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Brasil (1990-2003)
elaborados por pessoas isoladas ou por equipes, a natureza destes trabalhos (artigos,
monografias, dissertações, teses, projetos de pesquisa etc), as concepções de gênero e os
teóricos que tais materiais utilizam, analisando e discutindo os dados levantados.
Faz-se importante ressaltar que é grande o número de textos de História Medieval
publicados nos últimos anos no exterior e que empregam a categoria gênero.18 Explorando
documentos de variadas naturezas e tratando de aspectos tão diferenciados como santidade,
vida religiosa, cruzadas, pobreza, reprodução, travestismo, alcoolismo, sexualidade, política
etc, estes estudos discutem como tais fenômenos perpassam as construções culturais de
gênero em diferentes momentos e espaços. Mais do que obras de síntese, os trabalhos
mergulham em reflexões sobre temas particulares, formando grandes coletâneas, cujos textos
foram redigidos, em sua maioria, por historiadores ligados a centros de estudo anglo-saxões19
e, portanto, tratam preferencialmente de temáticas relacionadas à Inglaterra medieval.20 Os
medievalistas brasileiros têm sido influenciados por tais trabalhos?
Antes de apresentar e discutir a produção dos medievalistas brasileiros que elaboram
suas pesquisas em História utilizando a categoria gênero, faz-se importante destacar o que
entendo por estudos de gênero, visto que não há consenso entre os especialistas sobre tal
ponto.21
Seguindo as propostas teóricas de Joan Scott e Jane Flax,22 considero estudos de
gênero aqueles que partem de paradigmas pós-modernistas e estão atentos à análise de como,
em diversas sociedades e momentos, um dado grupo ou indivíduo dá significação ao
feminino e ao masculino. São estudos qualitativos que elegem o particular, sem buscar leis
causais e universais para a explicação das diferenças sexuais, tratando homem-mulher ou
feminino-masculino não como categorias fixas, mas constantemente mutáveis. A categoria
gênero, portanto, rejeita o determinismo biológico e sublinha que a distinção sexual não é
natural, universal ou invariante, a despeito das diferenças anatômicas entre machos e fêmeas
na espécie humana, mas constrói-se discursivamente de forma inter-relacional, pressupondo
relações hierárquicas de dominação.
Os estudos de gênero configuram-se como um campo da História Cultural e detém-
se em discutir como uma dada visão de gênero construiu-se e impôs-se discursivamente num
determinado grupo num certo momento, apontando para a sua historicidade, desconstruindo-
a. Não são sinônimos da História das Mulheres nem da História Social das relações entre os
sexos e visam, mais do que descrever e interpretar, analisar e explicar as construções de
gênero, que implicam na configuração de instituições, representações e práticas pelas quais os
5
Em fevereiro de 2001, a Profª Ms. Valéria Fernandes da Silva teve sua dissertação de
mestrado, Relações de gênero no processo de construção do Mosteiro de São Damião, por
mim orientada, apresentada e aprovada no Programa de Pós-graduação em História Social
(PPGHIS) da UFRJ. Acompanhando a professora Valéria desde a graduação, juntas
aceitamos o desafio de empregar a categoria gênero em seu trabalho de mestrado. Neste
sentido, devo a esta minha ex-orientanda o despertar do meu interesse pelos estudos de
gênero.
Em seu trabalho, desenvolvido junto ao Programa de Estudos Medievais da UFRJ,
Valéria F Silva voltou-se para os primórdios da Segunda Ordem Franciscana a partir do
estudo das normas que o papado impôs à primeira comunidade de seguidoras de Francisco
que se fixaram na Igreja de São Damião, em Assis, desde o início da comunidade até alguns
anos após a morte de Clara. Ela analisa, em perspectiva comparativa, as regras beneditina e
franciscana e as formas de vida32 de Hugolino, de Inocêncio IV e de Clara de Assis,
empregando a categoria gênero tal como a define Joan Scott.
Segundo destaca a autora, a tensão entre estes documentos é evidente, já que as
regras, escritas originariamente para grupos de homens, apresentam normas que se chocam
com as adaptações presentes nas formas de vida redigidas especificamente para as mulheres e
que respondiam a necessidades históricas imediatas.
Valéria F. Silva conclui que na primeira metade do século XIII foram estabelecidas
interdições comportamentais diferenciadas para os seguidores de Francisco com vistas ao
controle da prática religiosa, criando um discurso de gênero que buscava integrar homens e
mulheres em um sistema de regras construídas, assimétricas e hierarquizadas.33
Atualmente ela cursa o doutorado no Programa de Pós-graduação em História da
UNB, pesquisando sobre a orientação da Profª Drª Tânia Navarro Swain. Como o título
provisório de sua pesquisa revela, A Maternidade nos Escritos Franciscanos do Século XIII –
Uma Abordagem de Gênero, continua a refletir sobre o medievo empregando a categoria
gênero. Ainda em estágio inicial, a pesquisa tem como objetivo estudar o processo de
construção e disseminação de um modelo ideal de maternidade, e por extensão de um
feminino, através dos textos hagiográficos, em especial aqueles produzidos no seio da Ordem
Franciscana durante o século XIII.
Em março de 2003, a dissertação de mestrado Os atributos masculinos das santas na
Legenda Áurea: os casos de Maria e Madalena, redigida pela Profª Ms. Carolina Coelho
Fortes sob a orientação da Profª Dr.ª Leila Rodrigues da Silva, foi apresentada e aprovada no
Programa de Pós-graduação em História Social (PPGHIS) da UFRJ. Como esta pesquisa foi
8
relata a vida de Oria, que, muito jovem, tornou-se reclusa no mosteiro de la Cogolla. A 1 Cel
e 2 Cel apresentam a biografia e milagres de Francisco de Assis, fundador da Ordem
Franciscana, e a LSC, a trajetória e os feitos milagrosos de Clara, a primeira mulher a seguir
os ideais franciscanos.39
A biografia e a produção hagiográfica de Berceo e Celano possuem traços comuns:
ambos viveram e produziram suas obras na primeira metade do século XIII; eram cultos;
escreveram sobre santos e santas que foram contemporâneos e atuaram na mesma área
geográfica. Porém, não obstante as diversas semelhanças, faz-se necessário destacar, também,
as particularidades. O hagiógrafo ibérico compôs suas obras em romance, em forma de
versos, a pedido de um mosteiro que seguia a regra beneditina, celebrizando santos locais que
viveram dois séculos anteriores à redação dos poemas e voltadas para um grande público.
Quanto às obras de Celano, foram escritas em latim; em prosa; a pedido de autoridades
eclesiásticas; narra a biografia e os feitos maravilhosos de santos que conheceu e para os
quais aspirava o reconhecimento universal e tinham, como principal objetivo, divulgar,
sobretudo entre o corpo eclesial e os próprios membros da nascente Ordem Franciscana, o
culto aos santos recém canonizados oficialmente pela Igreja.
Nossa pesquisa tem como principal objetivo relacionar o espaço de produção das
VSD, VSO, 1 Cel, 2 Cel e LSC, a formação intelectual e a inserção na Igreja de Gonzalo de
Berceo e Tomás de Celano e os discursos de gênero, à luz dos seguintes aspectos: as
mudanças nas concepções de santidade verificadas entre os séculos XII - XIIII, a propagação,
no século XIII, do projeto de sociedade idealizado pela Igreja sob a liderança papal, o
crescimento da vida religiosa feminina e a sistematização do pensamento misógino
eclesiástico ocidental neste mesmo período.
Em nosso estudo, estamos articulando as categorias gênero e santidade. Entendemos
por santidade o conjunto de comportamentos, atitudes e qualidades que num determinado
lugar e tempo são critérios para considerar um indivíduo como venerável, seja pelo
reconhecimento oficial pela Igreja ou não. Ou seja, trata-se de um saber, uma construção
histórica, que ganha nuanças e particulariza-se em diferentes culturas, espaços e períodos,
assim como o gênero. No caso específico de nossa investigação, queremos discutir como uma
dada concepção de santidade, que estava ao alcance de homens e mulheres nas sociedades
mediterrânicas ocidentais no século XIII, foi apreendida e direcionada a cada gênero. Quanto
à categoria gênero, adotamos a definição, pautada em Joan Scott e Jane Flax, já apresentada
neste artigo.
11
Trata-se de uma pesquisa original, já que não existem trabalhos que se preocuparam
em comparar, de forma sistemática, a obra destes dois hagiógrafos, nem os analisaram sob a
abordagem que escolhemos.40
Defendemos, como hipótese principal, que nas obras em análise, os hagiógrafos
ressaltam as nuanças e particularidades da vida de homens e mulheres considerados santos,
apontando que o caminho para a santidade pressupunha condutas específicas para cada
gênero culturalmente instituído.
Como resultado do desenvolvimento destas pesquisas foram produzidas
comunicações apresentadas em eventos científicos41 e realizada uma conferência,42 bem
como foram redigidos textos,43 dois já publicados.44 Vamos nos deter nas conclusões parciais
presentes nesses textos já publicados.
Em Reflexões metodológicas sobre a análise do discurso em perspectiva histórica:
paternidade, maternidade, santidade e gênero, o objetivo era traçar algumas reflexões sobre
o conceito de discurso, em especial dos discursos de gênero, apontando um possível caminho
para a sua análise histórica. Neste sentido, incluí no texto um exemplo prático de estudo dos
discursos, escolhendo como unidade de análise o relacionamento dos santos e santas com
seus pais, ou seja, a paternidade e a maternidade.
Verificamos que, em sua enunciação, Gonzalo de Berceo materializa um discurso de
gênero, no qual há uma associação entre a santidade dos genitores e a de seus filhos, e que só
se faz possível devido à liderança, moral e espiritual, dos homens na família, seguindo o
topos hagiográfico da santidade herdada, típico de tais obras, e que reafirma o caráter
hierárquico das relações de gênero no seio das organizações familiares na Idade Média.
Quanto a Celano, na 1 Cel, utilizando o topos da santidade herdada às avessas, o autor
adverte sobre a má influência dos pais na formação dos filhos, defendendo que o pecado do
pai, como o da mãe, é a raiz dos pecados dos filhos. Na 2 Cel, a figura da mãe de Francisco é
realçada, mas não é feita nenhuma associação entre a santidade do filho e a santidade da
mãe.45 Assim, sem associar a santidade de Francisco à educação recebida por seu pai, parece
preferir omitir este elemento. O discurso de gênero, neste caso, materializa-se por meio do
silêncio.
Na LSC, obra voltada para um público feminino, há destaque para a mãe da santa,
que, apesar de casada, é vista como uma mulher piedosa. Segundo a obra, ela teria imprimido
tal piedade à filha, que se tornou uma virgem consagrada a Deus, aperfeiçoando, de certa
forma, a vivência da fé ensinada por sua mãe. Assim, na relação entre Clara e Hortolana os
dois modelos ideais de comportamento feminino, a mulher casada devotada à fé e aos filhos e
12
15
MONGELLI, M. L. de M. A quem se destinam os estudos medievais no Brasil? In:
MALEVAL, M. A. T. (Org.). Encontro Internacional de Estudos Medievais, 3, 7 a 9 de julho
de 1999, UERJ. Atas...Rio de Janeiro: Ágora da Ilha, 2001. p. 146-154.
16
Os dados presentes no Catálogo de dissertações e teses, já mencionado, apresentam uma
importante amostragem dessa desigualdade. Dos 333 trabalhos listados, 147 são da área de
Língua e Literatura (44%); 121 de História (36, 5%); 60 de Filosofia (18 %); 1 de Música
(0,3 %); 2 de Direito (0,6 %) e 2 de Teologia (0,6 %). MACEDO, J. R. (Org.). Os estudos
Medievais no Brasil..., op. cit. p. 9.
17
Também é inquestionável a expansão dos estudos de gênero no Brasil nos últimos anos:
crescem os centros de pesquisa, multiplicam-se as publicações, são organizados eventos. Para
um balanço referente aos estudos de gênero e a história ver MATOS, M. I. S. de. Por uma
história da Mulher. Bauru: Edusc, 2000. Faz-se importante ressaltar que nenhum título sobre
História Medieval é citado pela autora.
18
Utilizando como palavra chave o termo gênero e delimitando os anos de 2003 a 2001,
realizamos uma pesquisa no site Feminae: Medieval Women and Gender Index
(http://www.haverford.edu/library/reference/mschaus/mfi/mfi.html), um banco de dados on
line, organizado em 1996, que seleciona e reúne dados provenientes de artigos, resenhas de
livros, capítulos de livros, teses e ensaios dos trabalhos considerados mais significativos
sobre as mulheres e gênero publicados em todo o mundo e em várias línguas. Foram listados
817 títulos, entre resenhas, obras coletivas, artigos em periódicos, e teses. Faz-se importante
ressaltar que nenhuma referência de trabalho elaborado em português figurou como resposta
à pesquisa.
19
Os medievalistas franceses elaboram, sobretudo, trabalhos de História da Mulher, como um
campo da História Social ou da História do Imaginário. Um claro exemplo desta tendência
pode ser verificada na obra organizada por J. C. Schmitt e O. G. Oaxle, Les tendances
actuelles de l’histoire du Moyen Âge en France et en Allemagne, atas referentes aos
colóquios de Sèvres (1997) e de Gottingen (1998) publicada em 2002. Dentre os temas
selecionados para debate encontra-se “Pour une histoire des femmes”. O termo gênero não
figura.
20
Para só citar alguns trabalhos recentes: BENNETT, Judith M. England: Women and
Gender. In: RIGBY, S. H. (Ed.) A Companion to Britain in the Later Middle Ages. Londres:
Blackwell Publishing, 2003. p. 87-106; CLARK, Anne L. The priesthood of the Virgin Mary:
gender trouble in the Twelth Century. Journal of Feminist Studies in Religion, v. 18, n.1 p.5-
24, 2002; RICHES Samantha J. E., SALIH, Sarah (Ed.). Gender and Holiness: Men, Women,
and Saints in Late Medieval Europe. Routledge, 2002; RASMUSSEN, Ann Marie. Gendered
Knowledge and Eavesdropping in the Late-Medieval "Minnerede". Speculum, v. 77, n. 4, p.
1168-1194, Oct./ 2002; MCCLANAN; Anne L., ENCARNACIÓN, Karen Rosoff (Ed.) The
Material Culture of Sex, Procreation, and Marriage in Premodern Europe. Nova York:
Palgrave, 2002; SALIH, Sarah. Queering "Sponsalia Christi": Virginity, Gender, and Desire
in the Early Middle English Anchoritic Texts. New Medieval Literatures, n. 5, p. 155-175,
2002; ASHLEY, Kathleen and CLARK, Robert L. A. (Ed.) Medieval Conduct. Minessota:
University of Minnesota Press, 2001; LAMBERT, Sarah, EDGINGTON, Susan B. (Ed.)
Gendering the Crusades. University of Wales Press, 2001; CLARK, Elizabeth A. Woman,
Gender, and the Study History. Church History, v. 70, n. 3, p. 395-426, 2001; MARTIN, A.
L. Alcohol, Sex, and Gender in Late Medieval and Early Modern Europe. Nova York:
Palgrave, 2001; FARMER, S. Surviving poverty in medieval Paris. Gender, Ideology, and the
daily lives of the poor. Ithaca: Cornell University Press, 2002.
17
21
VARIKAS, E. Gênero, experiência e subjetividade: a propósito do desacordo Tilly-Scott.
Cadernos Pagu, n. 3, p. 63-84, 1994; POMATA, G. Histoire des Femmes et "Gender
History" (note critique). Annales ESC, n. 4, p. 1019 - 1026, julho-agosto de 1993; TILLY, L.
A. Gênero, História das Mulheres e História Social. Cadernos Pagu, n. 3, p. 29-62, 1994;
DIERKS, K. Men’s History, Gender history, or cultural History? Gender & History, v. 14, n.
1, p. 147-151, 2002.
22
SCOTT, W. J. Prefácio a Gender and Politics of History. Cadernos Pagu, n. 3, p. 11-27,
1994; ___. El género: una categoría útil para el análisis histórico. In: LAMAS, M. (Org.). El
género: la construccion cultural de la diferencia sexual. Cidade do México: PUEG, 1996.
FLAX, J. Pós-modernismo e relações de gênero na teoria feminista. In: HOLLANDA, H. B.
(Org.) Modernismo e Política. Rio de Janeiro: Rocco, 1991, p. 217-50.
23
Sobre as distintas construções culturais sobre sexo e gênero ver LAQUEUR, T. Inventando
o Sexo. Corpo e Gênero dos gregos a Freud. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2001 e
BUTLER, J. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2003.
24
Há um levantamento sendo feito pelo Prof. Dr. Ruy de Oliveira Andrade para o
International Medieval Bibliography mantido para a University of Leedes, cuja consulta,
porém, é restrita aos associados. Também consultamos a Plataforma Lattes, mantida pelo
CNPq. Tomando a Idade Média como palavra chave e limitando-nos à área de História e ao
período posterior a 1990, chegamos a 1230 entradas, entre artigos completos em periódicos,
resumos, trabalhos completos em anais, participações em congressos, como palestrante ou
ouvinte, bancas, artigos em revistas e jornais de grande circulação etc.. Contudo, muitas
entradas figuram mais de uma vez, são contabilizados como trabalhos historiográficos
aqueles provenientes de outras áreas, em especial literatura e filosofia, muitos dados foram
informados pelos pesquisadores de forma incorreta ou incompleta.
25
Quero agradecer aos colegas Dulce O. Amarante dos Santos, José Rivair de Macedo,
Ricardo da Costa, Valéria Fernandes da Silva, Carolina Coelho Fortes, que gentilmente
enviaram dados para que eu pudesse utilizar neste artigo.
26
Refiro-me especificamente aos trabalhos SCHWEINBERGER, Maria Luisa Tomasi. A
mulher entre o individual e o coletivo no final da Idade Média. Varia Scientia, Cascavel, v.1,
n.1, p.139 - 146, 2001; SANTOS, G. S. A Santa e o Lavrador: gênero e poder na Baixa Idade
Média portuguesa (1282-1325). Acervo: Revista do Arquivo Nacional, Rio de Janeiro, v.9,
n.01-02, p. 69 - 84, 1997; ___. A Rainha e os Pares do Rei. Arrabaldes Cadernos de História,
Niterói, v.1, p.79 - 89, 1996. Nossas tentativas de contatar as autoras foram infrutíferas até o
momento de finalizarmos este artigo.
27
SANTOS, Dulce O. Amarante dos. Imagens de mulheres nos reinos ibéricos de Leão,
Castela e Portugal (1250-1350). In: Encontro Internacional de Estudos Medievais, 1, 4 a 6 de
julho. Atas...São Paulo: USP-UNICAMP- UNESP, 1995. p. 157-160.
28
Verificando o currículo da prof.ª Dr.ª Dulce O. Amarante dos Santos, disponível na
Plataforma Lattes, nota-se, através das palavras-chaves que acompanham a sua produção
acadêmica, uma oscilação teórica em sua produção entre uma história de gênero de matriz
sociológica e outra de caráter mais filosófico e linguístico, o que é muito frequente entre os
que se dedicam ao estudo de gênero em todo o mundo. Esta questão, inclusive, tem sido tema
de diversos artigos, como os citados na nota 20.
29
Dentre outros, O corpo dos pecados: as representações femininas nos reinos ibéricos.
Textos de História. Brasília, v.9, n.1/2, p.13 - 30, 2001; Outros olhares sobre a jograria
18
ibérica urbana. História Revista. Goiânia, v.5, n.1/2, p.71 - 88, 2000; Práticas mágicas nos
reinos ibéricos medievais. Estudos de História. Franca- SP, v.6, n. 2, p.11 - 22, 1999.
30
Op. cit., p. 120.
31
SANTOS, D. O. A. dos. Egéria a peregrina numa carta de Valerio de Bierzo. In:
MALEVAL, Maria do Amparo Tavares (Org.). Encontro Internacional de Estudos
Medievais, 3, Rio de Janeiro, 7 a 9 de julho de 1999. Anais... Rio de Janeiro: Ágora da Ilha,
2001. p. 566-569.
32
A diferença entre regras e formas de vida é um aspecto destacado na dissertação da
professora Valéria F. Silva. As regras são textos reconhecidos oficialmente pela Igreja e que
apresentam as normas de como um determinado grupo de pessoas, dedicados a vida
religiosa, devem viver. Elas também fornecem base jurídica para o reconhecimento formal
deste grupo. As formas de vida também são textos de caráter jurídico, exigido o
reconhecimento oficial da Igreja, que porém pode ser concedido por um bispo ou cardeal
Possui caráter complementar, funcionando como uma espécie de complemento à regra,
adaptando-a a situações específicas ou complementando-as nos casos em que aquela é
omissa.
33
Como etapas do desenvolvimento desta pesquisa ou seus desdobramentos, a professora
Valéria F. Silva publicou Gênero e discurso: desconstruindo as fontes do primeiro século
francicano. In: Tecendo Saberes. Rio de Janeiro: CFCH-UFRJ, 2000 (CD-ROM); No limiar
da exclusão: das relações entre damianitas e o papado (1215-1223). In: MALEVAL, M. A.
T. (Org.). Encontro Internacional de Estudos Medievais, 3, 7 a 9 de julho de 1999. Anais...
Rio de Janeiro: Ágora da Ilha, 2001. p. 609-613; Saber e gênero: discutindo o lugar do
“saber intelectual” para os franciscanos nos escritos de Tomás de Celano. In: SILVA,
Andréia Cristina Lopes Frazão da, SILVA, Leila Rodrigues da (Org.) Semana de Estudos
Medievais, 4, 14 a 18 de maio de 2001. Rio de Janeiro: Programa de Estudos Medievais,
2001. p. 304-309; O poder da fala e a imposição do silêncio: exercício da religiosidade
laica e restrições de gênero no século XIII, em co-autoria com o Prof. Ms. Marcelo Pereira
Lima, In: COSTA, S., SILVA, A. C. L. F., SILVA, L. R. A tradição monástica e o
franciscanismo. Rio de Janeiro: Programa de Estudos Medievais – Instituto Teológico
Franciscano, 2003, p. 153-161; Gênero e Hagiografia: Clara de Assis e a Construção de um
novo modelo de santidade feminina no século XIII. In: Seminário Nacional Mulher e
Literatura, 9, 22, 23 e 24 de agosto de 2001. Atas... Belo Horizonte: UFMG, 2002. CD-ROM.
34
Enquanto realizava sua dissertação de mestrado, Carolina Coelho Fortes teve seu texto, O
corpo e o sagrado, publicado. Nele, a autora discute como, durante o medievo, os homens e
mulheres utilizavam seu corpo de forma diferenciada na busca pelo sagrado. Cf. In: Jornada
Científica do CMS Waldyr Franco, 3, 22 a 26 de outubro de 2000, Rio de Janeiro. Atas das 3ª
e 4ª Jornadas Científicas do CMS Waldyr Franco. Rio de Janeiro: Prefeitura da Cidade do
Rio de Janeiro - Secretaria Municipal de Saúde, Centro de Estudos do CMS Waldyr Franco,
2002. (CD-ROM)
35
Amor e adultério no Tristan, de Béroul, a ser publicado no livro organizado por Hilário
Franco Jr , O adultério na Idade Média, em preparação.
36
A face das filhas de Eva: os cuidados com a aparência num manual de beleza do século
XIII. História (UNESP), v. 17-18, p. 293-314,1998-1999. Disponível on line em
www.abrem.he.com.br
19
37
Transgressão conjugal e mutilação sexual nos fabliaux do Século XIII". In: MALEVAL,
M. A. T. (Org). Atualizações da Idade Média. Rio de Janeiro: UERJ - PPG de Letras, 2000.
p. 187-222 Disponível on line em www.abrem.he.com.br.
38
Antes de 2001 eu já havia feito algumas incursões pelo campo da História das Mulheres.
Assim publiquei A mulher segundo os clérigos medievais: reflexões acerca de uma exceção
no Boletim do Núcleo de Estudos de Gênero e Pesquisa sobre a Mulher, Uberlândia, ano 6, n.
12, p. 1-2, 2º semestre de 1998; e resenhas das obras M. BARTOLI, Clara de Assis, na
Signum, São Paulo, ano 1, n.º 1, p. 235 -239, 1999, e Hambly, Gavin R. G., ed, Women in the
Medieval Islamic World: Power, Patronage, Piety, em português em Gênero em Pesquisa,
Uberlândia, n. 14, ano 7, p. 3-8, 2º semestre de 1999 e em inglês em The Medieval Review,
University of Michingan, 99.08.15 [www.hti/umich.edu/b/bmr/]. No ano passado voltei à
temática, escrevendo Hildegarda de Bingen e as Sutilezas da Natureza das Diversas Criaturas,
trabalho apresentado na IV Jornada Científica do Waldyr Franco e publicado nas Atas do
evento em CD-ROM ( Atas das 3ª e 4ª Jornadas Científicas do CMS Waldyr Franco. Rio de
Janeiro: Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro - Secretaria Municipal de Saúde, Centro de
Estudos do CMS Waldyr Franco, 2002).
39
Discutiu-se, durante algum tempo, quem seria o autor desta legenda. Pelas características
estilísticas, concluiu-se que foi Tomás de Celano, hipótese que hoje é consenso entre os
pesquisadores. Sobre o debate quanto a autoria da LSC ver BARTOLI, M. Clara de Assis.
Petrópolis: Vozes, 1998, p. 17, nota 24, e URIBE, F. Introducción a las hagiografías de San
Francisco y Santa Clara de Asís (siglos XIII y XIV). Murcia: Espigas, 1999. p. 461-462.
40
Em nosso levantamento bibliográfico preliminar não encontramos nenhum trabalho que
compare as obras de Gonzalo de Berceo e Tomás de Celano. Localizamos alguns textos,
sobretudo artigos, que comparam aspectos isolados da obra de Gonzalo de Berceo com a de
outros hagiógrafos, sobretudo ibéricos. No caso da obra de Celano, os trabalhos comparativos
são ainda mais raros. Encontramos alguns poucos exemplares que, em sua maioria,
contrapõem as obras de Celano às de outros hagiógrafos franciscanos. Estes trabalhos,
contudo, não objetivam conhecer o pensamento do hagiógrafo, mas reconstruir a biografia do
santo de Assis. Quanto a estudos empregando o conceito de gênero, encontramos alguns
poucos trabalhos. O interessante é que os autores dos materiais encontrados só se detiveram
na análise das vidas das santas selecionadas. Além disso, tratam de aspectos isolados, não se
configurando como trabalhos sistemáticos.
41
Reflexões sobre os discursos de gênero e a representação do corpo na hagiografia
mediterrânica do século XIII, comunicação apresentada no Ciclo de Debates do LHIA-UFRJ,
em novembro de 2002; A vida monástica e as diretrizes de gênero na obra berceana,
comunicação apresentada no V EIEM na UFBA, em julho de 2003.
42
Gênero, Corpo e Sexualidade na Península Ibérica Medieval: uma leitura das obras Vida
de Santo Domingo de Silos e Vida de Santa Oria, palestra proferida na UERJ em novembro
de 2002.
43
Encontra-se no prelo Representações da morte em Tomás de Celano, publicado pelo Centro
de Memória do Oeste de Santa Catarina nos Cadernos do CEOM, nº 16, no dossiê
Representações do corpo e da morte. Este artigo foi escrito em parceria com minha
orientanda Elisabeth da Silva Passos e discute a forma como o hagiógrafo Tomás de Celano
representa as mortes de Francisco e Clara de Assis, um homem e uma mulher considerados
santos, a partir de diretivas de gênero e à luz das relações de poder no seio da Ordem
Franciscana e da Igreja Romana.
44
Reflexões Metodológicas sobre a análise do discurso em perspectiva histórica...., op. cit.;
20
Moda, santidade e gênero na obra hagiográfica de Tomás de Celano. In: COSTA, S., SILVA,
A. C. L. F., SILVA, L. R. A tradição monástica e o franciscanismo. Rio de Janeiro:
Programa de Estudos Medievais – Instituto Teológico Franciscano, 2003, p. 230-239.
45
Há que destacar que fazer uma relação entre a santidade de Francisco com a de seu pai era,
certamente, impossível, já que os conflitos entre os dois eram de conhecimento geral.
46
Dentre outras acepções, moda pode ser definida como “conjunto de usos coletivos que
caracterizam o vestuário de determinado grupo humano num dado momento; a indústria ou o
comércio da roupa; história, desenvolvimento e produção da roupa”. É neste sentido, de
fenômeno associado à produção, comércio, consumo e transformações na indumentária, que
podemos afirmar que a moda surgiu na chamada Baixa Idade Média. NOVO Aurélio. O
Dicionário da Língua Portuguesa. Século XXI. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000 (CD-
ROM); DICIONÁRIO eletrônico Houaiss da língua portuguesa 1.0 . Rio de Janeiro:
Objetiva, 2001 (CD-ROM).
47
Os trabalhos de Joan Scott são a principal referência teórica para os historiadores em geral
que estudam as questões de gênero no Brasil.
48
Sobre os paradigmas ilumistas e pós-modernistas em História ver CARDOSO, C. F.
História e Paradigma Rivais. In: ___. e VAINFAS, R. Domínios da História: ensaios de
teoria e metodologia. Rio de Janeiro: Campus 1997. p. 1-23.
49
Uma interessante critica pós-modernista aos trabalhos de George Duby pode ser encontrada
no texto SILVA, Paulo Thiago S. Gonçalves Idade Média, idade das "trevas"? Uma análise
sobre a historiografia das mulheres medievais, publicado on line no número 1-2, julho/
dezembro 2002, da revista Labrys, Estudos Feministas, disponível em
www.unb.b/ih/his/gefem.
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Agradeço aos professores Elias Nunes Frazão, Leila Rodrigues da Silva, e Maria Cristina
Correia Leandro Pereira, que gentilmente leram os originais deste artigo e deram excelentes
sugestões.