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LICENCIATURA PLENA EM HISTÓRIA

PABLO SOARES PEREIRA DOS SANTOS

O CASAMENTO NA IDADE MÉDIA: a concepção de casamento e os papeis do


homem e da mulher no Livro dos Mil Provérbios de Ramon Llull.

MANAUS
2016
PABLO SOARES PEREIRA DOS SANTOS

O CASAMENTO NA IDADE MÉDIA: a concepção de casamento e os papeis do


homem e da mulher no Livro dos Mil Provérbios de Ramon Llull.

Trabalho de Conclusão de Curso


apresentado ao curso de Licenciatura
Plena em História da Universidade Nilton
Lins, como requisito parcial para a
obtenção do grau de Licenciado, sob
orientação da Prof. Me. Rachel Meyreles.

MANAUS
2016
S252c Santos, Pablo Soares Pereira dos

O casamento na idade média: a concepção de casamento e os


papeis do homem e da mulher no livro dos mil provérbios de Ramon
Llull. / Pablo Soares Pereira dos Santos. – Manaus: UNL, 2016.
22f.; 30cm.
Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura
Plena em História) – Universidade Nilton Lins, Manaus, 2016.
Orientadora: Prof. Me. Rachel Meyreles.
1. Casamento. 2. Homem. 3. Mulher. 4. Igreja. I. Título. II.
Universidade Nilton Lins.
CDU 94

Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária: Pollyanna Batalha da Rocha – CRB 11/759 - Biblioteca
Central Universidade Nilton Lins.
RESUMO
O casamento passou uma grande mudança na Idade Média. Deixou de ser apenas
um acordo entre famílias, transformando-se em um sacramentado pela Igreja.
Substituindo costumes antigos por novos ritos tendo uma participação ativa do clero.
Com um novo conceito de casamento, os papéis do homem e da mulher também
foram gradativamente (ré)definidos. O exame sobre o casamento e os papéis do
homem e da mulher nos provérbios de Ramon Llull, escritos por volta do ano de
1302, período em que o Livro dos Mil Provérbios foi escrito, nos revelam aspectos
importantes sobre a família no período medieval. A obra traz uma série de
ensinamentos que visão orientar a sociedade da época na maneira de agir e
pensar. Os provérbios presentes no livro especialmente os que se referem à mulher
demonstram de maneira visível a forma como o homem e a mulher deveria se tratar
dentro de uma relação conjugal. O livro também aborda outras áreas da sociedade
medieval como o cavaleiro, o príncipe o prelado, demonstrando, assim, ser uma
ótima fonte para se trabalhar não só sobre o casamento, mas, também para outros
temas de interesse de historiadores.

Palavras-Chave: Casamento. Homem. Mulher. Igreja. Idade Média


5

1 INTRODUÇÃO

Ramon Llull filósofo, missionário cristão e novelista medieval, nasceu por volta
de 1232 no reino de Palma de Maiorca uma pequena ilha situada na Espanha. A
região onde nasceu e viveu por pelo menos 22 anos, era uma área de abundancia
cultural. Muçulmanos, judeus e cristãos tinham uma área de forte encontro cultural.
Devido a essa forte influência mista Ramon Llull pode desenvolver um pensamento
com características de ambas as culturas. Se casou aos 22 anos com uma jovem da
corte Blanca Picany, com a qual teve dois filhos, deixou a família para trás e abraçou
a vida de pregação. Durante suas peregrinações escreveu obras como O Livro da
Intenção, Livro das Maravilhas, Livros dos Gentios e dos Três Sábios e até mesmo
uma autobiografia chamada Vida e Coetânea, totalizando mais de 200 obras
conhecidas entre essas o Livro dos Mil Provérbios, a fonte desse trabalho.
Ramon Llull buscou durante sua vida de peregrinação uma forma de difundir
os princípios cristãos através da persuasão, como ele mesmo adverte “combata
falsa crença com argumentos” (Llull, 1302). Dessa forma, grande parte de suas
obras são voltadas ao dever missionário, o restante frisa a importância das virtudes,
e de como elas podem levar o homem conquistar o paraíso.
A proposta desse trabalho é estudar o casamento nos provérbios de Ramon Llull
por volta do ano de 1302, período em que o Livro dos Mil Provérbios de autoria do
mesmo foi escrito. A obra traz uma série de ensinamentos que visão orientar a
sociedade da época na maneira de agir e pensar. Os provérbios presentes no livro
especialmente os que se referem à mulher demonstram de maneira visível a forma
como o homem e a mulher deveria se tratar dentro de uma relação conjugal. O livro
também aborda outras áreas da sociedade medieval como o cavaleiro, o príncipe o
prelado, demonstrando, assim, ser uma ótima fonte para se trabalhar não só sobre
o casamento, mas, também para outros temas de interesse de historiadores.
Durante o trabalho veremos como a família é a base da sociedade cristão, e que
na Idade Média era primordial e vista pela Igreja como uma forma de controlar o
comportamento sexual.
É seguindo as migalhas deixadas por Ramon Llull, buscando compreender as
pistas deixadas pelo caminho, que esse trabalho visa entender alguns aspectos do
casamento. Como sua função na sociedade, o papel na escolha de um pretendente
por parte do homem e da mulher, a sexualidade e a fidelidade. A saber trazer ao
6

campo histórico um trabalho que tenha como fonte a obra do autor Ramon Llull, pois
mesmo existindo produções acadêmicas que utilizam seus textos, ele atualmente é
pouco conhecido no campo de história, ganhando mais destaque na filosofia.
Uma pergunta e necessária ser feita aos profissionais históricos. É preciso
Incentivar outros historiadores a conhecer e trabalhar com os textos de Ramon Llull?
A resposta é sim. Temos o Instituto de Ciência e Filosofia Ramon Llull com sede na
cidade de São Paulo que vem traduzindo com grande eficiência obras do autor, para
que aqueles que tenham interesse possam conhecê-lo melhor. Mais devido à pouca
divulgação muito historiadores vem perdendo uma fonte rica em conteúdo. Assim
sendo a necessidade de historiadores que venham a trabalhar com essas traduções
como forma de compreender um período histórico único que é a Idade Média, se
torna cada vez mais necessário visto que o número de traduções vem aumentando.
7

2 DESENVOLVIMENTO

2.1 O CASAMENTO E SUA FUNÇÃO NO SÉCULO XIV

A Igreja era poderosa na sociedade medieval, exercia forte influência sobre os


homens e mulheres no século XIV. A Igreja ditava a forma como as pessoas
deveriam viver e a grande maioria seguia, logo o clero determinava os princípios a
serem seguidos pela sociedade cristão. As leis divinas deviam ser seguidas acima
de qualquer outra lei na terra, os representantes da Igreja possuíam as chaves do
poder espiritual no mundo terreno e redigiam os princípios que levariam o homem ao
paraíso:
Um dos pilares importantes de sustentação da Idade Média é a
Igreja, detentora do saber e do poder espiritual, com um papel cada
vez mais destacado na Idade Média Central, principalmente após a
Reforma Gregoriana. Essa instituição indicava à sociedade como
seguir os seus princípios ideológicos, especialmente por meio dos
discursos clericais através da oralidade. (Zierer, 2013, p. 2).

Ocorreram dentro da Igreja uma série de debates sobre o proposito e a


aceitação do casamento como ordenança sagrada. Alguns acreditavam que o
casamento atrapalhava a pureza da alma. Outros que o casamento era aceitável e
que poderia até mesmo acontecer dentro do clero. Um terceiro grupo aceitava o
casamento apenas entre aqueles que não devotavam a vida a Igreja e a obra de
Deus1. São Jerônimo era um entre outros estudiosos cristãos que via o casamento
como um empecilho a pureza da alma e a aproximação com Deus. Ele pregava que
aqueles que mantinham sua virgindade, principalmente as mulheres, receberiam no
paraíso um maior grau de elevação. Para ele os que se casavam, não conseguiram
se manter longe dos desejos sexuais, por esse motivo aos que optavam pelo
casamento receberiam uma recompensa inferior no paraíso2. Apesar de vários
estudiosos do clero não entrarem em um acordo de ideias, eles observaram que o
homem deveria procriar para manter uma geração de herdeiros e novos filhos de
Deus na terra e era impossível descartar o uso dos órgãos sexuais para atingir esse
fim, entretanto, o desejo sexual é visto como um pecado carnal que facilmente
desvia o homem da presença de Deus. Assim o casamento para o clero se torna o
menor mal para frear tais impulsos e manter a existência humana3.

1
MACEDO, Jose Rivair. A Mulher na Idade Média. 2015 p. 23
2
LEITE, Eduardo Silva. Casamento Nas Epístolas De São Jerônimo. 2013 p. 88
3
BASCHET, Jerome. A Civilização Feudal: do Ano 1000 A Civilização da América. p. 448-449.
8

A sociedade já tinha como parte de seus costumes a realização de acordos


para a união de seus filhos, esses acordos tinham como objetivo a união de clãs e a
continuidade de uma descendência4. Nos séculos anteriores ao XIV a Igreja Católica
passava por uma série de debates que viriam a determinar a importância do
casamento no meio religioso e seu uso no controle social, José Rivair Macêdo
escreve:
Por intermédio do casamento esperava-se controlar a sexualidade
dos fiéis e lutar contra a fornicação. Transformada em sacramento,
sacralizada, a união conjugal tornar-se-ia veículo de controle do
comportamento da sociedade por parte da Igreja. (Macedo, 2015, p.
23).

Após a consagração do casamento pela Igreja ela criou uma série de ritos e
princípios sagrados para controlar e dar um único objetivo central a essa instituição:
a procriação. O clero passou a ter uma participação mais ativa e importante nos
acordos de união entre homem e mulher, visto que antes eram apenas firmados
entre as famílias. Georges Duby afirma que o clero pouco a pouco assumiu a
responsabilidade de realizar o matrimonio:
Último ponto: os sacerdotes se intrometem pouco a pouco no
cerimonial do casamento para sacralizar seus ritos, especialmente os
das núpcias, acumulando em torno do leito nupcial as formulas e os
gestos destinados a expulsar o satânico e a conserva os cônjuges na
castidade. (Duby, 2011, p. 19).

Agora se torna necessário a presença de um representante espiritual. O


casamento passa a ser considerado uma união sagrada a ser firmada por Deus e o
casal, onde ambos se comprometem a viver de acordo com os dogmas da Igreja,
que passa a assumir a posição de representante da vontade de Deus na união. Com
isso, o casamento deixa de ser apenas mais um acordo de famílias e passa a se
torna algo sagrado. Além das regras que já existiam quando o casamento era
realizado pelas famílias, agora após ser considerado pela Igreja como sagrado ele
ganha mais força pois a uma intervenção divina nos contratos nupciais 5.
Segundo Jose Rivair A Igreja passa a transformar o casamento em uma
celebração publica:
Aos poucos, os padres ganharam importância na cerimônia. No início
limitavam-se a abençoar a cama, aspergindo-a com agua benta. No
século XII o casamento passou a ser inteiramente público, sendo

4
DUBY, Georges. Idade média, idade dos homens: Do amor e outros ensaios. p. 14-15.
5
DUBY, Georges. Idade média, idade dos homens: Do amor e outros ensaios. 2011 p. 19, 23.
9

transformado em rito, solenidade. Deixou de ser realizado em casa,


passando a ocorrer primeiro as portas da Igreja, depois dentro dela.
(Macedo, 2015, p. 25).

A Igreja busca através desse ato retirar da autonomia familiar a função de


legislador da cerimônia. Logo se tornava público o acordo realizado entre os casais,
assim como os votos que ambos fizeram para com Deus. A sociedade naquele
momento seria testemunha de ato.
Ainda que mudanças tenham acontecido e o casamento tenha se tornado
uma instituição sagrada, os interesses antigos permaneciam vivos, como
descendência, manutenção de riquezas, laços familiares e acordos de paz.

2.2 A PARTICIPAÇÃO DO HOMEM NA ESCOLHA DA ESPOSA.

O homem medieval do século XIV atribuía a escolha de uma companheira a


propósitos como a honra, riqueza, status sociais e sobrevivência de sua
descendência. Os propósitos variavam de acordo com sua posição social, porém,
ainda que houvesse diferença de intenções, um fator permanência igual, a saber, a
busca por garantir um bom casamento.
O casamento se torna necessário ao homem, não somente pela procriação,
benefícios materiais ou sociais, mas, também pela obrigação sagrada, um dever a
ser cumprido. Para Ramon Llull a honra é uma virtude a ser atingida pelo homem e
quanto mais virtuoso ele for mais próximo de Deus estará6. Um homem honrado é
aquele que cumpri o dever pelo ao qual foi designado. Logo o casamento é um dever
atribuído por Deus ao homem e considerado sagrado pela Igreja no século XIV7.
Ramon Llull cita o seguinte proverbio, “Busca o teu propósito no propósito de Deus”8,
aquele que desejava ser honrado devera desposa uma esposa para cumpri tal dever
descrito. No livro de Gênesis temos, “E disse o Senhor Deus: ‘Não e bom que o
homem esteja só; far-lhe-ei uma ajudadora idônea para ele” (Gen. 2, 18), depois
temos o seguinte, “Portanto deixara o homem seu pai e sua mãe, e a pegar-se-á a
sua mulher, e serão ambos uma carne”9 (Gen. 2, 24).
Será que esse era o principal motivo pelo qual um homem buscava uma
esposa? Apesar do esforço da Igreja em dar um novo propósito ao casamento, a
6
COSTA, Ricardo da. A Ética Da Polaridade De Ramon Llull (1232-1316): O Conhecimento Necessário Dos
Vícios E Virtudes Para O Bom Conhecimento Do Corpo Social. 2004. p. 5
7
MACEDO, Jose Rivair. A Mulher na Idade Média. 2015 p. 23
8
Ibid., p.15
9
ALMEIDA, João Ferreira. A Bíblia Sagrada. Ed Corrigida e Revida Fiel ao Texto Original.1995 p. 3
10

sociedade ainda colocava valores como ouro, prata, terras e status sociais em
primeiro lugar. O Livro dos Mil Provérbios mantinha uma posição contra esses
propósitos, “Quem é rico pelo mal é mais pobre que rico”10, e continua, “Bons
costumes são grandes riquezas”11. Ainda assim a honra vinha apenas a ser uma
consequência positiva do casamento. O sentimento de amor como um requisito para
a escolha da parceira não fazia parte do mundo medieval. O casamento arranjado,
muitas vezes ainda quando os noivos eram crianças, não dava a oportunidade para
que tal sentimento chegasse a florescer. Algo interessante que na forma de trato do
casal após o casamento, a mulher se referia ao seu marido como “sênior” ficando
evidente os aspectos feudais12. Isso não significa que não houvesse em algumas
poucas ocasiões a presença de tal sentimento e que também não ocorresse após a
união dos noivos e sua convivência o nascimento de tal afeto. Entretanto é difícil ao
historiador chegar a um argumento aceitável, pois notadamente a forma de amor
presente na Idade Média é um assunto debatido até hoje. Porém em um
comportamento social esse sentimento não era priorizado e outros quesitos eram
colocados em primeira opção até porque a decisão e a escolha não eram tomadas
pelos noivos.
Georges Duby explica em seu livro Idade Média Idade Dos Homens, que o
filho mais velho primogênito era responsável por garantir um bom casamento aos
irmãos e uma boa negociação para suas irmãs quando a presença do patriarca já
não era possível.
Todos os responsáveis pelo destino da família, isto e, todos os
homens que detém algum direito sobre o patrimônio e, a frente deles,
o mais velho, a quem aconselham e que fala em nome deles
consideram consequentemente como seu direito principal, casar os
jovens e calos bens. Ou seja, por um lado ceder as moças negociar
da melhor maneira possível seu poder de procriação e as vantagens
que elas podem legar a sua prole: por outro ajudar os rapazes a
encontrar esposas. (Duby, 2011, p. 15).

Riquezas e status também faziam parte da escolha masculina. Os filhos que


ficavam excluídos da herança, herdada pelo primogênito, acabavam por escolher
uma companheira que fosse ajudá-los a obter sua própria prosperidade. José Rivair
Macedo em seu livro A Mulher na Idade Média, explica esse padrão de escolha e as
intenções e motivos que levavam a ela.
10
Ibid., p.39
11
Ibid., p.39
12
MACEDO, Jose Rivair. A Mulher na Idade Média. 2015 p. 22
11

Os rapazes prejudicados pelas regras de sucessão viam em um bom


casamento uma alternativa de ascensão social. Os bens das moças
solteiras exerciam forte atração sobre eles. Ao se casar teriam
oportunidade de formar família própria, tornar-se-iam seniores
(senhores), ganhariam posição social, respeito e poder. (Macedo,
2015, p. 20).

Descendência também era um fator importante e o casamento tinha como


objetivo sagrado à gestação da mulher. Os homens admiravam numa mulher sua
capacidade produtiva, colocando como requisito fundamental na escolha de uma
esposa a sua capacidade de lhe dar herdeiros. Não era raros casos de homens
repudiando e devolvendo sua esposa à família pôr a mesma não ter sido capaz de
lhe gerar filhos13. Mas não nega ao marido, ou antes, ao seu grupo familiar, o poder
de romper a união de acordo com sua vontade, de afastar a esposa para buscar uma
outra, (DUBY, 2011). O casamento segundo a Igreja na época tinha o propósito
primordial da procriação, logo, uma esposa infértil torna esse compromisso
impossível de ser comprido com isso o repúdio e o abandono por parte do marido.

2.3 A PARTICIPAÇÃO DA MULHER NA ESCOLHA DO MARIDO.

A mulher na Idade Média, ainda que inferiorizada pelo homem medieval,


dependendo de sua posição social ou posses poderia ainda estabelecer uma vida
tomando algumas decisões, livre do autoritarismo masculino em situações
específicas.
A mulher não escolhia com quem iria casar-se mesmo sendo rica ou vindo de
uma família nobre. Essa decisão era tomada pelo homem da casa no caso o pai ou,
quando esse já tinha falecido, o filho homem primogênito 14. Em alguns raros casos,
nas camadas mais ricas da sociedade, mulheres viúvas que herdavam uma boa
quantidade de riquezas e possuíam certo status social, conseguiam negociar através
de pagamentos o direito de escolher o marido 15, desde que não houvesse ainda um
patriarca a tomar as decisões no lar. Mas isso não era regra, já que poucas tinham
condições para pagar ou detinham tal posição. Maria Filomena Dias Nascimento, no
artigo intitulado Ser Mulher Na Idade Média, mostra que

13
MACEDO, Jose Rivair. A Mulher na Idade Média. 2015 p. 22-23
14
DUBY, Georges. Idade média, idade dos homens: Do amor e outros ensaios. 2011 p. 14
15
AMARAL, Jéssica Fortunata do. O Casamento Na Idade Média: A Concepção De Matrimônio No Livro Da
Intenção (C.1283) E Nos Exempla Do Livro Das Maravilhas (1288-1289) Do Filósofo Ramon Llull. 2013 p. 4
12

Mulher camponesa certamente não poderia desfrutar das mesmas


prerrogativas. Neste caso, porém, é o status sócio-econômico que
marca a diferença, e não o sexo. Certamente existe um grande
abismo entre o homem nobre e o homem camponês. Mas,
definitivamente, dentro da sociedade feudal tinha mais poder uma
mulher nobre que um homem camponês. (Nascimento, 1997, p. 90-
91).

Jessica Fortunata traz a ideia de que, nas famílias mais pobres, a mulher
possuía um pouco mais de autonomia e em muitos casos a oportunidade de
escolher um marido16. Porém tal ideia e questionável visto que as famílias mais
pobres não possuíam muitos bens, além disso uma camponesa não possuía
autoridade dentro do seu lar. O responsável pela família se colocava em posição de
alerta a possível perda ou diminuição do pouco que ele possuía pelo casamento de
uma das mulheres da casa. Por isso a mulher era vista por sua família como um bem
a se negociar, e arranjar-lhe um casamento tão logo chegue a idade aceitável, se
tornava uma prioridade. A escolha de um marido pela família da noiva apegava-se a
interesses como a união de famílias, acordos de paz e vários outros fatores que não
envolvesse a obtenção de riquezas. Ao contrário do homem, que via o casamento
como uma oportunidade de obter mais posses e privilégios, o da mulher era visto
como um possível prejuízo. A família tratava de negociar o poder de procriação, os
dotes e as habilidades.
As meninas eram levadas a se casar muito cedo, por cerca dos doze,
quinze anos de idade, o que dificultava muito mais a realização do
desejo que pudessem ter de não se casar com determinado noivo.
Prevalecendo a imposição do pai. As moças eram educadas
aprendendo a bordar, ter cuidado com as crianças (bebês), deviam
ser doces, tímidas, modestas, castas, discretas, prendadas e
religiosas. Eram educadas para ser esposas. (Fortunata, 2013, p. 6).

A Igreja dava oportunidade aos noivos para se expressarem contra ou a favor


da cerimônia durante sua realização, ou seja esse era o momento em que a mulher
ou o homem podiam dizer não ao casamento que estavam sendo forçados a aceitar.
Contudo, em contrapartida, a Igreja aconselhava a escolha do noivo pelos pais da
noiva o que tornava ainda mais difícil para a ela dizer não ao casamento, pois a
igreja ensinava que aquele era o comportamento aceitável perante Deus. Logo a
família da noiva, por sua vez, nunca aceitaria um não dela, mesmo que a Igreja
desse a oportunidade para ela decidir o que valia era o desejo deles. Não atender a

16
AMARAL, Jéssica Fortunata do. O Casamento Na Idade Média: A Concepção De Matrimônio No Livro Da
Intenção (C.1283) E Nos Exempla Do Livro Das Maravilhas (1288-1289) Do Filósofo Ramon Llull. 2013 p. 4
13

vontade de seus familiares significava para a mulher a expulsão do seio familiar, ou


em alguns casos, ela viria a sofrer agressões até que desse continuidade ao desejo
da família cumprindo assim o que foi acordado com o noivo17. Fortunata em seu
artigo descreve:
Ao mesmo tempo que os clérigos diziam defender a disposição dos
noivos em se unirem em matrimônio, aprovavam a ideia da escolha
pelos pais. Para demonstrar que eram a favor do casamento pela
vontade dos noivos, estes, teriam a oportunidade de se aceitar ou
não durante a cerimônia matrimonial, que, por mais que a noiva não
quisesse aceitar o noivo, receberia tamanha carga de pressão
emocional da família, ou imposta pela própria sociedade, que não
conseguia recusar-se. (Fortunata, 2013, p. 7).

Em uma época onde a mulher não possuía muitos direitos, e estava


submetida aos cuidados e interesses de sua família, não tendo assim nenhuma outra
forma de garantir seu sustento caso abandone sua casa, ser repudiada pelo seio
familiar a colocaria em uma situação de grande penúria, elas acabavam por serem
forçadas a aceitar o marido proposto. Em alguns casos jovens acabavam fugindo de
casa para se casar com o homem que queriam, era comum encontrar casos de
raptos de moças que nas maioria das vezes estavam de comum acordo com seu
raptor e só queriam sair do berço autoritário de sua família e escolher seu próprio
marido18. Outras optavam como estratégia para escapar de um casamento arranjado
com um homem que não desejavam, ir para conventos femininos um local onde
dedicavam a vida a Deus19.
Salientamos ainda que a mulher, ao contrário do homem, nem sempre tinha a
possibilidade de se casar. Muitas que desejavam ter um marido, mesmo que
escolhido por sua família, acabavam sendo colocadas nesses mosteiros quando o
dote que devia ser pago vinha a se tornar prejudicial a riqueza da família, uma
estratégia muito utilizada nessa época. Jose Rivair deixa claro essa estratégia:
Quando o valor do dote colocava em perigo a estabilidade do
patrimônio da familiar, a fim de diminuir o número de prováveis
casamentos, os pais ou os chefes da casa enviavam as jovens aos
mosteiros para que se tornassem freiras. O número de
estabelecimentos religiosos femininos cresceu no fim do século XII.
(Macedo, 2015, p. 22).

17
Ibid., p.7
18
Ibid., p.7
19
AMARAL, Jéssica Fortunata do. O Casamento Na Idade Média: A Concepção De Matrimônio No Livro Da
Intenção (C.1283) E Nos Exempla Do Livro Das Maravilhas (1288-1289) Do Filósofo Ramon Llull. 2013 p. 7
14

2.4. FIDELIDADE, SEXUALIDADE E FAMÍLIA NO CASAMENTO NO LIVRO


DOS MIL PROVÉRBIOS
Após a cerimônia de casamento, o primeiro compromisso dos noivos era
consumá-lo. Assim, ambos se dirigiam aos aposentos para o ato sexual, tal momento
era acompanhado pelas famílias que assistiam para confirmar sua realização além
de levantarem a esperança de que naquela primeira vez já se concebesse um
herdeiro ao qual traria também propósito ao casamento. Além da presença dos
familiares, havia a presença do padre, pois ele era responsável por ensinar os noivos
como se comportarem durante o sexo. Georges Duby expõe esse momento:
A seguir as núpcias, ou seja, um ritual da instalação do casal no seu
lar: o pão e o vinho partilhados pelo esposo e pela esposa, e o
banquete concorrido que, necessariamente, enquadra a primeira
refeição conjugal; lá quando cai a noite, na câmara escura, no leito, a
defloração, depois, de manhã, o presente pelo qual se exprime
gratidão a esperança daquele, cujo sonho e ter, fecundado desde
essa primeira noite a sua companheira, inaugurado já as suas
funções de paternidade legitima. (Duby, 2011, p. 16).

A Igreja impunha princípios morais que estabeleciam o comportamento


adequado no casamento. Esses princípios são, a procriação como proposito
principal do casamento, regras de como se comportar no ato sexual, a obediência da
mulher ao marido, e vários outras regras de comportamento. Falaremos de algumas
a baixo.
Analisando O Livro dos Mil Provérbios, encontraremos o seguinte, “Ama mais
em tua mulher a finalidade do matrimônio que o prazer”20. O propósito do casamento
era a procriação, desaprovando ao homem desejar sua esposa de forma puramente
carnal21, ao padre era dada a responsabilidade de lembrá-los desse propósito, além
disso, se esperava que na primeira noite do casal já se coloca a semente para o
primeiro filho.
O homem e a mulher deveriam manter a abstinência sexual quando não fosse
com o propósito destinado para o casamento a procriação, no livro vemos a seguinte
afirmação “Seja casto para que tua mulher seja casta”22. O marido deveria tomar
cuidado para não fazer de sua mulher sua amante, ou seja tratá-la como um objeto
para a satisfação dos prazeres sexuais. Ou seja, o homem e a mulher que

20
Ibid., p.18
21
MACEDO, Jose Rivair. A Mulher na Idade Média. 2015 p. 22
22
Ibid., p.18
15

mantenham relação sexual tendo como único propósito a procriação, estarão


cumprindo o verdadeiro propósito dado por Deus a essa instituição sagrada.
Apesar da cobrança social-religiosa para que o homem se mantivesse fiel à
esposa, ainda que apenas para trazer filhos, não se cobrava tanto do homem a
fidelidade no casamento, isso fica visível quando lemos o seguinte No livro dos Mil
Provérbios, “Diante de tua mulher não fales das circunstâncias da amante”23. Aqui
temos uma alerta ao marido para que esse seja cauteloso em suas ações com a
amante, ainda em outro proverbio o livro continua, “Quem frequentemente tenta sua
mulher frequentemente se arrepende”24. Podemos também ver em outro livro de
Ramon Llull a sua concepção sobre a fidelidade e o tema da traição conjugal.
Mesmo que a história não signifique a traição do marido, podemos ter uma ideia de
como a esposa pode ser influenciada ao observar o marido com a amante:
– Um burguês tinha uma mulher como senhora, a quem muito
amava. Aquele burguês alugava uma casa perto de seu albergue
para uma louca fêmea. A mulher do burguês via frequentemente
loucos homens entrarem na casa daquela louca fêmea e ficou
tomada pela vontade de usar a luxúria. Assim, aquela senhora ficou
por muito tempo no pecado da luxúria. Um dia aconteceu que seu
marido a encontrou pecando com um homem. (Llull, 2009, p. 209).

A mulher deveria se manter pura durante o casamento. A ela pesava a maior


responsabilidade de se manter fiel ao marido e cumprir os desígnios do matrimonio.
Mesmo que seu marido fosse luxurioso. A história a baixo ainda que descrita por
Ramon Llull em uma outra obra também dedicada à sua autoria pode, nos ajudar a
entender a preocupação que O Livro dos Mil provérbios herda do seu autor ao tocar
na importância da pureza feminina:
— Aconteceu que a um velho luxurioso deram como mulher uma
donzela virgem muito bela. Ela era uma fêmea de vida muito santa e
muito casta; seu marido, estando com ela, era um homem luxurioso e
de má vida. As gentes que os conheciam ficaram grandemente
maravilhadas como o homem velho era luxurioso e a senhora jovem
casta. Aconteceu um dia que o demônio tentou a boa senhora com a
luxúria e seu marido com o ciúme. O marido não se opôs ao demônio
e ficou ciumento, mas a boa senhora se opôs ao demônio, foi forte
em sua castidade e teve paciência com o mau comportamento de
seu marido, que dizia-lhe muitas vilanias. Um dia aconteceu que o
marido feriu sua mulher por causa de seu ciúme, e o demônio tentou
fortemente a boa senhora com a luxúria. A boa senhora estava sendo
vencida pela injúria que seu marido lhe fazia e pela tentação do
demônio, mas lembrou-se que Deus ama a castidade e desama a

23
Ibid., p.18
24
Ibid., p.18
16

luxúria e ama a paciência e desama a impaciência. A boa senhora


amou a grandeza da castidade e da paciência, e louvou e bendisse a
Deus, que a colocara em castidade, condição que só a grande
paciência pode proporcionar. Quando a boa senhora terminou sua
oração, maravilhou-se como pudera ter tido um pensamento
inclinado à luxúria pela tentação do demônio e pela vilania que seu
marido lhe fizera. Enquanto a boa senhora se maravilhava de si
mesma e em si mesma, se menosprezava, porque seu pensamento
nunca poderia cometer uma falta contra sua castidade. Ela então
entendeu que aquele pensamento fora um pecado venial multiplicado
pela tentação do demônio e pela vilania que seu marido lhe fizera, e
como o havia vencido, ela foi caridosa, justa, forte, abstinente, casta
e paciente. A senhora ficou então muito alegre e consolada com o
pensamento e a consideração que tivera. (LLULL, Ramon. O Livro
das Maravilhas. p.147 apud Fortunata, 2013, p. 9)

O Livro dos Mil Provérbios também expõe os perigos de um homem que


venha a deixar de lado o propósito real do casamento buscando na cama de sua
esposa a satisfação sexual, o seguinte proverbio no livro diz “O luxurioso está
submetido à mulher”25. Ele atenta que a mulher possa usar de seu poder sexual para
controlar o marido e dominar sua casa o deixando refém de suas vontades. Em outro
proverbio é dado um conselho ao homem quanto a esse tipo de mulher, “Com amor
seja íntimo da boa mulher, e com temor da má”26. Para a Igreja medieval a mulher é
tendenciosa, capaz de usar a sexualidade para atingir objetivos malévolos.
Outro tema abordado pelo Livro dos Mil Provérbios e a forma de trato entre o
casal e sua família além do próprio trato do marido com sua esposa. Temos os
seguintes provérbios, “Que teus parentes tenham mais poder em tua casa que os de
tua mulher”27. Após o casamento a mulher passa a fazer parte da família do marido,
o homem sendo o chefe de seu lar deveria garantir que sua família possuísse mais
direitos em sua casa que os de sua esposa. A esposa ao se mudar para a casa do
marido será para sempre uma estrangeira do qual o marido devera desconfiar e
vigiar. Duby descreve o seguinte:
A toma-la alhures, numa outra casa, a introduzi-la nessa casa onde
ela deixará de depender de seu pai, de seus irmãos, de seus tios,
para ser submetida a seu marido, ainda que condenada a ser para
sempre uma estrangeira, um pouco suspeita de traição furtiva nesse
leito em que ela penetrou, onde ela vai preencher sua função
primordial: dar filhos ao grupo de homens que a acolhe, que a
domina e a vigia. (Duby, 2011, p. 15).

25
Ibid., p. 36
26
Ibid., p. 18
27
Ibid., p. 18
17

O Livro dos Mil Provérbios também aborda como o marido deve tratar sua
esposa no seguinte provérbios temos, “Antes alimenta tua mulher com amor que
com pavor”28. A mulher na Idade Média é considerada fraca e por isso dever ser
submissa ao marido e servi-lo29. O marido tinha tanto poder sobre sua mulher, que
poderia usar de violência e agressões para controlar a ação de sua esposa, buscava
através do medo mantê-la submissa30. Ao homem era desonroso possuir em casa
uma esposa que não fosse obediente, dessa forma, o livro ensina que o homem
deve manter a obediência e o respeito de sua esposa através do amor e não através
do medo e da violência. Esse amor em uma concepção Luliana deveria ser o
sentimento de gratidão e respeito por sua parceira.
A mulher recai a responsabilidade de cuidar da casa dos filhos e atender as
necessidades do marido, deve evitar ao máximo sair do ambiente familiar, visitas ao
convento ou a Igreja também eram permitidos porem a regra era sempre se manter
no ambiente privado. Maria Filomena explica essa relação da mulher com o lar:
A sociedade feudal foi, sem dúvida, patriarcal e, para muitos autores,
estaríamos falando de uma época histórica na qual as mulheres
estavam obrigadas a circular exclusivamente na esfera privada. E,
ainda assim, estaríamos falando de uma circulação somente
permitida dentro dos limites da casa paterna, da casa marital ou do
convento. (Nascimento, 1997, p. 85).

No casamento era dever tanto do homem como da mulher manter sua família
seguindo os princípios sagrados, se manterem forte e firme em suas obrigações
matrimoniais.
3.1 O LIVRO DOS MIL PROVÉRBIOS E SUA RELAÇÃO COM O
CASAMENTO
A forma como os provérbios representam o sexo feminino no livro demonstra
a posição de seu autor, que irão acompanhar as ideias difundidas sobre a mulher
nesse período. Ramon Llull defendia as teorias propostas pelo clero, porém,
percebe-se uma posição leve como um defensor ainda que discreto de um marido
amoroso com a esposa.
Os argumentos do clero usados para imputar essa posição do sexo feminino
tinham como base uma exegese das escrituras sagradas, que colocava a mulher

28
Ibid., p. 18
29
Golf, Jacques Le e Schmitt, Jean-Claude Dicionário Temático do Ocidente Medieval, 2 Ed. 2006 p. 137
30
AMARAL, Jéssica Fortunata do. O Casamento Na Idade Média: A Concepção De Matrimônio No Livro Da
Intenção (C.1283) E Nos Exempla Do Livro Das Maravilhas (1288-1289) Do Filósofo Ramon Llull. 2013 p. 6
18

como um ser frágil, propício ao pecado e inferior ao sexo masculino. Ramon Llull
logo transpareceria em sua obra O Livro dos Mil Provérbios a superioridade
masculina.
A primeira explicação dada para apoiar esse pensamento é que, Eva tendo
sido criada a partir da costela de Adão é inferior, em contra partida ao homem criado
de um material escolhido por Deus logo isso o tornaria superior em nível de criação.
Na segunda explicação o homem é considerado mais forte contra o pecado pois a
mulher por ter sido tentada a comer do fruto pela serpente cede à tentação,
enquanto o homem se mantém firme na tentação dela, só pecando após a mulher
persuadi-lo, assim a mulher é herdeira da parte fraca do homem. O Livro dos Mil
Provérbios apoia tais afirmações vemos isso no seguinte proverbio onde ele expõem
o clero como sagrado e detentor da vontade de Deus, “O prelado é honrado pela
finalidade da prelazia”31 e continua, “Deus prega segundo as Suas condições e não
segundo as tuas”32. Temos assim o apoio a igreja e sua posição como representante
da vontade divina. José Rivair Macedo fala um pouco sobre a criação divina do
homem e da mulher:
Para alguns teólogos, Eva não teria sido feita a imagem e
semelhança de Deus, mas a partir de Adão; assim sendo,
consideraram-na mera projeção da criação divina. Essa distinção e
gradação entre o homem – dotado da imagem divina (imago) – e a
mulher – detentora apenas da semelhança divina (similitudo) -, para
eles constituía uma prova da “inferioridade natural” do sexo feminino.
(Macedo, 2015, p. 66).

Já Maria Filomena Dias Nascimento explica como a transgressão de Eva


descrita nos testamentos sagrados trouxeram a ideia de uma mulher tendenciosa ao
pecado no mundo medieval:
Eva. Segundo Filo, filósofo responsável pela difusão da explicação
da inferioridade feminina dentro da sociedade judaica, Eva é um ser
pecador, incapaz de resistir à tentação, pelo que é necessário
submetê-la à tutela masculina. Ao ser a primeira mulher, Eva passa a
projetar sua carga de pecadora sobre a existência feminina. E
embora ela tenha sido criada a partir do homem - e por isto seja
parte integral da essência humana - ela representa a parte vulnerável
deste. (Nascimento, 1997, p. 85-86).

O tema “A mulher” no livro é o mais utilizado para demonstrar a maneira como


o homem deveria lidar com as mulheres, de em geral, ou com sua esposa.

31
Ibid., p. 16
32
Ibid., p. 15
19

Ensinamentos como, “Não confies em mulher mentirosa”33, ou “Não existe tão


grande trabalho e vergonha como o da mulher má”34. Alguns provérbios se dirigirem
ao homem como se este fosse incapaz de cometer os erros relacionados à mulher,
orientando-lhe dos males que o sexo feminino pode trazer.
Porém, em outros provérbios que falam do tema mulher, o livro orienta o
marido a tratar a esposa com respeito e amor, “Antes alimenta tua mulher com amor
que com pavor”35, e “Ama mais a bondade de tua mulher que a de teu filho”36. Tais
provérbios, ainda que possam parecer comuns em uma sociedade do século XX,
demonstram a preocupação do Livro dos Mil Provérbios em amenizar as ações
praticadas por boa parte dos homens, que usavam dos direitos que possuíam na
Idade Média para disciplinar de forma violenta suas mulheres37.
Para O Livro dos Mil Provérbios, o casamento deve ser considerado uma
honra para o homem pois se trata da vontade de Deus que todo homem encontre
uma companheira, assim temos um dever a ser concluído. Podemos notar no
seguinte proverbio no livro essa ideia, “Se tomas mulher para ser honrado, não sejas
muito íntimo com tua mulher”38. Para o livro o casamento e a oportunidade que a
mulher tem de demonstrar que possui a força para andar no caminho da castidade
sendo fiel ao marido, e uma serva de Deus.

33
Ibid., p. 18
34
Ibid., p. 18
35
Ibid., p. 18
36
Ibid., p. 18
37
MACEDO, Jose Rivair. A Mulher na Idade Média. 2015 p. 28
38
Ibid., p. 18
20

3 CONCLUSÃO

Para o Livro dos Mil Provérbios, o casamento é sagrado e instituído por Deus,
logo ele deve ser respeitado pelo conjugue que deve seguir os princípio cristãos
propagados pela Igreja Católica, mais especificamente pelos membros do clero. Pois
o casamento se tratando de uma lei divina poderia trazer sérios castigos do céu para
aqueles que não respeitassem o matrimonio e seu verdadeiro proposito que era
trazer a terra novos filhos de Deus e uma descendência ao homem.
A escolha de uma esposa deveria se manter dentro desse propósito e não
tendo como interesse o enriquecimento ou a busca por um status na sociedade, um
comportamento altamente difundido na Idade Média.
Outra ensinamento no livro é a importância do homem na liderança de sua
própria família, onde como patriarca do lar é responsável por manter protegido e
seguro contra as tentações os membros de seu lar especialmente sua esposa.
Nesse panorama a mulher também tem as suas responsabilidades destacadas pelo
livro que é ser fiel ao marido e obediente a suas ordens, buscando sempre se
manter firme contra as tentações que o mundo pode trazer.
Finalizando é importante lembrar que apesar de uma série de provérbios que
tendem a apoiar um marido mais complacente com a esposa, O livro ainda mantem
a ideia difundida na época de uma mulher inferiorizada perante o homem, tornando-
se claro esse pensamento durante a leitura do mesmo.
21

FONTE

LLULL, Ramon - O Livro dos Mil Provérbios 1302 - Tradução Ricardo da Costa e
Grupo de Pesquisas Medievais II - Apoio: Generalitat de Catalunya.
22

REFERÊNCIAS

AMARAL, Jéssica Fortunata do. O Casamento Na Idade Média: A Concepção De


Matrimônio No Livro Da Intenção (C.1283) E Nos Exempla Do Livro Das Maravilhas
(1288-1289) Do Filósofo Ramon Llull. 2003. 14 pag. Pesquisa Medieval –
Universidade Federal do Espirito Santo, Vitória - ES, 2003

BASCHET, Jerome. A Civilização Feudal: do ano 1000 a colonização da América. 1


Ed. São Paulo: Editora Globo S.A, 2006

COSTA, Ricardo da. A Ética Da Polaridade De Ramon Llull (1232-1316): O


Conhecimento Necessário Dos Vícios E Virtudes Para O Bom Conhecimento Do
Corpo Social. 2004.

DUBY, Georges. Idade média, idade dos homens: Do amor e outros ensaios.1 Ed.
São Paulo: editora Schwarcz Ltda., 2011. Capítulo 1: Do Amor e do Casamento: O
casamento na sociedade da Alta Idade Média, páginas 10-17

Golf, Jacques Le e Schmitt, Jean-Claude. Dicionário Temático do Ocidente Medieval.


2 Ed. Bauru - São Paulo: Editora EDUSC, 2002.

LEITE, Eduardo Silva. Casamento Nas Epístolas De São Jerônimo. 2013

Llull, Ramon. Felix, ou O Livros das Maravilhas Parte 1: Deus – Os Anjos – O céu -
Os Elementos – As Plantas – Os Metais - As Bestas. Tradução Ricardo da Costa. 1
Ed. São Paulo: Editora Escala, 2009.

MACEDO, Jose Rivair. A Mulher na Idade Média. 5 Ed. São Paulo: Editora Contexto.
2015

NASCIMENTO, Maria Filomena Dias. Ser mulher na Idade Média. 1997.


.
ZIERER, Adriana. MESSIAS, Bianca. O mundo da cavalaria do século XIII na
concepção de Ramon Llull. 2013

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