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Introdução
➢ Nos séculos VII e VIII, no Oriente, assim como no Ocidente, a literatura Patrística produziu
seus últimos frutos. No instante em que o Império Bizantino era agitado por aquelas querelas
religiosas tormentosas estudadas nas aulas anteriores, e no momento em que o Islã avançava
(como se verá nas próximas), a Igreja Oriental deu à luz alguns mestres cuja obra e
influência seriam profundas e permanentes.
➢ Como diz Daniel-Rops (p. 367) “nos piores momentos das guerras religiosas e civis, havia
almas que elevavam a Deus os mais válidos protestos, orando-lhe, invocando-o e meditando
os seus mistérios: ‘Crede-me, meus filhos, dizia um monge, nenhuma outra coisa na Igreja
tem causado os cismas e as heresias senão o fato de que nós não amamos plenamente a
Deus e a nosso próximo’”.
➢ Todos estes últimos Padres da Igreja grega, foram monges. Os relatos de suas vidas estão
repletos de descrições de ascese prodigiosa, e nos narram existências completamente
abnegadas e desapegadas das coisas deste mundo. Tal os possibilitará, ademais, lançarem-se
contra as novas heresias com uma coragem típica dos
mártires: afinal, os monges são, por essência, aqueles
cristãos que optaram pelo martírio em vida.
➢ Estes últimos Padres do Oriente se dedicaram, em seus
escritos, a dois temas: vida espiritual e combate às heresias.
➢ Sabemos muito pouco de sua vida. Sua data de nascimento podemos apenas estimar, e nada
sabemos de sua naturalidade. Sabe-se que ele se retirou do mundo muito cedo para se
entregar à vida eremítica. Aos 16 anos entrou no mosteiro de Santa Catarina no Monte Sinai,
aos 20 anos abraçou a vida eremítica ao pé da montanha na qual Deus falou a Moisés e
apenas 40 anos depois, ou seja, quando tinha mais de 60 anos, foi escolhido abade daquele
mosteiro. Lá ele morreu, com cerca de 70 anos, em 649.
➢ Como dito, a obra que fez entrar na história o nome de São João Clímaco é a “Santa
Escada”. Nela, a vida espiritual é comparada a uma escada, semelhante à de Jacó, que liga a
terra ao céu, e aos trinta anos da vida oculta de Jesus. O santo explica que na vida espiritual
se ascende por trinta degraus, e que cada degrau corresponde a uma virtude a praticar ou um
vício a corrigir.
➢ A Santa Escada de São João Clímaco teve imensa repercussão no Ocidente, tendo sido seus
especiais leitores São Bernardo de Claraval e Santo Inácio de Loyola.
➢ São João Clímaco escreveu ainda um livro, ou uma carta, “ao Pastor”, no qual descreve os
deveres do abade de um mosteiro e indica a maneira com que devem ser cumpridos, para o
bem dele e para a edificação da comunidade.
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Ver aulas 74 e 75.
➢ Escreveu ainda obras disciplinares, como (a) um escrito sobre a confissão; (b) e outro sobre
o batismo. Escreveu ainda a vida de São Ciro e São João, mártires no tempo de Diocleciano,
e a vida de Santa Maria do Egito.
➢ São Sofrônio foi autor de 23 cânticos a serem entoados nas festas litúrgicas.
➢ Foi a doutrina católica contra o monotelismo, tal como enunciada por São Sofrônio, que
décadas após sua morte, em 680, o VI Concílio Ecumênico reconheceria como a fé da Igreja.
➢ Também já falamos de São Máximo,2 abade que, depois de São Sofrônio, foi a cabeça da
oposição ao monotelismo no Oriente. Permaneceu fiel à doutrina enunciada pelo Papa São
Martinho I no concílio de Roma de ca. de 648, opondo-se às invenções monotelistas do
imperador Constante II. Este o perseguiu, prendeu e o levou a Constantinopla em 658. Foi
acusado de sedição e insubordinação à política religiosa do imperador e condenado ao
desterro. No exílio, chegaram a arrancar sua língua para que parasse de pregar contra o
monotelismo e sua mão direita para que ele parasse de escrever contra a heresia. Morreu em
662.
➢ Diz Tixeront que São Máximo é, antes de São João Damasceno, o último grande teólogo da
igreja grega. Sua doutrina é influenciada pela filosofia de Aristóteles, da qual era vasto
conhecedor, e era dotado de um rigor de pensamento e de
uma precisão de termos que não encontramos em nenhum
outro autor de seu tempo. Escreveu contra os monofisistas
e monotelistas uma série de opúsculos, ou antes pequenos
tratados de uma profundidade ímpar.
➢ Escreveu ainda obras exegéticas, como (a) As “Questões
a Talássio”, uma grande coleção de respostas a 65
perguntas feitas pelo abade Talássio; (b) A “explicação
do salmo LIX”; (c) A “explicação do Pai Nosso”; (d) O
“escrito a Teopompo”, na qual responde a três objeções
feitas por este a alguns versículos do Evangelho.
➢ Escreveu ainda muitas obras de teologia mística, obras de
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Ver aula 75.
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Ver aula 77.
➢ Seu nome entrou na história depois de 726 quando, como que no exato instante do início do
iconoclasmo, publicou sua primeira apologia das imagens contra o edito do imperador Leão
III.
➢ Pouco depois disso, fez-se monge. Foi ordenando
padre em 735 no mosteiro de São Sabas, perto de
Jerusalém. Foi um monge e sacerdote amante da
perfeição, repartindo o seu tempo entre a oração, o
estudo e a composição de numerosas obras, que são o
arremate da Patrística Grega.
➢ Antes de tratarmos da principal obra de São João
Damasceno, vamos passar em revista de sua vasta
bibliografia:
o Obras dogmáticas: (a) o livrinho sobre
a doutrina ortodoxa, que não é mais do
que uma profissão de fé que ele
escreveu, a pedido de um bispo,
suspeito de heresia, que desejava justificar-se perante o seu metropolita; (b)
uma introdução elementar aos dogmas; (c) um pequeno Tratado da Santíssima
Trindade; (d) Uma carta sobre o hino do Triságion, um hino grego muito
comum no qual se invoca a Deus como Sanctus Deus, Sanctus Fortis, Sanctus
Immortalis, miserere nobis, para demonstrar que o tríplice Sanctus deste hino
se dirige às três pessoas da Trindade, não só ao Filho.
o Obras polêmicas: (a) contra os maniqueus ele escreveu um “Diálogo”, no
qual refuta o dualismo; e uma “Discussão do ortodoxo João com um
maniqueu”; (b) escreveu contra os muçulmanos uma “Discussão de um
sarraceno e um cristão”; (c) nos dois fragmentos “sobre os dragões e sobre os
vampiros”, ataca as superstições de muçulmanos e judeus; (d) contra os
nestorianos escreveu dois tratados; (e) contra os monofisistas outros dois; (f)
contra os monotelistas compôs uma “Dissertação sobre as duas vontades em
Cristo”.
o Obras contra o iconoclasmo: Escreveu seus três discursos apologéticos
“contra os que rejeitam as sagras imagens”. Neles, estabelece que as imagens
constituem um elemento muito valioso para a instrução religiosa dos
ignorantes e, ainda, dos fiéis menos esclarecido, um memorial dos mistérios de
Cristo e uma recordação sugestiva das virtudes dos santos. A questão foi posta
por ele de forma tão magistral, com base tanto na Escritura quanto na
Tradição, que sua argumentação seria a incorporada pelo II Concílio de Niceia
e por quem quer que no futuro quisesse defender o culto das imagens.
o Obras ascéticas: (a) A mais importante das obras ascéticas dele é conhecida
como “Sacra Parallela”, “os Paralelos Sagrados”, uma coleção de textos da
Sagrada Escritura e dos Santos Padres divididos em três livros. O nome de
“Paralelos” vem do fato de São João Damasceno contrapor neste livro vícios e
virtudes; (b) “Sobre os santos jejuns”, uma cara que ele escreveu a certo
monge sobre o jejum quaresmal; (c) “Sobre os oito espíritos maus”, carta
escrita a um monge sobre os oito vícios capitais que ele chama de “espíritos
maus”; (d) “Sobre as virtudes e os vícios”.
o Outros gêneros: (a) Exegese: um comentário das Epístolas de São Paulo; (b)
Homilias: foram-lhe atribuídas treze, das quais nem todas lhe pertencem,
sendo que as mais importantes são as que tratam da morte e da Assunção de
Nossa Senhora; (c) muitas poesias e cânticos.
➢ A obra mais importante de São João Damasceno é a “Fonte da Ciência”, por ele assim
intitulada. Nela, condensou toda a sua teologia e dividiu-a em três grandes partes:
o Parte filosófica – “Da Dialética”: explica as categorias de Aristóteles e os
cinco universais de Porfírio.
o Parte histórica: consta de uma breve exposição das heresias, que apareceram
na Igreja até o iconoclasmo.
o Parte teológica: é a parte mais importante, dividida em 100 capítulos, que a
posteridade chamou de “Tratado da Fé ortodoxa”. Esse tratado ficou
conhecido como “A Suma da Teologia Grega”.
➢ São João Damasceno morreu em 4 de dezembro de 749 e foi o maior espírito do seu tempo.
Filósofo, teólogo, orador, autor ascético e poeta, a sua vastíssima cultura permitiu-lhe tratar,
com rara competência, dos mais variados assuntos. Aproveitou os elementos da Tradição,
resumiu os autores e fez uma síntese que do pensamento teológico do Oriente Católico
desde as origens.
➢ Ele foi o último Padre da Igreja, e o último autor oriental que todo o mundo cristão,
inclusive o Ocidente (como com Santo Tomás de Aquino), pôde beber. No momento em que
iria começar a era das rupturas, concretizada trezentos anos depois de sua morte com o
Cisma do Oriente, a obra de São João Damasceno, sobretudo o “Tratado da Fé Ortodoxa” é