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Diálogo Interreligioso

Uma percepção prática com algumas


referências teóricas

Prof Dr Julio Reis Simões


Doutor (com pós doutorado) em Ciência da Religião (UFJF/DVK)
Mestre em Teologia Sistemática (PUC-SP)
Bacharel em Teologia (CES-JF)
Doutorando em Teologia (Codrington College – Barbados)
Especializando em Psicologia da Educação e Personalidade (UniBF)
Licenciando em Letras Português/Inglês (UniBF)
Diálogo – o que é, etimologicamente?
• Dia – dois
• Logia – discurso

Portanto, a arte do Diálogo é diferente de dois


Monólogos, diferente de dois Solilóquios, e é
consistente em dois discursos, lado a lado.
Precursores do Diálogo 
Mundo Judaico
• A fonte teológica-literária E, do Pentateuco,
que, por exemplo em Gênesis, Êxodo e outros
livros traz e relata uma série de encontros
entre adoradores de deidades diferentes, que
serão ao longo do tempo compreendidas
como experiências distintas da mesma
deidade, identificaca como Yahweh, Yah,
Yahu, Javé, Jeová (grafias alternativas, em
alfabeto latino, do hebraico ‫יהוה‬.
Precursores do Diálogo 
Mundo Cristão
• Comunidades sinópticas, joaninas e paulinas,
que trazem no corpo literário que está
guardado no Novo Testamento relatos como
o da mulher siro-fenícia, da samaritana, de
Paulo no Areópago ateniense, de Paulo na
região da Galácia etc.
Precursores do Diálogo 
Mundo Islâmico
• O próprio Alcorão Sagrado traz em muitas suras, e o Islã
em sua jurisprudência clássica, o impedimento de
perseguição ao “Povo do Livro”, isto é, judeus e cristãos,
bem como tolerância a outras religiões. O patriarca sírio
Ishoyahb III relata um clima de respeito e paz com os
seguidores do Islã, no ano 651, em uma carta Simeão
Ardashir.
• Sura Al- Maida v 48 diz que há muitas religiões porque
Allah assim o deseja; a sura Al-Ankabut 46 estabelece
igualdade entre muçulmanos e cristãos e a sura
2:135-141 critica a percepção de verdade única.
• A Sura 10:99-100 proíbe qualquer forma de perseguição
religiosa.
Precursores do Diálogo 
Europa e Ásia Medieval (1)
• Nicolau de Cusa, falecido em 1464, cardeal e
santo católico romano, se opunha fortemente
às Cruzadas, tendo inclusive morrido, talvez de
desgosto, frente à imposição do Papa da época,
Pio II, de pregar em uma cruzada. Escreveu, no
contexto da queda de Constantinopla, a obra
“Sobre a Paz em assuntos de Fé”, na qual
imaginava o paraíso com representantes de
pessoas de todas as religiões. Sabia citar o
Alcorão Sagrado de cor. Ou seja, era um
universalista.
Precursores do Diálogo 
Europa e Ásia Medieval (2)
• 300 anos antes de Nicolau de Cusa, Abu Rahyan
Biruni (Al-Biruni), no Irã, escreveu o que é
considerado o primeiro tratado de antropologia das
religiões, chamado “India”, por volta do ano 1100
E.C.
• Cerca de 400 anos após, já no contexto do Império
Mughal, Akbar erigiu o Idabat Khana, espaço de
adoração comum a todas as religiões presentes em
seu império. Propunha e sediava debates entre
Cristãos, Sikhs, “Hindus”, Muçulmanos, Judeus,
Budistas, segundo os ideais de convivência pacífica
de Gurur Nanak(+1539), Chaitanya(+1548) e
Kabir(+1518).
O Diálogo e o Absoluto
• Há muita dificuldade em se abrir mão dos absolutos
soteriológicos: Jesus, Monoteísmo Ético, Consciência de
Krishna, Propiciação de Deidades, Submissão a Deus, etc. O
diálogo interreligioso, como pudemos observar, sempre
conseguiu florescer mais “rápido” em ambientes onde os
absolutos podem ser colocados em suspenso.
• O lugar teológico (e, na opinião ocidental, apenas em sentido
analógico) do Diálogo Interreligioso é a Ásia, em especial a
região em torno dos Himalaias: Índia, Afeganistão, Paquistão,
Tibet, Bangladesh, Butão etc. Isto porque a percepção
cultural-filosófica do tronco comum que gerou as muitas
religiões presentes até o século XIX neste locais é o Sanatana
Dharma, o “Hinduísmo”, que não coloca como absoluta
nenhuma outra realidade senão a realidade presente, seja
material ou sutil. Daí que os primeiros tratados e ações
concretas em prol da convivência pacífica entre religiões
tenha sido a área sob influência destas escolas filosóficas, isto
é, desta maneira de pensar.
E agora?
• Parlamento das Religiões – 1893.
• Aumento da influência de filosofias não
europeias – 1910 em diante, no contexto do
Império Indiano sob Vitória – Elisabeth II.
• Despertar de consciência sobre filosofias
africanas, de 1910 em diante, no contexto da
conquista francófona do Daomé e da região
original Bantu, bem com a partir de 1950 com o
crescimento da influência cultural e econômica
da Nigéria, região que ainda guarda muito
conhecimento iorubano ainda não difundido, do
qual a Panafstrag é um importante “player”.
E no Brasil?
• A partir de Câmara Cascudo, difusão,
aceitação e apropriação progressiva da
percepção de que nossa memória mais antiga
e fundante não é outra senão a dos porões
dos navios ou das violências que aqui
desembarcaram dos conveses.
• Incremento da difusão de textos descritivos e
experienciais dos conhecimentos religiosos
afro-brasileiros e afro-diaspóricos.
No campo teórico…
• Crescimento de produções teóricas de diálogo
Sul-Sul, como por exemplo o meu “Quando os
Deuses pensam sobre si”; o “Experiência dos
Orixás” de Berkenbrock, alguns textos de
Possebon.
• Aumento de pesquisas acadêmicas sobre o
tema do diálogo, mas muito marcados ainda
por um ideal “teológico”
Um exemplo pessoal
(para não comprometer ninguém)
• Minhas pesquisas são marcadas, metodicamente,
pela fuga de uso de teorias europeias, pelo
embasamento em teorias do Sul e pela
perspectiva de diálogo. Não é preciso dizer uma
coisa só. Frequento , na teoria e prática,
Protestantismo, Catolicismo, Islamismo, Bíblia,
Candomblé, Aghorismo, Saiva Siddantha e
Virasaiva.
• O desafio do diálogo é ouvir dois discursos, e não
simplesmente dizer do seu. Temos dois ouvidos e
uma boca…
No campo prático
• Estamos finalmente fazendo o percurso
sugerido pelos teólogos indo-asiáticos e nos
assentando juntos, olhando nossos textos
fundamentais com cuidado, amor, apreço, e
ao invés de nos deixarmos levar pela tentação
de tentar ler o outro a partir de nós, deixar
que o outro nos leia a partir de si
DESAFIO LOCAL
• FALTA, em Juiz de Fora, a implementação de
um “Espaço Sagrado Comum”, a exemplo do
proposto por Akbar. Na verdade, isso falta no
Brasil e quase no mundo todo. O ecumenismo
de Juiz de Fora é ainda mais “capenga” que o
diálogo interreligioso, e não passa de um
cafezinho entre lideranças. Falta coragem e
disposição de frequentarmos o espaço
sagrado “do outro”, como “outro” e não como
“espelho”.
DESAFIO LOCAL
• Falta, em Juiz de Fora, ousadia para romper-
se, especialmente no meio protestante, DO
QUAL SOU PARTE, com o ideal europeu, que
não é nosso, segundo o qual o Cristianismo
parte de um Deus Absolutista e ciumento. Nos
falta ler mais da mulher siro fenícia, da
samaritana, de Paulo, de Pedro, de muitos
autores que sempre resistiram à imposição
imperial que faz de Deus a nossa imagem e
semelhança, e não o contrário.
Agradecimentos e Finalizações
• Quem quiser um material mais acadêmico, favor
me procurar;
• Quem quiser assentar-se para compartilharmos
experiências, esteja à vontade;
• Quem quiser ousar desafiar a experiência
quotidiana da monolinguagem, das pretensões
de pureza e das falsas universalidades, O TEMPO
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