foram os participantes dessa
• Algumas das principais conclusões da consulta in-
reunião?
cluem o fato de que os Estados-Membros têm o de-
Um conjunto variado de especialistas internacionais de ver de garantir que não sejam exercidas influências
países de renda baixa, média e alta de todas as seis re- indevidas – sejam elas reais ou aparentes – de in-
giões reuniu-se e compartilhou os seus conhecimentos teresses diferentes do bem público sobre as pessoas
e experiências sobre a forma de lidar com os conflitos ou instituições responsáveis por tomar decisões pú-
de interesses em nutrição. Os participantes incluíram blicas, para não afetar a integridade e a confiança
especialistas da OMS e externos nas áreas de avaliação pública.
de riscos, divulgação e gestão de conflitos de interesses
e ciências nutricionais e farmacêuticas, além de outras • Concluiu-se também que os conflitos de interesses
áreas. Esses especialistas vieram do meio acadêmico, podem ser financeiros ou não financeiros e diretos
da sociedade civil, de ministérios da saúde e do sistema ou indiretos, que os Estados-Membros têm o dever
das Nações Unidas (ONU). Todos os especialistas par- de considerar os interesses divergentes dos dife-
ticiparam a título individual. Representantes de Esta- rentes atores sociais e dos diferentes atores gover-
dos-Membros participaram como observadores. A lista namentais e que os conflitos de interesses podem
de todos os participantes da reunião é apresentada no surgir em diferentes etapas do processo político: (i)
Anexo II. ao ser tomada uma decisão sobre a necessidade de
estabelecer uma política ou programa, (ii) quando a
X
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
política ou o programa são concebidos, (iii) durante dada prioridade clara aos objetivos de saúde pública,
a sua implementação e (iv) durante o seu monitora- definir regras para as parcerias, estabelecendo os
mento. A segunda e a terceira etapas desse processo papéis dos diferentes atores, e exigir a divulgação
são aquelas nas quais a possibilidade de colaboração e a transparência dos interesses. Políticas globais,
com o setor privado é mais comum, sendo necessá- como o Código Internacional de Comercialização de
rio um conjunto de ferramentas para identificar e Substitutos do Leite Materno ou a Estratégia Global
abordar tais conflitos de interesses. para Alimentação de Lactentes e Crianças Pequenas,
podem ser boas referências para ajudar a proteger as
• A consulta concluiu ainda que quando os Estados- parcerias de influências indevidas.
-Membros iniciam uma discussão política, é ne-
cessária uma avaliação inicial dos riscos. Para isso, • Outras práticas úteis incluem o monitoramento
pode ser preciso mapear os diferentes interesses, transparente e independente, regras sobre patro-
compreender as táticas empresariais e entender cínios, registros de grupos de lobby e políticas para
o nível de risco associado a diferentes formas de proteger denunciantes. Ações complementares in-
colaboração com atores públicos e privados. Para cluem a capacitação de funcionários públicos na
evitar os conflitos de interesses, os Estados-Mem- gestão de conflitos de interesses e o fortalecimento
bros podem estabelecer diretrizes sobre quem deve da sociedade civil através de programas de cons-
participar nos grupos responsáveis pela definição cientização pública.
de políticas e pelo trabalho normativo, criar regras
sobre a divulgação de interesses, assegurar a trans- Quais são os próximos passos após essa
parência dos interesses e definir políticas para gerir
reunião?
os conflitos de interesses (incluindo a retirada de
concessões, separação organizacional, impedimen- Os resultados dessa consulta serviram como base para
to, sanções por violações, regras para as políticas o relatório do Secretariado da OMS, que foi apresenta-
pós-emprego e códigos de ética). do ao Conselho Executivo na sua 138ª sessão em janeiro
de 2016 e que será discutido na Sexagésima Nona As-
• Quando os Estados-Membros decidem estabelecer sembleia Mundial da Saúde, em maio de 2016. Após a
parcerias, a definição de regras claras de participa- apresentação dos resultados, os Estados-Membros de-
ção pode mitigar os conflitos de interesses. Essas cidirão sobre os próximos passos no que diz respeito
regras podem criar estruturas de governança e ter- ao trabalho da OMS sobre os conflitos de interesses na
mos de referência claros, estabelecer que deve ser área da nutrição.
XI
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
1. Introdução
A 65ª Assembleia Mundial da Saúde,1 em 2012, indicou resses e outras.5 Os participantes foram convidados por
que os esforços globais para melhorar a nutrição devem seu conhecimento sobre questões relevantes ou sua ex-
se concentrar em seis metas globais para a nutrição a periência prática em lidar com conflitos de interesses.
serem atingidas até 2025 e aprovou um Plano de Im- Os Estados-Membros foram convidados a participar
plementação Integral (PII) sobre a nutrição materna, de como observadores. Esse trabalho é separado, porém
lactentes e crianças pequenas.2 paralelo à discussão em curso sobre o Marco de Colabo-
ração com Atores Não Estatais (FENSA, na sigla em in-
O PII recomenda a criação de “um ambiente de apoio glês) da OMS. A principal diferença entre as duas linhas
para a implementação de políticas integrais de alimen- de trabalho é que a presente consulta se concentra na
tação e nutrição” e insta os Estados-Membros a “esta- gestão dos conflitos de interesses pelos Estados-Mem-
belecerem um diálogo com atores relevantes no âmbito bros na área da nutrição, enquanto o FENSA abrange a
nacional e internacional e formarem alianças e parce- gestão interna de riscos pela OMS ao colaborar com ato-
rias para ampliar as ações de nutrição, com o estabeleci- res não estatais.
mento de mecanismos adequados para a proteção con-
tra possíveis conflitos de interesses”.2 Nesse sentido, Os objetivos da reunião foram:
os Estados-Membros, através da resolução WHA65.6, 1. identificar conflitos de interesses ligados ao plane-
solicitaram ao Diretor-Geral que “desenvolvesse ferra- jamento, implementação, monitoramento e avalia-
mentas de avaliação, divulgação e gestão de riscos para ção de programas de nutrição em saúde pública;
proteger os Estados-Membros contra conflitos de inte- 2. descrever as ferramentas existentes de avaliação e
resses na elaboração de políticas e na implementação gestão já utilizadas por alguns países;
de programas de nutrição consistentes com as políticas 3. apresentar exemplos de estudos de casos nacionais
e práticas globais da OMS [...]”.3 sobre conflitos de interesses na área da nutrição,
extraídos de países de renda alta, média e baixa.
Em resposta a esse pedido, o Departamento de Nutri-
ção para a Saúde e o Desenvolvimento (NHD, na sigla Os resultados esperados foram:
em inglês) da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 1. definições, critérios e indicadores que ajudem a
colaboração com parceiros internos, estabeleceu um identificar conflitos de interesses no desenvolvi-
fluxo de trabalho para analisar definições e questões mento e na implementação de políticas defendidas
relevantes a serem discutidas pelos Estados-Membros pelo PII no âmbito nacional;
na Sexagésima Sétima Assembleia Mundial da Saúde, 2. exemplos de situações nas quais o desenvolvimento
realizada em Genebra em maio de 2014. Na decisão e a implementação de políticas defendidas pelo PII
WHA67(9), a Assembleia Mundial da Saúde solicitou ao envolvem interações entre governos e atores não
Diretor-Geral “convocar consultas informais com os estatais (principalmente o setor privado) que po-
Estados-Membros para completar o trabalho, antes do dem gerar conflitos de interesses;
final de 2015, sobre ferramentas de avaliação e gestão 3. exemplos de ferramentas, metodologias e aborda-
de riscos para conflitos de interesses em nutrição, a se- gens que podem ajudar a identificar e gerir os con-
rem consideradas pelos Estados-Membros na Sexagé- flitos de interesses.
sima Nona Assembleia Mundial da Saúde”.4
O programa da consulta começou com a apresentação
Em resposta a esse pedido, foi convocada uma consulta de um documento de base destinado a lançar a discus-
técnica nos dias 8 a 9 de outubro de 2015. Os partici- são sobre definições, indicadores e exemplos de possí-
pantes incluíram especialistas nas áreas de avaliação veis ferramentas. Seguiram-se três sessões organiza-
de riscos, diligência devida, gestão de conflitos de inte- das em torno de questões ligadas a políticas específicas
para a nutrição – promoção, proteção e apoio da ama-
1 Toda a documentação da 65ª Assembleia Mundial da Saúde está disponível em
mentação, fortificação e reformulação de alimentos e
2
espanhol em: http://apps.who.int/gb/s/s_wha65.html
Plan de aplicación integral sobre nutrición materna, del lactante y del niño pequeño.
prevenção do excesso de peso na infância –, nas quais a
Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2014 (http://www.who.int/nutrition/ apresentação de intervenções recomendadas pela OMS
publications/CIP_document/es/, acessado em 8 de maio de 2016, disponível em
espanhol). e estudos de casos específicos fomentaram discussões
3 Resolución WHA65.6. Nutrición de la madre, el lactante y el niño pequeño. In:
Sexagésima Quinta Assembleia Mundial da Saúde, Genebra, 21-26 de maio de 2012. em grupos de trabalho para identificar conflitos de in-
Resoluciones y decisiones, anexos. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2012:12
(WHA65/2012/REC/1; http://www.who.int/nutrition/topics/WHA65.6_resolution_ teresses reais e aparentes e identificar ferramentas,
sp.pdf, acessado em 8 de maio de 2016, disponível em espanhol).
4 Decisión WHA67(9). Nutrición de la madre, el lactante y el niño pequeño. In:
metodologias e abordagens para preveni-los e geri-los.
Sexagésima Sétima Assembleia Mundial da Saúde, Genebra, 19-24 de maio de 2014.
Resoluciones y decisiones, anexos. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2014:62
(WHA67/2014/REC/1; http://apps.who.int/gb/ebwha/pdf_files/WHA67-REC1/
A67_2014_REC1-sp.pdf, acessado em 8 de maio de 2016, disponível em espanhol). 5 Veja a lista completa de participantes no Anexo II.
1
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Os participantes não declararam nenhum conflito de online dos CVs dos participantes não gerou nenhum
interesses, e os formulários de declaração de interesses comentário que desencorajasse a inclusão de qualquer
preenchidos previamente já haviam sido examinados e pessoa.
aprovados pelo Secretariado. Além disso, a publicação
2
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
2. Documento de
base
Um documento de base elaborado pelo professor An- empresas com fins lucrativos ou indiretamente através
drew Stark foi apresentado para lançar a discussão. das estruturas mediadoras do meio acadêmico ou das
Esse documento é apresentado no Anexo I. organizações da sociedade civil. O documento sugeriu,
no entanto, que os conflitos de interesses que surgem
O documento propôs uma série de definições. A primei- do setor privado com fins lucrativos exigem uma gestão
ra define um conflito de interesses como “um conjunto mais rigorosa que aqueles que surgem exclusivamente
de condições nas quais o julgamento profissional em de outros atores não estatais.
relação a um interesse primário [...] tende a ser inde-
vidamente influenciado por um interesse secundário”.6 O documento de base propôs três indicadores de risco
De acordo com o autor do documento de base, essa defi- para conflitos de interesses reais:
nição se aplica igualmente às pessoas e às instituições.
É importante observar que, segundo essa definição, o • Indicador de alto risco (1): o interesse privado tem
julgamento de um funcionário público ou instituição uma grande capacidade de beneficiar o funcionário/
não precisa ser influenciado por um interesse secundá- instituição.
rio indevido para que haja um conflito; basta que exis-
ta o potencial de uma influência indevida. A definição • Indicador de alto risco (2): o funcionário/institui-
abrange tanto os conflitos de interesses reais como os ção tem uma grande capacidade de afetar o interesse
aparentes. Também especifica que um conflito surge privado.
quando um interesse privado tem o potencial de in-
fluenciar indevidamente o julgamento – em outras pa- • Indicador de alto risco (3): o resultado do processo
lavras, pela introdução de fatores diferentes daqueles é fundamental para a sobrevivência ou o sucesso do
ligados ao interesse público. interesse privado.
O documento também propôs algumas definições mais Também foram propostos quatro indicadores de risco
específicas: para os conflitos de interesses aparentes:
1. Um conflito de interesses real surge quando um
interesse velado tem o potencial de influenciar in- • Indicador de alto risco (1): um interesse privado é
devidamente o julgamento/ação de funcionários ou suficientemente poderoso dentro da economia do
instituições públicas através dos benefícios mone- país a ponto de fazer com que o funcionário/insti-
tários ou materiais que confere ao funcionário ou tuição ceda aos seus desejos mesmo que não acredite
instituição. estar agindo em nome do interesse público.
2. Um conflito de interesses aparente surge quando
um interesse velado tem o potencial de influenciar • Indicador de alto risco (2): um interesse privado é
indevidamente o julgamento/ação de funcionários suficientemente poderoso dentro do sistema de de-
ou instituições através das influências não mone- cisões políticas do país a ponto de ocupar não ape-
tárias ou não materiais que exerce sobre o funcio- nas um papel privado, mas também semipúblico.
nário ou instituição.
3. Um conflito de interesses baseado em resultados • Indicador de alto risco (3): o endosso de uma em-
surge quando um interesse velado, envolvido no presa privada ou de seus produtos por parte de um
processo de elaboração ou implementação de polí- funcionário/instituição é significativo a ponto de
ticas, procura alcançar resultados que são incom- pôr em causa a confiança e a credibilidade pública.
patíveis com o interesse público demonstrável. Isso
se aplica a questões nas quais existe um consenso • Indicador de alto risco (4): o apoio a uma empresa
sobre o interesse público e em que um interesse privada por parte de um funcionário/instituição re-
particular, pela natureza de sua missão, procura al- presenta uma preferência indevida ou favoritismo,
cançar objetivos que estão em contradição com esse uma vantagem indevida no mercado privado.
interesse.
Considera-se que existe um grande risco de conflito de
O documento de base apresentou uma lista de confli- interesses baseado em resultados quando o envolvi-
tos de interesses, concebidos como aqueles represen- mento de uma entidade do setor privado, independen-
tados por interesses financeiros, seja diretamente por temente da existência de um conflito de interesses real
ou aparente, é incompatível com o interesse público,
6 Thompson DF. Understanding financial conflicts of interest. N Engl J Med. como indicado por:
1993;329:573–6.
3
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
• Indicador de alto risco (1): a importância norma- que as definições gerais propostas não eram suficien-
tiva do objetivo das políticas de nutrição materna e temente precisas e que as definições específicas do
infantil, em termos do seu impacto e urgência com documento de base não se conformavam com as práti-
base em um consenso universal. cas jurídicas habituais. Sugeriu-se que seria preferível
definir os conflitos de interesses individuais e institu-
• Indicador de alto risco (2): a existência de padrões cionais separadamente7 e aproveitar outras definições
empíricos, tais como protocolos de pesquisa, ela- existentes.8 Foram expressas algumas preocupações
boração de políticas baseadas em evidências e boas com o fato de que as definições propostas no documen-
práticas de implementação. to de base deixam muita margem para interpretação e
que, embora sejam necessariamente subjetivas, seria
Por último, o documento apresentou uma série de útil torná-las mais categóricas e, sempre que possível,
exemplos de possíveis ferramentas para prevenir ou introduzir um elemento quantitativo (por exemplo, a
gerir os conflitos de interesses. Alguns exemplos de contribuição relativa do financiamento oriundo de uma
abordagens para identificar e prevenir conflitos de in- fonte específica, a importância dos produtos em causa
teresses são: para os negócios de uma empresa em particular).
• Divulgação e transparência, o que envolve a trans- Surgiram três áreas de preocupação específicas:
parência total nos níveis individual e institucional.
• Conflitos de interesses reais e aparentes: houve
• Alienação, no qual a pessoa ou instituição se des- preocupações ligadas à definição de conflitos de in-
faz de qualquer interesse que possa prejudicar o seu teresses reais como aqueles associados a um valor
julgamento profissional (por exemplo, vender ações, monetário ou material, e de conflitos de interesses
doações, presentes recebidos). aparentes como não monetários. Sugeriu-se que
muitos conflitos de interesses não pecuniários são
• Separação de funcionários com interesses confli- “reais”, e não “aparentes”. Os especialistas jurídi-
tantes para impedi-los de se envolverem nas áreas cos presentes na consulta também apontaram que
normativas ou políticas relevantes. muitos dos conflitos de interesses apresentados
como “aparentes” no documento de base seriam
• Impedimento e proibição podem ser utilizados considerados “reais” nas conceptualizações atuais
quando a alienação não é possível; nesses casos, os dos conflitos de interesses.
funcionários podem se retirar ou ser impedidos de
participar de certas decisões regulamentares ou po- • Conflitos de interesses baseados em resultados:
líticas. comentou-se que essa definição proposta – que não
havia sido descrita previamente na literatura e era
Para gerir ou mitigar os conflitos de interesses, nos ca- contrária à prática jurídica – é altamente proble-
sos em que não é possível preveni-los, as abordagens mática. A definição científica foi criticada por espe-
sugeridas são: cialistas jurídicos como incompatível com as ideias
geralmente aceitas sobre conflitos de interesses.
• Pluralismo e diversidade, garantindo a representa- Vários participantes consideraram que esse concei-
ção da mais ampla gama possível de interesses para to não deveria ser introduzido. Uma razão para isso
diluir a influência de atores privados, ou assegurar o é que nem sempre é possível conhecer o resultado
envolvimento de diversas instituições ou funcioná- antecipadamente. Outra é que pode haver confli-
rios nas decisões. tos de interesses que não entram em conflito com
o interesse público. O autor do documento de base
• Sanções, devidamente aplicadas, em casos de vio- respondeu que essa definição destinava-se a com-
lações de diretrizes sobre conflitos de interesses. plementar, e não substituir, o conjunto existente de
Essas podem incluir advertências, multas ou de- definições para situações específicas.
missão.
Sugeriu-se também que as definições fossem amplia-
• É possível criar uma unidade para conflitos de in- das para assegurar a inclusão de conflitos de interes-
teresses para avaliar os interesses, assegurando as- ses indiretos. Um exemplo poderia ser a composição de
sim que a responsabilidade de avaliar se existe um um comitê consultivo que representa uma associação
conflito não recai sobre a pessoa em causa. profissional que recebe financiamento de um interesse
privado.
2.1 Discussão do 7 Lo B, Field MJ, Institute of Medicine (US) Committee on Conflict of Interest in
Medical Research, Education, and Practice, editores. Conflict of interest in medical
documento de base 8
research, education and practice. Washington (DC): National Academies Press;
2009.
OECD guidelines (Managing conflict of interest in the public service – OECD
guidelines and country experiences. Paris: Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico; 2003); Normas de conducta de la administración
2.1.1 Definições pública internacional (Comisión de Administración Pública Internacional, ONU.
Nova York (NY): Nações Unidas; 2013 (https://icsc.un.org/resources/pdfs/general/
standardsS.pdf, acessado em 8 de maio de 2016, disponível em espanhol); Peters
A, Handschin L, editors. Conflicts of interest in global, public and corporate
Houve muitas discussões sobre as definições propostas. governance. Cambridge: Cambridge University Press; 2012; Rodwin MA. Conflicts
Foram expressas algumas preocupações com o fato de of interest and the future of medicine: The United States, France and Japan. Nova
York (NY) e Oxford: Oxford University Press; 2011; Rodwin MA. Medicine, money and
morals: physicians’ conflicts of interest. Nova York (NY) e Oxford: Oxford University
Press; 1993
4
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Acrescentou-se também que seria útil apresentar uma reconheceu-se que a opção preferencial é recusar qual-
definição de viés intelectual. quer presente.
5
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
os conflitos de interesses desde o início e então tomar É importante observar que os conflitos de interesses
medidas para evitá-los. Essa sempre deve ser a opção podem afetar órgãos governamentais e agências inter-
preferencial. governamentais como um todo, e não apenas funcio-
nários individuais. Foi proposto que a prioridade deve
Observou-se que o setor privado não inclui apenas em- ser avaliar e resolver os conflitos de interesses insti-
presas de alimentos e bebidas; também inclui empresas tucionais. Houve muitas discussões sobre a crescente
farmacêuticas e de tecnologia médica – todas as quais dependência das parcerias público-privadas (PPPs), o
se beneficiam de uma fraca regulamentação da nutrição que reflete o contexto econômico e político das últimas
ou de altas taxas de doenças relacionadas com a nutri- décadas. Do ponto de vista de alguns participantes, es-
ção, bem como da utilização de produtos ou serviços sas parcerias, além de criarem conflitos de interesses,
para tratá-las. podem minar a independência e a integridade, bem
como a confiança pública, devido à reciprocidade sutil
Os empreendedores filantrópicos (venture philantro- que decorre dessas relações. As parcerias também po-
pists), por exemplo, são interesses privados e podem dem exercer uma influência profunda sobre as pautas
ter um interesse financeiro na nutrição. e prioridades de saúde pública das agências governa-
mentais. As interações dentro dessas parcerias podem
Foi reconhecido que o objetivo é resolver a questão em comprometer a integridade e a confiança pública, tendo
diferentes contextos – das situações em que há influên- um impacto importante sobre as prioridades de saúde
cias indevidas sobre profissionais da saúde individuais, pública das agências governamentais, não através da
ou as suas associações, àquelas nas quais as influências coerção, e sim por uma série de atos de reciprocidade
indevidas afetam as políticas governamentais. Foi su- sutil.10 Foi proposto que é necessário estabelecer um
gerido que esse último tipo de influência – sobre as po- quadro jurídico para regulamentar tais parcerias.
líticas – consiste, na verdade, em lobby e exercício de
poder político e deve ser explicitamente exposto como Foram reconhecidos os desafios reais em campo. Os
tal. Foram expressas algumas preocupações com o fato decisores políticos que tentam ajudar as comunidades
de que o lobby foi apresentado como uma atividade le- mais pobres enfrentam um verdadeiro dilema quando
gítima no documento de base. recebem ofertas de apoio da indústria alimentar ou far-
macêutica. Além disso, embora o foco estivesse posto
Existe a necessidade de explicar claramente as diferen- nos conflitos de interesses no setor da saúde, na reali-
ças entre “conflitos de interesses” e aquilo que, segun- dade, muitas decisões políticas envolvem todo o gover-
do alguns especialistas, seria preferível chamar de in- no de forma transversal. Podem ocorrer interferências
teresses “conflitantes” ou “divergentes”.9 Os conflitos de outros ministérios – que não têm as mesmas preo-
de interesses são conflitos “dentro” de uma pessoa ou cupações em relação a um tema em particular.
instituição – isso é, entre o seu interesse primário e ou-
tro interesse, secundário –, e não conflitos entre atores Foi sugerido que, nas orientações aos Estados-Mem-
que têm diferentes interesses ou deveres fiduciários. bros, a linguagem deve ser mais neutra, fazendo re-
Também existe a necessidade de reconhecer que muitas ferência a “interesses”, “interesses pessoais” ou “in-
vezes existem ideias divergentes sobre o que constitui teresses financeiros” em vez de “interesses velados”
o interesse público e que a avaliação do interesse pú- – uma vez que a conotação negativa da expressão “in-
blico precisa ter uma visão de longo prazo e olhar para teresses velados” não ajuda no debate sobre políticas
além de uma definição restrita ou padronizada do ter- para os conflitos de interesses. Além disso, a maneira
mo. Enfatizou-se que as empresas utilizam estratégias habitual de analisar conflitos de interesses não empre-
de influência e que devemos deixar claro para os Esta- ga o termo “interesses velados”.
dos-Membros que a regulamentação dos conflitos de
interesses é um elemento essencial, mas não é o único No entanto, também foi enfatizado que os debates so-
componente nas estratégias que os governos devem bre a linguagem dos conflitos de interesses não devem
empregar para lidar com essas influências. Os governos distrair os Estados-Membros da tarefa de lidar com as
precisam de estratégias abrangentes para combater a principais preocupações que o conceito procura abor-
influência da indústria, a fim de proteger a sua inde- dar.
pendência, integridade e credibilidade.
9 Peters A, Handschin L, editors. Conflicts of interest in global, public and corporate 10 Marks JH. Toward a systemic ethics of public-private partnerships related to food
governance. Cambridge: Cambridge University Press; 2012:4–6, 363. and health. Kennedy Institute of Ethics Journal. 2014;24(3):267–99.
6
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
7
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
8
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
3. Amamentação
A segunda sessão da consulta concentrou-se nos con- ção. A fim de acompanhar o progresso no sentido dos
flitos de interesses que podem surgir em relação à pro- objetivos de nutrição – incluindo a amamentação – foi
moção, proteção e apoio da amamentação. estabelecido um Quadro de Monitoramento Global para
a Nutrição Materna, de Lactentes e Crianças Peque-
nas.13 Em relação à amamentação, foram estabelecidos
3.1 Apresentação de indicadores sobre nascimentos em hospitais amigos da
criança, aconselhamento sobre a amamentação, regu-
especialista da OMS lamentação da comercialização de substitutos do leite
materno e proteção da maternidade.
Para estabelecer o contexto, o Dr. Laurence Grummer-
-Strawn, do Departamento de Nutrição para a Saúde e o
Desenvolvimento da OMS, apresentou as intervenções 3.2 Apresentação de
recomendadas pela OMS para a proteção, promoção e
apoio à amamentação. especialista externa
Uma das metas globais de nutrição é aumentar a taxa A Dra. Lida Lhotska fez uma apresentação sobre algu-
de amamentação exclusiva nos primeiros seis meses a mas das questões ligadas aos conflitos de interesses na
pelo menos 50%. Essa é uma meta importante por ra- proteção, promoção e apoio à amamentação.
zões de saúde, economia e sustentabilidade.
Uma das principais ferramentas para a prevenção de
As principais prioridades são estabelecidas em um do- conflitos de interesses é o Código Internacional de Co-
cumento político da OMS sobre amamentação.11 São mercialização de Substitutos do Leite Materno (o Có-
elas: digo),14 adotado em 1981, e resoluções subsequentes da
Assembleia da Saúde a esse respeito. O Código é uma
• limitar significativamente o marketing agressivo e norma mínima que se aplica a todos os substitutos do
inadequado de substitutos do leite materno; leite materno em todos os países, independentemen-
te de ter sido transposto para a legislação nacional, e
• fortalecer, revitalizar e institucionalizar práticas de é vinculativo para os países e os fabricantes. No en-
acordo com a Iniciativa Hospital Amigo da Criança12 tanto, há evidências generalizadas de que as empresas
em unidades de saúde que prestam serviços de ma- quebram as regras e de que as estratégias corporativas
ternidade; evoluem constantemente para resistir a medidas juri-
dicamente vinculativas.15
• promulgar leis que garantam seis meses de licença
maternidade obrigatória e políticas que incentivem Em relação à alimentação de lactentes e crianças pe-
as mulheres a amamentar no local de trabalho; quenas, os conflitos de interesses devem ser evitados
em múltiplos níveis por profissionais da saúde e suas
• assegurar que as mulheres se beneficiem de visitas associações, funcionários do governo e seus departa-
domiciliares, grupos de apoio e contatos pré-natal e mentos. As interações com fabricantes de alimentos
pós-parto; para bebês podem levar à perda de independência, in-
tegridade, confiabilidade e credibilidade.
• estabelecer estratégias de comunicação para au-
mentar a conscientização e o apoio à amamentação Tanto o Código (e suas alterações pelas subsequentes
exclusiva. resoluções da Assembleia da Saúde)16 como a Estraté-
9
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
10
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Foi criada uma série de iniciativas e instrumentos para • Os conflitos de interesses podem ocorrer em todos
ajudar a resolver os conflitos de interesses. Um avanço os níveis: nacional e internacional, no meio acadê-
foi o uso das redes sociais para monitorar e denunciar mico e nas entidades decisórias, em instituições e
violações do “Código do Leite”. Outro avanço foi a cria- pessoas.
ção de um contrato legal que estabelece as regras de co-
laboração com o setor privado, como parte da parceria • O patrocínio da indústria ocorre em diferentes ní-
do Conselho Nacional para a Nutrição, do Departamen- veis do sistema de saúde: na educação médica (in-
to de Saúde, com a mídia. Essas regras proíbem os par- cluindo a pediatria e outras especialidades), no
ceiros da mídia de formarem parcerias com fabricantes funcionamento de associações profissionais, entre
de substitutos do leite materno, refrigerantes, álcool profissionais da saúde que trabalham na linha de
e cigarros. O Código de Conduta e Normas Éticas para frente dos cuidados de saúde, nas instituições de
Funcionários e Empregados Públicos obriga os funcio- saúde (renovação, equipamentos, insumos).
nários a se demitirem ou se desfazerem de ações nos
casos em que haja conflitos de interesses e os proíbe de • A indústria é frequentemente envolvida na elabo-
aceitar presentes. Os Regulamentos e Normas Revistos ração de políticas e normas: através da participação
do Código do Leite também contêm várias disposições em comitês que estabelecem normas e organismos
para evitar conflitos de interesses (por exemplo, proi- consultivos governamentais, da participação em
bindo as empresas de se envolverem com o sistema de delegações nacionais para o Codex Alimentarius, da
saúde, assegurando que a pesquisa não tenha influên- influência sobre a definição da agenda política, do
cias comerciais, excluindo as empresas dos processos envolvimento de especialistas em organismos con-
decisórios e de elaboração de políticas etc.). Outro ins- sultivos da indústria.
trumento é a política para as PPPs, que coloca grande
ênfase na transparência, responsabilidade e boa gover- • Whitewashing/greenwashing são estratégias que
nança, estabelecendo normas para as práticas. Final- o setor privado utiliza para melhorar a imagem de
mente, foi criado um selo de transparência como um empresas e obter o endosso implícito do governo
mecanismo para promover a abertura e a prestação de através do financiamento de bens públicos, doações,
contas pelo governo. responsabilidade social corporativa etc.
As lições aprendidas nas Filipinas incluem a necessi- • Outras formas de patrocínio pela indústria ocor-
dade de uma compreensão adequada da legislação para rem por meio de programas esportivos/educativos,
a sua correta interpretação e uma implementação mais peregrinações religiosas, clubes de mães, progra-
forte. O envolvimento de um funcionário responsável mas de pesquisa do governo, materiais educativos e
por defender a amamentação ajuda a reduzir os con- eventos em escolas.
flitos de interesses. Foi demonstrado que a exigên-
cia de que as empresas busquem aprovação prévia por • A indústria obtém o endosso dos seus produtos por
escrito para as suas atividades de marketing constitui associações profissionais.
uma prática eficaz quando as empresas cumprem esse
requisito. Por fim, o monitoramento dos conflitos de
interesses depende da honestidade e integridade das
pessoas envolvidas.
12
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
13
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
• A indústria exerce influências indevidas sobre ou- • Integrar um processo de certificação para institui-
tros grupos (como organizações comunitárias). ções “amigas do lactente” no processo de acredita-
ção da saúde pública.
3.5.2 Ferramentas de prevenção e gestão
• Utilizar e/ou aprender com os instrumentos e as
Os grupos de trabalho descreveram uma série de ferra- ferramentas existentes (por exemplo, a Estratégia
mentas existentes e potenciais e fizeram as seguintes Global sobre Alimentação de Lactentes e Crianças
sugestões: Pequenas, o Código Internacional de Comercializa-
ção de Substitutos do Leite Materno e a Convenção-
• Desenvolver um quadro jurídico que envolva o mo- -Quadro para o Controle do Tabaco24).
nitoramento, normas vinculativas e sanções.
• Assegurar a proteção efetiva dos denunciantes e in-
• Desenvolver uma política escrita sobre conflitos troduzir regras pós-emprego para lidar com o pro-
de interesses e um código de conduta (para espe- blema das “portas giratórias” entre o governo e a
cialistas, profissionais, membros da comunidade indústria.
científica) que definam normas de comportamento.
A política exigiria que especialistas em comitês de- • Promover a capacitação para melhorar a compreen-
clarassem seus interesses e consideraria permitir a são e a capacidade de monitorar e executar as nor-
participação da indústria em comitês como obser- mas nos Estados-Membros.
vadores técnicos, sendo vedada a sua participação
em certas discussões. • Aumentar o financiamento público para a pesquisa e
o desenvolvimento de políticas.
• Utilizar a exposição na mídia para promover a cons-
cientização e estabelecer uma cultura que estigma- 3.5.3 Exemplos de práticas adicionais
tize as táticas empresariais para exercer influências nos países
indevidas.
Foram mencionados dois exemplos adicionais de prá-
• Promover a discussão em fóruns regionais e globais. ticas nacionais:
14
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
15
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
16
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
4. Fortificação e
reformulação
A terceira sessão explorou os conflitos de interesses
nas questões da fortificação com micronutrientes e da
4.2 Apresentação de
reformulação dos alimentos para reduzir os teores de especialista externo
gordura, açúcares ou sal.
O Dr. Greg S. Garrett apresentou alguns dos possíveis
conflitos de interesses e suas implicações para os pro-
4.1 Apresentação de gramas de fortificação de alimentos.
Foi esclarecido que os doadores que ofereceram apoio Os resultados adversos que podem resultar dos con-
financeiro a esse trabalho não financiam diretrizes es- flitos de interesses incluem o questionamento ou a
pecíficas nem participam de nenhuma decisão relacio- resistência à fortificação obrigatória pela indústria, a
nada com o processo de desenvolvimento de diretrizes. rotulagem fraudulenta (de produtos que não cumprem
17
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
as normas de fortificação), a falta de envolvimento dos governos devem proteger as políticas de influências
governos com a indústria para discutir as mudanças, a indevidas por qualquer tipo de interesse velado. As re-
relutância dos governos em multar as empresas pelos comendações preliminares em relação à nutrição espe-
casos de incumprimento ou de tornar a regulamentação cificam que os governos devem exigir compromissos
mais rigorosa e a perda de oportunidades para utilizar claros, com prazos definidos, dos fornecedores de ali-
os canais de distribuição. No caso da fortificação volun- mentos para reformularem os alimentos processados a
tária, um dos riscos é que a fortificação seja usada prin- fim de reduzir os teores de sal, açúcar, gorduras satura-
cipalmente como uma abordagem para gerar lucro com das e gorduras trans.
os consumidores mais abastados, ignorando os grupos
mais pobres, que estão sob maior risco de sofrer defi-
ciências de micronutrientes. Também existe o risco de 4.4 Discussão
que certas empresas privadas procurem se beneficiar de
um “efeito halo” ao receberem o endosso de organiza- Foi expressa uma preocupação mais ampla com o im-
ções públicas ou agências técnicas. pacto dos conflitos de interesses sobre a arquitetura de
governança para a saúde global, particularmente atra-
vés das parcerias que envolvem múltiplas partes inte-
4.3 Apresentação de ressadas.
O MCG é um mecanismo liderado pelos Estados-Mem- Foram expressas grandes preocupações com o fato de
bros que visa facilitar e melhorar a coordenação de ati- que as estratégias de fortificação nem sempre cumprem
vidades, a participação de múltiplas partes interessadas a sua promessa e com a falta de capacidade dos gover-
e ações para implementar o Plano de Ação Global para nos para implementar, monitorar e executar as polí-
Prevenção e Controle das DNTs 2013-2020.26 ticas, o que é um grande problema nos programas de
fortificação e reformulação. As políticas não têm efeito
Foi estabelecido um grupo de trabalho sobre como cum- algum se não houver capacidade de implementação, o
prir os compromissos dos governos para colaborar com que está ligado à necessidade de que os países fortale-
o setor privado na implementação do plano de ação. A çam e invistam em recursos humanos para a saúde, de
ênfase é assessorar os governos nacionais. modo que os atores envolvidos sejam responsabiliza-
dos. Um outro possível problema é que os programas de
As principais conclusões do grupo de trabalho ainda fortificação obrigatória podem prejudicar os pequenos
estão sendo finalizadas, mas provavelmente apontarão produtores e as economias alimentares locais.
para a necessidade de esclarecer qual deve ser a con-
tribuição das diferentes entidades privadas e de uma Em relação ao MCG, perguntou-se se o grupo de traba-
abordagem muito mais criteriosa sobre seus papéis. A lho considerou recomendar aos produtores de alimen-
necessidade de que os governos protejam os interes- tos locais que aumentem a diversidade dietética e redu-
ses de saúde pública de influências indevidas também zam a dependência de alimentos processados ricos em
deverá surgir como uma das principais mensagens, gordura, açúcar ou sal (HFSS, na sigla em inglês). Foi
juntamente com o reconhecimento de que é preciso ga- esclarecido que o mandato do grupo de trabalho era o de
rantir que não existam conflitos de interesses diretos se concentrar nos alimentos HFSS; por isso, a impor-
antes de permitir que muitas entidades do setor privado tante questão da diversidade dietética e dos alimentos
participem da prevenção de DNTs. Deve ser cumprida locais não foi realmente considerada.
uma série de pré-requisitos essenciais antes de qual-
quer envolvimento com o setor privado, incluindo um Também foi esclarecido que nenhum representante da
mecanismo para lidar com os conflitos de interesses. indústria esteve envolvido nos grupos de trabalho do
As recomendações preliminares reconhecem que os MCG.
18
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
19
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
4.5 Estudos de casos dos ram apresentadas como um estudo de caso. Exis-
tem diversas etapas num processo como esse onde
países os conflitos de interesses podem ser abordados.
2. Base científica sólida para a ação – os conflitos de
Foram apresentados breves estudos de casos para dar interesses podem ser minimizados estabelecendo-
um panorama das experiências de três países – Vietnã, -se claramente o caso científico e de saúde com base
Canadá e França – sobre os conflitos de interesses liga- em análises científicas e/ou painéis de especialistas
dos à fortificação e à reformulação. científicos, sem a participação da indústria.
3. O mandato para a ação pode ser reforçado pelo uso
Vietnã (Dr. Mai Bach Le) de defensores da causa (por exemplo, fortes defen-
sores da saúde pública e alguns representantes da
A fortificação de alimentos é uma das estratégias utili- indústria) e uma combinação de interesses diferen-
zadas para tratar as deficiências de micronutrientes no tes que promovam compromissos políticos.
Vietnã. Existem alguns produtos no mercado que são 4. Passar dos conhecimentos para a ação – desenvol-
voluntariamente fortificados com vitamina A ou sal io- ver a estratégia:
dado, juntamente com alguns alimentos complemen- a. Gerir os conflitos de interesses envolvendo os
tares fortificados com micronutrientes. A fortificação principais atores; por exemplo, garantindo o
de molho de peixe com ferro era muito prevalente, mas envolvimento dos decisores (presidentes, vice-
agora é menos comum depois que foi interrompida a -presidentes, diretores).
oferta gratuita da pré-mistura aos fabricantes. Além b. Equilibrar a participação entre representantes
disso, desde 1998, a farinha importada deve ser fortifi- da indústria e outros.
cada com zinco e vitaminas do grupo B. Os fabricantes c. Estabelecer termos de referência bem defini-
de outros produtos, como refrigerantes, usam a forti- dos, com um claro mandato, objetivo e indi-
ficação com vitaminas e minerais para alegar que seus cadores a serem utilizados. O ideal é que esses
produtos são benéficos à saúde. sejam predefinidos e não possam ser renego-
ciados.
Há uma série de questões ligadas a conflitos de inte- d. Garantir o apoio administrativo – por exemplo,
resses – conflitos entre grandes, pequenas e médias através de um facilitador experiente e regras de
empresas, entre a saúde da população e os interesses comportamento claras para os participantes.
da indústria e entre o desenvolvimento social e padrões e. Estabelecer fases de trabalho bem definidas
de qualidade (incluindo a ausência ou a má qualidade (preparação, avaliação, desenvolvimento e im-
das instalações e tecnologias para a garantia de quali- plementação da estratégia). Na experiência ca-
dade) – que favorecem as grandes empresas e afetam a nadense, o grupo de trabalho não foi autorizado
qualidade dos produtos fortificados e a capacitação das a considerar soluções juridicamente vinculati-
empresas. vas e foi dissolvido por líderes políticos antes
que a fase de implementação pudesse começar.
As normas técnicas sobre o sal iodado e a farinha de tri- 5. Os mecanismos de ação e implementação podem
go fortificada foram ratificadas em 2011. Atualmente, ser importantes – por exemplo, comparações in-
não há nenhum decreto governamental que exija a for- ternacionais podem ajudar a estabelecer uma com-
tificação de alimentos e sal iodado, nem normas para preensão clara de onde reside o problema (quais
lidar com a violação das normas técnicas sobre a forti- alimentos ou setores).
ficação, mas existem planos para reforçar a legislação. 6. Instrumentos preferenciais – as ações do governo
Um dos desafios é que existem muitas pequenas e mé- incluem ações regulatórias, ações não regulatórias
dias indústrias, e nem todas possuem as instalações e que exigem a colaboração, políticas de compras pú-
as tecnologias necessárias para assegurar a qualidade. blicas e o desenvolvimento de normas comuns com
Outro problema é que a maioria das fábricas ainda não base em normas desenvolvidas nas províncias, re-
está pronta para a fortificação, e faltam informações giões ou estados.
sobre a fortificação de farinhas. Estão sendo feitos es- 7. Iniciativas conjuntas entre o governo e a indústria
forços para melhorar o monitoramento externo e refor- podem ser eficazes, tais como campanhas de mar-
çar a vigilância, e foram feitas propostas para reforçar a keting social e publicação de relatórios para docu-
informação e educação, a defesa da causa e as análises mentar a experiência.
de mercado e de situação. 8. Ciência, mídia e política – os conflitos de interesses
precisam ser reconhecidos e geridos em todas essas
Em conclusão, a fortificação de alimentos é uma boa três áreas.
abordagem para enfrentar as deficiências de micronu- 9. Monitoramento transparente e progresso susten-
trientes existentes no Vietnã, mas existem conflitos de tado – a publicação dos resultados pode ser eficaz
interesses. A legislação, o monitoramento e atividades para motivar as mudanças e assegurar a sustenta-
de informação, educação e comunicação serão impor- bilidade do progresso.
tantes na solução desses conflitos de interesses.
França (Dr. Michel Chauliac)
Canadá (Dra. Mary L’Abbé)
Como um dos elementos da política nacional de nutri-
1. As experiências de um recente grupo de trabalho ção francesa, a estratégia de reformulação visa diminuir
sobre a redução dos teores de sódio no Canadá fo- a ingestão de sal, açúcares, gordura, ácidos graxos sa-
20
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
21
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
turados e ácidos graxos trans. Ao mesmo tempo, o ob- É importante dedicar tempo para a capacitação e para
jetivo é aumentar a ingestão de fibras, carboidratos e melhorar a compreensão dos conflitos de interesses
ácidos graxos ômega 3. Essa abordagem difere de outras nos Estados-Membros. Há bons exemplos nacionais
estratégias de reformulação que, em geral, se concen- que podem servir como base – como o Brasil e a França
tram mais em um único nutriente ou ingrediente. –, além de exemplos de ferramentas como a Conven-
ção-Quadro da OMS para o Controle do Tabaco. Há al-
Nessa abordagem, o governo francês define as regras gumas preocupações com o fato de que a nutrição está
para a reformulação, e o setor privado pode então optar se movendo em direção a um modelo muito farmacêu-
por participar de forma voluntária. A iniciativa conjun- tico ou a uma abordagem biomédica, potencialmente às
ta dos Ministérios da Saúde, da Agricultura e da Eco- custas de outras abordagens.
nomia estabeleceu cartas voluntárias de compromissos
com as melhorias nutricionais. O setor público propôs Também é importante reconhecer o papel da corrupção
e controlou os compromissos através de um documento sistêmica, que exerce influências indevidas sobre ser-
de referência padrão. vidores públicos, e reconhecer que muitos países não
contam com normas sobre contribuições financeiras a
Um elemento importante a ser observado é o fato de candidatos políticos, partidos políticos e governantes
que o governo tem que aprovar os compromissos pro- eleitos.
postos pela indústria. As melhorias propostas devem
incluir pelo menos dois terços do volume da produção
que pode ser melhorada em cada empresa. Uma orga- 4.7 Segunda sessão de
nização independente realiza avaliações anuais. Um
comitê de especialistas do setor público avalia as pro- grupos de trabalho:
postas e examina as avaliações anuais.
fortificação e reformulação
As empresas participantes estão autorizadas a utili-
zar uma declaração (“empresa envolvida em um pro- A segunda sessão de grupos de trabalho envolveu qua-
cesso de melhoria nutricional incentivado pelo Estado tro grupos que identificaram possíveis conflitos de
[PNNS]”) em alguns materiais da empresa. interesses relacionados à fortificação e/ou à reformu-
lação, descreveram ferramentas de prevenção ou de
Depois de oito anos, só foram assinados 35 compro- gestão existentes e potenciais e apresentaram novos
missos. No entanto, esses compromissos representam estudos de casos nacionais. As conclusões combinadas
os grandes fabricantes, tendo sido feito progresso na dos quatro grupos são resumidas abaixo.
redução dos teores de sal, açúcares e gorduras dos ali-
mentos. A iniciativa não teve impactos negativos sobre 4.7.1 Identificação de possíveis conflitos
os consumidores ou os lucros das empresas. Embora os de interesses
resultados de saúde pública ainda sejam insuficientes,
os benefícios são distribuídos por todos os estratos so- • O setor privado influencia o enquadramento políti-
ciais. co do problema e a escolha das respostas políticas
adequadas (no âmbito nacional e internacional) nas
seguintes áreas: dependência de fundos privados;
4.6 Discussão investimento e priorização da pesquisa; pressu-
postos subjacentes; escolha de especialistas, con-
Mais uma vez, surgiu a mensagem clara de que a pre- sultores e pesquisadores; parcerias ou doadores que
venção é preferível à gestão dos conflitos de interesses. promovem a fortificação quando não é necessária;
Isso é particularmente importante em certas fases do despriorização de soluções de médio e longo pra-
processo político – especialmente quando as normas e zo; fundações privadas que negociam e incentivam
padrões estão sendo definidos. A prevenção e a gestão abordagens de autorregulamentação.
devem ser vistas como etapas separadas, e a gestão só
deve ser uma opção em circunstâncias específicas, jun- • O setor privado influencia as decisões governamen-
tamente com as penalidades e sanções, quando a pre- tais e o clima político global. A falta de independên-
venção não é possível. cia dos consultores na área da fortificação pode pre-
judicar a confiança e a integridade. A independência
Foi sugerido que o termo “partes interessadas” seja da pesquisa é importante, pois as decisões devem
substituído por “atores”, o que deixa margem para ser baseadas em evidências científicas.
decidir se há espaço para atores do setor privado no
processo. É preciso deixar claro aos Estados-Membros • Estabelecer mecanismos mais fortes de proteção
que um compromisso com a inclusão não significa que contra os conflitos de interesses no âmbito do Codex
todos os atores não estatais devem ser envolvidos em Alimentarius.
todas as áreas políticas. Por outro lado, foi sugerido que
é razoável evitar o envolvimento com o setor privado • Áreas de risco: estabelecimento de normas, avalia-
a menos que existam razões convincentes de interesse ção de déficits (por exemplo, determinar a neces-
público para justificar tal envolvimento. Quando isso sidade de fortificação no país como um todo), ava-
acontecer, são necessárias regras claras de proteção liação de opções (por exemplo, fortificação versus
contra os conflitos de interesses. outras intervenções para a nutrição).
22
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Os grupos de trabalho descreveram uma série de ferra- • Estabelecer indicadores de desempenho, diretrizes e
mentas existentes e potenciais e fizeram as seguintes requisitos claros. Criar um órgão independente para
sugestões: definir tais requisitos, com autoridade para fazê-lo.
Introduzir processos de certificação que sejam veri-
• A ênfase deve ser posta em estratégias de preven- ficados, independentes e sem conflitos.
ção, e não na gestão dos conflitos de interesses.
• Estabelecer mecanismos de responsabilização ba-
• Adaptar a estratégia para a prevenção de confli- seados no elogio às boas práticas e na denúncia das
tos de interesses ao contexto político nacional (por más práticas.
exemplo, enfatizar uma abordagem regulamentar
ou tendências de desregulamentação). • Estabelecer quadros claros de colaboração e orien-
tações práticas para o envolvimento dos setores pú-
• Estabelecer um processo que proteja a elaboração blico e privado (se e como se envolver; acordo prévio
de políticas pelo governo da interferência do setor sobre os objetivos).
privado, garantindo que os governos sejam respon-
sáveis por definir as regras (incluindo as sanções) e • Utilizar ferramentas de transparência, como os re-
que não haja a participação de múltiplas partes in- gistros obrigatórios para lobistas privados e deta-
teressadas no processo de definição de normas. Nas lhes sobre as suas comunicações com funcionários
situações em que seja necessária uma abordagem do governo; exigir a transparência em todas as in-
com múltiplas partes interessadas, assegurar um terações governo-indústria e usar sistemas online
equilíbrio de poder favorável aos representantes do para transações (por exemplo, pedidos e processa-
interesse público (por exemplo, assegurando que os mento do registro de produtos, consultas públicas,
representantes da indústria não tenham direito de reuniões, registros de comentários oficiais, publica-
voto nem meios para prejudicar o consenso). Ins- ção de transcrições literais de reuniões entre funcio-
tituições e fundações privadas influenciadas pela nários do governo e atores não estatais, transmissão
indústria, com investimentos em produtos e ser- de webcasts e arquivos de vídeo das consultas entre
viços regulamentados pelos governos, não devem múltiplas partes interessadas etc.).
fornecer financiamento ou participar na definição
de normas ou prioridades nem na execução de pro- 4.7.3 Exemplos de práticas adicionais
gramas. O governo deve estabelecer regras claras nos países
para comitês de especialistas, a fim de assegurar o
interesse público. Foram destacados os seguintes exemplos:
23
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
24
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
5. Excesso de peso
na infância
A quarta sessão explorou conflitos de interesses envol- • Apoiar a pesquisa sobre as causas básicas do sobre-
vidos na prevenção do excesso de peso na infância. peso e da obesidade, incluindo mudanças no sistema
alimentar, a disponibilidade de alimentos saudáveis
e estratégias que assegurem a oferta, ao longo de
5.1 Apresentação de todo o ano, de alimentos que atendam às necessi-
dades nutricionais das pessoas e promovam dietas
especialista da OMS saudáveis, seguras e diversificadas.
A Dra. Chizuru Nishida, do Departamento de Nutrição • Criar um ambiente favorável que promova ações pú-
para a Saúde e o Desenvolvimento da OMS, apresen- blicas para evitar o sedentarismo desde os primeiros
tou um panorama das intervenções recomendadas pela estágios da vida.
OMS para a prevenção do sobrepeso e da obesidade in-
fantil. As recomendações foram retiradas do Relatório Exemplos de ações para assegurar a exposição nos pri-
de Síntese sobre Sobrepeso na Infância.28 meiros anos de vida ao bem-estar nutricional incluem
a oferta de subsídios direcionados a alimentos nutriti-
O documento prioriza cinco ações: vos para mulheres desfavorecidas e vulneráveis antes,
durante ou após a gravidez e a melhoria das práticas
• Desenvolver políticas públicas coerentes, da produ- de alimentação de lactentes e crianças pequenas (por
ção ao consumo e em todos os setores relevantes, exemplo, pela implementação do Código). Ações para
para assegurar uma alimentação saudável ao longo melhorar o ambiente escolar incluem a implementa-
de toda a vida. ção de normas alimentares e subsídios para refeições
saudáveis em todas as escolas, a remoção de incenti-
• Assegurar a disponibilidade de Diretrizes Dietéticas vos para práticas alimentares pouco saudáveis (como as
Baseadas em Alimentos (FBDGs, na sigla em inglês) máquinas automáticas que vendem lanches e bebidas),
aprovadas no âmbito nacional para todas as faixas o fornecimento de água potável e a regulamentação
etárias. para controlar a disponibilidade de restaurantes de fast
food perto de escolas. As diversas ações para melho-
• Tomar medidas para lidar com a exposição no início rar o ambiente na comunidade e as normas sociais in-
da vida, para melhorar o estado nutricional e os pa- cluem o desenvolvimento de FBDGs, a informação dos
drões de crescimento (melhorar a compreensão do consumidores, a regulamentação do marketing voltado
crescimento infantil adequado, melhorar o sistema às crianças e a cobrança de impostos sobre alimentos
alimentar para promover práticas alimentares sau- HFSS e bebidas açucaradas.
dáveis ao longo de toda a vida, regulamentar a co-
mercialização de alimentos e bebidas não alcoólicas
para crianças e regulamentar a comercialização de
alimentos complementares).
25
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Brasil (Dr. Fábio Gomes) O México tem uma estratégia para a prevenção e o con-
trole do sobrepeso, da obesidade e do diabetes. As três
O excesso de peso pode ser uma expressão da má nutri- principais áreas da estratégia são intervenções de saú-
ção resultante de sistemas alimentares pouco saudáveis de pública, intervenções médicas e políticas (incluindo
e insustentáveis. A chave da abordagem brasileira para medidas fiscais).
evitar conflitos de interesses em relação à prevenção
26
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Foram encontrados conflitos de interesses desde o iní- cimento da integridade pode ser visto como um confli-
cio do processo político – nas fases de concepção, im- to de interesses e afetar a credibilidade da instituição
plementação e avaliação das políticas. O Ministério da pública em questão.
Saúde recebeu uma oferta de financiamento do setor
privado para estabelecer um programa de educação,
mas recusou o financiamento. 5.4 Discussão
Existem diretrizes legais de alimentação escolar, sobre Houve algumas discussões sobre o patrocínio dos Jogos
as quais os interesses privados têm procurado exercer Olímpicos por empresas de alimentos e bebidas. Os paí-
influência. Tem havido esforços por parte da indústria ses anfitriões não têm a verdadeira capacidade de ques-
das bebidas açucaradas para fornecer água nas escolas. tionar essas decisões de patrocínio em fases posteriores,
Foram feitos trabalhos de conscientização junto às au- mas o Brasil vai tentar promover alimentos agroecológi-
toridades escolares para incentivá-las a rejeitar qual- cos locais durante os Jogos do Rio de Janeiro. A Iniciativa
quer financiamento, presente ou doação da indústria de Nutrição para o Crescimento (Nutrition 4 Growth)29 irá
alimentos e bebidas. A comunidade escolar deve ter po- se reunir no Rio em 2016, na época dos Jogos Olímpicos,
der de decisão para rejeitar a participação da indústria e o comitê organizador pretende evitar o patrocínio de
nas decisões sobre a alimentação saudável nas escolas, empresas multinacionais de alimentos e bebidas.
e devem ser implementadas sanções para as autorida-
des educacionais que não cumprirem as diretrizes.
5.5 Terceira sessão de
A estratégia também inclui melhorias na rotulagem
de alimentos, com a rotulagem obrigatória na frente grupos de trabalho:
da embalagem e a introdução de um selo de qualida-
de nutricional opcional para alimentos com densidade
excesso de peso na infância
calórica baixa e média que atendem aos padrões nu-
tricionais. Dos 532 pedidos para a utilização do selo de Na terceira sessão de grupos de trabalho, os grupos
qualidade, só 32 foram aceitos. O selo destina-se a in- foram convidados a identificar possíveis conflitos de
centivar a reformulação, embora algumas categorias – interesses associados com a prevenção do sobrepeso
refrigerantes, chocolates, confeitaria e lanches – nunca e da obesidade na infância, a descrever as ferramentas
possam obtê-lo. de prevenção ou de gestão existentes e potenciais e a
apresentar estudos de casos adicionais dos países. As
Outra medida é a introdução de restrições legais à pu- conclusões combinadas dos quatro grupos são resumi-
blicidade de alimentos e bebidas voltada a crianças na das abaixo.
televisão e nos cinemas. As dificuldades geradas pelo
marketing na Internet, nas redes sociais e na televisão a 5.5.1 Identificação de possíveis conflitos
cabo ainda persistem, juntamente com o marketing em de interesses
espaços e programas para adultos que também são vis-
tos por crianças (como novelas e eventos esportivos ). • Potencial indesejável de que fundações filantrópicas
financiadas ou dirigidas pela indústria e/ou pelo se-
O último elemento destacado foi o imposto sobre be- tor privado influenciem as prioridades e a escolha de
bidas açucaradas, bebidas energéticas e alimentos não abordagens políticas.
essenciais de alto teor calórico, introduzido em 2014.
Os resultados preliminares sugerem uma redução mé- • Liberalização do comércio movida por interesses
dia de 6% nas compras de bebidas tributadas em 2014 comerciais diante de governos enfraquecidos.
em comparação com os níveis anteriores à tributação,
que pode ter aumentado a 12% em dezembro de 2014, • Reformulação da questão pelo setor privado: isso
chegando a 17% em domicílios de menor nível socioe- pode influenciar a agenda e/ou a priorização das
conômico. O imposto enfrentou forte oposição da in- questões, transferir a culpa (por exemplo, dos ali-
dústria de alimentos e bebidas, e foi feito muito lobby mentos para a atividade física), transferir a respon-
no congresso nacional, com grandes interferências no sabilidade (das instituições às pessoas) ou transferir
processo legislativo. a culpa para um único fator.
Estão sendo usadas diversas abordagens para lidar com • Interferência com processos legislativos: lobby aos
os conflitos de interesses. Dentre elas, a avaliação in- níveis internacional (Codex etc.) e nacional (parla-
dependente pelo Observatório Mexicano de Doenças mentos, ministérios, funcionários) para atrasar ou
Não Transmissíveis e a canalização de todas as intera- inviabilizar a regulamentação; promoção de uma
ções com a indústria através das associações industriais cultura de autorregulamentação; promoção de par-
ou câmaras de comércio. Outros elementos úteis são a cerias que defendem uma abordagem voluntária.
estreita relação com o meio acadêmico e grupos parla-
mentares e a recusa, pelo Ministério da Saúde, de re- • Patrocínio do setor privado e participação em escolas.
ceber patrocínio da indústria de alimentos. As políticas
e organismos/processos governamentais são transpa-
rentes e abertos à consulta pública. Foi enfatizado que
a integridade é fundamental e que qualquer enfraque- 29 Iniciativa Nutrition 4 Growth (https://nutritionforgrowth.org, acessado em 8 de
maio de 2016, disponível em inglês).
27
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
• Desequilíbrio nos recursos disponíveis: diminuição • Incluir os movimentos sociais nos fóruns da OMS
dos níveis de financiamento público, aumentando a (como a Assembleia Mundial da Saúde) como parte
dependência do financiamento privado. das reformas da OMS.
• Os processos decisórios governamentais descentra- • Avaliar o impacto dos acordos de comércio globais
lizados aumentam as oportunidades para a influên- sobre a saúde.
cia da indústria.
• Implementar o quadro de ação ICN2.31
• Políticas de “portas giratórias” entre o governo e
o setor privado que, por exemplo, permitem que os • Estabelecer uma fundação neutra, com governança
altos executivos da indústria assumam cargos onde pelo setor público, que congregue o financiamento
podem definir prioridades, legislar ou fiscalizar da indústria para financiar a pesquisa e as iniciati-
a aplicação da legislação nos governos, e que altos vas.
funcionários do governo assumam cargos na indús-
tria para moldar o lobby comercial e as práticas de • Introduzir regulamentações legais para controlar o
marketing. marketing voltado às crianças e estabelecer regras
para assegurar que o setor privado não tenha acesso
5.5.2 Ferramentas de prevenção e gestão às escolas.
Os grupos de trabalho descreveram uma série de ferra- • Reforçar as estratégias de responsabilização (atra-
mentas existentes e potenciais e fizeram as seguintes vés de denúncias, ameaças de regulamentação, uso
sugestões: de comparações internacionais).
• Incluir a participação social nas constituições na- • Monitorar como as práticas da indústria evoluem e
cionais. usar as redes sociais para expor conflitos de interes-
ses e práticas indesejáveis.
• Criar movimentos sociais de base, focados no inte-
resse público. • Fortalecer a promoção de alimentos diversificados,
produzidos localmente.
• Definir critérios de exclusão para as parcerias en-
volvidas nas políticas públicas. • Usar outros argumentos além da saúde (como custos
e produtividade econômica) para defender as políti-
• Desenvolver ferramentas para distinguir PINGOs cas e regulamentações.
de BINGOs e organizações de fachada da indústria.
Estabelecer critérios para a participação de pessoas • Proteger os denunciantes para assegurar que os
com interesse em saúde pública. funcionários do governo não sejam penalizados por
questionarem seus empregadores e superiores no
• Garantir a capacitação dos Estados-Membros na caso de não seguirem as políticas institucionais ou
elaboração, implementação e fiscalização de políti- individuais sobre conflitos de interesses.
cas fiscais e regulamentares, bem como dos deciso-
res políticos do setor da saúde em relação aos sis- • Assegurar que o fato, a data e o conteúdo das co-
temas alimentares, às negociações comerciais e aos municações orais e por escrito entre a indústria e o
instrumentos de avaliação do impacto sobre a saú- governo sejam declarados publicamente e de forma
de, e também na proteção e manutenção do espaço proativa em um recurso online acessível.
das políticas públicas nas negociações comerciais.
• Estabelecer políticas pós-emprego, incluindo um
• Formar recursos humanos para a agenda da saúde período definido durante o qualos funcionários não
para lidar com a escassez de profissionais da saúde. podem assumir outros cargos.
• Promover a conscientização sobre o impacto dos sis- • Índia: pressão exercida sobre um regime de distri-
temas alimentares e agrícolas nos sistemas de saúde. buição de refeições gratuitas nas escolas para intro-
duzir alimentos processados.
• Usar a ferramenta de perfis nutricionais30 da OMS
para ajudar a identificar as prioridades das políticas • Brasil: maior participação da comunidade na toma-
fiscais. Estabelecer perfis nutricionais desenvolvidos da de decisões.
e apoiados pelo governo para assegurar a clareza.
31 Segunda Conferencia Internacional sobre Nutrición, Roma, 19-21 de novembro de
2014. Documento final de la Conferencia: Marco de acción. Roma: Organização das
30 Nutrient profiling. In: Nutrition [website]. Genebra: Organização Mundial da Saúde; Nações Unidas para Alimentação e Agricultura e Organização Mundial da Saúde; 2014
2016 (http://www.who.int/nutrition/topics/profiling/en/, acessado em 8 de maio de (http://www.fao.org/3/a-mm215S.pdf, acessado em 8 de maio de 2016, disponível
2016, disponível em inglês). em espanhol)
28
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
6. Discussões
plenárias finais
A discussão plenária final reforçou muitos dos pontos venture, parceria ou comitê pode ser valiosa como um
mencionados anteriormente, como a necessidade de mecanismo para assegurar a representação de diver-
enfatizar a prevenção de influências indevidas e con- sos grupos de interesse, mas não permite lidar efeti-
flitos de interesses. vamente com os conflitos de interesses. O conflito de
interesses de um participante não neutraliza o de outro.
Embora ainda possa ser necessário promover mais dis- Às vezes não é possível promover a inclusão e a repre-
cussões para distinguir melhor entre a identificação de sentação de todos os grupos quando o objetivo é gerir
riscos de influências indevidas e conflitos de interesses com eficácia os conflitos de interesses.
que afetam pessoas e instituições, foi destacado que o
objetivo final de todas essas medidas é preservar a inte- As discussões deixam claro que é preciso desenvolver
gridade, independência, credibilidade e confiança pú- toda uma gama de ferramentas. A importância da capa-
blica nas instituições. citação para que os decisores políticos nacionais sejam
capazes de reconhecer, entender e enfrentar os confli-
Foi enfatizado o papel de uma sociedade civil forte e or- tos de interesses foi enfatizada mais uma vez.
ganizada.
Metodologias para avaliar os impactos dos acordos co-
Houve um pedido de que as táticas corporativas para merciais sobre a saúde seriam úteis para os ministros
minar a saúde pública fossem mencionadas exatamen- da saúde ao negociarem com colegas de outros ministé-
te dessa forma, sem higienizá-las através de referên- rios. Uma avaliação do impacto sobre os direitos huma-
cias a conflitos de interesses. nos foi mencionada como uma possível ferramenta que
ajudaria os países a lidar com os conflitos de interesses.
Os especialistas jurídicos afirmaram que a inclusão de
uma gama diversificada de participantes em uma joint
29
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
30
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
7. Resumo dos
resultados e
próximas etapas
Em relação às definições, o debate foi útil e alguns con- efeitos que possam resultar dos conflitos de interesses.
ceitos importantes foram destacados; em particular, Em seguida, deve ser feita uma avaliação de diversas
que os participantes estão preocupados com as influên- opções para evitar os conflitos de interesses ou para re-
cias indevidas por interesses secundários sobre os seus solvê-los utilizando alguma estratégia de gestão. Essa
interesses primários (intrapessoais e intrainstitucio- avaliação deve considerar os custos e benefícios das di-
nais), sejam elas reais ou aparentes. Isso está ligado à ferentes abordagens para evitar ou gerir os conflitos de
integridade, à independência e à confiança pública, e a interesses.
questão pode ser monetária ou não monetária, direta ou
indireta. Existem várias ferramentas que são usadas para gerir os
conflitos de interesses. As ferramentas legislativas são
Foi sublinhado que o conceito de conflito de interesses uma forma de evitá-los ou mitigá-los – quanto mais
não deve ser confundido com interesses “conflitantes” regulamentação houver, mais fácil será evitar os con-
ou “divergentes” entre os diferentes atores da socie- flitos de interesses graves e geri-los adequadamente.
dade.
Políticas que exigem a declaração de interesses finan-
A discussão sobre temas específicos de nutrição gerou ceiros são necessárias para identificar os conflitos de
informações úteis sobre o contexto nos quais surgem interesses e gerar as informações necessárias para ava-
conflitos de interesses e a forma como podem afetar as liá-los. Uma vez identificados os conflitos de interesses
políticas de nutrição. de pessoas, às vezes podem ser resolvidos pela aliena-
i. Os conflitos de interesses precisam ser examinados ção dos interesses financeiros ou pelo impedimento de
em várias fases do processo político: participação em decisões que possam afetar tais inte-
ii. inicialmente, quando os governos decidem se esta- resses financeiros.
belecerão ou não uma política;
iii. em segundo lugar, quando os governos estabelecem As organizações governamentais e privadas às vezes
uma política e/ou um programa; exigem, como condição para o emprego, que depois
iv. em terceiro lugar, na implementação das políticas; de encerrada a relação empregatícia os funcionários
v. em quarto lugar, ao monitorar os programas e ava- não possam trabalhar em certos tipos de organização
liar as políticas públicas. por vários anos, para evitar que forneçam informações
confidenciais sobre seus empregadores prévios.
As três primeiras etapas são aquelas nas quais exis-
te a maior probabilidade de envolvimento com o setor Existe a necessidade de publicar diretrizes para os fun-
privado, e em cada uma dessas etapas deve haver uma cionários públicos e, possivelmente, códigos de condu-
avaliação explícita para determinar se existem confli- ta profissionais e políticas que regulamentem os patro-
tos de interesses e, em caso afirmativo, como devem cínios.
ser abordados.
Houve muitos debates sobre as PPPs. Vários participan-
Inicialmente, para identificar se existe um conflito de tes enfatizaram que as parcerias não devem ser o pa-
interesses, as pessoas que realizam a avaliação de- radigma ou o mecanismo padrão para as intervenções
vem entender as missões, obrigações e atividades das de saúde pública.32 No entanto, se foi tomada a decisão
organizações, bem como os seus interesses primários de formar uma parceria, há uma série de medidas que
e secundários. Se a avaliação inicial identificar a pre- podem ser tomadas para tentar assegurar que a ela sirva
sença de conflitos de interesses, deve então ser feita ao interesse de saúde pública.
uma avaliação para determinar a sua importância, com
base nos possíveis riscos para as políticas públicas e nos 32 Marks JH. Toward a systemic ethics of public-private partnerships related to food
and health. Kennedy Institute of Ethics Journal. 2014;24(3):267–99.
31
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Antes de formarem uma parceria ou joint venture ou se políticas, é útil especificar certos objetivos de saúde pú-
envolverem em qualquer forma de relação com atores blica e políticas existentes que devem ser respeitados,
do setor privado, os Estados-Membros devem analisar tais como o Código Internacional de Comercialização de
se há conflitos de interesses. Se existirem, é preciso Substitutos do Leite Materno ou a Estratégia Global so-
considerar se devem ou não formar a parceria. Se for bre Alimentação de Lactentes e Crianças Pequenas. Os
determinado que um conflito de interesses pode ser ge- objetivos da parceria e as atividades que realizará de-
rido adequadamente e o governo formar uma parceria vem ser especificados, bem como as etapas do trabalho
com um ator do setor privado, podem então ser utiliza- da parceria.
das várias estratégias, dependendo das circunstâncias.
Também é útil estabelecer um meio independente de
Também pode ser útil definir e limitar os papéis dos monitoramento das atividades da parceria, com fortes
vários atores que participam na parceria, estabelecer instituições da sociedade civil, proteção para os de-
normas que restrinjam ou regulem qualquer patrocínio nunciantes, envolvimento de grupos independentes de
financeiro do setor privado e criar regras que especifi- consumidores no processo político, registro de lobistas
quem estruturas de governança adequadas e a compo- e restrições sobre as atividades de lobby.
sição dos organismos de governança.
Os resultados dessa consulta serviram como base para
Para ajudar a reduzir o risco de que uma conduta im- o relatório do Secretariado da OMS, que foi apresentado
própria seja ocultada, deve haver transparência sobre ao Conselho Executivo na sua 138ª sessão em janeiro de
as fontes e o conteúdo dos dados usados para tomar 2016 e que será discutido na Sexagésima Nona Assem-
decisões e sobre o processo decisório. Para orientar as bleia Mundial da Saúde, em maio de 2016.
32
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Anexo I:
Documento de base
Aviso legal
O autor é o único responsável pelas opiniões expressas nesse documento de base. Esse documento
não representa as opiniões, decisões ou políticas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
VERSÃO EDITADA
33
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Sumário
Contexto 35
Definições 35
Definição geral 35
Conflitos de interesses reais versus potenciais 35
Conflitos de interesses reais versus aparentes 35
Influências indevidas versus adequadas 36
Conflitos de interesses reais 36
Conflitos de interesses aparentes 37
Conflitos de interesses institucionais e individuais 37
Princípios 38
Princípios dos conflitos de interesses 38
Questões éticas versus conflitos de interesses 38
Conflitos de interesses monetários versus não monetários 38
Influência do setor privado através de ONGs e do meio acadêmico 39
Estudos de casos 50
Estudo de caso da Região Africana 50
Estudo de caso da Região das Américas 51
Estudo de caso da Região do Sudeste Asiático 51
34
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Contexto Definições
A Sexagésima Quinta Assembleia Mundial da Saúde Definição geral
(WHA 65) indicou que os esforços globais para melhorar
a nutrição devem se concentrar em seis metas globais O professor Dennis Thompson, de Harvard, define um
para a nutrição a serem atingidas até 2025 e aprovou um conflito de interesses como “um conjunto de condi-
Plano de Implementação Integral (PII)1 sobre a nutrição ções nas quais o julgamento profissional em relação a
materna, de lactentes e crianças pequenas através da um interesse primário [...] tende a ser indevidamente
Resolução WHA65.6. influenciado por um interesse secundário”.3 Essa de-
finição reflete o significado que muitos especialistas
O PII inclui áreas de ação para os Estados-Membros, em ética governamental e profissional atribuiriam ao
a OMS e outros atores e recomenda a criação de “um termo “conflito de interesses” e é bastante ampla, pois
ambiente de apoio para a implementação de políti- se aplica igualmente aos conflitos de interesses indivi-
cas abrangentes de alimentação e nutrição” e insta os duais e institucionais. Há três elementos importantes a
Estados-Membros a “estabelecerem um diálogo com observar em relação a essa definição padrão.
atores relevantes no âmbito nacional e internacional e
formarem alianças e parcerias para ampliar as ações de Conflitos de interesses reais versus
nutrição, com o estabelecimento de mecanismos ade- potenciais
quados para a proteção contra possíveis conflitos de
interesses”. A Resolução WHA65.6 também solicitou De acordo com essa definição, um conflito de interes-
ao Diretor-Geral que “desenvolvesse ferramentas de ses real surge quando um interesse secundário tende a
avaliação, divulgação e gestão de riscos para proteger – em outras palavras, simplesmente tem o potencial de
os Estados-Membros contra conflitos de interesses na – influenciar indevidamente o julgamento ou ação de
elaboração de políticas e na implementação de progra- um funcionário. Às vezes é utilizado outro termo (como
mas de nutrição consistentes com as políticas e práticas no caso do PII), sendo feita referência a um “conflito
globais da OMS [...]”2 de interesses potencial”. No entanto, esse termo geral-
mente significa o que a maioria dos especialistas cha-
O Departamento de Nutrição para a Saúde e o Desen- maria de conflito de interesses “real”. Um conflito de
volvimento (NHD, na sigla em inglês) da Organização interesses real já surge, por razões que serão explicadas
Mundial da Saúde (OMS), em colaboração com parceiros abaixo, quando há apenas um potencial de influências
internos, estabeleceu um fluxo de trabalho para anali- indevidas.
sar definições e questões relevantes a serem discutidas
pelos Estados-Membros na Sexagésima Sétima Assem- Portanto, devidamente compreendido, um conflito de
bleia Mundial da Saúde (WHA67). A WHA67, realizada interesses “potencial” teria que surgir quando existe
em Genebra em maio de 2014, solicitou ao Diretor-Ge- simplesmente um potencial para o potencial de in-
ral “[...] convocar consultas informais com os Estados- fluências indevidas. Embora esse tipo de circunstância
-Membros para completar o trabalho, antes do final de possa ocorrer, não é a nossa preocupação central.
2015, sobre ferramentas de avaliação e gestão de riscos
para conflitos de interesses em nutrição, a serem con- Conflitos de interesses reais versus
sideradas pelos Estados-Membros na Sexagésima Nona aparentes
Assembleia Mundial da Saúde” (WHA67/65).
Um conflito de interesses pode ser tanto real como
Em resposta a esse pedido, o Departamento de Nutri- aparente. Um conflito de interesses “real” surge, como
ção para a Saúde e o Desenvolvimento está convocan- observado, quando um interesse secundário tem o po-
do uma consulta técnica com especialistas na área de tencial de influenciar indevidamente o julgamento de
avaliação de riscos, divulgação, gestão de conflitos de um funcionário. Portanto, um conflito de interesses
interesses e outras especialidades, com a participação “aparente” surgiria nas situações em que – mesmo que
dos Estados-Membros como observadores. esse potencial não exista de fato – uma pessoa razoável
pudesse ter a impressão de que existe um conflito de
Objetivo interesses.
Esse documento de discussão da OMS se baseia em um Existem algumas definições diferentes de conflito de
documento de base preliminar encomendado para ser- interesses aparente:
vir como referencial para as discussões de especialistas
durante a consulta técnica sobre abordagem e gestão de • Alguns especialistas dizem que um conflito de in-
conflitos de interesses no planejamento e execução de teresses aparente surge quando, embora não haja
programas de nutrição no âmbito nacional. nenhum conflito de interesses real envolvendo as
conexões financeiras de um funcionário (taxas,
1 Plan de aplicación integral sobre nutrición materna, del lactante y del niño pequeño. presentes ou ações) a uma empresa privada, tem-
Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2014 (http://www.who.int/nutrition/
publications/CIP_document/es/, acessado em 8 de maio de 2016, disponível em -se a impressão de que tais conexões existem. Um
espanhol).
2 Resolución WHA65.6. Nutrición de la madre, el lactante y el niño pequeño. In:
exemplo nos EUA envolve um regulador de bancos
Sexagésima Quinta Assembleia Mundial da Saúde, Genebra, 21-26 de maio de 2012.
Resoluciones y decisiones, anexos. Genebra: Organização Mundial da Saúde; 2012:12
(WHA65/2012/REC/1; http://www.who.int/nutrition/topics/WHA65.6_resolution_ 3 Thompson DF. Understanding financial conflicts of interest. N Engl J Med.
sp.pdf, acessado em 8 de maio de 2016, disponível em espanhol). 1993;329:573–6.
35
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
federais que tinha ações de bancos não federais. implementação de políticas, sendo importante com-
Ele não tinha a capacidade oficial de afetar as suas preender adequadamente cada um dos casos.
ações, mas considerou-se que a maioria das pessoas
não perceberia a diferença entre os bancos federais Conflitos de interesses reais
e não federais; assim, estipulou-se que ele tinha um
conflito de interesses aparente. Um conflito de interesses real surge quando um inte-
resse velado – de uma empresa, por exemplo – dá algo
• Outros especialistas fazem uma distinção entre de valor (como pagamento por palestras, um presente,
conflitos de interesses reais representados pelos hospitalidade, viagens pagas) a um funcionário. Tam-
vínculos financeiros entre um funcionário ou ins- bém surge quando um funcionário detém ações ou al-
tituição e uma empresa privada (presentes, taxas, guma outra participação financeira em um interesse
ações, financiamento de pesquisa) e conflitos de privado. Em outras palavras, os benefícios monetários
interesses aparentes oriundos das relações não fi- ou materiais do próprio funcionário têm a capacidade
nanceiras que podem existir entre funcionários/ de influenciar a objetividade do seu julgamento profis-
instituições e interesses privados. Tais relações não sional. Por definição, tal influência é “indevida”, pois
financeiras podem incluir relações pessoais pró- é – e deve ser – irrelevante para quaisquer julgamentos
ximas, pressão política indevida exercida por uma ou ações do funcionário em relação ao interesse públi-
empresa ou a participação de uma empresa em pa- co.
péis semioficiais. A diferença é simplesmente que as
conexões financeiras são, em princípio, mais verifi- Um conflito de interesses real não surge somente se um
cáveis e, portanto, “reais”, enquanto que as relações interesse velado efetivamente influenciar a objetivida-
não financeiras são menos tangíveis, e portanto a de do julgamento exercido por um funcionário ou insti-
sua existência pode ser mais discutível. Se, no en- tuição pública. Em vez disso, um conflito de interesses
tanto, a maioria das pessoas razoáveis considerar real surge mesmo que só exista o potencial de que um
que tais influências indevidas não financeiras exis- interesse velado influencie indevidamente a objeti-
tem, surge então um conflito de interesses aparente. vidade do julgamento exercido por um funcionário ou
instituição pública.
As duas definições básicas de conflitos de interesses
aparentes são igualmente importantes e não são in- Exemplo:
compatíveis uma com a outra. No entanto, para efeitos
desse documento, será utilizado o segundo significado. Um fabricante multinacional de substitutos do leite
materno convida autoridades a vários jantares ou paga
Influências indevidas versus adequadas as suas viagens a conferências científicas. Os funcioná-
rios podem muito bem afirmar que são pessoas íntegras
Por fim, a definição padrão equipara o conflito de in- e que são capazes de, sem considerar os seus próprios
teresses ao potencial para influências indevidas – ou interesses privados ou os benefícios monetários ou
impróprias. Um conflito de interesses real geralmente materiais que receberam, julgar as normas relativas a
se refere a influências que são indevidas porque sur- alimentos para bebês considerando exclusivamente o
gem das conexões monetárias que um funcionário ou interesse público. Eles podem acreditar sinceramente
instituição tem com um interesse velado, que (como na sua capacidade de tomar decisões sem permitir que
explicado abaixo) geralmente é uma empresa privada os seus interesses privados efetivamente influenciem o
com fins lucrativos. Um conflito de interesses aparen- seu julgamento.
te geralmente decorre de influências que são indevidas
porque surgem de certos tipos de relações não monetá- O problema é que ninguém pode saber se isso é verda-
rias entre um funcionário e um interesse privado, como de. O julgamento é uma atividade que ocorre exclusi-
relações de favoritismo, coerção e poder desigual. vamente na mente de uma pessoa, e nenhuma pessoa
pode enxergar a mente de outra. Na verdade, é impro-
Ambos os tipos de conflitos de interesses, reais e apa- vável que o funcionário seja capaz de avaliar plenamen-
rentes, devem ser distinguidos de situações nas quais te a qualidade do seu próprio julgamento. Há estudos
a influência exercida por um interesse privado não é que mostram que as pessoas frequentemente conside-
indevida nem imprópria. As empresas privadas podem ram que seu julgamento é livre de vieses ou influências
se envolver com o governo de muitas formas que caem indevidas, quando na verdade não é.4
dentro da gama de intervenções legítimas: lobby, apre-
sentação de posições e participação em plataformas Como nunca podemos saber se o julgamento de uma
com múltiplas partes interessadas. Desde que essas in- pessoa realmente não é afetado por qualquer interes-
tervenções sejam feitas sobre os seus méritos próprios se particular, consideramos que existe um conflito de
e sejam transparentes, não representam um conflito de interesses real quando existe um simples potencial de
interesses. que o julgamento do funcionário seja afetado por qual-
quer interesse privado que a pessoa possa ter no resul-
Tanto os conflitos de interesses reais como aparen- tado das suas decisões, não importando se o seu julga-
tes podem criar sérios problemas para a elaboração e
36
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
mento foi efetivamente afetado ou não. É por isso que, sões constituiriam simplesmente a prática de lobby pa-
na maioria das jurisdições, o funcionário seria obriga- drão e contribuiriam para o processo segundo o qual o
do a recusar a hospitalidade ou os subsídios de viagem governo toma decisões no interesse público.
oferecidos pelo fabricante, ou então abster-se de tomar
quaisquer decisões ou ações que possam afetar os seus Observe que, quando a empresa se comporta de for-
interesses. ma coerciva, não importa se o governo adota o sistema
proposto pela empresa ou escolhe outro. Mesmo que
Conflitos de interesses aparentes escolha outro, o julgamento do governo ainda poderia
ter sido influenciado indevidamente: talvez tenha dado
Um conflito de interesses aparente surge em situações a outra empresa um contrato de apenas dois anos, em
nas quais uma pessoa razoável teria a impressão de que vez de cinco anos como teria feito se não sofresse essa
existe o potencial de influências indevidas de um inte- influência, e ninguém saberia ao certo. Tudo o que im-
resse velado sobre o julgamento de um funcionário ou porta é que existe o potencial de influência indevida,
instituição, mesmo que esse potencial não exista de que nesse caso seria um tipo de coerção.
fato.
Os conflitos de interesses aparentes podem surgir de
Ao interpretarem o que isso significa, muitos espe- outras formas, como indicado abaixo. Por exemplo, em
cialistas em ética governamental fazem a seguinte vez de ser coagido por um ator privado, um funcionário
distinção entre o conflitos de interesses aparentes e pode sentir favoritismo em relação a esse ator, por uma
reais. Num conflito de interesses aparente – ao con- relação pessoal que tem com os executivos da empre-
trário do que ocorre num conflito de interesses real – o sa. Porém, em todos os casos de conflitos de interes-
ator privado não teria dado ao funcionário/instituição ses aparentes, ao contrário dos conflitos de interesses
nenhum benefício monetário ou material, e o funcio- reais, o potencial de influências indevidas não surge da
nário não teria ações ou direitos de propriedade sobre conexão monetária, material ou econômica direta do
o ator privado. Portanto, se houver a percepção de que funcionário/instituição com o interesse velado.
o interesse influencia indevidamente o julgamento de
um funcionário, isso não se deveria – como no caso de Portanto, em um conflito de interesses real, o poten-
um conflito de interesses real – ao fato de que o fun- cial de influências indevidas é econômico. Dessa forma,
cionário/agência teve algum benefício econômico no é facilmente visível e mensurável: um presente, uma
interesse velado. Em vez disso, a aparência de influên- taxa, uma ação da empresa. Num conflito de interes-
cia indevida deve vir de algum outro aspecto da relação, ses aparente, por outro lado, o potencial é psicológico:
que não seja monetário, material nem econômico. coerção, favoritismo ou outra questão semelhante. Ao
contrário dos benefícios monetários ou materiais tan-
Exemplo: gíveis e quantificáveis, trata-se de uma questão de per-
cepção. As pessoas podem discordar sobre se a situação
Uma fabricante de alimentos multinacional exerce é coerciva. Mas em certo momento, à medida que mais
pressão sobre o governo para que adote um tipo espe- e mais pessoas perceberem a interação com um deter-
cífico de sistema de dados para compilar informações minado setor do governo como coerciva, surge então
sobre nutrição infantil, ameaçando retirar os seus in- um conflito de interesses.
vestimentos do país se o governo não concordar.
Tanto os conflitos reais como aparentes violam os prin-
Mesmo que a multinacional não tenha oferecido pre- cípios dos conflitos de interesses. O essencial, como diz
sentes aos funcionários ou instituições envolvidas, e a maioria dos especialistas em ética governamental, é
mesmo que nenhum funcionário detenha ações da mul- que os conflitos reais e aparentes devem ser tratados
tinacional – em outras palavras, mesmo que não haja com igual seriedade.
nenhum conflito de interesses real –, pode ser razoável
considerar que o julgamento dos funcionários/institui- Conflitos de interesses institucionais e
ções foi influenciado indevidamente por um interesse individuais
velado, isso é, o da multinacional. A influência é “inde-
vida” porque a sua coerção prejudicou a capacidade dos É importante observar que os conflitos de interesses
funcionários/instituições de julgar de forma objetiva e podem afetar órgãos governamentais e agências inter-
independente qual sistema de dados atenderia melhor governamentais como um todo, e não apenas funcioná-
ao interesse público. Observe que tal coerção normal- rios individuais.
mente não constituiria um ato ilegal – a empresa tem o
direito de retirar os seus investimentos –, mas geraria a Exemplo:
aparência de uma influência indevida.
Se um fabricante multinacional de substitutos do leite
Se, por outro lado, a empresa houver simplesmente fei- materno paga por um centro de formação para funcio-
to um forte lobby em favor do seu sistema preferido, nários de um departamento de saúde, o departamen-
apresentando as razões pelas quais pensa que o sistema to estaria em um conflito de interesses institucional:
é superior aos outros com base em critérios de interesse haveria um possível interesse pelo departamento em
público, tais como custo e qualidade, então a influência receber apoio para a formação, influenciando indevida-
que esses argumentos podem ter tido não seria “inde- mente a independência ou a objetividade de seus julga-
vida”. Os esforços da empresa de influenciar as deci- mentos/ações relacionados à multinacional.
37
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Quadro 1: Definições
• Um conflito de interesses real surge quando um interesse velado tem o potencial de
influenciar indevidamente o julgamento/ação de funcionários ou entidades através dos
benefícios monetários ou materiais que confere ao funcionário ou entidade.
• Um conflito de interesses aparente surge quando um interesse velado tem o potencial
de influenciar indevidamente o julgamento/ação de funcionários ou instituições através
das influências não monetárias ou não materiais que exerce sobre o funcionário ou
instituição.
• Um conflito de interesses baseado em resultados surge quando um interesse velado,
envolvido no processo de elaboração ou implementação de políticas, procura alcançar
resultados que são incompatíveis com o interesse público demonstrável.
38
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
ter desenvolvido uma técnica de fortificação eficaz se a influenciar indevidamente a independência ou a obje-
técnica for realmente eficaz. Os interesses da cientista tividade do julgamento que os vieses não monetários.
estão mais alinhados com os do público.
Supondo que a organização da sociedade civil não tenha Um conflito de interesses real surge quando existe o
interesses financeiros na defesa da reformulação, então potencial de que um ator privado que tem um interesse
terá adotado os seus pontos de vista com base em uma num resultado influencie indevidamente o julgamento
consideração sincera sobre qual seria o interesse públi- de um funcionário ou instituição porque esse funcio-
co. A organização da sociedade civil pode ter interesses nário ou instituição recebe um benefício financeiro do
na sua sobrevivência organizacional e no êxito das suas ator privado. Em outras palavras, o conflito surge na
intervenções, mas isso geralmente não a impedirá de medida em que (a) o ator privado tem a capacidade de
expressar o ponto de vista do interesse público que os transferir um benefício monetário ou material – e, por-
seus membros realmente defendem. tanto, de influenciar – o funcionário ou instituição e (b)
o funcionário ou entidade tem a capacidade de afetar o
Por outro lado, uma empresa privada que promove um ator privado.
produto que lhe dará benefícios financeiros tem inte-
resse em promover esse produto sem reformulação. Os indicadores de risco de um conflito de interesses
real, portanto, concentram-se nesses dois elementos: a
Influência do setor privado através de capacidade do ator privado de beneficiar o funcionário/
ONGs e do meio acadêmico instituição e a capacidade do funcionário/instituição de
afetar o ator privado. Um terceiro indicador se concen-
Existe, no entanto, uma ressalva importante. Acadê- tra nos motivos do ator privado para procurar exercer
micos e ONGs também podem, para além de quaisquer influências indevidas, tendo em conta em que medida o
vieses não financeiros ou ideologias, ter interesses êxito dos negócios do ator privado ou a sua sobrevivên-
financeiros ou monetários. Os acadêmicos podem re- cia dependem do processo de elaboração/implementa-
ceber royalties de produtos que desenvolvem, e a sua ção de políticas em questão.
pesquisa pode ser financiada por empresas privadas. As
ONGs podem se envolver em arranjos de copatrocínio Indicador de alto risco (1): o ator privado tem uma
com empresas privadas ou aceitar doações de empre- grande capacidade de beneficiar o funcionário/institui-
sas. Nesses casos, os interesses financeiros privados ção.
podem se infiltrar e afetar o julgamento de acadêmi-
cos e ONGs de formas que vão além de quaisquer vie- Geralmente, essa capacidade é considerada significati-
ses pessoais ou organizacionais que esses acadêmicos e va quando:
ONGs possam ter.
a. O benefício assume a forma de um presente de
Esse documento de base aborda todos os conflitos de um ator privado a um funcionário com poder
interesses representados por interesses financeiros, de decisão pública ou quando esse funcionário
seja diretamente por empresas com fins lucrativos ou recebe taxas ou tem ações da empresa privada.
indiretamente através das estruturas mediadoras do
meio acadêmico ou das organizações da sociedade civil. Justificativa: geralmente, considera-se que os benefí-
cios oferecidos a funcionários individuais representam
A principal distinção, portanto, não é entre empresas um risco maior que aqueles oferecidos a instituições
com fins lucrativos por um lado e acadêmicos/ONGs governamentais como um todo.
por outro. É entre interesses financeiros/monetários
por um lado e pontos de vista sobre o interesse público Exemplo:
adotados de forma genuína por outro. E, de modo geral,
os interesses monetários/financeiros, ao exercerem in- Um funcionário recebe uma viagem de férias ou um
fluência através de empresas com fins lucrativos ou de quarto de hotel pago por um fabricante de alimentos
pesquisadores/ONGs, são considerados mais capazes de para bebês. Ao decidir se aceita ou não, a pessoa vai – na
melhor das hipóteses – considerar se os seus interes-
39
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
ses privados em desfrutar da viagem superam qualquer lado, o funcionário (ou instituição) for responsável pe-
preocupação que possa ter em relação à possibilidade las normas regulamentares que se aplicam a todos os
de que isso influencie indevidamente o seu julgamento fabricantes igualmente, então a sua capacidade de afe-
oficial. Agora, considere uma instituição à qual são ofe- tar o seu próprio interesse pela alteração das normas
recidos suprimentos de emergência por uma empresa será diluída pelas vantagens comparáveis que os con-
de lanches. Seja qual for o julgamento que a instituição correntes também receberão. Mais uma vez, ambas as
faz ao decidir se aceita a oferta, as únicas considerações situações podem ser classificadas como um conflito de
serão noções diferentes sobre o interesse público: se as interesses a ser evitado. Porém, o caso em que o fun-
necessidades num caso de emergência superam qual- cionário pode beneficiar direta e exclusivamente o in-
quer preocupação que a instituição possa a ter sobre a teresse privado ao qual está ligado representa um maior
possibilidade de que a oferta influencie indevidamente risco de conflito de interesses que aquele no qual o fun-
o seu julgamento em assuntos que afetam a empresa. cionário só pode beneficiar todo um setor econômico ou
grupo de setores.
b. O benefício tem utilidade direta para um fun-
cionário ou uma instituição, e não para tercei- O funcionário ou instituição tem autoridade exclusiva
ros. sobre os interesses da empresa.
40
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
41
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
instituição é significativo a ponto de pôr em causa a Indicador de alto risco (4): o apoio a uma empresa pri-
confiança e a credibilidade pública. vada por parte de um funcionário ou instituição repre-
senta uma preferência indevida ou favoritismo, uma
Justificativa: Considere situações nas quais um órgão vantagem indevida no mercado privado.
público valida uma empresa privada, promovendo/exi-
bindo os seus produtos comerciais em eventos organi- Justificativa: considere situações nas quais um órgão
zacionais ou em publicações, copatrocinando reuniões público oferece repetidamente contratos, licenças ou
com a empresa, distribuindo os seus produtos através subsídios a uma empresa privada específica (mesmo
de médicos ou outros profissionais da saúde (por exem- que não haja um conflito de interesses real, isto é, mes-
plo, amostras de alimentos para bebês) ou pratica qual- mo que a empresa privada não tenha oferecido bene-
quer outra forma de “whitewashing”. fícios financeiros a funcionários públicos ou à própria
agência, e que todos os contratos tenham sido negocia-
Em todos esses casos, o órgão público deu à empre- dos e aprovados de acordo com procedimentos adequa-
sa algo que tem valor no mercado privado – a saber, a dos). Ou então, de forma análoga, considere situações
credibilidade do próprio órgão público. E ao fazê-lo, o nas quais os funcionários públicos desenvolveram re-
órgão público possivelmente cruzou uma barreira, dei- lações pessoais com os executivos de uma empresa pri-
xando de ser uma entidade estatal para se tornar um in- vada. Na medida em que essa empresa tem concorren-
vestidor – pois investiu a sua credibilidade na empresa. tes (reais ou potenciais), tal comportamento pode, se
Por isso, é razoável considerar que o governo já não é excessivo, representar um conflito de interesses. Seria
capaz de julgar ou agir em assuntos relacionados com razoável considerar que o Estado está sendo influencia-
a empresa sem ser influenciado por seu investimento do indevidamente por essa empresa, quando o Estado
na reputação da empresa. Em outras palavras, os inte- tem a obrigação de tratar todos os cidadãos e suas em-
resses do governo nos produtos da empresa podem agir presas de forma justa e igualitária.
como uma influência indevida sobre a sua capacidade
de fazer julgamentos ou tomar medidas que afetam a
empresa.
Se qualquer uma dessas situações existir, surge o ris- é amplamente considerado como do interesse da saúde
co de aparência de influências indevidas: mesmo que pública.
não haja nenhum vínculo financeiro real entre o ator
privado e qualquer funcionário ou instituição pública. Exemplo:
É importante observar, porém, que embora esses indi-
cadores abarquem muitos dos casos vistos como confli- Recomenda-se que crianças consumam exclusiva-
tos de interesses, não constituem uma lista exaustiva. mente leite materno nos primeiros seis meses de vida.
Também pode ser razoável considerar que um interesse Qualquer envolvimento de um fabricante de substitu-
privado tem o potencial de influenciar indevidamente o tos do leite materno nessa área de elaboração ou imple-
julgamento de funcionários em outras situações. mentação de políticas pode, portanto, ser considerado
um conflito de interesses simplesmente por essa razão,
independentemente de haver algum outro conflito de
Indicadores de conflitos interesses real ou aparente. Em outras palavras, mes-
mo que as autoridades ou órgãos não recebam benefí-
de interesses baseados em cios financeiros de fabricantes de substitutos do leite
42
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
resultados. Os resultados pretendidos pelo fabricante Considera-se que existe um grande risco de conflito de
estão em conflito com os resultados pretendidos pela interesses baseado em resultados quando o envolvi-
instituição pública. Portanto, se o fabricante se envol- mento de uma entidade do setor privado, independen-
ver em certos aspectos do trabalho da agência, existe o temente da existência de um conflito de interesses real
potencial de que influencie indevidamente o resultado. ou aparente, é incompatível com o interesse público,
como indicado por:
Ou então, para dar outro exemplo, existem protocolos
bem estabelecidos para a pesquisa científica na área da Indicador de alto risco (1): a importância normativa
nutrição. Se uma entidade privada faz pesquisa para um do objetivo das políticas de nutrição materna e infantil,
órgão público de uma forma que não cumpre essas nor- em termos do seu impacto e urgência com base em um
mas, existe um conflito de interesses – incompatível consenso universal.
com o interesse público – se o órgão público levar em
consideração tal pesquisa ao elaborar políticas, mes- Indicador de alto risco (2): a existência de padrões em-
mo que não haja nenhum conflito de interesses real ou píricos, tais como protocolos de pesquisa, elaboração
aparente. O simples ato de levar em consideração uma de políticas baseadas em evidências e boas práticas de
pesquisa precária constituiria uma influência indevida implementação.
– uma influência que não deveria existir, pois poten-
cialmente levaria a resultados incompatíveis com o in-
teresse público.
43
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Porém, já é amplamente reconhecido que a declara- O órgão público também pode proibir entidades do se-
ção pública é insuficiente, por si só, para lidar com a tor privado de fazerem alegações sobre a natureza de
maioria dos conflitos de interesses. Na ausência de uma qualquer colaboração público-privada que implique um
imprensa vigilante ou da comunidade da sociedade civil endosso mais amplo ou uma relação que não existe. Po-
para monitorar as formas de divulgação pública e le- demos fazer uma analogia com a obrigação de muitos
vantar preocupações, a divulgação tem pouca utilidade. funcionários de indicar que as suas opiniões publicadas
Estudos acadêmicos mostram que os funcionários pú- não são, necessariamente, endossadas pelo órgão onde
blicos tendem a pensar que, depois de terem declarado trabalham. Esse tipo de declaração pública ajudará a
um interesse, é legítimo continuar a tê-lo se ninguém evitar que o Estado ceda a sua credibilidade a empresas
apresentar objeções. Muitas vezes, a imprensa ou as privadas ou seus produtos de uma forma que leve a um
instituições da sociedade civil não contam com o pes- conflito de interesses aparente, pois a identificação do
soal necessário para ler, fazer outras pesquisas rele- Estado com uma empresa ou produto pode aparente-
vantes ou questionar efetivamente os funcionários em mente dificultar a sua capacidade de regulamentá-los
seus relatórios de declaração. Mesmo que exista uma de forma imparcial.
imprensa, ONGs ou oposição política, a divulgação em
si irá apenas provocar um debate entre os críticos e o Uma última questão de transparência diz respeito às
funcionário em questão sobre se os interesses real- normas sobre conflitos de interesses, que devem seguir
mente afetam o seu julgamento. E essa questão, como as políticas da organização e o seu código de ética ou
já observado, geralmente não pode ser resolvida de for- de conduta. O código de conduta deve estar disponível
ma satisfatória. aos funcionários e ao público. A apresentação e a com-
preensão do código devem fazer parte do processo de
Portanto, com base nos interesses declarados por um formação dos funcionários.
funcionário ou outra entidade que participa do processo
de elaboração ou implementação de políticas, o órgão Alienação
governamental em causa pode determinar o risco de
um conflito de interesses. Pode fazê-lo com base nos Alienação significa exigir aos funcionários que vendam
indicadores mencionados acima e em outras considera- as ações de quaisquer empresas cujos interesses pos-
ções, como, por exemplo, se o interesse representa um sam ser afetados pelo funcionário no seu papel oficial.
valor considerado insignificante ou não. E então, pode Se uma declaração de interesses indicar que um fun-
recomendar algumas das medidas (como alienação, im- cionário possui interesses que ele é capaz de afetar na
pedimento) para a prevenção/gestão de conflitos de in- sua função oficial, o funcionário pode ser obrigado a
44
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
se desfazer desses interesses. Uma vez demonstrada a Por sua vez, os funcionários que regulamentam a em-
alienação, pode-se emitir um certificado de alienação. presa não devem ter um plano de carreira que os leve de
volta para o departamento de pesquisa de uma forma
Às vezes, os funcionários não podem vender os seus que lhes permita se beneficiarem profissionalmente da
interesses imediatamente; por exemplo, se não houver contribuição da empresa. Ainda melhor seria uma si-
compradores disponíveis. Em alguns desses casos, o tuação em que os próprios pesquisadores desconheces-
funcionário pode colocar esses interesses a cargo de um sem a identidade do doador, ou seja, se a empresa doar
administrador imparcial, a cujas atividades o funcioná- fundos para a agência de uma forma que preserve o seu
rio não tem acesso, estando assim «cego» em relação anonimato.
à forma como são administrados. Ao longo do tempo,
o administrador irá vender os interesses cedidos, mas Exemplos de ferramentas:
o funcionário não saberá o que os substituiu, ou quan-
do. Assim é possível fazer com que os funcionários não Sistemas de Separação Organizacional (veja o Sistema
tenham acesso (inicialmente de forma parcial, mas de- de Separação Organizacional do Departamento de Éti-
pois completamente) aos seus interesses. ca Governamental dos EUA, quadro Exemplos de Fer-
ramentas, ponto 12: esse item é para funcionários in-
De forma análoga, a lógica da alienação requer que os dividuais, mas pode ser adaptado para as unidades de
funcionários não recebam ou retenham taxas ou pre- órgãos públicos)
sentes de entidades que têm um interesse velado em
seu trabalho oficial. E quando for inevitável receber tais Impedimento e proibição
taxas ou presentes, esses devem ser divulgados ao ór-
gão público e então doados a instituições de caridade. A Impedimento e proibição são o inverso de alienação e
ideia por trás de todas essas formas de alienação é evi- separação. A alienação e a separação, descritas acima,
tar conflitos de interesses pela remoção de quaisquer previnem os conflitos de interesses removendo ou se-
interesses secundários do funcionário que tenham o gregando os interesses potencialmente problemáticos
potencial de afetar indevidamente o seu julgamento ao dos funcionários, mas permitindo-lhes manter o seu
tomar decisões ou agir em nome do interesse público. papel oficial na elaboração ou implementação de po-
líticas. O impedimento e a proibição, por outro lado,
Exemplos de ferramentas: afastam os funcionários ou outras entidades das suas
funções de elaboração ou implementação de políticas
Certificado de Alienação (ver o Pedido de Certificado de quando os seus interesses não podem ser separados das
Alienação do Departamento de Ética Governamental suas funções.
dos EUA, quadro Exemplos de Ferramentas, ponto 9)
Exemplo:
Documentação de Administrador Imparcial (veja o mo-
delo de Disposições sobre Administrador Imparcial do Uma funcionária recebeu uma oferta de trabalho de
Departamento de Ética Governamental dos EUA, qua- uma empresa privada, cujos interesses a funcionária
dro Exemplos de Ferramentas, ponto 10) tem a capacidade de afetar em suas funções. Ela deve
divulgar tal oferta. E como ainda não a recusou, deve
Registro de Presentes (veja o Exemplo de Entrada no se afastar das suas funções sempre que tiver que to-
Registro de Presentes do Escritório do Comissário mar decisões que possam afetar a empresa. Em casos
de Conflitos de Interesses e Ética do Canadá, quadro que afetam a empresa, outra pessoa deve ser indicada
Exemplos de Ferramentas, ponto 10) para substituí-la, e ela não deve ter acesso a nenhum
documento ou outro material relacionado à empresa.
Separação organizacional O funcionário substituto não pode estar subordinado à
funcionária afastada.
Separação significa, sempre que possível, exigir que os
órgãos públicos separem, na estrutura da organização, De forma análoga, uma empresa – por exemplo, um fa-
os funcionários cujos interesses podem ser afetados bricante de substitutos do leite materno – obviamente
positivamente pela contribuição de uma empresa para não pode alienar os seus interesses na venda de subs-
o órgão dos funcionários que podem afetar a empresa titutos do leite materno, e por isso pode ser necessário
em suas funções oficiais. proibi-la inteiramente de ter certos tipos de envolvi-
mento com o governo. Por exemplo, os interesses de
Exemplo: um fabricante de substitutos do leite materno podem
ser considerados tão incompatíveis com o interesse
Uma empresa de alimentos forma uma parceria com público que é preciso proibir a sua participação em um
um centro de pesquisa do Ministério da Agricultura, grupo de múltiplas partes interessadas para aconselhar
oferecendo fundos para um projeto conjunto. No mí- o governo sobre a política de nutrição de lactentes.
nimo, qualquer pesquisador cujo trabalho no departa-
mento se beneficie desse financiamento não deve ser Exemplos de ferramentas:
autorizado a interagir ou se comunicar com qualquer
funcionário do departamento que regulamente a em- 1. Formulários de impedimento (veja o Formulário
presa – por exemplo, em questões de segurança – sobre de Impedimento, Estado de Rhode Island, quadro
qualquer assunto que tenha relação com a empresa. Exemplos de Ferramentas, ponto 13), incluindo a
45
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
46
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
47
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
48
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
49
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
50
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
empresa está agindo apenas como um ator do mercado. Porém, em algumas circunstâncias um caso como esse
Esse tipo de marketing certamente pode ser criticado chegaria ao nível de um conflito de interesses aparente.
com base em questões de responsabilidade social cor- Suponha que o governo considera que o interesse pú-
porativa, mas não constitui um conflito de interesses. blico em seguir as diretrizes sobre o tamanho adequado
dos sacos e a segurança alimentar seja mais importante
Estudo de caso da Região das Américas que o interesse público na manutenção das doações. E
suponha também que o governo, ainda assim, decidiu
“A política nacional de segurança alimentar e nutri- abandonar as suas diretrizes sobre o tamanho dos sacos
cional prevê alimentação suplementar universal para e a segurança alimentar, porque o doador aplicou pres-
crianças durante os primeiros 1000 dias, a ser imple- são sem relação alguma com interesse público no caso
mentada progressivamente município por município. – por exemplo, ameaçando encerrar as suas operações
Um doador oferece realizar um projeto voltado apenas no país se o governo não alterar as suas diretrizes. Nes-
a crianças com desnutrição. Outro doador oferece for- se caso, certamente poderia haver a percepção de que
necer alimentos complementares nutritivos em sacos um interesse secundário tem o potencial de influenciar
a granel, enquanto o governo requer a distribuição em indevidamente a capacidade do governo de tomar deci-
sacos menores, de 1,5 kg. O doador pediu dados estatís- sões em nome do interesse público.
ticos para corroborar essa exigência, mas o governo foi
incapaz de apresentar tais estudos. Finalmente, quan- Nesse caso, as ferramentas apropriadas incluiriam a
do há uma mudança no governo, que promulga novas transparência, por parte do governo, sobre as interven-
orientações sobre segurança alimentar e nutricional, ções da multinacional, de modo a provocar a desapro-
os projetos financiados por doadores que não estão em vação pública em relação à empresa, e convocar diver-
conformidade com as novas diretrizes correm o risco de sas organizações da sociedade civil e outros governos
perder seus fundos”. regionais a fazer o mesmo.
51
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
No entanto, é possível que haja um conflito de interes- são incompatíveis com as diretrizes de nutrição do go-
ses aparente. O caso envolve a esposa de um ministro, verno. O ideal é que os edifícios e materiais do programa
embora não envolva o ministro em si. E o envolvimento de treinamento não utilizem as cores da empresa, mas
da esposa do ministro e do grupo de mulheres favore- essa é uma questão de boa ética empresarial – evitando
ce a empresa, pois o grupo confere a sua credibilidade a oportunidade de manipular sutilmente as pessoas que
– ainda que não a do governo – ao fabricante em sua talvez venham a recomendar os seus produtos –, e não
tentativa de promover o alimento para bebês usando as de conflito de interesses. E o problema pode ser comba-
cores da empresa e o tema do “leite para o crescimen- tido assegurando que o treinamento seja impecável do
to”. É possível que isso gere a percepção de que esse é ponto de vista científico, por exemplo, através da revi-
um caso em que o governo dá seu aval a uma empresa são do currículo por especialistas do governo ou inde-
ou produto. pendentes, e assegurando que os participantes tenham
uma boa compreensão do papel adequado dos produtos
Para evitar qualquer conflito de interesses, a promoção da empresa em boas práticas de nutrição infantil.
do “leite para o crescimento” deveria ser acompanhada
de rótulos ou de outras informações que deixem claro
quais formas de utilização do alimento para bebês não
52
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Lista de participantes
A. Participantes externos GHAREEB Nadia
Diretora
BRINSDEN Hannah Diretoria de Saúde Pública
Chefe de Defesa de Causas e Assuntos Públicos Ministério da Saúde
World Obesity Federation (Antiga IASO) Manama, Bahrein
Londres, Reino Unido
GOMES Fábio
CHAULIAC Michel Funcionário
Responsável pelo Programa Nacional de Nutrição e Ministério da Saúde
Saúde Brasília, Brasil
Direção Geral de Saúde
Paris, França JEFFERY Bill
Coordenador Nacional
DAVIES Susan Centre for Science in the Public Interest Canada (CSPI)
Diretora de Políticas Ottawa, Canadá
Which?
Londres, Reino Unido KAPPOORI Gopakumar M.
Consultor Jurídico e Pesquisador Sênior
DENTICO Nicoletta Third World Network
Codiretora Nova Déli, Índia
Health Innovation in Practice (HIP)
Genebra, Suíça KRAAK Vivica
Professora Assistente
FLORES Maria-Bernardita T. Política Alimentar e Nutricional
Secretária Assistente de Saúde e Diretora Executiva Virginia Tech
Conselho Nacional de Nutrição Blacksburg, EUA
Manila, Filipinas
L’ABBE Mary
GARRETT Greg Professora da Cátedra Earle W. McHenry e Presidente
Diretor Departamento de Ciências da Nutrição
Food Fortification Faculdade de Medicina
Global Alliance for Improved Nutrition (GAIN) Universidade de Toronto
Genebra, Suíça Toronto, Canadá
53
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
54
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
55
ABORDAGEM E GESTÃO DE CONFLITOS DE INTERESSES NO PLANEJAMENTO E EXECUÇÃO DE PROGRAMAS DE NUTRIÇÃO NO ÂMBITO NACIONAL
Quinta-feira, 8 de outubro
Introdução
9h30–10h00 •• Apresentação dos participantes com uma breve apresentação da Francesco Branca
sua área de trabalho e relação com os conflitos de interesses
•• Declaração de interesses verbal
•• Escolha do(a) Presidente
10h00–10h30 Intervalo
13h00–14h00 •• Almoço
15h00–15h30 Intervalo
56
RELATÓRIO DA CONSULTA TÉCNICA REALIZADA EM GENEBRA, NA SUÍÇA, DE 8 A 9 DE OUTUBRO DE 2015
Sessão 3h Fortificação/reformulação
09h15–09h30 •• Intervenções recomendadas pela OMS para a implementação de Juan Pablo Peña-
programas de fortificação Rosas
09h45-10h00 •• Grupo de trabalho da OMS sobre como realizar o compromisso dos Bente Mikkelsen
governos de colaborar com o setor privado na prevenção e controle
das DNTs – Reformulação.
10h30–11h00 Intervalo
13h30–14h30 Almoço
14h30–14h45 •• Intervenções recomendadas pela OMS para a prevenção do excesso Chizuru Nishida
de peso na infância
14h45- 15h00 •• A experiência dos EUA na colaboração com a indústria alimentar na Michele Simon
política de nutrição
17h00–17h30 Intervalo
57
Em resposta ao desafio crescente dos conflitos de interesses na área da nutri-
ção, o Departamento de Nutrição para a Saúde e o Desenvolvimento, situado
na sede da OMS, convocou uma consulta técnica da OMS sobre a “Abordagem e
gestão de conflitos de interesses no planejamento e execução de programas de
nutrição no âmbito nacional” em Genebra, na Suíça, de 8 a 9 de outubro de 2015.
www.who.int/nutrition
ISBN: 978-92-75-71996-1
9 789275 719961