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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ

Aluna: Vitória Gabriela da Silva Kohler


Disciplina: História Moderna I
Docente: Andrea Doré

ANÁLISE DE FONTE - Libro Espiritual que trata de los malos


lenguajes del mundo, carne y demonio, y de remedios contra ellos. De la Fe, y
del proprio conocimiento, de la Penitencia, de la Oración, Meditación, y Pasión
de nuestro Señor Jesucristo, y del amor de los prójimos - João de Ávila
(Edição de 1589)1

Sobre a fonte
A fonte selecionada se trata de um manual cristão sob a autoria de João de Ávila
publicado em 15862 em Portugal intitulado Libro Espiritual que trata de los malos
lenguajes del mundo, carne y demonio, y de remedios contra ellos. De la Fe, y
del proprio conocimiento, de la Penitencia, de la Oración, Meditación, y Pasión
de nuestro Señor Jesucristo, y del amor de los prójimos. Nesta edição, a obra é
dedicada a Dom Afonso de Aguillar e tem a aprovação da Inquisição de Lisboa.
Inicialmente, o Livro Espiritual foi dedicado a uma futura dama de companhia da rainha
Isabel de Portugal, Sancha Carillo, e em edições posteriores acaba ganhando o nome de
Audi, Filia, Ouve, Filha, referente ao salmo 44, 11:12. (SOUZA, GIMENEZ, 2013, p.7).
Sobre o autor, João de Ávila (1500-1569), conhecido como "Pregador de
Andaluzia” nasceu em Ciudad Real e foi um reformador católico, catequista e pregador
bastante influente no que diz respeito à religiosidade espanhola do século XVI, cujas
principais ações se davam por ações pastorais. Em sua formação teve contato com o
erasmismo, influenciando o teor reformador de suas obras.

1
A fonte utilizada se encontra na Biblioteca Digital del Patrimonio Iberoamericano disponível em
http://www.iberoamericadigital.net/BDPI/CompleteSearch.do?field=todos&languageView=es&text=dem
onio&sort=anho&pageSize=1&pageNumber=3. Acesso em: 27/09/2020.
Para fins de consulta, também foi utilizada uma versão digitada de parte da fonte disponível em:
http://biblio3.url.edu.gt/Libros/Juan_de_Avila/JAvila_1.pdf
2
A primeira edição da obra teria sido publicada em 1574 de maneira póstuma, e a fonte a ser analisada
foi publicada em 1589.
A Reforma e a Contrarreforma - O Livro Espiritual como um manual cristão
A fim de analisarmos alguns trechos iniciais da obra de João de Ávila, se faz
necessário contextualizá-la e observar quais movimentos religiosos podem ter
influenciado o conteúdo do livro e sua intencionalidade.
A Europa no século XVI é marcada com a crescente preocupação com questões
morais humanas, que através da recuperação de autores da antiguidade clássica, provoca
o surgimento de um “humanismo cristão”, que acaba por estar no cerne de diversas
reformas religiosas que se sucedem nesse contexto (KAPP, 2015, p. 215). Segundo
autores como Mullet e Rops, a Reforma Católica, apesar de ter sido influenciada em
grande parte pelo surgimento do luteranismo, é um movimento anterior às ideias de
Lutero, baseado na necessidade crescente de readequações na doutrina, que remontam
ao período medieval.
Segundo Rops,
No momento em que nascia Lutero, esse desejo de reforma estava tão
difundido, era tão premente, que tomava aspectos de angústia. No tríplice
campo da fé, dos costumes e da organização eclesiástica, o Concílio de Tremo
não fará mais do que responder a questões que se vinham formulando havia
pelo menos um século, e chegará a adotar soluções propostas muito tempo
antes pelas mentes mais lúcidas (ROPS, 1999, p. 8)

Mullet afirma que do período de 1520 a 1560, teria ocorrido uma primeira fase
da Contrarreforma, que ocorre na Itália a fim de manter a posição da Igreja Católica no
país não somente em face ao protestantismo mas, com maior ênfase, em relação às
questões internas que estavam por corroer a Igreja. As críticas em relação às condutas
inadequadas de sacerdotes, indulgências e superstições estão presentes em um relatório
escrito por cardeais em 1537 encomendado pelo papa Paulo III. Sobre esse
direcionamento direto à Roma e não aos movimentos protestantes, Mullet afirma que
“Talvez os cardeais achassem que a reparação dos abusos da Igreja deveria começar em
sua origem, Roma.” (MULLET, 1985, p.22)
Ou seja, nessa fase inicial, a Reforma Católica adquire um caráter mais
introspectivo, que busca reavaliar suas condutas e preceitos, numa questão teológica e
interna. Rops afirma que neste momento a Igreja regressa ao seu passado vivo,
ancorando-se na liturgia dos santos e de personalidades incorruptíveis. “Chama a
atenção que as personalidades realmente determinantes da Reforma católica sejam todas
elas almas místicas, cujo fim primário - e na verdade único - é conhecer a Deus, amá-lo
e servi-lo.” (ROPS, 1999, p.10). Gradativamente a Reforma Católica adquire um caráter
cada vez mais ativo, de missão e de ataque através do Concílio de Trento,com o reforço
dos mecanismos repressivos (MULLET, 1985, p.20-22).
Tendo em vista esse contexto histórico, será possível observar, portanto, como o
Livro Espiritual de João de Ávila traduziu algumas das principais questões e demandas
religiosas desse período de reformulações católicas. A análise se foca principalmente
em trechos do primeiro capítulo e do prólogo.

CAPITULO PRIMERO. En que se trata cuánto nos conviene oír a


Dios; y del admirable lenguaje que nuestros Padres primeros tenían
en el estado de la inocencia, a el cual perdido por el pecado,
sucedieron muchos muy malos.3
Oye, Hija, y ve, e inclina tu oreja, y olvida tu pueblo, y la casa de tu
padre, y codiciará el Rey tu hermosura. 4

No subtítulo do capítulo, ao tratar da importância de ouvir a Deus e remontar à


linguagem dos “primeiros padres” que se encontravam em estado de inocência, Ávila já
denota sua preocupação com a corrupção de suas palavras que foram perdidas para o
pecado e que acarretaram em muitos males. Podemos observar, portanto, um retorno a
um passado idealizado da Igreja Católica, remetendo aos seus fundadores a fim de
ordenar um rumo à vida santa, típico de muitas obras do período.

3
“Que se trata no quanto nos convém ouvir a Deus; e da admirável linguagem que nossos primeiros
padres tinham no estado de inocência, que foi perdida pelo pecado, sucedendo muitos males.”
4
“Ouça, filha, vê e inclina seu ouvido, e esqueça seu povo, sua casa de seu pai, e o rei cobiçará sua
formosura.”
O salmo referenciado por Ávila também pode ser analisado sob este viés de
resgate ao que seria a essência cristã, instrumentalizado pelas escrituras sagradas. A
escolha deste trecho bíblico específico se coaduna muito bem com a situação da
destinatária para a qual o pregador escreve. Ao sair da casa de seu pai para servir como
dama na casa real e esquecê-lo, a donzela, como João de Ávila se refere, deve ouvir a
palavra de Deus para que possa cumprir com a sua função. Ou seja, o aspecto moral
esperado de uma pessoa que esteja em um ambiente régio, deve ser embasado em uma
boa conduta cristã, que estaria presente neste manual.
Segundo Souza e Gimenez, este tratado possui um caráter predominantemente
pedagógico, podendo ser enquadrado em um espelho para donzelas cristãs. Os espelhos,
cujo gênero se aproxima de uma elaboração e sistematizações de condutas esperadas
daquele a quem se escreve, são resgatados do período medieval e possuem um caráter
reflexivo, encontrado na obra de João de Ávila. Não cabe o foco nessa questão por
conta do recorte realizado na obra, mas é importante ressaltar que durante toda a obra o
autor, apesar de destinar o livro para outros leitores cristãos, refere-se constantemente à
donzela Sancha Carillo para a qual dedicou o manual. Neste sentido, existem diversas
menções à questão da castidade, que seria uma maneira de fugir dos pecados carnais
(SOUZA, GIMENEZ, 2013, p. 5-6; p.8), estes que se mostram como preocupações
muito presentes do autor na seleção de páginas a serem analisadas a seguir.
Tratando do primeiro capítulo, este se inicia com a questão do ouvir, introduzida
pelo salmo, e saber discernir o que é escutado. O que é ouvido no mundo físico muitas
vezes advém do pecado, “(..) porque algunos hablan tan mal, que oírlos es oír sirenas,
que matan a sus oyentes, es bien que veamos a quién tenemos de oír y a quién no.”5
Aqui João de Ávila faz uma referência às sereias, seres mitológicos que através de seu
canto levam os homens à perdição e os afogam, tal qual a linguagem do pecado, que de
início aparenta ser sedutora mas que, ao final, leva os cristãos ao caminho da perdição.
O pregador também faz alusão a Adão e Eva, estes que falavam em uma única
linguagem que os conectava com Deus e com seus próximos até a construção da Torre
de Babel, que marcando uma série de castigos que acometem a humanidade, dentre os
quais o fracionamento de uma linguagem que unia a todos em várias outras, fez com
que as pessoas não mais se entendessem.
(...) que Adán y Eva, cuando fueron criados, un solo lenguaje hablaban, y aquél duró
en el mundo hasta que la soberbia de los hombres, que quisieron edificar la torre de la
confusión}Babel}, fue castigada con que, en lugar de un lenguaje con que todos se

5
(...) porque alguns falam de maneira tão má que ouvi-los é como ouvir sereias que matam seus ouvintes,
então temos que ver quem devemos ouvir e quem não.
entendían, sucediese muchedumbre de lenguajes, con los cuales unos a otros no se
entendiesen.6

A partir deste levante contra seu Criador, o ser humano, um estado de inocência,
obediência e harmonia dá lugar aos diversos males que acometem o mundo e aos
homens, que passam a não compreenderem as relações com seus semelhantes e também
com Deus.
João de Ávila finaliza seu capítulo que se propõe como uma introdução a todas
as linguagens e artifícios do mal e como afastá-los de seu caminho.

Y aunque estos lenguajes no tengan orden en sí, pues son el mismo desorden,
mas; para hablar de ellos, reduzcámoslos, al orden y número de tres, que son:
lenguaje de mundo, carne y diablo; cuyos oficios, como San Bernardo dice,
son: del primero, hablar cosas varias; del segundo, cosas regaladas; del
tercero, cosas malas y amargas.7

A partir disso, o livro segue esta ordem proposta no primeiro capítulo, tratando
com detalhamento como é possível identificar essas linguagens do mal e de que forma o
leitor cristão pode se proteger e dessa forma cumprir a vontade de Deus.
Portanto, ao analisarmos estes trechos, é possível estabelecer uma relação entre a
desarmonia que se instaurou pela humanidade a partir da linguagem e pelo pecado que
teria corrompido as almas dos homens com o momento conturbado de reformas
religiosas no qual o autor se inseria. Principalmente após o Concílio de Trento, os
cristãos se encontravam em uma situação de insegurança e apreensão no que dizia
respeito às suas almas. As preocupações referentes ao espiritual adquirem um caráter
cada vez mais pessoal e voltado para o individual, marcando um contraste com a
cristandade medieval, onde as questões religiosas se referiam muito mais ao coletivo,
como em relação aos crimes cometidos contra a comunidade, de uma forma geral.
Dessa maneira, há um ênfase muito maior nos pecados relativos à carne, os “pecados
privados”, que não necessariamente impactam a sociedade de forma negativa, mas
acabam por manchar a alma de impurezas e consequentemente afastar o indivíduo do
caminho da salvação. (MULLET, 1985, p. 34).

6
“(...) que Adão e Eva, quando foram criados, uma só linguagem falavam, e isto durou até que a soberba
dos homens, que quiseram edificar a torre de confusão [Babel], foi castigada com o surgimento de muitas
linguagens, fazendo com que não se entendessem uns aos outros.
7
E ainda que estas linguagens não tenham ordem em si, pois são mesmo desordem, ms; para tratar delas,
reduzamos à ordem de três, que são: linguagem do mundo, da carne e do diabo; cujos ofícios, como São
Bernardo disse, são: falar coisas várias [talvez se refira a falar de maneira desmedida, de maneira vã], a
segunda coisas doadas, e da terceira, coisas más e amargas.
É importante também destacar que obras espanholas como o Livro Espiritual
(Audi, Filia) acabam transpondo as barreiras do país, sendo publicadas em outras
localidades da Europa. (ROPS, 1999, p.13). Assim sendo, podemos especular, de certa
forma, o motivo pelo qual este livro espanhol estaria sendo publicados em Lisboa e
recebendo o aval da Inquisição em 1589. Esse tipo de obra possui uma ampla circulação
por toda a Europa no contexto da Reforma,a exemplo das várias reimpressões de
tratados religiosos e manuais de oração como a Vida de Cristo e Solilóquios (ROPS,
1999, p. 13).
Ao analisar esse trecho, convém considerar o papel do erasmismo na formação
do autor e, principalmente, no contexto das reformas religiosas católicas na Espanha.
Segundo Goñi-Gaztambide, o erasmismo era um movimento amparado nas ideias de
Erasmo de Roterdã, tanto cultural quanto religioso que procurava erradicar os excessos
e abusos eclesiásticos e transformar a vida cristã e também aspectos teológicos, em vista
de um catolicismo mais verdadeiro e purificado. Essa corrente de pensamento era
amparada por um apego às Escrituras Sagradas e o Evangelho. No entanto, essa liturgia
não deveria somente se encontrar no círculo eclesiástico, sendo propagadas para a
população através de processos de evangelização, pregação e catequese. A disseminação
do pensamento erasmista se difundiu por boa parte da Europa, com destaque para a
Espanha (GOÑI-GAZTAMBIDE, 1986, p.116-117).
No entanto, a partir da segunda metade do século XVI, o erasmismo acaba
ganhando uma feição cada vez mais inimiga aos olhos da Igreja, principalmente após o
Concílio de Trento. Muitas vezes a Igreja atribuía o luteranismo a Erasmo por conta de
seu caráter reformador e por colocar em dúvida muitos aspectos dogmáticos do
cristianismo.
Erasmo, que nunca havia idealizado um cisma, e sim uma transformação
interna na Igreja Católica, passou a ser identificado como uma perigosa
influência para os pensadores e fiéis católicos. Se anteriormente, a sua
proposta de um humanismo cristão era bem vinda, agora representava uma
ameaça perigosa para a Igreja. (KAPP, 2015, p.222)

A Inquisição adquire contornos mais severos após o papa Paulo III, sendo levada
a cabo por seus sucessores. Esta é implementada por toda a Europa, com exceção da
França, e acaba sendo adotada com um rigor mais observável na Espanha. Neste
momento, é elaborado o Index, um catálogo com as obras proibidas pela Igreja,
elaborado pelo papa Caraffa em 1558, atuando em mais uma frente de repressão ao que
fosse contraditório aos dogmas católicos. “Foi então que se perseguiram todos os
suspeitos, os restos de luteranos, os partidários do erasmismo, os alumbrados
verdadeiros ou falsos, o que viria a dar à Inquisição espanhola uma fama tão terrível.”
(ROPS, 1999, p. 97)
João de Ávila possuía uma pregação de influência erasmista, observável não
somente em sua obra mas também em sua história. A pregação fervorosa que realizava
na região de Andaluzia lhe atribuiu muita notoriedade de maneira rápida. No entanto, na
medida em que ganhava popularidade, acabou também desagradando membros do clero
católico, devido ao seu caráter reformador erasmista (muitas vezes atribuído ao
luteranismo aos olhos da Igreja), levando-o a ser preso pela Inquisição em 1531. O
pregador é inocentado posteriormente, mas acaba levando advertências em relação aos
seus discursos. Portanto, sobre sua obra, é possível observar que no contexto de
Reforma Católica e Contrarreforma “(...) a linha entre a heresia e o ‘discurso oficial’ era
muito tênue, por isso de uma obra com conteúdo prático e linguagem acessível, como o
Audi, Filia, ter adquirido destaque entre os católicos, especialmente da Península
Ibérica.” (SOUZA, GIMENEZ, 2013, p. 5).
Ainda sobre a questão da pregação, Mullet estabelece uma relação de
semelhança entre a Reforma Protestante e a Reforma Católica, onde ambas apresentam
um ênfase nessa questão, sendo um período com um grande destaque de padres
oradores (MULLET, 1985, p. 32).
Observando o prólogo que é destinado ao leitor cristão, João de Ávila, ao tratar
do processo de escrita de sua obra, refere-se a uma versão que teria sido publicada sem
sua autorização em 1556 (esta que não teria o aval da Inquisição).

Al cabo de pocos días supe que se había impreso un Tratado sobre este mismo verso, y
con titulo de mi nombre, en Alcalá de Henares, en casa de Juan Brocar, año de 1556.
Maravílleme de que hubiese quien se atreva a imprimir libro la primera vez sin la
corrección del autor, y mucho más de que alguno diese por autor de un libro a quien
primero no preguntase si lo es; y procuré con más cuidado entender en lo comenzado
para que, impreso este TRATADO, el otro se desacreditase.
Mas las enfermedades que después acá aún han crecido, y haber añadido algunas
cosas, han sido causa para que más presto no se acabase. Ahora que va, recíbelo con
caridad, y no tengas el otro por mió ni le des crédito. Y no te digo esto solamente por
aquel Tratado, mas también por si otros vieres impresos en mi nombre hasta el día de
hoy, porque yo no he puesto en orden cosa alguna para imprimir, sino una declaración
de los diez Mandamientos que cantan los niños de la doctrina y este TRATADO de
ahora.8

Relacionando esta declaração com o histórico de João de Ávila, é bem provável


que este, temendo uma nova represália da Inquisição tenha se sentido compelido a
desvincular sua imagem da versão de 1556 que havia circulado sem que soubesse. O
pregador também faz referência a uma cantiga que teria publicado sobre os dez
mandamentos adaptada para uma versão infantil.
Observando essa questão partindo da ótica de seu contexto, podemos perceber a
preocupação de Ávila na disseminação da doutrina católica para públicos variados, e a
atuação do pregador como catequista. Em um momento onde a Igreja Católica abria-se
aos poucos para as massas populares, a Catequese se constituía em uma ferramenta
fundamental para o acesso aos ensinamentos bíblicos (MULLET, 1985, p. 33).
João de Ávila, além de seu trabalho como catequista e pregador, também teve
um papel fundamental na educação pública de Córdoba, abrindo escolas e convidando
padres da Companhia de Jesus para ministrar aulas para os jovens, além de promover
um sínodo diocesano (assembleia de eclesiásticos) a fim de discutir transformações nas
formas de conduta do clero. Além disso, associou-se à figura de Inácio de Loyola
aconselhando-o sobre diversos aspectos referentes à Companhia (SOUZA, GIMENEZ,
2013, p. 5). É possível perceber, portanto, que a preocupação reformadora de Ávila não
se detinha somente aos seus manuscritos, estendendo-se à comunidade cristã de uma
maneira prática.

REFERÊNCIAS

DANIEL-ROPS. A Igreja do Renascimento e da Reforma (II). Quadrante,


Lisboa,1999.
GOÑI-GAZTAMBIDE, José. El erasmismo en España. Scripta theologica , Vol. 14, N.
1, Espanha, 1986.

8
“Há poucos dias soube que havia sido impresso um tratado com esse mesmo título e com meu nome em
Alcacá de Hernares, na casa de Juan Brocar, no ano de 1556. Me surpreendi de que houvesse quem se
atrevesse a imprimir um livro pela primeira vez sem a correção do autor e muito mais por atribuir autoria
de um livro a alguém sem nem primeiro perguntar se é dele; procurei com mais cuidado entendê-lo e
comecei este para que, impresso este tratado, o outro seja desacreditado.
Mas as enfermidades que mais tarde cresceram e o fato de eu ter adicionado algumas coisas, fizeram com
que não se acabasse tão cedo. Agora, receba-o com caridade e não tenha outro nem lhes dê crédito. E não
te digo isso somente por aquele Tratado, mas também caso vejas outros impressos com meu nome até o
dia de hoje, pois não coloquei coisa alguma para imprimir, senão uma cantiga dos dez Mandamentos para
as crianças da doutrina e este tratado de agora.”
KAPP, Amanda Cieslak. REFORMAS RELIGIOSAS EM PORTUGAL DO SÉCULO
XVI: PROTESTANTISMO E HUMANISMO ERASMISTA NOS AUTOS DA
INQUISIÇÃO. Escritas: Revista do Curso de História de Araguaína, v. 7, n. 1, p.
211-229, 2015.
MULLET, Michael. A Contra-Reforma. Lisboa: Gradiva, 1985.
SOUZA, G. Q., GIMENEZ, J.C., UM ESPELHO PARA DONZELAS CRISTÃS NA
OBRA AUDI, FILIA DE SÃO JOÃO DE ÁVILA, Anais da Jornada de Estudos
Antigos e Medievais, UEM, Maringá, 2013.

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