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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM


CURSO DE TEOLOGIA DIREITO CANÔNICO I

DIREITO CANÔNICO

MINISTRADO POR:
Pe. Masc. Silvestre Paulo B. Sales
Ananindeua - PA
2021
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SUMÁRIO
TITULO I 4
NORMAS GERAIS 4
I - INTRODUÇÃO AO DIREITO CANÔNICO 4
1.1 - NOÇÃO DE DIREITO CANÔNICO 4
1.2 - O DIREITO E A IGREJA....................................................................................................5
1.3 - A DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO CURSO DE DIREITO CANÔNICO .......................5
1.4 - ABRANGÊNCIA DA HISTÓRIA DAS FONTES DO DIREITO CANÔNICO................5
1.5 - FONTES FUNDAMENTAIS DO DIREITO ECLESIÁSTICO..........................................7
1.6 - DIREITO CANÔNICO........................................................................................................8
1.7 - O DIREITO É PROFÉTICO................................................................................................9
1.8 - A FUNÇÃO DO DIREITO ECLESIÁSTICO E DO DIREITO CANÔNICO....................9
1.9 - DIREITO E IGREJA..........................................................................................................10
1.10 - SÍNTESE HISTÓRIA.......................................................................................................12
II - MOMENTO NORMATIVO 14
2.1 - A NORMA CANÔNICA 14
2.2 - LEI CANÔNICA 15
2.3 - CÂNONES INTRODUTÓRIOS 16
2.4 - INTERPRETAÇÃO DA LEI- cc.16-19 18
2.5 - CESSAÇÃO DA LEI - CC. 20-21 18
2.6 - COSTUME JURÍDICO ( CC. 5 E 23-28) 19
III - ALGUNS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO 19
3.1 - IRRETROATIVIDADE DAS LEIS 20
3.2 - O SENTIDO DAS LEIS 20
3.3 - MATÉRIA ODIOSA 20
3.4 - CANONIZAÇÃO DA LEI CIVIL - C. 22 21
3.5 - PRESUNÇÕES CANÔNICAS 24
3.6 - LACUNAS DO DIREITO 24
IV - DECRETOS GERAIS E INSTRUÇÕES - CC. 29 - 34 25
V - ATOS ADMINISTRATIVOS SINGULARES - CC. 35-47 26
5.1 - DECRETO SINGULAR 26
5.2 - PRECEITO SINGULAR 26
5.3 - RESCRITOS (CC. 59-75) 26
5.4 - OBREPÇÃO E SUBREPÇÃO (C. 63) 27
5.5 - O SILÊNCIO ADMINISTRATIVO (C. 57) 27
5.6 - PRIVILÉGIO 28
5.7 - DISPENSA ( CC. 85-93) 28
5.8 - SUJEITO ATIVO DA DISPENSA 28
VI - PESSOA FÍSICA 29
6.1 - SUJEITOS DE DIREITOS E DEVERES 29
6.2 - CONDIÇÕES CANÔNICAS DA PESSOA FÍSICA.........................................................30
VII - PESSOAS JURÍDICAS..........................................................................................................31
7.1 - REGIME JURÍDICO DA PESSOAS JURÍDICAS (CC. 118-119)...................................32
7.2 - EXTINÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS (CC. 120-122)...............................................32
7.3 - RELAÇÕES JURÍDICAS..................................................................................................32
VIII ATOS JURÍDICOS (cc.124-128) 33
8.1 - DECLARAÇÃO DA VONTADE NOS ATOS E CONTRATOS 33
8.2 - VÍCIOS DO CONSENTIMENTO OU DA VONTADE 34
8.3 - ATOS JURÍDICOS COMPLEXOS 35
8.4 - REPARAÇÃO DE DANOS (c.128) 35
IX - PODER DE REGIME (cc.129-144) 36
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9.1 - FACULDADES HABITUAIS 36
9.2 - OS ORDINÁRIOS (cc. 134; 368; 295; 381§2) 37
9.3 - PODER EXECUTIVO (cc. 136-138) 38
9.4 - SUPLÊNCIA DO PODER (C.144) 38
X - OFÍCIOS ECLESIÁSTICOS (c. 145-156) 39
A provisão se faz por: Livre colação 39
10.1 - LIVRE COLAÇÃO (c.157) 39
10.2 - APRESENTAÇÃO E INSTITUIÇÃO (cc.158-163) 39
10.3 - ELEIÇÕES CANÔNICAS (cc.164-179) 40
XI - PERDA DO OFÍCIO ECLESIÁSTICO (cc.184-196) 40
11.1 - RENÚNCIA (cc.187-189) 40
11.2 - TRANSFERÊNCIA (cc.190-191) 40
11.3 - REMOÇÃO OU DESTITUIÇÃO (cc.192-195) 41
11.4 - PRIVAÇÃO (c.196) 41
XII - PRESCRIÇÃO (cc.197-199) 41
XIII - CÔMPUTO DO TEMPO (CC. 200-203) 41
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TÍTULO I
NORMAS GERAIS

I - INTRODUÇÃO AO DIREITO CANÔNICO


A Igreja é divino-humana e, como sociedade humana, precisa de leis aptas a garantir a boa
ordem entre seus membros; essas leis, além de suas finalidades imediatas, têm em vista um objetivo
transcendental: levar os fiéis à vida eterna, a contemplação da Beleza Infinita. Por isso, a clássica
linguagem jurídica: “Salus animarum suprema lex esto. A salvação das almas seja a lei suprema”.
O novo Código de Direito Canônico foi promulgado em 1983; substitui o anterior, que datava de
1917, e é expressão da mentalidade renovadora do Concílio Vaticano II, cujos documentos ressoam
nitidamente através dos canônes. Veremos aqui noções de alguns conceitos fundamentais para o
estudo das fontes do direito canônico.
O direito é a soma dos princípios, normas, regras, disposições, determinações e sanções que
a sociedade humana aceita ou impõe para garantir a conveniência de seus membros e a sua própria
sobrevivência. Etimologicamente, a palavra direito é oriunda do latim directum, particípio passado
de dirigere (dirigir, (co)mandar). A palavra dirigere procede de regere (reger, governar). Em latim,
direito se diz ius, expressão que pode ter vindo de iuvare (ajudar) ou de Iovis (outro nome do deus
romano Júpiter, regente dos homens, deus da justiça); pode vir ainda de iugum reor (impor), ou de
iubere (mandar), ou de iustitiam, iustum (o que é devido ou se opõe como argumento).
Canônico é qualificativo que vem de cânon, palavra latina recebida do grego kánon (régua,
guia, norma, critério de medida), equivalente a lei, diretriz, prescrição emitida pela autoridade
social. Desde o século IV designa decisões disciplinares tomadas pelos sínodos ou concílios, em
contraposição às deliberações dos imperadores da época, conhecida como nomos (princípio
diretivo, usado com força de lei, regra, prescrição). Portanto, canônico dizia respeito às leis
eclesiásticas. Se essas leis fossem ao mesmo tempo eclesiásticas e civis, chamavam-se
nomocânones.
Eclesiástico refere-se à Igreja, que em grego se diz ekklesía, formado pela preposição ek
(que denota origem) e do verbo kalei (chamar), donde ecclesia em latim, empregado para exprimir
o conceito de assembléia convocada. Na linguagem cristã, é a reunião dos chamados por Jesus
Cristo – a sua Igreja (Mt 16,18) – que ele congregou para que dessem continuidade à pregação de
seu Evangelho e a Boa Nova de salvação da humanidade, que é o Reino de Deus sobre a terra, a
concretização temporal do Evangelho em vista da plena realização eterna.

1.1 - NOÇÃO DE DIREITO CANÔNICO ECLESIÁSTICO

A Teologia Fundamental explica que a Igreja tem, por sua constituição, uma organização
hierárquico-monárquica e possui poderes legislativos, judiciários e executivos. A função desses
poderes é o de guiar, com meios adequados e segurança, o povo de Deus em sua completa
realização. Suas leis, tanto as diretamente dimanadas da Revelação do Senhor, quanto as que em seu
nome são proferidas pela autoridade que ele estabeleceu para a ordenação da vida de suas
comunidades, ligam os membros da Igreja, membros do Corpo Místico, cuja Cabeça é Cristo e cuja
alma é o Espírito Santo. Por isso é importante o conhecimento dessas leis e instituições derivadas,
de sua evolução através dos tempos e lugares. Isso demanda pesquisa, e é objeto do estudo das
Fontes do Direito Canônico. Assim, a definição de História do Direito Canônico se exprime como a
ciência que, mediante a investigação, procura evidenciar a origem e o desenvolvimento das normas
que constituem a legislação eclesiástica da Igreja católica.
O Direito Canônico, segundo Arnaldo Bertola, pode ser definido como o complexo das leis
estabelecidas e aprovadas pela Igreja para o governo da sociedade eclesiástica e a disciplina das
relações dos fiéis entre si e com seus pastores.
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1.2 - O DIREITO E A IGREJA

O atual fenômeno jurídico-eclesiástico que se verifica nos vinte séculos de existência da


Igreja católica decorre de sua própria natureza. Suas leis provêm de sua constituição, que, embora
divina em sua origem, é humana nas pessoas que a compõem e inserida na grande sociedade
humana. Por isso mesmo, sem perder de vista o sobrenatural, o direito eclesiástico é
necessariamente passível de evolução pela parte humana que possui.
Inconcebível seria o direito eclesiástico estar livre das mutações sociais, uma vez que ele se
propõe regular a existência da Igreja, sempre sujeita a novas situações e exigências em meio aos
homens. É impossível não ver o direito eclesiástico se ajustando ao progresso do dia-a-dia ou
acomodando-se a injunções restritivas. Para subsistir, o sadio espírito da tradição jurídica exige
essa adaptação.
A importância do estudo da História do Direito Canônico é que devido a essa evolução: se o
Direito atual está baseado no precedente, deve-se remontar ao Direto anterior, e, portanto, é
importante conhecê-lo.

1.3 - A DISCIPLINA DE HISTÓRIA NO CURSO DE DIREITO CANÔNICO

O interesse pela história do Direito Canônico é tardio. Surge a partir do século XVI com
finalidade apologética, para rebater as alegações jurídicas de heterodoxos (protestantes, galianos,
febronianos e jansenistas). Recebeu notável impulso com a admiração suscitada com os estudos de
Direito romano no século XIX.
A preocupação dos canonistas era voltada para a exegese e a aplicação da lei. A
promulgação do Código de Direito Canônico de 1917 fez essa preocupação se estender também à
sua evolução.
A constituição apostólica do Papa Pio XI, Deus Scientiarum Dominus, de 24/04/1931, que
reformou os estudos eclesiásticos, introduziu a cadeira de História do Direito Canônico nas
faculdades respectivas, em favor dos canonistas que aspiram aos graus acadêmicos. A então
chamada Sagrada Congregação dos Seminários e Universidades dos Estudos, encarregada de
regulamentar a citada constituição apostólica, inseriu no currículo da cadeira a subdivisão em três
seções: um primeiro ciclo de estudo das instituições canônicas, um segundo ciclo de estudo do
código em si e suas fontes, e um terceiro ciclo de aprofundamento na investigação científica.

1.4 - ABRANGÊNCIA DA HISTÓRIA DAS FONTES DO DIREITO CANÔNICO

A História das Fontes do Direito Canônico é a história externa do direito canônico.


Compreende a evolução das coleções, preceitos, disposições e normas, emanados da autoridade
eclesiástica desde os inícios da Igreja até o presente, nas diversas épocas e lugares.
Também diz respeito à História das Fontes do Direito Canônico o estudo da Literatura
Canônica e o estudo da Ciência do Direito. Esses estudos tratam da sua origem, de seu progresso,
das alternâncias da atividade científica, dos juristas que a desenvolveram, estuda suas vidas, obras,
hipóteses, opiniões, seus métodos, doutrinas, formas literárias, e as condições de ensino dos
mestres e de aprendizado dos alunos, além do relacionamento do Direito Canônico com outras
ciências.
A História das Fontes do Direito Canônico responde ao porquê do nascer e do evoluir da
legislação da Igreja e, consequentemente, oferece elementos úteis e necessários à sua melhor
compreensão. Fonte Canônica é a origem das normas jurídicas eclesiásticas. O estudo das fontes
pode versar sobre sua razão de existir, onde neste caso chamam-se fontes de ser, constitutivas ou
materiais. Elas procedem da autoridade legislante que, em última análise, é a razão de sua
existência. Pode-se dizer que a história das fontes se identifica com a história das coleções
canônicas cujo conhecimento se procura obter mediante a pesquisa, a qualificação, a procedência, o
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valor etc.
Divisão das Fontes As fontes são divididas conforme sua procedência e destinação. a)
quanto ao legislador: podem ser de Direito divino (provenientes da Revelação) ou de Direito
humano (provenientes da autoridade eclesiástica, da civil ou de ambas); as de Direito humano
podem se chamar coleções de leis, nomocânones, decretais, capitulares, mistas (quando se originem
de aprovações eclesiásticas e imperiais), pontifícias, conciliares, sinodais, de organismos
secundários, ou de duas ou mais procedências. b) quanto à abrangência: podem ser de Direito
universal ou de Direito particular, se referem a todos os súditos ou apenas a parte deles. c) quanto à
obrigatoriedade: podem ser de Direito comum ou de Direito singular. d) quanto ao método de
composição das coleções: podem ser cronológicas (organizadas segundo as datas da publicação e
assim catalogadas e arquivadas) ou sistemáticas (organizadas cientificamente, por temas). e) quanto
à confiabilidade literária: podem ser genuínas ou autênticas (se efetivamente foram compostas ou
assumidas por quem se lhes atribui e se contem leis verdadeiras), falsas ou pseudoepígrafas (se, ao
contrário, apresentam adulterações a respeito do nome do autor ou acréscimos não originais, apesar
da matéria ser genuína), espúrias ou apócrifas (se apresentam leis cerebrinas ou imaginárias).
Nomenclatura de documentos originários da Santa Sé A nomenclatura da documentação
publicada pela Santa Sé no exercício do poder legiferante é muito variada e jamais foi uniforme. Na
Antiguidade, as expressões orais dos papas eram chamadas oracula vivæ voeis (oráculos de viva
voz) e não fazem parte do estudo das fontes. Nos primeiros séculos da Igreja, as coleções de
documentos em que o papa declarava, por escrito, alguma norma eclesiástica eram conhecidas
como Decreta,
Responsa, Decretalia, Constituta, Monita, Sanctiones, Epistolæe decretales, Interdictæe e
Litteræ tracctoriæ. As leis que os papas emitiam com os bispos das dioceses vizinhas de Roma
eram os Cânones urbicani. As cartas pontifícias que continham definições ou matérias de fé, ou
ainda profissão de fé de algum bispo, chamavam-se Epistolæe synodicæ, verifica-se idêntica
ausência de uniformidade terminológica durante a Idade Média. Lê-se no Decreto de Graciano o
nome Decreta, significando atos do sumo pontífice. Statuta eram os atos de um concílio.
Na glosa do Decreto havia o Decretum, um documento daquilo que o papa estabeleceu,
originado de decisões tomadas no conselho dos cardeais, independentemente de consulta a quem
quer que seja. Havia ainda a Epistolæ decretales, documentos de decisões que o papa teria tomado
pôr si só ou com os cardeais, em resposta à consulta de alguém. Entre o Decreto de Graciano e as
decretais do papa Gregório IX, introduziu-se o uso do termo Constitutio (constituição), que no
Direito medieval, se referia genericamente a qualquer determinação imperial, enquanto no Direito
Canônico da mesma época se referia genericamente a qualquer lei publicada pelo pontífice. Com o
passar do tempo a terminologia foi se uniformizando e algumas expressões conservam a mesma
semântica até hoje, pormenorizada a seguir:
a) Constitutiones ou Constitutiones Apostolicæ: leis promulgadas pelos papas, dirigidas
à Igreja universal ou a porção dela, sobre assuntos referentes à fé, a moral, ou mesmo sobre
assuntos jurídicos de certa gravidade; nem sempre revestidas da solenidade de uma bula;
b) Decreta: expressão generalizada para leis comuns emitidas pelos papas, atualmente
restritas às determinações das Congregações Romanas;
c) Motu Próprio: expressão que significa ato voluntário do papa, possivelmente
precedido de solicitação ou consulta, mas sempre publicado por iniciativa do pontífice que apõe sua
assinatura; sua promulgação e sua forma é menos solene do que a dos demais documentos; citam-se
pelas primeiras palavras do texto;
d) Epistolæ Decretales ou Decretales: antes do século IV eram documentos livres que
se referiam aos atos consequentes a alguma consulta feita à Santa Sé; porém desde o fim do século
IV e sobretudo durante a Idade Média e início da Idade Moderna, o termo passou ao uso de leis
ditadas pelos papas com o nome de Decretalia Constituta, ao lado da designação de outros
documentos mencionados;
e) Litteræ Apostolicæ: documentos destinadas a assuntos administrativos, como a
ereção de um vicariato apostólico;
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f) Litteræ Encyclicæ: comumente dirigidas aos bispos e fiéis do mundo inteiro, ou de
parte ponderável da Igreja, com diretrizes a respeito da fé e da moral;
g) Litteræ Pontificiæ ou Epistolæ: documentos onde o pontífice instrui, admoesta,
exorta, demonstra benevolência ou se congratula;
h) Rescripta: tratam de concessões particulares, privilégios, favores, dispensas em
vantagem de pessoas particulares que os solicitam;
i) Bulæ ou Litteræ Apostólicæ Sub Plumbo: usados para documentos autenticados de
reconhecida importância; citam-se as bulas pelas primeiras palavras da arenga do documento. (Sub
Plumbo = sob chumbo, é uma expressão que designa o tipo o selo de autenticação pendente do
documento por fita ou fio de seda; o selo, em forma de pequena esfera ou bola, pode ser de ouro,
prata ou, comumente, de chumbo; os documentos de menor categoria são autenticados com selo de
lacre vermelho, com o nome do pontífice sem o número ordinal, precedido da fórmula Servus
servorum Dei =Servo dos servos de Deus, e na datação acrescentam-se os anos do pontificado);
j) Breves: cartas apostólicas de menor solenidade; são chamadas assim devido à omissão de
várias fórmulas usuais nas bulas e pelo estilo mais sucinto; emprega-se nelas papel comum,
intitulam-se com o nome do papa e seu número ordinal, o selo é de cera vermelha, impresso no
próprio papel; como referência à figura de São Pedro, no timbre concluem-se com os dizeres “sob o
anel do pescador”;
k) Quirógrafos ou Cartas Autografas: em regra são documentos de caráter pessoal, firmados
de próprio punho pelo pontífice;

1.5 - FONTES FUNDAMENTAIS DO DIREITO ECLESIÁSTICO

A Palavra transmitida
Ao iniciarmos a exposição das fontes do Direito Canônico é certamente útil lembrar, mais
uma vez, que pela própria constituição da Igreja suas leis se fundamentam na Palavra de Deus,
revelada plenamente por seu Verbo feito Homem, Jesus Cristo, que não é apenas o Salvador e
Redentor da humanidade, mas também seu 1egislador.
A Revelação compreende não apenas pela Palavra contida nos livros sagrados inspirados – a
Sagrada Escritura – mas também a Palavra que nos chegou oralmente – a Sagrada Tradição. Essas
duas fontes são as fontes primárias cognoscitivas do Direito Canônico e a parte mais nobre das leis
eclesiásticas. Nelas está o Direito Divino positivo, expressão da vontade do supremo Legislador e
Juiz da Igreja, além de ser, por outro lado, expressão da lei natural.
Quanto à Sagrada Escritura, em ambos os Testamentos consta como autor o Espírito Santo,
aval de sua inspiração e inerrância. O critério pelo qual os livros da Bíblia Sagrada são
considerados canônicos é assegurado pela Sagrada Tradição, por meio do pronunciamento do
Magistério Eclesiástico claramente manifestado pelo Concílio de Trento.
Este concílio também declarou autêntica a versão da Vulgata, sem excluir outras, igualmente
aprovadas pela Igreja. No Novo Testamento, os dogmas e preceitos são fontes diretas (ou, no
mínimo, indiretas) de maior valor para o Direito Canônico. Por meio delas conhecemos, em
grandes linhas, a matéria jurídica da Igreja, sua constituição, seu direito sacramental, administrativo
e coercitivo. Por isso a Sagrada Escritura é tida como código sagrado, estabelecido pelo Fundador
da Igreja e consequentemente ocupa uma posição de máxima dignidade. É inaceitável apelar tão
somente para a evolução histórica do Direito Canônico com o propósito de explicar suas leis, sem
levarem conta o que foi originalmente proferido como norma pela Palavra Divina.
Para o Direito Eclesiástico, a Sagrada Tradição é outra fonte revelada de onde dimanam
normas com que a Igreja se orienta ao determinar suas leis e sua disciplina, julgando-a ditada pelo
Espírito Santo por meio dos apóstolos. É conservada pela Igreja com igual respeito ao que tributa à
Sagrada Escritura. A doutrina católica considera a Sagrada Tradição fonte não só do dogma, mas
também da moral cristã e do Direito Eclesiástico.
Logo, não se pode sustentar que todas as leis e instituições canônicas, conservadas através
dos séculos, derivem apenas da Igreja primitiva, ou somente se expliquem pela evolução histórica
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da própria Igreja. No estudo da Sagrada Tradição, é importante o conteúdo e o patrimônio jurídico
que possam conter, objeto de pesquisas certamente úteis para o conhecimento das normas
existentes na igreja, nas eras sub-apostólica e patrística.
Essas normas se encontram nos primeiros documentos, nos escritos dos Santos Padres e
deixam transparecer algo do jurídico da Sagrada Tradição, como se pode ver na Carta de São
Clemente aos Coríntios, nos fragmentos dos atos litúrgicos mais antigos, nas disposições
disciplinares dos papas Sotero (166-175), Eleutério (175-179), Vitor I (189-199) e Zeferino (199-
217), mediante admoestações e veredictos. Mais ou menos o mesmo se pode dizer dos padres da
Igreja e dos escritores eclesiásticos e apologistas do século Il (Santo. Irineu, São Cipriano,
Tertuliano), embora estes se classifiquem como fontes não jurídicas. Não podemos omitir como
fontes de onde emana o direito, os decretos dos sumos pontífices e dos sínodos e concílios quando
proferidos pelas autoridades competentes, quer eclesiásticas, quer imperiais, como é o caso dos
nomocânones.
Outras fontes primitivas e secundárias a) O direito civil romano muitas vezes tanto se
introduziu no eclesiástico que deu lugar ao aforisma decorrente da Lex Ripuaria Romanorum,
“Ecclesia vivit iure romano” (A igreja vive pelo Direito romano). Seu espírito, suas leis, seu
equilíbrio, supletivamente muito contribuíram para a legislação da Igreja em formação e emergem
em coleções de diferentes épocas, constituindo-se até fontes de normas recebidas na legislação
canônica.
b) Menor foi a influência do Direito germânico, por ser menos evoluído; porém foi notada
sua influência de maneira subsidiária ao se tornar necessária sua colaboração, quando os germanos
transmigraram para o Ocidente e por ocasião da constituição da Igreja Medieval.
c) Também aparecem no Direito Canônico textos extraídos de obras teológicas,
especialmente na primeira fase da história das fontes e no Decreto de Graciano, dada a íntima
conexão do Direito Canônico com a doutrina da Igreja, defendida pela teologia dogmática, moral e
pastoral, em um período em que não se divisavam bem os limites e os objetivos formais de cada
disciplina. Assim acontecia com as disposições penitenciais nas coleções canônicas, que são
também normas morais e pastorais; o mesmo se verificava nas decisões repressivas das heresias.
d) Observação equivalente cabe ao culto divino: nas normas incluídas nas coleções
canônicas; encontra-se nelas bastante matéria jurídica que lhe diz respeito.
e) O mesmo ocorre nos documentos históricos, eclesiásticos ou profanos, autênticos ou
mesmo espúrios, em que não raro o leitor se surpreende com farto material jurídico, relacionado
com concessões e prerrogativas, ou com impugnação de erros, doutrinas heterodoxas e situações
avessas à disciplina, acerca das quais a autoridade da Igreja não podia se omitir.

1.6 - DIREITO CANÔNICO


Criando o homem, Deus o quis um ser social, ordenado à vida social. O caráter social da
natureza humana conduz os homens normalmente a se agrupar, primeiramente na sociedade que é a
família, e em seguida, mais ou menos rapidamente, na forma de sociedade perfeita, o Estado, que
tem sua origem na evolução da vida social. Por força deste direito natural o homem é incorporado
na família e na sociedade.
O direito da Igreja não seria entendido em seu sentido exato se aplicássemos a ele as
mesmas categorias do direito natural, e apenas a elas. Daria a impressão de que o direito descreveria
exclusivamente as relações de justiça, e tudo se reduziria a estas relações.
O direito eclesiástico deve ser determinado e estudado sempre levando em consideração a
estrutura e o fim da Igreja. Assim o sistema jurídico eclesiástico não é um ordenamento como outro
qualquer mas está na sua existência, forma e função, determinado pelo conceito de Igreja.
No direito atual podem-se identificar duas eclesiologias definíveis como a “eclesiologia ,..

da sociedade” e a " eclesiologia da comunhão”, que as opções sistemáticas feitas pelo


legislador, obedecendo ao princípio de codificação abstrata, manifestam com sérias consequência
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para o estudo e a compreensão do direito da Igreja. cf. LG 4 e 8.

O direito canônico evocado pela natureza social da Igreja e baseado no Poder que o Cristo
comunica à sua Igreja, visando a salvação dos homens, que pode ser o poder de jurisdição: a
tarefa de ordenar e dirigir a Igreja. O poder de magistério: de ensinar e instruir com autoridade o
povo de Deus. O poder de ordem (ordenação): administrar os auxílios da graça divina. O poder
jurisdicional é legislativo, judiciário e executivo. Isso implica uma autoridade que pode obrigar, em
consciência, os membros da comunidade mediante leis, normas e outros elementos que compõem o
ordenamento jurídico.
A estes direitos e poderes corresponde o dever de ouvir e seguir em consciência o que for
ordenado pelo superior. Isso é essencial à Igreja como corpo visível. A Igreja visível é constituída
como comunidade de fé, esperança e caridade pela palavra e pelos sacramentos. Disso
segue claramente que o direito da Igreja não pode ser definido apenas como categorias de justiça,
embora o direito canônico descreva também direitos e deveres como o faz todo direito em qualquer
sociedade humana. As leis Igreja são em primeiro lugar leis religiosas que devem ser aplicadas de
maneira diferente das leis puramente jurídicas.
Definição: "Direito canônico é o ordenamento da comunidade visível de fé que serve para
regular as relações jurídicas entre as pessoas e instituições, visando a finalidade da Igreja e de cada
fiel individualmente, na realização da vontade salvífica de Deus neste mundo”.

1.7 – DIREITO É PROFÉTICO?


Um dos motivos por que se legisla é conservar os valores que resistiram às provas dos
tempos e que a comunidade deseja salvaguardar. Esta função da lei pode enriquecer as gerações
futuras preservando para elas a intuição e a sabedoria do passado. Mas, ao mesmo tempo, a lei
conserva a compreensão de um valor tal qual existe ao tempo em que a lei é feita.
Qualquer direito, inclusive o eclesiástico, é marcado pelos valores, preocupações e
esperanças do momento histórico em que é promulgado. Mas as instituições de uma época, as
preocupações e debates de um determinado momento histórico não são necessariamente os mesmos
das gerações seguintes. O trabalho de legislar para uma Igreja de proporções mundiais traz consigo
os problemas específicos de relacionamento com Igrejas e culturas locais que se encontram em fase
histórica diferente, em níveis diferentes de desenvolvimento. A lei, ao conservar valores. Expressa
os numa forma culturalmente limitada e datada.
O direito tem também uma função profética. Ensina valores. Pode apresentar ideais que a
comunidade é chamada a viver, desafios que força a comunidade a crescer. Neste sentido, é
inovador, visa o futuro, evoca o que há de melhor na comunidade. Mas um profeta cujo grito não se
dirige às realidades em que vive pode ser um visionário sem raízes e profetas que só falam o que
agrada ao príncipe raramente produzem verdadeiras profecias. Assim o direito, ao tempo em que
desafia a comunidade a uma fidelidade maior deve deitar raízes na vida da comunidade e ser
sensível às verdadeiras aspirações dela.

1.8 - FUNÇÃO DO DIREITO ECLESIÁSTICO E DO CANONISTA

O direito eclesiástico tem uma responsabilidade eclesial única: conservar a sabedoria pastoral
e os valores já conquistados na peregrinação do povo de Deus, e facilitar nessa comunidade a ação
do Espírito Santo que habita nos fiéis cristãos: É uma tarefa difícil porque é executada em formas
jurídicas, de fato na estrutura de um sistema jurídico específico. Quando esse sistema jurídico é
estranho à experiência da maioria dos fiéis, pode ser mais difícil captar na lei os valores perenes que
devem ser renovados com a mudança dos tempos e circunstâncias. O direito eclesiástico e a
realidade de uma Igreja de dimensões mundiais estão, portanto numa espécie de tensão: tensão esta
aguçada mais ainda pelo rápido crescimento da Igreja no terceiro mundo e pela voracidade das
mudanças nos países cristãos tradicionais.
O canonista tem atualmente na Igreja uma ampla gama de funções. Três delas podem ser
destacadas como fundamentais na vida pastoral: o ensino nas Faculdades e Institutos de Teologia e
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nos seminários; a administração da justiça nos Tribunais Eclesiásticos; e o trabalho administrativo
nas cúrias diocesanas, nos institutos de vida consagrada e nas sociedades de vida apostólica. As três
exigem especialização e dedicação. O conhecimento do direito canônico não se improvisa. É fruto
de muitas horas de estudo, de reflexão e de experiência pastoral.
Para o ensino, é óbvio que é necessário um especialista. Não basta ter estudado umas noções
básicas da matéria que pretende explicar. O mestre deve estar num nível superior ao do discípulo.
Apesar disso, com a multiplicação dos cursos de Teologia no Brasil, há numerosos seminários que
confiam as aulas de direito canônico a professores improvisados, que, no máximo, conseguem
correr duas ou três horas na frente dos alunos. A consequência é não somente uma deficiente
formação, mas em muitos casos, uma falta de interesse e até uma rejeição dos seminaristas ao
direito canônico.
De modo semelhante, para que os Tribunais Eclesiásticos sejam um verdadeiro instrumento
pastoral de administração da justiça da Igreja, é preciso que juízes, defensores do vínculo e
promotores de justiça sejam autênticos especialistas em direito canônico. Embora neste campo se
detecte urna melhor formação, o panorama dos nossos tribunais está longe de ser o ideal. Se, de
acordo com o que prescreve a legislação canônica, fosse exigido efetivamente de todos esses
servidores da justiça o diploma de mestre ou doutor, pouquíssimos tribunais teriam condições de
continuar a funcionar em nosso país.
Também não é para provocar otimismo -o panorama de nossas cúrias diocesanas. Não é
necessário, é verdade, que o vigário geral seja canonista, embora deva ter um conhecimento
razoável de nossa matéria. Mas evidentemente que deve ter ao lado algum especialista a quem possa
consultar. Não é possível expedir dispensas, provisões e outros processos administrativos sem
conhecer a legislação que os regulamenta. E esse é o dia-a-dia de uma cúria. Algo semelhante se
pode dizer dos secretários provinciais nos institutos da vida consagrada e nas sociedades de vida
apostólica. As consequências da falta de pessoal especializado no direito canônico podem ser muito
sérias, pois o erro no campo canônico poder ter transcendência não só em relação à liceidade, mas
também à validade dos atos; por exemplo os votos religiosos. O único remédio para esta situação
seria a intensificação do estudo do direito canônico.

1.9 - DIREITO E IGREJA

A igreja é essencialmente um mistério sobrenatural, um mistério de fé (LG. 1). A mente


humana, mesmo à luz da fé, não pode captar na totalidade o seu ser profundo. Mas o mistério da
Igreja é de algum modo conhecível e inteligível; e esses aspectos inteligíveis, que o cristão pode
chegar a conhecer, são suficientes para perceber a essência e a configuração da Igreja, mesmo sem
esgotar toda sua riqueza e profundidade. Para se descobrir o direito na Igreja é preciso adentrar-se
com os olhos da fé, mas numa perspectiva de jurista, com uma mentalidade jurídica, pois ainda que
a teologia e a filosofia auxiliem e iluminem em muito o direito, a filosofia do direito e a teologia do
direito não são propriamente direito canônico.
A existência do direito na Igreja não se justifica apenas pelo seu caráter societário e
hierárquico (existência do poder); não é suficiente a aplicação do princípio filosófico-jurídico: "Ubi
societas ibi ius''. Explica-se sobretudo pela dimensão de justiça inerente ao total mistério da Igreja.
Se a realidade do direito é inseparável desse dar a cada um o que é seu em que consiste a justiça,
esta é, por sua vez a dimensão inseparável do total mistério da Igreja que há de realizar-se aqui e
agora na etapa terrena do plano divino da salvação.
Na unidade do direito canônico há elementos divinos e humanos, mesmo que ao distingui-los
não possamos separá-los. Direito divino são aqueles aspectos do desígnio de Deus acerca da Igreja e
concretamente da vontade fundacional de Cristo que tem em si consequências jurídicas. O direito
natural constitui o fundamento daquelas facetas que o direito canônico tem em comum com os
ordenamentos jurídicos profanos. O direito natural está incluído no direito divino, porém tem-se
por direito divino as normas dadas por Cristo, princípios de ordem e exigências de justiça inerentes
P
ao ser cristão e a natureza da Igreja, que passaram a ter existência histórica ela revelação de
Jesus Cristo. O direito humano na Igreja é a expressão do esforço para concretizar e
desenvolver historicamente o programa de convivência traçado por Cristo ao fundar a Igreja.
Para que o direito divino atinja seus objetivos e surta efeito é necessário positivar-se, isto é,
que se tome consciência eclesial de seu conteúdo concreto; e formalizar-se, isto é, que assuma
forma técnica, jurídica e seja integrado no ordenamento canônico. Assim sua aplicação atinge força
social e não fica a depender apenas da boa vontade de quem cumpre ou aplica o direito.
Portanto a dimensão jurídica é intrínseca à natureza da Igreja que tem seu próprio direito, o
canônico, no qual o direito divino constitui o núcleo fundamental que estrutura e informa toda a sua
realidade.
Desde as origens da vida da Igreja até os tempos atuais, o direito canônico tem encontrado
opositores tanto dentro da Igreja como fora dela. Dentro da Igreja têm surgido concepções errôneas
que exaltam tanto o espiritual e mistérico, que excluem, como pura invenção dos homens, os
aspectos estruturais e normativos próprios do jurídico, vendo-os corno obstáculo para o pleno
desenvolvimento da vida cristã e para a genuína fidelidade ao espírito evangélico.
Gnósticos, Montanistas, Cátaros, Valdenses e Albigenses, Protestantes e Modernistas
manifestam ao longo dos séculos essa suposta incompatibilidade entre o divino e o humano, o
invisível e o visível, a liberdade e a autoridade, a vida segundo o espírito e a sujeição à
hierarquia eclesiástica. Porém na única Igreja fundada por Cristo esses elementos se
encontram tão maravilhosamente unidos que entre eles não se dá incompatibilidade alguma,
mas misteriosa harmonia.
Gnósticos (Séc. 11) - Pagãos, influenciados por filosofias gregas como Platonismo e
Estoicismo e por religiões persas ensinavam que a matéria é má em si e produto de um princípio do
mal. Convertidos tentavam conciliar a doutrina cristã com suas ideias filosóficas resultando em
erros e blasfêmias. O gnosticismo, em suas diversas formas, ensinava o panteísmo e o dualismo,
negando a divindade de Cristo e sua obra redentora.
Montanistas (Séc. III) - Montano quis iniciar o período do Espírito Santo. O pai revelou-se
no AT; Deus filho em Jesus Cristo e o Espírito Santo nele e em seus adeptos. Diziam que alguns
pecados não devam ser perdoados. Tertuliano no fim da vida seguiu o rigor dos montanistas.
Cátaros - Albigenses (Séc. XII e início do Séc. XIII) - Originários de Albi, espalhavam-se no
sul da França e norte da Itália. Negavam a Trindade, a redenção, a criação. A alma humana, um
anjo decaído, depois da morte se une a outros corpos até de animais. Rejeitavam Igreja,
sacramentos, veneração de imagem, juramento, guerra, pena de morte, matrimônio, autoridade, etc.
Waldenses - Pobres de Lyon - Waldes, rico negociante do sul da França no fim do Séc. XII.
Converteu-se, deu os bens aos pobres e saiu pregando penitência de cidade em cidade. Lúcio III o
excomungou porque negava o purgatório, as orações pelos mortos, as indulgências, o juramento, o
serviço militar, a pena de morte, não trabalhavam e queriam viver de esmolas. Os da Itália negavam
os sacramentos e diziam que o valor do sacramento depende da santidade do ministro. Os da França
praticavam o catolicismo.
Protestantes - São os irmãos separados pela Reforma do Séc. XVI e XVII como os
Luteranos, Calvinistas, Anglicanos e outras denominações mais recentes, nestas reformas
inspiradas. A verdade é que todas rejeitam, senão a hierarquia, pelo menos o poder do Papado e a
unidade e centralidade da fé e da comunhão eclesiásticas. Consideram-se simplesmente
comunidades espirituais, cuja cabeça é Cristo, consequentemente não há necessidade de chefe
visível nem de poder ou direito eclesial.
Modernismo - Tendência, denunciada pelo Papa Pio X em 1907, de aplicar em larga escala,
na exegese bíblica, a crítica histórica, científica e filosófica. Interpretando a Bíblia à luz destas
ciências, coloca em discussão a hierarquia eclesiástica, o poder do Papa e a necessidade do direito
eclesiástico.
A Igreja, povo de Deus e sociedade visível, é ao mesmo tempo comunidade pneumática
reunida no Espírito Santo, como família de Deus, corpo de Cristo, templo do Espírito Santo e
sacramento visível da unidade, organicamente estruturada na realização de sua missão através do
P
relacionamento dos homens pela fé, a esperança escatológica, e o amor fraterno, isto é, pelas
virtudes teologais e os sacramentos.
É nesse sentido que as virtudes teologais e os sacramentos estruturam a Igreja. Sendo ela
sacramento, sinal e instrumento a íntima união com Deus e da unidade com todo gênero humano,
podemos dizer que ela tem uma estrutura jurídica sacramental, e que o direito canônico encontra
suas raízes nos sacramentos. É pelo batismo que os homens se tomam fiéis cristão e adquirem o
estatuto jurídico com seus direitos e deveres; pela crisma adquirem o enriquecimento da graça para
confessar, difundir e defender a fé; pela comunhão na Eucaristia o fiel tem base da vida social na
vivência do amor, o relacionamento jurídico que tende para unidade; a penitencia conduz à
conversão e conserva na comunhão e no amor; o matrimônio realiza e figura o amor entre Cristo e a
Igreja e gera direitos e deveres; a ordem institui os ministros dispensadores da graça. Assim os
sacramentos criam a comunidade, estruturam a Igreja e são raízes do ordenamento jurídico, já que
este quer ser eclesial, baseado nos princípios do direito divino na vontade fundacional do Cristo
Senhor.

1.10 - SÍNTESE HISTÓRICA

Desde a Igreja primitiva, houve o costume de colecionar os sagrados cânones, para


possibilitar o conhecimento e a prática por parte dos ministros sagrados, como dizia o Papa
Celestino I, em 429, numa carta: "Não é lícito a nenhum sacerdote ignorar os seus cânones".
Também o Concílio de Toledo, em 633, ordena: "Os sacerdotes saibam as Sagradas Escrituras e o
Cânones, porque se deve evitar, principalmente nos sacerdotes de Deus, a ignorância, mãe de todos
os erros".
Nos dez primeiros séculos surgiram inúmeras coletâneas de leis, emanadas dos Concílios,
dos Papas e de fontes menores. No século XII, as coletâneas de normas, às vezes opostas entre si,
foram organizadas por Graciano numa "Concordia Discordantium Canonum", chamada Decreto de
Graciano que foi utilizado muito tempo como único instrumento jurídico na mão dos Pastores.
Dois séculos mais tarde, com o surgimento de muitas Decretais dos Papas, criou-se o
primeiro corpo de -leis, formado pelo decreto de Graciano e as Decretais, que a exemplo do Corpo
de Direito Civil do Imperador Justiniano, chamou-se Corpo de Direito Canônico.

Este corpo era composto de:


• Decreto de Graciano;
• Livro Extra de Gregório IX;
• Livro VI de Bonifácio VIII;
• Clementinas de Clemente V, promulgadas por João XXII;
• Extravagantes de João XXII;
• Extravagantes Comuns de vários Papas.

Este Corpo de Direito Canônico vigorou na Igreja até depois do Concílio de Trento na
medida em que se iam acumulando mais e mais decretais dos Papas. Depois de Trento, o acumulo
de leis sem nenhuma compilação em alguma coleção cria de novo incertezas, lacunas e
arbitrariedades.
No Concílio Vaticano I, muitos Bispos pediram uma reorganização das leis para a pastoral, o
que não foi possível. Pio X, no início de seu pontificado, nomeou uma Comissão sob a direção do
Cardeal Pedro Gasparri para fazer a coletânea e a reforma de todas as normas e leis eclesiásticas.
Neste trabalho resolveu-se mudar a forma de compilação que é juntar leis em textos prolixos de sua
forme originária, para a codificação que é redigir um novo texto numa forma breve. Seguindo o
sistema romano, a obra foi formada de cinco livros, acerca das pessoas, das coisas e das ações. A
obra durou 12 anos nas mãos de peritos, consultores e Bispos da Igreja, e "manteve a disciplina
P
vigente com as mudanças oportunas". (c.6)
Falecido Pio X, o primeiro código de direito canônico da Igreja foi promulgado por Bento
XV no dia 27 de maio de 1917 e entrou em vigor no dia 19 de maio de 1918, por isso se chama
código Pio-beneditino.
Este código foi muito útil e eficaz para o múnus pastoral da Igreja nas décadas que
antecederam o Vaticano II. Mas as mudanças rápidas do nosso século, tanto no mundo como na
Igreja, urgiram logo uma mudança nas leis eclesiásticas. Por isso João XXIII, aos 25 de janeiro de
1959, anunciando a celebração do Sínodo Romano e do Concílio Vaticano II, disse que estes
acontecimentos seriam a preparação para a renovação do código de direito canônico.
A Comissão para a revisão do código foi constituída em 28 de março de 1963, presidida pelo
Cardeal Pedro Ciriaci, e com o secretário Mons. Tiago Violardo. A Comissão de Cardeais decidiu
adiar o começo dos trabalhos para depois de terminado o Concílio cujo resultado iria influir não
pouco na nova codificação.
No dia 17/04/1964, Paulo VI juntou a esta Comissão mais 70 consultores, outros cardeais e
peritos de todo mundo. No dia 24 de fevereiro de 1965, o Papa nomeou novo secretário, Pe.
Raimundo Bidagor, SJ e aos 17/11/1965, secretário adjunto, o Mons. Guilherme Onclin. Falecido o
Cardeal Ciriaci, foi nomeado aos 21/02/1967, novo presidente da Comissão o Cardeal Pericles
Felici. Pe. Bidagor completou 80 anos e foi substituído por D. Rosalio Castillo Lara, coadjutor de
Trujillo na Venezuela; e, com a morte prematura do Cardeal Felici, D. Castillo foi nomeado pró
presidente da Comissão.
No fim do Concílio, aos 20/11/1965, realizou-se a Sessão solene que marcou o início dos
trabalhos de revisão do código, com a presença de toda Comissão e do Papa. Este falou do valor do
direito que emana da própria natureza da Igreja que recebeu poder de jurisdição direto de Cristo e
deve aplicá-lo na cura das almas para perseguirem a salvação.
No Sínodo dos Bispos, em outubro de 1967, foram aprovados os seguintes princípios:
1. Deve ser conservada a índole jurídica do novo código, exigida pela natureza social da Igreja.
O código deve definir e tutelar direitos e obrigações dos fiéis uns para os outros e para a
sociedade eclesiástica no que se refere ao culto a Deus e à salvação dos homens.
2. Evite-se o conflito entre o foro externo e o foro interno, próprio da igreja.
3. O novo direito deve levar em conta, além da justiça, a caridade, a temperança, a humildade e
a moderação. Busque-se a equidade na legislação e na aplicação da lei. Excluam-se normas
rígidas e onde não for necessário aplicar a lei escrita, recorra-se de preferência à exortação e
à persuasão.
4. As faculdades extraordinárias tomem-se ordinárias para dispensar as leis gerais, reservando
se ao Poder Supremo ou à autoridade superior somente aqueles que exijam exceção em
razão do bem comum.
5. Decorrente da descentralização, surge o princípio da subsidiaridade. Dado que o poder dos
Bispos tem origem divina, reconheça-se a justa autonomia das legislações particulares e do
poder executivo.
6. Em razão da igualdade fundamental entre os fiéis e da diversidade· de ofícios e funções,
definam-se os direitos das pessoas para que o poder apareça como serviço e se removam os
abusos.
7. Para garantir direitos subjetivos, atenda-se aos recursos administrativos e a administração da
justiça, distinguindo claramente as funções legislativa, administrativa e judicial, e os
organismos que as exercem.
8. Mantenha-se a índole territorial no governo eclesiástico, admitindo outros critérios como o
pessoal, para melhor atender à comunidade dos fiéis.
9. Com relação ao direito coativo da Igreja como sociedade externa, visível e independente, as
penas devem ser geralmente "ferendae sententiae", aplicadas e remetidas somente no foro
externo. As penas "latae sententiae" se reduzam a poucos casos, somente contra crimes
gravíssimos.
P
10. A sistemática do código, exigida pela revisão só será definida quando estiver quase
concluído o trabalho.

O trabalho árduo de revisão e reformulação do novo código de direito canônico, a partir da


nova eclesiologia do Vaticano II, não só em suas dimensões externas e sociais, mas na sua vida
íntima, como Corpo Místico de Cristo, foi de transformação tão profunda que fez do código um
instrumento utilíssimo na vida da Igreja e o último documento do Vaticano II.
Começando em 1965, os trabalhos se arrastaram por quase 20 anos de reuniões,
assembleias, palestras, consultas às conferências episcopais de todo o mundo, questionários a serem
respondidos e analisados, relatórios apresentados, até chegar a forma atual do novo código.
O Papa determinou a promulgação do novo código para o dia 25 de janeiro de 1983,
aniversário do primeiro anúncio da reforma. E no dia 27 de novembro de 1983 entrou em vigor o
novo código de direito canônico. Nele encontramos clareza, simplicidade, elegância e autêntica
ciência jurídica, espírito cristão e atualidade.

II - MOMENTO NORMATIVO

São as formas, manifestações, fontes, atos administrativos, leis, normas e costumes etc. que
produzem o direito, e das quais provém o ordenamento canônico, formando o conjunto de fatores
estruturantes da Igreja como sociedade.

Estes fatores são os: Momentos do direito


Elementos do direito
Momentos do direito são fatores que imprimem dinamismo no ordenamento jurídico, são
forças que o modificam e o transformam, fazem com que o ordenamento se mexa, não fique
parado.
Elementos do direito são as relações jurídicas que estruturam a sociedade eclesial,
possibilitando a convivência social e criando vinculações jurídicas, entre os indivíduos ativo e
passivo, que têm um conteúdo obrigacional. Estes direitos e deveres surgem e desaparecem no
dinamismo do ordenamento jurídico.
Da relação conjunta e eficaz desses momentos e elementos do direito vai surgindo a
formalização do ordenamento jurídico que estrutura a sociedade eclesial. Estas leis que surgem são
formalizadas pela autoridade mediante normas ditadas no exercício do poder de regime.

2.1 - A NORMA CANÔNICA

Um dos mais importantes momentos do direito é o normativo que consiste na fundação


estruturante do direito pela formação de normas que regulam a vida social. Norma canônica é o
critério de avaliação oficial e consolidada como vigente daquilo que o homem faz ou lhe acontece
na vida da comunidade eclesial.
A norma canônica é baseada na Lei Eterna que é a ordem natural, proveniente do
pensamento de Deus em relação ao homem. Para ser adequada com os atos humanos a norma tem
que ser no máximo uma ordenação da razão. Nela se a congruência entre as normas do homem e as
normas de Deus. Deus fez a consciência do homem já com as disposições naturais para
corresponder à razão de Deus que é o fundamento de t o d a n o r m a .
Uma norma contrária à lei natural seria irracional e corrupta e não verdadeira norma.
No âmbito canônico a norma inclui a intelecção de Deus de como quer que a sua Igreja se
estruture como mistério da salvação com características peculiares. Esta intelecção de Deus se
fundamenta na Escritura, na Tradição e no Magistério. A teologia não pode ser critério para a
norma canônica. Tanto o direito como a teologia buscam suas fontes no mistério da salvação.
P
A lei humana tem sua razão de ser na vontade divina; esta não contempla todas as
possibilidades, por isso a autoridade sanciona, cria as leis e as positiviza. Consequentemente há
uma lei divina positiva, isto é, o direito divino proveniente da vontade fundacional do Criador,
positivizado pela autoridade eclesiástica.
A norma canônica tem uma racionalidade concernente com a lei natural e com a lei divino
positiva, entre as quais não pode haver contradição por serem provenientes da mesma origem -
Deus. Ela visa a uma ordem social eclesial justa e, em consequência, a salvação dos homens. Esta
norma é a ordenação da razão e da fé porque provém do direito divino, fundamentado no mistério
da Igreja.

2.2 - LEI CANÔNICA

Lei é uma norma dada pela autoridade competente a uma comunidade capaz de receber leis.
A lei canônica é um ato do poder legislativo da Igreja cujo teor se expressa de forma fixada
mediante promulgação.
Uma norma é lei no sentido técnico-canônico da palavra, quando é dada pela autoridade
legislativa de regime, em matéria autônoma, a uma comunidade a que a autoridade não se pode
dirigir simplesmente por atos administrativos singulares. (cf. com. Ao c.25, da BAC).
A lei posterior revoga a anterior a não ser que expresse o contrário. Tem o poder de derrogar
leis o próprio legislador, ou a comunidade através de costumes contra a lei, que não sejam
irracionais nem contra o direito divino.
Tem o poder legislativo pleno o Papa sozinho, ou com o Colégio Episcopal, reunidos em
Concílio e Sínodo ou espalhado pelo mundo, para leis universais.
Podem criar leis particulares, os concílios particulares, as conferências episcopais, e os
Bispos em suas dioceses.
A lei é um preceito justo, comum e estável, tendo em vista o bem comum e suficientemente
promulgada.

a) Quanto à maneira de obrigar as leis podem ser


● Territoriais: Universais - c. 12
Particulares - c. 13
● Pessoais: Gerais
Especiais
● Mistas

As leis universais obrigam em todos os lugares a todos aqueles para os quais se destinam.
Mas por serem territoriais não obrigam os que se encontram em territórios isentos. As leis dadas
para determinados territórios obrigam os que nestes territórios tem domicílio ou quase-domicílio e
para os quais se destinam as leis e que estejam morando lá.
As leis particulares são dadas para determinado território e obrigam aos que estão no âmbito
deste território. Os forasteiros não estão sujeitos às leis particulares nem próprias nem de onde se
encontram; e o vagos estão sujeitos às leis universais e particulares vigentes onde quer que se
encontrem.
Leis gerais são as que se destinam a todo tipo de pessoas. Leis especiais só visam alguma
pessoa ou determinada classe de pessoas. Leis pessoais obrigam as pessoas onde quer que se
encontrem. As leis são mistas se fazem combinar a territoriedade com a personalidade.

2.3 - CÂNONES INTRODUTÓRIOS

O código atual é muitas vezes chamado direito universal, em relação ao direito particular
P
das Conferências Episcopais e Dioceses; e direito comum em relação ao direito próprio dos
Institutos de Vida Consagrada e de outras Instituições (c. 598§2).
Mas o cânon 1 restringe este código a uma legislação particular quando diz: "Os cânones
deste código se referem unicamente à Igreja Latina". Este conceito de Igreja latina se refere às
igrejas que se desenvolveram inicialmente no antigo Império Romano do Ocidente e depois se
espalharam pelo mundo inteiro. Embora na atualidade se possa usar as línguas vernáculas na
liturgia, tem ainda por oficial a língua latina, de sorte que as edições típicas dos livros litúrgicos e
canônicos estão em latim, e na dúvida de interpretação se deve recorrer a estes textos.
O direito oriental sempre existiu, mas ainda não tinha sido codificado. No dia 1º de outubro
de 1991, o Papa João Paulo II promulgou o código oriental, chamado "Código dos Cânones das
Igrejas Orientais".
No Brasil a grande maioria dos católicos é de Rito Latino, mas existem também alguns
núcleos de orientais, sobretudo em São Paulo e Paraná:

● Eparquia de São João Batista para os Ucranianos em Curitiba.


● Eparquia de Nossa Sra. do Líbano para os Maronitas em São Paulo.
● Eparquia de Nossa Sra. do Paraíso para os Melquitas em São Paulo.
● Eparquia para os Armênios em São Paulo.
● Ordinariato para os outros Ritos no Rio de Janeiro.

Os grandes ritos católicos são seis. E neste sentido a palavra rito também significa igreja.

1. Rito Alexandrino: Igreja Copta


-
Igreja Etiópica
2. Rito Antioqueno: Igreja Malabar
Igreja Malancar
Igreja Maronita
Igreja Síria

3. Rito Constantinopolitano ou Bizantino: Igreja Albanesa


Igreja Búlgara
Igreja Grega
Igreja Úngara
Igreja Melquita
Igreja Russa
Igreja Rutena
Igreja Slováquia
Igreja Ucraniana
Igreja Junguslava
4. Rito Caldeu ou Sírio-oriental
5. Rito Armeno
6. Rito Latino

Além das legislações particulares e dos cânones das igrejas orientais, o código deixa de fora
as leis litúrgicas: "O código não determina os ritos que se devem observar na celebração das ações
litúrgicas, por isso as leis litúrgicas vigentes conservam sua força". (c. 2); também não abrange o
direito público eclesiástico nem as relações que a Igreja, como sociedade, mantém com as outras
sociedades civis, isto é, o direito concordatário: "Estes Cânones não abrangem, nem derrogam as
convenções celebradas pela Sé Apostólica com as nações ou outras sociedades políticas, elas
vigorarão mesmo contrárias a este código", (c. 3); também não foram revogados os direitos
adquiridos e os privilégios até o presente em vigor se não forem revogados expressamente: "Os
P
direitos adquiridos e os privilégios concedidos pela Sé Apostólica a pessoas físicas e jurídicas e não
foram revogados expressamente continuam inalteradas" (c. 4).
Pelo contrário, com a entrada deste código em vigor ficam ab-rogados: (cc. 5 e 6):
1. O código de 1917.
2. As leis universais e particulares contrárias ao código.
3. As leis penais que não foram acolhidas neste código.
4. As leis disciplinares em matéria inteiramente reordenada.
5. Os costumes contrários à lei a não ser os imemoriais ou centenários.

B) Quanto ao efeito: Irritantes - c. 10


Inabilitantes

Leis irritantes declaram nulos os atos contra lei. Nem todos os atos contra a lei são nulos. Se
a lei não expressa que o ato é nulo, o ato será ilícito, porém válido.
Leis inabilitantes declaram a pessoa inábil para realizar determinado ato que, uma vez
realizado será nulo.
Na dúvida sobre o efeito da lei prevalece a validade. A lei duvidosa não obriga; resolvida a
dúvida, começa a obrigar.

As leis podem ser ainda: Proibitivas


Preceptivas
Permissivas
Imperativas
Diretivas
Morais
Penais

Objeto da lei canônica

São as condutas que tendem a regular a vida na observância da lei para procurar o bem
comum da sociedade eclesial. Este objeto deve ser racional, possível, útil e honesto.

Sujeito da Lei Canônica

O sujeito ativo seria o legislador: Romano Pontífice


Colégio Episcopal
Concílios
Sínodos
Conferências Episcopais Bispos
1
Sujeito passivo são os destinatários: os batizados ou recebidos na Igreja católica, maiores de
7 anos, que não abandonaram a fé por ato formal.
O autor da lei não está obrigado a cumprir a lei, a não ser que se trate de lei divina ou natural
que ele apenas formaliza e positiviza. Porém ele cumpre a lei para evitar o escândalo e que se
recorra à ilegalidade. Se a lei provém de um colegiado todos estão obrigados a ela, mesmo os que
votaram contra.
A importância da lei está na força moral. Sem a "vis obligandi" não seria lei, mas um
conselho. Esta obrigação moral é o efeito essencial da lei. Na dúvida de direito cessa a obrigação da
lei, e na dúvida de fato, o Ordinário pode dispensar. Dúvida de direito é aquela acerca do conteúdo
da lei ou sua existência; dúvida de fato seria acerca dos acontecimentos que entram ou não no
P
âmbito da lei.
Os transeuntes estão obrigados somente às leis que dizem respeito à ordem pública ou à
solenidade dos contratos. As leis canônicas obrigam também em consciência. Toda lei tem um
efeito que é imperar, proibir, permitir, punir, aperfeiçoar e tomar melhor o homem.

2.4 - INTERPRETAÇÃO DA LEI- cc.16-19

Interpretação é a declaração do genuíno sentido da lei, segundo a mente do legislador,


expressa de alguma maneira nos elementos constitutivos e circunstanciais da lei, que são a vontade
do legislador e a expressão desta vontade.

A interpretação pode ser:


1. Em razão do autor: Autêntica
Privada
Judicial
Jurisprudencial
Usual

2. Em razão dos efeitos: Declaratória- o próprio sentido


Extensiva - amplia as hipóteses
Restritiva - restringem-se aos casos em que se aplicam leis penais

3. Em razão dos meios: Literal - as palavras do texto Lógica - conforme o texto

A interpretação autêntica é feita pelo legislador ou alguém por ele autorizado. Interpretação
privada é feita por outrem e por isso não tem força de lei. Interpretação judicial é feita pelo Juiz, em
forma de ato administrativo ou decreto. Para aplicar a lei se faz uma interpretação que só obriga as
pessoas que estão dentro do processo, a quem se destina o rescrito ou decreto.
Interpretação jurisprudencial é também feita pelo juiz ou administrador que ao aplicar a lei, a
interpreta de acordo com jurisprudência. A interpretação usual é feita pela comunidade através de
costumes.
A interpretação deve levar em conta o fim, as circunstâncias da lei e a mente do legislador.
O ordenamento deve regular toda a vida da comunidade, de tal forma que se faltar um preceito ou
costume não há pena nem delito. Deve-se recorrer aos lugares paralelos, à praxe de Cúria Romana,
à opinião comum e constante dos doutores. As leis irritantes e inabilitantes e penais devem ser
interpretadas e aplicadas de modo restrito, porque em matéria odiosa não se pode ampliar.

2.5 - CESSAÇÃO DA LEI - CC. 20-21

Uma lei cessa quando perde a sua aplicabilidade, isto acontece por obscuridade da lei,
dúvidas, erro, ignorância, inadvertência e impossibilidade física, bem como por privilégio, dispensa,
ou por se achar a pessoa fora do seu território.

A cessação pode ser:

Intrínseca cessa o fim, a lei deixa de ser útil razoável,


justa e possível.
por vontade do superior, por um
costume contrário aprovado pela
autoridade que derroga a lei no decurso de
30 anos.
- tácita - lei contrária

P
Extrínseca

Parcial Derrogação - expressa - lei posterior -


tácita - lei contrária

Total Abrogação

A lei universal não derroga a particular, mesmo que lhe seja contrária, a não ser que expresse a
derrogação. A lei particular não pode ser contrária à universal, a não ser dada pelo legislador universal para
determinado território, mas não derroga a universal, apenas a deixa inaplicada.
Na dúvida da derrogação se presume que a lei posterior não derroga, porque o princípio é que as leis
devem ir-se unindo. Assim acontece com as concordatas e as leis civis que não contrariam o direito divino,
natural e eclesiásticos.

2.6 - COSTUME JURÍDICO (CC. 5 E 23-28)

É a norma jurídica criada pelo uso contínuo de uma comunidade que tem a intenção de
obrigar. Se não há a consciência da obrigatoriedade por parte da comunidade, trata-se de um fato
social, mas não de um costume jurídico. Se é costume jurídico, o não cumprimento inflige a lei e
faz incorrer em penas.

Os costumes classificam-se:

1. Em razão da lei:
Contra legem - oposto e contrário à lei vigente, só cria força de lei depois de 30 anos consecutivos.
Praeter legem - à margem da lei
Secundum legem - interpreta o conteúdo da lei todo ou em parte

2. Em razão da extensão:
Universal - toda a Igreja Geral - uma província, nação
Especial - uma comunidade, grupo reduzido

3. Em razão do tempo:
Imemorial ou centenário
Normal - 30 anos

III - ALGUNS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO

São princípios, geralmente originados do Direito Romano, presentes em muitas legislações


CIVIS, e também acolhidos pelas leis eclesiásticas, que são exigidos pela segurança jurídica dos
membros de qualquer sociedade, para garantir os direitos, preservar as relações sadias entre os
membros de cada comunidade e entre as comunidades.

Alguns princípios:
P
● Irretroatividade das leis c. 9
● O sentido das leis cc. 17 e 21
● Matéria odiosa cc. 18; 36 e 52
● Canonização da lei civil
● Presunção canônica
● Lacunas do direito

3.1 - IRRETROATIVIDADE DAS LEIS

É um princípio exigido por qualquer comunidade para sua segurança jurídica. Mas não é tão
absoluto que não admita exceção. Pela própria natureza das coisas, devem-se considerar retroativas
as leis penais favoráveis ao réu. (c. 1313): "Se a lei for modificada depois de cometido o delito,
deve-se aplicar a lei mais favorável ao réu". (§1).
As leis matrimoniais que tratam da nulidade de matrimônios, se este foi realizado na
vigência do antigo código, pode-se aplicar a nova legislação se for favorável à parte em questão.
Ex: c; 1098: Nulidade por dolo que no código de 1917 não havia, aplica-se-o novo.
O princípio, porém, é que as leis visam sempre o futuro, e não o passado, a não ser que nelas
disponha algo sobre o passado (c. 9).

3.2 - O SENTIDO DAS LEIS

A interpretação do sentido genuíno das leis é reservada ao próprio legislador. Mas como há
sempre necessidade de que a lei seja interpretada por outros no exercício do poder executivo e
judicial, existe um princípio referente ao seu sentido.
Elas devem ser entendidas no sentido próprio das palavras no texto e no contexto. O sentido
técnico e literal deve ser flexível a depender da natureza das coisas e da gravidade da matéria.
Embora o cânon 17 demonstre preferência por um certo literalismo, há uma determinada
hierarquia na distinção do sentido da lei. Quando a finalidade da lei e a mente do legislador são
claramente conhecidas, deveriam prevalecer sobre a materialidade das palavras.
Mas o princípio é este: se o sentido de uma lei é duvidoso ou obscuro, deve-se recorrer aos
lugares paralelos, se os houver, à finalidade e às circunstâncias da lei, bem como à mente do
legislador. (c. 17)
As leis pré-existentes podem ter sido revogadas pela lei posterior, mas isto só se for
expressamente declarado na posterior. Na dúvida as leis posteriores devem ser comparadas com as
anteriores e, o quanto possível, a elas harmonizadas. Se em seu sentido, a lei posterior apenas
reformula, mas não contraria a anterior, deve-se procurar entre elas uma harmonia. (c. 21)

3.3 - MATÉRIA ODIOSA

Havia um princípio no Direito Romano: "Favores sunt ampliandi, odia autem


restringenda", que permitia a interpretação larga dos favores e a restrição das limitações, e deu
origem a expressão: matéria odiosa.
Matéria odiosa são aqueles dispositivos legais que limitam ou restringem o direito das
pessoas, que aplicam penas ou desfavorecem os culpados, que declaram os atos nulos ou as pessoas
inábeis, que proíbem o livre exercício dos direitos aos indivíduos na sociedade.
Estas leis que estabelecem penas, que limitam o livre exercício dos direitos ou contêm
exceção à lei, devem ser interpretadas estritamente (c. 18).
As leis irritantes e inabilitantes que só serão assim consideradas se estabelecerem
expressamente que um ato é nulo ou que uma pessoa é inábil, também recebem interpretação
restrita, isto é, não se podem aplicar a outros atos ou a outras pessoas, nem se pode com elas fazer
P
analogia (c. 1O).
O mesmo acontece com os atos administrativos singulares, que devem, como a leis, ser
entendidas segundo o sentido próprio das palavras e o uso comum de falar. Os que se referem aos
processos, à cominação ou imposição de penas, os que limitam o direito das pessoas ou lesam os
direitos adquiridos por outros, os que são contrários a uma lei para vantagem de particulares,
devem receber uma interpretação restrita. E mais ainda qualquer ato administrativo não deve
estender-se a outros casos além dos expressamente mencionados (c. 36).
Outra norma restritiva, embora não de matéria odiosa se encontra na parte dos decretos e
preceitos singulares que só têm valor a respeito das coisas para as quais dispõe e das pessoas para
as quais foram dados, obrigando-as, porém, em toda a parte a não ser que conste o contrário (c. 52).

3.4 - CANONIZAÇÃO DA LEI CIVIL - C. 22

A Igreja é autônoma em seu próprio campo e livre para dar-se a si mesma uma legislação em
todos os setores da sua vida. Todavia a Igreja vive no tempo e, em particular, vive com suas
próprias leis. Os fiéis são ao mesmo tempo fiéis da Igreja e súditos do Estado. As relações entre
Igreja e Estado nem sempre estiveram pacíficas ao longo dos séculos. Às vezes se consegue
também para o seu ordenamento canônico. A Igreja tem acolhido leis, particularmente do direito
romano, na forma do direito comum, no código de 1917 principalmente no que se refere às normas
dos bens temporais.
Este fenômeno pelo qual o direito canônico remete à lei civil, recebendo-a no todo ou em
parte no próprio ordenamento, constitui o instituto jurídico da "canonização". Uma lei que,
materialmente e em seu conteúdo, pertence a outro ordenamento jurídico, se toma própria da Igreja
que lhe dá o valor de lei interna para os seus fiéis.
O cânon 22 que remete à lei civil é um cânon novo, de caráter geral, fruto de um longo
processo histórico. Este encontra sua origem nos vários cânones do código de 1917 que remetia ao
direito civil em particular no cânon 1529, que encontra correspondente atual no cânon 1290 no
título dos contratos e alienações de bens. Aquele cânon dizia que o que o direito civil estabelece no
território a respeito dos contratos em geral ou em especial, se deve observar, por mandato do direito
canônico, matéria eclesiástica com o mesmo efeito sempre que não vá contra o direito divino, nem
o direito canônico disponha em contrário.
Hoje, com o código de 1983 o âmbito é alargado a todos os setores do ordenamento estatal,
nas palavras do cânon 22: "Sejam tornadas com o mesmo efeito, contanto que não sejam contrárias
ao direito divino, nem se disponha outra coisa no direito canônico".
A razão do dito recurso está na oportunidade que, em certas matérias comuns à Igreja e ao
estado e relativas à esfera temporal, não surjam contrastes entre os dois "ordenamentos, mas se
determine uma frutuosa colaboração e cooperação. E de outra parte, a legislação eclesiástica
valendo-se da legislação civil, poderia adaptar-se melhor às exigências dos vários povos e ás
diversas circunstâncias de tempo e de lugar. É óbvio que canonizando as leis civis, a Igreja
sociedade originária e plenamente autônoma, não renuncia ao seu direito de emanar suas próprias
leis, diferentes das leis civis e também a elas contrárias.
Por força do cânon 22 as normas civis reclamadas pelo código são assumidas no
ordenamento eclesiástico e sancionadas canonicamente, pelo que têm valor vinculante também na
Igreja, naturalmente com uma necessária reserva; que não estejam em contraste com o direito
divino, que ninguém pode violar, e que o direito canônico - codicial, extra-codicial ou
consuetudinário, universal e particular - não disponha diversamente.

UM ELENCO SUMÁRIO DE LEIS CIVIS RECEBIDAS NO CÓDIGO

1. Adoção - e. 110: Os filhos que tenham sido adotados na lei civil são considerados como
P
filhos daquele ou daqueles que os adotaram. Trata-se aqui do parentesco por adoção que por ser da
lei civil se chama parentesco legal e se constitui em impedimento matrimonial se for em linha reta
ou no segundo grau da linha colateral (e. 1094). No civil (art. 1618)

2. Clérigos - e. 289§2: Os clérigos usem das isenções de encargos e cargos públicos,


impróprios ao estado clerical, que lhes concedem as leis civis, convênios e costumes, salvo decisão
contrária do próprio Ordinário, em casos particulares.
Na constituição brasileira, art. 82 se estabelece: "As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do
serviço militar em tempo de paz, sujeitos, porém a outros encargos que a lei lhes atribuir". Por
"eclesiásticos" se entendem os ministros ordenados de um culto oficialmente registrado e os
professores de votos perpétuos dos institutos religiosos. Durante os estudos os seminaristas
conseguem adiamento de incorporação.

3. Contratos - e. 1290: Observe-se no direito canônico, com idênticos efeitos, a legislação


civil, geral ou especial, do território, sobre contratos e pagamentos, no que se refere às coisas
sujeitas ao poder de regime da Igreja, a não ser que seja contrária ao direito divino ou haja outra
determinação no direito canônico, incluindo a prova testemunhal em matéria contratual que o
direito civil exclui, e deve ser admitida no canônico conforme o cânon 1547. No código civil
(art.126 e 427)

4. Disposições "mortis causa" - e. 1299§2: Nas disposições "mortis causa" em favor da


Igreja, observem-se as formalidades do direito civil, sendo possível. Se tiverem sido admitidas,
advirtam se os herdeiros sobre a obrigação de cumprir a vontade do testador. São bens de que as
pessoas livremente dispõem por direito natural e canônico e podem deixar para causas pias,
doando-as à Igreja, tanto por um ato "inter vivos", isto é, por uma doação atual, como por um ato
"mortis causa”, isto é, através de um testamento. Neste caso a obrigação de recorrer às leis civis é
muito urgente, já que se corre o risco de outros herdeiros reclamar a posse desses bens, se não
foram doados por testamento civilmente autêntico.

5. Trabalho e vida social - c. 231§2: Com exceção dos ministros extraordinários


estavelmente instituídos que não têm direito a remuneração, conforme c. 230§1, os leigos que
trabalham na Igreja têm direito a uma honesta remuneração, adequada à sua condição, com a qual
possam prover decorosamente as necessidades próprias e da família, observadas também as
prescrições do direito civil; cabe-lhes igualmente o direito de que se garantam devidamente sua
previdência, seguro social e assistência à saúde
C. 1299 nº 1: Os administradores de bens observem exatamente, nos contratos de trabalho, também
as leis civis relativas ao trabalho e à vida social. A observância das leis civis é o mínimo exigido
pelo nº 1. Mas a justiça social nem sempre fica convenientemente assegurada por essa observância;
daí a prescrição do nº 2: os administradores de bens deem a justa e honesta remuneração aos que
prestam trabalho por contrato, de modo que lhes seja possível prover convenientemente as
necessidades próprias e de seus familiares.

6. Menor emancipado - c. 105§1: O menor conserva o domicílio do pai. Saindo da infância


pode adquirir quase domicílio próprio; e uma vez emancipado de acordo com o direito civil,
também o domicílio próprio. No direito civil emancipa-se o menor de 21 anos, e maior de 18 anos
que adquire o gozo de seus direitos civis. Significa libertar-se do pátrio poder, ser senhor de seus
próprios atos, de sua pessoa, livre e independente. Conforme o art. 9º do código civil a
emancipação se dá por concessão do pai, por sentença do juiz, pelo casamento, pelo emprego
público, pela colação de grau superior, pela economia própria em estabelecimento civil ou
comercial, por alistamento militar.

7. Matrimônio que não pode ser celebrado ou reconhecido civilmente - c. 107t§1 nº2:
P
Exceto em caso de necessidade, sem licença do Ordinário, ninguém assista a matrimônio que não
possa ser reconhecido ou celebrado segundo as normas da lei civil. Trata-se de, na medida do
possível e sem que se suponha um reconhecimento de superioridade da legislação civil sobre a
canônica em matéria matrimonial, evitar um conflito de legislações, do qual poderia resultar
prejuízo para o fiel, para um terceiro ou para a Igreja, e também evitar uma bigamia de fato, por ser
possível ao mesmo indivíduo casar com uma no civil e com outra no canônico.

8. Prescrição - c. 197: Prescrição é o modo de adquirir e perder direitos subjetivos ou livra-se


de obrigações. A Igreja recebe a prescrição como se encontra na legislação civil de cada nação
salvo as exceções estabelecidas nos cânones deste código. Por isso ela pode ser aquisitiva: para
adquirir direito; rescisória: para perder direitos, e liberativa para livrar-se de obrigações.

9. Procuração matrimonial - c. 1105§2: Pode-se contrair matrimônio canônico por


procurador, mas para que o mandato seja válido, requer-se que seja assinado pelo mandante e
também pelo ordinário do lugar e pelo pároco ou por outro sacerdote delegado por uma das dois e
mais duas testemunhas, ou então, seja feito um documento autêntico de acordo com o direito civil
(art. 161 - 179).

10. Religiosos: Testamento e renúncia dos próprios bens - c. 668:


§1: Os noviços, antes da primeira profissão cedam a administração dos seus bens a quem
preferirem, salvo determinação contrária das constituições, disponham livremente do uso de
usufruto deles. Façam, porém, ao menos antes da profissão perpétua, testamento que seja válido
também no direito civil.
§4: Quem, pela natureza do Instituto, deve renunciar plenamente à posse de seus bens, faça tal
renúncia em forma, quanto possível, válida também no direito civil, antes da profissão perpétua,
para valer a partir do dia da profissão. Testamento está nos art. 1629-1649.

11. Transação e compromisso arbitral - cc. 1713 e 1714: Para se evitar contendas judiciais
emprega-se utilmente a reconciliação ou confia-se a controvérsia ao juízo de um ou mais árbitros,
que se chamaria um compromisso arbitral. Nesse compromisso arbitral observem-se as normas
escolhidas pelas partes, ou, a falta delas, as normas dadas pelas Conferências dos Bispos ou a lei
civil vigente no lugar onde se faz a convenção.
Compromisso arbitral e, portanto, o pacto entre as partes mediante o qual elas concordam em
entregar a solução da controvérsia a pessoas determinadas que recebem o nome de árbitros. A lei
brasileira trata da Conciliação nos art. 447-449 e do compromisso arbitral art. 1072-1102.

12. Tutores - e. 98§2: A pessoa menor permanece dependente do poder dos pais ou tutores; no
que concerne à constituição de tutores ou ao seu poder, observem-se as prescrições do direito civil
a não ser que haja determinação contrária no direito canônico (art. 368-378).

3.5 - PRESUNÇÕES CANÔNICAS

São operações da inteligência e da vontade aceitas pelo direito e pelo bom senso do homem
experiente, que consiste em ter como certo um fato presumido a partir da fixação de outro fato
certo.
Conforme o direito, tem-se por presunção a conjectura provável de uma coisa incerta, que
pode ser estabelecida pela lei ou pelo juiz (c. 1584).

Podem ser:
• Judiciais - "Praesumptio hominis"
P
• Legais - "Praesumptio iuris": "iuris tantum" - só de direito
"iuris et de iure" - de direito e por direito

1. Presunções judiciais são operações feitas pelo juiz nos processos para deduzir que,
provado um fato judiciário, considera-se provado o fato presumido. O juiz faz a dedução por si
mesmo ou por preceito legal, baseado num fato certo, por causa da conexão que este tem com o
fato incerto que se pretende provar.
Por não ser evidente, essa dedução recebe o nome de conjectura provável. O fato certo que
está na base da conjectura costuma ser chamado de indício.

2. Presunções legais são estabelecidas pela lei e nelas o legislador se baseia na


experiência. Podem ser:
"Iuris tantum" - só de direito
"Iuris et de iure" - de direito e pelo direito

"Praesumptio iuris tantum", isto é, só de direito, é menos que a presunção "iuris et de iure"
pois admite prova em contrário, e qualquer dúvida pendente pode destruir a veracidade do fato
presumido.
Ex: e. 15§2 - ignorância e erro acerca de fato alheio.
c. 57§2 - silêncio administrativo.
c. 1060 - validade do matrimônio.
S· 10,61 - consumação do matrimônio.

"Praesumptio iuris et de iure", isto é, de direito e pelo direito, é aquela que não admite
prova em contrário do fato presumido, podendo-se provar a inexistência do fato.
Ex: c. 13 - territorialidade das leis particulares.
c. 1642- coisa julgada.

3.6 - LACUNAS DO DIREITO

Lacunas são os casos omissos das legislações, bem como a ausência de alguma prescrição
expressa da lei universal ou particular, ou um costume a respeito de determinada matéria.
Quando acontece de haver numa legislação universal ou particular uma lacuna, a causa em
tela deve ser dirimida, levando-se em conta as leis dadas em casos semelhantes, os princípios gerais
do direito aplicadas com equidade canônica, a jurisprudência e a praxe da Cúria Romana, a opinião
comum e constante dos doutores. (c. 19).
Os princípios gerais do direito são estes que se deduzem da própria legislação canônica em
vigor atualmente, mas também os princípios aprovados pelos Sínodos dos Bispos de 1967 que
coordenam e norteiam a publicação do código.
"Equitas canonica" é o espírito de benignidade que deve informar tanto o legislador na
elaboração da lei, quanto o governante na sua aplicação. Não é concebível que um bom governante
pretenda aplicar sempre automaticamente a norma legal. Pois diziam os Romanos: "Summus ius,
summa iniuria".
Epiquéia é a interpretação privada da lei com o mesmo espírito de benignidade por parte do
súdito, em correspondência com a equidade da parte do superior. A epiquéia, porém, supõe o
conhecimento da lei e a aceitação de sua autoridade, que não pode ser confundida com a ignorância
e a má vontade.
Jurisprudência e praxe da Cúria Romana são termos sinônimos e significam o modo habitual
de agir dos dicastérios romanos, quer na resolução de questões administrativas, quer na decisão de
questões judiciárias. Jurisprudência pode ser também o modo de agir dos demais tribunais da Igreja
espalhados pelo mundo.
P

IV - DECRETOS GERAIS E INSTRUÇÕES - CC. 29 - 34

São leis pelas quais o legislador competente dá prescrições comuns a uma comunidade capaz
de receber leis.

Podem ser: Legislativos


Executórias

Os decretos gerais legislativos são propriamente leis e só podem ser dados pelo legislador
competente, seu superior, seu sucessor ou seu delegado.
Decretos gerais executórias são disposições de caráter administrativo, dadas por quem tem
poder executivo para determinar os modos de aplicação e ungir a observância e a execução do que
já está mandado. Por serem executórias não derrogam as leis. Cessam por revogação da autoridade
ou pela cessação da lei que eles urgem, mas não pela cessação do direito de quem os deu.
Instruções são disposições gerais internas que esclarecem o sentido das leis e regulam sua
aplicação, e devem ser usadas por aqueles que cuidam da execução das leis, por isso são dadas por
quem tem poder executivo. Não estão sujeitas a promulgação dado o seu caráter interno. Cessam
pela cessação da lei ou por determinação da autoridade.
Decretos executórias urgem a observância da lei e obrigam os que a ela estão sujeitos;
instruções esclarecem o sentido da lei e se destinam aos que cuidam da execução delas.
As normas emanadas diretamente do Papa recebem as seguintes denominações:
A) Em razão do conteúdo: Constituições Apostólicas
Motu Proprio
Letras Decretais
Letras Apostólicas

Constituições Apostólicas são disposições de categoria superior para os assuntos mais


importantes da Igreja Universal ou parte importante dela.
Motu Proprio são letras apostólicas, dadas por iniciativa própria, contendo normas
explicativas ou regulamentares de leis já anteriormente em vigor.
Letras Decretais são documentos de canonização dos santos
Letras Apostólicas são normas para assuntos mais particulares como concessão de título de
Basílica a uma Igreja. Geralmente são pedidas.

B) Em razão da Forma: Bulas e


Breves

Bulas são documentos solenes com formas amplas de introdução e conclusão, ornadas com
selos especiais.
Breves são documentos simples com uma forma breve de introdução e conclusão.

V - ATOS ADMINISTRATIVOS SINGULARES - CC. 35-47

Decretos gerais e instruções são atos administrativos de caráter geral, destinados a uma
comunidade capaz de receber leis. Atos administrativos singulares são normas dirigidas aos
P
particulares, cuja finalidade é aplicar as normas gerais aos casos concretos.

Atos Administrativos Singulares são: Decretos


Preceitos Rescritos Privilégios Dispensas

Os atos administrativos podem ser dados por quem tem poder executivo, não podem ter
interpretações extensiva, só podem ser executados pelo executor ou por alguém por ele escolhido, e
pode ser repetida a execução se na primeira vez houve erro substancial.

5.1 - DECRETO SINGULAR

Decreto singular é um ato administrativo pelo qual se dá uma decisão ou provisão para um
caso particular, sem pedido. c. 48.

5.2 - PRECEITO SINGULAR

Preceito singular é um ato pelo qual se impõe a uma ou várias pessoas fazer ou omitir
alguma coisa. O preceito imposto por documento legítimo cessa quando cessa o direito de quem
deu. Documento legítimo é expedido mediante notário e registro oficial. c. 49.

5.3 - RESCRITOS (CC. 59-75)

Rescrito, do latim rescriptum = re-escrito, isto é, resposta escrita a algum pedido. Desde os
tempos antigos há na Igreja o hábito de dar rescrito ao pedido de pessoas que desejam favores,
graças, privilégios, dispensas e licenças.
No código antigo havia a distinção entre rescritos escritos e rescritos orais, isto é, os "vivae
voeis oraculo", a menos que o direito disponha o contrário. (c. 59§2)
Rescrito é um ato administrativo singular emitido pela competente autoridade eclesiástica
executiva, pelo qual se concede um privilégio, uma dispensa ou uma graça no sentido mais amplo
do termo, que se faz de forma escrita e à instância do destinatário.

Classifica-se em: Gracioso ou comissário


A instância de parte ou "motu proprio" De graça ou de justiça

Em forma graciosa o rescrito não tem executor designado. Em forma comissária o rescrito
precisa de execução pela pessoa para isto designada. A execução pode ser voluntária ou necessária.
O rescrito à instância de parte é motivado pelo peticionário. O rescrito "motu proprio" é
motivado pela iniciativa e decisão da autoridade competente.
Os rescritos de graça são concessões em qualquer campo jurídico. Os rescritos de justiça são
dados no andamento dos processos judiciários.
e
5.4 - OBREPÇÃO E SUBREPÇÃO (C. 63)

Obrepção é a exposição da falsidade. Subrepção é a ocultação da verdade. Um rescrito em


que o peticionário comete uma obrepção, isto é, expõe a falsidade em todas as suas causas motivas,
ou comete uma subrepção, isto é, oculta a verdade quando no pedido não for expresso tudo o que se
P
requer para a validade de acordo com a lei, o estilo e a praxe canônica, é inválido.
É com o instrumento jurídico do rescrito que se pedem licenças, dispensas de impedimentos,
irregularidades e de outras obrigações como dos votos, do celibato, da clausura etc., tanto no foro
interno da consciência, como no foro externo.
Por isso os rescritos que pedem graças reservadas a Santa Sé no foro interno se dirigem e
são expedidos pela Penitenciária Apostólica. Fora deste Tribunal Romano, nenhum restrito negado
por um dicastério poderá ser concedido validamente por outro sem anuência do que negou (c. 64)
Ninguém peça a outro Ordinário uma graça negada pelo Ordinário próprio, sem fazer
menção da negativa. E este outro só concede a graça depois de saber as razões da negação.
Se esses Ordinários forem vigário geral ou episcopal não podem conceder validamente esta
mesma graça negada, mesmo sabendo as razões da negação.
E inválida a graça concedida pelo Bispo diocesano sem fazer menção da negativa do vigário
geral e episcopal. E é inválida a graça negada pelo Bispo diocesano e concedida pelo vigário geral
e episcopal sem o consentimento do Bispo diocesano, mesmo fazendo menção da negativa (c. 65).

5.5 - O SILÊNCIO ADMINISTRATIVO (C. 57)

“Silêncio não é a negação da palavra, bem como a palavra não é a negação do silêncio”. A
palavra na Igreja tem suma importância no exercício dos múnus de reger, santificar e ensinar.
No campo da administração a falta de resposta da autoridade produz efeitos nocivos nos
aspectos jurídicos e pastorais. O silêncio administrativo, que pela primeira vez foi regulamentado
na legislação eclesiástica pode ser positivo ou negativo.
SILÊNCIO POSITIVO: Indica o assentimento da administração ao que foi pedido: "qui
tacet consentire videtur". Ex: e. 268: Excardinação e incardinação de clérigo pedida e concedida
pelo silêncio do administrador.
SILÊNCIO NEGATIVO: É a negação do que foi pedido, que não satisfaz o peticionário e
lhe dá direito a interpor novo recurso.
O cânon 57 regula o silêncio administrativo que, embora pareça uma omissão da autoridade,
é uma solução mais lógica e mais segura do que o silêncio positivo: "quem cala consente". Refere
se aos decretos, rescritos e outros atos administrativos.
As petições de graças, licenças e dispensas devem ser atendidas para não prejudicar a Igreja
e as pessoas. O cânon 57 manda que a autoridade responda os pedidos ou recursos que lhe são
feitos, no prazo de três meses a partir da recepção do pedido, a não ser que a lei estabeleça outro
prazo para aquele caso específico.
Transcorrido o prazo sem resposta, presume-se a resposta negativa, cabendo outro recurso
posterior. Esta presunção negativa não exime a autoridade da obrigação de baixar o decreto e
reparar os danos porventura causados.

5.6 - PRIVILÉGIO

Privilégio ou graça é uma concessão do legislador ou da autoridade competente por ele


designada a pessoas físicas e jurídicas, em favor delas. É sempre perpétuo, se é temporário chamase
indulto.
Pode ser: (cc. 76-84)
• Pessoal - acompanha a pessoa e com ela se extingue;
• Real - acompanha a coisa ou o lugar e cessa com a destruição dos mesmos.
Revive se o lugar for restaurado no decurso de 50 anos;
• Local - acompanha o lugar e é também real.
P
5.7 - DISPENSA (CC. 85-93)

Dispensa é a relaxação das leis meramente eclesiásticas num caso particular, dada por quem
tem poder executivo de regime, ordinário ou delegado nos limites de sua competência (c.85).
É uma medida jurídica, de caráter administrativo, com a qual a autoridade competente deixa
fora uma ou várias pessoas inclusive toda uma comunidade, em casos particulares, da
obrigatoriedade de uma norma jurídica.
A norma que conserva sempre o seu caráter geral continua em vigor para os casos não
atingidos pela dispensa. Suspende os efeitos da obrigatoriedade das leis e gera nos dispensados um
autêntico direito a se comportar como se as leis não existissem para eles.
É uma flexibilidade que resulta do espírito personalista do direito canônico, e se distingue da
epiquéia que é a interpretação benigna, feita por razões extrínsecas pelos sujeitos passivos das leis e
não pela autoridade.
Assim não são dispensáveis as leis que determinam os elementos constitutivos essenciais
das instituições ou dos atos jurídicos, nem da lei natural, nem da lei divina positiva, que nem o
Papa pode dispensar.
Para se dar dispensa é necessária causa justa e razoável, proporcionada à importância e à
gravidade do caso. Sem causa razoavelmente justa será ilícita a dispensa concedida pelo legislador
ou por seu superior, e será também inválida se for concedida por outro mesmo que tenha faculdade
para tanto (c.90).

5.8 - SUJEITO ATIVO DA DISPENSA

O Romano Pontífice pode dispensar, nas circunstâncias normais, de todas e cada uma das
leis eclesiásticas. Também com poder vigário do Romano Pontífice se dispensam as leis divinas
naturais ou positivas cuja obrigatoriedade nasce de uma to humano voluntário como é o caso dos
votos.
Os Bispos Diocesanos e os que a eles se equiparam, conforme os cc. 381§2 e 368, de acordo
com o direito podem dispensar, com poder próprio nas circunstâncias normais, de todas as leis
disciplinares, universais e particulares, dadas pela Santa Sé, para o seu território ou para os seus
súditos, desde que concorra para o bem dos fiéis. Não o podem, porém, das leis processuais e
penais, e nem das disciplinares, reservadas a Santa Sé ou a outra autoridade. (c. 87).
Os Ordinários Locais (c. 134) podem dispensar das leis diocesanas, mas também das leis
promulgadas pelos Concílios regional ou provincial ou pela Conferência dos Bispos, se for para o
bem espiritual dos fiéis. (c. 88).
Qualquer Ordinário pode dispensar das leis disciplinares, universais ou particulares dadas
pela Santa Sé para seus súditos, mesmo que a dispensa seja reservada, em circunstâncias
extraordinárias, isto é, se houver perigo na demora ou for difícil o recurso à Santa Sé, e se ela
costuma dispensar nessas circunstâncias. (c. 87§2).
Os párocos, os presbíteros e os diáconos podem dispensar da lei universal ou particular, com
poder delegado, se este poder lhes foi concedido expressamente. (c. 89).
Todos estes que têm poder de dispensar, dispensam de todos os seus súditos, mesmo fora do
seu território e de todos os forasteiros que se encontram no seu território, se a lei não determinar
outra coisa.

VI - PESSOA FÍSICA

É toda pessoa humana capaz de realizar atos jurídicos e de ser centro de imputação jurídica
no ordenamento canônico. Conforme doutrina eclesial, a personalidade é anterior ao direito que
deve apenas reconhecê-la; o sujeito possui personalidade por ser homem.
O cânon 96 afirma que só os batizados têm personalidade na Igreja. Mas numa reflexão à
luz da fé fica claro que:
P
1. Todo homem tem personalidade jurídica, já que todos são chamados à salvação, a
buscar, abraçar e praticar a verdade e ser povo de Deus.
2. Para isto é necessário o relacionamento com a Igreja que lhe reconhece o direito à
doutrina, ao batismo e à imunidade de coação à fé.
3. Não se pode considerar como não sujeito de direitos e deveres, mas não é porque não
tem personalidade. Não é súdito da Igreja nem sujeito de suas leis, mas é pessoa e centro imputação
de situações jurídicas.
4. O que diz o cânon 87 de 17 e o cânon 96 de 83 se refere à constituição de fiel que se
incorpora à
Igreja pelo batismo e goza dos direitos daí dimanantes.

O cânon 1476 reconhece ao não batizado a capacidade de demandar no processo canônico, e


com isso gera uma série de situações jurídicas das quais ele é centro. Os cc. 788; 851§1; 1086§2;
1170 e 1183§1 apresentam situações de pessoas não batizadas no ordenamento canônico. Porém só
depois do batismo adquire a condição de fiel _e_ seu estatuto jurídico, com duas condições:
permanecer na comunhão eclesiástica e não ter recebido sanção. (c. 96).

6.1 - SUJEITOS DE DIREITOS E DEVERES (CC. 96-112)

São entes capazes de atividades jurídicas, de ser centro de imputações jurídicas, dentro do
ordenamento jurídico, nos extremos das relações jurídicas.
O sujeito jurídico por excelência é o homem que possui as qualidades para manter as
relações jurídicas garantidas e tuteladas pelo ordenamento.
Por exigência do próprio ordenamento, há relações jurídicas também entre as entidades de
várias pessoas morais ou pessoas jurídicas.

Sujeito de direito: Capaz de atividades jurídicas


Centro de imputação.

6.2 - CONDIÇÕES CANÔNICAS DA PESSOA FÍSICA

a) Capacidade de atos jurídicos


Realizar atos que contribuem para estruturar juridicamente a sociedade, mediante criação,
modificação e extinção de relações jurídicas. A pessoa humana dotada de inteligência e vontade, e
maturidade de juízo pode praticar atos vinculantes. Por isso a pessoa jurídica os pratica através de
representantes.
O legislador dita normas exigidas pela natureza dos atos, que não são de direito divino. A
maior idade aos 18 anos dá o pleno exercício dos direitos. Menores desta idade são incapazes de
agir e são infantes e não têm uso da razão. A partir dos 7 anos as leis canônicas, meramente
eclesiásticas, começam a obrigar.
Em processo só se pode agir com 14 anos. Sem o consentimento dos pais ou tutores só nas
causas espirituais e conexas. Os maiores de 7 e menores de 14 anos agem mediante curador
nomeado pelo juiz.

A lei estabelece as seguintes idades:


• Matrimônio - 14 e 16 / CNBB - 16 e 18 anos - (c. 1083)
• Profissão temporária - 18 anos - (c. 656)
• Profissão perpétua - 21 anos - (c. 658)
• Presbiterato - 25 anos - (c. 1031§1)
• Episcopado - 35 anos (c. 378§1 n.3º)
P
• Diaconato permanente - Célibe - 25 anos - (c. 1030§2)
Casado -35 anos-(c. 1031§2)
• Padrinho de batismo e crisma - 16 anos - (c. 874 da CNBB)
Os que carecem habitualmente do uso de razão equiparam-se aos infantes. Afetados por um
transtorno mental permanente, eles são:
• Amentes - totalmente perturbados mentais = infantes
• Dementes - parcialmente - com esferas completamente anômalas.

Incapacita para o matrimônio só a demência "in re uxória" que afeta a esfera matrimonial.
Um transtorno passageiro por consumo de droga ou bebida não incapacita o indivíduo mas anula o
ato praticado no momento de privação do uso de razão.

b) Centro de Imputação - Atribuir responsabilidades


Trata-se de um aspecto meramente passivo do sujeito que pode ser centro e ponto de
referência de situações jurídicas. Aqui pode ser o homem ou urna entidade que tenha personalidade
jurídica. Estas situações são acessíveis por atividade negocial ou por imputação de uma norma
determinada.

DOMICÍLIO, AFINIDADE E CONSANGUINIDADE (cc.100-112)

Morador - tem domicílio - residência perpétua ou de 5 anos.


Adventício - tem quase-domicílio- depois de três meses.
Peregrino - está fora do domicílio ou quase-domicílio.
Vago- não tem domicílio nem quase-domicílio. (c. 100).

O filho pertence ao domicílio do pai. O vago pertence ao lugar onde nasceu ou foi
encontrado. Os religiosos têm domicílio na casa onde estão adscritos, e quase-domicílio na casa
onde residem 3 meses.
Adquire-se o pároco e o ordinário do lugar pelo domicílio da pessoa ou pelo lugar onde se
encontra o vago. (cc. 101-103).
Consanguinidade em linha reta se dá entre os ascendentes e os descendentes. Em linha
colateral entre os descendentes do mesmo tronco. Os graus da linha reta se contam pelas gerações,
e da linha colateral se contam os graus pelas pessoas, em ambos os casos, excluindo o tronco.
Entre tio e sobrinho há uma consanguinidade de 3º grau; entre irmãos de 2º grau, e entre primos
legítimos, uma consanguinidade de 4º grau. (c. 108).
Afinidade é o vínculo existente entre um cônjuge e os consanguinidade do outro, originado
de matrimônio válido mesmo não consumado. Os filhos adotados na lei civil são filhos na lei
canônica, não podendo contrais matrimônio com pais adotivos, tios ou irmãos por adoção. (c. 109).
Pertencem à Igreja os filhos que os pais católicos, pelo menos uma das partes, de comum
acordo, batizam na Igreja Católica. Depois de 14 anos pode escolher a Igreja, independentemente
dos pais, de rito diferente, mas católica. Alguém, recebendo o sacramento habitualmente noutra
Igreja ritual não significa que esteja adscrito nela. (cc. 111-112).

VII - PESSOAS JURÍDICAS (cc.113-122)

São entes diferentes de pessoas físicas, reconhecidos como suJe1tos de imputação de p


situações imputação jurídicas e operam no ordenamento mediante representantes legítimos. São
constituídas por coletividade de pessoas ou bens cujos fins superam o âmbito individual. No
código antigo usava-se o tema da pessoa moral que o novo tenta substituir por pessoa jurídica. O
conceito anterior, além de ter ressonância racionalista, tinha um caráter apologético de defender a
P
Igreja frente ao Estado. Surge no atual cânon 113 a afirmação antiga de que "a Igreja Católica e a
Sé apostólica têm natureza de pessoa moral por ordenação divina".
Porém este novo conceito não se contrapõe ao de pessoa jurídica e é substituído por ele logo
no §2 do mesmo cânon com igual valor. Já não tem mais aquele tom jus-naturalista, racionalista e
apologético. Funciona para destacar a atividade e a funcionalidade no direito canônico, mas não
para defender a Igreja frente a sujeitos alheios.
Há sujeitos, como certas associações privadas, que não gozam de personalidade, mas são
sujeitos e centro de imputações, direitos e deveres.
A personalidade jurídica é concedida por decreto administrativo da autoridade eclesiástica
competente, ponderada a finalidade que deve ser útil, possível e consentânea com a missão da
Igreja. ·

Classificação: Universidade de pessoas


Universidade de coisas

Esta classificação atende ao substrato material que constitui a base da pessoa jurídica,
ficando a divisão de colegial e não colegial do outro código para o modo pelo qual devem ser
tomadas as suas decisões.

Classificam-se também em: Públicas


Privadas

Públicas desempenham o fim em nome da Igreja, em ordem ao bem público eclesiástico.


Privadas - no cumprimento de seus fins não ostentam representatividade da Igreja.
Pelo próprio direito, tem personalidade jurídica pública aqueles elementos constitutivos da
organização pública da Igreja, tais como: as Igrejas particulares, as Províncias eclesiástica, as
conferências episcopais as paróquias, institutos religiosos, suas províncias, suas casas.

7.1 - REGIME JURÍDICO DAS PESSOAS JURÍDICAS (cc.118-119)

Públicas - têm personalidade jurídica pelo próprio direito e se regem pelo direito universal e
pelos seus estatutos que são normas fundamentais. O legislador regula apenas sua personalidade
jurídica e a consonância de seus fins com os fins da Igreja.
As pessoas jurídicas-privadas possuem maior autonomia, já que não comprometem a Igreja,
porém, têm sempre um superior externo que as vincula à hierarquia, já que na sua missão
compromete a Igreja. As públicas são representadas por pessoas estabelecidas no direito universal e
no particular, e as privadas por pessoas determinadas nos estatutos.
Nos atos colegiais, se os estatutos não estabelecem outra coisa, as pessoas jurídicas se
comportam do seguinte modo:

1. Em eleições, com a presença da maior parte dos votantes, terá valor o que foi aprovado pela
maioria absoluta dos votantes. O terceiro escrutínio, se houver, se faça entre os dois candidatos
mais votados, e se mantiver a igualdade, será eleito o mais idoso.
2. Em outros assuntos, estando presente a maior parte dos vogais, terá valor o que for
aprovado pela maioria absoluta dos presentes. Depois de dois escrutínios o presidente pode dirimir
a igualdade.
3. O que respeita a todos individualmente tomados, por todos deve ser aprovado.

7.2 - EXTINÇÃO DAS PESSOAS JURÍDICAS (cc.120-122)

As pessoas jurídicas são, por natureza, perpétuas. As públicas se extinguem por supressão da
o
P
autoridade -competente ou se desaparecer último membro e a atuação no espaço de 100 anos. As
pessoas jurídicas privadas deixam de existir, segundo as normas dos estatutos, se a associação se
dissolver ou a fundação deixar de existir a juízo da autoridade definida nos estatutos.
Enquanto restar um membro da pessoa jurídica colegial que não deixou de existir conforme
os estatutos, o exercício de todos os direitos compete àquele membro.
Ao unir-se duas pessoas jurídicas, a pessoa jurídica resultante adquire os bens, o patrimônio
e os encargos das anteriores, resguardados as vontades dos doadores e fundadores e os direitos
adquiridos.
Ao dividir-se uma pessoa jurídica pública, que resultem da divisão novas pessoas jurídicas
ou que uma parte se uma a outra pessoa jurídica, a autoridade competente cuide que sejam
divididos equitativamente os bens divisíveis e os direitos e os encargos, e que os não divisíveis
fiquem para ambas as pessoas jurídicas, ressalvadas as vontades dos fundadores e aferentes, os
direitos adquiridos e os estatutos aprovados.
Extinta urna pessoa jurídica pública, o destino de seus bens rege-se pelos estatutos ou vai
1

para a pessoa jurídica imediatamente superior. O destino dos bens da pessoa jurídica privada rege-
se pelos estatutos.

7.3 - RELAÇÕES JURÍDICAS

O objeto da relação jurídica são as condutas dos sujeitos que se relacionam no mundo do
direito.
Vínculo é a conexão que se cria entre os indivíduos na relação jurídica. Podem ser naturais
como o da filiação, e jurídicos, fruto da livre atividade das pessoas, como o matrimônio.

VIII ATOS JURÍDICOS (cc.124-128)

São atos procedentes da livre vontade humana, cujas consequências jurídicas estão previstas
em lei. Algumas consequências são independentes da vontade; entram aí os atos lícitos e atos
ilícitos. Os últimos são delitos que têm consequência jurídica mesmo independente da vontade de
quem os praticou.
Em sentido estrito, ato jurídico é aquele realizado pela vontade da pessoa em vista das suas
consequências jurídicas previstas no ordenamento canônico.
Ato jurídico canônico é um ato que procede da autonomia da vontade dos fiéis em busca de
um resultado social de natureza estritamente eclesial.

8.1 - DECLARAÇÃO DA VONTADE NOS ATOS E CONTRATOS

É a manifestação externa da vontade que regula de maneira determinada os objetivos


perseguidos pelo agente. Esta manifestação pode ser feita pessoalmente ou por procurador, e pode
ser:

Por: Palavras orais


Palavras escritas
Sinais externos
Silêncio (quem cala consente)

A vontade declarada normalmente coincide com a vontade real. Neste sentido há três
posições:
1. Só vale a vontade declarada, sem atenção à vontade real interna, por segurança
P
jurídica.
2. Prevalece a vontade interna sobre a declarada - "Jus romanum".
3. Prevalece a vontade declarada quando há prejuízos para terceiros.

No âmbito canônico prevalece a vontade interna, mas demonstrando que não houve a
discordância entre a vontade e sua manifestação para relevância jurídica do próprio ato.

FORMA DE DECLARAÇÃO

É o meio pelo qual se exterioriza a vontade, evita a não premeditação, garante a constância
da vontade e facilita prova processual. A forma pode ser requerida para solenidade ou para a
validade do ato, o que acarreta em nulidade por falta ou defeito de forma. O direito canônico opta
pela liberdade de forma, exceto no processo e no matrimônio.

CAUSA DO CONTRATO

É a razão de ser do contrato, o objetivo a que persegue e ato jurídico. É aquele elemento do
negócio jurídico que coordena a autonomia privada e as exigências do ordenamento jurídico. A
causa facilita a tarefa do juiz, proporcionando-lhe a possibilidade de valorizar a autonomia privada.

INEXISTÊNCIA

A inexistência do ato jurídico se dá quando não existe um de seus elementos essenciais,


quando uma das partes não prestou declaração de vontade. Neste caso não existe nem aparência de
ato jurídico.
NULIDADE

Nulidade acontece quando se realizou determinado ato mas faltou algum requisito legal
exigido para a validade.

RESCINDIBILIDADE

É a possibilidade de declarar o ato nulo por defeito previsto em lei que determina a
solicitação de anulação ao juiz.

8.2 - VÍCIOS DO CONSENTIMENTO OU DA VONTADE

1. Violência física - que tira radicalmente a liberdade externa, e o sujeito é obrigado a realizar o
ato que é nulo. Pode produzir medo também espancamento, presença de armas, ameaça,
sequestro e tortura física e psicológica.
2. Medo grave - uma turbação do ânimo produzida pelo temor de um mal causado por um
agente externo. Aqui há certa vontade, embora coagida. Não tira radicalmente a liberdade,
há um certo consentimento e vontade e por isso o ato é válido, embora possa ser rescindido
por sentença do juiz. A não ser que a nulidade seja expressa no direito.
3. Dolo - um engano produzido na mente por alguém que tenta tirar proveito dessa situação
para si ou para terceiros, ou simplesmente causar mal a quem realiza o ato. O ato aqui é
também válido, mas rescindível por sentença judicial, quando o dolo for a causa do ato
realizado.

Alguns exemplos de violência, medo grave ou dolo nos cc. 643§1 nº4; 656 nº4; 1097;
1103; 1191§3; 1200§2; 172§1 nºl; 188.
P

ERRO E IGNORÂNCIA

Erro é uma ideia falsa da realidade, que leva o sujeito a manifestar a vontade de modo
diverso.
Ignorância é o estado da mente que desconhece uma determinada coisa ou objeto concreto, é
a ausência do conhecimento devido do objeto.

Podem ser: Substancial


De direito
De causa

1º) Substancial - O erro ou a ignorância afeta a substância do ato jurídico, seus elementos
substanciais. Elementos acidentais não têm relevância jurídica.
2°) De direito - O erro ou a ignorância a respeito das leis, que impede seus efeitos, se não
forem irritantes ou inabilitantes. Isto é, não obrigam.
Jº) De causa - Antecedente ou concomitantes ao ato jurídico. Seria erro ou ignorância das
causas, que, se não existissem, o sujeito não teria consentido no ato.

EFEITOS JURÍDICOS DO ERRO E DA IGNORÂNCIA

O erro ou ignorância substancial do objeto do ato jurídico, assim como de uma condição
"sine qua non" do ato, têm como efeito a invalidade do ato por sentença judicial.
O erro ou a ignorância acidental não afetam a validade do ato, mas as partes podem pedir a
anulação por ação rescisória.

8.3 - ATOS JURÍDICOS COMPLEXOS

São atos para cuja realização concorrem várias vontades de organismos diferentes da
organização eclesiástica. O concurso de duas ou mais vontades diversas daquelas entre as quais se
estabelece a relação jurídica principal:
• Consentimento
• Parecer ou conselho
Ato jurídico simples precisa da vontade de um único sujeito seja pessoal ou colegial.

8.3.1 - CONSENTIMENTO OU PARECER (C.127)

1 - Se um superior precisar do consentimento ou do parecer de um colégio ou grupo


de pessoas para realizar um ato:
a) Todos devem ser convocados conforme o direito. Se a convocação for pessoal,
seja na residência senão é nula.
b) Se algum vogal for preterido e, por isso estiver ausente, o ato é válido, mas
somente ele, mediante ação rescisória, no prazo de três dias depois de informado do ato, pode pedir
a anulação à autoridade competente.
c) Se mais de um terço dos vogais forem preteridos e por isso estiverem ausentes, o
ato é nulo pelo próprio direito.
d) Para ser válido o ato se requer o consentimento da maioria absoluta dos presentes
ou o parecer de todos. Sendo o parecer só ouvido por analogia.
P
2 - Se um superior para agir precisar do consentimento ou parecer de algumas
pessoas individualmente consideradas:
a) É inválido o ato se não pediu o consentimento de todas ou agiu contra o voto de
algumas delas.
b) É inválido o ato se não pediu o parecer de todas, embora não seja obrigado a
seguir. Se for unânime é aconselhável que não se afaste.

8.4 - REPARAÇÃO DE DANOS (c.128)

Quem realiza um ato jurídico com dolo ou culpa e causa danos a terceiros tem que reparar
os danos causados. É uma responsabilidade extracontratual, diferente da responsabilidade penal ou
delituosa que é transgressão da lei. Deve haver uma ação culposa que tem uma causa e provoca
danos material, econômico ou moral.

IX - PODER DE REGIME (cc.129-144)

O poder de governo ou de jurisdição tem origem divina e é exercido por quem recebeu o
sacramento da Ordem, embora os leigos cooperem "as normam iuris".
Este poder deve ser exercido no foro externo, isto é, está circunscrito à dimensão societária
da Igreja. Se alguma vez atinge o foro interno da consciência individual, sua repercussão não deve
ser reconhecida no foro externo a não ser em caso determinado por lei.

Pode ser: Ordinário: Próprio


Vigário
Delegado - provar a delegação

O poder ordinário está anexo a um oficio, e o poder delegado está ligado à pessoa, sem ser
mediante o oficio.
O poder ordinário próprio está ligado ao elemento ontológico sacramental que implica a
recepção da Ordem Sagrada.
O poder ordinário vigário se exerce em nome de outro que tem poder ordinário próprio.

Pode ser: Geral - ofícios com natureza de poder próprio.


Especial - funções conferidas ao ofício.

O poder delegado pode ser: A jure - delegação da lei


Ab homine - ato administrativo de delegante
Universal - todos os assuntos similares
Singular - caso concreto

9.1 - FACULDADES HABITUAIS

As faculdades habituais se regem pelas prescrições sobre o poder delegado. São a concessão
de uma missão canônica necessária para exercer válida e licitamente, em determinadas
circunstâncias, o poder de regime recebido na ordenação.
Elas se regem pelas prescrições, do poder delegado porque nada mais são, do que
delegações dadas de modo habitual. Em sua realidade teológico-jurídica, não há diferença entre
uma delegação e a concessão de uma faculdade habitual.
A faculdade habitual não cessa ao cessar o direito do Ordinário a quem foi concedida,
mesmo que ele tenha começado a executá-la, mas passa a qualquer Ordinário que o suceder no
governo. Isto se a concessão não expressar o contrário, ou não tiver sido escolhida a competência
da pessoa. (c. 132§2).
P
Neste caso a faculdade habitual foi concedida ao ofício e passa, por isso, ao sucessor no
ofício, porque se estende ao sucessor do ofício a missão canônica que toma possível o exercício do
poder executivo de regime recebido na ordenação.
Porém, por serem as faculdades habituais regidas pelas prescrições do poder delegado, elas
são concedidas a uma pessoa por causa dela mesma e não em razão do seu ofício.

I - São Faculdades Habituais

1. Faculdade habitual concedida pela Santa Sé ao Bispo diocesano e ao vigário geral e


episcopal no âmbito de sua competência. (c. 479§3). As mesmas faculdades dos
Bispos diocesanos são dos seus vigários gerais e episcopais.
2. Faculdades habituais concedidas ao vigário forâneo. (c. 555).
3. Faculdades habituais concedidas ao Reitor de uma Igreja. (c. 562).
4. Faculdades habituais concedidas a um capelão. (c. 566).

II - Faculdades de atender confissões

1. O poder de ordem e de jurisdição. (c. 966§1): Para confissão válida, além do poder da
ordem, se requer do ministro a faculdade de ouvir a confissão dos fiéis.
2. ''Ipso iure" ou por concessão particular (c. 966§2): Pode ser dada pelo próprio direito ou por
concessão da autoridade competente.
3. O sujeito da faculdade "ipso iure" (c. 967§1): O Papa, 0s cardeais para todos, e também os
Bispos a não ser que se oponha o Bispo diocesano num caso particular.

III - Faculdade de assistir o matrimônio (cc. 1109-1112)


IV - Faculdade de administrar a confirmação (cc. 883 - 884)
V V - Faculdade de pregar (cc. 764- 767)

9.2 - OS ORDINÁRIOS (cc. 134; 368; 295; 381§2)

São chamados de Ordinários aqueles que com poder ordinário ou com poder vigário geral
desempenham o poder executivo de um oficio ao qual corresponde a capitalidade da Igreja
Universal ou de um particular e de suas assimiladas. Nem todos aqueles que por força do oficio têm
poder ordinário são também ordinários.

São Ordinários: Do lugar: Romano Pontífice


Bispos diocesanos
Prelados territoriais
Abade territorial
Vigário apostólico
Prefeito apostólico
Administrador apostólico
Vigário Geral
Vigário episcopal
Ordinário militar
Prelado pessoal
Superiores Maiores de institutos religiosos clericais de direito
pontifício e de sociedade de vida apostólica clericais do direito
Pontifício.
P
Excluem-se os superiores maiores de institutos laicais e de institutos seculares mesmo que
estes possam incardinar clérigos e que os superiores porventura sejam sacerdotes.

O poder de governo pode ser (c.135): Legislativo


Executivo
Judicial

Legislativo: O Papa
Colégio Episcopal - Concílio Ecumênico
Bispos
Concílios Particulares
Conferências Episcopais

Judicial: Juízes
Colégios Judiciais

Os poderes legislativos e judiciais não podem ser delegados a não ser que se determine
expressamente no direito. O legislador inferior legisla validamente conforme o superior.

9.3 - PODER EXECUTIVO (cc. 136-138)

Quem tem poder executivo pode exercer em qualquer lugar sobre os seus súditos, e sobre os
peregrinos que estão em seu território. O poder executivo ordinário tanto geral quanto especial,
pode ser delegado. O poder delegado pela Sé Apostólica pode se subdelegar, a não ser que seja
ligado à competência do delegado, ou a subdelegação seja expressamente proibida. O poder
delegado geral será subdelegado particular. O poder subdelegado não se pode de novo subdelegar a
não ser por concessão expressa do delegante.
Não deve haver conflitos entre poder ordinário e poder delegado. O recurso à autoridade
superior não suspende o poder do inferior, e o inferior, por sua vez, não se intrometa na causa
levada ao superior, a não ser, por causa grave e urgente, avisando logo o superior. Respeite-se a
subsidiariedade.
Se vários foram delegados solidariamente a tratar de um assunto, o primeiro que pegar
dispensa o demais.
Se forem delegados colegialmente, todos tratem juntos.
Se forem delegados sucessivamente, cuide do assunto aquele cujo mandato é anterior. Na
falta seja sucedido.

O poder delegado se extingue (c.142): Cumprido o mandato


Decorrido o prazo
Preenchido o número de casos
Cessado a causa final da delegação
Revogação do delegante
Renúncia manifesta e aceita

Não cessa por cessar o direito do delegante. O ato realizado no foro íntimo pelo delegado,
expirado o tempo por inadvertência, é válido.
O poder ordinário se extingue por perda do ofício e pode ser suspenso legitimamente por
apelação ou recurso contra a privação ou remoção do oficio.

9.4 - SUPLÊNCIA DO PODER (C.144)


P
A Igreja supre a carência do poder executivo de governo - ordinário e delegado - tanto para
o foro interno como para o foro externo nos casos de erro comum e de dúvida positiva e provável,
tanto de fato como de direito.
Erro comum de fato é o que afeta uma comunidade ou grande parte dela; dá-se o erro
comum de direito quando se coloca publicamente uma causa capaz de induzir muitos a erro, ainda
que de fato afete a poucos.
A dúvida positiva é aquela que se fundamenta em razões existentes e não na carência delas;
e é dúvida provável se estas razões são sérias, mesmo que se oponham a elas outras razões também
fortes. A dúvida é de direito se versa sobre a existência ou alcance do poder ou da faculdade e do
direito de exercê-los sobre os fiéis a que se refere; é de fato se versa sobre as circunstâncias do
acontecimento que exigem a aplicação do poder executivo no caso concreto. (c. 144).
Esta mesma norma de suplência se aplica às faculdades ordinárias ou delegadas acerca do
ministro da confirmação (cc. 882-883); do ministro da penitência (c. 966), e delegação geral e
particular para assistir matrimônios (c. 1111§1).
Nos dois primeiros casos, a Igreja supre o defeito de uma missão canônica que permitiria o
exercício válido da ordem presbiteral recebida; no terceiro caso, a assistência como testemunha
qualificada eclesial na celebração do matrimônio, a Igreja aplica congruentemente as mesmas
normas que nos casos de um poder executivo delegado.
Também supre a Igreja a falta de poder, determinada no direito comum e nas constituições,
que possa dar-se nos superiores e capítulos de institutos de vida consagrada e sociedades de vida
apostólica, nestes casos de erro comum e de dúvida positiva e provável conforme se deduz do
cânon 586 que para essa suplência do c. 144 remete.
Coerentemente com esta assimilação jurídica, este poder interno dos superiores dos
institutos de vida consagrada deve ser entendido também como uma participação no poder de
governo eclesial ou poder executivo de regime que os cristãos poder ter em virtude do seu batismo:
participação inclusive no poder legislativo para os que se adscrevem a essa comunidade eclesial.
Esta participação se obtém mediante uma missão canônica, a teor do direito comum e do
direito próprio que permite ao superior local o exercício válido do poder de governo, em grau
auxiliar, recebido no batismo e aprofundado pela profissão religiosa. Este poder pode ser
completado com o sacramento da Ordem quando se trata de Institutos clericais e sociedade de vida
apostólica também clericais de direito pontifício em que os superiores maiores são sacerdotes e
verdadeiros ordinários. (c.134).

X - OFÍCIOS ECLESIÁSTICOS (c. 145-156)

São aqueles cargos exercidos em ordem a um fim espiritual, que têm estavelmente
atribuídas funções públicas na Igreja, por ordenação divina ou eclesiástica.
Para exercer validamente um oficio é necessária a provisão canônica que é um ato
administrativo pelo qual um oficio erigido é dotado do de seu titular, isto é, um decreto da
autoridade competente pelo qual se constitui e se confere um oficio com seus direitos e obrigações.

A provisão se faz por: Livre colação


Apresentação e instituição
Confirmação ou admissão
Eleição ou postulação

10.1 - LIVRE COLAÇÃO (c.157)

É a provisão realizada diretamente pela autoridade eclesiástica, juridicamente desvinculada


de qualquer precedente manifestação de vontade.
P

10.2 - APRESENTAÇÃO E INSTITUIÇÃO (cc.158-163)

A provisão de um oficio se dá por apresentação quando uma pessoa ou grupo de pessoas


(colégio) tem o direito de apresentar candidatos ao oficio. Esta apresentação seja feita à autoridade
competente que confere a Instituição do oficio ao apresentado se ela aceitar e julgar idôneo.

10.3 - ELEIÇÕES CANÔNICAS (cc.164-179)

Eleição canônica é a escolha do titular para um oficio através de votação daqueles que
gozam do direito de eleger, conforme as leis universais e particulares.
Se um colégio ou grupo de pessoas tem o direito de eleger alguém para um oficio, deve
exercê-lo no período de três meses a partir do momento que teve ciência da vagatura do oficio.
Decorrido este prazo a autoridade competente proveja o oficio livremente.
Para a eleição sejam convocados todos os membros do colégio ou grupo, capazes de votar.
Convocação pessoal só é válida na residência.
Se algum vogal, por ser preterido, estiver ausente, a eleição é válida, mas o preterido pode
recorrer pedindo a rescisão da mesma dentro de três dias depois de ciente da eleição, mesmo já
confirmada, provando a preterição e a ausência.
Se mais de um terço dos eleitores for preterido, a eleição é nula ipso iure, a não ser que
todos os preteridos estejam presentes.

São inábeis para votar:


1. Os incapazes de atos jurídicos
2. Os carentes de voz ativa
3. Os excomungados declarados por sentença ou decreto
4. Os afastados notoriamente da comunhão eclesial

Se um desses votar, o voto é nulo, mas a eleição é válida, a não ser que conste, sem o voto
dele o candidato não teria sido eleito.

10.3.1 - POSTULAÇÃO (CC. 180-183)

É uma variante de eleição para os casos em que, sem impedimento do direito, a eleição
recair num candidato que tem impedimento canônico que a autoridade pode e costuma dispensar.
Para ser válida a postulação requer ao menos dois terços dos votos e deve ser enviada no
prazo de oito dias à autoridade competente para ser ou não confirmada e para dispensar ou solicitar
a dispensa do impedimento.

XI - PERDA DO OFÍCIO ECLESIÁSTICO (cc.184-196)

A perda do oficio se dá por transcorrer o prazo estabelecido, por se completar a idade


exigida pelo direito, por renúncia, transferência, remoção e privação.
A perda do ofício por idade ou por prazo transcorrido só surte efeito quando intimada por
escrito pela autoridade competente.

11.1 - RENÚNCIA (cc.187-189)

É a manifestação escrita ou oral da vontade de deixar o ofício, por uma pessoa que tem uso
de razão e por justa causa, à autoridade competente que deve prover o oficio em questão.
Se a renúncia necessita de aceitação não tem valor se não for aceita dentro de três meses;
senão surte efeito logo que comunicada à autoridade.
P

11.2 - TRANSFERÊNCIA (cc.190-191)

É uma provisão canônica na qual, implícita ou explicitamente, se contém a remoção do


oficio que até então se ocupava e a colação num novo ofício. Deve ser feita por escrito, por simples
notificação ou decreto da autoridade competente para prover o oficio que se perde e o que se
confere. Para transferir contra a vontade do titular, deve haver causa grave.
O primeiro oficio vaga com a posse canônica no segundo que faz cessar os direitos e deveres
do primeiro.

11.3 - REMOÇÃO OU DESTITUIÇÃO (cc.192-195)

Remoção ou destituição é a perda do oficio estabelecida pela autoridade competente ou


determinada pelo direito, contra a vontade do titular, mas sem caráter penal ou punitivo, embora
com causa justa. Deve ser feita sempre por escrito. Pelo direito ficam removidos do oficio:
• Quem perder o estado clerical
• Quem abandonar notoriamente a fé e a comunhão eclesial
• Clérigo que tentou matrimônio mesmo só civilmente

11.4 - PRIVAÇÃO (c.196)

É a perda do ofício imposta judicialmente ou administrativamente como pena ou punição


pela comissão de um delito.

XII - PRESCRIÇÃO (cc.197-199)

É um modo de adquirir ou perder um direito subjetivo ou livrar-se de obrigações ou


encargos pelo decurso de determinado tempo.
Não prescrevem:
1. Direitos e obrigações decorrentes de lei divina ou positiva
2. Direitos que só se obtêm por privilégio apostólico
3. Direitos e obrigações referentes à vida espiritual
4. Limites e circunscrições eclesiásticas
5. Espórtulas e ônus de missas
6. Provisão de ofício que requer ordem sacra
7. Direito de visita e obrigação de obediência

XIII - CÔMPUTO DO TEMPO (CC. 200-203)

É a contagem de horas, dias, meses e anos, como prazos estabelecidos ·para agir no direito.
O tempo pode ser contínuo e útil. Contínuo quando não sofre interrupção, é o curso cronológico
natural. Útil se contado de tal modo que os dias não totalmente úteis não entram no cômputo do
tempo. Este tempo não transcorre para quem o ignora ou está impossibilitado de agir.
O dia inicial não é computado no prazo, a não ser que coincida com o início do dia que é a
meia noite. O dia final do prazo é computado de forma que o prazo termina no fim do dia do
mesmo número do dia inicial. Se o mês carecer deste dia, o prazo termina no último dia do mês.

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