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IOSË LUIZ

FIORIN
ANA PAULA SCHER DIDIER DEMOLIN ESMERALDA VAILATI NEGRÄO EVANI VIOTTI
LELANDMCCLEARY LUCIANA R. STORTO MARCELO FERREIRA MARCOS LOPES
MARGARIDA PETTER PAULO CHAGAS DE SOUZA RONALD BELINEMENDES THOMAS FINBOW

Novos
caminhos da
Linguistica

editoracontexto
Organizador
2017 do
Copyright
reservados à
direitos desta edição
Todos os Ltda.)
Contexto (Editora Pinsky
Editora

de capa e diagramaçáo
Montagem
Gustavo S. Vilas Boas

Preparaçáo de textos

Lilian Aquino

Revisão
Karina Oliveira

na Publicação (c1r)
Internacionais de Catalogação
Dados
crB-8/7889
Almeida
Andreia de
de Souza.
/ Paulo Chagas
da linguística
Novos caminhos Luiz Fiorin.
São Paulo:
-

et al.); organizador: José


Contexto, 2017.

240 p
Bibliografia
ISBN 978-85-7244-984-7

-
Morfologia
1. Linguística Língua portuguesa
2.
Fonética
3. Lingua portuguesa-
Sintaxe 4.
I. Fiorin, José Luiz
I. Souza, Paulo Chagas
CDD 410
16-1275
sistemático:
Indice para catálogo
1. Linguística

2017

EDrrora CONTEXTO

Diretor editorial: Jaime Pinsky


Rua Dr. José FElias, 520 - Alto da Lapa
05083-030- Sáo Paulo - sP

PABX: (11) 3832 5838


contexto@cditoracontexto.conm.br

www.cditoracontexto.com.br
A origeme a evoluçcão
da linguagem

Didier Demolin
Luciana R. Storto

A história do homem moderno vai, de maneira da


geral, separaço
entre nos
sos ancestrais e a linhagem dos chimpanzés, ocorrida há 7 milhðes de anos, ao
Australopitecus e depois ao Homo habilis, Homo erectus e Neandertal. para dar
origem a nossa especie, o Homo sapiens, o que ocorreu há 200.000 anos. Não
temos hoje nenhuma maneira direta de saber como o Homo erectus, ao qual se
atribuiu uma protolingua, se comunicava. Das várias teorias que foram propos-
tas para dar conta da origem e evolução da linguagem, algumas foram bastante
absurdas, a ponto de, em 1866, a Sociedade de Linguistica de Paris chegar a im-
pedir a publicação de artigos sobre o tema. Noam Chomsky também descartou as
discussões sobre a origem da linguagem, rotulando-as de "contos de fadas". Foi
apenas no fim do seculo Xx que a origem da linguagem voltou a serum tema de
estudo aceito pela comunidade cientifica. E bem verdade que podemos apenas
especular como e por que as linguas ea faculdade da linguagem se tornaram o que
são hoje. A questão da origem é especulativa em todas as cièncias, seja a origem
da vida, da terra ou do universo, mas, de qualquer maneira, trata-se de um assunto
importante. Há alguns cenários de origem mais plausiveis que outros. mas todos
fazem progredir as disciplinas se forem fundamentados de maneira coerente.
falsificável e consistente, baseando-se nos dados disponiveis. A pesquisa sobre
a evolução da linguagem, como veremos adiante, procura reunir o máximo de
informaçðes possível a partir de dados da genética, do desenvolvimento intantil,
das neurociéncias, da paleontologia, da antropologia, da psicologia comparativa,
datipologia linguistica, da linguistica histórica e da madelagem matematiea a fim
de construir uma visâo coerente da laeuldade de linguagem humana e sua origem.
Ulilizaremos o termo linguagem para nos relerir dquilo que é particular à espcie
humana, reservandoo termo comunicaçio para outras espécies animais. Essa
Cscolha não implica alirmar que haja uma deseontinuidade abrupta entre elas, o

que será discutido mais adiante no capitulo.


216 Novos caminhos da Linguistica

LINGUAGEM
DARWIN EA EVOLUÇÃO DA
ser usado para
explicar a evolução das
Ha um
corpo de evidências que pode
a evolução
da anatomia do aparelho
homem moderno:
capacidades linguisticas do
do tamanho do cerebro a base ge.
e
Tonatório, a diacronia das linguas, a evolução
nética da linguagem.'
se encontram no
esse assunto ja
Os fundamentos de uma discussão séria sobre
ivro de Charles Darwin The Origin of Species (1859),
no qual ele afirma que a me-

de árvore genealogica que volte


Ihor forma de classificar as linguas é fazer um tipo
Darwin aprofunda essa discussão
no tempo, indicando as suas filiações e origens.
no seu livro The Descent of Man and Selection in Relation to Ser (1871), no qual

ele desenvolve visão bastante moderna sobre


uma
o assunto, particularmente sobre
o desenvolvimento gradual da linguagem.
A abordagem darwinista, no entanto, levanta algumas questões. Em primeiro

questo da função. Como avaliar os sistemas linguisticos


em termos
lugar, está a
dos efeitos que eles teriam sobre a sobrevivência e a reprodução da espécie? O que
eles poderiam trazer de vantagem para "o organismo" ou para a sobrevivencia da
espécie? E importante distinguir entre a adaptação evolutiva, que é toda a caracteris-
tica genética que aumentaa aptidão de um organismo a um ambiente determinado
e a adaptação fisiológica ou aclimatação, que é responsável pelas modificaçðes
temporárias de um organismo em um dado ambiente (Suzanne e Polet. 2005).
A abordagem biológica adotada para responder às questöes sobre a origem da
linguagem é idêntica àquela que Tinbergen (1952) usou para explicar os sistemas de
comunicação animal em etologia. Essa perspectiva permite uma única abordagem ex-
plicativa completa para a comunicação dentro do reino animal, incluindo a linguagem
humana. Ao aplicar os principios da comunicação aninmal à linguagem humana. quatro
pontos são colocados em evidêneia: ()a questão da finção, que ja toi mencionada: (
a questão do mecanismo: como fiunciona uma lingua'? Quer dizer, quais são os mecanis-
mos neurológicos, fisiológicos e psicológicos que sustentam os sistenmas linguisticos?;
(3) a questão da origem do ponto de vista ontogenético: quais sio os tatores genético0s
ambientas que guam o desevoNmento dos sistenas
linguisticos; (4) a questao
da origenm do ponto de vista lilogenetico: Comw é que o sistema evoluiu para tormar-se
COmo E

A LINGUAGEM DOS HOMINÍDEOS


A nossa hipótese
de trabalho, que deve ser levada em conta con
precau-
coes, para compreender a evoluçdo humana e da linguagem, é assumir que os
ancestrais humanos tnham algo de semelhante, em termos de dimensdes cor-
A origem ea evoluçáo da linguagem 21/

orais, comportamento
pora
e
capacidades cognitivas, com os
chimpanzs bonobose
adernos. ja que eles e nos tivemos ancestrais
comuns. Um primeiro marco
ortante na evoluçi
1ção de nossos ancestrais foio
teve como consequencia a liberação do ritmo da
ue tev
aparecimento do bipedismo,
respiração para a marcha e
corrida. Mais tarde na
evoluçao, essa característica foi uma etapa
desenyolvimento da 1ala, isso porque para a produção de sons é importante
necessário
er m controlee uma
regulação independente da respiração "regular", que
antém
an o ser humano vivo. O
bipedismo libera também as mos para produzir
aestos manuais poteneialmente significantes. Os Australopitecus, como a famosa
I uCY, foram os primeiros bipedes. Depois deles apareceu o Homo habilis, entre
5el.5 milhöes de anos, no leste da Africa. E a ele que se atribui o uso das
primeiras fertamentas de pedra lascada. O próximo a surgir na nossa linhagem
foi o Homo erectus, que tinha ferramentas mais desenvolvidas. Ele foi também
o primeiro a sair do continente africano antes da migração do homem moderno,
a qual se deu há 100,000 anos. Os últimos Homo erectus e o homem moderno
podem também ter tido contato, o que gera diferentes hipóteses sobre o povoamento
eliminado o
do mundo pelo homem moderno. Uma é que o homem moderno teria
Homo erectus, que é a hipótese da "saída recente da Africa". A outra é a "hipótese

multirregional, que afirma que a população moderna descende em parte do


Homo erectus asiático (Pääbo, 2014).
o contato
No que diz respeito a por que a linguagem humana apareceu.
como e

entre o Homo erectus e o


homem moderno não tem muita importância. Na verdade,
geneticamente e nenhuma
a população humana moderna é homogênea
bastante
encontrada entre as diferentes populações e sua capaci-
diferença significativa foi
na resolução da questão da origem
dade de linguagem. O uso recente da genética
da linguagem tem sido muito promissor.
através do mundo revela fatos importantes
A comparação genética de pessoas Y são
DNA mitocondrial e
o DNA do cromossomo

Sobre a nossa ascendência. O


descendentes do sexo feminino e masculino,
transmitidos exclusivamente aos todos os
DNA mitocondrial a
espectivamente. Isso significa que as m es passam o
tilhas o transmitem
à geração seguinte.
somente suas
Cus descendentes, mas que sexo masculino e
Ya seus tilhos do
p a i s transmitem seu DNA do cromoSsomo
carac-
eromossomo Y. Essas
suas filhas
não têm
pois
a Aos do sexo feminino, população do mundo inteiro
mostram certa

I S t i c a s e os dados coletados
sobre a
e subgrupos.
ser reagrupados em grupos
podem
1 a o e assim os espécimes todas as amostras de
DNA.
familia com
árvore de
DENe possível fazer uma
Mitocondrial", que
chamado "Eva
az desta árvore é um espécime hipotético modernas
técnicas genéticas
mutações. As
pa omenor número possível de
218 Novos caminhos da Linguistica

datação da Eva Mitocondrial


permitem estimar uma data para cada espécime, e a

50.000 anos. Isso su-


e de 200.000 anos com uma variação de mais
- ou menos

em que o Homo sapiens surgiu


como
gere que ela tenha vindo da Africa na época
também se situa na Africa, mas
espécie. O chamado "Adão do Cromossomo Y" o que
ou menos 40.000
anos ,
há 100.000 anos com uma variação de mais
-

do continente
homem moderno para fora
corresponde ao período da migração do
datado, e há vários genes
africano. O resto do DNA humano também pode ser

do cromossomo Y. Isso
mais novos o DNA mitocondrial e o
mais velhos ou que
quais são os genes que
é importante porque nosso interesse é saber mais sobre
faculdade da linguagem humana.
podem ter tido um papel na

linguagem é o FOXP2,
ter influência sobre a
Um primeiro gene que sabemos
de letras no
identificado há 20 anos. As pessoas que têm uma mutação (mudança
O fato
desenvolvem problemas de fala e de linguagem.
DNA) deletéria deste gene
de este gene também estar presente
no Neandertal significa que pelo menos uma

um dos ancestrais, portanto


parte da base genética da linguagem estava presente em
antes do surgimento da nossa espécie. Os dados atuais
mostram que existe entre 1%
e 4% do genoma neandertal no homem moderno (Pääbo, 2014).
Homo
Do Australopitecus ao Homo sapiens, passando pelo Homo habilis e

erectus, houve um aumento crescente do tamanho do cérebro e das capacidades


cognitivas. Os humanos têm o cérebro maior em relação ao corpo do que qualquer
outro animal. Outro ponto importante é que não existe nenhuma área do cérebro que
ser identificada como sendo o locus das capacidades unicamente humanas
possa
e que inclua a linguagem. No cérebro humano, a área de Broca tem um papel na

produção da linguageme na organização da gramática. Uma região aniloga existe


no cérebro de macacos e primatas superiores - a zona FS - mas ela aparentemente

não tem função linguistica. Entre os macacos, essa zona, onde se localizam os cha-

mados neurónios-espelho, tem um papel na relação entre pereepçdo e açdo manual


e visual (Rizzolatti et al., 1996).
Por que a linguagem humana se desenvolveu da forma que a conhecemoshoje
E legitimo pensar que ela deu uma vantagem evoltiva ao homem modemo. Acx
plicagão dessa hipólese deve ser huscada na comparaçäo entre a linguagem humand
ea comunicagão animal. que distinguea lnguagem humana dos sistemas de co-
municagão dos primatas superiores, dos macacos, dos pássaros e cetáceos (baleias
e golfinhos) é a sua enorme produtividade semântica. Isso sem dúvida apareccu
gradualmente durante a evolução. Os detalhes dessa evoluçâo serdo revelados pou
a pouco através da comparação sistemática da linguagem humana com os Sistemas
de comunicação das outras espécies. O Homo sapiens se propagou atraves aoglobo
A origem ea evolução da linguagem 219

em pequenos grupos, dividindo-se em grupos ainda menores que se espalharam


geograficamente separados uns dos outros. Esses grupos desenvolveram suas
próprias tradições culturais e suas próprias línguas. Isso explica, em parte, a di-
versidade dos sistemas linguísticos.

A EVOLUGÃO DA ANATOMIA
DO APARELHO FONATÓRIO
Duas modificações são pré-requisitos, a partir da anatomia dos hominideos
modernos. para o desenvolvimento da fala: (i) uma modificação da morfologia
do trato vocal; (ii) o desenvolvimento da capacidade de imitação vocal. Com
relação ao primeiro pré-requisito, é estranho que os primatas mais próximos
de nós na escala da evolução, os bonobos, não tenham uma habilidade vocal
equivalente à nossa. Os dados comparativos advindos de primatas não humanos
ajudarão, provavelmente, a esclarecer quais teriam sido as capacidades vocais
dos primeiros hominídeos. A evolução da fala está intimamente ligada aos me-
canismos de produção dos sons e a diferença mais evidente no que concerne à
fala, entre os homens e os outros mamiferos, é o trato vocal. O que podemos
dizer é que a anatomia do trato vocal humano é diferente daquela dos outros
primatas. A laringe humana se situa bem mais abaixo no pescoço do que a
dos outros primatas, e os homens não possuem bolsas vocais. A fala humana
requer também um controle sofisticado do sistema nervoso. A relação entre os
aspectos acústicos e articulatórios da fala é bem mais conhecida pela ciència
para os homens que para os outros primatas atuais, ineluindo os bonobos. Vale
a pena, portanto, avaliar as vocalizaçðes de especies como os bnobus a partir

dos principios acústicos que já são conhecidos para os humanos. Por enemplo,
dentro da teoria acústica da fonte e do filtro (Fant, 1960), é possivel avaliar a
hatureza da fonte das vocalizaçoes e interir como ela e tiltrada pelo trato vocal.

sistema de produção de sons: o trato vocal


primatas nåo humanos nào produzem vogais, o que quer dizer que não há,
4 Cspecies, imoditicayoes possiveis da geometria do aparelho vocal durante
8ab
Vocalizayöcs. As contiguraçoes do trato que podem ocorrer no inic e no
das
vucalizaçocs devem-se, irequeintemente, å posi_ao vertical da laringe ou a
ento dos lábios que alonga ou cncurta o uato vocal. O fato de não haver
Eais (do tipu encontrado nas
a u ha
linguas humanas) não si1gnifica, evidentemente, que
ressonancias no trato vocal dos primatas nào humanos. As ressonäncias do
220 Novos caminhos da Linguistica

de um tubo acus-
frequentemente, as
ato vocal de um primata não humano são, n a outra (a
fechado
lábios) e
uco quase uniforme, aberto em uma extremidade (os eopadrao entre
ressonâncias
fonte do ar). Os tubos acústicos desse
formato geram
de 500HZ, 1.30Hz,
têm as frequências
ressonancias é o mesmo (por
exemplo, se o D s e r v a m
as
em
humanos, em que
existe o caso, não reportado aberta do
2.500Hz). Também graças a uma parte
extremidades,
r e s s o n a n c i a s de um tubo
aberto nas duas a z e n d o as vezes
aritenoides,
no nível
das
trato que existe,
atrás das cordas vocais, tipo de
t u b o tambem
ressonâncias desse
entre as tem um
uma abertura.
As diferenças o trato vocal
de confirma que
Isso não
mesma (2.000Hz, 4.000Hz, 6.000Hz). entre os primatas
é a uniforme. AS
vocalizações
transversal) h u m a n o s (Eklund,
tubo de secção (corte raro entre
os
o que é
frequentemente ingressivas, também sâo bem
h u m a n o s são humanos
primatas não
frequências produzidas pelos pertinente
2007). As
não há muita informação
últimos
humanos. Para os facilmente
maiores que as dos frequências chegam
os símios as
que para
acima de 8.000Hz, enquanto
a 10.000Hz. nas vocalizações
de que não há c o n s o a n t e s
é a informação resul-
De igual importância características
acústicas que sejam

humanos, porque n o durante
dos primatas não movimento da lingua
fechamentos ou aberturas
produzidas pelo
tantes de
exemplo). As c o n s o a n t e s surdas
ou ruídos de fricção, por
vocalizações (explosões entre as cordas
ou parcial com a glote (espaço
exigem uma constrição completa
mecanismos de iniciação do ar glotal (realizado na glote) ou

vocais) aberta. Os controle articulatório complexo,


vélico (realizado palatino), que exigem um
no véu

nunca foram observados


entre os primatas não humanos.
a integração de cireitos
Um controle voluntário implica, provavelmente,
central
subcorticais. Um novo horizonte de estudos está no comando
corticaise
da musculatura da laringe para o vozeamento, a respiraçào, a deglutiçåo e n

maneira como os sistemas de controle voluntário e retlexos podem interagir


nos humanos.
Do ponto de vista da evolução, a tonte da voz instável e variável dos primatas
não humanos evoluiu para uma fonte de v0z estável e controlada nos humanos. Por

qué? A forma global do aparelho vOcal mudou. A estrutura intrinseca da laringe e


diferente, os músculos extuinsecos da laringe são orientados diferentemente por
causa da mudança da posigåo da laringe. As bolsas vocais desapareceram no homem.
As observaçÕes dos padrÕes de movimento de 1, (como, por exemplo, a entoação)
sugerem, ainda, que haja um controle motor diferente.
221
A origemea evolução da linguagem

O sistema auditivo
trato vocal do
importante quando falamos da evolução do
Uma questão auditivo. Uma
fonatório dos hominídeos relação com o sistema
é sua
aparelho e audição,
evoluíram si-
pertinente seria se os dois sistemas, produção
questão sistema preexistente.
se adaptaram a um
multaneamente ou os sons produzidos
a fala. A anatomia
A audição humana não parece adaptada especificamente para
mamíferos, m e s m o se as dife-
ouvidos é bastante similar à de outros
de nossos
dimensão e forma.
médio e interno) variam em
rentes partes do ouvido (externo,
moderno se situa entre as frequências
de acuidade auditiva do homem
O grau as
uma zona de sensibilidade saliente para
2.000 e 4.000 Hz, que corresponde
o a

ouvido médio é constituído de trés pequenos


consoantes mais frequentes. O
vogais e
é amplificar a energia acus-
estribo cuja função
ossos o martelo, a bigornaeo
-

transforma em
mecânica e transmiti-la ao
ouvido interno, que a
tica em energia encontrados no
cérebro. Os ossos do ouvido
impulsos que são enviados ao
elétricos
viveu há 350.000 anos, sugerem que
ele. provavelmente.
Homo heidelbergensis, que
homem moderno (Martinez et
al. 2004). A
auditiva similar à do
possuía uma acuidade
moderno e dos chimpanzés sugere
da acuidade auditiva do homem
comparação como os o s s o s
poderiam estar ligadas à maneira
diferenças interessantes, que
bioacústicas. De qualquer
médio funcionam ou talvez a restrições
do ouvido
sistema auditivo têm um papel a cumprir
que o ouvido
e o
forma, isso mostra
humano. Sua li-
entendimento da evolução da capacidade auditiva do ser
no
sistemas sonoros das línguas
ainda está longe de ser
gação com a forma dos
continuum entre os
é saber que parece existir um
compreendido. O que importa
o homem moderno.
primatas superiores e

LINGUAGEM
A POSSÍVEL ORIGEM GESTUAL DA

Os gestos da fala
relativamente cedo na evo-
Agum tipo de unidade fonética deve ter emergicdo ter sido
não poderia
uya0 da linguagen. Um vocabulário razoavelmente grande
pudessem
holisticus se ditereneiar em categorias
S e l antes que as vocaliza(ões de organizar-se em palavras.
Ecas discretas. Elas teriam então a possibilidade
l d clapa critica da linguagem tem sido aindaé hoje- a segmentação de
meio de uma fonética partieular
a s , Ou a referencia simbólica verbal por não menos
ddert-Kennedy, 1998, 2000). Menos trequentemente notado, porém
un código, uma
Prtante, é que a sintaxe não poderia surgir até que houvesse
222 Novos caminhos da Linguistica

forma fonética, para o armazenamento de palavras na memória de curto praZ0,

independente de seu sentido e sua função sintática, para que elaboração de uma
a

sentença por um locutor


compreensão por um
e sua interlocutor fossem possIveis.
formam
Os intervalos entre as partes de uma sentença holística semanticamente

enunciados. De onde vêm esses intervalos? Qual é a base fisica


dos segmentos fo-
de conta da forma
neticos?0 que precisamos ter é uma unidade motora de ação que
e função linguística da maneira como ela é usada na
comunicaç o. Essa unidade
movimentos dos articuladores
é 0 gesto articulalório, que é uma coordenação de
(Browman e Goldstein, 1989).
minuto, ou 10-15
O homem moderno pode dar conta de 120-180 palavras por
salientes
unidades fonéticas perceptualmente
segmentos fonéticos por segundo. As
e o
silabas, que carregam a melodia
da fala não são os segmentos fonéticos, mas as

de gestos simultâneos ou sobrepostos.


ritmo que formam os padrôes complexos
e
em MacNeilage
A hipótese de Studdert-Kennedy e Goldstein (2004), inspirada
remete a capacidades filogenéticas
(1998), é que a fala, como função motora,
O abaixamento e a
antigas dos mamíferos como sugar, lamber, engolir mastigar.
e

neural para as
elevação cíclicos do maxilar para a mastigação forneceranm a base
primeiras homologias como o bater os lábios ea lingua, os chamados e os gritos
que observamos nos macacos e nos primalas superiores modernos. A partir disso.
hominideos, que é a precursora da unidade
por hipótese, aparece a protossílaba dos
de balbucio dos bebés e a unidade de ritmo e de melodia ds adultos modernos.
Uma protossilaba pode serentendida como um gesto, ou seja, uma constrição e um
relaxamento dos órgàos, colocado em um contexto de uma postura global do trato
vocal, associado a uma açâo fonatória.
Uma vez que os gestos dos diferentes órgdos e seu suporte neurotisiologr-
co evoluiram em unidades discretas e combináveis, a expansdo dos sistemas
fonológicos teria passado por processos socioculturais de pelo menos duas
maneiras e sem que tenha havido uma mudança em nivel genético. Primeiro, a
Cpansão de um conjunto de traços diseretos poderia ter resultado da diteren-
Caào das açdes de um dado órgao, através de um processo de ajuste mutuo,
entre os locutores e interocutores individuais. Em seguida, as estruturasgestuais
Cada vez a s comnplenas poderiam ter emergido um pouco da nmanera que se
observa no desenvolvimento infantil. Por exemplo, o fato de que as ocusivas
aproximantes produzidas com um mesmo articulador sào praticamente ntet
cambaveis nus primeiras
50 palav ras de uma criança
sugere que o grau de coIs
triçào nào é ainda controlado sistematicamente. O fato de as oclusivas inicas
dos bebes serem
surdas e nào aspiradas indica que os gestos orale laringal nao
Cstao ainda coordenados. Um gesto da laringe como uma aduçào da glote no
A origem e a evolução da linguagem 223

contexto normal de fonação será percebido como [h]. Uma oclusiva nasal não
será percebida se a criança abaixar o véu palatino e efetuar uma constrição oral

aproximadamente ao mesmo tempo.

As linguas evoluiram a partir de gestos manuais?


evoluído a partir de
Nossa herança primata sugere fortemente que tenhamos
controle
bastante desenvolvidos para o
ancestrais que tinham sistemas corticais
controle sobre as vo-
manual e também um controle visual sofisticado, mas pouco
demonstrado
não humanos atuais). Isso foi
calizações (o que é o caso nos primatas
com a descoberta dos neurônios-espelho.
por Rizzolatti et al. (1996) hu-
para a linguagem
Corballis (2002a. 2002b) propôs uma origem gestual
os gestos e a fala
formam um sistema integrado
mana. Dentro dessa perspectiva,
relevância dos gestos é o ato de apontar
(McNeil1, 1985). Um exemplo evidente da
crianças começam a aprender nomes

Assim que adquirem a lingua, as


para algo. são enunciados.
seus nomes e qualidades
para elas enquanto
de coisas apontando foram
as linguas de
sinais e, particularmente, as que
Hewes (1973) sugeriu que de surdos, têm todas
dentro de uma comunidade
desenvolvidas espontaneamente
essenciais de uma lingua. regiðes do hemisfério
São as mesmas
as propriedades
elas quais forem, e há uma im-
cérebro que estão envolvidas, sejam
esquerdo do dúvida causada
direito nas linguas de sinais, sem
maior do hemisfërio
plicação de sinais se
adicIonal (Neville et al., 1998). As línguas
espacial
pelo componente mais natural que a fala, ao menos
de duas
mundo de maneira
do
ligam aos eventos
elas fazem uso de três dimensðes
do espaço além do
Primeiro,
maneiras diferentes.
na dimensão temporal. Além disso,
a fala está estruturada apenas
tempo,enquanto fisicas
eles proprios caracteristicas daquilo
podem carregar
muitos sinais gestuais
dito ha bastante tempo que os gestos se tornam
Contudo, tem sido
que representam. foi apontado por
arbitrários com o passar do tempo. Isso
mais já
menos icônicos e

nossa), quando ele disse que


Darwin (1871, tradução

naturais em gestoS mais curtos que a expressão natural requer


fal contração de gestos
comum entre os
surdos-mudos. O gesto contraidoé frequentemente encurtado
é muito
de maneira a perder toda a semelhança com o gesto natural, mas para os surdos-mudos
que os usam,
ele ainda tem a força da expressão original.

A estrutura da língua de sinais americana (AsL), uma das mais bem estudadas
linguas de sinais do mundo, tem todas as propriedades essenciais da gramática das

linguas faladas. E mais facil entender como a gramática poderia ter evoluido a
nartir de representaçöes e de gestos de apontar do que a partir de gritos de animais.
224 Novos caminhos da Linguística

da evolução linguagem atra-


da
Armstrong et al. (1995) sugerem que a compreensão
sintaxe evoluiu abruptamente
gestos remove a necessidade de supor que
a
Ves dos
Uma vez entendido que estrutura
a
e dependente da existência anterior de palavras.
a sintaxe vêm em
as palavras e
dos gestos pode imitar a dos eventos do mundo,
produzir
seguida. Isso pode ser progressivamente ampliado e "normalizado para
faladas e sinalizadas.
encontramos nas línguas
a linguagem e a complexidade que
permanece
aberta. As descobertas
A hipótese de uma origem gestual da linguagem
de sinal nativas reforçam
e a observação das linguas
recentes dos neurónios-espelho
muito ainda a
de uma coevolução entre gestos e
vocalização, mas resta
a hipótese
firmemente.
ser feito para estabelecer os fatos
natural para as interações intencionais,
Os gestos manuais fornecem um meio mais
de um elemento social
ambiente selvagem no contexto
em
que aparecem tipicamente grunhidos
apaziguamento, o sexo, a alimentação e os
claro c o m o o jogo, a agressão, o
mostraram que os gestos são,
de maneira
(Goodall, 1986). (2003)
Tomasello et al.
indivíduos. Isso
diádicos, implicando interações recíprocas entre dois
predominante, normalmente não são
se distingue dos gestos
das vocalizações dos chimpanzés, que
de apon-
Um gesto de interesse particular é o gesto
dirigidasa indivíduos específicos. as
evidência de que, na natureza, os chimpanzés apontem para
tar. Não há nenhuma
os chimpanzés foram
ensinados a apontar, especialmente no
coisas, mas em cativeiro
contexto de comunicação
artificial ensinado por humanos. O hábito de apontar parece
dos pesquisadores. A
ter sido entendido pelos chimpanzés sem instruções específicas
ser entendida como um exemplo
de transmissão
propagação do ato de apontar pode
em Whiten, 1999). Toma-
cultural (há vários outros exemplos desse tipo reportados
tendem tambéma se tornar
sello e Call (1997) notaram que os gestos dos chimpanzés
icônica. Há um consenso geral que
convencionados, ao ponto de perder sua natureza
diz que os chimpanzés não aprendem seus gestos manuais por imitação
(reprodução
mesmo na ausência do estímulo), como
fazem os humanos. Sua aprendizagem parece

antes ser feita por emulação (reprodução apenas na presença


do estimulo), em que o
foco está colocado sobre a meta ao invés da ação específica que atinge esse objetivo.
como os de
E pouco provável que a língua vocal tenha emergido de gritos
outro bonobo, que sao.
Kanzi (Savage-Rumbaugh e Lewin, 1996) ou de qualquer
Em
sem dúvida, muito emotivos e pouco propícios a modificações intencionais.
mostra que
relação a isso, é necessário mencionar o trabalho de Tobias (1987) que
milhðes de
há um aumento da área de Broca no Homo habilis, que viveu há dois
A
anos, queo é um sinal da emergencia do controle cortical sobre as vocalizações.
linguagem sintática teria
evoluido principalmente ligada a gestos, acompanhada de
bastante tarde. A questão que resta é saber por que
um sistema vocal que emergiu
se tornou vocal.
a linguagem
A origemea evolução da linguagem Z25

A DIACRONIA DOS SiSTEMAS SONOROS


A linguistica histórica somente
pode reconstruir fatos linguísticos que ocorreram
há alguns (provavelmente nâo mais do que sete) milhares de
anos. Uma
distinção
importante é aquela que se faz entre a evolução diacrônica das linguas que conhe-
cemos evolução filogenética da faculdade de linguagem. Quando consideramos
e a

o trabalho dos neogramáticos do século


XIX, está claro que a diacronia diz respeito à
história das linguas e não à da evolução da faculdade da linguagem. Já a filogênese
estuda a evolução da anatomia, da fisiologia e das capacidades fonatórias e de lin-
guagem no curso da evoluç o. Lyell (1863), que inspirou Darwin em seu trabalho
de formular a Teoria da Evolução,
diz que as línguas evoluem mais rapidamente
do que as chamadas raças. Para ele, nenhuma lingua dura mais que alguns milhares
de anos, enquanto as espécies evoluem ao longo de centenas de milhares de anos.
Para Lyell, as formas da fala surgem constantemente sob a pressão da mudança e
algumas delas não estão destinadas a durar. Isso o leva a perguntar sobre a definição
de uma língua: "Finalmente, se esta teoria de modificação infinita está correta,
que
significado pode ser ligado ao termo língua, e que definição pode ser dada para
distinguir uma língua de um dialeto?"
Lyell se pergunta também se as mudanças que se observam em uma geração
podem refletir "o maquinário" que muda as formas da fala ao longo dos séculos. Essa
questão é essencial, evidentemente, se quisermos compreender o que tundamenta a
variação e a dinâmica dos sistemas sonoros das linguas. As mudanças linguisticas
e 1onéticas não se traduzem em mutações no genoma e não podem, portanto, ser

Consideradas adaptativas desse ponto de vista. No entanto, podemos considerar que


São adaptações do tipo fisiológico e social dos falantes das linguas que retletem

as mudanças no meio ambiente. Nesses casos, a transm1sså cultural e um fator

FuCial para explicar as mudanças observadas em uma gerayão e poke retletur "o
auinário" que muda as fornmas da tala ao longo dos seculs.

ACOMUNICAÇÃO ANIMAL
tA EMERGÊNCIA DAS ESTRUTURAS DA LINGUAGEM
ani-
paraçáo da linguagem huana com outros sistemas die comunicaçdo
mal Cenla fatos interessantes. Nåo se conhece, ou se conhece pouc, a evolução
apres fatos interes
dus sisten
db e comunicação de outros primatas nao humanos. E possivel nostrar

que a milhðes de anos,


evolução separou
mas é a b sepa
os chimpanzés eohomem
nioderno ha 7

d falsa 4a Suposição
hominideos ndo evoluiram durante esse
supos
periodo. Essa observação
ot
de que apenas os
evoluir
vale para outras espécies, que tinham que
a as
226 Novos caminhos da Linguística

ambientais,
conta de fatores
anerentemente dos primatas superiores, claro, por homologia aparente
é a
SOciais e ecológicos diferentes. Outro fato impressionante
(baleias e golfinhos), os
os cetáceos
que existe entre os dialetos observados entre envolvidos. Pode-se
nos processos
humanos, tanto na forma como
passaros e os e bioacústicas e
esses processos têm base em restrições biológicas
imaginar que sonoros das linguas
fundamentais da dinâmica dos sistemas
são características dão conta das
entre as capacidades
cognitivas que
humanas. São as diferenças
diferenças entre as espécies. e não requerem,
ligados a uma função particular
Muitos sinais vocais são fixados
e
flexíveis que são adquiridos pela
ainda, os sinais vocais
portanto, aprendizagem. Há, mamíferos marinhos (golfinhos
e
social. Esse éo caso dos
experiencia, em particular, - e dos pássaros
cantores.
elefantes e morcegos
baleias), de outros mamíferos -como a comunicação dos primatas
até o momento,
Essa noção de flexibilização separa,
cantores têm em comum a
humanos e não humanos. Homens, cetáceos e pássaros
vocal ao longo de seu desenvolvimento,
sua comunicação
capacidade de construir
sob a pressão das influências sociais.
identidade do emissor, permite defender
o ter
Entre os pássaros, o canto carrega a
coesão social. Durante a aprendizagem, apenas
ritório, atrair um parceiro e garantir a
um desenvolvimento normal (Marler, 1970;
as interações com os adultos permitem

Nottebohm, 1989; Thorpe, 1965).


Os cantos das baleias jubarte são bastante complexos e são formados por
frases e enunciados. As frases dos cantos dos pássaros e das baleias são repetidas
frequentemente em locais especificos dentro do canto. Um fato marcante a respeito
do canto dos pássaros é que o número das notas que compõem os cantos é maior

que o número de cantos. Isso é o inverso do que ocorre com a linguagem humad
A comparação entre a linguagem humana e os sistemas de comunicação anima
ajuda a entender o que forma a base dos sistemas de comunicação, o que é especiieo
a cada espécie em particular, as restrições que estão em jogo e como elas evoluira

AS GRAMÁTICAS DO HOMO SAPIENS


Os linguistas chamam a gramática humana de sintaxe. A sintaxe não esta

necessariamente ligada ao sentido. Na


lingua, a estrutura fonológica das palavras
dois
também tem uma estrutura sintática. As línguas têm estrutura sintática
em
níveis: fonológico e morfossintático. Apenas o último é composicional scuman-

ticamente. Todas de
as línguas humanas caracterizam-se por esses dois ni -
estrutura. Para ter uma sintaxe, um sistema de expressões tem que ter cel
dutividade, ou seja, regras para combinar os elementos de base em agrupano
entos,
A origem ea
evolugão da linguagem 227

ae
ed oferecer opçoes para conectar os agrupamentos menores em
majores. A
maiores. agrupamentos
A linguagem humana é extremamente produtiva desse ponto de vista. A
línguas hur
sintaxe das línguas umanas encaixa
construções linguísticas dentro de outras e
accim
as
cria construçoes bastante elaboradas. Essas
construções de encaixamento
hierárquico são quase inteiramente motivadas pela semântica. Certos animais como
bonobo Kanzi, estudado por Savage-Rumbaugh e Lewin (1984), foram capazes
de ealocar algumas palavras apos outras, mas eles não têm um traço fundamental
da linguagem que é a estruturação em construçðes que têm um início e fim, ou seja,
sentenças. Certos sistemas de comunicação animal têm a capacidade de combina-
ção (qualquer que seja o nome que demos a isso), mas até o momento nenhuma
evidência clara da existência de hierarquia foi demonstrada. Por isso, é pouco
provável, com os dados de que dispomos, que os enunciados animais apresentem
composição semântica. Mesmo que certos desses sistemas demonstrem produti-
vidade e produção de enunciados, eles são, pela ausência de hierarquia, sistemas
de capacidade gerativa fraca. Os humanos têm capacidade de memória bastante
diferente dos outros primatas e de outros mamíferos, o que certamente contribui
para as características que podemos observar na estrutura sentencial das línguas.
Hauser, Chomsky e Fitch (2002) propuseram considerar a faculdade da lingua
gem como uma série de habilidades e estruturas. distinguem entre a faculdade
Eles
de linguagem em um sentido amplo e estrito. A primeira compreende, além das
fornece sentido às
estruturas gerativas, o sistema conceitual-intencional (que
um

mensagens transmitidas pela língua) e o


sistema sensório-motor (a produção e a

estão sujeitos a um controle neuroló-


percepção dos sinais vocais via órgãos, que
em sentido amplo é a
gico). A propriedade essencial da faculdade da linguagem
estrito limita-se a um sistema
recursividade. A faculdade da linguagem em sentido
de número fînito de regras
omputacional essencialmente sintático. A partir um

e significados.
Para
de estruturas
POduz-se um número virtualmente infinito
1aUser, Chomsky e Fitch, apenas o componente
computacional, que compreende
humana
é próprio da linguagem
recursivas da linguagem,
r a s gerativas de que existe
recursividade
há vários exemplos
na
, 2012, 2015). No entanto, que uma diferença
importante
atuais sugerem
ens ncação animal. Os dados animal está ligada å
au-
comunicação
guagem humana e os sistemas de humanos são produzidos
não
sencia nantica
de sem composicional e que
os sistemas
não são
signitica dizer que eles
Isso
porg de capacidade gerativa
fraca.
são produzidos por
uma
dotadoeds contrário dos que
hierárquicas, ao
Cstruturas
Semántica composicional. Hauser, Chomsky
distinção feita por
Pinker e Ja
cJackendoff (2005)
a
contestaram

faz uso de um dispositivo),


itch entre unção exclusiva (como um organismo
função excius
228 Novos caminhos da Linguística

função original (o beneficio adaptativo para


os primeiros usuários). No en-
tanto, deve-se distinguir entre função original e adaptativa. A adaptação é o
a sobrevivência
estabelecimento de uma estrutura que tem consequências para
sentido estrito é uma adaptação
reprodução. A faculdade da linguagem
em
e a
essa função original tenha
estado liga
cuja função é linguistica. E possível que
da às de outras características como nos sugerem Hauser,
Chomsky e Fitch. A
melhoria
função adaptativa da recursividade e vantagem seletiva seria uma
sua

em termos de comunicação. O ponto


mais importante da crítica de Pinker e
suficiente para definir
Jackendoff diz respeito ao fato de que a recursividade é
essa não é uma habilidade
isolada
a especificidade da linguagem humana, pois
de outras habilidades cognitivas.
de
Os argumentos de Pinker e Jackendoff(2005) não servem para refutar a hipótese
transmissão cultural
Sperber (1990) porque eles não levam em conta os mecanismos de
que podem estar em jogo por ter desempenhado um papel na explicação da evolução
das propriedades da linguagem.

A LINGUAGEM COMO OBJETO CULTURAL


Uma lingua é produto de uma população de individuos que falam de maneira
semelhante entre si. Jim Hurford (2014) mostra que o surgimento da comunicação
com símbolos arbitrários (as palavras) mudou radicalmente o ambiente em que os
humanos viviam. Os humanos construíram um "nicho simbólico" para si próprios.
E então razoável pensar que eles são, de certa maneira, adaptados para funcionar
gradualmente dentro de um nicho parcialmente definido pela cultura simbolica.
Deacon (1997) mostra que o caráter simbólico é uma das caracteristicas essenciais,
senão a característica mais marcante, da linguagem humana.
Uma mudança importante na evolução concerne à relação entre o homem anato-
micamente moderno e o comportamento do homem moderno. Esse último aspeet
do desenvolvimento do homem parece ter surgido há 45.000 anos, e talvez mesmo
antes, com o aparecimento de eertas ferramentas, da arte rupestre e de instrumentos
musicais, como as flautas. Foi sugerido que esse desenvolvimento da complexidade
cultural, onde vemos o aparecimento de símbolos, coincide com o aparecumento
da linguagem no sentido moderno do termo. Jim Hurford (2014) mostrou que as
decorações abstratas de blocos de ocre, encontradas em sitios arqueológicOs, sao

simbólicas em um sentido do termo, mas as palavras de uma língua são simbölicas


em outro sentido. Para ele, é dificil identificar o aparecimento da arte da decoração
com a linguagem. Os objetos e representaçðes decorativos encontrados nas escava-
A origem ea evolução da linguagem 229

ções dos diversos sitios arqueológicos como Skhul, Qafzeh, a Gruta dos Pombos,
Oued Djebbana e as cavernas de Blombo sugerem, contudo, uma ligação entre a
linguagem e as capacidades simbólicas observadas. D'Errico e Vanhaeren (2009)
realçam que os ornamentos pessoais sinalizam para comunicarjuízos de valor a ou-
tros membros do grupo. Para eles, os itens simbólicos que não têm nenhum objetivo
utilitário e seus sentidos são compartilhados de maneira permanente pelos membros
de uma comunidade. Eles representam os objetos arqueológicos mais próximos do

uso linguagem. Segundo Searle (1996), eles lembram que nenhum sentido insti-
da
tucionalizado pode ser transmitido sem capacidade linguística. Objetos semelhantes
de que ele tinha
também foram atribuídos ao Neandertal. Isso conduziu à hipótese
modernos. Para
um sistema de comunicação semelhante ao dos primeiros homens
de Blombo na Africa
Henshilwood e Dubreuil (2009), as peças de ocre das cavernas
sentido simbólico desses objetos
do Sul sugerem que a transmissão e a partilha do
devem de uma linguagem sintática.
depender

CONCLUSÃO
mostra numerosos fatores de-
evolução da linguagem que
O estudo da origem e
fenómeno. O ponto central
vem ser levados em consideração se quisermos explicar o
assunto em
das características estudadas, para resumir
o
eo desenvolvimento gradual
termos darwinistas. das caracteristicas. Quando
se

importância da evolução
gradual
Darwin mostrou a Darwin sdo sinais, gestos,
características em jogo para
cVOca alinguagem humana, as instintivos, que
evidencam que, para com-
Ons naturais, gritos de outros
animais, gritos moditicaçdes
animal, precisamos distinguir entre as
Picender a evolução da comunicação transmitidas
culturalmente.
tisiológicas
do ECTOma e as resultam de adaptaçðes faculdades mentais e
que importância das
estavam
tocadas na
nivel
Darwin E
15 Intuições de
nesse
evolugdo da linguagem.
do cérebro para explicar
a
desen-
Cnvolvimento cogiuvas se
e as capxacilacks
da linguagem
base biológica
mostra
a
relação entre a do cerebro dos primatas
anatomia e a fisiologa Essas
entre a nodemo.
Comparaçâo homem
cerebrais no
cl de novas zonas elas se
0 desenvolvimento modemo e entre
C homem
capacidades cogilivas do
mplicadas em
innclui
a
linguagem humana.
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