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Direito canônico

O estudo da história do Direito ocidental ficaria incompleto sem o estudo do Direito


canônico. O termo “cânon” significa medida e foi traduzido para o latim como regula. Esse
termo tinha natureza de regra e era utilizado para solucionar conflitos e para determinar
condutas, sendo empregado desde os primeiros séculos da Igreja Católica para designar as
decisões emanadas pelos Concílios, que eram as reuniões entre os bispos da Igreja e as
autoridades imperiais da época. Assim, a expressão “Direito canônico” se refere às normas
produzidas pelo cristianismo, que foram sistematizadas a fim de dar ao direito divino uma
forma de regra de conduta.
Assim, a expressão “Direito canônico” se refere às normas produzidas pelo
cristianismo, que foram sistematizadas a fim de dar ao direito divino uma forma de regra de
conduta. O direito canônico compreende a defesa e a ordem da igreja de forma jurídica,
proporcionando poderes legais em relação às suas atividades e à resolução de problemas,
sendo, portanto. o conjunto das normas que regulam a vida na comunidade eclesial.
A história desse Direito se desenvolveu principalmente na Idade Média, mas um de
seus marcos ocorreu ainda na Antiguidade, no ano de 313 d.c. Nesse ano, visto a expansão do
cristianismo, o Imperador romano Constantino decretou, por meio do “Édito de Milão”, a
liberdade de culto aos cristãos, assegurando, assim, o fim de um longo período de
perseguições. Mais tarde, no ano de 380 d.c., o Imperador Teodósio I decretou o cristianismo
como a religião oficial do Império Romano. Esses acontecimentos possibilitaram que a Igreja
Católica ganhasse influência, até que, na Idade Média, teve sua ascensão e adquiriu um papel
de extrema importância na sociedade medieval, ganhando grande poder econômico, já que a
Igreja possuía vastas porções de terras, grande poder político, pela participação nas decisões
da época, e jurídico, visto a interferência na elaboração das leis.
Na fase da Alta Idade Média, destaca-se a atuação dos bispos de Roma para a
formação do direito, que discutiam questões sobre os problemas de doutrina e disciplina da
Igreja. No período da Baixa Idade Média, há a fundação das primeiras universidades no
Ocidente e, com isso, surgem os textos que formam o Corpus Juris Canonici, que ajudam a
institucionalizar o Direito canônico e a criar uma ciência a partir dele.
Além do poder econômico, político e jurídico, a Igreja católica também influenciava
nas normas morais da sociedade. Assim, normas de comportamento eram reguladas através
dos dogmas religiosos. Exemplos da influência da Igreja são vistos sobre o casamento, sobre
as crenças, a liberdade de expressão, e, até mesmo, o desenvolvimento científico.
O cristianismo se tornou, além disso, a religião oficial de quase toda a Europa. Dessa
forma, os dogmas católicos passaram a ser considerados mais importantes que outros, motivo
que serviu como fundamento para justificar um poder inquisitivo. A Inquisição se constituiu
como julgamento e perseguição aos que discordavam com os dogmas da Igreja Católica,
como os hereges, com práticas de torturas e execuções.
Sobre a institucionalização do Direito canônico,
O direito canônico manteve-se, durante toda a Idade Média, como o único direito
escrito e universal. A jurisprudência romana subsistiu-se de certa forma através do
direito eclesiástico, uma vez que a igreja desenvolveu-se à sombra do antigo Império
Romano, não podendo furtar-se à sua influência. (GILISSEN, 1979, p.134).

Sua importância está relacionada com o fato de que o direito canônico influenciou
outros direitos, inclusive laicos, uma vez que “os detentores do poder não se preocuparam
com o direito que iria ser aplicado, mas sim com o que era indispensável para a manutenção
de seu poder, como o exército, os impostos, a administração pública, a repressão e a coação
para a manutenção da ordem”.
Foi também um importante elemento para a evolução jurídica. O Direito canônico
procurou inserir, segundo Heleno Fragoso, penas privativas de liberdade e se opôs à
realização de “justiça com as próprias mãos”, ou seja, a vingança privada, incorporando o
direito de asilo, um refúgio concedido em determinados crimes comuns, e a chamada “trégua
de Deus”, em que qualquer reação privada entre a tarde da Quarta-feira à manhã da Segunda-
feira era proibida.
Alguns direitos estão presentes até os dias atuais. No século XX, o papa Bento XV
promulgou o Código de Direito Canônico, um compilado de normas dispersas. Em 1983, o
papa João Paulo II promulgou o Código “Constituição Apostólica” que vigora até hoje, com
normas de direitos, obrigações dos fiéis e sanções pelo desvio às normas, além de normas de
organização da Igreja Católica Romana.
O Direito Canônico é empregado em diversos segmentos: na rotina dos Tribunais
Eclesiásticos e na vivência litúrgica e a pastoral dos fiéis. Isso relata que seu intuito é guiar as
tradições eclesiásticas, regulamentar o culto e o direito dos fiéis se unirem em uma
espiritualidade comum, tal como guiar os bispos a fim de estabelecerem os regimentos de suas
dioceses. Ademais, esse direito religioso se refere ao cotidiano dos católicos, tendo como
exemplo a validação do matrimonio (sua nulidade) ao invocar a corte canônica ou o tribunal
eclesiástico.

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