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RESUMO
TRABALHO COMPLETO
Introdução
1
Remeto o leitor aos estudos de Mortatti (2000), Bertoletti (1999), Amâncio (2000), Maciel (2001), Trindade (2004),
Peres ( 2003, 2004), Porto (2005).
2
Estudos sobre livros escolares podem ser encontrados especialmente em Bittencourt (1993,1996), Batista, Galvão e
Klinke (2002), Batista e Val (2004). No campo da Cultura Escolar também destacam-se estudos que tematizam a
questão do ensino da leitura e da escrita numa abordagem histórica, como os de Vidal (1995,1998,2005), Faria Filho
(1998) e Galvão ( 1998).
3
Passaremos a usar DGIP para Diretoria Geral da Instrução Pública objetivando economizar espaço para apresentar
dados da pesquisa.
4
Trata-se da pesquisa intitulada Políticas educacionais e práticas pedagógicas em alfabetização: um estudo a
partir da circulação de cartilhas em Mato Grosso (1910 a 2000), financiada pela FAPEMAT e desenvolvida durante
o período de 2003 a 2005, no interior do Grupo de Pesquisa ALFALE- UFMT, coordenado Profa Dra Cancionila J.
permitiram compreender alguns aspectos da história da alfabetização em Mato Grosso, mediante
o levantamento e análise das cartilhas que circularam nas escolas públicas no período em pauta.
O avanço da pesquisa histórica sobre o livro e a edição escolar (Choppin, 2002), bem
como os recentes estudos sobre Cultura Escolar, trouxeram um certo conforto aos pesquisadores
da área da educação que se interessam pela história da alfabetização e pelo material nela usado
por excelência – a cartilha – cuja utilização e presença na escola brasileira, se insere no que
Mortatti (2000) chama apropriadamente de um “pacto secular”. Trazidas para a o Brasil pelos
colonizadores, as antigas “cartinhas” como eram chamadas, se arraigaram, junto com o catecismo
nas práticas do ensino de língua materna, garantindo assim sua permanência.
Se, conforme, argumenta Choppin (2002), a pesquisa sobre livros escolares em geral.
durante muito tempo foi negligenciada, provavelmente pelo seu status de manual, portanto, de
elemento comum, banal, acessível, produzido em grande quantidade, de vida efêmera, cuja
permanência e descarte dependem de programas que fixam sua prescrição com finalidades
estritamente pedagógicas e que se alteram ao sabor das inovações das políticas educacionais, que
dizer do estudo de cartilhas de alfabetização, recurso didático extremamente mais perecível do
que outros tipos de manuais, editados com um certo prazo de curta validade e pouco valor
econômico, inclusive porque manuseados por crianças 6, no seu primeiro ano de escolarização?
Assim, estudos que tematizam as questões da cartilha e da alfabetização são raros,
também em Mato Grosso7 - uma forte razão do investimento nesta pesquisa. Nesse estado
orientações para o ensino da língua materna surgem nas primeiras décadas do século XIX,
indicando o uso de Cartas ABC e algumas cartilhas também usadas em outras regiões brasileiras
(Amâncio, 2000 e 2005, Siqueira, 2000).
Em 1910 o ensino primário de Mato Grosso passou por uma reforma substancial que
contou com a contribuição de professores paulistas contratados pelo governo do estado para
Cardoso. Nesse período participaram do grupo, além da coordenadora, a Profa Dra Lazara Nanci de Barros
Amâncio, 8 alunas-bolsistas PIBIC do curso de Pedagogia e 2 mestrandas.
5
Apesar de anunciar que esta comunicação abrangeria o período de 1927 em diante, percebemos a necessidade de
abordar um período anterior visando maior inteligibilidade do texto.
6
Salvo, obviamente, a exceção quando se trata da alfabetização de adultos, cujo tema não se insere neste estudo.
7
Pesquisas na abordagem histórica começaram a surgir nesta última década, como resultado do Curso de Mestrado
em Educação da UFMT.
reorganizaram as escolas. A marca da modernidade, na ocasião, era a criação dos Grupos
Escolares, com a implantação do modelo pedagógico e dos princípios republicanos adotados em
São Paulo. Leowigildo Martins de Melo e Gustavo Khulman, jovens professores e republicanos
convictos (Amâncio, 2000, p. 89) foram os protagonistas mais importantes dessa missão que,
nacionalmente, ficou conhecida como Missão dos Professores Paulistas. A respeito da missão
em Mato Grosso, a Revista do Brasil comentou:
Ignoramos as ações desses moços paulistas naquelle colossal Estado, mas, ao que me
consta, occupavam cargos elevados na administração escolar e assim poderiam ter
exercido uma influencia benéfica, lutando aliás com enormes difficuldades se
considerarmos a extensão do território, pouca densidade e atrazo da população e ainda
a praga da politicagem e dos levantes armados... (SILVEIRA, 1917, p.241)
Embora Silveira não soubesse, os moços foram bem sucedidos8 (cf. Amâncio, 2000, e
Reis, 2003). A administração pública concedia-lhes amplos poderes para transformarem as
precárias escolas isoladas de Mato Grosso em Palácios da Instrução 9. Na ausência de um
regimento para os Grupos Escolares de Mato Grosso adotou-se o mesmo dos Grupos paulistas,
publicado em 1905. Assim, introduz-se, depois de uma rápida preparação pedagógica, um
método de ensino de leitura – o analítico – , de modo que os professores da capital pudessem
compreender a nova modalidade de ensino proposta pelos Grupos Escolares. Não se podia contar
na época, com a Escola Normal que estava desativada quando os professores paulistas chegaram
em Cuiabá. Criticando severamente a soletração Melo (1911,p.05) sugere o emprego do método
intuitivo10 para o ensino de todas as matérias e o analítico para o ensino da leitura.
Pressupõe-se que no período que se seguiu à reforma até quando se instaura uma nova
reorganização do ensino e um novo regulamento (1927) o ensino da leitura e da escrita atendeu à
orientação determinada, usando o método analítico. Os títulos das cartilhas que circularam a
partir de 1910, todavia levam a compreender que a questão das normatizações precisa ser
analisada com certa cautela, tendo em vista que sugere questionamentos a respeito das relações
entre prescrições, apropriações e realizações das ações pedagógicas. Que repercussão tiveram as
8
Foram diretores dos Grupos que criaram, sendo que Leowegildo M. Melo foi também diretor da Escola Normal,
ocupou em 1921 uma das cadeiras da Academia Mato-Grossense de Letras.
9
Sobre o tema dos Grupos Escolares em Mato Grosso sugerimos a leitura do estudo de Rosinete Maria dos Reis
(2003) e sobre os Grupos Escolares de São Paulo a leitura da pesquisa de Rosa Fátima de Souza (1998)
10
Já no Regulamneto de 1896, acompanhando uma tendência nacional, o método intuitivo era mencionado como o
ideal a ser empregado no ensino de crianças. Essa recomendação é reiterada nos regulamentos seguintes, 1910 e
1927. Sobre a difusão do método intuitivo no Brasil pode-se recorrer a Valdemarin (2004) e a Bianco (1999).
orientações oficiais divulgadas entre os professores? Havia algum tipo de controle e
acompanhamento dessas orientações? Que indícios ficaram da execução, orientação e
acompanhamento das prescrições? E talvez o mais importante: como os professores reagiram à
adoção de um o novo método?
O Conselho Superior da Instrução Pública (CSIP) 11 faz, em 1915, uma defesa exaustiva
da adoção do método analítico e da Cartilha Analítica de Arnaldo Barreto, como ideal aos
propósitos do método adotado pelos normalistas. Vale ressaltar que Mato Grosso não possuía
editoras, autores nem publicações próprias, especialmente na área do ensino de leitura, sendo
consumidor de manuais escolares produzidos na sua maioria por professores paulistas.
Trechos da Ata do CSIP, em 1915, suscitam algumas reflexões ainda que não possamos
desenvolvê-las mais profundamente nesse momento. A primeira delas se liga à distinção entre os
dois métodos conhecidos e a citação do método João de Deus12, como um método misto, na
concepção do Conselho Superior.
11
Passaremos daqui em diante a usar CSIP para nos referirmos ao Conselho Superior da Instrução Pública.
12
Sobre esse tema remetemos o leitor aos estudos de Mortatti (2000, p. 41-73) que apresenta dados sobre a Cartilha
Maternal no Brasil.
começou a conhecer alli um dos processos do methodo analytico, porque esse
methodo não fora ainda bem exposto, e escreveu então como protesto a sua
Cartilha das Mães; porêm mais tarde penitenciou-se lealmente escrevendo a
sua Cartilha Analytica e ainda, traduzindo Parker, escreveu a seguinte nota:
“A creança que aprende por qualquer desses processos, solletração ou
syllabação, principalmente em portugues, tem uma leitura arrastada, penosa,
artificial contraria inteiramente a naturalidade da expressão com que ella
traduz, na conversa, as suas idéas e sentimentos.(grifos da Comissão).
(MATTO-GROSSO, 1915, p.48)
13
Estamos usando essas categorias no sentido que Magnani(1997) e Mortatti (2000) propõe em seus estudos.
Fonte: Livros do Almoxarifado da DGIP-MT
Síntese a partir da pesquisa de Amâncio (2000).
Nos registros do almoxarifado não constam aquisição da Cartilha Analítica,. Esse título
desaparece das relações de distribuição de livros a partir de 1927, constando no estoque apenas
12 exemplares dessa cartilha. No ano de 1925 constava em estoque 28 exemplares desse título e
uma saída de 16 exemplares. Numa compra efetuada no dia 15.09.1925 registra-se a aquisição de
5 unidades, ao preço unitário de 1.650 (réis?).
Admitindo-se incongruência nos dados do almoxarifado e a possibilidade de equívocos
dos amanuenses da época, percebe-se, mesmo assim, o descompasso entre as normatizações do
CSIP e as ações da DGIP, órgão executor das políticas públicas educacionais da época.
Com relação à distribuição de cartilhas para as escolas chama a atenção dados
registrados no ano de 1912, logo após a implantação dos Grupos Escolares e a reativação da
Escola Normal, em 1911.
Exemplares de Cartilha das Mães, num total de 254, são distribuídos para 25 Escolas.
A Escola Normal e Modelo Annexa recebe por duas vezes 50 exemplares; uma remessa no dia 15
de maio de 1912 e, outra em 14 de junho do mesmo ano. Na primeira remessa, ganha também 11
exemplares da Cartilha Analítica. O que teria levado a DGIP a enviar tão poucos exemplares da
cartilha mais compatível com o método adotado? Como se explicaria a predominância de
Cartilha das Mães em função dos argumentos do CSIP que julgava a Cartilha Analítica ideal
para os propósitos do novo método?
Remessas de cartilhas e outros materiais para as escolas só reaparecem em 1916. Nesse
ano e nos dois que se seguem, a Cartilha Analítica faz-se presente, embora não apareça em lista
de aquisição. O Grupo Escolar Senador Azeredo recebe, em 1916, 60 exemplares; o Grupo
Escolar de Poconé recebe, em 1917, 10 exemplares; o Grupo Escolar Costa Marques, de Cáceres
recebe, em 1918, 25 exemplares.
Mas a Escola Normal e Modelo Annexa recebe, em 1917, 60 exemplares da Cartilha
das Mães. Em 1912 ela já recebera 100 exemplares, o que permite supor que essa escola não
atendia à exigência do CSIP no que tangia à recomendação do método analítico. Algumas
perguntas permanecem sem respostas: Com relação aos métodos de ensino de leitura, como eram
ensinados aos professorandos? Como atuavam esses futuros professores na Escola Modelo, onde,
em tese, aplicavam seus conhecimentos pedagógicos? Como aplicariam os professores o método
analítico de alfabetização se lhes faltavam manuais escolares adequados à nova concepção de
escolas, diferentes daquelas descritas por Mello (1911)?
Além da incongruência percebida pela ausência da Cartilha Analítica, que, em
princípio, concretizaria a utilização do método analítico adotado nas escolas publicas, merece
destaque a permanência de Cartas ABC. Se a análise do sucesso (ou não) da alfabetização em
Mato Grosso fosse medida pela quantidade de material didático colocado à disposição de alunos
e professores, sem dúvida alguma o mérito seria de Cartas ABC. Mais de 5.000 exemplares
adquiridos pela DGIP,entre 1916-1932, contra 130 Cartilha Analítica e quase 3 mil Cartilha das
Mães – sem contar as compras para o ensino doméstico– comum naquele período. Talvez
tenhamos que admitir que muitas gerações de mato-grossenses foram alfabetizados apenas pelas
Cartas ABC. Sem dúvida grande parte da população alfabetizou-se com Cartilha das Mães, com
ou sem a penitência de Barreto.
14
Sobre o projeto de alfabetização de Lourenço Filho e a Cartilha do Povo, recomenda-se a leitura de Mortatti (2000, p.146-174)
e Bertolletti (1997).
Cartilha Nacional Hilário Ribeiro 1927/1930/1932 / 1939
Meu Livro Theodoro de Morais 1927/ 1932 /1941-1942-1943
Nova Cartilha Analítico –Sintética Mariano de Oliveira 1927/1930
Cartilha da Infancia Thomaz P. Bom Sucesso Galhardo 1927/1941-1943-1945
Cartilha do Povo Lourenço Filho 1932-1936-1941-1942-1943-
1947-1950-1967
Cartilha na Roça Renato Sêneca Fleury 1939-1941
Cartilha Popular Maria Paula 1941-1941-1943
Cartilha Amiga Luciano Lopes 1941-1943
Vamos Estudar? Theobaldo Miranda da Silva 1942-1950-1952-1960-1961-
1962-1966-1967-1969
Sei Ler Theodoro Jeronymo de Moraes 1939
Primeiro Livro de Leitura Felisberto de Carvalho 1939
Primeiro Livro Altina Rodrigues de Albuquerque 1943
Freitas
Cartas ABC Não mencionado Século XIX até 1977
1º Livro Terra Brasileira Não mencionado 1954-1955
Cartilha Caminho suave Branca Alves de Lima 1960-1961-1962-1963-1964-
1968-1969-1970-1971-1972-
1973-1974-1975
ABC Infantil Não mencionado 1939/1941/1943
Cartilha Meus Deveres Sales Oliveira Rocha 1939/1941
Minha Pátria S Pinto e Silva 1939
Cartilha Corações de Crianças Rita M. Barreto 1939
Cartilha Sodré Benedicta Sthal Sodré 1960-1961
Cartilha do Tatu Daisy Brescia 1966- 1967
Cartilha Saber Não mencionado 1966- 1967
Livro Barquinho Amarelo Iêda Dias Silva 1973-1974
Método Misto e História da Abelhinha Almira Sampaio Brasil da Silva 1975-1976
Tempo de Escola Nívea Gordo 1975-1976
Nossa Terra Nossa Gente Rosa Maria Jorge Persona et ali 1977
Ada e Edu Rosa Maria Jorge Persona et ali 1978
Davi, meu amiguinho Eunice Alves e Márcia de Almeida 1975-1976-1977
Pipoca Paulo Nunes de Almeida 1979
Alegria de Saber Lucina Passo, Albani Fonseca e Marta 1976-1979
Chaves
Porta de Papel Angiolina Domanico Bragança 1979
Fonte: NUPED. Quadro elaborado a partir de dados coletados por pesquisadoras do Grupo de Pesquisa ALFALE
2005.
15
Não estamos usando o termo como “reprodução de práticas”.
Elvira Rigolin de Almeida, Francisca Amélia, Ana Maria Dias da Silva, com orientação da
professora Nívea Gordo, da Escola de Aplicação da USP.
Foi no contexto do II Plano Setorial de Educação e Cultura/DEF/MEC para o período
75/79, que surgiram as condições objetivas que permitiram essa produção primeiramente
intitulada Cartilha Nossa Terra Nossa Gente, em 1977 e que deu origem à cartilha Ada e Edu,
publicada em 1978. Esse plano do MEC propõe a dinamização dos esforços para o
desenvolvimento de novas metodologias educacionais.
A Secretaria de Educação e Cultura do Estado de Mato Grosso adere a esse projeto, dando
ênfase à alfabetização (Parecer 43/76 e Resolução 34/76 Conselho Estadual de Educação). O
grupo de trabalho, após experienciar vários métodos de alfabetização (analítico, sintético e
eclético), numa tentativa de pesquisa controlada 16, chega à seguinte conclusão: o nosso propósito
de testarmos várias cartilhas e métodos para a identificação de propostas mais eficientes não
logrou os resultados esperados. (MATO GROSSO, 1977).
No Relatório Geral das Atividades Desenvolvidas - Período 1975/78 encontra-se uma
avaliação das dificuldades encontradas e soluções adotadas na execução do projeto. As relatoras
apontam vários condicionantes: recursos didáticos; acompanhamento e controle do trabalho dos
professores; falta de conceituações prévias como de alfabetização em seu sentido estrito e em seu
sentido amplo; aspectos de natureza administrativa. Sobre recursos didáticos, indicam que
Além disso, o grupo entendia que um projeto de alfabetização deveria nortear-se por
referenciais mais constantes, tomando-se como ponto de partida a língua a ser ensinada e não a
metodologia. Decorrente dessa argumentação, a equipe assim se posiciona:
16
No Relatório Geral das atividades desenvolvidas do Projeto Novas Metodologias, período 1975-1978, são citadas as seguintes cartilhas usadas
no Projeto Piloto 1975-1976: Tempo de Escola, de Nívea Gordo e outras para o método analítico; Método Misto e História da Abelhinha, de
Almira Sampaio Brasil da Silva e outros para o método sintético; Davi Meu Amiguinho, de Eunice Alves e outros para o método eclético.
Desse modo, a decisão foi a de elaboração de uma cartilha de caráter regional. O
pressuposto básico do grupo incluía a idéia de que cartilha e professor, preparados
adequadamente e bem controlados, elevariam o padrão de ensino e do rendimento escolar.
Elaborou-se, então, um conjunto de material constituído de uma cartilha – Nossa Terra
Nossa Gente -, um manual para o professor (do qual não foi localizado ainda nenhum exemplar) e
um caderno de atividades para os alunos. Essa cartilha foi publicada pela SEC no ano de 1977 e
utilizada por todos os que participavam do referido projeto: 122 professores e 2.953 alunos,
distribuídos em 24 escolas de 6 municípios.
A Cartilha Nossa Terra Nossa Gente, que se apresenta mimeografada, é retangular,
medindo 20 por 25 cm e tem 52 páginas; não contém índice e as lições não são numeradas. No
Relatório Geral 1977, as autoras descrevem características do método empregado ;
Lembro que fui o autor da idéia de buscar trabalhos originais em outros estados, para
diversificar a produção da Bloch Educação. Soubemos da cartilha de autores de Mato
Grosso. Quem fez o contato, se não me falha a memória, foi a falecida professora
Eunice Alves, ela mesma autora de uma vitoriosa cartilha: “Davi, meu amiguinho”
(...) A cartilha foi adotada oficialmente em Mato Grosso. E aí teve boa circulação. Em
outros Estados, vendas pequenas. Nada assim de muito expressivo. O que havia de
original nesse trabalho era o uso da linguagem corrente em Mato Grosso. As cartilhas,
em geral, utilizavam termos de São Paulo, onde se situava a maioria das editoras
poderosas. Foi para tentar quebrar isso que tivemos a idéia de buscar outros originais.
A qualidade de “Ada e Edu” foi considerada de primeira ordem, pelos nossos
pedagogos, daí a sua impressão por parte da Bloch Editores. (...) A cartilha foi
espalhada sobretudo nas regiões Norte e Nordeste. O que nos chamou a atenção foi a
qualidade do trabalho e a sua adequação à região a que se destinava. Por sua
simplicidade, despertou interesse em outros Estados. (NISKIER, correspondência
particular, 2005).
Considerações finais
Nesse panorama da circulação de cartilhas no estado de Mato Grosso, nos últimos anos
da década de 1970, muitas indagações permanecem e ficam pendentes as relações entre
prescrições e concretizações que gostaríamos de analisar com maior cuidado. A discrepância
numérica entre a quantidade de títulos que nesse Estado circularam e a única produção de autoria
de professores da rede pública de ensino mencionada, reitera nossas afirmações de que o Estado
17
Na impossibilidade de acesso aos arquivos da Bloch Editores, esse professor gentilmente contribuiu com essa
pesquisa apontando para alguns fatos. Agradecemos, mensamente, por essa colaboração.
de Mato Grosso caracteriza-se como consumidor de cartilhas, oriundas de outras regiões
brasileiras. Isto definiu e define os rumos de nossa pesquisa em termos de um investimento maior
na circulação de cartilhas. No entanto, estamos sempre atentas à possibilidade de novas
descobertas em termos de autorias locais.
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