Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
sobre a modéstia
Escravas de Maria
19 de março de 2012
Festa de São José
ÍNDICE
(Parte do Pronunciamento do Papa Pio IX. citado no livro "Formação da Donzela'', pelo
Padre J. BaetemanJ. ..... ..... ...... .................... .............. .......................... ············· 29
9- DECLARAÇÕES DIVERSAS SOBRE MODÉSTIA '.'10 VESTIR ............... . ................. 30
(Trnduçào não oficial de Andrea Patrícia l...... 30
•!• PRONUNCIAMENTO DE SA:'llTOS...... ]2
.n- SERl\fÜES DE sAo J0.-\0 MARIA VIANNEY - O CURA D'ARS ............................ 114
5
AGRADECIMENTO
A Jesus, Maria e José, exemplos de pureza.
6
PREFÁCIO
Santo Agostinho divide o gcncro humano cm dois grupos que ele designa sob o nome de
duas cidades: a cidade terrestre, que procede do amor de si mesmo levado até o desprezo de Deus. e a
cidade celeste, que procede do amor de Deus levado até o desprezo de si mesmo.
Estas duas cidades se encontram representadas na Sagrada Escrintra por diversos
personagens como Caim e Abel. Esaú e Jaeó e, acima de tudo. por Adão e Nosso Senhor. o qual veio
nos restituir o que o primeiro pôs a perder, fundando a verdadeira cidade celeste que é a Santa Igreja
cujos membros são animados deste amor de Deus levado até o desprezo si mesmo.
Porém, na presente obra, são duas outras figuras que. de modo especial, nos vem ú mente:
Eva e Maria. As duas foram visitadas por um anjo. Eva, para a noss;i perdição, !vbria. para a nossa
salvação. Todas as almas devem fazer a sua escolha entre Maria e Eva. ou melhor, devem escolher
,\faria Santíssima como M5e e Mestra, sob pena de incorrer na mesma desgraça que Eva.
"Os tempos modernos, escrevia o Pe. Maximiliano Kolbe. são dominados por Satanás e o
serão ainda mais 11of11turo. O combate contra o inferno niio pode ser conduzido por homens, mesmo
pelos mais sábios. Só a lmaculada recebeu de Deus a promessa da vitória sobl"I.' o demônio. Ela
procura almas que lhe ser1io to!almente consagradas para .l'e tomarem. entre suas mâus. os
i11stru111cn/o.1· que vencerão Satanás e es1enderão o Reino de Deus sobre o mu11do i11teiro.
A edição do presente livro é para auxiliar a todos aqueles que têm responsabilidades na
formação de seu próximo e que desejam tomar pane na grnnde cmzada que se apresenta diante de nós.
crnzada de reconstrução de todo um mundo a partir de seus fundamentos, segundo a bela expressão
de Pio XII. Nesta reconstrução, a modéstia tem o papel de gata borralheira. juntamente com a
humildade. Ela não visa a altura de suas irmãs Fé, Esperança e Caridade. Não tem a direção da vida
moral como a Prudencia. nem a importància da Justiça, nem o brilho da Força. Ela é uma virtude
anexa da menor das virtudes morais, que é a Temperança. Sua função é a de introduzir a medida da
razão nos movimentos externos do corpo, ou seja. nas palavras, nos gestos e na vestimenta. Ser
virtuoso é viver segundo a nossa natureza racional iluminada pela Fé. Que este livro possa fazer
cheg;ir ;i luz que vem da cátedra de São Pedro até os detalhes que são objeto desta vi1tude. Assim
como o sol que. entrando pela janela. ilumina os quatro cantos de um qumto. assim o Sol da Justiça,
Nosso Senhor, através de seus Pontífices, bispos. doutores, santos e sacerdotes, ilumina o objeto
desta virtude que regra o que há ele menos considerável na vida da alnrn e que, no entanto, condiciona
todo o re,to, pois, na vida moral, tudo está interligado. "Jerusalhn, diz o salmo, está edificaria como
.
uma cidade rnja\· partes estâo em per/éita e 1mitua 1111iiio ..
É um ato de humildade observar as regras da modéstia que os século, de Fé nos legaram. O
mundo moderno se ri dessas regras e rindo delas, sem o saber, na maio1ia dos casos, se ri cio próprio
Deus. para sua perda e confusão.
Mas é necessúrio dizer uma palavra de como utilizar este livro. Todos os r.extos aqui
apresentados têm igual autoridade? Não. Há uma hierarquia entre eles. Em primeiro lugar remos as
alocuções pontifícias, os dornmentos das congregações romanas, os doutores da Igreja e os santos
devidamente canonizados, aos quais podemos acrescentar aqueles que, como o Padre Pio, gozam de
uma fama universal e merecida de santidade. Em seguida vem os bispos e os eoncilios regionais. Por
lim os teólogos e os sacerdotes. mas sempre mantendo o critério da Tradição: o que sempre foi crido e
ensinado por todos e cm toda parte.
Neste conjunto de cnsinarnemos há normas gerais. a respcill> das quais todos estão de pleno
acordo. llá, porém. alguns pontos. sobre os quais não hn completa unanimidade. Nós procuramos
apresentar aqui o que nos parece mais tradicional e conrorme ao que dcix,1111 supor l'S Sobc'ranos
Pc>nl íficcs. ;1ssinalanclo com m>tas o que no, pan.;n; contrnvcnidu. Se. por acaso. houver algo qus:: d
til' cncontrn à doutrina da Igreja. por ddcito ou por cxcc,so. nós o repudiamc'S dcsdL' jú -: o
co1Tigin:mos numa próxima cdiç:io. se este defeito nos Jí.,r a,,sinalado.
Esta coletânea é obra conjunta das Innãs Escravas de Maria Rainlrn da Paz e cio :Vlosteiw da
Sama Cruz que fez o trabalho de revisão e das notas. Que ela seja útil a todos os que, cornjosamente.
7
desejam seguir o conselho do Apóstolo: "Niio 1·os conformeis com este século. mas refimnai-vos com
o renovamento do vosso espírito. para que reconheçais qual é a vontade de Deus, boa. agradável e
perfeita. "(Rom XIL 2)
Confiamos esta obra a Nossa Senhora que em Fátima nos revelou o seu Imaculado Coração
e instmiu a pequena Jacinta que. profeticamente, anunciou: "Virão modas que ofenderão muito a
Deus e perderão muitíssimas almas."
Igualmente cm Quito, no Equador, Nossa Senhora revelou a uma religiosa concepcionista,
a serva de Deus Madre Mariana de Jesus, pelos anos de 1634, o que estamos vivendo hoje: "Nesses
tempos, diz Nossa Senhora, a atmosfera estará saturada pelo espírito de impure::a que. como um mar
imundo, correrá pelas nias, praças e lugares públicos, com uma liberdade assombrosa. ,. Quem
incitará os homens a isto será sempre Satanás, "mas, continua Nossa Senhora, eu.fàreifrente a ele e
esmagarei sua cabeça, pondo-a debaixo de meus pés. "
Que esta obra possa concorrer para esse triunfo de Nossa Senhora, arrancando almas às
garras do demónio e as auxiliando a obter a eterna bem-aventurança. Assim seja.
É uma cruzada contra os que minam a moral cristã, contra os perigos que estão criap.do no fluxo
tranqüilo da boa moral no mundo, poderosas ondas de imoralidade que estão inundando todo o
mundo e envolvendo todas as classes sociais. Não é apenas a Igreja que proclama esse perigo
existente hoje em toda a parte; mesmo entre os homens que não seguem a fé cristã, aqueles que são
mais perspicazes, os mais preocupados com o bem público, têm apontado claramente os'perigos
terríveis para a ordem social e para o futuro das nações. Os incentivos à impureza, multiplicando-se
continuamente, envenenam as bases da vida. E ao mesmo tempo, a atitude indulgente, ou melhor, a
atitude amorfa de uma parte cada vez maior da opinião pública, a tomam cega diante dos mais graves
distúrbios morais e permitindo assim que se relaxem ainda mais as rédeas que mantêm o mal sob
controle.
A imoralidade presente é pior do que a de idades precedentes? Seria talvez imprudente afirmar
isso, e a pergunta é, em todo caso, supérflua. Na sua própria época, o autor do Livro do Eclesiastes
9
pôde escrever: "Não digas jamais: Como pode ser que os dias de outrora eram melhores que estes de
agora? Porque não é a sabedoria que te inspira esta pergunta. O que foi é o que será: o que acontece é o
que há de acontecer. Não há nada de novo debaixo do sol". [2]
Batalha Cristã
A vida do homem na terra, mesmo na época cristã, permanece sempre uma guerra. Temos que
salvar nossas almas e as almas dos nossos irmãos. Hoje, o perigo é certamente maior, porque os meios
de excitar as paixões, anteriotmente muito restritos, multiplicaram-se en01memente. O progresso na
impressão, publicações baratas e luxuosas. fotografias, ilustrações, reproduções artísticas de todas as
formas, cores e preços; filmes, espetáculos de variedades e centenas de outros meios apresentam
secreta e discretamente as atrações do mal, e as tornam disponíveis a todos - velhos e jovens,
mulheres e moças. Não é verdade que está aí para todo o mundo ver uma moda que é tão exagerada a
ponto de dificilmente ser adequada a uma moça cristã? E o cinema não apresenta agora as produções
que anterionnente eram apresentadas apenas em locais onde mal se ousava pôr os pés?
Em face de tais perigos, em alguns países, as autoridades públicas têm tomado medidas
legislativas ou administrativas para conter a avalanche de imoralidade. Mas essa ação exlema vinda
até mesmo das autoridades mais poderosas, embora louvável, útil e mesmo necessária, nunca pode
por si só trazer os resultados na esfera moral, que são sinceros, fecundos e medicinais para a alma.
Para ctuar a alma, um tipo diferente de poder é necessário.
A Igreja deve trabalhar pelas almas, e da mesma forma a Ação Católica, a sua ação. a serviço da
Igreja, em união íntima e sob a direção da Hierarquia, lutando contra os perigos da imoralidade,
lutando em qualquer campo que esteja aberto para vós: no campo da moda e do vestuário, da saúde e
do esporte, no domínio das relações sociais e de entretenimentos, vossas annas serão a vossa palavra,
o vosso exemplo, a vossa cortesia e vosso comportamento; armas que põem ante os outros um padrão
de ações, que são uma honra para vós e vossa atividade, e tomam este mesmo padrão possível e
louvável para eles.
Não temos a intenção de pintar o triste retrato, apenas muito familiar, dos exageros que vós
percebeis sobre vós: vestidos que dificilmente são suficientes para cobrir a pessoa, ou outros que
parecem concebidos para enfatizar aquilo que deveria esconder; esportes que são realizados com tais
vestuários, tanto exibicionismo e em tais companhias que são inconciliáveis até mesmo com o padrão
menos exigente da modéstia; danças, filmes, peças teatrais, publicações, ilustrações. decorações a
partir do qual o desejo louco de diversão e prazer produz graves perigos. Ao contrário, nós temos o
desejo de trazer à mente mais uma vez os princípios cristãos que iluminem vossas decisões nesses
assuntos. vossos passos e guia de conduta. e inspirem e sustentem vossa guerra do espírito.
É realmente uma gue1Ta. A pureza das almas que vivem cm estado de graça sobrenatural não é
preservada, nem será preservada. sem luta. Felizes sois vós que tendes recebido em vossas famílias na
aurora da vida, do berço, uma vida mais elevada, vida divina, através do batismo. Quando vós éreis
bebês não tínheis que batalhar, inconscientes de tal grande dom e de tal felicidade-·- como fazem as
almas mais maduras, mas menos afo11unadas do que vós - para ganhar um tão grande bem: mas vós
também deveis lutar para preservá-lo.
Embora o pecado original tenha sido extirpado de vossas almas pela ação purificadora da graça
santificante que as reconciliou com Deus, tomando-vos filhas adotivas e herdeiras do céu, deixou em
vós uma forma triste da herança de Adão: um desequilíbrio interior, um conflito, que até mesmo o
grande apóstolo Paulo sentia.
Quando o homem interior alegrou-se na lei de Deus, sentiu outra lei, a lei do pecado nos seus
membros, a lei das paixões e das inclinações de�ordenadas, nunca inteiramente sujeitadas, com a qual
o anjo de Satanás trabalha, ajudado pela carne e pelo mm1do, para seduzir as almas. Essa é a guena do
espírito e da carne, tão abertamente atestada na Revelação, que (se excetuarmos só a Virgem Maria) é
inútil pensar que pode haver uma vida humana sem o devido cuidado e luta.
Não vos enganeis, considerando a vossa alma insensível à tentação, invencível a atrações e
10
perigos. É verdade que o hábito pode tomar uma alma menos impressionável, sobretudo no caso de
uma, cujos poderes são absorvidos e totalmente ocupados no exercício de alguma atividade
intelectual superior ou profissional. Mas imaginar que todas as almas, tão propensas ao sentimento,
podem tornar-se insensíveis às incitações provenientes de imagens que, coloridas pela sedução do
prazer. chamam e prendem a atenção, seria supor e julgar que a cooperação no mal que os convites
insidiosos encontram no instinto da natureza decaída e desordenada poderiam cessar ou diminuir.
Essa luta inevitável vós aceitais com coragem e espírito cristão. O objetivo da ação comum não
pode ser a eliminação total desse combate, mas deve ter por objetivo assegurar que esse necessário
conflito espiritual não se torne mais difícil e perigoso para as almas pelas circunstâncias extrinsecas e
pela atmosfera em que os corações que sofrem seus ataques devem resistir e lutar. Nos campos de
batalha da Igreja, onde a virtude se opõe ao vício, vós encontrareis sempre os personagens heróicos,
novos intrépidos, moldados por Deus: esses, sustentados pela graça, não se abalam nem caem, não
importa quão fortes sejam os golpes: eles podem abe11amente conservar-se incorruptos e puros no
meio da impureza que os cerca: eles são, por assim dizer, o fennento no grão bom, e um renascimento
para o maior número de almas - esses, também, redimidos pelo sangue de Cristo, que constituem as
massas. O objetivo. então, do vosso combate deve ser o de tornar menos árdua para os homens de boa
vontade a conquista do grau de pureza cristã, a condição de salvação: para garantir que as tentações
que surgem do ambiente não excedam os limites da resistência que, com a graça divina, a vitalidade
medíocre de muitas almas possa se opor a elas.
Para realizar objetivo tão santo e virtuoso, deve-se agir de acordo com os grupos e correntes de
idéias: uma tarefa na qual uma ação conjunta pode operar com grande efeito. Desde que a união faz a
força, apenas um grupo compacto, tão numeroso quanto possível, de espíritos cristãos resolutos e não
tímidos, será capaz de, sempre que a sua consciência exigir, lançar fora o jugo de certos ambientes
sociais, de se libertar da tirania - hoje mais forte do que nunca - de modas de todo tipo: a moda no
vestir, a moda no comportamento e nas relações sociais.
O movimento da moda em si não é algo mau. Ele flui espontaneamente da natureza social do
homem, de acordo com um impulso que o inclina a manter-se em harmonia com seus semelhantes, e
com o modo de agir das pessoas entre as quais ele vive. Deus não lhe pede para viver fora do seu
tempo, tão descuidado das exigências de forma a tornar-se ridiculo, vestindo-se de maneira oposta ao
gosto comum e práticas de seus contemporàneos, sem considerar o que agrada a todos eles.
Por isso mesmo o angélico Santo Tomás atinna que. nas coisas externas que o homem usa, não
há mal. Mas o mal vem do homem, que faz uso dessas coisas sem moderação. ou de modo contrário ao
uso comum no seu ambiente. tomando-se estranhamente em discórdia para com os outros. Ou então,
usando as coisas de acordo com o uso comum, mas na verdade com afeição exagerada, através do uso
de muitas roupas pelo orgulho de estar na moda ou pelo prazer, ou analisadas com um cuidado
exagerado, quando apenas humildade e simplicidade teriam sido suficientes para garantir o decoro
necessário.
E o mesmo santo Doutor vai mais longe e diz que o ornamento da pessoa do sexo feminino pode
ser um ato meritório da virtude, quando estiver em conformidade com o estado, a posição da pessoa, e
se é feito com boas intenções, e quando as mulheres usam ornamentos que são decentes de acordo
com sua posição e sua dignidade, quando eles são governados de acordo com os costumes de seu país.
Então ornamentar a si mesmo também se toma um ato da virtude da modéstia, que influencia o modo
de andar e de se portar, o modo de vestir, todos os movimentos externos.
Mesmo seguindo a moda, a virtude está no meio. Aquilo que Deus pede é recordar sempre que a
moda não é, nem pode ser a regra suprema da conduta: que acima da moda e de suas exigências
existem leis mais altas e imperiosas, princípios superiores e imutáveis, que em nenhum caso podem
ser sacrificados ao talante do prazer ou do capricho, e diante dos quais o ídolo da moda deve saber
inclinar a sua fugaz onipotência. Esses princípios foram proclamados por Deus, pela Igreja, pelos
11
santos e pelas santas. pela razão e pela moral cristãs, assinalados limites. além dos quais não
florescem lírios e rosas, nem pairam nuvens de perfumes da pureza, da modéstia, do decoro e da honra
feminina, mas aspira-se e domina um ar malsão de leviandade, de linguagem dúbia, de vaidade audaz.
de vanglória, não menos de espírito que de traje.
São aqueles princípios que Santo Tomás mostra para o ornamento feminino e recorda. quando
ensina qual deve ser a ordem de nossa caridade, de nossas afeições: o bem da própria alma deve
preceder o do nosso corpo. e à vantagem de nosso próprio corpo devemos preferir o bem da alma de
nosso próximo. Não se vê. portanto. que há um limite que nenhuma idealizadora de modas pode fazer
ultrapassar. a saber, aquele além do qual a moda se toma mãe de ruína para a própria alma e dos
outros?
O sacrificio exige
Algumas jovens dirão talvez que uma determinada forma de vestuário é mais cômoda e também
mais higiênica; mas, se constitui para a saúde da alma um perigo grave e próximo. não é certamente
higiênica para o espírito: tem-se o dever de renunciar. A salvação da alma fez heroínas mártires como
Inês e Cecília, em meio aos tonnentos e lacerações de seus corpos virginais: e não ireis vós, suas innàs
na fé, no amor de Cristo, na estima pela virtude, encontrar no fundo de vossos corações a coragem e
força para sacrificar um pouco do bem-estar - uma vantagem tisica, se vós preferis - para conservar
segura e pura a vida de vossas almas?
E se. por um simples prazer próprio, não se tem o direito de colocar em perigo a saúde tisica dos
outros. não é talvez ainda menos lícito comprometer a saúde, até a própria vida de suas almas? E, se
como dizem algumas mulheres. uma moda ousada não deixa nelas impressão alguma, o que sabem
elas da impressão que deixarão nos outros?
Quem lhes assegura que outros não tirarão disto um incentivo para o mal? Vós não conheceis
bem a fragilidade humana, nem de que sangue de conupção sangram as feridas deixadas na natureza
humana pela culpa de Adão com a ignorància no intelecto, com a malícia na vontade, com a ànsia do
prazer e a debilidade para o bem, árduo nas paixões dos sentidos a tal ponto que o homem, como cera
amoldável ao mal, "vê o melhor e o aprova. mas ao pior se apega'' [3], por causa daquele peso que
sempre, como chumbo, anasta-o para o fundo. Ó. quão verdade seria se algumas mães cristãs
suspeitassem as tentações e quedas que causam aos outros com seus modelos de vestidos e
familiaridades em seus comportamentos. que elas inconscientemente consideram de pouca
importância: estariam chocadas pela responsabilidade que é sua!
Ao que Nós não duvidamos de acrescentar: oh, mães cristãs, se soubésseis que futuro de perigos
e íntimos desgostos. de dúvidas e irreprimível rubor preparais para vossas filhas e filhos, com
impmdência em acosnuná-los a viver parcamente vestidos, fazendo deles desaparecer o sentido
nan1ral da modéstia, vós mesmas enmbcsceríeis, e vos horrorizadeis pela vergonha que causais a vós
mesmas e o dano que fazeis aos filhos que vos foram confiados pelo céu, para que crescessem
cristãmente. E aquilo que dizemos para as mães, repelimo-lo a rn1o poucas senhoras fiéis, e mesmo
piedosas, que aceitam seguir esta ou aquela moda arrojada, e com o seu exemplo fazem cair as últimas
hesitações que retêm uma turba de suas innãs que estão longe daquela moda, a qual poderá tornar-se
para elas fonte de ruína espiritual. Enquanto certos modos provocantes de vestir permanecem como
triste privilégio de mulheres de reputação duvidosa e são quase um sinal que as faz reconhecer. não se
ousará. pois. usá-los para si; mas no dia em que aparecerem como ornamentos de pessoas acima de
quaisquer suspeita. não se duvidará mais de seguir tal c01Tente, corrente que an-astará talvez para
dolorosas quedas.
***
Notas
[1] Alocução 22 maio 1941. Papal Teaching, 'The Woman in the Modem Word", St. Paul
Editions ( 1958)
[2] Eclesiastes7. 1 O; 1, 9
[3]Rm7,19
12
2- MODA E MODÉSTIA
S.S. Pio XII - Alocução às moças da Ação
Católica, 6 de outubro de 1940.[1]
(Esta é a hora da juventude católica)
Se amanhã o mundo não desejar permanecer para sempre enterrado na sombra da morte, ele terá
que se ocupar em reparar as suas perdas, reconstruir as minas. Nesse momento vós deveis colaborar,
.Juventude Católica! E que maravilhosos empreendimentos aguardam a vossa colaboração! Para
reconstmir a sociedade sobre uma base cristã; para pôr em estima e honra o Evangelho e sua moral;
para renovar a vida da família. restaurando ao matrimônio a sua coroa -sua dignidade sacramental, e
ao marido e à mulher o sentido de suas obrigações e a consciência de sua responsabilidade: para
estabelecer em toda a sociedade a noção genuína da autoridade, da obediência, do respeito pela lei,
dos direitos e deveres recíprocos do homem. Esse é o seu amanhã.
Uma de vossas grandes tarefas será a de ensinar a doutrina de Cristo. O mundo é dominado hoje
em grande parte pelo "laicismo": a tentativa do homem de agir sem Deus. É uma iniciativa vã e ímpia,
que assume diferentes aspectos e títulos de acordo com a variedade de tempo e lugar: indiferença,
descuido, desprezo, revolta. ódio. Este último, o mais perverso de todos, felizmente, não é
freqüentemente encontrado em familias nutridas pelo cristianismo há séculos. mas muitas vezes o
desenvolvimento. o progresso, a difusão da ciência e das máquinas e os progressos no bem-estar
material causaram em muitas pessoas uma crescente indiferença para com Deus e para com as coisas
divinas. Os homens acreditam que dependem menos diretamente de Deus, agora que ganharam para
si um padrão mais elevado de bem-estar material aqui embaixo. Eles ingratamente esquecem que
tudo o que temos é tun dom de Deus: quer se trate das forças da natureza que eles aproveitam, quer das
suas próp1ias faculdades intelectuais e físicas -precisamente os instrumentos de seu sucesso e de suas
vitórias.
Em outras épocas-· não em si totalmente imune de falhas e erros - uma fé religiosa penetrava e
invadia o conjunto da sociedade, especialmente a vida familiar, sendo as paredes adornadas com o
crucifixo e imagens piedosas. A literatura e a arte da casa eram baseadas na Bíblia. As cidades, vilas,
montanhas. nascentes levavam os nomes dos santos, ao longo das vias na zona rural e em
cruzamentos, o viajante contemplava a imagem de Cristo crucificado e de Sua Mãe Santíssima.
Parecia que tudo, o próprio ar, falava de Nosso Senhor, porque os homens viviam em contacto estreito
com Deus, viviam conscientes de sua presença universal e de seu poder soberano. O sino da igreja os
acordava, convidava-os para o sacrifício divino; a oração do A11gelus três vezes ao dia, para as
funções sagradas; governava a rotina diária de trabalho, assim como o sacerdote assegurava que o
trabalho fosse bem feito. Cada familia de então possuía um catecismo, uma história da Bíblia. muitas
vezes, também, a vida dos santos para cada dia do ano. Mas quantas casas existem hoje. mais ou
menos desordenadas com várias publicações, com romances e contos, mas com a falta daqueles
livros! Quantos pais não estão, justamente. ansiosos para garantir que seus filhos aprendam bem as
regras de higiene, mas dificilmente prestam todos estes cuidados à sua educação religiosa l
Ensinando o catecismo
[ l] Alocução I O de setembro de 1954. Papal Teaching, '"The Woman in the Modem Word", St.
Paul Editions ( 1958)
[2] Mt6,29
[3] Mt25, 34.36.40
5- PROBLEMAS MORAIS
NOS ESTILOS DA MODA
(Alocução do Papa Pio XII ao Congresso
da "União Latina de Alta Costura") [1]
Amados filhos e filhas. promotores e associados da "União Latina de Alta Costura", Nós
cordialmente estendemos a vós Nossas patemais boas vindas.
Nós vimos ser necessário vir até aqui para dar testemunho de vossa filial devoção e, ao mesmo
tempo, buscar os favores do céu para vossa União. Desde o seu início vós vos colocastes sob a
proteção Daquele cuja glória deve ser o fim de toda atividade humana. até aquelas que são
17
aparentemente profanas, de acordo com o preceito do Apóstolo dos Gentios: "Portanto, quer comais
quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo para a glória de Deus." (J Cor I O, 31)
Vós vos propondes a examinar desde o ponto de vista cristão e com intenção cristã um problema
que é, por sua vez, delicado e complexo. O seu aspecto moral não pode ser ignorado. O problema da
moda, especialmente da moda feminina, é constantemente objeto de atenção e ansiedade por aqueles
cujas tarefas são, em razão de seus deveres na família, na sociedade e na 11,,>reja, preservar as almas da.'
am1adilhas da corrupção e proteger toda a comunidade da decadência moral.
É correto e apropriado que vossas generosas intenções devam receber Nossa gratidão e a da
Igreja, e que vossa União, nascida e inspirada por um sólido senso religioso e cívico, receba
Nosso fervente desejo para a realização, através de uma inspirada autodisciplina dos desenhistas
da moda da dupla meta expressada nos vossos estatutos: melhorar a condição deste importante
setor da vida pública, e ajudar a elevar a moda ao nível de um instrumento e expressão de uma
bem-intencionada civilidade.
Porque queremos encorajar tão digno empreendimento Nós, de bom grado, consentimos ao
vosso pedido que dirijamos nossos pensamentos a vós. pmticulannente na formulação própria do
problema e, mais importante que tudo, em seus aspectos morais.Nós também devemos fazer
algumas sugestões práticas que podem garantir à União uma reconhecida autoridade neste campo
altamente controverso.
Seguindo o conselho de uma antiga sabedoria que encontra nos propósitos elas coisas tanto o
último critério para toda avaliação teórica, como a certeza dos princípios morais, será útil recordar
tais objetivos que os homens têm sempre estabelecido para si mesmos enquanto concerne às suas
vestes.
Sem dúvida o vestir obedece ao familiar requerimento de higiene, decência e adorno. Estas são
três necessidades tão profundamente enraizadas na natureza que elas não podem ser ignoradas ou
negadas sem provocar hostilidade e preconceito. Elas são necessárias hoje como foram ontem: elas
são enconu·adas entre quase todos os povos; elas podem ser vistas em cada estágio da ampla escala na
qual a necessidade nan1ral de vestir-se é historicamente e etimologicamente manifestada.
É importante notar a estrita e estreita interdependência que une estas três necessidades, mesmo
vindo de três diferentes fontes. A primeira é derivada da natureza fisica cio homem; a segunda, da sua
natureza espiritual; a terceira, da sua natureza psicológica e artística.
... Higiene
Os requerimentos de higiene para o vestir tratam principalmente cio clima, sua variação e outros
fatores externos como possível causa de desconforto ou enfermidade.
A partir da interdependência citada acima se segue que as razões higiênicas - ou antes, pretextos
- não podem servir para justificar a deplorável licença, especialmente em público, a parte dos casos
excepcionais de comprovada necessidade. Mas mesmo nestes casos, toda alma bem educada seria
incapaz de evitar um sentimento involuntário de confusão, refletido exteriormente pelo natural rubor.
Da mesma forma, uma maneira de vestir que é prejudicial à saúde - e há não poucos exemplos
disso na história dos estilos - não pode ser considerada legitimada pelo pretexto da beleza. Por outro
lado, a regra comum ele decência deve ceder espaços às necessidades de uma cura médica que, mesmo
que pareçam violá-la, de fato a respeitam quando todas as precauções morais são empregadas.
18
.•.Decência
... E adorno
E aqui chegamos ao terceiro proposilo do vestir, do qual a moda tira sua origem mais
diretamente, e que responde a uma necessidade inata, sentida mais pela mulher, de melhorar a beleza
e a dignidade da pessoa com os mesmos meios que são capazes de satisfazer aos outros dois objetivos.
Para evitar a restrição do objetivo deste terceiro requerimento à mera beleza fisica, e, ainda mais,
para evitar associar a moda com a luxúria sedutora como sua primeira e única razão, o termo adorno é
preferível ao de embelezamento. A propensão a adornar-se a si mesmo claramente se deriva da
nahireza. e por isso é legítima.
Acima e sobre a função da vestimenta que esconde imperfeições fisicas, os jovens querem
roupas que tenham a atração e o esplendor que cantam os felizes temas da primavera da vida, e que
facilitam, em harmonia com as regras da modéstia, aos pré-requisitos psicológicos necessários para a
formação de novas famílias. Ao mesmo tempo. aqueles com idade madura buscam obter, a partir de
roupas apropriadas, uma aura de dignidade, seriedade e serena felicidade.
Nestes casos em que o objetivo é melhorar a beleza moral da pessoa, o estilo de roupa seria quase
como um disfarce para a beleza fisica na sombra austera do ocultamento, distraindo a atenção dos
sentidos e concentrando a reflexão no espírito.
A linguagem do vestir
Considerado neste amplo aspecto. o vestir tem a sua própria linguagem multiforme e eficaz. Às
vezes é uma interpretação espontânea e fiel dos sentimentos e dos costumes; outras vezes o vestir é
convencional, manipulado e, por isso, dificilmente sincero.
O vestir expressa alegria e tristeza. autoridade e poder, orgulho e simplicidade, riqueza e
19
pobreza, o sagrado e o profano. A forma específica desta expressão depende da tradição da cultura de
um povo particular; ele muda mais lentamente, de forma que instituições, personagens e os
sentimentos que os estilos interpretam são mais estáveis.
A natureza da "moda"
A moda- uma antiga arte de origem incerta, que se toma complexa pelos fatores psicológicos e
sociais envolvidos-se dedica expressamente a melhorar a beleza fisica.
Neste momento, a moda alcançou uma indisputável importância na vida pública, seja como uma
expressão estética dos costumes, ou como uma interpretação de uma demanda pública e um ponto
centrá! de substanciais interesses econômicos.
Uma profunda observação do fenômeno da moda revelará que ele não é somente extravagante na
sua forma, mas também o ponto de união de diferentes fatores psicológicos e morais como gosto pela
beleza, sede pela novidade, afinnação da personalidade e intolerância da monotonia não menos que
luxúria, ambição e vaidade.
A moda é de fato elegância, condicionada, no entanto, pela constante mudança, de tal forma que
sua própria instabilidade garante uma constante e distintiva mudança do que está na moda, que agora
se tomou sazonal - mudanças que são lentas nas linhas básicas. mas extremamente rápidas em
variações secundárias - e parece ser um desejo de superar o passado. Isto ainda é facilitado pelo
frenético caráter da era presente, que tem uma tremenda capacidade de destruir, em um curto período
de tempo, tudo o que tenha como objetivo satisfazer a fantasia e os sentidos.
É compreensível que novas gerações projetem seu próprio futuro-um sonho diferente e melhor
que o de seus país - sentindo a necessidade de se desapegarem daquelas fonnas nào apenas nas
roupas, mas também nos objetos e ornamentos que obviamente lembram um estilo de vida que eles
desejam superar. Mas a extrema instabilidade dos estilos dos dias atuais é detenninada, acima de
tudo, pelo querer dos fabricantes e guias, que têm à sua disposição tais meios, desconhecidos no
passado, como uma enorme e variada produção têxtil, a fertilidade inventiva dos desenhistas de moda
e um meio fácil de "lançar" modas na imprensa. nos cinemas, na televisão, nas exposições e shows de
moda.
A rapidez da mudança é estimulada ainda por um tipo de silenciosa competição, não realmente
nova, entre a "elite" que deseja afamar a sua própria personalidade com formas originais de roupas, e
o público que imediatamente converte isso para o seu uso com mais ou menos boas imitações. E não
se pode deixar de olhar ouu·a sutil e decadente razão, isto é, o esforço de tais "estilistas" que jogam
com o fator sedução, de forma a assegurar sucesso em suas "criações", estando bem conscientes do
efeito que a surpresa e novidade constantemente repetidas criam.
A economia da moda
É outra característica da moda atual que, mesmo pem1anecendo principalmente como um fato
estético, ela também se tomou um elemento econômico de imensa proporção. As poucas lojas de
moda estabelecidas que uma vez ditaram indisputadas regras de elegância desta ou daquela
metrópole da cultura européia, foram agora substituídas por um número de organizações
financeiramente poderosas que, enquanto suprem a demanda por roupas, também formam gostos
populares e constantemente trabalham para promover uma crescente demanda para seus próprios
mercados.
As razões para esta transfonnação devem ser encontradas, antes de tudo, na chamada
"democratização'' da moda através da qual um crescente número de indivíduos cai sob o feitiço da
elegância e, em segundo lugar, no progresso técnico que tomou possível a produção em massa de
estilos que seriam caros, mas que agora se tomaram fáceis de adquirir no chamado "mercado-pronto"
(prêt-à-porter).
Assim nasceu o mundo da moda, um mundo que inclui artistas e artesãos, fabricantes e
comerciantes, editores e críticos, assim como uma classe inteira de humildes trabalhadores que
obtêm seus salários da moda.
20
Desenhista deModa
Mesmo que o fator econômico seja a força motriz desta atividade. sua alma é sempre o
"estilista", a pessoa que através de uma hábil escolha de material, cor, corte, linha e ornamentos· de
acessórios. gera vida a um novo e expressivo estilo que agrada ao público. É desnecessário listar as
dificuldades desta a11e, frnto da habilidade e de talento e, ainda mais. da sensibilidade ao gosto do
momento.
Um estilo destinado a cer1o sucesso adquire a importância de uma invenção. É envolto por um
sigilo enquanto espera para ser "lançado". Uma vez no mercado. gera subida nos preços enquanto a
mídia lhe dá ampla publicidade, quase como se fosse um evento de importância nacional.
A influência dos desenhistas de moda é tão forte que a indústria têxtil deixa sua produção ser
guiada por eles, tanto na quantidade como na qualidade. A sua influência social é igualmente grande
na interpretação dos costrnnes do público, porque se a moda foi no passado a expressfo externa do uso
de um povo, hoje ela o é ainda mais · desde quando este fenômeno da moda começou a ser resultado
de reflexão e estudo.
''Alta Costura"
11.0PROBLEMAMORALDAMODAESUASSOLUÇÕES
Esta inclinação de uma natureza co1n1pta para abusar das modas tem freqüentemente levado a
tradição eclesiástica a tratar a moda com suspeita e severo julgamento, como é expresso com intensa
fümeza por notáveis escritores sagrados e por missionários zelosos. até ao ponto de "queimar objetos
vãos", o que, de acordo com o uso e a austeridade daqueles tempos, era estimado como eloqüência
efetiva pelo povo.
A partir destas manifestações de severidade, que basicamente mostram o cuidado matemo da
lgreja com o bem das almas e com os valores morais da civilização, não se pode argumentar, no
entanto, que o Cristianismo demanda quase que a renúncia do respeito e do cuidado pelo tisico da
pessoa e por seu decoro externo. Qualquer um que chegasse a esta conclusão estaria esquecendo o que
o Apóstolo dos Gentios escreveu: "Do mesmo modo. quero que as mulheres usem traje honesto.
ataviando-se com modéstia e sobriedade" (1 Tim 2, 9).
A Igreja, pelo contrário, não censura ou condena estilos quando são criados para o próprio
decoro e ornamentação do corpo, mas ela jamais falha em advertir os fiéis contra serem facilmente
arrastados por eles.
Esta atitude positiva da Igreja deriva de razões bem mais altas que a mera estética ou
considerações hedonistas que foram assumidas por um renovado paganismo.
A Igreja sabe e ensina que o corpo humano, que é a obra prima de Deus no mundo visível, e que
foi colocado a serviço da alma, foi elevado pelo Divino Redentor ao nível de templo e instrumento do
Espírito Santo, e como tal deve ser respeitado.
Portanto, a beleza do corpo deve não ser exaltada como um fim em si mesma, e muito menos
como um disfarce que manchará a dignidade de que foi dotada.
Falando em termos concretos, não se pode negar que junto com estilos decorosos existem
também modas imodestas que criam confusão em mentes bem fomiadas e podem ser incentivos para
o mal. É quase sempre difícil indicar com nonnas universais a linha divisória entre o decoro e a
imodéstia porque a avaliação moral da veste depende de muitos fatores. No entanto, o chamado
relativismo da moda a respeito de tempo, lugares, pessoas e educação não é uma razão válida para
renunciar a priori um julgamento moral nesta ou naquela moela que. por agora, viola o limite nonnal
da decência.
O senso de decência. quase sem ser consultado nesta matéria, dá uma advenência imediata se a
imodéstia. sedução. idolatria da matéria e luxúria, ou qualquer frivolidade, são ocultadas. E se os
fabricantes de modas imodestas são peritos no tráfico da perversão, misturnndo-a num vestuário de
elementos estéticos que sào bons em si mesmos, a sensualidade humana é desafo1tunadamente ainda
mais hábil em descobri-la e está pronta para cair sob seu feitiço.
Aqui, como em todo lugar, uma maior sensibilidade a esta advertência contra as armadilhas do
mal, longe de ser motivo para criticar aqueles que a possuem, como se fosse um sinal de depravação
interior, é geralmente uma marca de uma alma reta e de uma vigilância sobre as paixões.
Mas, não impo1ta quão ampla e variável seja a moral relativa das modas, sempre haverá uma
norma absoluta para guardar depois de ter escutado a admoestação da consciência advertindo ao se
aproximar do perigo: um estilo jamais deve seruma ocasião próxima de pecado. [2]
O Elemento da Intenção
Entre os elementos objetivos que concon-em para fazer que um estilo seja imodesto, está em
primeiro e principal lugar a má intenção de seus fabricantes. Onde existe uma busca de criar idéias e
sensações impmas através da moda, está presente uma técnica de disfarçada malícia. Eles sabem,
22
entre ouu·as coisas, que o atrevimento nestas matérias não 1Jode ser levado além de certos limites, mas
eles também sabem que o efeito desejado está próximo destes limites, e que uma hábil combinação de
elementos sérios e artísticos com outros que são menos dignos é altamente adequada para capturar a
fantasia e os sentidos. E eles se dão conta que uma moda assim planejada será aceita por clientes que
buscam tais efeitos. mas que isso não comprometerá, ao menos em sua opinião, o bom nome das
clientes honradas.
Toda restauração da decência deve então começar com a intenção daqueles desenhistas e
daqueles que vestem suas roupas. Em ambos deve haver um despertar de suas consciências assim
como de sua responsabilidade pelas trágicas conseqüências que podem resultar de roupas que são
demasiadamente ousadas, especialmente se vestidas em público.
Imodéstia
Luxo
Não menos afortunado, mas em outra área, existem os excessos de estilos quando lhe são
designados a tarefa de satisfazer a sede pelo luxo. O pequeno mérito que o luxo tem como fonte de
trabalho é quase anulado pela grave desordem que deriva dele na vida privada e pública. Pondo de
lado a dissipação da riqueza. que o luxo excessivo exige de seus adoradores - que mais
provavelmente terminarão sendo devorados por ele - o luxo sempre insulta a integridade daqueles
que vivem do seu próprio trabalho, e expõem a pobreza ao cinismo, seja ostentando fáceis ganhos ou
criando suspeita sobre a maneira de viver daqueles que vivem ao seu redor. Onde a consciência moral
não sucede em moderar o uso das riquezas, mesmo que ela seja honestamente adquirida, ou uma
barreira medonha colocar-se-á entre as classes ou toda a sociedade ficará à deriva. exausta pela
corrida em direção a uma utopia de felicidade material.
Indicando o dano que uma falta de controle nos estilos pode fazer a indivíduos e à sociedade, nós
não tentamos sugerir que a força expansiva ou o gênio criativo dos desenhistas de moda deveriam ser
reprimidos, e nem que a moda deveria ser reduzida a fom1as inalteráveis. à monotonia ou triste
severidade.
Alguns poucos p1incípios devem ser colocados como base para resolver o problema moral dos
estilos: a partir deles nonnas mais concretas podem ser facilmente tiradas.
O primeiro é não minimizar a impo11ància e influência de um estilo para o bem ou para o mal. A
linguagem da veste, como Nós já falamos, é mais efetiva quando é mais comum e é entendida por
todos. Talvez se diga que a sociedade fala através da roupa que se veste. Através das roupas ela revela
suas secretas aspirações e usa-as, pelo menos em parte, para construir ou destruir o futuro.
Mas o cristão, seja ele o criador ou o cliente, deve ser cuidadoso para não subestimar os perigos e
ruínas espirituais espalhados pelas modas imodestas. especialmente daquelas vestidas em público,
por causa da continuidade que deve existir entre aquele que prega e aquele que pratica, até mesmo no
.,cnti<lo externo. Ele se recordará da suprema pureza que o Redentor exige de Seus discípulos até
23
mesmo nos olhares e nos pensamentos. E ele se recordará da severidade que Deus mostra para com
aqueles que causam escândalo.
Devemos lembrar nesta matéria as fortes palavras do profeta ]saías, ao qual foi predito a infâmia
que sucederia na cidade santa de Sião por causa da imodéstia de suas filhas (Cf. Isaías 3, 16-24). E
também deve-se lembrar aquelas outras palavras com as quais o maior de todos os poetas italianos
expressou em termos veementes seus sentimentos de indignação pela imodéstia rastejante na sua
cidade (cf. Dante, Purgatório, 23, 94- 108).
... Controle
O segundo princípio é que o estilo deve ser direcionado e controlado em vez de ser abandonado
ao capricho e reduzido a um serviço vil. Isso se aplica aos fabricantes de estilos - desenhistas e
críticos; a consciência exige que eles não se submetam cegamente aos gostos depravados que são
manifestados pela sociedade, ou por uma parte dela, e não sempre a parte mais discernida em
sabedoria. Mas também se aplica a indivíduos, cuja dignidade exige que sejam libe1tados com uma
livre e iluminada consciência da imposição de gostos predeterminados. especialmente gostos
discutíveis no campo moral.
Controlar os estilos também significa reagir firmemente contra costumes que são contrários às
melhores tradições. O controle sobre a moda não contradiz, mas, pelo contrário, confirma o ditado
que afirma que "a moda não nasce nem fora nem contra a sociedade", dado que a pessoa atribui à
sociedade-como deveria ser-consciente e autonomamente dirigindo-se a si mesma.
. . . E moderação
E agora daremos algumas sugestões específicas para vós, amados filhos e filhas, promotores e
associados da "União Latina de Alta Costura."
Parece-nos que a própria palavra ªlatina". que vós desejastes para designar vossa associação,
indica não somente uma geográfica região, mas acima de tudo a meta ideal de vossa atividade. De
fato, este tem10 ;'latina" que é tão rico em profundo significado, parece expressar. entre ouu-as coisas,
uma viva sensibilidade e respeito pelos valores da civilização.
O termo parece expressar ao mesmo tempo um sentido de moderação, de equilíbrio e
concretude; qual idades que são todas necessárias aos componentes de vossa União. Agradou-nos ver
que todas estas caracterís�icas têm inspirado o propósito de vossos estatutos, os quais vós
cordialmente submetestes a Nós. Nós notamos que estes estatutos derivam de um completo panorama
do complexo problema da moda. mas especialmente da vossa firme persuasão da responsabilidade
moral da moda.
Vosso programa é, portanto, tão amplo como o problema. já que inclui todos os setores
24
<letenninantes da moda: o grupo feminino direto, com a intenção de guiá-los na fonnação de seus
gostos e nas escolhas das roupas; as casas que são as "criadoras da moda" e a indústria têxtil; que pelo
comum acordo todos possam adaptar seus esforços aos princípios saudáveis da União. E sendo a
União composta por organizações que não são meras espectadoras, mas participantes- Nós podemos
dizer atores no teatro da moda - seu programa também lida com o aspecto econômico da moda,
tornado mais dificil agora pelas futuras mudanças na produção e pela unificação dos mercados
europeus.
A formação do gosto
Uma das indispensáveis condições para alcançar os objetivos de vossa União descansa na
formação de sólidos gostos do público. Esta é de fato uma tarefa dificil. à qual às vezes se opõem
esforços premeditados e que requer de vós muita inteligência, grande tato e paciência. A despeito de
tudo, encarai-a com um espírito corajoso.
Vós certamente encontrareis fortes aliados, antes de tudo, entre as excelentes famílias cristãs que
ainda são encontradas em grande número na vossa ten-a natal.
É claro que vossa ação nesta direção deve ter como meta ganhar para vossa causa especialmente
aqueles que controlam a opinião pública através da imprensa e outros meios informativos. As pessoas
querem ser guiadas no estilo mais do que em qualquer outra atividade. Não é que elas não tenham um
senso crítico nesta matéria de estética ou propriedade, mas é que, às vezes dóceis e outra vezes
preguiçosas demais para fazer uso desta sua faculdade, elas aceitam a p1imeira coisa que lhes são
oferecidas e só mais tarde se dão conta de quão medíocres ou indecorosas certas modas são.
É necessário então que vossas ações sejam oportunas. Entre todos, as celebridades são aquelas
que neste momento estão guiando com grande efetividade os gostos do público, especialmente as do
mundo do teatro e dos filmes ocupam uma posição preeminente. Na mesma medida em que as
responsabilidades delas siio grandes, então vosso querer será fmtífero enquanto vós h·ouxerdes de
volta pelo menos algumas para esta boa causa.
Um traço distintivo de vossa União parece repousar no cuidadoso estudo do problema moral e
estético das modas. �onduzidos por encontros periódicos. como o presente congresso, que cada vez
mais têm caráter internacional, persuadido como vós estais de que a moda do futuro terá um caráter
unificador nos continentes individuais. Trabalhai vós mesmos, então, para trazer a estes Congressos a
contribuição cristã de vossa inteligcncia e talentos, com tal sabedoria persuasiva que ninguém será
capaz de suspeitar de preconceito em seu próprio interesse ou da fraqueza do seu compromiss('
A sólida consistência dos vossos princípios será colocada em prova pelo chamado c::;pírito
moderno que não consegue sofrer resist2n('ia. E será tentado pela mesma indiferença de muitos frente
ú consideração moral dos estilos, que é n ,nais insidioso sofisma repetidamente usado parajustificar
imodéstia e parece ser igual em todo lugar. Um destes ressuscita o antigo ditado que diz "ab assuetis
non.fit passio" (as paixões não se levantam frente a coisas às quais estamos acostumados) de fonna a
marcar como ·'olcl-fashioned" (fora de moda) a revolta de pessoas honestas contra moelas
excessivamente ousadas. Deve-se mostrar quão fora de lugar este antigo ditado está nesta questão?
Quando falamos dos limites absolutos a defenàer frente ao relativismo dos estilos, Nós
mern.:ionamos o infundado caráter de outra opinião falaz, de acordo com a qual a modéstia niio é mais
apropriada na era contemporànea que se tornou agora livre de todos estes inúteis e ruinosos
escrúpulos.
Cenamente pode ser concedido que existam diferentes graus de moralidade pública de acordo
com o tempo. a natureza e as condições da civilização das pessoas iadividuais. Mas isso não invalida
a obrigação de lutar por um ideal de perfeição e não é uma razão suficiente para renunciar ao alto grau
d!! mornlidade que já foi alcançado, e que se manifesta precisamen,e na grande sensibilidade pela
qual as consciências reconhecem o mal e suas annadilhas.
25
Um combate mortal
Que vossa União, então, comprometa-se com este combale, cujo objetivo é assegurar um nível
ainda mais alto de moralidade, digno de todas as tradições cristãs, nos costumes públicos de vossa
nação. Não é a toa que vosso h·abalho, que luta por introduzir estilos morais, é chamado uma
"batalha". Qualquer empreendimento que trata de devolver ao espírito seu domínio sobre a matéria
encontra a batalha da mesma forma.
Considerando cada batalha em particular, pode-se ver que há indivíduos e significantes
episódios na amarga e eterna luta que todos que estão chamados à liberdade no espírito de Deus
devem sofrer nesta vida. O Apóstolo dos Gentios descreve com inspirada exatidão a linha de frente e
as forças opositoras deste combate: "Porque os desejos da carne se opõem aos do Espírito, e estes aos
da carne; pois são contrários uns aos outros. É por isso que não fazeis o que quereríeis" (Gal 5, 1 7).
Listando as obras da carne num triste inventário da herança do pecado original, ele inclui entre elas a
impureza, frente à qual ele opõe a modéstia como um fruto do Espírito Santo.
Ocupai-vos generosamente e com confiança, sem pennitir jamais que vós sejais enlaçados por
esta timidez que fez o numericamente pequeno - mas heróico exército - do grande Judas Macabeu
dizer: "Como poderemos enfrentar tamanho exército, se somos tão poucos, tanto mais que nos
sentimos fracos, porque hoje nada temos comido?" (1 Mac 3, 17). Que a mesma resposta dada pelo
grande campeão de Deus e pela pátria vos encoraje: "porque a vitória no combate não depende do
número, mas da força que desce do céu." (lbid., 19)
Com esta celestial garantia em mente Nós nos despedimos de vós, amados filhos e filhas. E nós
elevamos Nossas súplicas ao Onipotente para que Ele se digne derramar Sua assistência sobre vossa
União e Suas graças sobre cada um de vós, vossas famílias e, em particular, sobre os humildes
trabalhadores da moda. Como sinal destes favores que Nós desejamos para vós, Nós cordialmente
concedemos-vos Nossa paternal Benção Apostólica.
***
Notas
[!) S.S. Pio XII, 8 de novembro de 1957. Original no "The Pope Speaks". Vol. IV, Nº 3,
pp.273-285. Versão online no site
http://ww,v.stthomas.edu/CathStudiesícst/publications/PiusXIl.html.
Tradução de Julie Maria/Revisão lgor Barbosa.
[2] Ct: "Handbook of Modesty" - para um estudo detalhado sobre a modéstia em
http://www.slideshare.net/juliemaria/ handbook-of-modesty (N.T)
27
7- CARTA DA CONGREGAÇÃO
DO CONCÍLIO SOBRE MODÉSTIA
(Cardeal Donato Sbaretti, Prefeito)
Por força do apostolado supremo que ele exerce sobre a Igreja Universal por vontade divina. o
nosso Santo Padre Papa Pio XI nunca deixou de inculcar, tanto verbalmente quanto por seus escritos.
as palavras de São Paulo (1 Tm II., 9 -10), ou seja, "Mulheres ... adornando-se com modéstia e
sobriedade ... e professando piedade com boas obras".
Muitas vezes, quando a oportunidade surgiu, o mesmo Sumo Pontífice condenou enfaticamente
a fonna indecente de se vestir aprovada por mulheres e moças católicas - cuja moda não só ofende a
àignidade das mulheres e vai contra o seu adorno, mas conduz à ruína delas mesmas e, o que é ainda
pior, a sua ruína eterna, an-astando outros miseravelmente para baixo em sua queda.
Não é ele surpreender. portanto, que todos os bispos e outros ordinários, corno é dever dos
ministros de Cristo, devem, em suas próprias dioceses, por unanimidade, opor-se a sua licenciosidade
depravada e promiscuidade dos costumes. muitas vezes suportando com finneza o escárnio e a
zombaria levantadas contra eles por esta causa.
Portanto, este Sagrado Concílio, que vigia a disciplina do clero e do povo, enquanto
cordialmente elogia a ação dos Veneráveis Bispos, mais enfaticamente os exorta a perseverarem na
sua atitude e aumentar as suas atividades na medida em que permitam suas forças, a fim de que esta
doença insalubre seja definitivamente desenraizada da sociedade humana.
A fim de facilitar o efeito desejado, esta Congregação, pelo mandato do Santíssimo Padre,
decretou o seguinte:
8- :FLAGELO DO LUXO
(Parte do Pronunciamento do Papa Pio IX, citado
no livro ''Formação da Donzela", pelo Padre J. Baeteman)
Justamente espantado com as proporções inauditas que o luxo assumira de meio século para
então, o Papa Pio IX elevou-se com todas as suas forças contra esse flagelo que, depois, não fez senão
aumentar as suas devastações. Em te1mos tão expressivos assinalou ele a eminência do perigo e a
indeclinável necessidade de conjurá-lo; as suas palavras são as mais sugestivas que possam ser
oferecidas às mulheres e às moças cristãs. Eis como ele se exprimiu:
"Entre todos os males do nosso tempo, o luxo das mulheres ocupa certamente um dos primeiros
lugares. O luxo é que, pelos cuidados prodigalizados ao corpo, absorve o tempo que se deveria
consagrar às obras de piedade e de caridade, aos deveres da família; é ele que provoca às reuniões
brilhantes, aos passeios públicos e aos espetáculos; é ele que ensina a correr de casa em casa,'a
pretexto de deveres a cumprir, e a entregar-se à ociosidade, à curiosidade, às conversas indiscretas.
É ele que serve de alimento aos maus desejos, ele que consome os recursos que se deveriam
reservar para os filhos e tira à indigência os socorros que lhe viriam tão a propósito. E ele que desune
os esposos e 4ue, mais freqüentemente ail,da, impede a conclusão dos casamentos. Com efeito, será
l'ácil achar um homem que consinta cm arcar com tão enorme despesa? Como dizia Tertuliano:
"Ostenta-se num pequeno escrinio 1un imenso patrimônio. Põe-se num colar o valor de uma
fortuna. Urna cabeça frágil e delicada traz sozinha o preço de grandes florestas e de vastas moradas."
O mal vai tão longe que se sacrifica ao luxo a educação dos filhos; por ele se abandona o cuidado dos
interesses domésticos; não há mais ordem na casa; esta fica transtornada. Destai1e, incmTe-se na
reprovação do Apóstolo, quando diz: "Se alguém não cuida dos seus e, sobretudo. dos de sua casa,
29
renega a fé e é pior do que um infiel". Mas como a cidade se compõe de famílias, uma província de
cidades, um reino de províncias, a família assim estragada. corrompida, envenena com seu contágio a
sociedade illleira e prepara-lhe essas calamidades que hoje em dia nos afligem de todas as pm1es. Faça
o céu que grande número de mulheres se una para desviar de si mesmas, dos seus próximos e da pátria
a causa de tantos males e que, pelo seu exemplo. ensinem as outras a relegar para longe de si tudo o
que excede o cuidado de um enfeite honesto e lícito!
Principalmente faz-se mister lembrar às mulheres que não convém à sua reserva procurar, em
qualquer lugar que seja, atrair olhares alheios pela pompa das modas ou pela extravagância dos
vestuários - já que o fausto e o desejo de agradar aos homens estão em abominação diante do Senhor;
no templo santo isso se toma uma injúria ao Deus que nele reside em pessoa para receber as adorações
e as preces do fiéis. Sim, o luxo das ''toilettes", ao ponto a que chegou aos nossos dias, constitui rnna
verdadeira e ridícula loucura. E a loucura não é o oposto da sabedoria?
Uma grande cristã escrevia:
"Esquecemo-nos de que os anos passam. Hoje somos jovens. o mundo nos chama e nos anima;
mas esse frescor. essa beleza que é tudo para nós, breve terá fcnccido c desaparecerá. E dessas
profusões extravagantes. dessas despesas loucas de vestuário, nada mais restará!"
*"*
9- DECLARAÇÕES DIVERSAS
SOBRE A MODÉSTIA NO VESTIR
(Tradução não oficial de Andrea Patrícia)
"Não podemos deixar de condenar a cegueira de quantas mulheres de todas as idades e condição;
feitas tontas pelo desejo de agradar, elas não vêem a que nível a indecência de suas vestes chocam a
todo homem honesto, e ofendem a Deus. A maioria delas teria. em outras épocas, se envergonhado
com esses estilos por grave falta contra a modéstia cristã: e já não é suficiente que elas se exibam na
via pública: elas não têm medo de cruzar as pot1as da Igreja para assistir ao Santo Sacrifício da Missa.
e até ele levar o alimento sedutor das suas paixões vergonhosas até o Altar da Eucaristia onde
recebemos o Autor celeste da pureza."
"Recordamos que um vestido nào pode ser chamado de decente se é co11ado mais que a largura
de dois dedos sob a cova da garganta, se não cobre os braços pelo menos até os eolovelos, e se mal
chega até um pouco abaixo dos joelhos. Além disso. os vestidos de materiais transparentes são
impróprios. Que os pais mantenham suas !ilhas longe dos jogos e apresentações públicas de
ginástica: mas, se suas filhas são obrigadas a assistir a tais exibições, que observem que vão
totalmente vestidas e de forma modesta. Que nunca permitam que suas filhas usem indumentária
imodesta."
"Agora. muitas meninas não vêem nada de e1Tado em seguir certos estilos desavergonhados
(modas). como fazem muitas ovelhas. Certamente se ruborizariam se pudessem adivinhar as
impressões que fazem e os sentimentos que evocam (excitação) naqueles que as vêem." ( 17 de julho
de 1954).
30
- O Papa Pio XII admoestou seriamente as mães cristãs:
"O bem de nossa alma é mais importante que o de nosso corpo; e temos que preferir o bem-estar
espiritual de nosso próximo à nossa própria comodidade corporal... Se certo tipo de vestuário
constitui ocasião grave ou próxima de pecado e põe em perigo a salvação de sua alma e da dos demais,
é seu dever deixá-lo e não usá-lo... Ó mães cristãs, se vós soubésseis que futuro de ansiedade e penas,
de vergonha mal guardada que preparais para vossos filhos e filhas, deixando imprudentemente que
elas se acostumem a viver levianamente vestidos e fazendo que percam seu sentido de modéstia,
ficaríeis envergonhadas de vós mesmas e temeríeis o dano que lhes fazeis e o dano que estais
causando a estes filhos, que o Céu vos confiou para os criardes cristãos." (Pio XII aos Gmpos de
Mulheres Católicas Jovens da Itália).
"O próprio homem não escapa à inclinação de exibir sua carne: alguns aparecem em público,
desnudos até a cintura, ou em calças muito apertadas ou em bermudas muito pequenas. Assim,
cometem delitos contra a virtude da modéstia. Eles também podem ser uma ocasião de pecado (em
pensamento e desejo) para o nosso próximo."
"Um perigo especial para a moral é representado por banhos nas praias ... O banho misto enn·e
homens e mulheres, que é quase sempre uma ocasião próxima de pecado e um escândalo, deve ser
evitado."
"Que os sacerdotes insistam com força que as mulheres usem roupas modestas... Que as
mulheres a todo o momento, mas especialmente como ensinado pelo Apóstolo São Paulo, quando na
igreja. se vistam com modéstia. Se ousam entrar na igreja indecentemente vestidas, conforme
previsto pelo Direito Canônico (Cànon 1262, par. 2), sejam retiradas de forma criteriosa e impedidas
de assistir qualquer função que seja".
"Que aquelas que estão a receber a Sagrada Comunhão estejam vestidas decentemente.
Mulheres cujas cabeças não estejam cobertas e estejam vestidas inadequadamente hão de excluir-se
do Sacramento. confom1e as instrnções do Direito Canônico (Cânones 855 & 1262, par. 2)."
"As mulheres devem se vestir decentemente, especialmente quando elas vão à igreja. Com
cautela, o pároco pode recusar-lhes a entrada na igreja e o acesso à recepção dos Sacramentos, todas
as vezes que chegarem à igreja vestielas imodestamente".
***
31
PRONUNCIAMENTOS DE SANTOS
36
Santo Antônio narra que o Anjo da Guarda deu a escolher a um doente entre o ficar três dias n.:i
Purgatório e o suportar ainda dois anos a sua doença. O doente escolheu os três dias de Purgatório:
apenas, porém, se escoara uma hora e já se queixava ao Anjo que, em vez de deixá-lo por alguns dia�
nessas penas,já as suportava durante tantos anos. Então respondeu-lhe o Anjo: Que dizes? Teu co, po
se acha ainda quente em teu leito mortuário ejá falas de anos?
Se, pois, tiveres de padecer alguma coisa, alma cristã, dize a ti mesn,a: isso me deve �ervir de
Purgatório. A alma, e não o corpo, deve sair vencedora!
3. A mortificação eleva a alma até Deus.
Segundo São Francisco ele Sales, nunca a alma poderá chega- né Deus sem a mortificação e
sujeição da carne. Sobre esse ponto Santa Teresa cl'Ávila (Fund., e. 5) nos deixou várias e belas
sentenças: "É um grande engano crer que Deus admite a s-�u trato familiar homens efeminados".
"Vida voluptuosa e oração não se harmonizam".
"Almas que verdadeiramente amam a Deus, niio aspiram a descanso corporal".
· 4. Pela mortificação alcançamos uma grande glória no Céu.
"Se os combatentes se privam de todas as coisas que minoram suas forças, diz o Apóstolo (I Cor
'J. 25), e que poderiam impedi-los de alcançar uma coroa cormptível, quanto mais nos devemos nós
mortificar para conseguinnos uma coroa inapreciável e eterna". São João viu todos os Bem
J\venturados com "palmas nas mãos" (Apoc 7. 9). [E a palma é o símbolo tradicional do ma1tírio.] Daí
devemos concluir que todos nós, para nos salvar, devemos ser mártires, quer o sejamos pela espada
dos tiranos ou pela mortificação.
De vemos, entretanto, considerar que "as penalidades da presente vida não têm proporção
alguma com a glória vindoura que se manifestará em nós". O que aqui é para nós humana t1ibulação,
momentânea e ligeira, produz de um modo maravilhoso no mais alto grau, um peso eterno de glória (2
Cor. 4. 17).
Avivemos, po1ianto, nossa fé! Curta é a nossa peregrinação aqui na terra: nossa morada vindoura
é além. onde aquele que na vida mais se mortificou receberá uma glória e alegria maior. São Pedro (I
Ped. 2, 5) diz que os Bem-Aventurados são as pedras vivas com as quais é edificada a Jemsalém
Celeste. Mas, como canta a Igreja (111 dedic. eccl. ), essas pedras devem primeiramente ser trabalhadas
com o cinzel da m01tificação. Tenhamos sempre em vista esse pensamento e tomar-nos-á fácil todo o
esforço e trabalho.
Se alguém soubesse que receberia todos os terrenos que percorresse num dia, quão fácil e
agradável não lhe pareceria o trabalho dessa caminhada!
Conta-se que um monge planejava trocar sua cela com outra que se achava mais próxima da
Conte d'água. Ao ir, porém. um dia, buscar água, ouviu que atrás de si contavam seus passos; virando
se para trás, viu um jovem que lhe disse: Sou um Anjo e conto teus passos, para que nenhum fique sem
recompensa. Ouvindo isso, não pensou mais o monge em mudar de cela, pelo contrário, teria
desejado até que estivesse ainda mais longe, para que pudesse adquirir mais merecimentos.
5. E não são só os bens da vida futura que os cristãos 1mmificados têm a esperar; eles já possuem
nesta vida um bem sumamente precioso na paz e na felicidade que desfrutam na terra. Ou poderá
talvez existir coisa mais agradável para uma alma que ama a Deus do que o pensamento de que com
sua m01tificação faz coisa agradável a Deus? Tais almas experimentam na privação de prazeres
sensuais e até em seus padecimentos uma grande alegria. não sensual, mas espiritual.
O amor não pode ficar ocioso: quem ama a Deus não pode viver sem lhe dar contínuas provas de
seu amor. Ora. não pode uma alma test7:munhar melhor o seu amor para com Deus do que
renunciando por Ele às alegrias deste mundo e sacrificando-Lhe seus sofrimentos.
Uma alma que ama a Jesus Cristo nem sequer sente quando se mo1tifiea. "Se se ama não se sente
nenhuma pena", diz Santo Agostinho (111 Jo trai. 48). Quem poderá. de fato, ver seu Redentor coberto
de chagas, afligido e perseguido, sem abraçar, a Seu exemplo, os sofrimentos, e até desejá-los?
pergunta Santa Teresa (Vida, e. 8). Por isso protestava São Paulo que não aspirava a outra glória e
outra alegria que à da Cruz de Jesus Cristo: "Longe de mim o gloriar-me a não ser da Cruz de Nosso
Senhor Jesus Cristo" (Gál. 6, 14). Segundo o mesmo Apóstolo, a diferença que existe entre os que
amam a Jesus Cristo e os que não O amam, é que estes lisonjeiam a carne, enquanto aqueles cuidam
cm mortificá-la e crucificá-la(Gál. 5, 24).
37
6. Pensemos, finalmente, alma cristã, que nossa morte se aproxima depressa e que muito pouco é
o que fizemos para o Céu. Procuremos, p011anto, no futuro, mortificar-nos tanto quanto possível; não
deixemos passar ocasião alguma de mortificação, conforme o conselho do Espírito Santo: "Não
deixes passar uma partezinha do bem que te é concedido" (Ecli. 14, 14). Consideremos que cada
ocasião de mortificação é um presente de Deus, pelo qual podemos adquirir grandes merecimentos
para a vida eterna: ponderemos que não nos será possível amanhã o que hoje podemos, visto que o
tempo passado não volta mais.
As penitências extraordinárias podem ser praticadas por poucos cristãos chamados por Deus
para tal modo de vida. Mas todos nós devemos manter o nosso corpo em rigoroso regime, porque
.'f;nmos pecadores. E, para isso, cada um de nós tem os meios. Podemos praticar a mortificação externa
110 uso de todos os nossos sentidos, em todas as nossos ações, em todos os passos e condições de nossa
vida.
Para isso, basta abraçar aquilo que é dificil à nossa natureza. Por exemplo, de manhii, levantar-se
a uma hora fixa, entregando-se com pontualidade à oração; assistir ao Santo Sacrii1cio da Missa;
remmciar a um prazer proibido ou a uma leitura perigosa: obedecer prontamente às ordens dos pais ou
superiores; cumprir principalmente com fidelidade os deveres e os trabalhos cotidianos; supo11ar
com paciência tribulações e sofriment�: são, essas coisas todas, mortificações que, praticadas com
pura intenção, são muito agradáveis a Deus e mui meritórias para o Céu.
Falaremos aqui, alma cristã, de várias mortificações pequenas a que te podes sujeitar sem perigo
para rua saúde et:om sumo proveito para tua alma.
2. Mortificação do ouvido
Evita ouvir conversas inconvenientes ou difamaçiks. e mesmo conversas mundanas sem
necessidade, pois estas enchem nossa cabeça com uma multidão de pensamentos e imaginações que
nos distraem e perturbam mais tarde nossas orações e exerci cios ele piedade. Se assistires a conversas
inúteis, procura quanto possível dar-lhes outra direção, propondo, por exemplo, uma importante
questão. Se isso não der resultado, procurn retirar-te ou, ao menos. cala-te e baixa os olhos para
mostrar que não achas gosto em tais conversas.
3. l'vlortificação do olfato
Renuncia a todos os vãos perfumes, sejam quais forem; suporta, antes, de boa vontade, o mau
cheiro que reina em geral nos quartos dos doentes. Imita o exemplo dos Santos que, animados pelo
espírito de caridade e mortificação, sentiam tanto gosto no ar conompido das cnfcrnrnrias. como se
estivessem cmjardins de flores odoríferas.
4. Mortificação do tato
Quanto ao tato. esforça-te por evitar qualquer falta. pois cada falta neste sentido contém um
perigo de 11101te eterna para a alma. Emprega toda modéstia e cuidado não só a respeito dos outros,
mas também de ti mesmo, para conservar a bela jóia da pureza.
Procura. quanto possível, refrear pela mortificação esse sentido.
São João da Cruz dizia que, se alguém ensinasse que a monificação do tato não é necessária. não
se lhe deveria dar crédito, ainda que operasse milagres. Jesus Cristo mesmo disse uma vez à Madre
Maria de Jesus, carmelita: "O mundo precipitou-se no abismo por causa do prazer, e não da
mortificação".
38
Se não temos coragem de crucificar a nossa carne com penitências, ao menos esforcemo-nos por
suportar com paciência as pequenas contrariedades que Deus mesmo nos envia, como doenças, calor,
frio, etc. Digamos com S. Bernardo (Medit., e. 15): "O desprezador de Deus deve ser esmagado; ele
merece a morte: deve ser crucificado". Sim, meu Deus, é justo que quem Vos desprezou seja
castigado; eu mereço a morte eterna; seja eu, pois, crucificado neste mundo, para que não sofra
eternamente no outro.
5. Mortificação do paladar
Quanto à mortificação do paladar, será bom desenvolver mais a fundo a necessidade e a maneira
de nos mortificarmos nesse sentido.
§5.1- Santo André Avelino diz que quem deseja alcançar a perfeição, deve começar com uma
séria mortificação do paladar.Antes dele já o afinnara São Gregório Magno (Mor., 1. 30, e. 26): "Para
se poder dispor para o combate espiritual, deve-se reprimir a gula". O comer, porém, satisfaz
necessariamente ao paladar: não nos será, pois, lícito, comer coisa alguma?
Certamente devemos comer: Deus mesmo quer que, por esse meio, conservemos a vida do corpo
para O servirmos enquanto nos permite ficar no mundo. Devemos, porém, cuidar de nosso corpo do
mesmo modo. diz o padre Vicente Carafa, como o faria um rei poderoso com um animal que ele, com
as próprias mãos, tivesse de tratar várias vezes durante o dia: seguramente cumpriria o seu dever;
mas, como? Contrariado e desgostoso e o mais depressa possível. "Deve-se comer para viver, diz S.
Francisco de Sales, e não viver para comer".
Parece, contudo, que muitos vivem só para comer, como os irracionais. O homem assemelha-se
ao animal, diz S. Bernardo, e deixa de ser espiritual e racional, se gosta da comida como o animal.
Assim assemelhou-se aos animais o infeliz Adão, comendo do fruto proibido. Se os animais tivessem
tido o uso da razão, acrescenta o mesmo Santo (ln Ca11t., s. 35 ). ao verem Adão se esquecer de Deus e
de sua salvação eterna por causa do miserável desejo de uma fruta, certamente haveriam de exclamar:
"Vede, Adão se tomou um animal como nós!" Isso levou Santa Catarina de Sena a dizer: "É
impossível que aquele que se não mo11ifica no comer, conserve a inocência, visto que Adão a perdeu
cm razão de seu gosto de comer". Como é triste ver homens "cujo Deus é o ventre" (Filip. 3. 19).
Tomemos cuidado para que não sejamos subjugados por esse vício animal. É verdade que nos
devemos alimentar para a conservação da vida, diz Sto.Agostinho; mas devem-se tomar os alimentos
como os remédios, isto é, só tanto quanto necessário, e nada mais. A intemperança no comer prejudica
a alma e o corpo. Quanto ao corpo, é fora de dúvida que grande número de doenças provém desse
vício: apoplexia, dor de cabeça, dores de estômago e outros males.As doenças do corpo, porém, são o
menor mal; um mal muito pior são as doenças da alma que disso se originam.
Primeiramente. obscurece esse vício o entendimento, como ensina S. Tomás, e torna-o
imprestável para os exercícios espirituais, particularmente para a oração. Assim como o jejum dispõe
a alma para a meditação de Deus e dos bens eternos, assim a intemperança retrai disso. Segundo S.
João Crisóstomo, aquele que enche o estômago com comidas é semelhante a um navio muito
caiTegado, que apenas se pode mover do lugar: ele se acha em grande perigo de afundar, se uma
tempestade de tentações lhe advém.
Além disso, quem concede toda a liberdade a seu paladar, facilmente estenderá a mesma
liberdade aos outros sentidos, pois, se o recolhimento de espírito desapareceu, facilmente se cometem
ainda outras faltas por palavras e obras. O pior é que, pela intemperança no comer e beber, expõe-se a
castidade a um grande perigo. "Excessiva saciedade produz lascívia", diz S. Jerônimo (Adv. Jol'in., 1.
2). E Cassiano afinna que é simplesmente impossível ficar livre de tentações impuras, enchendo-se o
estômago de comidas.
Os Santos,justamente porque queriam conservar a castidade, eram tão rigorosos na mortificação
do paladar. "Se o demônio é vencido nas tentações de intemperança, diz o Doutor Angélico, não
continua a nos tentar à impureza".
Os que cuidam em mo11ificar o paladar fazem contínuos progressos na vida espiritual. Adquirem
mais facilidade cm mortificar os outros sentidos e em praticar as outras virtudes. Pelo jejum, assiin se
exprime a Santa Igreja em suas orações, concede o Senhor à nossa alma a força de superar os vícios,
de se elevar acima das coisas terrenas, de praticar a virtude e adquirir merecimentos infinitos (Pref.
Quadrag.).
Os homens sensuais objetam que Deus criou os alimentos para que nos utilizemos deles. Mas os
39
cristãos fervorosos são da opinião do venerável padre Vicente Carafa, que diz, como notamos acima,
que Deus nos deu as coisas deste mundo não só para nosso gozo, mas também para que tivéssemos
ocasião de Lhe fazer um sacrificio. Quem é dado à gulodice e não se esforça por se mortificar nesse
ponto, nw1ca fará um progresso notável na vida interior. Regularmente, se come várias vezes durante
o dia: quem, pois, não procura mortificar o desejo de comer, cometerá quotidianamente muitas faltas.
§5.2-Vejamos agora o modo como devemos mortificar o nosso paladar.
a) Quanto à qualidade das comidas, diz São Boaventura, que não se devem escolher comidas
muito especiais, mas contentar-se com pratos simples. Segundo o mesmo Santo, é sinal de alguém
estar muito atrasado na vida espiritual não ficar contente com as comidas que se lhes apresentem e
desejar outras que agradem mais ao paladar, ou requerer que sejam preparadas de um modo pa11icular.
Mui diversamente procede quem é mortificado: contenta-se com o que se lhe dá e, se diferentes pratos
são trazidos, certamente escolherá aqueles que menos satisfazem ao paladar, contanto que não lhe
façam mal.
É muito recomendável privar-se, por mortificação, de temperos desnecessários, que só servem
para lisonjear o paladar. O tempero de que usavam os Santos era a cinza e o absinto. Não exijo de ti,
alma cristã, tais mortificações, nem tampouco muitos jejuns extraordinários. Não sou, de forma
alguma, contrário a que jejues com todo o rigor em certos dias particulares, como na sexta-feira ou no
sábado, ou nas vésperas das festas de Nosso Senhor ou em dias semelhantes. pois isso costumam
fazer os cristãos verdadeiramente piedosos. Se, porém. não possuis tanta piedade ou se tuas
enfennidades não te pennitem guardar rigorosos jejuns, deves ao menos te contentar com o que te
servirem e não te queixar das comidas.
b) Quanto à quantidade das comidas, diz São Boaventura: "Não deves comer mais. nem mais
vezes, do que te é necessário para sustentar, e não para agravar, teu CO'l'O". Por isso, é uma regra para
todos os que querem levar uma vida devota, não comer nunca até a saciedade, como São Jerônimo
aconselhava à virgem Santa Eustáquia, escrevendo-lhe: "Sê sóbria no comer e nunca enchas o
estômago". Alguns jejuam num dia e comem demais no dia seguinte; é melhor, segundo S. Jerônimo,
tomar regularmente a alimentação necessária, do que comer demasiadamente depois do jejum.
Com razão dizia um Padre do deserto: "Quem come mais vezes, tendo, apesar disso. sempre
fome, receberá uma recompensa maior do que aquele que come raras vezes, mas até a saciedade".
"Uma temperança constante e regrada. diz S. Francisco de Sales, é melhor que um rigoroso jejum de
vez em quando, ao qual se faz seguir uma falta de mortificação" (Filotéia, p. 3, e. 23).
Se alguém quer reduzir seu sustento à justa medida, convém que o faça pouco a pouco. até que
conheça, pela experiência, até onde pode ir na mortificação sem se causar sensível dano.
Contudo. todos devem tomar como regra o comer pouco à noite, mesmo quando lhes parecer que
necessitam de mais; a fome de noite é, muitas vezes, só aparente e, se se passa só um pouco da justa
medida, sente-se muito incômodo na manhã seguinte: sente-se dor de cabeça, dores de estômago,
está-se indisposto, e até incapaz de qualquer trabalho espiritual.
Quanto à medida que se deve guardar no beber sem perigo algum para tua saúde, podes-te impor
a moniticação de nada beberes fora da refeição, a não ser que devas ceder a um especial impulso da
natureza para não te causares algum dano, como pode acontecer no verão. Siio Lourenço Justiniano.
porém. nunca bebia coisa alguma fora da refeição, mesmo nos dias de maior calor, e quando se lhe
perguntava como podia suportar a sede, respondia: "Como poderei suportar as chamas do Purgatório,
se não puder suportar agora esta privação?"
Referindo-se ao vinho. diz a Sagrada Escritura: "Não dês vinho aos reis" (Prov. 31. 4). Sob essa
expressão de reis, não se entendem os que reinam sobre nações, mas todos os homens que domam
suas paixões e submetem-nas à razão. Infelizes daqueles que são dados ao vício da embriaguês, diz a
Sagrada Escritura (Prov. 23, 29). E por quê?
Porque o vinho toma o homem luxurioso (Prov. 20, 1 ). Por isso escreveu S. Jerônimo à virgem
Eustáquia: "Se quiseres pennanecer pura, como deve ser uma esposa de Jesus Cristo, evita o vinho
como veneno: vinho e mocidade são duas iscas" (Ep. ad Eust. 22).
De tudo isso, devemos deduzir que aqueles que não possuem viliude ou saúde suficiente para
renunciar por completo ao vinho, devem ao menos servir-se dele com grande sobriedade para não
serem atormentados por mui fortes tentações impuras.
40
c) Sobre a questão de-quando e como se deve comer, São Bo.aventura nos ensina o seguinte:
Primeiro: não se deve comer fora de hora, isto é, fora da hora da refeição comum. Um penitente
de São Filipe Néri tinha esse defeito. O Santo o corrigiu com as palavras: "Meu filho, se não te
emendares dessas falta, nunca chegarás a ter uma vida espiritual"'.
Segundo: nunca se deve comer desregradamente, isto é,. com avidez, por exemplo, enchendo a
boca demais, com tal pressa que antes de se engolir um bocado já se leva outro à boca. "Não sejas
glutão em banquete algum" (Ecli 37, 22), diz-nos o Espírito Santo. Além disso, deves tomar os
alimentos com a boa intenção de conservar as forças do corpo, para pode1mos servir ao Senhor.
A justa medida no comer exclui também um jejum imoderado, pelo qual se se toma incapaz de
cumprir com seus deveres de estado. Cometem muitas vezes essa falta os principiantes: levados por
aquele zelo sensível que Deus costuma conceder-lhes no princípio para animá-los no caminho da
perfeição, impõem-se privações e jejuns excessivos, que têm por resultado transtornar-lhes a saúde e
l�1zé-los abandonar tudo. O patrão que entrega seu cavalo a um criado para que o trate, certamente só
não o repreenderá se nada der ao cavalo, como se der demais.
***
Um dos meios mais triviais que têm os médicos para conhecer o estado de saúde de wna pessoa é
a inspeção da língua; e eu posso afirmar que as nossas palav.ras são o indício mais certo do bom ou do
mau estado da alma. Nosso Senhor disse: Por vossas palavras sereis justificados e por vossas palavras
sereis condenados. Muitas vezes e espontaneamente movemos a mão para o lugar em que sentimos
uma dor e movemos a língua a todo o amor que sentimos no coração.
Se amas a Deus, Filotéia, falarás freqüentemente de Deus nas tuas conversas íntimas com as
pessoas de casa, com teus amigos e vizinhos: A boca do justo, diz a Escritura, meditará sabedoria e a
�ua língua falará prudência. Fala, pois. muitas vezes de Deus e experimentarás o que se diz de S.
Francisco - que, quando pronunciava o nome do Senhor. sentia a alma inundada de consolações tão
abundantes que até sua língua e seus lábios se enchiam de doçura.
Mas fala de Deus como de Deus, isto é, com um verdadeiro sentimento de respeito e de piedade e
nunca fales d'Ele manifestando uma ciência vã ou num tom de pregador. mas com espírito de
caridade, mansidão e humildade. Imita, quanto a isto, a Esposa dos Cantares, derramando o mel
delicioso da devoção e das coisas divinas no coração do próximo, e pede a Deus em espírito que se
digne deixar cair este orvalho santo nas almas das pessoas que te ouvem. Sobretudo, não lhes fales
com um tom de correção, mas de um modo de inspiração e como os anjos. Isto é, com uma doçura
angélica, porque é admirável quanto pode alcançar nos corações uma boa palavra que procede do
espírito de amor e mansidão.
Jamais fales de Deus ou da devoção como assunto de diversão ou passatempo, mas sempre
atenta e devotamente; digo isso para te prevenir contra uma espécie de vaidade muito perigosa em que
costumam incorrer muitas pessoas que fazem profissão de piedade. lsto é, dizer a toda hora muitas
palavras santas, como uma simples conversa e sem nenhuma atenção, e depois disso pensa-se que se é
realmente tal como se deixou transparecer aos outros, o que infelizmente não se é de modo algum.
**"'
41
5- HONESTIDADE DAS PALAVRAS
E RESPEITO QUE SE DEVE AÔ PRÓXIMO
(Texto retirado do livro "Filotéia", por São Francisco de Sales)
Se alguém não peca por palavras, é um homem perfeito, diz S. Tiago.
Tem todo o cuidado em não deixar sair de teus lábios alguma palavra desonesta, porque, embora
não proceda duma má intenção, os que a escutam podem-na interpretar de outra fomia. Uma palavra
desonesta que penetra num coração frágil estende-se como uma gota de azeite e, às vezes, toma posse
de tal modo dele que o enche de mil pensamentos e tentações sensuais.
É um veneno do coração, que entra pelo ouvido; e a língua que serve de instmmento a esse fim é
culpada de todo o mal que o coração pode vir a sofrer, porque, ainda que neste se achem disposições
tão boas que frustrem os efeitos do veneno, a língua desonesta, quanto dela dependia, procurou levar
esta alma à perdição. Nem se diga que não se prestou atenção, porque Nosso Senhor disse que a boca
fala da abundância do coração. E, mesmo que não se pensasse nada de mal, o espírito maligno o pensa
e por meio dessas palavras suscita o sentimento mau nos corações das pessoas que as ouvem.
Diz-se que quem comeu a raiz denominada angélica fica com um hálito doce e agradável e os que
possuem no coração o amor à castidade, que toma os homens em anjos na te1rn, só têm palavras castas
e respeitosas. Quanto às coisas indecentes e desonestas, o apóstolo nem quer que se nomeiem nas
conversas, afirmando que nada corrompe tanto os bons costumes como as más conversas.
Se se fala dissimuladamente e em torneios sutis e artificiosos de coisas desonestas, o veneno
encerrado nessas palavras é ainda mais sutil, danoso e penetrante, assemelhando-se aos dardos. que
são tanto mais para temer quanto mais finos são e mais agudas têm as pontas. Quem quer granjear
deste modo o nome e a estima de homem espirituoso ignora completamente o fim da conversa; a
conversa deve parecer-se com o trabalho comum de um enxame de abelhas para fazer um mel
precioso, e o modo de agir dessas pessoas pode-se comparar a um montão de vespas em tomo duma
podridão.
Assim, se um louco te disser palavras indecentes, testemunha-lhe logo a tua indignação,
voltando-te para falar com outra pessoa ou de algum outro modo que te sugerir a prudência.
Muito má qualidade é ter um espírito motejador. Deus odeia extremamente este vício e puniu-o,
como se lê no Antigo Testamento. com muita severidade. Nada é mais contrário à caridade e máxime
à devoção que o desprezo do próximo; mas a irrisão e a mofa trazem forçosamente consigo este
desprezo; é, pois, wn pecado muito grave e dizem os moralistas que, entre todos os modos de ofender
o próximo por palavras. este é o pior, porque tem sempre unido o desprezo. ao passo que nos outros a
estima ainda pode subsistir.
Mas, quanto a esses jogos de palavras espirituosas com que pessoas honestas cosn1mam divertir
se com certa animação. sem pecar conn·a a caridade ou a modéstia, são até uma virtude, que os gregos
chamam eutrapelia ou arte de sustentar uma conversa agradável; servem para recrear o espírito das
ocasiões insignificantes que as imperfeições humanas gerais fornecem ao divertimento.
Somente deve-se tomar o cuidado que essa alegria inocente não se vá tornando cm mofa, porque
esta provoca a rir-se do próximo por desprezo, ao passo que esses gracejos delicados só fazem rir por
prazer e pelo espírito de certas palavras, ditas por liberdade, confiança e familiaridade, com toda a
franqueza, e recebidas de boa mente, tendo-se completa certeza que ninguém as levará a mal.
Quando os religiosos da corte de S. Luís queriam entabular uma conversa séria e elevada depois
do jantar, dizia-lhes o santo rei: Agora não é tempo de arrazoar muito, mas de divertir-se com uma
conversação animada; diga, pois, cada tllll, livre e honestamente, o que lhe vem ao pensamento.
Queria com isso dar um prazer à nobreza de que se rodeava, condescendendo nestas provas familiares
da bondade de sua real majestade.
Enfim, Filotéia, passemos o pouco tempo que nos é dado para uma conversa recreativa e
agradável, de modo que a devoção aí praticada nos assegure uma eternidade feliz.
***
42
6- DA PRÁTICA DA
CARIDADE NAS PALAVRAS
(Texto retirado do livro "A verdadeira esposa de Jesus Cristo",
volume II, por Santo Afonso Maria de Ligório)
1. Quanto à caridade de que devemos usar para com o próximo nas palavras, é preciso antes de
tudo nos abster de toda a maledicência. O maldizente mancha a sua alma, diz o Espírito Santo. e
inco1Tc no ódio de todos. de Deus e dos homens (19). Se há, às vezes, quem o aplauda e excite a falar
do próximo para se dive11ir, esse mesmo logo o foge e evita com diligência, pensando com razão que
também não será poupado quando houver ensejo para isso. - Diz S. Jerônimo que alguns, depois de
terrenuneiado os outros vícios, parece que não podem deixar o da munnuraçào (20).
E prouvera a Deus que tais indivíduos não penetrassem nos mosteiros!
Infelizmente, porém. também aí se encontram. às vezes, certas religiosas que têm uma língua
que não sabe mover-se sem morder e tirar sangue. Em outros tennos, há algumas que nada sabem
dizer sem murmurardo próximo; de todas as pessoas de que falam, acham sempre que maldizer.
Essas línguas viperinas deveriam ser absolutamente banidas dos claustros, ou. ao menos, estar
sempre encerradas no cárcere; porque pe11urbam o recolhimento, o silêncio. a devoção e a paz de toda
a comunidade. Em suma. são a rnína dos mosteiros.
E queira Deus não lhes suceda o que aconteceu a um sacerdote munnurador conhecido de
Thomaz Cantipratense, que naJTa ter o infeliz expirado em um acesso de furor, dilacerando a língua
com os dentes (21 ).
S. Bernardo fala de outro murmurador que, tendo querido dizer mal de S. Malaquias, sentiu logo
a língua inchada e roída de vermes, e morreu miseravelmente depois de sete dias de cruéis
sofrimentos (22).
2. Ao contnirio, ó quanto é amada de Deus e dos homens uma religiosa que fala bem de todos! -
Dizia Sta. Maria Madalena de Pazzi, que se tivesse conhecido uma pessoa que lll•nca houvesse falado
mal do próximo. tê-la-ia proclamado santa. - Tende, pois, cuidado de vos abster de toda a palavra
que envolva murmuração de quem quer que seja, mais especialmente de vossas irmãs e ainda mais
dos vossos superiores, como o prelado, a superiora, o confessor; porque falar mal dos superiores,
além de lhes danificar a fama. faz as outras perder-lhes a obediência: ao menos faz perder a submissão
do espírito; e se acaso as ümãs, por vossa causa, chegam a compreender que os superiores agem sem
razão, depois dificilme:.te lhes obedecerão como devem.
Comete-se murmuração não só quando se procura denegrir a reputação do próximo, imputando
lhe uma falta que ele não fez. ou exagerando suas faltas reais, ou revelando as que ocultou, mas
também quando se interpreta mal suas ações boas ou se diz que são feitas com má intenção. ·- É
também murmuração negar o bem que fez ou contradizer os justos elogios que se fazem do próximo.
- Para tornar a mumrnração mais crível, que não fazem certas línguas malignas? Começam a louvar
uma pessoa, e depois acabam murmurando: Fulana é muito talentosa, mas é soberba; é liberal, mas é
vingativa.
3. Procurai pois sempre falar bem de todos. Falai dos outros como quereis que falem de vós. A
respeito dos ausentes, segui esta máxima de Sta. Maria Madalena de Pazzi: Não se deve dizer na
ausência de alguém aquilo que se não diria em sua presença. - Se vos acontecer ouvir uma irmã
mumrnrar de outra, guardai-vos de incitá-la a falar ou mostrar-lhe que tendes prazer em ouvi-la,
porque então vos tomaríeis cúmplices do seu pecado. Nesse caso, repreendei-a ou interrompei a
conversa, ou retirai-vos ou, ao menos, não lhe deis atenção.
Quando ouvirdes alguém munnurar, diz o Espírito Santo, cercai os ouvidos com espinhos, para
que não os penetre a maledicência (22). É preciso então, ao menos pela guarda do silêncio, mostrando
um ar triste ou baixando os olhos. testemm1har que tal conversa vos desagrada. Portai-vos sempre de
modo que ninguém, para o futuro. ouse atacar a fama alheia em vossa presença. E a caridade exige
que tomeis a defesa da pessoa de quem se murmura, quando vos for possível.
Esposa minha. diz o Senhor. cu quero que vossos lábios sejam como uma fita vc1melha (23): isto
43
é, segundo explica S. Gregório Nysseno, sejam vossas palavras abrasadas de caridade de modo que
ocultem os defeitos allleios, quanto possível (24); ou ao menos escusem a intenção, se for impossível
desculpar a ação, acrescenta S. Bernardo (25). - Como refere Surio, o abade Constavel era chamado
Capa dos Innãos (26), porque este bom monge, quando ouvia falar dos defeitos do próximo.
procurava meios de ocultá-los.
O mesmo se narra de Sta. Teresa, dizendo suas religiosas que, onde estava a santa. tinham certeza
de que não lhes cortavam na pele, porque sabiam que ela as defendia.
4. Guardai-vos também de referir às vossas irmãs o mal que outras delas disserem. Daí nascem
muitas vezes perturbações e rancores que duram meses e anos.
Oh! Que contas hão de dar a Deus as línguas semeadoras de discórdias nos mosteiros! Quem faz
isso incorre no ódio de Deus. pois diz o Sábio: Há seis coisas que o Senhor odeia e uma sétima que
detesta (27). Qual é esta sétima? É aquele que semeia discórdias entre os irmãos (28).
Quando uma religiosa fala arrastada pela paixão, merece alguma escusa: mas a que, de sangue
frio, sem paixão, fomenta a discórdia e perturba a paz comum, como Deus a poderá sofrer? Se
ouvirdes uma palavra contra alguma de vossas irmãs, segui o conselho do Espírito Santo: Não a
deixeis ir adiante, abafai-a no vosso coração e fazei-a morrer aí (29).
Enquanto alguém se acha encerrado em um lugar, pode daí evadir-se e aparecer à vista de todos;
mas quem morreu, não pode mais sair da sepultura. Em outros termos. estai atentas para não deixar
transparecer nenhum sinal do que ouvistes, porque se derdes o menor indício, ainda que fosse só uma
meia palavra ou um simples movimento de cabeça, as outras poderão combinar as circunstâncias e
adivinhar, ou ao menos gravemente suspeitar o que tiverdes ouvido.
Há certas religiosas que, ouvindo algum segredo. parece que sofrem angústias m01tais enquanto
não o revelam de qualquer modo: sentem como um espinho a pungir-lhes o coração, até que o lancem
fora. Quando descobrirdes qualquer defeito de alguma. podeis dizê-lo somente aos Superiores, e isto
somente quando for necessário fazê-lo para reparar o dano da comunidade ou da mesma irmã que
falta ao seu dever.
5. Quando estiverdes no recreio, nas conversas. guardai-vos de dizer palavras picantes, ainda por
gracejo. Gracejos que desagradam ao próximo são contrários à caridade e ao que disse Jesus Cristo:
Tratai os outros como quereis que vos tratem (30).
Porventura vos agradaria serdc-s zombada e chacoteada diante das outrns, do mesmo modo como
tratais as vossas innàs? Portanto não mais o façais. Além disso, procurai fugir das discussões e
contendas, quanto for possível. Às vezes. por bagatelas e ninharias, travam-se disputas que
degeneram em distúrbios e injúrias.
Há algumas pessoas que têm o espírito de contradição, pois, sem nenhuma necessidade nem
utilidade, mas somente para contrariar, começam a levantar questôes impertinentes e fantásticas, e
assim ferem a caridade e perturbam a união fraterna. Segui o conselho do Espírito Santo: Não
discutais de coisas que não vos molestam (31 ).
Mas dirá aquela: Eu niio posso ouvir absurdos. - Eis o que lhe responde o Cardeal Belarmino:
Mais vale uma onça de caridade do que cem cana das de razões.
Quando se questionar. especialmente de uma coisa de pouca importância, dizei o vosso parecer
se quiserdes tomar pane na conversação, e depois ficai em paz. sem porfiar em defender a vossa
opinião: é até melhor então ceder e adotar a opinião das outras. Dizia S. Frei Gil que, cm tais
controvérsias, quando um cede, então vence, porque fica superior em virtude e assim conserva
também a paz, que é um bem muito maior do que a vantagem de ter vencido com razôes, e ter feito
prevalecer a sua asserção.
E, por isso, dizia Sto. Efrém que ele, para manter a paz, tinha sempre cedido nas contendas e
discussões. Pelo que S. José Calasans dava a seguinte advertência: Quem quiser paz, não contradiga a
ninguém.
Se quiserdes amar a caridade, procurai ser afáveis e brandas com todo gênero de pessoas. A
brandura é chamada a virtude do Cordeiro, isto é, a virtude estimada de Jesus Cristo, que por isso quis
ter o nome de Cordeiro. Sede mansas na vossa maneira de falar e de agir não só com a Superiora
oficial, mas também com qualquer outra pessoa, e especialmente com as irmãs que, no passado, vos
ofenderam ou que no presente vos olhall} de má vontade, ou são do partido contrário, ou para as quais
tendes natural antipatia, seja por suas maneiras pouco polidas. seja por sua falta de reconhecimento a
44
vosso respeito.A caridade tudo suporta. porque é paciente (32). Não se
· ·pode dizer que tem verdadeira
caridade quem não quer suportar os defeitos do próximo.
Neste mundo não há pessoa alguma, por mais virtuosa que seja, que não tenha seus defeitos.
Quantos não tendes vós, e quereis que as outras vos tratem com caridade e compaixão. É, pois,
necessário que tenhais também caridade com as outras e vos compadeçais das suas misérias e
imperfeições, segundo exorta o Apóstolo: Auxiliai-vos uns aos outros (33). - Vede com que
paciência sofrem as mães as travessuras dos filhos, e por quê? Porque os amam. Pelo mesmo sinal se
reconhecerá se amais as vossas irmãs com caridade verdadeira, amor que sendo sobrenatural deve ser
mais forte do que o amor natural.
Com que caridade nosso divino Salvador não suportou as grosserias e imperfeições de seus
discípulos durante todo o tempo que com eles viveu? Com quanta caridade não suportou Judas,
chegando até a lavar-lhe os pés para enternece-lo?
Mas para que falar de outros? Falemos de vós mesmas. Com que pacicncia o Senhor não vos
tolerou até agora? E vós não quereis sofrer as vossas innãs?- O médico detesta a enfennidade, mas
estremece o enfe11110; e assim vós, se tendes caridade. deveis aborrecer os defeitos, mas ao mesmo
tempo deveis amar as pessoas que os cometem. - Alguma dirá: Que hei de fazer eu! Sinto uma
antipatia natural por aquela irmã, que não posso vc-la sem enfado. - E cu vos respondo: Tende um
pouco mais de bom espírito e de caridade e desaparecerá essa antipatia.
Oração
Ó meu Deus, não olheis para os meus pecados, mas para Vosso Filho Jesus, que por minha
salvação Vos sacrificou a própria vida. Por amor de Jesus, tende piedade ele mim e perdoai-me todos
os desgostos que Vos dei, especialmente pela pouca caridade que tenho tido para com o próximo.
Senhor. destruí cm mim Ludo o que Vos não agracia e dai-me um verdadeiro desejo de cm tudo Vos
comprazer.
Ah! Meu Jesus. eu tenho o maior pesar de ter já vivido tantos anos e tão pouco Vos ter amado.Ai!
Dai-me parle naquela dor que tivestes no jardim de Getsêmani pelos meus pecados!
Oh! Quem me dera ter monido antes de Vos ofender! Porém, fico consolada por me terdes dado
,iinda tempo para Vos amar. Sim, quero empregar todo o resto da minha vida no Vosso amor. Eu Vos
amo, ó bem imenso; eu Vos amo, meu Redentor; eu Vos amo, único amor da minha alma. Ai! Fazei
me toda Vossa. antes que me venha a m011c!
Atraí todos os meus afetos, para que cu não possa amar outro, senão a V ós. Mas enquanto eu
viver, ó meu amor. estou em perigo de Vos perder. Quando chegará o dia em que poderei dizer: Meu
Jesus, cu não Vos posso perder mais I
Ai! Uni-me à Vós, mas segurai-me de modo que cu não possa mais separar-me de V ós. Fazei isto
pelo amor que me mostrastes ao morrer por mim na cruz.
Ó V irgem Santíssima. V ós sois tão querida de Deus. que Ele nada Vos recusa. Obtende-me a
graça de não ofendê-10 mais e de amá-10 com todo o meu coração, e nada mais Vos peço.
***
Notas
19. Sussurro coinquinabit animam suam, et in omnibus odietur. Eccli. 21. 31.
20. Qui ab aliis vitiis recesserunt, in istud tamen incidunt. Ep. ad Celant.
21. DeApib. l. 2, e. 37. - Vit. S. Mal. e. 13.
22. Sepi aures tuas spinis, linguam nequam noli audire. Eccli. 28, 28.
23. Sicut vitta coceinca, labia tua. Canl. 4, 3.
24. ln Cant bom. 7.
25. Excusa intentionem. si opus non potes. ln Cant. s. 40.
26. 17. Febr. Vit. e. 6.
27. Sex sunt quae odit Dominus; et septimum detestatur anima ejus. Prov. 6, 16.
28. Eum qui seminal inter fratres discordias. Prov. ibid.
29. Audisti verbum adversus proximum tuum; commoriatur in te. Eccli. 19, 10.
30. Omnia ergo quaecumque vultis ut faciant vobis homines, et vos facite illis. Matth. 7, 12.
31. De ea rc quae te non molestai, ne certeris. Eccli. 11. 9.
32. Charitas patiens est. I. Cor. 13, 4.
33. Alter alterius onera portate. Gal. 6, 2.
45
7- MODÉSTIA AO ASSISTIR A SANTA MISSA
Recolhimento, modéstia e silêncio
(Texto retirado do livro "As excelências da Santa Missa",
pelo Padre São Leonardo de Porto Maurício,
conforme a edição de 1737 dedicada a S.S. o Papa Clemente XII)
Era opinião de São João Crisóstomo, opinião aprovada e confirmada por São Gregó1io, no
quarto livro de seus Diálogos, que, no momento em que o padre celebra a Missa, os céus se abrem e
multidões de Anjos descem do Paraíso para assistir ao santo Sacrificio. São Nilo abade, discípulo do
mesmo São Crisóstomo, afirma que via, quando este santo doutor celebrava, uma grande multidão
daqueles espíritos celestes assistindo os ministros sagrados em suas augustas funções.
Eis o meio mais adequado para assistir com fmto à Santa Missa:
Consiste em irdes à Igreja como se fôsseis ao Calvário, e de vos comportardes diante do altar,
como o faríeis diante do trono de DEUS, em companhia dos Santos Anjos. Vede. por conseguinte, que
modéstia. que respeito. que recolhimento são necessários para receber o fruto e as graças que DEUS
costuma conceder àqueles que honram, com sua piedosa atitude, mistérios tão santos. Entre os
hebreus, enquanto se celebravam os sacrificios da antiga Lei, nos quais se ofereciam apenas touros.
cordeiros e outros animais. era coisa digna de admiração ver com quanto recolhimento, modéstia e
silêncio o povo todo acompanhava. E, se bem que o número de assistentes fosse incalculúvel, além
dos setecentos ministros que sacrificavam, parecia, no entanto, que o templo estava vazio, pois não se
ouvia o menor rnído, nem um sopro.
Ora, se havia tanto respeito e veneração por esses sacrificios que, afinal, não eram mais que uma
sombra e figura do nosso, que silêncio, que atenção, que devoção não merece a Santa Missa, na qual o
próprio Cordeiro Imaculado, o Verbo de DEUS, se imola por nós'?!
Bem o compreendia Santo Ambrósio. No testemunho de Cesário, quando ele celebrava a Santa
Missa, após o Evangelho virava-se para o povo e o exortava a um piedoso recolhimento e impunha a
todos guardar o mais rigoroso silencio, não só proibindo a menor palavra, mas ainda abstendo-se de
tossir ou fazer qualquer mído. E era obedecido. Quem quer que assistisse à Santa Missa do santo
Bispo. sentia-se tomado <le profundo respeito e comovido até ao fundo <la alma, tirando assim grande
proveito e acréscimo de graças.
***
49
Pronunciamentos de Cardeais, Bispos,
Monsenhores, Cônegos e Padres
50
1- PUREZA INTERIOR
(Texto retirado do livro "A Mãe",
pelo Cardeal Mindszenty, 3 ª edição de 1959)
A pureza da alma das crianças deve ser cuidada pela mãe com especialíssima dedicação, porque
a pureza e a delicadeza interior são pressupostos do verdadeiro caráter. A pureza da alma infantil é
como o cristal, e basta um só hálito para embaciá-la.
A mãe nunca pensa que o filho é ainda mui Lo novo e que ainda não compreende.
Por isso, põe especial atenção nos jogos das crianças, e procura evitar os excitantes da
sensibilidade do filho e tudo quanto possa fazê-lo mole e sonhador.
Certas bebidas e comidas, a solidão, o excessivo comodismo nas posições, etc., são prejudiciais.
Na mesma ordem de idéias é preciso põr em relevo, com insistência, esse fato do problema
habitacional, que obriga a deitar as crianças na mesma cama.
Deve ser evitado sempre que for possível.
Os pedagogos constataram o fato de que sessenta por cento das crianças atravessam, dos u·ês
para os seis anos de idade, uma grave crise moral. Pode acontecer que. nesses anos da infância,
estejam a faltar, à sua maneira. contra o sexto mandamento sem que os pais tenham a menor suspeita.
O abraçar e beijar demasiado as crianças nem sempre é conveniente. e um bocado de aspereza não faz
mal nenhum.
Oxalá todas as mães Lenham o dom de educar os seus filhos na mais rigorosa moralidade e na
mais delicada pureza !
***
3- O VALOR DO PUDOR
(Texto retirado do livro "O brilho da mocidade",
por Dom Tihamér Tóth, 7ª edição de 1965)
Talvez venham a zombar da tua atitude reservada. por não te sentires à vontade no meio de
conversas estercorosas e de corares logo que ouvires urna palavra imprópria.
Meu filho, orgulha-te disso! Orgulha-te de poderes corar!
O pudor em nós não é "criancice", "ingenuidade". "hipocrisia" - como eles dizem, - senão um ato
de valor incalculável, uma arma recebida da natureza. que defende, quase sem que o percebamos, a
parte mais nobre da nossa pessoa contra os maus pensamentos. Para o jovem, o pudor, que defende
quase instintivamente contra a impureza a sua alma delicada, é precioso tesouro.
É um poderoso dique contra as ondas da imoralidade, que de todos os lados rebentam contra a
nossa alma... Lembra-te desta bela máxima de Santo Agostinho:
"Não odeies os homens por causa dos seus erros e das suas faltas, mas não estimes as faltas e os
erros por amor dos homens".
E covarde quem não sabe tolerar, contra as suas convicções, algumas contrariedades. Outrora
débeis crianças, sem dizerem palavra e por amor de C1isto. se deixaram despedaçar por animais
ferozes. Aos quatorze anos, São Vito so1Tia ao mergulharem-no cm azeite fervente - por amor de
Cristo; e aos treze anos. São Pelágio suportava que durante seis horas lhe mTancasscrn os membros,
um após outro, - também por amor de Cristo.
As zombarias e chalaças de teus companheiros imundos compreendem-se muito bem. A tua
presença é molesta aos que se esponjam no esterquilinio. E como olham esses salafrários com tanta
raiva para quem não quer deitar-se junto com eles no muladar! A rã, ainda que esteja sentada num
tronco, salta sempre para o charco. pois só ali é que se sente à vontade.
Talvez conheças esta velha máxima: "S11nt. a quihus 1·ituperari laudari est" (há certas censuras
que para nós são o maior louvor). E podes crer que, se o asno injuria a rosa, é porque esta não usa
rerraduras.
52
Sempre me admirei muito de que se desse importância ao julgamento dessas almas desviadas.
Creio saberes que em Pisa, na Itália, a torre da catedral é inclinada.
Ora, se essa torre inclinada pudesse pensar. ce11amente desprezaria todas as ouh·as torres do
mundo: "É admirável que, de todas as torres, seja eu a única em boa posição!".
Não ouviste falar no que aconteceu a uma aldeiazinha oculta na montanha, onde todos os
habitantes eram papudos em razão da água e da vida que levavam? Certo dia. alguns turistas passaram
por ali. Apresentavam ótima saúde; entretanto, os papudos correram atrás deles, fazendo grande
alarido, rindo e choean·eando: "Vede só! ... li omens que não têm papo!".
Em todas as lutas, fortifica em ti esta santa resolução: Quem não quer perder o seu caráter e a
dignidade da sua pessoa, tornando-se escravo dos instintos, não deve entregar-se aos prazeres
proibidos. Quem dá importància ao caráter e quer desenvolver hannoniosamente a sua
personalidade, cumpre que vele, como se tratasse de um tesouro, pela sua integridade fisica e moral,
até ao sacramento do matrimônio (e também depois), que Deus instituiu para ele.
"É valente quem vence um leão - escreve Hclder, - é valente quem submete o mundo; porém,
mais valente ainda é aquele que vence a si próprio".
O teu bigode cresce por si mesmo, as tuas pernas por si mesmas se tomam mais compridas, mas o
verdadeiro caráter viril não se desenvolve por si próprio. Assim também, deves lutar e arrancar todos
os dias um pedaço da tua fraqueza inata, mediante séria abnegação e trabalho verdadeiramente
consciente.
***
4- SOLDADOS DA PUREZA
(Texto retirado do livro "O brilho da mocidade",
por Monsenhor Tihamér Tóth, 7ª edição de 1965)
A nobreza e a liberdade da alma dão ao olhar da criança inocente tal encanto, que os maiores
pintores do mundo, quando querem representar os anjos - portanto, uma beleza sobrenatural - lhes
dão fisionomias infantis. Esses traços sotTidcntes são um orvalho refrigerante nos botões nascentes
da humanidade.
Sim, no rosto de um adolescente de alma pura, de vida casta, reflete-se a beleza do Céu. Platão já
dizia: "Que nos é preciso para ver a Deus? A pureza e a morte".
O céu sem nuvens não tem o mesmo sorriso ao romper do dia; as estrelas não têm o mesmo brilho
à noite; as pérolas do rocio matinal não têm o mesmo esplendor; o regato da montanha não tem a
mesma pureza de cristal; talvez fosse semelhante o olhar os anjos, se tivessem corpo. Aparece nesses
olhos a alma de um anjo coberta de flores da primavera; neles brilham a serenidade de uma alma pura,
que a poeira não desbota.
E, se o reflexo da inocência nah1ral e da pureza da alma num rosto de criança é tão belo, muito
mais comovente o é um moço, cuja virtude deve ter sido adquirida ao preço de mdcs combates
sustentados virilmente! Guarda estas graves palavras de Goethe: "Grandes pensamentos e coração
puro- eis o que deveríamos pedir a Deus" (Wilhelm Meislers Wanderjare, 1, 1 O).
A vida casta estabelece a hannonia entre a pa!1e inferior e a parte superior do homem. A alma
pura é o mais precioso tesouro do homem. o alicerce de uma vida heróica, a mais bela manifestação da
semelhança de Deus.
É dificil achar no mundo coisa mais santa que um jovem coração preservado do pecado.
***
53
5- O SENTIDO DA VISTA
MODÉSTIA: BALUARTE QUE NOS PROTEGE
A DÉBIL VIRTUDE
(Texto retirado do livro "O caminho que leva a Deus",
pelo Cônego Augusto Saudreau, edição de 1944)
De todos os sentidos, a vista é o mais rápido, o que escapa mais facilmente à censura da razão,
exigindo portanto uma vigilância mais atenta. Deus nos deu o sentido da vista, primeiro, para
contemplar-Lhe as obras e, segundo, para mil empregos necessários; não há função útil, nem dever
importante, que possamos desempenhar sem ele. Quem é responsável por outros, deve usá-lo para
velar sobre seus inferiores. É preciso, portanto, moderá-los e não destruí-los.
De quantos olhares inúteis nos podemos privar; a quantos espetáculos curiosos podemos
renunciar; quantos objetos tüteis podemos deixar de considerar! Ao lado destes, a vista encontra, não
raras vezes, objetos perniciosos. Quem não sabe desviar o olhar de espetáculos frívolos, está muito
exposto a não se privar de olhares indiscretos e ilícitos. Virtudes que pareciam inabaláveis, falharam,
fracassaram por esse meio. Davi servira fielmente ao Senhor em ocasiões dificeis. dera provas de
confiança, de coragem, de piedade, de zelo, e eis que mn olhar que não soube reprimir excitou-lhe na
alma paixões ardentes que lhe causaram danos pavorosos.
Quão mais felizes, quão mais garantidos estão aqueles que, como o santo patriarca Job, fizeram
um pacto com seus olhos e não lhes permitem satisfazer a todos os caprichos! A paz de que gozam
transparece, reflete-se no exterior. É a modéstia. Não é virtude sem importância esta da qual Nosso
Senhor nos deu tão cabal exemplo: "Suplico-vos pela modéstia do Cristo". dizia Siio Paulo aos
cristãos de Corinto (2 Cor. l O, 1 ).
Assim como muitos niio dão a devida importância à paz interior, assim também outros não
compreendem o valor dessa paz exterior, dessa virtude que modera e <lirige os sentidos.
principalmente o da vista, como a paz interior domina e dirige as potências da alma. Sem a paz. o
espírito se entrega a mil divagações, e ·a vontade a toda sorte de desejos frívolos; a imaginação cria
continuamente e persegue ilusões e fantasias.
Sem a modéstia, os sentidos se abrem de todos os lados e pelas aberturas entram os inimigos da
alma; quem não for modesto. nunca será senhor de si: os mínimos objetos o preocuparão e excítar
lhc-ão a concupiscência: os menores acontecimentos o dissiparão; as tentações lhe penetrarão na
alma livremente; quererá tudo ver, saber, provar, exceto aquilo que é bom e salutar.
Sem a guarda cios sentidos. os cuidados mais assíduos e carinhosos dispensados ii alma serão
inúteis: como um vaso fendido deixa escapar os mais preciosos líquidos. assim também essa alma
toda difundida pelos sentidos perdení rapidamente as boas impressões recebidas.
A modéstia é o baluarte que nos protege a débil vi11udc e a põe ao abrigo das incursões do
inimigo; é a muralha que defende nossa riqueza: é também o adorno das almas fiéis, cujos encantos
realçam, tornando-as mais belas e atraentes aos olhos cio Esposo divino.
O mundo. todavia, não aprecia as almas modestas; sabe que nada tem a esperar delas; sua atitude
recolhida repele os espíritos mundanos. que instintivamente ddas se afastam, deixando-as servir cm
paz ao divino Mestre.
É utilíssimo, pois, adquirir essa modéstia cristã, e nunca será dcnmsiado o ardor empregado cm
sua conquista. Custa mortificar os sentidos, custa conter o sentido da vista, sempre tão errante; mas.
de fato, reprimir a liberdade do olhar é privar-se de uma satisfação pequena e passageira, para
alcançar ourra muito maior e eterna.
.No céu, gozaremos de Deus com todas as potências de nossa alma, atingi-lo-emos em si mesmo
pelas nossas faculdades espirituais, inteligência e vontade: quanto às faculdades sensitivas, de que
nos será dado fruir depois da ressurreição geral, serão mergulhadas no deslumbramento por
espetáculos maravilhosos, melodias de uma suavidade inefável e perfumes deliciosos. Quem, pelo
amor de Deus, se tiver privado na terra da satisfação dos sentidos, gozará, em maior abundância, de
todos os bens celestes. Sua inteligência, mormente, penetrará, mais a fundo. as infinitas grandezas de
54
Deus; seu coração se deleitará mais suavemente no amor divino: luzes mais cintilantes lhe iluminarão
a alma.
Tais pessoas renunciaram a prazeres luteis e, em troca. Deus mesmo a elas Se comunicará: Deus,
o alimento dos eleitos, o pão eterno que terão ganhado com o suor de seu rosto, Ele as alimentará, as
saciará, sem jamais as enfastiar.
***
Nestes tempos dificeis para as almas e também parn nosso aposto Indo, é bom lembrar aos nossos
irmãos no sacerdócio os princípios que uma sã moral impõe no que se refere às férias de verão c às
idas às praias e piscinas ...
Talvez para alguns pareçam um pouco rigorosas, mas são apenas as regras sempre ensinadas
pela Igreja para proteger <lo pecado as almas. que tementes a Deus, desejam viver cm tudo <le acordo
com os Mandamentos do divino Salvador...
PRAIAS E PISCINAS
O banho ao ar livre cm praias e piscinas é higiênico e saudável. pode ser uma honesta forma de
recreação; cm si mesmo não é mau e. portanto, lícito. Contudo, com a desculpa de ser por motivos de
higiene, �aúde ou descanso, são cometidos, hoje, grnvíssimos escfindalos. [ 1]
Niio se trata de coibir uma natural, licita e saudável expansiío, nem o uso dos bens que Deus
outorgou ao homem para sua conveniente higiene e para a recreação do corpo e do espírito; mas de
fonna alguma é permitido. e é pecado grave, que, aproveitando-se dessas ocasiões, os costumes
honestos sejam abandonados, consinta-se no desenfreio dos vícios, de-se lugar ao nudismo sem
pudor e se pervertam as almas pelo escàndalo...
A causa de graves cquívows acerca do que é pemlitido e do que é proibido nesse terna. com
gravíssima ruína para as almas é algumas vezes o respeito humano. outras vezes é um conceito
dcm111ado da higiene ou ela elegância, muitas vezes, é a sensualidade e a concupiscência.
Convém, pois, assinalar os princípios morais a que deve ser submetida essa atividade.
A conduta que a virtude do pudor impõe ao católico, a todo o momento e lugar é o primeiro ponto
a ser dcsrncado.
Pio XII. falando do tema. dizia que: "É muito evidente que a origem e a finalidade das roupas é a
exigência natural do pudor, entendido tanto em seu sentido amplo (que inclui também a devida
consideração para com a sensibilidade dos outros diante dos objetos repugnantes à vista). quanto,
sobretudo. como uma tutela da honestidade moral e escudo contra a desordenada ,cnsualidadc. A
estranha opinião que atribui ao relativismo desta ou daquela educação o sentido do pudor. que chega a
ser considerado como uma deformação do conceito da realidade inocente. um falso produto da
civilização e até um estímulo à desonestidade e urna fonte de hipocrisia, não está apoiada cm
nenhuma rnz5o séria; pelo contrário, essa opinião encontra uma explícita condennção na conseguinte
repugn:incia daqueles que talvez tenham se atrevido a adotá-la como filosofia de vicia, confirmando
desta fomrn a retidão do senso comum manifestado nos costumes universais. O pudor, considerado
cm seu significado estritamente moral. qualquer que seja a sua origem, se baseia na inata e mais ou
menos consciente tendência de cada indivíduo de defender um bem físico próprio. da indiscriminada
concupiscência dos outros, a fim de reservá-lo, com prndente seleção de circunstâncias, aos sábios
fins do Criador, por Ele mesmo posto debaixo do escudo tfa castidade e da pudicícia. Esta segunda
\·irtude, a pudicícia - cuja sinônima "modéstia" (de modus, medida. limite), talvez expresse melhor a
fünçào de governar e dominar as paixões, particularmente as sexuais - é a natural defesa da castidade,
sua valiosa defesa, posto que modera os atos proximamente conexos com o objeto próprio da
castidade.
55
Como uma escolta avançada, o pudor se faz sentir no homem desde o momento em que este
adquire o uso da razão, inclusive antes mesmo que aprenda a noção de castidade e seu objeto, e lhe
acompanha durante toda a vida, exigindo que detenninados atos, em si honestos. porque divinamente
dispostos, estejam protegidos pelo véu da discrição e pela reserva do silêncio, como para conciliar
lhes o respeito devido à dignidade de seu grande fim. 'É, p011anto,justo que o pudor, como depositário
de bens tão preciosos, reivindique para si uma autoridade superior sobre toda outra tendência ou
capricho e que presida a detenninação das formas de vestir."' [ 2J
Acrescenta o Sumo Pontífice que. "do mesmo modo que a natureza pôs cm cada criatura um
instinto que a impulsiona e a leva a defender sua própria vida e a integridade de seus membros, assim a
consciência e a graça (que não destrói, e sim aperfeiçoa a natureza), infundem nas almas uma espécie
de sentido que as coloca cm constante vigilância contra os perigos que ameaçam a sua pureza. Tsto é
especialmente característico da jovem cristã. Lê-se na paixão das Santas Perpétua e Felicidade -
considerada como uma das mais apreciadas obras da antiga literatura cristã - que no anfiteatro de
Cartago, quando a má11ir Víbia Perpétua, lançada ao ar por um touro feroz, caiu novamente na arena,
seu primeiro cuidado e primeiro gesto foram o de arrumar a sua túnica, que se havia rasgado por um
lado, para tratar de cobrir-se, mais atenta ao pudor do que à dor..." (3 J
A virtude do pudor se constitui, assim, uma guardiã vigilante da castidade perfeita de qualquer
cristão.... e se a higiene pessoal responde a imperativos fisicos, e a boa presença (que serve à moda no
vestir) põe em manifesto todo um conjunto de razões psicológicas e estéticas, sempre o pudor terá
primazia sobre estas exigências, porque somente ele é de ordem espiritual.
Todo católico, através do Batismo, foi elevado à condição de filho de Deus, e seu corpo se
constitui em "templo do Espírito Santo". Daí decorre que tudo o que venha a empanar a sua pureza
constituirá num atentado àquela condição e a esta dignidade de seu corpo.
Além disso, a desordem deixada na natureza por causa do pecado original, impõe um cuidado
especial na fonna de vestir, e que. sem deixar ele lado os progressos da moda. sempre deve ser
respeitada de modo absoluto: "não se deve jamais proporcionar uma ocasião próxima de pecar" [4], c
por isso Pio XII adve1tia com uma pergunta, a respeito da moda indecente, desonesta: "Não existe
uma moda que, ante os nossos olhos. se manifesta audaciosa e maldosa para uma jovem cristãmcntc
educada...? Trajes tão exíguos que mais parecem feitos para pôr em relevo aquilo que deveriam
velar...". [5]
Em relação a esse tema é necessário repetir o que já afirmava São Paulo: "os que temos por mais
vis membros, a estes cobrimos com mais decoro ..., porque os que em nós são mais honestos não tem
necessidade de nada" [6], do que se conclui que, segundo a doutrina e a prática dos teólogos [7], há
uma distinção entre as distintas partes do corpo:
a) Partes honestas: aquelas que ele acordo com um sadio costume. sem ofender o pudor, se
expõem ao olhar de todos (o rosto, as mãos, os pés).
b) Partes menos honestas: as que, segundo o uso recebido e o sadio costume, costumam se cobrir
(as pernas, o peito, pa11e dos braços, o pescoço, as costas).
c) Partes desonestas (ou torpes): as que em todas as nações cultas, por pudor natural,sempre se
cobrem (são os órgãos genitais e as parles próximas a eles). [8]
Baseado nessas premissas. de modo geral se deve dizer que "é moralmente lícito para o homem,
a mulher e as crianças, banhar-se tanto no mar, como no rio e inclusive nas piscinas..."
Contudo, a tal princípio devem ser incluídos outros que preservem dos riscos que o mesmo
implica e que con-espondam às suas circunstâncias: "em nome da higiene, da saúde ou do necessário
lazer-dizia numa Pastoral sempre atual, o Bispo de Cádiz-Ceuta - tomem sem problemas seu banho
de mar, homens, mulheres c crianças. Porém, o façam com a separação conveniente, as necessárias
precauções e as devidas cautelas. O uso dos banhos mistos deve ser vedado para qualquer pessoa
cristã." [9]
Sem prejuízo de algumas explicitações que damos mais abaixo, transcrevemos, acerca destas
"precauções e cautelas", as diretivas de outra pastoral, dada pelo Arcebispo de Valladolid, no dia 8 de
julho de 1950, também de perene vigência:"... que todos os nossos fiéis saibam:
l ) Que todas as roupas de banho devem sempre ser honestas,e que o maiô [ 1 O] certamente não o
é.
2) Que todos aqueles que nas praias ou fora delas exibem a nudez provocativa pecam com um
56
duplo pecado de imodéstia e de escândalo. E é sabido o que a respeito do escandaloso disse Jesus
Cristo: "Mais valeria que se lhe colocasse uma pedra de moinho ao pescoço e lhe atirassem no fundo
do mar". Tão fmte é a sentença que. sobre os escandalosos. formulou o Mestre divino.
3) Que as praias em que se banham promíscuamente, homens e mulheres, e a nudez é
provocativa, constituem de si ocasião de pecado grave para aqueles que a freqüentam.
4) Que nas praias deve haver completa separação de sexo parn aqueles que estejam cm traje de
banho. Se esta separação não existe, ninguém pode estranhar que homens e mulheres sejam
mutuamente objeto de tentação e de perigo para a pureza de suas almas.
5) Que é muito doloroso e lamentável que as pessoas que nas praias se distinguem por sua
imodéstia não sejam somente as mundanas, livres e atrevidas ou duvidosas, mas também outras
dadas, exteriormente ao menos, à piedade. e às vezes as que comungam com freqüência e tem seu
nome ligado às instituições beneficentes ou piedosas." [ 11]
E a razão é que o nudismo e a excessiva liberdade usada cm tais lugares constituem uma ocasião
voluntária de pecado grave ao qual ninguém tem o direito de se expor sem cair em pecado... Além
disso, não se µode pensar que tal perigo diminui com o hábito, segundo o axioma que diz ab assuetis
1111/la/it passio, porque no homem, especialmente nos jovens, o espetáculo continuo dr. praias e/ou
piscinas. ainda que proximamente não suscite por acaso os haixos estímulos maldosos, enfraquece
sempre o pudor natural e faz com que um se pennita, com facilidade. muitas pequenas faltas.
Assim. as paixões não diminuem, e sim aumentam em tais lugares, onde ao relaxamento fisico se
une o relaxamento espiritual. Por isso. com muita razão o Papa Pio XII advertia: "Não se iludam em
cTer que suas almas são insensíveis às tentações, invencíveis aos atrativo� e aos perigos. É verdade
que o hábito contínuo costuma fazer com que o espírito esteja menos submetido a tais impressões... ;
mas imaginar que todas as almas, tão inclinadas ao sentimento, podem tomar-se insensíveis aos
incentivos que assaltam a imaginação, que, cercados com os atrativos do prazer, atraem e prendem a
si mesmos a atern,;iio, seria supor ou estimar que se possa diminuir ou fazer cessar a maligna
cumplicidade que aquelas insidiosas instigações encontram nos instintos da natureza humana
decaída e desordenada.,. [ 12]
O Episcopado argentino. preocupado também pela onda de imoralidade nestes temas, ditou cm
junho de 1933, um Decreto que em sua pat1e pe1tinente diz:
"Considerando com grande dor de nossas almas os gravíssimos danos espirituais que leva ao
povo cristão a difusão da imoralidade pública em todas as suas manifestações; e tendo presente as
instruções e decretos emanados <la Santa Sé durante estes últimos anos: além disso, querendo
estabelecer cm alguns pontos nonnas práticas e concretas, que sirvam tanto aos fiéis como aos
diretores de almas para ajustar os costumes externos de uma vida verdadeiramente cristã: Os Bispos,
reunidos para velar pelo bem das almas que Nos foram destinadas, estabelecemos que não são
conformes com a conduta cristã:
l) ..Nem a promiscuidade simultânea de sexos nas piscinas públicas de natação e em certas
diversões em que o traje é completamente inadequado para estar fora da água...,. [ 13]
Neste contexto. podemos dizer, então, que: Os banhos tomados com pessoas do mesmo sexo
serão lícitos desde que se utilizem as regras de decência e dignidade nos modos, postura, trajes, etc.
Não se pode aceitar qualquer tipo de traje de banho senão:
l) somente aquele que seja honesto confom1e às partes do coqio que devam ser cobertas.
2) De tal tecido e cor que evite o aderir-se ao co1po, mostrando, insinuando ou transparecendo o
que não se deve mostrar.
3) Que, atendidas as circunstâncias do ambiente e das pessoas que os usam não sejam
escandalosos e/ou provocativos para os demais.
Na praia ou fora da piscina deve-se permanecer sempre coberto. Se alguém deseja tomar banho
de sol, deverá se afastar das pessoas do sexo oposto, e de maneira que se proteja completamente da
curiosidade ou ocasião de pecado... [ 14]
Não é lícito a um católico ir a piscinas públicas, por causa da aglomeração de pessoas, menor
espaço fisico, frivolidade. leviandade e liberdade excessiva que o ambiente favorece.
Para o banho nas piscinas privadas, deve-se respeitar sempre a separação dos sexos. e cm casas
de família, entre os innãos, pode ser lícita a não separação dos sexos na infância, sempre tomando
cuidado dos perigos de pecado nos jogos mistos.
57
De maneira particular, deve acrescentar-se que não estão livres do pecado (inclusive mortal) os
que:
a) procuram em tais ações ou ocasiões um fim desonesto;
b) prevêem (ou devendo ter previsto, não o fizeram) que sua atitude pode provocar escândalo;
e) com sua atitude foram ocasião de violação de outras obrigações (de pai. de mãe. de sacerdote.
etc.);
d) vendo que tais banhos são ocasião de pecado, não desistem deles; já que se por razões pessoais
(temperamento. fraquezas, etc.) tais lugares ou situações se constituem em ocasião de pecado
voluntário, há obrigação absoluta que se renuncie a eles.
Nem a moda, nem a higiene ou a comodidade, nem o pensar que o comportamento, posturas,
modos ou vestido não causam nenhum dano aos outros, não pode ser a última nomrn de conduta. Para
tais argumentos respondia Pio XII com estas sábias e prudentes palavras:
''A moda não é nem pode ser a regra suprema de nossa conduta; acima dela e de suas exigências
existem leis mais altas e imperiosas, princípios superiores e imutáveis, que em nenhum caso podem
ser sacrificados por causa do prazer ou do capricho...
Caso se tome um perigo grave e próximo para a salvação da alma. não é, ce1tamente. higiênica
para seu espírito, e é seu dever renunciar. E se, por um simples prazer pessoal ninguém tem direito de
pôr em perigo a vida pessoal do outro, não será ainda menos licito comprometer a salvação da alma?
Que sabem eles sobre a impressão que causam nos outros? Quem garante que os outros não sofrem
incitações perversas?
Não conhecem bem a fundo a fragilidade humana nem a fonna como sangram as feridas
produzidas na natureza pelo pecado de Adão, com a ignorância na inteligência, a malícia na vontade.
com avidez de prazer e com fraqueza diante do bem aparente que nasce nas paixões dos sentidos... "
[15]
Em resumo, um bom católico não disctlle sobre o limite do que é pennitido e do que é proibido;
deve ter a sua nonna de conduta orientada pela sua fé. Deve deixar que todo o seu exterior transpareça
a vida divina que leva na sua alma, e, portanto, no tema particular que nos ocupa, está obrigado a:
1) recusar sempre usar adornos que sejam desonestos ou pouco honestos;
2) vestir apenas o que. sem cair no ridículo, expresse a reserva e a delicadeza própria de toda
pessoa virtuosa;
3) abster-se de ir a lugares onde se ponham cm perigo a virtude, a vida honesta, e a bondade dos
costumes...;
4) e. sobretudo. acima do sentimento cio pudor natural e quase inconsciente, deve cultivar de
forma cuidadosa, conscientemente, em todo tempo e lugar, a virtude cristã do pudor e da modéstia.
A DANÇA
Na sociedade cheia de contradições em que vivemos, a dança se transformou para quase toda a
juventude, algo quase necessário. e para não poucos, a coisa mais importante de suas vidas. O fim de
semana é esperado com ansiedade e planejado cuidadosamente com muita antecedência, de maneira
que todo o ano está organizado em torno dessas reuniões mundanas. festas. noitadas, boates.
discotecas, etc., onde os jovens esgotam seus corpos e pervertem suas almas desde a meia-noite até a
madrugada, por meio da dança [ 16], com conversas frívolas quando não abertamente más incluindo
bebidas e até drogas ...
"A moral da Tgreja é imutável e o que ontem era vaidade, ocasião próxima de escândalo ou de
pecado. o é hoje e o será sempre", ensinava com toda razão Dom Antonio de Castro !v1ayer em sua
sempre vigente e mais atual que nunca, carta pastoral sobre os "Problemas do Apostolado Moderno"
[17]. Por isso é importante um juízo acertado sobre a dança e as suas circunstâncias. que sirva, tanto
aos pastores de almas como aos fiéis devotos que vivem no mundo. para julgar e obrar segundo a reta
razão e os princípios perenes da moral católica.
§ 1. NOÇÕES PRÉVIAS
O Cardeal F. Roberti define a dança como "um conjunto de movimentos rítmicos com os quais se
58
expressam sentimentos de entusiasmo, especialmente de alegria·· [ 18), e assim entendido. conforme a
sã teologia moral deve-se afinnar que a dança não é em si intrinsecamente má [ 19). Como também
não o são a música e a poesia.
Pode-se então considerar a dança como uma atividade honesta de distração, expressão ou
manifestação de alegria da alma, realizada por movimentos corporais compassados, e até como a
expansão de um culto religioso... : ''chegam os primeiros cristãos, ainda impregnados dos usos
pagãos, diz um autor, introduzindo a dança nos ritos da Igreja..." E é significativo que os primeiros
monges se chamassem coristas [20).
Recorde-se aqui a dança do rei David diante da arca da aliança e outras ações semelhantes que
conta o Antigo Testamento [21 ], corno também alguns bailados ou danças folclóricas, individuais ou
em grnpo, ainda que de ambos os sexos, por ocasião de festas civis em que os participantes giram e
realizam movimentos separadamente ... , e ainda alguns outros que poderíamos chamar danças da
corte ou de salão até a metade do século XVIII.
Mas também existem danças más, como aquelas que nos conta a mesma Sagrada Escritura, a de
todo o povo hebreu diante do bezeITo de ouro, ou a de Salomé, filha de Herodíades. no dia do
aniversário de Herodes [22], e as que aparecem a pa1tir do século XVIU e XIX. É então que "se deu
uma grande revolução nas danças de salão, desde o ponto de vista moral, quando a dança na qual o
cavalheiro toca apenas a mão da dama chegou a uma nova espécie em que o casal, em um abraço
apertado, movimenta-se em giros contínuos. como a valsa. a polca, a mazurca, etc." [23] O século XX
nos trouxe uma maior decadéncia, com o advento do tango, o fox trote, o charlcston, até os mais
modernos denominados com nomes extravagances de origem indígena. ou melhor. negro
americanos. como o mambo, o cha-cha-cha. o rock and roll e mais recentemente, também méxico
americanos. como a rmnba. etc.
Se é certo que a dança é uma demonstração licita de alegria e ainda mesmo de piedade, por causa
do pecado original e da ferida da concupiscência, a mesma se toma facilmente em uma ocasião de
desordens passionais, e por isso o Espírito Santo adverte ao católico: que "não freqüentes o trato com
a bailarina, nem a escutes, se não queres perecer ante a força de sua atração" [24), e que a dança é o
símbolo da impiedade: "os ímpios tocam o pandeiro e o tambor e dançam ao som dos instrumentos
musicais; passam cm delícias os dias de sua vida, mas na hora da morte vão ao inferno" [25).
Por isso sempre foi preocupação dos Padres da Igreja e do Magistério por meio dos Concílios de
todas as épocas. dos Papas e também dos Bispos, advenir o que a moral cristã tem a dizer a respeito da
dança. Citando aqui dois exemplos, transcrevemos o que afirmou o Concílio de Laodicéia no século
IV, em seu cànon 53: ''os cristãos que assistem às bodas não devem nem saltar nem bailar. senão
participar com decéncia à comida ou à ceia, como convém a todo cristão", e Bento XV, em sua
encíclica "Sacra prupediem": "não falemos dessas danças - umas más, outras piores - exóticas que.
saídas da barbárie, invadiram pouco a pouco os salões mais elegantes, sem que seja possível
encontrarnada mais a propósito que elas para acabar com o último rastro de pudor" [26).
Com essas premissas, consideremos os princípios morais que devem regular esta atividade do
homem.
§ 2. PRII\CÍPIOS MORAIS
Como toda ação humana, a dança recebe sua primeira qualificação moral de seu "objeto" e
depois de seu "fim·· e de suas ··circunstâncias''.
Já adiantamos que há danças que em si são boas, há outras más e convém aqui precisar essa
condição que as fazem más por seu objeto.
Para descobrir os princípios que resultam aplicáveis neste ponto, deve-se assinalar, em primeiro
lugar que, sendo a dança uma ação humana cujo objeto são os movimentos exteriores do corpo
humano, deverá sempre estar regulacla pela virtude.
Sobre isso, ensina Santo Tomás: '"a virtude moral consiste em regular as ações humanas
confom1e à razão. E não há dúvida de que os movimentos exteriores do homem são também
susceptíveis de tal ordenação, visto que o império da inteligência chega aos órgãos externos"' [27)
Para isso existe uma virtude especial. potencial da temperança (que regula os movimentos
dificeis do corpo), chamada "modéstia" que, entre outras coisas, é a que modera "o que pertence aos
59
movimentos e ações corporais, isto é, para que sejam feitos com decência e honestidade" [28].
Mas, além disso, Santo Tomás trata explicitamente sobre a dança em seu comentário ao livro de
Tsaías, quando este fala da mundanidade das mulheres israelitas [29] e se pergunta "se é possível
dançar sem pecado" [30], para responder que "a dança em si mesmo [sec1111dum se]. não é má, e tudo
depende do fim a que alguém se propõe no mesmo bailar e das circunstâncias que podem fazer desta
ação um ato de virtude ou um vício''. Para que não ofenda a Deus, o doutor Angélico exige que "não
seja pessoa que possa dar escàndalo, como um clérigo ou religioso. que seja unicamente para
exteriorizar a alegria, como nos casamentos ou circunstâncias parecidas, que se dance com pessoas
honestas e o sejam também os cânticos, e, além disso, não haja gestos muito atrevidos ou livres. Mas
quando se dança para provocar a lascívia ou com outras circunstâncias inadequadas, é claro que se
trata de um ato vicioso" [3 l].
(JI) Danças menos honestas e más por serem ocasião próxima de pecado grave:
Além destas danças intrinsecamente más, os moralistas destacam a existência de outras, menos
honestas ou não honestas, quanto ao objeto. "Siío essas danças, dizem, cm que não apenas o
cavalheiro toca a mão da dama. mas em que o par. num abraço apertado. se movimenta em giros
contínuos. como a valsa. a polca, a mazurca. o chotis, a redowa, a habanera. etc..." [ 40]
Estes toques entre pessoas de sexos opostos não são considerados maus em si pelos moralistas
nem pelo Magistério. Assim, o artigo 35 dos Estatutos sinodais da diocese de Québec (Canadá),
promulgado no século XIX, após condenar o tango, o fox-trot e outros do mesmo gênero como
"lascivos em si mesmos", acrescentava, "Condenamos... também as danças que sào lascivas pela
maneira de bailar. como a valsa, a polka. que se dançam em nossos dias ordinariamente de uma
maneira lasci\'a.
Nós as reproYamos energicamente como ocasiões próximas de pecado; e as proibimos
expressamente..., de forma que (o que Deus niío permita). quem ousar tomar parte ou permitir a seus
filhos ou a seus empregados tomar parte nelas, ou os deixe dançar em sua casa, será réu de um pecado
grave de dcsobediéncia" [41 ].
Trata-se cntiio nestes casos, de movimentos que não L'ncc1Tam uma malícia intrínseca, mas que,
pelo modo como se realiza ordinariamente, com o contato dos corpos e giros velozes, são ocasião
próxima objetiva de pecar.
A questão que se coloca nesta segunda classe de danças é a seguinte: são estas ocasião universal
próxima de pecado grave, referindo-nos sobretudo aos jovens, PU podem dar-se circunstâncias que
atenuem a excitação que produzem, de tal fonna que não suponham perigo e tomem lícita a
assisténcia a elas?
Merkclbach e Noldin destacam que estas danças süo - igual que as más cm si - gravemente
desonestas pelo perigo de pecar. "Sobretudo. ensina o primeiro, pelo modo de dançar. por exemplo
levando ape11ado o peito da mulher contra o peito do homem, de tal fom1a que parece que a jovem está
nos braços do homem. Tudo o que provoca movimentos desordenados, ainda que não
necessariamente desonestos, como consta pelo testemunho dos que dançam, e parece que é assim,
devido a que o pensamento se distrai com outras coisas c necessariamente tem que atender aos
movimentos rítmicos (na valsa, no galope, chotcs, mazurca, cotillón. etc.)" [42]. Noldin, por sua vez,
afirma que "'algumas danças que estão na moda no nosso tempo tem um perigo maior pelo abraço
apertado como se realizam. contudo, geralmente não se pode dizer que sejam gravemente desonestas
nem, portanto, de si, proibidas como ocasião próxima" [43], palavras que devem ser entendidas
corretamente. isto é. que estas danças não são más intrinsecamente, o que é certo teoricamente
folando, mas na prática sào gravemente más por ser cm ocasião próxima universal cm razão das
circunstâncias ...
No mesmo sentido e com uma visão real das coisas, Gury-Ferreres, afamam que ''entre eles (os
bailes desonestos cm razão do modo de dançar). consideram muitos os que na Espanha se designam
como a valsa. a mazurca, o galope. a polka. o chotis. a americana ou habancra, nos quais aumenta o
perigo na mesma ordem cm que vão sendo ensinados" [44]. E acrescentam que "o perigo provém de
um duplo motivo: da íntima união dos corpos do homem e da mulher, e de que os que dançam se
perdem entre a multidão. abandonados a si mesmos. dando lugar a uma maior liberdade para
conversas indecentes [majorem liberta/em habecmt verba minus casta proferendi], quando todas as
circunstàncias contribuem a incitá-los a pecar; e quanto mais familiaridade existe entre os que
dançam, mais perigosas são estas danças e devem ser evitadas de qualquer modo" [45].
A estas razões podemos acrescentar outras que resultam de princípios morais aceitos por lodos
os autores e que destacam estes atos como perigo próximo de pecado grave e dos quais todos estão
obrigados a afastar-se por não serem necessários:
a) O abraço das paites menos honestas - ou menos excitantes - não é em si desonesto ou
intrinsecamente mau, ao menos levemente mau (objetivamente), niío sendo nunca lícito. enquanto
n5o exista causa proporcionada que compense o perigo que leva consigo (nos referimos ao que se
realiza entre pessoas de distint.:i sexo, nào familiares);
61
b) Os tatos, os abraços morosos e prolongados de determinadas partes, como são as costas, os
braços, a cintura, costumam ser ocasião próxima de pecado. [ 46]
e) As danças. pelos contatos e abraços estreitos e demorados em determinadas partes do corpo
como costumam ser realizados, são enormemente perigosos e causa de múltiplas tentações, sendo
muitos os que pecam por sua causa.
d) Se olhar as partes menos honestas de uma mulher é pecado venial, mesmo que não seja
demoradamente, forçosamente são pecado os toques e certamente graves se são prolongados e
apertados.
e) Não sendo, contudo, ações em si mesmo más, para realizá-las são necessárias haver uma causa
proporcionada. tanto mais grave quanto maior for o perigo. e assim, só será admissível esta
assistência ou participação como ocasião de algum festejo familiar ou social inevitável (exigências
do cônjuge, casamento, festa pátria, evento diplomático), e que sejam feitos os resguardos
necessários para não transformar em remota a ocasião próxima que estes bailes suscitam;
1) Não se nega que possam existir jovens (de ambos os sexos) para os quais a dança possa não ser
um perigo próximo (o que não quer dizer que não pequem por cooperação e escândalo) ou porque seu
temperamento é menos excitável, ou porque algumas circunstàncias, em alguns casos. atenuem este
perigo. ou porque a assistência seja ocasional e tenham uma sólida formação religiosa.
g) Prescinde-se cm tudo isto da intenção luxuriosa ou de deleite diretamente buscado. o qual se
existe, ainda que não seja perfeito, é sempre pecado mo11al [4 7].
De tudo o que foi exposto pode-se propor o seguinte princípio para estas danças menos honestas:
as danças menos honestas ou desonestas pelo modo de realizá-las, entre pessoas de sexo oposto,
ordinariamente jovens, realizadas de modo habitual, constituem por si mesmas perigo próximo de
pecado grave, e só serão lícitas por causa proporcionalmente grave e postas as condições que tomem
remota a ocasião.
Toda ação humana recebe sua segunda qualificação moral das circunstâncias que a rodeiam, e
desta nonna não está isenta a dança, ao que são aplicáveis os princípios gerais sobre a matéria. Deles.
nos parece necessário recordar aqui, dois principais:
a) um ato mau em si não se torna bom pela reta intenção do agente ou pelas circunstàncias boas
que o rodeiam;
b) um ato bom ou indiferente. pode se tomar mal pelo fim do agente ou pelas circunstàncias.
Pode-se falar de circunst11ncias objetivas e de circunstâncias subjetivas. segundo que afetem a
qualquer homem ou mulher em toda ocasião, ou que afetem somente a determinadas pessoas em
razão de alguma condição pessoal.
(l)As pessoas:
Nunca é lícito às pessoas consagradas (sacerdotes, religiosos, religiosas, leigos "consagrados"),
cm razão da sua dignidade, dançar, organizar, assistir ou incitar outras pessoas a participarem dos
bailes.
Para os leigos. quando lhes seja lícito fazê-lo pelas razões já apontadas, deve-se considerar
também que: não é lícito dançar com pessoas estranhas, de duvidosa ou má reputação ou que não
tenham boa intenção.
Estão condenados pela Igreja os bailes infantis [52], e deve afastar-se dos bailes modernos [53]
os adolescentes de ambos os sexos.
Apenas a presença dos pais··· qualquer que seja a idade dos jovens - pode fazer com que algumas
vezes desapareçam algumas grosserias externas escandalosas e chamativas, porém não livra da
malícia intrínseca nem os perigos próximos que, por si só, têm alguns bailes. Cabe a eles, enquanto os
filhos estão sob sua responsabilidade, proibir a organização ou assistência aos bailes desonestos ou
menos honestos [ 54].
A diversidade ou igualdade de sexo nos bailes não encerra de si mesmo malícia alguma, salvo o
perigo de tentação ou intenção libidinosa...
(l V) O lugar e o ambiente:
É evidente que o baile numa casa de familia ou familiar, que se dá diante dos pais e pessoas mais
velhas, tem menos perigo do que os que acontecem em outros lugares, desde que o que se dance seja
honesto; porém advertimos que somente o lugar, ou uma circunstància, não torna bom o que por seu
objeto é mau...
Se for lugar mau, não se pode ir de modo algum, e é o que acontece nos atuais lugares dançantes,
seja qu�l nome for: bares, discotecas, boates, pubs etc., e isto pelas seguintes razões: são lugares
63
normalmente fechados, escuros, com utilizaçào de lnz branca e raios laser, pouca iluminação, e onde
há um jogo de luzes manipulado constantemente e de tal modo que produz desinibição, estados de
excitaçào das paixões que levam a pecar, levam a uma ruptura com a realidade e perda de toda
capacidade de controle, ou seja, perturbações tais que produzem um "curto circuito" nas faculdades
conscientes como faz a droga alucinógena.
Porém, também os lugares abertos podem ser circunstâncias más, e ainda agravantes, quando o
ambiente é tal que afete a moral e os bons costumes, ou quando degenera em histeria coletiva, atritos,
atos de violência ou imoralidade, como ocorrem nos chamados ..festivais" ou ··conceitos'' de música
beat de grupos ou "bandas" famosas que acontecem em estádios de futebol, centros esportivos ou
similares. teatros, etc., para centenas e até milhares de jovens que se amontoam para vê-los em suas
contorções frenéticas, escutarem suas canções muitas vezes imorais, pr.ra moverem-se agitadamente
numa massa amorfa que conduz prontamente a esse histerismo coletivo de que falamos, atos de nudez
e ainda sexuais em público, sem freio e sem inibição alguma, quando nào se drogam ou praticam
outras ações aberrantes...
O "ambiente" que existe nestes bailes modernos é também um grave obstáculo para legitimar a
concorrência de um católico: a presença de toda classe de pessoas, sua frivolidade, seu desejo de se
divertir sem nenhmn freio, a falta de controle dos responsáveis pelo lugar, a falta de m'odéstia dos
vestidos. muitas vezes acompanhados com um show de streepers (nuáisrno de homens e/ou
mulheres). venda de álcool, quando nào droga, etc...
(\!)Tempo:
Há três aspectos que fazem do tempo uma circunstância má da dança: a freqüência, os horários, o
tempo sagrado.
De tal modo se apoderou esta "diversão" da sociedade, em pa1ticular dos jovens, que aparece
como algo absolutamente necessário em toda reunião familiar, festa profana ou fim de semana. Tudo
tennina- senào quando começa também -e deve ser amenizado com um baile, e baile moderno como
os que descrevemos mais acima.
É um dado evidente que os jovens, nas noites dos fins de serr.rna, "devem" sair para dançar com
os amigos...
Esta freqüência faz esquecer os deveres da vida, faz com que a paixão se inflame, o pudor se
debilite e o horror ao mal desapareça cada vez mais...
Some-se a isso o tema do horário. Para ninguém passa despercebido o perigo de que os bailes
aconteçam à noite e tem1inem às altas horas da madrugada [56]. Ambas as coisas, horário e duração,
combinadas, produzem um enervamento que acaba com toda a reserva moral, e costuma ser a causa
de outros pecados que se cometem depois de uma "noitada" cheia de paixão e desenfreio...
Também tem imp011ância assinalar a imoralidade dos bailes realizados nas épocas consagradas a
honrar a Deus de um modo paiticular. pru1iculannente no tempo da Quaresma... Alguns Concílios
regionais chegaram a proibi-los -e se tratava logicamente de bailes honestos -durante as funções do
culto...
Para concluir. deve-se respondem algumas objeções que levantam os jovens para justificar sua
;1ssisrência, organização e diversiio nos bailes modernos. Não são todas as que se escutam, mas são
,uficicntcmente representativas no modo de pensar da juventude de nossa época e mesmo de nossos
;11nbicntcs tradicionais:
2) Há muitas pessoas que dançam e são boas. inclusive melhores que muitas outras que vão
:'1 Igreja:
Este argumento é um verdndeiro sofüma: cstns pessons poderão ser boas cm muitns outrns
cnis::is, talvez cm todas as outras, mas nist,, de dançar não o são .... e, portmlto, não têm a verdadeira
bondade cristã. niio siio católicos virtuosos. Chamar de bom ao que não é integralmente bom é niio
liilnr com propriedade. é esquecer aquele principio que nos recorda Santo Tomás: "a ação não será
,ibsolutamcntc [si111pliciter] boa se tocl<1s as bondndcs não se concentram nela. porque o bem, como
diz Dionísio, resulta da integridade da cnusa. e o mal. de um só defeito" [58). e nrnis clara e
<.:'(plicitmncnte o diz o apóstolo Siio Tiago: "Porque qualquer um que houvesse guardado toda a Lei, e
l;iltas,c cm um só ponto. tornou-se culpado de tudo" [59 J. Deve-se negar cm absoluto que um jovem
ou uma jovem possa ser muito bom nem propriamente bom di,mte de í),·us se freqüenta estes bailes
modernos...
3) Há jovens que são muito piedosos, que freqüentam os sacramentos, que vão à Mis�a
todos os domingos e, contudo, vão aos bailes; portanto esta diversão não será tão má nem
pecaminosa corno se afirma:
A verdadeira piedade corresponde em ··prestar submissão e reverência a Deus como Pai''. ensinn
Santo Tomás [60]. Essencialmente, portanto. ao amor ele Deus importa primeiramente a obrigação de
cumprir seus mandamentos [61 ] ... Tomar parte nos bailes modernos vai diretamente contra o sexto
mandamento. porque. na melhor das hipótesi:s, é pôr-se cm perigo próximo de quebrantá-lo sem
necessidade. Dançar e ser vcrdadciramcrne piedoso é tão impossível como fazer um círculo
quadrado... Que os jovens dancem hnbitualmentc e depois freqüentem os sncramcntos nos faz
suspeitar de mui las cnnfissiies e comunhões sacrílegas: niio pode haver verdadeiro arrependimento
cm quem se confessa de ter participado nestes bailes e niio faz nada para afastar-se deles... Se essas
são suas disposições, de nada valem a absolvição do sacerdote. Sua confissão e comunhão nesse
estado é um verdadeiro sacrilégio...
Além disso, alguém deve se perguntar: depois de ter assistido a esses bailes e lugares. tenho mais
vontade de rezar'1 Tenho grandes desejos de virtude'1 Volto para casn em paz com n minha consciência
e com Deus? Sinto-me "melhor"' depois de ter dançado sem parar e de modo sensual e frenético
durante longas horas da noite'1 A piedade e o bailc são absolutnmcnte incompatíveis.
4) Há alguns sacerdotes que nada dizem sobre o baile, e inclusive que afirmam que se se
dança sem má intenção, não há pecado:
É possível que existam. e se é assim, estüo crradíssimos. Esses tais não são nem bons sacerdotes
nem bons confessores. Pelo contrário, são perigosíssimos. lobos disfarçados em pele ele cordeiro que
enganam os jovens, cometem uma falta grnve de caridade contra eles, e se fazem responsáveis por
grandes pecados, próprios e também daqueles que agem conforme seus conselhos.
Porém pode oco1Ter também que seu conselho ou explicação tenha sido de um caso geral quando
65
em realidade correspondia a um caso em particular em uma circunstância concreta. e que retirada do
contexto tenha se transfonnado, por razões que preferimos não indagar, em um princípio geral. Em
absoluto, não é impossível que o confessor, em um caso particular, autorize a ir dançar. como no caso,
por exemplo, de uma mulher casada, verdadeiramente piedosa que pergunta se pode acompanhar seu
esposo em um baile de fim de ano - homem rude e de costumes frívolos -porque este está decidido a
pensar que se esta não vai com ele, ficará dançando com outras... Nessas circunstàncias, é provável
que autorize, tomadas as devidas precauções e para evitar males e pecados maiores, que podem
ocorremo referido baile. Porém isto não permite fazer de tal permissão um princípio geral...
5) É melhor ir dançar que ir a lugares escondidos, como fazem certos casais, porque isso é
muito mais perigoso e dá muito mais o que falar:
Dançar não é "melhor" do que ir a "outro lugar escondido...". Melhor é comparativo de bom, e,
portanto, na essência. pode-se dizer que dançar"é menos mal'' do que fazer o que fazem alguns...
Ser uma coisa pior que outra, não faz da última boa ou lícita... Além disso, não é inevitável uma
ou outra ação: dançar ou a outra ... Há muitos jovens que se dive11em ele maneira saudável sem
necessidade de alguma dessas coisas..., e o católico deve buscar esta maneira de se divertir...
6) Se não se dança, se não se fre<1üenta os lugares de baile, não se consegue casar e nenhum
jovem quer ficar solteiro. Ou freira ou casada, dizia alguém. e como não tivesse vocação para
freira, então...:
Argumentos semelhantes escutávamos faz algum tempo de um jovem: "ir às discotecas para
cons�guir uma namorada... "
E num lugar como este que se pode conseguir um(a) namorado(a) verdadeiramente católico(a)
1rndicionalista? [62] Procurar urna namorada ou um namorado em meio a um baile ou freqüentando
as "discotecas" é fora de toda lógica cristã, e não pode ser concebido pensamento assim num jovem
católico bem fonnado.
O casamento concebido dessa fonna - se é que verdadeiramente os que vão a esses lugares
querem conseguir um(a) csposo(a) - será como dizia um Sumo Pontífice, um "casamento de filme
que retirou do homem o respeito pela mulher e desta o respeito por si mesma"; dclinitiv,m1ente, um
casamento que não estará fundado em princípios verdadeiramente católicos .... e não se diga que logo
o "converterão" ao tradicionalismo...
Faz muitos anos, quando os colégios católicos eram verdadeiramente tais. um ancião e santo
religioso, dava este conselho aos alunos que iriam ingressar: ·'rapazes, não procurem uma namorada
na rua", ensinamento que é reflexo de puro senso comum católico: quem se deixa "abordar" por um
desconhecido numa via pública mostra. além de pouco juízo. que 1em princípios liberais; e este
princípio pode ser aplicado com muito mais razão em relação às "boates'·, "discotecas". "pubs" ou
como queiram chamar estes lugares ele baile moderno. Quando se deseja um esposo ou uma esposa
católica, que seja pai ou mãe católica para criar filhos católicos,jamais o encontrado nesses lugares. e
o mais provável, é que quem se conhece dessa forma e chega a se casar esteja trocando os planos que
Deus tinha para ele...
Em todo o caso, sempre será válida a resposta a este argumento capcioso, aquela de São Paulo:
"111m s11111.fácie11da mala ut 1·enian1 hona" (não se deve fazer um mal para se obter um bem).
8) Finalmente, também escutamos dizer que talvez se possa deixar os jovens em uma semi
ignorância que talvez haja, prevendo que quem freqüenta estes lugares não está em condições
de parar de ir a eles e se corre o risco de converter em pecado formal algo que não vêem assim, e
![Ue se apresenta como pecado material para eles... :
Quem pensa assim tem uma falsa caridade e nenhum conhecimento da moral católica. A
caridade se fundamenta na verdade. e ocultá-la, dissimulá-la. não dizê-la nestes casos é consentir no
pecado alheio, favorecê-lo, não afastar do pecado a quem deve e pode ser afastado. Para a teologia
moral a semi-ignorância não existe, e não conhecemos nenhum moralista que utilize esse tcnno cm
nenhum caso...
Os autores falam apenas cm "ignorância". e a definem, cm ordem ü moralidade dos atos
humanos. da seguinte fo1ma: "falta de devido conhecimento em um sujeito capaz" [64]. e que
dividem, referindo-se ao sujeito que pode tê-la como "ignorância invencível", que é aquela que não
pode ser desvanecida ou porque de nenhum modo se dá conta do erro ou porque suas tentativas por
fazê-la desaparecer foram cm vão (perguntando aos outros, estudando o caso etc.) [65], ou como
'"ignodincia vencível" que é aquela que poderia e deveria clesvm1ecer com uma diligência razoável
(consultando.refletindo, etc.).
Se a ignorância invencível escusa de pecado por ser totalmente involuntária, e, p01ianto
inculpável, não ocorre o mesmo com a ignorância vencível que é sempre culpada. e, ponanto pecado,
cm maior ou menor grau de acordo com a negligência em averiguar a verdade.
É bom lembrar as reflexões simples que faz um teólogo conhecido em nosso meio hispânico: "a
razão da culpabilidade é porque é sempre voluntária. O agente percebe sua ignorância e nada faz-ou
muito pouco-para averiguar seus deveres.
Contudo, é celto que diminui um pouco o ato voluntário e o faz, por conseguinte, menos culpado;
a não ser que a ignorància seja afetada. neste caso aumenta a malícia do ato pela perversa disposição
da vontade do pecador, que não quer interar-se de seu dever para não ver-se obrigado a cumpri-lo"
[66].
Poderíamos apresentar aqui a possibilidade de uma consciência provável na qual os motivos em
que se baseiam o juízo não garantam a certeza, mas também não são suficientes para tomar honesto o
ato de dançar. Em outras palavras, tentar justificar a licitude ela dança porque se duvida se é lícito ou
não, havendo argumentos tanto para dizer que sim ou que não. A consciência provável. ensinam os
Lcólogos, é aquela cm que se afinna como sendo somente provável que algum ato é lícito ou ilícito,
mas com temor do que lhes é contrário. Seria algo semelhante à opinião, e os autores modernos
assimilam a consciência provável à duvidosa (ainda que, em sentido estrito, a consciência duvidosa
seja a suspensão do juízo do intelecto que não assume nenhuma das partes contraditórias). Na prática,
a solução é a seguinte: esta consciência provável ou duvidosa se reduz também à consciência
vencivelmente en-ônea; com eleito, quem ignora desta forma conhece a sua ignorância e não pode ter
cc1ieza de seus juízos. E a consciência vencivelmente eJTônea, assim como a provável ou duvidosa,
não é regra legitima para an1ar: "Nunca a consciência duvidosa nem a consciência vcncivelmente
errônea podem ser a norma reta de uma ação" ensinam os moralistas. Falando de outra maneira, "não
� pemlitido seguir a consciência vencivelmente en-õneajá seja que mande ou permita algo, nem agir
contra ela, senão que é preciso retirar o en-o antes de agir".
"O homem deve se valer de uma séria solicitude para ter uma consciência certa", e por isso os
jovens devem se informar a respeito de seus deveres morais, particulannente neste em que estamos
tratando: a dança; e por sua vez, aos pastores lhes urge pregar, ensinar e aconselhar neste assunto e não
podem deixar os jovens na ignorância ..., nem numa suposta "semi-ignorància"; pelo contrário,
fazem-se culpados de uma gravíssima negligência em seus deveres pastorais e responsáveis pelos
pecados que aqueles cometerem por não terem sido retirados de seu desconhecimento ou en-o sobre
este tema.
Ensina Santo Tomás que "a ignorância implica na privação da ciência, a saber, enquanto falte
para alguém a ciência daquelas coisas que por natural aptidão pode saber e algumas destas se está
67
obrigado a saber, como aquelas sem cuja ciência não se pode exercer com segurança o devido ato;
pelo que todos estão obrigados a saber comumente as coisas que são de fé e os preceitos gerais do
direito: e cada um em particular as que dizem respeito ao seu respectivo estado.. .'' [67].
E assim. aos jovens lhes está imposto o dever- insistimos - de interrogar, de informar-se acerca
do modo de se divertir cristãmente e a respeito da licitude ou não dos bailes modernos... Sua
ignorância neste ponto de nenhum modo pode ter-se como "invencível" ou "inculpável.., porque
facilmente podem obter o conhecimento que precisam sobre o particular... : "pela negligência, a
ignorância de algo que alguém está ob1igado a saber que é pecado.... [e] a ignorância vencível é sim
um pecado, se versa a respeito de coisas que se está obrigado a saber" [68].
Por isso afinna com toda razão o Doutor Angélico que "se a razão ou a consciência é errônea por
um erro direta ou indiretamente voluntário no tocante às coisas que alguém está obrigado a saber, tal
erro não exime de pecado a vontade que segue a razão ou a consciência errônea" [69]. Os jovens
devem fo1mar-se moralmente... , os sacerdotes devem fonná-los nestes temas morais!
Diz-se ainda na objeção que "quem freqüenta estes lugares não está em condições de acabar com
eles e corre o risco de conve11er-se em pecado fo1mal algo que não vêem assim. e que hoje não passa
de pecado material para eles".
Várias coisas devem ser consideradas aqui:
1) A falta de "condições"(?) para cortar com esta ocasião provém de uma falta de firmeza na
vontade'!
2) Ou não querer fazê-lo, quer dizer, deixar de ir dançar, porque acreditam que não é pecado?
3) Ou, por que apesar de tudo não vão deixar de ir? E no segundo caso:
4) Que classe de ignorància é a sua para que se possa dizer que é apenas pecado material?
Se se está atento ao que foi explicado, vê-se claramente que a questão da "ignorância" é um
problema de "inteligência'', e, portanto, se o problema é a fraqueza da vontade (interrogação 1 ), o
remédio é fortalecê-la pelos meios adequados, porém não é deixá-los expostos a uma ocasião que
produz piores males dos que se supõe.
Se é porque simplesmente não irão deixar de ir (interrogação 3 ), ainda que saibam de sua
malícia, o único que resta é negar-lhes a absolvição...
Mas se seu juízo ··supostamente" bom sobre as danças modernas é por ignorància, ou em todo
caso por erro (interrogações dois e quatro). como se deve resolver o problema? A ignoràncía nestes
casos nunca é invencível porque com um mínimo de esforço ·- que por outro lado é obrigação do
jovem -, pode chegar a conhecer algo que é necessário para sua "vida moral", .:, portanto nunca
escusa de pecado forma 1.
O que deve ser feito, nos ensina Santo Afonso: ''é obrigação do confessor alertar ao que está na
ignorància culpável de algum de seus deveres, já provenham eles da lei natural ou da lei positiva.
Quando esta ignorància é inculpável, deve-se fazer uma distinção: se alguém ignora as coisas
necessárias para se salvar, é de todo evidente que devemos retirá-lo do erro" [70], e aqui se trata de
cumprir com o sexto mandamento..., cujos violadores. ensina São Paulo, não entrarão no reino dos
céus. Assim, não se pode falar em deixar que o jovem cometa, nesses casos. pecado material, isto é,
que quebrante involuntariamente a lei de Deus porque não existe tal ignoràneia invencível: ele deve
conhecer suas obrigações morais e o sacerdote tem obrigação de instruí-lo sobre o tema.
9) Mas é necessário se divertir na vicia, não é possível viver virtuosamente sem ter um
momento de relaxamento, pelo que é lícito dançar:
Certamente que a recreação é necessária ao homem e conforme a r.:ta razão, e ensina Santo
Tomás que o contrário é vicio: "é obrar contra a razão não participar da alegria comum e impedir a
recreação amena dos outros'' [71].
Na vida é necessário certo repouso, e para consegui-lo fazem falta as distrações que o
proporcionem e "essas atividades, segue ensinando o doutor Angélico, em que se busca o prazer do
espírito se denominam... festas, e é necessário usá-las para descanso da alma" [ 72].
A vi1tude que regula esta atividade é a "eutrnpelia", que retifica, segundo a reta razão, estas
diversões, porque "se, sob o pretexto de diversão, comete-se uma ação imoral em si mesmo ou nociva
para o próximo em matéria grave, temos um pecado grave" [73].
É por isso que destaca Santo Tomás que, nestas diversões é necessário considerar três coisas:
68
"antes de tudo é necessário não buscar o dito prazer em coisas torpes ou nocivas; convém, além disso,
não perder a gravidade do espírito; e em terceiro lugar devemos considerar que a brincadeira [a
diversão] deve acomodar-se à dignidade da pessoa, circunstâncias de lugar, tempo etc., ou como diz
Cícero, "algo digno do homem e do momento''. Tudo isto ponderado pela reta razão" (74].
E assim pode existir '"excesso em razão das circunstâncias, como divertir-se em tempo e lugar
indevido, ou em fonna que vai conu·a a dignidade da pessoa e de seus negócios, e isto pode ser às
vezes pecado mortal pela veemência do afeto que se põe... menosprezando os preceitos de Deus ou da
Igreja'' [75].
E nossa dignidade é a de ser filhos de Deus, irmãos de Cristo, por quem fomos redimidos pelo
preço de seu Sangue divino e nos vem a salvação, herdeiros do Céu se cumprim1os seus mandamentos
de amor...
Assim se explica que "uma diversão má em si mesma, nunca está autorizada; uma diversão má
não é lícita se escolhida por nenhum preço, [e também] uma diversão orientada para o mal, deve
igualmente ser proibida.... e a causa dessa proibição é que, o que ama, ou quer o perigo sem a menor
necessidade, é, pela mesma razão, considerado desejoso do mau que se lhe está unido; porque, em
segundo lugar, toda lei, assim como veda sua violação, proíbe tudo aquilo que leva a sua transgressão.
Esquivar-se da ocasião próxima não é, pois, um simples conselho, mas um preceito imposto po• Oeus
mesmo" [76].
§ 5. DANÇAS HONESTAS
Depois de tudo o que foi dito. a juventude hoje em dia pode praticar algum tipo de dança? Trata
se, obviamente, de detemlinar em primeiro lugar se existem danças moralmente honestas por seu
objetivo, segundo os critérios dados por Santo Tomás, aos que já fizemos referência, e que é nossa
referência segura sobre.o tema, e que então sejam legítimas corno expressão de urna alegria cristã...
Porém a isso deve ser acrescentado também, se compreendemos tudo o que foi dito até agora,
circunstâncias "boas''.no sentido moral do tcnno. Para que a dança seja honesta e lícita, é necessário
que, sendo expressão de uma sã alegria da alma, seus movimentos sejam ordenados de acordo com a
reta razão, com ai1e, harmonia e conforme o que buscam exteriorizar, afastada toda a sensualidade,
indecência. atrevimento ou liberdade de gestos, giros e/ou atitudes que possam levar à lascívia.
Devem ser danças decentes. isto é, diz S. Afonso, "sem que rnediern atos, posturas, movimentos ou
contatos contrários à pureza·· [77].
Assim fica excluído como danças honestas a dança abraçada, que põe em contato os corpos ( em
particular os peitos) dos dançarinos, pelo perigo próximo de sensualidade em que se colocam os
participantes...
A estas "qualidades objetivas'' devem somar-se:
l) o motivo honesto dos que concorrem e dançam: um casamento, uma festa familiar etc... ;
2) lugar decente: casa particular, ou lugar aberto (por exemplo. como são as danças em praças
públicas por motivos de festas patronais) e não público (pelos perigos que implicam se são fechados,
cslreitos, e além da índole dos assistentes, aglomeração etc.);
3) na presença de pessoas mais velhas, respeitáveis, de costumes honestos;
4) com pessoas decentes, ou seja, virtuosas e que saibam conduzir-se conforme os costumes
católicos em tais circunstâncias;
5 J por pouco tempo (78] e em horários convenientes;
6 J com vestimenta cristã;
7) com retidão de intenção; ou seja, com a única finalidade de divertir-se por um momento
h0nestamente...
Estas qualidades encaixam-se perfeitamente nesses bailes regionais ou danças populares,
expressão de arte rítmica, de agilidade e destreza, que haviam nos povoados, festas cívicas ou
patronais, e até com a presença do pároco.
Eram, entre outros da mesma índole, as danças e os b' iles folclóricos da Espanha e da América
Latina que aconteciam durante a época colonial [79] e até tempos mais próximos. as danças "criollas''
que aconteciam no interior do nosso país [80) e que, atualmente são consideradas como relíquias de
costumes de um passado que não se deseja recuperar.
69
Nada pode ofender a moral cristã a respeito de tais costumes, e talvez alguém se pergunte se, tora
desses tipos de danças, hoje poderia dar-se o título de "honesto" e por conseqüência, "lícito" a alguma
das danças que os jovens atuais usam em suas festas ou entretenimentos. A resposta é clara: se há a
possibilidade de aplicar ao mesmo tempo todas as condições e circunstâncias descritas acima. pode
se praticá-las, salvo proibição para aquelas que, ainda que todas as normas tenham sido cumpridas, as
referidas danças sejam uma ocasião pessoal de pecado por motivos subjetivos.
***
Notas
[ 1] É bom recordar aqui o que era ensinado aos bispos do mundo inteiro em uma carta da Sagrada
Congregação do Concílio no ano de 1954: "Ninguém desconhece, com efeito, como, principalmente
durante o período de verão. em qualquer lugar que seja, contemplam-se espetáculos que não podem
deixar de ofender a vista e o espírito de quem não renunciou à viitude cristã e ao humano pudor. Não
só nas praias e nos lugares de veraneio, mas também em quase toda a parte, nas ruas das cidades,
privada e publicamente, e, com freqüência, mesmo também nas igrejas, generalizou-se um vestuário
indigno e desavergonhado, que põe a juventude - facilmente inclinada ao vício - em gravíssimo
perigo de perder sua inocência. máximo ornamento e o mais precioso de sua alma e de seu c01po. O
ornamento feminino, se ornamento pode chamar-se, e os vestidos femininos, 'se vestidos podem
chamar-se quando nada apresentam que possam defender o corpo nem mesmo o próprio pudor' (a),
freqüentemente são de tal feitio que mais parecem servir à desonestidade que ao pudor.
A isso soma-se que toda malícia e desonestidade. privada e pública, é apregoada descaradamente
nos periódicos, revistas e folhetos ou onde há mais al1uência d� gente, oferecendo-lhes de fonna
animada e colorida nas telas dos cinemas, de maneira que já não só a incauta e débil juventude, mas
até mesmo os de idade provecta, sentem-se empolgados pelas mais insanas solicitações. Ninguém
ignora como, de tudo isso, derivam grandes males, com seus subseqüentes perigos, para a moralidade
pública.
Surge. pois, a necessidade de que não somente se recomende a todos corno algo bom a beleza do
pudor apresentada em sua luz própria. mas também se reprima e. até mesmo. proíbam-se, na medida
do possível, os atrativos e excitações dos vícios; e finalmente que todos retomem à devida severidade
de costumes, porque. como disse o máximo orador romano: 'Com freqüencia vemos serem vencidos
no pudor, àqueles que nenhum argumento pudera vencer' (b). Todos compreendem bem como nos
achamos diante de mn problema gravíssimo, do qual depende não só, e principalmente, a virtude
cristã, como também a saúde mesma do corpo, e, ainda, o vigor e fortaleza da sociedade humana.
Razão teve o antigo poeta ao dizer: 'Princípio do pecado é já quando os corpos se apresentam
publicamente desnudos.' (e); por tudo isto, este assunto, como facilmente se vê. diz respeito não
somente à Tgrcja, senão também aos que governam a sociedade, pois todos devem desejar que não se
debilitem nem se rompam as forças corporais 011 as defesas da vinude. E, principalmeme a vós, aos
que o Espírito Santo colocou para reger a Igreja de Deus. considerareis isto com a máxima atenção,
c11ida11do e promovendo tudo aquilo que possa contribuir p&ra a melhor defesa do pudor e para a
melhoria dos costumes cristãos: 'Pois todos somos templos de Deus porque se nos infundiu o Espírito
Santo que nos consagrou. o vigilante e reitor deste templo é o pudor, que não deverá pennitir que nele
penetre nada de impuro ou profano, para que não seja ofendido aquele Deus que aí habita e, então.
abandone a sua morada.' (d) Pois então, rodos compreendem bem como, pelo modo atual de vestir-se.
especialmente entre as mulheres e as jovens, faz-se grave ofensa à modéstia que 'é companheira do
pudor e cuja companhia é a melhor defesa da castidade'( e). Por tudo isso é de necessidade absoluta o
avisar e cxo1tar da melhor forma possível a todas as classes de pessoas, mas, singularmente, à
juventude, para que cuidem de evitar os pe1igos de tantas ruínas que, por sua total oposição à virtude
cristã e à humana, podem pô-las em gravíssimo perigo.
Quão belo é o pudor, a mais brilhante pérola dos costumes! Razão é, portanto. para que não seja
ofendida nem violada por fáceis lisonjeios e atrativos dos vícios que nascem daquelas maneiras de
vestir ou de outras açõcs,já referidas. e que os homens de bem não podem mais que lamentar.··
a) Sêneca, De ben. VTI; b) Cícero, Tuscf.. li. 21: c I Ênio. apud Cícero, Tusc.. TV, 33; d) Tertuliano,
De C11/t11 Fem., II, 1; e) S. Ambrósio, De Of .. 1. 20
[2) Alocução ao Primeiro Congresso Internacional de Alta Costura, de 8 de novembro de 1957.
[3J Idem nota anterior.
[4) ldcm nota antcrior.
[5) ldem nota anterior.
[6) ·'Et qua! pulamos ignobiliom membra esse corporis, his honorem ab111ulatiore111
circu11damus... llones/a autem ,wslra 11111/ius egent" ( 1 Cor. XII, 23-24).
[7) Cfr. Merkelhach, B. (O.P.) em ··Q11(.Cs/ione.1· de Cas/itate et Luxuria", edição 4". ano 1936,
cdit. La Pensée Ca!holique. Bélgica, p. 71; Priimmer, em "Manuale Theologia: Moralis. t. II. n" 691,
p. 534. ed. He11ier, ano 1961; Noldin em seu complemento "De Sexto Pra:cepto et Us111\1atrimonii" à
··srnnma Theo/ogil!' 1vlom/is", nº 48. p. 50, ecl. Oeniponte (Pustet), ano 1907, ed. 9", Ratisbona;
Loiano S. (O.M.C.), em "!nstituliunes TheulogirR Mora/is ad normam luris Ca11011ici", vol. V, n" 127,
p. 147, cd. Marietti. ano 1952. etc.
[8) Dizem-se desonestas não sec1111d11m se, porque nada do que foi criado por Deus é desonesto.
scniio porque como objeto de abraço, toques, beijos t:lou olhares, ordinariamente tenninam. pela sua
própria natureza. em atos desonestos(" Termi11arc 11ct11s dcshonestos nata! s1111t")
[9] Pastoral de 21 de julho de 1951. citada p.::lo PadrcBlanco Piiián em "Alegrai-vos no Senhor -
a Igreja e os costumes e diversôcs modernas", ed. Fax, Madri, ano 1957, p. 223.
[ 1 O) Em francês "maiõ" significa traje de banho, mas cm português, a palavra é utilizada corno
traje de banho de uma só peça e que na época começava a utilizar-se, em que, assinalando o contorno
das formas cio corpo, deixava também descobertas as pernas, os braços. as costas. parte do peito...
[11) Citada pelo PadrcPiii.án, o. e., p. 222.
[ 12] Alocução à Juventude Feminina da Ação Católica, de 22 de maio de 1941, citada cm ··o
Problema <.la Mulher. Ensinamentos Pontiticios", ed. Paulinas, Bs. Aires, n"60, p. 54.
[ 13 J Publicado na Revista Triterio·· n" 285. p. 473 nota.
[ 14] Por suposto que não é lícito nem mesmo nesta circunstância tomar banho de sol
completamente desnudo.
[ 15) "Alocução ao Primeiro Congresso Internacional de Alta Costura", de 8 de novembro de
1957.
[ 16) E mais..., segundo um artigo publicado em um jornal de Buenos Aires, em que se conta a
organização de festas dL1rante todo o fim de semana. Com o título "Siga a festa... até qualquer hora...
maratonas de música eletrônica que se organizam em casas de campo e discotecas para dançar de
dia", o jornal "La Nación". do dia 3 de março de 2003. informa a respeito dos chamados "afier
hours ... onde o pôr <.lo sol .1ão determina o fim da festa, em que nada parece ser suficiente, e agora
.
alguns se estendem até às 21 :00 h.... . Vale a pena transcrever algumas das declarações transcritas
pelo mesmo jornal. Uma mulher. de trinta e cinco anos de idade, diz: "De segunda a sexta-feira tenho
urna vida supcrnorrnal. Trabalho de recepcionista e vivo com meus pais. Mas, os fins de semana são
para mim de um desfruto total''... Um jovem. por sua vez, afirma:" ... para muita gente isto é uma
festa. E não ponha o meu nome, pois minha mãe pensa que estou jogando uma partida de futebol em
.
um clube campestre.... Um estudante assinala que '"aqui cada um está em seu mundo... a mim me
encanta esta agitação. [sic) de dançar até qualquer hora.", e outra mulher diz: "Ontem me levantei às
6:00 h. Trabalhei o dia todo: à noite, fui dançar e depois fui a uma reunião... Como agüento? Isso não
se pergunta"... Curiosamente, e como por casualidade, na mesma página, o jornal traz um artigo sobre
:1 substituição-por razões de custo-da droga "extasis". que invadiu as festas de dança na década de
90, por outro alucinógeno que se vende nas lojas vete1inárias. Ali se fala de "a droga do desenfreio e a
dança sem fim... que tem as propriedades de um anestésico, com a diferença de que a pessoa continua
desperta [sie]. Os rapazes e as moças dançam. mas não sentem o corpo. E se alguém os golpeia 011 os
toca, não o percebem. porque a droga anula uma das defesas nan1rais do organismo"... "'O efeito que
provoca é definido por seus consumidores - assinala o artigo - como de separação do corpo e da
mente. Não é droga de marginais e no último ano houve um aumento considerável de consulws por
consumo de ketamina (é o nome da droga)". A notícia conclui que "segundo um estudo da Food anel
Drug Administration dos Estados Unidos. o uso prolongado de Ketamina pode provocar delírio,
,1mnésia. deterioramento da função motora e problemas respiratórios potencialmente mortais".
[ 17) Ed. Livraria Católica Ação, Buenos Aires, 1959, n" 53, pg. 94.
[ 18) Em seu ·'Dicionário de Teologia Moral. editorial Liturgia espanhola", Barcelona. 1960,
7J
verbete "O baile".
[19] Outras definições desta "ação humana" têm sido dadas, entre elas transcrevemos as
seguintes: ..A dança vem a ser um conjunto de movimentos compassados, posturas, gestos e
atitudes..., sendo o essencial o movimento do corpo e como fundamento certa intensidade de afetos
anímicos que não podem expressar-se suficientemente com toda a linguagem" (PadreRufino
Villalobos Bote, em "Es pecado bailar? No es pecado bailar?" ed. Difusora Dei Libro, Madrid, pg. 23-
24); "Uma sucessão de saltos e passos regrados por uma cadência" (Littré, cit. por Villalobos Bote, 1.
e.), "O baile é um movimento do corpo que se faz, segundo uma cadência ordinariamente ao som de
instrumentos ( PadreGuerin, eit. por Villalobos Bote, 1. e.).
[20]Vicente Hemández, em "EI Baile", ed. Studium, Madri, ano 1961, pág. 14.
[21] Entre outros, o de Maria (Ex. XV, 20), o da filha de Jefté (Jud. XII, 34), e o da mesma Judit
(Jud. XV, 15)
[22] Ex. XXXII, 15 e ss.; Me. VI, 17-29.
[23] Card. Roberti, l .e.
[24] Ecli. IX,4.
[25]Jó,XXI, 12-13.
[26] Encíclica "Sacra propediem" de 6 de janeiro de 1921, em "encíclicas Pontifícias", ed.
Guadalupe, t. l, pág. 975.
[27] S.T. II-II, q.168, a. 1.
[28] S.T. 11-11, q. 160, a. 2
[29]. Is. III, 16: "Et dixit Domim,s: pro eo quod elevafae suntfilice Sio,1, et ambulavenmf exfenfo
collo, ef nutib11s oculorum ibam, ef palaudeballf, ambulabant pedibus suis, ef composifo gradu
i11cedebm11" ("E disse o Senhor: Pois que as filhas de Sião se elevaram, e andaram com a cabeça
emproada, lançando olhares [desavergonhados], caminhando [afetadamente] a passo miúdo, e
caminhavam dançando fazendo ruídos com os pés").
[30) "quceritur de ludis clwrealibus, ufrum sine peccato exerceri possi11f. propter illud quod
dicit, ef plaudebanf: arguir enim tamquam peccarum".
[31] ln Is. III. cap. 3: "... Ad quod quidem dicendum. quod ludus secimdum se 11011 esf malus:
alirer enim in ludis 1w11 esse/ virtz1.1· q11ce dic:itur eu/rape/ia: sed secund11m quod ordinatur diverso
.fi11e, et vesfif11r diversis circumstantiis. potes/ esse act11s virhtfis et 1•itii. Q11ia e11im impossibile est
semper agere in vila activa et contemplativa; ideo oportet interdum gaudia curis i11terpo11ere. 11e
animus nimia severifatefranga1111; er ut postmodwn homo promptius vacet ad virtutum opera. Er si
tali.finejiat de ludis cum nliis circumstnntiis, erif actus virtutis. et pnterit esse merilorius, si grafia
i11/ór111etz1r. l�tre aurem circ111nstantire i·idetur in ludo choreali observandre prrecipue: ut mm sil
persona indecens. sirnt clericus, vel religios11s: ui sit tempore hetitice, 11! liberatio11is grafia, vel in
nuptiis, er hujusmodi: utfiat cum honestis personis, et cum honesto cantu; et quod gestus 11011 si11t
nimis lascivi, et si q11a hujusmodi sunt. Si autem fiat ad provoca11d11m lasciviam. et secundum alias
circumslantias indebitas. co11stat quod actus vitiosus erit'".
[32) S.T. II-II. q. 168, a. l ad l .
[33) Encíclica "Sacra Propediem'", de 6 de janeiro de 1921. publicada em "Encíclicas
Pontificias... ed. Guadalupe Bs.Aires, t. 1, pág. 975.
.
[34] Encíclica ''Übi Arcano", de 23 de dezembro de 1922, cm "Encíclicas... ", t. 1, pág. 1005.
[35] Entre outros, ver: "Discurso aos recém-casados". de 24 de junho ele l 940. ''Alocução às
mulheres italianas", de 21 de outubro de 1945; "Alocução à União de mulheres católicas··. de 24 de
junho de 1949...
[36] Não podemos aqui descrever as características das danças cujos nomes colocamos em
seguida, mas podemos caracterizá-las de um modo geral dizendo que são os antepassados "mais ou
menos próx.imos do <rock>".
[37) Entre outros documentos do Magistério que explicitamente condenam o •'tango'",
transcrevemos o de D. Chollet,Arcebispo de Cambrai na Semana religiosa da Diocese de 20 de março
de 1920: "O tango, o fox-trot e outras danças análogas são diversões imorais por sua própria natureza.
Estão proibidos pela própria consciência em toda parte e sempre, anteriormente a quaisquer
condenações episcopais e independentemente delas. Semelhantes condenações agregam somente
uma nova obrigação de não praticá-las. Sendo estas danças imorais por sua própria natureza, são
72
também proibidas quando por um subterfúgio se conservam nelas as figuras e trocam somente o
nome". (cit. por Vicente Hernández, o.e., p. 58).
[38] O tenno ..rock and rol!", que identifica um novo ritmo de música e de dança, foi inventado
por um "disc-jockey" de Cleveland (E.U.A.), mas o que a maioria ignora é que esta expressão
descreve os movimentos do corpo durante as relações sexuais" (PadreJean-Paul Régimbal, em seu
artigo "O Rock'nd Roll" publicado na revista Verbo da Argentina, nº 246, setembro de 1984, pág. 65 e
seg.).
[39] Cf. também, PadreVicente Hemández, em o.e., pág. 80.
[40] Cf. Vicente Hemández, o.e., pág. 91.
[41] Citado por Rufino Villalobos Bote, em o.e.. pág. 150-151.
[42] Em suas "Qua:stionespastorales, ", II, b, cit. por Vicente Hernández em o.e., pág. 93, nota
68.
[43] Em "Summa TheologiU' Mora/is"'. t. 3. n. 421, pág. 437, ed. Herder, ano 1951.
[44] Em "Compendium Theologice Mora/is", ed. Subirana, Barcelona, ano 191 O, t. 1, nº 242,
pág. 184.
[45] Idem nota anterior.
[46] Entre outros, cfr.: Santo Afonso Maria de Ligório em "T.M. lib. 3. n. 423: Noldin, em "De
sexto Prrecepto" (ed. Pustct. Roma, ano 1907), n. 51 e ss.; Priimmer. o.e. t. 2, n. 694; Zalba,
'ºTheologüe ;\fora/is Summa", ed. Bac, Mad1i, ano 1957, n. 461 e.; etc.
[47] Santo Afonso, o. c.,Lib. 3. n. 415.
[48] ln Is. TTI, cap. 3.
[49] '"lntroduçào à Vida Devota, edições Dictio, Bs. Aires. ano 1980. cap. XXXIX, pág. 251.
[50] Idem nota anterior.
[51] Concílio Plenário Limense da América Latina, aprovado por Leão XIII em 1/1/1900:
"799... Reprovamos as coletas de esmolas, que com o nome ele Bailes de caridade, autorizam um vício
contrário à verdadeira caridade, a qual é mãe e tutora da honestidade de costumes e da moderação
cristã, e de nenhuma maneira da mundana dissolução.. .''
[52] Idem nota anterior: "758. Reprovamos o abandono dos pais, que, concedendo a seus filhos
,ibsoluta liberdade no trato com pessoas de sexo diferente, não protegem bastante a sua pureza contra
os perigos que a rodeiam, não evitam os namoros precoces, e não robustecem nem fomentam em seus
corações o amor à castidade. Por isso, declaramos dignos de igual reprovação aos promotores e
fautores dos bailes infantis, e gravissimamcnte encarecemos no Senhor aos pais, que não exponham
seus filhos a tamanhos perigos, ainda que para buscar desculpas para os pecados. apresentem não
poucos pretextos, com aparência de honestidade".
[ 53] Incluímos neste conceito de "bailes modernos''. lodos os descritos em nossa exposição até
Jgora.
[54] Tdem nota anterior. "759. Condenamos terminantemente... , os bailes e espetáculos
desonestos, pouco honestos ou perigosos. e declaramos que se desviam do caminho da salvação, os
pais que, seja com seu exemplo, seja com sua negligência em repreender a seus filhos. ou em afastá
los eficazmente destes perigos, se tornam cúmplices e fautores de tamanhas iniqüidades".
[55] Transcrevemos aqui parte de um trabalho - já antigo e superado do Padre.!. P. Regimbal
(OSST) sobre os efeitos fisicos e morais da música rock:
"a)As conseqüências fisicas: numerosos estudos têm sido empreendidos para avaliar os diversos
efeitos da música rock como graves traumatismos de ouvidos, vista. coluna vertebral, sistema
endócrino e sistema nervoso dos ouvintes assíduos deste tipo de música. Bob Larson e uma equipe
médica de Clevcland revelaram vários sistemas convincentes cm mais de duzentos pacientes: Temos
mostrado que esta música pode ter como efeitos conseqüências fisicas assombrosas: mudanças na
pulsação e na respiração. secreção acrescentada das glàndulas endócrinas, cm particular a glàndula
pituitária que regula os processos vitais no organismo. Quando a música aumenta a laringe se contrai,
quando abaixa se distende. O metabolismo de base e a porcentagem de açúcar no sangue se modifica
ao longo da audição. Pode-se então pensar em "jogar" sobre o organismo humano como se toca um
instrumento musical, e de fato ce1tos compositores de música se propuseram manipular o cérebro
provocando um curto circuito nas faculdades conscientes tal como faz a droga. O ritmo predominante
do rock e do pop condiciona primeiro o corpo e depois estimula certas funções hormonais do sistema
73
endócrino. Estes efeitos aumentam com a intensidade da música. Além dos 80 decibéis o efeito é
desagradável, além dos 90 se toma prejudicial. Ora, nos concertos rock tem sido medido de 106 a 108
decibéis no centro do salão e cerca de 120 pe110 da orquestra: os especialistas também descobrem nos
jovens problemas de audição próprios dos adultos com mais de cinqiienta anos, assim como um
aumento inquietante das doenças cardiovasculares ou problemas de equilíbrio. Nos problemas
visuais a intensidade de iluminação especial e a utilização de raios laser têm produzido danos
irreversíveis nos olhos de alguns pa11icipantes.'" O professor Paul Zenier, da Universidade de Pmdue,
explica: "...certas discotecas estão equipadas com efeitos laser.
Se o raio penetra no olho pode produzir uma queimadura na retina com formação de uma mancha
cega e pennanente. Além disso, os raios de luz animada que aparecem ao ritmo da música, produzem
vertigens, náuseas e fenômenos alucinantes".
Autoridades sérias têm denunciado isto, em particular o fez o governo britânico. que mandou
publicar uma advertência em um folheto de segurança em meios escolares.
O célebre músico terapeuta Adam Knieste. no informe de um estudo realizado durante dez anos
sobre os efeitos da música rock, escreveu: "O problema central causado pela música rock nos
pacientes que eu tenho tratado, deriva claramente da intensidade do mido, o qual provoca a
hostilidade,esgotamento, narcisismo, pânico, indigestão, hipertensão... O rock não é um passatempo
inofensivo; é urna droga mais mortal que a heroína e que envenena a vida de nossos jovens". No plano
sexual, a equipe médica de Bob Larson afinnava categoricamente: "As vibrações de baixa
freqüência, devidas à amplificação da guitarra baixo, às quais se agrega o efeito repetitivo do beat,
produzem um efeito considerável sobre o líquido cérebro-espinhal.
Por sua vez, este líquido afeta diretamente a glàndula pituitária que regula a secreção de
hormônios. O resultado global é um desequilíbrio dos hormônios sexuais e suprarenais, assim como
wna mudança radical da taxa de insulina no sangue, de maneira que as diversas funções de controle
das inibições morais caem abaixo do tolerável ou estão completamente neutralizadas.
b) As conseqüencias psicológicas: Se tão graves são os efeitos fisiológicos, os efeitos
psicológicos o são mais ainda. Não há quem se submeta impunemente durante um tempo prolongado
à influência despersonalizadora do rock, que não sofra traumatismos psicológicos afetivos
profundos. Basta-nos enumerar dez que se repetem quase sempre nas análises médicas e psiquiátricas
dos doutores Mac Rafe11y, Gramby Bline, Bamard Sai bel, \Valter Woight, assim como Frank Garlok,
Tom Allen e outros em diversos trabalhos: 1) Modificação das reações emotivas que vão da frustração
à violência incontrolável; 2) Perda de controle, tanto consciente como reflexo, das capacidades de
concentração; 3) Diminuição considerável do controle da vontade sobre impulsos do subconsciente;
4) Superexcitação neuro-sensorial que produz histeria. euforia, sugestividade e inclusive alucinação;
5) Transtornos sérios da memória, das funções cerebrais e da coordenação neuro-muscular; 6) Estado
hipnótico ou cataléptico que conve11e a pessoa em uma espécie de zumbi ou robõ: 7) Estado
depressivo que vai desde a neurose até a psicose, sobretudo quando se combinam música e droga; 8)
Tendências suicidas e homicidas aumentadas com a audição quotidiana e prolongada da música rock;
9) Automutilaçiío, autoimolação e autocastigo, sobretudo nas grandes concentrações; 1 O) Impulsos
irresistíveis de destruição, de vandalismo e de levantes de descontentes, depois de concer1os e
festivais de rock'".
[56] Não faz muito tempo, um governador da Província de Buenos Aires, Argentina, decretou a
obrigatoriedade de se fecharem os lugares de dança às 3:30 h da madrugada. A medida gerou tal
oposição pública que deveu deixar-se sem efeito o decreto correspondente, voltando ao hor{U"io
habitual de fechamento às 6:00 h da manhã.
[57] Conf. S. T. I-ll, q. 18. a.4ad 1.
[58]S.T. I-II,q. 18,a.4ad3.
[59] Tg. li, 10: "quicumque autem toram Legem servaverit, ojfendat autem i11 uno, factus est
omnium reus··.
[60]S.T. 11-Ilq.121,a. l .
[6 1] Jn. XIV, 21: "Quem recebe os meus mandamentos, e o s observa, esse é o que m e ama".
[62] Ver nosso artigo sobre o noivado, onde falamos do tema de ser "tradicionalista" como uma
condição para ambos os noivos na extraordinária circunstància da crise an1al da Igreja.
[63]Lc.XXIII, 18-21.
74
[64]"Teologia Moral para seculares, do PadreRoyo Marin (OP), t.I,n.45, p.49 (Ed.BAC).
[65] Usando as palavras de Santo Tomás: "a ignorância invencível é aquela que não pode
superar-se por nosso próprio esforço" (studio superari non potest).
[66]Idem nota anterior,n.46,p.51.
[67]S.T.I-II,q.76,a.2.
[68]Idem nota anterior.
[69]S.T.I-II,q.19,a.6.
[70] "Prática do confessor" pg. 51, ed. E! Perpétuo Socorro, Madri. Ver também sua Teologia
Moral L.VI,nº 610 e 611.
[71]S.T.II-II,q.168,a. 4.
[72]S. T.II-II,q.168,a.2.
[73]S.T.II-II,q.168,a.3.
[74]S.T.II-II,q.168,a.2.
[75]S.T.II-II,q.168,a.3.
[76]F. A. Vuillermet (OP), o.e.,pág. 40.
[77]"Theologire Mora/is", L.3,n.429.
[78]"À vida é suficiente pouca recreação" ensina Santo Tomás (S.T. II-li, q. 168,a.4).Ver o que
dissemos sobre a diversão.
[79] Ainda que não todos, porque alguns, como o "fandango" provocaram a proibição explícita
"que pessoa alguma de qualquer dignidade, caráter, qualidade ou condição que seja possa acorrer a
semelhantes danças em casas particulares", sob pena de excomunhão maior para todos, além de
severíssimas multas e até prisão (Decreto do bispo de Buenos Aires, datado do dia 30 de junho de
1746).
[80]Na Argentina,país de origem do autor do presente artigo (N.T.).
Porque muitos padres não usam mais falar contra a imodéstia das modas, muitas pessoas,
sobretudo as mais novas, ficam pensando que as exigências da modéstia são invenções dos padres
tradicionalistas. Por isso, quero tratar deste assunto baseado na Sagrada Escritura, que é a palavra de
Deus.
1 - Deus Criou Adão e Eva no estado de inocência, sem a concupiscência, isto é, sem o
desregramento das paixões.Daí, antes do pecado, Adão e Eva estavam nus e não se envergonhavam.
Confira a Bíblia Sagrada: Gen. II, 25. E eles conversam familiannente com Deus. Mas a partir do
momento em que pecaram, perderam a inocência, começaram a ter maldade, e então tiveram
vergonha em se verem nus, e coseram folhas de figueira e fizeram para si cinturas. É o que se lê na
Sagrada Escritura cm Gcn. III, 7. Foi o que eles puderam conseguir naquele momento após o pecado.
Vias embora assim cobertos na cintura, se julgaram ainda nus, tiveram vergonha e se esconderam de
Deus. Confira a Bíblia Sagrada: Gen. Ili, 9 e I O. E notai que o próprio Deus não achou também
suficiente esta veste sumária. Eis o que diz a Bíblia em Gen. III, 21: "Fez também o Senhor Deus a
;\dão e à sua mulher umas túnicas de peles e os vestiu". ,
2- Consideremos bem isto, porque é uma ação do próprio Deus. Quem ousará contestá-la?' Se
veste fosse assim algo secundário, Deus teria deixado a critério de Adão e Eva. Considere-se,
primeiramente, que Deus os vestiu assim com modéstia, embora fossem esposos e os únicos que
existiam até então sobre a terra. Neste particular entende-se a palavra de S. Paulo que recomenda a
modéstia "porque Deus está perto".
Confira Filipenses IV, 5. A pessoa deve se vestir com modéstia não só na igreja, mas em toda
parte.É claro que na igreja exigir-se-ão modéstia e decoro ainda maiores.São Paulo diz:
"Do mesmo modo orem também as mulheres em trajes honestos, vestindo-se com modéstia
75
e sobriedade"'. Confira I Timóteo, IL 9. Considere-se também que Deus vestiu nossos primeiros pais
com túnicas. A túnica. por sua própria natureza. é uma veste que satisfaz as exigências da modéstia,
porque oculta intciramentc o corpo não só enquanto o cobre, mas também enquanto não deixa
transparecer a sua forma.
3 - Era também exigido por Deus a diferenciação entre o modo de se vestir dos homens e das
mulhercs; tanto assim que Deus considera abominável a mulher que se veste de homem e vice-versa.
É o que diz a Bíblia Sagrada em Deuteronômio, XXII, 5.
Vê-se, po1tanto, que as vestes unisscx são condenadas por Deus na Sagrada Escritura. E a
própria ordem natural exige que as diferenças entre os sexos sejam manifestadas de maneira digna e
honesta, pelo modo diferente de vestir adequado a cada sexo. Entre o povo fiel a Deus, procurando
obedecer ao Seu preceito, desde os primeiros tempos, procurou-se um feitio de túnica para cada sexo,
além elas vestes complementares que davam naturalmente uma diferenciação maior. Há, no entanto,
testemunhos de que os pagãos não obedeciam a estas nonnas. Não conheciam o verdadeiro Deus e a
sua Lei. Os sacerdotes da Antiga Lei também usavam túnicas cujo modelo era bem diferente e foi
indicado pelo próprio Deus. Co�fira Exodo. XXVIII. 31.
Nosso Senhor Jesus Cristo também se cobria com túnica. Confira S. João, XIX. 23. Há muitas
outras passagens do Antigo e do Novo Testamentos que mostra ser a túnica usada entre o povo. Por
exemplo: Gen. X:.XXVtl, 32: S. Mateus. V:Atos. IX, 39. etc.·
4 -Alguém dirá que estas vestes tiveram que ser trocadas por outras diante das novas exigências
da sociedade. Até concedemos que assim possa ser, mas desde que se respeitem os dois princípios
determinados por Deus na Sagrada Escritura, através do exemplo dado em rei.ação a Adão e Eva e do
preceito do Deuteronômio, XXIT, 5 ou seja:
1 º- que a roupa cubra n;almentc o corpo e não envolva nenhuma indecência que venha trazer
escândalo para o próximo;
2"- que não haja travestimcnto. isto é, que a mulher não se vista de homem e vice-versa.
5 -Além da -primeira razüo da decência pnra as vestes(= a presença de.D.cus cm toda parte, a
concupiscêni:;ia própria e a vergonha natural depois cio pecado original), há também uma outra razão
que diz respeito ao próximo. Como depois do pecado original passou a existir no homem a
concupisccncia da carne, cios olhos pelos quais entram no coração os maus desejos. a lascívia, os
adultérios etc., as vestes cobrindo direito o corpo se tomam necessárias também em relação ao
próximo, ou seja, para se evitar o cscàndalo, isto é, tropeço que leva as pessoas a cair no pecado. E
neste panicular, indecente e condenável é não só a veste que não cubra bem o corpo, mas também
quando deixa transparecer a fomrn do corpo, ou cm razão de seu próprio feitio ou por ser ajustado.
Roupa muito ajustada só pode ter uma razão de ser: a maldade. Jesus Cristo deixou os princípios, os
avisos, as regras da moral pelos quais os homens de todos os séculos devem guiar o seu modo de
proceder. Segundo diz a Sagrada Escritura na Epístola aos Hebreus, XXII. 8 e 9: "Jesus Cristo é
sempre o mesmo, ontem e hoje, e por todos os séculos". E, por outro lado, os homens. quanto,\
concupiscência, sào também sempre os mesmos. Daí não pode ninguém dizer que os l<:mpos
mudaram e por isso as advertências de Jesus nào tem mais valor hoje. Consideremos, então, algumas
destas advertências. Jesus falou contra os esdndalos, isto é, as seduções que levam os outros ao
pecado: Disse Jesus: "Ai cio mundo por causa dos escândalos; porque é inevitável que sucedam
escàndalos; mas ai daquele por quem vem o escândalo!".
Confira S. Mateus, XVIII, 7-9. Jesus advertiu igualmente: "Quem olhar para uma mulher
desejando-a,já cometeu adultério com ela no seu coração''. Confira S. Mateus, V, 28. Agora, quem é
que não reconhece que uma pessoa vestida menos decentemente é causa destes maus desejos e
adultérios contra os quais fala Jesus acima') Quem não for fraco neste ponto atire a primeira pedra.
6 -- Alguém poderá dizer que não vê e não sente maldade alguma em usar tal veste. Pode até ser
verdade agora. porque já se acostumou no mal e adquiriu o mau hábito. Mas considere: 1 º- que roda
pessoa é culpada quando não procura eliminar o mau hábito, 2"- que é preciso olhar também o
próximo. Donde. se a veste não é inteiramente decente, cu tenho obrigaçiío de evitá-la para niio
escandalizar talvez o próximo e incorrer assim na censura de Jesus: "Ai daquele por quem vem o
escândalo". E veja bem que a Sagrada Escritura manda evitar até uma coisa que de si não seria
condenável. mas que fosse motivo de escândalo para o innào fraco por quem morreu Jesus. Confira I
Coríntios, VIII, 13.
76
7- E há também o escàndalo das crianças que se sentem tentadas a imitar as mais velhas e assim
vão perdendo o recato, o pudor e a pureza já desde pequenas. Jesus advertiu: "É melhor uma pessoa
amarrar urna pedra de moinho ao pescoço e se lançar no fundo do mar, do que escandalizar uma
criança". Coníira S. Mateus. XVIII, 6. Já imaginaram as contas que darão a Deus as mães que dão este
mau exemplo às suas filhas!!! Os pais procurem. pois, seguir o conselho que a Bíblia Sagrada lhes dá
em relação aos filhos: ..Tens filhos? Ensina-os bem. e acostuma-os à sujeição desde a sua infància.
Tens filhas'! Conserva a pureza de seus corpos". Confira Eclesiástico VII, 25 e 26.
Quantas mães. no entanto, desculpam seus filhos dizendo que são jovens e devem aproveitar a
mocidade. Estas ouçam o que diz a Sagrada Escritura: --Regozija-te. pois. ó jovem na tua mocidade, e
viva em alegria o teu coração na ílor de teus anos, segue as inclinações de teu coração e o que agrada
aos teus olhos, mas sabe que Deus te chamará a dar contas de todas estas coisas". Confim Eclesiastes.
XI, 9 e I O. Meditem, outrossim. nos elogios que a Bíblia faz à castidade e pureza: "Oh! Quão fom1osa
é a geração pura com o seu brilho' ... Coníira Sab. IV. 1. ''Graça sobre graça é a mulher santa e cheia de
pudor. Todo preço é nada em comparação ele uma alma que pratica a castidade''. Confira Eclesiástico,
XXVI. 19 e 20.
8 - CONCLUSÃO: A Sagrada Escritura e a Tradição são as duas bases sólidas sobre as quais se
funda a Igreja de Nosso Jesus Crisro. Se alguém não as aceita, então se baseará em que? No seu modo
de pensar? Nas máximas do mundo·? Mas quem age assim não é de Jesus Cristo.
Nossa Senhora do Rosário de Fátima. convertei os pecadores!
2• objrção: Estr negócio de vestes é relativo. Hoje, vestes que antes eram proibidas são
permitidas e não impressionam mais.
RESPOSTA: Diz a Bíblia Sagrada: "Os olhos não se fartam de ver". Confira Eclcsiastcs, l. K É a
concupiscência dos olhos de que faz menção o livro do profeta Ezequiel, XXII!, l 4- J 6. Esta
coneupisccncia dos olhos leva a pessoa a procurar ver sempre o pior. Assim, a veste, desde que
começa a ser menos deceme. vai provocando desejos mais perversos.
E a sensualidade, embora encontrnndo o que deseja, nunca se satisfaz. Dai. de um lado, se
compreende porque o mundo tende sempre a uma maior imodéstia nas modas.
E. por outro lado. entende-se porque a Igreja sempre lutou por uma maior modéstia nos traje�. E
antigamente exigia-se até mais que o mínimo para impedir que as vestes fossem piorando sempre
mais.
E à medida que o progressismo foi dando liberdade. a coisa foi só piorando e vai piorar mais se
todos os padres da Igreja não voltarem a combater a imodé�tia como a Igreja sempre lcz. Dizem que
tudo é natural. Mas pelos frutos se conhece a .:írvore. O que nós estamos vendo é uma sociedade cada
vez mais e1megue aos pecados da carne. É o desprezo completo pelos mandamentos de Deus, que. no
entanto, continuam e continuarão de pé. É o que diz o Salmo J 10, 8: "Todos os seus mandamentos
(Senhor) são imutáveis. confirmados cm todos os séculos. fundados na verdade e na eqüidade".
77
3" objeção: Mas é muito difícil seguir estas normas da modéstia. Impondo-as, ficará um
número muito pequeno na Igreja.
RESPOSTA: Quanto a ser difícil, nós não negamos. Jesus mesmo já dissera: ''O reino dos céus
padece violcncia e só os violemos é que o arrebatam··. Confira S. Mateus XI, 12. Quanto a ser um
número pequeno o daqueles que seguem as normas da modéstia. nós devemos primeiramente
observar que: se os padres progressistas, baseados na Sagrada Escritura e na Tradição da Igreja,
ensin,1ssem isso ( a modéstia), os fiéis se convenceriam melhor e o número seria maior, embora
0
�
continu,i;.se a ser minoria em relação aos maus. Nosso Senhor Jesus Cristo já disse:
.. L111rai pela porta estreita porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição e
muitos são os que entram por ela. Quão estreita é a porta e apertado o caminho que conduz à vida".
Confira S. João, XIV, 6. Compreende-se que o caminho do céu é estreito quando se pensa naquela
palavra de S. Paulo, na epístola aos Gálatas. V, 24: "Aqueles que são de Jesus Cristo crucificaram a
sua carne com os seus vícios e coneupisccncias".
AH istória Sagrada confinna o que acabamos de dizer sobre o pequeno número:
Quando Deus dest111iu a humanidade pelo dilúvio, só oito pessoas se encontraram fiéis a Deus e
se salvaram. O resto se entregou aos pecados da carne. Confira a Bíblia Sagrada: Gênesis, Capítulos
VI e VII. Quando Deus destluiu as cidades de Sodoma e Gomorra. só quatro pessoas se salvaram
porque só elas não l inham se contaminado pela impureza. Leia na Sagrada Escritura o capitulo XIX,
do livro de Génesis.
4" objeção: Mas Deus é pai e não vai exigir tanto sacrifício e nem vai castigar alguém por
seguir a moda.
RESPOSTA: Já vimos pela Sagrada Escritura que Deus condena a moda que não seja confonne a
decência. Vimos também na Bíblia Sagrada como Deus castigou várias vezes os homens por causa
dos pecados da carne. E S. Pedro diz que estes castigos foram para servir de exemplo àqueles que
venham viver também impiamente segundo a imunda concupiscência. Confira 2" Epístola de S.
Pedro, li, 4-1O. Vimos igualmente 1:omo aqueles que desejarem ser de Jesus Cristo têm que renunciar
a si mesmos. aos seus vício, e concupiscências. Conf. Gal. V, 24.
Porque Deus é Pai bondoso e paciente, eu não vou ofendê-lo, mas pelo contrário. devo procurar a
Sua vontade e segui-ln. "Quem me ama. disse .Jesus, guarda os meus mandamentos". ''Quem é meu
amigo procura fazer o que eu mando". Confira S. João XIV, 15 e XV. 14.
Os que querem seguir esta mentalidade progressista(= de que Deus é pai e não castiga ninguém e
por isso posso fazer o que qut:ro), ouçam o que diz a Bíblia Sagrada cm Eclesiástico, V. 2 a 9:
"Não te abandones. na tua fortaleza, aos maus desejos de teu coração; e niio digas: Como sou
poderoso! Quem poderá obrigar-me a dar-lhe conta das minhas ações'.' Porque Deus certamente se
vingará deles. Nào digas: Eu pequei e que mal me veio daí'.' Porque o Altíssimo, ainda que paciente, é
justiceiro.
Não estejas sem temor da oJ'cnsa que te foi percloacla, e não amontoes pecados sobre pecados. E
niio digas: A misericórdia cio Senhor é grande, Ele se compadecerá da multidão dos meus pecados.
Porque a sua misericórdia e a sua ira estão peno uma da outra. e Ele olha para os pecadores na sua ira;
Nào tardes cm le converter ao Senhor, e nào o difiras de dia para dia porque viriÍ de improviso a sua
ira". Confira também Rom. II, 4: '·Ou dcsprcza�tc a, riquezas da sua bondade. paciência e
longanim idade'? Ignorus que a bondade de Deus le convida à penitência?".
5" objt'ção: ]Vias, se a gente não seguir a moda, as pessoas cio mundo zombam e chamam a
gente de atrasada, cafona, etc.
RESPOSTA: Não podemos ser do mundo porque a Sagrada Escritura diz a todas as classes de
pessoas: .. Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo". Conlira L S. Jn;fo, IL 15. ()u,1n10 aú
falo ele o mundo zombar daqueles que ,egucm a ksus. isto sempre cxi�tit1. .ksu, mesmo disse: Porque
nüo sois do mundo, o mundo w,s ab,,rrcce.
··Aqueles que querem viver piamente em Jesus Cristo. sofrerão pcr$eguiçiio ". ContirJ 11 Tim. li 1,
12.
Já o, Apóstolos, pela pregação da fé, e os cristüos, por permanecerem firmes nesta fé, foram
objeto de zombarias e de toda espécie de sofrimento�. Confira Atos. XVII, 32 a 34. Hebreus, XI. 36 a
78
40, 1 Pedro IV, 4. Medite, no enrnnto. o que diz Jesus Cristo em S. Marcos VII. 38: ..No meio desta
geração adúlter.1 e pecadora. quem se envergonhar de mim e de minhas palavras. também o Filho do
1 !ornem se envergonhará dele qurmclo vier na glória de seu Pai com os santos anjos".
6" objeção: Mas a Igreja tem que seguir o progresso; se adaptar aos novos tempos; não
pode ficn parada no tempo e no espaço.
RESPOSTA: fala objeção l'az pane da doutrina modernista. hoje praticada pelos progressistas.
mas já condenada anteriormente por São Paio X.
A Igreja deve kvar os homr:ns ao progresso no bem. Isto sim. Porque Jesus reza Igreja para ser o
sal ela terra e a luz do n�undo. Para a religião ser verdadeira e ter firmeza, a quem se eleve seguir? A
Jesus ou aos homens? E claro que se deve seguir a Jesus. Eis o que diz S. Paulo: .. Porventura é aos
homens que eu pretendo agradar'' Se agradasse ainda aos homens nào seria servo de Cristo". Confira
(ia!. 1. 1 O. Diz ainda a Sagrada Escritura: ··Jesns Cristo é sempre o mesmo, ontem e hoje e o serú por
todos os séculos. Não vos deixeis levar por doutrinas várias e estranhas". Confira Hebreus XIII. 8 e 9.
Nossa Senhora revelou a Jacinta. vidente de FMima: "Aparcceriío modas que ofenderão muito o
meu divino Filho''.
***
Verdadeira riqueza
O que foi que Deus. numa eternidade de pensar. achou de dotes mag11ilicos l' lindos que dcs.,c :\
Sua Mãe? Também Lle lhe deu as qualidades mais esplêndidas do espírito e do cura,/to. C"oi,a,
pon:m, que dt.:scenclcnte algum de Ad,fo e Eva jamais recebeu. Ela ganhou jú 110 momento da
Conceição: a graça santificante e, por causa dela, inúmeras outras graças.
E o que mais Ela recebeu de Deus? Daqueles bens terrestres todos que tu terias desejado à sua
mãe: nada, absohnamcnte nada. Ela não era rica. nem recebia distinções, nacln desses gozos cio
79
mundo. Mas, por quê? Por que é que Deus não quis dar-Lhe nada desses bens? Ao pensar nisso,
deverás chegar imediatamente à conclusão: É possível que Deus se tenha simplesmente esquecido
disso; ou então Deus não tem cuidado d'Ela tão bem como deveria. Mas, então, por que não a deixou
partilhar disso?
Assim como um multimilionário apresentará à filha noiva somente adornos de ouro e diamantes
e outras jóias, não de âmbar e vidro, assim Deus dotou Sua Mãe somente com aquilo que tem
verdadeiro valor, com tesouros genuínos, incorruptíveis, mas não esses brinquedos terrestres sem
valor! Mas, então, não teria sido Maria mais feliz e respeitada se Deus Lhe tivesse dado de acréscimo
os bens terrenos?
Tão pouco mais feliz, como filha de multimilionário que recebesse ainda caixas e caixas de jóias
falsificadas.
Compreendes agora em que consiste também a tua grandeza e dignidade? Não em
exterioridades, não em bens terrestres; no teu íntimo está tua grandeza, tua riqueza!
Principalmente na graça santificante, dote único com que Deus agraciou Sua Mãe quando Ela
começou a existir.
Nessas condições a bem-aventurada Virgem está diante de ti, dizendo: "Filha dos homens, não
queiras procurar tua felicidade e grandeza nos bens e prazeres mundanos! Vê, a mim Deus escolheu
para ser Sua Mãe, a Rainha do Céu e da Terra, e entretanto não tirei nenhum lucro material!".
Maternidade e pureza
Maria também explica tua tarefa neste mundo. Quando o anjo Lhe comunicou o plano divino,
Ela disse: "Eis aqui a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa palavra!". Cumprimento da
vontade divina, eis seu único programa de vida. E já não se importava mais de analisar as exigências
de Deus. Quer a elevasse a uma dignidade, quer a obrigasse a ficar junto da Cruz, Ela conhece um só
pensamento básico: Ele é o Senhor, Ele é quem manda; eu sou Sua escrava, eu é quem devo obedecer!
O conteúdo da sua vida era, então, cultivar o sentimento maternal e viver completamente
recolhida. E Ela cumpriu o dever, alegre e bem generosamente. Mas nesta vida retirada, Ela
desenvolvia uma atividade que ainda hoje, depois de quase dois mil anos, espalha bênçãos em
demonstrar precisamente às virgens que Ela não tem outra missão senão orientá-las, pelo sentimento
maternal, a fazer o bem segundo a vontade de Deus, de maneira desinteressada, pronta a sacrificar-se
caridosamente.
Também agora, elevada a Rainha do Céu, não conhece incumbência mais agradável do que,
seguindo o impulso do coração, traduzir o sentimento maternal praticamente.
E é por isso que nós a chamamos "saúde dos enfe1mos, refúgio dos pecadores, consoladora dos
aflitos, auxílio dos cristãos". Aprende d'Ela a caridade que se compadece, que oferece auxílio e
consolo. Maria se te apresenta numa forma admirabilíssima como MODELO brilhante de pureza
virginal.
Em que ponto está a moralidade dos homens? Esta pergunta equivale à outra:
Como se respeita a mulher? Imoralidade é sinônimo de depravação da mulher.
Prova disso temos na história dos povos e em cada indivíduo. Quando Cristo veio, reinava a
imoralidade mais hedionda. Pois bem, precisamente naquela época a situação da mulher era a mais
desprezível e ignominiosa possível e imaginável!
Hoje, o mesmo quadro. Lá, onde o sentimento cristão desapareceu do coração humano,
escondem-se, atrás dos modos amigáveis e obsequiosos no trato com as mulheres, tantas vezes as
tendências mais baixas, mais ordinárias. Cada moça que preza a própria honra, soltaria um grito de
pavor e correria às pressas, se pudesse, em certas ocasiões, desvendar o coração dum homem que a
trata com esquisita polidez.
Se Cristo veio para elevar a humanidade a uma vida digna, então Ele tinha primeiramente que
restituir a dignidade à mulher e insinuar nos homens o respeito perante ela. Foi por isso que Ele
apresentou sua mui bendita Mãe como modelo esplendíssimo de uma virgem e mãe. Nela o mundo
feminino devia conhecer em que consiste a própria dignidade.
Pondera o que nos ensina a fé em relação a Maria. Ela foi escolhida por Deus para ser Sua Mãe.
Ele podia formá-La como desejasse. Bens terrenos Lhe pareciam sem importância, eram
80
insigni!icantes demais para Ele. Um só bem Lhe parecia, além da graça, tão nrngnilico, tão
extremamente lindo. que não pouparia milagres para proporcioná-lo à sua Mãe: pureza imaculada.
virgindade ilibada.
Ela foi concebida sem mancha alguma de pecado. Enquanto cada mortal entra no mundo com a
mancha original. a alma de Maria surgiu puríssima da mão divina do Criador, intacta do pecado
original. E isso não Lhe bastou. Nunca ela cometeria a mínima falta. Por isso recebeu d'Ek graças
superabundantes que a preservassem de qualquer pecado. Isso ainda não Lhe bastou. Nunca uma
,ensação carnal, mesmo involuntária, deveria profanar o Seu santo corpo. Parn este fim, Ele cuidou
que tal sensação nem se levantasse n'Ela.
Pensamento feio, ordinário, nenhum incomodou jamais a Sua alma pura. Mesmo isso ainda não
Lhe bastou. Maria, ao tornar-Se Sua Mãe, devia não somente ser uma virgem puríssima. imaculada,
mas também pcnnaneccr tão pum e imaculada apesar da maternidade.
Por causa disto, Ele realizou esse milagre inaudito: Maria se fez Mãe e pem1a11eceu Virgem
intacta ...
Deus, por um milagre todo especial. preservou Maria na fase da maternidade de gozos sensuais
lícitos. Por que isso? Porque eles não alcançariam o predicado de suficientemente bons para ela. Quis.
finalmente, a Providencia que também o nascimento do Salvador tivesse o mesmo característico de
virginal como a conceição.
/1.nalogamente à saída misteriosa do sepulcro na manhã pascal, sem v10lação da chancela. Ele,
na ocasião do parto, sai <lo seio virginal intacto. Costumamos rezar: Jesus, a quem, ó Virgem. desLe, à
luz. Maria permaneceu virgem inviolada como o tinha sido antes do dia da anunciação.
Toda vez que Deus nos quer entusiasmar por uma vÍ11ude. costuma no-la apresentar por
intennédio de seus santos. duma forma que ficamos arrebatados por sua beleza. Não estamos.
geralmente, em condições de imitá-la; devemos, porém, esforçar-nos a uma imitação que esteja
proporcionada às nossas forças. Dirás, pois. no nosso caso: Quão esplendicla, quão admiravelmente
bela ju·lga Deus a pureza inviolada, a integridade do corpo. se Ele fez tais milngrcs unic,unentc para
conservá-la em Sua Mãe!
E agora te pergunto: Podes pôr a vista n'Esta virgem admirável que está diante do teu espírito.
circunfnsa daquela majestade. amenidade, dignidade e tal pureza que necessariamente encanta o
coração humano. sem que cm teu coração desperte o desejo. volte o anelo: "Quem me dera ser
semelhante a Ela, nobre e pura?!".
És capaz de considerar como centenas d.: milhões de cristãos de qualquer época chamam a Maria
de bem-aventurada por ter permanecido tão singulanncnte pura, imaculada, sem que teu coração
liqu.: preso de estima p.:rante .:sta pureza tão encantadora? Sem que te sintas internamente
comovidíssima de alegria por possuir o mesmo tesouro que Deus tão extraordinariamente aprecia?
Poderias. cheia de admiração. ponderar o esforço do grande Deus cm engastar esta pedra
preciosa da virgindade intacta como esplendíssimo brilhante na coroa fulgente de Sua Mãe, e cm
seguida sacudir levianamente no esterco este mesmo tesouro, só para gozar um instante de
sensualidade?
Poderias imaginar a conservação singulannente milagrosa deste tesouro da virgindade inwcta só
porque Deus tanto amou Sua Mãe, e cm seguida taxar ele amoroso aqude jovem que quis roubar-te
.:stc m.:smo tesouro duma man.:ira pecaminosa'?...
Impossível. Uma jovem que se sente c1traída a MARIA. uma jovem que a ven.:ra como seu
MODELO mais bdo, não é capaz de ao mesmo tempo comprazer-se em vilezas. O desejo de
,iss.:mclhar-se-lhe expugnará o coração de \faria irresistivelmente.
A jovem quereria ser-lhe semelhante como um lirio que, apesar de proveniente da terra imunda.
fez brotar bem alto o seu caule e em ares puros desdobrar seu cálice de alvura ofuscante. Bem que
esteja presa a esta \erra, não quer ter nada em comum com coisas vis, ordinárias: só no ar sadio, puro.
sua alma se sente bem.
Está vendo nos braços da Virgem n crinnça. Aparcnlcmentc um m.:nininho como outrl> qualquer.
Mas tu sabes que Ele é mais do que parece. Nele habita a Divindade. Diante d'Ele cunarno, ojocl)l(l.
E não chegarás a conclusüo: cada criança.:: mais rio que parece') Ou ela não lcrn uma alma que, criada
conforme a imagem de Deus, dev.:rá viver cLernamcnte? Pela qual o filho de Deus morreu na Cruz'.'
Depois do batismo não se toma Filho de Deus? Não tem ao seu lado. corno guarda, um anjo do céu?
8/
Sim, cada criança significa uma grande coisa santa. Mas neste caso também é coisa grande e
santa o principiar da vida de um novo homem! Porventura não terá que colaborar o Deus poderoso ao
criar a alma das crianças') Tornar-se mãe não será o mt:smo que partilhar do poder criador de Deus? E
Cristo não elevou o matrimônio à dignidade de um Sacramento?
Mais uma coisa: Tendo reparado como Deus na encarnação de seu Filho evitou tudo que não é
condizente com Ele, não dirá tu também: eu quero evitar tudo que não convém?! Quero reverenciar a
dignidade paterna e materna e especialmente tudo que se refere a ela! Não devo cometer nenhum ato
de profanação ou abuso!
Lembra-te, finalmente, como São José, por respeito à Mãe de Deus e por amor à pureza virginal,
nunca fez uso de seu direito de esposo, e como ele por toda vida foi protetor da virgindade de Maria.
Naturalmente, semelhante gesto Deus não exige de outros esposos. Mas dize, a atitude de São José
para com a bem-aventurada Virgem não insinua que tu, semelhante a Maria, caso tenhas um noivo,
esperarás dele que, qual São José, seja o protetor nobre de tua inocência e não teu sedutor...?
Compreende-se agora quanto pode valer a veneração da bem-aventurada Virgem, cultivando-a
seriamente e rec01Tendo a Ela não somente no caso em que procuras alívio de ordem natural. Maria te
faça conhecer n'Ela mesma a mulher ideal e te anime a querer assemelhar-te o mais possível com Ela!
***
9- MODÉSTIA NO VESTIR
CUIDADO COM A MODA!
(Texto retirado do livro: "Tu e ele"
pelo Padre Hardy Schilgen, edição de 1940)
11-AMODESTIA
1 - No porte e nos olhares
II- Nas conversas e recreios
(Texto retirado do livro "Ensaio sobre a castidade",
pelo Padre F. Maucourant, edições Paulistas, ano de 1959)
"A modéstia, como a castidade, está ligada à vinude cardeal da temperança" (Santo Tomás). "Ela
aplica o compasso e a régua a todos os membros, a todos os sentidos, a todos os movimentos
corporais" (P.Saint-Jure). Vê-se facilmente o que a modéstia é para a virgindade, se repararmos
naquelas palavras de um grande santo:
"Que tudo seja virgem na virgem, a vista, o ouvido, o gosto, o tato, o olfato e cada um dos seus
movimentos" (Santo Antonino). Para continuarmos o exercício da vigilância, estudemos: \ º- a
modéstia no pone: 2º- a modéstia nos olhares.
1-Amodéstia no porte
''A modéstia é uma vinude que. pelo respeito devido à presença de Deus, para edificação do
próximo e por um sentimento de dignidade pessoal, regula com decoro todo o exterior do homem: a
sua conduta. olhar, o gesto, as palavras. as diligências; ela ordena e compõe tudo confonnemente à
idade, à condição, sem afetação nem singularidade: é o reflexo, senão da santidade, pelo menos da
probidade e da decência que devem existir interiormente" (PadreValuy ).
"A modéstia serve de égide à castidade, afastando as ocasiões e os perigos. Sem a modéstia, uma
religiosa expõe-se a comprometer a sua vocação e a escandalizar o próximo. Pelo contrário, uma
religiosa modesta afasta os inimigos da sua salvação, mantém em respeito todas as pessoas que a
rodeiam, e inspira, sem as procurar, grande estima por si e uma grande concepção sobre o estado
religioso" (R. P. Meynard).
A modéstia faz do nosso corpo "a guarda e como que a custódia de um Deus: guarda e mostra
Deus no nosso corpo" (Padrede Pontevoy).
A fisionomia desta vinude reflete-se primeiro no conjunto das atitudes. Os santos advertem-nos
de que nunca devemos familiarizar-nos e que nos panemos com temor e dignidade. quando estamos
sob o único olhar de Deus: "a virgem não receia senão a si própria" (Tenuliano). Enquanto que a
austeridade é a guardiã da castidade, uma conduta mole provoca naturalmente as revoltas sensuais;
"há atitudes de c01po que enervam e fazem perder a razão mais depressa do que o vinho" (Santo
Ambrósio).
Como nos portam10s? Escutai: "Só, ao levantar, ao deitar. no estudo, na maneira de caminhar e
de se sentar, nas mínimas atitudes em que se emancipa muitas vezes aquela que está ao abrigo de todo
o olhar", nunca se deve dispensar "das mínimas regras do decoro; sozinha como se estivesse
acompanhada; em companhia como se estivesse sozinha" (Mons. C ..mus).
E que os santos começam por regular o seu interior. Se as lembranças perigosas, os desvios da
imaginação, os desejos sensuais, os afetos demasiado sensíveis não forem mantidos em respeito, os
sentidos, um momento contidos, recuperam imediatamente a sua liberdade.
Os que estabeleceram "a sua morada na paz" (Salmo LXXV, 3), governam tanto mais facilmente
o seu exterior. O santo de Genebra "conservava sempre a cabeça erguida, evitando igualmente a
leviandade que a faz voltar-se para todos os lados, a negligência altiva e empertigada que a inclina
para trás; todo o seu porte era nobre e santo, majestoso sem pretensão, natural sem moleza nem
85
desleixo; nunca tinha uma maneira de estar ou de proceder que não estivesse em ordem, ou que se
pudesse dizer inspirado pelo amor das suas comodidades" (M. Ramon).
Eis um modelo: comparemo-lo com o nosso porte. Como porn1enores, pode acrescentar-se que
"a modéstia ordena um caminhar grave, nem demasiado lento nem demasiado precipitado" (São
Basílio); "ela proíbe que nos sentemos de maneira descuidada ou que cruzemos os pés" (Santo
Afonso Maria de Ligório); finalmente proíbe toda a negligência ou liberdade desordenada. Em loda a
pa11e e sempre "devemos ser decorosos e reservados: em casa, pelo respeito devido aos nossos
irmãos; na rua. pelo respeito aos transeuntes; na solidão, pelo respeito a nós mesmos; em toda a patte,
por causa do Verbo que está em loda a parte" (Clemente de Alexandria).
"Quase todas as paixões, que fazem guerra ao nosso espírito, têm origem nos olhos mal
guardados, porque é a vista dos objetos exteriores que excita, a maior parte das vezes, os afetos
desordenados" (Santo Afonso Ma1ia de Ligótio). "O pensamento nasce do olhar. o desejo, do
pensamento: depois, ao desejo sucede o consentimento" (Santo Agostinho). Eva só cai depois de ter
olhado. com demasiada atenção, para o fruto proibido; parece-lhe bonito e bom; pega nele e perde-se.
"O dcmõnio precisa apenas dos nossos primeiros avanços" (São Jcrõnimo); "basta começarmos por
lhe entreabrir a porta, ele saberá por si abri-la completamente. Um olhar bem consentido transfonnar
se-á numa faúlha do inferno que fará perecer a alma" (Santo Afonso Maria de Ligório). Por esse
motivo, o Vcn. César de Bus, depois de ter perdido a vista. exclamava:
''Perdi os meus dois maiores inimigos".
"Nosso Senhor foi o primeiro a ensinar-nos esla modéstia dos olhos: se o Evangelho observa por
vezes que Ele ergueu os olhos para olhar os Seus discípulos (S.Lucas, VI, 20), é para dar a entender
que Ele os conservava ordinariamente baixos" (SantoAfonso Maria de Ligório). Por isso, oApóstolo
chama a atenção cios seus cristãos "para a doçura e modéstia ele Jesus Cristo" (Cor, II, 1 ). A exemplo
cl'Ele, os santos são tão reservados que, para se livrarem de olhar qualquer ohjeto perigoso,
conservam os olhos postos no chão e privam-se até, muitas vezes. de ver os objetos mais inocentes.
São Bernardo não conhecia as janelas da sua igreja; São Pedro de Alcântara nunca via os seus
itmãos: São Luís Gonzaga nunca fitava o rosto da mãe: Santa Clarn censurou-se asperamente a si
própria porque um dia, ao erguer os olhos para ver a hóstia consagrada, olhara involuntariamente para
o sacerdote.
"Por aqui se vê quão temerárias e loucas são aquelas religiosas que, sem serem Santas Claras,
querem. todavia. olhar para os pátios, para os locutórios, parn a Tgrcja. para tudo enfim que se oferece
à sua curiosidade, até mesmo para as pessoas de outro sexo, e querem ser isentas de tentações e do
perigo de pecar" (Santo Afonso Maria de Ligório).
São Bento, São Jerõnimo e muitos outros deviam as suas terríveis lutas à recordação de pessoas
que tinham visto demasiadamente.
Todavia "o que mais prejudica não é tanto a vista como o olhar refletido, com os olhos fixos e a
discernir em demasia" (São Francisco de Sales); "se, por acaso, os nossos olhos deslizarem para
qualquer pessoa, não os detenhamos em nenhuma" (SantoAgoslinho).
Esses olhares ele pormenor e de análise sobre "a enganadora e frágil beleza dos corpos"
(Bossuet). são sempre prejudiciais; "quando mesmo se repelissem os maus pensamentos que o olhar
faz nascer e que lançam ordinariamente a perturbação no espírito, ficaria sempre alguma sombra na
alma" (São Gregório). Ou ela olhe, ou se olhe, ou se exponha a ser olhada. a virgem deve lembrar-se
de que "os olhos são os primeiros ladrões da castidade e os primeiros solicitadores da impureza"
(PadreSaint Jure).
"Felizes, pois, as virgens sagradas que não querem ser o espetáculo do mundo e que desejariam
ocultarem-se a si próprias sob o véu sagrado que as envolve" (Bossuet). O B. Ange d'Acri perdeu a
vista; Deus abria-lhe misericordiosamente os olhos para ele poder celebrar a Santa Missa e recitar o
Oficio; depois os fechava. Assim. abramos os nossos olhos para vermos a hóstia santa e cumprirn1os
os nossos deveres de estado; depois os fechemos, guardemos este "selo sagrado que o esposo colocou
na nossa face, para que não aceitemos outro amor" (Oficio de Santa Inês).
Afetos. - "Meu Deus, eu tenho, às vezes, terrores, quando examino o conjunto da minha vida e
86
me detenho nos pormenores. Tudo me espanta na minha alma, tudo me espanta no uso que fiz do meu
corpo. Os meus pés não me levaram às boas obras. A vista, o ouvido. o olfato, a língua. tudo Vos
ofendeu. Meu Deus; tirai-me da vaidade e reconduzi-me a uma vida angélica" (Atribuído a são
Bernardo).
Exame. - Tenho eu grande cuidado com a modéstia exterior, imagem da ordem interior? - O meu
porte é digno, austero, religioso? - Sou, só com Deus, tão respeitosa, como na presença das minhas
superioras'? - Não há nada de relaxado ou de afetado na minha pessoa? - Como guardo os meus olhos
naquilo que me diz respeito? Relativamente às pessoas que vejo habitualmente? - Nas igrejas, nas
ruas, nas viagens')
Resolução.
Ramalhete espiritual. - "A virgem do Senhor deve ser in-eprcensível no seu porte, na maneira
de andar, no olhar e nas palavras" (SantoAgostinho).
"A modéstia põe, em toda a pessoa das virgens, uma graça moderada e. na sua vida, hábitos
pacíficos; ela regula as suas palavras e até o tom da sua voz" (Santo Ambrósio). Restam-nos, para
consolidar em nós e apctfeiçoar a modéstia, para disciplinar o nosso corpo nas horas em que ele é
mais levado a emancipar-se, os recreios; e para disciplinar o nosso espírito numa ocasião em que ele
suporta mais dificilmente o com ,ngimento. as conversas. De resto. é fácil compreender que. nestas
duas circunstâncias, a modéstia veL ,1ela defesa da castidade. 1 º- da modéstia nas conversas; 2º- da
modéstia nos recreios.
"A modéstia é uma virtude que dá as leis ele uma boa conversação" (Hugues, card.). Encontrarno
nos ainda perante um perigo da castidade: quantas almas perturbadas por uma palavra, agitadas por
urna frase. até pervertidas por um passatempo com uma pessoa leviana, imprudente. corrompida!
Para fugir a esta desgraça, a conversação das almas consagradas deve ser séria, piedosa e religiosa.
A conversação séria não exclui uma alegria di, ·eta, uma viveza moderada, uma alegria calma
que seja o reflexo de uma alma cm que reina a ordem e a paz. "Uma reli?"iosa deve ser modesta e
devota, mas não triste e ca1rnncuda, porque isso desonra a devoção" (Santo Afonso Maria de Ligório ).
Mas, antes de mais nada. é necessário kmbrarmo-nos de que há coisas que o Apóstolo proíbe mesmo
"nomearna assembléia dos santos" (Efc. V. 3 ). Em seguida é preciso repelir toda a palavra que rebaixa
o espírito, que faz trabalhar a imaginação, que aproxima da terra. Finalmente, a religiosa é elevada,
pela graça e pela sua vocação, a uma esfera superior. Por esta razão, tratai de banir todas as expressões
que revelam sem-cerimõnia e má educação.
As religiosas, professoras principalmente. devem exercer uma especial vigilância sobre a sua
linguagem; espantam e escandalizam quando dizem ou repetem, diante dos seus educandos, palavras
ou expressões menos dignas ou respeitosas. Prestai atenção! Conhece-se pelo som se uma sineta está
intacta ou rachada: conhece-se pelas palavras se uma cabeça está vazia ou cheia, se um espírito é ou
não refletido. Falai com tanta justiça e tão a propósito que "as vossas palavras sejam como maçãs de
ouro em vasos de prata" (Prov., XXV, 11 ).
A segunda qualidade das conversações das virgens é a piedade. Santo Jnácio, mártir, no meio dos
seus suplícios. repetia sem cessar o nome de Jesus, e, quando morreu, encontraram este nome bendito
gravado no seu coração. Assim, cada um fala voluntariamente daquilo que mais ama: "tal é o coração.
tais são as palavras" (São João Crisóstomo). Um modelo acabado de verdadeiro religioso, "Santo
Inácio de Loiola, parecia só saber falar de Deus. ele tal modo que o tinham cognominado de 'o padre
que não tem na boca senão a Deus'" (SantoAfonso Maria de Ligório).
É sempre fácil a uma religiosa, "sem se am1ar em presumida nem em mentora. mas com espírito
de doçura, de caridade, de humildade" (São Francisco de Sales), conduzir a conversa para assuntos
pios: entre irmãs, entreter com o que interessa à família; com estranhos, responder e corresponder.
senão aos seus desejos, pelo menos à sua expectativa. e é um dos principais meios de edificá-los
(Santo Inácio).
87
Finalmente, as nossas conversas devem ser religiosas. Devemos abster-nos "de dizer palavras
que seriam pouco decentes para o estado religioso. As palavras que têm sabor do mundo são
inconvenientes na boca de uma religiosa". Por exemplo, não convém que ela "fale das coisas do
mundo, tais como casamentos, banquetes, espetáculos, vestidos aparatosos"; em geral de tudo, o que
lembra a matéria das suas renúncias (Santo Afonso Maria de Ligório). Há religiosas que são
verdadeiramente largas em demasia nesta matéria; escandalizam, sem mesmo darem por isso, cristãs
mais delicadas do que elas mesmas: ou então falam muito livremente, ou escutam com demasiada
avidez. Que o Senhor se digne "pôr nos seus lábios uma porta de circunspecção" (Salmo, CXI, 3).
"Deus quer que as pessoas que O amam tenham, de tempos a tempos, algum descanso, para não
se estar de espírito sempre tenso. Se vos quiserdes recrear, fazei-o, mas como religiosas" (Santo
Afonso Maria de Ligório). "O recreio é necessário ao repouso do corpo e do espírito. Ele não
interrompe a vida interior. quando é utilizado para mais vivamente se cumprir o serviço de Deus"
(São Francisco de Sales).
Para se não transgredirem as regras da modéstia, o recreio deve ser santamente alegre. É alegre,
quando "as innàs se conduzem nele, não cm atitudes tristes e acabrunhadas, mas de rosto gracioso e
afável" (São Francisco de Sales). Só "temperamentos doentios podem achar estranho que se fale em
voz alta no recreio ou que se ria de bom grado, sem, no entanto, se rir a bandeiras despregadas nem
falar com uma voz ruidosa, contrária à modéstia" (Santa Joana de Chantal).
"Quando o recreio é bem passado, quando a diversão se faz com a reserva e a decência que
convêm a religiosas, mas com despretensionismo, simplicidade e contentamento, tudo corre bem na
casa. Considerai o recreio como o pulso da comunidade; se nele há alegria, podeis crer que tudo
decorre bem: se ali há sombras, é sinal de que o corpo sofre de qualquer lado" (Mons. de Chaffoy).
Os recreios são santos se, observados com espírito de fé e de obediência, se evita toda a
familiaridade, principalmente a que compromete a castidade; porque as religiosas devem ser ali
abertas e cordiais, sem deixarem de se mostrar graves e modestas.
"Um dos defeitos da cordialidade é parecerem rudes e macambúzias. mostrarem um semblante
triste e abatido. O outro defeito é o excesso de cordialidade; por exemplo, quando se vê uma moça a
testemunhar à sua irn1ã, com excesso. o amor que lhe dedica, depois tomá-la pela mão ou pelo corpo e
beijá-la. Deve-se misturar a cordialidade com o respeito: se não testemunhais a alguém senão
cordialidade, denotais falta de respeito: se apenas testemunhais respeito, dais prova de falta de
cordialidade. É bom que se recreiem modestamente. evitando risos exagerados e gestos piegas,
evitando tocarem umas nas outras. Tende cuidado, minhas filhas, o demônio estendeu por baixo uma
armadilha que vós não vedes" (São Vicente de Paulo).
"As religiosas que passam modestamente os seus recreios, edificam-se umas às outras e
praticam o bem pelo seu contato mútuo. como 'as vinhas plantadas por entre oliveiras: dão cachos que
tem o sabor das azeitonas"' (São Francisco de Sales).
Para serem santos, os recreios devem ser também moderados. A obediência marca a hora e a
duração deles. Mas impo1ta que eles terminem logo ao primeiro toque da sineta, que não os
prolonguem por moleza ou negligência, com prejuízo de outros exercícios ou ocupações. Aliás, cair
se-ia na ociosidade, e uma religiosa não pode esquecer que "a ociosidade é a mãe de todos os vícios"
(Ecles. XXXIIL 29); que "o preguiçoso é o ponto de mira de todo o inferno e como que a cama de
repouso de Satanás" (São Boaventura); que "quem está ocupado, tem apenas um demônio a tentá-lo,
enquanto que quem está ocioso,. encontra-se rodeado por toda uma legião" (Vida dos Papas).
Afetos. - "Dignai-vos Senhor, dirigir, santificar. conduzir e governar, neste dia, os nossos
corações e os nossos corpos, os nossos sentimentos, as nossas palavras e os nossos atos, segundo a
Vossa lei e as obras dos Vossos preceitos, a fim de que, neste mundo e na eternidade, mereçamos, com
o Vosso auxílio, ó Salvador do mundo, ser salvos e resgatados" (Breviário romano).
Exame. - São as minhas conversas ao mesmo tempo sérias, caridosas, discretas, dignas? - São
piedosas, impregnadas de simplicidade e sinceridade? - São religiosas, evitando tudo o que não
convém a uma alma consagrada: e isto tanto com estranhos como com as minhas irmãs? - Qual é a
minha atitude nos recreios? Digna e afável? Cordial e respeitosa? - Não sou desleixada, sonhadora,
88
ociosa?
Resolução.
Ramalhete espiritual. - "Mostrai que sois um modelo em todas as coisas; na pureza dos
costumes e na gravidade do porte; que a vossa palavra seja sã e irrepreensível" (Tito II, 7,8).
***
89
13- CASTIDADE/MODÉSTIA/
CASTIDADE DO CORAÇÃO
(Texto retirado do livro "Intimidade Divina, meditações sobre a vida
interior para todos os dias do ano",
pelo Padre Gabriel de Santa Maria Madalena. O.C.D.; Edições
Carmelitanas, traduzida da 12º edição italiana, edição de 1967)
CASTIDADE
1 - "Não sabeis que sois templos de Deus e que o espírito de Deus habita em vós? Se alguém
violar o templo de Deus, Deus o destruirá. Porque é santo o templo de Deus que vós sois" (I Cor. 3, 16
e 17).
A graça do batismo consagrou o corpo do cristão, fazendo-o templo de Deus vivo e membro de
Cristo. Daqui a obrigação de respeitar este corpo, obrigação que exige de todo o cristão a virtude da
castidade, praticada segundo o seu estado. O pecado impuro profana o corpo, templo de Deus, e faz
dos membros de Cristo "membros de uma prostituta" (1 Cor. 6, 15).
Fora do matrimônio, a continência absoluta, ou seja, a abstenção de todo o prazer sensual, é
exigida a todos indistintamente; no matrimônio, requer-se a castidade conjugal que limita o prazer ao
próprio fim do matrimônio. Tal como a pobreza liberta da escravidão dos bens terrenos e regula o seu
uso, assim a castidade liberta da escravidão dos sentidos e modera o seu uso.
Por isso, a virtude da castidade não está reservada às almas consagradas a Deus, mas é um sério
dever para todo o cristão; e não basta a castidade do corpo, é necessária também a castidade dos
pensamentos, dos desejos, do coração, porque Jesus disse: "as coisas que vêm do coração é que
mancham o homem. Do coração saem os maus pensamentos, os homicídios, os adultérios" (Mt. 15,
18e 19).
Para ser casto de corpo é, pois, necessário ser casto de coração. Jesus inculcou-nos
insistentemente esta pureza interior: "O teu olho é a lucema do teu corpo. Se o teu olho for são, todo o
teu corpo será luz. Mas se o teu olho for defeituoso, todo o teu corpo estará em trevas" (Mt. 6,22 e 23).
2- "O que está sem mulher, está cuidadoso das coisas que são do Senhor, como há de agradar a
Deus... E a virgem cuida das coisas que são do Senhor, para ser santa no corpo e no espírito" (1 Cor.
7,32 e 34).
A castidade perfeita, escolhida como estado de vida e abraçada como voto, livra de todos os
cuidados e preocupações inevitáveis da vida conjugal e que dividem o coração entre Deus e os afetos
humanos. Jesus disse haver alguns que renunciam a formar uma família "por amor do Reino dos
Céus" (Mt. 19,12).
O valor essencial do voto de castidade consiste precisamente nesta renúncia que a criatura se
impõe livremente para se dar a Deus por completo, alma e corpo, coração e espírito: tudo é reservado
e consagrado a Ele só.
Quem se une em matrimônio, torna-se colaborador de Deus na transmissão da vida natural a
outros, e quem se consagra ao Senhor, mediante o voto de castidade, toma-se Seu colaborador na
comunicação da vida da graça aos homens. A pessoa consagrada a Deus renuncia à fecundidade
material em vista de fecundidade muito superior: a espiritual. A paternidade ou maternidade natural é
substituída por paternidade ou maternidade sobrenatural. Santa Teresa do Menino Jesus exprimia
desta maneira a sua vocação ao Carmelo: "Ser Vossa esposa, ó Jesus, é ser, pela união conVosco, mãe
das almas!" (M.B. pg. 230).
Esta é a fecundidade das almas virgens, "casta geração", que Jesus chama à renúncia total dos
prazeres lícitos do matrimônio, para fazer delas os mais íntimos colaboradores na obra da redenção e
santificação do mundo. O voto de castidade não encerra as almas numa vida estéril, mas, unindo-as
90
totalmente a Deus, abre-lhes a sublime fecundidade do apostolado.
"A virgindade perpétua é uma hóstia pura oferecida a Deus, uma vítima santa; é uma flor que rrnz
honra e alegria à Igreja e é uma grande fonte de forças" (Pio XII. Aloc. Set. 1951 ).
Colóquio
"Ó Senhor, toda a minha esperança está fundada na Vossa misericórdia. Dai-me o que me
ordenais e ordenai-me o que quiserdes. Ordenastes-me continência. Alguém afirmou que não se pode
ser casto sem o dom de Deus: mas é já sabedoria o saber de quem provém este dom. A continência
recolhe-nos e reduz-nos àquela unidade da qual nos afastamos por nos tem10s dado a muitas coisas.
Pouco Vos ama aquele que, ao mesmo tempo, ama outra criatura sem ser por Vós. Ó amor que sempre
ardeis e nunca vos extinguis! Ó caridade, ó meu Deus. inflamai-me! Ordenai-me a continência: dai
me o que me ordenais e ordenai-me o que quiserdes" (Sto. Agostinho).
Ó Jesus, fazei-me compreender claramente que para o h omem não há maior honra do que aquela
que lhe fazeis quando, livrando-o das "n·ibulações da carne" (! Cor. 7. 28). o convidais a dar-se
totalmente a Vós pelo vínculo da castidade perfeita. Ó vínculo santo que unes a Deus. pureza infinita,
urna criatura saída da lama, e a elevas tão alto que a fazes participar do esplendor imaculado da
virgindade divina. Ó vínculo santo, que estabeleces uma união indissolúvel entre Deus e o homem, e
apresentas as almas "como virgens puras a um único esposo, Cristo" (cfr. lJ Cor. 11, 2J a fim de que
sejam Suas esposas na fé e no amor.
Ó Jesus. Esposo das almas virgens. Vós que dissestes: "Nem todos compreendem esta palavra.
mas somente aqueles a quem foi concedido" (Mt. 19, 11 ), fazei-me compreender cada vez mdhor o
valor imenso da castidade perfeita. Que dom mais sublime poderia pedir-Vos eu, e poderíeis Vós dar
me?
Ó Jesus. que. chamando-me à castidade perfeita, me livrastes dos cuidados da família e dos
afetos terrenos, fazei que eu não me encen-e egoisticamentc em mim mesmo, mas que pa1tilhc
rnnVosco. de modo reto e intenso. as Vossas solicitudes, a Vossa vida de imolação e sacrifício pela
salvação dos homens e pela gló1ia do Pai. Vós me quereis virgem porque me chamais a ser Vosso
intimo colaborador na sublime obra da Redenção, e na medida em que me der a Vós, com dedicação
generosa e plena. me concedereis o dom da fecundidade espiritual. Ó .Jesus. estreitai os vínculos da
minha união conVosco para que, por meio dela, eu me tome capaz de gerar muitas almas para o Vosso
amor e para a Vossa graça!
A MODÉSTIA
A CASTIDADE DO CORAÇÃO
1- O coração da pessoa consagrada a Deus deve ser "um jardim fechado, uma fonte selada"
(C:ant. 4,12), porque não deve admitir afeto algum que não seja de Deus ou ordenado a Deus. É
evidente que isto não exclui nem o amor do próximo em geral, nem o afeto devido à própria família,
mas sim tudo quanto é amor puramente natural.
Em outras palavras, os afetos de uma alma consagrada a Deus devem ser todos
sobrenaturalizados, ou seja, deve amar as criaturas por Deus porque são Suas e Lhe pertencem.
Quando, pelo contrário, nos seus afetos se deixa guiar por motivos humanos: simpalia. interesse.
desejo de saciar o coração com alguma gota ele amor sensível. então não ama as criaturas em ordem a
Deus, mas por si mesmas, pela satisfação que encontra nelas; o seu amor não é sobrenatural, mas
humano. E os afetos humanos devastam o coração consagrado a Deus, como as pequenas raposas, de
que fala o Cântico, devastam os vinhedos.
Depois de ter quebrado. por amor de Deus, os vinculos sagrados do sangue, depois de ter
renunciado uma família própria, é grande insensatez deixar prender o coração por criaturas que não
têm sobre ele direito algu m, por afetos que nada têm de sagrado. Perante eles é preciso responder com
a fortaleza de Inês:
"Deus pôs um sinal na minha face para que não admita outro amor fora do Seu. Só nElc tenho a
minha fé".
"É para lastimar - escreve S. João da Cruz - ver como algumas almas... carregadas de riquezas ...
espirituais ..., por não terem ânimo para acabar com algum gostinho. ou apego, ou afeições. nunca
adiantam nem chegam ao porto da pc1feição...
Fai1a razão de dor é que lhes haja Deus feito quebrar outras cordas mais grossas de afetos... , e
porque se não d�sprendcram duma ninharia.... deixam de caminhar a tanto bem" (S.l. 11. 4 e 5.J.
2- Deus é cioso do coração que Lhe é consagrado, e não o admite à Sua intimidade enquanto o
achar ocupado por qualquer afeto que o impeça de conccntrar nEle todo o amor de que o tornou capaz.
"Deus - diz Santa Teresa de Jesus - não quer forçar a nossa vontade. toma o que Lhe damos, mas
não Se dáa Si de todo, até quede todo nos demos a Ele" (Can. 28.12).
"Deus não qucrum coração dividido: quer tudo ou nada" (T.M. Sp. pg. 187).
Enquanto não se chega ao dom total do coração. será impossível gozar da intimidade divina.
"Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus" (Mt. 5,8). disse Jesus. Esta visão.
este gozo de Deus é, de certo modo, antecipado cá na terra, para aqueles que sabem reservar para Ele a
integridade, a pureza do coração. São Tomás escreve:
''Um coração livre de pensamentos e afetos alheios a Deus, é como um templo consagrado ao
Senhor, onde já neste mundo O podemos contemplar" (Comcnt. a S. Mt.).
O coração puro é semelhante ao olhar limpo e claro que sabe compreender a Deus e penetrar na
profundidade dos infinitos mistérios. Por isso. os teólogos ensinam que à "bem-aventurança dos
I impos de coração" corresponde o dom do entendimento, por meio do qual o Santo torna a alma capaz
de "i11tus loquere", de ler dentro. isto é. de penetrar na Divindade. Quem mais ama, mais deseja
conhecer a pessoa amada, exteriormente. mas também intimamente, até ter entrada nos seus
pensamentos, nos seus segredos, renunciando gostosamente a qualquer outra satisfação para
conseguir o seu fim.
Se queres conhecer a Deus, se queres entrar na Sua amizade íntima e profunda, deves ofcrccer
Lhe um coração puro, vazio de todo o afeto humano.
"Não tenhas presente cm ti as criaturas. se queres guardar na tua alma clara e simples a imagem
de Deus, mas esvazia e alheia delas o espírito... e andarás na luz divina" (J.C.A.M. J, 25).
93
Colóquio
ó Jesus, doçura inefável, convertei-me em amargura todas as consolações da terra, porque não
quero que as criaturas tenham sequer um átomo do meu coração. Se soubesse que uma só fibra do meu
ser vibrava por um afeto humano, estaria pronto a arrancá-la para longe de mim a preço de qualquer
sofrimento. Mas Vós sabeis como é grande a minha fraqueza e como nos momentos de desânimo, de
solidão e abandono, sinto a tentação de ir procurar um pouco de afeto, de compreensão, nas criaturas.
"Oh! Então, eu Vos peço, fazei que só encontre amargura nas amizades da terra; de outra forma, com
um coração como o meu, deixar-me-ei prender e cortar as asas" ( cfr. T.M. J.M.A. pg. 91 ).
Ó Senhor, iluminai o meu coração nas suas pregas mais recõnditas, nos seus mais íntimos
esconderijos, e se neles encontrardes algum fio de afeto que não seja para Vós, mostrai-mo e dai-me a
graça de quebrá-lo para sempre.
Vós quereis tudo e eu quero dar-Vos tudo. De resto, ao dar-Vos todo o meu coração, não faço
mais do que devolver-Vos o que é Vosso, porque de Vós o recebi. e porque não seria capaz de amar se
não tivésseis infundido em mim uma centelha da Vossa caridade infinita.
Ó Senhor, é muito justo que esta centelha volte para Vós e seja empregada em amar-Vos, amor
infinito, que me tirastes do nada e me fizestes capaz de corresponder ao Vosso amor. O meu amor
insignificante, elevando-me até Vós e pondo-me em contato com ,a fornalha imensa da Vossa
caridade, crescerá desmedidamente e poderá espalhar-se pela terra, abraçando, na benevolência de
um amor puro e sobrenatural, todas as criaturas para conduzi-las a Vós, seu principio e seu fim.
Ó Jesus, guarda das virgens, guardai o meu coração e tomai-o tão puro e transparente, que seja
digno de ver o esplendor da Vossa face.
Não Vos conheço ainda, Senhor meu, porque, querendo ainda amar e gozar as criaturas, o meu
olhar interior não tem a limpidez necessária para Vos contemplar. E porque não Vos conheço, não Vos
amo quanto deveria e pouco gozo de Vós. Vede, pois. como é grande a minha necessidade! Vinde Vós
purificar o meu coração a fim de que possa conhecer-Vos plenamente e, conhecendo-Vos,
verdadeiramente Vos possa amar com todas as minhas forças.
***
- Quem é tu que vens assim de mangas tão compridas, envolta nesta túnica talar e de véu branco
dominical'!
- E tu, quem és, com essas vestes sem mangas e tão decotadas, e curtas ... de cabelos muito
cortados?
- Sou uma cristã do século XX.
- E eu, uma cristã dos primeiros séculos de fé.
-Teu nome?
- Domitila, Águeda, Cecília. Inez, (Filomena), como queiras chamar-me.
- O meu pode ser Haydée, Mimi, Zizi.
-Que nomes!
-Achas graça? Pois são muito eufônicos... e donde vens e para onde vais?
- Venho das catacumbas de Lucila. Passei a noite na cripta com os meus irmãos.
Só na solidão e no silêncio da noite é que nos é possível, sem perigo, adorar a Deus.
- E vais...
- Após pequeno descanso. visitar, na SubmTa, uma escrava cnfemia, recolher o sangue e os
despojos ele uns mártires sacrificados hoje no Coliseu, cortar ramos ele oliveira e apanhar flores para o
seu t(unulo (mártires). E tu?
- Volto de um baile social.
- De um baile? Como as meninas pagãs do meu tempo? E social? Então a sociedade cristã vive
agora a bailar? E o grande perigo para tua alma?!
- Isso mesmo pergunta meu confessor.
-É? ...
- Digo-lhe sempre que nenhum. São todos moços educados.
- Moços educados! Por fora e por dentro? ...
- Só posso ver-lhes o exterior.
- De so1te que te preocupas só com o que aparece!
- Sim, senhora...
96
- E tu, menina do século XX, te julgas, como Aquiles, invulnerável? Donde esta tua fortaleza?
(pra vencer a tentação)
- Faço as nove primeiras sextas-feiras, comungando nesses dias.
- Nove primeiras sextas-feiras para Jesus e os demais dias do mês para o mundo?
- ! !. ..
-Nós comungamos todas as noites... nas catacumbas.
- É comungar demais.
- É amar muito a nossoSenhor.
- Eu o amo também.
-Sei sim; nas nove primeiras sextas-feiras pela manhã.
- Vós viveis em tempos de perseguição. A Eucaristia é que é a vossa força.
- E a vós, menina cristã, ninguém vos persegue?
-Não!
-Não! E a vaidade? ... as amizades? ... as leituras? ... os espetáculos e cinemas ...? Olha, menina:
os Mandamentos de Deus são invariáveis. E por que te vestes assim, com estes braços e colo tão
despidos? Com estas vestes tão...?
- Mas! ... é a moda.
- E por que não se veste como cristã?
- Achar-me-ão ridícula. Queres que me vista como tu, com uma túnica tão comprida e ampla.
com este véu dominical?
-Só quero ver em ti menos transparências.Sabes gramática'?
- Estudo para professora.
- Muito bem. Pois os verbos transparecer, descobrir. adivinhar... não se devem aplicar aos n-ajes
da mulher cristã, nas suas relações com o corpo. Deve bastar-lhe o verbo cobrir ... Tu me
compreendes?
-Perfeitamente.
-Não te alegres por te acharem de talhe delgado. de... Rejubila-te quando te achares um anjo de
pureza e de beleza sobrenatural. Compreendes?
-Sim.sim.
- Pois medita sobre tudo isso, e adeus, senhorita Mimi.
-Adeus, Cecília.
***
Importantíssimo capítulo recorda este título. Há muito crime cometido contra o pudor das crianças.
Muitas mães exploram "a inocência" dos seus pequenos. (Esta inocência hoje em dia parece que vai
morrendo depressa). Fazem-no com enorme prejuízo e dano sempre. Por mais encanto que sinta a
mãezinha ante as carnes macias e rosadas dos filhinhos, não deve, contudo, descuidar da defesa natural
da modéstia, que são os vestidos.
... Peito, bracinhos e peminhas est.io à mostra: parece até que nem sequer fica velado aquilo que
pequena peça do vestuário se esforça por esconder e os descuidos da criança não defendem das vistas
dos companheiros, dos grandes. Sem nada desconfiar, seu filhinho ou filhinha, leitora, não estabelece
nenhuma diferença moral no uso das várias partes do seu corpinho. Trata-as com a mesma ingênua
desenvoltura. Vai-se assim formando o hábito de considerar como irreais as exigências da pureza.
Em crescendo, veremos a criança desfazer-se de certos cuidados e alargar os limites da liberdade. A
experiência diária vive mostrando como o costume de viver com pouca roupa acaba por se tomar tão
natural.
Não dizem tantas moças. se as censuram por causa dos decotes: Mas que mal há nisso?
As pobrezinhas sempre se viram com pouco vestido, desde que se conhecem como gente. Para
mudar-lhes a imodéstia seria necessário reeducá-las.
Compreendo, leitora, certas dificuldades no caso. Os vestidos custam dinheiro, as crianças
crescem depressa, tomando imodesto um vestido que ontem era modesto.
Dizes que não podes gastar tanto, etc. Mas, se tiveres uma consciência bem prevenida, acharás
sempre um Jeitinho de atalhar o mal.
Em todo caso capricha para que as leis da Igreja sejam observadas no templo, quando teus filhos
vão à comunhão e às cerimônias religiosas. Lembra-te que a precocidade sexual dos pequenos é um fato
nestes dias de tanta infiltração imoral. pelo cinema (TV), pelas conversas, pelas revistas e quadros...
"Os olhos das mães não são feitos como os das outras pessoas. Descobrem à distância c na sombra,
podem ler até nos corações... Oxalá a experiência não desmentisse tal afirmação! Para que isso não
aconteça. é preciso que a vigilância se estenda sobre tudo que possa fazer correr algum perigo às
crianças... "
***
98
19- RELATIVIDADE DO PUDOR?
(Excertos do livro "Mundos entre berços'',
pelo Padre Geraldo Pires de Souza, edição de 1965)
"Não gosto de ver-te assim, mãezinha... ''
Dizia uma piedosa menina, reparando os decotes no vestido matemo. A própria mãe da santa
menina conta-nos o fato, ao mesmo tempo inslnltivo. Por entre carinhosa e escandalizada, a pequena
corrigia uma exibição condenável.
Nas portas das igrejas pode-se ler com freqüência a frase de uma carta de Pio XII:
"Os direitos da alma estão acima dos direitos da moda".
Não será tempo perdido repeti-la em casa. ou mandar escrevê-la nos guarda-roupas das filhas.
Nada de relatividade do pudor. Um no inverno, outro-no verão. Uma na cidade, outro nos salões, nas
praias. Toda família que não vive na lua sabe muito bem do plano destruidor: acabar com o pudor,
perverter a mulher. tomá-la insensível ao perigo para cmrnmper a sociedade.
Ora, dar auxílio a tal plano é trair a Religião e a Igreja. Nem entendo como ainda se tenha de
andar provando tudo isso a mães, que são responsáveis pela conduta dos filhos.
Não é de hoje que a Igreja vive alamwndo as consciênci<1s. Aos maridos, Pio XII recorda que
também eles não podem nem devem vcsjr suas esposas de modo inconveniente e exibi-las em salões,
a pretexto de que são senhoras casadas.
O casamento não dispensa o pudor, nem garante contra infidelidade do espírito, do coração e do
corpo. Esta podem ser suscitada pela aproximação indevida de um fraco ou perverso, provocado pela
falta de pudor da esposa mal vestida.
Mais ainda. Como terá delicadeza e intuiçiies de pudor, com respeito às filhas, a mãe que não se
respeita no trajar? Não adianta alegar posição social. Nossa primeira e mais fidalga posição é a
filiação divina, adquirida no batismo pela graça.
Terá autoridade moral para impor quem for remissa cm dar exemplo de recato?
Nossa menina, com sua alma delicada, tinha visão dos puros. Olhos puros enxergam melhor,
notam mais depressa a ronda do mal.
Logo, mães que me lês. anotai meu pedido e meu aviso: respeitai o pudor em vossas filhas,
respeitando-o em vós mesmas!
Poderá isso exigir o sacrificio.
Mas não é a educação moral um novo parto com novas dores?
Quando se educou para vida, sem sacrifícios?
Dor é renúncia de algo que nos agrada e adula. Penso que uma revisão nos vestidos poderia ser
bem indicada para mais de uma família, leitora. Deus, no dia das contas, saberá do corte de todos os
vestidos. Se não forem de Seu agrado, revestirá de glória o corpo ressuscitado? Não.
***
22- A SENSUALIDADE E O
DANO INTELECTUAL
(Texto retirado do livro "A educação do caráter",
pelo Padre Gillet, edição de 1956)
Não são menos deploráveis os efeitos intelectuais da sensualidade; a satisfação dos sentidos é
feita à custa do espírito, e a vida dissoluta do corpo destrói. por sua vez, as energias da alma. Para
expandir-se. a inteligência necessita ela tranqüilidade da carne, do equilíbrio das funções, da pureza e
do frescor cio sangue, do repouso dos nervos.
Quando considero o corpo nas suas relações com a inteligência, da qual ele é o instrumento
natural, não posso impeclir-me de pensar nas harpas cólias, que os antigos penduravam nos ramos dos
salgueiros e que vibravam ao sopro da brisa fresca das manhãs de abril ou cio vento fresco tépiclo das
tarcles de outono. Se estiver tuclo calmo em clerredor, se a carne não está sacudida pela paixão, nem o
sangue viciado, nem os nervos demasiadamente tensos, então a inteligência poderá, como um vento
leve passando pelas inúmeras fibras desse maravilhoso instrumento, fazer soar acorcles cheios e
agradáveis. cuja suavidade e plenitude compensam amplamente a agrura e o vazio dos sons sensuais.
Se, ao contrário. o corpo for sacudido pelo sopro violento da volúpia. nesse caso as milhares de
fibras sensíveis - tais como as cordas delicadas de uma harpa sob tun vento de tempestade - se torcem
e se rompem: a inteligência não consegue tirar nem o mais leve som.
***
102
"Seja vossa modéstia conhecida de todos os homens" (Fil., 4,5).
A humildade e a modéstia honram e ornam todos os homens, mesmo o sábio que, por sua
sabedoria e seu gênio, pasma o mundo; até o príncipe, que governa um grande reino. Sejam tais
homens humildes e afáveis, tanto quanto lho permite a posição, e conquistarão, de assalto, os
corações dos seus compatriotas, granjeando por toda a parte honras e afeições entusiásticas.
Mas, se a humildade convém a todo cristão, a todo homem, ela, no entanto, se ajunta
principalmente aos jovens, e de modo particular à donzela cristã, que deve exercitar-se na vinude, e
tantas vezes há de reconhecer e dizer que é uma criatura fraca e inclinada para o mal.
Só onde se encontra a humildade, existe a verdadeira virtude; sem aquela, esta nada mais é que
uma aparência vã. O rochedo que levanta orgulhos0 o cabeço a uma enorme altura, lá permanece
solitário e despido; em vez de reflexos dourados, não apresenta senão gelo e neve. Os campos
ondulantes e auspiciosos situam-se, pelo contrário, nas planícies e partes baixas da terra. Sem a
humildade, expõe-se a pureza do coração a grande perigo; assemelha-se a uma árvore alta cujas raízes
não se embebem profundamente no solo; ou a uma grande e magnífica morada, que não possui
alicerces fundos e sólidos. Venham os temporais, enfureçam as tempestades, e a árvore será
arrancada. e a casa virá abaixo, sepultando os habitantes nos destroços.
De modo semelhante é o que acontece com uma donzela altiva e orgulhosa: facilmente recai nos
perigos do mundo, nos pecados. Sabe-o, perfeitamente, o tentador do gênero humano e procura, de
ordinário, encaminhar a jovem principalmente para o orgulho, a vaidade e a ostentação. Conseguindo
isto, ser-lhe-á mais fácil levá-Ia, oponunamente aos pecados contra a santa pureza.
Quanto é exato o que diz um velho provérbio alemão: O orgulho vem antes da queda! ("Hochmut
kommt vor dem Falle" ).
A humildade atrairá sobre ti a benevolência e a proteção de Deus. "Deus resiste aos soberbos, e
dá a graça aos humildes" (1 Pedro, 5,5). Também a ti dará muitas e grandes graças, se permaneceres
humilde e modesta; proteger-te-á, sobretudo, contra todas as tentações e perigos a que, sem tua culpa,
estiveres exposta. Se quiseres, pelo contrário, elevar-te no orgulho e arrogância, então é de se temer
que te abandone à tua fraqueza moral, a qual se parece com o frágil caniço que se parte quando alguém
quer apoiar-se nele. Guarda-te, portanto, do orgulho; conserva-te humilde, principalmente em
relação a ti mesma. Não te mostres altiva, se fores rica e possuíres grande cabedal. As maiores
riquezas materiais nada acrescem ao valor de nia alma.
... Não te mostres arrogante. se teus pais ocupam uma posição brilhante, ou descendem de alta
linhagem. Quer sejas filha de príncipe, ou tenhas por pai mn simple& e modesto operário, nem por isso
merecerás da morte mais respeito e contemplação.
Decorridos alguns anos, virá a m01te aJTebatar à filha do príncipe toda a grandeza e a fará pobre,
pequena e mesqi.inha como a filha do mendigo.
Não te mostre arrogante e orgulhosa com a beleza de teu corpo. Este não é mais que uma figura
de pó e cinza, e se converterá, um dia, na sepultura, um alimento de vermes.
... Não exageres na moda; está bem que sejas primorosa no trajar, que te adornes; mas tudo isto
dentro das nonnas do bom senso e do bom gosto. Lembra-te que os excessos de vaidade, além de
fúteis, são também prejudiciais. Quase sempre produzem, na vida doméstica, profundas feridas,
porque consomem o capital, perturbam a paz e introduzem a àes0rdem e a confusão.
- Não está a moda exagerada freqüentemente a serviço da sensualidade, fornecendo ocasião ao
pecado?
-A vaidade não abafa muitas vezes, no coração da mulher, aG_uelas nobres qualidades com que o
Criador a adornou, de modo todo particular, habituando-a a fazer tanto bem?
A jovem que se deixa dominar pelo excessivo amor ao luxo e à ostentação, aos poucos se torna
superficial, egoísta, vazia de sentimentos nohrts, avessa à prática da virtude, negligente nos deveres
do próprio estado.
- Guarda-te.jovem cristã, desses defeitos, da vaidade e elegância afet1das.
Traja-te de acordo com tua posição social. Nos teus vest = '1os transpareça o bom gosto: �vita,
porém, o exibicionismo nas atitudes e certas galanterias desusadas, com visíveis preocupações de te
mostrares elegante; inclina-te, de preferência, para a simplicidade: só assim agradarás a Deus e
granjearás consideração dos homens sensatos. Em segundo lugar, sê humilde para com teu próximo.
Com teus pais e superiores sê respeitosa e obediente. Se te repreenderem, não te agastes nem te
103
encolerizes. mas aceita de bom grado e pacificamente a con-eção.
Aos teus semclhant'-!s dedica awor e consideração; não procures dominá-los.
... Lembra-te que, perante Deus, Perfeição e Excelência infinita, Onipotente e Oniscieme, nós
todos somos in linitamente pequenos, infinitamente fracos e ignorantes, até mesmo os maiores, os
mais poc�eros0s e os mais sábios deste mundo. Lembra-te que em qualquer circunstância da vida
depende de Deus. que foste bem instruída acerca da sua bondade e poder, que poderás a cada
mo1m:nto ser arrebatada pela mão fria da morte e comparecer perante o tribunal divino.
Reflete. pois, sobre as graças e benefícios inumeráveis com que Deus te cumulou. e dos quais, de
tantos modos, tens usado para ofendê-Lo. Sim, pensa nos muitos pecados que já tens cometido, nos
teus pecados por pensamentos, palavras, obras e omissões do bem prescrito pelo dever. Se ponderares
bem tudo e tomares a sério, não terás nenhum motivo de seres altiva e vaidosa, antes. motivo
suficiente para te humilhar perante Deus e dizer com todo o ardor:
''Senhor, tem compaixão de mim!"
***
24- SOIS CRISTÃ: TENDES, POIS, UMA FÉ
QUE DEVE IRRADIAR
(Excertos do livro "Formação da donzela",
pelo Padre J. Baeteman, edição de 194 7)
Esplêndido é o vosso papel. com a condição. todavia, de não figurardes entre as "flores
artificiais". mas sim entre as verdadeiras florinhas de Deus. As flores a11ificiais apenas encantam os
olhos, não tem nenhum perfume; não vivem. são inertes. Vós, sede flores bem vivas e espalhai em
tomo de vós o bom odor de J csus Cristo.
Isso, aliás, é fácil para quem tem uma fé viva e compreende as obrigações que ela impõe. O título
de cristã acrescenta à donzela o que a luz do dia acrescenta à flor: fá-la resplandecer. Tirai Deus do
coração da donzela, e ela ainda será bela, mas de uma beleza toda profana; não terá essa candura. esse
brilho particular, essa virtude que emana dela e que desarma o vício e a impiedade, clamando-lhe:
Alto lá! Jesus está aqui!
Em vez <lc levar ao bem, será ela singulanncnte perturbadora! Não tendo a Deus no coração, não
pode comunicá-Lo! E, no entanto, diz um grande orador, "a mulher deve dar Deus a todos os que dela
se aproximam" .
... E vós, ''Filha de Deus". haveríeis ele dizer que nada podeis fazer. e que não tendes de defender
essa Religião que tão bem vos defendeu? Se ainda hoje o catolicismo precisa de vós, vós precisais
dele!
O vosso papel não é ensinar. mlo é elevar vossa voz no meio do século, não! Mas é fazer passar a
verdade ao coração, conve11endo-a em amor.
Como diz Mons. Gerbet:
"A missão inspiradora atribuída à mulher é uma missão privada. Cumpre-se no santuário da
sociedade doméstica, nas confidências. na efusão das almas, no seio da família. na amizade, no
próprio info11únio que provoca consolações secretas. como seus queixumes. A pregação da mulher
será menos retumbante. A grande voz que anuncia a verdade através dos séculos compõe-se de duas
vozes: a do homem, à qual pe11enccm os tons estridentes e maiores, a da mulher, que se exala em tons
menores, velados, untuosos, cujo silêncio não deixaria à outra voz senão a rudeza ela força."
Deveis, pois. ser fiel a esse primeiro dever, de pregar a verdade fazendo-a amar. Mas deveis
também defende-la, pois sabeis como a atacam em toda a parte.
Dia virá, talvez, em que tereis de protegê-la não tanto em vós mesmas como na alma dos entes
caros que Deus enviar ao vosso lar. Mulher, esposa, mãe, então é que devereis velar, é que devereis
agir, falar, convencer.
Preparai-vos para essa nobre tarefa. Para isto, a educação dos tempos de paz já não basta; hoje em
dia a I uta está em toda a parte; menos do que nunca vos poderia convir ficar neutra!
***
104
25- MODA: UMA TRAMA DIABÓLICA
(Excertos do livro "Formação da donzela",
pelo Padre J. Baeteman, edição de 1947)
Porém, há "a moda"! D ir-se-á. E,quando se pronuncia esta palavra, diz-se tudo.
A moda é uma deusa, uma divindade à qual se sacrifica tudo! Por ela, a pessoa se toma escrava de
um costureiro de fama; por ela. sacrifica os seus gostos e veste-se de maneira excêntrica: por ela,
vestidos luxuosos, beJTantes, arriscados, extravagantes em excesso; por ela, não cora de se parecer
com as "virgens loucas"; por ela, fecham-se os ouvidos aos avisos que nos vêm da Igreja, autoridade
mais sagrada que há na ten-a. Por ela,para "seguir a moda", que é que se não faz?
A invasão desses vestuários indecentes tornou-se tão grande,que os Bispos se viram obrigados a
publicar contra aquelas que não se pejam de arrastá-los até o templo de Deus... até o confessionário...
até a Mesa santa... punições que deveriam fazer tremer uma cristã... mas que não bastam para coJTigi
la disso!
No seu número de 15 de outubro de 1924, a "Revuc des objections" publicou uma série de
instruções do Cônego Coubé sobre esta questão, mais do que nunca na ordem do dia. Citamos
algumas passagens dela:
"Depois da guerra, um vento de loucura tem feito virar muitas cabeças. Não creio que nas épocas
mais despudoradas do paganismo antigo se tenha ido jamais tão longe à libertinagem do vestir. E me
pergunto se as mulheres mais desmoralizadas de Roma e da Babilônia não tinham mais recato, ao
menos em público,do que certas cristãs dos nossos dias."
"A rainha Vasthi, esposa de Assuero, que preferiu renunciar ao trono a renunciar à modéstia e ao
pudor no seu afoite régio, ce11amente faria pena a certas emancipadas do nosso tempo e passaria, aos
olhos delas,por uma pequena 'otária'."
"A moral não é aqui a única a protestar; o bom gosto, a arte, a estética também protestam contra
essas criações francamente ridículas que afeiam aquelas que as usam.
Uma prova de que essas modas são horríveis é a rapidez com que passam. Há um plano diabólico
concebido e executado para ridicularizar e desmoralizar a mulher: e um dos meios escolhidos para
isso é a criação de modas cada vez mais cínicas."
Refleti, pois,jovem cristã, no que o dever aqui vos impõe. Querem descristianizar a Sociedade
pela família, a família pela mulher e a mulher pela sua vaidade ou pela sua fraqueza. E haveríeis de
deixar a impiedade urdir a sua trama sem nada tentardes para rompê-la? E haveríeis de consentir em
vestir-vos como uma pagã?...
***
1 ª - Firmeza e inflexibilidade
Não sejas como o caniço ou o salgueiro que se curva profundamente ao sabor do vento. Sê como
o robusto e vigoroso carvalho que ergue livre e corajoso a sua fronde para o alto, em direção ao céu.
107
Fone e inabalável! Tempestades e tormentas sacodem-no sem cessar, esbravejam em tomo daquela
soberba copa, agitando-lhe os galhos e a folhagem, e não obstante, mantém-se o tronco rijo. tranqüilo
e imóvel, como nos dias calmos e lindos da primavera. Não há quem- o vergue nem ananque nas
tempestades; embora os esguios pinheiros e outras árvores que o circundam venham abaixo com
estrondo, o carvalho persiste ereto e desafia qualquer embate dos vendavais.
Semelhante ao carvalho, conserva-te também inflexível, permanece forte e finne em teus bons
princípios, inabalavelmente fiel tanto no próspero como no adverso, nas afrontas e perseguições, nas
tempestades e tom1entas, nos perigos e tentações.
É o Cristianismo rico em pessoas desta natureza. Lembra-te dos santos mártires dos primeiros
séculos da Igreja. Não pennitiam que nada lhes abalasse ou quebrantasse a convicção; nem o suplício
da tortura, nem as chamas das fogueiras, nem a fúria dos animais ferozes. Se quiseres adquirir
tamanha firmeza de caráter, cumpre que te habitues, desde a juventude, a não seguir, em teu proceder,
a vontade dos homens caprichosos, e sim o desejo de Deus eterno e imutável, que te julgará depois da
m01te.
Esta há de ser tua divisa: "Deve-se antes obedecer a Deus que os homens" (Atos, 5 29).
Adquirirás esta finneza e independência interior, se te exercitares desde cedo no domínio de ti
própria. Para o conseguires, recusa-te, por vezes, alguma coisa que te seria lícito. Ainda que seja isto
rnna ninharia, a abnegação dessas pequenas coisas dará pouco a pouco à tua vontade a fümeza do aço.
Guarda-te, sobretudo, da insensata inconstància, que perde inteiramente o objetivo da ação e por isto
gira, ora para cá, ora para lá, sem nenhum alvo detenninado. Procura, finalmente, fo1tificar a tua
vontade fraca e inconstante por meio da oração metódica e da assídua recepção dos santos
Sacramentos.
A graça de Deus favorecerá o teu sincero esforço e verificarás, dentro em breve, que o teu caráter
adquiriu força e constância.
2"-Amabilidadc e brandura
108
3"-Altruísmo e desinteresse
Quanto é feio e detestável o egoísmo! Já tiveste ocasião de observar como procede quem
ambiciona alguma coisa? Toma-se completamente possuído pelo objeto da sua cobiça e não atenta a
outra coisa. Tudo o mais deixa numa completa indiferença; despreza até as coisas mais importantes;
toma-se desleixado em relação aos deveres e até inconsiderado nas relações sociais, pois o objeto de
sua cobiça absorve-o completamente. É exatamente o que sucede com a jovem egoísta. Só pensa em
si, naquilo que se relaciona consigo, que lhe interessa. Considera só a si mesma e tudo o mais -
circunstâncias, coisas e pessoas - vê tão somente através do prisma do seu egocentrismo. O seu maior
gosto é ouvir falar de si mesma, principalmente se possui voz agradável e sabe discorrer com
facilidade e desembaraço; sua opinião pessoal, que sempre manifesta com prazer, afigura-se-lhe
naturalmente a melhor. Não fala senão de si, dos seus trabalhos e realizações, dos seus planos e
esperanças, das suas relações e perspectivas. Volta-se apenas para os seus desgostos e sofrimentos, e
não tem a mínima consideração para com as dificuldades e dores alheias.
Como é feia e desagradável a atitude de uma jovem egoísta! Jovem,diante destas considerações,
pondera os efeitos perniciosos do egoísmo e procma corrigir-te desta paixão. Guarda-te, portanto, do
amor próprio desordenado; aprende a pensar no teu próximo, a considerá-lo, servi-lo e proporcionar
lhe alguma alegria, mesmo à custa de sacrifícios. É o que de modo tão pe1feito te ajusta ao espírito
cristão e enobrece teu caráter mais do que qualquer outra coisa, g{anjeando cm alto grau a estima e o
respeito dos teus concidadãos. Que louvores não é digna a jovem que se sujeita a muitas privações, a
fim de proporcionar alegria a seus pais ou prestar-lhes auxílio nas dificuldades financeiras! Com que
reverência se deverá olhar para uma moça ·que em muitas relações se restringe, talvez até imponha,
grandes sacrifícios para cuidar da educação e futuro de seus irrnãozinhos!
São estas, pois, as três qualidades que ornam e embelezam o caráter: finneza, doçura e altrnísmo.
Esforça-te,jovem, para adquiri-las; não será num mês, nem talvez num ano que chegarás a conquistá
las perfeitamente. Isso te custará longos anos de esforços e combates. Pode acontecer que. apesar da
tua boa vontade, caias em pequenas ou grandes faltas. Não percas, todavia, a coragem: trabalha
sempre com mais valor em teu ape1feiçoamento e convence-te de que os teus esforços e lutas lograrão
por fim o merecido triunfo. Com o passar dos anos, plasmarás o teu caráter, irradiando do teu espírito
brilho mais belo e mais intenso do que o ouro mais fino.
Que tira a mulher. enfim, de ser ou parecer formosa? Vaidade. Mais nada. Tira também
enfermidades do corpo, perigo da alma, enfados. murmurações, e depois tanto em penas do outro
mundo quanto este lhe deu em glórias, com esta diferença. enh·e outras muitas: que as glórias foram
falsas e as penas são verdadeiras. Pois não pudera esta mulher, com quatro lágrimas choradas debaixo
do seu manto, com um crucifixo diante dos olhos em lugar do espelho. e com amar a verdade. que é a
lei de Deus, deixando-se ajudar da sua graça: não pudera. digo, deste modo mais fácil, mais útil, mais
honesto e deleitoso, ser formosa aos olhos de Deus?
***
109
29- AMBIÇÃO E MODA
(Texto retirado do livro "Casai-vos bem",
pelo Padre Luís Chiavarino, edição e 1959)
- Padre, o senhor afinnou-me enfim que a esposa não deve ser nem ambiciosa e nem amante da
moda')
- Sim. afirmei-o e o repito: nem muito ambiciosa e nem excessivamente amante da moda. Se tu
soubesses a que ponto podem chegar a ambição e a doença da moda! ...
Mas vamos aos fatos.
Um bom marido, que gozava grande estima no lugar e tinha um bom e remunerado emprego,
queixava-se com um amigo que desde algum tempo iam-lhe bastante mal os negócios, não obstante
todas as diligencias, tudo ia de mal a pior e não conseguia mais vencer as dificuldades; as saídas
supt"ravam as receitas; via-se obrigado a recorrer às economias do passado, para não ser
desprestigiado na sociedade.
O amigo ouvia com interesse aquelas confidencias. Tu deves criar coragem: chama a tua esposa,
pede-lhe gentilmente que abra seu guarda-roupa e outros baús. Lá acharás o segredo de teus
aborTCcimentos e poderás contorná-los.
O bom homem senliu como que cair dos olhos uma pesada venda. Custnu-lhe enorme esforço
pedir aquele favor à própria esposa e maior '�ansaço ainda para obtê-lo: mas enfim o conseguiu. Oh!
Surpresa e maravilha' ... averiguou a realidade do que o amigo lhe tinha dito e que ele nem de longe
podia suspeitar:
Vestidos e mais vestidos, sobretudos, capotes, mantos os mais preciosos e custosos... Chapéus,
chapeuzinhos, toucas modernas, sapatos e sapatinhos, sem número. úguas perfumadas, tintas. sabões
e sabonetes: ferros para encrespar. ondular e tingir cabelos. Um verdadeiro bazar; uma elegante e
abundantíssima exposição...
O pobre do homem averiguou enfim onde estava a causa de suas preocupações.
Custou-lhe a pôr um dique a tamanho desperdício; mas com a firmeza unida ao respeito e à
bondade conseguiu o intento, e assim viu logo melhorar a s4a sittrnção.
Quantos maridos vêem esbanjados seus suores e diminuídas as economias, dilapidadas as
fortunas acumuladas durante anos, e não descobrem a causa!...Tem cm casa traças que roem e
carunchos que carcomem; sanguessugas que chupam e vampiros. que dessangrmn... ! Agorn escuta
esta anedota sobre a moda:
Um bom homem passou pela modista para retirar o chapéu da esposa, renovado segundo a moda.
Voltando pressuroso para casa, encontra um amigo que o quer cumprimentar; mas ele foge rápido,
exclamando:
- Deixa-me, por favor; a moda é capaz de mudar antes de eu chegar em casa, e então minha
esposa me obrigaria a voltar à modista!
- Vés, meu filho, a escravidão a que se devem sujeitar certos maridos de pobres esposas perdidas
atrás da moda? Pobres mulheres, às vezes, mesmo sem quere-lo, representam as partes do Arlequim
ou do palhaço ... Não é humilhante?
- Eu não poderia adaptar-me!
-Assim dizem todos... mas depois...
Das palavras aos fatos é grande a distància. A mulher escrava da moda nunca se entrega nem a
custo da saúde e mesmo da graça natural.Assim vemo-las:
- conar todo o cabelo, que é decoro para mulher,
- pintar o rosto, que é o mais belo espelho da alma,
- mTancar os dentes, para colocar dentes postiços,
- andar de ombro e colo descoberto. como algo de vulgar,
- encurtar os vestidos e andar quase nua. como os selvagens,
- adotar trajes os mais singulares, ridículos e às vezes escandalosos, só para provocar!
Muitas vezes a moda apaga até os sentimentos de delicadeza, de respeito, de compaixão diante
dos sofrimentos, angústias e desgraças públicas e privadas. É mesmo tirana e provocadora. Vai aqui
uma breve poesia publicada numjomalzinho do interior, dos tempos da última guerra de tremendas
destruições:
]J()
AMODA
A moda é extravagante
Nunca um meio termo conhece
Ela sempre foi demente
E assim sempre pcnnancce.
Somente lá no inferno
Incandescendo cm carvões
Compreenderá o grande mal
Praticado em suas intenções.
***
JJJ
30- CONVERSAS
(Texto retirado do livro ''Cristão no Tribunal da Penitência",
pelo Fr. Frutuoso Hockenmaier, 3 ª edição de 1949)
Ainda que tudo o que é desonesto é indecente, nem tudo o que é indecente se pode chamar
desonesto. Não se confunda, pois a indecência com a desonestidade.
Conversas e expressões referentes a coisas baixas e inconvenientes são falsamente julgadas
desonestas. O mesmo se deve pensar de cenas conversas sobre namoros, modas e diversões profanas,
em que não se diz qualquer coisa menos conveniente.
Nas mesmas expressões impuras devemos distinguir aquelas que são aberta e diretamente más e
que ordinariamente arrastam à impureza, e aquelas que só remota e encobertamente se referem a
coisas impuras e apenas levemente induzem ao pecado.
Estas expressões, principalmente quando ditas por gracejo ou leviandade e sem complacência e
impureza, não são tão pecaminosas como as outras; todavia. o seu perigo cresce à medida que os
interlocutores são falhos de virtude e inclinados à luxúria. O pecado será tanto mais grave, quanto
maior for o perigo.
Não se esqueça que os pensamentos maus a ninguém escandalizam. ao passo que as conversas
livres más. por leviandade. brincadeira, ou «para dive11ir a companhia», como se costuma dizer. dão
quase sempre ocasião a maus pensamentos e desejos de pecados talvez gravíssimos, tanto internos
como externos. Que tristes efeitos resultam das conversas levianas e impuras!
Uma criada de servir tinha o costume de entremear sempre nas suas conversas palavras levianas
e frases inconvenientes, apesar das admoestações constantes duma companheira que não cessava de
dizer:
-À hora da morte chorarás amargamente esse mau costume, mas talvez sem proveito.
Uma tarde foram as duas visitar a criada dum vizinho gravemente enferma a qual, depois de ter
suplicado que orassem por ela para que lhe concedesse uma boa morte, acrescentou:
- Uma coisa, sobretudo me aflige: ter misturado nas minhas conversas palavras e frases
obscenas. O meu confessor bem me dizia: quantos maus pensamentos e talvez más ações cometidas
pelo próximo que te serão imputadas à hora da mo11e! Agora vejo eu quanta razão ele tinha! Peço-vos
que esqueçais as minhas más palavras. não sigais meus exemplos. e dizei o mesmo às minhas
companheiras. Todas as vezes que entrardes no cemitério e deitardes água benta sobre a minha
campa. pensai que me ouvis dizer lá debaixo da terra: Guardai-vos de conversas desonestas, que
pesam terrivelmeme sobre o coração no leito da mo11e.
Todas as pessoas presentes ficaram profundamente impressionadas, e mais que todas a leviana
criada, que na volta disse à companheira:
- Parecia-me que estava sobre brasas; prometo a Deus que nunca mais hei de sujar meus lábios
com pa,lavras desonestas.
Como é verdadeira a palavra do Salvador: ''Ai daquele homem por quem vem o escândalo!".
Havendo justo motivo para falar de coisas impuras ou perigosas. empregue-se o maior recato e
sobriedade, evite-se toda a má intenção e haja todo o cuidado cm não escandalizar as pessoas com
quem se fala.
Quanto a assistir a conversas desonestas ou indecentes, nota o seguinte: não gostando das coisas
que se dizem, mas somente do modo como se dizem, não é pecado grave ouvi-las. Mas se mostras
agrado rindo-te, e dás assim calor a quem fala para continuar, e aos outros ocasião de escândalo, então
há perigo de pecares mortalmente.
Não haverá pecado se, quando a conversa descamba para coisas torpes, te retiras ou, não o
podendo fazer, procuras levá-la para outro assunto.
Há. porém, ocasiões em que nenhum destes meios são exeqüíveis. Então necessário se toma não
consentires; e para não haver escândalo, deves mostrar-te desgostoso e desaprovar externamente tais
conversas baixando os olhos, ponde-te sério, ou de qualquer outra maneira.
Os pais e superiores estão obrigados a cortar energicamente todas as conversas impuras ou
indecentes entre as pessoas que lhes estão subordinadas.
"**
112
conversas baixando os olhos, ponde-te sério, ou de qualquer outra maneira.
Os pais e superiores estão obrigados a cortar energicamente todas as conversas impuras ou
indecentes entre as pessoas que lhes estão subordinadas.
***
Se lhe apresentassem na sua mesa o pão ou qualquer outro manjar em um prato ou vaso que
houvesse servido em coisas que não são para nomear, quanto se indignaria contra o seu criado por esta
grosseria e desatenção. E quem duvida que muito mais repreensivel seja a língua de um fiel que serve
de patena ao verdadeiro corpo de Cristo quando comtmga, e de instrumento a palavras torpes e
indecentes? (II- 530).
Quem usa de semelhante linguagem, por mais que se desculpe dizendo que lhe não entra da boca
para dentro e que é só para rir e passar o tempo, dá claro indicio de que o seu interior está corrupto.
Porque oráculo é de Cristo Senhor nosso que a boca fala conforme o que abunda o coração: Ex
abundantia enim cordis os !oquitur; e outra vez disse: Que do coração saem os maus pensamentos; e
claro é que o que vem à língua, primeiro esteve no pensamento; e ainda Séneca assentou que o modo
com que cada um fala é o translado ou cópia do seu espírito: Imago mentis sermo est; qualis vi,: ta/is
oratio ... Logo, quem é acostumado a falar descomposturas, com que verdade afirma que lhe não
entram no coração? E se até os sonhos de um adormecido e os delírios de um frenético são
ordinariamente das coisas a que a natureza estava acostumada, quanto mais se conhecerá o nosso
interior pelas palavras que proferimos, estando em nosso siso e liberdade? (JJ 530/531 ).
Escreve Estrabão que há na Índia um gênero de serpentes com asas como de pergaminho que,
voando de noite, sacodem uns pingos de suor tão pestífero que onde caem causam corrupção. Tais me
parecem os que entre conversação soltam palavras e chistes descompostos; que são estes senão
pingos de suor asquerosíssimo, que onde caem geram maus pensamentos e coITompem os costumes
dos ouvintes? E se estes são gentes de tenra idade, a corrupção é mais pronta e mais certa, porque
meninos são tábuas rasas onde o bem e o mal se pintam facilmente; pelo que mais respeito se deve ter
a um menino, para não falar ruins palavras em sua presença, do que a homens de cãs veneráveis,
porque estes sabem conhecer e reprovar o mal e aqueles não; neste caso, ficará quem falou mal,
temeroso de achar repreensão; aquele outro ficará contente de achar imitadores.
***
JJ3
32 - SERMÕES DE SÃO JOÃO MARIA VIANNEY
OCURAD'ARS
Seria preciso, meus innãos, para vos fazer compreender bem a estima que devemos ter desta
incomparável virtude, para vos fazer a descrição de sua beleza, e vos fazer apreciar bem seu valor
junto de Deus, seria preciso, não um homem mortal, mas um anjo do Céu. Ouvindo-o, vós diríeis com
admiração: Como todos os homens não estão dispostos a sacrificar tudo antes que perderuma virtude
que nos une de uma maneira íntima com Deus? Procuremos, contudo, conceber dela alguma coisa,
considerando que dita virtude vem do Céu, que ela faz descer Jesus Cristo sobre a terra, e que eleva o
homem até o Céu, pela semelhança que ela dá com os anjos, e com o próprio Jesus Cristo. Dizei-me,
meus irmãos, de acordo com isto, acaso não merece ela o título de preciosa virtude? Não é ela digna
de toda nossa estima e de todos os sacrificios necessários para conservá-la? Nós dizemos que a plU"eza
vem do Céu, porque só havia o próprio Jesus Cristo que fosse capaz de no-la ensinar e nos fazer sentir
todo o seu valor. Ele nos deixou o exemplo prodigioso da estima que teve desta virtude . Tendo
resolvido na grandeza de Sua misericórdia, resgatar o mundo. Ele tomou um corpo mortal como o
nosso; mas Ele quis escolher uma Virgem por Mãe. Quem foi esta incomparável criatura, meus
irmãos? Foi Maria, a mais pura entre todas e por uma graça que não foi concedida a ninguém mais,
foi isenta do pecado original. Ela consagrou Sua virgindade ao Bom Deus desde a idade de três anos, e
oferecendo-Lhe Seu corpo, Sua alma, Ela Lhe fez o sacrificio mais santo, o mais puro e o mais
agradável que Deus jamais recebeu de uma criatura sobre a terra. Ela manteve este sacrificio por uma
fidelidade inviolável em guardar .Sua pureza e em evitar tudo aquilo que pudesse mesmo de leve
empanar Seu brilho. Nós vemos que a Virgem Santa fazia tanto caso desta virtude, que Ela não
queria consentir em ser Mãe de Deus antes que o anjo Lhe tivesse assegurado que Ela não a
perderia. Mas, tendo Lhe dito o anjo que, tomando-se Mãe de Deus, bem longe de perder ou empanar
Sua pureza de que Ela faziuanta estima, Ela-seria ainda mais pura e mais agradável a Deus, consentiu
então de bom grado, a fim de dar um novo brilho a esta pureza virginal. Nós vemos ainda que Jesus
Cristo escolhe um pai nutrício que erll pobre, é verdade; mas ele quis que sua pureza estivesse
por sobre a de todas as outras criaturas, exceto a Virgem Santa . Dentre Seus discípulos, Ele
distingue um, a quem Ele testemunhou uma amizade e uma confiança singulares, a quem Ele fez
participante de seus maiores segredos, mas Ele toma o mais puro de todos, e que estava consagrado a
Deus desde sua juventude.
Santo Ambrósio nos diz que a pureza nos elen até o Céu e nos faz deixar a terra. enquanto é
possível a uma criatura deixá-la. Ela nos eleva por sobre a criatura corrompida e, por seus sentimentos
e seus desejos, ela nos faz viver da mesma vida dos anjos. Segundo São João Crisóstomo, a castidade
duma alma é de um preço aos olhos de Deus maior que a dos anjos, pois que os cristãos só podem
adquirir esta virtude pelos combates, enquanto que os anjos a têm por natureza. Os anjos não têm
nada a combater para conservá-la, enquanto que um cristão é obrigado a fazer uma guerra
continua a si mesmo. São. Cipriano acrescenta que, não somente a castidade nos toma semelhantes
aos anjos, mas nos dá ainda um caráter de semelhança com o próprio Jesus Cristo. Sim, nos diz este
grande santo, uma alma casta é uma imagem viva de Deus sobre a terra.
Quanto mais uma alma se desapega de si mesma pela resistência às suas paixões, mais ela se une
a Deus; e, por um feliz retomo, mais o bom Deus se une a ela; Ele a olha, Ele a considera como Sua
esposa, como Sua bem-amada; faz dela o objeto de Suas mais caras complacências, e fixa nela Sua
morada para sempre. "Bem-aventurados, nos diz o Salvador, os puros de coração, porque eles verão
ao bom Deus". Segundo São Basílio, se encontramos a castidade numa alma, encontramos aí todas as
outras virtudes cristãs, ela as praticará com uma grande facilidade, "porque" - nos diz ele - "para ser
casto é preciso se impor muitos sacrificios e fazer-se uma grande violência. Mas uma vez que
alcançou tais vitórias sobre o demônio, a carne e o sangue, todo o resto lhe custa muito pouco, pois
uma alma que subjuga com autoridade a este corpo sensual, vence facilmente todos os
obstáculos que encontra no caminho da virtude". Vemos também, meus irmãos, que os cristãos
castos são os mais perfeitos. Nós os vemos reservados em suas palavras, modestos em todos os seus
passos, sóbrios em suas refeições, respeitosos no lugar santo e edifiéantes em toda sua conduta. Santo
Agostinho compara aqueles que têm a grande alegria de conservar seu coração puro, aos lírios que se
115
elevam diretamente ao Céu e que difundem em seu redor um odor muito agradável; só a vista deles
nos faz pensar naquela preciosa virtude. Assim a Virgem Santa inspirava a pureza a todos aqueles que
a olhavam... Bem-aventurada virtude, meus innãos, que nos põe entre os anjos, que parece mesmo
elevar-nos por sobre eles!
Nós temos um belo exemplo disto na pessoa de Santa Inês. Sua fonnosura e suas riquezas
fizeram com que, à idade de doze anos, ela fosse procurada pelo filho do prefeito da cidade de Roma.
Ela lhe fez saber que estava consagrada ao bom Deus. Ela foi presa sob o pretexto de que era cristã,
mas em realidade para que consentisse nos desejos do rapaz ... Ela estava de tal modo unida a Deus
que nem as promessas, nem as ameaças, nem a vista dos carrascos e dos instrumentos expostos diante
de si para amedrontá-la, não a fizeram mudar de sentimentos. Não tendo conseguido nada dela, seus
perseguidores a carregaram de cadeias, e quiseram colocar uma argola e anéis em seu pescoço e em
suas mãos; eles não puderam fazê-lo, tão débeis eram suas pequenas mãos inocentes. Ela pem1aneceu
fim1e cm sua resolução, no meio destes lobos enraivecidos, ela ofereceu seu corpinho aos tom1entos
com uma coragem que espantou aos carrascos. Arrastam-na aos pés dos ídolos; mas ela confessa bem
alto que só reconhece por Deus a Jesus Cristo, e que os ídolos deles não são mais que demônios. O
juiz, crncl e bárbaro, vendo que não consegue nada. crê que ela será mais sensível diante da perda
daquela pureza que ela estimava tanto. Ele ameaça expô-la num lugar infame; mas ela responde com
firmeza; "Vós podeis fazer-me morrer, mas não podereis jamais fazer-me perder este tesouro: o
próprio Jesus Cristo é zeloso deste tesouro." O juiz, morrendo de raiva, manda conduzi-la ao lugar das
torpezas infernais. Mas Jesus C1isto, que velava por ela duma maneira particular, inspira um tão
grande respeito aos guardas, que eles só a olhavam com uma espécie de pavor, e manda a Seus anjos
que a protejam. Os jovens que entram naquele quarto. inflamados de um fogo impuro, vendo um anjo
ao lado dela. mais belo que o sol, saem dali abrasados do amor divino. Mas o filho do prefeito, mais
perverso e mais corrompido que os outros. penetra no quarto onde estava santa lnês. Sem ter
consideração por todas aquelas maravilhas, ele se aproxima dela na esperança de contentar seus
desejos impuros; mas o anjo que guarda a jovem mártir fere o libe11ino que cai morto a seus pés.
Rapidamente se espalha em Roma o boato de que o filho do prefeito tinha sido morto por Inês. O pai,
enfurecido, vem encontrar a santa e se entrega a tudo o que seu desespero lhe pode inspirar. Ele a
chama de fúria do inferno, monstro nascido para a desolação de sua vida, pois tinha feito morrer seu
lilho. Santa Inês lhe responde tranquilamente: "É que ele quis fazer-me violência, então o meu anjo
lhe deu a mo11e.'' O prefeito, um pouco acalmado, lhe diz: pois bem, pede a teu Deus para ressuscitá
lo, para que não se diga que foste tu que o mataste." - Sem dúvida, diz-lhe a Santa, vós não mereceis
esta graça; mas para que saibais que os cristãos nunca se vingam, mas. pelo contrário, eles pagam o
mal com o bem, sai daqui. e eu vou pedir ao bom Deus por ele." Então Inês se põe de joelhos,
prostrada com a face em terra. Enquanto ela reza, seu anjo lhe aparece e lhe diz: "Tenha coragem". No
mesmo instante o corpo inanimado retoma a vida. O jovem ressuscitado pelas orações da Santa, se
retira da casa, corre pelas ruas de Roma gritando: "Não, não, meus amigos, não há outro Deus que o
dos cristãos, todos os deuses que nós adoramos não são mais que demônios que nos enganam e nos
an-astam ao Inferno." Entretanto, apesar de um tão grande milagre, não deixaram de a condenar.
Então o tenente do prefeito manda que se acenda um grande fogo, e faz lançá-la nele. Mas as chamas
entreabrindo-se, não lhe fazem nenhum mal e queimam os idólatras que acudiram para serem
espectadores de seus combates. O tenente, vendo que o fogo a respeitava e não lhe fazia nenhum mal,
ordena que a firam com um golpe de espada na garganta, afim de lhe tirar a vida; mas o carrasco treme
116
como se ele mesmo estivesse condenado à morte... Como os pais de Santa Inês chorassem a morte de
sua filha, ela lhes aparece dizendo-lhes: "Não choreis minha morte, pelo contrário, alegrai-vos de eu
ter adquirido urna tão grande glória no Céu.··
Estais vendo, meus irmãos, o que esta Santa sofreu para não perder sua virgindade.
Formai agora idéia da estima em que deveis ter a pureza, e como o bom Deus se compraz em
fazer milagres para mostrar-se seu protetor e guardião. Como este exemplo confundirá um dia estes
jovens que fazem tão pouco caso desta bela virtude! Eles jamais conheceram seu preço. O Espírito
Santo tem, portanto. razão de exclamar: "Ó, como é bela esta geração casta; sua memória é eterna, e
sua glória brilha diante dos homens e dos anjos!" É certo, meus in11ãos, que cada um ama seus
semelhantes; também os anjos, que são espíritos puros, amam e protegem duma maneira particular as
almas que imitam sua pureza. Nós lemos na Sagrada Escritura que o anjo Rafael, que acompanhou o
jovem Tobias, prestou-lhe mil serviços. Preservou-o de ser devorado por um peixe, de ser
estrangulado pelo demônio. Se este jovem não tivesse sido casto, é certíssimo que o anjo não o teria
acompanhado, nem lhe leria prestado tantos serviços. Com que gozo não se alegra o anjo da guarda
que conduz uma alma pura!
Não há outra virtude para conservação da qual Deus faça milagres tão numerosos como os que
Ele prodiga em favor duma pessoa que conhece o preço da pureza e que se esforça por salvaguardá-la.
Vede o que Ele fez por Santa Cecília. Nascida em Roma de pais muito ricos, ela era muito instruída na
religião cristã, e seguindo a inspiração de Deus, ela Lhe consagrou sua virgindade. Seus pais, que niio
o sabiam, prometeram-na cm casamento a Valcriano. filho de um senador da Cidade. Era, segundo o
mundo, um partido bem considerado. Ela pediu a seus pais o tempo de pensá-lo. Ela passou este
tempo no jejum. na oração e nas lágrimas, para obter de Deus a graça de não perder a flor daquela
virtude que ela estimava mais que sua vida. O bom Deus lhe respondeu que não temesse nada e que
obedecesse a seus pais; pois, não somente não perderia esta virtude, mas ainda obteria ... Consentiu,
pois. no matrimônio. No dia das núpcias. quando Valcriano se apresentou, ela lhe disse: "Meu caro
Valeriano, eu tenho um segredo a lhe comunicar." Ele lhe respondeu: "Qual é este segredo?" - Eu
consagrei minha virgindade a Deus e jamais homem algum me tocará, pois cu tenho um anjo que vela
por minha pureza; se você atenta contra isto, você será ferido de morte". Valeriano ficou muito
surpreso com esta linguagem, porque sendo pagão, não compreendia nada de tudo isto. Ele
respondeu: "Mostre-me este anjo que a guarda." A Santa replicou: "Você não pode vê-lo porque você
é pagão. Vá ter com o Papa Urbano, e peça-lhe o Batismo. você em seguida verá o meu anjo".
Imediatamente ele pai1e. Depois de ter sido batizado pelo Papa, ele volta a encontrar sua esposa.
Entrando no seu quarto, vê o anjo velando com Santa Cecília . Ele o acha tão bonito, tão brilhante de
glória. que fica encantado e tocado por sua formosura. Não somente permite à sua esposa permanecer
consagrada a Deus, mas ele mesmo faz voto de virgindade ... Em breve eles tiveram a alegria de
morrerem mártires. Estais vendo como o bom Deus toma cuidado duma pessoa qL11.' ama esta
incomparável viitudc e trabalha por conservá-la?
Nós lemos na vida de Santo Edmundo que, estudando em Paris. ele se encontrou com algumas
pessoas que diziam tolices; ele as deixou imediatamente. Esta ação foi tão agradável a Deus, que Ele
lhe apareceu sob a forma de um belo menino e o saudou com um ar muito gracioso, dizendo- lhe que
com satisfação o tinha visto deixar seus companheiros que mantinham conversas licenciosas; e, para
recompensá-lo, prometia que estaria sempre com ele. Além disto, Santo Edmundo teve a grande
alegria de consenrar sua inocência até a morte. Quando Santa Luzia foi ao túmulo de Santa Águeda
para pedir ao Bom Deus, por sua intercessão. a cura de sua mãe, Santa Águeda lhe apareceu e lhe disse
que ela podia obter, por si mesma, o que ela pedia, pois que, por sua pureza, ela tinha preparado em seu
coração uma habitação muito agradável ao seu Criador. Isto nos mostra que o bom Deus não pode
recusar nada a quem tem a alegria de conservar puros seu corpo e sua alma...
Escutai a narração do que aconteceu a Santa Pontamiena que viveu no tempo da perseguição de
Maximiano. Esta jovem era escrava dum dissoluto e libertino, que não cessava de a solicitar para o
mal. Ela preferiu sofrer todas as sortes de crncldades e de suplícios a consentir nas solicitações de seu
senhor infame. Este, vendo que não podia conseguir nada, em seu furor, entregou-a como cristã nas
mãos do governador, a quem prometeu uma grande recompensa se a pudesse conquistar. O juiz
117
mandou que a conduzissem ante seu tribunal, e vendo que todas as ameaças não a faziam mudar de
sentimentos, fez a Santa sofrer tudo o que a raiva põde lhe inspirar. Mas o bom Deus concedeu à
jovem mártir tanta força que ela parecia ser insensível a todos os tonnentos. Aquele juiz iníquo, não
podendo vencer sua resistência, faz colocar sobre um fogo bem ardente uma caldeira cheia de pez, e
lhe diz: "Veja o que lhe preparam se você não obedece a seu senhor." A santa jovem responde sem se
perturbar: "Eu prefiro sofrer tudo o que vosso furor puder vos inspirar a obedecer aos infames desejos
de meu senhor; aliás, eu jamais teria acreditado que um j-tiz fosse tão injusto de me fazer obedecer aos
planos de um senhor dissoluto.'' O tirano, irritado por esta resposta, mandou que a lançassem na
caldeira. "Ao menos mandai, diz-lhe ela, que eu seja lançada vestida. Vós vereis a força que o Deus
que nós adoramos dá aos que sofrem por Ele." Depois de três horas de suplício, Pontamiena entregou
sua bela alma a Seu criador, e assim alcançou a dupla palma do martírio e da virgindade.
Ai, meus itmiios, como esta vittude é pouco conhecida no mundo, quão pouco nós a estimamos,
quão pouco cuidado nós pomos em conservá-la, quão pouco zelo temos em pedi-la a Deus, pois que
não a podemos ter de nós mesmos. Não. nós não conhecemos esta bela e amável virtude que ganha tão
facilmente o coração de Deus, que dá um tão belo brilho a todas as nossas outras boas obras, que nos
eleva acima de nós mesmos, que nos faz viver sobre a terra como os anjos no Céu! ...
Não, meus irmãos, ela não é conhecida por este velhos infames impudicos que se arrastam, se
rolam e se submergem na lama de suas torpezas, cujo coração é semelhante àqueles... sobre o alto das
montanhas... queimados e abrasados por estes fogos impuros. Ai! Bem longe de procurar extingui-lo,
eles não cessam de acendê-lo e abrasá-lo por seus olhares, por seus pensamentos, seus desejos e suas
ações. Em que estado estará esta alma, quando aparecer diante de Deus, a pureza mesma? Não, meus
im1ãos, esta bela virtude não é conhecida por esta pessoa, cujos lábios não são mais que uma abertura
e um tubo de que o Inferno se serve para vomitar suas impurezas sobre a terra, e que se alimenta disto
como de um pão cotidiano. Ai! A alma deles não é mais que tun objeto de horror para o Céu e para a
terra! Não, meus innãos, esta bela vütude não é conhecida por estes jovens cujos olhos e mãos estão
profanados por estes olhares e ... Ó DEUS, QUANTAS ALMAS ESTE PECADO ARRASTA PARA
O INFERNO!... Não, meus innàos, esta bela viitude não é conhecida por estas moças mundanas e
corrompidas que tomam tantas precauções e cuidados para atraírem sobre si os olhos do mundo; que
por seus enfeites exagerados e indecentes, anunciam publicamente que são infames instrumentos de
que o Inferno se serve para perder as almas; estas almas que custaram tantos trabalhos, lágrimas e
tormentos a Jesus Cristo! ... Vede estas infelizes, e vós vereis que mil demônios circundam sua cabeça
e seu coração. Ó meu Deus, como a terra pode suportar tais sequazes do Inferno? Coisa mais
espantosa ainda, como mães as suportam num estado indigno de uma cristã! Se eu não temesse ir
longe demais, eu diria a estas mães que elas valem o mesmo que suas filhas. Ai, este infeliz coração e
estes olhos impuros não são mais que uma fonte envenenada que dá a morte a qualquer que os olha e
os escuta. Como tais monstros ousam se apresentar diante de um Deus santo e tão inimigo da
impureza! Ai! A vida deles não é mais que uma acumulação de banha que eles estão juntando para
inflamar o fogo do Inferno por toda a eternidade. Mas, meus irmãos, deixemos uma matéria tão
desagradável e tão revoltante para um cristão, cuja pmeza deve imitar a de Jesus Cristo mesmo; e
voltemos à nossa bela virtude da pureza que nos eleva até o Céu, que nos abre o coração adorável de
Jesus Cristo, e nos atrai todas as bênçãos espitituais e temporais.
118
II - Sermão sobre as Danças
Há sempre alguém que vem me dizer: "Padre, que mal existe cm uma pessoa se divertir um
pouco? Eu não faço mal a ninguém ... Eu não sou um religioso e nem pretendo sê-lo! Se eu não puder
sequer dançar um pouco, eu estarei passando a minha vida nesse mundo como se fosse um morto!"
Meu caro amigo, você está muito errado. Ou você se torna um religioso. ou você será um
condenado. E o que é ser uma pessoa religiosa? Nada mais é do que uma pessoa que cumpre com
todos os seus deveres como Cristão. Você me diz que eu não vou conseguir nada tentando convencê
lo a respeito domai que existe nas danças e que você não vai se tomar por isso, nem mais e nem menos
indulgente a esse respeito.
Mas eu lhe digo: você está errado novamente, pois ao ignorar e desprezar as instnições do seu
pastor, você atrai sobre si a ira e os castigos de Deus, e eu pelo meu lado. serei recompensado por ter
cumprido com os meus deveres. Na hora da minha morte, Deus não vai me perguntar se você cumpriu
ou não com as suas obrigações, mas sim, se eu lhe ensinei ou não o que você deveria fazer para
cumprir com seus deveres.
Você também me diz. que cu nunca conseguirei quebrar a sua resistênci.i, a ponto de fazê-lo
acreditar que existe algum mal em divertir-se dançando. Você não quer mesmo acreditar que existe
algum mal nisso, não é verdade'! Bem, isso é problema seu. Que eu saiba, é suficiente pra mim. falar
lhc num modo, que me assegure que ao fazê-lo, estarei fazendo aquilo que como pastor cu deveria
fazê-lo. P011anto, que isso não lhe irrite! Seu pastor está apenas cumprindo com o dever.
Mas você me dirá: Nem os 1 O Mandamentos e nem tampouco toda a Sagrada Escritura proíbe
alguém de dançar! Talvez você diga isso porque não os examinou atentamente. Siga o meu raciocínio
por um momento e cu lhe mostrarei que não existe um só mandamento, ao qual as danças não levem à
transgressão e não existe um só sacramento que não seja profanado por causa das danças.
Você sabe tão bem quanto cu. que essas folias e extravagâncias selvagens. acontecem
principalmente nos domingos e feriados. Que você me diz então daquele jovem ou daquela jovem que
decidiram ir a um baile ou a uma festa dançante? Qual o amor que eles tem por Deus? Suas mentes
estarão totalmente ocupadas com os preparativos para chamar a atenção daqueles com os quais eles
estarão misturados.
Suponhamos que eles já tenham feito suas orações. Com que espírito essas orações foram feitas?
Só Deus sabe! Por outro lado, que tipo de amor a Deus uma pessoa pode sentir, quando seu coração
está suspirando e pensando somente nos prazeres e nas criaturas? Nesse ponto você terá que admitir
que é impossível agradar a Deus e ao mundo ao mesmo tempo. Aliás, isso nunca será possível!
Deus também proíbe "juras". Sabe Deus, quantas querelas, quantas juras e blasfêmias são
proferidas como resultado das ciumeiras que se levantam entre a juventude, quando eles estão
reunidos nesses encontros! Vai me dizer que não acontecem freqüentemente. disputas e brigas nesses
locais? Quem poderia contar quantos crimes são cometidos nesses encontros diabólicos?
O Terceiro Mandamento, manda-nos guardar os dias santos e nesse caso. o Domingo em
pm1icular. Será que alguém poderia realmente acreditar, que im1 rapaz que passou várias horas do
Domingo com uma garota, com o coração aceso como uma fornalha, estaria realmente satisfazendo
esse preceito? Santo Agostinho tem boas razões em dizer que um homem faria melhor coisa em
passar o dia inteiro trabalhando na lena e as garotas, tecendo, do que irem para esses encontros
dançantes. O mal seria bem menor. O Quarto Mandamento diz que os filhos devem honrar seus pais.
Esses jovens que freqüentam bailes, será que possuem o respeito e a submissão que eles devem a seus
pais? Não, certamente que não. Eles causam a seus pais maior preocupação e desgosto cio que você
119
pode imaginar! Tanto pelo modo com o qual eles ignoram seus desejos e pelo mal uso que fazem do
dinheiro, como também por criticarem e zombarem de seus pais chamando-os de "fora-de-moda".
Quanta dor tais pais devem sentir!-isto é. se a Fé deles ainda não se extinguiu por completo-, ao
verem seus filhos se lançarem cm tais prazeres, ou pra dizer de um modo mais claro. nesses caminhos
licenciosos! Esses filhos não são mais abençoados por Deus, mas estão sendo engordados para o
Inferno. Mas suponhamos que esses pais já tenham perdido a Fé... Coitados... eu sequer ouso ir mais
adiante... Quão cegos são esses pais! Quão perdidos são esses filhos! Pode por acaso existir algum
outro lugar, ou tempo ou ocasião em que tantos pecados são cometidos contra a pureza, do que nos
salões de bailes e danças? Não seriam nesses encontros que as pessoas são incitadas mais
violentamente contra a santa virtude da pureza? Onde mais os sentidos são tão fortemente
impulsionados em direção da excitação dos prazeres? Se formos aprofundarmos ainda mais,
deveríamos morrer de horror diante dos muitos crimes que são cometidos ali! E não são nesses
encontros,que o demônio furiosamente acende o fogo da impureza no coração dos jovens, de modo a
aniquilar neles a graça do Batismo? E não são nesses locais que o Inferno escraviza tantas almas
quanto deseja?
Imagine então: Apesar da ausência de ocasiões de pecado e do auxílio de tantas orações já é tão
dificil perseverar na virtude da pureza de coração, como poderia então ser possível preservar tal
virn1de no meio de tantas fontes de com1pção?
São João Ciisóstomo diz: "-Olhe aquela jovem mundana e leviana, ou melhor, olhe para aquela
pequena chama do fogo diabólico, que com sua beleza e gestos "flamboyants", acende no coração
daquele jovem, o fogo da concupiscência. Você não os vê? Um mais do que o outro, buscando atrair
se mutuamente pelos seus channes e toda a sorte de truques e ardis? Se você puder, pode contar, ó
infeliz pecador: o número de seus maus pensamentos, ou maus desejos e suas ações pecaminosas!
Não é nesses lugares que você ouve aquilo que agrada aos seus ouvidos, que inflama e queima os
corações, fazendo·dessas assembléias fornalhas de "falta-de-vergonha"? E não é por acaso ali, meus
caros irn1ãos, que os rapazes e moças. bebem diretamente na fonte do crime, a qual logo, logo, se
transforma num rio que transborda o seu leito. arruinando e envenenando n1do à sua volta? Pois cu
digo; continuem! Sigam em frente, pais e mães desavergonhados! Sigam para o Inferno, onde a
justiça e a fúria de Deus os aguarda com todas as ações que vocês praticaram. pennitindo aos seus
filhos c01Terem tais riscos. Pois sigam em frente. porque eles não demorarão muito a se reunirem com
vocês,já que vocês deixaram a estrada pavimentada para eles. Sigam em frente e contem o número de
anos que seus filhos e filhas perderam! Apresentem-se diante do Supremo Juiz para prestarem contas
de suas vidas e ali vocês verão que o seu pastor tinha toda a razão ao proibir essa espécie de prazer
diabólico! Você me dirá: -Ah! Você está apresentando as coisas maiores do que elas são realmente!
Pois bem, você acha que eu estou falando demais? Então ouça o que os Santos Padres da Igreja dizem
a esse respeito! São Efraim diz-nos que a dança é a perdição de moças e mulheres, a cegueira dos
homens, o lamento dos anjos e a alegria dos demônios. Meu Deus! Será que alguém possui olhos tão
enfeitiçados a ponto de acreditar que não existe mal nenhum nisso. enquanto essa é a corda com a qual
o demônio anasta a maioria das almas para o Inferno? Então continuem, sigam em frente pobres pais.
cegos e perdidos! Sigam desprezando o que o seu pastor está dizendo para vocês! Continuem no
caminho que vocês estão seguindo! Ouçam tudo e não tirem proveito de nada' Deixem entrar por um
ouvido e sair pelo outro!
Quer dizer que não existe mal algum nisso, não é? Digam-me então o que foi que vocês
renunciaram no dia do seu Batismo? Ou sob que condições o Batismo lhes foi concedido? Será que
não foi sob a condição de que ao fazerem seus votos diante do Céu e da Terra, na presença de Cristo
sobre o Altar, vocês renunciariam a Satanás e todas as suas pompas e obras por todo o tempo de suas
vidas? Em outras palavras, que vocês renunciariam a todos os prazeres e vaidades deste mundo? Não
foi sob a condição de abandonarem tudo para seguirem ao Cristo Crucificado que vocês foram
batizados? Sendo assim, não é verdade que vocês estão violando as promessas de seu Batismo e
profanando este Sacramento da Misericórdia? Vocês não estariam também profanando o Sacramento
da Confirmação, ao trocar a Cruz de Cristo que vocês receberam, por vaidades e roupas obscenas,
envergonhando-se ao invés, da Cruz, a qual deveria ser para vocês, glória e felicidade? Santo
Agostinho diz-nos que aqueles que freqüentam bailes, verdadeiramente renunciam a Jesus Cristo
120
para poderem se entregar ao demônio. Como isso é honivel! Expulsar Jesus depois que vocês O
receberam em seus corações! São Efraim nos diz: - Hoje vocês se unem a Jesus Cristo. para logo
depois, amanhã, se reunirem a Satanás! Comporta-se exatamente como Judas Iscariotes, aquela
pessoa que logo depois de receber Nosso Senhor Jesus Cristo, vai vendê-Lo a Satanás nesses
encontros. onde ela se reúne com tudo que existe de mais pecaminoso!
E quando se trata do Sacramento da Penitência? Oh! Quanta contradição em tais vidas! Um
Cristão que depois de um único pecado, deveria passar o resto de sua vida no an-cpendimento, pensa
apenas em se atirar nesses prazeres mundanos! Urna grande maioria profana o Sacramento da
Extrema Unção que receberam num momento de dor, entregando-se depois a tudo quanto é
movimento indecente com os pés, as mãos e o corpo inteiro que um dia foi santificado com os Santos
Óleos.
Por outro lado, o Sacramento das Sagradas Ordens também é insultado pelo desat:ato e desprezo
t:om os quais as instruções dos pastores são consideradas. Mas quando chegamos ao Sacramento do
Matrimônio, que Deus nos ajude! Quantas infidelidades podemos contemplar nessas assembléias?
Parece que tudo é admissível. Quão cego é aquele que ainda pensa que não existe mal algum nisso!
O Conselho Municipal de Aix-la-Chapelle, proíbe danças, mesmo nos casamentos. E São Carlos
Bon-omeo. o Arcebispo de Milão, dizia que dcve1iam ser dados 3 anos de penitência àqueles cristãos
que freqüentassem bailes e mais, que se voltassem atrás, deveriam ser ameaçados com a
excomunhão. Então. se é verdade que não existe nenhum mal nisso. será que a Igreja e os Santos
Padres é que estariam errados?
Mas quem é que diz que não existe mal algum nisso? Só pode ser um libe1tino. ou uma mulher
leviana e mundana que eslá tentando aliviar seu remorso de consciência do modo mais conveniente
possível.
Bem, você pode1ia me dizer que há sacerdotes que não falam muito sobre isso durante a
Confissão ou que embora admitam ser pecado, nunca se recusam em dar logo a absolvição para tal
delito. Ah! Eu não saberia dizer se tais sacerdotes são ou não tão cegos, mas eu posso assegurar-lhes
que todos aqueles que estão procurando por sacerdotes tão condescendentes, estão buscando um
passapo1te que os leve diretamente para o Inferno. Da minha parte, se eu mesmo tivesse freqüentado
bailes, sei que não deveria receber absolvição a não ser depois de ter uma fim1e resolução de não
voltar mais a freqüentar tais salões.
Veja bem o que diz Santo Agostinho e depois você me dirá se as danças sào ou não uma boa ação.
Ele nos diz que "as danças são a ruina das almas, o inverso da decência. um espetáculo
desavergonhoso e uma profissão pública do crime". São Efraim chama as danças de: "ruína da boa
moral e alimento do vício". Já São João Crisóstomo: "Uma escola pública da falta de castidade". Para
Tertuliano. a dança era considerada: "O Templo de Vênus, O Consistório da Falta de Vergonha e a
Cidadela de toda a depravação". Santo Ambrósio disse uma vez:
- Eis aqui uma moça que dança! Mas não se esqueçam de que ela é filha de uma adúltera, porque
uma mãe verdadeiramente cristã, ensinaria à sua filha; a modéstia, um sentido adequado de vergonha
e absolutamente nada a respeito de danças!
E agora eu lhes pergunto; quantos jovens existem aqui, que desde que começaram a freqüentar
esses bailes, não freqüentam mais os Sacramentos? Ou quando o fazem, fazem apenas parn profaná
los? Quantas pobres almas existem que perderam sua religião e sua Fé! E quantos mais, nunca
conseguirão abrir os olhos para ver o estado infeliz em que se encontrnrn, a não ser depois que já
tiverem caido no Inferno! ...
***
121
33- LEMBRETE DE ALGUMAS REGRAS
DE MODÉSTIA CRISTÃ
(Por sua Exc. Monsenhor Bernard Fellay
Superior Geral da Fraternidade S.S. Pio X)
•:• Não é pennitido em nenhum caso vestir uma roupa indecente. Não pode, com
certeza, ser chamada saia decente aquela que não cobre os joelhos quando a
pessoa está sentada. ou que deixa aparecer, por fendas ou por transparência, aquilo
que o pudor não permite mostrar, isto é, as pernas acima dos joelhos. A mesma
coisa deve ser dita das roupas - tanto masculina como feminina - que ficam
marcando as formas do corpo;
•:• Quanto ao decote e aos ombros descobertos, eis o que o Cardeal Vigário do Papa
Pio XI dizia: "Um vestido cujo decote desce a mais de dois dedos para baixo da
base do pescoço e que não cobre os braços até o cotovelo, não pode ser chamado
decente.";
Além dessas regras gerais, a visita a uma igreja exige um traje correspondente à
santidade desse lugar.
***
122
Cruzada Mariana
A brochura que você está para ler é, na sua maior parte, a cópia original do livro "Marylike
Modesty Handbook of the Purity Crusade of Mary Immaculate." Este foi um movimento
estabelecido e dirigido pelo Padre Bernard A. Kunkel. Padre Kunkel morreu em maio de 1969. Três
anos antes da morte do Padre Kunkel, ele fez a seguinte declaração: "Sinto que quando eu sair de cena
será o fim da Cruzada. Não encontro ninguém que me auxilie a levar adiante meus princípios como eu
gostaria que o fossem". Depois acrescentou: "Certamente que não devemos nos preocupar muito a
respeito dessas coisas materiais; farei o que for possível enquanto for capaz e, depois disso, se eu
continuar, será nas mãos de Nossa Santa Mãe".
Apenas dois meses antes de sua morte, tendo diante de si o esboço da edição de maio-junho do
"Cruzado", o Padre Kunkel disse: "Esta é a última edição do Cruzado Mariano que eu escrevo. Se eu
ainda estiver vivo em setembro, estarei muito fraco, pois me enfraqueço a cada dia. A próxima edição
está nas mãos de nossa Santa Mãe. Ainda não encontrei um novo diretor para o Cruzado. Se não puder
encontrar o diretor certo, prefiro vê-lo fechado".
Esta foi a dificil decisão que devia ser tomada pelo Reverendíssimo Bispo da Diocese de
123
Belleville, que também era o presidente da Cruzada Mariana. O Padre Kunkel não pôde encontrar
ninguém que levasse adiante esta singular Cruzada quando ainda estava vivo. Ninguém pôde ser
encontrado após sua morte para ser o novo diretor e para levar adiante seus princípios. Desta forma,
para rcspcitú-los, o Cruzado foi encerrado.
Pergunte-se a si mesmo: Como é possível que ninguém possa ser encontrado para levar adiante
essa obra que foi primeiramente implementada pelo Magistério da Igreja por meio de vários de seus
Sumos Pontífices?
Após ler esta brochura, cara leitora, você constatará que o seu conteúdo é, no seu conjunto, a
própria doutrina da Igreja que, assistida pelo Espírito Santo, nos guia para o Céu.
O demônio é o pai de toda mentira e tem, por meio do gradualismo, levado a humanidade
(especialmente o clero e a hierarquia da Igreja) a ser fisgada por um falso sentimento de segurança e
por uma atitude letárgica com relação às questões morais dos dias de hoje.
Se você ama a Deus verdadeiramente, estudar esta brochura deveria mudar a sua vida. Vai lhe
custar alguma coisa. Porém, qualquer coisa que valha a pena tem um custo. Este texto será um teste
para muitos.
Nós retomamos a reimpressão e a direção deste nobre trabalho, e consideramos um grande
privilégio que Nossa Senhora permita continuar essa Cruzada pela Pureza, iniciada e liderada durante
muitos anos sob a hábil direção do Padre Kunkel.
Está bem claro que este pequeno trabalho encontrará muitas críticas e recusas obstinadas, como
houveram no tempo do Padre Kunkel. Muitas pessoas que terão este livro nas mãos não o lerão,
simplesmente porque não querem perder seu tempo com tal assunto ou porque não querem conhecê
lo.
Prefácio
A modéstia cristã é a vinude mais esquecida hoje. Ela é indispensável para a proteção da
castidade. É inútil procurar restaurar a castidade nos indivíduos, nas famílias e na sociedade se a sua
salvaguarda, a modéstia, é ignorada e atacada em tão larga escala como nos dias de hoje.
Hoje em dia não existem livretos que tratem da modéstia, e muitas pessoas que escrevem sobre o
assunto só terminam por confundir mais e mais as mulheres católicas por meio de muitos sofismas,
transigências com o mundo ou, até mesmo, total aceitação dos princípios mundanos.
Já cinco Papas da época moderna publicaram, seguidamente. diretrizes a respeito da modéstia
cristã, bem como a refutação de muitos destes erros.
Não é esta a razão pela qual Cristo estabeleceu na Sua Igreja a SupremaAutoridadc ele Ensinar''
Proteger a Igreja cios eITos e corrigir o clero. os professores e os pais que, intencionalmente ou em boa
fé, propagariam etTOs'?
Qualquer um que, atualmente, ouse defender os princípios da modésti.i cristií tradicional é
considerado, mesmo por um gnmde número de católicos. como uma pessoa escrupulosa, um criador
de consciências problemáticas ou como um louco. Mas Cristo não disse que este é o preço que os Seus
seguidores deveriam pagar diariamente se quisessem ser fiéis a Ele e à Sua Igreja?
A Cruzada Mariana apresenta Maria como o perfeito modelo para todos os cristãos e baseia-se
no Magistério da Igreja, nos Santos, em algumas revelações privadas mas sobretudo nos Papas, que
são a Autoridade Suprema na Igreja. Daí este duplo lema: "Tudo o que Maria Santíssima aprova.
Tudo o que a Igreja aprova".
Capítulo I
A Cruzada Mariana
Esta Cruzada pela pureza não parece sem esperanças nos dias atuais?
Isto é o que o demônio nos quer fazer crer. Por nosso silêncio estariamas pennitindo que todo o
campo da moralidade ficasse em suas mãos. O Papa Pio XII aponta a seriedade da situação do mundo
atual, bem como o remédio: "O perigo desta crise temível nos enche de um grande temor, e com
confiança nós recorremos a Maria, Nossa Rainha" (11 de outubro de 1954).
Assim também a Cmzada Mariana não se apóia em meios naturais, mas "se volta com confiança
à Maria Imaculada", certa de que, como ela disse em Fátima: "Por fim o meu Imaculado Coração
triunfará"'.
A Cruzada Mariana tem sua vitória assegurada, pois a restauração da pureza da modéstia em um
mundo corrompido é um pré-requisito para o triunfo de Maria.
Que nós nunca nos desencorajemos nesta "Batalha dos Anjos", onde a Serpente ousa lançar seu
último desafio, aberta e publicamente, conu·a a majestade de nossa Mãe Castíssima.
Nós não somente temos profec.ías de Maria em umas revelações privadas, mas Deus também,
nas Escrituras, prometeu que "Ela esmagará sua cabeça". Certamente Maria. nossa Rainha e Mãe,
esmagará a cabeça da serpente insidiosa e venenosa, o demônio da impureza. Mas Deus quer que este
triunfo se realize não pela indiferença e pela letargia, mas pela cooperação dos filhos de Maria
marchando sob sua gloriosa bandeira.
Então, como a Cruzada Mariana propõe lidar com esse delicado problema?
A Cmz.ada Mariana está preocupada com o aspecto moral deste problema. Ela se esforça cm
apontar as muitas annadilhas espirituais e laços deixados pelo demônio da impureza para fazer cair
cspccialmenrc nossos jovens. Ela não se contenta com as denúncias vazias e fúteis que durante tanto
tempo estiveram em voga, mas oferece uma aproximação objetiva do problema da impureza, dando
soluções concretas.
126
Noque consiste essa aproximação positiva?
De acordo com o plano geral da Crnzada Mariana, nossa Santa Mãe é apresentada como a
"Virgem Puríssima" e "Mãe Castíssima". como nosso ideal de pureza e modéstia. e nosso modelo
pc1fcito de imitação. Cada Cruzado luta primeiramente pela realização do ideal Mariano na sua
própria vida. Somente então eles podem colher os resultados de seus esforços para refonnar a família
e a vida social. Oração e Sacri11cio fom1am a base de todos os esforços dos Cruzados.
Por que castidade e modéstia são repetidamente unidas? Por acaso significam a mesma
coisa?
Castidade significa controle do instinto sexual, ou fazer com que o apetite sexual esteja de
acordo com os sexto e nono mandamentos: Não cometerás adultério: Não cobiçarás a mulher de teu
próximo. Modéstia, por outro lado. é a guardiã da castidade. É freqüentemente comparada a Luna
muralha que nos protege a nós mesmos c aos outros contra os freqüentes ataques feitos contra a
castidade.
Capítulo II
Vestes imodestas
A imodéstia nos vestidos das mulheres é tão importante quanto nos é apresentada às vezes?
É extremamente importante, muito mais do que muitas mulheres compreendem.
De fato. é o ponto de pa11ida obrigatório para uma genuína Cruzada pela Pureza. Foi somente
após a introdução em larga escala das modas imodestas na sociedade que as forças de corrupção
puderam, com sucesso, inundar o mercado com uma litcrntura altamente obscena e tumultuar os
teatros e as ondas de rransmissào com figuras imorais. Como, então. podemos esperar acabar com
todas essas coisas se nos falta a coragem de pôr um Lenno ao fato de que nossas próprias mulheres
católicas marchem no "vergonhoso desfile da carne''? O primeiro passo, pois. para a modéstia social é
a modéstia de nossas mulheres.
Há alguma razão sólida para deixar as mulheres na ignorância numa matéria tão séria?
Alguns homens são afligidos com pensamentos e desejos impuros pelo simples fato de olharem
um belo rosto feminino, ainda que uma mulher tenha um compo1iamento e vestidos modestos. Mas
quando o compo11amento é imodesto, ela se toma uma tentadora para muitos homens normais, que
caem diante de tais seduções:
"Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma mulher, já adulterou com ela cm seu
coração'' (S. Mateus V. 28). As mulheres que são indiretamente imodestas estão incluídas nesta
sentença, sendo cooperadoras com os pecados cios homens.
Isto não prova que tais homens ''têm uma mente corrompida"?
De modo algum. Deus fez com que a mulher fosse bela e atraente ao homem por que assim era
128
conveniente ao Seu projeto de procriação dos homens dentro de um matrimônio legítimo. Como
conseqüência do pecado original, o homem deve constantemente lutar para dominar esta atração. Se
não o faz, e se não se f011ifica por meio da oração. o pecado rapidamente entra em sua alma e o
adultério no seu coração.
Esta é a razão pela qual os autores ascéticos previnem os homens contra admirar
intencionalmente o rosto de uma mulher. O mundo considera Santo Afonso um louco por ter feito o
voto de jamais olhar na face de uma mulher. incluindo sua própria mãe.
Mas Santo Afonso o fez, pois estava determinado a passar por esta vida sem contrair um só
pecado mortal: "A vida do homem sobre a ten-a é um combate" (Jó Vil,!).
O mundo, incluindo os Católicos mundanos, ignora as regras sólidas cio ascetismo, que sempre
foram apresentadas no Antigo Testamento. como: "Não detenhas o olhar sobre uma jovem, para que a
sua beleza não venha a causar tua ruína" (Eclo IX. 5). "Muitos pereceram por causa da beleza
feminina, e por causa dela inflama-se o fogo do desejo·· (Eclo IX. 9).
A mulher é, então, considerada como algo mau e que deve ser evitado?
Não! Mas esta questão está inteiramente relacionada com o assunto. Seu grau de bondade
depende de quão fielmente ela desempenha a função que Deus lhe deu, como auxiliar do homem e
não como sua tentadora. Pela sua modéstia ela pode usar seu encanto para domar as paixões do
homem; pela imodéstia sua beleza se toma a ruína do homem.
Isto toma as mulheres as guardiãs da castidade no mundo.
Eis porque Deus deu à mulher um senso muito mais delicado de modestia do que ao homem. Não
somente para proteger sua própria integridade. mas tambem para proteger o homem contra a fúria de
suas paixões. Quando a mulher é modesta. o homem será o único culpado se ele cair nas tentações da
carne. Mas quando ela decide expor partes do corpo que deveriam estar cobertas, se torna uma
sedutora, partilhando assim a culpa cio homem. De faro, os Teólogos ensinam que o pecado da
sedutora é muito maior que o da pessoa seduzi ela.
Os pais partilham a culpa por cst<' estado tão triste das coisas?
Sim, e muito. Basta uma moça se vestir modestamente para que suas ridí.::ulas mães venham
desencorajá-las e até mesmo impedi-las. Leve em consideração as SÉRIAS ADMOESTAÇÕES do
Papa Pio XII: •·ó mães cristãs (e pais), se soubésseis o futuro de aflição e de perigo, de vergonha mal
contida, que vós preparais para os vossos filhos e filhas ao acosnuná-los de modo imprudente a
viverem parcamente vestidos e fazendo-os perder o senso de modéstia, teríeis vergonha <le vós
mesmos e do mal causado àqueles pequenos que o Céu confiou aos vossos cuidados para serem
instruídos na dignidade e na cultura cristãs".
Este aviso deveria fazer com que os pais considerassem mesmo as modas infantis: roupas que
com dificuldade cobrem as fraudas e que têm somente alças e não mangas. vesti<linhos para meninas
que deixam a frauda completamente exposta e peças que não cobrem abs'olutamente nada das pernas.
A Bíblia nos ensina: "Ensina uma criança no caminho que ela deve seguir''. É de impressionar
que essas crianças, com o passar do tempo, seguindo estes caminhos vergonhosos, tenham perdido o
129
senso de modéstia? A partir das modas infantis semi-nuas, o vagalhão da imodéstia engoliu todas as
faixas etárias de ambos os sexos até o mais alto grau de nudez.
Considere também a culpabilidade dos pais que, não querendo ser taxados de antiquados. fogem
da autoridade que Deus lhes conferiu e permitem que suas filhas e filhos vistam roupas imodestas ou
calças transexuais (do sexo oposto), dizendo: "É apenas um capricho de adolescentes. Todo mundo
usa! N,io tem qualquer perigo!".
O feminismo fez incursões trágicas ao minar a legítima autoridade do pai em casa, desvirtuando
seu instinto natural de proteger e salvaguardar a modéstia e a pureza das mulheres da casa. Tal
característica, dada a ele por Deus, é ridicularizada como patriarcal e chauvinista. Assim, auxilia-se
Satanás a expor as mulheres e moças às luxúrias e paixões dos apetites mundanos da moda, sem que
tenham alguém que possa defender a honra delas! Muitos pais zelosos foram reduzidos ao silencio
por esposas e filhas moldadas pela moda, quando se opuseram às suas vestes imodestas. Infelizmente,
a busca que tem pela "paz doméstica" não é caridade, mas covardia! Equivale a um abandono de seus
deveres de serem protetores da inocência e da virtude, como Cristo o é.
Existem outras vias de corrupção pelas quais nossas crianças perdem seu senso de
modéstia?
SIM! Uma das formas de corrupção mais sutis e insidiosas à qual nossas crianças estão expostas
são as bonecas anatomicamente con-etas. As bonecas da moda são especialmente ofensivas. O
surgimento do plástico revolucionou a habilidade elos fabricantes ele criar bonecas muito semelhantes
à vida real. Infelizmente, a modéstia foi a última das coisas a ser considerada. Sem refletir. muitos
pais tolos fizeram filas para assegurar que suas filhas tivessem as bonecas mais novas e "melhores".
As muito populares bonecas da moda foram, entretanto, um instrumento excepcionalmente eficaz
pelo qual o demônio deu às meninas imagens de mulheres nuas para brincarem, sem mencionar a
curiosidade que isso fez surgir nos garotos, semeando as sementes da concupiscência em seus
corações. Quando as crianças brincam, elas imitam a vida, preparando-se para a fase adulta. O
primeiro impulso de uma criança é despir uma boneca. Quando é que os pais dariam a suas crianças
um livro com figuras de mulheres nuas para olharem? E ainda os pais não tem nenhuma náusea de dar
às suas crianças uma pequena mulher de plástico nua para tocar, olhar e trabalhar a fantasia!
Deveríamos corar ao vermos estes brinquedos se propagando sem controle!
Para chegar ao cúmulo, as roupas imodestas que essas bonecas vestem encorajam nossas filhas a
vesti-las. As vestes glamorosas se tomam um padrão de beleza para nossas inocentes crianças desde
uma idade impressionante. A honestidade deve considerar o tipo de afirmação que essas bonecas
fazem às nossas crianças. A boneca é sempre "legal", "no último estilo" e diz: "Você não quer ser
assim também9".
Mas que esquema oportunamente diabólico ! Deste modo, nossa cegueira ou nossa inocência em
buscar uma diversão para elas se torna uma fonte de duplo escândalo!
Como as mulheres que perderam o senso de modéstia devem fazer para julgar um vestido
modesto de um imodesto?
Elas não o podem fazer sem ajuda. Elas criaram uma consciência eITônea, ou uma consciência
que é relaxada ou perplexa. O senso de modéstia era para elas o que a bússola é para um marinheiro
nos mares. Tendo perdido esta bússola dada por Deus, devem procurar outra para dirigirem sua
130
direção e, tanto quanto possível, restaurar esta vergonha que nós chamamos senso de modéstia. Elas
devem seguir padrões definidos de vestidos modestos estabelecidos por uma autoridade competente.
Uma bússola ou guia seguro não é uma questão de costume, sem padrões restritivos?
Há lideres Católicos que ensinam que "a modéstia no vestir é uma questão de costume c..de
convenção". Tal ensinamento é falso, pois ignora a suprema autoridade da Igreja. investindo essa
autoridade na sociedade humana falível. Isso leva a todo tipo de conclusões absurdas.
Se o costume tomasse a nudez pública uma virtude, por que Deus achou necessário, no Paraíso,
mudar os trajes ele Adão e Eva por vestes feitas por Ele, a fim de cobrir a vergonha deles após a queda ')
O costume pode somente indicar logicamente que uma desonestidade pública virou hábito.
A opinião que permite ao costume decidir a questão ela moralid::idc é refutada por Pio XII em uma
frase curla: "Há sempre uma norma absoluta a ser preservada na modéstia do vestir'' ( 8 de novembro
de 1957). O costume dá pouca atenção a nonnas absolutas. mas é fruto de outro falso princípio: "A
maioria nunca pode estar errada".
Dizer que "a modéstia é uma questão de costumes" é tão falso quanto dizer que "a honestidade é
uma questão de costumes".
O pecado é tão imundo e perigoso hoje quanto ele sempre foi. Não desculpa simplificações no
vestir com a justificativa de que todo mundo o faz. O mal nunca deve ser feito, mesmo que todos o
façam. Não se pode dizer que está tudo bem se vestir imodestamente só por que se vestir
modestamente é fora de moda. É Deus, e niio o povo. que declara o que é ce110 ou errado. Deus. a
Igreja e Seu Vigário são retos, mesmo que todo o mundo afirme que estão em1dos! A miséria do
mundo é devida a esta auto-suficiência que coloca nosso prazer. nosso orgulho e nossa conveniéncia à
frente da Vontade de Deus.
O que dizer daqueles que afirmam que "o costume não nos afeta"?
O Papa Pio XII. novamente, chama n aplicação deste amigo principio à modéstia ele "o mais
insidioso dos sofismas". Ele chama a atenção para o fato de que alguns o usam "para rotular como
antiquada a revolta das pessoas honestas contra modas que são muito atrevidas" (8 de novembro de
1957).
Visões costumeiras podem nem sempre deixar marcas no conhccirncnro de alguém. Nove
olhadas superficiais para uma mulher mal-vestida podem não tenninar por dcspe11ar seriamente a
concupiscência da carne, enquanto que a décima pode se revelar fatal para a alma. A concupiscência
pode freqüentemente permanecer dormente. mas nunca morre em um homem normal.
Há outra consideração importante a fazer. Todo olhar consciente dispara uma imagem na
imaginação. Esta figura. de uma mulher indecente. pode sair rapidamente da memória. Então,
inesperadamente, talvez cinco ou dez anos depois. ela emerge do fundo da mente e projeta a si mesma
na consciência de sua vitima, para atonnentá-la contra a pureza.
Essas lições oportunas dos mestres espirituais são desconhecidas ou ignoradas pelos mundanos.
De outro modo não teriam como usar desculpas do tipo: "O que é costumeiro não nos afeta".
As mulheres podem seguir com segurança o slogan: "Pode-se seguir as modas e:..istentes se
os extremos são evitados"?
Este é outro sofisma que não possui fundamento sólido em Teologia. Ele representa um
compromisso açucarado. Sendo um termo relativo, "extremo'" pode ser moldado para significar
quase qualquer coisa que alguém queira, segundo sua conveniência. Alguém poderia sustentar muito
bem este CITO: "Pecado não é pecado até que vá para os extremos··.
Porventura seria tão ruim usar esse tipo ele vestuário, tais como shorts ou vestidos ele alças,
quando "todos fazem isto"·?
Primeiramente, não é verdade dizer que "todo mundo o faz". É um grande exagero. Muita,
mul.heres modestas ainda "ousam ser diferentes'" da "multidão".
Agora, ainda que isso fosse verdade, é baseado em outro sofisma. O pecado permanece pecado
ainda que uma só pessoa dentre milhões evite o mal. Os números não nos dão a salvação. A única
coisa que conta é como Deus julga a modéstia ou imodéstia do vestuário de alguém.
131
:'lliio hi111111ilas 1wssoas que condenam um padrão definido de modéstia no vestir?
Nalural1m:11lc. ,1ssim como um homem de negócios desleal condena uma lei honesta. Uma
sociedade que destruiu us padrões tradicionais de modéstia no vestir, com dificuldade tomaria
csfon,:os para reimplantá-los. Mesmo católicos liberais se opõem a padrões específicos de modéstia
no vestir. Isto cm conseqüência de que o Liberalismo procura urna falsa liberdade cm relação às leis.
ús regras, às regulamentações e a todo tipo de resttições.
Entretanto, queiram as pessoas admitir ou não, todas as suas vidas são reguladas por padrões de
uma forma ou outra. Há padrões para sapatos, padrões para pesos. Temos cores padronizadas e
tamanhos, padrões de qualidade e mesmo padrões de tempo que nos são impostos pelo sol. Temos
padrões de maneiras e de modos de agir que nos influenciam até mesmo nos mínimos detalhes.
A cada passo somos confrontados com padrões. As pessoas aceitam isso sem questionarem, até o
ponto, por vezes, de chegarem à escravidão e ao absurdo.
Porventura somente a virtude da modéstia deveria ser privada de ser regulada e protegida por
padrões? Se estamos prontos para aceitar o que quer que as autoridades seculares nos imponham,
muito mais devemos nós, católicos, estar prontos para aceitar "o que quer que Maria Imaculada
aprove", o que é nosso lema da Cruzada.
Mas estas cartas foram dirigidas às dioceses da Itália. Como podem nos obrigar fora deste
país?
Elas obrigam em todo o mundo pois Pio XI estendeu esta Cruzada pela Modéstia a todo o mundo.
Por ordem sua, a Sagrada Congregação do Concílio publicou uma carta especial para todos os Bispos
132
do mundo, em 12 de janeiro de 1930. Estas instruções foram essencialmente as mesmas dadas aos
Bispos da Itália. Mas elas foram ainda mais adiante. Elas não somenre foram dirigidas às Irmãs.
escolas e instituições, como na Itália, mas também o foram aos pastores. pais e leigos em geral. Esta
carta de 1930 abre-se com estas palavras solenes:
"Assim, este Sagrado Concílio, que vigia sobre a disciplina do clero e do povo, louvando
cordialmente as ações dos Veneráveis Bispos, muito enfaticamente os exorta a perseverar nas suas
atitudes e a aumentar suas atividades o tanto quanto suas forças o pemlitem. a fim de que esta
perniciosa doença seja definitivamente extirpada da sociedade humana. A fim de atingir o efeito
desejado, esta Sagrada Congregação, por ordem do Santo Padre, decretou o seguinte..." (Aqui, as
instruções específicas enfatizam, numa linguagem muito séria e em nove decretos, as obrigações dos
Bispos, Párocos, Freiras e pais para aplicar as regras da modéstia). É no número 6 que o Santo Padre
pede "docilidade ao documento datado de 23 de agosto de 1928".
Assim sendo, os padrões Romanos foram implicitamente prescritos para todo o mundo católico.
Por que estes padrões não se fizeram conhecer na América do �forte?
Eles não somente se fizeram conhecer na América do N01te, como também foram publicados
durante anos na entrada de muitas igrejas. Além disso, a "Liga da Modéstia" foi cm Chicago, Illinois,
EUA, como indicado nas Instruções de 12 de janeiro de 1930, para promover estes padrões dados
pelo "Cardeal Vigário de Roma··. Em 1935. esta Liga p11blicou um folheto com o lmprimatur de Sua
Excelência o Cardeal George Mundelein. no qual estes padrões eram incorporados. O escritório
central de Saint Louis t:unbém distribuiu grandes quantidades destes folhetos gratuitos contendo a
circular de 1930 do Sagrado Concílio, conclamando para uma Cruzada mundial pela modéstia no
vestir.
Alguns bispos não aprovaram vestidos sem mangas e vestidos somente com tiras· sobre os
ombros?
Não. Nenhum dos Bispos aprovou oficialmente esta redução dos padrões estabelecidos pelo
Vigário Cardeal do Santo Padre. apesar dos pedidos feitos por algumas pessoas. Por esta razão, a
Cmzada Ma1iana recusa-se a aceitar padrões enfraquecidos e liberais.
Então, estão todas as mulheres que usam estes trajes em culpa ou pecado mortal"?
Muitas não estão. Pecado mo11al é uma coisa tão telTÍvel que não f" cometido a mio ser que as
seguintes condições estejam presentes:
1. A ação pecaminosa deve ser grave.
2. Deve ser cometida com pleno conhecimento, e.
J. Com pleno consentimento da vontade.
Assim. se tuna mulher ou menina. sem nenhuma falta própria. está sinceramc!llc inconsciente
que sua vestimenta gravemente ofende a modéstia, uma das condições essenciais do pecado mortal
está ausente. Ela é considerada estar cm '"boa fé'".
A verdadeira felicidade vem de Deus. Ela preenche sua alma se você vive de acordo com o plano
de Deus e Seu, mandamentos. A infelicidade vem quando estes Mandamentos são quebrados pelo
pecado. A deso'-iediência é o espirito de Lúcifer: .. Eu não servirei! Deus e a Sua Igreja não podem
dizer-me o que lúer'".
O pecado mortal é uma grave ofensa contra a Lei de Deus e, por isso, é a maior tragédia no
mundo. A ênfase cstú em Deus. Ele fc7. de você Seu filho e amigo no Batismo. Ele deu a você Sua
Vida. a vida sobrenatural através dos Sacramentos e. entfio, por meio do egoísmo você vira suas
costas a Ele. Não tente fazer com que voei: mesmo acredite que ofender aos próximos é o único mal
possível. Deus não aprov,1 c,te pomo de vista. Quando você quebra a lei de Deus, você ofende a Deus
e a você próprio, por atingir ,ua amorosa relação com Ele! "O salário do pecado é a morte"' (Rom. VI.
23 ). Quebrar a lei de Deus pela impmeza espalha a morte: morte da alma por meio da perda da graça
santificante; mo11e da paz de consciência através do esmagador re:norso. C'lnseqiiência do pecado:
morte dos altos ideais.
A mo11c espiritual. por meio de pecados mo11ais. traz miséria e infelicidade neste mundo e
condenação eterna no próximo.
Capítulo Jll
Os padrões marianos para modéstia e moralidade no vestir
MARIANA- O primeiro padrão procura reentronizar Maria, o modelo perfeito de modéstia, nos
corações de suas filhas.
CORTE DE 5 CENTÍMETROS - "Cinco centímetros" é o equivalente à medida dada pelo
Vigário Cardeal de Roma, "largura de dois dedos" abaixo da concavidade do pescoço."
TECIDOS TRANSPARENTES - Muitas mulheres falham em perceber que vestidos
transparentes são sugestivos e causam sérias tentações nos homens. Em alguns casos, devido à
sedução enfatizada por uma falsa cobertura, são mesmo piores do que a pele nua. Eles atraem as
paixões. Po11anto, tecidos transparentes estão proscritos para as pm1es do corpo que exigem
cobe11ura, a menos que sejam foll'adas com material suficiente para esconder a pele.
Mulheres Marianas recusar-se-ão tornarem-se instrumentos nas mãos de Satanás para promover
esta moderna prática de sedução, a qual ele utiliza em uma escala extensiva. Noivas Marianas e suas
pajens não ousarão apresentar-se 110 altar, na presença do seu Senhor Eucarístico, vestidas com
tecidos vaporosos. desta fonna colocando cm risco a bênção de Deus oferecida pela Igrt:ia para a vida
conjugal.
Mães Marianas nunca permitirão que suas inocentes filhas usem roupas vaporosas e
transparentes na Primeira Comunhão. como agora se vê na moda. as quais são uns insultos para o Rei
dos Reis, O qual entra em seus inocentes coraçõezinhos pela primeira vez de suas vidas; roupas
transparentes que lhes causam a perda de seu ''senso de modéstia" em tenros anos. mesmo na Casa de
Deus.
COR DA PELE - Esta cor não é considerada objecionável por si para vestidos. mas somente
quando usadas para sugerir a pele nua em panes do corpo que requeiram cobern1ra. Assim, estas cores
seriam altamente questionáveis quando usadas corno acessórios no peito, e outras panes.
OCULTAR A SILHUETA - Vestidos que provêem cobern1ra suficiente podem ainda ser
imodestos pela razão do manequim, o qual os transforma em sugestivos e sedutores. Assim, um
corpete apertado ou moldado ao corpo é altamente questionável.
Por outro lado, um manequim que é muito solto e decotado nos cinco centímetros da linha do
pescoço, em especial sobre os ombros e tórax, facilmente ·'revelam a silhueta" da usuária do vestido.
especialmente ao curvar-se ou abaixar-se.
"OII. COMO ÉBELAUMAGERAÇÀO CASTAEM SEU FULGOR: SUA MEMÓRIA SERÁ
IMORTAL. PORQUE SERÁ CONHECIDA DE DEUS E DOS HOMENS" (Sab.1 V, 1 ).
Capítulo IV
Questões sob1·e os padrões marianos
A assim chamada "igualdade das mulheres com os homens em todas as coisas"' é um mito.
Igualdade entre os sexos em confonnidade com a natureza dos respectivos sexos. por todas as fom,�,
deYe ser respeitada. Mas não o falso "feminismo... que é promovido pelo Naturalismo e o qual ignor:
as diferenças naturais entre os sexos.
!\ razão pela diferença de padrões merece ser repetida: a atração feminina pelo homem é mais
psicológica; a atração masculina pela mulher é mais tisica. Portanto. o homem é muito mais
facilmente tentado por trajes femininos escandalosos do que vice-versa.
De modo algum. contudo, está um homem isento da virtude da modéstia. A modéstia masculina é
necessária hoje em dia. tanto quanto a feminina. Mas o fato permanece que os Padrões Marianos
foram prescritos espccif"1c:amentc para mulheres e jovcns.
A Santa Sé ainda não considerou necessário prescrever padrões para homens e moços. Apesar de
que, revelações particulares que foram dadas para nosso direcionamento em tempos em que são mai,
necessárias foram muito explícitas sobre trajes masculinos. Roupas apertadas que destacam o corpo
não devem ser usadas. Os homens devem usar roupas mais escuras e mais folgadas. Cores brilhantes e
beJTantes em camisas e ca Iças não devem ser usadas por homens. Homens deveriam usar cores
discretas e sem estampa. Tecidos brilhantes e estampados pertencem ao guarda-roupa feminino. O
simples bom senso já nos diz isso.
Os padrões marianos aplicam-se também para roupas atléticas e para ginástica?
Sim. O Santo Padre insiste que moças estejam "plenamente vestidas" para jogos e competições.
cm instrnçõcs especiais cm 12 de janeiro de 1930. "Os pais devem manter suas filhas afastadas de
competições e jogos públicos; mas se suas filhas forem compelidas a participarem ele tais exibições.
garanlam que estejam plena e modest,unentc trajadas. Nunca pe1mitam que suas filhas usem
.
vestimentas imodestas ..
Apesar de todas as ordens de Roma, entretanto, os trajes de ginástica na maioria das escolas
católicas são escandalosos; apesar do Papa ordenar que ·'os Superiores e professoras façam o máximo
para instilar o amor pela modéstia nos corações das moças confiadas a seus cuidados e exortá-las a
vestirem-se com modéstia". (ibid.)
Entretanto, mesmos nossas escolas Católicas começaram a macaquearem modas pagãs.
Em torno de 1956, roupas de ginásticas Marianas já nào estavam mais disponíveis no mercado.
tendo sido rotuladas como impraticáveis ou impeditivas para um jogo esportivo eficiente. O nudismo
pagão cresceu a tal ponto nos esportes que é facilmenre visto nos trajes das competições
internacionais (Observem as ginastas femininas nas Olimpíadas!), em nome da estética, maior
exatidão nos movimentos, menor rcsisténcia do vento ou da água (atletismo. ciclismo, natação).
Deveríamos também considerar os trajes eseandalosos de ouh·as recreações populares. tais como
aeróbica. ioga, ballet, etc.
Que regras se aplicam a suéteres, trajes de recreio. trajes de praia, trajes esportivos e tra_jes
de banho?
As mesmas duas regras básicas aplicam-se: suficiente cobertura e manequim adequado. Trajes
de banho de duas peças estão descartados, naturalmente. Com relação à cobertura, o ideal Mariano
requer o mesmo nível de cobertura, não importando que tipo de vestimenta seja. Não é, em princípio.
o tipo da roupa feminina que a faz modesta ou imodesta, nem o estilo. Ao contrário, a modéstia tem a
ver com a ocultação con-eta do corpo. Neste aspecto, TODOS os estilos modernos de trajes de banho
violam os padrões Marianos de modéstia ao vestir! (Especialmente ofensivo é o "spandex"). Além
disto. banhos públicos violam a modéstia, pois se tornam uma festa diabólica para os olhos,
alimentando abrasivamente a concupiscéncia, assim como qualquer vestimenta, não importa quão
modesta seja, toma-se imodesta e fisicarne-nte exposta quando molhada.
139
O que deve ser dito da teoria: "Aquilo que é imodesto nas ruas pode perfeitamente Sl\t'
modesto na praia"?
Este é um dos princípios defendidos pelos discípulos da assim chamada "modéstia relativista"
Faz com que a modéstia depc.1da menos de sua base real - ocultar a exposição do corpo - do que de
circunstàncias de tempo, de lugar e de ocasião. A modéstia relativista provê uma escala móvel paro
medir a modéstia, a qual traz um grande componente de sofismo. É nom1almente usada corno um
mecanismo a calhar para escapar das obrigações naturais da modéstia.
Alguns liberais interpretam as prescrições de Santo Tomás de Aquino, para vestir-se de acordo
com as circunstâncias de tempo, de lugar e ocasionais, como uma aprovação das modernas modas
semi-nudistas. Eles deveriam ter mais conhecimento.
Santo Tomás referia-se aos trajes modestos cm voga no século XIII. É estúpido falar que ele se
referia aos nossos vestidos de alça, shorts, biquínis, etc. Como poderia ser, se estes são trajes do
século XX?
A Cruzada Mariana desafia a razoabilidade desre princípio. Seus proponentes deveriam
apresentar-se com um argumento razoável, ou considerá-lo outro sofisma.
Capítulo V
O apostolado da Cruzada :vi ariana
Oração e sacrificios são essenciais para o sucesso do Movimento Mariano em geral, mas
especialmente da Crnzada Mariana. Pois, o Demônio da Impureza ousou desafiar a Realeza de nossa
"Mãe Puríssima'' com um esforço incomum em nossos dias, e para estabelecer-se como o tlitaelur elas
modas imodestas e do culto impuro do corpo.
Parece que este Demônio da Impureza é um daqueles anjos decaídos ele quem Jesus contou a
Seus Apóstolos: "Esta espécie de .demônio não é expulso senão por oração e jejum" (S. Mateus XVII,
20).
Intenções da Cruzada
1. Reparação dos Sagrados Corações, o Sagrado Coração de Jesus e o Imaculado Coração de
Maria, pelos inumeráveis pecados da impureza e imodéstia cometidos diariamente cm todo mundo.
2. Pelo sucesso da Cruzada Mariana em:
a) Promover a castidade Mariana e a modéstia;
b) Pelo triunfo doImaculado Coração de Maria.
Apêndice
O Memorare
Lembrai-vos. ó Piíssima Virgem Maria, de que nunca se ouviu dizer que algum daqueles que
tenha reeoJTido à Vossa proteção, implorado a Vossa assistencia. reclamado o Vosso socorro, fosse
por Vós desamparado.
Animado eu. pois. com igual confiança. a Vós, Virgem das Virgens, como a Mãe recorro; de Vós
me valho: e gemendo sob o peso de meus pecados, me prostro a Vossos pés.
Não desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Filho de Deus humanado, mas dignai-Vos de as
ouvir propícia e me alcançar o que Vos rogo. Amém.
Memorare. o piíssima Virgo Maria, non esse auditum a saec11/o, qu emquam ad tua c11rre11tem
praesidia, tua ímploranlem auxilia, tua petentem suffi·agia esse derelicla.
Nos tali a11imati confidentia ad te, Virgo Virginum, .Ma1e1; currimus; ad te venímus; coram te
gementes peccatores assistimus. Noli. },,Jater Verhi. verha nostra de.,picere, sed audi propitia et
exaudi. Ame11.
Mandamentos de Deus
Os Mandamentos de Deus são dez:
1. Amar a Deus sobre todas as coisas.
2. Não tomar seu Santo Nome em vão.
3. Guardar domingos e festas.
4. Honrar pai e mãe.
5. Não matar.
6. Não pecar contra a castidade.
l-12
7. Não furtar.
8. Não levantar falso testemunho.
9. Não desejar a mulher do próximo.
I O. Não cobiçar as coisas alheias.
Os Preceitos da Igreja
1. Ouvir Missa inteira nos domingos e festas de guarda.
2. Confessar-se ao menos uma vez cada ano.
3. Comungar ao menos pela Páscoa da Ressurreição.
4. Jejuar e abster-se de carne quando manda a Santa Madre Igreja.
5. Pagardizimos segundo o costume.
Definição de pecado
A livre transgressão de uma lei divina é pecado. Uma vez que toda lei é derivada da lei divina,
natural ou positiva, toda transgressão de uma lei punitiva emanada de uma autoridade legitimamente
constituída, é um pecado.
O pecado pode ser mortal ou venial. É mortal quando a transgressão é de uma lei divina em
matéria grave e quando o consentimento para pecar reconhece tanto a lei quanto a matéria grave (é um
pecado cm matéria grave, cometido com pleno conhecimento do pecador e com consentimento
deliberado dele). Um pecado é venial quando é cometido ou por conhecimento e consentimento
imperfeitos, ou quando alguém transgride a lei que não obriga seriamente, ou quando o pecado é
realmente grave, mas, devido a uma consciência errônea invencível (uma consciência que não esteja
propriamente formada no conhecimento do bem e do mal), quem o comete ignora sua gravidade.
O pecado também é classi licado com relação ao tipo: pecado interior é aquele cometido por meio
das faculdades espirituais, p. ex., imaginação; pecado real é qualquer ato ou omissão de um bom ato
prescrito; pecado habitual é o estado de pecado de quem não se arrependeu. O pecado é fonnal
quando é deliberadamente contra a lei, mesmo se a lei apenas supostamente existe; é material quando
a transgressão é contra a lei, mas quando o conhecimento da pecaminosidade da transgressão não está
rresente; na verdade não é um pecado real formal. pois lhe faltou o consentimento (Cf. Mandamentos
de Deus; Preceitos da Igreja).
***
144
2- MODAS E MODÉSTIA < )
2
É evidente em nossos dias a decadência moral. Um reflexo disso é a moda, a maneira de vestir.
Já Nossa Senhora advertira em Fátima que viriam muitas modas que ofenderiam muito a Deus e
"quem segue aDeus não segue as modas, Nosso Senhor é sempre o mesmo".
Até a década àe 60, nas igrejas !".avia avisos advertindo as moças e senhoras para que não
entrassem na Casa deDeus vestidas de maneira indecente.
Hoje poucos falam nisso. Tendo cm mãos um folheto sobre o assunto, resolvemos publicar
algumas considerações a respeito.
Por que há sacerdotes que não permitem a senhoras e moças entrar na igreja e receber os
sacramentos com determinados trajes'?
RESPOSTA - Essas exigências não são dos sacerdotes, mas da própria Igreja. A Igreja Católica
sempre foi severa. intransigente e vigilante em se tratando cio pudor e da modéstia no vestir. Como
prova disto existem inúmeras instruções da Santa Sé e de Bispos a respeito.
Citemos apenas uma INSTRUÇÃODASANTASÉ. de 12/01/1930, que diz:
"Muitas vezes, dada a opo11unidadc, o Sumo Pontífice reprovou e condenou acerbamcntc a
maneira insolente de se vestir que se vai introduzindo entre as senhoras e jovens católicas. Esse modo
de vestir não só ofende o decoro feminino e a modéstia, mas, o que é mais grave, vem cm grave
prejuízo dessas mesmas mulheres. e, o que é pior, leva miseravelmente tantos outros à condenação
eterna".
"Nada mais lógico e forçoso que os Bispos - assim como convém a ministros de Cristo-. como se
fossem unrn só voz. oponham toda baiTcira a essa audácia e libertinagem da moda, suportando com
serenidade e coragem as zombarias e insultos que receberem dos espíritos malévolos por essa tomada
de posição... ".
"Os púrocos e pregadores, nas ocasiões que se oferecem, conforme recomenda São Paulo,
'insistam, expliquem, increpem. exortem' para que as mulheres usem vestes que irradiem o pudor e
que sejam ornamentos de defesa da virtude, e admoestem aos pais para que não clcixcm suas filhas
usar vestes indecorosas."
"Os pais, conscientes da obrigação gravíssima que têm de cuidar, em primeiro lugar, da
educação religiosa e moral dos filhos(...) fomentem. em seu espírito, por todos os meios. quer pela
palavra, quer pelo exemplo, o amor da vi11ude da modéstia e da castidade... ".
"Os pais devem afastar as filhas dos exercícios de ginástica pública e de competições do mesmo
gênero. Se forem forçadas a tais exercícios, cuidem que suas vestes. acima de tudo. ostentem a
modéstia e a honestidade: nunca pennitam que usem roupas indecentes".
"As diretoras de Colégio e professoras devem se esforçar para incutir no espírito de suas alunas o
amor à modéstia. de modo a eficazmente induzi-las a se vestir de maneira decente ... ".
"As religiosas(... ) cm seus colégios, oratórios, salas ,·!e recreio, não admitam meninas que não
observem a modéstia cristã no vestir. E, na educação das alunas, empreguem especial cuidado para
fazer que o amor ao santo pudor e a modéstia cristã deitem em seus espíritos prorundas raízes." (S.
C'ongr. Do Cone. 12/01/1930;A.A.S.V. XXll, pág. 26 e ss. - C.P.B. Appendix XX pg 691.
Não saiu alguma nota da Santa Sé abolindo ou modificando a disciplina contida no cânon
1262 do Código de Direito Canônico? (Código ele 1917)
RESPOSTA: "Até o presente não saiu nenhuma nota que tenha mudado a disciplina contida no
Cânon 1262 do C.D.C."(Sccr. da Congr. para o Culto Divino. Roma, 21/06/1 %9. Scdoc V 2f. 0411
O11 969). Como se vê. as afirmações de 1930 não haviam sido modificadas até 1 %9.
145
Crill·rios para se definir uma veste decente, pela orientação da Santa Sé, pelos princípios
dumornl
Mas essas normas não são demasiado rígidas e exageradas para nossos dias? Não se deve
admitir, nesse ponto, uma evolução?
RESPOSTA: Uma simples reflexão mostra o sofisma que há nesta pergunta: a moda, tão
exigente e tirânica, ninguém a tacha de 1igorosa e exagerada. Quando imperava a "mini-saia", havia
sacerdotes que a combatiam e exigiam o vestido com apenas dois dedos abaixo do joelho. Eram tidos
como rigoristas. Logo depois veio a moda do "longuete", que colocou a saia um palmo abaixo dos
joelhos. Ninguém reclamou do "exagero" e a moda foi aceita com naturalidade. Em solenidades civis
de maior p01te, como, por exemplo, recepção de um governador, posse de um chefe de Estado, de um
Ministro, etc., a etiqueta veda às senhoras e moças o uso do traje masculino. Igualmente em certos
locais e ambientes, como em muitos Tribunais de Justiça, em dependéncias do Ministério da Justiça, e
até recentemente no Congresso Nacional. Há até clubes notumos de certa categoria onde é vedado às
mulheres o uso desse traje.
É o bom senso que dita essas normas. percebendo que o travestimento tem algo de menos digno,
menos nobre e menos composto.
Há algo inerente ao travestimento que o desabona. De um modo geral. todos aceitam
naturalmente essas convenções como justas e normais; mas não aceitam quando razões mais
legítimas e mais sagradas exigem-nas.
Lição dos fatos: a moda é sempre razoável, mesmo que imponha os piores exageros e
extravagâncias. As regras da moral são sempre rígidas e exageradas, mesmo que exijam as coisas
mais razoáveis. Por causa da Lei de Deus, por um motivo sagrado, uma exigência nonnal é exagero e
tirania. Por causa da moda, os maiores exageros são nonnais e aceitáveis. É porque desapareceu no
mundo a submissão e o respeito a Deus.
Qual outro argumento se poderia aduzir para mostrar que esse é o pensamento da
IGREJA?
RESPOSTA: É o exemplo dos santos. Entre inúmeros exemplos, vamos citar apenas um: Um
dos gestos mais admiráveis da hagiografia cristã, luz cujos reflexos de santidade e de pureza
iluminaram e hão de iluminar sempre o ambiente da Igreja e as almas católicas, é o que nos narram as
atas autênticas do martírio de Santa Perpétua e outros mártires. Exposta na arena aos chifres de uma
vaca bravia, ao primeiro impacto ela é atirada ao ar e daí ao solo estraçalhada, e com as vestes
rasgadas "sentou-se e vendo a roupa rasgada ao longo da perna,juntou-a prontamente, mais ocupada
com o pudor do que com a dor''. (Vida dos Santos, Edit. Das Américas, V. IV, pg. 240).
Diante de tudo isso, alguém dirá "as coisas não mudam com o tempo?" Não! As Leis naturais são
sempre as mesmas. Você. moça. que lê isso agora, agrade Nosso Senhor. vista-se como Deus quer.
***
146
3- O TRAJE DE BANHO IMPEDIDO
(Texto extraído do livro: Devo narrar minha vida - Cecy Cony)
Nas fétias de 1911 a 1912, papai, a conselho médico de aproveitar as águas iodadas dos banhos
de mar, no mês de fevereiro, resolveu mandar-me para Santa Vitória do Palmar. Parti logo após o
encerramento das aulas, na segunda quinzena de dezembro. Deveria hospedar-me em casa da família
N., amiga de meus pais, e cujas filhas estavam internadas em nosso colégio de Jaguarão. Custou-me
demasiadamente separar-me da família. Mais de uma vez, quando mamãe arrumava minha mala,
auxiliada por Acácia, smvreendi-as chorando. Esse fato fazia-me sentir mais a separação. Papai
levou-me ao porto, onde, com as duas meninas N., fui entregue ao coronel M. A cena de despedida,
em casa, foi bem dolorosa. O vapor sairia às duas horas da tarde. e já pela manhã, bem cedinho, Acácia
me acordara para eu ir à Santa Missa, durante a qual comunguei. Não iria, agora, sozinha: Jesus e meu
Novo Amigo (seu Anjo da Guarda) me acompanhariam. Já muito tempo antes da viagem, andava
receosa, julgando. na minha infantilidade, que meu Novo Amigo, "por qualquer motivo", não
pudesse acompanhar-me... Tal, porém, não sucedeu. Padre Godofredo dera-me um santinho do Santo
Anjo da Guarda, no qual escrevera a linda oraçàozinha que eu muito bem sabia de cor e que, de manhã
e à noite. rezava:
"Santo Anjo do Senhor,
meu zeloso guardador,
se a ti me confiou a piedade
Divina, sempre me rege, guarda, governa e ilumina.
Amém".
A viagem correu bem e amanhecemos em Santa Vitória, onde já nos esperava. no porto, o casal
N. Estranhei imensamente a falta de meus pais e irmãos e da boa Acácia, se bem que aquela família N.
me cercasse de todo o carinho, cuidado e dedicação. Antes de duas semanas, adocei com febre alta e,
se não tivesse a presença contínua ele meu Jesus e de meu Novo Amigo. creio que não teria resistido à
dura separação. Por fim, restabeleci-me, e a família N. já estava em preparativos pnra partir para o
mar, quando veio a notícia de que a casa fora incendiada. Foi então resolvido ir-se para a grande
Fazenda N.
A vida aprazível e movimentada da fazenda ia, pouco a pouco, como que diluindo a espécie ele
nostalgia que me ia na alma, e, por fim, sentia-me bem. Eram carreiras. passeios a cavalo ou de
breack, e, numa tarde, grande entusiasmo na fazenda, para o banho na "cachoeira". Estavam na casa
as famílias da vizinhança.
Fomos. Grupos a cavalo, de aranha e de breack. Dona N. levou-me consigo na aranha. Eu ia
radiante. Chegamos a tal cachoeira, que para mim foi uma ··maravilhosa novidaJe''. Era um salto
d'água, espumante e cantante, que rolava por sobre pedras enormes, indo deitar-se, depois, num leito
macio de areia. A1maram, tis margens, trcs ou quatro bam1quinhas e, de lá, em pouco tempo, saíam os
grupos para o banho.
Dona N. chamou-me para pôr o tal traje de banho. Corri radiante. Porém, antes de chegar a ela,
sou impedida, por um braço, por meu Novo Amigo e pela presença mais viva de Nosso Senhor cm
meu pequeno ser. fazendo-me compreender que não devia acompanhar aquele grupo. Disse cu. então,
parada em meio caminho: "Não, Dona N., não quero vestir-me assim, nem banhar-me. Fico
esperando aqui". Dona N. mostrou descontentamento. Receosa, tímida, mostrava-me indecisa cm
obcdcecr-lhc ou não. Porém, sentia-me ainda presa pela santa mão ele meu Novo J\migo. Então,
resolutamente, respondo aos seus insistentes chamados: "Dona N., não quero vestir-me assim, nem
banhar-me."
Os grnpos prontos preparavam-se para entrar na água. Meu Novo Amigo passou para minha
frente e. durante todo o tempo que os banhistas permaneceram na água. e depois na margem, onde
fonnaram baile, tinha eu, pela primeira vez. na minha frente, a sombra santa e benfazeja que, supunha
cu, eram as asas distendidas de meu Novo Amigo. E sempre, dali cm diante, as "santas asas
protetoras'' distenderam-se na minha frente, impedindo-me de ver o que nosso Senhor nem ele
queriam que eu visse.
***
147
Aos leitores
Escravas de Maria reeditará algumas preciosidades esquecidas no tempo e também reunirá coletâneas de
textos sobre diversos assuntos. São livros que abordam a educação feminina tanto moral como espiritual e
também vidas de santos e espirimalidade.
Visite-nos!
148